universidade estadual da paraÍba coordenadoria institucional de...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE PROGRAMAS ESPECIAIS SECRETARIA DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE GESTÃO EM SAÚDE RÔMULO GUIMARÃES NOGUEIRA Assistência Farmacêutica na atenção básica: histórico, realidade e percepções CAMPINA GRANDE PB 2012

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0

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE PROGRAMAS ESPECIAIS

SECRETARIA DE EDUCACcedilAtildeO Agrave DISTAcircNCIA CURSO DE ESPECIALIZACcedilAtildeO DE GESTAtildeO EM SAUacuteDE

ROcircMULO GUIMARAtildeES NOGUEIRA

Assistecircncia Farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica histoacuterico realidade e percepccedilotildees

CAMPINA GRANDE ndash PB 2012

1

ROcircMULO GUIMARAtildeES NOGUEIRA

Assistecircncia Farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica histoacuterico realidade e percepccedilotildees

Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo Gestatildeo em Sauacutede da

Universidade Estadual da Paraiacuteba em convecircnio com Escola de Serviccedilo Puacuteblico do Estado da Paraiacuteba em cumprimento agrave exigecircncia para obtenccedilatildeo do grau de especialista

Orientadora Profordf Drordf LINDOMAR DE FARIAS BELEacuteM

CAMPINA GRANDE ndash PB 2012

2

3

FICHA CATALOGRAacuteFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL-UEPB

N778a Nogueira Rocircmulo Guimaratildees

Assistecircncia Farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica

histoacuterico realidade e percepccedilotildees [manuscrito] Rocircmulo Guimaratildees Nogueira ndash Campina Grande

2012

53 f

Monografia (Especializaccedilatildeo em Gestatildeo em Sauacutede) -

Universidade Estadual da Paraiacuteba Coordenaccedilatildeo

Institucional de Projetos Especiais - CIPE 2012

ldquoOrientaccedilatildeo Profordf Dr Lindomar de Farias Beleacutem

FarmaacuteciaUEPBrdquo

1 Assistecircncia Farmacecircutica 2 Avaliaccedilatildeo em

Sauacutede 3 Medicamentos I Tiacutetulo

21 ed CDD 6151

4

R E S U M O

A estruturaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se apresenta aos gestores e profissionais do Sistema Uacutenico de Sauacutede quer pelos recursos financeiros envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de novas estrateacutegias no seu gerenciamento O objetivo desta monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da assistecircncia farmacecircutica no Brasil O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A revisatildeo de literatura foi realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico por meio de ferramentas de busca na internet A estrutura legislativa e regulatoacuteria de medicamentos que vem sendo implementada no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas pode ser considerada bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica abrangendo dimensotildeespoliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais Neste sentido a avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica eacute uma atividade que deve constar na rotina dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o aperfeiccediloamento da sua organizaccedilatildeo No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica limitam o acircmbito de suas accedilotildees no SUS As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na Assistecircncia Farmacecircutica demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede PALAVRAS-CHAVE Assistecircncia Farmacecircutica Avaliaccedilatildeo em Sauacutede Medicamentos

5

A B S T R A C T

The structuring of the Pharmaceutical Assistance is one of the challenges that is presented to the managers and professionals of the Health Care System as the financial resources involved as the need for continuous improvement in pursuit of new strategies in its management The purpose of this monograph was to discuss the progress and difficulties for the establishment of pharmaceutical assistance in Brazil The study was descriptive with qualitative approach The literature review was conducted through literature review through search engines on the Internet The legislative and regulatory framework for medicines that have been implemented in Brazil in recent decades can be considered quite comprehensive However these advances should be analyzed critically many adjustments still need to be made Evaluation studies reviewed show that there are several irregularities in pharmaceutical assistance covering political administrative technical and culturaldimensions In this sense the evaluation of pharmaceutical assistance is an activity which must be included in routine of health services in order to collaborate with the improvement of its organization With regard to the organizational dimension the constraint on the autonomy of the coordination of pharmaceutical assistance and especially the absence of the pharmacist in the operationalization of essential activities to the management of pharmaceutical assistance limits the scope of their actions in the Health Care System The different perceptions of the actors involved in pharmaceutical assistance discussed in this study showed limited views about its importance in health care KEYWORDS Pharmaceutical Assistance Health Evaluation Drugs

6

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF Assistecircncia Farmacecircutica

Atenfar Atenccedilatildeo Farmacecircutica

CAF Central de Abastecimento Farmacecircutico

CEAF Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica

CEME Central de Medicamentos

CFF Conselho Federal de Farmaacutecia

CFT Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica

CIB Comissatildeo Intergestores Bipartite

CIM Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos

CIT Comissatildeo Intergestores Tripartite

DAF Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos

LOS Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090)

MS Ministeacuterio da Sauacutede

NASF Nuacutecleo de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia

NOB Norma Operacional Baacutesica

OMS Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PCDT Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

PNAF Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

PNM Poliacutetica Nacional de Medicamentos

PSF Programa de Sauacutede da Famiacutelia

Qualifar-SUS Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no

acircmbito do SUS

REMUME Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais

RENAME Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

SCTIE Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos

SES Secretaria Estadual de Sauacutede

SSC Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede

TCU Tribunal de Contas da Uniatildeo

UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede

USF Unidade de Sauacutede da Famiacutelia

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 7

METODOLOGIA 8

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 9

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 20

21 Aspectos Organizacionais 23

22 Seleccedilatildeo 24

23 Programaccedilatildeo 26

24 Aquisiccedilatildeo 28

25 Armazenamento 29

26 Dispensaccedilatildeo 31

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 33

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 38

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 44

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

O Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) tal como foi concebido na Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 pretende atender a todos de maneira igualitaacuteria buscando servir

desde os mais necessitados aos mais abastados Este seu caraacuteter de poliacutetica

puacuteblica baseada nos princiacutepios de universalidade equidade e de integralidade das

accedilotildees e serviccedilos de sauacutede promoveu ampla inclusatildeo social de forma que

representa um grande avanccedilo para um paiacutes em desenvolvimento como o Brasil No

entanto tem sido observada a presenccedila de problemas crocircnicos no atendimento

integral agrave sauacutede seja pela espera pelos serviccedilos meacutedicosseja pela falta de

medicamentos essenciais para distribuiccedilatildeo gratuita (ZAIRE 2008 VIEIRA 2010)

Inclui-se dentre os serviccedilos prestados pelo SUS a assistecircncia farmacecircutica

que segundo a Poliacutetica Nacional de Medicamentos eacute um grupo de atividades

relacionadas com o medicamento destinadas a apoiar as accedilotildees de sauacutede

demandadas por uma comunidade (BRASIL 1998)

A estruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se

apresenta aos gestores e profissionais do SUS quer pelos recursos financeiros

envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de

novas estrateacutegias no seu gerenciamento (RIECK 2008)

Aprofundar a questatildeo do provimento de medicamentos essenciais agrave

populaccedilatildeo se mostra natildeo soacute como um fator importante mas tambeacutem como uma

forma de racionalizar custos com procedimentos e agravos pela falta de adesatildeo ao

tratamento farmacoloacutegico (ZAIRE 2008)

A assistecircncia terapecircutica integral tem grande relevacircncia no contexto da

atenccedilatildeo agrave sauacutede considerando que a maioria das intervenccedilotildees em sauacutede envolve o

uso de medicamentos A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de assistecircncia farmacecircutica

vem se desenvolvendo nos uacuteltimos anos de maneira que o grande desafio eacute fazer

com que os seus princiacutepios sejam de fato estabelecidos Para isto eacute preciso que

sejam assegurados os recursos necessaacuterios agrave execuccedilatildeo das atividades e tambeacutem

que sua gestatildeo seja eficaz efetiva e eficiente Diante do exposto o objetivo desta

monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da

assistecircncia farmacecircutica no Brasil

8

METODOLOGIA

O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A

revisatildeo de literatura foi inicialmente realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico

por meio da ferramenta de busca ldquogoogle acadecircmicordquo (scholargooglecombr)

utilizando-se os filtros termo ldquoassistecircncia farmacecircuticardquo no tiacutetulo do artigo

resultados que contenham o trabalho completo e periacuteodo de publicaccedilatildeo

compreendido entre os anos de 2006 e 2012 Em seguida os resultados foram

selecionados de acordo com a natureza (foram considerados apenas artigos

cientiacuteficos monografias dissertaccedilotildees e teses) bem como se levaram em

consideraccedilatildeo os objetivos dos trabalhos e suas abordagens sobre o assunto

Tambeacutem foi avaliada a origem dos escritos selecionando apenas trabalhos oriundos

de bancos de dados reconhecidos tais como bireme scielo sites de universidades

brasileiras e sites oficiais do governo

A fonte inicial de pesquisa consistiu em 24 escritos selecionados entre 84

apresentados pela ferramenta de busca Foram identificadas trecircs tipos de

abordagens revisatildeo de literatura da assistecircncia farmacecircutica no Brasil anaacutelise da

assistecircncia farmacecircutica nos serviccedilos de atenccedilatildeo a sauacutede visatildeo e avaliaccedilatildeo de

alunos de graduaccedilatildeo e profissionais farmacecircuticos com relaccedilatildeo o seu papel frente

agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica A partir destes grupos de escritos foi

discutido cada tema

A revisatildeo de literatura consistiu numa anaacutelise criacutetica natildeo sistematizada da

evidecircncia cientiacutefica obtida a qual foi ampliada durante sua leitura e discussatildeo

atraveacutes da consulta em fontes derivadas das iniciais bem como atraveacutes de pesquisa

em sites governamentais

O trabalho foi subdividido em trecircs capiacutetulos o primeiro aborda os marcos

histoacutericos e legais que asseguram a assistecircncia farmacecircutica as principais poliacuteticas

como a Poliacutetica Nacional de Medicamentos (PNM) e a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF) no segundo capiacutetulo satildeo apresentados estudos

de avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica que refletem a sua realidade no Brasil e

por fim satildeo discutidas as percepccedilotildees dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica

9

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

O processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede brasileira tem incorporado

nas uacuteltimas deacutecadas regulamentaccedilotildees diversas no acircmbito da assistecircncia

farmacecircutica (AF) dentre as quais se destacam a Poliacutetica Nacional de

Medicamentos a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e a regulamentaccedilatildeo

do financiamento da assistecircncia farmacecircutica

No Brasil historicamente o acesso a medicamentos era limitado agravequeles que

podiam adquiri-los Posteriormente foi ampliado aos trabalhadores beneficiaacuterios do

antigo Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) O marco inicial da poliacutetica

governamental para medicamentos foi acriaccedilatildeo da Central de Medicamentos ndash

CEME em 1971 com o objetivo de promover e organizar o fornecimento de

medicamentos de uso humano a populaccedilatildeo a preccedilos comuns no mercado Sua accedilatildeo

se caracterizava por manter uma poliacutetica focada na aquisiccedilatildeo e na distribuiccedilatildeo de

medicamentos (BRASIL 2002)

Uma das iniciativas para racionalizaccedilatildeo da poliacutetica de medicamentos

foi a homologaccedilatildeo em 1975 da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

Essenciais ndash RENAME pelo Ministeacuterio da Previdecircncia e Assistecircncia

Social Antes mesmo da criaccedilatildeo da CEME jaacute havia sido abordada a

elaboraccedilatildeo de uma relaccedilatildeo padronizada de medicamentos

essenciais que orientava as compras federais mas apenas naquela

ocasiatildeo eacute adotado o nome de RENAME (BRASIL 2002)

Na mesma deacutecada o abastecimento de medicamentos essenciais foi

considerado como um dos oito elementos baacutesicos da atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede na

conferecircncia mundial sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria a Sauacutede realizada em Alma-Ata

URSS em 1978 sob a iniciativa da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e

participaccedilatildeo da United Nations Childrenrsquos Fund (Unicef) (MARIN et al 2003)

Em 1988 a CEME organizou o I Encontro Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica e Poliacutetica de Medicamentos Neste evento foi apresentado um

diagnoacutestico da situaccedilatildeo do setor farmacecircutico brasileiro naquela eacutepoca e dele

resultou um documento intitulado Carta de Brasiacutelia onde foi assumido um conceito

formal de assistecircncia farmacecircutica com base em um documento elaborado na

Faculdade de Farmaacutecia da Universidade Federal de Minas Gerais (ACURCIO 2003

apud RIECK 2008)

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em um municiacutepio da Bahia Brasil Rev baiana

sauacutede puacuteblica n 34 v 4 outdez 2010

ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DA SAUacuteDE ndash OPAS Avaliaccedilatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica no Brasil Organizaccedilatildeo Pan-Americana da Sauacutede

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede

2005

PANSTEIN R WEBER C A T Avaliaccedilatildeo de Satisfaccedilatildeo da Gestatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em Jaraguaacute do Sul no Ano de 2007 Rev Sauacutede

Puacutebl Santa Cat Florianoacutepolis v 3 n 2 juldez 2010

53

RIECK E B Anaacutelise da gestatildeo estadual de assistecircncia farmacecircutica a

partir do pensamento complexo 2008 Dissertaccedilatildeo - Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em

Ciecircncias Farmacecircuticas ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre

2008

SILVA S H A implementaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica no

niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

SILVA JUNIOR D B Assistecircncia farmacecircutica em um municiacutepio do

estado de Satildeo Paulo diagnoacutestico e perspectivas 2006 Dissertaccedilatildeo - Mestrado

em Medicamentos e Cosmeacuteticos - Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas de Ribeiratildeo

Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2006 Disponiacutevel em

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VIEIRA F S Assistecircncia farmacecircutica no sistema puacuteblico de sauacutede no Brasil

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIAtildeO Relatoacuterio de auditoria operacional na

accedilatildeo ldquoPromoccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica e insumos estrateacutegicos na

atenccedilatildeo baacutesica em sauacutederdquo (TC nordm 0112902010-2) Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em

lt wwwtcugovbrgt Acesso em 14 abr 2012

ZAIRE C E F A relaccedilatildeo entre a induacutestria farmacecircutica e a assistecircncia

farmacecircutica no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) a compra estadual

e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

1

ROcircMULO GUIMARAtildeES NOGUEIRA

Assistecircncia Farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica histoacuterico realidade e percepccedilotildees

Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo Gestatildeo em Sauacutede da

Universidade Estadual da Paraiacuteba em convecircnio com Escola de Serviccedilo Puacuteblico do Estado da Paraiacuteba em cumprimento agrave exigecircncia para obtenccedilatildeo do grau de especialista

Orientadora Profordf Drordf LINDOMAR DE FARIAS BELEacuteM

CAMPINA GRANDE ndash PB 2012

2

3

FICHA CATALOGRAacuteFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL-UEPB

N778a Nogueira Rocircmulo Guimaratildees

Assistecircncia Farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica

histoacuterico realidade e percepccedilotildees [manuscrito] Rocircmulo Guimaratildees Nogueira ndash Campina Grande

2012

53 f

Monografia (Especializaccedilatildeo em Gestatildeo em Sauacutede) -

Universidade Estadual da Paraiacuteba Coordenaccedilatildeo

Institucional de Projetos Especiais - CIPE 2012

ldquoOrientaccedilatildeo Profordf Dr Lindomar de Farias Beleacutem

FarmaacuteciaUEPBrdquo

1 Assistecircncia Farmacecircutica 2 Avaliaccedilatildeo em

Sauacutede 3 Medicamentos I Tiacutetulo

21 ed CDD 6151

4

R E S U M O

A estruturaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se apresenta aos gestores e profissionais do Sistema Uacutenico de Sauacutede quer pelos recursos financeiros envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de novas estrateacutegias no seu gerenciamento O objetivo desta monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da assistecircncia farmacecircutica no Brasil O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A revisatildeo de literatura foi realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico por meio de ferramentas de busca na internet A estrutura legislativa e regulatoacuteria de medicamentos que vem sendo implementada no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas pode ser considerada bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica abrangendo dimensotildeespoliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais Neste sentido a avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica eacute uma atividade que deve constar na rotina dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o aperfeiccediloamento da sua organizaccedilatildeo No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica limitam o acircmbito de suas accedilotildees no SUS As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na Assistecircncia Farmacecircutica demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede PALAVRAS-CHAVE Assistecircncia Farmacecircutica Avaliaccedilatildeo em Sauacutede Medicamentos

5

A B S T R A C T

The structuring of the Pharmaceutical Assistance is one of the challenges that is presented to the managers and professionals of the Health Care System as the financial resources involved as the need for continuous improvement in pursuit of new strategies in its management The purpose of this monograph was to discuss the progress and difficulties for the establishment of pharmaceutical assistance in Brazil The study was descriptive with qualitative approach The literature review was conducted through literature review through search engines on the Internet The legislative and regulatory framework for medicines that have been implemented in Brazil in recent decades can be considered quite comprehensive However these advances should be analyzed critically many adjustments still need to be made Evaluation studies reviewed show that there are several irregularities in pharmaceutical assistance covering political administrative technical and culturaldimensions In this sense the evaluation of pharmaceutical assistance is an activity which must be included in routine of health services in order to collaborate with the improvement of its organization With regard to the organizational dimension the constraint on the autonomy of the coordination of pharmaceutical assistance and especially the absence of the pharmacist in the operationalization of essential activities to the management of pharmaceutical assistance limits the scope of their actions in the Health Care System The different perceptions of the actors involved in pharmaceutical assistance discussed in this study showed limited views about its importance in health care KEYWORDS Pharmaceutical Assistance Health Evaluation Drugs

6

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF Assistecircncia Farmacecircutica

Atenfar Atenccedilatildeo Farmacecircutica

CAF Central de Abastecimento Farmacecircutico

CEAF Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica

CEME Central de Medicamentos

CFF Conselho Federal de Farmaacutecia

CFT Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica

CIB Comissatildeo Intergestores Bipartite

CIM Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos

CIT Comissatildeo Intergestores Tripartite

DAF Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos

LOS Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090)

MS Ministeacuterio da Sauacutede

NASF Nuacutecleo de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia

NOB Norma Operacional Baacutesica

OMS Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PCDT Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

PNAF Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

PNM Poliacutetica Nacional de Medicamentos

PSF Programa de Sauacutede da Famiacutelia

Qualifar-SUS Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no

acircmbito do SUS

REMUME Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais

RENAME Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

SCTIE Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos

SES Secretaria Estadual de Sauacutede

SSC Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede

TCU Tribunal de Contas da Uniatildeo

UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede

USF Unidade de Sauacutede da Famiacutelia

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 7

METODOLOGIA 8

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 9

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 20

21 Aspectos Organizacionais 23

22 Seleccedilatildeo 24

23 Programaccedilatildeo 26

24 Aquisiccedilatildeo 28

25 Armazenamento 29

26 Dispensaccedilatildeo 31

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 33

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 38

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 44

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

O Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) tal como foi concebido na Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 pretende atender a todos de maneira igualitaacuteria buscando servir

desde os mais necessitados aos mais abastados Este seu caraacuteter de poliacutetica

puacuteblica baseada nos princiacutepios de universalidade equidade e de integralidade das

accedilotildees e serviccedilos de sauacutede promoveu ampla inclusatildeo social de forma que

representa um grande avanccedilo para um paiacutes em desenvolvimento como o Brasil No

entanto tem sido observada a presenccedila de problemas crocircnicos no atendimento

integral agrave sauacutede seja pela espera pelos serviccedilos meacutedicosseja pela falta de

medicamentos essenciais para distribuiccedilatildeo gratuita (ZAIRE 2008 VIEIRA 2010)

Inclui-se dentre os serviccedilos prestados pelo SUS a assistecircncia farmacecircutica

que segundo a Poliacutetica Nacional de Medicamentos eacute um grupo de atividades

relacionadas com o medicamento destinadas a apoiar as accedilotildees de sauacutede

demandadas por uma comunidade (BRASIL 1998)

A estruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se

apresenta aos gestores e profissionais do SUS quer pelos recursos financeiros

envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de

novas estrateacutegias no seu gerenciamento (RIECK 2008)

Aprofundar a questatildeo do provimento de medicamentos essenciais agrave

populaccedilatildeo se mostra natildeo soacute como um fator importante mas tambeacutem como uma

forma de racionalizar custos com procedimentos e agravos pela falta de adesatildeo ao

tratamento farmacoloacutegico (ZAIRE 2008)

A assistecircncia terapecircutica integral tem grande relevacircncia no contexto da

atenccedilatildeo agrave sauacutede considerando que a maioria das intervenccedilotildees em sauacutede envolve o

uso de medicamentos A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de assistecircncia farmacecircutica

vem se desenvolvendo nos uacuteltimos anos de maneira que o grande desafio eacute fazer

com que os seus princiacutepios sejam de fato estabelecidos Para isto eacute preciso que

sejam assegurados os recursos necessaacuterios agrave execuccedilatildeo das atividades e tambeacutem

que sua gestatildeo seja eficaz efetiva e eficiente Diante do exposto o objetivo desta

monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da

assistecircncia farmacecircutica no Brasil

8

METODOLOGIA

O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A

revisatildeo de literatura foi inicialmente realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico

por meio da ferramenta de busca ldquogoogle acadecircmicordquo (scholargooglecombr)

utilizando-se os filtros termo ldquoassistecircncia farmacecircuticardquo no tiacutetulo do artigo

resultados que contenham o trabalho completo e periacuteodo de publicaccedilatildeo

compreendido entre os anos de 2006 e 2012 Em seguida os resultados foram

selecionados de acordo com a natureza (foram considerados apenas artigos

cientiacuteficos monografias dissertaccedilotildees e teses) bem como se levaram em

consideraccedilatildeo os objetivos dos trabalhos e suas abordagens sobre o assunto

Tambeacutem foi avaliada a origem dos escritos selecionando apenas trabalhos oriundos

de bancos de dados reconhecidos tais como bireme scielo sites de universidades

brasileiras e sites oficiais do governo

A fonte inicial de pesquisa consistiu em 24 escritos selecionados entre 84

apresentados pela ferramenta de busca Foram identificadas trecircs tipos de

abordagens revisatildeo de literatura da assistecircncia farmacecircutica no Brasil anaacutelise da

assistecircncia farmacecircutica nos serviccedilos de atenccedilatildeo a sauacutede visatildeo e avaliaccedilatildeo de

alunos de graduaccedilatildeo e profissionais farmacecircuticos com relaccedilatildeo o seu papel frente

agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica A partir destes grupos de escritos foi

discutido cada tema

A revisatildeo de literatura consistiu numa anaacutelise criacutetica natildeo sistematizada da

evidecircncia cientiacutefica obtida a qual foi ampliada durante sua leitura e discussatildeo

atraveacutes da consulta em fontes derivadas das iniciais bem como atraveacutes de pesquisa

em sites governamentais

O trabalho foi subdividido em trecircs capiacutetulos o primeiro aborda os marcos

histoacutericos e legais que asseguram a assistecircncia farmacecircutica as principais poliacuteticas

como a Poliacutetica Nacional de Medicamentos (PNM) e a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF) no segundo capiacutetulo satildeo apresentados estudos

de avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica que refletem a sua realidade no Brasil e

por fim satildeo discutidas as percepccedilotildees dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica

9

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

O processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede brasileira tem incorporado

nas uacuteltimas deacutecadas regulamentaccedilotildees diversas no acircmbito da assistecircncia

farmacecircutica (AF) dentre as quais se destacam a Poliacutetica Nacional de

Medicamentos a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e a regulamentaccedilatildeo

do financiamento da assistecircncia farmacecircutica

No Brasil historicamente o acesso a medicamentos era limitado agravequeles que

podiam adquiri-los Posteriormente foi ampliado aos trabalhadores beneficiaacuterios do

antigo Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) O marco inicial da poliacutetica

governamental para medicamentos foi acriaccedilatildeo da Central de Medicamentos ndash

CEME em 1971 com o objetivo de promover e organizar o fornecimento de

medicamentos de uso humano a populaccedilatildeo a preccedilos comuns no mercado Sua accedilatildeo

se caracterizava por manter uma poliacutetica focada na aquisiccedilatildeo e na distribuiccedilatildeo de

medicamentos (BRASIL 2002)

Uma das iniciativas para racionalizaccedilatildeo da poliacutetica de medicamentos

foi a homologaccedilatildeo em 1975 da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

Essenciais ndash RENAME pelo Ministeacuterio da Previdecircncia e Assistecircncia

Social Antes mesmo da criaccedilatildeo da CEME jaacute havia sido abordada a

elaboraccedilatildeo de uma relaccedilatildeo padronizada de medicamentos

essenciais que orientava as compras federais mas apenas naquela

ocasiatildeo eacute adotado o nome de RENAME (BRASIL 2002)

Na mesma deacutecada o abastecimento de medicamentos essenciais foi

considerado como um dos oito elementos baacutesicos da atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede na

conferecircncia mundial sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria a Sauacutede realizada em Alma-Ata

URSS em 1978 sob a iniciativa da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e

participaccedilatildeo da United Nations Childrenrsquos Fund (Unicef) (MARIN et al 2003)

Em 1988 a CEME organizou o I Encontro Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica e Poliacutetica de Medicamentos Neste evento foi apresentado um

diagnoacutestico da situaccedilatildeo do setor farmacecircutico brasileiro naquela eacutepoca e dele

resultou um documento intitulado Carta de Brasiacutelia onde foi assumido um conceito

formal de assistecircncia farmacecircutica com base em um documento elaborado na

Faculdade de Farmaacutecia da Universidade Federal de Minas Gerais (ACURCIO 2003

apud RIECK 2008)

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

organizaccedilatildeo Ciecircnc sauacutede coletiva v16 n9 p 3939-3949 2011

ANDRADE FILHO D P Potencialidades e fragilidades da rede de atenccedilatildeo agrave

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira J Manag Prim Health Care v 2

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ARAUJO A L A FREITAS O Concepccedilotildees do profissional farmacecircutico

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condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede a organizaccedilatildeo e o

funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

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328 de 22 de julho de 1999 Dispotildee sobre requisitos exigidos para a dispensaccedilatildeo de

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_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Portaria n 3916 de 30 de outubro de

1998 Aprova a Poliacutetica Nacional de Medicamentos Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Poliacutetica Federal de Assistecircncia

Farmacecircutica 1990 a 2002 Ministeacuterio da Sauacutede elaborado por Barjas Negri ndash

Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Resoluccedilatildeo n 338 de 06 de maio de

2004a Institui a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica Diaacuterio Oficial da

Repuacuteblica Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Decreto n 5090 de 20 de maio de

2004b Institui o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo

baacutesica instruccedilotildees teacutecnicas para sua organizaccedilatildeo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos Departamento de

Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos 2 ed ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da

Sauacutede 2006

_______ MINISTERIO DA SAUacuteDE Portaria n 4217 de 28 de dezembro de

2010 Aprova as normas de financiamento e execuccedilatildeo do Componente Baacutesico da

Assistecircncia Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil

51

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Portaria n 184 de 03 de fevereiro de

2011 Dispotildee sobre o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da

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Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em um municiacutepio da Bahia Brasil Rev baiana

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Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em Jaraguaacute do Sul no Ano de 2007 Rev Sauacutede

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partir do pensamento complexo 2008 Dissertaccedilatildeo - Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em

Ciecircncias Farmacecircuticas ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre

2008

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niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

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estado de Satildeo Paulo diagnoacutestico e perspectivas 2006 Dissertaccedilatildeo - Mestrado

em Medicamentos e Cosmeacuteticos - Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas de Ribeiratildeo

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farmacecircutica no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) a compra estadual

e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

2

3

FICHA CATALOGRAacuteFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL-UEPB

N778a Nogueira Rocircmulo Guimaratildees

Assistecircncia Farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica

histoacuterico realidade e percepccedilotildees [manuscrito] Rocircmulo Guimaratildees Nogueira ndash Campina Grande

2012

53 f

Monografia (Especializaccedilatildeo em Gestatildeo em Sauacutede) -

Universidade Estadual da Paraiacuteba Coordenaccedilatildeo

Institucional de Projetos Especiais - CIPE 2012

ldquoOrientaccedilatildeo Profordf Dr Lindomar de Farias Beleacutem

FarmaacuteciaUEPBrdquo

1 Assistecircncia Farmacecircutica 2 Avaliaccedilatildeo em

Sauacutede 3 Medicamentos I Tiacutetulo

21 ed CDD 6151

4

R E S U M O

A estruturaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se apresenta aos gestores e profissionais do Sistema Uacutenico de Sauacutede quer pelos recursos financeiros envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de novas estrateacutegias no seu gerenciamento O objetivo desta monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da assistecircncia farmacecircutica no Brasil O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A revisatildeo de literatura foi realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico por meio de ferramentas de busca na internet A estrutura legislativa e regulatoacuteria de medicamentos que vem sendo implementada no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas pode ser considerada bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica abrangendo dimensotildeespoliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais Neste sentido a avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica eacute uma atividade que deve constar na rotina dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o aperfeiccediloamento da sua organizaccedilatildeo No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica limitam o acircmbito de suas accedilotildees no SUS As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na Assistecircncia Farmacecircutica demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede PALAVRAS-CHAVE Assistecircncia Farmacecircutica Avaliaccedilatildeo em Sauacutede Medicamentos

5

A B S T R A C T

The structuring of the Pharmaceutical Assistance is one of the challenges that is presented to the managers and professionals of the Health Care System as the financial resources involved as the need for continuous improvement in pursuit of new strategies in its management The purpose of this monograph was to discuss the progress and difficulties for the establishment of pharmaceutical assistance in Brazil The study was descriptive with qualitative approach The literature review was conducted through literature review through search engines on the Internet The legislative and regulatory framework for medicines that have been implemented in Brazil in recent decades can be considered quite comprehensive However these advances should be analyzed critically many adjustments still need to be made Evaluation studies reviewed show that there are several irregularities in pharmaceutical assistance covering political administrative technical and culturaldimensions In this sense the evaluation of pharmaceutical assistance is an activity which must be included in routine of health services in order to collaborate with the improvement of its organization With regard to the organizational dimension the constraint on the autonomy of the coordination of pharmaceutical assistance and especially the absence of the pharmacist in the operationalization of essential activities to the management of pharmaceutical assistance limits the scope of their actions in the Health Care System The different perceptions of the actors involved in pharmaceutical assistance discussed in this study showed limited views about its importance in health care KEYWORDS Pharmaceutical Assistance Health Evaluation Drugs

6

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF Assistecircncia Farmacecircutica

Atenfar Atenccedilatildeo Farmacecircutica

CAF Central de Abastecimento Farmacecircutico

CEAF Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica

CEME Central de Medicamentos

CFF Conselho Federal de Farmaacutecia

CFT Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica

CIB Comissatildeo Intergestores Bipartite

CIM Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos

CIT Comissatildeo Intergestores Tripartite

DAF Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos

LOS Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090)

MS Ministeacuterio da Sauacutede

NASF Nuacutecleo de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia

NOB Norma Operacional Baacutesica

OMS Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PCDT Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

PNAF Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

PNM Poliacutetica Nacional de Medicamentos

PSF Programa de Sauacutede da Famiacutelia

Qualifar-SUS Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no

acircmbito do SUS

REMUME Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais

RENAME Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

SCTIE Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos

SES Secretaria Estadual de Sauacutede

SSC Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede

TCU Tribunal de Contas da Uniatildeo

UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede

USF Unidade de Sauacutede da Famiacutelia

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 7

METODOLOGIA 8

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 9

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 20

21 Aspectos Organizacionais 23

22 Seleccedilatildeo 24

23 Programaccedilatildeo 26

24 Aquisiccedilatildeo 28

25 Armazenamento 29

26 Dispensaccedilatildeo 31

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 33

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 38

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 44

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

O Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) tal como foi concebido na Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 pretende atender a todos de maneira igualitaacuteria buscando servir

desde os mais necessitados aos mais abastados Este seu caraacuteter de poliacutetica

puacuteblica baseada nos princiacutepios de universalidade equidade e de integralidade das

accedilotildees e serviccedilos de sauacutede promoveu ampla inclusatildeo social de forma que

representa um grande avanccedilo para um paiacutes em desenvolvimento como o Brasil No

entanto tem sido observada a presenccedila de problemas crocircnicos no atendimento

integral agrave sauacutede seja pela espera pelos serviccedilos meacutedicosseja pela falta de

medicamentos essenciais para distribuiccedilatildeo gratuita (ZAIRE 2008 VIEIRA 2010)

Inclui-se dentre os serviccedilos prestados pelo SUS a assistecircncia farmacecircutica

que segundo a Poliacutetica Nacional de Medicamentos eacute um grupo de atividades

relacionadas com o medicamento destinadas a apoiar as accedilotildees de sauacutede

demandadas por uma comunidade (BRASIL 1998)

A estruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se

apresenta aos gestores e profissionais do SUS quer pelos recursos financeiros

envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de

novas estrateacutegias no seu gerenciamento (RIECK 2008)

Aprofundar a questatildeo do provimento de medicamentos essenciais agrave

populaccedilatildeo se mostra natildeo soacute como um fator importante mas tambeacutem como uma

forma de racionalizar custos com procedimentos e agravos pela falta de adesatildeo ao

tratamento farmacoloacutegico (ZAIRE 2008)

A assistecircncia terapecircutica integral tem grande relevacircncia no contexto da

atenccedilatildeo agrave sauacutede considerando que a maioria das intervenccedilotildees em sauacutede envolve o

uso de medicamentos A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de assistecircncia farmacecircutica

vem se desenvolvendo nos uacuteltimos anos de maneira que o grande desafio eacute fazer

com que os seus princiacutepios sejam de fato estabelecidos Para isto eacute preciso que

sejam assegurados os recursos necessaacuterios agrave execuccedilatildeo das atividades e tambeacutem

que sua gestatildeo seja eficaz efetiva e eficiente Diante do exposto o objetivo desta

monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da

assistecircncia farmacecircutica no Brasil

8

METODOLOGIA

O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A

revisatildeo de literatura foi inicialmente realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico

por meio da ferramenta de busca ldquogoogle acadecircmicordquo (scholargooglecombr)

utilizando-se os filtros termo ldquoassistecircncia farmacecircuticardquo no tiacutetulo do artigo

resultados que contenham o trabalho completo e periacuteodo de publicaccedilatildeo

compreendido entre os anos de 2006 e 2012 Em seguida os resultados foram

selecionados de acordo com a natureza (foram considerados apenas artigos

cientiacuteficos monografias dissertaccedilotildees e teses) bem como se levaram em

consideraccedilatildeo os objetivos dos trabalhos e suas abordagens sobre o assunto

Tambeacutem foi avaliada a origem dos escritos selecionando apenas trabalhos oriundos

de bancos de dados reconhecidos tais como bireme scielo sites de universidades

brasileiras e sites oficiais do governo

A fonte inicial de pesquisa consistiu em 24 escritos selecionados entre 84

apresentados pela ferramenta de busca Foram identificadas trecircs tipos de

abordagens revisatildeo de literatura da assistecircncia farmacecircutica no Brasil anaacutelise da

assistecircncia farmacecircutica nos serviccedilos de atenccedilatildeo a sauacutede visatildeo e avaliaccedilatildeo de

alunos de graduaccedilatildeo e profissionais farmacecircuticos com relaccedilatildeo o seu papel frente

agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica A partir destes grupos de escritos foi

discutido cada tema

A revisatildeo de literatura consistiu numa anaacutelise criacutetica natildeo sistematizada da

evidecircncia cientiacutefica obtida a qual foi ampliada durante sua leitura e discussatildeo

atraveacutes da consulta em fontes derivadas das iniciais bem como atraveacutes de pesquisa

em sites governamentais

O trabalho foi subdividido em trecircs capiacutetulos o primeiro aborda os marcos

histoacutericos e legais que asseguram a assistecircncia farmacecircutica as principais poliacuteticas

como a Poliacutetica Nacional de Medicamentos (PNM) e a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF) no segundo capiacutetulo satildeo apresentados estudos

de avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica que refletem a sua realidade no Brasil e

por fim satildeo discutidas as percepccedilotildees dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica

9

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

O processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede brasileira tem incorporado

nas uacuteltimas deacutecadas regulamentaccedilotildees diversas no acircmbito da assistecircncia

farmacecircutica (AF) dentre as quais se destacam a Poliacutetica Nacional de

Medicamentos a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e a regulamentaccedilatildeo

do financiamento da assistecircncia farmacecircutica

No Brasil historicamente o acesso a medicamentos era limitado agravequeles que

podiam adquiri-los Posteriormente foi ampliado aos trabalhadores beneficiaacuterios do

antigo Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) O marco inicial da poliacutetica

governamental para medicamentos foi acriaccedilatildeo da Central de Medicamentos ndash

CEME em 1971 com o objetivo de promover e organizar o fornecimento de

medicamentos de uso humano a populaccedilatildeo a preccedilos comuns no mercado Sua accedilatildeo

se caracterizava por manter uma poliacutetica focada na aquisiccedilatildeo e na distribuiccedilatildeo de

medicamentos (BRASIL 2002)

Uma das iniciativas para racionalizaccedilatildeo da poliacutetica de medicamentos

foi a homologaccedilatildeo em 1975 da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

Essenciais ndash RENAME pelo Ministeacuterio da Previdecircncia e Assistecircncia

Social Antes mesmo da criaccedilatildeo da CEME jaacute havia sido abordada a

elaboraccedilatildeo de uma relaccedilatildeo padronizada de medicamentos

essenciais que orientava as compras federais mas apenas naquela

ocasiatildeo eacute adotado o nome de RENAME (BRASIL 2002)

Na mesma deacutecada o abastecimento de medicamentos essenciais foi

considerado como um dos oito elementos baacutesicos da atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede na

conferecircncia mundial sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria a Sauacutede realizada em Alma-Ata

URSS em 1978 sob a iniciativa da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e

participaccedilatildeo da United Nations Childrenrsquos Fund (Unicef) (MARIN et al 2003)

Em 1988 a CEME organizou o I Encontro Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica e Poliacutetica de Medicamentos Neste evento foi apresentado um

diagnoacutestico da situaccedilatildeo do setor farmacecircutico brasileiro naquela eacutepoca e dele

resultou um documento intitulado Carta de Brasiacutelia onde foi assumido um conceito

formal de assistecircncia farmacecircutica com base em um documento elaborado na

Faculdade de Farmaacutecia da Universidade Federal de Minas Gerais (ACURCIO 2003

apud RIECK 2008)

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

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3

FICHA CATALOGRAacuteFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL-UEPB

N778a Nogueira Rocircmulo Guimaratildees

Assistecircncia Farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica

histoacuterico realidade e percepccedilotildees [manuscrito] Rocircmulo Guimaratildees Nogueira ndash Campina Grande

2012

53 f

Monografia (Especializaccedilatildeo em Gestatildeo em Sauacutede) -

Universidade Estadual da Paraiacuteba Coordenaccedilatildeo

Institucional de Projetos Especiais - CIPE 2012

ldquoOrientaccedilatildeo Profordf Dr Lindomar de Farias Beleacutem

FarmaacuteciaUEPBrdquo

1 Assistecircncia Farmacecircutica 2 Avaliaccedilatildeo em

Sauacutede 3 Medicamentos I Tiacutetulo

21 ed CDD 6151

4

R E S U M O

A estruturaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se apresenta aos gestores e profissionais do Sistema Uacutenico de Sauacutede quer pelos recursos financeiros envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de novas estrateacutegias no seu gerenciamento O objetivo desta monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da assistecircncia farmacecircutica no Brasil O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A revisatildeo de literatura foi realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico por meio de ferramentas de busca na internet A estrutura legislativa e regulatoacuteria de medicamentos que vem sendo implementada no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas pode ser considerada bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica abrangendo dimensotildeespoliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais Neste sentido a avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica eacute uma atividade que deve constar na rotina dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o aperfeiccediloamento da sua organizaccedilatildeo No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica limitam o acircmbito de suas accedilotildees no SUS As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na Assistecircncia Farmacecircutica demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede PALAVRAS-CHAVE Assistecircncia Farmacecircutica Avaliaccedilatildeo em Sauacutede Medicamentos

5

A B S T R A C T

The structuring of the Pharmaceutical Assistance is one of the challenges that is presented to the managers and professionals of the Health Care System as the financial resources involved as the need for continuous improvement in pursuit of new strategies in its management The purpose of this monograph was to discuss the progress and difficulties for the establishment of pharmaceutical assistance in Brazil The study was descriptive with qualitative approach The literature review was conducted through literature review through search engines on the Internet The legislative and regulatory framework for medicines that have been implemented in Brazil in recent decades can be considered quite comprehensive However these advances should be analyzed critically many adjustments still need to be made Evaluation studies reviewed show that there are several irregularities in pharmaceutical assistance covering political administrative technical and culturaldimensions In this sense the evaluation of pharmaceutical assistance is an activity which must be included in routine of health services in order to collaborate with the improvement of its organization With regard to the organizational dimension the constraint on the autonomy of the coordination of pharmaceutical assistance and especially the absence of the pharmacist in the operationalization of essential activities to the management of pharmaceutical assistance limits the scope of their actions in the Health Care System The different perceptions of the actors involved in pharmaceutical assistance discussed in this study showed limited views about its importance in health care KEYWORDS Pharmaceutical Assistance Health Evaluation Drugs

6

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF Assistecircncia Farmacecircutica

Atenfar Atenccedilatildeo Farmacecircutica

CAF Central de Abastecimento Farmacecircutico

CEAF Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica

CEME Central de Medicamentos

CFF Conselho Federal de Farmaacutecia

CFT Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica

CIB Comissatildeo Intergestores Bipartite

CIM Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos

CIT Comissatildeo Intergestores Tripartite

DAF Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos

LOS Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090)

MS Ministeacuterio da Sauacutede

NASF Nuacutecleo de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia

NOB Norma Operacional Baacutesica

OMS Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PCDT Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

PNAF Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

PNM Poliacutetica Nacional de Medicamentos

PSF Programa de Sauacutede da Famiacutelia

Qualifar-SUS Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no

acircmbito do SUS

REMUME Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais

RENAME Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

SCTIE Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos

SES Secretaria Estadual de Sauacutede

SSC Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede

TCU Tribunal de Contas da Uniatildeo

UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede

USF Unidade de Sauacutede da Famiacutelia

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 7

METODOLOGIA 8

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 9

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 20

21 Aspectos Organizacionais 23

22 Seleccedilatildeo 24

23 Programaccedilatildeo 26

24 Aquisiccedilatildeo 28

25 Armazenamento 29

26 Dispensaccedilatildeo 31

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 33

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 38

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 44

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

O Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) tal como foi concebido na Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 pretende atender a todos de maneira igualitaacuteria buscando servir

desde os mais necessitados aos mais abastados Este seu caraacuteter de poliacutetica

puacuteblica baseada nos princiacutepios de universalidade equidade e de integralidade das

accedilotildees e serviccedilos de sauacutede promoveu ampla inclusatildeo social de forma que

representa um grande avanccedilo para um paiacutes em desenvolvimento como o Brasil No

entanto tem sido observada a presenccedila de problemas crocircnicos no atendimento

integral agrave sauacutede seja pela espera pelos serviccedilos meacutedicosseja pela falta de

medicamentos essenciais para distribuiccedilatildeo gratuita (ZAIRE 2008 VIEIRA 2010)

Inclui-se dentre os serviccedilos prestados pelo SUS a assistecircncia farmacecircutica

que segundo a Poliacutetica Nacional de Medicamentos eacute um grupo de atividades

relacionadas com o medicamento destinadas a apoiar as accedilotildees de sauacutede

demandadas por uma comunidade (BRASIL 1998)

A estruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se

apresenta aos gestores e profissionais do SUS quer pelos recursos financeiros

envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de

novas estrateacutegias no seu gerenciamento (RIECK 2008)

Aprofundar a questatildeo do provimento de medicamentos essenciais agrave

populaccedilatildeo se mostra natildeo soacute como um fator importante mas tambeacutem como uma

forma de racionalizar custos com procedimentos e agravos pela falta de adesatildeo ao

tratamento farmacoloacutegico (ZAIRE 2008)

A assistecircncia terapecircutica integral tem grande relevacircncia no contexto da

atenccedilatildeo agrave sauacutede considerando que a maioria das intervenccedilotildees em sauacutede envolve o

uso de medicamentos A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de assistecircncia farmacecircutica

vem se desenvolvendo nos uacuteltimos anos de maneira que o grande desafio eacute fazer

com que os seus princiacutepios sejam de fato estabelecidos Para isto eacute preciso que

sejam assegurados os recursos necessaacuterios agrave execuccedilatildeo das atividades e tambeacutem

que sua gestatildeo seja eficaz efetiva e eficiente Diante do exposto o objetivo desta

monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da

assistecircncia farmacecircutica no Brasil

8

METODOLOGIA

O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A

revisatildeo de literatura foi inicialmente realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico

por meio da ferramenta de busca ldquogoogle acadecircmicordquo (scholargooglecombr)

utilizando-se os filtros termo ldquoassistecircncia farmacecircuticardquo no tiacutetulo do artigo

resultados que contenham o trabalho completo e periacuteodo de publicaccedilatildeo

compreendido entre os anos de 2006 e 2012 Em seguida os resultados foram

selecionados de acordo com a natureza (foram considerados apenas artigos

cientiacuteficos monografias dissertaccedilotildees e teses) bem como se levaram em

consideraccedilatildeo os objetivos dos trabalhos e suas abordagens sobre o assunto

Tambeacutem foi avaliada a origem dos escritos selecionando apenas trabalhos oriundos

de bancos de dados reconhecidos tais como bireme scielo sites de universidades

brasileiras e sites oficiais do governo

A fonte inicial de pesquisa consistiu em 24 escritos selecionados entre 84

apresentados pela ferramenta de busca Foram identificadas trecircs tipos de

abordagens revisatildeo de literatura da assistecircncia farmacecircutica no Brasil anaacutelise da

assistecircncia farmacecircutica nos serviccedilos de atenccedilatildeo a sauacutede visatildeo e avaliaccedilatildeo de

alunos de graduaccedilatildeo e profissionais farmacecircuticos com relaccedilatildeo o seu papel frente

agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica A partir destes grupos de escritos foi

discutido cada tema

A revisatildeo de literatura consistiu numa anaacutelise criacutetica natildeo sistematizada da

evidecircncia cientiacutefica obtida a qual foi ampliada durante sua leitura e discussatildeo

atraveacutes da consulta em fontes derivadas das iniciais bem como atraveacutes de pesquisa

em sites governamentais

O trabalho foi subdividido em trecircs capiacutetulos o primeiro aborda os marcos

histoacutericos e legais que asseguram a assistecircncia farmacecircutica as principais poliacuteticas

como a Poliacutetica Nacional de Medicamentos (PNM) e a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF) no segundo capiacutetulo satildeo apresentados estudos

de avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica que refletem a sua realidade no Brasil e

por fim satildeo discutidas as percepccedilotildees dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica

9

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

O processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede brasileira tem incorporado

nas uacuteltimas deacutecadas regulamentaccedilotildees diversas no acircmbito da assistecircncia

farmacecircutica (AF) dentre as quais se destacam a Poliacutetica Nacional de

Medicamentos a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e a regulamentaccedilatildeo

do financiamento da assistecircncia farmacecircutica

No Brasil historicamente o acesso a medicamentos era limitado agravequeles que

podiam adquiri-los Posteriormente foi ampliado aos trabalhadores beneficiaacuterios do

antigo Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) O marco inicial da poliacutetica

governamental para medicamentos foi acriaccedilatildeo da Central de Medicamentos ndash

CEME em 1971 com o objetivo de promover e organizar o fornecimento de

medicamentos de uso humano a populaccedilatildeo a preccedilos comuns no mercado Sua accedilatildeo

se caracterizava por manter uma poliacutetica focada na aquisiccedilatildeo e na distribuiccedilatildeo de

medicamentos (BRASIL 2002)

Uma das iniciativas para racionalizaccedilatildeo da poliacutetica de medicamentos

foi a homologaccedilatildeo em 1975 da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

Essenciais ndash RENAME pelo Ministeacuterio da Previdecircncia e Assistecircncia

Social Antes mesmo da criaccedilatildeo da CEME jaacute havia sido abordada a

elaboraccedilatildeo de uma relaccedilatildeo padronizada de medicamentos

essenciais que orientava as compras federais mas apenas naquela

ocasiatildeo eacute adotado o nome de RENAME (BRASIL 2002)

Na mesma deacutecada o abastecimento de medicamentos essenciais foi

considerado como um dos oito elementos baacutesicos da atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede na

conferecircncia mundial sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria a Sauacutede realizada em Alma-Ata

URSS em 1978 sob a iniciativa da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e

participaccedilatildeo da United Nations Childrenrsquos Fund (Unicef) (MARIN et al 2003)

Em 1988 a CEME organizou o I Encontro Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica e Poliacutetica de Medicamentos Neste evento foi apresentado um

diagnoacutestico da situaccedilatildeo do setor farmacecircutico brasileiro naquela eacutepoca e dele

resultou um documento intitulado Carta de Brasiacutelia onde foi assumido um conceito

formal de assistecircncia farmacecircutica com base em um documento elaborado na

Faculdade de Farmaacutecia da Universidade Federal de Minas Gerais (ACURCIO 2003

apud RIECK 2008)

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

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funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

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2004a Institui a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica Diaacuterio Oficial da

Repuacuteblica Federativa do Brasil

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Federativa do Brasil

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2008

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relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

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2011

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e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

4

R E S U M O

A estruturaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se apresenta aos gestores e profissionais do Sistema Uacutenico de Sauacutede quer pelos recursos financeiros envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de novas estrateacutegias no seu gerenciamento O objetivo desta monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da assistecircncia farmacecircutica no Brasil O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A revisatildeo de literatura foi realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico por meio de ferramentas de busca na internet A estrutura legislativa e regulatoacuteria de medicamentos que vem sendo implementada no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas pode ser considerada bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica abrangendo dimensotildeespoliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais Neste sentido a avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica eacute uma atividade que deve constar na rotina dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o aperfeiccediloamento da sua organizaccedilatildeo No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica limitam o acircmbito de suas accedilotildees no SUS As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na Assistecircncia Farmacecircutica demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede PALAVRAS-CHAVE Assistecircncia Farmacecircutica Avaliaccedilatildeo em Sauacutede Medicamentos

5

A B S T R A C T

The structuring of the Pharmaceutical Assistance is one of the challenges that is presented to the managers and professionals of the Health Care System as the financial resources involved as the need for continuous improvement in pursuit of new strategies in its management The purpose of this monograph was to discuss the progress and difficulties for the establishment of pharmaceutical assistance in Brazil The study was descriptive with qualitative approach The literature review was conducted through literature review through search engines on the Internet The legislative and regulatory framework for medicines that have been implemented in Brazil in recent decades can be considered quite comprehensive However these advances should be analyzed critically many adjustments still need to be made Evaluation studies reviewed show that there are several irregularities in pharmaceutical assistance covering political administrative technical and culturaldimensions In this sense the evaluation of pharmaceutical assistance is an activity which must be included in routine of health services in order to collaborate with the improvement of its organization With regard to the organizational dimension the constraint on the autonomy of the coordination of pharmaceutical assistance and especially the absence of the pharmacist in the operationalization of essential activities to the management of pharmaceutical assistance limits the scope of their actions in the Health Care System The different perceptions of the actors involved in pharmaceutical assistance discussed in this study showed limited views about its importance in health care KEYWORDS Pharmaceutical Assistance Health Evaluation Drugs

6

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF Assistecircncia Farmacecircutica

Atenfar Atenccedilatildeo Farmacecircutica

CAF Central de Abastecimento Farmacecircutico

CEAF Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica

CEME Central de Medicamentos

CFF Conselho Federal de Farmaacutecia

CFT Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica

CIB Comissatildeo Intergestores Bipartite

CIM Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos

CIT Comissatildeo Intergestores Tripartite

DAF Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos

LOS Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090)

MS Ministeacuterio da Sauacutede

NASF Nuacutecleo de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia

NOB Norma Operacional Baacutesica

OMS Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PCDT Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

PNAF Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

PNM Poliacutetica Nacional de Medicamentos

PSF Programa de Sauacutede da Famiacutelia

Qualifar-SUS Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no

acircmbito do SUS

REMUME Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais

RENAME Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

SCTIE Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos

SES Secretaria Estadual de Sauacutede

SSC Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede

TCU Tribunal de Contas da Uniatildeo

UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede

USF Unidade de Sauacutede da Famiacutelia

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 7

METODOLOGIA 8

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 9

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 20

21 Aspectos Organizacionais 23

22 Seleccedilatildeo 24

23 Programaccedilatildeo 26

24 Aquisiccedilatildeo 28

25 Armazenamento 29

26 Dispensaccedilatildeo 31

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 33

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 38

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 44

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

O Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) tal como foi concebido na Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 pretende atender a todos de maneira igualitaacuteria buscando servir

desde os mais necessitados aos mais abastados Este seu caraacuteter de poliacutetica

puacuteblica baseada nos princiacutepios de universalidade equidade e de integralidade das

accedilotildees e serviccedilos de sauacutede promoveu ampla inclusatildeo social de forma que

representa um grande avanccedilo para um paiacutes em desenvolvimento como o Brasil No

entanto tem sido observada a presenccedila de problemas crocircnicos no atendimento

integral agrave sauacutede seja pela espera pelos serviccedilos meacutedicosseja pela falta de

medicamentos essenciais para distribuiccedilatildeo gratuita (ZAIRE 2008 VIEIRA 2010)

Inclui-se dentre os serviccedilos prestados pelo SUS a assistecircncia farmacecircutica

que segundo a Poliacutetica Nacional de Medicamentos eacute um grupo de atividades

relacionadas com o medicamento destinadas a apoiar as accedilotildees de sauacutede

demandadas por uma comunidade (BRASIL 1998)

A estruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se

apresenta aos gestores e profissionais do SUS quer pelos recursos financeiros

envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de

novas estrateacutegias no seu gerenciamento (RIECK 2008)

Aprofundar a questatildeo do provimento de medicamentos essenciais agrave

populaccedilatildeo se mostra natildeo soacute como um fator importante mas tambeacutem como uma

forma de racionalizar custos com procedimentos e agravos pela falta de adesatildeo ao

tratamento farmacoloacutegico (ZAIRE 2008)

A assistecircncia terapecircutica integral tem grande relevacircncia no contexto da

atenccedilatildeo agrave sauacutede considerando que a maioria das intervenccedilotildees em sauacutede envolve o

uso de medicamentos A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de assistecircncia farmacecircutica

vem se desenvolvendo nos uacuteltimos anos de maneira que o grande desafio eacute fazer

com que os seus princiacutepios sejam de fato estabelecidos Para isto eacute preciso que

sejam assegurados os recursos necessaacuterios agrave execuccedilatildeo das atividades e tambeacutem

que sua gestatildeo seja eficaz efetiva e eficiente Diante do exposto o objetivo desta

monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da

assistecircncia farmacecircutica no Brasil

8

METODOLOGIA

O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A

revisatildeo de literatura foi inicialmente realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico

por meio da ferramenta de busca ldquogoogle acadecircmicordquo (scholargooglecombr)

utilizando-se os filtros termo ldquoassistecircncia farmacecircuticardquo no tiacutetulo do artigo

resultados que contenham o trabalho completo e periacuteodo de publicaccedilatildeo

compreendido entre os anos de 2006 e 2012 Em seguida os resultados foram

selecionados de acordo com a natureza (foram considerados apenas artigos

cientiacuteficos monografias dissertaccedilotildees e teses) bem como se levaram em

consideraccedilatildeo os objetivos dos trabalhos e suas abordagens sobre o assunto

Tambeacutem foi avaliada a origem dos escritos selecionando apenas trabalhos oriundos

de bancos de dados reconhecidos tais como bireme scielo sites de universidades

brasileiras e sites oficiais do governo

A fonte inicial de pesquisa consistiu em 24 escritos selecionados entre 84

apresentados pela ferramenta de busca Foram identificadas trecircs tipos de

abordagens revisatildeo de literatura da assistecircncia farmacecircutica no Brasil anaacutelise da

assistecircncia farmacecircutica nos serviccedilos de atenccedilatildeo a sauacutede visatildeo e avaliaccedilatildeo de

alunos de graduaccedilatildeo e profissionais farmacecircuticos com relaccedilatildeo o seu papel frente

agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica A partir destes grupos de escritos foi

discutido cada tema

A revisatildeo de literatura consistiu numa anaacutelise criacutetica natildeo sistematizada da

evidecircncia cientiacutefica obtida a qual foi ampliada durante sua leitura e discussatildeo

atraveacutes da consulta em fontes derivadas das iniciais bem como atraveacutes de pesquisa

em sites governamentais

O trabalho foi subdividido em trecircs capiacutetulos o primeiro aborda os marcos

histoacutericos e legais que asseguram a assistecircncia farmacecircutica as principais poliacuteticas

como a Poliacutetica Nacional de Medicamentos (PNM) e a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF) no segundo capiacutetulo satildeo apresentados estudos

de avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica que refletem a sua realidade no Brasil e

por fim satildeo discutidas as percepccedilotildees dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica

9

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

O processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede brasileira tem incorporado

nas uacuteltimas deacutecadas regulamentaccedilotildees diversas no acircmbito da assistecircncia

farmacecircutica (AF) dentre as quais se destacam a Poliacutetica Nacional de

Medicamentos a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e a regulamentaccedilatildeo

do financiamento da assistecircncia farmacecircutica

No Brasil historicamente o acesso a medicamentos era limitado agravequeles que

podiam adquiri-los Posteriormente foi ampliado aos trabalhadores beneficiaacuterios do

antigo Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) O marco inicial da poliacutetica

governamental para medicamentos foi acriaccedilatildeo da Central de Medicamentos ndash

CEME em 1971 com o objetivo de promover e organizar o fornecimento de

medicamentos de uso humano a populaccedilatildeo a preccedilos comuns no mercado Sua accedilatildeo

se caracterizava por manter uma poliacutetica focada na aquisiccedilatildeo e na distribuiccedilatildeo de

medicamentos (BRASIL 2002)

Uma das iniciativas para racionalizaccedilatildeo da poliacutetica de medicamentos

foi a homologaccedilatildeo em 1975 da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

Essenciais ndash RENAME pelo Ministeacuterio da Previdecircncia e Assistecircncia

Social Antes mesmo da criaccedilatildeo da CEME jaacute havia sido abordada a

elaboraccedilatildeo de uma relaccedilatildeo padronizada de medicamentos

essenciais que orientava as compras federais mas apenas naquela

ocasiatildeo eacute adotado o nome de RENAME (BRASIL 2002)

Na mesma deacutecada o abastecimento de medicamentos essenciais foi

considerado como um dos oito elementos baacutesicos da atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede na

conferecircncia mundial sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria a Sauacutede realizada em Alma-Ata

URSS em 1978 sob a iniciativa da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e

participaccedilatildeo da United Nations Childrenrsquos Fund (Unicef) (MARIN et al 2003)

Em 1988 a CEME organizou o I Encontro Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica e Poliacutetica de Medicamentos Neste evento foi apresentado um

diagnoacutestico da situaccedilatildeo do setor farmacecircutico brasileiro naquela eacutepoca e dele

resultou um documento intitulado Carta de Brasiacutelia onde foi assumido um conceito

formal de assistecircncia farmacecircutica com base em um documento elaborado na

Faculdade de Farmaacutecia da Universidade Federal de Minas Gerais (ACURCIO 2003

apud RIECK 2008)

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

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funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

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2004a Institui a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica Diaacuterio Oficial da

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2004b Institui o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

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2008

SILVA S H A implementaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica no

niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

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estado de Satildeo Paulo diagnoacutestico e perspectivas 2006 Dissertaccedilatildeo - Mestrado

em Medicamentos e Cosmeacuteticos - Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas de Ribeiratildeo

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

5

A B S T R A C T

The structuring of the Pharmaceutical Assistance is one of the challenges that is presented to the managers and professionals of the Health Care System as the financial resources involved as the need for continuous improvement in pursuit of new strategies in its management The purpose of this monograph was to discuss the progress and difficulties for the establishment of pharmaceutical assistance in Brazil The study was descriptive with qualitative approach The literature review was conducted through literature review through search engines on the Internet The legislative and regulatory framework for medicines that have been implemented in Brazil in recent decades can be considered quite comprehensive However these advances should be analyzed critically many adjustments still need to be made Evaluation studies reviewed show that there are several irregularities in pharmaceutical assistance covering political administrative technical and culturaldimensions In this sense the evaluation of pharmaceutical assistance is an activity which must be included in routine of health services in order to collaborate with the improvement of its organization With regard to the organizational dimension the constraint on the autonomy of the coordination of pharmaceutical assistance and especially the absence of the pharmacist in the operationalization of essential activities to the management of pharmaceutical assistance limits the scope of their actions in the Health Care System The different perceptions of the actors involved in pharmaceutical assistance discussed in this study showed limited views about its importance in health care KEYWORDS Pharmaceutical Assistance Health Evaluation Drugs

6

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF Assistecircncia Farmacecircutica

Atenfar Atenccedilatildeo Farmacecircutica

CAF Central de Abastecimento Farmacecircutico

CEAF Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica

CEME Central de Medicamentos

CFF Conselho Federal de Farmaacutecia

CFT Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica

CIB Comissatildeo Intergestores Bipartite

CIM Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos

CIT Comissatildeo Intergestores Tripartite

DAF Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos

LOS Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090)

MS Ministeacuterio da Sauacutede

NASF Nuacutecleo de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia

NOB Norma Operacional Baacutesica

OMS Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PCDT Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

PNAF Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

PNM Poliacutetica Nacional de Medicamentos

PSF Programa de Sauacutede da Famiacutelia

Qualifar-SUS Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no

acircmbito do SUS

REMUME Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais

RENAME Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

SCTIE Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos

SES Secretaria Estadual de Sauacutede

SSC Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede

TCU Tribunal de Contas da Uniatildeo

UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede

USF Unidade de Sauacutede da Famiacutelia

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 7

METODOLOGIA 8

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 9

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 20

21 Aspectos Organizacionais 23

22 Seleccedilatildeo 24

23 Programaccedilatildeo 26

24 Aquisiccedilatildeo 28

25 Armazenamento 29

26 Dispensaccedilatildeo 31

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 33

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 38

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 44

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

O Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) tal como foi concebido na Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 pretende atender a todos de maneira igualitaacuteria buscando servir

desde os mais necessitados aos mais abastados Este seu caraacuteter de poliacutetica

puacuteblica baseada nos princiacutepios de universalidade equidade e de integralidade das

accedilotildees e serviccedilos de sauacutede promoveu ampla inclusatildeo social de forma que

representa um grande avanccedilo para um paiacutes em desenvolvimento como o Brasil No

entanto tem sido observada a presenccedila de problemas crocircnicos no atendimento

integral agrave sauacutede seja pela espera pelos serviccedilos meacutedicosseja pela falta de

medicamentos essenciais para distribuiccedilatildeo gratuita (ZAIRE 2008 VIEIRA 2010)

Inclui-se dentre os serviccedilos prestados pelo SUS a assistecircncia farmacecircutica

que segundo a Poliacutetica Nacional de Medicamentos eacute um grupo de atividades

relacionadas com o medicamento destinadas a apoiar as accedilotildees de sauacutede

demandadas por uma comunidade (BRASIL 1998)

A estruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se

apresenta aos gestores e profissionais do SUS quer pelos recursos financeiros

envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de

novas estrateacutegias no seu gerenciamento (RIECK 2008)

Aprofundar a questatildeo do provimento de medicamentos essenciais agrave

populaccedilatildeo se mostra natildeo soacute como um fator importante mas tambeacutem como uma

forma de racionalizar custos com procedimentos e agravos pela falta de adesatildeo ao

tratamento farmacoloacutegico (ZAIRE 2008)

A assistecircncia terapecircutica integral tem grande relevacircncia no contexto da

atenccedilatildeo agrave sauacutede considerando que a maioria das intervenccedilotildees em sauacutede envolve o

uso de medicamentos A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de assistecircncia farmacecircutica

vem se desenvolvendo nos uacuteltimos anos de maneira que o grande desafio eacute fazer

com que os seus princiacutepios sejam de fato estabelecidos Para isto eacute preciso que

sejam assegurados os recursos necessaacuterios agrave execuccedilatildeo das atividades e tambeacutem

que sua gestatildeo seja eficaz efetiva e eficiente Diante do exposto o objetivo desta

monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da

assistecircncia farmacecircutica no Brasil

8

METODOLOGIA

O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A

revisatildeo de literatura foi inicialmente realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico

por meio da ferramenta de busca ldquogoogle acadecircmicordquo (scholargooglecombr)

utilizando-se os filtros termo ldquoassistecircncia farmacecircuticardquo no tiacutetulo do artigo

resultados que contenham o trabalho completo e periacuteodo de publicaccedilatildeo

compreendido entre os anos de 2006 e 2012 Em seguida os resultados foram

selecionados de acordo com a natureza (foram considerados apenas artigos

cientiacuteficos monografias dissertaccedilotildees e teses) bem como se levaram em

consideraccedilatildeo os objetivos dos trabalhos e suas abordagens sobre o assunto

Tambeacutem foi avaliada a origem dos escritos selecionando apenas trabalhos oriundos

de bancos de dados reconhecidos tais como bireme scielo sites de universidades

brasileiras e sites oficiais do governo

A fonte inicial de pesquisa consistiu em 24 escritos selecionados entre 84

apresentados pela ferramenta de busca Foram identificadas trecircs tipos de

abordagens revisatildeo de literatura da assistecircncia farmacecircutica no Brasil anaacutelise da

assistecircncia farmacecircutica nos serviccedilos de atenccedilatildeo a sauacutede visatildeo e avaliaccedilatildeo de

alunos de graduaccedilatildeo e profissionais farmacecircuticos com relaccedilatildeo o seu papel frente

agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica A partir destes grupos de escritos foi

discutido cada tema

A revisatildeo de literatura consistiu numa anaacutelise criacutetica natildeo sistematizada da

evidecircncia cientiacutefica obtida a qual foi ampliada durante sua leitura e discussatildeo

atraveacutes da consulta em fontes derivadas das iniciais bem como atraveacutes de pesquisa

em sites governamentais

O trabalho foi subdividido em trecircs capiacutetulos o primeiro aborda os marcos

histoacutericos e legais que asseguram a assistecircncia farmacecircutica as principais poliacuteticas

como a Poliacutetica Nacional de Medicamentos (PNM) e a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF) no segundo capiacutetulo satildeo apresentados estudos

de avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica que refletem a sua realidade no Brasil e

por fim satildeo discutidas as percepccedilotildees dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica

9

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

O processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede brasileira tem incorporado

nas uacuteltimas deacutecadas regulamentaccedilotildees diversas no acircmbito da assistecircncia

farmacecircutica (AF) dentre as quais se destacam a Poliacutetica Nacional de

Medicamentos a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e a regulamentaccedilatildeo

do financiamento da assistecircncia farmacecircutica

No Brasil historicamente o acesso a medicamentos era limitado agravequeles que

podiam adquiri-los Posteriormente foi ampliado aos trabalhadores beneficiaacuterios do

antigo Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) O marco inicial da poliacutetica

governamental para medicamentos foi acriaccedilatildeo da Central de Medicamentos ndash

CEME em 1971 com o objetivo de promover e organizar o fornecimento de

medicamentos de uso humano a populaccedilatildeo a preccedilos comuns no mercado Sua accedilatildeo

se caracterizava por manter uma poliacutetica focada na aquisiccedilatildeo e na distribuiccedilatildeo de

medicamentos (BRASIL 2002)

Uma das iniciativas para racionalizaccedilatildeo da poliacutetica de medicamentos

foi a homologaccedilatildeo em 1975 da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

Essenciais ndash RENAME pelo Ministeacuterio da Previdecircncia e Assistecircncia

Social Antes mesmo da criaccedilatildeo da CEME jaacute havia sido abordada a

elaboraccedilatildeo de uma relaccedilatildeo padronizada de medicamentos

essenciais que orientava as compras federais mas apenas naquela

ocasiatildeo eacute adotado o nome de RENAME (BRASIL 2002)

Na mesma deacutecada o abastecimento de medicamentos essenciais foi

considerado como um dos oito elementos baacutesicos da atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede na

conferecircncia mundial sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria a Sauacutede realizada em Alma-Ata

URSS em 1978 sob a iniciativa da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e

participaccedilatildeo da United Nations Childrenrsquos Fund (Unicef) (MARIN et al 2003)

Em 1988 a CEME organizou o I Encontro Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica e Poliacutetica de Medicamentos Neste evento foi apresentado um

diagnoacutestico da situaccedilatildeo do setor farmacecircutico brasileiro naquela eacutepoca e dele

resultou um documento intitulado Carta de Brasiacutelia onde foi assumido um conceito

formal de assistecircncia farmacecircutica com base em um documento elaborado na

Faculdade de Farmaacutecia da Universidade Federal de Minas Gerais (ACURCIO 2003

apud RIECK 2008)

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

organizaccedilatildeo Ciecircnc sauacutede coletiva v16 n9 p 3939-3949 2011

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condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede a organizaccedilatildeo e o

funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

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328 de 22 de julho de 1999 Dispotildee sobre requisitos exigidos para a dispensaccedilatildeo de

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Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Resoluccedilatildeo n 338 de 06 de maio de

2004a Institui a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica Diaacuterio Oficial da

Repuacuteblica Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Decreto n 5090 de 20 de maio de

2004b Institui o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo

baacutesica instruccedilotildees teacutecnicas para sua organizaccedilatildeo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos Departamento de

Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos 2 ed ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da

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2010 Aprova as normas de financiamento e execuccedilatildeo do Componente Baacutesico da

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51

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Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em um municiacutepio da Bahia Brasil Rev baiana

sauacutede puacuteblica n 34 v 4 outdez 2010

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Assistecircncia Farmacecircutica no Brasil Organizaccedilatildeo Pan-Americana da Sauacutede

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede

2005

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Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em Jaraguaacute do Sul no Ano de 2007 Rev Sauacutede

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RIECK E B Anaacutelise da gestatildeo estadual de assistecircncia farmacecircutica a

partir do pensamento complexo 2008 Dissertaccedilatildeo - Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em

Ciecircncias Farmacecircuticas ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre

2008

SILVA S H A implementaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica no

niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

SILVA JUNIOR D B Assistecircncia farmacecircutica em um municiacutepio do

estado de Satildeo Paulo diagnoacutestico e perspectivas 2006 Dissertaccedilatildeo - Mestrado

em Medicamentos e Cosmeacuteticos - Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas de Ribeiratildeo

Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2006 Disponiacutevel em

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIAtildeO Relatoacuterio de auditoria operacional na

accedilatildeo ldquoPromoccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica e insumos estrateacutegicos na

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e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

6

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF Assistecircncia Farmacecircutica

Atenfar Atenccedilatildeo Farmacecircutica

CAF Central de Abastecimento Farmacecircutico

CEAF Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica

CEME Central de Medicamentos

CFF Conselho Federal de Farmaacutecia

CFT Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica

CIB Comissatildeo Intergestores Bipartite

CIM Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos

CIT Comissatildeo Intergestores Tripartite

DAF Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos

LOS Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090)

MS Ministeacuterio da Sauacutede

NASF Nuacutecleo de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia

NOB Norma Operacional Baacutesica

OMS Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PCDT Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

PNAF Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

PNM Poliacutetica Nacional de Medicamentos

PSF Programa de Sauacutede da Famiacutelia

Qualifar-SUS Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no

acircmbito do SUS

REMUME Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais

RENAME Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

SCTIE Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos

SES Secretaria Estadual de Sauacutede

SSC Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede

TCU Tribunal de Contas da Uniatildeo

UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede

USF Unidade de Sauacutede da Famiacutelia

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 7

METODOLOGIA 8

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 9

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 20

21 Aspectos Organizacionais 23

22 Seleccedilatildeo 24

23 Programaccedilatildeo 26

24 Aquisiccedilatildeo 28

25 Armazenamento 29

26 Dispensaccedilatildeo 31

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 33

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 38

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 44

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

O Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) tal como foi concebido na Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 pretende atender a todos de maneira igualitaacuteria buscando servir

desde os mais necessitados aos mais abastados Este seu caraacuteter de poliacutetica

puacuteblica baseada nos princiacutepios de universalidade equidade e de integralidade das

accedilotildees e serviccedilos de sauacutede promoveu ampla inclusatildeo social de forma que

representa um grande avanccedilo para um paiacutes em desenvolvimento como o Brasil No

entanto tem sido observada a presenccedila de problemas crocircnicos no atendimento

integral agrave sauacutede seja pela espera pelos serviccedilos meacutedicosseja pela falta de

medicamentos essenciais para distribuiccedilatildeo gratuita (ZAIRE 2008 VIEIRA 2010)

Inclui-se dentre os serviccedilos prestados pelo SUS a assistecircncia farmacecircutica

que segundo a Poliacutetica Nacional de Medicamentos eacute um grupo de atividades

relacionadas com o medicamento destinadas a apoiar as accedilotildees de sauacutede

demandadas por uma comunidade (BRASIL 1998)

A estruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se

apresenta aos gestores e profissionais do SUS quer pelos recursos financeiros

envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de

novas estrateacutegias no seu gerenciamento (RIECK 2008)

Aprofundar a questatildeo do provimento de medicamentos essenciais agrave

populaccedilatildeo se mostra natildeo soacute como um fator importante mas tambeacutem como uma

forma de racionalizar custos com procedimentos e agravos pela falta de adesatildeo ao

tratamento farmacoloacutegico (ZAIRE 2008)

A assistecircncia terapecircutica integral tem grande relevacircncia no contexto da

atenccedilatildeo agrave sauacutede considerando que a maioria das intervenccedilotildees em sauacutede envolve o

uso de medicamentos A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de assistecircncia farmacecircutica

vem se desenvolvendo nos uacuteltimos anos de maneira que o grande desafio eacute fazer

com que os seus princiacutepios sejam de fato estabelecidos Para isto eacute preciso que

sejam assegurados os recursos necessaacuterios agrave execuccedilatildeo das atividades e tambeacutem

que sua gestatildeo seja eficaz efetiva e eficiente Diante do exposto o objetivo desta

monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da

assistecircncia farmacecircutica no Brasil

8

METODOLOGIA

O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A

revisatildeo de literatura foi inicialmente realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico

por meio da ferramenta de busca ldquogoogle acadecircmicordquo (scholargooglecombr)

utilizando-se os filtros termo ldquoassistecircncia farmacecircuticardquo no tiacutetulo do artigo

resultados que contenham o trabalho completo e periacuteodo de publicaccedilatildeo

compreendido entre os anos de 2006 e 2012 Em seguida os resultados foram

selecionados de acordo com a natureza (foram considerados apenas artigos

cientiacuteficos monografias dissertaccedilotildees e teses) bem como se levaram em

consideraccedilatildeo os objetivos dos trabalhos e suas abordagens sobre o assunto

Tambeacutem foi avaliada a origem dos escritos selecionando apenas trabalhos oriundos

de bancos de dados reconhecidos tais como bireme scielo sites de universidades

brasileiras e sites oficiais do governo

A fonte inicial de pesquisa consistiu em 24 escritos selecionados entre 84

apresentados pela ferramenta de busca Foram identificadas trecircs tipos de

abordagens revisatildeo de literatura da assistecircncia farmacecircutica no Brasil anaacutelise da

assistecircncia farmacecircutica nos serviccedilos de atenccedilatildeo a sauacutede visatildeo e avaliaccedilatildeo de

alunos de graduaccedilatildeo e profissionais farmacecircuticos com relaccedilatildeo o seu papel frente

agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica A partir destes grupos de escritos foi

discutido cada tema

A revisatildeo de literatura consistiu numa anaacutelise criacutetica natildeo sistematizada da

evidecircncia cientiacutefica obtida a qual foi ampliada durante sua leitura e discussatildeo

atraveacutes da consulta em fontes derivadas das iniciais bem como atraveacutes de pesquisa

em sites governamentais

O trabalho foi subdividido em trecircs capiacutetulos o primeiro aborda os marcos

histoacutericos e legais que asseguram a assistecircncia farmacecircutica as principais poliacuteticas

como a Poliacutetica Nacional de Medicamentos (PNM) e a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF) no segundo capiacutetulo satildeo apresentados estudos

de avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica que refletem a sua realidade no Brasil e

por fim satildeo discutidas as percepccedilotildees dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica

9

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

O processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede brasileira tem incorporado

nas uacuteltimas deacutecadas regulamentaccedilotildees diversas no acircmbito da assistecircncia

farmacecircutica (AF) dentre as quais se destacam a Poliacutetica Nacional de

Medicamentos a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e a regulamentaccedilatildeo

do financiamento da assistecircncia farmacecircutica

No Brasil historicamente o acesso a medicamentos era limitado agravequeles que

podiam adquiri-los Posteriormente foi ampliado aos trabalhadores beneficiaacuterios do

antigo Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) O marco inicial da poliacutetica

governamental para medicamentos foi acriaccedilatildeo da Central de Medicamentos ndash

CEME em 1971 com o objetivo de promover e organizar o fornecimento de

medicamentos de uso humano a populaccedilatildeo a preccedilos comuns no mercado Sua accedilatildeo

se caracterizava por manter uma poliacutetica focada na aquisiccedilatildeo e na distribuiccedilatildeo de

medicamentos (BRASIL 2002)

Uma das iniciativas para racionalizaccedilatildeo da poliacutetica de medicamentos

foi a homologaccedilatildeo em 1975 da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

Essenciais ndash RENAME pelo Ministeacuterio da Previdecircncia e Assistecircncia

Social Antes mesmo da criaccedilatildeo da CEME jaacute havia sido abordada a

elaboraccedilatildeo de uma relaccedilatildeo padronizada de medicamentos

essenciais que orientava as compras federais mas apenas naquela

ocasiatildeo eacute adotado o nome de RENAME (BRASIL 2002)

Na mesma deacutecada o abastecimento de medicamentos essenciais foi

considerado como um dos oito elementos baacutesicos da atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede na

conferecircncia mundial sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria a Sauacutede realizada em Alma-Ata

URSS em 1978 sob a iniciativa da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e

participaccedilatildeo da United Nations Childrenrsquos Fund (Unicef) (MARIN et al 2003)

Em 1988 a CEME organizou o I Encontro Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica e Poliacutetica de Medicamentos Neste evento foi apresentado um

diagnoacutestico da situaccedilatildeo do setor farmacecircutico brasileiro naquela eacutepoca e dele

resultou um documento intitulado Carta de Brasiacutelia onde foi assumido um conceito

formal de assistecircncia farmacecircutica com base em um documento elaborado na

Faculdade de Farmaacutecia da Universidade Federal de Minas Gerais (ACURCIO 2003

apud RIECK 2008)

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

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funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

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Repuacuteblica Federativa do Brasil

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Federativa do Brasil

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51

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2008

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niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 7

METODOLOGIA 8

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 9

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 20

21 Aspectos Organizacionais 23

22 Seleccedilatildeo 24

23 Programaccedilatildeo 26

24 Aquisiccedilatildeo 28

25 Armazenamento 29

26 Dispensaccedilatildeo 31

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 33

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica 38

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA 44

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

O Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) tal como foi concebido na Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 pretende atender a todos de maneira igualitaacuteria buscando servir

desde os mais necessitados aos mais abastados Este seu caraacuteter de poliacutetica

puacuteblica baseada nos princiacutepios de universalidade equidade e de integralidade das

accedilotildees e serviccedilos de sauacutede promoveu ampla inclusatildeo social de forma que

representa um grande avanccedilo para um paiacutes em desenvolvimento como o Brasil No

entanto tem sido observada a presenccedila de problemas crocircnicos no atendimento

integral agrave sauacutede seja pela espera pelos serviccedilos meacutedicosseja pela falta de

medicamentos essenciais para distribuiccedilatildeo gratuita (ZAIRE 2008 VIEIRA 2010)

Inclui-se dentre os serviccedilos prestados pelo SUS a assistecircncia farmacecircutica

que segundo a Poliacutetica Nacional de Medicamentos eacute um grupo de atividades

relacionadas com o medicamento destinadas a apoiar as accedilotildees de sauacutede

demandadas por uma comunidade (BRASIL 1998)

A estruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se

apresenta aos gestores e profissionais do SUS quer pelos recursos financeiros

envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de

novas estrateacutegias no seu gerenciamento (RIECK 2008)

Aprofundar a questatildeo do provimento de medicamentos essenciais agrave

populaccedilatildeo se mostra natildeo soacute como um fator importante mas tambeacutem como uma

forma de racionalizar custos com procedimentos e agravos pela falta de adesatildeo ao

tratamento farmacoloacutegico (ZAIRE 2008)

A assistecircncia terapecircutica integral tem grande relevacircncia no contexto da

atenccedilatildeo agrave sauacutede considerando que a maioria das intervenccedilotildees em sauacutede envolve o

uso de medicamentos A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de assistecircncia farmacecircutica

vem se desenvolvendo nos uacuteltimos anos de maneira que o grande desafio eacute fazer

com que os seus princiacutepios sejam de fato estabelecidos Para isto eacute preciso que

sejam assegurados os recursos necessaacuterios agrave execuccedilatildeo das atividades e tambeacutem

que sua gestatildeo seja eficaz efetiva e eficiente Diante do exposto o objetivo desta

monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da

assistecircncia farmacecircutica no Brasil

8

METODOLOGIA

O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A

revisatildeo de literatura foi inicialmente realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico

por meio da ferramenta de busca ldquogoogle acadecircmicordquo (scholargooglecombr)

utilizando-se os filtros termo ldquoassistecircncia farmacecircuticardquo no tiacutetulo do artigo

resultados que contenham o trabalho completo e periacuteodo de publicaccedilatildeo

compreendido entre os anos de 2006 e 2012 Em seguida os resultados foram

selecionados de acordo com a natureza (foram considerados apenas artigos

cientiacuteficos monografias dissertaccedilotildees e teses) bem como se levaram em

consideraccedilatildeo os objetivos dos trabalhos e suas abordagens sobre o assunto

Tambeacutem foi avaliada a origem dos escritos selecionando apenas trabalhos oriundos

de bancos de dados reconhecidos tais como bireme scielo sites de universidades

brasileiras e sites oficiais do governo

A fonte inicial de pesquisa consistiu em 24 escritos selecionados entre 84

apresentados pela ferramenta de busca Foram identificadas trecircs tipos de

abordagens revisatildeo de literatura da assistecircncia farmacecircutica no Brasil anaacutelise da

assistecircncia farmacecircutica nos serviccedilos de atenccedilatildeo a sauacutede visatildeo e avaliaccedilatildeo de

alunos de graduaccedilatildeo e profissionais farmacecircuticos com relaccedilatildeo o seu papel frente

agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica A partir destes grupos de escritos foi

discutido cada tema

A revisatildeo de literatura consistiu numa anaacutelise criacutetica natildeo sistematizada da

evidecircncia cientiacutefica obtida a qual foi ampliada durante sua leitura e discussatildeo

atraveacutes da consulta em fontes derivadas das iniciais bem como atraveacutes de pesquisa

em sites governamentais

O trabalho foi subdividido em trecircs capiacutetulos o primeiro aborda os marcos

histoacutericos e legais que asseguram a assistecircncia farmacecircutica as principais poliacuteticas

como a Poliacutetica Nacional de Medicamentos (PNM) e a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF) no segundo capiacutetulo satildeo apresentados estudos

de avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica que refletem a sua realidade no Brasil e

por fim satildeo discutidas as percepccedilotildees dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica

9

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

O processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede brasileira tem incorporado

nas uacuteltimas deacutecadas regulamentaccedilotildees diversas no acircmbito da assistecircncia

farmacecircutica (AF) dentre as quais se destacam a Poliacutetica Nacional de

Medicamentos a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e a regulamentaccedilatildeo

do financiamento da assistecircncia farmacecircutica

No Brasil historicamente o acesso a medicamentos era limitado agravequeles que

podiam adquiri-los Posteriormente foi ampliado aos trabalhadores beneficiaacuterios do

antigo Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) O marco inicial da poliacutetica

governamental para medicamentos foi acriaccedilatildeo da Central de Medicamentos ndash

CEME em 1971 com o objetivo de promover e organizar o fornecimento de

medicamentos de uso humano a populaccedilatildeo a preccedilos comuns no mercado Sua accedilatildeo

se caracterizava por manter uma poliacutetica focada na aquisiccedilatildeo e na distribuiccedilatildeo de

medicamentos (BRASIL 2002)

Uma das iniciativas para racionalizaccedilatildeo da poliacutetica de medicamentos

foi a homologaccedilatildeo em 1975 da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

Essenciais ndash RENAME pelo Ministeacuterio da Previdecircncia e Assistecircncia

Social Antes mesmo da criaccedilatildeo da CEME jaacute havia sido abordada a

elaboraccedilatildeo de uma relaccedilatildeo padronizada de medicamentos

essenciais que orientava as compras federais mas apenas naquela

ocasiatildeo eacute adotado o nome de RENAME (BRASIL 2002)

Na mesma deacutecada o abastecimento de medicamentos essenciais foi

considerado como um dos oito elementos baacutesicos da atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede na

conferecircncia mundial sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria a Sauacutede realizada em Alma-Ata

URSS em 1978 sob a iniciativa da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e

participaccedilatildeo da United Nations Childrenrsquos Fund (Unicef) (MARIN et al 2003)

Em 1988 a CEME organizou o I Encontro Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica e Poliacutetica de Medicamentos Neste evento foi apresentado um

diagnoacutestico da situaccedilatildeo do setor farmacecircutico brasileiro naquela eacutepoca e dele

resultou um documento intitulado Carta de Brasiacutelia onde foi assumido um conceito

formal de assistecircncia farmacecircutica com base em um documento elaborado na

Faculdade de Farmaacutecia da Universidade Federal de Minas Gerais (ACURCIO 2003

apud RIECK 2008)

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

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50

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Federativa do Brasil

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51

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2008

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niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

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Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

7

INTRODUCcedilAtildeO

O Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) tal como foi concebido na Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 pretende atender a todos de maneira igualitaacuteria buscando servir

desde os mais necessitados aos mais abastados Este seu caraacuteter de poliacutetica

puacuteblica baseada nos princiacutepios de universalidade equidade e de integralidade das

accedilotildees e serviccedilos de sauacutede promoveu ampla inclusatildeo social de forma que

representa um grande avanccedilo para um paiacutes em desenvolvimento como o Brasil No

entanto tem sido observada a presenccedila de problemas crocircnicos no atendimento

integral agrave sauacutede seja pela espera pelos serviccedilos meacutedicosseja pela falta de

medicamentos essenciais para distribuiccedilatildeo gratuita (ZAIRE 2008 VIEIRA 2010)

Inclui-se dentre os serviccedilos prestados pelo SUS a assistecircncia farmacecircutica

que segundo a Poliacutetica Nacional de Medicamentos eacute um grupo de atividades

relacionadas com o medicamento destinadas a apoiar as accedilotildees de sauacutede

demandadas por uma comunidade (BRASIL 1998)

A estruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica eacute um dos grandes desafios que se

apresenta aos gestores e profissionais do SUS quer pelos recursos financeiros

envolvidos como pela necessidade de aperfeiccediloamento contiacutenuo com busca de

novas estrateacutegias no seu gerenciamento (RIECK 2008)

Aprofundar a questatildeo do provimento de medicamentos essenciais agrave

populaccedilatildeo se mostra natildeo soacute como um fator importante mas tambeacutem como uma

forma de racionalizar custos com procedimentos e agravos pela falta de adesatildeo ao

tratamento farmacoloacutegico (ZAIRE 2008)

A assistecircncia terapecircutica integral tem grande relevacircncia no contexto da

atenccedilatildeo agrave sauacutede considerando que a maioria das intervenccedilotildees em sauacutede envolve o

uso de medicamentos A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de assistecircncia farmacecircutica

vem se desenvolvendo nos uacuteltimos anos de maneira que o grande desafio eacute fazer

com que os seus princiacutepios sejam de fato estabelecidos Para isto eacute preciso que

sejam assegurados os recursos necessaacuterios agrave execuccedilatildeo das atividades e tambeacutem

que sua gestatildeo seja eficaz efetiva e eficiente Diante do exposto o objetivo desta

monografia foi discutir os avanccedilos e dificuldades para o estabelecimento da

assistecircncia farmacecircutica no Brasil

8

METODOLOGIA

O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A

revisatildeo de literatura foi inicialmente realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico

por meio da ferramenta de busca ldquogoogle acadecircmicordquo (scholargooglecombr)

utilizando-se os filtros termo ldquoassistecircncia farmacecircuticardquo no tiacutetulo do artigo

resultados que contenham o trabalho completo e periacuteodo de publicaccedilatildeo

compreendido entre os anos de 2006 e 2012 Em seguida os resultados foram

selecionados de acordo com a natureza (foram considerados apenas artigos

cientiacuteficos monografias dissertaccedilotildees e teses) bem como se levaram em

consideraccedilatildeo os objetivos dos trabalhos e suas abordagens sobre o assunto

Tambeacutem foi avaliada a origem dos escritos selecionando apenas trabalhos oriundos

de bancos de dados reconhecidos tais como bireme scielo sites de universidades

brasileiras e sites oficiais do governo

A fonte inicial de pesquisa consistiu em 24 escritos selecionados entre 84

apresentados pela ferramenta de busca Foram identificadas trecircs tipos de

abordagens revisatildeo de literatura da assistecircncia farmacecircutica no Brasil anaacutelise da

assistecircncia farmacecircutica nos serviccedilos de atenccedilatildeo a sauacutede visatildeo e avaliaccedilatildeo de

alunos de graduaccedilatildeo e profissionais farmacecircuticos com relaccedilatildeo o seu papel frente

agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica A partir destes grupos de escritos foi

discutido cada tema

A revisatildeo de literatura consistiu numa anaacutelise criacutetica natildeo sistematizada da

evidecircncia cientiacutefica obtida a qual foi ampliada durante sua leitura e discussatildeo

atraveacutes da consulta em fontes derivadas das iniciais bem como atraveacutes de pesquisa

em sites governamentais

O trabalho foi subdividido em trecircs capiacutetulos o primeiro aborda os marcos

histoacutericos e legais que asseguram a assistecircncia farmacecircutica as principais poliacuteticas

como a Poliacutetica Nacional de Medicamentos (PNM) e a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF) no segundo capiacutetulo satildeo apresentados estudos

de avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica que refletem a sua realidade no Brasil e

por fim satildeo discutidas as percepccedilotildees dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica

9

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

O processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede brasileira tem incorporado

nas uacuteltimas deacutecadas regulamentaccedilotildees diversas no acircmbito da assistecircncia

farmacecircutica (AF) dentre as quais se destacam a Poliacutetica Nacional de

Medicamentos a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e a regulamentaccedilatildeo

do financiamento da assistecircncia farmacecircutica

No Brasil historicamente o acesso a medicamentos era limitado agravequeles que

podiam adquiri-los Posteriormente foi ampliado aos trabalhadores beneficiaacuterios do

antigo Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) O marco inicial da poliacutetica

governamental para medicamentos foi acriaccedilatildeo da Central de Medicamentos ndash

CEME em 1971 com o objetivo de promover e organizar o fornecimento de

medicamentos de uso humano a populaccedilatildeo a preccedilos comuns no mercado Sua accedilatildeo

se caracterizava por manter uma poliacutetica focada na aquisiccedilatildeo e na distribuiccedilatildeo de

medicamentos (BRASIL 2002)

Uma das iniciativas para racionalizaccedilatildeo da poliacutetica de medicamentos

foi a homologaccedilatildeo em 1975 da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

Essenciais ndash RENAME pelo Ministeacuterio da Previdecircncia e Assistecircncia

Social Antes mesmo da criaccedilatildeo da CEME jaacute havia sido abordada a

elaboraccedilatildeo de uma relaccedilatildeo padronizada de medicamentos

essenciais que orientava as compras federais mas apenas naquela

ocasiatildeo eacute adotado o nome de RENAME (BRASIL 2002)

Na mesma deacutecada o abastecimento de medicamentos essenciais foi

considerado como um dos oito elementos baacutesicos da atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede na

conferecircncia mundial sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria a Sauacutede realizada em Alma-Ata

URSS em 1978 sob a iniciativa da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e

participaccedilatildeo da United Nations Childrenrsquos Fund (Unicef) (MARIN et al 2003)

Em 1988 a CEME organizou o I Encontro Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica e Poliacutetica de Medicamentos Neste evento foi apresentado um

diagnoacutestico da situaccedilatildeo do setor farmacecircutico brasileiro naquela eacutepoca e dele

resultou um documento intitulado Carta de Brasiacutelia onde foi assumido um conceito

formal de assistecircncia farmacecircutica com base em um documento elaborado na

Faculdade de Farmaacutecia da Universidade Federal de Minas Gerais (ACURCIO 2003

apud RIECK 2008)

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

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funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

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Repuacuteblica Federativa do Brasil

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Federativa do Brasil

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51

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Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede

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2008

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niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

8

METODOLOGIA

O Estudo foi do tipo descritivo com abordagem metodoloacutegica qualitativa A

revisatildeo de literatura foi inicialmente realizada atraveacutes de levantamento bibliograacutefico

por meio da ferramenta de busca ldquogoogle acadecircmicordquo (scholargooglecombr)

utilizando-se os filtros termo ldquoassistecircncia farmacecircuticardquo no tiacutetulo do artigo

resultados que contenham o trabalho completo e periacuteodo de publicaccedilatildeo

compreendido entre os anos de 2006 e 2012 Em seguida os resultados foram

selecionados de acordo com a natureza (foram considerados apenas artigos

cientiacuteficos monografias dissertaccedilotildees e teses) bem como se levaram em

consideraccedilatildeo os objetivos dos trabalhos e suas abordagens sobre o assunto

Tambeacutem foi avaliada a origem dos escritos selecionando apenas trabalhos oriundos

de bancos de dados reconhecidos tais como bireme scielo sites de universidades

brasileiras e sites oficiais do governo

A fonte inicial de pesquisa consistiu em 24 escritos selecionados entre 84

apresentados pela ferramenta de busca Foram identificadas trecircs tipos de

abordagens revisatildeo de literatura da assistecircncia farmacecircutica no Brasil anaacutelise da

assistecircncia farmacecircutica nos serviccedilos de atenccedilatildeo a sauacutede visatildeo e avaliaccedilatildeo de

alunos de graduaccedilatildeo e profissionais farmacecircuticos com relaccedilatildeo o seu papel frente

agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica A partir destes grupos de escritos foi

discutido cada tema

A revisatildeo de literatura consistiu numa anaacutelise criacutetica natildeo sistematizada da

evidecircncia cientiacutefica obtida a qual foi ampliada durante sua leitura e discussatildeo

atraveacutes da consulta em fontes derivadas das iniciais bem como atraveacutes de pesquisa

em sites governamentais

O trabalho foi subdividido em trecircs capiacutetulos o primeiro aborda os marcos

histoacutericos e legais que asseguram a assistecircncia farmacecircutica as principais poliacuteticas

como a Poliacutetica Nacional de Medicamentos (PNM) e a Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF) no segundo capiacutetulo satildeo apresentados estudos

de avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica que refletem a sua realidade no Brasil e

por fim satildeo discutidas as percepccedilotildees dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica

9

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

O processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede brasileira tem incorporado

nas uacuteltimas deacutecadas regulamentaccedilotildees diversas no acircmbito da assistecircncia

farmacecircutica (AF) dentre as quais se destacam a Poliacutetica Nacional de

Medicamentos a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e a regulamentaccedilatildeo

do financiamento da assistecircncia farmacecircutica

No Brasil historicamente o acesso a medicamentos era limitado agravequeles que

podiam adquiri-los Posteriormente foi ampliado aos trabalhadores beneficiaacuterios do

antigo Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) O marco inicial da poliacutetica

governamental para medicamentos foi acriaccedilatildeo da Central de Medicamentos ndash

CEME em 1971 com o objetivo de promover e organizar o fornecimento de

medicamentos de uso humano a populaccedilatildeo a preccedilos comuns no mercado Sua accedilatildeo

se caracterizava por manter uma poliacutetica focada na aquisiccedilatildeo e na distribuiccedilatildeo de

medicamentos (BRASIL 2002)

Uma das iniciativas para racionalizaccedilatildeo da poliacutetica de medicamentos

foi a homologaccedilatildeo em 1975 da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

Essenciais ndash RENAME pelo Ministeacuterio da Previdecircncia e Assistecircncia

Social Antes mesmo da criaccedilatildeo da CEME jaacute havia sido abordada a

elaboraccedilatildeo de uma relaccedilatildeo padronizada de medicamentos

essenciais que orientava as compras federais mas apenas naquela

ocasiatildeo eacute adotado o nome de RENAME (BRASIL 2002)

Na mesma deacutecada o abastecimento de medicamentos essenciais foi

considerado como um dos oito elementos baacutesicos da atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede na

conferecircncia mundial sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria a Sauacutede realizada em Alma-Ata

URSS em 1978 sob a iniciativa da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e

participaccedilatildeo da United Nations Childrenrsquos Fund (Unicef) (MARIN et al 2003)

Em 1988 a CEME organizou o I Encontro Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica e Poliacutetica de Medicamentos Neste evento foi apresentado um

diagnoacutestico da situaccedilatildeo do setor farmacecircutico brasileiro naquela eacutepoca e dele

resultou um documento intitulado Carta de Brasiacutelia onde foi assumido um conceito

formal de assistecircncia farmacecircutica com base em um documento elaborado na

Faculdade de Farmaacutecia da Universidade Federal de Minas Gerais (ACURCIO 2003

apud RIECK 2008)

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

organizaccedilatildeo Ciecircnc sauacutede coletiva v16 n9 p 3939-3949 2011

ANDRADE FILHO D P Potencialidades e fragilidades da rede de atenccedilatildeo agrave

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira J Manag Prim Health Care v 2

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ARAUJO A L A FREITAS O Concepccedilotildees do profissional farmacecircutico

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condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede a organizaccedilatildeo e o

funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

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328 de 22 de julho de 1999 Dispotildee sobre requisitos exigidos para a dispensaccedilatildeo de

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Repuacuteblica Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Decreto n 5090 de 20 de maio de

2004b Institui o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

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Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

9

1 MARCOS HISTOacuteRICOS E LEGAIS DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

O processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede brasileira tem incorporado

nas uacuteltimas deacutecadas regulamentaccedilotildees diversas no acircmbito da assistecircncia

farmacecircutica (AF) dentre as quais se destacam a Poliacutetica Nacional de

Medicamentos a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e a regulamentaccedilatildeo

do financiamento da assistecircncia farmacecircutica

No Brasil historicamente o acesso a medicamentos era limitado agravequeles que

podiam adquiri-los Posteriormente foi ampliado aos trabalhadores beneficiaacuterios do

antigo Instituto Nacional de Previdecircncia Social (INPS) O marco inicial da poliacutetica

governamental para medicamentos foi acriaccedilatildeo da Central de Medicamentos ndash

CEME em 1971 com o objetivo de promover e organizar o fornecimento de

medicamentos de uso humano a populaccedilatildeo a preccedilos comuns no mercado Sua accedilatildeo

se caracterizava por manter uma poliacutetica focada na aquisiccedilatildeo e na distribuiccedilatildeo de

medicamentos (BRASIL 2002)

Uma das iniciativas para racionalizaccedilatildeo da poliacutetica de medicamentos

foi a homologaccedilatildeo em 1975 da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

Essenciais ndash RENAME pelo Ministeacuterio da Previdecircncia e Assistecircncia

Social Antes mesmo da criaccedilatildeo da CEME jaacute havia sido abordada a

elaboraccedilatildeo de uma relaccedilatildeo padronizada de medicamentos

essenciais que orientava as compras federais mas apenas naquela

ocasiatildeo eacute adotado o nome de RENAME (BRASIL 2002)

Na mesma deacutecada o abastecimento de medicamentos essenciais foi

considerado como um dos oito elementos baacutesicos da atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede na

conferecircncia mundial sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria a Sauacutede realizada em Alma-Ata

URSS em 1978 sob a iniciativa da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) e

participaccedilatildeo da United Nations Childrenrsquos Fund (Unicef) (MARIN et al 2003)

Em 1988 a CEME organizou o I Encontro Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica e Poliacutetica de Medicamentos Neste evento foi apresentado um

diagnoacutestico da situaccedilatildeo do setor farmacecircutico brasileiro naquela eacutepoca e dele

resultou um documento intitulado Carta de Brasiacutelia onde foi assumido um conceito

formal de assistecircncia farmacecircutica com base em um documento elaborado na

Faculdade de Farmaacutecia da Universidade Federal de Minas Gerais (ACURCIO 2003

apud RIECK 2008)

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

SILVA JUNIOR D B Assistecircncia farmacecircutica em um municiacutepio do

estado de Satildeo Paulo diagnoacutestico e perspectivas 2006 Dissertaccedilatildeo - Mestrado

em Medicamentos e Cosmeacuteticos - Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas de Ribeiratildeo

Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2006 Disponiacutevel em

lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis6060137tde-16012007-142838gt

Acesso em 12 abr 2012

VIEIRA F S Assistecircncia farmacecircutica no sistema puacuteblico de sauacutede no Brasil

Rev Panam Salud Publica v 27 n 2 p 149ndash56 2010

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIAtildeO Relatoacuterio de auditoria operacional na

accedilatildeo ldquoPromoccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica e insumos estrateacutegicos na

atenccedilatildeo baacutesica em sauacutederdquo (TC nordm 0112902010-2) Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em

lt wwwtcugovbrgt Acesso em 14 abr 2012

ZAIRE C E F A relaccedilatildeo entre a induacutestria farmacecircutica e a assistecircncia

farmacecircutica no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) a compra estadual

e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

10

Trata-se de um conjunto de procedimentos necessaacuterios para a

promoccedilatildeo a prevenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede no niacutevel individual

e coletivo centrado no medicamento engloba atividades de

pesquisa produccedilatildeo distribuiccedilatildeo [] dispensaccedilatildeo entendida esta

como ato essencialmente de orientaccedilatildeo quanto ao uso adequado e

de farmacovigilacircncia [] tal conceito considera que a assistecircncia

farmacecircutica natildeo eacute exclusiva de um uacutenico profissional [] o

farmacecircutico ocupa papel chave nessa assistecircncia (BONFIM

MERCUCCI 1997 apud RIECK 2008)

Este conceito que abrange as concepccedilotildees de sauacutede do movimento da

Reforma Sanitaacuteria busca uma concepccedilatildeo ampla do processo sauacutede-doenccedila e de

seus determinantes aleacutem de ampliar a assistecircncia farmacecircutica para um conjunto

de procedimentos centrados no medicamento de caraacuteter multiprofissional Pode-se

dizer que o I Encontro Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica e Poliacutetica de

Medicamentos foi um marco que inaugura a reorientaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica Seu diagnoacutestico serviu de base para as subsequentes discussotildees que

embasaram a proposta da Poliacutetica Nacional de Medicamentos e suas principais

diretrizes foram incorporadas a Lei Orgacircnica da Sauacutede (LOS) (RIECK 2008)

Naquele mesmo ano a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo federal e a instituiccedilatildeo do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) garantiram a sauacutede como um direito social e dever

do Estado mediante poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 1988)

A regulamentaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede garantidas na Constituiccedilatildeo Federal

foi estabelecida pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei n 808090) que em seu Artigo 6ordm

determina como campo de atuaccedilatildeo do SUS a ldquoformulaccedilatildeo da poliacutetica de

medicamentos ()rdquo e atribui ao setor sauacutede a responsabilidade pela ldquoexecuccedilatildeo de

accedilotildees de assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircuticardquo (BRASIL 1990)

A partir daiacute o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) comeccedilou a construir uma nova

poliacutetica de medicamentos Essa nova accedilatildeo baseou-se em quatro eixos principais a)

descentralizaccedilatildeo b) melhoria dos processos de aquisiccedilatildeo centralizados c)

intervenccedilatildeo mais ativa no mercado e d) fortalecimento da produccedilatildeo estatal Dois

fatos marcaram o iniacutecio de uma revisatildeo da atuaccedilatildeo federal a publicaccedilatildeo da Norma

Operacional Baacutesica (NOB) 0196 em novembro de 1996 e a extinccedilatildeo da CEME em

julho do ano seguinte

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

11

A NOB 0196 efetivamente implantada em 1998 introduz

importantes modificaccedilotildees no SUS principalmente no sentido da

descentralizaccedilatildeo e priorizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica O outro fato

marcante foi a extinccedilatildeo da CEME cuja atuaccedilatildeo apresentava

problemas e cuja cultura centralizadora estava em desacordo com as

novas diretrizes da NOB 0196 Suas atribuiccedilotildees foram assumidas

por diversas unidades da estrutura do Ministeacuterio da Sauacutede Esse foi

um passo importante para abrir caminho para as mudanccedilas que se

seguiram (BRASIL 2002)

No ano de 1998 foi publicada a Poliacutetica Nacional de Medicamentos por meio

da Portaria GMMS ndeg 3916 tendo como finalidades principais garantir a necessaacuteria

seguranccedila a eficaacutecia e a qualidade dos medicamentos promover o uso racional dos

medicamentos e o acesso da populaccedilatildeo agravequeles medicamentos considerados

essenciais (BRASIL 1998)

Seguindo as diretrizes da Lei Orgacircnica da Sauacutede a PNM tornou-se o

instrumento norteador no campo de medicamentos no paiacutes Esta poliacutetica que tem

como base os princiacutepios do SUS estabelece as seguintes diretrizes gerais (BRASIL

1998)

Adoccedilatildeo da relaccedilatildeo de medicamentos essenciais

Regulaccedilatildeo sanitaacuteria de medicamentos

Reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos

Desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico

Promoccedilatildeo da produccedilatildeo de medicamentos

Garantia da seguranccedila eficaacutecia e qualidade dos medicamentos

Desenvolvimento e capacitaccedilatildeo de recursos humanos

A Poliacutetica Nacional de Medicamentos definiu Assistecircncia Farmacecircutica como

sendo

()grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas

a apoiar as accedilotildees de sauacutede demandadas por uma comunidade

Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma

de suas etapas constitutivas a conservaccedilatildeo e controle de qualidade

a seguranccedila e a eficaacutecia terapecircutica dos medicamentos o

acompanhamento e a avaliaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo a obtenccedilatildeo e a difusatildeo

de informaccedilatildeo sobre medicamentos e a educaccedilatildeo permanente dos

profissionais de sauacutede do paciente e da comunidade para assegurar

o uso racional de medicamentos (BRASIL 1998)

12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

organizaccedilatildeo Ciecircnc sauacutede coletiva v16 n9 p 3939-3949 2011

ANDRADE FILHO D P Potencialidades e fragilidades da rede de atenccedilatildeo agrave

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira J Manag Prim Health Care v 2

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ARAUJO A L A FREITAS O Concepccedilotildees do profissional farmacecircutico

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condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede a organizaccedilatildeo e o

funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

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328 de 22 de julho de 1999 Dispotildee sobre requisitos exigidos para a dispensaccedilatildeo de

produtos de interesse agrave sauacutede em farmaacutecias e drogarias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

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_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Portaria n 3916 de 30 de outubro de

1998 Aprova a Poliacutetica Nacional de Medicamentos Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Poliacutetica Federal de Assistecircncia

Farmacecircutica 1990 a 2002 Ministeacuterio da Sauacutede elaborado por Barjas Negri ndash

Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Resoluccedilatildeo n 338 de 06 de maio de

2004a Institui a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica Diaacuterio Oficial da

Repuacuteblica Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Decreto n 5090 de 20 de maio de

2004b Institui o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo

baacutesica instruccedilotildees teacutecnicas para sua organizaccedilatildeo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos Departamento de

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Sauacutede 2006

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Assistecircncia Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil

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12

Tambeacutem ficou definido que esta poliacutetica deveria formular diretrizes de

reorientaccedilatildeo do modelo de assistecircncia farmacecircutica com a definiccedilatildeo do papel das

trecircs instacircncias poliacutetico-administrativas do SUS Assim o niacutevel de gestatildeo municipal

aquele mais proacuteximo da populaccedilatildeo seria o responsaacutevel pela execuccedilatildeo das accedilotildees

incluindo a dispensaccedilatildeo de medicamentos essenciais tanto aqueles adquiridos por

ele proacuteprio quanto os repassados por outros niacuteveis de governo Caberia agrave gestatildeo

estadual a responsabilidade de organizaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica dentro do Estado aleacutem da responsabilidade do provimento

de medicamentos de alto custo ou excepcionais (BRASIL 1998)

Em 1999 foi publicada a Portaria nordm 50799 estabelecendo que a RENAME

fosse regularmente reeditada apoacutes sua revisatildeo acompanhando o desenvolvimento

tecnoloacutegico e cientiacutefico A RENAME eacute a base fundamental para orientaccedilatildeo da

prescriccedilatildeo e abastecimento do SUS Em 2002 por meio da Portaria GM nordm 1587 foi

atualizada e sua 3ordf ediccedilatildeo publicada cumprindo os propoacutesitos da Portaria GM nordm

1312001 (KORNIS et al 2008) Suas revisotildees vecircm ocorrendo conforme previsto

sendo que sua uacuteltima publicaccedilatildeo ocorreu atraveacutes da portaria nordm 1044 em 5 de maio

de 2010

A relaccedilatildeo de medicamentos essenciais eacute um instrumento capaz de delimitar

os medicamentos capazes de atender agrave imensa maioria das necessidades de sauacutede

da populaccedilatildeo No entanto para que este instrumento funcione bem eacute preciso que

aleacutem de ser regularmente revisada a entrada ou saiacuteda de itens da lista seja isenta

de pressotildees motivadas por interesses econocircmicos das induacutestrias (ZAIRE 2008) No

entanto de acordo com Kornis et al (2008) as bases epidemioloacutegicas e a inclusatildeo

de tratamentos para doenccedilas que acometem uma faixa importante da populaccedilatildeo satildeo

negligenciadas ao mesmo tempo que produtos com alto apelo tecnoloacutegico satildeo

incluiacutedos devido agrave forte pressatildeo exercida pela induacutestria farmacecircutica

No campo do controle social a 1ordf Conferecircncia Nacional de Medicamentos e

Assistecircncia Farmacecircutica realizada em 2003 foi um marco da participaccedilatildeo

organizada da sociedade na construccedilatildeo de propostas que garantissem a

implantaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica e da poliacutetica de

medicamentos no acircmbito dos estados e municiacutepios Grande ecircnfase foi dada ao

financiamento puacuteblico dos medicamentos utilizados no SUS Vaacuterias propostas

trataram do acesso do usuaacuterio a medicamentos seguros eficazes com regularidade

suficiecircncia e orientaccedilatildeo para o uso correto (SILVA 2011)

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

13

Neste contexto ainda em 2003 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o

Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos (DAF) vinculado

agrave Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos (SCTIE) tendo como

principais incumbecircncias (a) subsidiar a SCTIE na formulaccedilatildeo de poliacuteticas diretrizes

e metas para as aacutereas e temas estrateacutegicos necessaacuterios agrave implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Sauacutede no acircmbito de suas atribuiccedilotildees (b) participar da formulaccedilatildeo

implementaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo da gestatildeo das poliacuteticas nacionais de AF e de

Medicamentos (c) prestar cooperaccedilatildeo teacutecnica para o aperfeiccediloamento da

capacidade gerencial e operacional de Estados Municiacutepios e do Distrito Federal (d)

normatizar promover e coordenar a organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica nos

diferentes niacuteveis da atenccedilatildeo agrave sauacutede obedecendo aos princiacutepios e agraves diretrizes do

SUS (e) orientar capacitar e promover accedilotildees de suporte aos agentes envolvidos no

processo de assistecircncia farmacecircutica e insumos estrateacutegicos com vistas agrave

sustentabilidade dos programas e projetos em sua aacuterea de atuaccedilatildeo (ANDRADE

FILHO 2011)

No ano seguinte foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sauacutede atraveacutes da

Resoluccedilatildeo 3382004 a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica (PNAF)

reforccedilando a ideia de que a assistecircncia farmacecircutica eacute parte do cuidado agrave sauacutede

individual ou coletiva tendo no medicamento o insumo essencial cujo acesso deve

ser garantido com uso racional (VIEIRA 2010)

A PNAF traz um conceito de maior amplitude na perspectiva de integralidade

das accedilotildees como uma poliacutetica norteadora para formulaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais tais

como poliacuteticas de medicamentos ciecircncia e tecnologia desenvolvimento industrial

formaccedilatildeo de recursos humanos entre outras garantindo a intersetorialidade

inerente ao SUS envolvendo tanto o setor puacuteblico como o privado de atenccedilatildeo agrave

sauacutede (BRASIL 2006) Neste documento a assistecircncia farmacecircutica eacute conceituada

como

Conjunto de accedilotildees voltadas agrave promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da

sauacutede tanto individual como coletiva tendo o medicamento como

insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional Este

conjunto envolve a pesquisa o desenvolvimento e a produccedilatildeo de

medicamentos e insumos bem como a sua seleccedilatildeo programaccedilatildeo

aquisiccedilatildeo distribuiccedilatildeo dispensaccedilatildeo garantia da qualidade dos

produtos e serviccedilos acompanhamento e avaliaccedilatildeo de sua utilizaccedilatildeo

na perspectiva da obtenccedilatildeo de resultados concretos e da melhoria da

qualidade de vida da populaccedilatildeo (BRASIL 2004a)

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

14

Quanto a seu financiamento a assistecircncia farmacecircutica se constituiu

historicamente dentro do SUS como um suprimento para as accedilotildees e serviccedilos de

sauacutede com baixa ou nenhuma inserccedilatildeo na programaccedilatildeo e organizaccedilatildeo dessas

accedilotildees e serviccedilos Entretanto nos uacuteltimos anos a assistecircncia farmacecircutica ganhou

relevacircncia nas discussotildees acerca da gestatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede agrave medida

que os gestores perceberam a demanda crescente de recursos alocados para a

aquisiccedilatildeo de medicamentos e a relaccedilatildeo com a qualidade dos serviccedilos de sauacutede

(BRASIL 2006)

A Portaria GMMS nordm 1761999 introduziu o financiamento compartilhado

pelas trecircs esferas de governo (Uniatildeo estados e municiacutepios) para aquisiccedilatildeo dos

medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica Tal inovaccedilatildeo trouxe grandes desafios aos

municiacutepios na assunccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees inerentes ao processo de

descentralizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito da Poliacutetica Nacional de

Medicamentos Ao longo do tempo vaacuterios ajustes vecircm sendo feitos no modelo de

financiamento buscando principalmente aclarar as responsabilidades quanto aos

diferentes grupos de medicamentos atualizar as listas de produtos e valores e

estabelecer mecanismos de gestatildeo e de prestaccedilatildeo de contas (SILVA 2011)

Atualmente de acordo com a pactuaccedilatildeo realizada pela Comissatildeo

Intergestores Tripartite (CIT) a responsabilidade pela disponibilizaccedilatildeo dos

medicamentos estaacute organizada em trecircs componentes (portaria GMMS ndeg 2042007)

I- Componente Baacutesico da Assistecircncia Farmacecircutica envolve um grupo de

accedilotildees desenvolvidas de forma articulada pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede para garantir o custeio e o

fornecimento dos medicamentos e insumos essenciais destinados ao

atendimento dos agravos prevalentes e prioritaacuterios da atenccedilatildeo baacutesica

II- Componente Estrateacutegico da Assistecircncia Farmacecircutica medicamentos

para atendimento de programas estrateacutegicos adquiridos e distribuiacutedos

pelo ministeacuterio da sauacutede

a Controle da Tuberculose

b Controle da Hanseniacutease

c DSTAIDS (Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis)

d Endemias Focais

e Sangue e Hemoderivados

15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

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15

f Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo

g Controle do Tabagismo

III- Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (antigo

Componente de Medicamentos de Dispensaccedilatildeo Excepcional

denominaccedilatildeo alterada para pela Portaria GMMS nordm 29812009) sua

principal caracteriacutestica eacute a busca da garantia da integralidade do

tratamento medicamentoso em niacutevel ambulatorial cujas linhas de

cuidado estatildeo definidas em Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas

(PCDT) publicados pelo Ministeacuterio da Sauacutede O acesso aos

medicamentos para as doenccedilas contempladas eacute garantido mediante a

pactuaccedilatildeo do financiamento entre a Uniatildeo Estados Distrito Federal e

Municiacutepios

O Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica (CEAF) foi

aprovado por meio da Portaria GMMS nordm 2981 de 26 de novembro de 2009 no

sentido de aprimorar e substituir o antigo Componente de Medicamentos de

Dispensaccedilatildeo Excepcional entendendo que o mesmo tem uma importacircncia

fundamental para o acesso da populaccedilatildeo brasileira aos medicamentos para agravos

importantes tanto do ponto de vista epidemioloacutegico quanto cliacutenico Os

medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenccedilas

contempladas neste Componente estatildeo divididos emtrecircs grupos com

caracteriacutesticas responsabilidades e formas de organizaccedilatildeo distintas

I- Medicamentos sob responsabilidade da Uniatildeo - os criteacuterios para definiccedilatildeo

destes medicamentos foram a) maior complexidade da doenccedila a ser

tratada ambulatorialmente b) refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira ou

agrave segunda linha de tratamento c) medicamentos que representam

elevado impacto financeiro para o Componente d) medicamentos

incluiacutedos em accedilotildees de desenvolvimento produtivo no complexo industrial

da sauacutede

II- Medicamentos sob responsabilidade dos estados e Distrito Federal - satildeo

os que apresentam a) menor complexidade da doenccedila a ser tratada

ambulatorialmente em relaccedilatildeo aos elencados no Grupo 1 b)

refratariedade ou intoleracircncia agrave primeira linha de tratamento

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

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Federativa do Brasil

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2008

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

16

III- Medicamentos sob responsabilidade dos municiacutepios e Distrito Federal -

constantes na RENAME vigente e indicados pelos Protocolos Cliacutenicos e

Diretrizes Terapecircuticas como a primeira linha de cuidado para o

tratamento das doenccedilas contempladas

Tendo em vista que muitas doenccedilas contempladas pelo CEAF requerem

inicialmente uma abordagem em niacutevel baacutesico da assistecircncia sua aprovaccedilatildeo levou

em consideraccedilatildeo a abordagem terapecircutica na atenccedilatildeo baacutesica Por isso sua

regulamentaccedilatildeo ocorreu de forma integrada com a aprovaccedilatildeo da Portaria GM nordm

2982 de 26 de novembro de 2009 que aprova normas de execuccedilatildeo e de

financiamento da assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo baacutesica No ano seguinte esta

norma foi atualizada pela Portaria GM nordm 42172010 que estabelece um elenco

composto por medicamentos integrantes da RENAME por insumos destinados aos

usuaacuterios insulino-dependentes e por medicamentos fitoteraacutepicos e homeopaacuteticos

incorporados ao elenco desde a Portaria GM 29822009 (KORNIS et al 2008)

Cita-se ainda que a Portaria GM nordm 42172010 em seu art 5ordm permite a

utilizaccedilatildeo de um percentual de ateacute 15 (quinze por cento) da soma dos valores dos

recursos financeiros estaduais municipais e do Distrito Federal para atividades

destinadas agrave adequaccedilatildeo de espaccedilo fiacutesico das farmaacutecias do SUS nos Municiacutepios agrave

aquisiccedilatildeo de equipamentos e mobiliaacuterio destinados ao suporte das accedilotildees de

assistecircncia farmacecircutica e agrave realizaccedilatildeo de atividades vinculadas agrave educaccedilatildeo

continuada voltada agrave qualificaccedilatildeo dos recursos humanos (BRASIL 2010)

Como estrateacutegia adicional de universalizaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo aos

medicamentos foi criado pelo governo federal em 2004 o Programa Farmaacutecia

Popular do Brasil (BRASIL 2004b) O programa visa assegurar medicamentos

essenciais para o tratamento dos agravos com maior incidecircncia na populaccedilatildeo

mediante reduccedilatildeo de seu custo para os pacientes e a inclusatildeo de usuaacuterios

assistidos pela rede privada Inicialmente contava apenas com uma Rede Proacutepria ndash

ldquoFarmaacutecias Popularesrdquondash estabelecida em parceria com os Estados Distrito Federal

Municiacutepios e hospitais filantroacutepicos atualmente tambeacutem engloba a rede privada de

farmaacutecias e drogarias por meio de parceria firmada pelo convecircnio ldquoAqui Tem

Farmaacutecia Popularrdquo (BRASIL 2011)

A demanda por serviccedilos farmacecircuticos intensificou-se nas Unidades de

Sauacutede da Famiacutelia (USF) depois da publicaccedilatildeo da Portaria GM 6482006 que tornou

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

17

a Sauacutede da Famiacutelia estrateacutegia prioritaacuteria para organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica No

ano seguinte o Ministeacuterio da Sauacutede propocircs o programa ldquoMAIS SAUacuteDErdquo por meio do

qual estabeleceu a criaccedilatildeo de 1500 Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

o que se tornou uma realidade com a publicaccedilatildeo da Portaria GM 1542008 Esta

iniciativa tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves equipes de sauacutede

da famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede dentre eles o

farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) durante o processo

de municipalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica os Municiacutepios devem

assumir o compromisso de estruturarem esta aacuterea para desenvolver as atividades

que lhe satildeo pertinentes Trata-se de uma atividade multidisciplinar poreacutem a sua

coordenaccedilatildeo deve estar sob a responsabilidade do profissional que tem a formaccedilatildeo

acadecircmica compatiacutevel e a atribuiccedilatildeo legal para exercecirc-la o farmacecircutico

Neste sentido estaacute em tracircmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei que

torna obrigatoacuteria a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos em unidades do Sistema Uacutenico de

Sauacutede (SUS) que disponham de farmaacutecias ou dispensaacuterios de medicamentos A

medida foi votada no dia 13 de junho de 2012 na Comissatildeo de Assuntos Sociais

(CAS) no Senado1

De acordo com o texto apresentado o dispositivo que torna obrigatoacuteria a

presenccedila de farmacecircutico em unidades do SUS deve ser inserido na Lei Orgacircnica

do SUS (Lei 80801990) o seu capiacutetulo VIII do Tiacutetulo II passa a vigorar acrescido

do artigo 19-V ldquoOs serviccedilos de sauacutede do SUS que disponham de farmaacutecia ou

dispensaacuterio de medicamentos ficam obrigatoriamente sujeitos agrave assistecircncia teacutecnica

prestada por profissional farmacecircutico inscrito no respectivo Conselho Regional de

Farmaacuteciardquo1

Tal projeto de lei soacute reforccedila a necessidade de reconhecer que o farmacecircutico

eacute essencial nas farmaacutecias e dispensaacuterios de medicamentos do SUS Sua presenccedila

garante a informaccedilatildeo ao paciente quanto ao uso correto de medicamentos e pode

promover economia aos cofres puacuteblicos na gestatildeo correta dos medicamentosEm

seu voto favoraacutevel a Relatora Senadora Ana Ameacutelia (PP-RS) observou que a

1 Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

Acesso em 14 de junho de 2012 3 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=34372gt

Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

18

assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do SUS deve ter a mesma importacircncia que as

outras accedilotildees de sauacutede contando com profissionais habilitados

Da mesma forma que natildeo se considera razoaacutevel transferir para outra

categoria profissional a responsabilidade do meacutedico de realizar o

diagnoacutestico cliacutenico e prescrever o tratamento adequado tambeacutem

natildeo eacute razoaacutevel permitir que outro profissional assuma a

responsabilidade pela realizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia

farmacecircutica nas unidades do SUS2

Dentre os fatos mais recentes no campo da gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica pode-se destacar o desenvolvimento do HOacuteRUS - Sistema Nacional de

Gestatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica lanccedilado em 03 de dezembro de 2009 em

Brasiacutelia O sistema tem como objetivo contribuir com a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica por meio da informatizaccedilatildeo dos almoxarifadosCentrais de

Abastecimento Farmacecircutico (CAF) e farmaacuteciasunidades de sauacutede para auxiliar no

planejamento monitoramento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees da assistecircncia farmacecircutica e

desde abril de 2010 o HOacuteRUS passou a ser disponibilizado por adesatildeo aos

municiacutepios brasileiros3

A fim de atender as singularidades relativas agrave dispensaccedilatildeo de medicamentos

o HOacuteRUS foi configurado para gerenciar e reunir as informaccedilotildees dos trecircs

componentes da assistecircncia farmacecircutica Componente Baacutesico Estrateacutegico e

Especializado Seu uacuteltimo moacutedulo o HOacuteRUS-Especializado teve sua fase piloto

iniciada em junho de 2011 na Secretaacuteria Estadual de Sauacutede (SES) do Distrito

Federal Em julho de 2011 a SESDF tornou-se o primeiro estado a contar com o

Hoacuterus-Especializado para gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do

Componente Especializado da Assistecircncia Farmacecircutica4

Outro fato bastante relevante ocorrido em abril de 2012 foi o lanccedilamento do

Programa Nacional de Qualificaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica no acircmbito do SUS

(Qualifar-SUS) destinado a qualificar a gestatildeo dos serviccedilos farmacecircuticos no SUS A

accedilatildeo foi pactuada durante reuniatildeo da Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) e tem

2Disponiacutevel em lthttpwwwcfforgbrnoticiaphpid=828amptitulo=PLS+que+obriga+contrataC3A7

C3A3o+de+farmacC3AAutico+no+SUS+C3A9+aprovado+em+turno+suplementar2C+no+Senadogt

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Acesso em 25 de maio de 2012 4 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeprofissionalvisualizar_textocfmidtxt=37923gt

acesso em 25 de maio de 2012

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

19

o objetivo de aprimorar a distribuiccedilatildeo de medicamentos principalmente em

localidades de maior pobreza ampliando e tornando mais eficiente o acesso da

populaccedilatildeo a esses produtosO programa vai ser executado por meio de quatro eixos

ndash cuidado educaccedilatildeo estrutura e informaccedilatildeo - e vai incluir accedilotildees de estruturaccedilatildeo

fiacutesica dos serviccedilos de assistecircncia farmacecircutica de capacitaccedilatildeo e de aprimoramento

dos processos e praacuteticas de trabalho adotado pelas gestotildees locais

O primeiro eixo pactuado foi o Eixo Estrutura Para o ano de 2012 o

Ministeacuterio da Sauacutede apoiaraacute financeiramente 453 municiacutepios que

representa vinte por cento (20) dos municiacutepios com populaccedilatildeo em

situaccedilatildeo de extrema pobreza constantes no Programa Brasil Sem

Miseacuteria ateacute 100000 habitantes [] mais de 1300 municiacutepios

aderiram ao Sistema Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica

(HORUS) mas precisam de apoio para estruturar os serviccedilos e

utilizar efetivamente o Sistema ldquoEacute o olhar diferenciado do gestor

para o uso racional de medicamentos e a tomada de decisatildeo na

Assistecircncia Farmacecircuticardquo[] o Programa Nacional de Assistecircncia

Farmacecircutica faz parte dos objetivos estrateacutegicos do Ministeacuterio da

Sauacutede [] Os gestores teratildeo o mesmo niacutevel de informaccedilatildeo para

embasar suas decisotildeesrdquo5

Nota-se que desde a aprovaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Medicamentos a

regulamentaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica no Brasil vem se desenvolvendo

prosseguindo num complexo processo de estruturaccedilatildeo no acircmbito do SUS De

acordo com Kornis et al (2006) apoacutes anaacutelise da legislaccedilatildeo sanitaacuteria no periacuteodo

compreendido entre 1990 e 2006 68 dos dispositivos legais orientados para a

regulaccedilatildeo do setor farmacecircutico foi editado no periacuteodo compreendido entre 2000 e

2006 o mesmo estudo ainda aponta que a maioria destes dispositivos esteve

vinculada aos processos organizativos da gestatildeo financiamento e regulaccedilatildeo do

setor farmacecircutico

Nota-se que a estrutura legislativa de medicamentos pode ser considerada

bastante abrangente No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma

criacutetica pois muitos ajustes ainda precisam ser feitos As instituiccedilotildees puacuteblicas ainda

estatildeo se adequando a esses novos termos e responsabilidades sobretudo agravequelas

descentralizadas como os municiacutepios A reorientaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

tem sido realizada todos os dias atraveacutes da qualificaccedilatildeo de recursos humanos e

ferramentas (KORNIS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

5 Disponiacutevel em lthttpportalsaudegovbrportalsaudeGestorvisualizar_textocfmidtxt=40161gt

Acesso em 08 de junho de 2012

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

20

2 AVALIACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

Apesar de todas as esferas de governo serem co-responsaacuteveis na garantia do

desenvolvimento e aprimoramento das atividades de assistecircncia farmacecircutica na

maioria das vezes eacute no acircmbito municipal onde se concretizam os componentes do

ciclo da AF seleccedilatildeo programaccedilatildeo aquisiccedilatildeo armazenamento transporte

prescriccedilatildeo dispensaccedilatildeo e uso dos medicamentos Diante deste fato os municiacutepios

devem incorporar como elemento estrateacutegico ao processo gerencial a cultura

avaliativa para permitir um diagnoacutestico da situaccedilatildeo com maior seguranccedila e poder

planejar as accedilotildees de maneira eficiente (CORREIA et al 2009)

Na sauacutede a avaliaccedilatildeo compreende um processo de emissatildeo de juiacutezo de valor

aplicado aos serviccedilos programas e atividades A discussatildeo sobre a avaliaccedilatildeo em

sauacutede teve destaque no mundo com a introduccedilatildeo da ldquoavaliaccedilatildeo da qualidaderdquo

descrita por Donabedian na deacutecada de 80 tornando-se o referencial teoacuterico mais

utilizado para esta finalidade Tal concepccedilatildeo baseia-se na anaacutelise da estrutura do

processo e dos resultados obtidos os quais podem ser mensurados atraveacutes de

indicadores dando uma noccedilatildeo de todo o serviccedilo sistema ou programa que estaacute

sendo avaliado (CARVALHO 2007 CORREIA et al 2009)

De acordo com Donabedian (1984 apud OPAS 2005) por estrutura

entendem-se as caracteriacutesticas relativamente estaacuteveis dos provedores da atenccedilatildeo

os instrumentos e recursos que tecircm ao seu alcance e os lugares fiacutesicos e

organizacionais onde trabalham O conceito de estrutura inclui os recursos

humanos fiacutesicos e financeiros de que se necessita para proporcionar a atenccedilatildeo

O processo de atenccedilatildeo pode ser compreendido como a seacuterie de

atividades desenvolvidas entre profissionais de sauacutede e pacientes

durante as etapas do cuidado Um juiacutezo acerca da sua qualidade

pode ser feito por meio de observaccedilatildeo direta ou da revisatildeo da

informaccedilatildeo registrada o que permite uma reconstruccedilatildeo com certo

grau de precisatildeo de como estaacute seu funcionamento A base para a

atribuiccedilatildeo de valor da qualidade eacute o conhecimento acerca da relaccedilatildeo

entre as caracteriacutesticas do processo de atenccedilatildeo e suas

consequumlecircncias para a sauacutede e bem estar dos indiviacuteduos e da

sociedade de acordo com o que eles compreendem por sauacutede e

bem estar (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005)

21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

organizaccedilatildeo Ciecircnc sauacutede coletiva v16 n9 p 3939-3949 2011

ANDRADE FILHO D P Potencialidades e fragilidades da rede de atenccedilatildeo agrave

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira J Manag Prim Health Care v 2

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ARAUJO A L A FREITAS O Concepccedilotildees do profissional farmacecircutico

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2006 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S15

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condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede a organizaccedilatildeo e o

funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

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328 de 22 de julho de 1999 Dispotildee sobre requisitos exigidos para a dispensaccedilatildeo de

produtos de interesse agrave sauacutede em farmaacutecias e drogarias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

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Assistecircncia Farmacecircutica no SUS Conselho Nacional de Secretaacuterios de Sauacutede ndash

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_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Portaria n 3916 de 30 de outubro de

1998 Aprova a Poliacutetica Nacional de Medicamentos Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Poliacutetica Federal de Assistecircncia

Farmacecircutica 1990 a 2002 Ministeacuterio da Sauacutede elaborado por Barjas Negri ndash

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21

A abordagem por meio dos resultados em sauacutede seraacute a diferenccedila entre um

estado atual e um estado futuro da sauacutede do usuaacuterio que se possa atribuir a um

dado processo de cuidado (DONABEDIAN 1984 apud OPAS 2005) Segundo

Marin et al (2003) o objetivo do cuidado pode ser a prevenccedilatildeo a cura da doenccedila ou

a interrupccedilatildeo de sua progressatildeo a restauraccedilatildeo da capacidade funcional ou o aliacutevio

da dor e do sofrimento aleacutem da satisfaccedilatildeo do paciente Assim o sucesso dos

cuidados e portanto sua qualidade poderaacute ser medida pelo alcance desses

resultados

Os indicadores satildeo instrumentos que possibilitam comparar o desempenho de

programas atividades e serviccedilos entre regiotildees ao longo de periacuteodos de tempo A

sua escolha pode ficar na subjetividade do avaliador consenso de profissionais ou

estabelecidos por criteacuterios cientiacuteficos (CORREIA et al 2009)

A abordagem proposta por Donabedian diz respeito ao processo geral de

cuidado e quando se fala de um componente especiacutefico das accedilotildees em sauacutede

como por exemplo a assistecircncia farmacecircutica haacute diferentes niacuteveis de

compreensatildeo das consequecircncias das estruturas e processos envolvidos como

interesse avaliativo Logo a classificaccedilatildeo de um indicador relativo agrave estrutura ao

processo ou ao resultado pode ter variaccedilotildees de acordo com as caracteriacutesticas do

subsistema que estaacute sendo focalizado na avaliaccedilatildeo (OPAS 2005)

Freitas e Nobre (2011) por exemplo ao realizarem a avaliaccedilatildeo da AF em um

municiacutepio de pequeno porte no estado do Cearaacute traccedilaram em sua metodologia a

utilizaccedilatildeo de indicadores preconizados pela OMS (Indicators for Monitoring National

Drug Policies) mas tiveram dificuldade na sua implementaccedilatildeo devido a limitaccedilotildees

de ordem operacional que se relacionavam com as diferenccedilas dos serviccedilos e

desigualdades loco-regionais interferindo na sistemaacutetica de obtenccedilatildeo dos dados

Por se tratar de um municiacutepio de pequeno porte para o monitoramento foi

necessaacuterio discutir e definir quais indicadores seriam aplicados fontes de coleta

sistema de registro de dados regularidade da informaccedilatildeo e outros aspectos poliacutetico-

teacutecnico-operacionais

A discussatildeo na escolha dos indicadores eacute etapa essencial no processo de

avaliaccedilatildeo em sauacutede Isto foi bem demonstrado por Correia et al (2009)que tiveram

o objetivo de definir indicadores de avaliaccedilatildeo da AF em niacutevel de Macro e

Microgestatildeo no municiacutepio de Fortaleza-CE Este estudo foi bastante interessante por

combinar a fundamentaccedilatildeo teoacuterico-cientiacutefica com meacutetodos de consenso Conforme

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

22

preconizado a definiccedilatildeo de indicadores foi resultado de um amplo processo de

discussatildeo entre os diversos profissionais envolvidos com as atividades e serviccedilos a

serem avaliados resultando na escolha de indicadores adequados de acordo com a

complexidade dos serviccedilos (CORREIA et al 2009)

Vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da AF em diferentes municiacutepios brasileiros tecircm

adotado a classificaccedilatildeo definida por Donabedian Mesmo cientes da necessidade de

avaliaccedilatildeo de serviccedilos ainda satildeo poucos os municiacutepios brasileiros que tecircm um

programa de avaliaccedilatildeo contiacutenua da AF e os trabalhos nesta aacuterea muitas vezes satildeo

pontuais e avaliam alguns componentes do ciclo da AF ou fazem uso dos

indicadores preconizados pela OMS Alguns paracircmetros da assistecircncia farmacecircutica

tecircm indicadores que satildeo comuns a estes estudos entretanto a grande maioria varia

conforme as diferentes realidades que se tenta refletir o que dificulta a comparaccedilatildeo

entre os estudos publicados (CORREIA et al 2009)

Em fim o processo de avaliaccedilatildeo em sauacutede eacute algo essencial para o processo

decisoacuterio na gestatildeo puacuteblica incluiacutedo aiacute o processo de assistecircncia farmacecircutica no

entanto eacute possiacutevel afirmar que a participaccedilatildeo efetiva destes processos de avaliaccedilatildeo

nas grandes decisotildees poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede natildeo tem sido observada No

Brasil haacute ainda a carecircncia de profissionais experientes no campo da avaliaccedilatildeo e

uma baixa institucionalizaccedilatildeo desse campo (OPAS 2005)

Esta revisatildeo de literatura abrangeu vaacuterios estudos de avaliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica no Brasil desde estudos multicecircntricos em vaacuterios estados da naccedilatildeo

ateacute pesquisas locais a niacutevel municipal Foi observada em sua maioria a utilizaccedilatildeo

de indicadores nos processos metodoloacutegicos mas tambeacutem foram encontrados

meacutetodos de observaccedilatildeo dialeacuteticos e pesquisas de opiniatildeo Estes uacuteltimos revelam

detalhes e depoimentos interessantes dos vaacuterios atores envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica enquanto aqueles denotam a situaccedilatildeo geral da organizaccedilatildeo do

serviccedilo

Tanto a forma de abordar a avaliaccedilatildeo da AF tanto a quantidade de aspectos

verificados variaram muito entre os estudos revisados Diante desta realidade foi

difiacutecil comparar os resultados logo tentou-se narrar os principais achados de forma

ordenada iniciando-se pelos aspectos organizacionais da assistecircncia farmacecircutica

seguidos pela anaacutelise da seacuterie de atividades interligadas e dependentes que

contribuem para a integralidade de suas accedilotildees como a seleccedilatildeo programaccedilatildeo

23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

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23

aquisiccedilatildeo armazenagem e dispensaccedilatildeo Ao final foram abordados separadamente

alguns estudos de destaque

21 Aspectos Organizacionais

Estudos apontam um alto grau de informalidade da coordenaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica municipal Esta coordenaccedilatildeo simplesmente natildeo existe

dentro do organograma das Secretarias de sauacutede ou existe de maneira informal e

nestes casos tem pouco grau de autonomia (BARRETO GUIMARAtildeES 2010) No

estado do Amazonas por exemplo Moura (2010) constatou que em apenas 63

dos municiacutepios estudados (n=54) a AF era contemplada no Plano Municipal de

Sauacutede

Situaccedilatildeo criacutetica foi encontrada por Andrade Filho (2010) ao analisar a rede de

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira no estado de Pernambuco onde

constatou que natildeo haacute poliacuteticas de AF na regiatildeo De acordo com o autor natildeo existe

Centrais de Abastecimento Farmacecircutico natildeo haacute poliacuteticas de financiamento

especiacuteficas e o municiacutepio natildeo atende aos criteacuterios de programas de financiamento

do governo federal Faltam investimentos e acima de tudo projetos para implantaccedilatildeo

da AF na regiatildeo natildeo havendo portanto registros da situaccedilatildeo em documentos do

governo

Tais situaccedilotildees refletem o baixo reconhecimento dos gestores puacuteblicos da

importacircncia dos serviccedilos farmacecircuticos no acircmbito da atenccedilatildeo a sauacutede Fato um

tanto quanto paradoxal pois os gastos com medicamentos representam uma

parcela consideraacutevel dos gastos em sauacutede e o farmacecircutico eacute o profissional

preparado para atuar no sentido de melhorar a eficiecircncia financeira deste setor

(CARVALHO 2007 TCU 2010)

Problemas relacionados aos recursos humanos que atuam na assistecircncia

farmacecircutica municipal satildeo comuns A carecircncia de Farmacecircuticos tambeacutem pode

estar relacionada agrave capacidade financeira dos municiacutepios principalmente aqueles de

pequeno porte Nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede muitas vezes o serviccedilo eacute

executado por enfermeiros e outros profissionais sem formaccedilatildeo na aacuterea (BERNARDI

et al 2006 OLIVEIRA et al 2010 FREITAS NOBRE 2011)

Em seu estudo realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia Oliveira et al

(2010) aponta que apenas trecircs de vinte e seis Unidades Baacutesicas de Sauacutede (UBS)

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

24

pesquisadas tinham o profissional farmacecircutico presente meacutedia de 0115

farmacecircuticos por unidade ou ainda um farmacecircutico por 34000 habitantes quando

a recomendaccedilatildeo da OMS eacute de um farmacecircutico por 20000 habitantes Essas trecircs

UBS tambeacutem foram as que apresentaram profissional exclusivo para o

armazenamento controle de estoque e distribuiccedilatildeo de medicamentos Nas demais

unidades essas atividades eram divididas entre os diversos componentes das

equipes do PSF em 923 das unidades elas eram desenvolvidas por dois ou mais

trabalhadores dos quais apenas 308 haviam tido algum tipo de capacitaccedilatildeo sobre

as atividades de AF nos uacuteltimos cinco anos

A falta de inserccedilatildeo do farmacecircutico nas equipes de sauacutede da famiacutelia e a

pouca atenccedilatildeo dispensada pelos gestores municipais agraves questotildees de organizaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da AF pode comprometer a qualidade da assistecircncia Neste aspecto o

medicamento pode ateacute ser entregue mas o usuaacuterio natildeo tem garantias de sua

qualidade aleacutem de natildeo receber ou receber parcialmente as informaccedilotildees

necessaacuterias para a adequada farmacoterapia

22 Seleccedilatildeo

A seleccedilatildeo eacute entendida como um processo de escolha de medicamentos

eficazes e seguros imprescindiacuteveis ao atendimento das necessidades de uma dada

populaccedilatildeo com base em criteacuterios faacutermaco-epidemioloacutegicos e faacutermaco-econocircmicos

preacute-definidos e tambeacutem na estrutura dos serviccedilos de sauacutede com a finalidade de

garantir uma terapecircutica medicamentosa de qualidade nos diversos niacuteveis de

atenccedilatildeo agrave sauacutede sendo a Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais

(RENAME) o documento oficial de referecircncia nacional (MARIN et al 2003

ALENCAR NASCIMENTO 2011)

As listas de medicamentos essenciais devem ser atualizadas periodicamente

no sentido de acompanhar as variaccedilotildees de determinantes como perfil

epidemioloacutegico da populaccedilatildeo o processo dinacircmico da induacutestria farmacecircutica com a

introduccedilatildeo e a modificaccedilatildeo de novos faacutermacos aleacutem disto os avanccedilos terapecircuticos

e tecnoloacutegicos satildeo justificativas plausiacuteveis para a necessidade de constantes

revisotildees Neste sentido eacute interessante que todas as esferas do governo bem como

os serviccedilos de sauacutede elejam uma Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) que eacute

uma instacircncia colegiada de caraacuteter consultivo e deliberativo que deve garantir um

25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

organizaccedilatildeo Ciecircnc sauacutede coletiva v16 n9 p 3939-3949 2011

ANDRADE FILHO D P Potencialidades e fragilidades da rede de atenccedilatildeo agrave

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira J Manag Prim Health Care v 2

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25

caraacuteter multidisciplinar e dinacircmico ao processo de seleccedilatildeo de medicamentos

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

A CFT conforme seu caraacuteter multidisciplinar deve integrar todas as classes

profissionais envolvidas no processo de atenccedilatildeo a sauacutede no sentido de discutir a

lista de medicamentos essenciais No entanto estudos como o de Alencar e

Nascimento (2011) realizado em um municiacutepio do Estado da Bahia notaram que a

seleccedilatildeo de medicamentos natildeo ocorria como um processo dinacircmico constante e

coletivo uma vez que na praacutetica essa seleccedilatildeo se apresentava como uma simples

adaptaccedilatildeo de listas de medicamentos jaacute existentes ou quando muito apareciam

como discussotildees pontuais apesar de existir uma CFT no municiacutepio Os dados

encontrados revelaram que as accedilotildees da CFT refletem um descompromisso dos

representantes e tambeacutem em pouca resolutividade das accedilotildees que seriam de sua

competecircncia De acordo com os depoimentos existe uma desarticulaccedilatildeo e natildeo

efetividade do trabalho entre os componentes da Comissatildeo ao revelarem que na

praacutetica as reuniotildees natildeo tecircm ocorrido de maneira regular prejudicando a realizaccedilatildeo

das atividades Depoimentos dos usuaacuterios revelaram que alguns deles necessitam

de medicamentos que natildeo satildeo oferecidos pelo municiacutepio e demonstram ainda

insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo oferecido pelo SUS

Panstein e Weber (2010) ao realizarem uma pesquisa de opiniatildeo acerca da

assistecircncia farmacecircutica em municiacutepio do Rio Grande do Sul revelaram o seguinte

Quanto agrave participaccedilatildeo dos meacutedicos prescritores da rede puacuteblica de

sauacutede no municiacutepio de Jaraguaacute do Sul na construccedilatildeo da REMUME

pode-se verificar que 93 ou 43 meacutedicos natildeo participaram da

seleccedilatildeo dos medicamentos baacutesicos da Relaccedilatildeo Municipal de

Medicamentos Baacutesicos Somente a percentagem de 7 ou 3

meacutedicos afirmaram ter participado da elaboraccedilatildeo da lista Desta

maneira fica evidente que o fluxo de informaccedilotildees entre os meacutedicos

prescritores e os gestores da AF referente agrave REMUME eacute baixiacutessimo

para o desenvolvimento de uma gestatildeo racional de recursos e

medicamentos em Jaraguaacute do Sul

Bernardi et al (2006) em pesquisa que avaliou a AF em vinte municiacutepios do

Rio Grande do Sul a maioria de pequeno porte verificaram que em apenas trecircs

deles possuiacuteam a relaccedilatildeo de medicamentos essenciais exposta em local adequado

Tudo indica que existe um grande desconhecimento sobre a lista e a sua util idade

para os usuaacuterios do serviccedilo

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

26

Martins et al (2008) observaram em um municiacutepio do estado de Santa

Catarina que a REMUME natildeo era periodicamente atualizada nem existia uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica (CFT) para avaliar as necessidades de

implementaccedilatildeo dessa lista bem como a elaboraccedilatildeo de formulaacuterios

farmacoterapecircuticos e de protocolos cliacutenicos e nem tatildeo pouco dados

epidemioloacutegicos a respeito do consumo de medicamentos no municiacutepio

A desarticulaccedilatildeo entre os profissionais envolvidos na assistecircncia

farmacecircutica principalmente na etapa de seleccedilatildeo resulta em prejuiacutezo para o uso

racional de medicamentos nem os medicamentos adquiridos refletiratildeo as

necessidades da populaccedilatildeo nem tampouco os prescritores conheceratildeo o arsenal

terapecircutico disponiacutevel para os tratamentos farmacoloacutegicos Por isto eacute essencial a

discussatildeo de protocolos cliacutenicos padronizados bem como as linhas de tratamento

farmacoloacutegico correspondentes

Alguns municiacutepios como Mombanccedila no Estado do Cearaacute apesar de natildeo

dispor da Relaccedilatildeo Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) realizam

compra centralizada de medicamentos para a atenccedilatildeo baacutesica atraveacutes da

Programaccedilatildeo Pactuada Integrada Anualmente a Poliacutetica Estadual de AF para a

assistecircncia baacutesica eacute rediscutida e aprovada na Comissatildeo Intergestores Bipartite

(CIB) com seleccedilatildeo do elenco a partir da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos

(RENAME) Posteriormente satildeo realizadas oficinas de programaccedilatildeo com

farmacecircuticos dos municiacutepios envolvidos no processo com apoio estrutural das

microrregionais de Sauacutede (FREITAS NOBRE 2011) Este tipo de situaccedilatildeo natildeo

reflete a organizaccedilatildeo desejada pela normatizaccedilatildeo do SUS no entanto demonstra

racionalidade do planejamento das accedilotildees em sauacutede

23 Programaccedilatildeo

A programaccedilatildeo ldquotem como objetivo garantir a disponibilidade dos

medicamentos previamente selecionados nas quantidades adequadas e no tempo

oportuno para atender as necessidades da populaccedilatildeo A programaccedilatildeo deve ser

ascendente levando em conta as necessidades locais de cada serviccedilo de sauacutederdquo

(BRASIL 2006) Satildeo requisitos da programaccedilatildeo dispor de dados de consumo e de

demanda de cada produto incluindo sazonalidades e estoques existentes

considerando periacuteodos de descontinuidade sistema de informaccedilatildeo e de gestatildeo de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

27

estoques eficientes perfil epidemioloacutegico local dados populacionais conhecimento

da rede de sauacutede local recursos financeiros para definir prioridades e executar a

programaccedilatildeo mecanismos de controle e acompanhamento (MARIN et al 2003)

Nota-se que a programaccedilatildeo eacute uma atividade associada ao planejamento que

necessita da contribuiccedilatildeo dos diferentes sujeitos por meio dos diferentes saberes

praacuteticas e conhecimentos que integrados numa perspectiva coletiva possibilitem a

efetivaccedilatildeo de accedilotildees que assegurem o direito agrave sauacutede A atividade mais comumente

relatada quanto a esta etapa eacute o uso de planilhas para acompanhamento da

demanda atendida e reprimida consumo meacutedio entre outros no entanto a

programaccedilatildeo e planejamento vatildeo aleacutem desta simples observaccedilatildeo pois eacute um

processo dinacircmico em que seu objeto de trabalho deve ser analisado criticamente

pelos vaacuterios sujeitos (MARTINS et al 2008 ALENCAR NASCIMENTO 2011)

Canabarro e Hahn (2009) avaliaram a AF em quinze PSF de um municiacutepio do

Rio Grande do Sul neste estudo foi constatado que em nove das unidades o

enfermeiro era o responsaacutevel pelo controle de estoque de medicamentos aleacutem de

todas as atribuiccedilotildees inerentes agrave sua profissatildeo Tal atividade requer tempo e

profissional habilitado Aleacutem disso a ausecircncia de registros de controle de estoque

de medicamentos ou a existecircncia de registros incompletos poderiam dificultar a

distribuiccedilatildeo dos produtos conforme a demanda de cada unidade Por meio deste

estudo observou-se que sete unidades recebiam medicamentos mensalmente

sendo que em seis destas a quantidade recebida natildeo atendia agrave elevada demanda de

600 pacientesunidademecircs Embora a solicitaccedilatildeo de medicamentos fosse realizada

conforme a necessidade de estoque de produtos levantada pelos profissionais

responsaacuteveis pelos medicamentos em cada unidade a quantidade recebida natildeo

atendia agrave demanda solicitada

A ausecircncia do farmacecircutico na programaccedilatildeo segundo Marin et al (2003)

pode desencadear uma seacuterie de problemas para a gestatildeo da assistecircncia

farmacecircutica propiciando o predomiacutenio da improvisaccedilatildeo e da natildeo observacircncia de

recomendaccedilotildees teacutecnicas Barreto e Guimaratildees (2010) em estudo realizado em dois

municiacutepios baianos apontam a inexistecircncia ou o baixo grau de autonomia decisoacuteria

das coordenaccedilotildees de AF municipais como fatores condicionantes dessa situaccedilatildeo

No entanto destaca que o grau de influecircncia das coordenaccedilotildees farmacecircuticas

depende de iniciativas do profissional farmacecircutico ou de seu comprometimento

com o trabalho Fica claro que o reconhecimento da importacircncia deste profissional

28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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28

dentro da assistecircncia a sauacutede natildeo soacute depende da vontade poliacutetica dos chefes do

executivo mas tambeacutem do seu autoconhecimento e determinaccedilatildeo na execuccedilatildeo de

suas atividades

24 Aquisiccedilatildeo

De acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede a aquisiccedilatildeo deve abranger

[] um conjunto de procedimentos articulados pelas quais se efetiva

o processo de compra de medicamentos estabelecidos pela

programaccedilatildeo de forma a garantir o suprimento das unidades de

sauacutede em quantidade qualidade e menor custoefetividade com a

finalidade de manter a regularidade e o funcionamento do sistema

(ALENCAR NASCIMENTO 2011)

O desenvolvimento nos uacuteltimos anos da poliacutetica de financiamento da

assistecircncia farmacecircutica tem facilitado a disponibilizaccedilatildeo de recursos para aquisiccedilatildeo

de medicamentos essenciais No entanto dados do sistema informatizado para a

prestaccedilatildeo de contas dos recursos financeiros do Programa de Incentivo a

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica revelam que os recursos natildeo estatildeo sendo

aplicados na sua totalidade enquanto faltam medicamentos para atenccedilatildeo baacutesica A

falta de orientaccedilatildeo do pessoal envolvido no processo de aquisiccedilatildeo resulta em

aberraccedilotildees administrativas como a compra de medicamentos da atenccedilatildeo baacutesica

com recursos destinados a outros fins e falta de aplicaccedilatildeo da contrapartida federal

para esta finalidade (BARRETO GUIMARAtildeES 2010)

O setor financeiro estava pagando os medicamentos da farmaacutecia

baacutesica com outra fonte de recursos nem estava utilizando os

recursos da farmaacutecia baacutesica Porque eles natildeo sabiam []

(Informaccedilatildeo verbal)

Conforme exposto a falta de recursos natildeo pode ser justificativa para a falta

de abastecimento nas unidades de sauacutede Eacute ressaltada aqui a importacircncia da

articulaccedilatildeo entre as equipes de trabalho responsaacuteveis pelas etapas do ciclo da AF

no sentido de atuarem juntos em prol da coletividade O trecho de uma entrevista

relatada no estudo de Alencar e Nascimento (2011) retrata bem isto

29

[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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VIEIRA F S Assistecircncia farmacecircutica no sistema puacuteblico de sauacutede no Brasil

Rev Panam Salud Publica v 27 n 2 p 149ndash56 2010

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIAtildeO Relatoacuterio de auditoria operacional na

accedilatildeo ldquoPromoccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica e insumos estrateacutegicos na

atenccedilatildeo baacutesica em sauacutederdquo (TC nordm 0112902010-2) Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em

lt wwwtcugovbrgt Acesso em 14 abr 2012

ZAIRE C E F A relaccedilatildeo entre a induacutestria farmacecircutica e a assistecircncia

farmacecircutica no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) a compra estadual

e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

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[] Minha maior atividade era sentar com esse pessoal todo junto

setor do almoxarifado Assistecircncia Farmacecircutica contabilidade e

setor de compras Colocava todo mundo em volta da mesa e estava

identificando essas falhas Entatildeo eu dizia gente natildeo estaacute faltando

dinheiro pra comprar medicaccedilatildeo por que eacute que estaacute faltando

medicaccedilatildeo Toda reuniatildeo comeccedilava assim Natildeo faltou dinheiro eu

natildeo recusei comprar medicaccedilatildeo natildeo neguei nenhum pedido que

veio por que entatildeo faltou medicaccedilatildeo Entatildeo eu sempre perguntava

isso Um olhava pro outro e aiacute a gente acabava descobrindo

verificando o que exatamente houve []

A administraccedilatildeo precaacuteria dos processos de aquisiccedilatildeo tambeacutem foi observada

no estudo de Canabarro e Hahn (2009) onde observaram morosidade nos processos

de licitaccedilatildeo para compra de medicamentos na rede puacuteblica o que frequentemente

atrasava o abastecimento de todos os postos de distribuiccedilatildeo existentes no

municiacutepio

Os planos de assistecircncia farmacecircutica satildeo ferramentas essenciais para

convergir as accedilotildees das diferentes equipes de trabalho envolvidas pois natildeo se pode

aceitar equiacutevocos de servidores como ldquoobstaacuteculosrdquo para a garantia da assistecircncia

farmacecircutica integral

25 Armazenamento

Segundo o manual do Ministeacuterio da Sauacutede (apud FREITAS NOBRE 2011)

Boas Praacuteticas para Estocagem de Medicamentos os produtos devem ser

armazenados obedecendo agraves condiccedilotildees teacutecnicas ideais de temperatura umidade e

luminosidade visando assegurar a conservaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicoquiacutemicas

microbioloacutegicas toxicoloacutegicas e terapecircuticas dos mesmos

O armazenamento ldquoeacute caracterizado por um conjunto de procedimentos

teacutecnicos e administrativos que envolvem as atividades de recebimento estocagem

seguranccedila e conservaccedilatildeo dos medicamentos bem como o controle de estoquerdquo

(BRASIL 2006)

A armazenagem dos medicamentos ocorre na Central de Abastecimento

Farmacecircutico (CAF) local destinado agrave guarda exclusiva de medicamentos Sua

principal atividade consiste em acondicionar os medicamentos adquiridos de acordo

com a programaccedilatildeo realizada Aleacutem disto o controle de estoque eacute uma atividade

inerente a armazenagem cujo objetivo eacute garantir um adequado suprimento dos

30

produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

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produtos para o atendimento das demandas no sentido de evitar excessos ou

desabastecimentos nos estoques bem como perdas (ALENCAR NASCIMENTO

2011)

A maior parte dos estudos revisados neste trabalho apresentaram resultados

negativos quanto agraves condiccedilotildees de armazenamento dos medicamentos Avanccedilos tecircm

sido observados na estruturaccedilatildeo das CAF mas deve-se observar que os

medicamentos tambeacutem satildeo armazenados nas unidades descentralizadas como as

Unidades Baacutesicas de Sauacutede onde satildeo observadas as piores condiccedilotildees (BERNARDI

et al 2006 SILVA JUNIOR 2006 CANABARRO HAHN 2009 OLIVEIRA et al

2010 BARRETO GUIMARAtildeES 2010 TCU 2010 FREITAS et al 2011)

Alencar e Nascimento (2011) atraveacutes de estudo relataram que a maioria das

USF pesquisadas natildeo apresentava uma aacuterea especiacutefica destinada agrave farmaacutecia mas

sim armaacuterios onde eram guardados os medicamentos ou ateacute mesmo salas

aproveitadas para acondicionaacute-los diante da insuficiecircncia dos espaccedilos nos

armaacuterios As salas inclusive natildeo atendiam aos criteacuterios de boas praacuteticas de

armazenamento havendo visivelmente excesso de luminosidade pouca

higienizaccedilatildeo e presenccedila de insetos como aspectos mais criacuteticos Eacute importante citar

tambeacutem que as equipes destas unidades descentralizadas natildeo visualizam o

armazenamento e controle de estoque de medicamentos dentro do rol de suas

responsabilidades de maneira que soacute se organiza o local destinado agrave guarda de

medicamentos quando ldquosobra um tempinhordquo

Oliveira et al (2010) tambeacutem apresentaram resultados semelhantes ao

perceberem em sua pesquisa que os locais de armazenamento e dispensaccedilatildeo de

medicamentos em geral possuiacuteam aacuterea fiacutesica pequena com pouca ventilaccedilatildeo e

sem proteccedilatildeo contra entrada de roedores e pragas aleacutem disto natildeo havia

regularidade no registro e controle da temperatura e umidade do ar do ambiente

Da mesma forma que o CAF geralmente apresenta melhores condiccedilotildees de

armazenamento que as unidades descentralizadas o controle de estoque de

medicamentos tambeacutem eacute mais bem administrado Os resultados do estudo de

Freitas e Nobre (2011) mostram que todas as USF do municiacutepio pesquisado

realizavam controle manual de estoque enquanto na CAF o controle era

informatizado Oliveira et al (2010) obtiveram resultado semelhante constatando

que apenas 38 das UBS adotavam sistema informatizado com software proacuteprio

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

31

para controle de estoque cita-se ainda que 962 das unidades natildeo demonstraram

sistemaacutetica para prever a demanda de medicamentos para reposiccedilatildeo de estoque

Sabe-se que o controle de estoque pode auxiliar as etapas de programaccedilatildeo e

aquisiccedilatildeo de medicamentos impedindo um possiacutevel desabastecimento (garantindo a

regularidade do sistema) ou superposiccedilatildeo de estoque (evitando perdas) Seja qual

for a sua forma de execuccedilatildeo por meio de fichas ou atraveacutes de sistema

informatizado em ambos deve refletir a real movimentaccedilatildeo de entrada e saiacuteda dos

insumos farmacecircuticos

Nota-se que a etapa ldquoarmazenamentordquo eacute de grande relevacircncia para o ciclo da

AF pois influencia na disponibilizaccedilatildeo de medicamentos em qualidade quando

exige a manutenccedilatildeo dos produtos em condiccedilotildees adequadas e quantidade quando

realiza o controle de estoque alimentando a etapa ldquoprogramaccedilatildeordquo

26 Dispensaccedilatildeo

O fim de todo o ciclo da assistecircncia consiste na dispensaccedilatildeo do

medicamento que eacute o ato farmacecircutico de aviar os medicamentos requisitados pelo

prescritor informando e orientando o paciente sobre seu uso adequado A

dispensaccedilatildeo tambeacutem representa o momento iacutempar que o farmacecircutico deve mostrar

o seu diferencial em promover o uso racional de medicamentos e uma das uacuteltimas

oportunidades de ainda dentro do sistema de sauacutede identificar corrigir ou reduzir

possiacuteveis riscos associados agrave terapecircutica medicamentosa (MARIN et al 2003)

A comunicaccedilatildeo com o paciente teraacute como finalidades principais o

aconselhamento e a educaccedilatildeo quanto ao uso e cuidados corretos do

medicamento e quanto aos procedimentos de otimizaccedilatildeo da

terapecircutica e a promoccedilatildeo da adesatildeo com a consequente melhoria

da eficiecircncia do tratamento e reduccedilatildeo dos riscos Consiste em um

ato profissional importante que envolve questotildees teacutecnicas humanas

e eacuteticas Infelizmente em nossa realidade atual nem sempre se

contaraacute com profissional farmacecircutico para a totalidade dos

atendimentos (MARIN et al 2003)

Bernardi et al (2006) em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul relatam

que no momento da realizaccedilatildeo do trabalho ainda que fosse obrigatoacuterio ter um

farmacecircutico responsaacutevel teacutecnico em todas as farmaacutecias da rede municipal isso natildeo

ocorria Naquelas que havia contrataccedilatildeo do farmacecircutico este profissional

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

32

respondia por vaacuterias atividades aleacutem da AF como vigilacircncia sanitaacuteria e laboratoacuterio

de anaacutelises cliacutenicas no final das contas a ldquodispensaccedilatildeordquo de medicamentos que

ocorria apenas na unidade central geralmente era desempenhada por outro

profissional Em geral o farmacecircutico respondia pela supervisatildeo e pelo controle

burocraacutetico da farmaacutecia

A realidade apresentada no campo de estudo eacute contraditoacuteria uma vez que a

dispensaccedilatildeo natildeo se apresenta como uma atividade do farmacecircutico como tambeacutem

natildeo eacute uma praacutetica transformadora e colaborativa no modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede

defendido pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede tanto que em muitos artigos cita-se que

ocorre a ldquoentregardquo do medicamento Encontra-se uma ldquodispensaccedilatildeordquo realizada por

trabalhadores sem formaccedilatildeo para tal que desenvolvem vaacuterias outras atividades na

unidade de sauacutede conforme pode ser observado em trecho de depoimento da

pesquisa de Alencar e Nascimento (2011)

Despacho remeacutedio marco consulta marco a agenda do meacutedico e da

enfermeira marco puericultura planejamento preventivo []

[Faccedilo] Tudo tudo Curativo teste do pezinho peso das crianccedilas

distribuiccedilatildeo de medicamentos solicitaccedilatildeo de medicamentos []

Martins et al (2008) em seu estudo observou que o processo de

dispensaccedilatildeo ocorria mediante a apresentaccedilatildeo de prescriccedilotildees ou do cartatildeo de

controle de medicamentos No entanto natildeo havia registro das dispensaccedilotildees de

medicamentos E quanto agraves informaccedilotildees repassadas no momento da dispensaccedilatildeo

essas se limitavam agraves informaccedilotildees contidas nas prescriccedilotildees meacutedicas o que nem

sempre eacute suficiente para o uso racional de medicamentos

Canabarro e Hahn (2009) observaram que em onze de quinze equipes de

sauacutede da famiacutelia pesquisadas era o meacutedico quem distribuiacutea os medicamentos aos

pacientes e os orientava sobre sua utilizaccedilatildeo Entretanto neste estudo natildeo foi

realizada nenhuma investigaccedilatildeo quanto ao tipo eou qualidade e eficaacutecia da

orientaccedilatildeo prestada aos pacientes

Segundo o item 61 da Resoluccedilatildeo nordm 328 de 22 de julho de 1999 o

farmacecircutico eacute o profissional responsaacutevel pela supervisatildeo da dispensaccedilatildeo de

medicamentos e que possui conhecimento cientiacutefico especiacutefico para tal atividade

natildeo subestimando qualquer outro profissional da aacuterea da sauacutede que tambeacutem possui

suas atribuiccedilotildees especiacuteficas e intransferiacuteveis Aleacutem disso satildeo inerentes ao

33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

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33

profissional farmacecircutico as seguintes atribuiccedilotildees conforme item 62 da Resoluccedilatildeo

nordm 328 estabelecer criteacuterios e supervisionar o processo de aquisiccedilatildeo de

medicamentos e demais produtos assegurar condiccedilotildees adequadas de conservaccedilatildeo

e dispensaccedilatildeo dos produtos manter a guarda dos produtos sujeitos a controle

especial de acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica prestar assistecircncia farmacecircutica

necessaacuteria ao consumidor promover treinamento inicial e contiacutenuo dos funcionaacuterios

para a adequaccedilatildeo da execuccedilatildeo de suas atividades entre outras (BRASIL 1999)

A OMS reconhece o farmacecircutico enquanto dispensador de atenccedilatildeo sanitaacuteria

salientando que os benefiacutecios da Atenccedilatildeo Farmacecircutica devem ser direcionados ao

paciente e agrave comunidade por meio de accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede e prevenccedilatildeo de

doenccedilas Logo considerando que a dispensaccedilatildeo consiste em ato do profissional

farmacecircuticoreconhece-se a necessidade de incorporaacute-lo agraves equipes de sauacutede e

que este profissional conheccedila as condiccedilotildees de vida e de sauacutede da populaccedilatildeo

adstrita ao seu local de trabalho (CANABARRO HAHN 2009)

27 Estudos multicecircntricos de avaliaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

Rieck (2008) analisou a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica no acircmbito

estadual como subsistema do SUS A pesquisa realizada em dezenove estados

revelou uma visatildeo reducionista com priorizaccedilatildeo das atividades operacionais em

detrimento de atividades de caraacuteter gerencial e de articulaccedilatildeo que interagem mais

focalizados em aspectos operacionais do que na qualificaccedilatildeo dos recursos e pouco

dominam tecnicamente os processos de trabalho A avaliaccedilatildeo contemplou trecircs

aspectos a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica estruturaccedilatildeo do ciclo da assistecircncia

farmacecircutica e o gerenciamento dos medicamentos por fonte de financiamento

Seguem as observaccedilotildees mais relevantes

Foi observado que as Unidades Federativas natildeo executam a

assistecircncia farmacecircutica como uma politica de Estado o

gerenciamento tem grande alternacircncia de coordenaccedilatildeo com

descontinuidade de accedilotildees que resulta em deficiecircncia no planejamento

na qualificaccedilatildeo dos recursos humanos e na articulaccedilatildeo das accedilotildees com

os outros setores O fato eacute que haacute um emaranhado de accedilotildees

desordenadas que natildeo satildeo avaliadas nem monitoradas e que se

restringem aos serviccedilos operacionais

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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SILVA S H A implementaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica no

niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

SILVA JUNIOR D B Assistecircncia farmacecircutica em um municiacutepio do

estado de Satildeo Paulo diagnoacutestico e perspectivas 2006 Dissertaccedilatildeo - Mestrado

em Medicamentos e Cosmeacuteticos - Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas de Ribeiratildeo

Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2006 Disponiacutevel em

lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis6060137tde-16012007-142838gt

Acesso em 12 abr 2012

VIEIRA F S Assistecircncia farmacecircutica no sistema puacuteblico de sauacutede no Brasil

Rev Panam Salud Publica v 27 n 2 p 149ndash56 2010

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIAtildeO Relatoacuterio de auditoria operacional na

accedilatildeo ldquoPromoccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica e insumos estrateacutegicos na

atenccedilatildeo baacutesica em sauacutederdquo (TC nordm 0112902010-2) Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em

lt wwwtcugovbrgt Acesso em 14 abr 2012

ZAIRE C E F A relaccedilatildeo entre a induacutestria farmacecircutica e a assistecircncia

farmacecircutica no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) a compra estadual

e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

34

Ainda eacute baixo o nuacutemero de estados que realizam um processo de

discussatildeo da Poliacutetica Estadual de Assistecircncia Farmacecircutica Os Planos

Estaduais de Assistecircncia Farmacecircutica parecem ser apresentados a

Uniatildeo apenas por forccedila da sua exigecircncia para financiamento dos

medicamentos caracterizando-se apenas como instrumento

convencional tal fato prejudica o estabelecimento e cumprimento de

metas evidenciado pelo desconhecimento do documento por alguns

gestores

As atividades do ciclo da assistecircncia farmacecircutica satildeo realizadas com

base no empirismo ignorando aspectos teacutecnicos e legais para o seu

desenvolvimento Os processos de programaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo satildeo

inadequados a seleccedilatildeo de medicamentos natildeo segue recomendaccedilotildees

teacutecnicas sendo direcionada apenas pelo seu cunho burocraacutetico para o

estabelecimento de listas as boas praacuteticas de armazenamento natildeo satildeo

cumpridas pela maioria dos Estados a dispensaccedilatildeo eacute reduzida apenas

ao ato de entrega

O Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) elegeu em seu Plano de Fiscalizaccedilatildeo

de 2009 como Tema de Maior Significacircncia a Funccedilatildeo Sauacutede e entre as accedilotildees

apontadas pelo levantamento como de maior risco estava o Programa ldquoFarmaacutecia

Baacutesicardquo

Naquele ano a assistecircncia farmacecircutica baacutesica foi escolhida como objeto de

auditoria em funccedilatildeo do seu alto custo para os cofres puacuteblicos da elevada

complexidade na sua operacionalizaccedilatildeo da falta de instrumentos de controle devido

ao expressivo nuacutemero de denuacutencias de falta de medicamentos veiculadas na miacutedia e

agraves diversas irregularidades encontradas nas fiscalizaccedilotildees realizadas pelos oacutergatildeos

de controle Participaram da auditoria 10 Estados (Alagoas Bahia Cearaacute

Maranhatildeo Minas Gerais Paranaacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rio Grande do

Norte e Satildeo Paulo) e o Distrito Federal Em cada estado foram auditados o governo

estadual e trecircs municiacutepios o TCU teve como objetivo ldquoanalisar a implantaccedilatildeo e

operacionalizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica avaliando a eficiecircncia na

gestatildeo dos recursos pelos entes estaduais e municipais e os controles realizados

pelo Ministeacuterio da Sauacutederdquo (TCU 2010)

35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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35

Em relatoacuterio de auditoria (TC nordm 0112902010-2) o TCU apontou como

principais falhas encontradas na gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica falta ou

precariedade do planejamento no acircmbito dos municiacutepios falhas na programaccedilatildeo de

compras de medicamentos armazenamento inadequado falta de controle no fluxo

dos estoques e falta de coordenaccedilatildeo por parte dos estados em relaccedilatildeo aos seus

municiacutepios Abaixo segue os principais achados agrave eacutepoca

Constatou-se que os governos estaduais satildeo omissos no que diz respeito

acoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos municiacutepios quanto ao planejamento da

assistecircncia farmacecircutica apesar desta atribuiccedilatildeo lhe ser estabelecida na

Poliacutetica Nacional de Medicamentos

Em cinco dos 10 estados pesquisados natildeo havia estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico na determinaccedilatildeo da relaccedilatildeo dos medicamentos

necessaacuterios ao atendimento da populaccedilatildeo O estado de Alagoas natildeo

disponibilizava sequer a relaccedilatildeo de medicamentos estadual para que seus

municiacutepios pudessem tomar por base na elaboraccedilatildeo das relaccedilotildees municipais

de medicamentos

Os estados natildeo tinham conhecimento da realidade da assistecircncia

farmacecircutica baacutesica Nem recebiam e natildeo analisavam os planos municipais

de sauacutede natildeo analisavam o Relatoacuterio Anual de Gestatildeo (RAG) no que se

refere agrave assistecircncia farmacecircutica natildeo tinham conhecimento das REMUME

de quantos municiacutepios utilizavam sistemas informatizados quais as

modalidades licitatoacuterias que estavam sendo empregadas e quais preccedilos

estavam sendo pagos pelos medicamentos

Em 20 dos municiacutepios visitados natildeo existia Plano de Sauacutede em vigor A

falta do principal instrumento de planejamento da sauacutede do municiacutepio eacute uma

praacutetica comum no paiacutes apesar da Lei Orgacircnica do SUS dispor da

necessidade de que os entes elaborem e atualizem periodicamente seus

planos de sauacutede Complementarmente a lei nordm 814290 estabelece como

condiccedilatildeo para recebimento de recursos federais dentre outros que os

estados e municiacutepios tenham plano de sauacutede

Dos 30 municiacutepios visitados 28 formalizaram a relaccedilatildeo de medicamentos

mas em cinco deles natildeo havia atualizaccedilatildeo haacute pelo menos dois anos

36

Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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53

RIECK E B Anaacutelise da gestatildeo estadual de assistecircncia farmacecircutica a

partir do pensamento complexo 2008 Dissertaccedilatildeo - Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em

Ciecircncias Farmacecircuticas ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre

2008

SILVA S H A implementaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica no

niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

SILVA JUNIOR D B Assistecircncia farmacecircutica em um municiacutepio do

estado de Satildeo Paulo diagnoacutestico e perspectivas 2006 Dissertaccedilatildeo - Mestrado

em Medicamentos e Cosmeacuteticos - Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas de Ribeiratildeo

Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2006 Disponiacutevel em

lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis6060137tde-16012007-142838gt

Acesso em 12 abr 2012

VIEIRA F S Assistecircncia farmacecircutica no sistema puacuteblico de sauacutede no Brasil

Rev Panam Salud Publica v 27 n 2 p 149ndash56 2010

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIAtildeO Relatoacuterio de auditoria operacional na

accedilatildeo ldquoPromoccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica e insumos estrateacutegicos na

atenccedilatildeo baacutesica em sauacutederdquo (TC nordm 0112902010-2) Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em

lt wwwtcugovbrgt Acesso em 14 abr 2012

ZAIRE C E F A relaccedilatildeo entre a induacutestria farmacecircutica e a assistecircncia

farmacecircutica no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) a compra estadual

e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

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Adicionalmente em 17 municiacutepios visitados foi constatado que a seleccedilatildeo dos

medicamentos natildeo era elaborada com base em estudos de perfil

epidemioloacutegico e nosoloacutegico Outro problema constatado foi a falta de uma

Comissatildeo de Farmaacutecia e Terapecircutica que natildeo havia sido instituiacuteda em 21

dos 30 municiacutepios Ou seja basicamente a seleccedilatildeo de medicamentos estava

sendo realizada apenas por uma pessoa quando eacute necessaacuterio que as

decisotildees sejam teacutecnicas e tomadas em colegiado

Outro problema relativo agrave REMUME estava na falta de divulgaccedilatildeo Em 22 das

75 UBS visitadas natildeo havia divulgaccedilatildeo da relaccedilatildeo para os meacutedicos das UBS

que acabavam prescrevendo medicamentos fora da REMUME e que

consequentemente natildeo estavam disponiacuteveis nas farmaacutecias do municiacutepio

De maneira quase unacircnime foi constatado que a programaccedilatildeo de compras

de medicamentos pelos municiacutepios era baseada no consumo histoacuterico e no

consumo meacutedio mensal Contudo nem sempre os dados de consumo

refletem a demanda real da populaccedilatildeo de maneira que nos relatoacuterios

realizados pelas Secretaacuterias de Controle Externo dos estados natildeo foi

noticiada a adoccedilatildeo de sistemaacutetica de registro de demandas natildeo atendidas

(demanda reprimida) apesar de haver informaccedilotildees de falta de medicamentos

nas UBS visitadas

Apenas 12 dos 30 municiacutepios trabalhavam com dados de estoque miacutenimo ou

seja 18 municiacutepios natildeo sabiam qual eacute seu estoque de seguranccedila necessaacuterio

para que natildeo houvesse falta de medicamentos Apenas seis municiacutepios

definiam estoque maacuteximo que tem como objetivo reduzir os custos de

armazenagem e de pedido bem como evitar perdas E apenas cinco

municiacutepios conheciam seu ponto de pedido como consequecircncia as compras

natildeo eram realizadas em tempo haacutebil de forma a evitar o desabastecimento

das UBS

O risco de perda de medicamentos devido agrave inadequaccedilatildeo do seu

armazenamento foi apontado em alguns relatoacuterios das auditorias realizadas

nos estados Chamou atenccedilatildeo a descriccedilatildeo dada agraves condiccedilotildees de

37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

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37

armazenamento no municiacutepio de Niteroacutei no Rio de Janeiro o relatoacuterio

apontou o seguinte

O imoacutevel utilizado possui dois pavimentos ambos possuindo extensa

aacuterea aberta proacutexima ao local de armazenagem dos medicamentos

empilhados sobre estrados e expostos a condiccedilotildees de umidade

adversas que podem favorecer o crescimento de fungos e bacteacuterias

e desencadear reaccedilotildees quiacutemicas Natildeo existem higrocircmetros ou

psicrocircmetros para mediccedilatildeo da umidade relativa no ambiente [] As

condiccedilotildees observadas implicam na total perda de seguranccedila

patrimonial no local e favorecem ainda a propagaccedilatildeo de agentes

contaminantes tais como poeira e poluiccedilatildeo ambiental bem como a

entrada de insetos paacutessaros e roedores tendo em vista a

inexistecircncia de fechamento em grande parte do preacutedio [] haacute uma

poccedila drsquoaacutegua no meio da central de abastecimento do municiacutepio de

NiteroacuteiRJ podendo comprometer a qualidade dos medicamentos ali

armazenados (TCU 2010)

Mais um aspecto presente na maioria dos relatoacuterios dos estados dizia respeito

agrave inadequaccedilatildeo dos controles de fluxo de medicamentos que natildeo se

mostraram eficientes na prevenccedilatildeo ao desvio desses produtos De 75 UBS

visitadas em apenas 25 delas havia controle informatizado da dispensaccedilatildeo

de medicamentos Em 30 UBS o controle se dava por meio de fichas de

estoques em papel nove delas utilizavam outros meacutetodos e natildeo havia

qualquer controle da dispensaccedilatildeo em 12 unidades

No Distrito Federal mesmo nas UBS que possuiacuteam sistema informatizado

natildeo havia registro adequado das saiacutedas de medicamentos logo o sistema

era sub-utilizado Dos municiacutepios visitados apenas oito tinham aderidoao

Hoacuterus sistema informatizado de controle de estoques disponibilizado pelo

Ministeacuterio da Sauacutede aos municiacutepios Como dificuldades para utilizaccedilatildeo do

sistema foram relatadas a falta de pessoal capacitado e de recursos

financeiros para adquirir os equipamentos necessaacuterios As vantagens

observadas nos municiacutepios que jaacute haviam aderido ao sistema foram o

aperfeiccediloamento da gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica possibilitada pelo

controle do fluxo desde o planejamento ateacute a dispensaccedilatildeo do medicamento

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

38

Em seu relatoacuterio final o Tribunal de Contas da Uniatildeo (2010) conclui que

[] a gestatildeo da assistecircncia farmacecircutica por estados e municiacutepios

gera riscos de desabastecimento de determinados medicamentos ao

mesmo tempo em que haacute desperdiacutecio de recursos puacuteblicos devido ao

vencimento de medicamentos comprados em excesso e agraves

condiccedilotildees de armazenamento Aleacutem disso satildeo precaacuterios os

controles nos fluxos dos medicamentos permitindo que ocorram

desvios desde o recebimento dos produtos na Central de

Abastecimento Farmacecircutica ateacute a dispensaccedilatildeo ao paciente na

Unidade Baacutesica de Sauacutede

Aleacutem disto o TCU (2010) cita que o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo esta exercendo

seu papel de incentivar o aprimoramento da gestatildeo pelos entes subnacionais de

maneira que o seu Departamento de Assistecircncia Farmacecircutica desconhece a

realidade da assistecircncia farmacecircutica no paiacutes e atua apenas como repassador de

recursos fundo a fundo Esclarece ainda que haacute uma desarticulaccedilatildeo entre os oacutergatildeos

do Ministeacuterio da Sauacutede no que se refere ao monitoramento e avaliaccedilatildeo dos

programas do governo o que resulta na fragmentaccedilatildeo das accedilotildees sendo observadas

sobreposiccedilotildees em algumas aacutereas enquanto em outras haacute lacunas em que nenhum

oacutergatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede realiza qualquer tipo de controle como eacute o caso da

assistecircncia farmacecircuticabaacutesica

28 Impactos positivos da Organizaccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica

A maioria dos trabalhos revisados que abordaram a avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica mostra uma gestatildeo falha ou simplesmente sua omissatildeo

no entanto ainda houve espaccedilo para bons exemplos como eacute o caso do estudo

realizado em um municiacutepio de pequeno porte em Satildeo Paulo onde Silva Juacutenior

(2006) avaliou a intervenccedilatildeo na organizaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica reforccedilando

a essencialidade desta atividade para garantir a eficaacutecia e eficiecircncia das accedilotildees em

sauacutede O municiacutepio investia grandes quantias para suprir as necessidades da

populaccedilatildeo mas fazia isto sem verificar a seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

adquiridos jaacute que mais da metade das especialidades farmacecircuticas natildeo constava

na relaccedilatildeo de medicamentos essenciais nem seguia criteacuterios claros de

racionalidade

39

O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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accedilatildeo ldquoPromoccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica e insumos estrateacutegicos na

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lt wwwtcugovbrgt Acesso em 14 abr 2012

ZAIRE C E F A relaccedilatildeo entre a induacutestria farmacecircutica e a assistecircncia

farmacecircutica no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) a compra estadual

e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

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O aprimoramento da assistecircncia farmacecircutica com uma intervenccedilatildeo nas

atividades gerenciais cliacutenicas e operacionais levou a reduccedilatildeo dos gastos do

municiacutepio aleacutem de racionalizar o uso dos medicamentos isto foi demonstrado com a

avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica com e sem farmacecircutico que mostrou

significativas diferenccedilas no processo de gestatildeo destacando-se maior eficiecircncia das

accedilotildees com reduccedilatildeo dos custos e provimentos de medicamentos de qualidade

constantes da lista de medicamentos essenciais O grande impacto observado foi

resultado das accedilotildees conjuntas de farmacecircutico e meacutedico adicionado ao apoio das

lideranccedilas poliacuteticas (SILVA JUacuteNIOR 2006) Segue as principais intervenccedilotildees

realizadas e avaliadas durante o estudo

1 Intervenccedilotildees gerenciais e operacionais

a Centralizaccedilatildeo das atividades de assistecircncia farmacecircutica num uacutenico

ambiente (municiacutepio de pequeno porte)

b Estabelecimento de uma equipe multiprofissional para a elaboraccedilatildeo de

Lista Padronizada de Medicamentos (REMUNE)

c Ampliaccedilatildeo do nuacutemero de medicamentos disponiacuteveis para dispensaccedilatildeo

no serviccedilo municipal de sauacutede

d Implantaccedilatildeo de um programa da Secretaria deSauacutede do Estado que

assegura o fornecimento de medicamentos para pacientes em

seguimento na psiquiatria Eacute interessante citar que este programa jaacute

havia falhado anteriormente devido agrave falta de farmacecircutico na equipe

de sauacutede

e Realizaccedilatildeo da programaccedilatildeo de medicamentos com base em dados

epidemioloacutegicos e de demanda do municiacutepio

f Implantaccedilatildeo do controle de estoque informatizado

g Triagem das prescriccedilotildees para pagamento da prefeitura

h Inscriccedilatildeo do serviccedilo de sauacutede no Conselho Regional de Farmaacutecia

i Fracionamento e adequaccedilatildeo dos produtos farmacecircuticos agraves

necessidades do paciente

2 Intervenccedilotildees de natureza cliacutenica

a Dispensaccedilatildeo e atenccedilatildeo farmacecircutica intervenccedilatildeo farmacecircutica e

documentaccedilatildeo da accedilatildeo atraveacutes de anotaccedilotildees no cartatildeo de

40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

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baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

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seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

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Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

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percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

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40

medicamentos da prefeitura no caderno de dispensaccedilatildeo e no

prontuaacuterio meacutedico

b Instituiccedilatildeo de um espaccedilo para obtenccedilatildeo de informaccedilotildees sobre

medicamentos ndash Centro de Informaccedilatildeo sobre Medicamentos (CIM)

c Orientaccedilatildeo e supervisatildeo de acadecircmicos e profissionais de medicina

sobre a utilizaccedilatildeo racional de medicamentos

d Intervenccedilatildeo farmacecircutica sobre prescriccedilotildees inadequadas

Com relaccedilatildeo agraves atividades cliacutenicas do farmacecircutico que incluem a atenccedilatildeo

farmacecircutica eacute importante dizer que satildeo de grande valor para os serviccedilos de sauacutede

jaacute que agregam qualidade racionalizando melhor a utilizaccedilatildeo dos medicamentos e

aumentando a seguranccedila de sua utilizaccedilatildeo Quando meacutedicos e farmacecircuticos

trabalham juntos eles proporcionam uma melhora da qualidade de vida relacionada

agrave sauacutede do paciente e aprimoram os benefiacutecios sociais do medicamento (SILVA

JUacuteNIOR 2006)

Kopittke e Camillo (2010) tambeacutem apresentam dados que reforccedilam a

importacircncia do farmacecircutico nos serviccedilos de sauacutede e que sua integraccedilatildeo nas

equipes de trabalho eacute essencial para alcanccedilar os benefiacutecios de uma AF centrada no

usuaacuterio O artigo destes autores descreve a experiecircncia de implantaccedilatildeo de uma

estrateacutegia de assistecircncia farmacecircutica no acircmbito do Serviccedilo de Sauacutede Comunitaacuteria

(SSC) do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Trata-se de uma iniciativa puacuteblica que

abrange as 12 Unidades de Sauacutede de Atenccedilatildeo Baacutesica na zona norte do municiacutepio

de Porto AlegreRS O grupo hospitalar em questatildeo exprime todos os princiacutepios

caracteriacutesticos da atenccedilatildeo integral agrave sauacutede conforme preconizado pelas normas do

SUS e foi criado com o objetivo de aperfeiccediloar a formaccedilatildeo de recursos humanos na

aacuterea de Medicina de Famiacutelia e prestar cuidados a populaccedilatildeo vizinha ao Hospital

De acordo com o artigo as farmaacutecias das UBS obtiveram grandes avanccedilos

apoacutes a contrataccedilatildeo de farmacecircuticos para apoiar a gestatildeo da AF Simultaneamente

a este processo houve a inserccedilatildeo da Farmaacutecia no Programa da Residecircncia

Integrada em Sauacutede (RIS) com ecircnfase em Sauacutede da Famiacutelia e Comunidade A

integraccedilatildeo do farmacecircutico agraves equipes aliada ao apoio acadecircmico no serviccedilo

trouxeram vaacuterios benefiacutecios que culminaram na implantaccedilatildeo de um projeto de AF

para o SSC do Grupo Hospitalar Conceiccedilatildeo Foi realizada uma avaliaccedilatildeo do serviccedilo

41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

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41

baseada em indicadores preconizados pelo Ministeacuterio da Sauacutede destacando-se os

seguintes aspectos (KOPITTKE CAMILLO 2010)

Institucionalizaccedilatildeo da AF a farmaacutecia faz parte do organograma do

serviccedilo como equipe do Apoio Matricial para coordenar as accedilotildees de AF

Avaliaccedilatildeo das accedilotildees de AF o SSC conta com uma avaliaccedilatildeo

permanente e sistemaacutetica de suas accedilotildees inclusive com participaccedilatildeo da

comunidade Aleacutem disto busca-se junto agrave literatura adaptar indicadores para

melhorar a avaliaccedilatildeo da AF no SSC

Seleccedilatildeo o serviccedilo adota a REMUME do municiacutepio de Porto Alegre a

qual foi divulgada em reuniotildees de equipe das UBS atraveacutes de coacutepias

plastificadas disponiacuteveis em todos os consultoacuterios As prescriccedilotildees meacutedicas

satildeo avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo pelos estagiaacuterios do curso de

Farmaacutecia da UFRGS Aleacutem disto protocolos cliacutenicos para as patologias mais

prevalentes foram adotados e suas revisotildees contaram com a participaccedilatildeo da

equipe farmacecircutica

Programaccedilatildeo eacute realizada de acordo com os dados epidemioloacutegicos do

SSC fornecidos pelo Nuacutecleo de Monitoramento e Avaliaccedilatildeo do SSC

Contempla uma constante negociaccedilatildeo junto agrave coordenaccedilatildeo da AF do

municiacutepio de Porto Alegre responsaacutevel pelo repasse dos medicamentos

Mensalmente eacute realizada uma anaacutelise da movimentaccedilatildeo dos insumos

farmacecircuticos ensejando inclusive remanejamento de medicamentos em

excesso e proacuteximos ao vencimento para outras unidades

Armazenamento todas as unidades foram orientadas pelos

farmacecircuticos sobre as condiccedilotildees ideais de armazenamento Nem todas

apresentam aacuterea conforme diretrizes do MS poreacutem se adequam da melhor

maneira possiacutevel para manter a integridade dos medicamentos O mesmo

ocorre com o controle de estoque

Promoccedilatildeo do uso racional de medicamentos os profissionais do SSC

satildeo estimulados a prescreverem os medicamentos de acordo com a

REMUME aleacutem de contarem com os protocolos cliacutenicos assistenciais

Vaacuterias accedilotildees para o uso adequado de medicamentos satildeo realizadas pelos

farmacecircuticos tais como seminaacuterios de campo discussotildees de caso e

42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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42

seminaacuterio sobre qualificaccedilatildeo das prescriccedilotildees Estas accedilotildees satildeo estendidas agrave

comunidade

Dispensaccedilatildeo A dispensaccedilatildeo eacute realizada pelos farmacecircuticos

residentes nas unidades de sauacutede em que estatildeo presentes Nestas

unidades haacute o ambulatoacuterio de atenccedilatildeo farmacecircutica que visa auxiliar para a

adesatildeo dos pacientes ao tratamento e a orientaccedilatildeo para o uso correto dos

medicamentos em especial para usuaacuterios portadores de doenccedilas crocircnicas

que fazem uso contiacutenuo de medicamentos

De acordo com Kopittke e Camillo (2010) a experiecircncia do Grupo Hospitalar

Conceiccedilatildeo tem mostrado que o farmacecircutico faz diferenccedila natildeo soacute na reduccedilatildeo de

custos parao Sistema de Sauacutede mas ao incorporaros atributos da Atenccedilatildeo Primaacuteria

agrave Sauacutede nassuas atividades e ao se integrar agraves equipes desauacutede qualifica a

assistecircncia farmacecircutica deforma que esta seja mais resolutiva e

qualificadaatendendo agraves necessidades da populaccedilatildeo noque tange agrave prevenccedilatildeo e ao

tratamento bemcomo agrave promoccedilatildeo de sauacutede

Tanto Silva Juacutenior (2006) como Kopittke e Camillo (2010) reforccedilam a

importacircncia do apoio dos gestores puacuteblicos para o estabelecimento de uma

assistecircncia farmacecircutica exemplar Seguindo esta mesma linha de raciociacutenio cita-se

que a Portaria GM 1542008 criou os Nuacutecleos de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia ndash NASF

uma iniciativa que tem ampliado o nuacutemero de componentes vinculados agraves Equipes

de Sauacutede da Famiacutelia reunindo diversos profissionais da aacuterea de sauacutede De acordo

com esta portaria podem ser instituiacutedos dois tipos de NASF a depender da

densidade demograacutefica do municiacutepio em ambos satildeo exigidos uma constituiccedilatildeo por

profissionais de diferentes aacutereas podendo um deles ser o farmacecircutico (CFF 2009)

De acordo com o Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) tem sido

fundamental o trabalho do farmacecircutico na dispensaccedilatildeo dos medicamentos nas

Unidades de Sauacutede da Famiacutelia em que se disponibilizam medicamentos propiciando

que as atividades realizadas pela equipe possam ter a efetividade do tratamento

medicamentoso por meio da atenccedilatildeo farmacecircutica desenvolvida por esse

profissional

Corroborando com os resultados dos artigos discutidos nesta seccedilatildeo o

Conselho Federal de Farmaacutecia (2009) cita que

43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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43

Os medicamentos despertam grande atenccedilatildeo por parte dos

gestores pois a sua utilizaccedilatildeo pode gerar distorccedilotildees comuns agrave

maioria dos Municiacutepios como utilizaccedilatildeo desnecessaacuteria prescriccedilotildees

irracionais desperdiacutecios com compras erradas e outras elevando o

custo com a aquisiccedilatildeo e com o tratamento inadequado das doenccedilas

Assim considerando que a portaria GM 1542008 deixa em aberto a

composiccedilatildeo dos NASFrsquos para que os farmacecircuticos atuem na gestatildeo e na

dispensaccedilatildeo de medicamentos na Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia cumprindo a

necessidade da atenccedilatildeo baacutesica e a determinaccedilatildeo da legislaccedilatildeo em vigor eacute

necessaacuteria a orientaccedilatildeo dos dirigentes poliacuteticos a fim de conscientizaacute-los da

importacircncia de sua atuaccedilatildeo

Considerando ainda o tracircmite de um projeto de lei que torna obrigatoacuteria a

presenccedila do farmacecircutico nas unidades do SUS que dispensam medicamentos e os

recentes programas de estruturaccedilatildeo da AF tais como o sistema Horus e o Qualifar-

SUS suas concretizaccedilotildees significam enormes avanccedilos para a Poliacutetica de

Assistecircncia Farmacecircutica em todo o paiacutes contribuindo de forma significativa para a

melhoria da qualidade da atenccedilatildeo integral a sauacutede da populaccedilatildeo e melhor proveito

dos recursos destinados a sauacutede

44

3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

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e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

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3 PERCEPCcedilOtildeES DA ASSISTEcircNCIA FARMACEcircUTICA

A assistecircncia farmacecircutica campo recente da sauacutede coletiva estaacute ainda em

construccedilatildeo Tem uma produccedilatildeo social de sauacutede complexa pela diversificaccedilatildeo de

atores accedilotildees e tecnologias Lida com muitas incertezas como a indeterminaccedilatildeo das

demandas a diversidade dos processos de trabalho multiprofissionais exige

trabalhadores qualificados possui forte componente mecanicista com postos de

trabalhos separados com divisotildees teacutecnicas distintas (RIECK 2008) Aleacutem de toda

esta complexidade a AF deve ultrapassar barreiras culturais pois os vaacuterios atores

envolvidos em seu ciclo por diversos fatores possuem visotildees limitadas sobre sua

importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

Silva (2011) ao analisar a perspectiva dos atores envolvidos naAF cita que

em alguns relatos o papel do farmacecircutico e da proacutepria AF estaacute relacionado apenas

agrave garantia de abastecimento dos medicamentos Ao questionar quais atores mais

importantes para a AF dois profissionais farmacecircuticos natildeo mencionaram a sua

proacutepria categoria tal fato pode ser explicado pela acepccedilatildeo de que sua atuaccedilatildeo eacute

evidente No entanto pode tambeacutem ilustrar um sentimento de opressatildeo e

desvalorizaccedilatildeo que leva o profissional a se sentir impotente para atuar e modificar a

realidade em que vive Por outro lado em muitas respostas houve alusatildeoaos atores

poliacuteticos como prefeitos e vereadores evidenciando a forte cultura em nosso paiacutes de

utilizaccedilatildeo do medicamento como moeda poliacutetica pelo grande apelo que possui como

elemento essencial agrave manutenccedilatildeo ou restabelecimento da sauacutede da populaccedilatildeo

Arauacutejo e Freitas (2006) tambeacutem obtiveram resultados semelhantes ao analisar

as diferentes concepccedilotildees dos profissionais farmacecircuticos acerca do ciclo da AF De

modo geral elas refletiam as representaccedilotildees sobre o seu proacuteprio processo de

trabalho rotineiro na unidade de sauacutede Nesta visatildeo que os autores denominaram

de ciclo mais curto da assistecircncia farmacecircutica o medicamento se destaca como o

mais evidente objeto de trabalho farmacecircutico na unidade de sauacutede fortemente

marcado pela gestatildeo burocraacutetica ou seja garantir a disponibilidade do medicamento

ao usuaacuterio No artigo os autores destacam trechos de entrevistas que representam

bem esta realidade

Num sentido mais global neacute do trabalho do farmacecircutico Consiste

assim eu acho que eacute desde v taacute garantindo o medicamento na

prateleira praacute ter ele no momento que v vai entregar ao paciente taacute

controlando esse estoque garantindo o estoque () e tambeacutem a

45

assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

organizaccedilatildeo Ciecircnc sauacutede coletiva v16 n9 p 3939-3949 2011

ANDRADE FILHO D P Potencialidades e fragilidades da rede de atenccedilatildeo agrave

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira J Manag Prim Health Care v 2

n 2 p 46-49 2011 Disponiacutevel em ltwwwjmphccomojsindexphp01article

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da assistecircncia farmacecircutica baacutesica em municiacutepios baianos Brasil Cad Sauacutede

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BERNARDI C L B BIEBERBACH E W THOME H I Avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica baacutesica nos municiacutepios de abrangecircncia da 17ordf

Coordenadoria Regional de Sauacutede do Rio Grande do Sul Sauacutede e Sociedade v15

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Abr 2012

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condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede a organizaccedilatildeo e o

funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

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328 de 22 de julho de 1999 Dispotildee sobre requisitos exigidos para a dispensaccedilatildeo de

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_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Portaria n 3916 de 30 de outubro de

1998 Aprova a Poliacutetica Nacional de Medicamentos Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

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Farmacecircutica 1990 a 2002 Ministeacuterio da Sauacutede elaborado por Barjas Negri ndash

Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Resoluccedilatildeo n 338 de 06 de maio de

2004a Institui a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica Diaacuterio Oficial da

Repuacuteblica Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Decreto n 5090 de 20 de maio de

2004b Institui o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo

baacutesica instruccedilotildees teacutecnicas para sua organizaccedilatildeo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos Departamento de

Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos 2 ed ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da

Sauacutede 2006

_______ MINISTERIO DA SAUacuteDE Portaria n 4217 de 28 de dezembro de

2010 Aprova as normas de financiamento e execuccedilatildeo do Componente Baacutesico da

Assistecircncia Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil

51

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Portaria n 184 de 03 de fevereiro de

2011 Dispotildee sobre o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da

Repuacuteblica Federativa do Brasil

CANABARRO I M HAHN S Panorama da assistecircncia farmacecircutica na

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CARVALHO F D Avaliaccedilatildeo econocircmica do impacto da atividade de

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Ribeiratildeo Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2007 Disponiacutevel em

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Acesso em 12 abr 2012

CONSELHO FEDERAL DE FARMAacuteCIA (CFF) A assistecircncia farmacecircutica

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Farmaacutecia Comissatildeo de Assistecircncia Farmacecircutica do Serviccedilo Puacuteblico do CRF-PR

Brasiacutelia Conselho Federal de Farmaacutecia 2009

CORREIA A R F MOTA D M ARRAIS P S D MONTEIRO M P

COELHO H L L Definiccedilatildeo de Indicadores para Avaliaccedilatildeo da Assistecircncia

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n 1 p 15-20 janabr 2011

52

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KORNIS G E M BRAGA M H ZAIRE C E F Os marcos legais das

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Organizado por Nelly Marin et al Rio de Janeiro OPASOMS 2003

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MOURA A C Anaacutelise da organizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo da Assistecircncia

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NICOLINE C B VIEIRA R C P A Assistecircncia farmacecircutica no Sistema

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Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em um municiacutepio da Bahia Brasil Rev baiana

sauacutede puacuteblica n 34 v 4 outdez 2010

ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DA SAUacuteDE ndash OPAS Avaliaccedilatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica no Brasil Organizaccedilatildeo Pan-Americana da Sauacutede

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede

2005

PANSTEIN R WEBER C A T Avaliaccedilatildeo de Satisfaccedilatildeo da Gestatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em Jaraguaacute do Sul no Ano de 2007 Rev Sauacutede

Puacutebl Santa Cat Florianoacutepolis v 3 n 2 juldez 2010

53

RIECK E B Anaacutelise da gestatildeo estadual de assistecircncia farmacecircutica a

partir do pensamento complexo 2008 Dissertaccedilatildeo - Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em

Ciecircncias Farmacecircuticas ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre

2008

SILVA S H A implementaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica no

niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

SILVA JUNIOR D B Assistecircncia farmacecircutica em um municiacutepio do

estado de Satildeo Paulo diagnoacutestico e perspectivas 2006 Dissertaccedilatildeo - Mestrado

em Medicamentos e Cosmeacuteticos - Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas de Ribeiratildeo

Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2006 Disponiacutevel em

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Acesso em 12 abr 2012

VIEIRA F S Assistecircncia farmacecircutica no sistema puacuteblico de sauacutede no Brasil

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIAtildeO Relatoacuterio de auditoria operacional na

accedilatildeo ldquoPromoccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica e insumos estrateacutegicos na

atenccedilatildeo baacutesica em sauacutederdquo (TC nordm 0112902010-2) Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em

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ZAIRE C E F A relaccedilatildeo entre a induacutestria farmacecircutica e a assistecircncia

farmacecircutica no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) a compra estadual

e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

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assistecircncia no que se diz respeito no momento da entrega desse

medicamento ao paciente

A assistecircncia farmacecircutica que v taacute dizendo em termos de

medicamento de poder entregar esse medicamento neacute A pergunta

anterior Bom a gente aqui eacute essa assistecircncia ela vem neacute da do

Estado muitas vezes alguns medicamentos outros vecircm da

Prefeitura neacute geralmente eles mantecircm-se tem aqueles que satildeo

padronizados dentro de programas neacute (Informaccedilatildeo verbal6)

Outro aspecto relatado no estudo de Arauacutejo e Freitas (2006) foi a interaccedilatildeo do

farmacecircutico com a equipe de sauacutede que foi citada como ocasional e vinculada agrave

ocorrecircncia de problemas operacionais da gestatildeo dos estoques ou de duacutevidas quanto

agrave prescriccedilatildeo A realidade representada natildeo corresponde agravequela visatildeo de assistecircncia

farmacecircutica multiprofissional

O que chama a atenccedilatildeo dada a diretriz da integralidade do sistema

de sauacutede eacute o fato de que cada profissional da unidade parece

exercer a sua atividade isoladamente recorrendo aos outros apenas

nos casos em que a gestatildeo interna esteja ameaccedilada natildeo

importando muito o conhecimento teacutecnico sobre os medicamentos

(ARAUJO FREITAS 2006)

No mesmo estudo percebeu-se que a formaccedilatildeo acadecircmica foi entendida

pelos profissionais como tendo dado apenas uma base teacutecnica e cientiacutefica

destacando-se a pouca praacutetica e contato com o paciente ou ainda como natildeo tendo

oferecido preparaccedilatildeo nenhuma para o exerciacutecio da assistecircncia farmacecircutica

(ARAUJO FREITAS 2006)

Eu acho que os curriacuteculos das universidades tecircm que ser reavaliados

nesse sentido neacute de taacute formando um profissional farmacecircutico

mesmo voltado praacute assistecircncia farmacecircutica (Informaccedilatildeo verbal6)

Quanto a este aspecto Nicoline e Vieira (2011) realizaram um estudo que

teve como objetivo ldquocompreender as percepccedilotildees de graduandos em farmaacutecia de

uma universidade puacuteblica brasileira sobre a assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede frente ao atual contexto poliacutetico e educacional em sauacutederdquo A

pesquisa concluiu que o entendimento dos estudantes acerca do significado da AF e

de suas atividades relacionadas envolveu dois tipos principais de interpretaccedilatildeo a AF

como um campo amplo ou como a praacutetica de Atenccedilatildeo Farmacecircutica (Atenfar) Na

6 Trechos de entrevistas com farmacecircuticos

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primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

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assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira J Manag Prim Health Care v 2

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2006 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S15

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assistecircncia farmacecircutica baacutesica nos municiacutepios de abrangecircncia da 17ordf

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n 1 p73-83 janabr 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript

=sci_arttextamppid=S0104-12902006000100008amplng=enampnrm=isogt Acesso em 13

Abr 2012

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Republica Federativa do

Brasil promulgada em 5 de outubro de 1988

_______ Lei ndeg 8080 de 19 de setembro de 1990 Dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede a organizaccedilatildeo e o

funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

_______ AGEcircNCIA NACIONAL DE VIGILAcircNCIA SANITAacuteRIA Resoluccedilatildeo n

328 de 22 de julho de 1999 Dispotildee sobre requisitos exigidos para a dispensaccedilatildeo de

produtos de interesse agrave sauacutede em farmaacutecias e drogarias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

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_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Portaria n 3916 de 30 de outubro de

1998 Aprova a Poliacutetica Nacional de Medicamentos Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Poliacutetica Federal de Assistecircncia

Farmacecircutica 1990 a 2002 Ministeacuterio da Sauacutede elaborado por Barjas Negri ndash

Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Resoluccedilatildeo n 338 de 06 de maio de

2004a Institui a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica Diaacuterio Oficial da

Repuacuteblica Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Decreto n 5090 de 20 de maio de

2004b Institui o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

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baacutesica instruccedilotildees teacutecnicas para sua organizaccedilatildeo Ministeacuterio da Sauacutede

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Sauacutede 2006

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2010 Aprova as normas de financiamento e execuccedilatildeo do Componente Baacutesico da

Assistecircncia Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil

51

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atenccedilatildeo farmacecircutica na assistecircncia agrave sauacutede aspectos metodoloacutegicos 2007

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Ribeiratildeo Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2007 Disponiacutevel em

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2005

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Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em Jaraguaacute do Sul no Ano de 2007 Rev Sauacutede

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53

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2008

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niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

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2011

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

46

primeira perspectiva muitos consideraram o aspecto logiacutestico para o acesso ao

medicamento Na segunda perspectiva a qual envolve orientaccedilotildees aos usuaacuterios dos

medicamentos ficou niacutetido um entendimento voltado agrave Atenfar como principal ou

exclusiva aacuterea de atuaccedilatildeo Esta uacuteltima percepccedilatildeo demonstra uma falta de

apreensatildeo dos conceitos durante a formaccedilatildeo acadecircmica pois a Atenfar deve ser

compreendida como fazendo parte das accedilotildees de AF

Quanto agrave educaccedilatildeo farmacecircutica para atuaccedilatildeo no SUS a percepccedilatildeo eacute de que

sua qualidade depende da realidade da AF no SUS Os acadecircmicos do curso de

farmaacutecia alegaram que apesar da teoria ser bastante promissora na praacutetica eacute

muito difiacutecil de aplicaacute-la pois existe a dificuldade de se encontrar serviccedilos onde a AF

esteja implantada o que representa um paradoxo para as instituiccedilotildees formadoras

Os relatos indicaram que a participaccedilatildeo dos estudantes nestes serviccedilos tanto natildeo

possibilitou uma aprendizagem mais abrangente como natildeo proporcionou condiccedilotildees

para que influenciassem nos processos de trabalho (NICOLINE VIEIRA 2011)

Neste caso eacute preciso questionar qual modelo de formaccedilatildeo seria o mais

adequado para sistematizar essa praacutetica pois natildeo parece ser apenas questatildeo de

conteuacutedos a serem ensinados

Quanto agrave visatildeo dos gestores da assistecircncia farmacecircutica Rieck (2008)

atestou que em sua maioria tem uma visatildeo reducionista de sua funccedilatildeo dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede A assistecircncia farmacecircutica muitas vezes natildeo faz parte

nem dos planos de sauacutede dos entes federados O entendimento do seu conceito eacute

diverso e haacute uma baixa apropriaccedilatildeo teacutecnica dos gestores quanto aos processos de

trabalho relativos agraves atividades de assistecircncia farmacecircutica

A dificuldade de compreensatildeo da AF pelos proacuteprios atores foi bem

caracterizada por Martins et al (2008) que apoacutes avaliar a AF num municiacutepio de

Santa Catarina apresentou os resultados aos participantes da pesquisa atraveacutes de

uma atividade denominada Oficina de Trabalho objetivando levantar mais dados

sobre a percepccedilatildeo desses colaboradores acerca da descriccedilatildeo de suas atividades A

anaacutelise dos dados refletivos agrave Oficina de Trabalho evidenciou que os profissionais

envolvidos natildeo tinham consciecircncia da complexidade do ciclo de assistecircncia

farmacecircutica desenvolvido nesse municiacutepio No primeiro momento reflexivo um dos

participantes comentou que ldquoficou bonita na tua apresentaccedilatildeo nossa rotina de

trabalho a gente natildeo fazia ideia do quanto ela era complexa No nosso dia-a-dia natildeo

nos damos conta da sistematizaccedilatildeo do ciclordquo Esse comentaacuterio fez surgir vaacuterias

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

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REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

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assistecircncia farmacecircutica baacutesica nos municiacutepios de abrangecircncia da 17ordf

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funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

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328 de 22 de julho de 1999 Dispotildee sobre requisitos exigidos para a dispensaccedilatildeo de

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1998 Aprova a Poliacutetica Nacional de Medicamentos Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

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Farmacecircutica 1990 a 2002 Ministeacuterio da Sauacutede elaborado por Barjas Negri ndash

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2004b Institui o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

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baacutesica instruccedilotildees teacutecnicas para sua organizaccedilatildeo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos Departamento de

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Sauacutede 2006

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2010 Aprova as normas de financiamento e execuccedilatildeo do Componente Baacutesico da

Assistecircncia Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil

51

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2011 Dispotildee sobre o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da

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Organizado por Nelly Marin et al Rio de Janeiro OPASOMS 2003

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Farmacecircutica no Sistema Uacutenico de Sauacutede estudo qualitativo em um municiacutepio do

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Ciecircncias Farmacecircuticas ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre

2008

SILVA S H A implementaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica no

niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

SILVA JUNIOR D B Assistecircncia farmacecircutica em um municiacutepio do

estado de Satildeo Paulo diagnoacutestico e perspectivas 2006 Dissertaccedilatildeo - Mestrado

em Medicamentos e Cosmeacuteticos - Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas de Ribeiratildeo

Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2006 Disponiacutevel em

lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis6060137tde-16012007-142838gt

Acesso em 12 abr 2012

VIEIRA F S Assistecircncia farmacecircutica no sistema puacuteblico de sauacutede no Brasil

Rev Panam Salud Publica v 27 n 2 p 149ndash56 2010

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIAtildeO Relatoacuterio de auditoria operacional na

accedilatildeo ldquoPromoccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica e insumos estrateacutegicos na

atenccedilatildeo baacutesica em sauacutederdquo (TC nordm 0112902010-2) Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em

lt wwwtcugovbrgt Acesso em 14 abr 2012

ZAIRE C E F A relaccedilatildeo entre a induacutestria farmacecircutica e a assistecircncia

farmacecircutica no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) a compra estadual

e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

47

percepccedilotildees de outros participantes salientando o fato de que apesar de serem

colaboradores das atividades do ciclo de assistecircncia farmacecircutica eles natildeo tinham

uma visatildeo dinacircmica de todo o ciclo sendo que soacute partes deste eram vistas de forma

isolada (MARTINS et al 2008)

A realizaccedilatildeo de oficinas como esta possibilita que os diversos profissionais

envolvidos visualizem de forma sistecircmica o ciclo de assistecircncia farmacecircutica

compreendendo a dinacircmica e a importacircncia de cada uma de suas etapas Como

resultado tem-se colaboradores conscientes de sua importacircncia na garantia do

acesso de qualidade a medicamentos essenciais refletindo num melhor

comprometimento e entrosamento das equipes de trabalho

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

organizaccedilatildeo Ciecircnc sauacutede coletiva v16 n9 p 3939-3949 2011

ANDRADE FILHO D P Potencialidades e fragilidades da rede de atenccedilatildeo agrave

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira J Manag Prim Health Care v 2

n 2 p 46-49 2011 Disponiacutevel em ltwwwjmphccomojsindexphp01article

download1717gt Acesso em 13 abr 2012

ARAUJO A L A FREITAS O Concepccedilotildees do profissional farmacecircutico

sobre a assistecircncia farmacecircutica na unidade baacutesica de sauacutede dificuldades e

elementos para a mudanccedila Rev Bras Cienc Farm Satildeo Paulo v 42 n 1 mar

2006 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S15

16-93322006000100015amplng=ptampnrm=isogt Acesso em 13 abr 2012

BARRETO J L GUIMARAES M C L Avaliaccedilatildeo da gestatildeo descentralizada

da assistecircncia farmacecircutica baacutesica em municiacutepios baianos Brasil Cad Sauacutede

Puacuteblica vol 26 n 6 p 1207-1220 2010

BERNARDI C L B BIEBERBACH E W THOME H I Avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica baacutesica nos municiacutepios de abrangecircncia da 17ordf

Coordenadoria Regional de Sauacutede do Rio Grande do Sul Sauacutede e Sociedade v15

n 1 p73-83 janabr 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript

=sci_arttextamppid=S0104-12902006000100008amplng=enampnrm=isogt Acesso em 13

Abr 2012

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Republica Federativa do

Brasil promulgada em 5 de outubro de 1988

_______ Lei ndeg 8080 de 19 de setembro de 1990 Dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede a organizaccedilatildeo e o

funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

_______ AGEcircNCIA NACIONAL DE VIGILAcircNCIA SANITAacuteRIA Resoluccedilatildeo n

328 de 22 de julho de 1999 Dispotildee sobre requisitos exigidos para a dispensaccedilatildeo de

produtos de interesse agrave sauacutede em farmaacutecias e drogarias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwanvisagovbrlegisresol328_99

htmgt Acesso em 05 jul 2012

_______ CONSELHO NACIONAL DE SECRETAacuteRIOS DE SAUacuteDE

Assistecircncia Farmacecircutica no SUS Conselho Nacional de Secretaacuterios de Sauacutede ndash

Brasiacutelia CONASS 2011 186 p

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Portaria n 3916 de 30 de outubro de

1998 Aprova a Poliacutetica Nacional de Medicamentos Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Poliacutetica Federal de Assistecircncia

Farmacecircutica 1990 a 2002 Ministeacuterio da Sauacutede elaborado por Barjas Negri ndash

Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Resoluccedilatildeo n 338 de 06 de maio de

2004a Institui a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica Diaacuterio Oficial da

Repuacuteblica Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Decreto n 5090 de 20 de maio de

2004b Institui o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo

baacutesica instruccedilotildees teacutecnicas para sua organizaccedilatildeo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos Departamento de

Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos 2 ed ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da

Sauacutede 2006

_______ MINISTERIO DA SAUacuteDE Portaria n 4217 de 28 de dezembro de

2010 Aprova as normas de financiamento e execuccedilatildeo do Componente Baacutesico da

Assistecircncia Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil

51

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Portaria n 184 de 03 de fevereiro de

2011 Dispotildee sobre o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da

Repuacuteblica Federativa do Brasil

CANABARRO I M HAHN S Panorama da assistecircncia farmacecircutica na

sauacutede da famiacutelia em municiacutepio do interior do estado do Rio Grande do

Sul Epidemiol Serv Sauacutede Brasiacutelia v 18 n 4 2009 Disponiacutevel em

lthttpscieloiecpagovbrscielophpscript=sci_arttextamppid=S167949742009000400

004amplng=esampnrm=isogt Acesso em 12 abr 2012

CARVALHO F D Avaliaccedilatildeo econocircmica do impacto da atividade de

atenccedilatildeo farmacecircutica na assistecircncia agrave sauacutede aspectos metodoloacutegicos 2007

Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede na Comunidade) Faculdade de Medicina de

Ribeiratildeo Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis1717139tde-06032008-160915gt

Acesso em 12 abr 2012

CONSELHO FEDERAL DE FARMAacuteCIA (CFF) A assistecircncia farmacecircutica

no SUS Organizaccedilatildeo Comissatildeo de Sauacutede Puacuteblica do Conselho Federal de

Farmaacutecia Comissatildeo de Assistecircncia Farmacecircutica do Serviccedilo Puacuteblico do CRF-PR

Brasiacutelia Conselho Federal de Farmaacutecia 2009

CORREIA A R F MOTA D M ARRAIS P S D MONTEIRO M P

COELHO H L L Definiccedilatildeo de Indicadores para Avaliaccedilatildeo da Assistecircncia

Farmacecircutica na Rede Puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute (Brasil) baseada em Meacutetodos de

Consenso Latin American Journal of Pharmacy v 28 n 3 p 366-374 2009

Disponiacutevel em lthttpwwwlatamjpharmorgtrabajos283LAJOP28317I859H494TN

pdfgt Acesso em 12 Abr 2012

FREITAS J M S M NOBRE A C L Avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

do municiacutepio de Mombaccedila-CE R Bras Farm Hosp Serv Sauacutede Satildeo Paulo v 2

n 1 p 15-20 janabr 2011

52

KOPITTKE L CAMILLO E Assistecircncia Farmacecircutica em um Serviccedilo de

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede Tempus - Actas de Sauacutede Coletiva v 4 n 3 2010

Disponiacutevel em lthttptempusactasunbbrindexphptempusarticleview878841gt

Acesso em 12 abr 2012

KORNIS G E M BRAGA M H ZAIRE C E F Os marcos legais das

poliacuteticas de medicamentos no Brasil contemporacircneo (1990-2006) Rev APS v 11

n 1 p 85-99 janmar 2008

MARIN N (org) Assistecircncia farmacecircutica para gerentes municipais

Organizado por Nelly Marin et al Rio de Janeiro OPASOMS 2003

MARTINS L P PATRIgraveCIO Z M GALATO D O Ciclo de Assistecircncia

Farmacecircutica no Sistema Uacutenico de Sauacutede estudo qualitativo em um municiacutepio do

Estado de Santa Catarina Rev Bras Farm v 89 n 3 2008

MOURA A C Anaacutelise da organizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo da Assistecircncia

Farmacecircutica nos municiacutepios do Estado do Amazonas Tempus - Actas de Sauacutede

Coletiva v 4 v 3 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwtempusunbbrindexphp

tempusarticleview877840gt Acesso em 12 abr 2012

NICOLINE C B VIEIRA R C P A Assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede (SUS) percepccedilotildees de graduandos em Farmaacutecia Interface v15 n

39 p 1127-1144 2011

OLIVEIRA L C F ASSIS M M A BARBONI A R Avaliaccedilatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em um municiacutepio da Bahia Brasil Rev baiana

sauacutede puacuteblica n 34 v 4 outdez 2010

ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DA SAUacuteDE ndash OPAS Avaliaccedilatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica no Brasil Organizaccedilatildeo Pan-Americana da Sauacutede

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede

2005

PANSTEIN R WEBER C A T Avaliaccedilatildeo de Satisfaccedilatildeo da Gestatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em Jaraguaacute do Sul no Ano de 2007 Rev Sauacutede

Puacutebl Santa Cat Florianoacutepolis v 3 n 2 juldez 2010

53

RIECK E B Anaacutelise da gestatildeo estadual de assistecircncia farmacecircutica a

partir do pensamento complexo 2008 Dissertaccedilatildeo - Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em

Ciecircncias Farmacecircuticas ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre

2008

SILVA S H A implementaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica no

niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

SILVA JUNIOR D B Assistecircncia farmacecircutica em um municiacutepio do

estado de Satildeo Paulo diagnoacutestico e perspectivas 2006 Dissertaccedilatildeo - Mestrado

em Medicamentos e Cosmeacuteticos - Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas de Ribeiratildeo

Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2006 Disponiacutevel em

lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis6060137tde-16012007-142838gt

Acesso em 12 abr 2012

VIEIRA F S Assistecircncia farmacecircutica no sistema puacuteblico de sauacutede no Brasil

Rev Panam Salud Publica v 27 n 2 p 149ndash56 2010

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIAtildeO Relatoacuterio de auditoria operacional na

accedilatildeo ldquoPromoccedilatildeo da Assistecircncia Farmacecircutica e insumos estrateacutegicos na

atenccedilatildeo baacutesica em sauacutederdquo (TC nordm 0112902010-2) Brasiacutelia 2010 Disponiacutevel em

lt wwwtcugovbrgt Acesso em 14 abr 2012

ZAIRE C E F A relaccedilatildeo entre a induacutestria farmacecircutica e a assistecircncia

farmacecircutica no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) a compra estadual

e municipal de medicamentos no Rio de Janeiro 2008 Dissertaccedilatildeo - Instituto de

Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

Page 50: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA COORDENADORIA INSTITUCIONAL DE …dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/13133/1... · 2017-03-24 · pública baseada nos princípios de

48

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O histoacuterico da assistecircncia farmacecircutica no Brasil demonstrou grandes

avanccedilos principalmente no que diz respeito agrave sua regulamentaccedilatildeo que de iniacutecio era

expressamente centrada no medicamento e hoje contempla a integralidade das

accedilotildees em sauacutede com atenccedilatildeo voltada para o usuaacuterio abrangendo os princiacutepios do

SUS

No entanto estes avanccedilos devem ser analisados de forma criacutetica pois muitos

ajustes ainda precisam ser feitos Os estudos de avaliaccedilatildeo revisados demonstraram

que vaacuterias satildeo as desordens na assistecircncia farmacecircutica elas abrangem todas as

suas dimensotildees poliacuteticas administrativas teacutecnicas e culturais

Neste sentido a avaliaccedilatildeo da AF eacute uma atividade que deve constar na rotina

dos serviccedilos de sauacutede no intuito de colaborar com o diagnoacutestico defalhas identificar

suas causas e contribuir atraveacutes da proposiccedilatildeo de accedilotildees preventivas e corretivas

para aperfeiccediloar a sua organizaccedilatildeo e gestatildeo permitindo o cumprimento efetivo de

sua funccedilatildeo social

No que diz respeito agrave dimensatildeo organizacional o constrangimento na

autonomia da coordenaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica a inexistecircncia de

funcionamento da CFT e sobretudo a ausecircncia do farmacecircutico na

operacionalizaccedilatildeo de atividades essenciais para a gestatildeo da AF limitam o acircmbito de

suas accedilotildees no SUS

As diversas percepccedilotildees dos atores envolvidos na AF discutidas neste

trabalho demonstraram visotildees limitadas sobre sua importacircncia na atenccedilatildeo a sauacutede

inclusive os proacuteprios farmacecircuticos

49

REFEREcircNCIAS

ALENCAR T O S NASCIMENTO M A A Assistecircncia Farmacecircutica no

Programa Sauacutede da Famiacutelia encontros e desencontros do processo de

organizaccedilatildeo Ciecircnc sauacutede coletiva v16 n9 p 3939-3949 2011

ANDRADE FILHO D P Potencialidades e fragilidades da rede de atenccedilatildeo agrave

assistecircncia farmacecircutica no municiacutepio de Tabira J Manag Prim Health Care v 2

n 2 p 46-49 2011 Disponiacutevel em ltwwwjmphccomojsindexphp01article

download1717gt Acesso em 13 abr 2012

ARAUJO A L A FREITAS O Concepccedilotildees do profissional farmacecircutico

sobre a assistecircncia farmacecircutica na unidade baacutesica de sauacutede dificuldades e

elementos para a mudanccedila Rev Bras Cienc Farm Satildeo Paulo v 42 n 1 mar

2006 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S15

16-93322006000100015amplng=ptampnrm=isogt Acesso em 13 abr 2012

BARRETO J L GUIMARAES M C L Avaliaccedilatildeo da gestatildeo descentralizada

da assistecircncia farmacecircutica baacutesica em municiacutepios baianos Brasil Cad Sauacutede

Puacuteblica vol 26 n 6 p 1207-1220 2010

BERNARDI C L B BIEBERBACH E W THOME H I Avaliaccedilatildeo da

assistecircncia farmacecircutica baacutesica nos municiacutepios de abrangecircncia da 17ordf

Coordenadoria Regional de Sauacutede do Rio Grande do Sul Sauacutede e Sociedade v15

n 1 p73-83 janabr 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript

=sci_arttextamppid=S0104-12902006000100008amplng=enampnrm=isogt Acesso em 13

Abr 2012

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Republica Federativa do

Brasil promulgada em 5 de outubro de 1988

_______ Lei ndeg 8080 de 19 de setembro de 1990 Dispotildee sobre as

condiccedilotildees para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede a organizaccedilatildeo e o

funcionamento dos serviccedilos correspondentes e daacute outras providecircncias

50

_______ AGEcircNCIA NACIONAL DE VIGILAcircNCIA SANITAacuteRIA Resoluccedilatildeo n

328 de 22 de julho de 1999 Dispotildee sobre requisitos exigidos para a dispensaccedilatildeo de

produtos de interesse agrave sauacutede em farmaacutecias e drogarias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil Disponiacutevel em lthttpwwwanvisagovbrlegisresol328_99

htmgt Acesso em 05 jul 2012

_______ CONSELHO NACIONAL DE SECRETAacuteRIOS DE SAUacuteDE

Assistecircncia Farmacecircutica no SUS Conselho Nacional de Secretaacuterios de Sauacutede ndash

Brasiacutelia CONASS 2011 186 p

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Portaria n 3916 de 30 de outubro de

1998 Aprova a Poliacutetica Nacional de Medicamentos Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Poliacutetica Federal de Assistecircncia

Farmacecircutica 1990 a 2002 Ministeacuterio da Sauacutede elaborado por Barjas Negri ndash

Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2002

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Resoluccedilatildeo n 338 de 06 de maio de

2004a Institui a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Farmacecircutica Diaacuterio Oficial da

Repuacuteblica Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Decreto n 5090 de 20 de maio de

2004b Institui o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica

Federativa do Brasil

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Assistecircncia farmacecircutica na atenccedilatildeo

baacutesica instruccedilotildees teacutecnicas para sua organizaccedilatildeo Ministeacuterio da Sauacutede

Secretaria de Ciecircncia Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos Departamento de

Assistecircncia Farmacecircutica e Insumos Estrateacutegicos 2 ed ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da

Sauacutede 2006

_______ MINISTERIO DA SAUacuteDE Portaria n 4217 de 28 de dezembro de

2010 Aprova as normas de financiamento e execuccedilatildeo do Componente Baacutesico da

Assistecircncia Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil

51

_______ MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE Portaria n 184 de 03 de fevereiro de

2011 Dispotildee sobre o Programa Farmaacutecia Popular do Brasil Diaacuterio Oficial da

Repuacuteblica Federativa do Brasil

CANABARRO I M HAHN S Panorama da assistecircncia farmacecircutica na

sauacutede da famiacutelia em municiacutepio do interior do estado do Rio Grande do

Sul Epidemiol Serv Sauacutede Brasiacutelia v 18 n 4 2009 Disponiacutevel em

lthttpscieloiecpagovbrscielophpscript=sci_arttextamppid=S167949742009000400

004amplng=esampnrm=isogt Acesso em 12 abr 2012

CARVALHO F D Avaliaccedilatildeo econocircmica do impacto da atividade de

atenccedilatildeo farmacecircutica na assistecircncia agrave sauacutede aspectos metodoloacutegicos 2007

Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede na Comunidade) Faculdade de Medicina de

Ribeiratildeo Preto Universidade de Satildeo Paulo Ribeiratildeo Preto 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis1717139tde-06032008-160915gt

Acesso em 12 abr 2012

CONSELHO FEDERAL DE FARMAacuteCIA (CFF) A assistecircncia farmacecircutica

no SUS Organizaccedilatildeo Comissatildeo de Sauacutede Puacuteblica do Conselho Federal de

Farmaacutecia Comissatildeo de Assistecircncia Farmacecircutica do Serviccedilo Puacuteblico do CRF-PR

Brasiacutelia Conselho Federal de Farmaacutecia 2009

CORREIA A R F MOTA D M ARRAIS P S D MONTEIRO M P

COELHO H L L Definiccedilatildeo de Indicadores para Avaliaccedilatildeo da Assistecircncia

Farmacecircutica na Rede Puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute (Brasil) baseada em Meacutetodos de

Consenso Latin American Journal of Pharmacy v 28 n 3 p 366-374 2009

Disponiacutevel em lthttpwwwlatamjpharmorgtrabajos283LAJOP28317I859H494TN

pdfgt Acesso em 12 Abr 2012

FREITAS J M S M NOBRE A C L Avaliaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica

do municiacutepio de Mombaccedila-CE R Bras Farm Hosp Serv Sauacutede Satildeo Paulo v 2

n 1 p 15-20 janabr 2011

52

KOPITTKE L CAMILLO E Assistecircncia Farmacecircutica em um Serviccedilo de

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede Tempus - Actas de Sauacutede Coletiva v 4 n 3 2010

Disponiacutevel em lthttptempusactasunbbrindexphptempusarticleview878841gt

Acesso em 12 abr 2012

KORNIS G E M BRAGA M H ZAIRE C E F Os marcos legais das

poliacuteticas de medicamentos no Brasil contemporacircneo (1990-2006) Rev APS v 11

n 1 p 85-99 janmar 2008

MARIN N (org) Assistecircncia farmacecircutica para gerentes municipais

Organizado por Nelly Marin et al Rio de Janeiro OPASOMS 2003

MARTINS L P PATRIgraveCIO Z M GALATO D O Ciclo de Assistecircncia

Farmacecircutica no Sistema Uacutenico de Sauacutede estudo qualitativo em um municiacutepio do

Estado de Santa Catarina Rev Bras Farm v 89 n 3 2008

MOURA A C Anaacutelise da organizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo da Assistecircncia

Farmacecircutica nos municiacutepios do Estado do Amazonas Tempus - Actas de Sauacutede

Coletiva v 4 v 3 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwtempusunbbrindexphp

tempusarticleview877840gt Acesso em 12 abr 2012

NICOLINE C B VIEIRA R C P A Assistecircncia farmacecircutica no Sistema

Uacutenico de Sauacutede (SUS) percepccedilotildees de graduandos em Farmaacutecia Interface v15 n

39 p 1127-1144 2011

OLIVEIRA L C F ASSIS M M A BARBONI A R Avaliaccedilatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em um municiacutepio da Bahia Brasil Rev baiana

sauacutede puacuteblica n 34 v 4 outdez 2010

ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DA SAUacuteDE ndash OPAS Avaliaccedilatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica no Brasil Organizaccedilatildeo Pan-Americana da Sauacutede

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede

2005

PANSTEIN R WEBER C A T Avaliaccedilatildeo de Satisfaccedilatildeo da Gestatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em Jaraguaacute do Sul no Ano de 2007 Rev Sauacutede

Puacutebl Santa Cat Florianoacutepolis v 3 n 2 juldez 2010

53

RIECK E B Anaacutelise da gestatildeo estadual de assistecircncia farmacecircutica a

partir do pensamento complexo 2008 Dissertaccedilatildeo - Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em

Ciecircncias Farmacecircuticas ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre

2008

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49

REFEREcircNCIAS

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sauacutede puacuteblica n 34 v 4 outdez 2010

ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DA SAUacuteDE ndash OPAS Avaliaccedilatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica no Brasil Organizaccedilatildeo Pan-Americana da Sauacutede

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede

2005

PANSTEIN R WEBER C A T Avaliaccedilatildeo de Satisfaccedilatildeo da Gestatildeo da

Assistecircncia Farmacecircutica Baacutesica em Jaraguaacute do Sul no Ano de 2007 Rev Sauacutede

Puacutebl Santa Cat Florianoacutepolis v 3 n 2 juldez 2010

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Ciecircncias Farmacecircuticas ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre

2008

SILVA S H A implementaccedilatildeo da assistecircncia farmacecircutica baacutesica no

niacutevel municipal do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva de atores

relevantes 2011 Dissertaccedilatildeo ndash Mestrado em Sauacutede Puacuteblica - Escola Nacional de

Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz ndash FIOCRUZ Rio de Janeiro

2011

SILVA JUNIOR D B Assistecircncia farmacecircutica em um municiacutepio do

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em Medicamentos e Cosmeacuteticos - Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas de Ribeiratildeo

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Medicina Social - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008

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