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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO CÉLIO ALBERTO COLLE ANÁLISE DAS POLÍTICAS AGRÍCOLAS E A RENTABILIDADE DA CULTURA DA SOJA NO RS São Leopoldo 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO

CÉLIO ALBERTO COLLE

ANÁLISE DAS POLÍTICAS AGRÍCOLAS E A RENTABILIDADE DA CULTURA

DA SOJA NO RS

São Leopoldo

2010

Célio Alberto Colle

ANÁLISE DAS POLÍTICAS AGRÍCOLAS E A RENTABILIDADE DA CULTURA

DA SOJA NO RS

Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Gestão do Agronegócio, pelo MBA em Gestão do Agronegócio da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

Orientador: Prof. Tiago Wickstrom Alves

São Leopoldo

2010

São Leopoldo, 25 de outubro de 2010.

Considerando que o Trabalho de Conclusão de Curso do aluno Célio Alberto Colle encontra-se em condições de ser avaliado, recomendo sua apresentação escrita para avaliação da Banca Examinadora, a ser constituída pela coordenação do MBA em Gestão do Agronegócio.

________________________________________

Nome do orientador Professor Dr. Tiago Wickstrom Alves

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Emater/RS-Ascar pela oportunidade de realizar esse curso - a capacitação

constante dos técnicos possibilita uma maior reflexão sobre os problemas e melhora a

percepção na tomada de decisão para resolvê-los. A capacitação é uma das formas de

valorização do capital humano de uma empresa.

Ao orientador professor Tiago pelas idéias e reflexões.

E um agradecimento muito especial aos COLEGAS de curso pelo convívio e troca de

experiências. Além do fortalecimento e consolidação de grandes amizades.

RESUMO

Esse trabalho é composto por dois artigos técnicos. Um visa apresentar a evolução das principais políticas agrícolas não Brasil e o segundo analisa a rentabilidade econômica da cultura da soja no Rio Grande do Sul. Artigo 1: A política agrícola brasileira começou a ser delineada a partir da década de 1950. A partir de 1965, com a formalização do Sistema Nacional de Crédito Rural, a agricultura brasileira passa a contar com fontes definidas de recursos. A partir desse momento, a área agrícola e a produção se expandem. Na década de 1980, com a crise fiscal brasileira, o volume de crédito agrícola estatal é reduzido e a expansão da área é paralisada. Observa-se nesse período um aumento na produtividade agrícola reduzindo a relação entre os gastos em custeio por tonelada produzida. Esse aumento no rendimento é reflexo da base tecnológica constituída anteriormente e pela eficiência produtiva. Até o início da década de 1990, o maior volume de crédito era destinado para o custeio agrícola. Após esse período amplia-se o volume de recursos destinados para apoiar instrumentos de estímulo à comercialização dos produtos agrícolas. Apesar disso, a agricultura brasileira ainda carece de instrumentos de garantia para eventos climáticos. Artigo 2: O Rio Grande do Sul foi um dos Estados considerados precursores da modernização da agricultura brasileira e a cultura da soja possui uma trajetória que representa esse processo. Em 2010, no RS, essa cultura, foi responsável por 41% da produção e ocupou 55% da área dos principais cereais. Utiliza-se os custos de produção da Fecoagro e os preços recebidos pelos produtores com base na Emater/RS-Ascar e um grupo de indicadores de rentabilidade para analisar as condições financeiras da cultura da soja. A análise econômica da soja para o período entre 1990 e 2010 indica que apenas nos anos de 1991 e 2005, a atividade apresentou margem bruta negativa. Esse resultado é reflexo da baixa produtividade decorrente de problemas climáticos. A partir da safra 2001, percebem-se períodos em que a atividade apresenta margem líquida positiva, com exceção de 2005 e 2006. Esses resultados mostram a instabilidade da agricultura frente a fatores endógenos, de decisão exclusiva do produtor, diga-se a utilização e a escolha da tecnologia, e fatores exógenos relacionados às políticas para o setor e às condições meteorológicas. Assim, as decisões dos produtores devem estar pautadas no conhecimento técnico e em uma visão planejada no longo prazo em vista dos resultados positivos e negativos apurados, para a cultura da soja, na série estudada que correspondeu a vinte e um anos. Palavras-chave: Política Agrícola. Crédito Rural. Cultura da Soja. Rentabilidade.

Modernização da Agricultura.

LISTA DE FIGURAS

ARTIGO 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS AGRÍCOLAS E IMPACTOS NA PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CEREAIS.

FIGURA 1 - Recursos destinados ao crédito rural e produção total no Brasil - entre 1977 e 2009 ................................................................................................................ 30

FIGURA 2 - Evolução da produção e relação entre o volume de crédito rural e produção no Brasil - entre 1977 e 2009 ................................................................................ 31

FIGURA 3 - Produção total e relação entre recursos destinados ao crédito rural e produção total no Brasil - entre 1977 e 2009 ................................................................... 32

ARTIGO 2 - CONSIDERAÇÕES SOBRE TECNOLOGIA, CUSTOS E RESULTADOS

ECONÔMICOS DA CULTURA DA SOJA NO RIO GRANDE DO SUL, ENTRE 1990 E 2010

FIGURA 1 - Distribuição da área, produção e rendimento da soja – Regiões Administrativas da Emater/RS-Ascar, safra 2010 ..................................................................... 43

FIGURA 2 - Produção e Área Colhida de Soja no RS, entre 1990 e 2010 ............................ 53

FIGURA 3 - Receita Bruta e Líquida da Soja no RS, entre 1990 e 2010 .............................. 56

FIGURA 4 - Relação entre rendimento médio de soja e ponto de equilíbrio (em sc/ha) ................... 57

LISTA DE TABELAS

ARTIGO 2 - CONSIDERAÇÕES SOBRE TECNOLOGIA, CUSTOS E RESULTADOS

ECONÔMICOS DA CULTURA DA SOJA NO RIO GRANDE DO SUL, ENTRE 1990 E 2010

TABELA 1 - Área, Produção e Rendimento Médio de Soja no Rio Grande do Sul, entre 1990 e 2010 .................................................................................................... 41

TABELA 2 - Variação no rendimento médio, nas regiões administrativas da Emater/RS-Ascar, entre 1990 e 2010 ................................................................................. 43

TABELA 3 - Custo de Produção da Soja no Rio Grande do Sul, entre 2003 e 2010 ............. 53

TABELA 4 - Indicadores de Rentabilidade da Cultura da Soja, por hectare, no Rio Grande do Sul, entre 2003 e 2010 (em R$) .................................................................. 54

TABELA 5 - Receita líquida por hectare, safra 2010 (em R$) .............................................. 57

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABCAR – Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural

ACAR – Associação de Crédito e Assistência Rural

AGF – Aquisição do Governo Federal

ASCAR – Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CIBRAZEM – Companhia Brasileira de Armazenamento

CFP – Companhia de Financiamento da Produção

CNC – Conselho Nacional do Café

COBAL – Companhia Brasileira de Alimentos

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento

CPR – Cédula do Produtor Rural

CREAI – Carteira de Crédito Agrícola e Industrial

DNC – Departamento Nacional de Café

EGF – Empréstimo do Governo Federal

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMBRATER – Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural

FEM – Fundo Extra Mercado

FUNCAFÉ – Fundo de Defesa da Economia Cafeeira

IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool

IBC – Instituto Brasileiro do Café

OMC – Organização Mundial do Comércio

PEAG – Plano de Ação Econômica do Governo

PEP – Contratos de Opção, Prêmio de Escoamento de Produto

PESA – Programa Especial de Saneamento de Ativos

PGPM – Política de Garantia de Preços Mínimos

PIB – Produto Interno Bruto

PLE – Prêmio de Liquidação de Estoques

PROAGRO – Programa de Garantia da Atividade Agropecuária

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PROP – Prêmio de Risco de Opção Privada

PTSR – Plano Trienal do Seguro Rural

8

RECOOP – Revitalização das Cooperativas de Produção agropecuária

SCPR – Serviço de Controle e Recebimento de Produtos Agrícolas e Matérias-Primas

SNCR – Sistema Nacional de Crédito Rural

9

SUMÁRIO

ARTIGO 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS AGRÍCOLAS E IMPACTOS NA PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CEREAIS. .................. 11

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12

2 EVOLUÇÃO DA POLÍTICA AGRÍCOLA BRASILEIRA .......................................... 13

3 INSTRUMENTOS DE POLÍTICA AGRÍCOLA PARA A AGRICULTURA BRASILEIRA .................................................................................................................. 19

3.1 POLÍTICAS DE APOIO À PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA ....................................... 19 3.2 INSTRUMENTOS DE APOIO À COMERCIALIZAÇÃO ............................................ 22 3.3 SEGURO RURAL ......................................................................................................... 26

4 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO E POLÍTICAS AGRÍCOLAS NA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA .......................................................................................................... 30

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 33

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 35

ANEXO - EVOLUÇÃO DOS RECURSOS DESTINADOS AO CRÉDITO RURAL E RELAÇÃO ENTRE RECURSOS E PRODUÇÃO, ENTRE 1974 E 2010 ..... 37

ARTIGO 2 - CONSIDERAÇÕES SOBRE TECNOLOGIA, CUSTOS E RESULTADOS ECONÔMICOS DA CULTURA DA SOJA NO RIO GRANDE DO SUL, ENTRE 1990 E 2010 .................................................................................... 38

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 39

2 EVOLUÇÃO RECENTE DA LAVOURA DE SOJA NO RS ....................................... 41

3 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 44 3.1 ANÁLISES DE CUSTOS .............................................................................................. 44 3.2 INOVAÇÃO TECNOLOGICA NA AGRICULTURA ................................................... 45 3.3 FUNÇÃO DE PRODUÇÃO .......................................................................................... 46

4 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................ 48 4.1 FONTES DE DADOS .................................................................................................... 48 4.2 INDICADORES DE RENTABILIDADE ...................................................................... 50

10

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................................... 52

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 58

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 60

ANEXOS - CUSTOS E INDICADORES DE RENTABILIDADE DA SOJA NO RS, ENTRE 1990 E 2010 ....................................................................................... 64

11

ARTIGO 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS AGRÍCOLAS E

IMPACTOS NA PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CEREAIS.

Resumo: A política agrícola brasileira começou a ser delineada a partir da década de 1950. A partir de 1965, com a formalização do Sistema Nacional de Crédito Rural, a agricultura brasileira passa a contar com fontes definidas de recursos. A partir desse momento, a área agrícola e a produção se expandem. Na década de 1980, com a crise fiscal brasileira, o volume de crédito agrícola estatal é reduzido e a expansão da área é paralisada. Observa-se nesse período um aumento na produtividade agrícola reduzindo a relação entre os gastos em custeio por tonelada produzida. Esse aumento no rendimento é reflexo da base tecnológica constituída anteriormente e pela eficiência produtiva. Até o início da década de 1990, o maior volume de crédito era destinado para o custeio agrícola. Após esse período amplia-se o volume de recursos destinados para apoiar instrumentos de estímulo à comercialização dos produtos agrícolas. Apesar disso, a agricultura brasileira ainda carece de instrumentos de garantia para eventos climáticos.

Palavras-chave: Política Agrícola. Crédito Rural. Comercialização Agrícola.

Abstract: The Brazilian agricultural politicy started to be outlined at the decade of 1950. From 1965 on, the formalization of the Sistema Nacional de Crédito Rural (National System of Agricultural Credit) had determined that Brazilian agriculture should began to be provided with stablished sources of funds. From this moment agricultural area and production were expanded. In the 1980s, fiscal crisis cause volume reduction of state agricultural credit and so the expansion of production area was paralyzed. In the meantime it was noticed a significant increase in agricultural productivity by reducing the ratio of spending on cost per ton produced in this period. This profit increase was the consequence of technological base and production efficiency previously established. Up to the early 1990s, the larger volume of credit was assigned to agricultural funding. After this period the volume of resources for supportting instruments to stimulate the commercialization of agricultural products were expanded. Nevertheless, in the Brazilian agriculture context still is lacking assurance tools to cover weather changing events.

Keywords: Agricultural Policy. Rural Credit. Agricultural Marketing.

12

1 INTRODUÇÃO

A evolução da tecnologia teve profundas repercussões na orientação da política

agrícola de todos os países. Sendo que o início do processo de modernização da agricultura

ocorreu a partir dos anos 30 nos países desenvolvidos e iniciou na década de 50 no Brasil

(ALVES, 1993).

Apesar de ter iniciado mais tarde o processo de modernização, o Brasil vem se

destacando como um dos principais produtores e exportadores mundiais de produtos

agrícolas. A agricultura teve um papel importante no desenvolvimento econômico brasileiro.

A participação do setor primário na composição do Produto Interno Bruto (PIB) vem

decrescendo. Na década de 1950, a produção primária representava, em média, 20,0% do PIB,

na década de 1970, a participação se reduz para 12,0% e, na década de 1990, em média tem-se

8,0% (IBGE, 2010). Apesar da redução da participação do setor primário na composição do

PIB a produção agrícola brasileira cresceu mais de 159% entre 1970 e 2006. Durante o

período entre 1965, com a criação do SNCR, até hoje, o Brasil passou por vários planos

econômicos e por consequência as políticas agrícolas sofreram ajustes refletindo na produção.

As políticas macroeconômicas impactaram na oferta de crédito e estímulo à produção

agropecuária. A década de 1970 e 1980 é marcada por uma expansão no volume de crédito e

um crescimento horizontal da área agrícola. No entanto a década de 1990 é marcada pela crise

fiscal do Estado Brasileiro e pela redução na oferta de crédito.

Este artigo visa a uma apresentação da evolução da política agrícola brasileira a partir

da década de 1930, contemplando a produção, produtividade assim como os principais

instrumentos de políticas agrícolas utilizados durante esse período. Na primeira seção, faz-se

uma revisão da evolução histórica das políticas agrícolas. Na segunda parte, descrevem-se os

principais instrumentos utilizados para estimular a produção brasileira e, na terceira parte, é

realizada uma análise do avanço da produção associada ao volume de crédito disponibilizado

para os produtores brasileiros. Além disso, são tecidas algumas considerações sobre os

impactos das políticas bem como suas limitações.

13

2 EVOLUÇÃO DA POLÍTICA AGRÍCOLA BRASILEIRA

A economia brasileira, até a década de 30, era fortemente influenciada pelos setores

agrários, mais especificamente por aqueles voltados para as exportações. Esses tiveram

amparo estatal, mesmo que esporádico e limitado. Já agricultura voltada para o mercado

interno não possuía nenhum amparo oficial e se beneficiava apenas quando havia crises em

relação ao setor externo1.

Com a Depressão de 1929, e o consequente enfraquecimento dos exportadores, o qual

refletiu também nos segmentos rurais (diga-se cafeicultores), aumentou a pressão sobre o

governo dos demais setores da economia, especificamente daqueles que exigiam uma

expansão do setor urbano-industrial.

Bacha (2004) destaca que o período de 1930 a 1945 foi marcado por uma transição na

agropecuária centrada na cafeicultura para uma estrutura mais diversificada e por um novo

processo de industrialização da economia brasileira.

Coelho (2001) ressalta que a evolução das políticas agrícolas no Brasil pode ser

dividida em quatro fases distintas. A primeira fase denominada de “agricultura primitiva”, a

segunda de “modernização da agricultura”, a terceira, “fase de transição da agricultura” e a

quarta, de “agricultura sustentável”. A seguir realiza-se uma síntese dos principais aspectos,

utilizando-se essas quatro fases com base em Coelho (2001) e em outros autores quando

referidos explicitamente.

A Fase da Agricultura Primitiva (1930-1965)

A fase da agricultura primitiva inicia-se com a criação do Conselho Nacional do Café

(CNC), em 1931, e posteriormente com a criação do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA),

em 1933, da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial (CREAI). Esta pertencia ao Banco do

Brasil pela Lei nº 454 de 09 de julho de 1937 e da Companhia de Financiamento da Produção

(CFP) em 1943.

1 Os cafeicultores foram os mais beneficiados nesse período até a grande depressão. A renda dos produtores de café era

mantida mediante sucessivas desvalorizações cambiais. A desvalorização cambial agradava as oligarquias rurais, mas desagradava a população urbana que aos poucos ia se constituindo e tinha que pagar preços mais elevados pelos produtos importados (FURTADO, 1977).

14

O CNC e o IAA foram criados visando à manutenção de produtos específicos, tais

como o café e o açúcar e alcool. A CNC2 era responsável pela produção, vendas e estoques,

visando à manutenção dos preços do café. O IAA, criado em 1º de junho de 1933, foi o órgão

formulador e executor da política açucareira brasileira. Dentre as principais atividades desse

órgão estava a necessidade de equilibrar a oferta e a demanda de açúcar e o estímulo à

produção de álcool combustível3.

O governo, sob a influência das medidas de apoio à agricultura brasileira, adotou duas

resoluções que constituíram a primeira tentativa de formalizar e institucionalizar uma política

agrícola para o setor de grãos. Essas medidas foram a criação do CREAI do Banco do Brasil e

a CFP para tratar das questões relacionadas com o financiamento e a garantia de preços na

comercialização, respectivamente4.

O CREAI determinava assistência financeira na agricultura e pecuária (aquisição de

sementes, aquisição de gado e custeio de entressafra) e na indústria (aquisição de matéria-

prima, custeio de entressafra e reforma ou aperfeiçoamento de máquinas). Conforme artigo 4º

da Lei nº 454/37, “os recursos necessários ao financiamento da agricultura, criação e outras

indústrias serão obtidos com o produto de bônus que o Banco do Brasil fica autorizado a

emitir até a importância máxima do montante das operações de financiamento em vigor”.

Segundo Massuquetti (1998), o número de contratos destinados ao setor agrícola até o

final da década de 1930 era muito pequeno se comparado com o mesmo período da década

seguinte. Esse processo mostrou que, da demanda por empréstimos junto ao Banco do Brasil,

a CREAI, em 1938, participou com 5,1% e em 1945, esse percentual se eleva para 62,2%.

Em 1952, a CREAI passou por um processo de transformação com a ampliação das

ações contemplando, investimentos para armazenagem e estabeleceu linhas especiais para

cooperativas, construção de escolas em propriedades, entre outras atividades. Além da

ampliação das ações, foram criadas as seguintes fontes de recursos: o encaixe do Banco do

Brasil; os recursos obtidos do redesconto dos contratos de financiamento, de letras

hipotecárias e bônus emitidos pelo Banco do Brasil; depósitos previstos em lei; garantia de

2 O Conselho Nacional do Café (CNC), foi extinto em 1933 e substituído pelo Departamento Nacional de Café (DNC),

autarquia federal subordinada ao Ministério da Fazenda, que controlou o setor até 1946. Em 1952, foi criado o Instituto Brasileiro do Café (IBC), formado principalmente por cafeicultores, que definiu as diretrizes da política cafeeira até 1989.

3 A criação do Instituto do Açúcar e do Álcool - IAA, em 1933, organizou as bases para o aumento da produção alcooleira nacional por meio de financiamentos de destilarias anexas às usinas de açúcar. Em 23 de setembro de 1938, o decreto-lei n° 737, estendeu a mistura de 5% de álcool à gasolina produzida no país, com a implantação da primeira refinaria nacional de petróleo.

4 Com a instituição do Estado Novo pelo governo Getúlio Vargas, em 1937, ocorre uma mudança na condução da política econômica. Dentre as mudanças ocorre uma restrição às importações e estímulo às exportações.

15

execução de contratos firmados; recursos dos institutos de previdência; e, tributos e

contribuições destinadas ao financiamento rural (MASSUQUETTI, 1998).

A CFP foi criada pelo Decreto-Lei 5.212, de 21 de março de 1943, à imagem e

semelhança da Commodity Credit Corporation5. A CFP era vinculada ao Banco do Brasil e

tinha como objetivo definir e dirigir a política de preços mínimos para a agricultura. O

programa visava à estocagem, classificação e comercialização dos produtos que deveriam ser

recebidos pelo governo, através da criação do Serviço de Controle e Recebimento de Produtos

Agrícolas e Matérias-Primas (SCPR).

Visando atender a essa normatização o governo federal, através do Decreto Lei 7.774,

de 24/07/45, fixa os preços mínimos do arroz, feijão, milho, amendoim, soja e sementes de

girassol, para a safra 1945/46. Apesar da fixação dos preços mínimos, essa política esbarrou

na deficiência de armazenagem dos produtos. Em 1951, através do Decreto Lei 1.506 de

19/12/51, a CFP passou a estabelecer preços e lançou a base do empréstimo de

comercialização, esse precursor do Empréstimo do Governo Federal (EGF) para produtores e

cooperativas.

Apesar do surgimento desses instrumentos norteadores para o setor agropecuário

brasileiro, Coelho (2001) destaca que, na década de 1950, o governo continuava dando um

tratamento secundário para a agricultura, apesar do processo de urbanização resultado da

política de industrialização definida naquela época. Esse descaso conduziu a crise de

abastecimento de 1962.

Em 1963 o governo João Goulart lança o Plano Trienal de Desenvolvimento com

indicações de reformas de dois tipos: as voltadas para racionalizar a ação do governo

(administrativa e bancária) e aquelas que visavam eliminar os entraves institucionais à

utilização ótima dos fatores de produção, especialmente as reformas fiscal e agrária. No que

se refere aos aspectos estruturais, a justificativa vinha da inflação elevada (1961=33,2%,

1962=49,4%, 1963=72,8% e 1964=91,8%), pois o governo acreditava que a inflação era

consequência da rigidez na oferta de produtos agrícolas devido a problemas da estrutura

fundiária. Assim, o governo deveria estabelecer a realização de uma reforma agrária no curto

prazo e a criação de uma estrutura de apoio integrado de abastecimento sob o controle de

Estado.

5 Programa criado pelo governo americano no pós crise de 1929 que atuava na compra e venda de produtos. Esse programa

determinava os preços de empréstimo, que funcionavam como preços mínimos. O financiamento desse programa era através de recursos do tesouro.

16

Nesta perspectiva, são criadas a Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL) e a

Companhia Brasileira de Armazenamento (CIBRAZEM). No período entre 1962 e 1965, a

política de preços mínimos é bastante utilizada principalmente na sustentação dos preços dos

produtos básicos. Nesse período, a PGPM tornou-se o principal instrumento de política

agrícola.

A Fase de Modernização da Agricultura (1965-1985)

A segunda fase, para o setor agropecuário, se inicia em 1965 com a reformulação da

Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) e a criação do Sistema Nacional de Crédito

Rural (SNCR) através da Lei nº 4.829, de 05/11/656.

O volume de crédito disponibilizado pelo SNCR, em 1966 foi US$ 1,04 milhão e, em

1979, o maior volume que foi de US$ 20,4 bilhões. Os vinte anos entre 1965 e 1985, foram

marcados pela relativa facilidade de expansão creditícia e condições de repasse aos

beneficiários. Nota-se a presença significativa do Tesouro Nacional (em média 80%) como

fonte originária dos recursos e a atuação do Banco do Brasil como agente intermediário.

Juntamente com a elevação do volume de crédito, aumentou o volume de subsídios pela

queda das taxas reais de juros. Segundo Coelho (2001), durante o período entre 1970 a 1990,

as taxas reais de juros foram negativas o que permitiu, a transferência de cerca de US$ 31,5

bilhões, a preços de 1997, para a agricultura.

Além dos instrumentos do SNCR, foram criadas algumas instituições, tais como, a

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), através da Lei 5.851 em

07/12/1972, para desenvolver a pesquisa e a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e

Extensão Rural (EMBRATER), através da Lei 6.126 de 06/11/1974 para coordenar os

sistemas estaduais de EMATER que já vinham atuando na extensão rural nos estados7.

6 O governo Castelo Branco lançou o Plano de Ação Econômica do Governo (PEAG) que visava extirpar a inflação e

incentivar a industrializar o país. Foi aprovada uma série de medidas de combate a inflação (através de medidas de política fiscal e monetária), reformas institucionais que incluíam a reforma tributária e no sistema monetário-financeiro. Dentre as mudanças no sistema monetário, merece destaque, a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural em 1965. Essas medidas de combate à inflação se mostraram eficientes. Esse período foi marcado por um cenário externo favorável.

7 Em 1948 foi criada, em Minas Gerais, a Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR). Essa instituição instalou o crédito supervisionado, utilizando-se do Plano de administração da Propriedade elaborado por uma equipe de extensão composta por um técnico (agrônomo ou técnico agrícola) e por uma supervisora (normalista ou economista doméstica) que elaboravam o plano e executavam. No Rio Grande do Sul foi criada a Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (ASCAR), em 02/06/1955, com o objetivo de promover o desenvolvimento da agricultura e o bem-estar das populações do meio rural. Em 1956, foi criada a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR) com o objetivo de coordenar as associações de crédito, já presente em alguns Estados. Com a criação do SNCR, em 1965, os projetos de crédito tinham de ter orientação.

17

A Fase de Transição (1985- 1995)

Essa fase inicia-se com a decisão do Governo Federal de eliminar o subsídio ao crédito

por meio da utilização de indexadores. E a redução do volume de recursos estatais para o

crédito devido à crise fiscal vivida pelo Estado brasileiro.

Em 1986, houve uma reorganização do setor financeiro do governo e a Conta

Movimento8 do Banco do Brasil foi extinta. Com a extinção dessa fonte pública de captação,

o volume de recursos para o crédito rural se reduz.

Em 1987, foi introduzida a Poupança Rural como um novo mecanismo para captar

recursos no mercado. Nesse período percebe-se uma redução do volume de crédito, apesar de

um crescimento na produção. mas a produção de grãos cresceu. Coelho (2001), mostra que,

em 1986, foram aplicados US$ 14,2 bilhões para financiar uma safra de 64,8 milhões de

toneladas (US$ 219,7 por tonelada), enquanto que, em 1992, o volume de crédito foi de US$

7,3 bilhões para uma safra de 75,4 milhões de toneladas (US$ 97,7 por tonelada)9.

Com a redução do volume de crédito para custeio, ocorre um redirecionamento dos

escassos recursos para os instrumentos de apoio à comercialização, que sofre uma mudança

na operacionalização do Empréstimo do Governo Federal (EGF) e da Aquisição do Governo

Federal (AGF). Criação em 27 de maio de 1992, através da Lei 8.427, o Prêmio de

Liquidação de Estoques (PLE) que era uma espécie de subsídios para aqueles produtores que

gostariam de liquidar seus empréstimos ou evitar sucessivas prorrogações elevando os custos

de carregamento.

Em 1996, é extinto o EGF/COV com Opção de Venda (COV) desobrigando o

Governo a adquirir o produto no final do empréstimo. Em 1999, todos os estoques em EGF

foram transformados em AGF e colocados à venda. Com a entrada de novos instrumentos, o

PLE foi desativado.

Coelho (2001) destaca que esse período de transição, assim chamado, marca o início

da formulação geral dos instrumentos de política agrícola e os aspectos ambientais começam a

fazer parte da preocupação do governo e da sociedade.

8 A conta movimento foi criada em 1964 e conferia ao Banco do Brasil a autoridade monetária, ou seja, agente financeiro do

Tesouro, tendo como principais instrumentos a caixa de amortização e a carteira de redesconto. Por esse dispositivo, era possível a liberação de recursos sem a correspondente previsão no orçamento do governo, o que permitia que grandes volumes de recursos fossem direcionados ao crédito agropecuário de forma ilimitada. Em 1986, essa conta foi extinta e as novas operações de crédito passaram a depender de prévia alocação orçamentária dos recursos.

9 Para Coelho (2001) é um fenômeno difícil de entender, ou seja, aumento da produção com um volume menor de crédito. Mas aponta três hipóteses. A primeira de que o crédito é fungível, ou seja, quanto maior as facilidades mais os beneficiários tendem a utilizá-lo em outras atividades mais rentáveis e de menor risco. A segunda, seria a utilização de parte de recursos para fazer hedge. A terceira seria não pagar o empréstimo e usar o recurso na produção.

18

A Fase da Agricultura Sustentável

Esse período se inicia em 1995 com o início das políticas agrícolas voltadas para o

mercado e a continuação da redução da intervenção estatal. Novos instrumentos foram

criados, como o Prêmio de Escoamento de Produto (PEP)¸ através da Portaria n0 667 de 06 de

novembro de 1996, e, o Contrato de Opção de Venda, resolução nº 2.260 de 21/03/1996 e

regulamentado por meio da Portaria nº 1/97, de 28/02/1997. O PEP tinha como objetivo

substituir, em alguns casos, as AGF. Essas duas políticas implicavam em um subsídio pago

pelo governo sem a aquisição do produto. Isso representou uma redução dos estoques

públicos em mãos do governo e consequente redução do custo de carregamento dos

estoques10.

Em novembro de 1995, através da Lei 9.138, o governo autorizou a renegociação de

dívidas. Em fevereiro de 1998, através da Resolução 2.471, o Banco Central autorizou a

negociação de dívidas através do Programa Especial de Saneamento de Ativos (PESA)11. Em

complementação a Resolução 2.471, em 11 de novembro de 1999, através da Resolução

2.666, foi criado o Programa de Revitalização das Cooperativas de Produção agropecuária

(RECOOP).

Em 1997, foi criada a Cédula do Produtor Rural (CPR) e em 2000 tem início a CPR

financeira.

Na safra 1999/2000, teve início uma série de programas de investimentos que

envolvem a aquisição de máquinas, equipamentos, programas de fortalecimento a produtos

específicos e desenvolvimento regional.

Até meados da década de 1980, instrumentos de apoio ao crédito predominavam na

agricultura brasileira. Com a crise fiscal do Estado brasileiro, a partir dessa data, ocorre maior

atenção para as políticas de apoio a preços e renda com mais intervenção privada na

agricultura brasileira.

10 Bacha (2004) afirma que o Brasil presenciou várias mudanças institucionais que visavam à desregulamentação da

economia e a venda de empresas públicas no início da década de 1990. No processo de desregulamentação destaca: (a) o final de intervenção estatal na cadeia produtiva do trigo; (b) A extinção, em março de 1990, da Embrater, IAA, IBC e outras agências específicas de apoio à produção agropecuária; (c) venda de empresas estatais produtoras de fertilizantes.

11 Coelho (2001) afirma que com a implantação do Plano Collor que incluía a indexação dos juros do crédito rural e a retirada do subsídio ao transporte inicia-se um processo de endividamento do setor agropecuário. Para solucionar os problemas do crédito o governo dá início a uma série de medidas e entre elas a securitização das dívidas agrícolas.

19

3 INSTRUMENTOS DE POLÍTICA AGRÍCOLA PARA A AGRICULTURA

BRASILEIRA

Essa seção visa realizar uma análise dos principais instrumentos de apoio para a

agricultura brasileira com foco nesses três aspectos.

Para efeito de entendimento dividiram-se os instrumentos de apoio à agricultura

brasileira em três grupos. O primeiro trata dos estímulos à produção. Essas políticas

dominam o contexto da agricultura brasileira até a década de 1990. A segunda, com a crise do

Estado, a partir da década de 1990, esse reduz o aparato estatal de apoio à produção, e, inicia

um processo de políticas de apoio à comercialização com maior participação do setor

privado. E terceiro a necessidade de mecanismo que garanta as atividades mediante eventos

climáticos adversos. Destaca-se a necessidade de implementação de seguro para as

atividades agropecuárias.

3.1 POLÍTICAS DE APOIO À PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

A política de crédito rural é um mecanismo de concessão de crédito à agropecuária a

taxas de juros e condições de pagamentos diferentes das vigentes no mercado livre. Ele pode

ser concedido com recursos controlados e não controlados. Os controlados são aqueles

oriundos das exigibilidades bancárias, das operações oficiais de crédito sob a supervisão do

Ministério da Fazenda, os obrigatórios da poupança rural (equalizáveis)12, do Fundo de

Amparo ao Trabalhador (equalizáveis), do Fundo de Investimentos Extra mercado, quando

aplicados em condições subvencionadas pela União sob a forma de equalização de encargos

financeiros e outros recursos definidos pelo Conselho Monetário Nacional.

Os recursos não controlados (taxas livres) são oriundos das exigibilidades e livres da

poupança rural (não equalizáveis), programas e linhas específicas definidas pelas instituições

financeiras e recursos externos. Os recursos também podem ser oriundos dos Fundos e

Programas – os principais programas são executados pelo Banco Nacional de

12 O Tesouro Nacional paga aos agentes financeiros a diferença entre o custo da captação e aplicação dos recursos, inclusive

operacional, e os juros cobrados do produtor.

20

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundos Constitucionais do Centro-Oeste,

Nordeste e Norte e Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (FUNCAFÉ).

Os recursos do tesouro nacional totalizaram 63,98% em 1985, 19,7% em 1995 e

apenas 0,02% em 2000. Apesar dessa redução, o tesouro nacional continua sendo uma

instituição importante no desenho técnico do crédito rural com a aprovação da Lei nº 4.827 de

27 de maio de 1992, com essa lei, os recursos do tesouro nacional são destinados para a

equalização das taxas de juros. Segundo Bacha, Danelon e Bel Filho (2006), com a

equalização aumentou o estímulo para os bancos privados em direcionar recursos para o

crédito rural.

Bacha, Danelon e Bel Filho (2006), estudaram a evolução das taxas de juros real no

período entre 1985 e 2003, utilizando como deflatores o IGP-DI e o INPC. Em ambos os

casos, as taxas foram negativas entre 1985 e 1991, exceto em 1989. A partir de 1992, os juros

cobrados passaram a ser positivos, com exceção de 2002, para as taxas corrigidas pelo IGP-

DI. As taxas nominais médias utilizadas foram as contempladas no Anuário Estatístico do

Crédito Rural e resoluções do Conselho Monetário Nacional. Os autores também concluíram

que durante o período entre 1985 e 1991, a agropecuária recebeu R$ 14,4 bilhões em

subsídios (com a utilização do IGP-DI como deflator) e de R$ 13,56 bilhões (utilização do

INPC como deflator) através do SNCR. Entre o período de 1992 e 2003, quando as taxas reais

de juros foram positivas, os produtores rurais pagaram R$ 8,11 bilhões e R$ 12,69 bilhões em

juros, quando os valores foram deflacionados pelo IGP-DI E INPC, respectivamente. A

primeira fase com taxas de juros reais negativas, esses valores representaram 4,24% do PIB

da agropecuária e, no período posterior, o setor agropecuário pagou 1,52% do PIB na forma

de juros.

Almeida (1994) também analisou a composição das taxas de juros real do crédito rural

entre 1970 e 1993 a partir dos recursos do tesouro e das exigibilidades bancárias e constatou

que elas permaneceram negativas entre o período de 1970 e 1992. As taxas reais negativas

mais elevadas ocorreram em 1980, quando os subsídios nas taxas de juros foram na ordem de

36,76% para custeio, 34,38% para investimentos e 38,66% para comercialização.

Segundo Brasil (2006), algumas medidas foram marcos na história da evolução do

crédito rural:

a) o direcionamento de 10% dos depósitos à vista no sistema bancário para o crédito

rural¸ em 1967;

b) a extinção da Conta Movimento, em 1986;

21

c) a criação da poupança rural, em 1986, onde os bancos oficiais ficaram autorizados

a operar com essa fonte de recursos;

d) o BNDES passa a operar linhas de investimentos para o setor rural, em 1997;

e) a criação, em 1996, do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar (PRONAF);

f) o Programa de Securitização das dívidas dos agricultores, em 1996.

Com o tempo, as estratégias adotadas pelo Estado brasileiro no apoio às políticas

agrícolas sofreram os impactos das questões macroeconômicas, vivenciadas em cada período,

influenciando diretamente as fontes de recursos oriundas do poder público.

A queda do volume de recursos oriundos do tesouro nacional e a institucionalização da

poupança rural13 em 1987, que compensou a redução da participação do tesouro. Destacam-se

também a criação dos fundos constitucionais e a utilização dos recursos livres.

Em 1996, o FAT e o Fundo Extra Mercado (FEM) são utilizados como duas novas

fontes de recursos. Essas fontes possuem seus recursos aplicados sob a forma de equalização

de encargos financeiros. E naquele ano, o FAT foi responsável por 21,99% dos recursos

representando a maior fonte.

Em 1997, o BNDES entra como outra fonte de recursos via crédito rural,

principalmente com a finalidade direcionada para os investimentos. Naquele ano, a

participação do BNDES foi de 3,38% com tendência crescente chegando a 11,44%, ou seja, a

terceira maior fonte no ano de 2004.

Portanto, nesta seção, procurou-se apresentar a evolução das fontes de recursos

utilizadas pela agricultura brasileira. Entre os aspectos importantes pode-se citar a redução do

volume de recursos disponibilizados pelo tesouro nacional a partir de meados da década de

1980 e o surgimento de novas fontes a partir do início da década de 1990.

13 São recursos captados pelo Banco da Amazônia S.A., Banco do Brasil S.A., em conformidade com as normas aplicáveis

aos depósitos de poupança do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos. Desse montante, os principais destinos são: 20% são direcionados em encaixe obrigatório no Banco Central do Brasil; 40% no mínimo, em operações de crédito rural e de crédito para comercialização, industrialização de produtos de origem agropecuária.

22

3.2 INSTRUMENTOS DE APOIO À COMERCIALIZAÇÃO

O primeiro instrumento criado visando a uma Política Geral de Preços Mínimos

(PGPM) ocorreu através do Decreto-Lei nº 5.212 de 21/01/1943 com a criação da Comissão

de Financiamento da Produção (CFP).

Em 1946, através do Decreto-Lei nº 9.879, de 16/09/46, estabeleceram-se os primeiros

preços mínimos para financiamento ou aquisição dos cereais e gêneros de primeira

necessidade de produção nacional. No artigo 1º - fica o Banco do Brasil S.A. autorizado a

assegurar pela sua Carteira de Crédito Agrícola e Industrial, preços mínimos aos cereais e

outros gêneros de primeira necessidade de produção nacional da safra 1946-47, através das

seguintes modalidades: (a) financiamento até o limite de oitenta por cento (80%) do preço

FOB; e, (b) aquisições do produto que não ultrapassem o preço FOB. Os produtos amparados

nesse decreto foram: arroz, feijão, milho, amendoim, soja, girassol e trigo em grãos.

A partir da criação da CFP e da evolução do setor agropecuário do Brasil, novos

mecanismos de sustentação de preços e suporte à comercialização foram instituídos.

A política de preços mínimos é uma política de suporte aos preços e foi criada para

reduzir os riscos de variações de preços na agricultura, e consequentemente, como um

instrumento de garantia de renda para os produtores rurais14.

A PGPM passou um grande período sem muitas alterações, tendo como seus

instrumentos, mais importantes, o Empréstimo do Governo Federal (EGF) e as Aquisições do

Governo federal (AGF) até aproximadamente meados da década de 198515. Com a crise do

estado brasileiro na década de 1980, surgem novos instrumentos de apoio no âmbito público e

privado.

Esta seção tem como objetivo realizar uma apresentação dos atuais instrumentos de

manutenção de preços mínimos e apoio à comercialização. Serão descritos os principais

instrumentos públicos de política agrícola que visam ao estímulo e à manutenção do preço e

da renda. Nesse sentido, instrumentos como: Aquisição do Governo Federal (AGF), Contratos

14 A definição dos preços mínimos ocorre sempre antes do plantio valendo para a safra que se inicia e é essencial que ocorra

de forma antecipada para apoiar os produtores na tomada de decisão. Segundo Mapa, os preços mínimos são estabelecidos com base nos custos variáveis de produção – os desembolsos previstos dos produtores nas diferentes regiões do país. Também com análises de mercado, tais como, da oferta e demanda, paridades de exportação e importação, perspectivas das cotações, etc.

15 Coelho (2001) reconhece que o AGF teve grande importância na expansão da fronteira agrícola. Nessas regiões os produtores recebiam subsídios no transporte dos produtos para as regiões consumidoras, visto que a CFP transportava os produtos adquiridos. Enquanto que o EGF foi importante na formação e expansão da agroindústria.

23

de Opção, Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) e Prêmio de Risco de Opção Privada

(PROP) são analisados.

a) Aquisição do Governo Federal (AGF) e Empréstimo do Governo Federal

(EGF)

O AGF permite ao governo federal adquirir produto agrícola de produtor rural, suas

cooperativas e suas associações, ao valor do preço mínimo de garantia, quando o preço de

mercado fica abaixo do preço mínimo.

O EGF corresponde a um financiamento concedido a produtores, suas cooperativas e

agroindústrias, com base no preço mínimo de garantia, para permitir a estocagem do produto

e viabilizar melhor distribuição da oferta ao longo do ano.

Esses instrumentos seguem o princípio da sazonalidade e/ou estacionalidade dos

preços agrícolas, ou seja, durante os períodos de safra e elevada oferta os preços estão

relativamente baixos em relação ao período de entressafra. Por essas características, os EGFs

se encarregariam de eliminar o excedente durante o período de safra, fazendo o seu

carregamento até a entressafra, quando o nível de preços mais elevado pagaria o custo do

carregamento. Ao passo que os produtores estariam tendo seus preços garantidos, por outro

lado, os consumidores teriam a segurança de um abastecimento seguro e a preços razoáveis no

período de entressafra.

Em 10/07/1991, através da Portaria Interministerial nº 657, e substituída pela de nº

182, de 25/08/94, foi criado o Preço de Liberação de Estoques (PLE). Esse instrumento

público regulamentava a formação e a desmobilização de estoques públicos, estabelecia como

marcos referenciais o limite inferior (preço de garantia ao produtor) e o limite superior que

definia o PLE. O preço mínimo indicava o limite a partir do qual o governo entraria

comprando produtos, através do AGF ou EGF-COV e o preço máximo (PLE)16 que estaria

sinalizando a desmobilização dos estoques.

Desde 1995, o governo federal vem substituindo gradativamente esse instrumento pelo

PEP e os Contratos de Opção de Venda, que são menos onerosos e menos intervencionistas.

Apesar de esse instrumento ser muito importante para as aquisições do governo na

composição dos seus estoques, esse mecanismo vem sendo pouco utilizado nos últimos anos.

O governo vem demonstrando pouco interesse na aquisição para ampliar seus estoques, fato

16 O Preço de Liberação de Estoques era dado por uma média móvel dos preços reais de uma série mínima de 48 meses

consecutivos, acrescida de uma margem de 15%.

24

esse que se comprova com apenas 393.000 toneladas adquiridas em 2008 e de 767.500 t em

2009.

b) Prêmio para o Escoamento de Produto (PEP)

Em 1996, surge o Prêmio de Escoamento de Produto (PEP), que é uma subvenção

econômica (prêmio) concedida em leilão público para quem se interessar em adquirir o

produto na unidade da federação indicada pelo governo federal, diretamente do produtor e/ou

cooperativa, pelo preço mínimo fixado, promovendo o seu escoamento para uma região de

consumo previamente estabelecida.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), todos os

produtos da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) podem ser beneficiados pelo

PEP. A escolha do produto e do momento de implantar os leilões depende das condições de

comercialização de cada produto.

Segundo CONAB, em 2009, foram negociadas, através dessa modalidade, oito

milhões de toneladas de produtos. Os produtos mais beneficiados foram o milho com 4,99

milhões de toneladas e o trigo com 2,75 milhões de toneladas. A subvenção média para o

milho foi de R$68,8 por tonelada e de R$151,06 por tonelada para o trigo. Nesse ano, 46,87%

e 9,80% da produção brasileira de trigo e milho tiveram sua comercialização amparada pelo

Prêmio de Escoamento do Produto.

c) Contrato de Opção

Com o objetivo de não formar estoques, surgem os Contratos de Opção. Essa

modalidade possui Contratos de Opção de Venda consistentes em um seguro contra a queda

de preços pelo qual se paga um prêmio inicial fixado pela CONAB e o leilão de venda

definirá o valor do prêmio final.

Prado e Pereira (2002) destacam quatro vantagens do Contrato de Opção de Venda. A

primeira é que o carregamento do produto até o vencimento, que ocorre normalmente na

entressafra, será feito pelo produtor, evitando uma entrega imediata e sua administração pelo

governo. A segunda, uma elevação nos preços até o exercício do contrato é o que se espera e

será incorporado pelo produtor. Terceira que o Contrato de Opção por ser um seguro de preço,

possibilita uma maior liquidez para o financiamento da estocagem. E a quarta é que esse

instrumento é menos rígido do que o AGF.

25

O preço de exercício é aquele pelo qual o governo está disposto a adquirir o produto,

na data do vencimento do contrato. O preço deverá ser superior ao preço mínimo estabelecido

para cada região. A exemplo, o lançamento dos Contratos de Opção de Venda é realizado pela

CONAB através de bolsas credenciadas e os produtores e cooperativas adquirem esses

contratos mediante o pagamento de um prêmio. Assim, se na data do vencimento da opção, o

comprador decidir exercê-la, a CONAB deverá adquirir o produto17.

O governo poderá efetuar a Recompra ou Repasse dos Contratos de Opção de Venda,

que consiste no pagamento de uma subvenção econômica realizada em leilões públicos, com

o objetivo de indenizar a diferença entre os preços de exercício das opções e os preços de

mercado. O objetivo dessa operação é evitar que a CONAB tenha que ficar com o produto.

Segundo a CONAB, em 2009 foram vendidos 175.434 contratos de arroz em casca,

milho em grão e café. Desse volume 69% foram demandados pela cultura do milho. O valor

total do prêmio foi de R$ 52,19 milhões.

d) Prêmio de Risco de Opção Privadas (PROP)

É uma subvenção econômica (prêmio) concedida em leilão público ao segmento

consumidor (empresas) que se dispõe a adquirir determinado produto diretamente de

produtores, suas cooperativas e suas associações, pelo preço de exercício fixado e nas

unidades da federação estabelecidas pelo governo, utilizando-se para isso do lançamento, em

leilão privado, de contrato privado de opção de venda. A empresa compra a opção de adquirir

o produto numa data futura, mediante o pagamento de um prêmio. A CONAB define o valor

do prêmio e do preço de exercício.

O processo ocorre via Sistema Eletrônico de Comercialização da CONAB, onde todas

as bolsas estão conectadas simultaneamente. A CONAB divulga por meio das bolsas e

Internet, com antecedência de cinco dias úteis, o aviso específico com todas as condições da

operação (ex: quantidade, UF de entrega, preço e data de destino).

17 A aquisição pela Conab deverá ocorrer da seguinte forma: (a) O detentor da opção terá um prazo de cinco dias úteis, até a

data do vencimento da opção, para informar o corretor de seu interesse em exercê-lo; (b) O titular da opção terá um prazo de 15 dias, contados do vencimento da opção, para comprovar, junto a Conab, que fez o depósito do produto conforme especificação do contrato; e, (c) a CONAB terá até 30 dias, contados da data do vencimento da opção, para fazer o pagamento devido. Cada contrato de soja, milho, arroz, algodão e trigo equivalem a 27 toneladas.

26

Diante das condições, o governo estabelece o valor máximo do prêmio (que será

disputado em leilão), sendo que, o vencedor será aquele que cotar o menor preço. Além disso,

o valor do prêmio de risco será ajustado de acordo com as oscilações do mercado, tendo como

teto o valor do fechamento do leilão.

Segundo a CONAB, o instrumento apresenta as vantagens de facilitar as compras

antecipadas pelos segmentos demandantes do produto, reduz a pressão sobre o orçamento das

operações oficiais de crédito, aproxima produtor e consumidor na cadeia produtiva, amplia o

volume da produção amparada com seguro de preço, estimula a produção de grãos para

atender o consumo interno e as exportações e não exige armazém credenciado - quem define o

armazém para entrega é o arrematante do prêmio.

O PROP deverá ser lançado quando o preço de mercado estiver abaixo do preço

mínimo e o Governo tiver interesse de sinalizar preço futuro para o mercado e garantir renda

ao produtor.

Segundo a CONAB, em 2006 foram comercializadas 3.955,5 mil toneladas. Destes

238,9 mil toneladas eram de arroz com uma subvenção de R$ 27,1 milhões com 189,1 mil

toneladas no Rio Grande do Sul. Foram 2.238,0 mil t de milho com uma subvenção de R$

191,6 milhões e mais 5.467,9 mil t de soja com uma subvenção de R$ 400,9 milhões. Em

2007, o instrumento foi utilizado apenas para a comercialização de 1.611,2 mil t de soja. Em

2008, foram 634,3 mil toneladas de milho comercializadas e em 2009 esse instrumento não

foi utilizado.

Esse instrumento funciona de modo similar ao clássico Contrato de Opção de Venda

ao Governo, mecanismo relativamente conhecido pelo mercado. A diferença é que, nesse

instrumento, quem lança as opções é o setor privado e não o governo.

3.3 SEGURO RURAL

O seguro agrícola é um dos mais importantes instrumentos de política agrícola por

permitir ao produtor proteger-se contra perdas decorrentes de fenômenos climáticos. As

perdas ocasionam uma redução da renda, da geração de empregos, na adoção de tecnologia e,

consequentemente, aumenta a inadimplência dos produtores e eleva-se o preço do crédito

rural (SILVA, 2003).

27

Na atualidade, a ampliação do seguro rural deverá ser um dos grandes desafios para o

Governo e o setor privado para minimizar os riscos na produção e elevar o volume de

recursos para o setor produtivo rural.

Segundo Silva (2003), existem três experiências comuns de coberturas no Brasil. A

primeira experiência refere-se à a produtividade, ou seja, as séries históricas de rendimentos

(do produtor e municípios) definem a base da produção para a seguradora se ancorar. A

segunda, o seguro de custos, tem como objetivo permitir que o agricultor tenha recursos para

o replantio ou para se manter na atividade. A terceira experiência corresponde ao seguro de

crédito, que garante aos bancos o ressarcimento do dispêndio de crédito com os produtores

rurais. Essa experiência é menos ampla que a anterior porque não cobre a parcela de recursos

próprios utilizados pelos produtores.

Um exemplo de seguro de crédito é o Programa de Garantia da Atividade

Agropecuária (PROAGRO), criado em 11 de dezembro de 1973, através da Lei nº 5.936.

Segundo Silva (2003), nos primeiros treze anos de operacionalização do programa, apenas em

1985, esse apresentou resultado positivo. Nesse período, a receita do programa foi de US$

924 milhões, e o total de despesas US$ 2,681 bilhões, com um prejuízo de US$ 1,756 bilhão

para o tesouro nacional18.

O PROAGRO sofreu várias modificações. Em 1991, com a promulgação da Lei

Agrícola nº 8.171, modificam-se as regras deste programa, que passa a ser denominado de

PROAGRO NOVO. As principais mudanças foram a inclusão de atividades não financeiras e

a restrição dos valores segurados às operações de custeio, excluindo as relativas a

investimentos. Em 1997, esse instrumento passa por mais uma modificação com a inclusão do

zoneamento agrícola como instrumento para a redução do risco19.

A demanda por seguro é função inversa à do prêmio, ou seja, quanto mais elevado for

o prêmio menor será a demanda. Quanto maior forem os preços dos produtos, maior será a

demanda por seguro.

A quantidade ofertada é função direta do prêmio do seguro e inversa ao risco. Em

relação às seguradoras (ofertantes de seguro) essas estariam interessadas em oferecer produtos

(apólices) à medida que o prêmio (valor que os produtores estiverem interessados em pagar)

estiver elevado e o risco inerente ao produto estiver baixo.

18 O déficit do programa era suprido com recursos do tesouro nacional através da Conta Movimento. 19 O Zoneamento Agrícola teve início em 1995, com a implantação do Ministério da Agricultura e do Abastecimento do

Projeto de redução de Riscos Climáticos na Agricultura.

28

As dificuldades de viabilidade econômica da agricultura associadas a ciclos de

expansão e retração dos preços e fatores climáticos elevam o risco e por consequência uma

redução no ajustamento entre a oferta e demanda por seguro agrícola. Assim, na atual fase de

desenvolvimento da agricultura brasileira, o poder público deve ser o incentivador do

crescimento do seguro agrícola e a maneira mais direta é subsidiar o prêmio do seguro.

Neves e Miranda (2007) afirmam que para o desenvolvimento do seguro agrícola é

indispensável o apoio do Governo na subvenção ao prêmio e no resseguro. A transferência de

parte dos riscos assumidos pelas seguradoras através de resseguro, diretamente ao governo ou

a um ressegurador, é muito importante para o seguro agrícola, pois as seguradoras não têm

capital suficiente para arcar com os sinistros.

Assim em 2003, o governo aprovou a Lei n 10.823 em 19 de dezembro, que dispõe

sobre a subvenção econômica ao prêmio do seguro rural. O artigo primeiro dessa lei diz, fica

o Poder Executivo autorizado a conceder subvenção econômica em percentual ou valor do

prêmio do seguro rural, na forma estabelecida em ato específico. Essa lei, no seu Artigo 4º,

define a criação no âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Comitê

Gestor Interministerial do seguro Rural que será responsável pela execução do programa.

Em 2004, através do Decreto nº 5.121, de 29 de junho de 2004, o governo criou o

Plano Trienal do Seguro Rural (PTSR) e em 28 de dezembro de 2006, através do Decreto n.º

6.00220 foram aprovados os percentuais de subvenção e os limites financeiros para o triênio

2007 a 2009. O valor total para a subvenção foi de R$ 100 milhões, R$ 150 milhões e R$ 200

milhões para os anos de 2007, 2008 e 2009, respectivamente.

Segundo Coelho (2001), existem alguns fatores relevantes a serem observados em

relação ao seguro rural. O primeiro, conforme acordos da Organização Mundial do Comércio

(OMC), os países signatários assumiram o compromisso de eliminar programas de apoio à

agricultura que tem influência no preço e deslocam seu apoio ao seguro rural, tanto em

relação à produtividade, preços e renda. Outro aspecto apresentado pelo autor é a necessidade

da participação do Governo para reduzir o custo do seguro e evitar que os prêmios sejam

elevados ao ponto de inviabilizar esse instrumento.

20 Para 2009/10 os percentuais de subvenção por modalidade foram: Agrícola com quatro grupos de culturas. (a) Feijão,

milho segunda safra e trigo, com subvenção de 70%, (b) Ameixa, aveia, canola, caqui, centeio, cevada, maçã, figo, kiwi, linho, nectarina, pêra, pêssego, sorgo, triticale e uva, com subvenção de 60%, (c) Algodão, arroz, milho e soja, com subvenção de 50%, e (d) Abacate, abacaxi, abóbora, abobrinha, alface, alho, amendoim, atemóia, batata, berinjela, beterraba, cacau, café, cana-de-açúcar, cebola, cenoura, cherimóia, chuchu, couve-flor, ervilha, chicória, fava, girassol, goiaba, graviola, jiló, laranja, lichia, lima, e demais citrus, mamão, mamona, mandioca, manga, maracujá, melancia, melão, morango, pepino, pimentão, pinha, quiabo, repolho, sisal, tangerina, tomate, vagem e demais hortaliças e legumes, com subvenção de 40%. Pecuário, Florestal e Aquicola com uma subvenção de 30%.

29

Para Coelho (2001), os fatores que mais inibem a iniciativa privada para o seguro

agrícola são o elevado risco de perdas por eventos climáticos, a falta de dados estatísticos para

uma melhor aferição do risco e do prêmio e as dificuldades de fiscalização.

Uma alternativa apontada para expandir a oferta de produtos de seguro rural pelas

seguradoras deverá ser a implementação do projeto que institucionaliza a criação de um fundo

cujo objetivo é oferecer uma cobertura suplementar a ser utilizada pelas seguradoras e

resseguradoras no pagamento de parte dos sinistros decorrentes de eventos considerados

catastróficos21.

Segundo MAPA (2010), em 2008 a área segurada foi de 10,82 milhões de hectares

com R$ 14,14 bilhões de capital segurado. Dessa área 55,7% foram através do Proagro e

Proagro Mais com 49,0% do capital segurado, enquanto que o seguro privado segurou 44,3%

dessa área com 51,0% do capital segurado.

21 Para fazer frente a essa demanda foi sancionada em 26/08/10 a Lei 374/2008 que cria o Fundo de Catástrofe. O fundo terá

como cotistas o governo federal, as seguradoras, resseguradoras, agroindústrias e cooperativas e pelo menos R$ 4 bilhões. Esse fundo deverá substituir o Fundo de Estabilidade do Seguro Rural.

30

4 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO E POLÍTICAS AGRÍCOLAS NA PRODUÇÃO

AGROPECUÁRIA

Com a institucionalização do SNCR, a partir da Lei de 1965, o setor rural passou a ter

um marco referencial. Além da definição de fontes de recursos específicas para o setor

primário esse instrumental permitiu um avanço na produção agrícola.

Em 1977, segundo a CONAB, a produção agrícola brasileira foi de 46.943,1 mil

toneladas ocupando uma área de 37.318,9 mil ha com uma produtividade de 1.257,9 kg/ha.

Naquele ano, o Rio Grande do Sul produziu 24,6% da safra brasileira e ocupou 20,4% da

área. No entanto, na safra 2006/07, o RS produziu aproximadamente 17,5% da produção em

15,9% da área.

Segundo BACEN (2005), em 1979, foram repassados mais de cem bilhões de reais, a

preços de 1994, para uma produção de 41 milhões de toneladas. A década de 1990 ficou

marcada pela redução do volume de crédito oficial, conforme Gráfico 1. No ano de 2010, os

valores destinados para custeio foram de R$ 107,0 bilhões.

No Anexo A, apresenta-se a evolução dos dispêndios com crédito rural entre os anos

de 1974 e 2010.

A relação entre o volume de crédito total e a produção é apresentada na Figura 1.

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FIGURA 1 - Recursos destinados ao crédito rural e produção total no Brasil - entre 1977 e 2009 Fonte: Relatório do Crédito Rural (2005) e MAPA

31

A partir da década de 1980, observa-se uma queda na relação entre o crédito rural e a

produção, ou seja, a oferta de crédito rural oficial teve uma redução, enquanto que a produção

cresceu. Em 1979, observou-se a maior relação entre o dispêndio de crédito e a produção, ou

seja, foram R$ 2.488,25 por tonelada produzida, enquanto que, em 1996, foram apenas R$

204,42 por tonelada, conforme Figura 2.

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1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

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Produção (mil t) Custeio (R$/t)

FIGURA 2 - Evolução da produção e relação entre o volume de crédito rural e produção no Brasil - entre 1977 e 2009

Fonte: Relatório do Crédito Rural (2005) e MAPA

Na década de 1970 e 1980, o crescimento da agricultura brasileira ocorreu de forma

horizontal. A oferta de crédito era definida por hectare ocupado, ou seja, à medida que os

agricultores expandissem a ocupação estariam aptos a receberem mais crédito.

Na década de 1990, com a crise do Estado brasileiro e a redução da oferta de crédito a

produção brasileira se expandiu mais rapidamente do que nas décadas anteriores. Esse

crescimento ocorreu de forma vertical, ou seja, com ganhos em produtividade.

Segundo Araujo et. al. (2007) a evolução da produção de grãos no período entre 1980

e 2004 passou de 50 milhões de toneladas para aproximadamente 120 milhões de t, apesar da

redução da oferta de crédito na década de 1980. Esses apontam como determinantes para a

expansão vertical da produção, a base tecnológica criada na década anterior e início da década

de 1980, onde os produtores rurais podiam contar com máquinas, equipamentos, fertilizantes

e agroquímicos, além de sementes desenvolvidas pelas empresas privadas e Embrapa. Essa

32

base tecnológica estaria repercutindo positivamente, elevando a produtividade, apesar da

queda na oferta de crédito rural oficial. Além disso, os autores destacam que a restrição ao

crédito forçou o aumento da eficiência produtiva nas empresas mais capitalizadas.

Apesar do elevado volume de crédito na década de 1970 e 1980, esse ocorreu de forma

seletiva e regionalizada. Guedes Pinto (1980) constatou que o maior volume foi direcionado

para as culturas voltadas para a exportação e nas Regiões Sul e Sudeste.

Na Figura 3, observa-se a evolução da produção e produtividade agrícola no Brasil

entre 1977 e 2009. Durante esse período a produção, produtividade e área cresceram 155,5%,

101,8% e 26,6% respectivamente. Em relação à área ocupada passou de 37,0 milhões para

48,0 milhões de hectares, enquanto a produção saltou de 46,0 milhões de toneladas para mais

de 135,0 milhões de toneladas.

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FIGURA 3 - Produção total e relação entre recursos destinados ao crédito rural e produção total no Brasil - entre 1977 e 2009

Fonte: IBGE

Nesta seção procurou-se realizar uma descrição do volume de recursos utilizados pela

agricultura brasileira relacionando com a evolução da área e da produção. Percebe-se que

ocorreu uma relação elevada entre o volume de crédito rural e a produção durante a década de

1970 e meados da década de 1980. A menor relação ocorreu na década de 1990, mais

especificamente em 1996, com apenas R$ 204,42 de crédito rural por tonelada produzida.

33

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As políticas agrícolas são norteadas por variáveis macroeconômicas, assim como pelo

seu momento e seus impactos dependem de uma série de questões endógenas tais como:

sanidade vegetal e animal, logística e clima e exógenas tais como: barreiras técnicas ao

comércio mundial e o próprio crescimento da demanda dos países.

A agricultura brasileira foi altamente amparada por políticas de estímulo à produção

através do crédito rural (custeio, investimentos e comercialização) até meados da década de

1980, mas a partir desse período, devido à crise fiscal brasileira, o volume de crédito público

oriundo do tesouro nacional é reduzido. Com isso, novos instrumentos de apoio são criados,

cujo objetivo é direcioná-los ao apoio à comercialização.

Em 2009, estima-se que 10% da produção brasileira tenha sido comercializada através

da utilização dos instrumentos de apoio à comercialização ante 3,94% no ano anterior. Esses

valores têm oscilado um pouco nos últimos anos. Ampliando esse percentual nos anos em que

os preços de mercado estão abaixo dos preços mínimos e reduzindo naqueles anos onde os

preços se encontram em patamares superiores aos dos preços mínimos.

O volume de crédito destinado para os planos safra vem crescendo nos últimos anos,

mas ainda fica distante (em volume) daquele praticado no final da década de 1970.

Também aponta-se como positivo a destinação de recursos através do PRONAF para

atividades que desenvolvam a produção ecológica, políticas para o semi-árido, mulheres e

jovens. Neste sentido, associa a independência dessas categorias para o processo produtivo e

ao mesmo tempo apresenta oportunidades de produção sustentável em relação ao meio

ambiente.

A política agrícola brasileira ainda está em fase de consolidação. Essa necessita de um

maior volume de crédito disponibilizado para os setores produtivos e de um sistema de

garantia de renda para os produtores rurais. No plano safra 2009/10, para o Programa de

Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural foram destinados R$ 452 milhões para pagamento de

subvenções ao prêmio. Apesar desse volume de crédito, o seguro rural ainda não é utilizado

em larga escala pelos produtores.

Na safra 2008/09 foram plantados 66,5 milhões de hectares entre grãos, fibras e

fruticultura. Destes 10,8 milhões de hectares foram segurados, ou seja, apenas 16,2% da área

total.

34

Para ampliar o alcance do seguro rural foi sancionada a Lei que criou o Fundo de

Catástrofes, que tem como objetivo proteger o mercado segurador contra perdas financeiras

decorrentes de eventos considerados catastróficos. A partir desse fundo espera-se que

inúmeras empresas seguradoras se interessem pelo mercado de produtos agrícolas oferecendo

diferentes produtos, desde uma apólice que garanta a produção até a renda para o produtor

rural.

35

REFERÊNCIAS

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36

COELHO, Carlos Nayro. 70 anos de política agrícola no Brasil (1931-2001). Revista de Política Agrícola, Brasília, ano 10, n. 3, jul./set. 2001. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB. Acompanhamento da Safra Brasileira: grãos – quinto levantamento, Brasília: CONAB, 2010. FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 15.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977. GASQUES, José G. et. al. Desempenho e crescimento do agronegócio no Brasil. Brasília: IPEA, 2004. (Texto para discussão nº 1009). GUEDES PINTO, Luiz. Notas sobre política agrícola e crédito rural. Campinas: UNICAMP, 1980. 344 p. MASSUQUETTI, Angélica. A mudança do padrão de financiamento da agricultura brasileira no período 1965-97. 1998. Dissertação (Mestrado em Economia Rural), Porto Alegre. NEVES, César da Rocha; MIRANDA, Evandro Fazendeiro de. Apoio governamental ao seguro rural: um paralelo entre Espanha e EUA. Revista Brasileira de Risco e Seguro, Rio de Janeiro, v. 2, n. 4, p. 51-74, out./mar. 2007. PRADO, Gustavo Rodrigues; PEREIRA, Sávio Rafael. Do EGF/COV ao PEP, do AGF ao Contrato de Opção: uma memória. Revista de Política Agrícola, Brasília, ano 11, n. 03. p. 41-45, jul./set. 2002. SILVA, Milton José da Silva e. Reflexões sobre seguro agrícola. Porto Alegre: IICA, 2003.

37

ANEXO - EVOLUÇÃO DOS RECURSOS DESTINADOS AO CRÉDITO RURAL E

RELAÇÃO ENTRE RECURSOS E PRODUÇÃO, ENTRE 1974 E 2010

Ano Moeda Valor Corrente Valores Constantes

em R$ ** Variação

Anual (%) Produção *

(mil t) Valor (R$/t)

1974 Cr$ 48.272.761.000 61.193.704.406 23,66% - - 1975 Cr$ 89.997.117.000 89.222.265.939 45,80% - - 1976 Cr$ 130.226.160.000 91.407.992.309 2,45% - - 1977 Cr$ 165.858.671.000 81.606.855.998 -10,72% 46.943,1 1.738,42 1978 Cr$ 233.942.454.000 82.972.444.673 1,67% 38.213,4 2.171,29 1979 Cr$ 448.730.894.000 103.398.472.511 24,62% 41.554,7 2.488,25 1980 Cr$ 859.193.128.000 98.883.703.540 -4,37% 50.871,2 1.943,80 1981 Cr$ 1.564.090.171.000 85.768.288.700 -13,26% 52.212,2 1.642,69 1982 Cr$ 2.960.272.886.000 83.055.470.548 -3,16% 50.861,1 1.632,99 1983 Cr$ 5.687.785.916.000 62.696.028.504 -24,51% 47.654,6 1.315,64 1984 Cr$ 11.138.665.520.000 38.295.312.903 -38,92% 52.431,0 730,39 1985 Cr$ 51.705.203.320.010 54.609.552.670 42,60% 58.143,3 939,22 1986 Cr$ 186.780.085.648 81.432.459.759 49,12% 53.925,2 1.510,10 1987 Cr$ 478.278.934.444 64.193.372.304 -21,17% 64.949,3 988,36 1988 Cr$ 2.648.106.745.503 45.298.227.681 -29,43% 66.307,6 683,15 1989 NCr$ 34.335.066.599 41.365.142.861 -8,68% 71.487,6 578,63 1990 Cr$ 557.089.210.701 23.631.938.116 -42,87% 58.280,3 405,49 1991 Cr$ 2.958.342.825.718 24.381.454.961 3,17% 57.899,6 421,10 1992 Cr$ 35.799.339.489.152 27.033.730.009 10,88% 68.400,1 395,23 1993 Cr$ 677.434.965.235 23.213.996.925 -14,13% 68.253,2 340,12 1994 R$ 8.921.742.735 37.809.348.881 62,87% 76.035,0 497,26 1995 R$ 6.481.597.114 17.205.837.636 -54,49% 81.064,9 212,25 1996 R$ 6.293.201.099 15.037.948.687 -12,60% 73.564,7 204,42 1997 R$ 9.839.522.275 21.787.873.298 44,89% 78.426,7 277,81 1998 R$ 11.133.827.728 23.729.879.384 8,91% 76.558,7 309,96 1999 R$ 11.786.166.115 22.562.375.072 -4,92% 82.437,9 273,69 2000 R$ 13.779.503.344 23.187.602.466 2,77% 83.029,9 279,27 2001 R$ 17.942.118.196 27.356.477.030 17,98% 100.266,9 272,84 2002 R$ 22.443.322.771 30.147.139.721 10,20% 96.746,7 311,61 2003 R$ 31.102.681.808 34.025.792.975 12,87% 123.168,0 276,26 2004 R$ 40.446.483.895 42.857.266.915 25,96% 119.114,2 339,56 2005** R$ 41.975.598.412 41.975.598.412 -2,06% 113.898,1 368,54 2006** R$ 53.350.000.000 14,85% 119.949,1 444,77 2007** R$ 60.000.000.000 12,46% 131.750,6 455,41 2008** R$ 70.000.000.000 16,66% 143.681,6 487,19 2009** R$ 78.000.000.000 11,43% 135.134,5 577,20 2010** R$ 107.500.000.000 37,00% 143.094,9*** 751,25 Fonte: Relatório do Crédito Rural (2005, p. 4).

* CONAB (algodão em caroço; amendoim primeira e segunda safra; arroz; aveia; centeio; cevada; feijão primeira e segunda safra; girassol; mamona; milho primeira e segunda safra; soja; sorgo; trigo e triticale). ** Informações a partir de 2005 são do MAPA oriundas dos Planos Safras. *** Segundo CONAB (2010) quinto levantamento em fevereiro de 2010.

38

ARTIGO 2 - CONSIDERAÇÕES SOBRE TECNOLOGIA, CUSTOS E RESULTADOS

ECONÔMICOS DA CULTURA DA SOJA NO RIO GRANDE DO SUL,

ENTRE 1990 E 2010

Resumo: O Rio Grande do Sul foi um dos Estados considerados precursores da modernização da agricultura brasileira e a cultura da soja possui uma trajetória que representa esse processo. Em 2010, no RS, essa cultura, foi responsável por 41% da produção e ocupou 55% da área dos principais cereais. Utiliza-se os custos de produção da Fecoagro e os preços recebidos pelos produtores com base na Emater/RS-Ascar e um grupo de indicadores de rentabilidade para analisar as condições financeiras da cultura da soja. A análise econômica da soja para o período entre 1990 e 2010 indica que apenas nos anos de 1991 e 2005, a atividade apresentou margem bruta negativa. Esse resultado é reflexo da baixa produtividade decorrente de problemas climáticos. A partir da safra 2001, percebem-se períodos em que a atividade apresenta margem líquida positiva, com exceção de 2005 e 2006. Esses resultados mostram a instabilidade da agricultura frente a fatores endógenos, de decisão exclusiva do produtor, diga-se a utilização e a escolha da tecnologia, e fatores exógenos relacionados às políticas para o setor e às condições meteorológicas. Assim, as decisões dos produtores devem estar pautadas no conhecimento técnico e em uma visão planejada no longo prazo em vista dos resultados positivos e negativos apurados, para a cultura da soja, na série estudada que correspondeu a vinte e um anos. Palavras-chave: Cultura da Soja. Rentabilidade. Modernização da Agricultura. Fatores de

Produção.

Abstract: Rio Grande do Sul is one of forerunner brazilian states in the modernization of agriculture and soya culture presents a representative path of this process. In 2010, this culture was responsible for 41% of the production and occupied 55% of the main cereals plantations area. To analyze the profitability of financial conditions of soya culture the costs of production of Fecoagro and the values received by producers are used on basis of the Emater/RS-Ascar and a group of yield pointer . The economic analysis of soya culture for the period between 1990 and 2010 indicates that only in the years 1991 and 2005 the activity had a negative gross margin except for the years of 2005 and 2006. This result reflecting soya low productivity is due to weather conditions. From the 2001 harvest, periods in which this activity had a positive net margin were observed , except in the years of 2005 and 2006. These results show also the instability of agriculture due to endogenous factors, and in this case the use and choice of the suitable technology lies in producer’s hands. This results are also due to exogenous factors related to policies for the sector and to weather conditions. Thus, producers' decisions must be based on a technical knowledge and a planned long-term view of the positive and negative results determined for the soybean crop in the studied series corresponding to twenty-one years. Keywords: Soya Culture. Economic Profitability. Modernization of Agriculture. Production

Factors.

39

1 INTRODUÇÃO

O Brasil, em 2010, com uma produção de 68,3 milhões de toneladas, foi o segundo

país com a maior produção de soja do mundo. Até a década de 80, o cultivo brasileiro

concentrava-se nos Estados do Sul, a partir da década de 90, o Centro-Oeste tornou-se a

principal região produtora. Nas últimas duas safras, o Rio Grande do Sul foi responsável por

aproximadamente 15% da produção brasileira, enquanto que no início da década de 1980, a

participação era de mais de 30% (IBGE, 2010).

Os produtores rurais gaúchos, em 2010, colheram mais de 24 milhões de toneladas de

cereais considerando as culturas da soja, milho, feijão, arroz e trigo. Essas culturas ocuparam

aproximadamente sete milhões de hectares, com destaque para a soja, que ocupou 55% desta

área e foi responsável por 41% da produção. No Brasil a cultura da soja ocupa

aproximadamente 50% da área dos cereais (IBGE, 2010).

A demanda mundial, a elevada liquidez e a disponibilidade de tecnologias fazem com

que a soja seja a cultura que mais cresce na agricultura brasileira, reflexo da demanda das

cadeias produtivas das carnes e mais recentemente para a produção de bicombustíveis.

Apesar da importância da cultura da soja faz-se necessário realizar uma avaliação

econômica da atividade no curto prazo e no longo prazo. Segundo Alves at. al. (2008) o

cenário agrícola atual exige um planejamento de longo prazo dentro da propriedade, visando

garantir a sustentabilidade e a permanência dos produtores na atividade.

De acordo com Guilhoto e Montoya (2001, p.209) a renda dos agricultores tende a

diminuir sempre mais em relação a outros agregados do agronegócio, não só por causa da

propensão a concentração das indústrias à jusante e a montante com as quais negocia, mas

devido à especialização no trabalho e baixa rentabilidade do capital da atividade rural.

A análise da rentabilidade econômica de algumas culturas torna-se uma ferramenta

importante para a maximização dos lucros. Segundo Zilli e Da Rosa (2007) a estimativa de

custos de produção tem assumido importância crescente, tanto na analise da eficiência da

produção de determinada empresa quanto na análise de processos específicos de produção os

quais indicam o sucesso que determinadas atividades de acordo com as escolhas para

produzir.

A partir do controle sobre os gastos é possível buscar alternativas, tais como a

substituição de insumos onerosos por outros similares mais baratos e de semelhante

eficiência, nível de tecnologia a ser adotada, entre outros. Esses controles são possibilidades

40

concretas na tomada de decisão dos produtores rurais. No entanto, a atividade agrícola é

considerada de alto risco, visto que existem fatores que independem da dedicação e a escolhas

dos produtores, tais como as condições meteorológicas e o preço do produto no mercado.

O presente trabalho tem por objetivo analisar a evolução dos custos de produção e

margens de ganho da lavoura de soja no Rio Grande do Sul, a partir da década de 1990. O

artigo é dividido em cinco partes. Introdução e evolução da produção de soja são apresentadas

na parte um e dois do texto. Na terceira parte apresenta-se o referencial teórico e na sequência

um bloco com material e métodos. Na quinta parte é realizada uma análise dos resultados e

considerações finais.

41

2 EVOLUÇÃO RECENTE DA LAVOURA DE SOJA NO RS

A produção de soja no Brasil tem obtido elevadas taxas de crescimento, explicadas

pela capacidade de trabalho dos produtores, avanços na pesquisa agropecuária e modernos

instrumentos de comercialização que fazem com que essa cultura tenha elevada liquidez no

mercado. Esses fatores tendem a estimular investimentos por parte dos produtores na cultura

da soja.

Segundo Censo Agropecuário 2006, essa leguminosa foi responsável por

aproximadamente 45% da área ocupada com lavouras no Estado, e cultivada em 105.068

(23,8%) estabelecimentos rurais no Estado no ano de 2006.

No Rio Grande do Sul, em 2010, a sojicultura forma a maior lavoura em termos de

área ocupada, alcançou 4.021.878 milhões de hectares plantados na safra 2010. Essa área

proporcionou uma produção histórica de 10.477.452 t, com rendimento médio de 2.611 kg/ha.

TABELA 1 - Área, Produção e Rendimento Médio de Soja no Rio Grande do Sul, entre 1990 e 2010

Ano Área (ha) Produção (t) Rendimento (kg/ha)

1990 3.516.048 6.313.476 1.796

1991 3.116.577 2.220.502 712

1992 2.876.568 5.648.752 1.964

1993 3.078.313 6.067.494 1.971

1994 3.185.058 5.442.728 1.709

1995 3.006.535 5.847.985 1.945

1996 2.493.895 4.235.532 1.698

1997 2.941.552 4.755.000 1.616

1998 3.172.139 6.462.515 2.037

1999 3.050.541 4.467.110 1.464

2000 3.001.836 4.783.895 1.594

2001 2.974.513 6.951.830 2.337

2002 3.295.342 5.610.518 1.703

2003 3.591.470 9.579.297 2.667

2004 3.968.530 5.541.714 1.396

2005 3.733.822 2.444.540 655

2006 3.863.726 7.559.291 1.956

2007 3.890.183 9.929.005 2.552

2008 3.803.425 7.679.939 2.019

2009 3.822.600 7.913.000 2.070

2010 4.021.878 10.477.452 2.611

Fonte: IBGE.

42

Na Figura 1, encontra-se a distribuição regional da área e rendimento para a cultura da

soja no Rio Grande do Sul, para safra 2010. Existe um predomínio da produção no norte do

Estado, mas é possível encontrar o cultivo da soja em praticamente todo o Estado. Outro

aspecto a se destacar é a diferença no rendimento da cultura, que chegou a mais de 3,0

toneladas em média por hectare, representando 18,3% superior a média gaúcha para o ano de

2010, na Região de Erechim22.

FIGURA 1 - Distribuição da área, produção e rendimento da soja – Regiões Administrativas da Emater/RS-Ascar, safra 2010

Fonte: IBGE, 2010

A produtividade da cultura da soja no RS apresenta uma grande dispersão, ou seja, a

heterogeneidade é reflexo dos diferentes níveis de tecnologias empregados, do poder

aquisitivo dos produtores e da fertilidade dos solos nas regiões produtoras.

22 A Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural - Emater/RS-Ascar possui dez

Regiões Administrativas com escritórios em 492 municípios, assim distribuídos. Bagé: 16; Caxias do Sul: 56; Erechim: 50; Estrela: 64; Ijuí: 47; Passo Fundo: 71; Pelotas: 21; Porto Alegre: 70; Santa Maria: 52 e Santa Rosa: 43 municípios.

43

Por isso, apresenta-se uma desagregação dos rendimentos de acordo com as Regiões

Administrativas da Emater/RS-Ascar, como uma aproximação das diferenças existentes na

produção de soja. A divisão das Regiões Administrativas obedeceu a critérios técnicos

levando em consideração principalmente as atividades agropecuárias. Na Tabela 2, é

apresentada a evolução dos rendimentos para três períodos que refletem a evolução e/ou

ganhos no rendimento das lavouras de soja no RS para um período de vinte anos.

TABELA 2 - Variação no rendimento médio, nas regiões administrativas da Emater/RS-Ascar, entre 1990 e 2010

Regionalização Ganho Médio Anual (kg/ha) entre 1990 e 2010 1990 2001 2010

Bagé 28,07 1.606,7 1.746,7 2.168,0

Caxias do Sul 68,61 1.626,8 2.149,3 2.999,0

Erechim 74,61 1.596,9 2.362,6 3.089,0

Estrela 59,59 1.341,3 1.745,1 2.533,0

Ijui 30,61 1.986,9 2.368,7 2.599,0

Passo Fundo 51,72 1.757,6 2.370,4 2.792,0

Pelotas 50,76 1.158,8 1.665,0 2.174,0

Porto Alegre 43,69 1.261,2 1.566,3 2.135,0

Santa Maria 41,28 1.591,4 2.146,8 2.417,0

Santa Rosa 40,22 1.634,5 1.947,6 2.439,0

Média RS 40,80 1.795,0 2.337,0 2.611,0

Fonte: IBGE

A região administrativa de Caxias do Sul, representando apenas 4,8% da área

cultivada em 2010, obteve um ganho de 68,60 kg/ha/ano, ou seja, 68,9% superior a média do

Estado. Essa região apresenta-se como a mais nova com expansão da cultura da soja. O

destaque para os municípios de Lagoa Vermelha, Vacaria e Capão Bonito do Sul. A região de

Bagé foi a que apresentou menor rendimento médio, ou seja, apenas 28,07 kg/ha/ano com

apenas 4,6% da área cultivada. A região de Erechim, com 9,3% da área cultivada apresentou

um ganho médio de 74,61 kg/ha/ano.

44

3 REFERENCIAL TEÓRICO

A agricultura brasileira passou por grandes mudanças a partir da década de 1950. Uma

delas foi a modernização da agricultura que elevou a produção de alimentos, mas também

submeteu a agricultura a uma grande dependência de setores fora da porteira. O cenário atual

remete a uma necessidade dos produtores obterem o máximo de rendimento através da

combinação dos fatores de produção existentes. Portanto, esse caminho trilhado pela

agricultura brasileira a partir de 1950, passando pela necessidade da composição de uma

função de produção adequada, é mostrado neste capítulo.

3.1 ANÁLISES DE CUSTOS

A relação entre custo e produção tem por base os fundamentos teóricos ligados à

tecnologia, aos preços de insumos e à busca da eficiência na alocação dos recursos

produtivos. O custo total de produção constitui-se na soma de todos os pagamentos efetuados

pelo uso dos recursos e serviços, incluindo o custo alternativo do emprego dos fatores

produtivos (REIS et al., 2001).

Na teoria do custo, para efeito de planejamento, deve-se determinar o período de

tempo, que pode ser curto ou longo. No curto prazo, os recursos utilizados são classificados

em custos fixos e variáveis, sendo fixos aqueles que não se incorporam totalmente ao produto,

mas o fazem em tantos ciclos produtivos quanto permitir sua vida útil. Os custos variáveis,

por sua vez, têm duração igual ou inferior ao curto prazo e incorporam-se ao produto,

necessitando ser reposto a cada ciclo do processo produtivo (HOFFMANN et. al., 1984).

Segundo Pindyck & Rubinfeld (1994), o preço de venda de um determinado bem

poderá, no curto prazo, igualar-se ao custo variável médio. Preços inferiores significam que a

empresa deverá deixar de produzir, considerando, o ponto de fechamento da firma. No longo

prazo os preços de venda deverão ser iguais e/ou superiores ao custo total, significando que

componentes como a depreciação, juros, etc. estão sendo recompostos dentro de uma

empresa.

45

O custo marginal é definido como o acréscimo do custo total quando ocorre o aumento

adicional de uma unidade adicional do produto. Assim como a receita marginal corresponde à

receita adicional com a comercialização de uma unidade produzida.

A atividade econômica de uma empresa agrícola deve apresentar estratégia que

comporte ações de curto e longo prazo. No curto prazo uma empresa pode permanecer na

atividade mesmo que não consiga cobrir todos os custos de produção (custos variáveis mais

os fixos), desde que todos os custos variáveis sejam contemplados. Esse período depende do

tipo de atividade, pois se espera que a empresa se ajuste em um período posterior.

3.2 INOVAÇÃO TECNOLOGICA NA AGRICULTURA

Segundo Kageyama (1987) existem três conceitos que precisam ser esclarecidos para

entender o processo de mudanças que ocorreram na agricultura brasileira e que, muitas vezes,

de forma incorreta são utilizados como sinônimos. O primeiro é a modernização da

agricultura, que consiste na mudança da base técnica de produção agrícola. O segundo, a

industrialização da agricultura, onde esse setor passa a desenvolver ações semelhantes à

indústria. E o terceiro conceito é a formação dos complexos agroindustriais, que consiste na

integração intersetorial entre indústria fornecedora de insumos para a agricultura, a produção

propriamente dita e as agroindústrias processadoras. O processo de mudança da base técnica

de produção agropecuária ganhou corpo no pós-guerra com a introdução das máquinas

agrícolas (tratores importados), utilização de produtos químicos, tais como, fertilizantes e

agrotóxicos, além da incorporação de sementes e variedades melhoradas.

Segundo Leite (2008), as grandes mudanças tecnológicas são acompanhadas por

transformações econômicas, sociais e institucionais, visto que as inovações tecnológicas

surgem a partir de uma contínua interação entre a motivação econômica e as condições

institucionais adequadas ao seu desenvolvimento.

As inovações tecnológicas deram um novo direcionamento às atividades produtivas do

país, que passaram a incorporar novas técnicas e equipamentos. A industrialização se

expandiu rapidamente e passou a exigir uma reestruturação do campo, visto ser fonte de

produção de matéria-prima. Era necessário preparar o campo para produzir para a indústria e,

ao mesmo tempo, receber produtos industrializados, tais como agrotóxicos, fertilizantes,

sementes melhoradas e máquinas (TEIXEIRA, 2005).

46

Mas, o que impulsionou a transformação da base técnica foi o incentivo

governamental através do crédito rural, viabilizado a partir de meados da década de 1960 e

atingindo o ápice na década seguinte. As políticas agrícolas durante a década de 1960, 1970 e

meados de 1980, concentravam quase a totalidade de recursos para custeio e investimentos.

Políticas específicas de incentivo para a aquisição de máquinas e equipamentos foram criadas,

no final de década de 1990, visando à modernização da frota agrícola.

Em linhas gerais, há um consenso sobre como o modo de produção agrícola evoluiu e

de como o progresso técnico contribuiu para esse resultado. As novas tecnologias e novas

variedades eram imprescindíveis para superar as restrições impostas pela natureza, tais como,

a baixa fertilidade dos solos e a necessidade de ocupação de novas áreas frente ao crescimento

econômico e populacional (LEITE, 2008).

A queda nos preços dos produtos agrícolas, visualizados ao longo do tempo, faz com

que o resultado econômico seja viabilizado com a elevação do rendimento das culturas. E esse

fato torna a agricultura muito dependente da evolução tecnológica imposta pelas grandes

empresas produtoras de sementes e insumos.

3.3 FUNÇÃO DE PRODUÇÃO

A quantidade de um determinado bem que poderá ser produzido em um período de

tempo é função direta da quantidade dos fatores de produção ou insumos utilizados no

processo produtivo. A relação técnica entre essas variáveis é determinada função de

produção.

Segundo Hoffmann et. al. (1984), a teoria da produção tem por objetivo: (a)

determinar as condições segundo as quais se verifica a ótima utilização dos recursos

produtivos à disposição; (b) determinar em quanto a utilização desse recurso se afasta da

ótima utilização; e (c) indicar os meios e métodos a se utilizar para atingir a utilização ótima a

partir da utilização atual dos recursos produtivos.

Na teoria microeconômica, consideram-se dois tipos de função de produção em

relação à utilização dos insumos e a produção. Uma considerada de curto prazo, ou seja, é

definida como o período de tempo em que pelo menos um dos fatores de produção é

considerado fixo e de longo prazo, onde todos os fatores de produção são variáveis.

Considerando uma empresa agropecuária fatores de produção variáveis, tais como:

47

fertilizantes, defensivos, sementes e mão-de-obra, podem sofrer alterações no curto prazo,

enquanto que, instalações, equipamentos e máquinas compõem aqueles insumos que somente

sofrem alteração, na sua utilização, no longo prazo.

Na análise da teoria da produção, Hoffmann et. al. (1984) consideram três relações

básicas. A primeira estuda a influência de um dado insumo sobre a produção, a exemplo, a

utilização de fertilizantes em relação à produção. A segunda, relação fator-fator, que

corresponde a melhor combinação econômica dos fatores de produção para a produção de um

bem. E as relações produto-produto, que analisam as relações entre as linhas de exploração,

visando a determinar a melhor alternativa econômica no uso dos insumos.

A função de produção pode ser uma representação algébrica Y=F(X1, X2...Xn), onde

(Y) corresponde à produção em função de muitas variáveis e/ou insumos (X1, X2...Xn). A

função de produção pode ser dividida em três estágios em relação ao uso dos fatores

variáveis. No primeiro estágio com o aumento da utilização dos fatores variável a produção

marginal é maior do que a produção média. Nessa, a produção média é crescente. No segundo

estágio a produção marginal alcança o seu máximo, sendo essa inferior à produção média,

mas ambas positivas. No terceiro estágio a produção marginal é negativa. Nesta fase ocorre

uma proporção maior dos fatores variáveis em relação aos fatores fixos.

Para a cultura da soja, o produtor rural deve utilizar a ótima combinação dos fatores de

produção para obter o máximo de rendimentos, ou seja, esse deve ser o desafio associado à

gestão.

48

4 MATERIAL E MÉTODOS

Esta seção é dividida em três subseções. A primeira apresenta a origem dos dados, a

segunda expõe os procedimentos para obtenção dos custos de produção e finaliza-se com uma

descrição dos indicadores econômicos que são utilizados nas análises da atividade econômica.

4.1 FONTES DE DADOS

Estimativas de custos de produção na agricultura possuem grande variabilidade, pois,

diferentemente de outros setores econômicos, a produção agrícola possui além de aspectos

ligados a tecnologia e escalas produtivas, fatores naturais como fortes determinantes da

produção (clima, solo, topografia, etc.). Justamente, em função dessa variabilidade em termos

de dimensão das unidades de produção e do potencial produtivo do ambiente natural é que o

progresso técnico aporta uma série de elementos (químicos, mecânicos, biológicos e

biotecnológicos) que visam permitir produtividades e custos médios de produção compatíveis

com o almejado retorno econômico aos investimentos efetuados nos diferentes sistemas

agrários (SILVA, 1999).

Portanto, os diversos sistemas de produção e consequentes funções de custos podem

compor um amplo conjunto de alternativas, em decorrência da variabilidade expressa pela

estrutura fundiária, capacidade de uso dos solos e do regime da força de trabalho (assalariada

ou familiar). Diante dessas questões, a escolha de parâmetros de custos sempre poderá

suscitar algum tipo de restrição, mas esse ônus não pode impedir, exatamente, que se

ofereçam indicadores, que, embora não conclusivos, permitam reflexão e análise do objeto de

estudo.

Na medida em que essas ressalvas estão expressas, resta a seleção do modelo a ser

empregado para o presente estudo, que, para tanto, se valerá do proposto pela Federação das

Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul Ltda. (Fecoagro/RS).

Ressalte-se que esse material vem sendo publicado pela Fecoagro, anualmente, desde

1962, na série “Custo de Produção”, sendo que os fatores da produção considerados, seus

coeficientes técnicos e preços resultam de um esforço de pesquisa, que anualmente é validado

com os departamentos técnicos das cooperativas filiadas àquela instituição.

49

Em relação a este modelo de custos é importante a advertência de que: “na elaboração

deste custo de produção são consideradas lavouras com plantio direto de aveia, girassol,

milho, soja, sorgo e trigo não é adotada explicitamente uma propriedade média ou típica, mas

sim um conjunto de práticas representativas, [e] os níveis usuais de tecnologia preconizados

na Reunião da Pesquisa de Soja na Região Sul. O sistema de produção implícito nesses

estudos segue uma lógica agroeconômica, que, de um lado contempla as recomendações da

pesquisa agrícola em termos de sistemas de cultivo e, de outro lado, em termos de áreas

funcionais23, aponta para a maximização do emprego uma escala básica de fatores de

produção requeridos a esses cultivos, especialmente solo e parque de máquinas, reduzindo,

assim, ao mínimo o tempo de não trabalho e, dessa forma, permitindo quedas nos custos

médios de produção, além do aumento da velocidade de rotação do capital.

Em seus estudos de Custo de Produção, a Fecoagro também apresenta uma estimativa

de rendimento médio das lavouras associadas ao pacote tecnológico preconizado, que, nos

últimos anos, tem girado em torno de 2.400 kg/ha para a cultura da soja. Entretanto, essas

estimativas têm mostrado sensíveis variações, face aos rendimentos médios estaduais

efetivamente ocorridos, especialmente em função de fatores climáticos. Em decorrência disso,

para efeito de análise de rentabilidade da soja, serão empregados como parâmetros de produto

por hectare os dados relativos ao rendimento médio estadual efetivo, divulgados pelo IBGE

(Tabela 1).

Para que seja possível a comparação entre custos e receitas e, consequentemente, a

aferição de margens será empregado os preços recebidos pelos produtores disponibilizados

pela Emater/RS-Ascar, desde a década de 80. Os preços, em cada safra, serão os resultantes

da média aritmética simples dos meses de março e abril, nos quais a maioria absoluta da

produção é comercializada.

A Tabela 3 mostra os custos de produção entre 2003 e 2010, para fins de

complementação, em anexo, apresentam-se os dados entre 1990 e 2010. Tanto os custos de

produção como os preços recebidos foram atualizados pelo IGP-DI para o final de julho de

2010.

23 A Fecoago utiliza uma relação de culturas com suas respectivas áreas denominadas de áreas funcionais. Essas áreas servem

para o rateio dos custos fixos. As culturas com suas respectivas áreas são: Aveia (75ha), Girassol (10ha), Milho (35ha), Soja (70ha), Sorgo (5ha), e Trigo (35ha.).

50

4.2 INDICADORES DE RENTABILIDADE

Os indicadores de análise de resultados de rentabilidade utilizados no trabalho foram

baseados em Hoffmann et. al. (1984). Conforme o autor, a análise da renda de uma atividade

pode ser feita empregando-se as medidas de resultado econômico, ou seja, alguns indicadores

de eficiência econômica de uso de fatores de produção. Assim,

a) Renda Bruta (RB): é a receita esperada para determinar a produção por hectare

(Q), para um preço pré-definido, ou efetivamente recebido (PV), ou seja:

RB = PV x Q

b) Margem Bruta (MB): corresponde à renda bruta menos o custo operacional

efetivo. Margem bruta positiva significa que a exploração está remunerando os custos

variáveis e sinalizando a sobrevivência da atividade pelo menos no curto prazo. Margem bruta

negativa significa que a atividade está antieconômica, pois o custo dos insumos é maior que a

renda bruta. A margem bruta é definida como:

MB = (RB-COE)/100

Custo Operacional Efetivo (COE): Corresponde aos custos variáveis.

c) O Lucro Operacional (LO) ou receita líquida corresponde a renda bruta (RB)

menos o custo operacional total (COT): Quando o lucro operacional é positivo, pode-se

concluir que a atividade é estável e com a possibilidade de expansão. Em caso de lucro

negativo, mas em condição de suportar o custo operacional efetivo (margem bruta positiva),

entende-se que o produtor rural, poderá continuar produzindo por um determinado período,

aguardando uma mudança de cenário, a exemplo, redução dos custos quando esses se

apresentavam elevados e/ou aumento no preço dos produtos entre outras alterações. Esse

período, com resultado negativo, sinaliza para uma descapitalização do produtor, tornando a

atividade não atrativa no longo prazo. Quando o produtor atingir o lucro zero está no ponto de

equilíbrio e de refazer no longo prazo o seu capital fixo.

LO = (RB-COT)

51

d) Índice de Lucratividade (IL): esse indicador mostra a relação entre o lucro

operacional (LO) e a Receita Bruta, em percentagem. É uma medida importante de

rentabilidade da atividade agropecuária, uma vez que mostra a taxa disponível de receita da

atividade após o pagamento de todos os custos operacionais, encargos, etc., inclusive as

depreciações. Em caso de lucro negativo, mas em condição de suportar o custo operacional

efetivo (margem bruta positiva), defende-se que o produtor rural poderá continuar produzindo

por um determinado período. Esse período sinaliza para uma descapitalização do produtor.

Essa situação torna a atividade não atrativa. Quando o produtor atingir o lucro zero está no

ponto de equilíbrio e de refazer no longo prazo o seu capital fixo. Então:

IL = (LO / RB) x 100

e) Ponto de Equilíbrio (PE): indicador de custo em relação à unidade de produto, ou

seja, determina qual a produção mínima necessária para cobrir o custo, dado o preço de venda

unitário. Assim, o ponto de equilíbrio é dado por:

PE = COT/PV

52

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A rentabilidade da soja no Rio Grande do Sul apresenta-se bastante heterogênea. O

volume de produto é decorrente principalmente das condições climáticas e muito pouco da

variação dos preços do produto. É possível afirmar isso, visto que a área cultivada tem se

mantido constante ao longo do tempo, conforme Figura 1.

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FIGURA 2 - Produção e Área Colhida de Soja no RS, entre 1990 e 2010 Fonte: IBGE

A variação do custo de produção tem apertado ainda mais os ganhos dos produtores.

Os custos elevados dos insumos associados à redução da produtividade, naqueles anos com

problemas climáticos, contribuem para a redução da margem líquida.

O resultado do aumento da produtividade e da área resulta em aumento na produção.

A maior produção foi obtida na safra 2010 com volume de 10,47 milhões de toneladas e

produtividade de 2,60 t/ha. Apesar da maior produção, neste ano, a maior produtividade

ocorreu na safra de 2003 com mais de 2,67 t/ha.

Para que seja possível a comparação entre custos e receitas e, consequentemente, a

aferição de margens será empregado os preços recebidos pelos produtores disponibilizados

pela Emater/RS-Ascar, desde a década de 80. Os preços, em cada safra, serão os resultantes

53

da média aritmética simples dos meses de março e abril, nos quais a maioria absoluta da

produção é comercializada.

A Tabela 3 mostra os custos de produção entre 2003 e 2010, para fins de

complementação, em anexo, apresentam-se os dados entre 1990 e 2010. Tanto os custos de

produção como os preços recebidos foram atualizados pelo IGP-DI para o final de julho de

2010.

TABELA 3 - Custo de Produção da Soja no Rio Grande do Sul, entre 2003 e 2010

Rubricas 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

1. Custo Operacional (R$) 727,74 845,3819 977,5796 830,6911 727,4763 806,1602 954,5649 761,5656

Máquinas e Implementos 21,0% 20,5% 18,4% 21,0% 25,1% 21,3% 18,1% 21,9%

Mão-de-Obra 11,5% 10,1% 8,6% 10,2% 12,5% 11,6% 9,8% 18,8%

Insumos Modernos 59,2% 61,7% 66,2% 59,7% 53,0% 58,4% 65,4% 50,5%

Transporte Externo 6,3% 6,3% 5,4% 7,4% 7,4% 6,9% 5,4% 7,1%

Beneficiamento 1,9% 1,3% 1,4% 1,8% 2,0% 1,8% 1,3% 1,8%

2. Custo Fixo 539,75 541,33 562,75 492,20 455,53 496,04 525,11 544,05

Construções e Instalações 4,7% 2,4% 4,1% 5,0% 5,2% 4,7% 4,2% 4,4%

Máquinas e Implementos 35,5% 31,6% 48,1% 46,9% 48,7% 42,6% 42,5% 40,3%

Insumos - calcário 10,7% 8,7% 11,7% 15,5% 15,8% 13,3% 12,6% 12,4%

Terra 49,0% 43,0% 36,1% 32,6% 30,3% 39,4% 40,7% 43,0%

3. Custo do Financiamento 57,49 65,70 66,10 61,26 54,82 51,99 61,89 66,23

Custo Total 1.324,89 1.452,41 1.606,43 1.384,15 1.237,82 1.354,19 1.541,56 1.371,85

Fonte: Fecoagro

Na Tabela 4, apresentam-se os principais resultados da atividade econômica, a partir

de 2003, detalhadamente, em anexo, apresenta-se a tabela desde 1990.

Os resultados indicam margem líquida negativa entre os anos de 2004 e 2006. Os

primeiros, dois anos desse período foram marcados por uma estiagem que resultou em uma

queda no rendimento e no último ano desse período observou-se uma redução no preço

recebido pelos produtores, elevando o ponto de equilíbrio para 44,61 sc/ha, diante de uma

produtividade de apenas 31,03 sc/ha. Conforme resultados apurados, no ano de 2005, faltaram

28,68 sc/ha para chegar no ponto de equilíbrio.

54

TABELA 4 - Indicadores de Rentabilidade da Cultura da Soja, por hectare, no Rio Grande do Sul, entre 2003 e 2010 (em R$)

Rubricas 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Custo Operacional Efetivo (COE) 727,74 845,38 977,58 830,69 727,48 806,16 954,56 761,57

Custo Operacional total (COT) 1.324,98 1.452,41 1.606,43 1.384,15 1.237,82 1.354,19 1.541,56 1.371,85

Produtividade (sc/ha) 44,45 23,27 10,91 32,61 42,54 33,65 34,50 43,42

Preço recebido (R$/sc) 59,78 58,97 40,58 31,03 31,45 43,75 45,20 35,36

Receita Bruta (R$/ha) 2.657,49 1.372,40 442,80 1.011,80 1.337,91 1.472,35 1.559,49 1.535,40

Receita Líquida (R$/ha) 1.332,51 (80,01) (1.163,63) (372,35) 100,09 118,16 17,93 163,55

Margem Bruta (%) 72,62% 38,40% -120,77% 17,90% 45,63% 45,25% 38,79% 50,40%

Margem Líquida (%) 50,14% -5,83% -262,79% -36,80% 7,48% 8,02% 1,15% 10,65%

Ponto de Equilíbrio (sc/ha) 22,16 24,63 39,59 44,61 39,36 30,95 34,10 38,79

Diferença entre ponto de equilíbrio e produção (sc/ha) 22,29 (1,36) (28,68) (12,00) 3,18 2,70 0,40 4,63

Fonte: FECOAGRO. * Preços médios por saca dos meses de abril e maio corrigidos.

Na série pesquisada em apenas dois anos (1991 e 2005), a atividade apresentou

margem bruta negativa, ou seja, insuficiente para remunerar pelo menos os custos variáveis da

atividade, conforme Gráfico 2. Esse resultado é um indicativo de que a atividade agrícola não

conseguiu remunerar todos os custos inerentes à atividade, levando a uma redução das

possibilidades de aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas. Se extrapolarmos os

resultados para a agricultura como um todo, a maioria dos anos o resultado financeiro impede

que os produtores façam investimentos na modernização de máquinas e equipamentos.

Castro et. al. (2006) a rentabilidade da cultura da soja no Oeste da Bahia para a safra

2003/04 e constataram que os custos operacionais foram cobertos pela receita média,

resultando em margem bruta positiva de 31,72%. No entanto, quando analisados os totais a

margem líquida encontrada foi negativa. Nesta cada o autor afirma que os produtores

estudados estão se descapitalizando.

Objetivando estudar a sustentabilidade de um grupo de unidades agrícolas produtoras

de algodão, soja e cana-de-açúcar para o Estado de Goiás na safra 2006/07, Alves et. al.

(2008) chegaram a resultados semelhantes aos autores anteriores. Ambas as culturas tiveram

margem bruta positiva, onde a soja com 50,6%, algodão 23,9% e cana-de-açúcar com 8,6%.

Quando incluídos os demais custos, ambas as culturas rentabilidade negativa.

Segundo Pontes e Padula (2005), o sucateamento do setor de máquinas e implementos

agrícolas na década de 1990 era evidente, pois a vida útil estimada para a frota de tratores era

55

de 6 anos e para uma colheitadeira 12 anos, e a maioria das máquinas no país possuía em

torno de 8 e 15 anos, respectivamente.

No final da década de 1990, o governo começou a implantar uma política agrícola de

incentivos e aos setores difusores de progresso técnico, como a indústria de máquinas

agrícolas. Um desses programas especiais de crédito voltado para o financiamento da

atividade rural foi a criação do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e

Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota), instituído através da Resolução 2.699

de 24/02/2000 (BACEN, 2000) com recursos do Banco Nacional de desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) e da Agência Especial de Financiamento Industrial (Finame).

Outro programa criado para renovar e ampliar a frota de máquinas e equipamentos foi

implantado em 2008 através da Resolução 3.592 de 03/07/2008 que institui, no âmbito do

Pronaf, a Linha Especial de Crédito de Investimento para a Produção de Alimentos (Pronaf

Mais Alimentos). Esse programa foi estabelecido especificamente para a agricultura familiar

com taxas de juros de 2% a.a e prazo de reembolso de 10 anos, incluídos até 3 anos de

carência.

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FIGURA 3 - Receita Bruta e Líquida da Soja no RS, entre 1990 e 2010 Fonte: Fecoagro

56

As evidências mostram que os programas de financiamento de máquinas e

equipamentos foram importantes para a renovação e ampliação da frota, mas não melhoraram

as condições dos produtores, mesmo que o resultado econômico de maneira geral tenha

progredido a partir de 2000. É possível fazer algumas análises nesta direção pelo elevado

nível de endividamento dos produtores rurais24.

No Gráfico 3, apresenta-se a relação entre produtividade obtida anualmente e a

necessidade em sacas de soja para cobrir o custo operacional total. Observa-se melhoria na

produtividade média nos últimos 15 anos, mas tudo indica que quando o equilíbrio se

estabelece entre o custo e a receita, ocorre estiagem estabelecendo-se novamente o

desequilíbrio. Esse movimento é observado no resultado da safra 2005 e 2006.

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FIGURA 4 - Relação entre rendimento médio de soja e ponto de equilíbrio (em sc/ha), entre 1990 e 2010

Fonte: Fecoagro

Através do ponto de equilíbrio é possível visualizar que a instabilidade da

produtividade média da soja, decorrente de questões ambientais, possui maior impacto

negativo na viabilidade econômica da atividade do que o preço médio recebido pelos

produtores. Com esse enfoque, se analisada a atividade com uma produtividade média de 40

sacas por hectare a maioria dos anos apresentaria rentabilidade positiva. Além disso, esse

estudo está baseado em médias para o Estado e/ou para as Regiões Administrativas da

Emater/RS-Ascar. Certamente existem produtores com rendimento bem acima da média,

24 Criação em 1995 da Lei 9.138/95, que autoriza a securitização das dívidas rurais e através da Resolução 2.471/98 cria o

57

reflexo da utilização de elevado nível tecnológico e por estarem localizados em zonas de

elevada fertilidade dos solos, que apresentam viabilidade econômica em todos os anos se

comparado com a série estudada.

Na Tabela 5, observa-se a receita líquida comparativa entre as regiões. No ano de

2010, com a elevada produção, de forma agregada, as regiões de Bagé, Caxias do Sul, Pelotas,

Porto Alegre e Santa Rosa ainda apresentaram margem líquida negativa.

TABELA 5 - Receita líquida por hectare, safra 2010 (em R$)

Regiões da Emater/RS 1990 2000 2010

Bagé -1.461,90 -195,29 -94,07

Caxias do Sul -1.469,90 -103,20 -395,70

Erechim -1.469,70 89,26 448,75

Estrela -1671,70 -103,40 121,05

Ijuí -1161,30 -150,55 159,95

Passo Fundo -1342,60 20,66 273,7

Pelotas -1816,10 -313,24 -90,54

Porto Alegre -1735,10 -249,26 -113,53

Santa Maria -1474,10 -184,45 52,68

Santa Rosa -1439,90 -556,49 -258,51

Média RS -312,50 -195,29 163,55

Fonte: IBGE.

A região que apresentou maior receita líquida foi Erechim, onde em média, os

produtores receberam R$ 448,75 por hectare após o pagamento de todo o custo operacional

total, em seguida encontra-se a Região de Passo Fundo com uma receita líquida de R$ 273,7

por hectare. A região de Santa Rosa, com 18,2% da área cultivada no Estado, em 2010, obteve

rendimento líquido negativo de R$ 258,51

Os resultados gerais mostram que a atividade de forma agregada preocupa, visto que

fatores climáticos e preços sempre influenciam na receita final do produtor. Mas vale salientar

que existe uma variação na produtividade das propriedades rurais devido ao uso de

tecnologias e aplicação de recursos nas lavouras. Como esse resultado é uma média o

desempenho daqueles que se encontram abaixo é preocupante, pois eles podem estar se

descapitalizado sem mesmo perceber.

Programa Especial de Saneamento de Ativos (Pesa).

58

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O setor agropecuário brasileiro teve um grande salto na produção, se comparada com a

década de 1950. Essa evolução é reflexo da modernização da agricultura e das inovações

tecnológicas. Apesar disso, determinados segmentos de produtores e produtos não foram

beneficiados pela modernização. O movimento das inovações tecnológicas na agricultura

continua em setores de maior ganho financeiro, principalmente nas áreas de informática,

microeletrônica e biotecnologia.

A cultura da soja, nos anos analisados, apresentou margem bruta positiva na maioria

dos anos, com exceção, para os anos de 1990 e 2005, resultado da baixa produtividade

decorrente de problemas climáticos. A partir da safra 2001, percebe-se períodos em que a

atividade apresenta margem líquida positiva, com exceção de 2005 e 2006, período de grande

estiagem.

A atividade rural, aqui representada pela soja, não pode ser encaixada na íntegra na

teoria da firma, em nível microeconômico. A teoria que diz que no curto prazo a atividade

deve remunerar todos os custos variáveis e no longo prazo além destes os fixos. Na atividade

agrícola, grande parte das atividades não remunera os custos nem a curto e nem a longo prazo.

Neste ponto, faz-se duas reflexões. A primeira é que os programas de subsídio para a

aquisição de máquinas e equipamentos substituem a falta de pagamento pela depreciação de

máquinas e equipamentos. E outro aspecto é que o produtor não pode mudar de atividade

porque outros setores da economia não teriam condições de absorver todos os ineficientes da

atividade agrícola.

Questiona-se então porque a cultura da soja é uma das culturas que mais cresce? A

resposta pode ser devido à margem operacional positiva na maioria dos anos, a atividade

possui razoável grau de previsibilidade por conta da correlação com a Bolsa de Chicago,

produtores realizam contratos com a indústria através da troca com soja e o elevado número

de Cédulas do Produtor Rural realizadas com a cultura da soja.

Do ponto de vista técnico, é importante a necessidade de se estabelecer patamares de

produção com base no nível de tecnologia a ser adotada pelo produtor – custo de produção de

acordo com a perspectiva de preços futuros. Atualmente o produtor define a tecnologia

possível com base na disponibilidade de recursos ignorando aspectos como a disponibilidade

de estoques, previsões climáticas, entre outros.

59

Devido às margens por hectare serem reduzidas e também em virtude de aspectos

climáticos, a cultura da soja no Rio Grande do Sul é recomendada para áreas que possuem

escala de produção. Mas, é necessário, uma análise pontual para melhor analisar a viabilidade

e sustentabilidade da cultura no longo prazo.

A soja é uma cultura que inspira as empresas inovadoras a gerar cada vez mais

tecnologias, principalmente com vistas a ganhos em produtividade. Além disso, é uma cultura

plantada em todos os continentes e apresenta elevada participação relativa nas trocas

comerciais.

60

REFERÊNCIAS ALVES, Lucilo Rogério Aparecido. et. al. Viabilidade econômica da produção de algodão, soja e cana-de-açúcar no Estado de Goiás. XLVI Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural – SOBER. Rio Branco – Acre, 2008. Disponível em: < http://www.sober.org.br>. Acesso em: 14 de outubro de 2010. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Resolução n. 2.699, de 24 de fevereiro de 2000. Institui o Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (MODERFROTA). BANCO CENTRAL DO BRASIL. Resolução n. 3.92, de 03 de julho de 2008. Institui, no âmbito do Pronaf, Linha Especial de Crédito de Investimento para Produção de Alimentos (Pronaf Mais Alimentos). CASTRO, Silvio H. & REIS, Ricardo P. & LIMA, André Luís. Custos de produção da soja sob sistemas de plantio direto: estudo de multicasos no Oeste da Bahia. Ciência Agrotecnologia. Lavras, v. 30, n. 6, p. 1146-1153, nov./dez. 2006. EMATER/RS-ASCAR. Preços Agrícolas - desde 1990 até 2010. Disponível em: <www.emater.tche.br> . Acesso em: 03 de setembro de 2010. FECOAGRO. Lavouras em plantio direto safra 1989/1990. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 28, n. 48, 1989. ______: lavouras em plantio direto safra 1990/1991. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 29, n. 49, 1990. ______: lavouras em plantio direto safra 1991/1992. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 30, n. 50, 1991. ______: lavouras em plantio direto safra 1992/1993. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 31, n. 51, 1992. ______: lavouras em plantio direto safra 1993/1994. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 32, n. 52, 1993. ______: lavouras em plantio direto safra 1994/1995. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 33, n. 53, 1994.

61

______: lavouras em plantio direto safra 1995/1996. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 34, n. 54, 1995. ______: lavouras em plantio direto safra 1996/1997. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 35, n. 55, 1996. ______: lavouras em plantio direto safra 1997/1998. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 36, n. 56, 1997. ______: lavouras em plantio direto safra 1998/1999. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 37, n. 57, 1998. ______: lavouras em plantio direto safra 1999/2000. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 38, n. 58, 1999. ______: lavouras em plantio direto safra 2000/2001. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 39, n. 59, 2000. __ ____: lavouras em plantio direto safra 2001/2002. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 40, n. 60, 2001. ______: lavouras em plantio direto safra 2002/2003. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 41, n. 61, 2002. ______: lavouras em plantio direto safra 2003/2004. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 42, n. 62, 2003. ______: lavouras em plantio direto safra 2004/2005. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 43, n. 63, 2004. ______: lavouras em plantio direto safra 2005/2006. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 44, n. 64, 2005. ______: lavouras em plantio direto safra 2006/2007. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 45, n. 65, 2006. ______: lavouras em plantio direto safra 2007/2008. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 46, n. 66, 2007.

62

______: lavouras em plantio direto safra 2008/2009. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 47, n. 64, 2008. ______: lavouras em plantio direto safra 2009/2010. Porto Alegre: FECOAGRO/RS, v. 48, n. 65, 2009. GUILHOTO, Joaquim J. M; MONTOYA, Marco Antonio. Mudança estrutural no agronegócio brasileiro e suas implicações na agricultura familiar. In: TEDESCO, João Carlos (Org). Agricultura familiar: realidades e perspectivas. 3 ed. Passo Fundo: Ediupf, 2001. pág. 150-178. HOFFMANN, Rodolfo. et al. Administração de Empresa Agrícola. São Paulo: Pioneira, 1984. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 2006. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em:< http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 20 de julho de 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Agrícola Municipal 2008. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em:< http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 20 de julho de 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Agrícola Municipal. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em:< http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 20 de julho de 2010. KAGEYAMA, Ângela (org.) O Novo Padrão Agrícola Brasileiro: do complexo rural aos complexos agro-industriais. Campinas: S/N, 1987. LEITE, João Guilherme Dal Belo. Inovação Tecnológica na Agricultura como Estratégia de Adaptação às Mudanças Climáticas: um estudo de caso. 2008. Dissertação de Mestrado, CEPAN/UFRGS. Disponível em: < http://www.lume.ufrgs.br>. Acesso em: 20 de setembro de 2010. PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconômica. São Paulo: Makron Books, 1994.

63

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64ANEXOS - CUSTOS E INDICADORES DE RENTABILIDADE DA SOJA NO RS, ENTRE 1990 E 2010

Custos de Produção da Soja no Rio Grande do Sul, entre 1990 e 2010 (R$ por hectare)

Rubricas 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

1.Custo Operacional 1.286,74 971,60 1.102,62 1.032,10 1.068,03 909,41 844,99 862,18 851,73 713,53 683,99 650,55 652,98 727,74 845,38 977,58 830,69 727,48 806,16 954,56 761,57

Máquinas e Implementos 404,32 279,14 385,58 287,51 357,33 313,78 268,32 257,30 256,66 152,38 124,11 130,20 129,65 152,59 173,64 179,51 174,39 182,93 171,57 172,89 166,45

Mão-de-Obra 274,04 163,03 169,33 245,34 246,08 201,06 213,52 215,54 206,12 64,12 62,33 65,38 74,27 83,97 85,61 84,55 84,62 91,06 93,51 93,47 142,96

Insumos Modernos 552,93 471,12 479,14 444,95 394,75 343,57 303,51 332,21 325,87 426,69 433,22 393,37 391,52 431,03 521,55 647,34 495,76 385,43 470,95 624,28 384,60

Transporte Externo 45,22 39,07 43,62 40,60 52,83 24,00 40,49 42,95 45,49 53,97 49,36 48,27 45,50 46,09 53,17 52,40 61,32 53,60 55,77 51,09 53,95

Beneficiamento 10,23 19,23 24,94 13,70 17,04 27,00 19,14 14,17 17,61 16,36 14,97 13,34 12,04 14,05 11,41 13,77 14,60 14,44 14,35 12,84 13,61

2. Custo Fixo 919,76 720,35 835,49 731,85 856,70 735,84 614,79 637,09 617,77 516,92 472,71 467,01 457,88 539,75 541,33 562,75 492,20 455,53 496,04 525,11 544,05

Construções e Instalações

55,77 37,91 39,67 36,69 38,75 42,61 34,75 36,00 33,22 29,23 26,69 26,23 24,64 25,45 23,23 23,17 24,57 23,85 23,45 21,93 23,70

Máquinas e Implementos 557,00 337,30 487,39 352,07 412,65 369,08 312,92 307,79 294,38 194,44 177,82 170,54 171,47 191,88 235,94 270,43 230,77 221,79 211,32 223,38 219,15

Insumos Modernos 23,65 82,15 75,60 78,77 98,37 74,00 58,87 53,92 50,80 48,98 44,81 38,43 52,00 57,82 46,90 65,84 76,49 72,04 65,85 65,98 67,31

Terra 283,33 262,99 232,84 264,32 306,93 250,15 208,25 239,38 239,37 244,27 223,38 231,82 209,77 264,61 235,27 203,32 160,37 137,85 195,43 213,82 233,89

3. Custo Financiamento 525,78 144,05 148,73 152,97 155,45 125,34 135,65 91,50 78,26 55,40 53,25 50,38 51,65 57,49 65,70 66,10 61,26 54,82 51,99 61,89 66,23

Custo Total 2.732,27 1.836,00 2.086,84 1.916,92 2.080,18 1.770,58 1.595,43 1.590,77 1.547,76 1.285,84 1.209,94 1.167,94 1.162,51 1.324,98 1.452,41 1.606,43 1.384,15 1.237,82 1.354,19 1.541,56 1.371,85

Fonte: Fecoagro. Preços Deflacionados pelo IGP-DI para julho de 2010

Indicadores de Rentabilidade da Cultura da Soja, por hectare, no Rio Grande do Sul, entre 1990 e 2010

Rubricas 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Custo Operacional efetivo (COE) 1.286,74 971,60 1.102,62 1.032,10 1.068,03 928,41 844,99 862,18 851,73 713,53 683,99 650,55 652,98 727,74 845,38 977,58 830,69 727,48 806,16 954,56 761,57

Custo Operacional total (COT) 2.732,27 1.836,00 2.086,84 1.916,92 2.080,18 1.789,58 1.595,43 1.590,77 1.547,76 1.547,76 1.209,94 1.167,94 1.162,51 1.324,98 1.452,41 1.606,43 1.384,15 1.237,82 1.354,19 1.541,56 1.371,85

Produtividade (sc/ha) 29,93 11,87 32,73 32,85 28,48 32,42 28,31 26,94 33,95 24,41 26,56 38,95 28,38 44,45 23,27 10,91 32,61 42,54 33,65 34,50 43,42

Preço recebido (R$/sc) 47,44 47,52 53,38 54,70 54,55 37,64 40,26 48,67 45,92 37,72 38,20 38,20 48,29 59,78 58,97 40,58 31,03 31,45 43,75 45,20 35,36

Receita Total (R$/ha) 1.419,73 564,24 1.747,19 1.796,77 1.553,66 1.220,33 1.139,72 1.311,25 1.559,28 920,66 1.014,65 1.488,01 1.370,37 2.657,49 1.372,40 442,80 1.011,80 1.337,91 1.472,35 1.559,49 1.535,40

Receita Líquida (R$/ha) (1.312,54) (1.271,76) (339,65) (120,15) (526,52) (569,25) (455,71) (279,52) 11,52 (627,10) (195,29) 320,07 207,86 1.332,51 (80,01) (1.163,63) (372,35) 100,09 118,16 17,93 163,55

Margem Bruta (%) 9,37% -72,20% 36,89% 42,56% 31,26% 23,92% 25,86% 34,25% 45,38% 22,50% 32,59% 56,28% 52,35% 72,62% 38,40% -120,77% 17,90% 45,63% 45,25% 38,79% 50,40%

Margem Líquida (%) -92,45% -225,40% -19,44% -6,69% -33,89% -46,65% -39,98% -21,32% 0,74% -68,11% -19,25% 21,51% 15,17% 50,14% -5,83% -262,79% -36,80% 7,48% 8,02% 1,15% 10,65%

Ponto de Equilíbrio (sc) 57,59 38,64 39,09 35,05 38,13 47,54 39,62 32,68 33,70 41,03 31,67 30,57 24,07 22,16 24,63 39,59 44,61 39,36 30,95 34,10 38,79

Ponto de Equilíbrio (sc/ha) (27,67) (26,77) (6,36) (2,20) (9,65) (15,12) (11,32) (5,74) 0,25 (16,62) (5,11) 8,38 4,30 22,29 (1,36) (28,68) (12,00) 3,18 2,70 0,40 4,63

Fonte: Fecoagro e IBGE