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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ FACE À PENALIZAÇÃO DAS INFRAÇÕES NA IMPORTAÇÃO LILIANE QUINTAS VIEIRA DECLARAÇÃO “DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA”. ITAJAÍ (sc), 16 de novembro de 2010. ___________________________________________ Professor Orientador: MSc. Ricardo Moisés de Almeida Platchek UNIVALI – Campus Itajaí-SC

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ FACE À PENALIZAÇÃO DAS INFRAÇÕES NA IMPORTAÇÃO

LILIANE QUINTAS VIEIRA

DECLARAÇÃO

“DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA”.

ITAJAÍ (sc), 16 de novembro de 2010.

___________________________________________ Professor Orientador: MSc. Ricardo Moisés de Almeida Platchek

UNIVALI – Campus Itajaí-SC

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ FACE À PENALIZAÇÃO DAS INFRAÇÕES NA IMPORTAÇÃO

LILIANE QUINTAS VIEIRA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel

em Direito. Orientador: Professor MSc. Ricardo Moisés de Almeida Platchek

Itajaí, novembro de 2010

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AGRADECIMENTO

Agradeço, primeiramente, a Deus que me permitiu estudar nesta Universidade e concluir este Curso com êxito. Que com seu amor infinito tem cuidado de cada detalhe da minha vida e preparado o meu futuro. Agradeço a minha família por todo apoio, compreensão e conselhos dados nos momentos difíceis. Por terem acreditado que este sonho era possível e lutado ao meu lado para que se tornasse realidade. Ao meu orientador MSc. Ricardo Moisés de Almeida Platchek pelo auxílio e paciência no desenvolvimento deste trabalho. Aos mestres do Curso de Direito por todo conhecimento transmitido e pela amizade cultivada durante cada semestre. Aos colegas de turma que com suas diferenças mostraram não existir barreira para o conhecimento e por tornarem mais agradáveis os momentos de aprendizagem. A Coordenação do Curso pela disponibilidade e carinho em sempre atender aos acadêmicos. Enfim, a todos aqueles que, mesmo não citados de forma especial, contribuíram de alguma forma para realização deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família, em especial aos meus irmãos Carlos e Leilane que me ajudaram no desenvolvimento deste trabalho e me incentivaram na realização deste Curso. Aos meus colegas de turma, em especial as minhas amigas Deise, Mayara, Daniela e Michael que me acompanharam nesta caminhada e, com certeza, terão um futuro brilhante. Às atendentes do Núcleo de Pesquisa Jurídica pela atenção e simpatia despendidas, orientando nas dúvidas quanto à elaboração deste trabalho.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, novembro de 2010

Liliane Quintas Vieira Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Liliane Quintas Vieira, sob o título A

aplicabilidade do princípio da boa-fé face à penalização das infrações na importação,

foi submetida em 24 de novembro de 2010 à banca examinadora composta pelos

seguintes professores: MSc. Ricardo Moisés de Almeida Platchek (orientador) e Esp.

João Thiago Fillus (avaliador), e aprovada com a nota _____________________.

Itajaí, novembro de 2010

Professor MSc. Ricardo Moisés de Almeida Platchek Orientador e Presidente da Banca

Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo CF/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 CTN Código Tributário Nacional D.E. Diário Eletrônico de Justiça DI Declaração de Importação DSI Declaração Simplificada de Importação PAF Processo Administrativo Fiscal REsp. Recurso Especial SISCOMEX Sistema Integrado de Comércio Exterior STJ Superior Tribunal de Justiça TRF4 Tribunal Regional Federal da 4ª Região TRF3 Tribunal Regional Federal da 3ª Região

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SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................... IX

INTRODUÇÃO .................................................................................. 10

CAPÍTULO 1 ..................................................................................... 13

COMÉRCIO EXTERIOR: PROCEDIMENTOS DE EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO .................................................................................. 13

1.1 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR .................. 13

1.2 EXPORTAÇÃO .............................................................................................. 16 1.2.1 Procedimento para exportação ................................................................ 17 1.2.2 Tipos de Exportação ................................................................................. 21

1.3 IMPORTAÇÃO ............................................................................................... 21 1.3.1 Tipos de Importação ................................................................................. 23 1.3.2 Processo de Importação ........................................................................... 24 1.3.2.1 Classificação de mercadorias ...........................................................................24 1.3.2.2 Licenciamento de Importação ...........................................................................25 1.3.2.3 Embarque da mercadoria ..................................................................................26 1.3.2.4 Recebimento da mercadoria importada ...........................................................26 1.3.2.5 Liberação da mercadoria importada .................................................................27 1.3.2.5.1 Declaração de Importação .................................................................... 28 1.3.2.5.2 Conferência e desembaraço aduaneiro ................................................. 33 1.3.2.5.3 Retificação da Declaração de Importação ............................................. 34

CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 36

A RESPONSABILIDADE PELO COMETIMENTO DE INFRAÇÕES E AS PENALIDADES APLICÁVEIS À IMPORTAÇÃO PREVISTAS NO DECRETO Nº 6.759/09 ..................................................................... 36

2.1 DAS INFRAÇÕES ADUANEIRAS EM GERAL ............................................. 37 2.1.1 Considerações iniciais .............................................................................. 37 2.1.2 Da responsabilidade pelas infrações ...................................................... 40

2.2 DAS PENALIDADES ..................................................................................... 43 2.2.1 Da pena de perdimento ............................................................................. 44 2.2.1.1 Da pena de perdimento do veículo ...................................................................45 2.2.1.2 Do perdimento de mercadorias .........................................................................47 2.2.1.3 Do perdimento de moeda ..................................................................................50 2.2.2 Das multas na importação ........................................................................ 51 2.2.3 Das sanções administrativas ................................................................... 59

CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 61

A PENALIZAÇÃO DAS INFRAÇÕES NA IMPORTAÇÃO E O PRINCÍPIO DA BOA-FÉ ................................................................... 61

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3.1 DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL ............................................... 61

3.2 PRINCÍPIOS RELACIONADOS À APLICAÇÃO DE PENALIDADES .......... 66 3.2.1 Princípio da legalidade ............................................................................. 68 3.2.2 Princípio da anterioridade ........................................................................ 69 3.2.3 Princípio da retroatividade da lei mais benéfica .................................... 71 3.2.4 Princípio do contraditório ......................................................................... 72 3.2.5 Princípio da ampla defesa ........................................................................ 73 3.2.6 Princípio da proporcionalidade ................................................................ 74

3.3 A APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ ANTE À PENALIZAÇÃO DAS INFRAÇÕES NA IMPORTAÇÃO ................................................................ 74 3.3.1 O princípio da boa-fé ................................................................................. 74 3.3.2 Análise jurisprudencial: a aplicação do princípio da boa-fé como excludente de ilicitude nas infrações atinentes à importação ....................... 77

3.4 RELEVAÇÃO DAS PENALIDADES .............................................................. 80 3.4.1 Aspectos gerais ......................................................................................... 80 3.4.2 Análise jurisprudencial acerca da relevação das penalidades ............. 82

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 88

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 90

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RESUMO

A presente pesquisa tem como título A Aplicabilidade do

Princípio da Boa-fé Face à Penalização das Infrações na Importação. Para análise

do tema, inicialmente, volta-se à atenção para alguns aspectos da origem e

desenvolvimento do comércio exterior. Faz-se, também, uma abordagem sucinta

acerca do procedimento de exportação e importação, com maior ênfase neste

último, apontando-se os documentos necessários, bem como a forma que se dá o

despacho aduaneiro.

Num segundo momento, são analisadas, de forma geral, as

infrações aduaneiras, destacando-se algumas peculiaridades e a questão da

responsabilidade pelo ato infracional aludido pelo Código Tributário Nacional e pelo

Regulamento Aduaneiro vigente.

Faz-se também um estudo das penalidades previstas no

Regulamento Aduaneiro atinentes à importação, com ênfase às características

gerais de cada espécie, quais sejam: pena de perdimento do veículo, perdimento de

mercadorias, perdimento de moeda, multas e sanções administrativas.

Em último plano, analisa-se o processo administrativo fiscal, de

forma breve, citando-se, em seguida, os princípios relacionados à aplicação de

penalidades, bem como princípios inerentes ao processo administrativo fiscal.

Destaca-se, por fim, a questão da relevação das penalidades prevista no

Regulamento Aduaneiro e a aplicabilidade do princípio da boa-fé no que tange à

penalização das infrações na importação, utilizando-se, para tanto, a interpretação

jurisprudencial.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto verificar A

Aplicabilidade do Princípio da Boa-Fé Face à Penalização das Infrações na

Importação.

Seu objetivo institucional é produzir uma monografia de

conclusão de curso para a obtenção de título de bacharel em ciências jurídicas pela

UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí. O seu objetivo geral é pesquisar e

dissertar sobre o procedimento de importação, infrações aduaneiras, penalidades

referentes à importação e sua relevação, tendo, finalmente, como objetivo específico

verificar a possibilidade de aplicação do princípio da boa-fé como excludente de

ilicitude das infrações atinentes à importação, apresentando o entendimento

jurisprudencial sobre o assunto.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da origem e

desenvolvimento do comércio exterior, os procedimentos de exportação e

importação, com ênfase neste último.

No Capítulo 2, tratando das infrações aduaneiras, seu conceito,

classificação e a responsabilidade pelo cometimento das mesmas. Observam-se,

também, as penalidades atinentes à importação, previstas no Regulamento

Aduaneiro, quais sejam: pena de perdimento de veículo, perdimento de mercadorias,

perdimento de moeda, multas e sanções administrativas.

No Capítulo 3, tratando do processo administrativo fiscal, dos

princípios correlatos à aplicação de penalidades e ao próprio processo administrativo

fiscal, da relevação das penalidades prevista no Regulamento Aduaneiro e da

aplicabilidade do princípio da boa-fé no que tange à penalização das infrações na

importação, utilizando-se, para tanto, da análise de julgados sobre o assunto.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentadas pontos conclusivos destacados,

seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o

princípio da boa-fé e sua aplicação face à penalização das infrações na importação.

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11

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

� O princípio da boa-fé não tem aplicabilidade no que

tange a imposição de penalidades, ante a previsão

expressa do Decreto nº 6.759/2009 (Regulamento

Aduaneiro) sobre a irrelevância do dolo e consequência

da infração para responsabilização do infrator.

� O princípio da boa-fé tem aplicabilidade quando

verificadas algumas circunstâncias e vem sendo

utilizado como fundamentação para decisões judiciais

sobre o assunto.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de

Investigação1 foi utilizado o Método Indutivo2, na Fase de Tratamento de Dados o

Método Cartesiano3, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia

é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas

do Referente4, da Categoria5, do Conceito Operacional6 e da Pesquisa Bibliográfica7.

1 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.

2 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86.

3 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

4 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54.

5 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25.

6 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37.

7 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209.

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As categorias fundamentais para a monografia, bem como os

seus conceitos operacionais serão apresentados no decorrer da monografia.

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CAPÍTULO 1

COMÉRCIO EXTERIOR: PROCEDIMENTOS DE EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO

1.1 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

O comércio exterior, sob o aspecto do capitalismo, teve origem

na Europa, a partir do século XI. Nesse sentido, esclarece Ricardo Dias:

A integração de diferentes economias numa só economia-mundo sob a égide do capitalismo teve seu início na Europa com o desenvolvimento e expansão de práticas comerciais que, em linhas gerais, podemos denominar de capitalistas, a partir do século XI.8

O fortalecimento dessa integração mundial em comércio

intensificou-se com as grandes navegações e, com a abertura de uma rota comercial

pelo Atlântico Sul rumo ao Oriente, a burguesia européia fortaleceu-se,

principalmente pelo crescente desenvolvimento das trocas comerciais.

As práticas comerciais entre os Estados por meio da

navegação foi impulsionada pelo reino de Portugal, o grande incentivador das novas

descobertas. Pontuando o aspecto histórico, Ricardo Dias diz que:

Já no século XV, antecipando-se a outros reinos, em Portugal o rei havia assumido o poder absoluto, centralizando o poder de Estado, submetendo a nobreza e estreitando os vínculos com os comerciantes. O Estado que nasce deste movimento logo se tornará o principal agente incentivador das novas descobertas e da expansão marítima européia. Este fenômeno, de formação de Estados absolutistas, se espalha a partir do século XV para Espanha, França e Inglaterra.9

8 CASSAR, Maurício. Uma análise das teorias clássicas de comércio exterior. Cap. 2. In: DIAS,

Ricardo.; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 53.

9 DIAS, Ricardo. As primeiras teorias de comércio exterior: o mercantilismo. Cap. 1. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 12-13.

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14

O comércio global, originalmente, fundava-se em meras

atividades artesanais, num contexto em que as pessoas buscavam apenas trocar

mercadorias entre si, em complementação a suas necessidades. Assim, preceitua

Maurício Cassar:

A troca de mercadorias entre os homens é uma atividade que advém desde os primórdios da civilização. Os antigos mercadores das companhias de comércio somente ampliaram o fenômeno do comércio global, desenvolvendo um ambiente favorável ao desenvolvimento conjunto dos diferentes países, cada qual segundo sua vocação principal.10

Com o passar do tempo, uma ação meramente artesanal

tornou-se uma atividade economicamente constituída, tendo real importância para

satisfação das necessidades de uma sociedade e para o crescimento de um país.

Os benefícios alcançados por essa atividade internacional são

diversos, podendo-se destacar o acesso a novas tecnologias e a diferentes padrões

de produção, acesso a maior diversidade de mercadorias pelas pessoas e a

ampliação do fluxo monetário entre países. (CASSAR, 2008).

O comércio internacional decorre primariamente das diferenças existentes entre os diversos países, que buscam complementar suas necessidades internas com produtos e serviços de outras regiões do planeta onde ocorrem em abundância. Nesse sentido, uma das justificativas do comércio exterior pode estar baseada conforme segue:

- diferentes condições de clima fazem com que a produção agrícola de um país seja diferente da de outro;

- a diversidade mineral do subsolo de diferentes regiões do planeta determina que alguns países sejam mais ricos em alguns tipos de minérios do que outros, obrigando as nações a comerciar entre si. Como exemplo, encontramos ricas jazidas de cobre no Chile e bauxita no Brasil;

- ganhos de escala pela produção de grandes volumes de maneira repetitiva proporcionam redução dos custos de produção;

- divisão do trabalho gera a especialização das atividades como um todo e, consequentemente, determina ganhos de produtividade pelo melhor aproveitamento dos recursos;

10 CASSAR, Maurício. Uma análise das teorias clássicas de comércio exterior. Cap. 2. In: DIAS,

Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 53

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- diferentes níveis de consumo e produção entre os países os levam a compatibilizar de maneira conjunta as fontes de produtos com seus consumidores. É o caso, por exemplo, da soja, em que, das 200 milhões de toneladas produzidas no mundo no período 2003/2004, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o Brasil contribuiu com cerca de 30% desse volume, junto com os Estados Unidos da América, que contribuem com 35% da soja mundial.11 (LUCCAS; CONCEIÇÃO, 2003 apud CASSAR, 2008)

Consoante esse entendimento, surgiram duas Teorias

Clássicas do Comércio Internacional: a Teoria da Vantagem Absoluta, de Adam

Smith, e a Teoria da Vantagem Comparativa, de David Ricardo.

Esses dois teóricos foram os principais autores do liberalismo

econômico: ambos compartilham as idéias de livre comércio e de atuação

governamental voltada para os interesses básicos do Estado, como é o caso da

saúde, educação e ordem pública.12

Tem em comum, ainda, o fato de serem favoráveis à completa

liberdade de comércio entre os países, garantindo-se que cada Estado, por meio de

seus empresários, busque produzir somente aquilo que tem maior vantagem em

termos de produtividade, custo e competência, buscando no mercado internacional

os produtos para os quais não apresenta uma significativa vantagem. (CASSAR,

2008).

Com a necessidade de aprimoramento do comércio mundial na

conjuntura internacional do pós-guerra, fez-se necessária a implementação de

algumas normas e organizações que regulassem a atividade, no intuito de que

fossem resolvidos conflitos de interesses e se propiciasse um desenvolvimento

fundado em bases legais e comuns a todas as nações. (CASSAR, 2008). Nesse

contexto, criou-se a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário

Internacional, entre outras organizações, que hoje são os principais agentes de

intervenção no comércio internacional.

11 CASSAR, Maurício. Uma análise das teorias clássicas de comércio exterior. Cap. 2. In: DIAS,

Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 61. 12 CASSAR, Maurício. Uma análise das teorias clássicas de comércio exterior. Cap. 2. In: DIAS,

Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 62.

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Faz-se necessário, ainda, para melhor compreensão do tema,

a verificação da composição das normas de comércio exterior. Nesse contexto,

contempla a obra de Dias e Rodrigues13:

Legislação Aduaneira – é o conjunto de normas (dispostas no

Regulamento Aduaneiro) de controle e fiscalização de mercadorias vindas do

exterior ou a ele destinadas, em território nacional, a título definitivo ou não.

Legislação Tributária de Comércio Exterior do Brasil – referem-

se às normas aplicáveis ao Imposto de Importação, ao Imposto sobre Produtos

Industrializados, ao Imposto de Exportação e às contribuições, taxas e infrações

cambiais relacionadas com importação e exportação.

Legislação administrativa de Comércio Exterior – compõe-se

de normas administrativas e de intercâmbio comercial, as quais regulamentam a

pauta de importação e exportação.

Legislação Cambial – compreende o conjunto de normas

disciplinadoras da entrada de dividas no país em pagamento das exportações, a

saída em pagamento das importações brasileiras e o registro de investimento

estrangeiro. Regulamentam, ainda, o sistema operacional de câmbio utilizado pelas

instituições financeiras.

Entendidas as normas que compõem o comércio exterior,

passa-se adiante ao estudo da exportação e da importação.

1.2 EXPORTAÇÃO

Para Houaiss (2001: 191), exportar é a venda ou envio de

produtos para fora do país, estado, cidade14. (Houaiss, 2001, apud, Rodrigues,

2008)

13 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 219, 220. 14 RODRIGUES, Waldemar. Sistemática de exportação: conceitos, operacionalização e práticas. Cap.

5. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 173

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17

Assim, pode-se dizer, em linhas gerais, que exportar é o ato de

mandar para fora do país mercadorias nacionais.

Segundo Vazquez,

[...] a exportação é a atividade que proporciona a abertura do país para o mundo. É uma forma de se confrontar com os demais parceiros e, principalmente, freqüentar a melhor escola de administração, já que, lidando com diferentes países, o país exportador assimila técnicas e conceitos a que não teria acesso em seu mercado interno.15

Nesse sentido, para o desenvolvimento da economia de um

país é necessária a prática de exportação.

1.2.1 Procedimento para exportação

Inicialmente, deve-se providenciar o registro da empresa no

Sistema Integrado de Comércio Exterior - SISCOMEX, ligado à rede SERPRO e

administrado pelo Ministério da Fazenda e da Indústria, Comércio e Turismo (MDIC).

O SISCOMEX permite os seguintes registros em relação à

exportação:

RE – Registro de Exportação;

RV – Registro de Venda;

SD – Solicitação de Despacho;

RC – Registro de Operações de Crédito;16

O SISCOMEX foi criado para diminuir a burocracia com a

exportação, no entanto, ainda existem alguns vícios por parte dos órgãos

governamentais que o administram. (Rodrigues, 2008).

Após ser definido qual produto se pretende exportar e para

qual país exportar, deve-se seguir alguns procedimentos administrativos para

15 VAZQUEZ, José Lopes. Comércio exterior brasileiro. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 179 16 VAZQUEZ, José Lopes. Comércio exterior brasileiro. p. 184

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obtenção do desembaraço aduaneiro. Nesse contexto, atente-se para os

documentos e registros necessários à exportação:

Fatura Proforma: É a base do contrato preliminar, é o primeiro

documento oficial que dá ciência ao importador acerca da mercadoria oferecida pelo

vendedor.

[...] pode ser desde uma carta contendo todos elementos

indispensáveis para ser considerado um documento, até um contrato formal

semelhante a uma fatura comercial.17

Confirmado o interesse na compra da mercadoria, o exportador

receberá do importador um pedido de compra ou uma carta de crédito de um banco,

geralmente estrangeiro, documentos que confirmam a aquisição da mercadoria.

Packing list/romaneio: Segundo Rodrigues (2008, p. 188), nada

mais é do que a identificação da mercadoria, quantidade, volume, referência, peso

bruto e líquido, marca e etc., por volume/embalagem.

Esse documento serve de orientação para o fiscal de

alfândega, para o importador, ou para qualquer fase do processo, a fim de que se

possa verificar fisicamente a mercadoria.

O próximo passo é o Registro de Exportação no SISCOMEX.

Registro de Exportação (RE): Documento no qual se registram

todos os dados de uma exportação. Referidos dados são transferidos dos

documentos que foram preparados anteriormente (interno ou externo), para o

Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX).

[...] o Registro de Exportação é um conjunto de informações de

natureza comercial, financeira, cambial e fiscal que caracteriza a operação de

exportação de uma mercadoria...18 (Ratti, 1997, apude, Rodrigues, 2008)

17 RODRIGUES, Waldemar. Sistemática de exportação: conceitos, operacionalização e práticas. Cap.

5. In: DIAS, Ricardo, RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 184. 18 RODRIGUES, Waldemar. Sistemática de exportação: conceitos, operacionalização e práticas. Cap.

5. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 189

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19

Nota fiscal: A nota fiscal deve ser emitida juntamente com o

Registro de Exportação e acompanhará a mercadoria em todo percurso, desde a

saída do estabelecimento exportador até o local do desembaraço, para, então,

seguir para o exterior.

Fatura Comercial (Commercial Invoice): É considerado um dos

documentos mais importantes no comércio exterior. Nela estão contidos os

elementos relacionados com a operação de exportação. (Rodrigues, 2008)

Registro de Operação de crédito (RC): Registro que deve ser

realizado anteriormente ao preenchimento do RE, nos casos em que se conceda

prazo para pagamento superior a 180 dias, da data do embarque da mercadoria.

Registro de Venda (RV): O RV é o registro que deve ser

preenchido nos casos de produtos negociados em bolsas internacionais de

mercadorias ou de produtos primários.19

Declaração Simplificada de Exportação (DSE): Declaração

para operações de exportação cujo valor não ultrapasse dez mil dólares americanos,

entre outros requisitos. Tem como finalidade facilitar e simplificar a exportação.

A DSE é submetida ao módulo de seleção parametrizada do

SISCOMEX, sendo que a seleção para conferência deve seguir os critérios

estabelecidos pela Coordenação Geral do Sistema Aduaneiro (COANA), e pela

unidade local da SRE. (Rodrigues, 2008)

Averbação do Embarque: Estando corretas as informações,

sem qualquer divergência, o sistema fará a averbação dos despachos aduaneiros

automaticamente.

Reserva de Praça: É um ato administrativo de grande

importância, pois consiste em conseguir um espaço suficiente no meio de transporte

19 RODRIGUES, Waldemar. Sistemática de exportação: conceitos, operacionalização e práticas. Cap.

5. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 190.

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20

internacional mais adequado que levará a carga para o exterior.20 (Rodrigues, 1996,

apude, Rodrigues, 2008)

Conhecimento Internacional de Embarque (de carga): Segundo

Waldemar Rodrigues21, é um documento, geralmente emitido em três vias originais,

o qual da posse da carga à empresa ou pessoa que estiver com seu nome nele

consignado. O conhecimento Internacional de Embarque corresponde ao título de

propriedade da mercadoria.

Certificados: São necessários, dependendo do país e da

mercadoria que se está exportando. Tais certificados atestam, conforme preceitua

Waldemar Rodrigues22:

• Qualidade;

• Fitossanitário;

• Certas especificações do produto;

• Índice de nacionalização;

• Legalização consular;

• Apólice ou certificado de seguros.

Despacho Aduaneiro de Exportação: para Waldemar

Rodrigues:

O despacho aduaneiro de exportação é o procedimento fiscal de desembaraço da mercadoria destinada ao exterior, com base nas informações contidas no RE, na primeira via da nota fiscal e nos dados sobre a disponibilidade da mercadoria para verificação das autoridades aduaneiras, sendo processado por intermédio do SISCOMEX (regra geral).23

20RODRIGUES, Waldemar. Sistemática de exportação: conceitos, operacionalização e práticas. Cap.

5. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 194 21 RODRIGUES, Waldemar. Sistemática de exportação: conceitos, operacionalização e práticas. Cap.

5. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 197 22RODRIGUES, Waldemar. Sistemática de exportação: conceitos, operacionalização e práticas. Cap.

5. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 196 23 RODRIGUES, Waldemar. Sistemática de exportação: conceitos, operacionalização e práticas. Cap.

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21

É o procedimento necessário ao desembaraço da mercadoria,

permitindo a efetivação da exportação, com a liberação da mercadoria para o

exterior. Nesse sentido, também dispõe o art. 580 do Decreto nº 6.759/09

(Regulamento Aduaneiro):

Art. 580 – Despacho de exportação é o procedimento mediante o qual é verificada a exatidão dos dados declarados pelo exportador em relação à mercadoria, aos documentos apresentados e à legislação específica, com vistas a seu desembaraço aduaneiro e a sua saída para o exterior.24

Enfim, o despacho de exportação tem por finalidade obter o

desembaraço da mercadoria destinada ao exterior.

1.2.2 Tipos de Exportação

A exportação direta, a exportação indireta e a exportação por

consórcios constituem os principais modos de exportar. Entretanto, tendo em vista

não ser este o foco temático da pesquisa, restringir-se-á a abordagem sucinta das

formas direta e indireta de exportação.

Consoante esclarece Waldemar Rodrigues25, na exportação

efetuada sob a modalidade direta a mercadoria exportada é faturada pelo

comerciante ao importador e tem como benefícios a isenção do IPI e ICMS.

Já no que concerne à exportação indireta, esta é realizada por

intermédio de empresas brasileiras, a exemplo, as trading companies, que adquirem

produtos para exportá-los.

1.3 IMPORTAÇÃO

Pode-se destacar a importância da importação, pelos

esclarecimentos de Maria Rebono26, ao afirmar que nenhum país, no máximo de

5. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 198

24 BRASIL, Decreto nº 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro). 25 RODRIGUES, Waldemar. Sistemática de exportação: conceitos, operacionalização e práticas. Cap.

5. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior: teoria e gestão. p. 201 26 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 213

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seus esforços, consegue ser auto-suficiente, com a eficiência necessária, seja pela

limitação de seus recursos naturais, pelo nível de desenvolvimento tecnológico e

científico ou pela capacidade produtiva de sua mão-de-obra.

Samir Keedi faz o seguinte apontamento sobre o assunto:

A importância da importação está na diversificação de mercados, deixando de atuar apenas no mercado interno nas suas compras, aumentando o seu leque de fornecedores reduzindo seus riscos de crise de mercado como aumento de preços e política governamental, para citar apenas dois motivos.27

Uma das consequências relevantes em relação à importação é

a especialização do país em determinado segmento do mercado, uma vez que se

dedicam às coisas que têm condições de melhor produzirem.

No que tange ao conceito desse instituto, conforme se verifica

no manual de importação28, pode-se defini-lo como o procedimento por meio do qual

se realiza a compra de produtos no exterior, e na entrada de mercadorias num país,

provenientes do exterior. É, ainda, a entrada de mercadorias estrangeiras no país,

fundadas em documentos oficiais e observadas as normas comerciais, cambiais e

fiscais vigentes.

Observe-se o conceito dado por Paulo Wernek:

Importação é a entrada da mercadoria estrangeira no território nacional, por prazo limitado (admissão temporária) ou definitivo (importação para consumo).29

Vale ressaltar que a importação pode ser tanto de mercadorias,

quanto de serviços. Mas independente da natureza daquilo que se importa, o

procedimento de importação visa a nacionalização.

27 KEEDI, Samir. ABC do comércio exterior: abrindo as primeiras páginas. 2. ed. São Paulo:

Aduaneiras, 2004. p. 24, 25 28 Manual de importação. Disponível em: <www.unesp.com.br/manual-importação>. Acessado em 12

maio 2010. 29 WERNECK, Paulo. Comércio Exterior e Despacho Aduaneiro. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2010. p. 22.

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23

1.3.1 Tipos de Importação

Consoante Rebono (2008: 258), as importações podem ser de

dois tipos: definitivas ou não definitivas.

A importação do tipo definitiva, conforme orientação do manual

de importação da UNESP,

“[...] ocorre quando a mercadoria importada é nacionalizada, independentemente da existência de cobertura cambial, ou seja, mesmo nos casos que não haja relação de compra e venda (transação comercial).”30

Para Rebono (2008: 258), esse tipo de importação torna

possível a integração do produto à massa de riquezas do país, podendo-se transferir

a propriedade do bem para qualquer pessoa estabelecida aqui, através do

conhecimento de embarque.

Já a importação do tipo não definitiva é aquela em que a

mercadoria importada não é nacionalizada. Isso porque, a princípio, o produto será

devolvido para o exterior.

[...] nestas não ocorre a nacionalização [...] nas hipóteses de nacionalização de importações inicialmente ingressadas no país em caráter não definitivo, outros documentos, tais como a fatura comercial, podem servir de comprovação à referida transferência.31

Verifica-se esse tipo de importação quando os produtos

ingressam no país com a finalidade de conserto, manutenção ou reparo,

participação em exposições, etc.

Cumpre ressaltar que as mercadorias importadas a título não

definitivo podem, por opção do importador, tornar-se definitivas, observando-se aí os

procedimentos necessários a esta modalidade.

Outra modalidade de importação é o despacho para o

consumo. 30 Manual de importação. Disponível em: <www.unesp.com.br/manual-importação>. Acessado em 31

jul 2010. 31 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 258

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24

O despacho para consumo ocorre quando as mercadorias ingressadas forem destinadas ao uso, pelo aparelho produtivo nacional, como insumos, matérias-primas, bens de produção e produtos intermediários, bem como quando forem destinadas à comercialização e à revenda.32

Através desse despacho, a mercadoria nacionalizada é

colocada à disposição do adquirente, para seu uso ou consumo.

1.3.2 Processo de Importação

Inicialmente, cumpre esclarecer que a fase preliminar do

processo de importação é a negociação. Nesta fase, o importador solicita ao

exportador a emissão da proforma invoice (uma proposta de venda referente aos

materiais que estão sendo importados) a qual formaliza e confirma a negociação,

contanto que devolvida ao exportador contendo o aceite do importador para as

especificações necessárias contidas no documento.33

Superada essa fase de negociação e formalização da compra,

é o momento de o importador analisar os procedimentos e requisitos gerais para que

a mercadoria seja importada.

1.3.2.1 Classificação de mercadorias

Utilizada para fins de controle estatístico e determinação do

tratamento administrativo requerido para determinado produto, a classificação de

mercadorias determina os tributos envolvidos nas operações de importação e

exportação.

Segundo Maria Rebono34, a partir da descrição de cada

produto por meio de uma análise das características genéricas e detalhadas é que

se obtém a classificação da mercadoria que corresponderá a um código numérico.

32 Imposto de Importação: o procedimento de despacho aduaneiro. Disponível em:

<www.jus2.uol.com.br/doutrina. Acessado em 01 ago 2010. 33 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 240 34 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 241

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25

No intuito de viabilizar a classificação, atualmente o Brasil

utiliza o Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias. Esse

Sistema tem como objetivo compatibilizar as nomenclaturas aduaneiras e

estatísticas.

1.3.2.2 Licenciamento de Importação

O Licenciamento de Importação está previsto no Decreto nº

6.759/09 (Regulamento Aduaneiro), no art. 550, o qual assim dispõe:

Art. 550. A importação de mercadoria está sujeita, na forma da

legislação específica, a licenciamento, por meio do SISCOMEX.35

O licenciamento pode ocorrer de duas formas, automática ou

não automática.

A Licença de Importação não automática é exigida no caso de importação de mercadoria sujeita a controles especiais do órgão licenciador, Secex ou dos demais órgãos federais que atuam como anuentes.36

A forma de licenciamento da importação variará conforme a

mercadoria.

Assim, consoante Maria Rebono (2008: 253), pode-se citar

como exemplo de licenciamento não automático, a importação de material

radioativo, entre outras mercadorias que, por suas peculiaridades dependem de

anuência prévia de importação.

Nos casos de LI não automática, o importador deverá solicitar a

concessão antes de autorizar o embarque da mercadoria no exterior [...]37

No que se refere à LI automática, o SISCOMEX apresenta a

seguinte definição: “licença de importação em que a aprovação do pedido é

35 BRASIL, Decreto nº 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro). 36 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 252 37 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo.; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 253.

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26

concedida em todos os casos e não é administrada de modo a exercer efeitos

restritivos às importações objeto de licença automática.” 38

Esse tipo de licença é concedida em operações que não se

sujeitam a controle prévio ou ao cumprimento de condições especiais, no momento

de formulação da Declaração de Importação.

1.3.2.3 Embarque da mercadoria

Superada a fase de operação comercial, com licenciamento de

importação automático ou não automático, o importador está apto a autorizar o

embarque da mercadoria ao exterior.

Após o embarque, o exportador remeterá, de acordo com a modalidade de pagamento convencionada, os documentos que permitirão ao importador liberar as mercadorias na alfândega brasileira.39

Anote-se que as operações que não se sujeitam ao controle

prévio ou ao cumprimento de exigências especiais têm o licenciamento concedido

automaticamente, por ocasião da formulação da DI no SISCOMEX.

1.3.2.4 Recebimento da mercadoria importada

Não menos importante que os demais, o recebimento da

mercadoria deve ser bem planejado pelo importador, tendo em vista que os pontos

de entrada diferem entre si, podendo ser por aeroporto, porto ou fronteira. Nesse

sentido, esclarece Rebono:

[...] é importante para o importador conhecer os procedimentos

quando da chegada da carga, para que, em caso de urgência, possa solicitar mais

agilidade ao setor correto.40

Desembarcada a mercadoria, o próximo passo é a liberação.

38 Sistema de Informação sobre Comércio Exterior. Disponível em:

<www.sice.oas.org/dictionary/TNTM_p.asp. Acessado em 22 jul 2010. 39 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 254. 40 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 254.

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27

1.3.2.5 Liberação da mercadoria importada

Também denominada de despacho aduaneiro, a liberação da

mercadoria importada “[...] é o procedimento fiscal mediante o qual se processa o

desembaraço aduaneiro de mercadoria procedente do exterior, seja importada a

título definitivo ou não.” 41

O despacho aduaneiro de mercadorias na importação,

conforme disposição do Ministério da Fazenda42, é o procedimento pelo qual se

verifica a veracidade dos dados declarados pelo importador em relação às

mercadorias importadas, aos documentos apresentados e à legislação específica, a

fim de que se obtenha o desembaraço aduaneiro.

Sobre o assunto dispõe o Decreto nº 6.759/09 (Regulamento

Aduaneiro):

Art. 542. Despacho de importação é o procedimento mediante o qual é verificada a exatidão dos dados declarados pelo importador em relação à mercadoria importada, aos documentos apresentados e à legislação específica.43

Essa fase pode ser considerada uma das mais burocráticas e

detalhistas do processo de importação e se inicia com o registro da Declaração de

Importação. O art. 545 do Decreto nº 6.759/09 (Regulamento aduaneiro), diz que

tem-se por iniciado o despacho de importação na data do registro da declaração de

importação.

No que tange ao prazo para se iniciar a liberação da

mercadoria, observe-se:

Art. 546. O despacho de importação deverá ser iniciado em (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 44, com a redação dada pelo Decreto-Lei n o 2.472, de 1988, art. 2º):

I - até noventa dias da descarga, se a mercadoria estiver em recinto alfandegado de zona primária;

41 BARBOSA, João Bizelli Ricardo. Noções Básicas de Importação. São Paulo: Aduaneiras, 1992.

p.125. 42 Ministério da Fazenda. Disponível em: <www.receita.fazenda.gov.br/aduana>. Acessado em 12

maio 2010. 43 BRASIL, Decreto nº 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro).

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28

II - até quarenta e cinco dias após esgotar-se o prazo de permanência da mercadoria em recinto alfandegado de zona secundária; e

III - até noventa dias, contados do recebimento do aviso de chegada da remessa postal.44

A observância dos prazos, consoante Barbosa (1992:125), é

primordial, vez que a inobservância é considerada como dano ao erário, por

abandono, justificando a aplicação da pena de perdimento das mercadorias.

No que concerne ao sujeito habilitado para exercer as

atividades relacionadas ao despacho de importação, este, que pode ser tanto

pessoa física ou jurídica, ou ainda entidade que possua interesse direto na

operação, tem a faculdade de exercê-las pessoalmente ou através de representante

legal, ou empregado, ou despachante aduaneiro.

Ainda sobre o assunto, esclarece Barbosa:

Os órgãos da administração pública direta e autárquica federal, estadual ou municipal, as missões diplomáticas e repartições consulares de países estrangeiros e as representações de órgãos internacionais poderão exercer as atividades relacionadas com o despacho aduaneiro, quanto às próprias operações, através de servidor especialmente designado.45

Denota-se dos esclarecimentos de Barbosa que tratando-se de

importação realizada por órgãos da administração pública, o despacho aduaneiro

deverá ser realizado por servidor especialmente designado.

Feita as considerações iniciais acerca do despacho aduaneiro

de importação, atente-se agora para a Declaração de Importação, documento este

que dá início ao despacho.

1.3.2.5.1 Declaração de Importação

Para Rebono,

44 BRASIL, Decreto nº 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro). 45 BARBOSA, João Bizelli Ricardo. Noções Básicas de Importação. 1. ed. São Paulo: Aduaneiras,

1992. p.126.

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29

A DI é o documento-base do despacho de importação. Esse documento compreende uma série de informações específicas de cada mercadoria objeto da importação, tomadas do SISCOMEX, contendo inclusive os dados necessários para o fechamento do contrato de câmbio e o valor de impostos e taxas a serem pagos.46

Outra definição para Declaração de Importação pode-se

verificar no manual disponibilizado no site da UNESP:

A Declaração de Importação é o documento base do despacho de importação, formalizado, pelo importador ou por seu despachante aduaneiro, no SISCOMEX, no momento do desembaraço da mercadoria. A DI é exigida em todas as importações e compreende o conjunto de informações comerciais, cambiais e fiscais necessárias à análise da operação.47

Conforme Barbosa (1992:126), a DI possui um modelo próprio

nacional, aprovado pelo Departamento da Receita Federal, e nela encontram-se os

elementos indispensáveis à identificação do importador e da mercadoria, à

quantificação, valoração e o cálculo dos impostos devidos ou não.

Rebono (2008: 254) divide a DI em três tipos diferentes:

Declaração de Importação Comum, Declaração de Importação Antecipada e

Declaração Simplificada de Importação (DSI).

A Declaração de Importação Comum é utilizada com o intuito

de se obter a nacionalização total da mercadoria.

[...] pode ser utilizada nos terminais alfandegados e nas zonas

primárias (portos, aeroportos e pontos de fronteiras).48

A Declaração de Importação Antecipada, como denota-se do

próprio nome, antecipa-se à chegada da mercadoria à unidade da Receita Federal

de despacho.

A DI relativa à mercadoria que proceda diretamente do exterior poderá ser registrada antes da sua descarga na unidade da SRF de

46 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 254. 47 Manual de importação. Disponível em: <www.unesp.com.br/manual-importação>. 48 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 254.

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30

despacho, quando se tratar de mercadoria inflamável, corrosiva, radioativa ou que apresente características de periculosidade, entre outras hipóteses.49

As mercadorias corrosivas, inflamáveis, radioativas,

mercadorias em geral que representem características de periculosidade, plantas,

animais vivos, frutas frescas, são exemplos de produtos que se beneficiam com

esse tipo de declaração.

O Decreto nº 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro) dispõe em

seu art. 579, inciso I, que: a Secretaria da Receita Federal do Brasil poderá, em ato

normativo, autorizar o início do despacho aduaneiro antes da chegada da

mercadoria;50

Já a Declaração Simplificada de Importação (DSI) é utilizada

em casos específicos. É regulamentada pela Instrução Normativa nº 611 de 2006

que fixa as situações que autorizam o uso desse tipo de declaração em seu art. 3º,

podendo ser citado como exemplo, as encomendas internacionais, os insumos e

produtos acabados importados sem cobertura cambial, algumas formas de admissão

temporária, bagagem desacompanhada, etc.

Preenchida a Declaração de Importação e verificada a

ausência de qualquer irregularidade, deverá ser instruída a DI com alguns

documentos.

O primeiro documento é o conhecimento de embarque ou

equivalente que comprove a posse ou propriedade da mercadoria.

Trata-se de documento emitido exclusivamente no país de origem da mercadoria por empresas de transporte internacional ou seus representantes. É exigido no processo de liberação da importação no Brasil, pois contém informações relevantes, e deve ser apresentado à SRF junto com os demais documentos que instruem o despacho, por isso deve ser original e preenchido corretamente.51

49 MANZOLI, Danielle Rodrigues. Despacho Aduaneiro de Importação (Parte I). Disponível em:

<www.intelog.net/artigosnoticias>. Acessado em 25 jan 2010. 50 BRASIL, Decreto nº 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro). 51 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 255.

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31

Sem esse documento, ou seu equivalente, não é possível o

desembaraço e, dessa forma, previne-se também eventual desembaraço de

mercadoria obtida ilegalmente.

A fatura comercial também deve acompanhar a DI e constitui

documento indispensável a qualquer operação de comércio exterior. Contém dados

imprescindíveis, tais como de quantidade, espécie e valor das mercadorias que lhe

correspondam [...]52

O packing list ou romaneio de embarque, por sua vez, tem por

finalidade permitir uma completa verificação da mercadoria quando do desembaraço

aduaneiro.

É emitido e enviado do exterior pelo exportador e, apesar de não ser um documento legal, é exigido pela fiscalização para auxiliar na conferência da mercadoria, pois é uma lista com as características dos diferentes volumes que compõem um embarque: número, peso, marca, entre outras.53

Ainda sobre o romaneio, observa-se no manual de importação

da UNESP o seguinte:

A packing list relaciona as mercadorias embarcadas dentro de suas respectivas embalagens (containers, pallets ou outros). Contém também outras informações como, destinatário, quantidade de volumes, marcas, etc.54

Integra a DI, também, o certificado de origem. Afirma Barbosa

(1992: 127) que o certificado de origem é exigido no caso de importação de

mercadorias que usufruem de tratamento tributário favorecido, em razão de sua

origem. A respeito desse certificado pode-se citar o disposto na Instrução Normativa

da Receita Federal do Brasil nº 885 de 6 de novembro de 2008:

Art. 1º. Nas transações comerciais amparadas pelo Qüinquagésimo Nono Protocolo Adicional, que incorporou ao Acordo de Complementação Econômica nº 18 a Decisão nº 25/07 do Conselho

52 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 256. 53 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 256. 54 Manual de importação. Disponível em: <www.unesp.com.br/manual-importação>.

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do Mercado Comum do Mercosul, relativa a Transações Comerciais em Moedas Locais, não constitui impedimento para o reconhecimento do tratamento tarifário preferencial o certificado de origem, apresentado como documento instrutivo da declaração de importação, emitido ao amparo do Quadragésimo Quarto Protocolo Adicional ao Acordo de Complementação Econômica nº 18 que contenha em seu campo 12 valores transacionados em moeda local, a despeito da menção a "Valor FOB em dólares".55

Consoante os ensinamentos de REBONO (2008: 256), esse

documento, por atestar a origem da mercadoria, é utilizado em importações de

produtos objetos de tratados internacionais firmados entre o país do exportador e do

importador, a fim de que se obtenha isenção ou redução de impostos no destino.

Em alguns casos, poderá ser exigido também o certificado

sanitário e fitossanitário. O primeiro utilizado para produtos de origem animal e o

segundo para produtos de origem vegetal, são exigidos pela legislação quando da

importação de produtos agropecuários, a fim de que se verifique a sanidade dos

mesmos, conforme REBONO (2008: 257). Tais documentos são de grande

importância, tendo em vista que impedem a [...] entrada e disseminação de doenças

e pragas que representem ameaça à agropecuária nacional, garantindo a qualidade

de produtos agropecuários.56

Por fim, deverá acompanhar a DI o comprovante de pagamento

de tributos, quando incidentes sobre a operação.

No que tange ao conteúdo da DI, consoante disposição do

Decreto nº 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro), art. 551 e parágrafos, a declaração

de importação deverá conter a identificação do importador, a identificação, a

classificação, o valor aduaneiro e a origem da mercadoria, ficando autorizada a

Secretaria da Receita Federal do Brasil exigir neste documento outras informações,

até mesmo destinadas a elaboração de estatísticas do comércio exterior, e a

estabelecer diferentes tipos de apresentação da declaração adequadas à natureza

do despacho.

55 BRASIL, Instrução Normativa RFB nº 885 de 6 de novembro de 2008. Publicada em 7 nov 2008. 56 REBONO, Maria. Processo de Importação. Cap. 6. In: DIAS, Ricardo; RODRIGUES, Waldemar.

Comércio exterior: teoria e gestão. p. 257.

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Informações mais detalhadas sobre podem ser obtidas na

Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal nº 680, de 2 de outubro de

2006, que dá as diretrizes para o despacho aduaneiro de importação.

1.3.2.5.2 Conferência e desembaraço aduaneiro

Superada a fase de registro da Declaração de Importação, a

mesma será submetida à análise fiscal e selecionada para um dos seguintes canais

de conferência aduaneira, através do SISCOMEX, conforme art. 21 da IN SRF 680,

de 2 de outubro de 2006:

I - verde, pelo qual o sistema registrará o desembaraço automático da mercadoria, dispensados o exame documental e a verificação da mercadoria;

II - amarelo, pelo qual será realizado o exame documental, e, não sendo constatada irregularidade, efetuado o desembaraço aduaneiro, dispensada a verificação da mercadoria;

III - vermelho, pelo qual a mercadoria somente será desembaraçada após a realização do exame documental e da verificação da mercadoria; e

IV - cinza, pelo qual será realizado o exame documental, a verificação da mercadoria e a aplicação de procedimento especial de controle aduaneiro, para verificar elementos indiciários de fraude, inclusive no que se refere ao preço declarado da mercadoria, conforme estabelecido em norma específica.57

Esclarece Rebono (2008: 259) que o sistema automaticamente

selecionará, por parametrização, após o registro da DI, o canal de conferência

aduaneira da operação.

A conferência aduaneira é o ato pelo qual o agente fiscal, na presença do importador ou de seu representante, procede ao exame físico da mercadoria, em confronto com os elementos constantes da DI e de seus Anexos e à vista da documentação apresentada pelo importador.58

Consoante ensina Rebono (2008: 259), no canal verde o

desembaraço ocorre de forma automática, mas comporta exceções, podendo o

57 BRASIL, Instrução Normativa SRF nº 680. Publicada em 5 out 2006. 58 BARBOSA, João Bizelli Ricardo. Noções Básicas de Importação. São Paulo: Aduaneiras, 1992.

p.128.

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inspetor da alfândega ou o auditor fiscal da SRF selecionar um percentual de

processos em canais verdes e direcioná-los para conferência física e documental, o

que se denomina de “malha fina”.

No canal amarelo, ocorre a análise documental pelo fiscal, que

verificando não existir irregularidades, efetiva o desembaraço aduaneiro. Assim

como no canal verde, o auditor fiscal pode solicitar a conferência física da

mercadoria.

Já os processos que são parametrizados para o canal

vermelho se sujeitam à conferência física e ao exame documental. A conferência

física é agendada pelo auditor e realizada na presença do importador.

As importações direcionadas para o canal cinza, além da

análise documental e da verificação física da mercadoria, sujeitam-se também ao

exame de valoração aduaneira.

No que tange à valoração aduaneira, dispõe o Decreto nº

6.759/09 (Regulamento Aduaneiro):

Art. 76. Toda mercadoria submetida a despacho de importação está sujeita ao controle do correspondente valor aduaneiro.

Parágrafo único. O controle a que se refere o caput consiste na verificação da conformidade do valor aduaneiro declarado pelo importador com as regras estabelecidas no Acordo de Valoração Aduaneira.59

Concluída a conferência, o desembaraço aduaneiro é o último

ato do despacho aduaneiro. Neste, é autorizada a entrega da mercadoria ao

importador.

1.3.2.5.3 Retificação da Declaração de Importação

É a alteração de dados ou inclusão de outros na DI. O Decreto

nº 6.759/09 (Regulamento aduaneiro) dispõe em seu art. 552 que:

Art. 552. A retificação da declaração de importação, mediante alteração das informações prestadas, ou inclusão de outras, será

59 BRASIL, Decreto nº 7.659/09 (Regulamento Aduaneiro).

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feita pelo importador ou pela autoridade aduaneira, na forma estabelecida pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.60

Já na Instrução Normativa nº 680 de 2 de outubro de 2006,

encontram-se os seguintes esclarecimentos:

Art. 44. A retificação de informações prestadas na declaração, ou a inclusão de outras, no curso do despacho aduaneiro, ainda que por exigência da fiscalização aduaneira, será feita, pelo importador, no SISCOMEX.61

O art. 45 da mesma Instrução Normativa esclarece, ainda, que

a retificação da DI poderá ser de ofício ou mediante solicitação do importador.

Para Rebono (2008: 262), um erro na classificação fiscal pode

caracterizar um motivo para retificação da DI, que ao ser corrigida implicará no

recolhimento obrigatório de tributos e multas devidas.

60 BRASIL, Decreto nº 7.659/09 (Regulamento Aduaneiro). 61 BRASIL, Instrução Normativa SRF nº 680. Publicada em 5 nov 2006.

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CAPÍTULO 2

A RESPONSABILIDADE PELO COMETIMENTO DE INFRAÇÕES E AS PENALIDADES APLICÁVEIS À IMPORTAÇÃO PREVISTAS NO

DECRETO Nº 6.759/09

Dado início ao procedimento de importação, o importador

passa a estar sujeito ao pagamento de multas por deixar de cumprir algo

estabelecido na legislação que fixa os procedimentos referentes ao comércio

exterior. Por isso, é necessário que este realize um estudo prévio da legislação para

cumpri-la integralmente e não iniciar a importação sem conhecer o procedimento

correto a ser seguido.

Por mais que alguns casos passem despercebidos, isso não

significa a liberação total do importador, vez que o Decreto nº 6.759/09 estabelece o

instituto da revisão aduaneira. Observe-se o art. 638:

Art. 638. Revisão aduaneira é o ato pelo qual é apurada, após o desembaraço aduaneiro, a regularidade do pagamento dos impostos e dos demais gravames devidos à Fazenda Nacional, da aplicação de benefício fiscal e da exatidão das informações prestadas pelo importador na declaração de importação, ou pelo exportador na declaração de exportação (Decreto-Lei n o 37, de 1966, art. 54, com a redação dada pelo Decreto-Lei n o 2.472, de 1988, art. 2 o ; e Decreto-Lei n o 1.578, de 1977, art. 8 o ).62

A revisão aduaneira é uma faculdade dada ao auditor fiscal de

revisar o despacho, depois de efetivado o desembaraço aduaneiro, ou seja, depois

de liberada a mercadoria e, constatando alguma irregularidade, aplicar a penalidade

cabível. Sendo que isso é possível no prazo de cinco anos, contados do registro da

declaração de importação.

Nesse sentido, o importador deve estar atento ao realizar uma

importação, adotando as providências necessárias para que não cometa infrações e

se sujeite, assim, às penalidades cabíveis.

62 BRASIL, Decreto 6.759/2009 (Regulamento Aduaneiro).

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2.1 DAS INFRAÇÕES ADUANEIRAS EM GERAL

2.1.1 Considerações iniciais

Primeiramente deve-se observar a definição dada pelo

Regulamento Aduaneiro, que, ao dispor sobre o assunto, informa que a

responsabilização do infrator independe da conduta ter sido praticada com ou sem

intenção. Dispõe o art. 673 da referida norma:

Art. 673. Constitui infração toda ação ou omissão, voluntária ou involuntária, que importe inobservância, por parte de pessoa física ou jurídica, de norma estabelecida ou disciplinada neste Decreto ou em ato administrativo de caráter normativo destinado a completá-lo (Decreto-Lei n o 37, de 1966, art. 94, caput).63

A infração aduaneira é toda ação ou omissão decorrente da

falta de observância da legislação aduaneira.

Paulo Cesar Alves Rocha (2010), explica-se que é normal

serem confundidos os indícios de infração com a infração propriamente dita. A

infração deve ser comprovada, e isso só é possível por meio de um processo, o qual

deve observar os princípios do contraditório e da ampla defesa. Pelo disposto no art.

5º da Constituição Federal de 1988, a aplicação de penalidades, independente das

circunstâncias, é fruto obrigatório de um processo fiscal, mediante o qual se

possibilitou ao sujeito passivo exercitar o seu direito de defesa.

Roosevelt Baldomir Sosa, em sua obra Comentários à Lei

Aduaneira, faz o seguinte apontamento sobre o assunto: “a infração, lato sensu é

conduta contra legem, no sentido de agir contra ou omitir-se relativamente a preceito

de lei. Infringir a lei é descumpri-la.” 64

Observa-se, assim, no que concerne a responsabilidade pela

infração aduaneira, o caráter objetivo, ou seja, a irrelevância da intenção do agente

para se constituir a infração.

63 BRASIL, Decreto 6.759/2009 (Regulamento Aduaneiro). 64 SOSA, Rosevelt Baldomir. Comentários à Lei Aduaneira: decreto nº 91.030/85. São Paulo:

Aduaneiras, 1995. p. 400.

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No Código Tributário Nacional deve-se observar a disposição

do art. 136, que estabelece a responsabilidade pelas infrações à lei tributária

independentemente da intenção do agente ou do responsável e da efetividade,

natureza e extensão dos efeitos do ato. A responsabilidade que se menciona nesse

artigo não se refere à sujeição de alguém às conseqüências de seus atos. Leandro

Paulsen, em seu livro Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da

doutrina e da jurisprudência (2008: 960), citando Luciano da Silva Amaro, diz que

um indivíduo ao descumprir uma obrigação formal, independente de ser contribuinte

de tributo, sofre as conseqüências de seus atos.

[...] a infração aduaneira deve ser encarada primeiramente de ponto de vista estritamente objetivo, formal, sem que se ignore seu aspecto subjetivo. Caso manifesta a intenção da prática delituosa, por dolo ou culpa, o elemento subjetivo pode vir a influenciar decisivamente o conseqüente infracional, seja a sanção.65

Importante apontamento faz-se na obra Importação e

Exportação no Direito Brasileiro, coordenada por Vladimir Passos de Freitas (2007),

ao se explicar o art. 602, do antigo Regulamento Aduaneiro (Decreto 4.543/2002),

que foi reproduzido pelo art. 673 do novo Regulamento. Explica-se que o referido

dispositivo evidencia o intuito de considerar infração toda e qualquer ação ou

omissão que transgrida norma legal, independentemente de que se verifique

elemento volitivo.

No que tange à intenção, por analogia ao direito penal, pode-se

dividir as infrações em dolosas e culposas. Diz-se dolosa a conduta praticada com

intenção de produzir o resultado. Fernando Capez esclarece que o dolo é [...] a

vontade e a consciência de realizar os elementos constantes do tipo legal. Mais

amplamente, é a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta.66

Pode-se destacar, dentre as várias espécies de dolo

conceituadas por Fernando Capez, o dolo natural, o dolo normativo, o dolo direto e o

dolo indireto.

65 SOSA, Rosevelt Baldomir. Comentários à Lei Aduaneira: decreto nº 91.030/85. São Paulo:

Aduaneiras, 1995. p. 401. 66 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1: parte geral (arts. 1º a 120). 9ª. ed. rev. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2005. p.198.

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Dolo natural é aquele decorrente de um simples querer, de

uma vontade, sem consciência de que o fato praticado é ilícito.

Originado da teoria clássica, o dolo normativo, por sua vez, não

se constitui num elemento puramente psicológico, é um querer algo errado.

Segundo Capez (2005: 205), a teoria que defende o dolo

normativo está ultrapassada, vez que o dolo não depende de apreciações

valorativas e a consciência da ilicitude não é elemento de composição do dolo, mas

sim da culpabilidade.

Também conhecido por dolo determinado, o dolo direto é

aquele em que o agente pratica o ato almejando diretamente o resultado. Há um

encaixe perfeito da conseqüência com a causa.

Por último, o dolo indireto ou indeterminado ocorre quando o

agente pratica a conduta sem querer diretamente o resultado, mas assume o risco

de produzi-lo.

Observando-se agora a culpa, como bem acentua Capez

(2005: 206), esta se verifica através de uma comparação entre o comportamento

realizado pelo sujeito na situação fática e aquele que uma pessoa de prudência

normal, mediana, teria naquelas mesmas circunstâncias.

A conduta normal é aquela ditada pelo senso comum e está

prevista na norma, que nada mais é do que o mandamento não escrito de uma

conduta normal.67

Essa inobservância do dever objetivo de cuidado se manifesta

por meio de três modalidades: imprudência, negligência e imperícia.

A imprudência pode ser definida como a ação sem cuidado.

Conforme ensina Capez (2005: 208), essa forma de culpa se manifesta com a

prática de conduta comissiva e se desenvolve paralelamente à ação. A exemplo,

dirigir em excesso de velocidade.

67 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1: parte geral (arts. 1º a 120). 9ª. ed. rev. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2005. p.206.

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No que concerne à negligência, esta configura a forma

omissiva da culpa. Consiste na abstenção de um comportamento que era devido. O

negligente deixa de tomar, antes de agir, as cautelas que deveria.68 Como exemplo

pode-se citar o fato de deixar substância tóxica ao alcance de criança.

Já a imperícia está relacionada ao exercício de alguma

profissão. É a culpa decorrente de inaptidão técnica em profissão ou atividade, da

falta de capacidade, ou desconhecimento para o exercício de determinado mister,

conforme acentua Capez (2005: 209).

Paulsen (2008: 960) esclarece que o fato de a

responsabilização pelas infrações tributárias não depender da intenção do agente

não autoriza a aplicação de penalidades independente de qualquer culpa.

Passando a análise das infrações aduaneiras propriamente

ditas, estas se dividem em três grandes ramos, consoante Sosa (1995: 402 e 403):

Fiscais: assim entendidas aquelas tipificadas na esfera do

controle aduaneiro de veículos, mercadorias ou pessoas.

De controle administrativo: são as infrações contra o regime

administrativo das importações, punidas, em sua maioria, com a aplicação de multas

proporcionais ao valor das mercadorias ou bens importados.

Administrativas: são aquelas que contrariam obrigações

estabelecidas em normas administrativas, penalizadas com sanções políticas, tais

como suspensão, cancelamento e proibições.

2.1.2 Da responsabilidade pelas infrações

Luciano Amaro (1998: 417), em sua obra Direito Tributário

Brasileiro, refere-se ao agente como sendo aquele que pratica determinada conduta

(comissiva ou omissiva), e o responsável é a outra pessoa, em nome da qual o

68 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1: parte geral (arts. 1º a 120). 9ª. ed. rev. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 209.

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agente atua. Cita-se como exemplo dessa relação entre agente e responsável as

figuras do gerente e do gerido.

Sobre o tema, assim dispõe o art. 674:

Art. 674. Respondem pela infração (Decreto-Lei n o 37, de 1966, art. 95):

I - conjunta ou isoladamente, quem quer que, de qualquer forma, concorra para sua prática ou dela se beneficie;

II - conjunta ou isoladamente, o proprietário e o consignatário do veículo, quanto à que decorra do exercício de atividade própria do veículo, ou de ação ou omissão de seus tripulantes;

III - o comandante ou o condutor de veículo, nos casos do inciso II, quando o veículo proceder do exterior sem estar consignado a pessoa física ou jurídica estabelecida no ponto de destino;

IV - a pessoa física ou jurídica, em razão do despacho que promova, de qualquer mercadoria;

V - conjunta ou isoladamente, o importador e o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de importação realizada por conta e ordem deste, por intermédio de pessoa jurídica importadora (Decreto-Lei n o 37, de 1966, art. 95, inciso V, com a redação dada pela Medida Provisória n o 2.158-35, de 2001, art. 78); e

VI - conjunta ou isoladamente, o importador e o encomendante predeterminado que adquire mercadoria de procedência estrangeira de pessoa jurídica importadora (Decreto-Lei n o 37, de 1966, art. 95, inciso VI, com a redação dada pela Lei n o 11.281, de 2006, art. 12).69

Pelos incisos I, II e V, se verifica a imputação de solidariedade

em matéria de infrações.

É interessante ressaltar que o inciso I do indicado artigo imputa responsabilidade tributária a quem quer que, de qualquer forma, concorra para a prática da infração ou dela se beneficie. A redação do dispositivo deixa claro o intuito da norma de imputar a responsabilidade não apenas ao autor da conduta infracional, mas também ao partícipe.70

69 BRASIL, Decreto 6.759/2009 (Regulamento Aduaneiro). 70 LUGONES, Carlos Guilherme Francovich. Infrações e sanções tributárias e o Decreto 4.543/2002.

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Observa-se que a responsabilidade por infrações não se

restringe apenas às pessoas diretamente ligadas à operação do comércio exterior.

O Código Tributário Nacional também esclarece acerca da

responsabilidade por infrações que:

Art. 137. A responsabilidade é pessoal ao agente:

I - quanto às infrações conceituadas por lei como crimes ou contravenções, salvo quando praticadas no exercício regular de administração, mandato, função, cargo ou emprego, ou no cumprimento de ordem expressa emitida por quem de direito;

II - quanto às infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja elementar;

III - quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo específico:

a) das pessoas referidas no artigo 134, contra aquelas por quem respondem;

b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus mandantes, preponentes ou empregadores;

c) dos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado, contra estas.71

O artigo transcrito acima evidencia que a infração fiscal, em

regra, é considerada objetivamente, entretanto, existem exceções estabelecidas

pelo próprio artigo que determinam um caráter pessoal ou subjetivo da

responsabilização.

No inciso I, imputa-se a responsabilidade pessoal ao agente,

quando se tratar de infrações administrativas, que ao mesmo tempo sejam

consideradas ilícitos penais. Já no segundo inciso, não se refere à infração penal,

mas àquelas administrativas que, em sua definição, exigem o elemento volitivo para

atingir um determinado resultado. Por fim, no inciso terceiro, ocorre uma atenuação

ao princípio da objetividade das infrações,

Cap. 4. In: FREITAS, V. P. Importação e Exportação no Direito Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 126

71 BRASIL, Lei nº 5.172/66 (Código Tributário Nacional).

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[...] quando se diz que é pessoal a responsabilidade do agente quanto às infrações que decorrem direta e exclusivamente de dolo específico...” daqueles “...que, exercendo atividade dolosa em proveito próprio venham a dar causa a infrações fiscais pelas quais, de outro modo, responderiam as vítimas do dolo e não os seus autores intelectuais [...]72

Busca-se imputar a responsabilidade ao verdadeiro infrator,

aquele que se beneficiou com a infração.

Esclarecida a questão da responsabilidade, passa-se a análise

específica das penalidades.

2.2 DAS PENALIDADES

As penalidades aplicáveis nas operações de comércio exterior

encontram-se previstas no art. 675 do Regulamento Aduaneiro. São elas:

- Perdimento do veículo;

- Perdimento da mercadoria;

- Perdimento de moeda;

- Multa; e

- Sanção administrativa.

A penalidade pode ser entendida como o castigo, definido em

norma, e imposto ao infrator, por transgredir algum mandamento legal.

Consoante Sosa (1995: 407), as penalidades fiscais

classificam-se quanto aos efeitos em pessoais e patrimoniais.

As penalidades pessoais são aquelas que atingem diretamente

a pessoa do infrator.

As patrimoniais são sanções que atingem o patrimônio do

infrator.

72 VALÉRIO, W. P. Programa de Direito Tributário, Parte Geral. 10ª ed. Editora Sulina, 1991. p. 88.

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Quanto à sua natureza, classificam-se em principais as

penalidades pecuniárias, consistentes na aplicação de multas, perdimento da

mercadoria, do veículo e de moeda. Classificam-se em acessórias as sanções de

cunho político, a exemplo, a cassação de regimes especiais estabelecidos em favor

do contribuinte.

2.2.1 Da pena de perdimento

Paulo Cesar Alves Rocha entende que a pena de perdimento é

inconstitucional e faz algumas críticas a essa espécie de penalidade. Para ele, a

pena de perdimento é flagrantemente inconstitucional pela vedação constante do

item IV do art. 150 da Constituição Federal [...]73

O referido disposto constitucional veda a tributação como

confisco e, apesar de pena não ser tributo, também restringe-se pelo direito

fundamental da propriedade e da liberdade.

Para Leandro Paulsen, confisco é a tomada compulsória da

propriedade privada pelo Estado, sem indenização.74

Nesse liame, ROCHA (2010: 669) afirma que a pena de

perdimento só pode ser aplicada em razão do abandono de mercadorias, pois do

contrário, existindo um sujeito passivo da obrigação tributária, o Fisco deverá

perseguir por todas as maneiras cobrar os tributos e penalidades.

Outro ponto marcante é que o processo de perdimento adotado ao invés de uma pena pecuniária traz prejuízo para a Fazenda Nacional, pois na média dos processos em que foi aplicada a pena de perdimento, a grande maioria é vendida pela União a preços bem inferiores aos valores dos tributos que deveriam ser cobrados.75

Em sentido contrário ao de Paulo Cesar Alves Rocha, tem-se o

seguinte posicionamento:

73 ROCHA, Paulo Cesar Alves. Regulamento Aduaneiro Comentado com textos legais

transcritos. 14ª ed. São Paulo: Aduaneiras, 2010. p. 669. 74 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da

jurisprudência. 10ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora; ESMAFE, 2008. p. 228. 75 ROCHA, Paulo Cesar Alves. Regulamento Aduaneiro Comentado com textos legais

transcritos. 14ª ed. São Paulo: Aduaneiras, 2010. p. 669.

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[...] a pena de perdimento na esfera aduaneira, a ser aplicada, como já referido, por dano ao erário, como restrição ao direito de propriedade, não pode ser inquinada de inconstitucional, pois salta aos olhos que a propriedade obtida por meios ilícitos, ou em desrespeito às leis que dispõem sobre a sua aquisição, não atende à sua função social.76

Dessa forma, pode-se concluir que há divergência entre os

doutrinadores citados no que tange à constitucionalidade da pena de perdimento.

Passando a análise da natureza jurídica da penalidade em

questão, pode-se dizer que esta possui natureza mista. Nesse diapasão, ensina

Rony Ferreira (2007: 155), que esse tipo de penalidade, ao mesmo tempo em que é

sanção para o infrator, é também ressarcimento ao Estado pelo dano ao erário

oriundo do mesmo ato ilícito. Portanto, possui natureza repressivo-compensatória.

2.2.1.1 Da pena de perdimento do veículo

A pena de perdimento do veículo encontra-se prevista no art.

688, do Decreto nº 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro) e este dispositivo elenca as

hipóteses de incidência, ressaltando que para aplicação dessa penalidade, há

necessidade de ocorrência de dano ao erário.

Art. 688. Aplica-se a pena de perdimento do veículo nas seguintes hipóteses, por configurarem dano ao Erário (Decreto-Lei n o 37, de 1966, art. 104; Decreto-Lei n o 1.455, de 1976, art. 24; e Lei n o 10.833, de 2003, art. 75, § 4 o ):

I - quando o veículo transportador estiver em situação ilegal, quanto às normas que o habilitem a exercer a navegação ou o transporte internacional correspondente à sua espécie;

II - quando o veículo transportador efetuar operação de descarga de mercadoria estrangeira ou de carga de mercadoria nacional ou nacionalizada, fora do porto, do aeroporto ou de outro local para isso habilitado;

III - quando a embarcação atracar a navio ou quando qualquer veículo, na zona primária, se colocar nas proximidades de outro, um deles procedente do exterior ou a ele destinado, de modo a tornar possível o transbordo de pessoa ou de carga, sem observância das normas legais e regulamentares;

76 FERREIRA, Rony. Perdimento de bens. Cap. 5. In: FREITAS, Vladimir Passos de. Importação e Exportação no Direito Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 160.

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IV - quando a embarcação navegar dentro do porto, sem trazer escrito, em tipo destacado e em local visível do casco, seu nome de registro;

V - quando o veículo conduzir mercadoria sujeita a perdimento, se pertencente ao responsável por infração punível com essa penalidade;

VI - quando o veículo terrestre utilizado no trânsito de mercadoria estrangeira for desviado de sua rota legal sem motivo justificado; e

VII - quando o veículo for considerado abandonado pelo decurso do prazo referido no art. 648. [...]77

Acerca do perdimento do veículo, cumpre esclarecer algumas

questões controvertidas. A primeira delas refere-se à interpretação dada ao inciso V

do artigo 688. Tal inciso refere-se ao perdimento de veículo quando utilizado como

meio de transporte de mercadorias também sujeitas ao perdimento e, como acentua

Rony Ferreira in Vladimir Passos de Freitas (2007:172), este é o típico caso do

sujeito que adquire mercadorias de forma irregular e as transporta em seu próprio

veículo. Por outro lado, tratando-se de pessoas distintas, ainda assim poderá ser

aplicada a pena de perdimento do veículo.

Para isso, basta que o proprietário do veículo, ciente da

situação ilícita, tenha concorrido para a prática da infração, ou dela tenha se

beneficiado.

Entretanto, conforme entendimento jurisprudencial há muito

sedimentado, desde o extinto Tribunal Federal de Recursos, através da Súmula 138,

nos casos em que o proprietário do veículo não for o proprietário da mercadoria, a

aplicação da penalidade se justificará apenas se demonstrada, em procedimento

regular, a responsabilidade do proprietário do veículo na prática do ilícito.

Paulo Cesar Alves Rocha em nota ao art. 68878, diz que:

Os contêineres, por serem considerados veículos, seguem a mesma regra, ou seja, só recebem pena de perdimento se for comprovada a responsabilidade de seu proprietário na infração que resultou pena

77 BRASIL, Decreto 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro). 78 BRASIL, Decreto 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro).

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de perdimento para a mercadoria que transportava ou se os proprietários do contêiner e da mercadoria foram os mesmo.79

Outra questão importante no que tange a esse tipo de

penalidade é a aplicação do princípio da proporcionalidade. Apesar de não estar

previsto constitucionalmente, este princípio tem encontrado ampla aceitação e

aplicação na doutrina e jurisprudência brasileira.

Entende Karl Larenz (1997: 603) que proporcionalidade é a

exigência da medida indicada, da adequação entre meio e fim, do meio mais idôneo

ou da menor restrição possível do direito ou bem constitucionalmente protegido que,

no caso concreto, tem de ceder perante outro bem jurídico igualmente protegido.80

Assim, Rony Ferreira (2007: 174) afirma que tem sido comum a

jurisprudência decidir pela inaplicação do perdimento de veículo quando houver

desproporção entre seu valor e o valor das mercadorias.81

Diversas questões poderiam ainda ser citadas, como a

utilização de ônibus de passageiros para transporte de mercadorias em contrabando

e descaminho, bem como a responsabilidade dos proprietários desses ônibus. No

entanto, este não é o foco da pesquisa. Sendo assim, passa-se à análise da pena de

perdimento de mercadorias.

2.2.1.2 Do perdimento de mercadorias

A pena de perdimento de mercadorias encontra-se firmada nos

arts. 689 a 697 do Decreto nº 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro). Os incisos do art.

689 abordam as hipóteses de descumprimento das normas de admissão aduaneira,

bem como introdução clandestina de mercadoria, da seguinte forma:

Art. 689. Aplica-se a pena de perdimento da mercadoria nas seguintes hipóteses, por configurarem dano ao Erário (Decreto-Lei n o 37, de 1966, art. 105; e Decreto-Lei n o 1.455, de 1976, art. 23,

79 ROCHA, Paulo Cesar Alves. Regulamento Aduaneiro Comentado com textos legais

transcritos. 14ª ed. São Paulo: Aduaneiras, 2010. p. 670. 80 LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,

1997. p. 603. 81 FERREIRA, Rony. Perdimento de bens. Cap. 5. In: FREITAS, Vladimir Passos de. Importação e

Exportação no Direito Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 174.

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caput e § 1 o , este com a redação dada pela Lei n o 10.637, de 2002, art. 59):

I - em operação de carga ou já carregada em qualquer veículo, ou dele descarregada ou em descarga, sem ordem, despacho ou licença, por escrito, da autoridade aduaneira, ou sem o cumprimento de outra formalidade essencial estabelecida em texto normativo;

II - incluída em listas de sobressalentes e de provisões de bordo quando em desacordo, quantitativo ou qualitativo, com as necessidades do serviço, do custeio do veículo e da manutenção de sua tripulação e de seus passageiros;

IV - existente a bordo do veículo, sem registro em manifesto, em documento de efeito equivalente ou em outras declarações;

V - nacional ou nacionalizada, em grande quantidade ou de vultoso valor, encontrada na zona de vigilância aduaneira, em circunstâncias que tornem evidente destinar-se a exportação clandestina;

VI - estrangeira ou nacional, na importação ou na exportação, se qualquer documento necessário ao seu embarque ou desembaraço tiver sido falsificado ou adulterado;

VIII - estrangeira, que apresente característica essencial falsificada ou adulterada, que impeça ou dificulte sua identificação, ainda que a falsificação ou a adulteração não influa no seu tratamento tributário ou cambial;

IX - estrangeira, encontrada ao abandono, desacompanhada de prova do pagamento dos tributos aduaneiros;

X - estrangeira, exposta à venda, depositada ou em circulação comercial no País, se não for feita prova de sua importação regular;

XI - estrangeira, já desembaraçada e cujos tributos aduaneiros tenham sido pagos apenas em parte, mediante artifício doloso;

XII - estrangeira, chegada ao País com falsa declaração de conteúdo;

XIII - transferida a terceiro, sem o pagamento dos tributos aduaneiros e de outros gravames, quando desembaraçada com a isenção referida nos arts. 142, 143, 162, 163 e 187; (Redação dada pelo Decreto nº 7.213, de 2010).

XIV - encontrada em poder de pessoa física ou jurídica não habilitada, tratando-se de papel com linha ou marca d'água, inclusive aparas;

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XV - constante de remessa postal internacional com falsa declaração de conteúdo;

XVI - fracionada em duas ou mais remessas postais ou encomendas aéreas internacionais visando a iludir, no todo ou em parte, o pagamento dos tributos aduaneiros ou quaisquer normas estabelecidas para o controle das importações ou, ainda, a beneficiar-se de regime de tributação simplificada (Decreto-Lei n o 37, de 1966, art. 105, inciso XVI, com a redação dada pelo Decreto-Lei n o 1.804, de 1980, art. 3 o );

XVII - estrangeira, em trânsito no território aduaneiro, quando o veículo terrestre que a conduzir for desviado de sua rota legal, sem motivo justificado;

XVIII - estrangeira, acondicionada sob fundo falso, ou de qualquer modo oculta;

XIX - estrangeira, atentatória à moral, aos bons costumes, à saúde ou à ordem públicas;

XX - importada ao desamparo de licença de importação ou documento de efeito equivalente, quando a sua emissão estiver vedada ou suspensa, na forma da legislação específica;

XXI - importada e que for considerada abandonada pelo decurso do prazo de permanência em recinto alfandegado, nas hipóteses referidas no art. 642; e

XXII - estrangeira ou nacional, na importação ou na exportação, na hipótese de ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros.82

Restringindo-se à análise de alguns temas específicos sobre o

perdimento de mercadorias, deve-se esclarecer a questão da aplicabilidade dessa

penalidade nos casos de trânsito aduaneiro de passagem.

Segundo José Lopes Vazquez (2009: 219), o trânsito

aduaneiro de mercadorias, previsto no art. 315 do Decreto nº 6.759/09

(Regulamento Aduaneiro), se constitui num regime especial, mediante o qual se

permite o transporte de mercadorias, sob controle aduaneiro, de um ponto a outro do

território aduaneiro, com suspensão de tributos.

82 BRASIL, Decreto 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro).

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A mercadoria procedente do exterior, na modalidade de trânsito

aduaneiro de passagem, apenas transita pelo Brasil com destino ao país importador.

É o que ocorre comumente com as importações de empresas situadas em Ciudad

Del Este-PY, as quais transitam pelo porto de Santos e Paranaguá.

O conflito está no fato de que, não raras vezes, a Receita

Federal depara-se com mercadoria diversa daquela descriminada no documento

fiscal, possibilitando a aplicação da pena de perdimento da mercadoria. Entretanto,

por se tratar de regime aduaneiro que prevê a suspensão de tributos, questiona-se

onde residiria o dano ao erário brasileiro.

Consoante ensina Rony Ferreira, a não-incidência de tributos

sobre as mercadorias, por sua vez, não descaracteriza o dano ao erário. É forçoso

ter em mente que no conceito de dano não reside apenas a falta de ingresso de

dinheiro aos cofres públicos.83 Explica, ainda, tendo por base os estudos de Luiz

Guilherme Marinoni, que o dano não é elemento constitutivo do ilícito, mas sim uma

conseqüência. Portanto, o ilícito pode ou não provocar um dano, e continuará sendo

ilícito mesmo se um dano não provocar.

Nesse sentido, quando se verificar a divergência entre a

mercadoria declarada e a efetivamente importada no trânsito aduaneiro, será

possível a aplicação da pena de perdimento da mercadoria, vez que o ato ilícito, por

si só, configurará dano ao erário no sentido de que estará burlando a fiscalização e

controle sobre o comércio exterior.

2.2.1.3 Do perdimento de moeda

O perdimento de moeda é mais uma das modalidades de

perdimento de bens e encontra-se prevista no art. 700:

Art. 700. Aplica-se a pena de perdimento da moeda nacional ou estrangeira, em espécie, no valor excedente a R$ 10.000,00 (dez mil reais), ou o equivalente em moeda estrangeira, que ingresse no território aduaneiro ou dele saia (Lei n o 9.069, de 1995, art. 65, caput e § 1 o , incisos I e II).84

83 FERREIRA, Rony. Perdimento de bens. Cap. 5. In: FREITAS, Vladimir Passos de. Importação e

Exportação no Direito Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 190. 84 BRASIL, Decreto 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro).

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A penalidade em comento tem como finalidade coibir o

ingresso ou saída de moeda nacional ou estrangeira de forma ilegal.

Deve-se ressaltar que essa penalidade é apenas administrativa

e, conforme dispõe o § 5º do artigo acima transcrito, não impede a aplicação das

penalidades penais cabíveis.

2.2.2 Das multas na importação

As multas aplicáveis à importação estão previstas em extensivo

rol do Decreto nº 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro), transcrevendo-se a seguir

algumas mais comuns:

Art. 702. Aplicam-se as seguintes multas, proporcionais ao valor do imposto incidente sobre a importação da mercadoria ou o que incidiria se não houvesse isenção ou redução (Decreto-Lei n o 37, de 1966, art. 106, caput):

I - de cem por cento:

a) pelo não-emprego dos bens de qualquer natureza nos fins ou atividades para que foram importados com isenção do imposto;

b) pelo desvio, por qualquer forma, de bens importados com isenção ou com redução do imposto;

c) pelo uso de falsidade nas provas exigidas para obtenção dos benefícios e incentivos previstos no Decreto-Lei n o 37, de 1966; e

d) pela não-apresentação de mercadoria submetida ao regime de entreposto aduaneiro;

II - de setenta e cinco por cento, nos casos de venda não-faturada de sobra de papel não-impresso (mantas, aparas de bobinas e restos de bobinas) (Decreto-Lei n o 37, de 1966, art. 106, § 2 o , alínea “a”, com a redação dada pelo Decreto-Lei n o 751, de 1969, art. 4 o );

III - de cinqüenta por cento:

a) pela transferência a terceiro, a qualquer título, de bens importados com isenção do imposto, sem prévia autorização da unidade aduaneira, ressalvada a hipótese referida no inciso XIII do art. 689;

b) pela importação, como bagagem, de mercadoria que, por sua quantidade e qualidade, revele finalidade comercial; e

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c) pelo extravio de mercadoria, inclusive o apurado em ato de vistoria aduaneira;

IV - de vinte por cento:

a) pela chegada ao País de bagagem e bens de passageiro fora dos prazos regulamentares, quando sujeitos a tributação; e

b) nos casos de venda de sobra de papel não-impresso (mantas, aparas de bobinas e restos de bobinas), salvo a editoras ou, como matéria-prima, a fábricas (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 106, § 2º , alínea “b”, com a redação dada pelo Decreto-Lei nº 751, de 1969, art. 4º );

V - de dez por cento:

a) pela apresentação da fatura comercial sem o visto consular, quando exigida essa formalidade; e

b) pela comprovação, fora do prazo, da chegada da mercadoria ao local de destino, no caso de trânsito aduaneiro.

§ 1º No caso de papel com linhas ou marcas d'água, as multas a que se referem os incisos I e III serão de cento e cinqüenta por cento e de setenta e cinco por cento, respectivamente (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 106, § 1º , com a redação dada pelo Decreto-Lei nº 751, de 1969, art. 3º ).

§ 2º No cálculo das multas a que se referem o inciso II e a alínea “b” do inciso IV, e o § 1 o , será adotada a maior alíquota do imposto fixada para papel similar destinado à impressão, sem linhas ou marcas d'água (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 106, §§ 1º e 2º , com a redação dada pelo Decreto-Lei nº 751, de 1969, arts. 3º e 4º).

§ 3º A multa de que trata a alínea “b” do inciso III do caput não se aplica no caso de o viajante manifestar à fiscalização, de forma inequívoca, antes de qualquer procedimento fiscal, a pretensão de submeter os bens a despacho aduaneiro no regime de importação comum, inclusive na hipótese a que se refere o § 2º do art. 161. (Redação dada pelo Decreto nº 7.213, de 2010).

§ 4º Para efeito da aplicação do disposto na alínea “c” do inciso III, fica fixado o limite de tolerância de cinco por cento para exclusão da responsabilidade tributária em casos de perda inevitável de mercadoria em operação, sob controle aduaneiro, de transporte, carga, descarga ou armazenagem (Decreto-Lei nº 2.472, de 1988, art. 10).

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§ 5º A multa referida na alínea “c” do inciso III terá como base o valor do imposto de importação, calculado nos termos do art. 665 (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 112).

§ 6º A multa referida na alínea “b” do inciso V aplica-se somente aos casos em que a legislação específica atribua ao beneficiário do regime a obrigação de comprovar, perante a unidade aduaneira de origem, a entrega da mercadoria na unidade aduaneira de destino.

Art. 706. Aplicam-se, na ocorrência das hipóteses abaixo tipificadas, por constituírem infrações administrativas ao controle das importações, as seguintes multas (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 169, caput e § 6º, com a redação dada pela Lei nº 6.562, de 1978, art. 2º):

I - de trinta por cento sobre o valor aduaneiro:

a) pela importação de mercadoria sem licença de importação ou documento de efeito equivalente, inclusive no caso de remessa postal internacional e de bens conduzidos por viajante, desembaraçados no regime comum de importação (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 169, inciso I, alínea “b”, e § 6º , com a redação dada pela Lei nº 6.562, de 1978, art. 2º ); e

b) pelo embarque de mercadoria antes de emitida a licença de importação ou documento de efeito equivalente (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 169, inciso III, alínea “b”, e § 6º , com a redação dada pela Lei nº 6.562, de 1978, art. 2º );

II - de vinte por cento sobre o valor aduaneiro pelo embarque da mercadoria depois de vencido o prazo de validade da licença de importação respectiva ou documento de efeito equivalente, de mais de vinte até quarenta dias (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 169, inciso III, alínea “a”, item 2, e § 6º , com a redação dada pela Lei nº 6.562, de 1978, art. 2º ); e

III - de dez por cento sobre o valor aduaneiro, pelo embarque da mercadoria, depois de vencido o prazo de validade da licença de importação respectiva ou documento de efeito equivalente, até vinte dias (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 169, inciso III, alínea “a”, item 1, e § 6º , com a redação dada pela Lei nº 6.562, de 1978, art. 2º).

§ 1º Considera-se importada sem licença de importação ou documento de efeito equivalente, a mercadoria cujo embarque tenha se efetivado depois de decorridos mais de quarenta dias do respectivo prazo de validade (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 169, § 1º , com a redação dada pela Lei nº 6.562, de 1978, art. 2º).

§ 2º As multas referidas neste artigo não poderão ser (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 169, § 2º , com a redação dada pela Lei nº 10.833, de 2003, art. 77):

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I - inferiores a R$ 500,00 (quinhentos reais); e

II - superiores a R$ 5.000,00 (cinco mil reais) nos casos referidos na alínea “b” do inciso I e nos incisos II e III do caput.

§ 3º Na ocorrência simultânea de mais de uma infração, será punida apenas aquela a que for cominada a penalidade mais grave (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 169, § 4º , com a redação dada pela Lei nº 6.562, de 1978, art. 2º).

§ 4º A aplicação das penas referidas neste artigo (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 169, § 5º , com a redação dada pela Lei nº 6.562, de 1978, art. 2º):

I - não exclui o pagamento dos tributos devidos, nem a imposição de outras penas, inclusive criminais, previstas em legislação específica; e

II - não prejudica a isenção de tributos de que goze a importação, salvo disposição expressa em contrário.

§ 5º Não constituem infrações, para os efeitos deste artigo (Decreto-Lei nº 37, de 1966, art. 169, § 7º , com a redação dada pela Lei nº 6.562, de 1978, art. 2º):

I - a diferença, para mais ou para menos, por embarque, não superior a dez por cento quanto ao preço, e a cinco por cento quanto à quantidade ou ao peso, desde que não ocorram concomitantemente;

II - os casos referidos na alínea “b” do inciso I, e nos incisos II e III do caput, se alterados pelo órgão competente os dados constantes da licença de importação ou documento de efeito equivalente; e

III - a importação de máquinas e de equipamentos declarados como originários de determinado país, que constituam um todo integrado, embora contenham partes ou componentes produzidos em outros países que não o indicado na licença de importação ou documento de efeito equivalente.

Art. 707. As infrações de que trata o art. 706 (Lei nº 6.562, de 1978, art. 3º):

I - não excluem aquelas definidas como dano ao Erário, sujeitas à pena de perdimento; e

II - serão apuradas mediante processo administrativo fiscal, em conformidade com o disposto no art. 768.

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Parágrafo único. Para os efeitos do inciso I, as multas relativas às infrações administrativas ao controle das importações somente poderão ser lançadas antes da aplicação da pena de perdimento da mercadoria.

Art. 708. Para fins do art. 706 e para efeitos tributários, o embarque da mercadoria a ser importada ou exportada considera-se ocorrido na data da emissão do conhecimento de carga (Lei nº 6.562, de 1978, art. 5º).

Art. 709. Aplica-se a multa de dez por cento sobre o valor aduaneiro, no caso de descumprimento de condições, requisitos ou prazos estabelecidos para aplicação do regime aduaneiro especial de admissão temporária ou de admissão temporária para aperfeiçoamento ativo (Lei nº 10.833, de 2003, art. 72, inciso I).

§ 1º O valor da multa referida no caput será de R$ 500,00 (quinhentos reais), quando do seu cálculo resultar valor inferior (Lei nº 10.833, de 2003, art. 72, § 1º).

§ 2º A multa referida no caput não se aplica na hipótese de ser iniciado o despacho de reexportação no prazo fixado no § 9º do art. 367.

§ 3º A aplicação da multa a que se refere o caput não prejudica a exigência dos tributos incidentes, a aplicação de outras penalidades cabíveis e a representação fiscal para fins penais, quando for o caso (Lei nº 10.833, de 2003, art. 72, § 2º).

Art. 711. Aplica-se a multa de um por cento sobre o valor aduaneiro da mercadoria (Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001, art. 84, caput; e Lei nº 10.833, de 2003, art. 69, § 1º):

I - classificada incorretamente na Nomenclatura Comum do Mercosul, nas nomenclaturas complementares ou em outros detalhamentos instituídos para a identificação da mercadoria;

II - quantificada incorretamente na unidade de medida estatística estabelecida pela Secretaria da Receita Federal do Brasil; ou

III - quando o importador ou beneficiário de regime aduaneiro omitir ou prestar de forma inexata ou incompleta informação de natureza administrativo-tributária, cambial ou comercial necessária à determinação do procedimento de controle aduaneiro apropriado.

§ 1º As informações referidas no inciso III do caput, sem prejuízo de outras que venham a ser estabelecidas em ato normativo da Secretaria da Receita Federal do Brasil, compreendem a descrição detalhada da operação, incluindo (Lei nº 10.833, de 2003, art. 69, § 2º):

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I - identificação completa e endereço das pessoas envolvidas na transação: importador ou exportador; adquirente (comprador) ou fornecedor (vendedor), fabricante, agente de compra ou de venda e representante comercial;

II - destinação da mercadoria importada: industrialização ou consumo, incorporação ao ativo, revenda ou outra finalidade;

III - descrição completa da mercadoria: todas as características necessárias à classificação fiscal, espécie, marca comercial, modelo, nome comercial ou científico e outros atributos estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil que confiram sua identidade comercial;

IV - países de origem, de procedência e de aquisição; e

V - portos de embarque e de desembarque.

§ 2º O valor da multa referida no caput será de R$ 500,00 (quinhentos reais), quando do seu cálculo resultar valor inferior, observado o disposto nos §§ 3 o a 5 o (Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001, art. 84, § 1º ; e Lei nº 10.833, de 2003, art. 69, caput).

§ 3º Na ocorrência de mais de uma das condutas descritas nos incisos do caput, para a mesma mercadoria, aplica-se a multa somente uma vez.

§ 4º Na ocorrência de uma ou mais das condutas descritas nos incisos do caput, em relação a mercadorias distintas, para as quais a correta classificação na Nomenclatura Comum do Mercosul seja idêntica, a multa referida neste artigo será aplicada somente uma vez, e corresponderá a:

I - um por cento, aplicado sobre o somatório do valor aduaneiro de tais mercadorias, quando resultar em valor superior a R$ 500,00 (quinhentos reais); ou

II - R$ 500,00 (quinhentos reais), quando da aplicação de um por cento sobre o somatório do valor aduaneiro de tais mercadorias resultar valor igual ou inferior a R$ 500,00 (quinhentos reais).85

Consoante Rooselvet Baldomir Sosa (1995: 440), as multas na

importação se classificam em proporcionais ao imposto, proporcionais ao valor, fixas

e variáveis.

85 BRASIL, Decreto 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro).

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As multas proporcionais ao imposto encontram-se previstas,

por exemplo, no art. 702 e aplicam-se mesmo que os impostos, no caso em

concreto, sejam isentos ou reduzidos.

Carlos Guilherme Francovich Lugones, apud, Vladimir Passos

de Freitas (2007: 142), explica que o art. 628, em seus incisos I a VI do antigo

Regulamento Aduaneiro, os quais correspondem ao art. 702 do novo Regulamento,

delimita o percentual das multas, proporcionalmente ao imposto incidente sobre a

mercadoria importada. Assim, para se efetuar o cálculo da multa deve-se levar em

conta o percentual fixado, cuja incidência dar-se-á sobre o valor do imposto que

seria devido na operação.

Um fator importante a se esclarecer no que concerne a esse

tipo de multa é a controvérsia existente acerca da sua aplicação ou não nos casos

em que o imposto estiver com a exigibilidade suspensa. Sobre esse assunto,

Rooselvet Baldomir Sosa diz que:

É bastante comum a idéia de que as situações descritas nos incisos I a IV do artigo, somente se aplicariam na presença do regime tributário integral ou isencional, o que afastaria estas capitulações nos regimes tributários de “suspensão”.

Essa inteligência, ao nosso ver, é equivocada. Para nós, [...] aplica-se independentemente do regime tributário da importação, tanto seja tributação integral, ou desoneração por isenção total ou parcial (redução), ou ainda por “suspensão”86

Traçando breves apontamentos sobre o disposto no inciso I do

art. 702, observa-se na alínea “a” que pretende-se punir aquele que, desonerado

das obrigações fiscais por isenção, utiliza o bem importado em finalidade estranha

àquela que fundamentou a concessão do benefício. Já na alínea “b” são penalizados

os desvios, realizados por qualquer forma, dos bens importados com desoneração

fiscal. SOSA (1995: 442) explica que a palavra desvio, empregada no texto legal,

deve ser entendida como toda e qualquer forma de escapar, burlar o cumprimento

das exigências legais para fruição do benefício fiscal. Na alínea “c” cuida-se dos

casos em que o contribuinte, no intuito de obter tratamento fiscal favorecido, utiliza- 86 SOSA, Roosevelt Baldomir. Comentários à Lei Aduaneira: decreto nº 91.030/85. São Paulo:

Aduaneiras, 1995. p. 440.

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se de falsas provas. Por fim, na alínea “d” se prevê a aplicação da multa ao

responsável pela guarda de mercadorias armazenadas sob o regime de interposto

aduaneiro, que não as apresentá-las.

No que tange às multas classificadas como variáveis, estas

estão sujeitas à graduação pela Administração Pública, respeitando um patamar

mínimo e máximo. LUGONES in FREITAS (2007: 142) esclarece que as multas

variáveis são aplicadas pela Autoridade Fiscal em atenção às peculiaridades do

caso concreto.

SOSA (1995: 450, 451), citando texto da Revista de Política e

Administração Fiscal, nº 4/5, 1970, SRF, esclarece que as multas variáveis são

graduadas segundo as circunstâncias do evento, obedecendo-se aos princípios

básicos, os quais por sua vez, respeitam aos antecedentes do infrator, aos motivos

determinantes da infração e à gravidade das consequências que podem ser efetivas

ou potenciais elenca as seguintes circunstâncias agravantes:

- Reincidência: se constitui na prática de nova infração

correspondente a um mesmo dispositivo ou normas contidas num mesmo capítulo

da legislação tributária, no prazo de cinco anos da data do trânsito em julgado

administrativo, a decisão condenatória referente à infração anterior.

- Consequências: influem na graduação da multa tanto quando

forem efetivas como quando potencial, devendo a primeira ser entendida como

aquelas que, no caso concreto, causaram um dano e a segunda como aquelas que

possuem risco de dano.

- Prática de artifícios intencionais não correspondentes a

sonegação, fraude ou conluio.

- Qualquer circunstância que importe em agravar as

conseqüências da infração ou em retardar o seu conhecimento pela autoridade

fazendária.

- Não atenção à orientação fiscal, prestada pessoalmente ou

por meio de consulta formulada pelo infrator, passada em julgado.

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- Não comparecimento do contribuinte para prestar

esclarecimentos quando solicitado.

Já nas multas fixas, aplica-se um valor pré-determinado no

diploma legal, sendo desnecessário qualquer cálculo para obtenção do montante

devido. Como exemplo, pode-se citar a multa de R$ 200,00 (duzentos reais)

aplicada pela apresentação de fatura comercial em desacordo com uma ou mais de

uma das indicações estabelecidas no art. 557 do Decreto nº 6.759/09 (Regulamento

Aduaneiro).

As hipóteses que permitem a redução da multa encontram-se

previstas no art. 732 a 73487. Tais hipóteses relacionam-se com o lançamento de

ofício do imposto realizado pela Autoridade Fiscal. Nesses casos, o importador

deverá efetuar o pagamento do tributo acrescido da multa correspondente.

Entretanto, dependendo do momento em que efetuar o pagamento do tributo

lançado de ofício, poderá obter redução no valor da multa.

2.2.3 Das sanções administrativas

Em última análise, estão as sanções administrativas, as quais

encontram-se previstas no art. 735, art. 735-A e art. 735-B do Decreto nº 6.759/09

(Regulamento Aduaneiro).

Tais sanções não constituem encargo patrimonial ou pecuniário

ao infrator, mas sim restrições de direitos. Para SOSA (1995: 484), as sanções

administrativas tem como finalidade coibir ou impedir, de forma definitiva ou

temporária, a utilização de regimes aduaneiros, ou a prestação de serviços de infra-

estrutura, ou ainda habilitação do exercício profissional de despachantes, bem como

seus ajudantes.

Apesar desse tipo de sanção não afetar, de maneira direta,

financeiramente ao infrator, deve-se atentar para o fato de que a interdição de

direitos poderá ocasionar a paralisação da atividade aduaneira, que por sua vez,

gerará prejuízos financeiros.

87 BRASIL, Decreto 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro).

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Dessa forma, são elaboradas legislações complementares que

regulamentam a aplicação da sanção administrativa, a fim de que a mesma não seja

aplicada de forma arbitrária e sejam respeitados os direitos do infrator, bem como

observados os princípios inerentes à Administração Pública.

Consoante SOSA (1995), são três as espécies de sanções

administrativas: cassação, proibição e suspensão.

A cassação, também denominada de cancelamento, implica

em retirada de autorização ou licença que fora concedida anteriormente.

A proibição consiste na interdição definitiva de algum direito.

Já a suspensão refere-se à interdição temporária de algum

direito, podendo o infrator, após cumprido o período da suspensão e demais

exigências retornar ao exercício do direito.

Pode-se citar também como sanção administrativa a

advertência. O inciso I do art. 73588, por exemplo, prevê a advertência, dentre outros

casos, na hipótese de atraso, de forma contumaz, na chegada ao destino de veículo

conduzindo mercadoria submetida ao regime de trânsito aduaneiro.

Importante ressaltar que a aplicação da sanção administrativa

pode ser cumulada com outra espécie de penalidade, consoante disposição

expressa do § 11, do art. 735, Decreto nº 6.759/09.

88 BRASIL, Decreto 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro).

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CAPÍTULO 3

A PENALIZAÇÃO DAS INFRAÇÕES NA IMPORTAÇÃO E O PRINCÍPIO DA BOA-FÉ

3.1 O PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL

Antes de adentrar ao estudo da aplicabilidade do princípio da

boa-fé face à penalização das infrações na importação, faz-se necessária uma

explanação acerca do processo administrativo fiscal e os princípios a ele aplicáveis,

tendo em vista que toda imposição de penalidade decorre obrigatoriamente desse

procedimento.

O Processo administrativo tributário está previsto no Decreto nº

70.235, de 6 de março de 1972 e, apesar da matéria nele disposta ser reservada à

lei ordinária pela Constituição Federal de 1988, o entendimento dos tribunais

superiores é de que o Decreto foi recepcionado pela Constituição, vez que à época

de sua edição, estava em conformidade com o ordenamento jurídico vigente.

Quanto ao seu conceito, atente-se para o que diz Hugo de Brito

Machado:

[...] é uma série ordenada de atos administrativos mediante a qual manifesta-se a Administração Tributária a respeito de uma relação sua com um contribuinte, ou responsável tributário ou mesmo com um terceiro, ou simplesmente interpreta a legislação tributária.89

É o procedimento realizado pela Administração Tributária,

tendente a verificar uma relação existente entre contribuinte ou responsável indireto

e a Administração, ou, ainda, apenas interpretar a legislação questionada.

Importante ressaltar que o processo administrativo fiscal está

amparado pelo princípio da informalidade, característica esta que o distingue do

processo judicial. Observe-se: 89 MACHADO, Hugo de Brito. Mandado de segurança em matéria tributária. 5. ed. São Paulo:

Dialética, 2003. p. 264.

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Vige no processo administrativo fiscal o princípio da

informalidade, segundo o qual os atos serão realizados sem rigor formal.90

Tal princípio encontra-se implícito no art. 2º, caput do Decreto

70.235/72 o qual assim dispõe:

Art. 2º Os atos e termos processuais, quando a lei não prescrever forma determinada, conterão somente o indispensável à sua finalidade, sem espaço em branco, sem entrelinhas, rasuras ou emendas não ressalvadas.91

Sobre o informalismo do processo administrativo, cabe

esclarecer que, consoante ensina Lúcia Valle Figueiredo (2004: 438), o mesmo

deverá ser aplicado a favor do administrado e jamais contra.

No que concerne ao procedimento utilizado, ou seja, a forma

com que se darão os atos processuais administrativos deve-se atentar para o que

dispõe o art. 7º do Decreto 70.235/72:

Art. 7º O procedimento fiscal tem início com:

I – o primeiro ato de ofício, escrito, praticado por servidor competente, cientificado o sujeito passivo da obrigação tributária ou seu preposto;

II – a apreensão de mercadorias, documentos ou livros;

III – o começo de despacho aduaneiro de mercadoria importada.92

Pela disposição do inciso I, pode-se dizer que a ciência ao

sujeito passivo fixa o aspecto temporal da ação fiscal. Já nos incisos II e III, diz

Leandro Paulsen, René Bergmann Ávila e Ingrid Schroder Sliwka (2008: 27) se

observa a necessidade de lavratura de termo de apreensão, no caso de apreensão

de mercadorias, e de protocolo de recebimento de documentação de importação

para caracterização do início do despacho aduaneiro.

90 PULSEN, Leandro. ÁVILA, René Bergmann. SLIWKA, Ingrid Schroder. Direito Processual

Tributário: processo administrativo fiscal e execução fiscal à luz da doutrina e da jurisprudência. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed., 2007. p. 16.

91 BRASIL, Decreto 70.235/72 (Lei do processo administrativo fiscal). 92 BRASIL, Decreto 70.235/72 (Lei do processo administrativo fiscal).

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Note-se, ainda, que dado início ao processo, o contribuinte

perde o benefício da denúncia espontânea, mediante o qual teria direito de recolher

o tributo devido sem qualquer penalidade, somente com acréscimo da correção

monetária e juros de mora. É o que dispõe o § 1º do artigo acima transcrito:

§ 1º. O início do procedimento exclui a espontaneidade do

sujeito passivo em relação aos atos anteriores e, independentemente de intimação,

a dos demais envolvidos nas infrações verificadas.93

A denúncia espontânea encontra-se prevista no art. 138 do

Código Tributário Nacional, e significa o ato espontâneo do contribuinte que

comparece perante o Fisco para reconhecer a sua situação de irregularidade fiscal.

Assim, esclarece Marcos Vinícius Neder e Maria Teresa Martínez López:

Em suma, é dar conhecimento ao Fisco de que o procedimento adotado pelo contribuinte está em desacordo com as normas em vigor. (...) Ou seja, aquele que realizar a autodenúncia estará, dependendo do caso, excluído da aplicação da multa.94

Ainda sobre o procedimento, atente-se para o que dispõe o art.

9º, da Lei do Processo Administrativo Fiscal:

Art. 9º. A exigência de crédito tributário, a retificação de prejuízo fiscal e a aplicação de penalidade isolada serão formalizadas em autos de infração ou notificações de lançamento, distintos para cada imposto, contribuição ou penalidade, os quais deverão estar instruídos com todos os termos, depoimentos, laudos e demais elementos de prova indispensáveis à comprovação do ilícito. (Redação dada pelo art. 1º da Lei nº 8.748/93)95

Nesse contexto, deve-se distinguir o lançamento do auto de

infração. O primeiro, consoante Marcos Vinícius Neder e Maria Teresa Martínez

López (2002: 126), é o ato que constitui o crédito tributário através da aplicação da

norma legal ao caso concreto. Já o segundo, pressupõe a constatação de infração a

dispositivo previsto na legislação tributária quando da verificação das informações

fiscais e contábeis para o lançamento. Assim, o auto de infração é meio hábil à

93 BRASIL, Decreto 70.235/72 (Lei do processo administrativo fiscal). 94 NEDER, Marcos Vinícius. LÓPEZ, Maria Teresa Martinez. Processo administrativo fiscal federal

comentado: decreto nº 70.235/72 e 9.784/99. São Paulo: Dialética, 2002. p. 114 e 115. 95 BRASIL, Decreto 70.235/72 (Lei do processo administrativo fiscal).

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constituição do crédito com inclusão de penalidade pelo descumprimento de dever

jurídico.

Considerando, então, superada esta fase de constituição do

crédito e lavratura do auto de infração, pode-se destacar o disposto no art. 14, do

Decreto nº 70.235/72:

Art. 14. A impugnação da exigência instaura a fase litigiosa do

procedimento.96

Depreende-se de tal dispositivo que pode ou não haver litígio

no PAF. Ou seja, se, notificado o contribuinte da exigência fiscal, efetuar o

pagamento ou pedido de parcelamento, extinguir-se-á o processo sem litígio. Por

outro lado, se o contribuinte entende que a exigência fiscal não está de acordo com

a lei, pode apresentar impugnação a fim de contestar a exigência. Uma terceira

opção seria a revelia, ou seja, o não pagamento e a ausência de impugnação.

Em síntese, as regras atinentes ao procedimento estão

previstas do art. 7º ao art. 22 do Decreto nº 70.235/72.

Traçando breves comentários acerca da decisão de primeira

instância no processo administrativo tributário, deve-se observar o que dispõe o art.

31, da Lei do Processo Administrativo Fiscal:

Art. 31. A decisão conterá relatório resumido do processo, fundamentos legais, conclusão e ordem de intimação, devendo referir-se, expressamente, a todos os autos de infração e notificações de lançamento objeto do processo, bem como às razões de defesa suscitadas pelo impugnante contra todas as exigências. (Redação dada pelo art. 1º da Lei 8.748/93)

Parágrafo único. O órgão preparador dará ciência da decisão ao sujeito passivo, intimando-o, quando for o caso, a cumpri-la, no prazo de trinta dias, ressalvado o disposto no artigo 33.97

O referido artigo traz os elementos indispensáveis da decisão:

relatório resumido do processo, fundamentos legais, conclusão e ordem de

96 BRASIL, Decreto 70.235/72 (Lei do processo administrativo fiscal). 97 BRASIL, Decreto 70.235/72 (Lei do processo administrativo fiscal).

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intimação. Sendo que a omissão de algum desses elementos pode ensejar nulidade

da decisão.

Cabe ressaltar, nesse contexto, a questão da decisão extra,

ultra e citra petita que apresenta aspectos diferenciados para o processo

administrativo fiscal. Entende-se por decisão extra petita aquela em que o julgador

decide objeto diverso do que foi demandado. Já a ultra petita refere-se à decisão

que concede além do que foi pedido. E, por último, citra petita é a decisão que não

aprecia todos os pedidos do autor, concedendo menos do que foi pedido.

Tais situações, quando ocorridas dentro do judiciário, tornam a

decisão nula ou passível de revisão, pois são vedadas pelo ordenamento jurídico

vigente. Entretanto, dentro do âmbito da Administração, o julgador atua com mais

liberdade. Assim, atente-se para o que diz Marcos Vinícius Neder e Maria Teresa

Martínez López:

No processo administrativo [...] o julgador tem maior liberdade de ação, pois atua no controle da legalidade do ato administrativo. Mesmo se não houver impugnação a todos os pontos da exigência, a autoridade deve verificar a correta aplicação da lei aos fatos, podendo, especialmente nas questões de direito, ir fora ou além do pedido.98

Essa liberalidade do julgador, no entanto, está restrita ao que

dispõe o art. 145 do CTN, pelo qual se autoriza a modificação do lançamento

somente por provocação do contribuinte.

Nesse sentido, nem sempre a autoridade julgadora poderá

afastar-se dos limites do pedido do interessado.

Por fim, esclarece-se que independente do órgão de onde

emanou a decisão no processo administrativo fiscal, a mesma não possui status de

coisa julgada. Isso porque a decisão administrativa desfavorável ao particular pode

ser discutida no âmbito do poder judiciário. Consoante dispõe o art. 5º, inciso XXXV,

da Constituição Federal de 1988, a lei não excluirá da apreciação do Poder

Judiciário lesão ou ameaça a direito. Ademais, os atos praticados pela

98 NEDER, Marcos Vinicius. LÓPEZ, Maria Teresa Martinez. Processo administrativo fiscal federal

comentado: decreto nº 70.235/72 e 9.784/99. São Paulo: Dialética, 2002. p. 321 e 322.

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Administração estão sujeitos à revisão (pela própria Administração), a fim de que

seja atendido o interesse público.

Sobre o assunto, assevera Alexandre Barros Castro que:

[...] a decisão proferida por ocasião do procedimento administrativo tributário não se constituirá numa situação imutável, definitiva. Ao contrário, constitui-se ela numa verdadeira proposta de composição, com vistas a evitar o apelo ao Poder Judiciário.99

Esclarece-se, ainda, que o contribuinte não terá

necessariamente de discutir a questão na esfera administrativa, podendo manter-se

inerte e aguardar que a Fazenda acione o judiciário. Nesse caso, o contribuinte

possui como meio de defesa os embargos à execução.

Por outro lado, não desejando o contribuinte impugnar

administrativamente, nem aguardar a execução pela Fazenda, poderá utilizar as

seguintes ações: ação de consignação em pagamento (art. 164, CTN), repetição de

indébito (art. 165, CTN), anulatória de lançamento, declaratória de existência ou

inexistência de relação jurídica e mandado de segurança.

Considerando a função que os princípios exercem dentro do

ordenamento jurídico vigente no Brasil, faz-se breve explanação, adiante, de alguns

deles.

3.2 PRINCÍPIOS RELACIONADOS À APLICAÇÃO DE PENALIDADES

Primeiramente, é imprescindível destacar a aplicabilidade dos

princípios em geral no direito brasileiro, bem como seu significado, para uma melhor

compreensão do tema.

Em sentido amplo, o termo princípio refere-se à essência, ao

motivo substancial de um fenômeno, à base que alicerça determinado ramo do

conhecimento. Consoante José Jairo Gomes,

[...] refere-se, ainda, à verdade, aos axiomas, às proposições, às regras ou aos cânones fundamentais que presidem e alicerçam um

99 CASTRO, Alexandre Barros. Procedimento administrativo tributário. São Paulo: Atlas, 1996. p.

120.

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ramo do conhecimento; significa, ademais, o vetor, a idéia inspiradora, orientadora e retora de um determinado sistema.100

Nesse liame, pode-se observar que, em regra, a expressão

princípio é um tanto imprecisa e vaga, ou até mesmo, abstrata. Ademais, o princípio

não possui uma especificação tal que lhe permita moldar por si só um caso concreto,

conferindo direitos determinados ou impondo deveres específicos. No entanto, essa

ausência de concretude e sua imprecisão não retiram o papel fundamental que os

princípios exercem no direito.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, foram

estabelecidos princípios fundamentais, sob os quais se ergue a estrutura essencial

do Estado Democrático de Direito.

José Jairo Gomes (2006: 33), citando a obra Direito

Constitucional de Canotilho, esclarece que os princípios jurídicos fundamentais

podem ser entendidos como aqueles que foram objetivados no decurso da história e,

aos poucos, introduzidos na consciência jurídica, encontrando uma recepção

expressa ou não, no texto constitucional.

Os princípios podem ser contemplados juridicamente de forma

explícita ou implícita. Explícito é o princípio que se convola numa proposição ou num

enunciado normativo e implícito é aquele que resulta de uma idéia presidida por

alguma norma ou um conjunto de preceitos esparsos em diversas normas.

[...] o princípio orienta o raciocínio jurídico, sobretudo no momento da interpretação e aplicação do Direito. Com isso, enseja que a decisão do caso prático se encaminhe e se aproxime o máximo possível da equidade e, da idéia de justiça.101

Assim, pode-se dizer que o princípio é o elo que une o direito à

Justiça.

100 GOMES, José Jairo. Direito Civil: introdução e parte geral. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. P.

32. 101 GOMES, José Jairo. Direito Civil: introdução e parte geral. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p.

34.

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Por derradeiro, estando o princípio explícito ou implícito, por

vezes, poderá ocorrer conflitos entre ele e a regra. É dizer: a regra legal regula certa

situação de maneira diversa daquela para a qual sinaliza o princípio.102 Analisando o

caso, num primeiro momento apontaria a lógica para a aplicação da regra, por ser a

mesma específica. Entretanto, tanto o regra como o princípio devem ser

ponderados, ressaltando-se que sendo o princípio constitucional, seu sentido deverá

prevalecer em prejuízo do que diz a regra.

A penalidade, independente da área de aplicação e em

qualquer ramo do direito fiscal, sujeita-se ao princípio da legalidade, da anterioridade

e da retroatividade da lei mais benéfica.

Do mesmo modo, o processo administrativo fiscal deve

observar os princípios do contraditório e da ampla defesa, pois, assim, determina a

Constituição Federal DE 1988 em seu art. 5º, ao dispor sobre os direitos e garantias

individuais. Dessa forma, passa-se ao estudo de cada um dos princípios

supracitados.

3.2.1 Princípio da legalidade

Consoante este princípio, ninguém pode ser compelido a

praticar ou deixar de praticar determinada conduta senão em decorrência de

preceito legal.

A Constituição Federal de 1988 dispõe:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;103

102 GOMES, José Jairo. Direito Civil: introdução e parte geral. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p.

36. 103 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

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Daí então, a expressão “nullum crimem nulla poena sine lege”.

Ou seja, não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia

cominação legal.

No mesmo sentido do disposto constitucional, pode-se

destacar o art. 97, do Código Tributário Nacional:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas;104

Conforme esclarece Leandro Paulsen (2008: 829), essa

exigência de lei para a cominação de penalidades não decorre propriamente do art.

150, I, da CF, o qual diz respeito à instituição de tributo, mas sim do art. 5º, II, da CF,

acima transcrito.

Portanto, toda sanção, quer seja ela tributária, aduaneira,

penal, só é aplicável, se e quando devidamente estatuída por lei vigente.

Encontra-se aplicação do princípio da legalidade, ainda, no

processo administrativo fiscal.

3.2.2 Princípio da anterioridade

O princípio da anterioridade está relacionado ao princípio da

legalidade.

Segundo este princípio, além da exigência de lei instituidora da

penalidade, a mesma, obrigatoriamente, deve anteceder a prática do ilícito punível.

Encontra-se fundamento para a anterioridade no art. 150, III, a,

da CF/88:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

104 BRASIL, Lei 5.172/66 (Código Tributário Nacional).

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III - cobrar tributos:

a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado;105

Apesar da Constituição se referir a impossibilidade de

cobranças de tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes da vigência da

lei que os instituiu, por analogia, aplica-se a regra também às infrações e

penalidades.

Acerca da irretroatividade, excelente citação faz Vicente Ráo

em O Direito e a Vida dos Direitos, apud, Leandro Paulsen (2008: 210):

A inviolabilidade do passado é princípio que encontra fundamento na própria natureza do ser humano, pois, segundo as sábias palavras de Portalis, o homem, que não ocupa senão um ponto no tempo e no espaço, será o mais infeliz dos seres, se não se pudesse julgar seguro nem sequer quanto à sua vida passada. Por essa parte de sua existência, já não carregou todo o peso de seu destino? O passado pode deixar dissabores, mas põe termo a todas as incertezas. Na ordem do universo e da natureza, só o futuro é incerto e esta própria incerteza é suavizada pela esperança, a fiel companheira de nossa fraqueza. Seria agravar a triste condição da humanidade querer mudar, através do sistema da legislação, o sistema da natureza, procurando, para o tempo que já se foi, fazer reviver as nossas dores, sem nos restituir as nossas esperanças.106

Fernando Capez (2005: 52), tratando da vigência da lei,

esclarece, com base no que dispõe o art. 1º da Lei de Introdução ao Código Civil,

que a lei começa a produzir efeitos depois da sua entrada em vigor, passando a

regular todas as situações futuras, e, excepcionalmente, as passadas.

Portanto, o princípio da anterioridade veda a aplicação de

penalidades quando ao tempo da prática do ato a conduta não era considerada

infracional.

105 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 106 RAÓ, Vicente. apude, PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à

luz da doutrina e da jurisprudência. 10ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora; ESMAFE, 2008. p. 210.

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3.2.3 Princípio da retroatividade da lei mais benéfica

Em regra, o Direito Brasileiro, aplica a irretroatividade das leis

em geral. Entretanto, existem exceções, que podem vir expressas na própria lei, ou

em decorrência da natureza da lei. Como exemplo, pode-se citar as leis que

concedem anistia ou remissão. Já no ramo das penalidades, as leis podem ter

caráter retroativo sempre que forem mais benéficas ao infrator.

Observe-se o art. 106, do Código Tributário Nacional:

Art. 106. A lei aplica-se a fato ou ato pretérito:

[...]

II – tratando-se de ato não definitivamente julgado:

a) quando deixe de defini-lo como infração;

b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo;

c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.107

Pela referida norma, quando o ato ou fato não estiver

definitivamente julgado, sobrevindo lei mais benéfica em relação à penalidade

deverá ser esta aplicada ao caso concreto.

Ainda, pode-se citar o princípio da interpretação favorável

estritamente relacionado ao da retroatividade da lei mais benéfica.

No que tange à interpretação da lei, atente-se para o seguinte:

Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto:

I - à capitulação legal do fato;

107 BRASIL, Lei 5.172/66 (Código Tributário Nacional).

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II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos;

III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade;

IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação.108

Utiliza-se a expressão “novatio legis in mellius”, ou seja, nova

lei em benefício do agente. Segundo Fernando Capez, qualquer direito adquirido do

Estado com a satisfação do jus puniendi é atingido pela nova lei, por força do

imperativo constitucional da retroatividade da Lex mitior (art. 5º, XL).109

Assim, deve-se aplicar a lei posterior que, de algum modo, traz

um benefício para o agente no caso concreto, desde que o ato não esteja

definitivamente julgado e, em caso de dúvida, interpretar a lei da maneira mais

favorável ao acusado.

3.2.4 Princípio do contraditório

Como já ressaltado anteriormente, a aplicação das penalidades

aduaneiras também requerem a existência de um processo administrativo que

garanta ao agente o direito de contraditório.

O princípio do contraditório está previsto no inciso LV, do art. 5º

da Constituição Federal de 1988:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;110

108 BRASIL, Lei 5.172/66 (Código Tributário Nacional). 109 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1: parte geral (arts. 1º a 120). 9. Ed. São

Paulo: Saraiva, 2005. p. 55. 110 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

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Conforme estabelece a Constituição, o contraditório deve ser

garantido não somente nos processos judiciais, como também nos administrativos.

Sobre o assunto, leciona Alexandre Barros Castro que:

[...] a cada ato da Fazenda Pública caberá um por iniciativa do particular, de modo a marcharmos para o fim ensejado, qual seja, o da edição de um ato conclusivo, para o qual se dirige todo o procedimento.111

Essa oportunidade de manifestação do particular contra os atos

da Fazenda Pública é que demonstra estar sendo garantido o contraditório ao

acusado.

Ainda acerca deste princípio, pode-se apontar as explicações

dadas por Fernando Capez em sua obra Curso de Processo Penal (2007: 19), ao

dizer que o contraditório permite aos contendores praticar todos os atos tendentes a

influir no convencimento do juiz. E tal direito não inclui somente o de produzir as

provas, mas também o de vê-las seriamente apreciadas e valoradas pelo órgão

jurisdicional.

3.2.5 Princípio da ampla defesa

Previsto constitucionalmente, o princípio da ampla defesa

impõe ao Estado o dever de proporcionar, a qualquer que for acusado, meios de

apresentar uma defesa completa. Assim, explica Pacheco:

Significa que o Estado tem o dever de proporcionar a todo acusado a mais completa defesa, seja pessoal, seja técnica (art. 5º, LV, CR), bem como o de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados (art. 5º, LXXIV, CR).112

Ives Granda da Silva Martins in Valdir de Oliveira Rocha (1999:

84), ao abordar os Aspectos do Processo Administrativo Tributário, ressalta que a

Constituição Federal assegura ao contribuinte o processo administrativo fiscal, com

111 CASTRO, Alexandre Barros. Procedimento administrativo tributário. São Paulo: Atlas, 1996. p.

103. 112 PACHECO, Denilson Feitosa. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. 5ª ed., rev. e

atual. Com Emenda Constitucional da “Reforma do Judiciário”. Niterói, RJ: Impetus, 2008. p. 135.

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ampla defesa e que, para isso, não podem haver restrições, nem limitações a

recursos e meios necessários para uma efetiva ampla defesa.

3.2.6 Princípio da proporcionalidade

Humberto Ávila traz excelente esclarecimento ao princípio da

proporcionalidade em seu livro Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos

princípios jurídicos:

O postulado da proporcionalidade exige que o Poder Legislativo e o Poder Executivo escolham, para a realização de seus fins, meios adequados, necessários e proporcionais. Um meio é adequado se promove o fim. Um meio é necessário se, dentre todos aqueles meios igualmente adequados para promover o fim, for o menos restritivo relativamente aos direito fundamentais. E um meio é proporcional, em sentido estrito, se as vantagens que promove superam as desvantagens que provoca.113

Nesse liame, pode-se dizer que a proporcionalidade diz

respeito à utilização dos meios adequados e estritamente necessários ao

atendimento do interesse público.

Enfim, o princípio da proporcionalidade tende a evitar que se

imponham obrigações, restrições e sanções superiores ao que se entende por

necessário à satisfação de um determinado fim.

3.3 A APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ ANTE À PENALIZAÇÃO

DAS INFRAÇÕES NA IMPORTAÇÃO

3.3.1 O princípio da boa-fé

A boa-fé, assim como o Direito, nasceu na tradição jurídica

romana e a palavra deriva do latim “fides”. Assim explica Mariana Pretel:

113 ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. São

Paulo: Malheiros, 2003. p. 102.

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A expressão “boa-fé” tem sua origem no latim “fides”, que, nos

tempos romanos, significava honestidade, confiança, lealdade e sinceridade e sua

existência decorre do primado da pessoa humana.114

Vislumbra-se uma grande dificuldade na conceituação deste

instituto, vez que comporta uma série de significados. Essa dificuldade advém dos

tempos romanos, época em que a boa-fé já apresentava dualidade de conceitos.

Numa primeira concepção, agia de boa-fé aquele que agisse dentro das leis de sua

crença. Em outra concepção, a boa-fé se caracterizava na confiança existente nas

relações e, assim, o juiz utilizava critérios éticos, sociais e de equidade para decidir.

Leandro Paulsen, ao comentar a boa-fé nas questões atinentes

ao perdimento traz interessante conceito dado por De Plácido e Silva, em seu

Vocabulário Jurídico, vols. I e II, 1990, p. 326:

BOA-FÉ. Sempre se teve boa-fé no sentido de expressar a intenção pura, isenta de dolo ou engano, com a que a pessoa realiza o negócio ou executa o ato, certa de que está agindo na conformidade do direito, consequentemente, protegida pelos preceitos legais. Dessa forma, quem age de boa-fé, está capacitado de que o ato de que é agente, ou do qual participa está sendo executado dentro do justo e do legal.115

Assim, pode-se dizer que a boa-fé se manifesta na ausência de

dolo, ou na convicção de se estar agindo em conformidade com o que se considera

ético e moral.

Essa inexistência de um conceito exato definidor da boa-fé,

levou a doutrina e a jurisprudência brasileira a admitirem esse instituto sob dois

prismas distintos: subjetivo e objetivo.

Num primeiro momento, poder-se-ia dispor que a boa-fé subjetiva se refere a dados psicológicos, elementos internos, os quais conduzem o sujeito a uma ignorância do caráter ilícito de suas condutas, relaciona-se com a idéia de crença errônea, enquanto que, a boa-fé objetiva, refere-se a elementos externos, normas de conduta, que

114 PRETEL, Mariana. A boa-fé: conceito, evolução e caracterização como princípio

constitucional. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1565, 14 out. 2007. Disponível em HTTP://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10519. Acessado em 5 out 2010.

115 DE PLACIDO E SILVA, apude, PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 10ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora; ESMAFE, 2008. p. 662.

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determinam a forma de agir de um indivíduo, conforme os padrões de honestidade socialmente reconhecidos.116

Na Lei 10.416/02 (Código Civil), encontra-se presente a boa-fé

subjetiva, por exemplo, nos arts. 1.201, 1.214 e 1.219, ao se tratar da posse. Nelson

Rosenvald (2007: 79) afirma que a boa-fé subjetiva, no caso da posse, se manifesta

como a exata convicção interna do possuidor sobre a inexistência de defeitos em

sua posse.

A boa-fé objetiva, por sua vez, encontra-se no campo dos

direitos obrigacionais.

Ele compreende um modelo de eticização de conduta social, verdadeiro standard jurídico ou regra de comportamento, caracterizado por uma atuação de acordo com determinados padrões sociais de lisura, honestidade e correção, de modo a não frustrar a legítima confiança da outra parte.117

Cumpre esclarecer que boa-fé subjetiva e objetiva não se

confundem e, mais, são independentes. De modo que alguém, ignorando o indevido

de sua ação, ou seja, obrando de boa-fé subjetiva, pode, ao mesmo tempo, ostentar

comportamento contrário à boa-fé objetiva.

Passando à análise da boa-fé especificamente no direito

tributário, tem-se a mesma como uma excludente de ilicitude, assim como no direito

penal se tem o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do

dever legal ou exercício regular de direito.

Nesse sentido, diz Edmar Oliveira Andrade Filho: a boa fé é

uma causa de exclusão da ilicitude que atua em todos os departamentos do direito

positivo, o que inclui, portanto, o direito tributário.118

116 PRETEL, Mariana. A boa-fé: conceito, evolução e caracterização como princípio

constitucional. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1565, 14 out. 2007. Disponível em HTTP://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10519. Acessado em 6 out 2010.

117 ROSENVALD, Nelson. Dignidade humana e boa-fé no código civil. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 80.

118FILHO, Edmar Oliveira Andrade. O princípio da boa-fé no direito tributário. Disponível em http://www.fiscosoft.com.br/a/2fub/o-principio-da-boa-fe-no-direito-tributario-edmar-oliveira-andrade-filho#ixzz11bvaf3bn. Acessado em 6 out 2010.

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Nesse contexto, o princípio da boa-fé pode ser invocado

quando da interpretação e aplicação das sanções tributárias e até mesmo tem

servido de amparo às decisões dos tribunais.

Consoante esclarece Edmar Oliveira Andrada Filho em seu

artigo “O princípio da boa-fé no direito tributário”, a boa-fé é um princípio geral ou

cláusula geral de exceção de dolo (exceptio doli generalis), tendo grande influência

na interpretação a aplicação do direito, principalmente no que tange às normas

penais. A boa-fé se manifesta como uma excludente de ilicitude na medida em que a

infração decorrer de um resultado não almejado pelo agente e, ao mesmo tempo,

incompatível com as figuras da negligência, imprudência e imperícia.

3.3.2 Análise jurisprudencial: a aplicação do princípio da boa-fé como

excludente de ilicitude nas infrações atinentes à importação

Parte-se agora à análise da jurisprudência no que tange à

aplicação do princípio da boa-fé nos casos de penalidades aplicadas no curso do

despacho aduaneiro de importação.

No primeiro julgado a ser analisado, discute-se à aplicação de

multa por insuficiência no preenchimento da declaração de importação. Observe-se:

TRIBUTÁRIO E ADUANEIRO. MULTA POR INSUFICIÊNCIA NO PREEENCHIMENTO DA DECLARAÇÃO DE IMPORTAÇÃO. DESCRIÇÃO DA MERCADORIA. LEI 10.833/03, § 2.º, III. AUSENTE DANO AO ERÁRIO. PRESUNÇÃO DE BOA-FÉ NÃO ELIDIDA. 1. A presunção de dano ao erário pode ser afastada no caso concreto, em face do recolhimento dos tributos, da inexistência de subvaloração de preços, além da descrição correta, ainda que insuficiente das mercadorias, o que pressupõe regularidade na importação.

2. A equivocada insuficiência no preenchimento da declaração de importação não pode resultar na aplicação de penalidade quando não acompanhada de provas inequívocas e inobjetáveis aptas a elidirem a presunção de boa-fé.

3. Na espécie, a insuficiência da descrição da mercadoria, no que diz respeito aos "percentuais dos elementos constitutivos do produto", decorreu de erro involuntário e, portanto, o importador não agiu com a intenção de lesar o fisco.

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TRF4 / Apelação/Reexame necessário nº 2007.71.01.001976-4 / Relator Joel Ilan Paciornik / D.E. 20/10/2009

Consoante se observa no relatório elaborado pelo

Desembargador Joel Ilan Paciornik do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, trata-

se de ação ordinária proposta por uma empresa de fertilizantes, na qual se pretendia

o desembaraço aduaneiro de mercadoria importada e a declaração de

inexigibilidade da multa prevista no art. 69 da Lei n.º 10.833/03.

De início, foi concedida tutela antecipada, determinando o

prosseguimento do despacho aduaneiro e, consequente, desembaraço e liberação

da mercadoria importada, independente de prévio recolhimento da multa.

A sentença julgou procedente o pedido do autor e o Juiz de

primeiro grau argumentou, em síntese, que seria imprescindível a comprovação do

dolo ou da má-fé para a aplicação da penalidade, e assim, declarou inexigível a

multa imposta pela administração fiscal e determinou o imediato desembaraço da

mercadoria. A Fazenda Nacional, sendo vencida, interpôs recurso ao Tribunal

Regional Federal da 4ª Região.

Na apreciação do recurso, entendeu o Tribunal Regional

Federal da 4ª Região, em síntese, que a aplicação da multa, apesar de legal, vez

que incontroversa a insuficiência no preenchimento da declaração de importação, no

que diz respeito aos “percentuais dos elementos constitutivos do produto”,

igualmente restou demonstrado que o importador não agiu com intuito doloso.

Ademais, o importador comprovou que não houve qualquer irregularidade na

importação, tanto em relação ao recolhimento de tributos, quanto à documentação,

valores, quantidade da mercadoria, etc. Ou seja, todas as circunstâncias do caso

corroboraram para demonstração da boa-fé.

Inobstante a boa-fé ser presumida, vislumbrou-se “que,

efetivamente, o importador não agiu com a intenção de lesar o fisco e que na

verdade ocorreu um erro involuntário praticado no preenchimento da declaração de

importação.”119

119 TRF4. Apelação/Reexame necessário nº 2007.71.01.001976-4. Relator Joel Ilan Paciornik. D.E. 20 out 2009.

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No mesmo sentido, atente-se para a jurisprudência a seguir:

TRIBUTÁRIO. DIREITO ADUANEIRO. PENA DE PERDIMENTO DO VEÍCULO TRANSPORTADOR DE MERCADORIA ESTRANGEIRA INTERNADA IRREGULARMENTE. RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO PELO ILÍCITO FISCAL. LOCADORA DE AUTOMÓVEIS. BOA-FÉ.

1. Para a aplicação da pena de perdimento do veículo transportador de mercadoria estrangeira internada irregularmente e passível da mesma pena de perdimento, faz-se necessária a comprovação da responsabilidade do proprietário do veículo pelo ilícito fiscal.

2. Ausente a demonstração de que a parte autora tinha conhecimento da situação, não resta elidida a presunção de boa-fé do proprietário do bem.

3. Em se tratando de empresa do ramo de locação de automóveis, especificamente, salvo prova em contrário, não há como se imputar, de plano, responsabilidade pela prática do ilícito fiscal verificado.

TRF4 / Apelação Cível nº 0001801-21.2009.404.7005 / Relator Artur César de Souza / D.E. 31.03.2010

Refere-se o segundo julgado à imposição da pena de

perdimento de veículo, com o escopo de que foi utilizado para transporte de

mercadoria sujeita à pena de perdimento na prática de crime de

contrabando/descaminho, conforme disposição do art. 617, inciso V, do Decreto nº

4.543/2002 (antigo Regulamento Aduaneiro).

O automóvel utilizado para transporte das mercadorias

apreendidas é de propriedade de uma Locadora de automóveis.

Extrai-se do relatório do Desembargador Artur César de Souza

do Tribunal Regional Federal da 4ª Região que a empresa Locadora do automóvel

dado em pena de perdimento ingressou com Ação Ordinária, postulando o

afastamento da pena de perdimento fiscal sobre seu veículo. A autora alegou, em

síntese, que exerce atividades no ramo de locação de automóveis há mais de dez

anos e que não tinha conhecimento das finalidades com que os infratores locaram o

veículo.

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Em primeiro grau, teve seu pedido procedente. Mas,

inconformada, a União recorreu para modificação do julgado.

Os desembargadores responsáveis pela apreciação do

recurso, por unanimidade, negaram-lhe provimento.

A Fazenda Nacional alega que o veículo foi utilizado como

instrumento do crime e, portanto, existe responsabilidade da locadora. Alega, ainda,

ser esta responsabilidade objetiva e que a autora não tomou as cautelas

necessárias para impedir o cometimento do ilícito.

O entendimento do citado Tribunal foi no sentido de que,

inicialmente, a locadora de veículos não agiu com negligência e, tampouco, possui o

dever de investigar a vida pregressa dos clientes, a fim de que verifique a existência

ou não de condenação pela prática de crimes de contrabando/descaminho.

Ressalte-se o fato de que a locadora não tem como saber qual destino dará o

locatário ao veículo. Isso porque tal prática tornaria inviável a atividade econômica.

Sustentou também o Tribunal que a pena de perdimento do veículo pode ser

afastada por dois motivos: ausência de responsabilidade do proprietário no

cometimento da infração e desproporção entre o valor das mercadorias e o valor do

veículo.

Ademais, a responsabilidade do proprietário do veículo, ao

contrário do que afirma a União, é subjetiva, não restando, no caso em tela,

demonstrado qualquer indício de participação da locadora na prática do ilícito.

Sendo assim, manteve-se a presunção de boa-fé da locadora,

a qual só poderia ser afastada mediante prova robusta produzida pelo Fisco,

demonstrando o liame entre o autor do ilícito e o proprietário do automóvel.

3.4 RELEVAÇÃO DAS PENALIDADES

3.4.1 Aspectos gerais

No título das disposições finais do Regulamento Aduaneiro,

encontra-se disposto um capítulo específico para a questão da relevação das

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penalidades. A relevação trata-se, na verdade, de perdão concedido ao infrator pelo

cometimento de infrações que não ocasionarem falta ou insuficiência de

recolhimento de tributos. Assim dispõe o art. 736:

Art. 736. O Ministro de Estado da Fazenda, em despacho fundamentado, poderá relevar penalidades relativas a infrações de que não tenha resultado falta ou insuficiência de recolhimento de tributos federais, atendendo (Decreto-Lei nº 1.042, de 21 de outubro de 1969, art. 4º, caput):

I - a erro ou a ignorância escusável do infrator, quanto à matéria de fato; ou

II - a eqüidade, em relação às características pessoais ou materiais do caso, inclusive ausência de intuito doloso.

§ 1º A relevação da penalidade poderá ser condicionada à correção prévia das irregularidades que tenham dado origem ao processo fiscal (Decreto-Lei nº 1.042, de 1969, art. 4º , § 1º).

§ 2º O Ministro de Estado da Fazenda poderá delegar a competência que este artigo lhe atribui (Decreto-Lei nº 1.042, de 1969, art. 4º , § 2º).120

Depreende-se de tal dispositivo uma faculdade conferida ao

Ministro de Estado da Fazenda, ou a quem ele lhe delegar a competência, de relevar

penalidades, desde que atendam a um dos requisitos acima citados.

Cabe observar que as hipóteses dos incisos I e II deste artig, que ensejam a anistia encontram-se arroladas no art. 172, II e IV, do CTN como fundamentos que autorizam a remissão do crédito tributário. [...] De toda sorte, impende verificar que, mercê do disposto no inciso II do artigo em análise, mais uma vez no plano das penalidades tributárias há que perquirir o animus do infrator, já que o dispositivo fala em dolo.121

Analisando-se os incisos separadamente, infere-se no inciso I a

hipótese de erro escusável. Consoante SOSA (1995: 491), o erro escusável não

pode ser confundido com a ignorância, pois a ninguém é dado desconhecer a lei no

seu sentido substantivo. Assim, o erro escusável é o erro de fato ou erro substancial.

120 BRASIL, Decreto 6.759/09 (Regulamento Aduaneiro). 121 LUGONES, Carlos Guilherme Francovich. Infrações e sanções tributárias. Cap. 4. In: FREITAS,

Vladimir Passos de. Importação e Exportação no Direito Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 145.

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O erro substancial, por sua vez, é aquele em que há engano quanto ao objeto

principal da obrigação. Não se trata de desconhecimento da existência de norma

reguladora da matéria, mas sim de equívoco quanto ao seu objeto principal.

Já no inciso II, possibilita-se a aplicação da equidade. Com a

equidade busca-se o justo e o razoável, quando a lei se mostrar injusta

relativamente àquele caso concreto.122

Ou seja, quando as circunstâncias e peculiaridades do caso

concreto indicarem que a lei aplicável ensejará uma decisão injusta, poderá o

julgador se utilizar da equidade. Isso torna o julgamento bastante subjetivo porque o

senso de justiça difere de pessoa pra pessoa. Do mesmo modo, é extremamente

subjetivo dizer se o infrator agiu ou não com intuito doloso.

Nesse liame, o caput do art. 736 estabelece um parâmetro para

relevação da penalidade, qual seja: a ausência de prejuízo à arrecadação. Diz-se

que não houve prejuízo ao Fisco quando da infração cometida não resultar falta ou

insuficiência no recolhimento de tributos. Tal parâmetro diminui o campo de

subjetivismo em que atua o julgador.

Por derradeiro, pode-se dizer que a relevação de penalidades

ao ser disposta no Regulamento Aduaneiro tornou evidente o caráter não absoluto

da regra de imputação de responsabilidade pelo cometimento de infração

independentemente da presença ou não do animus. Dessa forma, traz-se à análise

alguns julgados que abordam a matéria.

3.4.2 Análise jurisprudencial acerca da relevação das penalidades

Atente-se agora para alguns casos levados à apreciação da

Justiça, nos quais entendeu-se pela relevação da penalidade imposta, considerando

a ocorrência de erro escusável, ausência de dolo e de prejuízo à Arrecadação.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO RETIDO. PREJUDICADO. ADMINISTRATIVO. LIBERAÇÃO DE MERCADORIA E CONTEINER. VISITA E BUSCA ADUANEIRA. AUSÊNCIA DO MANIFESTO DE

122 SOSA, Roosevelt. Baldomir. Comentários à Lei Aduaneira: decreto nº 91.030/85. São Paulo:

Aduaneiras, 1995. p. 492.

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CARGA E DO CONHECIMENTO OU DOCUMENTO EQUIVALENTE. PERDIMENTO.

DOCUMENTOS APRESENTADOS EXTEMPORANEAMENTE. RELEVAÇÃO DA PENALIDADE.

1. Discute-se o direito à liberação de container e respectiva mercadoria, retidos pela fiscalização em visita aduaneira, por se encontrarem irregulares. (...)

3. Os documentos exigidos pela fiscalização por ocasião da visita aduaneira, consistentes no conhecimento de embarque e manifesto de carga, devem acompanhar todas as cargas comercializadas internacionalmente, independentemente de haver ou não o seu desembarque no Porto em que ancora o navio. 4. A falta do manifesto notada pela autoridade aduaneira, em sua Visita Aduaneira ao navio "Conti Malaga" e sua exigência, como documentação idônea para o transporte internacional, é legítima. Entretanto, sua conduta, não aceitando a entrega do mesmo extemporaneamente, por ter dado início à ação fiscal, certificando-se da regularidade de ditos documentos, assim como, pelo Registro de Manifesto de Carga Consolidada (fls. 53), apresentada naquela Inspetoria, em 16 de abril de 2002, onde consta a relação dos conhecimentos entregues, dentre eles o número de conhecimento WB65746WCL, antes da atracação do navio, pautando-se em normas internas (Comunicação de Serviço n° 14 e 19 - fls. 145/150), não legitima a aplicação da penalidade de perdimento imposta. 5. De qualquer forma, diante da postura da Embargante, denunciando espontaneamente o fato, afigura-se excessiva a tipificação aposta no Auto de Infração (fls. 54/56), com proposta de perdimento da mercadoria, tida como de introdução clandestina no País, por se encontrar o contêiner, ao tempo da inspeção aduaneira, desacompanhado da documentação pertinente, ou seja, do manifesto de carga e do conhecimento marítimo, considerando a sua entrega em tempo razoável pela responsável, ao Fisco. Precedentes do Conselho de Contribuintes. [...]

9. Recurso provido, concedendo a ordem para anular o Auto de Infração e Guarda Fiscal n° 0817800/00261/02, liberando as mercadorias retidas, para que sejam desembaraçadas, de acordo com as regras vigentes à época da apreensão, sem prejuízos da verificação da regularidade de outros documentos relativos à importação, assim como do manifesto de carga e do conhecimento marítimo, apresentados extemporaneamente, fazendo-se o recolhimento dos tributos devidos à época, acrescido dos consectários legais, bem como para que se proceda a imediata liberação do container apreendido, independentemente do desembaraço da mercadoria.

TRF3 / Apelação em Mandado de Segurança - Processo 2002.61.04.004134-5 / Relatora Desembargadora Eliana Marcelo / D.J. 14/02/2007

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84

Depreende-se da jurisprudência acima transcrita, originária do

Tribunal Regional Federal da 3ª Região, questão envolvendo perdimento da

mercadoria importada. Observa-se que a aplicação da penalidade decorreu da

ausência de manifesto de carga, verificada pela autoridade quando da visita

aduaneira. A autoridade fiscal entendeu pela introdução clandestina da mercadoria

no país.

O referido Tribunal, ao apreciar a lide, manifestou

entendimento no sentido de que, não obstante a apreensão da mercadoria estar em

conformidade com as normas legais, diante das circunstâncias do caso concreto, a

aplicação de tal penalidade seria excessiva. Isso porque, ainda, a importadora

procurou apresentar, mesmo que extemporaneamente, o documento exigido, o qual

foi rejeitado pelo Fisco sob o argumento de que já havia dado início à ação fiscal.

Dessa forma, foi dado provimento ao apelo da importadora, anulando-se o auto de

infração, determinando a liberação das mercadorias retidas e o desembaraço

aduaneiro.

Observe-se o julgado a seguir, no qual se infere a relevação da

penalidade pelo erro escusável e aplicação do princípio da boa-fé:

ADUANEIRO E TRIBUTÁRIO. PRODUTOS À BASE DE TRIGO. DENOMINAÇÃO DA MERCADORIA E CLASSIFICAÇÃO FISCAL. ERRO ESCUSÁVEL E PLENAMENTE JUSTIFICADO. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ. RELEVAÇÃO DA SANÇÃO APLICÁVEL.

1. "As penalidades aplicadas em razão de divergência quanto à classificação fiscal necessitam, além do evidente erro de fato quanto ao correto enquadramento das mercadorias, a intenção de lesar o erário. Nessa banda, importa a verificação, in concreto, da intenção do agente na consecução do ato objeto de autuação" (AMS 2006.70.02.009354-1/PR). 2. Tratando-se de infração aduaneira cometida sem má-fé, decorrente de erro escusável e plenamente justificado, que não resulte em falta ou insuficiência no pagamento de imposto e sanada pelo infrator, releva-se a penalidade aplicável. Precedentes desta Corte.

3. Apelação provida.

TRF4 / Apelação Cível nº 2006.70.02.008321-3 / Relator Desembargador Otávio Roberto Pamplona / D.E. 27.01.2010

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Atentando-se para o que consta do relatório, trata o processo

originário de mandado de segurança interposto pela empresa Ostrowski & Irmãos

Ltda com o objetivo de ver liberadas as mercadorias importadas, bem como o

afastamento da cobrança de multas.

A apreensão das mercadorias deu-se por entender o Fisco

que a classificação da mercadoria constante na Declaração de Importação não

correspondia à mercadoria efetivamente importada. Para a Administração tratava-se

de farinha de trigo fortificada e não de farinha pré-misturada.

Assim que constatada a divergência, a Receita Federal

interrompeu o despacho e determinou a reclassificação dos produtos, com a

aplicação de multas e incidências tributárias.

O Juízo de primeiro grau denegou a segurança e,

inconformada, recorreu a empresa.

Consoante se observa na íntegra do acórdão, entendeu o

Tribunal que, embora o laudo do exame laboratorial tenha concluído “cuidar-se os

produtos de farinha de trigo fortificada e não mistura e pastas para preparação de

produtos de padaria”, o julgador que aprecia o caso concreto não deve apegar-se à

literalidade da lei, restringindo-se a proceder à tarefa de subsunção do fato à norma,

abstraindo do conjunto de circunstâncias que contribuíram para a configuração da

lide.

Ressalta-se, no julgado em comento, que para a configuração

da responsabilidade infracional não devem ser desconsiderados os aspectos

subjetivos, traduzido, na espécie, no princípio da boa-fé, o qual preside às relações

jurídicas. Ademais, as multas aplicadas ao caso foram demasiadamente gravosas.

Considerando que a penalidade resultou de divergência quanto

à classificação fiscal, assevera-se que deve restar configurada a intenção do agente

em lesar o Fisco, o que não ocorreu, até porque a farinha de trigo pura possui

alíquota zero de imposto de importação.

Importante esclarecer, ainda, que a mercadoria objeto da

demanda é de origem argentina e nesse país a classificação dada a mesma é a de

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pré-mistura destinada à fabricação de pães e massas. Isso reforça a dificuldade

existente em classificar o produto, tornando o erro plenamente escusável.

Por derradeiro, ressalta-se o seguinte trecho do voto:

[...] as multas prestam-se a apenar aqueles que se mostram inclinados a burlar a fiscalização da Receita, furtando-se ao recolhimento de impostos ou utilizando-se do comércio exterior para consecução de objetivos escusos de maior vulto, como a remessa de divisas e a lavagem de dinheiro.123

Assim, entendeu o Tribunal não ser justa a aplicação da

penalidade, considerando a ausência de dolo por parte do importador e demais

circunstâncias do caso, dando-se provimento à apelação.

Ainda, sobre o assunto, traz-se à análise o seguinte julgado:

ADUANEIRO E TRIBUTÁRIO. CONHECIMENTO DE CARGA. DIVERGÊNCIAS. ERRO ESCUSÁVEL. BOA-FÉ DO IMPORTADOR. RELEVAÇÃO DA PENA DE PERDIMENTO.

Tratando-se de infração aduaneira cometida sem má-fé, decorrente de erro escusável sanado pelo infrator, que não resulte em falta ou insuficiência no pagamento de imposto, releva-se a penalidade aplicável. Precedentes desta Corte.

TRF4 / Apelação/Reexame necessário nº 2007.72.08.002600-0 / Relator Desembargador Otávio Roberto Pamplona / D.E. 20.01.2010

Conforme consta do relatório, trata-se de mandado de

segurança impetrado pela importadora, requerendo-se a liberação de mercadoria

apreendida pela fiscalização aduaneira, a qual sujeitou-a à pena de perdimento,

tendo em vista a divergência constatada no conhecimento de carga.

A importadora obteve êxito no mandado de segurança, tendo o

magistrado decidido pelo descabimento da aplicação da pena de perdimento,

facultando o Fisco à aplicação somente de multa.

123 Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação Cível nº 2006.70.02.008321-3. Relator Desembargador Otávio Roberto Pamplona. D.E. 27 jan 2010.

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Apelando, então, a União alega em síntese que restou provada

a falsidade do documento, o que justifica a aplicação do perdimento, e que a

responsabilidade por infrações à legislação tributária é sempre objetiva.

Observa-se no presente caso que a importação se deu pelo

regime de drawback suspensão e a mercadoria foi desembaraçada

automaticamente (canal verde), ingressando o importador com pedido espontâneo

de retificação do NIC. O fato de a importação dar-se sob o regime drawback

suspensão afastou a hipótese de redução ou supressão de tributo.

Por fim, extrai-se do acórdão ser fato incontroverso a existência

de dois documentos com informações diferentes, entretanto, a manifestação

espontânea do importador, a ausência de prejuízo à Arrecadação, bem como a

ausência de atuação dolosa do contribuinte corroboraram para a presunção de que

o mesmo agiu de boa-fé, revelando-se ser desproporcional a aplicação da pena de

perdimento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As considerações que finalizam este trabalho de conclusão de

curso visam, dentre outras iniciativas, apresentar possíveis soluções aos problemas

propostos e aos objetivos gerais e específicos perseguidos nas análises propostas

no projeto de pesquisa previamente apresentado, expondo de forma clara e concisa

os tópicos a serem abordados.

Por tudo que foi exposto acima, temos uma visão clara e

concisa sobre a aplicabilidade do princípio da boa-fé face à penalização das

infrações na importação.

Resta por demais cristalino que o princípio da boa-fé, bem

como os demais princípios constitucionais fundamentais, encontram-se introduzidos

no ordenamento jurídico vigente, de forma implícita ou explícita e possuem status de

norma fundamental. Dessa forma, mesmo a legislação infraconstitucional prevendo

normas contrárias aos princípios, os casos concretos, quando levados à apreciação

judicial, são amparados por estes elos que unem o direito à Justiça.

Conclui-se deste modo, ser possível a aplicação do princípio da

boa-fé como excludente de ilicitude das infrações atinentes à importação, sendo

necessário para tanto, a propositura de ação judicial, vez que na via administrativa a

relevação das penalidades restringe-se ao disposto no Decreto nº 6.759/09

(Regulamento Aduaneiro).

O tema abordado comportaria ainda um maior

aprofundamento, não só em função da sua relevância como também pela

importância de tal instituto para tutela dos direitos do importador.

Contudo, procurou-se investigar, até onde um trabalho de

conclusão de curso permite, a possibilidade de se ver aplicado o princípio da boa-fé

face à penalização das infrações na importação, para a partir daí, quem sabe, poder

aprofundar a pesquisa numa oportunidade futura, utilizando-se o presente conteúdo

investigativo como uma referência inicial.

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Não se pode ter idéia de que o tema está esgotado, longe

disso, procurou-se de forma clara e ordenada estabelecer a realidade jurídica sobre

o tema.

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