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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ELAINE CRISTINA BUSNARDI A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO MERCADO DE TRABALHO: possibilidades e limites. Tijucas 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ELAINE CRISTINA BUSNARDI

A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO MERCADO DE TRABALHO: possibilidades e limites.

Tijucas 2007

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ELAINE CRISTINA BUSNARDI

A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO MERCADO DE TRABALHO: possibilidades e limites.

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Tijucas.

Orientador:Prof. Esp. Fábio Gil Beal

Tijucas

2007

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ELAINE CRISTINA BUSNARDI

A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO MERCADO DE TRABALHO: possibilidades e limites.

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do titulo de Bacharel e

aprovada pelo curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Educação de Tijucas.

Área de Concentração: Direito Público

Tijucas, 22 de maio de 2007.

Prof. Esp. Fábio Gil Beal.

UNIVALI – CE de Tijucas

Orientador

Prof. Esp. Edemir Aguiar

UNIVALI – CE de Tijucas

Membro

Prof. MSc. Edgar Antônio Piva

UNIVALI – CE de Tijucas

Membro

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Tijucas (SC), 22 de maio de 2007.

____________________________

Elaine Cristina Busnardi

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Aos meus pais, que me deram a vida e me ensinaram a vivê-

la com dignidade; a eles não basta o meu muito obrigada, mas, a

minha eterna gratidão.

Diogo, alguém muito especial que mora em meu coração.

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AGRADECIMENTOS

Aos formandos 2007/I do curso de Direito da Univali de Tijucas, e em especial

ao Antônio, Daniela, Fernanda, Francisco, Graziela, Jonatas, Karine, Patrícia, Pedro,

Tituza e o Sr. Walter, os quais tenho na conta de amigos preciosos.

Aos professores que contribuíram para minha formação, e que foram durante

este tempo, bons amigos e conselheiros, em especial ao Professor Orientador Fabio

Gil Beal, pela confiança e apoio que me foram emprestados ao longo da realização

deste trabalho e que contribuíram de forma muito especial para a sua concretização.

A todos, enfim, que de algum modo, contribuíram para que este trabalho se

tornasse realidade, deixo de identificá-los a fim de não cometer injustiças.

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“A criança que trabalha é mais esperta, aprende a lutar

pela vida e tem condições de vencer profissionalmente quando

adulta, mas o trabalho é árduo e nunca foi estágio necessário

para uma vida bem sucedida – ele não qualifica e, portanto, é

inútil como mecanismo de promoção social.”

(MARINHO)

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LISTA DE ABREVIATURAS

Art. Artigo

CC Código Civil

CF Constituição Federal

CIB Comissão Intergestora Bipartite

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CPC Código de Processo Civil

CRFB Constituição da República Federativa do Brasil

CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social

Dec. Decreto

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

Ed Edição

FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEC Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

N° Número

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONU Organização das Nações Unidas

P Página

PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SENAC Serviços Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SENAT Serviço Nacional de Atividades de Transportes

SESCOOP Serviço Nacional de Aprendizagem de Cooperativas

SIMPOC Programa de Informação Estatística e Monitoramento do Trabalho

Infantil

STF Supremo Tribunal Federal

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RESUMO

A presente monografia tem como objetivo analisar os aspectos da Criança e

do Adolescente no mercado do trabalho, que ainda hoje atinge um número muito

elevado em vários ramos, fazendo uma análise das possibilidades e limites. Para

tanto, foram adotados o método indutivo e a técnica da pesquisa bibliográfica, nas

fontes do direito positivo brasileiro. Partindo do histórico da exploração da mão-de-

obra infantil, trazendo o conceito da Criança e do Adolescente, abordando também o

conceito de trabalho. Seguidamente cuidou-se dos fundamentos e regras da

proteção ao trabalho da Criança e Adolescente, trazendo a proteção contra a

discriminação no trabalho e as formas prejudiciais de trabalho como a idade mínima,

o trabalho noturno, insalubre, perigoso e penoso. Finalizando com o Trabalho

Educativo, analisando-o como forma de Aprendizagem, sendo de fundamental

importância para a Criança e o Adolescente, faz-se, contudo, uma breve explanação

sobre a exploração e erradicação do trabalho da Criança e do Adolescente,

destacando as desigualdades sociais, e, no entanto examinando os mecanismos de

combate ao Trabalho Infantil.

Palavras-chave: Criança, Adolescente, Mercado de Trabalho.

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ABSTRACT

The present monograph has as objective to analyze the aspects of the Child

and the Adolescent in the market of the work, that still today reaches a high number

very in some branches, making an analysis of the possibilities and limits. For in such

a way, the inductive method and the technique of the bibliographical research had

been adopted, in the sources of the Brazilian positive law. Leaving of the description

of the exploration of the infantile man power, bringing the concept of the Child and

the Adolescent, also approaching the work concept. To Follow took care of the

beddings and rules of the protection to the work of the Child and Adolescent, bringing

the protection against the discrimination in the work and the harmful forms of work as

the minimum age, nocturnal, unhealthy, dangerous and laborious the work. Finishing

with the educative work, analyzing it as form of Learning, being of basic importance

for the Child and the Adolescent, one becomes, however, one soon communication

on the exploration and eradication of the work of the Child and the Adolescent,

detaching the social inequalities, and, however examining the mechanisms of combat

to the Infantile Work.

Word-key: Child, Adolescent, Market of Work.

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CATEGORIAS BÁSICAS E CONCEITOS OPERACIONAIS

Adolescente – “[...] adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.”

(NOGUEIRA, 1998, p. 3).

Aprendizagem – A aprendizagem se conceitua como forma de aquisição de

capacidade, que fazem de seu detentor um profissional, devendo, para tanto, ser

alternada (conjuga-se ensino teórico e prático), (metódica operação em

conformidade com um programa em que se passa do menos para o mais complexo),

sob orientação de um responsável (pessoa física ou jurídica) em ambiente adequado

(condições objetivas: pessoal, docente, aparelhagem). (MARTINS, 2002, p. 84).

Contrato de Aprendizagem – Contrato de aprendizagem é o contrato de

trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o

empregador se compromete a assegurar ao maior de quatorze e menor de vinte e

quatro anos, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissional

metódica, compatível com os seus desenvolvimentos físicos, morais e psicológicos,

e o aprendiz, a executar com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa

formação. Art. 428.(CLT, 2006).

Criança – Art. 2º. “Considera-se criança, para todos os efeitos desta lei, a

pessoa até doze anos de idade incompletos [...]” (NOGUEIRA, 1998, p. 3).

Erradicação – Ato de o governo erradicar o trabalho infantil e o

analfabetismo. (DINIZ, 1998, p. 499).

Trabalho Educativo – Art. 68. O programa social que tenha por base o

trabalho educativo, sob responsabilidade de entidade governamental ou não

governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao adolescente que dele

participe, condições de capacitação para o exercício de atividade regular

remunerada. (NOGUEIRA, 1998, p. 168).

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Trabalho Infantil – A designação tradicional de trabalho infantil era aplicada

para a prática de emprego em fábricas. Atualmente não existe tal qualificação,

significando o emprego de criança de forma genérica, especialmente em trabalho

que possa interferir em sua educação ou colocar em perigo sua saúde.

(GRUNSPUN, 2000, p. 14).

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 15 2 HISTÓRIA E CONCEITO SOBRE O TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ........................................................................................................ 17 2.1 ESBOÇO HISTÓRICO DO TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

.................................................................................................................................... 17

2.1.1 O Trabalho da Criança e do Adolescente na Revolução Industrial ................... 18

2.1.2 A Evolução Histórico-Legislativa Referente ao Trabalho nas Indústrias

Brasileiras das Crianças e Adolescentes.................................................................... 21

2.1.2.1 Imigração, novos escravos trabalhadores para o Brasil ................................. 28

2.2 CONCEITO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE..................................................... 29

2.3 CONCEITO DE TRABALHO................................................................................. 31

3 FUNDAMENTOS E REGRAS DA PROTEÇÃO AO TRABALHO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE ........................................................................................................ 34 3.1 PROTEÇÃO CONTRA A DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO.............................. 37

3.1.1 Idade Mínima ..................................................................................................... 38

3.1.2 Formas Prejudicais de Trabalho ........................................................................ 41

3.1.2.1 Trabalho noturno............................................................................................. 42

3.1.2.2 Trabalho insalubre .......................................................................................... 44

3.1.2.3 Trabalho perigoso ........................................................................................ 45

3.1.2.4 Trabalho penoso ............................................................................................ 46

3.2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES DE PROTEÇÃO AO TRABALHO NÃO

EMPREGATÍCIO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ........................................... 49

3.2.1 Trabalho Familiar ............................................................................................... 49

3.3 JORNADA DE TRABALHO .................................................................................. 52

4 A EFETIVA PRESTAÇÃO LABORAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ..... 55 4.1 TRABALHO EDUCATIVO .................................................................................... 55

4.2 CONTRATO DE APRENDIZAGEM ...................................................................... 58

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4.2.1 Natureza Jurídica .............................................................................................. 60

4.2.2 Normas Gerais de Contratação ......................................................................... 61

4.2.3 Inovações Introduzidas Pela Lei Nº 10.097/2000 .............................................. 63

4.2.4 Estabilidade do Contrato de Aprendizagem...................................................... 64

4.2.5 Extinção do Contrato de Aprendizagem ............................................................ 65

4.3 EXPLORAÇÃO DO TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ............. 66

4.3.1 Causas e Conseqüência do TrabalhoInfantil...................................................... 67

4.3.2 Desigualdades Sociais ...................................................................................... 69

4.3.3 Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil ................................................... 71

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 78 ANEXO ....................................................................................................................... 81

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1 INTRODUÇÃO

O Trabalho de Crianças e de Adolescentes tem sido objeto de estudo por

muitos autores e que sempre suscita várias indagações e debates em função das

conseqüências que o trabalho acarreta no desenvolvimento psicológico e intelectual

e na escolarização de Crianças e Adolescentes.

Contudo e, sem o intuito de esgotar o tema, a presente monografia tem como

objeto analisar as regras gerais de Proteção e a Possibilidade de Inserção do

Trabalho da Criança e do Adolescente, trazidas especialmente pela Constituição

Federal de 1988, pela Consolidação das Leis do Trabalho e pelo Estatuto da Criança

e do Adolescente, analisando ainda a exploração desse tipo de atividade, como o

ingresso precoce de Crianças e Adolescentes no mercado de trabalho.

O objetivo geral é esclarecer qual e quais são os casos que permitem a

Possibilidade de se inserir no Mercado de Trabalho, Criança e Adolescente,

garantindo sua proteção efetiva, sem ofender seus direitos adquiridos e garantidos

pela legislação vigente, apontando pontos positivos e negativos.

Seu objetivo específico é: definir conceito de Criança e Adolescente, quais as

formas de proteção e quais as possibilidades e limites do trabalho da Criança e

Adolescente.

Para tanto, a pesquisa foi dividida da seguinte forma:

No primeiro capítulo abordar-se-á algumas considerações a respeito da

História e Evolução do Trabalho da Criança e do Adolescente que, por muito tempo,

foi objeto de comercialização e exploração na busca de riquezas por homens sem

escrúpulos, ainda neste momento defini-se o conceito de Criança e Adolescente.

No segundo capítulo estudar-se-á os Fundamentos e Regras da Proteção do

Trabalho de Criança e Adolescente, as espécies de Proteção contra a discriminação

do Trabalho da Criança e do Adolescente, Idade Mínima, Formas Prejudicais de

Trabalho, Trabalho noturno, Trabalho insalubre, perigoso e penoso e, ainda,

Algumas Considerações de Proteção ao Trabalho não Empregatício da Criança e do

Adolescente.

No terceiro capítulo adentrar-se-á nas Possibilidades da efetiva prestação

laboral da Criança e do Adolescente, como o Trabalho Educativo, onde aborda-se a

natureza jurídica e as normas gerais do contrato de aprendizagem. Neste último

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capítulo abordar-se-á, ainda, a exploração do Trabalho Infantil, suas Causas e

Conseqüências, e formas de Erradicação e Prevenção.

O presente Relatório de Monografia encerra-se com as Considerações Finais,

nas quais são apresentadas reflexões sobre a possibilidade da inserção do trabalho

do adolescente, com a efetiva garantia de seus direitos, discorrendo sobre

exploração do trabalho e sua prevenção.

Quanto a metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação

foi utilizado o método indutivo, na fase de tratamento de dados o método cartesiano,

e, o relatório dos resultados expresso na presente monografia é composto na base

lógica indutiva.

Nas diversas fases da pesquisa foram acionadas as técnicas, do referente, da

categoria, do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica.

É conveniente ressaltar, enfim, que no presente trabalho as categorias

fundamentais são grafadas, sempre, com a letra inicial maiúscula e seus conceitos

operacionais apresentados ao longo do texto.

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2 HISTÓRIA E CONCEITO DO TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2.1 ESBOÇO HISTÓRICO DO TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Em todos os ramos que se busca uma melhor compreensão da natureza de

um determinado tema ou conceito, tem-se como ponto de partida o estudo histórico

e evolutivo que o cerca. Desta feita, procura-se não apenas relatar os fatos, mas

inserir no contexto histórico a participação da Criança e do Adolescente nas épocas

referidas, inclusive conceituando estas categorias.

Nascimento (2004, p. 15) ressalta que “A primeira lei de proteção às crianças

e adolescentes de que se tem notícia é o Código de Hamurabi, de cerca de 2.000

anos antes de Cristo.”.

Neste mesmo contexto Vianna (1995, apud Oliva, 2006, p. 30) faz referência

ao Código de Hamurabi, que data de mais de 2.000 anos antes de Cristo, como o

documento em que, talvez (e a dúvida é por ele suscitada), possam ser encontradas

“medida de proteção aos menores, que trabalham como aprendizes”.

Grunspun (2000, p. 45) esclarece que, “Durante a história humana as

crianças sempre trabalharam junto às famílias e às tribos sem se distinguir dos

adultos com quem conviviam. Praticavam tudo de forma igual os adultos dentro de

suas capacidades, próprias à idade.”.

Reporta ainda Vianna (1995, apud Oliva, 2006, p. 31):

No Egito, sob as dinastias XII a XX, sendo todos os cidadãos obrigados a trabalhar, sem distinção de nascimento ou fortuna, os menores estavam submetidos ao regime geral e, como as demais pessoas, trabalhavam desde que tivessem relativo desenvolvimento físico.

Com a Aprendizagem na economia medieval, as Crianças sofriam e ainda

trabalhavam sem receber qualquer tipo de salário, tinham que ter boa conduta e

respeitar o seu mestre, que muitas vezes as surpreendiam impondo-lhes castigos.

Sobre o assunto podemos ressaltar as palavras de Vianna (1995, apud Oliva, 2006):

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No que respeita ao aprendiz, que encontrava-se na base da estrutura tripartida, deveria ter boa conduta, assiduidade no trabalho e ser obediente a seu mestre, que, por sua vez, tinha o dever de ensinar-lhe o ofício, respondendo por sua educação moral, podendo impor-lhe castigos corporais. Na prática, “durante anos o menor trabalhava, sem receber qualquer salário e até muitas vezes pagando [...] uma determinada soma”.

A escravatura no Brasil impedia a proteção legal dos menores, lembra

Grunspun (2000, p.51):

Antes as crianças sempre foram exploradas, mas como a escravatura cobria o trabalho com adultos e crianças, as crianças órfãs e pobres eram recrutadas para os trabalhos das fazendas e das casas grandes dos senhores, onde eram exploradas e abusadas, mais do que os filhos dos escravos que valiam dinheiro e essas não valiam. Antes da extinção da escravatura nenhuma criança recebia algum ganho pelo trabalho que executava. Com a massa de escravos livres sem trabalho, as famílias não conseguiam sustentar seus filhos e muitos dos filhos das escravas não tinham pai conhecido e ficavam pelas ruas.

Após um esboço histórico sobre o trabalho infantil, tratar-se-á a segui do

trabalho da Criança e do Adolescente na Revolução Industrial.

2.1.1 O Trabalho da Criança e do Adolescente na Revolução Industrial

Com a Revolução Industrial as Crianças e Adolescentes eram

comercializadas, e passaram a ocupar outros setores capitalizados.

Liberati e Dias (2006, p. 13, grifo do autor) discorrem que:

O século XVIII contribuiu muito para grandes transformações sócio-econômicas, decorrentes da atividade industrial, responsável pela transição da estrutura feudal para uma sociedade que se viu envolta no capitalismo industrial. A criação de máquinas voltadas para o ramo das indústrias possibilitou o acúmulo de vultosas somas em capital, fortalecendo cada vez mais os Estados centralizadores e absolutistas. Esses, consumidos pela chamada “febre das fábricas”, necessitavam muito de mão-de-obra trabalhadora.

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O termo Revolução Industrial significou uma verdadeira transformação nos

métodos de trabalho. As corporações de ofício foram extintas e o trabalho

corporativo e artesanal incorporado às necessidades da nova realidade social,

política e econômica.

Os ambientes de trabalho eram impróprios, improvisados para a exploração

industrial, sem iluminação, ventilação, espaço e propícios ao desenvolvimento de

doenças. O regime disciplinar rigoroso dentro das fábricas impunha às Crianças e

aos Adolescentes castigos, maus tratos físicos, humilhações e abusos. (COSTA,

2000).

Liberati e Dias (2006, p. 13), esclarecem que:

A Revolução Industrial causou uma profunda modificação na estrutura da economia familiar, à medida que os produtos artesanais não mais conseguiam competir com a intensa carga produtiva das máquinas. Deste modo, a mão-de-obra infanto-juvenil, presente em atividades agrícolas no período pré-industrial, acabou se transferindo para os centros industriais.

Nas palavras de Oliva (2006, p. 40):

Na Inglaterra, sob falsas promessas de que nas fábricas transformar-se-iam em damas e cavalheiros e de que teriam acesso à alimentação farta e a bens que só os ricos possuíam, os menores transformaram-se em objeto de comercialização, sendo vendidos pelos administradores de impostos dos pobres aos industriais [...].

Führer (2000, p. 21), esclarece que, “Por economia, utilizava-se a força de

trabalho de crianças, com até 6 anos de idade, que eram submetidas a jornada de

14 ou 15 horas de trabalho.”

Salientam Liberati e Dias (2006, p. 14) que:

O trabalho infantil não compreendia, basicamente, setores da manufatura artesanal e não capitalizados. Todavia, com a Revolução Industrial, passou a abranger, também, os setores capitalizados, em quase todos os ramos da atividade, principalmente na tecelagem, confecção e fiação, assim como os setores de barbantes, cadarços, metalurgia, cerâmica, cobre e minas de carvão.

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Os proprietários de moinhos de algodão na Grã-Bretanha, recolhiam em todo

o país, Crianças órfãs e filhos de famílias pobres, fazendo-os trabalhar, pelo custo

de alimentá-los e, quando de outros distritos, fornecendo um teto, sempre sem

qualquer conforto, como abrigo de invernos congelantes. (GRUNSPUN, 2000).

Preceituam ainda Liberati e Dias (2006, p.15):

Em virtude da precária condição econômica em que viviam as famílias de classes sociais mais baixas na Europa, nos séculos XVIII e XIX, uma concepção sobre os inúmeros problemas da sociedade demonstrava, de forma clara, a maneira como esta procurava agir para sanar questões de índole social. Não obstante tais percepções, muitas vezes esbarravam em condutas equivocadas e preconceituosas, por parte da maioria dos cidadãos, pois crianças e adolescentes eram vistos perambulando pelas ruas, usando vestes sujas, maltrapilhas, causavam repugnância, trazendo desonra para a sociedade.

A Revolução Industrial do século XVIII trouxe para o menor uma situação de

total desproteção. O trabalho passou a ser aproveitado em larga escala, sem

maiores considerações quanto a sua condição pessoal, quer quanto a natureza do

trabalho executado, pois os menores eram aproveitados também em minas e

subsolo, como quanto a duração diária da jornada de trabalho, porque o menor

prestava serviço durante os mesmos períodos a que eram submetidos os adultos.

(NASCIMENTO, 2005).

No decorrer da Revolução Industrial, a exploração do Trabalho Infantil crescia

de forma expressiva, gerando de certa forma um círculo vicioso. As famílias

caminhavam cada vez mais para o empobrecimento. Desta forma as Crianças eram

obrigadas a trabalhar em busca de migalhas para sobreviver. (LIBERATI; DIAS.

2006).

Ressaltando ainda Nascimento (2005, p. 924, grifo do autor) que:

A proteção aos menores, diz Mario de la Cueva, é o ato inicial do direito do trabalho, pois foi o Moral and Health Act, expedido por Robert Peel, em 1802, a primeira disposição concreta que corresponde à idéia contemporânea do direito do trabalho. Ao manifesto de Peel, traduzindo no protesto “Salvemos os menores”, lema de campanha pela proteção legal, culminou a redução da jornada diária de trabalho do menor, para 12 horas.

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Até então, não existiam preceitos morais ou jurídicos capazes de impedir o

empregador de admitir mão-de-obra feminina e infantil, por ele barbaramente

explorados.

Sobre a exploração das Crianças no trabalho, lembra Grunspun (2000, p. 47)

que:

No século XIX começaram as primeiras agitações contra a exploração das crianças no trabalho, a medida que a mão-de-obra infantil passou a representar uma força de trabalho e os exploradores desse trabalho enriqueciam cada vez mais. Quanto na Europa, especialmente na Grã-Bretanha, o emprego infantil passou a competir com o emprego adulto, especialmente em momentos de crise econômica, algumas reformas puderam ser propostas na proteção das crianças.

Então, com a chegada do século XIX, pode-se dizer que começaram as primeiras

manifestações em prol das Crianças e os Adolescentes.

2.1.2 A Evolução Histórico-Legislativa Referente ao Trabalho nas Indústrias

Brasileiras das Crianças e Adolescentes

No ano de 1891, o Governo Federal edita o Decreto 1313, que instituía a

fiscalização permanente de todos os estabelecimentos industriais da Capital

Federal, definia a idade mínima de doze anos para início do trabalho, permitindo a

admissão de Criança com oito anos a ‘título de aprendizado’ nas fábricas de tecido;

proibia operações que colocavam em risco a vida dos trabalhadores com doze anos

de idade, como, a limpeza e direção de máquinas em movimento, o trabalho ao lado

de volantes, rodas engrenagens e correias e também a manipulação de alguns

produtos e substâncias o trabalho em determinados locais. (COSTA, 2002).

Ressalta a Constituição Federal de 1891, onde foi expedido o Decreto nº

1.313, de 17 de janeiro de 1891, referente ao trabalho dos menores nas fábricas do

Distrito Federal, limitando a idade mínima de trabalho aos 12 (doze) anos, salvo o

aprendiz em indústrias têxteis, cujo trabalho era autorizado a partir dos 8 (oito) anos

de idade. Contudo, o Decreto jamais foi regulamentado. (NASCIMENTO, 2004).

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Com o crescimento das indústrias e o conseqüente aumento na busca por

mão-de-obra barata, após o fim do regime escravocrata, se fazia necessário a

aquisição imediata de novas alternativas em relação a mão-de-obra. Assevera esta

afirmação Grunspun (2000, p. 52).

No Brasil essa mão-de-obra dos imigrantes foi absorvida na indústria, sem distinção entre adultos e crianças no trabalho. As denúncias sobre a exploração dos aprendizes, as greves por salários, as greves por redução de horas de trabalho eram feitas igualmente pelos adultos e crianças. Em 1891, no Império, foi publicado um decreto1 que proibia o trabalho de crianças em máquinas em movimentos e na faxina; somente em 1917 começou a haver a proibição de crianças menores de 14 anos trabalharem em fábricas. A maioria de crianças pobres e os folhos de imigrantes não tinham certidões de nascimento para provar sua idade, e novamente dependemos da denúncia pela imprensa de que todos podiam observar na saída das fábricas o número de crianças entre 8, 10 e 12 anos que trabalhavam. Com o crescimento fabril em São Paulo, se construíram junto às fábricas, vilas de operários para as famílias que tinham cotas de produção e os filhos completavam essas cotas.

Pereira (1993, p. 72) afirma que:

Ao editar o Decreto 1.313, de 17 de janeiro de 1891, Deodoro da Fonseca, revelou sua preocupação, consignando, no seu preâmbulo: [...] atendendo à conveniência e à necessidade de regularizar o trabalho e as condições dos membros em avultado número de fábricas existentes na Capital Federal, a fim de impedir que, com prejuízo próprio e da prosperidade futura da Pátria, sejam sacrificadas as milhares de crianças [...]. Com essa preocupação o então Presidente da República fixou a idade mínima de 12 anos para o ingresso nas fábricas, em 7 horas, não consecutivas, a jornada diária dos menores de 12 a 15 anos, do sexo feminino e de 12 a 14 anos do sexo masculino, e em 9 horas, nas mesmas condições, os de 14 e 15 anos, do sexo masculino. Naquele decreto, já havia previsão para os menores aprendizes, 3 horas para os de 8 a 10 anos e de 4 horas para os de 10 a 12 anos.

Costa (2002, p. 12) ressalta que, “O Decreto 1313, de 17 de janeiro de 1891,

apesar de representar uma lei avançada para época, jamais saiu do papel.”.

1 Decreto n° 1.313, de 17 de janeiro de 1891.

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Sobre a tentativa de coibir a jornada estafante do trabalho, Pires (1994, p. 46)

esclarece que:

No campo do Direito Internacional, a terceira Conferência de Berna, convocada pelo Governo suíço em setembro de 1913, realizou-se com o objetivo de fixar a proibição do trabalho dos menores na indústria e a jornada máxima de dez horas para o trabalho das mulheres e dos menores. Apesar de aprovada em primeira discussão, a Conferência diplomática destinada a transformar as resoluções em tratados multilaterais, indicada para setembro 1914, não se realizou, ante o conflito bélico mundial, adiando a regulamentação para 1919, com as Convenções nº 5 (idade mínima de admissão nos trabalhos industriais) e nº 6 (trabalho noturno dos menores na indústria), da OIT.

A alteração do Código Civil facilitou a promulgação do Código de Menores,

em 1927, por definir e conceituar a situação de abandono. O Código de Menores

Consolidou as leis de proteção e assistência à infância da época, merecendo

destaque por reunir em seu bojo, tanto a normas de repressão a delinqüência juvenil

e de proteção aos abandonados e quanto as primeiras normas de abrangência

nacional relacionadas ao trabalho infanto-juvenil. (COSTA, 2002).

Como discorre Grunspun, (2000, p. 53, grifo do autor):

A regulamentação do trabalho infantil só ocorreu em 12 de outubro de 1927 com a publicação do Código de Menores. No entanto, em hábeas-corpus2 suspendeu por dois anos a entrada em vigor do Código, porque ele interferia no direito da família em decidir sobre o que é melhor sobre seus filhos. Demorou dois anos o julgamento, quando só então entrou em vigor.

Em data posterior foi expedido o Decreto n° 22.042, de 03 de novembro de

1932, estabelecendo as condições de trabalho dos menores na indústria. Proibiram-

se os trabalhos dos menores de catorze anos na indústria e o de menores de

dezesseis anos nas minas; e para admissão eram exigidos, certidão de idade,

autorização dos pais ou responsáveis, atestado médico e prova de saber ler,

escrever e contar. (MARTINS, 2002). 2 Habeas corpus: Locução latina que designa a garantia constitucional do direito individual de locomoção ou permanência, turbado ou ameaça por ilegalidade ou abuso de poder.

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A primeira Constituição Federal que tratou da proteção ao trabalho da Criança

e do Adolescente no Brasil foi promulgada em 1934, elevando, também, os direitos

laborais ao nível constitucional. (NASCIMENTO, 2004.)

Neste mesmo contexto, discorre Martins (2002, p. 34, grifo do autor):

Finalmente a Carta Magna de 1934 foi a primeira a dispor sobre o direito do trabalho e, particularmente, regras de proteção para o trabalho do menor. Foi proibido o trabalho noturno para os menores de dezesseis anos, o trabalho em “indústrias insalubres” para os menores de dezoito anos e de qualquer trabalho para os menores de quatorze anos.

Neste sentido, faz-se mister citar os ensinamentos de Nascimento (2004, p.

17):

A Carta de 1934, acompanhando os parâmetros das Convenções e Recomendações já votadas pela OIT, limitou o ingresso no mercado de trabalho aos 14 (quatorze) anos, proibiu o trabalho noturno aos menores de 16 (dezesseis), o trabalho em atividade insalubre, aos menores de 18 (dezoito) anos e a discriminação salarial e de admissão em razão da idade. O Decreto-lei nº 1.238, de 2 de maio de 1939, regulamentado pelo Decreto nº 6.029, de 26 de julho de 1940, criou cursos de aperfeiçoamento profissional, assegurando aos menores trabalhadores o direito à freqüência aos cursos profissionais. Em agosto de 1940, veio o Decreto-lei nº 2.548, onde permitiu a redução do salário dos adolescentes entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos, desde que assegurada a educação profissional. Já em 1941, o Decreto-lei nº 3.616 manteve e aprimorou as disposições protecionistas das leis anteriores. Estabeleceu que as horas de trabalho dos adolescentes que trabalhavam em mais de um estabelecimento fossem totalizadas e instituiu a Carteira de Trabalho do "menor".

O Decreto Lei n° 3.616 de 13 de setembro de 1941, tratou também da

proteção do trabalho do menor.

Vianna, (1995, apud Oliva, 2006, p. 67) discorre sobre:

Antes da Consolidação das Leis do Trabalho tratar do assunto, tivemos ainda, em 1941, a expedição do Decreto Lei n° 3.616 de 13 de setembro que, inclusive, instituiu a carteira de trabalho do menor. Referido decreto manteve disposições de leis anteriores e, dentre outras coisas, limitou a jornada do menor empregado em mais de um estabelecimento, estipulando (art. 4°) que, “quando o menor de 18

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anos for empregado em mais de um estabelecimento, as horas de trabalho em cada um serão totalizadas”.

Finalmente o Decreto Lei n° 5.452 de 1° de maio de 1943 que:

[...] aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho, preocupou-se com o trabalho dos menores de dezoito anos nos arts. 402 a 441. ficou proibido o trabalho dos menores de catorze anos, excepcionando apenas os alunos ou internados em instituições que ministravam, com exclusividade, o ensino profissional e aqueles de caráter beneficente ou disciplinar, sujeita à fiscalização governamental. Proibiu-lhes o trabalho noturno (art. 404), bem como em locais e em serviços perigosos ou insalubres, constantes de quadro para esse fim aprovado pela Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho, e em locais prejudiciais para sua formação moral (art. 405). (MARTINS, 2002, p. 32).

A CLT foi aprovada pelo Decreto Lei n° 5.452 de 1° de maio de 1943, mas

somente entrou em vigor em data de 10 de novembro de 1943. (OLIVA, 2006).

Uma das principais leis brasileiras foi no ano de 1943 com a publicação da

CLT, aprendizes e Crianças de 14 a 18 anos passam a receber remuneração

referente à metade do salário mínimo, chamado salário de menor. (1985, ROSSO;

RESENDE, apud LIBERATI; DIAS, 2006).

Martins (1998, apud Minharro 2003, p. 26, grifo do autor) comenta ainda que:

A Constituição Federal de 18 de setembro de 1946 marcou o rompimento como corporativismo. Nela havia a proibição de distinção salarial para um mesmo trabalho por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil. Mantinham-se as garantias de início da atividade laborativa apenas a partir dos 14 anos de idade e proibia-se o trabalho insalubre e noturno para menores de 18 anos.

No ano de 1946, haja vista a promessa de democracia, foi promulgada a

Constituição Federal que rompeu com a ditadura de Getúlio Vargas. Inspirada no

modelo Norte-Americano de organização estatal, retomou os parâmetros traçados

pela Constituição Federal de 1934, proibindo a discriminação salarial de Crianças e

Adolescentes, mantendo o limite mínimo de 14 (quatorze) anos para o ingresso no

mercado de trabalho. Vedou o trabalho noturno e insalubre aos menores de 18

(dezoito) anos, salvo autorização judicial, nos casos necessários à sobrevivência da

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Criança e do Adolescente ou de suas famílias. Em se tratando de educação, a

Constituição de 1946 tornou o ensino primário obrigatório e gratuito, e a

aprendizagem passou a ser custeada pelos empresários, mas sempre com a

preocupação da manutenção da qualidade do ensino e da dignidade dos

professores. (NASCIMENTO, 2004).

A Constituição de 24 de janeiro de1967 apontou um retrocesso, pois fixou em

12 anos a idade mínima para o ingresso do indivíduo no mercado de trabalho.

(MINHARRO, 2003).

O menor assistido foi instituído pelo Decreto-lei nº 2.318/1986. Cumpria

jornada diária de 4 horas, recebendo como remuneração mensal o equivalente a

50% (cinqüenta por cento) do salário mínimo legal, e sua freqüência escolar era

obrigatória. O referido Decreto aplicava-se apenas aos Adolescentes desfavorecidos

economicamente. Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a Constituição Federal

em vigor, que dedica especial atenção ao trabalho da Criança e do Adolescente, em

seu art. 7º, inciso XXXIII, restabeleceu a idade mínima de 14 anos de idade para o

ingresso no mercado de trabalho, até então fixada em 12 anos, como dispunha a

Constituição de 1967. Além disso, proibiu o trabalho noturno, perigoso ou insalubre

aos menores de 18 anos. Através da Emenda Constitucional nº 20/1998, a idade

mínima para ingresso no mercado de trabalho foi elevada para 16 anos, salvo na

condição de aprendiz a partir dos 14 anos de idade. (NASCIMENTO, 2004).

Art. 7º -[...] XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (CRFB, 1988)

A Constituição Federal de 1988 proíbe a discriminação salarial em razão da

idade (art. 7º, XXX).

Art. 7° [...] XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

Estabelece também a Constituição, como dever da família, da sociedade e do

Estado, assegurar à Criança e ao Adolescente os direitos fundamentais (art. 227,

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caput); e garante os direitos previdenciários e trabalhistas e de acesso do

trabalhador Adolescente à escola (§ 3º do art. 227).

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. [...] § 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola;

Após a promulgação da Constituição Federal de 1988 foi editado o ECA (Lei

nº 8.069/90), que cuida do direito à profissionalização e à proteção no trabalho, no

capítulo V – artigos. 60 a 69.

Nascimento (2003, p. 68) anota:

O Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu uma profunda e radical mudança em relação ao tratamento dos menores no Brasil, disciplinando, para garantia da proteção integral das crianças e dos adolescentes, que compete à família, à sociedade e ao Estado o dever prioritário de assegurar-lhes o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade à convivência familiar e comunitária.

Como visto, na evolução histórica, o trabalho sempre foi muito desgastante,

mas desde os tempos era regulado pelas Leis, que vem evoluindo até os dias atuais.

2.1.2.1 Imigração, novos escravos-trabalhadores para o Brasil

Ao analisar os aspectos históricos envolvendo o trabalho das Crianças e

Adolescentes, não se pode deixar de mencionar, as correntes migratórias que

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preencheram uma lacuna de mão-de-obra barata, necessária para as indústrias

brasileiras, conforme se vê a seguir.

As indústrias brasileiras em 1889 chegavam a pouco mais de 600 fábricas

espalhadas pelo país, saltando de forma estrondosa para 3.258 fábricas em 1907,

localizadas principalmente no Distrito Federal (33%), São Paulo (16%) e Rio Grande

do Sul (15%), sendo a indústria têxtil o carro chefe das industrias nacionais.

(PILETTI, 1996).

Para uma melhor visualização das formas de trabalho na época, incluindo o

trabalhado das crianças e Adolescentes, cita-se um trecho da declaração dada por

Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, extraída da obra de Moraes

(1994, p. 199):

[...] as crianças trabalhavam em regime de escravidão, ganhando quinhentos réis mensais por nove horas diárias de trabalho. Quanta sordidez, quanta miséria moral não deverá existir no coração que assenta sua prosperidade nessa ignóbil exploração do trabalho infantil.

Com o advento da primeira guerra mundial é que ocorreu um grande salto nas

indústrias brasileiras e por conseqüência aumentaram também o número de

imigrantes vindos de todas as partes do mundo. Em 1920 já existiam no Brasil

13.336 indústrias, sendo que neste mesmo período (1889-1920), cerca de 4,5

milhões de pessoas migraram para o Brasil, causando um superavit3 populacional,

criando cada vez mais bolsões de pobreza nas grandes cidades, aumentando cada

vez mais a procura por empregos, piorando de forma alarmante os salários e as

condições de trabalho das Crianças e Adolescentes que necessitavam trabalhar

para ajudar no sustento das casas (PILETTI, 1996).

Em síntese, apresentou-se um breve histórico sobre a proteção e a

exploração da Criança e do Adolescente iniciando-se nas antigas eras, passando

pela escravidão, revolução industrial, expansão da indústria brasileira, culminando

com os dias atuais.

3 Superavit: Saldo positivo; sobra. (ROSAS, 2002, p. 1)

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2.2 CONCEITO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE

A partir da análise histórica do trabalho da Criança e do Adolescente,

podemos agora, de forma mais contundente, formarmos um conceito que abranja de

forma satisfatória, as duas categorias, levando-se em conta o caráter trabalhista,

nesta conceituação.

No Brasil a terminologia utilizada até o advento da CRFB de 1988, era a

expressão “menor” para se referir à pessoa que ainda não tinha alcançado a idade

adulta. Tanto era assim que vigorou no Brasil o Código de Menores. A Constituição

atual passou então a utilizar os termos Criança e Adolescente, por serem mais

precisos que os termos anteriormente utilizados pois, está preparando o ser humano

para a vida adulta. (MINHARRO, 2003).

Sobre maioridade civil, Carrion (2004, p. 260) esclarece que:

A maioridade civil inicia-se aos 18 anos; são relativamente incapazes os menores entre 16 e 18 anos, devendo receber assistência de seus responsáveis em seus atos da vida civil; os menores de 16 anos são absolutamente incapazes e não participam do comércio jurídico, sendo representados. Entretanto, nos atos trabalhistas o maior de 18 anos é plenamente capaz. O menor de 18 anos não pode compactuar contrato, modificar-lhe as cláusulas, assinar distrato ou quitação final, mas pode assinar recibos de salários (CLT, art. 439); a assistência para contratar dá-se pela autorização tácita ou expressa, verbal ou escrita, sendo suprível pelo juiz de menores. (L.8069/90).

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069/90) em seu artigo 2°

dispõe que:

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Martins (2002, p. 21) salienta que “[...] o Estatuto da Criança e do

Adolescente apenas estabeleceu os limites de idade para que o menor de dezoito

anos possa ser considerado criança ou adolescente.”.

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Discorre Minharro (2003, p. 30) que: “[...] a Convenção n° 138 da

Organização Internacional do Trabalho esclareceu que criança é o indivíduo até

catorze anos e adolescente, desta faixa até os dezoito anos.”.

Observa-se que a Convenção das Nações Unidas sobre os direitos da

Criança, adotada pela ONU em 20 de novembro de 1989, estabeleceu em seu artigo

1° que, para efeitos daquela convenção, considerar-se-ia Criança toda a pessoa

com menos de dezoito anos de idade, salvo se a maioridade fosse alcançada antes.

(MINHARRO, 2003).

Art.1° Para efeitos da presente convenção considera-se como criança todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes.

Segundo Diniz (1998, p. 925 e 600):

Criança é a pessoa até 12 anos de idade, que tem assegurado todos os direitos fundamentais ao homem, que deverão ser respeitados prioritariamente pela família, pela sociedade e pelo Estado, sob pena de responderem pelos danos causados. [...] Adolescente é o que está na adolescência, que compreende a idade entre doze e dezoito anos [...].

Não é possível considerar Criança o menor de dezoito anos de idade, ainda

que se possa afirmar que ele não tenha completado o seu desenvolvimento pleno.

Assim em concordância com o Estatuto da Criança e do Adolescente podemos

considerar Criança qualquer pessoa com menos de doze anos de idade. (OLIVA,

2006).

Adolescência, segundo ensinamentos do doutrinador Silva, (apud, Oliva,

2006, p. 85), “[...] entende o período que sucede à infância. Inicia-se com a

puberdade e acaba na maioridade”.

De Plácido e Silva (1997 apud Oliva, 2006, p. 83) esclarece que:

Aderimos, pois, à corrente que entende serem os termos ‘criança’ e ‘adolescente’ mais apropriados para a identificação da etapa da vida daquelas que ainda não alcançaram maturidade suficiente. Assim, por equiparação, menores impúberes seriam infantes ou crianças, ao

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passo que os menores impúberes com 12 anos ou mais e os púberes, adolescentes.

Neste diapasão, discorre Solari (2002, p. 14):

A distinção entre ‘criança’ e ‘adolescente’, como etapas distintas da vida humana, tem importância no Estatuto. Em geral, ambos gozam dos mesmos direitos fundamentais, reconhecendo-se sua condição especial de pessoas em desenvolvimento [...].

Posto que reconheçamos que no aspecto técnico-jurídico seja corrente a

designação ‘menor’ para identificar todos que tenham menos de 18 anos, ou seja,

um gênero que abrangeria as espécies Criança e Adolescente. (OLIVA, 2006).

Observa-se que não é possível existir uma conceituação exata do que seja

Criança, Adolescente ou até mesmo infância, pois o significado destes termos varia

conforme a sociedade, a cultura e a época. É notório, porém, que é na infância e na

adolescência que o indivíduo adquire a formação intelectual, física, social e moral

necessária para se transformar num adulto digamos honrado, consciente de seus

direitos e obrigações, enfim apto para o exercício de atividades laborativas que lhe

assegurem o sustento. (MINHARRO, 2003).

2.3 CONCEITO DE TRABALHO

Após um estudo feito no capítulo anterior sobre, conceitos e a história

formadora destes, referente ao trabalho da Criança e do Adolescente, podemos

afirmar, de maneira mais acertada, o conceito de trabalho, que, de forma mutante,

fora se adaptando com o passar das épocas, aperfeiçoando-se, para o que

entendemos ser “TRABALHO”.

Neste diapasão, citamos Gastaldi (1980, apud Martins, 2002, p. 95), “Trabalho

é o desenvolvimento ordenado das energias humanas (psíquicas ou físicas) dirigido

para um sentido econômico. Representa o fator ativo da produção e é considerado o

seu verdadeiro agente.”.

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Citamos ainda Martins (2002, p. 95) que conclui:

[...] o trabalho do empregado (que é objeto do contrato) é tomado no sentido econômico, na medida em que objetiva a produção de alguma coisa. O mesmo se diga do contrato de aprendizagem, espécie do gênero contrato de trabalho.

Já o Trabalho Educativo que dispõe o artigo 68 do ESTATUTO DA CRIANÇA

E DO ADOLESCENTE (Lei n° 8.069/90), nas palavras de Oliveira (2002, p. 219) é

definido como:

Não uma atividade laborativa qualquer, mas a que se insere como integrante de projeto pedagógico que vise ao desenvolvimento pessoal e social do educando. Portanto o ritmo, o desenrolar das atividades deverá ser ditado, sob pena de inversão de meios e fins, por um programa educacional preestabelecido.

Segundo De Plácido e Silva ( 2003, p. 823, grifo do autor) pode-se conceituar

o trabalho como:

[..] trabalho é sempre objeto de um contrato, que se estabelece entre trabalhador e empregador, vulgarmente chamado de patrão, no qual se compõem, respeitados os preceitos legais, as condições que se convencionarem, inclusive remuneração, ou salário, e outras vantagens pecuniárias atribuídas ao trabalhador.

Conclui-se então, que o trabalho pode ser visto, como o emprego de forças

humanas, sistemático, com um intuito de que seja produzido algo, estabelecendo

assim, nesta produção dois lados produtores, que podemos também chamar de

empregados e beneficiários, ou seja, os patrões, que se beneficiam do trabalho de

outrem.

Após um estudo detalhado sobre a história e os conceitos do trabalho da

Criança e do Adolescente, já podemos afirmar que se construiu uma base sólida

para os capítulos seguintes, haja vista que até o final da presente monografia, ver-

se-á que todo o desenvolvimento dos direitos e deveres destes ‘pequenos

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trabalhadores’, são norteados pelo que se acabou de relatar, havendo, assim, uma

melhor compreensão dos fatos que se sucedem.

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3 FUNDAMENTOS E REGRAS DA PROTEÇÃO AO TRABALHO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE

Conforme visto anteriormente foi feito uma apreciação sobre a base

conceitual e histórica acerca do tema desta obra, aprofundando mais nossos

estudos, passamos ao estudo sobre os fundamentos e regras da proteção ao

trabalho da Criança e do Adolescente.

Os fundamentos principais de proteção do trabalho da Criança e do

Adolescente são quatro, sendo estes, de ordem cultural, moral, fisiológica e de

segurança. Justifica-se o fundamento cultural, pois o menor necessita estudar,

auferir instruções. Falando em aspecto moral, deve haver uma proibição no sentido

de o menor não trabalhar em locais que lhe prejudique a moralidade. Considerando

o aspecto fisiológico, o menor não deve trabalhar em locais insalubre, perigosos,

penosos e à noite, para que possa ter um desenvolvimento físico normal. Por último,

o menor, assim como qualquer trabalhador, deve ser resguardado com normas de

proteção que evitem os acidentes do trabalho, que podem prejudicar a sua formação

normal. (MARTINS, 2006).

As regras gerais de proteção ao trabalho da Criança e do Adolescente no

Brasil estão previstas na Constituição Federal, na CLT e no Estatuto da Criança e do

Adolescente.

A CRFB/88, no capítulo denominado “Da Família, da Criança, do Adolescente

e do Idoso” (Título: “Da Ordem Social”), assenta no art. 227 que:

Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. [...] § 3º O direito à proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; III - garantia de acesso ao trabalhador adolescente à escola. Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

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[...] XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de quatorze anos, salvo na condição de aprendiz.

Esclarece Oliva (2006, p. 156) que:

No § 3° do artigo 227 , o legislador constituinte, uma vez mais, ao explicar a abrangência da proteção especial que deve ser conferida às crianças e adolescentes, estabeleceu, no inciso I, “idade mínima de quatorze anos [o correto, após o advento da EC n° 20/98, é dezesseis, mas o texto original ainda não foi alterado] para admissão ao trabalho, observado o disposto no artigo 7°, XXXIII”.

Na lei ordinária, regras da maior importância estão escritas no Estatuto da

Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), cujo artigo 60 encerra proibição expressa

ao trabalho de menores de 14 (quatorze) anos de idade, ressalvando, entretanto, a

hipótese de ser admitido na condição de aprendiz.

Discorre o artigo 60 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.

O art. 61 remete para a legislação especial a proteção ao trabalho dos

Adolescentes e, em seguida, conceitua Aprendizagem, como sendo a formação

técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de

educação em vigor (art. 62).

Esclarecem os artigos 61 e 62 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 61 A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei. Art. 62 Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.

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A CLT atenta desde a capacidade trabalhista do menor para contratar, a

faculdade que possui o responsável pelo menor de pleitear a extinção do contrato de

trabalho.

Ressalta o artigo 408 da CLT:

Art. 408 - Ao responsável legal do menor é facultado pleitear a extinção do contrato de trabalho, desde que o serviço possa acarretar para ele prejuízos de ordem física ou moral.

Não pode ser dado pelo menor de 18 anos de idade o recibo de quitação, de

acordo com o artigo 439 da CLT, sem assistência dos seus responsáveis legais, a

questão da prescrição dos direitos trabalhistas, que não corre contra os menores de

18 anos.

Os artigos 439 e 440 da CLT são claros ao concluírem que:

Art. 439 - É lícito ao menor firmar recibo pelo pagamento dos salários. Tratando-se, porém, de rescisão do contrato de trabalho, é vedado ao menor de 18 (dezoito) anos dar, sem assistência dos seus responsáveis legais, quitação ao empregador pelo recebimento da indenização que lhe for devida. Art. 440 - Contra os menores de 18 (dezoito) anos não corre nenhum prazo de prescrição.

Contudo a capacidade processual, consignando que tratando-se de maiores

de quatorze e menores de dezoito anos, as reclamações poderão ser feitas pelos

seus representantes legais ou, na falta destes, por intermédio da Procuradoria da

Justiça do Trabalho. Nos lugares onde não houver Procuradoria, o Juiz ou

Presidente nomeará pessoa habilitada para desempenhar o cargo de curador à lide.

Conforme preceitua o artigo 793 da CLT:

Art. 793. A reclamação trabalhista do menor de 18 anos será feita por seus representantes legais e, na falta destes, pela Procuradoria da Justiça do Trabalho, pelo sindicato, pelo Ministério Público estadual ou curador nomeado em juízo.

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O jovem que completar dezoito anos é plenamente capaz, sem distinção de

sexo ou de estado civil, portanto, pode celebrar o contrato de trabalho, sem

necessitar de assistência ou autorização.

Já o maior de quatorze e menor de 18 dezoito anos é relativamente incapaz,

sendo que não pode, por isso, celebrar, sozinho, seu contrato de trabalho. São os

‘menores’ para efeito da legislação trabalhista.

De acordo com o estabelecido no ordenamento jurídico brasileiro, salienta-se

que a proteção ao Trabalho Infantil ocorre a partir da observância de algumas regras

que serão relatadas a seguir.

3.1 PROTEÇÃO CONTRA A DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO

Dentre as várias formas de proteção ao trabalho da Criança e do

Adolescente, destaca-se, entre outras, a proteção contra a discriminação no

trabalho, por entender ser essa uma das principais proteções semeadas pelo nosso

ordenamento jurídico.

A CRFB/88 estabelece no inciso XXX do art. 7º, proibição de diferença de

salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo,

idade, cor ou estado civil, como pode se observar:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

Como podemos verificar na análise do inciso XXX, a Constituição proíbe a

discriminação em razão da idade quanto a critérios de admissão no emprego e

quanto à fixação de salários.

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3.1.1 Idade Mínima

A idade mínima para o ingresso do Adolescente no mercado de trabalho é

fixada pela CRFB de 1988, notadamente no inciso XXXIII, a seguir transcrito:

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: […] XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;

O inciso XXXIII, do mencionado art. 7º, da CRFB/88, na evolução histórica de

nossa legislação, elevou para 16 (dezesseis) anos a idade mínima para o ingresso

no mercado de trabalho.

Nos ensinamentos de Oliva (2006, p.156, grifo do autor), esclarece que:

A indeterminação derivada do adjetivo “qualquer” significa que em nenhuma hipótese o trabalho será permitido para crianças ou adolescentes com idade inferior a dezesseis anos, a não ser na condição de aprendiz (e somente a partir dos catorze), porque esta é expressamente excepcionada pelo próprio texto constitucional. Ou seja: não importando em que condição ele seja desenvolvido, o trabalho, para aqueles que não completaram dezesseis anos e nem sejam aprendizes, é determinantemente vedado.

Com o aumento da idade mínima para o trabalho do Adolescente aos

dezesseis anos, significa proteção à sua formação educacional, tendo em vista que

toda Criança até essa idade mantém-se dedicada à formação familiar e escolar.

Neste diapasão, Martins (2002, p. 80), esclarece que: “O menor de dezesseis

anos ainda não reúne condições físicas e psíquicas para o trabalho”..

Sérgio Pinto Martins (2006, p. 340), entende que: “A nova determinação

constitucional mostra a tese de que o lugar do menor é na escola e não no trabalho.

Entretanto, é preferível o menor trabalhar do que praticar furtos e roubos nas ruas ou

usar drogas.”.

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Nascimento (2004, p.21), tem entendimento de que:

Antes da idade estabelecida, a criança não está totalmente preparada para ser engajada no mercado de trabalho, com jornada diária de 8 (oito) horas, ou mesmo com 2 (duas) horas extras diárias, caso haja acordo de compensação de horas entre o sindicato e o seu empregador.

A CLT em seus artigos 402 e 403, faz menção ao seguinte assunto:

Art. 402. Considera-se menor para os efeitos desta Consolidação o trabalhador de quatorze até dezoito anos.

No artigo seguinte da mesma Lei, já adequado à nova ordem constitucional diz que:

Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos.

Destaca-se que a Constituição Federal proíbe qualquer trabalho antes de 16

(dezesseis) anos. No entanto, a proibição abrange não só as relações

empregatícias, como o trabalho eventual, temporário, a pequena empreitada, o

trabalho avulso e autônomo, tanto nas atividades urbanas como nas rurais. Contudo,

a proibição abrange apenas o trabalho remunerado, sendo permitidos os não

remunerados, como a colaboração não-profissional de Crianças em uma festa

beneficente da igreja, assim como trabalhos benéficos à formação do menor, de

cunho educacional e profissionalizante. (NASCIMENTO, 2004).

Como observa Manus (1995, apud, Nascimento 2004, p. 21):

Há que se notar que o trabalho antes da conclusão do 1º (primeiro) grau deve ser sempre encarado como um momento, apenas, no processo de educação da criança, quer quanto ao ofício em si, quer quanto à realidade do mundo do trabalho, que as nossas crianças recebem ‘no currículo oculto’, que lhe ministramos em casa (horário, obediência, aprendizado, estudo, vida em grupo) e que a imensa maioria das crianças deste País, desafortunadamente não têm. Pretender que essas crianças aos 15, 16, 17 ou 18 anos ingressem no mercado de trabalho e a ele se adaptem, é utópico, para não dizer cruel.

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O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069/90) em seu artigo 60

estatui que:

Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.

Neste diapasão o doutrinador Oliva (2006, p. 157) esclarece, mencionando o seguinte texto:

No particular, o legislador não promoveu, a necessária reformulação no plano infraconstitucional, para adequar a lei ordinária à modificação decorrente da EC n° 20/98. A nova leitura que deve ser feita do artigo em referência é a seguinte: “É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos catorze”. Da forma como originalmente redigido, o dispositivo não foi recepcionado pelo texto constitucional vigente.

De certa forma o artigo 61 do Estatuto da Criança e do Adolescente deixa

claro que a proteção do trabalho do Adolescente é regulada por legislação especial

‘sem prejuízo do disposto nesta Lei’, remetendo o intérprete para a CLT, assim não

nos resta dúvida sobre ser dezesseis anos a idade mínima para a admissão ao

trabalho, e que a partir dos catorze é permitido na condição de aprendiz. (OLIVA,

2006).

Martins (2002, p. 81) finaliza:

Por todo o exposto, considerando a necessidade de assegurar o pleno desenvolvimento físico e mental do menor e o fato de que um trabalho que não representa nenhum risco ao trabalhador adulto pode acarretar acidentes com crianças ou adolescente reputou adequada a fixação de idade mínima em dezesseis anos, ressalvando-se as hipóteses de aprendizagem a partir dos catorze anos de idade.

Todavia, a premissa de que o Adolescente até 16 (dezesseis) anos mantém-

se dedicado à formação familiar e escolar nem sempre reflete a realidade,

considerando a enorme incidência de Crianças e Adolescentes abandonados nas

grandes cidades do Brasil.

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3.1.2 Formas Prejudicais de Trabalho

O mesmo inciso XXXIII, do art. 7º, da CRFB/88, anteriormente citado, proíbe

o trabalho ao menor de 18 (dezoito) anos em atividades noturnas, insalubres e

perigosas.

Conforme Oliveira (1994 apud Oliva 2006, p. 166) a vedação se justifica

porque:

[...] os estudos científicos comprovam que o trabalho noturno tem como efeito um maior desgaste físico e mental, sem falar em outros de natureza diversa, como o de dificultar a convivência familiar e social. Com efeito, se afeta o relógio biológico das pessoas, sendo prejudicial até para adultos, não deve ser permitido para adolescentes.

O art. 67 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069/90), por sua

vez, dispõe:

Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado trabalho: I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte; II - perigoso, insalubre ou penoso; III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; IV - realizado em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.

O artigo acima mencionado aponta as chamadas regras genéricas de

proteção do trabalho do Adolescente, que devem ser observadas sejam quais forem

as modalidades que o trabalho assuma, seja qual for a natureza jurídica da relação

de trabalho, sejam quais forem as razões subjetivas ou objetivas que levem o

Adolescente a trabalhar. (OLIVEIRA, 2002).

Entretanto, quanto aos locais de proibição para o Adolescente, o legislador

delegou, uma vez mais, ao Ministério do Trabalho e Emprego, o poder de elaborar e

aprovar o quadro respectivo. A Portaria n° 20, de 13 de setembro de 2001 (art. 2º)

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permite a realização de trabalhos técnicos ou administrativos nos referidos locais,

“desde que realizados fora das áreas de risco à saúde e à segurança”. Essas

proibições aplicam-se a todos os menores de dezoito anos.4 (OLIVA 2006).

A proibição do trabalho noturno, perigoso e insalubre a menores de 18

(dezoito) anos justifica-se por se encontrar o Adolescente em desenvolvimento físico

e mental, sendo mais vulnerável aos agentes agressivos, ou ao trabalho mais

gravoso, sem contar que o Adolescente não possui concentração mental suficiente

para enfrentar os riscos das atividades e dos ambientes perigosos.

3.1.2.1 Trabalho noturno

O mencionado dispositivo legal reitera o estabelecido na legislação ordinária,

notadamente a CLT, art. 73, § 2º, que estabelece que o trabalho noturno é aquele

executado entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5 (cinco) horas do dia seguinte

ou suas prorrogações (art. 73, § 5º), nas cidades.

Art. 73. Salvo nos casos de revezamento semanal ou quinzenal, o trabalho noturno terá remuneração superior à do diurno e, para esse efeito, sua remuneração terá um acréscimo de 20% (vinte por cento), pelo menos, sobre a hora diurna. [...] § 2° Considera-se noturno, para os efeitos deste artigo, o trabalho executado entre as 22 (vinte e duas) horas de um dia e as 5 (cinco) horas do dia seguinte. [...] § 5° Às prorrogações do trabalho noturno aplica-se o disposto neste Capítulo.

Oliva (2006, p. 167), ressalva ainda que:

Adotando a mesma tendência, o ECA veda ao adolescente empregado, aprendiz, que esteja em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica ou assistido por entidade governamental, o trabalho noturno ‘realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte’.

4 Vide anexo A

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Já o trabalho rural é considerado noturno, das 20 (vinte) horas de um dia às 4

(quatro) horas do dia seguinte na pecuária, e das 21 (vinte e uma) horas de um dia

às 5 (cinco) horas do dia seguinte na agricultura “lavoura”. Conforme dispõe o artigo

7° da Lei n° 5.889/73:

Art. 7º - Para os efeitos desta Lei, considera-se trabalho noturno o executado entre as vinte e uma horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte, na lavoura, e entre as vinte horas de um dia e as quatro horas do dia seguinte na atividade pecuária. Parágrafo único - Todo trabalho noturno será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento) sobre a remuneração normal.

O legislador brasileiro encontrou uma forma de compensar o

tratamento diferenciado desses trabalhadores, atribuindo-lhes um adicional de 20%

como adicional da hora noturna urbana e de 25% a hora noturna rural, sendo esta

diferenciação desnecessária para o enfoque estudado, tendo em vista que o

trabalho noturno é proibido para menores de dezoito anos. (OLIVA, 2006).

Oliva (2006, p. 168) acrescenta ainda que:

Com efeito, na zona urbana, por ficção jurídica, a hora noturna tem duração de 52 minutos e 30 segundos, o que, na prática, reduz a jornada considerada noturna para sete horas corridas (das 22h00 às 5h00). Já na zona rural, como a hora noturna é contada como hora normal (de 60 minutos), o lapso temporal em que o trabalho é vedado torna-se maior: oito horas corridas.

O trabalho noturno é mais desgastante do que o trabalho executado durante o

dia. Esse fato é reconhecido não só na legislação brasileira como na legislação de

outros países, motivo pelo qual cada país adota medidas legais que buscam coibir o

trabalho noturno, acolhendo princípios protetores em relação à matéria que

apresentam variações relacionadas ao conceito, duração, horário e adicionais

salariais, de acordo com os hábitos e costumes locais. (NASCIMENTO, 2003).

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3.1.2.2 Trabalho insalubre

A CLT traz em seu artigo 189 as atividades que são consideradas insalubres:

Art . 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos.

O doutrinador Oliva (2006, p. 171) traz um significado para o vocábulo

Insalubridade:

O trabalho insalubre, do ponto de vista conceitual, é aquele que, em razão da sua natureza, condições ou métodos em que é realizado, sujeita ao trabalhador a ficar exposto a agentes nocivos à saúde. A insalubridade mina aos poucos a resistência e a saúde da pessoa, instalando, de forma insidiosa, a doença no organismo.

Nesta linha, salienta Martins (2006, p. 207): “Deixa de ser considerado

insalubridade o trabalho do empregado quando a empresa conserva o ambiente de

trabalho dentro dos limites de tolerância.”

Tanto a insalubridade como a periculosidade, para sua caracterização e

classificação, dependem da realização de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou

Engenheiro do Trabalho de acordo com o artigo 195 da CLT. A insalubridade

confere ao trabalhador o direito a adicional de 10%, 20% ou 40% sobre o salário

mínimo, conforme se classifique nos graus mínimo, médio e máximo,

respectivamente, de acordo com artigo 192 da CLT. (OLIVA, 2006).

Fixando o entendimento do autor, preceitua os artigos 195 e 192 da CLT:

Art . 195 - A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho. Art . 192 - O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho,

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assegura a percepção de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo.

Carrion (2006, p. 185) destaca que: “A eliminação da insalubridade ou

diminuição de seus efeitos sobre a pessoa humana é uma preocupação constante

da medicina do trabalho, como é da lei.”.

3.1.2.3 Trabalho perigoso

O trabalho perigoso é definido, nos termos do art. 193, da CLT:

Art . 193 - São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado.

Nas palavras de Martins (2006, p. 211):”O adicional de periculosidade é

devido para quem tenha contato permanente com inflamáveis ou explosivos em

condições de risco acentuado.”

Segundo Carrion (2006, p. 193), “Inflamáveis, explosivos e eletricidade são as

únicas fontes juridicamente reconhecidas como produtoras de periculosidade com

efeitos remuneratórios trabalhistas.”.

O doutrinador Nascimento (2005, p.123) discorre sobre os riscos da

periculosidade:

[...] a periculosidade põe em risco a vida ou a integridade física do trabalhador. Insalubridade, pode afetar a sua saúde. Ao menor de 18 (dezoito) anos é proibido, como empregado, trabalhar em serviços noturnos, com periculosidade ou com insalubridade.

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A periculosidade assegura ao empregado adicional de 30% sobre o salário-

base (art. 193, §1° da CLT). Não pode haver a cumulação de ambos (art. 193, §2°,

da CLT) como se observam o artigo 193 da CLT e seus parágrafos:

Art . 193 - São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado. § 1º - O trabalho em condições de periculosidade assegura ao empregado um adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa. § 2º - O empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido.

Como visto antes, ao contrário do que fez quando disciplinou as regras do

adicional de insalubridade, o legislador fixou apenas um percentual para servir de

base de cálculo do trabalho desenvolvido em condições perigosas, sendo esta de

30% (trinta por cento).

A proibição do trabalho perigoso aos menores de 18 (dezoito) anos é medida

de profilaxia que se impõe para o fim de afastá-los do desempenho de atividades ou

operações perigosas, em razão da exposição permanente com explosivos ou

inflamáveis. (NASCIMENTO, 2003).

3.1.2.4 Trabalho penoso

É importante mencionar, ainda, que a CRFB/88, ao cuidar do trabalho da

Criança e do Adolescente, deixou à margem o trabalho sob condições penosas que

ela mesma instituiu. Todavia, nada impede que o legislador ordinário estenda a

proibição do inciso em questão ao trabalho penoso.

Sobre o trabalho penoso Oliva (2006, p. 182) anota que:

A esse respeito, o art. 405, §5°, da CLT manda aplicar, ao adolescente, o disposto no art. 390 e seu parágrafo único, também do diploma consolidado, que tratam da proteção ao trabalho da

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mulher. Assim, tanto em relação à mulher quanto ao adolescente, é vedado ao empregador exigir serviços que demandem o emprego de força muscular superior a 20 (vinte) quilos, para o trabalho contínuo, ou 25 (vinte e cinco) quilos, para o trabalho ocasional.

Para concluir o ensinamento acima, destacam-se os seguintes artigos da

CLT:

Art. 405 - Ao menor não será permitido o trabalho: [...] § 5º Aplica-se ao menor o disposto no art. 390 e seu parágrafo único. Art. 390 - Ao empregador é vedado empregar a mulher em serviço que demande o emprego de força muscular superior a 20 (vinte) quilos para o trabalho continuo, ou 25 (vinte e cinco) quilos para o trabalho ocasional. Parágrafo único - Não está compreendida na determinação deste artigo a remoção de material feita por impulsão ou tração de vagonetes sobre trilhos, de carros de mão ou quaisquer aparelhos mecânicos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, no inciso II do art.67, supriu essa

omissão legislativa para estabelecer a proibição ao menor do trabalho em atividades

penosas, mas o citado dispositivo legal não esclareceu o conceito de atividade

penosa, a classificação, as hipóteses de incidência e o percentual de remuneração a

ela correspondente. (NASCIMENTO, 2003).

Preceitua o artigo 67, II do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n°

8.069/90):

Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado trabalho: [...] II - perigoso, insalubre ou penoso;

Notadamente a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 7°, inciso XXXIII,

onde proíbe qualquer trabalho perigoso e insalubre, não fez qualquer referência

sobre o trabalho em condições penosas, apenas menciona em seu artigo 7°, inciso

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XXIII, direito à percepção de um adicional salarial, na forma da lei. (NASCIMENTO,

2003).

Informa o artigo 7°, XXIII da CRFB/88:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

Sobre a proibição do trabalho penoso Nascimento (2003, p. 90) salienta que:

A proibição do trabalho em condições penosas aos menores de 18 anos visa preservar a saúde física e mental dos mesmos, protegendo-os do trabalho em condição agressivas (em que o agente agressivo é o próprio trabalho executado), que demandam excessivo desgaste físico e mental em relação ao modo de execução, esforço e intensidade e que se revelam totalmente incompatíveis com o trabalho menor, ainda em fase de desenvolvimento.

Há uma lacuna legal a ser preenchida em relação ao trabalho penoso, pois a

legislação ordinária ainda não a definiu. Enquanto isto, a doutrina titubeia, mas

oferece indicativos do que seria o trabalho penoso, ‘como tal o que importa maior

desgaste físico ou psíquico’. (1994 OLIVEIRA, apud OLIVA, 2006).

Até o momento não existe uma lei para regular o dispositivo constitucional e

disciplinar e classificar as atividades penosas que garantam ao trabalhador o direito

a percepção do adicional salarial, a solução mais aplausível seria a abolição do

trabalho do menor em atividades penosas, tendo em vista a inviabilidade da adoção

dessa medida, e sendo necessário o trabalho em tais circunstâncias, compete ao

Congresso Nacional editar uma lei para regulamentar o exercício das atividades

penosas. (NASCIMENTO, 2003).

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3.2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES DE PROTEÇÃO AO TRABALHO NÃO

EMPREGATÍCIO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Tratar-se-á a seguir de um dos pontos mais controversos sobre este tema: a

proteção ao trabalho não empregatício da Criança e do Adolescente, pois

diferentemente das demais formas de prestação laborativa, estas, encontram-se

mascaradas em formas de trabalho que inibem o desenvolvimento sócio-

educacional das Crianças e Adolescentes, ao mesmo tempo, as deixam inteiramente

desarrimadas das proteções supra mencionadas.

Analisaremos a seguir, a principal forma de prestação de serviços não

empregatício conhecida, o trabalho familiar que, apesar de não ter fins lucrativos e

ter benefícios pessoais, também gera deveres e obrigações conflitantes com este

período da vida das Crianças e Adolescentes.

3.2.1 Trabalho Familiar

Muitas vezes, o que se observa é que em oficinas de família não há vínculo

de emprego, mas sim, um regime de colaboração entre as pessoas para um fim

comum. Neste caso não irá se observar a CLT, caso contrário se houver a relação

de emprego a CLT deverá ser observada, não só em relação aos artigos 404 e 405,

mas também quanto a proibição do trabalho do menor de 16 anos, salvo se aprendiz

e outras normas protetoras. (MARTINS, 2006).

O trabalho da Criança e do Adolescente é regido pela CLT, que lhe dedica um

capítulo específico.

Todavia, o parágrafo único do art. 402, exclui de sua proteção as Crianças e

Adolescentes cujo serviço seja realizado em oficinas em que trabalhem

exclusivamente pessoas de sua família e estejam sob a direção do pai, mãe ou tutor.

Trata-se, portanto, de uma exceção da aplicabilidade do Capítulo que regula as

relações de trabalho dos Adolescentes, devendo, entretanto, ser observado o

disposto nos artigos 404 e 405 e na Seção II.

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As proibições de trabalho, mesmo no trabalho realizado em regime familiar,

permanecem mantidas as proibições de trabalho noturno aos menores de 18

(dezoito) anos, de trabalho em locais perigosos ou insalubres e prejudiciais à

moralidade do Adolescente, devendo também ser respeitadas as regras referentes a

duração do trabalho, dispostas nos artigos 411 a 414 da CLT.

Preceitua os artigos 411 a 414 da CLT:

Art. 411 - A duração do trabalho do menor regular-se-á pelas disposições legais relativas à duração do trabalho em geral, com as restrições estabelecidas neste Capítulo. Art. 412 - Após cada período de trabalho efetivo, quer contínuo, quer dividido em 2 (dois) turnos, haverá um intervalo de repouso, não inferior a 11(onze) horas. Art. 413 - É vedado prorrogar a duração normal diária do trabalho do menor, salvo I - até mais 2 (duas) horas, independentemente de acréscimo salarial, mediante convenção ou acordo coletivo nos termos do Título VI desta Consolidação, desde que o excesso de horas em um dia seja compensado pela diminuição em outro, de modo a ser observado o limite máximo de 48 (quarenta e oito) horas semanais ou outro inferior legalmente fixada; II - excepcionalmente, por motivo de força maior, até o máximo de 12 (doze) horas, com acréscimo salarial de, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) sobre a hora normal e desde que o trabalho do menor seja imprescindível ao funcionamento do estabelecimento. Parágrafo único. Aplica-se à prorrogação do trabalho do menor o disposto no art. 375, no parágrafo único do art. 376, no art. 378 e no art. 384 desta Consolidação. Art. 414 - Quando o menor de 18 (dezoito) anos for empregado em mais de um estabelecimento, as horas de trabalho em cada um serão totalizadas.

As garantias relativas a horário e trabalho em locais penosos, insalubres e

perigosos foram mantidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, concedidas

pelo art. 67, já citado, uma vez que este não diferencia o Adolescente empregado

daquele que trabalha em regime familiar.

Nascimento (2004, p.24) define: “O trabalho em regime familiar caracteriza-se

pela execução de serviços em que trabalhem exclusiva e habitualmente pessoas da

família sob a direção de um de seus membros”.

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Oris de Oliveira (1994 apud, Oliva, 2006, p. 212) menciona que no regime familiar:

O trabalho de todos converge para uma “sociedade de fato”, em que “todos auferem os benefícios do trabalho ou dele sofrem os insucessos”. Acrescenta o autor que “ninguém trabalha, pois, ‘para outrem’ ou ‘por conta de outrem’. Ninguém é empregado de ninguém. A subordinação à direção paterna ou materna é o aspecto passivo do exercício pátrio-mátrio poder”5

Contudo não é permitido o trabalho considerado noturno e nem em serviços

perigosos ou insalubres. A CLT não faz nenhuma alusão, mas é igualmente proibido

o trabalho penoso, uma vez que o Estatuto da Criança e do Adolescente inclui

referida modalidade entre as hipóteses de vedação geral, fazendo inclusive alusão

expressa ao trabalho prestado em regime familiar. (OLIVA, 2006).

A CLT afasta, portanto, somente o vínculo empregatício, devendo ser

respeitadas as normas gerais de proteção.

A grande pobreza que afeta a maior parte das famílias brasileiras, faz com

que os pais priorizem a necessidade de ganho emergencial, obrigando seus filhos a

trabalhar, sem qualquer respeito às normas de proteção estabelecidas e

esquecendo-se do caráter de socialização, justificador da exclusão do vínculo de

emprego. (NASCIMENTO, 2004).

Oliveira (1994, apud, Nascimento, 2004, p. 25) faz uma menção que merece

ser destacada:

[...] o regime familiar não se confunde com uma situação muito encontradiça sobretudo no meio rural, quando os pais prestam serviços a terceiros e por conta destes e se vêm na contingência de envolver toda a família para ajudá-los a alcançar uma remuneração por produção, por tarefa, por 'empreita'. Sem o envolvimento de cônjuge e filhos, a remuneração é insuficiente para sustento de todos. Quando pais e filhos trabalham para terceiros e 'por conta destes', todos são individualmente empregados do tomador de serviços, que no início os tem como contratados tacitamente.

5 Com o advento do novo Código Civil rechaçou-se a terminologia ‘pátrio poder’, passando-se a utilizar, conforme disposto no artigo 1.630 e seguintes, a nomenclatura de ‘poder familiar’.

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Existe uma antecipação forçada, pelas condições do contexto econômico da

família e da comunidade, em se atirar o jovem de pouca idade em responsabilidade

de contribuição para o orçamento doméstico. Parece mesmo, que existe neste

comportamento da família carente, um vício psicológico de formação, de

prematuridade biológica, como que reforçando o fato de que, a média de vida

humana no Brasil, é uma das mais baixas no mundo. Há uma pressa de viver, numa

excitação artificial de ritmo da vida pela juventude, que almeja inverter os valores

sociais, humanos e familiares, forçando as estruturas existentes, com a natural

energia física e mental da adolescência. (1998, MARTINS apud LIBERATI; DIAS,

2006).

O regime familiar, não está sujeito à inspeção do trabalho, abrindo

oportunidade para uma atuação do Conselho Tutelar.

3.3 JORNADA DE TRABALHO

É de grande relevância, para um correto entendimento sobre o tema em tela,

ou seja, a proteção, trata-se sobre a jornada de trabalho da Criança e do

Adolescente, que mereceu uma atenção maior do legislador desde os primórdios

das relações laborais.

Nos ensinamentos de Nascimento (1976, apud Nascimento, 2003, p. 95),

relata que: “Na antiguidade somente uma elite socioeconômica desfrutava de

intervalo de descanso, e, na idade média, poucas foram as modificações, apesar do

maior respeito pelo homem.”.

Com a Revolução Industrial e a descoberta da máquina a vapor como fonte

de energia e a sua aplicação nas fábricas e na industrialização operaram uma

autêntica revolução nos métodos de trabalho. (NASCIMENTO, 2003).

Como já visto anteriormente, a jornada de trabalho da Criança, na

antiguidade, era estafante e sem qualquer limite ou proteção.

Para Nascimento (2003, p. 95) “[...] jornada de trabalho está ligada à idéia de

medida do tempo de trabalho, correspondendo ao período em que o empregado

está à disposição do seu empregador, aguardando ou executando ordens.”.

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Martins (2006, p. 347) aduz que:

A duração do trabalho do menor é regida, hoje, pelo inciso XIII do artigo 7° da Constituição, pois a CLT determina que a jornada de trabalho do menor é a mesma de qualquer trabalhador, observada as restrições protetoras ao trabalho do menor. Assim, o menor trabalhará oito horas diárias e 44 horas semanais, salvo em se tratando de categorias em que a jornada é menor, como dos bancários (seis horas), telefonistas (seis horas) etc.

O artigo 412 da CLT garante ao menor o direito de intervalo para repouso

após o término de cada período de trabalho efetivo, quer contínuo, quer dividido em

dois turnos, nunca inferior a onze horas. Como preceitua o artigo 412 da CLT, in

verbis:

Art. 412 - Após cada período de trabalho efetivo, quer contínuo, quer dividido em 2 (dois) turnos, haverá um intervalo de repouso, não inferior a 11(onze) horas.

Igualmente regula o artigo 66 da CLT: ”Entre 2 (duas) jornadas de trabalho

haverá um período mínimo de 11 (onze) horas consecutivas para descanso.”.

Nascimento (2003b, p. 101) discorre que:

Na hipótese de compensação de horas a prorrogação da jornada de trabalho não gera o direito à percepção de acréscimo salarial, uma vez que o menor poderá trabalhar até mais duas horas diárias para reduzir ou suprir o trabalho aos sábados. Conforme preceitua o item I do art. 413 da CLT e o inciso XIII do art. 7° da Constituição Federal, a prorrogação da jornada de trabalho do menor, em caso de compensação, deve ser formalizada por escrito, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. Na hipótese de força maior, ocorrendo a prorrogação da jornada de trabalho, o menor terá o direito à percepção de acréscimo salarial.

Em se tratando de prorrogação da jornada de trabalho do Adolescente, será

obrigatório um descanso de pelo menos quinze minutos, antes do início do período

extraordinário de trabalho, como referem os artigos 413, parágrafo único e 384 da

CLT:

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Art. 413 - É vedado prorrogar a duração normal diária do trabalho do menor, salvo: [...] Parágrafo único. Aplica-se à prorrogação do trabalho do menor o disposto no art. 375, no parágrafo único do art. 376, no art. 378 e no art. 384 desta Consolidação.

Art. 384 - Em caso de prorrogação do horário normal, será obrigatório um descanso de 15 (quinze) minutos no mínimo, antes do início do período extraordinário do trabalho.

Diante do artigo 414 da CLT, conclui-se que o Adolescente até pode trabalhar

em mais de um estabelecimento, desde que as horas trabalhadas em cada um deles

sejam totalizadas, não excedendo o limite diário de oito horas, ou outro legalmente

fixado, não sendo, necessariamente, o estabelecimento do mesmo empregador,

sendo que o mais recente terá de assegurar a compatibilização de horários para

respeitar a imposição legal. (OLIVA, 2006)

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4 A EFETIVA PRESTAÇÃO LABORAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Volta-se agora ao fato em concreto, a fase final do nosso estudo, a prestação

de serviço em si, suas formas, possibilidades, dificuldades, entre outros aspectos de

grande relevância.

4.1 TRABALHO EDUCATIVO

Visto os fundamentos e as regras de proteção do trabalho da Criança e do

Adolescente, vislumbra-se, a seguir, as formas de execução do trabalho da Criança

e do Adolescente, dando ênfase ao contrato de trabalho, sua elaboração e demais

preceitos relevantes sobre este tema.

O Trabalho Educativo pode ser conceituado como a atividade laborativa onde

as exigências pedagógicas atinente ao desenvolvimento pessoal e social do menor

(cidadania, educação, lazer, saúde) prevalecem sobre o aspecto produtivo.

(NASCIMENTO, 2003).

Para Oliveira (1993 apud Martins 2002, p. 96) existem três requisitos para que

o trabalho seja considerado educativo, sendo eles:

1) que o trabalho se associe à educação de forma a possibilitar o desenvolvimento das potencialidades do educando, bem como a formação e desenvolvimento de sua personalidade; 2) deve contribuir para formação de valores éticos e morais, para o desenvolvimento emocional e do espírito crítico; 3) deve promover o desenvolvimento da formação política para o exercício da cidadania e do senso de responsabilidade social.

Para um melhor entendimento o artigo 68 do Estatuto da Criança e do

Adolescente, conceitua o Trabalho Educativo, in verbis:

Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob responsabilidade de entidade governamental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao adolescente

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que dele participe condições de capacitação para o exercício de atividade regular remunerada. § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo. § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.

O Trabalho Educativo, embora historicamente tenha sua raiz no trabalho

social com Criança e Adolescentes encontradas em estado de necessidade, não

pode e não deve, de modo algum, ser reduzido a este aspecto de sua evolução. Na

verdade, a introdução do instituto do Trabalho Educativo no Estatuto da Criança e do

Adolescente nos dá a base legal para a organização de escolas-cooperativas,

escolas-oficiais, escolas-empresas, dirigidas a qualquer tipo de educando e não

apenas as Crianças e Adolescentes em situação de risco pessoal e social. (COSTA,

2002).

Em razão do exposto, é possível assegurar que o Trabalho Educativo não se

insere, necessariamente, no conceito econômico de trabalho, pois que objetiva a

formação profissional e não, propriamente, a produção de bens e riquezas. O

aspecto produtivo é apenas secundário, insere-se no projeto pedagógico e objetiva

remunerar o educando. As pequenas tarefas domésticas atribuídas às Crianças

pelos próprios pais se inserem no Trabalho Educativo num sentido amplo, e como tal

não encontram óbice no dispositivo constitucional que restringe a idade. A

preocupação das normas jurídicas é com o trabalho no sentido econômico.

(MARTINS, 2002).

Segundo Oliveira (2001, apud Nascimento, 2004, p. 71), existem modalidades

de Trabalho Educativo, que compreendem as seguintes:

a) aprendizagem empresária; b) estágio; c) atividades profissionalizantes de uma cooperativa-escola; d) as atividades das escolas-produção; e) as atividades de um processo de reciclagem; f) as atividades de uma requalificação profissional.

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Entende Nascimento (2004, p.71) que, “O trabalho educativo adolescente

poderá ser desenvolvido independente da existência de relação de emprego, em

todas as atividades em que a preocupação com a formação do adolescente suplante

o aspecto produtivo.”.

No Senado Federal se encontra o Projeto de Lei n° 77/1997, já aprovado na

Câmara dos Deputados, e que objetiva regulamentar o Trabalho Educativo apenas

na modalidade de pré-aprendizagem, onde se declara a inexistência de relação de

emprego na hipótese. Contudo pode-se concluir que a restrição de idade indicada no

artigo 7°, XXXIII, da constituição Federal não abarca o Trabalho Educativo, o qual

seria possível até mesmo antes dos catorze anos de idade, desde que não se exija

que o menor trabalhe em locais insalubre, perigoso ou em horário noturno. Todavia,

não podemos olvidar que a dicção do artigo 68 do ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE é uma porta aberta para a exploração da mão de obra infantil, sob

o rótulo de Trabalho Educativo, motivo pelo qual carece de regulamentação

pormenorizada. (MARTINS, 2002).

Conforme visto, o trabalho atua na sociedade como um instrumento

enobrecedor, à medida que contribui, consideravelmente, para a construção da

índole, do caráter de uma pessoa. Faz-se necessário um planejamento político

social adequado à economia de cada país, que possua como objetivo, a instituição

de programas que visem a edificar uma formação técnico-profissional direcionada ao

Adolescente, pactuada a um processo educativo de qualidade, com alicerces

voltados para o fortalecimento do ensino básico e fundamental. (LIBERATI; DIAS,

2006).

Infelizmente é grande o número de Crianças e Adolescentes, que sequer

concluíram os seus estudos, se inserindo no mercado de trabalho, por falta de uma

estrutura familiar e pouquíssimas condições de vida, contudo, acabam colocando

sua própria formação em segundo plano, para se lançarem prematuramente no

mercado de trabalho.

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4.2 CONTRATO DE APRENDIZAGEM

A Aprendizagem pode ser definida como a fase primeira de um processo

educacional (formação técnico-profissional) alternada (conjugam-se ensino teórico e

prático), metódica (operações ordenadas em conformidade com um programa em

que se passa do menos para o mais complexo), sob orientação de um responsável

(pessoa física ou jurídica) em ambiente adequado (condições objetivas: pessoal

docente, aparelhagem, equipamento. (1993, OLIVEIRA, apud MARTINS, 2002).

Segundo o artigo 428 da CLT, com a alteração pela Medida Provisória n° 251,

de 14 de julho de 2005, tem-se o conceito de Contrato de Aprendizagem:

Art. 428. Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de 14 (quatorze) e menor de 24 (vinte e quatro) anos inscrito em programa de aprendizagem formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar com zelo e diligência as tarefas necessárias a essa formação.

Na lição de Magano (1988 apud Martins, 2002, p. 84), a Aprendizagem pode

ser definida como:

[...] sistema em virtude do qual o empregador se obriga por contrato, a empregar um jovem trabalhador e a lhe ensinar ou a fazer que se lhe ensine metodicamente um ofício, durante período previamente fixado, no transcurso do qual o aprendiz se obriga a trabalhar a serviço de dito empregador.

A Portaria nº 127, de 1956, do Ministério do Trabalho, define Aprendizagem

empresária como “processo educacional, com desdobramento do ofício ou da

ocupação, em operações ordenadas de conformidade com um programa, cuja

execução se faça sob direção de um responsável, em ambiente adequado à

aprendizagem”.

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É importante observar que, para a validade do Contrato de Aprendizagem,

devem ser observadas as três condições impostas pelo parágrafo 1º do art. 428 da

CLT:

§ 1o A validade do contrato de aprendizagem pressupõe anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, matrícula e freqüência do aprendiz à escola, caso não haja concluído o ensino fundamental, e inscrição em programa de aprendizagem desenvolvido sob a orientação de entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica.

O parágrafo 2° do artigo 428 da CLT, indica que: “Ao menor aprendiz, salvo

condição mais favorável, será garantido o salário mínimo hora.”.

O menor aprendiz não poderá ganhar menos de um salário mínimo por mês.

Se trabalhar somente algumas horas por dia, terá direito ao salário mínimo horário,

salvo se for pactuada condição mais favorável a ele. O artigo 432 da CLT e seu

parágrafo mostram que o aprendiz vai trabalhar entre 6 e 8 horas. (MARTINS, 2006).

Para confirmar o mencionado acima, esclarece o referido artigo 432 e

parágrafo 1° da CLT:

Art. 432. A duração do trabalho do aprendiz não excederá de seis horas diárias, sendo vedadas a prorrogação e a compensação de jornada. § 1o O limite previsto neste artigo poderá ser de até oito horas diárias para os aprendizes que já tiverem completado o ensino fundamental, se nelas forem computadas as horas destinadas à aprendizagem teórica.

O Contrato de Aprendizagem não poderá ser estipulado por mais de dois

anos, como dispõe o parágrafo 3° do artigo 428 da CLT “O contrato de

aprendizagem não poderá ser estipulado por mais de dois anos.”.

Conforme disciplina o parágrafo 4° do artigo 428 da CLT “A formação técnico-

profissional a que se refere o caput deste artigo caracteriza-se por atividades

teóricas e práticas, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade

progressiva desenvolvidas no ambiente de trabalho.”.

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A educação é tida como fonte primária da formação de um ser humano e, de

forma alguma poderá ser dissociada da formação técnico-profissional empregada

aos Adolescentes.

Portanto, existem duas modalidades de Aprendizagem, uma escolar, outra

empresária, que diferem substancialmente, uma vez que na primeira a natureza da

relação jurídica é a de escola-aluno e, na segunda é de empresa-empregado.

4.2.1 Natureza Jurídica

Para obter-se uma total compreensão acerca do Contrato de Aprendizagem é

imperioso confeccionar-se ponderações sobre o tema supra estabelecido, ou seja, a

natureza jurídica do Contrato de Aprendizagem.

Conforme preceitua o artigo 428 da CLT, o Contrato de Aprendizagem tem

natureza jurídica de contrato especial de trabalho.

Para efeitos de obrigação fiscal, previdenciária e trabalhista o Contrato de

Aprendizagem sujeita as empresas e entidades à observância das mesmas regras

de um contrato de trabalho comum. (NASCIMENTO, 2003).

Com as determinações da Lei n° 10.097, o Contrato de Aprendizagem é

considerado um contrato de prazo determinado, pois há expressa previsão no artigo

428 da CLT nesse sentido. Contudo, ainda assim não se insere nas hipóteses dos

parágrafos do artigo 443 da CLT. Logo, foi criada outra hipótese, de natureza

especial, para configurar o Contrato de Aprendizagem como pacto por tempo

determinado. (MARTINS, 2006).

No artigo 443 da CLT não se vislumbrava o Contrato de Aprendizagem,

motivo pelo qual não se podia afirmar que se tratava de contrato a termo. Ademais,

a norma consolidada não consagrava a hipótese de contrato de trabalho de prazo

superior a dois anos, enquanto o Contrato de Aprendizagem poderia chegar a três

anos, nos termos da Portaria n° 42, de 1953, do MTE. (MARTINS, 2002).

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Concluindo, Amauri Mascaro Nascimento (1976, apud Adalberto Martins,

2002, p. 88):

Assim, expirado o prazo de aprendizagem, o contrato de trabalho continuava em plena vigência, a menos que uma das partes tivesse a iniciativa de rompê-lo. Parece-nos que esta era a orientação que melhor atendia ao objetivo da aprendizagem, qual seja, a possibilidade do empregador recuperar o investimento realizado ao promover o ensino de um ofício ao menor e expectativa do menor de poder trabalhar na empresa que reúne as mesmas condições do oficio que lhe foi ensinado.

A Lei n° 10.097, de 19 de dezembro de 2000, ao atribuir nova redação ao

artigo 428 da CLT, colocou fim as discussões que se tinha a respeito, indicando

expressamente que o Contrato de Aprendizagem é espécie de contrato por prazo

determinado e o parágrafo 3° do mencionado artigo, traz que o prazo compatível

com esta modalidade será de no máximo dois anos. (MARTINS, 2002).

Observe-se que o próprio artigo 428 da CLT conceitua o Contrato de

Aprendizagem como ‘contrato de trabalho especial’:

Art. 428. Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de 14 (quatorze) e menor de 24 (vinte e quatro) anos inscrito em programa de aprendizagem formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar com zelo e diligência as tarefas necessárias a essa formação.

Com base nos posicionamentos doutrinários indicados, não resta dúvida que

a natureza jurídica da Aprendizagem é de contrato especial de trabalho.

4.2.2 Normas Gerais de Contratação

Após analisar-se a natureza jurídica da Aprendizagem, onde constatou-se

que se trata de contrato especial de trabalho, seguindo a ordem cronológica dos

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acontecimentos. Tem-se que tecer algumas considerações sobre as normas gerais

de contratação.

De acordo com o disposto no artigo 429 da CLT:

Art. 429. Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional.

Contudo, é importante lembrar, que o limite fixado pelo artigo 429 da CLT não

se aplica quando o empregador for entidade sem fins lucrativos, que tenha por

objetivo a educação profissional.

As entidades sem fins lucrativos podem ser governamentais ou não-

governamentais, devem ter por objetivo a formação técnico-profissional, ser

registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente,

possuir estrutura adequada ao desenvolvimento dos programas de Aprendizagem e

sujeitar-se às normas fixadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego para avaliação

de sua competência, conforme disciplina o artigo 430, II da CLT. (NASCIMENTO,

2003).

Em regra, a Aprendizagem deve ser ministrada pelas entidades integrantes

do Sistema Nacional de Aprendizagem, o conhecido sistema “S”, que são: o Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), o Serviços Nacional de

Aprendizagem Comercial (SENAC), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

(SENAR), o Serviço Nacional de Atividades de Transportes (SENAT) e o Serviço

Nacional de Aprendizagem de Cooperativas (SESCOOP). (OLIVA, 2006).

Oliva (2006, p. 229) conclui ainda que:

[...] não havendo cursos ou vagas suficientes nos referidos serviços para atender a demanda dos estabelecimentos, ser a aprendizagem ministrada por outras entidades qualificadas em formação técnico-profissional metódica. Tais entidades, de acordo com o art. 430, I e II, da CLT, podem ser Escolas Técnicas de Educação (inclusive agrotécnicas) ou entidades sem fins lucrativos, que tenham por objetivo a assistência ao adolescente e à educação profissional, desde que registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

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Sendo o aprendiz contratado por entidades que não possuam fins lucrativos

ou que tenham finalidade de prestar assistência e educação profissional ao

Adolescente, sendo elas registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança

e do Adolescente, não existirá vínculo empregatício entre a empresa e o

Adolescente, de acordo com o artigo 431 da CLT. (LIBERATI; DIAS, 2006).

Conclui-se que, considerando que a entidade sem fins lucrativos pode

celebrar Contrato de Aprendizagem e tendo em vista de que a natureza jurídica é de

contrato de trabalho, e que uma das suas condições da validade é a anotação na

Carteira de Trabalho e Previdência Social, pode-se dizer que o contrato de

experiência firmado com a entidade, forma o vínculo jurídico de emprego entre as

partes, sujeitando-se a observância de todos os direitos previdenciários e

trabalhistas em relação ao aprendiz.

4.2.3 Inovações Introduzidas Pela Lei nº 10.097/2000

Ante uma análise das normas gerais de contratação, é extremamente válido

salientar as mudanças introduzidas pela Lei n° 10.097/2000, e as inovações por ela

trazidas.

De acordo com a antiga redação do art. 80 da CLT, revogado pela Lei nº

10.097/2000, durante a primeira metade do curso de Aprendizagem, o Adolescente

deveria receber meio salário mínimo e, na segunda metade, dois terços do salário

mínimo.

Com a nova redação do art. 428 da CLT em seu parágrafo 2°, “Ao menor

aprendiz, salvo condição mais favorável, será garantido o salário mínimo hora.”.

A jornada de trabalho para o aprendiz não era definida pela CLT. Com a

introdução da Lei, a jornada de trabalho do Adolescente aprendiz será de até seis

horas diárias, sendo vedada a prorrogação e a compensação de jornada. Poderá

ser de oito horas para os aprendizes que já tiverem completado o ensino

fundamental, se nelas foram computadas as horas destinadas à Aprendizagem

teórica. Como discorre o artigo 432 da CLT:

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Art. 432. A duração do trabalho do aprendiz não excederá de seis horas diárias, sendo vedadas a prorrogação e a compensação de jornada. § 1o O limite previsto neste artigo poderá ser de até oito horas diárias para os aprendizes que já tiverem completado o ensino fundamental, se nelas forem computadas as horas destinadas à aprendizagem teórica.

O depósito do FGTS será somente no percentual de 2% (dois por cento) da

remuneração paga ou devida, no mês anterior, de acordo com o § 7º do art. 15 da

Lei nº 8.036/90, introduzido pela Lei nº 10.097/2000.

Neste entendimento observa João (2000 apud Oliva, 2006, p. 240):

Quanto ao acesso ao FGTS pelos menores após o término da rescisão contratual do trabalho, a legislação ainda não contempla a hipótese de liberação de depósitos em caso de término antecipado de contrato de aprendizagem, presumindo-se aplicáveis as mesmas hipóteses indicadas pela Lei n° 8.036/90, no art. 14, para os contratos de prazo determinado.

Após uma análise sobre as inovações da Lei n° 10.097/00, passa-se a

possibilidade acerca da estabilidade do Contrato de Aprendizagem.

4.2.4 Estabilidade do Contrato de Aprendizagem

Vidotti (2001 apud Oliva, 2006, p. 242) discorre quanto à estabilidade:

Justifica-se a existência da estabilidade por não ser desejável permitir a interrupção da aprendizagem no meio de seu curso, haja vista que a formação profissional do trabalhador se coaduna com as diretrizes básicas do modelo nacional de educação, no qual é prioridade o direito a profissionalização e, ainda, direito do adolescente à profissionalização é dever de todos, consoante art. 227 da Constituição Federal.

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De acordo com o entendimento acima, existe a possibilidade da estabilidade

sobre o Contrato de Aprendizagem, tendo em vista que não se pode interromper o

contrato no meio do curso, pois o Adolescente tem direito a profissionalização.

4.2.5 Extinção do Contrato de Aprendizagem

O artigo 433 da CLT estabelece as hipóteses de extinção do Contrato de

Aprendizagem, que pode ocorrer com o termo da Aprendizagem ou quando o

aprendiz completar vinte e quatro anos de idade. O Contrato de Aprendizagem pode

ser extinto antecipadamente, conforme disciplinam os incisos do mencionado artigo:

[...] I – desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz; II – falta disciplinar grave; III – ausência injustificada à escola que implique perda do ano letivo; ou; IV – a pedido do aprendiz.

É importante observar, ainda, que não se aplica o disposto nos artigos 479 e

480 da CLT às hipóteses de extinção antecipada do Contrato de Aprendizagem,

conforme § 2° do artigo 433 da CLT.

Se o aprendiz completar dezoito anos (agora de vinte e quatro anos) de idade

o Contrato de Aprendizagem será extinto, sendo que o mesmo perde a condição de

aprendiz, ainda que não tenha concluído o programa de Aprendizagem, este será

extinto. Caso o termo de Aprendizagem ocorrer antes do menor aprendiz completar

dezoito anos (agora vinte e quatro anos) não se admitirá a prorrogação ou a

renovação do contrato. Nas hipóteses acima referidas, caso haja continuidade do

contrato, este passará a ser considerado como um contrato de trabalho comum, por

prazo indeterminado. (NASCIMENTO, 2003).

A perda do ano letivo por faltas injustificadas que autoriza a interrupção do

contrato de trabalho por justa causa do aprendiz é só aquela que ocorre no ensino

fundamental, não no médio, uma vez que a condição de validade do Contrato de

Aprendizagem restringe-se àquela. (2003, SANTOS apud OLIVA, 2006).

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O empregado poderá pedir a rescisão se não estiver satisfeito, sendo que não

pode ser obrigado a permanecer vinculado ao empregador.

Em relação à antecipação do contrato por falta indisciplinar grave o autor

Oliva (2006, p. 245) esclarece que, “Ocorrerá quando o aprendiz incidir numa das

hipóteses de justa causa taxativamente previstas no art. 482 da CLT.”.

O doutrinador, Caio Franco Santos conseguiu identificar três outras hipóteses

de antecipação de rescisão do Contrato de Aprendizagem, sendo a despedida

indireta, a culpa recíproca e a extinção do estabelecimento. Se o empregado

aprendiz pode cometer faltas graves, o seu empregador também. Assim se o

empregador infringir os preceitos contidos no artigo 483 da CLT poderá dar o

aprendiz por rescindido o contrato, por culpa do empregador. Admitida a despedida

indireta, impõe-se também o reconhecimento da possibilidade de culpa concorrente

ou recíproca, que autorizaria, igualmente, o rompimento definitivo do contrato de

trabalho de Aprendizagem. (2003, SANTOS apud OLIVA, 2006).

Quanto às verbas rescisórias são todas as previstas quando do término de

um contrato por prazo determinado normal. Sendo superior a um ano a duração do

Contrato de Aprendizagem, haverá necessidade de homologação da rescisão

perante o sindicato da categoria profissional correspondente ou Ministério do

Trabalho e Emprego (artigo 477, § 1°, da CLT). (OLIVA, 2006).

4.3 EXPLORAÇÃO DO TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A exploração do Trabalho Infantil é reconhecida como o tipo de atividade que

traz somente vergonha e desgraça para os cidadãos. Sendo que não pode ser

observada como algo enobrecedor, pois inserem no mercado de trabalho, Crianças

sem qualificação e sem estrutura física e mental para exercerem tal atividade.

(LIBERATI; DIAS, 2006).

Como discorre GRUNSPUN, no Brasil “[...] milhões de crianças são

exploradas no trabalho, muitas vezes como braços das famílias contratadas. O

trabalho agrícola e serviços domésticos absorvem a maioria das crianças que

trabalham.” (2000, p. 21).

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Existe uma divisão do Trabalho Infantil, como mostra Córdova (2006, p. 1):

Atualmente, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirma que 70% dos trabalhos infantis dividem-se na agricultura, pesca e atividades de caça; seguidos por 8% que vêm das linhas de produção, comércio atacado e varejo; 8% de serviços domésticos; 4% de transportes, armazenamentos e comunicação, e os 3% restantes são atribuídos à construção e à mineração. Não entram nessa estatística dados de crianças envolvidas com o tráfico de drogas, delitos ou exploração sexual comercial, por serem difíceis de serem identificados pelas pesquisas de opinião.

Segundo pesquisas elaboradas pelo IPEC e SIMPOC em 2002, com Crianças

e Adolescentes na faixa etária de 5 a 14 anos de idade, mostrava-se uma situação

bem dramática, sendo que 211 milhões trabalhavam, apesar de assustador

revelava-se um decréscimo do Trabalho Infantil nos últimos anos, dados divulgados

nos anos de 1995 e 1996 pela Organização Internacional do Trabalho, estimava que

250 milhões de Crianças e Adolescentes entre 5 e 14 trabalhavam no mundo.

(OLIVA, 2006).

Não é por vontade própria que as crianças estão inseridas no mercado de

trabalho, elas abrem mão de aproveitar a liberdade de brincar e estudar e mesmo

assim a pobreza continua sendo a maior causa do Trabalho Infantil. A carta da

Unicef reconhece que “o que leva as crianças a trabalharem é a necessidade de

complementar os recursos muito pequenos de seus pais, seja porque são muito

pobres, mal pagos ou desempregados”. (MARINHO, 1997, p. 1, grifo do autor).

4.3.1 Causas e Conseqüência do Trabalho Infantil

Em nosso país como em vários outros países do mundo, o trabalho precoce

acontece por diversas razões, sendo que uma delas é a concentração de renda nas

mãos de poucos e a pobreza que dela resulta e, também, a necessidade de

complementar a renda familiar, sendo este o fator principal para a geração do

Trabalho Infantil, conforme comprovam pesquisas realizadas no Brasil e no mundo.

(LIMA, 2000 apud CUSTÓDIO, 2006).

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Sobre as principais causas do Trabalho Infantil, KASSOUF (2002 apud Silva,

2005, p. 1) discorre que:

Uma das principais causas do trabalho infantil é a pobreza das famílias, que as leva a lançar mão do trabalho precoce de seus filhos. E o mais perverso nesse fenômeno é que a pobreza é, a um só tempo, causa e conseqüência do trabalho infantil. É o chamado ciclo da pobreza. É que a pobreza leva os pais a usarem a mão-de-obra de seus filhos.

Para Grunspun (2002, p. 21) “A pobreza e a miséria são as causas mais

importantes do trabalho infantil. Por falta de outras opções para sobreviver, muitas

das crianças precisam trabalhar para se sustentar e sustentar sua família.”.

Ressalta ainda Grunspun (2002, p. 23) sobre a causa do Trabalho Infantil

que:

A passividade das crianças, sem conseguir se organizar para reclamar de sua condição, é uma das causas do abuso no trabalho infantil. Quando as crianças repetem de ano ou não se comportam bem na escola, a opção para trabalhar, qualquer trabalho, é a que emerge na família com a maior facilidade.

A utilização da mão-de-obra infantil no serviço doméstico, além do caráter

ilícito dessa prática pode causar uma conseqüência imediata, provocando o prejuízo

sobre a escolaridade, com comprometimento do futuro das Crianças empregadas

como domésticas, que estarão condenadas a um futuro sem perspectivas de

melhoria na sua condição econômica, profissional e social. Conhece-se que a

exercício do Trabalho Infantil provoca um choque negativo na escolaridade, uma vez

que os índices de ocupação em trabalho de Crianças e Adolescentes têm

associação com a ausência de escolaridade. Bem observa que a maioria das

Crianças inseridas no emprego doméstico exerce a função de ''babá'', que vem de

outros municípios, muitas vezes usam o falso pretexto de que não estão

trabalhando, mas apenas foram contratadas para brincar com as outras Crianças da

casa. (SILVA, 2003).

O desemprego e a pobreza acabam enquadrando-se, como justificativa para

empregarem os Adolescentes e Crianças, como vendedores de balas e salgados

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nos sinais ou entregando panfletos e jornais, em alguns casos ainda são obrigados a

pedir dinheiro para os que passam pelas ruas, para não morrerem de fome. “Pode-

se dizer que uma em cada dez crianças na faixa etária de cinco a 16 anos perde

parte da infância trabalhando como adultos”.Por estarem cansadas, quase sempre

tem um desempenho fraco na escola ou simplesmente deixam de estudar.

(CÓRDOVA, 2006, p. 1)

A conseqüência deste vínculo surgido entre a Criança e o universo do

trabalho, é a distância dos bancos escolares, tendo como a principal causa, a fadiga,

após horas de empenho. Sem motivação devido ao cansaço físico, faz com que o

desempenho escolar se torne insatisfatório, construindo cidadãos incapazes de lutar

por seus sonhos e serão profundamente lesados ao tentar expressar qualquer forma

de cidadania. (LIBERATI; DIAS, 2006).

4.3.2 Desigualdades Sociais

A exploração da mão-de-obra infantil é, portanto, um fenômeno histórico

ainda não superado pela humanidade. Mesmo que, atualmente, fatores conjunturais

diversos o condicionem, verifica-se, apesar da Declaração de Direitos Humanos,

expedida a partir do século XIX e dos avanços tecnológicos e produtivos, a

manutenção de um degradante sistema que aumenta a desigualdade e a exclusão

social. (MARINHO, 1997).

Observam Liberati e Dias (2006, p. 40) que “O próprio Estado, muitas vezes,

mostra-se incapaz de desempenhar as políticas sociais para o resgate da cidadania

de crianças e adolescentes, fazendo com que muitas fiquem jogadas à beira da

marginalidade.”.

Dados revelam verdadeiros absurdos com a pesquisa elaborada pela

inspeção do trabalho, como discorre Silva (2005, p.1):

Os números obtidos pela inspeção do trabalho espelham os seus resultados. De janeiro de 2003 a outubro de 2004 foram encontrados em situação de trabalho infantil 15.311 crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos. Ao mesmo tempo, fruto da ação fiscal no mesmo período, foram admitidos como aprendizes no Brasil 39.943 adolescentes com idade entre 14 e 18 anos incompletos. Como já

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dito, é a através da sensibilização, conscientização, mobilização e engajamento que vamos obter sucesso naquele que deve ser o maior objetivo da sociedade: garantir uma infância e uma adolescência de qualidade para nossas crianças e adolescentes.

Acerca da Região Sul, Custódio (2006, p.1) pondera que:

[...] quase metade da população de crianças e adolescentes cujos pais trabalham em atividade agrícola também trabalha nessa atividade, percentagem muito superior à Região Nordeste. Como a renda familiar na área rural do Sul correspondem ao dobro da renda no Nordeste, fica claro que existem diferenças sociais e culturais importantes que explicam esse padrão de trabalho de crianças e adolescentes, que não é conseqüência exclusiva da pobreza.

Sobre o problema da exploração do trabalho infantil no Brasil, Córdova (2006,

p. 1) discorre que:

O problema está associado, embora não esteja restrito, à pobreza, à desigualdade e à exclusão social existentes no Brasil. É preciso admitir o problema e encarar a sua complexidade. Firmar parcerias (governo, sociedade, instituições) que possam combater o trabalho precoce, principalmente aquelas consideradas inaceitáveis por não respeitarem os direitos fundamentais e inalienáveis da pessoa humana. O que importa muito nessa questão do trabalho precoce das crianças é a natureza desse trabalho, que em muitos casos acontece em condições de riscos e abusos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente “[...] tem a difícil, porém relevante,

função de fazer com que o texto constitucional não seja letra morta; e para tanto,

não basta a existência de leis que assegurem direitos sociais, mas que a estas

sejam conjugada uma política social eficaz.” (SILVA; VERONESE, 1998 apud

CUSTÓDIO, 2006, p.1).

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4.3.3 Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil

Com a vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente a exploração do

Trabalho Infantil recebeu maior atenção, sendo considerado como uma bárbara

violação de direito fundamental da Criança e do Adolescente. Em que pese à

distância existente entre lei e realidade, percebe-se um início de ações voltadas a

proteção efetiva dos direitos da Criança e do Adolescente diante à exploração no

trabalho, ao menos no âmbito da garantia dos direitos. “Para o sociólogo Carlos

Amaral, há duas saídas para reduzir os índices de trabalho infantil no país. Uma é o

crescimento econômico e a maior distribuição de renda. A outra é a maior

efetividade das ações institucionais [...]” (PERES; BENEDICTO, 2002, apud

CUSTÓDIO, 2006 p. 1).

O Trabalho Infantil, tem sido enfrentado como uma questão social a ser

encarada por meio de ações imediatas e concretas que levam a prevenção e a

decisiva Erradicação. Existem no plano internacional, duas normas que visam a

essas ações, uma é a Convenção n° 138 que discorre sobre a idade mínima de

admissão do emprego, e a Convenção n° 182 que trata sobre as piores formas de

Trabalho Infantil, ambas da OIT. (OLIVA, 2006).

A família é considerada núcleo privilegiado de desenvolvimento, socialização

e construção de identidade. Dessa forma, o grupo familiar é incluído no amplo

processo para assegurar a proteção e o desenvolvimento das crianças e

adolescentes, bem como sua permanência fora do mercado de trabalho. (ADUAN,

2002).

Sobre as ações que visam a Erradicação do Trabalho Infantil, Oliveira (2002,

p. 147) salienta que:

As ações que visam à erradicação do trabalho infantil encontram um fortíssimo óbice cultural: a sina do menino pobre é trabalhar dentro de um dilema fechado, segundo o qual é melhor trabalhar do que vadiar e ser "menino de rua". Este fatalismo é interiorizado pelos próprios pais, que aceitam a exclusão social. A barreira cultural, que atinge boa parte da mídia, não se transpõe tão facilmente como se pode pensar. Muitas sociedades locais ou desconhecem o trabalho infantil ou, o que é pior, procuram escondê-lo "debaixo do tapete". Este "desconhecimento" atinge, sobretudo o trabalho infantil rural, porque o menino que está trabalhando no campo, ainda que em

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condições deploráveis, não é "visto" e sobretudo não incomoda nas ruas.

Liberati e Dias (2006, p. 39) acerca do instrumento para a Erradicação do

trabalho pensam que:

O principal instrumento para a erradicação do uso da mão-de-obra infanto-juvenil é, sem dúvida, a execução de um programa educacional que vise apoiar e transferir todas as crianças inseridas no mercado de trabalho para instituições educacionais devidamente qualificadas e que possuam o poder de destinar um ensino básico e fundamental realmente produtivo, a todas as crianças e adolescentes.

Em 1996 foi criado o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil -

PETI como uma das primeiras ações concretas resultantes das denúncias e

reivindicações relacionadas ao trabalho da Criança no Brasil. Este programa é

vinculado a Secretaria de Estado de Assistência Social, do então Ministério da

Previdência e Assistência Social. Nasceu com a perspectiva de eliminar as piores

formas de trabalho de Crianças e Adolescentes no país. (OIT, 2001 apud OLIVA,

2006).

Segundo Aduan (2002, p. 2) o PETI “É um programa do Governo Federal que

tem como objetivo retirar crianças e adolescentes de sete a 15 anos de idade do

trabalho considerado perigoso, penoso, insalubre ou degradante, ou seja, daquele

trabalho que coloca em risco sua saúde e sua segurança”

O PETI hoje em dia é um programa de “transferência direta de renda do

Governo Federal para as famílias de Crianças e Adolescentes envolvidas no

trabalho precoce”. (OLIVA, 2006 p. 144).

O objetivo do PETI, de acordo com Aduan (2002, p. 2) é:

[...] retirar crianças e adolescentes do trabalho perigoso, penoso, insalubre e degradante; possibilitar o acesso, a permanência e o bom desempenho de crianças e adolescentes na escola; fomentar e incentivar a ampliação do universo de conhecimentos da criança e do adolescente, por meio de atividades culturais, esportivas, artísticas e de lazer no período complementar ao da escola, ou seja, na jornada ampliada; proporcionar apoio e orientação às famílias por meio da oferta de ações sócio-educativas; promover e implementar

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programas e projetos de geração de trabalho e renda para as famílias.

O Programa de Erradicação do Trabalho da Criança e do Adolescente

destina-se às famílias de baixa renda, ou seja, com renda per capita6 de até ½

salário mínimo, com crianças de sete a quinze anos de idade e que estejam

trabalhando em atividades consideradas perigosas, insalubres, penosas ou

degradantes. (COSTA, 2000).

Sobre o funcionamento do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil,

Oliva (2006, p. 144) descreve que:

O Programa funciona a partir do levantamento, pelos Estados, dos casos de Trabalho Infantil que ocorrem em seus municípios. As Comissões Estaduais de Erradicação do Trabalho Infantil analisam e estabelecem critérios para atendimento preferencial dos casos mais graves. Após aprovação destas, os pedidos são submetidos à Comissão Intergestora Bipartite. (CIB), para pactuação.

Com a pactuação das necessidades, são informadas ao MDS, levando ao

conhecimento dos mesmos a nominação das Crianças e dos Adolescentes a serem

atendidos, e as devidas atividades econômicas a serem exercidas. Depois de

aprovado o MDS informa ao Estado os passos a serem desempenhados pelos

municípios para implantação do programa, dentre os quais desponta a inserção ou a

reinserção das Crianças e Adolescentes na escola. (OLIVA, 2006).

Aduan (2002, p. 9) assinala que “Em nenhuma hipótese podem ser

desenvolvidas atividades profissionalizantes ou ditas ‘semi-profissionalizantes’ com

as crianças e adolescentes do PETI”.

Oliva (2006, p. 145) aponta que:

O PETI prevê ainda ações de Ampliação e Geração de Renda envolvendo as famílias beneficiadas, com repasse de recursos aos municípios. Em contrapartida, as famílias têm que assumir compromissos com o governo federal, garantindo que as crianças e adolescentes freqüentarão a escola e a jornada ampliada (freqüência mínima de 75%) e que afastarão definitivamente do trabalho. As famílias deverão, ainda, participar das ações socioeducativas e de

6 Per capita: Por cabeça, por pessoa.

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ampliação e geração de renda que lhes forem oferecidas. O controle é executado pelos municípios.

Sobre o monitoramento da jornada ampliada traz uma Nota Técnica

elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (2003, p. 1) onde expõe que:

A contratação de monitores para a jornada ampliada do PETI clama por urgente regularização. Quem garante os direitos das crianças e adolescentes não pode ficar à margem da lei, sem ter assegurados os direitos advindos de seu trabalho. A permanência dessa situação pode representar um risco para a continuidade do Programa. É necessária uma solução imediata por parte dos entes contratantes, a fim de que não haja descontinuidade do serviço dos monitores e o conseqüente comprometimento de um programa de tamanha relevância social.

Após a abordagem deste tema, verifica-se que a erradicação do trabalho da

criança e do adolescente, por mais que nossos legisladores busquem, cada vez

mais, tutelar e proteger o direito deste pequenos trabalhadores, esta utopia está

longe ainda de ser alcançada em sua plenitude, pois, enquanto existir o abismo

sócio-econômico que assola nosso país, dificilmente encontraremos um fim a

exploração das crianças e dos adolescentes frente ao mercado de trabalho.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vislumbrou-se nesta obra reflexões acerca do trabalho da Criança e do

Adolescente, sendo realizada, preliminarmente, um levantamento histórico nas

formas de trabalho e nos meios de proteção que eram empregados para garantir, à

época, um mínimo de direitos necessários à sobrevivência destes.

Destarte, a presente monografia buscou abranger em seu conteúdo o máximo

possível de informações condizentes com o tema proposto, onde realizou-se uma

abordagem no tocante as causas, conseqüências, direitos e deveres que envolvem

tão polêmico tema.

Comentou-se sobre os fatos históricos que serviram de marco inicial,

contribuindo para a formação do ordenamento jurídico dos tempos atuais, onde

mereceu ênfase especial a Revolução Industrial, no fim do século XIX e início do

século XX, com o aumento das indústrias brasileiras, bem como a entrada dos

imigrantes nas frentes de trabalho. Tentou-se definir o conceito de Criança e

Adolescente, já que, segundo entendimento doutrinário, não é possível existir uma

conceituação exata do que seja Criança e Adolescente ou até mesmo de infância,

pois seus significados variam conforme a Sociedade, a Cultura e a época. Definiu-se

ainda o conceito de Trabalho que pode ser visto como o emprego de forças

humanas, sistemático, com intuito de que seja produzido algo, estabelecendo assim,

nesta produção, dois lados produtores, que podem também ser chamados de

empregados e beneficiários, ou seja, os patrões, que se beneficiam do trabalho de

outrem.

Restou elaborado um estudo acerca dos fundamentos e regras da Proteção

ao Trabalho da Criança e Adolescente baseado na Constituição Federal, na

Consolidação das Leis do Trabalho e no Estatuto da Criança e do Adolescente,

comentando-se, desta forma, alguns aspectos no tocante a idade mínima, formas

prejudicais de trabalho, como trabalho noturno, trabalho insalubre, trabalho perigoso,

trabalho penoso, onde teceu-se, posteriormente, considerações sobre a proteção ao

trabalho não empregatício da Criança e do Adolescente, especialmente no trabalho

familiar.

Destacou-se, também, sobre a Efetiva Prestação Laboral da Criança e do

Adolescente, transcorrendo-se sobre suas variadas formas e seus correspondentes

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dispositivos jurídicos e normas regulamentadoras, tais como: o Trabalho Educativo,

Contrato de Aprendizagem, que visam promover a formação profissional do

Adolescente, preparando-o para ingressar no Mercado de Trabalho. Para isso,

observou-se a natureza jurídica das Normas Gerais de Contratação, inovações

introduzidas pela Lei nº 10.097/2000, a Estabilidade do Contrato de Aprendizagem e

Extinção do Contrato de Aprendizagem.

Alertou-se ainda a respeito da Exploração do Trabalho da Criança e do

Adolescente, verdadeira vergonha e desgraça para os cidadãos, suas causas

alarmantes, originando a desigualdades social, fruto do enriquecimento ilícito às

custas de menores desamparados. Discutiu-se possíveis formas de Prevenção e

Erradicação do Trabalho Infantil como o Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil (PETI) que retira Crianças e Adolescentes de 07 à 15 anos de idade de

trabalhos considerados perigosos, penosos, insalubres ou degradantes, ou seja,

daquele trabalho que coloca em risco sua saúde e sua segurança, propondo a estes

menores mais um espaço para se dedicarem ao lazer e aos estudos.

Não obstante possuirmos várias normas de proteção ao trabalho da Criança e

do Adolescente, a conjuntura em que vivemos, a realidade sócio-econômica

brasileira, obriga a inserção destes no Mercado de Trabalho.

A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente, em

especial, refletem o grande avanço das Normas de Proteção, no sentido de

resguardar e proteger a infância destes pequenos trabalhadores, para que não

carreguem para o resto de suas vidas obreiras as marcas do descaso de nossas

autoridades inertes.

Deposita-se uma grande esperança para solucionar o problema da

exploração do Trabalho Infantil no Brasil, na profissionalização dos pequenos

trabalhadores. Sem a devida profissionalização a sina das Crianças e Adolescentes

é procurar ou mesmo conservar-se no Mercado de Trabalho informal, fora da

abrangência da proteção assegurada.

Não restam dúvidas de que a Criança e o Adolescente devem permanecer na

escola recaindo sobre suas famílias o ônus pelo seu sustento. Entretanto, não se

pode ter a ilusão de que os pais sempre vão arcar com o custeio da vida de seus

filhos, visto que em muitas situações são as Crianças e Adolescentes que entram,

de forma precoce, em trabalhos indevidos e de baixa remuneração para contribuir ou

mesmo formar a renda familiar.

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Ante o exposto, pode-se concluir que a exploração do Trabalho da Criança e

do Adolescente é assunto relevante na legislação brasileira, contudo, os números

não mentem e, apesar de todas as normas de proteção ao Trabalho da Criança e do

Adolescente, o sentimento que se tem é de que ainda se está perdendo a guerra

para a ganância e o descaso do povo, que por já ter sido explorado, explora cada

vez mais, sem pôr um fim a este ciclo irresponsável e desumano.

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REFERÊNCIAS

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ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Básico de Direito. 2 ed. São Paulo: Jurídica Brasileira, 1997. 293 p. BRASIL, Consolidação das Leis do Trabalho. 33. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 1264 p.

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ANEXO ANEXO A

___ Quadro descritivo dos locais e serviços considerados perigosos ou insalubres

para menores de 18(dezoito) anos. 7

1 Trabalhos de afiação de ferramentas e instrumentos metálicos em afiadora, rebolo

ou esmeril, sem proteção coletiva contra partículas volantes.

2 Trabalhos de direção de veículos automotores e direção, operação, manutenção ou

limpeza de máquinas ou equipamentos, quando motorizados e em movimento, a

saber: tratores e máquinas agrícolas, máquinas de laminação, forja e de corte de

metais, máquinas de padaria como misturadores e cilindros de massa, máquinas de

fatiar, máquinas em trabalhos com madeira, serras circulares, serras de fita e

guilhotinas, esmeris, moinhos, cortadores e misturadores, equipamentos em

fábricas de papel, guindastes ou outros similares, sendo permitido o trabalho em

veículos, máquinas ou equipamentos parados, quando possuírem sistema que

impeça o seu acionamento acidental.

3 Trabalhos na construção civil ou pesada.

4 Trabalhos em cantarias ou no preparo de cascalho.

5 Trabalhos na lixa nas fábricas de chapéu ou feltro.

6 Trabalhos de jateamento em geral, exceto em processos enclausurados.

7 Trabalhos de douração, prateação, niquelação, galvanoplastia, anodização de

alumínio, banhos metálicos ou com desprendimento de fumos metálicos.

8 Trabalhos na operação industrial de reciclagem de papel, plástico ou metal.

9 Trabalhos no preparo de plumas ou crinas.

10 Trabalhos com utilização de instrumentos ou ferramentas de uso industrial ou

agrícola com riscos de perfurações e cortes, sem proteção capaz de controlar o

risco.

11 Trabalhos no plantio, com exceção da limpeza, nivelamento de solo e desbrote; na

colheita, beneficiamento ou industrialização do fumo.

12 Trabalhos em fundições em geral

13 Trabalhos no plantio, colheita, beneficiamento ou industrialização do sisal.

7 Extraído do site do Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: http://www.mtb.gov.br/Empregador/fiscatrab/CombateTrabalhoInfantil/Legislacao/Conteudo/530.asp

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14 Trabalhos em tecelagem.

15 Trabalhos na coleta, seleção ou beneficiamento de lixo.

16 Trabalhos no manuseio ou aplicação de produtos químicos de uso agrícola ou

veterinário, incluindo limpeza de equipamentos, descontaminação, disposição ou

retorno de recipientes vazios.

17 Trabalhos na extração ou beneficiamento de mármores, granitos, pedras preciosas,

semi-preciosas ou outros bens minerais.

18 Trabalhos de lavagem ou lubrificação de veículos automotores em que se utilizem

solventes orgânicos ou inorgânicos, óleo diesel, desengraxantes ácidos ou básicos

ou outros produtos derivados de óleos minerais.

19 Trabalhos com exposição a ruído contínuo ou intermitente, acima do nível de ação

previsto na legislação pertinente em vigor, ou a ruído de impacto.

20 Trabalhos com exposição a radiações ionizantes.

21 Trabalhos que exijam mergulho.

22 Trabalhos em condições hiperbáricas.

23 Trabalhos em atividades industriais com exposição a radiações não-ionizantes

(microondas, ultravioleta ou laser).

24 Trabalhos com exposição ou manuseio de arsênico e seus compostos, asbestos,

benzeno, carvão mineral, fósforo e seus compostos, hidrocarbonetos ou outros

compostos de carbono, metais pesados (cádmio, chumbo, cromo e mercúrio) e

seus compostos, silicatos, ou substâncias cancerígenas conforme classificação da

Organização Mundial de Saúde.

25 Trabalhos com exposição ou manuseio de ácido oxálico, nítrico, sulfúrico,

bromídrico, fosfórico e pícrico.

26 Trabalhos com exposição ou manuseio de álcalis cáusticos.

27 Trabalhos com retirada, raspagem a seco ou queima de pinturas.

28 Trabalhos em contato com resíduos de animais deteriorados ou com glândulas,

vísceras, sangue, ossos, couros, pêlos ou dejeções de animais.

29 Trabalhos com animais portadores de doenças infecto-contagiosas.

30 Trabalhos na produção, transporte, processamento, armazenamento, manuseio ou

carregamento de explosivos, inflamáveis líquidos, gasosos ou liquefeitos.

31 Trabalhos na fabricação de fogos de artifícios.

32 Trabalhos de direção e operação de máquinas ou equipamentos elétricos de grande

porte, de uso industrial.

33 Trabalhos de manutenção e reparo de máquinas e equipamentos elétricos, quando

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energizados.

34 Trabalhos em sistemas de geração, transmissão ou distribuição de energia elétrica.

35 Trabalhos em escavações, subterrâneos, pedreiras garimpos ou minas em subsolo

ou a céu aberto.

36 Trabalhos em curtumes ou industrialização do couro.

37 Trabalhos em matadouros ou abatedouros em geral.

38 Trabalhos de processamento ou empacotamento mecanizado de carnes.

39 Trabalhos em locais em que haja livre desprendimento de poeiras minerais.

40 Trabalhos em locais em que haja livre desprendimento de poeiras de cereais (arroz,

milho, trigo, sorgo, centeio, aveia, cevada, feijão ou soja) e de vegetais (cana, linho,

algodão ou madeira) trabalhos em locais em que haja livre desprendimento de

poeiras de cereais (arroz, milho, trigo, sorgo, centeio, aveia, cevada, feijão ou soja)

e de vegetais (cana, linho, algodão ou madeira).

41 Trabalhos na fabricação de farinha de mandioca.

42 Trabalhos em indústrias cerâmicas.

43 Trabalhos em olarias nas áreas de fornos ou com exposição à umidade excessiva.

44 Trabalhos na fabricação de botões ou outros artefatos de nácar, chifre ou osso.

45 Trabalhos em fábricas de cimento ou cal.

46 Trabalhos em colchoarias.

47 Trabalhos na fabricação de cortiças, cristais, esmaltes, estopas, gesso, louças,

vidros ou vernizes.

48 Trabalhos em peleterias.

49 Trabalhos na fabricação de porcelanas ou produtos químicos.

50 Trabalhos na fabricação de artefatos de borracha.

51 Trabalhos em destilarias ou depósitos de álcool.

52 Trabalhos na fabricação de bebidas alcoólicas.

53 Trabalhos em oficinas mecânicas em que haja risco de contato com solventes

orgânicos ou inorgânicos, óleo diesel, desengraxantes ácidos ou básicos ou outros

produtos derivados de óleos minerais.

54 Trabalhos em câmaras frigoríficas.

55 Trabalhos no interior de resfriadores, casas de máquinas, ou junto de aquecedores,

fornos ou alto-fornos.

56 Trabalhos em lavanderias industriais.

57 Trabalhos em serralherias.

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58 Trabalhos em indústria de móveis.

59 Trabalhos em madeireiras, serrarias ou corte de madeira.

60 Trabalhos em tinturarias ou estamparias.

61 Trabalhos em salinas.

62 Trabalhos em carvoarias.

63 Trabalhos em esgotos.

64 Trabalhos em hospitais, serviços de emergências, enfermarias, ambulatórios,

postos de vacinação ou outros estabelecimentos destinados ao cuidado da saúde

humana em que se tenha contato direto com os pacientes ou se manuseie objetos

de uso destes pacientes não previamente esterilizados.

65 Trabalhos em hospitais, ambulatórios ou postos de vacinação de animais, quando

em contato direto com os animais.

66 Trabalhos em laboratórios destinados ao preparo de soro, de vacinas ou de outros

produtos similares, quando em contato com animais.

67 Trabalhos em cemitérios.

68 Trabalhos em borracharias ou locais onde sejam feitos recapeamento ou

recauchutagem de pneus.

69 Trabalhos em estábulos, cavalariças, currais, estrebarias ou pocilgas, sem

condições adequadas de higienização.

70 Trabalhos com levantamento, transporte ou descarga manual de pesos superiores a

20 quilos para o gênero masculino e superiores a 15 quilos para o gênero feminino,

quando realizado raramente, ou superiores a 11 quilos para o gênero masculino e

superiores a 7 quilos para o gênero feminino, quando realizado freqüentemente.

71 Trabalhos em espaços confinados.

72 Trabalhos no interior ou junto a silos de estocagem de forragem ou grãos com

atmosferas tóxicas, explosivas ou com deficiência de oxigênio.

73 Trabalhos em alturas superiores a 2,0 (dois) metros.

74 Trabalhos com exposição a vibrações localizadas ou de corpo inteiro.

75 Trabalhos como sinalizador na aplicação aérea de produtos ou defensivos

agrícolas.

76 Trabalhos de desmonte ou demolição de navios e embarcações em geral.

77 Trabalhos em porão ou convés de navio.

78 Trabalhos no beneficiamento da castanha de caju.

79 Trabalhos na colheita de cítricos ou de algodão.

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80 Trabalhos em manguezais ou lamaçais.

81 Trabalhos no plantio, colheita, beneficiamento ou industrialização da cana-de-

açúcar.