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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CAMPUS IV BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA AURIVAR FERNANDES FILHO “COM O OLHAR TUDO VEM ACOMPANHADO...”: representações sociais da masculinidade em Florianópolis Biguaçu 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CAMPUS IV BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

AURIVAR FERNANDES FILHO

“COM O OLHAR TUDO VEM ACOMPANHADO...”: representações

sociais da masculinidade em Florianópolis

Biguaçu 2009

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AURIVAR FERNANDES FILHO

“COM O OLHAR TUDO VEM ACOMPANHADO...”: representações

sociais da masculinidade em Florianópolis

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para

obtenção do título de Bacharel em Psicologia, pela Universidade do Vale

do Itajaí, Centro de Educação - Biguaçu. Orientador: Prof. Dr. Leandro Oltramari.

Biguaçu

2009

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AURIVAR FERNANDES FILHO

“COM O OLHAR TUDO VEM ACOMPANHADO...”: representações

sociais da masculinidade em Florianópolis

Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel e aprovado pelo

curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu.

Área de concentração: Psicologia Social

Biguaçu, 23 de junho de 2009.

_____________________________________________

Prof Drº Leandro Oltramari

UNIVALI – CE de Biguaçu Orientador

____________________________________________

Drª :Maria Leite Psicanalista

Membro

_____________________________________________

Profº Drº: Marcelo Oliveira Universidade de São José

Membro

Biguaçu

2009

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais: Iracy e Aurivar (in memorian) que me apoiaram imensamente durante

suas jornadas entre nós e que não dispensaram esforçam em me ajudar de todas as

maneiras e que como muito amor me incentivaram a continuar nos momentos de

dificuldades, como um porto seguro (quanta saudade!!)

Aos meus irmãos: Jaime, Gracinha, Gui, Cristina, Marina, Denise e sobrinhos que

sempre se fizeram presentes e torceram por mim em todos os momentos e situações e

continuam me apoiando e cuidando de mim como meus pais adotivos, mesmo lá da

Bahia.

Ao meu grande amigo, Amauri Carboni Bitencourt, pelo grande carinho e presença

marcante, além da participação em grande parte da criação desse trabalho: corrigindo,

incentivando, dando idéias e apoio, acreditando na minha capacidade.

Ao meu orientador Leandro que aceitou meu convite de orientação antes do momento

de iniciar a pesquisa e, nas suas leituras e indicações mostrou-me pontos de

entendimento que muito ajudaram pata construção desse trabalho.

À Maria Leite, pela leitura atenciosa, prestatividade em aceitar meu convite para fazer

parte da banca e, contribuições atentas de uma mulher que se deleita nos livros.

Ao professor Marcelo Oliveira por também aceitar fazer parte da banca e por contribuir

com seus comentários e reflexões sobre as questões da masculinidade.

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Aos professores que contribuíram de alguma forma para construção de minhas reflexões

acerca das questões de gênero, masculinidade e da própria psicologia.

Aos meus amigos que muito me ajudaram e me incentivaram a continuar nos momentos

difíceis na construção desse trabalho e que com carinho e amor influenciaram-me

sobremaneira.

À minha terapeuta, Luciana Vanessa que muito contribuiu com incentivos e questões

pontuais sobre a vida e o propósito deste trabalho.

MEU MUITO OBRIGADO A TODOS VOCÊS!!

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Para louvar um homem, basta dizer que ele “é um homem”. Mas se o

esforço para alcançar este ideal é grande, o sofrimento por não conseguí- lo

é maior ainda

Bourdieu

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo, identificar as representações sociais da masculinidade para homens das classes média e popular da cidade de Florianópolis e, a

partir de seus discursos, realizar uma diferenciação sobre tais representações; além disto, buscou-se identificar a percepção de ambas classes a respeito do “novo homem”, o metrossexual, como descrito na literatura pesquisada. Trata-se assim, de uma pesquisa

qualitativa de cunho exploratório, envolvendo 22 homens (sendo 11 da classe média e 11 da popular). Como método de pesquisa, utilizou-se 6 fotos/gravuras retiradas da

internet, mediada por uma entrevista semi-aberta para identificar tais representações, categorizando posteriormente as respostas. Concluiu-se que, dentre as representações sociais pode-se verificar a associação da masculinidade com o esporte/profissão,

postura, corpo e expressão facial; o olhar foi detectado somente no discurso dos homens da classe média, apresentado aqui como ponto novo de identificação para a ciência

psicológica. Assim, aspectos como valores e comportamentos foram reconhecidos através dessa associação da masculinidade com tais categorias, presentes nas representações sociais de cada classe. Foi possível verificar certa relativização quanto à

questão da masculinidade na classe popular e uma rigidez nos padrões de masculinidade para a classe média – ponto contrário ao que foi assinalado na literatura sobre o assunto.

Com relação ao “novo homem”, este permaneceu nas respostas dos sujeitos entrevistados, entre o jogador de futebol (masculinidade hegemônica) e o emo (masculinidade subordinada) identificado sob uma nova nomenclatura: masculinidade

subalterna/relativa; sendo subalterna a hegemônica e relativizada frente à subordinada por conter aspectos femininos.

Palavras-chave: Masculinidades; Representações Sociais; Classes Sociais

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ABSTRACT

The present work has for objective to identify the social representations of the

Masculinity for men at the middle and popular classes in Forianópolis and from its

speeches to carry through a differentiation on such representations; moreover to identify

the perception of both classes regarding the “new man”, the Metrosexual, as described

in searched literature. It is treated of a qualitative and exploratory research involving 22

men (being 11 at middle class and 11 at popular one). As research method was used 6

photos removed of the Internet, mediated for a half-open interview to later identify to

such representations, categorizing the answers. One concluded amongst the social

representations can be verified the association of the Masculinity with the

sport/profession, position, body and face expression; the look was only detected in the

speech in the men at the middle class, it is presented here as new point of identification

for psychological science. Aspects as values and behaviors had been recognized through

this association of the Masculinity with such categories, in the social representations of

each class. It was possible to verify certain connection as to the question of the

Masculinity in the popular class and a rigidity in the standards of Masculinity for the

middle class - contrary point what it was designated in literature on the subject. With

regard to the “new man”, this remained in the answers of the interviewed citizens,

between football player (hegemonic Masculinity) and emo (subordinated Masculinity)

identified under a new nomenclature: relative subordinate Masculinity being

subordinate the hegemonic and relativized front to the subordinate for containing

feminine aspects.

Key-Words: Masculinity; Social representations; Social classes

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................9

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 14

2.1 GÊNERO E CLASSES SOCIAIS......................................................................................14

2.2 MASCULINIDADE............................................................................................................19

2.3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA MASCULINIDADE................................................27

3. METODOLOGIA................................................................................................................33

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...............................................38

4.1 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS DOS SUJEITOS DA CLASSE MÉDIA.......................38

4.1.1 ATIVIDADE/PROFISSÃO COMO SÍMBOLO DE MASCULINIDADE.....................38

4.1.2 O OLHAR E A EXPRESSÃO FACIAL..........................................................................42

4.1.3 CORPO E POSTURA......................................................................................................45

4.1.4 ROUPA E ADEREÇO COMO CARACTERÍSTICAS DA IDENTIFICAÇÃO DE

GÊNERO...................................................................................................................................46

4.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS DOS SUJEITOS DA CLASSE POPULAR................47

4.2.1 ATIVIDADE/PROFISSÃO COMO SÍMBOLO DE MASCULINIDADE.....................48

4.2.2 ROUPA E ADEREÇO COMO CARACTERÍSTICAS DA IDENTIFICAÇÃO DE

GÊNERO...................................................................................................................................50

4.2.3 CORPO E POSTURA......................................................................................................52

4.2.4 EXPRESSÃO FACIAL....................................................................................................53

5. O NOVO HOMEM........................................................................................................55

6. CONCLUSÃO.................................................................................................................60

REFERÊNCIAS.............................................................................................................63

APÊNDICES...................................................................................................................70

ANEXOS..........................................................................................................................75

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1. INTRODUÇÃO

A partir da década de 90, no Brasil, percebeu-se um crescente interesse

acadêmico sobre a temática da masculinidade (MACHADO, 2005). Alguns estudos a

analisam a partir de conceitos como identidade e gênero; enfocando as mudanças de

comportamentos nos homens, oriundas dos movimentos feminista e gay - que lutaram

pela igualdade de direitos e redefinição de papéis -, o surgimento da AIDS e as

pesquisas demográficas nos anos 90, que proporcionaram questionamentos acerca do

modelo hegemônico e/ou ideal de masculinidade (MEDRADO 1997; SILVA, 2000;

CECCARELLI, 1997; OLIVEIRA, 2004).

Por sua vez, os eventos supracitados permitiram que os pesquisadores

atentassem para outro modo de entender e explicar a masculinidade (através de uma

polissemia) podendo ser compreendida e experienciada de diversas formas, dependente

do contexto histórico-cultural (MACHADO, 2005). Mais do que isso, verificou-se que

surgia um “novo homem”, com características contrárias ao modelo tido como machão

e viril, causando uma crise de identidade masculina (SILVA, 2000).

Ainda assim, Oliveira (2004) destaca a influência da mídia no processo de

corroborar com o arquétipo do “novo homem” flexível quanto à conduta tradicional

masculina; Macedo (1997) acrescenta a existência de uma sensibilidade e feminilização

masculina, voltada para a vaidade e aparência, sobretudo influenciadas pelos meios de

comunicação de massa.

Sendo assim, novas realidades e necessidades surgiram por conta dessas

mudanças, impulsionando pesquisas e estudos que problematizaram temas relativos ao

homem atual, como: virilidade, violência, trabalho, desemprego, paternidade, sexo,

como forma de entender o universo e as questões que permeiam as relações sociais do

masculino. Destarte, Buffon (1992), Vicente e Souza (2006), Stellman (2007), Nolasco

(1988) e Ribeiro e Siqueira (2007), investigaram a dimensão da masculinidade,

tomando como base a realidade dos sujeitos das classes média e alta (com suas

particularidades referentes à informação, cultura e capital financeiro), trazendo à tona a

representação de masculinidade para estas classes e, mais do que isso, uma “crise da

masculinidade” em função da insatisfação frente ao padrão de masculinidade deles

esperado.

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Porém, Oliveira (2004) atenta para o fato da necessidade de uma relativização

frente a essas representações e questões de masculinidade da classe média e alta, para

não incorrer numa generalização; mesmo porque segundo o mesmo autor, é

imprescindível “avaliar o alcance e as diversas formas que este problema pode assumir

de acordo com a perspectiva específica de cada segmento social” (p. 201) e informa a

existência de outras pesquisas que favorecem outra realidade a ser averiguada, a dos

segmentos populares, que vêem “o exercício da masculinidade” como algo enriquecedor

e produtor de orgulho para grande parte dos homens de tal camada (dito de outra forma,

um ponto de vista diferente frente ao mesmo assunto).

Tais pontos de vistas remetem-nos ao estudo das representações sociais, pois

são estas definidas como um conjunto de conhecimentos (produzidos pelo senso

comum, na intenção de nortear as atividades sociais), valores e práticas compartilhadas

socialmente que auxiliam na construção de uma realidade e que, permite aos membros

de uma determinada comunidade, uma comunicação aberta que confere aos mesmos um

código que lhes possibilita qualificar e nomear suas vidas nos aspectos, social e

individual. (JODELET, 2002 apud ARRUDA, 2002; MOSCOVICI, 1978 apud

DUVEEN, 2003; MOSCOVICI, 1978 apud ALEXANDRE, 2000). Ou seja, sentidos e

conhecimentos que se situam fora do âmbito científico, mas que se reproduzem para

explicar a realidade de vida em que os sujeitos vivem e suas práticas sociais (visto

através das pesquisas apresentadas acima).

O interesse sobre a temática da masculinidade surgiu a partir de leituras sobre

sexualidade que me apontaram, dentre outros livros, Homens e Masculinidades - Outras

Palavras (M. ARRILHA, S. G. UNBEHAUM, B. MEDRADO – orgs., 1998). Esta obra

levanta questões e reflexões direcionadas ao estudo da masculinidade, apontando a

ausência e/ou poucas referências sobre o assunto – indicação apontada pelos autores;

considera o apoio de programas e grupos de pesquisas que financiam não só a entrada

dos homens nas pesquisas por essa questão, mas também a inclusão de tópicos que se

relacionem à saúde, reprodução e aspectos que possam envolver a esfera da vida

masculina de um modo geral.

A partir da leitura do livro citado, foi possível conhecer as representações

sociais da masculinidade e adentrar em reflexões sobre alguns temas, a saber:

sexualidade, aborto, AIDS, paternidade, mídia e outros. Tudo isso me fez pensar sobre

os aspectos históricos que envolviam a masculinidade e a construção social da mesma,

desenvolvendo um desejo de estudar e me aprofundar sobre o assunto. Mesmo porque,

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além dos artigos e livros relacionados ao objeto de estudo, outras ferramentas adicionais

como: jornais, revistas e internet, me proporcionaram ampliar a discussão sobre um

homem novo, bonito e sensível – o metrossexual – acrescido de questões referentes à

identidade masculina (www.veja.com.br, 08/2004 – VEJA ESPECIAL HOMEM).

Por conseguinte, acredito ser de vital importância apontar alguns eventos que

culminaram em mudanças percebidas na atualidade: a reinvidicação das mulheres pela

igualdade de direitos no âmbito social, o crescimento dos índices de divórcio e a

dissolução da família, a crescente ocupação das mulheres em cargos de trabalho (alguns

deles, outrora ocupados somente por homens), a preocupação das mulheres por

realizarem-se profissionalmente abstendo-se e/ou adiando a maternidade (o que

significa sua saída do espaço privado para o público, a independência econômica das

mesmas e, a liberação sexual feminina que modificaram em certa medida a dinâmica

social masculina, trazendo implicações no que se refere a alterações nos comportamento

sexual, profissional e papéis dos homens. Em outros termos, uma nova mulher, que se

construiu ao longo das décadas e que exige dos homens novas atitudes e/ou posição

quanto aos aspectos pessoal e familiar.

Podemos também acrescentar à lista outras questões de cunho sócio- cultural

que exercem considerável influência nas representações da masculinidade e o papel do

homem na sociedade, como por exemplo, o surgimento e crescente uso da internet

(impulsionando uma velocidade de informações disponíveis), maior visibilidade da

homossexualidade através das constantes lutas pela igualdade de direitos civis, a

banalização e comercialização do sexo e do corpo, mudanças de estilos de vida e

identidades que surgem e desaparecem com rapidez, denominada por Bauman (2007, p.

7) de “sociedade líquido-moderna”, na qual cria condições em que “seus membros

mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos

e rotinas, das formas de agir”, criam-se então identidades a partir de modelos líquidos a

serem seguidos.

Todos esses pontos favorecem a necessidade de compreender quais as

representações sociais da masculinidade e o lugar dessa masculinidade na sociedade

contemporânea, não somente para o segmento médio, mas de igual maneira, o popular,

em função das diferenças sócio-culturais. Compreende-se assim que, para que isso

aconteça é preciso avaliar o alcance do discurso proferido pela literatura vigente que

trata das questões da masculinidade apontando o surgimento de um “novo homem” e

“novas masculinidades”.

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De onde se segue que os objetivos desta pesquisa a diferenciou das demais

concernentes à questão da masculinidade, pois, buscou ampliar o estudo de tal assunto,

comparando as diferenças e semelhanças das representações sociais das masculinidades

para ambos os segmentos (médio e popular - neste caso, sem favorecer ou privilegiar

um deles); e ademais, verificou de igual maneira as diferenças e semelhanças dentro de

cada segmento pesquisado, através de uma pesquisa de campo na cidade de

Florianópolis – sendo esta a única realizada-, com o intuito de promover uma

compreensão das realidades de ambas as classes sociais, tornando-a significativa para a

ciência, haja vista, a psicologia se defrontar com essas realidades, como os homens

lidam com as mesmas e conseqüentemente com as representações do masculino dos

segmentos sociais apontados, seja em consultórios clínicos ou em instituições públicas e

particulares.

Não apenas isso, mas constituir-se-á como ponto relevante para a sociedade,

pois permitirá uma auto-reflexão sobre o significado de ser homem e as questões que

cercam o mundo masculino para os sujeitos entrevistados, incluindo o papel que

desempenham na construção e repasse das representações sociais da masculinidade que

se construíram ao longo de suas vidas e como estas influenciam seus comportamentos e

atitudes para com aqueles que lidam no dia a dia.

Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo geral compreender as

representações sociais de masculinidade para homens das classes média e popular da

cidade de Florianópolis; além de descrevê-las e compará- las de acordo com os discursos

trazidos pelos entrevistados.

Assim, para realização de tal trabalho foi realizada a metodologia qualitativa,

de cunho exploratório, através de uma pesquisa de campo envolvendo 22 homens (11 da

classe média e 11 da classe popular), utilizando 6 fotos/gravuras - retiradas da internet -,

através de uma entrevista semi-aberta.

No capítulo 1, foi realizada uma pesquisa bibliográfica contendo as definições

sobre o gênero, masculinidade e as representações sociais da masculinidade, com a

finalidade de nortear o trabalho em questão e auxiliar na categorização do discurso dos

indivíduos entrevistados. As referências utilizadas correspondem à literatura, sobre os

temas apresentados em livros e artigos de cunho científico.

No capítulo 2, o discurso dos entrevistados foi analisado, categorizado e

diferenciado à luz da literatura que trata do gênero, masculinidade e representações

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sociais, para assim identificar quais as representações da masculinidade presente em

suas falas, apontando questionamentos sobre as mesmas.

Além disso, outro aspecto analisado foi a percepção sobre o “novo homem”

para os sujeitos de ambas as classes e o significado desse novo modelo de

masculinidade, aqui identificado na foto/gravura 2 como o metrossexual e apontada

como masculinidade subalterna/relativa, associado às respostas dos entrevistados em

comparação com outras masculinidades presentes nas mesmas foto/gravuras.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 GÊNERO E CLASSES SOCIAS

Lemos no dicionário Aurélio (1999, p. 980) que gênero, numa perspectiva

antropológica, é “a forma culturalmente elaborada que a diferença cultural toma em

cada sociedade, e que se manifesta nos papéis e status atribuídos a cada sexo e

constitutivos da identidade sexual dos indivíduos”. Ainda assim, Scott (1995) dentre as

várias definições presentes em seu texto, conceitua o termo gênero como “uma

categoria social imposta sobre um corpo sexuado” (p. 7) sendo útil para fazer uma

distinção entre as práticas sexuais, dos papéis sexuais conferidos aos homens e às

mulheres; mais do que isso, acrescenta que sua definição de gênero se repousa em duas

proposições que estão em conexão, sendo elas: “(1) o gênero é um elemento

constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos e (2) o

gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder (p.14)”.

Butler (1988 apud SAFIOTTI, 1992, p.189) conceitua gênero como “uma

maneira contemporânea de organizar normas culturais passadas e futuras, um modo de a

pessoa situar-se em e através dessas normas, um estilo ativo de viver o corpo no

mundo” – conceito que adotaremos por tratar de gênero como uma constante busca e

regresso ao passado, para que este se constitua e se incorpore ao presente; ou seja, por

meio da organização e reorganização das “normas sociais” que já foram estabelecidas

para cada gênero, um estilo já estabelecido.

A respeito desse tema, Strey (1998, p.183) salienta que “gênero está

relacionado às diferenças sexuais, mas não necessariamente às diferenças fisiológicas

como as vemos em nossa sociedade”.

As afirmações acima sobre a conceituação do gênero estão entrelaçadas

historicamente com alguns movimentos, principalmente com o movimento feminista, as

lutas deste para que houvesse essa diferença entre o biológico e o socialmente

construído, por isso faz-se necessário compreender esse contexto histórico que

esboçaremos a seguir.

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O termo gênero está associado à palavra mulher, haja vista o movimento

feminista ter promovido “um exame crítico e tomada de posição diante das dissimetrias

sociais baseadas na diferenciação sexual” (M. ARILHA, S. G. UNBEHAUM, B.

MEDRADO, 1998, p.17); uma emancipação das mulheres na esfera social, política, etc.

Sendo assim, o feminismo, como movimento, buscou não somente interesses políticos

para transformar a sociedade, mas também interesses científicos, com a finalidade de

analisar criticamente a produção dos conhecimentos advindos dessas investigações, por

meio dos “estudos das mulheres”1, contra as abordagens que reforçavam as explicações

sobre a inferioridade da mulher. Estes estudos transformaram as ciências sociais, com a

inserção do conceito de gênero, como categoria de análise no meio acadêmico

(GÓMARIZ, 1992 apud MEDRADO, 1997).

Evidentemente, fez-se necessário criar novos estudos e conceitos que

pudessem respaldar o intento dessa luta. Podemos citar, dentro das ciências, a

antropologia, pioneira nesses estudos - relativizando os pressupostos

essencialistas/universalistas (NUERNBERG, 2004). Mais ainda, estudiosas do assunto

como, Margaret Mead, que pesquisou os povos indígenas da Nova Guiné, do qual

originou seu livro Sexo e Temperamento2 e Simone de Beauvoir, com o livro O Segundo

Sexo, destacaram a construção histórico-cultural dos homens e mulheres (LAGO, ?) e

influenciaram grandemente os teóricos sobre gênero. Strey (1992, p.183) nos lembra

que, como as diferenças entre o feminino e o masculino são construídas socialmente,

essas dependem de “como a sociedade vê a relação que transforma um macho em

homem e uma fêmea em uma mulher. Cada cultura tem imagens prevalecentes do que

os homens e as mulheres devem ser” e afirma que essa construção social se torna

manifesta quando se percebe que o ser homem e o ser mulher se diferenciam de cultura

para cultura.

É possível compreender essa relação de transformação e como as

imagens anteriormente citadas são interiorizadas e/ou socializadas pelos indivíduos,

atentando para o que Ross e Rap (1983 apud SAFIOTTI, 1992. p.187) privilegiam

sobre a mesma construção social do gênero, nessa interessante passagem:

1 Cursos oferecidos dentro das universidades para propagar os direitos de igualdade de gêneros, realizados

pelas militantes do movimento feminista. 2 O referido estudo desenvolvido teve muita importância, porque inseriu o entendimento sobre os papéis

sexuais que são distribuídos socialmente e não biologicamente.

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A base biológica da sexualidade é sempre culturalmente experienciada,

através de uma tradução. Os fatos biológicos nus da sexualidade não falam

por si próprios; eles devem ser expressos socialmente. Sente-se o sexo como

individual ou, pelo menos, privado, mas estes sentimentos sempre

incorporam papéis, definições, símbolos e significados dos mundos nos quais

eles são construídos

Sendo assim, há uma produção social que permite uma incorporação do que é aceito

para cada gênero em determinados locais e culturas.

Podemos também concatenar com as idéias de Scott (1990, p. 15) revelando-

nos que:

O gênero é construído através do parentesco, mas não exclusivamente; ele é

construído igualmente na economia e na organização política, que, pelo

menos em nossa sociedade, operam atualmente de maneira amplamente

independente do parentesco.

Não somente no parentesco centrado nas relações familiares, como base para a

organização social, mas a ampliação da visão do envolvimento de outras instituições no

processo de constituição do gênero – mesmo porque a autora trata o gênero como uma

categoria de análise histórica com a qual podemos fazer conexões tais como a política,

economia e o poder.

Entretanto, alguns autores aprofundam o tema correlacionado-o com “classes

sociais”. Com esse intuito, Santos (2007, p. 03) realiza um trabalho, na intenção de

relacionar classes sociais e gênero, fazendo uma conexão entre esses termos; para tanto,

informa-nos que os estudos sobre as classes sociais trazem à luz, o tema “desigualdades

econômicas”, e que estas “são produtos da condição de acesso desproporcional aos

recursos, materiais ou simbólicos, fruto das divisões sociais” e a compreensão da

análise destas desigualdades não é eficiente em termos de cientificidade. Ademais,

afirma que a as relações sociais, às quais o indivíduo cultiva numa determinada classe

social, causa impacto marcante em suas escolhas e /ou chances na vida. Assim, a autora

utiliza algumas definições de classes sociais como:

1) certo número de pessoas tem em comum um componente causal específico

em suas oportunidades de vida, e na medida em que 2) esse componente é

representado exclusivamente pelos interesses econômicos da posse de bens e

oportunidades de renda, e 3) é representado sob as condições de mercado de

produtos ou mercado de trabalho. (Weber, 1971 apud Santos, idem)

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Nesse sentido, cabe-nos compreender que classes sociais, de acordo com Weber,

relacionam-se à busca de poder, sem necessariamente buscar um enriquecimento

econômico e, mais do que isso, a situação de vida em determinada classe, denota o que

ele denomina de “chances de vida”, a saber, aquilo que está a sua disposição, segundo o

mercado de trabalho.

Entretanto, o entendimento de classes sociais para Marx (1867 apud SANTOS,

1991) surge a partir da análise de um determinado modo de produção, para que se

pudesse entender o sistema capitalista de produção e a lcançar o objetivo de conceituar

classes naquele momento histórico. Em suas palavras:

[...] os proprietários de simples força de trabalho, os proprietários de capital e

os proprietários de terras, cujas respectivas fontes de renda são o salário, o

lucro e a renda da terra, quer dizer, os operários assalariados, os capitalistas e

os proprietários de terras formam as três grandes classes da sociedade

moderna, baseada no regime capitalista de produção (p.15-16).

Cabe-nos nesse momento, explanar através dos textos que relacionam gênero e

classes sociais3 o funcionamento de tal interconexão. Assim, para Wright (2001 apud

SANTOS, 2007) e Engels (1954 apud SAFIOTTI, 1992) é possível fazer uma

correlação entre o feminismo e o marxismo, em detrimento de ambas as teorias serem

emancipatórias, na busca do entendimento dos modos de opressão - mulheres e

trabalhadores, respectivamente.

Não podemos deixar de acrescentar, sob a ótica de Safiotti (1992, p.188), que o

gênero se constrói por meio das relações sociais e que os indivíduos são constituídos

“permanentemente” por outros - o que leva a autora a afirmar que “cada ser humano

escolhe seu gênero, lançando mão dos termos sociais disponíveis, gênero este que pode

estar uma cômica ou trágica oposição àquele a ele ou a e la atribuído”. De onde se segue

que, numa relação social, existem poderes a serem pesados e oportunidades de vida

igualmente presentes.

Mais do que isso, Wright (2001 apud SANTOS, 2007, p. 09) mostra que a

conexão entre gênero e classes, pode ser claramente compreendida considerando que o

gênero dispõe pessoas dentro de classes, podendo ser exemplificado na diferença de

3 Algumas instituições e associações que realizam estudos demográficos – tomaremos como base a ABEP

– Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa – que utiliza o Critério de Classificação Econômica

Brasil -, mudaram a concepção de classes sociais, para uma definição voltada para classes econômicas.

Através dos cortes de critérios em classes, como: A1, A2, B1, B2, C, D e E.

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ocupações e distribuição de classes entre homens e mulheres. Ademais, segue nos

informando que na ciência social, existem dois elementos a serem acrescentados para o

esclarecimento dessa diferenciação:

a) processos de socialização de gênero modelam as aspirações e habilidades

ocupacionais de homens e mulheres e deste modo afetam os empregos que

eles gostariam de ter. b) várias formas de desigualdade, dominação e

discriminação afetam diretamente o acesso de homens e mulheres a vários

empregos, ou indiretamente afetam o acesso à aquisição de recursos

importantes

O que nos permite dizer que as relações de gênero, através da socialização de homens e

mulheres, classificam sobremaneira as relações de classes e também as classes sociais.

Alguns estudos sobre gênero (neste caso, masculinidade) e classes, tais como o

denominado A constituição da identidade masculina: alguns pontos para discussão,

realizado por Siqueira (1997), pretendeu verificar a constituição da identidade

masculina, com uma família de um bairro de classe subalterna urbana e sua família de

origem, por demonstrar uma mudança na divisão sexual do trabalho – a esposa era

responsável pela manutenção do grupo familiar e o marido, por sua vez, cuidava dos

trabalhos domésticos – numa perspectiva de gênero, através da qual se pode perceber a

relativização do ser “dono-de-casa”, numa comunidade que privilegiava o modelo

macho e viril do ser homem.

Ainda assim, existem outros estudos que abordam o gênero (masculinidade) e

classes (média), como Razão e sensibilidade: ambigüidades e transformações no

modelo hegemônico de masculinidade (VICENTE E SOUZA, 2006), pesquisando

homens e mulheres de classe média, com 3º grau completo (ensino superior) numa

determinada população. Apresenta como resultado desta pesquisa, uma perceptível

fragmentação da masculinidade hegemônica (tradicional), articulada às características

das novas masculinidades apresentadas na literatura (sensível e possibilitado a sentir

medo).

Sendo assim, podemos ver que os estudos abordados corroboram com a

afirmativa de Neuls (2003, p. 04), quando esclarece que o “gênero institui a identidade

do sujeito, assim como a raça, a etnia ou a classe” e neste caso, as classes sociais, ou

vice-versa.

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2.2 MASCULINIDADE

Na sociedade contemporânea a masculinidade como objeto e interesse de

estudo têm sua origem no movimento denominado, feminismo (década de 60-70), que

se configurou numa mobilização das mulheres, no sentido de uma transformação nos

papéis e comportamentos sexuais, numa maior ostentação e preocupação com os

problemas vivenciados por estas e pela reinvidicação de seus direitos civis; nos estudos

sobre gênero – de cunho ideológico e político – que deram suporte aos ideais já citados

e no movimento gay que igualmente contribuiu consideravelmente contra a dominação

hegemônica masculina (ARRILHA, MEDRADO & UNBEHAUM, 1998; BEIRAS &

LAGO, 2007 GIFFIN, 2004; SIQUEIRA, 2006).

Tais estudos tiveram como um de seus intentos, a revisão das teorias que

relacionavam gênero e sexualidade, através de concepções, biologicista e essencialista,

ao considerarem a subordinação feminina à masculina como natural, não podendo ser

evitada; entretanto, as questões históricas e culturais foram sendo considerado para o

entendimento do gênero, o que trouxe grandes mudanças para os estudos da

masculinidade (CECCHETO, 2004 apud SIQUEIRA, 2006).

Gomáriz (1992 apud MEDRADO,1997) aponta que desde a década de 70, já

haviam estudos que abordavam o tema da masculinidade, mas que os trabalhos voltados

para as mulheres ofuscavam esse processo inicial de pesquisa; porém nos anos 80, surge

um conjunto de estudos voltados para uma leitura sobre a construção social da

masculinidade, produzidos por homens; mais do que isso, com o avanço das pesquisas,

surgiram diversos temas e abordagens teórico-metodológicas, agrupados como, aliança

com o feminismo – os que reconhecem a base de sua investigação sobre masculinidade

aliada aos avanços das teorias feministas e os estudos autônomos – vinculados

diretamente aos conceitos de gênero.

Porém, Oliveira (2004) informa-nos que os primeiros trabalhos foram, o livro

The Gang, (TRASHER, 1927) que investigou a delinqüência juvenil e a pesquisa: Street

Corner Society (WHITE, 1943) averiguando os fatores que se relacionavam aos baixos

rendimentos dos garotos – mesmo sem tratar diretamente da masculinidade. Este

acrescenta ainda que nesta mesma época, surge nos Estados Unidos e Europa, o men’s

movements - grupos que se preocupavam em despertar nos homens a consciência das

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prescrições sociais impostas a esse grupo e as maléficas conseqüências sociais e

psicológicas destes tipos de práticas sociais.

Por sua vez, Cecchetto (2004) comunica-nos que na década de 80, surge o

Men‟s Studies – movimento oriundo dos países anglo-saxões – no qual compreendia

masculinidade e feminilidade, como fenômenos construídos socialmente, através de

uma perspectiva relacional do gênero. Este por sua vez, iniciou pesquisas sobre a

construção social da masculinidade, embasando suas pesquisas em disciplinas como

História, Geografia, Filosofia e outras.

Contudo no Brasil, o interesse pelo estudo da masculinidade surgiu através da

preocupação com a AIDS, homossexualidade e o papel dos homens na reprodução,

passando para outros temas como paternidade e educação sexual (GARCIA, 1998).

Sendo assim, após o levantamento histórico do estudo da masculinidade, cabe-

nos verificar as definições desta.

A masculinidade pode ser entendida como “uma configuração de prática em

torno da posição dos homens na estrutura das relações de gênero” (CONNELL, 1995

apud VICENTE & SOUZA, 2006; CONNELL, 1995 apud ZAGO & SEFFNER, 2008)

prática essa que se vivencia em parte, através do corpo, pelos movimentos, habilidades

físicas e posturas (idem); há uma adoção do termo masculinidade no plural, em função

da “(co) existência de mais de um tipo de masculinidade, e que um mesmo sujeito pode

pertencer simultaneamente a mais de uma modalidade de masculinidade” (ZAGO &

SEFFNER, 2008). Mesmo porque masculinidades são distintas formas de conceber a

hombridade construída com o tempo por diferentes culturas e em épocas distintas

(KIMMELL, 2005 apud VICENTE & SOUZA, 2006) cabendo perfeitamente a adição

de uma pluralidade ao conceito, através das variadas formas de conceber o termo, por

uma relativização de tempo e espaço em que foram construídas, prescritas e/ou

impostas.

Ademais, a masculinidade pode ser definida através de outras linhas teóricas

como o essencialismo (baseado no conceito universal da hereditariedade), o positivismo

(através de uma estrutura única, a - histórica), normativo (define uma identidade padrão

normativa, mesmo considerando as diferenças entre os homens e a semiótica (define-a

através de um sistema de símbolos e a define como o não feminino); entretanto a autora

descreve outra definição (CONNELL, 1995 apud FONSECA, 1999); de sorte que se

pode entender a masculinidade através de diversos olhares e perspectivas.

Para Oliveira (2004, p. 15) a masculinidade:

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[...] articu la e constitui um dos estratos da região do socius, esse espaço-

processual ou processo-espacializante dinâmico, intangível, mas efetivo, que

compreende todos os objetos da vida social (agentes, leis , instituições,

símbolos, valores, etc.), ao lado ou mesmo articulada a outros como

nacionalidade, religião, profissão, grupos de status, posição de inserção

social, reg ião de origem, etnia, g rupo de idade.

Que a conceitua não como algo concreto, mas processual na efetivação da constituição

do sujeito. De modo semelhante, Dantas (1997, p. 42) – igualmente utiliza o termo

“masculinidades”- também definindo feminilidades – que em seu estudo sobre a

masculinidade na mídia, descreve-a como:

[...] construções sociais que variam espacialmente (de uma cultura para

outra), temporalmente (numa mesma cultura, através do tempo),

longitudinalmente (no curso da vida de cada indivíduo) e na relação entre os

diferentes grupos de homens de acordo com sua classe, raça, grupo ético e

etário.

Revelando o processo de constituição da identidade masculina, através da cultura,

tempo e grupos ao qual pertencem os homens. Adotaremos como referência para o

presente trabalho, a definição apresentada por este autor, por conceituá- la através de

uma pluralidade de modelos construídos socialmente através de tempo e espaço,

interagindo com uma diversidade de grupos de homens.

Entretanto, cabe aqui ressaltarmos a diferenciação entre as palavras

masculinidade - como foi supracitado (adotado nessa pesquisa e trabalho) - e a palavra

homem. Assim, a masculinidade se refere a construções sociais, significações do que é

ser homem, ou mais ainda, como cita Almeida (1995) parafraseando Foucault, nos diz

que a masculinidade seria um fenômeno no nível do discurso e deste enquanto prática; e

define homem (no texto dito como homens) como uma categoria social, realizada pela

diferenciação biológica – dimorfismo sexual4 - com relação à mulher.

Ainda assim, não podemos deixar de citar as palavras de Almeida (idem apud

CARRIGAN, CONNELL e LEE, 1985) quanto à constituição interna da masculinidade,

pois segundo ele há assimetrias (heterossexual e homossexual), hierarquias (de mais a

menos masculino) na qual se percebe a presença de um modelo hegemônico e de

variáveis, ditas como subordinadas. Que corresponde a definição que adotamos sobre a

masculinidade, quanto a cultura e grupos.

4 Fenômeno no qual há uma d iferenciação da fêmea e do macho de uma mesma espécie.

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Cumpre compreender a partir daí, como e a partir de quais mecanismos se

constroem essas masculinidades. Partindo disso, Oliveira (2004) faz um estudo sobre a

construção social da masculinidade5, utilizando as pesquisas de autores como George

Mossse e Nobert Elias, para esboçar o processo de construção da mesma, lado a lado

com as instituições que influenciaram de forma direta e/ou indireta para a modelação do

que ele chama de “ideal de masculinidade”.

Mais do que isso, o autor supracitado, atenta para o fato de que esse ideal de

masculinidade, estudado a partir da época medieval, estava associado a comportamentos

de cunho moral, como: lealdade, probidade, correção, coragem e perseverança, que se

transformaram em comportamentos despojados de um caráter de violência ostensiva.

Vale ressaltar que a Formação dos Estados Modernos e a instituição de exércitos

influenciaram diretamente nesse processo de construção, pois a bravura e destemor

foram substituídos pela devoção e heroísmo frente à dor, morte e ao sacrifício na luta e

defesa da nação a que os homens pertenciam, pulverizando tais comportamentos como

típicos da masculinidade, na qual poderia haver uma “imbricação entre militarização,

nacionalismo e masculinidade” (OLIVEIRA, p. 27, 2004), meio pelo qual o Estado

alcançou todos os segmentos e classes sociais6.

Ademais, elucida que na passagem do século XIX para o XX, a honra possuía

um valor exacerbado – acima das questões morais – e que o início do século XX foi

assinalado como expansionista para a colonização européia, em busca de novos

mercados na África e Ásia. Nesse período, grandes nações se valeram de movimentos

(como o Nazismo, Fascismo e Socialismo7) para disseminar nos jovens características

tidas como autenticamente masculinas, tais como: obediência, disciplina, orgulho, corpo

viril - alcançado por meio de esportes e exercícios físicos -, um espírito belicoso e

patriota.

Outras instituições são apontadas por Oliveira (idem), como constituintes na

formação do ideal de masculinidade. Para isso, cita que a influência religiosa serviu

5 O referido autor traz-nos a informação de que o termo, masculinidade, começou a ser ut ilizado em

meados do século XVIII através dos estudos científicos para uma diferenciação dos sexos. 6 Principalmente no final do século XIX na qual a guerra era considerada uma verdadeira escola e arena

para alcançar a maturidade, modelar o corpo e o espírito de um verdadeiro varão. 7 O Nazismo apregoava nos jovens alemães um apelo ao sacrifício, lealdade, discip lina, obediência e

coragem, como típ icos da masculinidade. O Fascis mo pregava coragem para uma vida menos

sentimental, sóbria, intensos exercícios físicos, que possibilitariam um corpo rígido – símbolo de

virilidade – exacerbando, força e vigor como sinônimos de masculinidade. O Socialismo defendia um

guerreiro que deveria ser herói e obediente aos seus superiores, entretanto, as ques tões morais eram

amplamente defendidas e a permissividade não era tolerada. (idem,).

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como base para sustentar e/ou propagar atitudes de controle/moderação sobre as paixões

e a sexualidade (essenciais para a figura paterna que convinha estar ao lado da família),

que por sua vez separou as funções masculinas (subjugadoras), das femininas (que eram

submissas); ressalta também o lugar da ciência nesse processo, pois suas descobertas

favoreciam e legitimava a superioridade androcêntrica e apontava como desviante “os

insanos, negros, judeus, homo-orientados e todos os que não se encaixavam de maneira

adequada no ideal burguês de masculinidade” (ibidem, p. 56), reforçadas pela lei que

facilitava a hierarquia de poder masculino frente aos homo-orientados, às mulheres e as

crianças, através da instituição de leis, como por exemplo, o código napoleônico 8.

Dentro dessa perspectiva Bourdieu (2005), expõe essa construção da

masculinidade a partir de seus estudos sobre a dominação masculina através de uma

socioanálise do olhar masculino dos berberes da Cabília9. Para explicitar essa relação de

dominação, o autor utiliza-se do termo habitus que segundo Setton (2002, p.4), define-o

como:

[...] um sistema de esquemas individuais, socialmente constituído de

disposições estruturadas (no social) e estruturantes (nas mentes), adquirido

nas e pelas experiências práticas (em condições sociais específicas de

existência), constantemente orientado para funções e ações do agir cotidiano .

E mais, que ele (o habitus) é uma “subjetividade socializada” (BOURDIEU, 1992 apud

SETTON, idem). A respeito disso, cabe ressaltar que estes esquemas de percepção,

tomam como referência a divisão entre os sexos, por meio da diferenciação biológica

(anatomia) dos corpos, masculinos e femininos (bem demarcados do que é masculino e

do que não o é) que justifica uma diferenciação social dos gêneros, através da divisão do

trabalho e atividades.

Bourdieu (2005) acrescenta ainda como parte da incorporação dessa

dominação (que tomamos como construção social da masculinidade), os ritos de

instituição da masculinidade, como por exemplo: a circuncisão e os de separação - este

último tem por finalidade tornar o menino independente de sua mãe, preparando-o para

enfrentar o mundo externo. Dessa forma tais ritos realizam simbolicamente – de um

8 O artigo 213, do Código Napoleônico prescreve que o homem deve à sua mulher proteção e que esta lhe

deve respeito e obediência (ibidem,) 9 Reg ião montanhosa do norte da Argélia que engloba várias províncias: todo o território de Tizi Ouzou e

Bugia, a maior parte de Bouira (Tubiret) e Bordj Bou Arrerid j, e partes das províncias de M'Sila

(Tamsilt ), Jijel, Boumerdes e Setif; fo i escolhida pelo autor por representar uma tradição compartilhada

por toda área cultural européia, haja v ista ser denominada por Bourd ieu como uma constituição

paradigmát ica da tradição mediterrânea” (p. 14, idem)

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modo eficaz – a distinção sexual e as práticas que devem orientar seu sexo (habitus

masculino), voltados para a virilidade – apreendida como capacidades social, sexual e

reprodutiva, possibilitando o exercício da violência - por meio de jogos, esportes e caça

- organizados pelo grupo ao qual fazem parte, voltados para a busca de uma identidade

sexual própria. Com relação a esses ritos, Oliveira (ibidem) marca que o efeito a ser

considerado é a modificação na própria representação de seus agentes (meninos) e que

estes irão orientá- los “a tomar atitudes que ele passa a considerar válidas para o status

que sua imagem deve projetar, dando- lhe um lugar social válido” (p. 258). Dessa

maneira, trará profundas modificações sobre suas próprias atitudes e comportamentos,

por meio dos ritos de ordem simbólica, demarcando a diferenciação entre os sexos.

A questão da construção da masculinidade é descrita por Nolasco (1993), sob o

ponto de vista “individual”, ou a partir das vivências da criança – neste caso, o menino –

a que denomina de socialização do menino; o processo se inicia no nascimento, que

provoca nos pais uma expectativa em razão do sexo do bebê e, a atitude de ação que se

espera do bebê – se for menino. Há nessa construção e socialização, uma instigação no

menino para falar e valorizar o sexo (reproduzindo desta maneira um papel que a ele

está determinado) desvalorizando as questões relativas ao que sentem10, estimulados a

crê que são melhores e superiores às mulheres por serem homens. Esse estímulo,

voltado a seguir e/ou reproduzir o padrão de homem – através do representado para o

que e como deve ser um homem - é constantemente vigiado, principalmente no que se

refere à incorporação e socialização no menino ao “modelo de comportamento do

macho”, através de perguntas e observações, tais como “„isto é brinquedo de menina‟,

„menino não chora‟ [...] „você é um medroso, parece mulher‟” (idem, p.42), vindas da

família, escola e das relações sociais, respectivamente, que produzirão neste menino, a

crença de que existe um padrão de comportamento masculino: viril, esperto, forte e

impermeável diante das inseguranças e angústias.

Ademais, Nolasco (ibidem) traz a questão de que essa construção e reprodução

da masculinidade (trazida através da perspectiva individual no menino) trazem

conseqüências psicológicas para o futuro homem no âmbito emocional e também no

psicológico – pois este não é ensinado no transcorrer de sua vida a falar de seus

sentimentos – destituindo-o da afetividade, como função psicológica na constituição de

sua identidade e/ou personalidade - mas sim negar tudo que possa fragilizá-lo e/ou

10

Nolasco cita que a relação entre o mundo e o coração masculino e/ou emoções é rompida in icialmente

pela família e depois pela escola.

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aproximá- lo, ou seja, “um menino é educado nas precariedades de um cárcere, para

quando crescer se tornar seu próprio carcereiro” (ibidem, p.47). Com isso, cabe

considerar que os homens se tornam exacerbadamente vigilantes, para que não se

macule ou ponha à prova sua masculinidade.

O ponto a ser agora analisado, após discutir a construção da masculinidade e,

mais ainda, das masculinidades é a descrição dessas masculinidades e os novos modelos

que se apresentam na contemporaneidade. Para isso, não podemos deixar de fazer

referência ao termo “masculinidade hegemônica”, definido por Robert Connell,

apontado na literatura pelos autores que estudam a masculinidade, como um ideal

cultural de masculinidade que se sobrepõe aos demais modelos (mesmo porque o

referido autor defende a idéia de uma pluralidade do termo) numa relação de

subordinação, aproximação ou de marginalização frente à dita hegemônica e que os

comportamentos considerados masculinos, variam conforme tempo e espaço (FILHO,

ZAGO & SEFFNER; FIALHO, 2006; VICENTE & SOUZA, 2006).

Mais do que isso, Saldanha (2008, p.4) lembra-nos que “a definição de

masculinidade hegemônica implica em representar-se como um homem ativo e

dominante, que se esforça para manter-se longe de atributos antagônicos, passivo e

submisso”.

Cumpre compreender que a existência de masculinidades e/ou comportamentos

ditos como masculinos, numa variação no tempo e espaço permite trazer-nos à tona o

conceito de um “novo modelo de homem” ou uma “nova masculinidade”, feminilizado

(não relacionado à homossexualidade), sensível – sem que com isso, sua virilidade seja

comprometida – termos que dentro da literatura estudada se voltam para uma “crise da

masculinidade”, frente a um peso de uma normatização de conduta prescritiva

masculina (BUFFON, 1992; NOLASCO, 1995, 1997; MACEDO, 1997).

Tenório & Pinto (2005) trazem-nos como um novo modelo, o homem

metrossexual. Esclarecem-nos que esta expressão surgiu a partir de uma associação com

as palavras, heterossexual e metropolitano e, foi utilizado pela primeira vez pelo

colunista e escritor, Mack Simpson em nov. de1994, no jornal inglês, The Independent ,

para caracterizar o homem do século XXI. Estas o definem como um fenômeno, uma

“nova corrente” do comportamento masculino e um novo gênero masculino,

caracterizando-o através das atividades que realiza como: gosta de cozinhar, ir ao salão,

preocupar-se com a estética, além de ser bem sucedido e sensível (símbolos dessa

corrente); ilustram também exemplos atuais como David Beckham (primeiro homem a

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ser identificado como tal) e brasileiros como o publicitário, Roberto Justus e o jogador,

Alex Alves, do time de futebol do Atlético Mineiro. É importante frisarmos que as

autoras reconhecem a influência do comércio 11 na disseminação e definição desses

comportamentos e vestuários, através dos meios de comunicação de massa 12.

Para ilustrarmos tal conceito, temos como exemplo a Revista Shopping

Centers, que na edição de abril de 2006, numa matéria que recebeu o nome “A hora e a

vez da VAIDADE MASCULINA” mostra através de pesquisas que a preocupação

masculina no Brasil e em outros países, volta-se para a estética, uma vez que a

incorporação desse “novo modelo” é justificada pelo alto grau de competitividade no

mercado de trabalho e pelas exigências femininas para com eles.

Na esteira desse pensamento, segue Buffon (1992) em sua pesquisa na sua

dissertação, intitulada “Encontrando o homem sensível? Reconstrução da imagem

masculina em um grupo de camadas médias intelectualizadas” realizada por meio de

entrevistas com homens que descreviam grande parte dos comportamentos descritos na

definição do homem metrossexual (como por exemplo, a apreciação e o prazer em fazer

boas comidas).

Podemos também citar pesquisas que surgiram sobre o “novo homem”, como

por exemplo, a apresentada por Caldas e Queiroz (1995, p.149), denominada de “O

Novo Homem – Comportamento, Moda e Mercado”. Assim, o título já nos revela as

mudanças na própria concepção e/ou visão do homem no tocante à moda e

preocupações com o vestuário. Tais autores esclarecem que as mudanças na moda

(roupas e estilos masculinos) refletem “transformações mais decisivas que estariam

ocorrendo no comportamento e nos papéis masculinos, fruto, por sua vez, da crise de

identidade que o homem contemporâneo atravessa”. Tal estudo traz-nos igualmente as

inquietações e transformações ocorridas na moda masculina (60 à década de 90), através

da revolução denominada Pavão – ostentação masculina pela beleza-, passando pela

moda unissex até a criação de uma nova identidade masculina exposta pela mídia como

forma de reproduzi- la; e como conseqüência de todo esse processo, a entrada dos

homens no mercado de consumo e beleza (academias de ginásticas, cirurgias plásticas,

linhas de cosméticos e um aumento de compra por parte desses em aparelhos

11

Disponível em: < ww . abrasce . com . BR / informativos / revistas 2006 / rev ABR / abrasce _ abr

2006/mercadoAbr.pdf.>. Acesso em: 15/09/2008. 12

Pode-se verificar essa afirmativa, at ravés da TV, rád io e internet por meio das propagandas, programas,

e revistas voltadas para o público masculino – VIP, Men‟s Health, Júnior, etc – e curso, como por

exemplo, Horando o Masculino, divulgado pelo Jornal Diário Catarinense.

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eletrodomésticos) que se constituem como fatores importantes para ressaltar o

surgimento desse “novo homem”.

Tudo isso revela-nos a existência de “novas formas” de conceber a

masculinidade, ou seja, “novas masculinidades”, que se estabeleceram com o tempo

(abarcando sensibilidade e a preocupados com estética/beleza) frente à estereotipia de

masculinidade (durão e insensível, sem preocupações com a beleza). Afirmação

confirmada pelas palavras de Goldenberg (2000, p. 37) quando sugere que com relações

aos novos papéis masculinos “percebe-se facilmente uma oscilação entre um modelo

tradicional de gênero e o desejo de inventar e questionar os comportamentos e papéis

sexuais existentes”.

1.3 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA MASCULINIDADE

A origem do conceito de representações sociais tem sua base na Sociologia e

Antropologia, respectivamente através de Durkheim e Lévi-Bruhl. No início, a

denominada representações coletivas (por Durkheim), serviu como pressuposto básico

para a criação da teoria, além de outras, como as da linguagem - Saussure -, das

representações infantis – Piaget - e teoria do desenvolvimento cultural – Vigotsky -

(MOSCOVICI, 1994 apud OLIVEIRA E WERBA, 1998).

Alexandre (2000) informa que a teoria das representações coletivas ficou por

um longo tempo esquecida e foi retomada por Serge Moscovici, psicólogo romeno, para

desenvolver a teoria das representações sociais; e que na década de 50, o psicólogo

utilizou a psicanálise para verificar como esta era vista fora do ambiente acadêmico,

realizando um trabalho de campo com uma parcela da população de Paris, que usava o

metrô como meio transporte; a obra que também foi publicada no Brasil em 1978,

recebe o título de A representação social da psicanálise, na qual o autor mostra que,

sendo a psicanálise, uma teoria complexa, transformava-se e modificava “a visão que as

pessoas têm de si e do mundo que vivem”(p.162), moldando-se à realidade do cotidiano

de tais pessoas até chegar numa “representação social autônoma” - diferente da teoria

original -, dito de outra forma, foi possível compreender como o senso comum

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interpretava e fazia uma releitura do fenômeno por meio de explicações mais simples de

serem compreendidas.

Com isso, Moscovici (1981 apud OLIVEIRA E WERBA, 1998, p. 106) define

as representações sociais como:

[...] um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida

cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em

nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais;

podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum.

Como uma forma de a sociedade organizar, de maneira prática, os conhecimentos da

vida cotidiana através de outros conhecimentos, como por exemplo, o científico, através

de imagens que o representem.

Entretanto, Arruda (no prelo apud ARRUDA 2002, p. 138) propõe sua própria

definição a respeito do assunto em questão:

As representações sociais constituem uma espécie de fotossíntese cognitiva:

metabolizam a luz que o mundo joga sobre nós sob a forma de novidades que

nos iluminam (ou ofuscam) transformando-a em energia. Esta se incorpora ao

nosso pensar/perceber o mundo, e a devolvemos a ele como entendimento

mas também juízos, definições e classificações. Como na planta, esta energia

nos colore, nos singulariza diante dos demais. Como na planta, ela significa

intensas trocas e mecanismos complexos que, constituindo eles mesmos um

ciclo, contribuem para o ciclo da renovação da vida. [...] minha convicção [é]

que nesta química reside nossas chances de transformar ou, quando menos,

de entender as dificuldades para a transformação do pensamento social.

Desse modo a autora ilustra, com a analogia supracitada, os processos de como as

pessoas incorporam conteúdos novos à sua realidade social, por meio de classificações e

juízos, surgindo às representações sociais

Por sua vez, Jodelet (2001, p. 22) conceitua as representações sociais como

“uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo

prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto

social” e que pode ser denominada de forma de conhecimento (do senso comum) e de

ingênuo - definição que utilizaremos na pesquisa, por melhor definir um conjunto de

conhecimentos partilhados por uma determinada população e/ou classe social e como

estas partilham desse conhecimento comum -; e mais do que definir, a autora, comenta

que estas são importantes porque nos guiam em nosso modo de interpretar os aspectos

de nossa realidade e a partir disso, adotar as decisões e posições que nos auxiliem a nos

ajustar de forma defensiva, na resolução de problemas que porventura possam surgir.

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Na esteira desse pensamento, Jovchelovitc (1995 apud CORRÊA et al, 2007)

acrescenta que o objetivo das representações sociais centra-se no reconhecimento total

do social, sem abandonar o indivíduo, visto ser essa totalidade muito além do que um

aglomerado de indivíduos; e compreender dessa forma como essas representações

sociais partem do todo para o individual, através das mediações sociais.

Moscovici (2003, p. 54) por sua vez, esclarece que a finalidade das

representações sociais “é tornar familiar algo não-familiar, ou a própria não-

familiaridade” e que Oliveira e Werba (1998, p. 108) explicam ser este movimento

ocorrido internamente, com o intuito de causar “bem-estar”, negando tudo aquilo que

nos traz desconforto; acrescentando que o “não- familiar” é criado nos Universos

Reificados, onde “circulam as ciências, a objetividade, ou as teorizações abstratas”, que

por sua vez é repassado13 para os Universos Consensuais, que se constituem como as

teorias do senso comum (ambos universos de pensamentos).

Ademais, Moscovici (2003) explica que o processo supracitado é possível por

meio de dois mecanismos, os quais geram as representações sociais; sendo que:

O primeiro mecanismo tenta ancorar idéias estranhas, reduzi-las a categorias

e a imagens comuns, colocá-las em um contexto familiar [...] o objetivo do

segundo mecanis mo é objetivá -los, isto é, transformar algo abstrato em algo

quase concreto, transferir o que está em mente em algo que exista no mundo

físico (g rifo do autor).

Mais do que informar os dois mecanismos, Moscovici (idem), esclarece que

quanto ao modo de funcionamento de ambos os mecanismos, podemos verificar que

referente à ancoragem, acontece uma classificação, uma rotulação para que assim

possamos tornar aquilo não explicável ou desconhecido (seja um objeto ou uma pessoa)

mais familiarizado em nosso domínio de conhecimento e, a partir daí possamos

controlá- lo; Já na objetivação, ocorre uma materialização da palavra, substituindo-a por

uma imagem que possa melhor conceituá-la, tornando fácil a visualização de tal

conceito ou palavra, encontrando assim “equivalentes não-verbais” para as palavras.

Com isso, podemos compreender a afirmação de Jodelet (2002) ao dizer-nos

que as representações sociais, devem ser estudadas numa correlação com os aspectos

afetivos, mentais e sociais; mais que isso, numa conexão entre a linguagem, cognição e

comunicação, pois tais elementos encontram-se presentes na constituição das

13

Esse exercício é realizado por diferentes divulgadores tais como: professores, jornalistas, comentaristas

políticos, etc.

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representações sociais (como exposto acima), sendo esta última de fundamental

importância para a difusão da linguagem, que é por si só detentora das representações,

atuando de forma influente nos processos de interação social, polêmica ou consensual

entre os grupos, o que contribui para a manutenção prática e afetiva dos mesmos,

criando “versões de realidade, comuns e partilhadas” (idem, p.32).

Ao compreender a forma como as representações sociais são construídas e a

partir de que mecanismos se constituem, interessa-nos ilustrar as representações sociais

da masculinidade, a partir de algumas visões e significados da mesma, que vem ao

encontro do que Lemos (2007) propõe ao pronunciar que as representações sociais da

masculinidade estão imbricadas com o tempo, cultura e local, por ser a masculinidade

construída no âmbito social e também no cultural. Esta em seu ensaio A representação

social da masculinidade na religiosidade contemporânea, informa-nos que a

masculinidade é determinada por algumas instituições como, religião e sociedade.

Tomando como base uma das funções das representações apontadas por Abric

(1994 apud SÁ, 1996) denominada de orientação – por receitar comportamentos,

determinar aquilo que é lícito ou não, num determinado contexto social - vale ressaltar

que Lemos (idem) elucida que a representação social, relativa ao gênero, remete-nos a

pensar nos papéis que os atores sociais precisam desempenhar no meio em que vivem,

mesmo porque há uma expectativa depositada sobre esses atores para corresponderem

ao padrão (funções) deles esperado – cerne do sucesso ou fracasso das representações. E

segue, esclarecendo que as representações sociais da masculinidade se constituem a

partir do conflito e oposição entre o masculino e o feminino. Ela também observa que

existem escolhas socialmente definidas no que diz respeito ao gênero (um ou outro) em

função de um condicionamento que admitimos desde criança ao escolhermos sempre

um “lado da moeda”, pois:

A criança nasce em um mundo que é estruturado por representações sociais

de gênero, e através dessas representações ela é construída, isso não significa

que ela nasce com competência para ser um ator social independente no

mundo. (...) Representações de gênero fornecem uma referência importante

através da qual a criança adquire uma identidade que lhe permite situar-se no

mundo social (DUVEEN, 1999 apud LEMOS, p.03).

Mais do que tratar dos atores sociais e as prescrições no que se refere à

masculinidade, Lemos acrescenta que a representação social da masculinidade está

“condicionada” ao modelo hegemônico de masculinidade (explicado anteriormente),

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referindo-se ao homem que é macho e, à valorização e prescrição do homem ser “o

grande responsável financeiro e moral da instituição familiar” (idem) defendida

amplamente dentro do campo religioso14, além de aspectos e/ou características que estão

intrinsecamente ligadas ao masculino, tais como: autoridade, coragem, força e

“capacidade física, moral e econômica de „assumir‟ todas as responsabilidades

destinadas ao seu gênero” (ibidem), conferidos como ganhos simbólicos ao homem ao

assumir seu papel e corresponder às expectativas do masculino e o não cumprimento de

tais expectativas o destitui dos atributos da masculinidade.

Entrementes, Nolasco (2001, p.66) dialogando sobre a representação social da

masculinidade, acrescenta outra questão: a violência, entendida como uma possível

resposta ao comportamento esperado de um homem (enquanto ator social) ao

representar por meio de atitudes e práticas violentas, uma forma de ser reconhecido

como tal, quando possivelmente possa se envolver em situações nas quais sua

masculinidade seja colocada à prova, ou banalizada; mostra ainda que o homem é

autorizado pela sociedade ao usar de força física para comprovar sua virilidade (símbolo

de força) como pertencente ao seu papel social;

Ademais, o autor discorre sobre a representação social da masculinidade nas

sociedades contemporâneas, informando que estas sustentam a subjetividade masculina

no conceito de virilidade, bem como na sua conexão com o “mundo do trabalho”, pois a

condição de desempregabilidade está associada a impotência, bem como a perda de

posses e, mesmo a sua honra pode ser comparada a uma afronta à sua condição

masculina, pois segundo ele, encontra-se na raiz da palavra masculinidade,

qualificações como “ „virilidade‟, „enérgico‟, „forte‟ e „ativo‟” (idem, p.64) visto ser

essa representação correlacionada a excelência em comportamentos, decisões e atitudes,

que deve ser partilhada por todos os membros de uma dada comunidade.

Podemos ainda considerar, Gomes, Nascimento & Rebello (2008) no artigo, As

representações sociais da masculinidade e o ser homem, que descrevem duas pesquisas

realizadas na cidade do Rio de Janeiro (com homens de classe popular e homens com

mais de 40 anos) enunciando a existência de que as representações sociais do ser

homem repousam na possibilidade em não ser gay e aquele que procura por mulher

(homens com mais de 40 anos) - para melhor ilustrarem essa diferença, os entrevistados

utilizam as expressões: “bruto”, “forte”, “agressivo”, “gosta de pular a cerca”, “tem

14

A autora cita que a própria idéia de Deus remete aos atributos físicos e subjetivos do ser homem, em

força, barba, autoridade, etc.

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iniciativa sexual”, etc. – e o ser homem é igualmente reconhecido pela classe popular

como a heterossexualidade;

Os autores expõem também que a dominação e o poder servem como pontos

importantes para o que significa ser homem e fortalecem essa afirmação citando que

“mais poder significa mais masculinidade, e sua ausência, feminilização, na medida em

que a masculinidade é uma metáfora para o poder e vice-versa” (PINHO, 2005 apud

GOMES, NASCIMENTO & REBELLO, 2008, p.03) e concordar com Lemos, sobre a

associação da masculinidade com a função de provedor15.

Assim, as representações sociais sobre a masculinidade encontradas na

literatura mostram claramente que o modelo hegemônico de masculinidade ainda

permeia o significado da masculinidade (o ser homem) nas pesquisas e artigos

desenvolvidos com esta finalidade.

15

Ponto surgido nos discursos dos jovens entrevistados da classe popular.

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3 METODOLOGIA

3.1 METODOLOGIA

A metodologia norteadora deste trabalho foi a qualitativa. Esta abordagem, de

acordo com o autor Maanen (1979 apud Richardson, 1999), admite diferentes

significados no campo das ciências sociais; se refere a um conjunto de diferentes

técnicas interpretativas que têm como base descrever e decodificar os componentes de

um sistema complexo de significados do mundo social, tentando assim reduzir a

distância entre o indicador e o indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação.

Diante disto, a pesquisa qualitativa do tipo exploratória se constituiu como a

mais adequada para a pesquisa proposta, pois segundo Gil (1996, p.45) esta

proporcionou “uma maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais

explícito ou a construir hipóteses” mesmo porque o objetivo do trabalho em questão foi

compreender as representações sociais da masculinidade para homens de classe média e

popular da cidade de Florianópolis, além de identificar os significados da masculinidade

e assim, poder relacionar os dados bibliográficos (sobre masculinidade, gênero e

representações sociais), com as realidades sociais apresentadas pelos sujeitos de ambas

as classes sociais.

Dessa forma, identificamos as semelhanças e diferenças proferidas em seus

discursos e entendemos os modos de representação social da masculinidade com suas

particularidades.

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA

Foram entrevistados 22 (vinte e dois) homens, sendo 11 (onze) da classe

média e 11 (onze) da classe popular, conforme os critérios adotados por Quadros (2007)

dentre os quais apontam como fatores econômicos – nesse caso de acordo com a renda -

a massa trabalhadora, que obtêm rendimento de R$ 250,00 à R$ 500,00 e a classe

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média, apresenta rendimentos de R$ 1.250,00 à R$ 2.500,00; contudo incluimos a

variável escolaridade como outro aspecto relevante: classe popular – nível fundamental

completo e classe média – superior completo, além da variável idade, entre 25 e 35

anos.

Ainda assim, por representar uma parte da população, ou uma amostra,

utilizou-se o tipo intencional, “onde de acordo com determinado critério, é escolhido

intencionalmente um grupo de elementos que irão compor a amostra” (MINAYO, 2007.

p. 56). Com isso, o pesquisador se dirige intencionalmente a grupos de elementos dos

quais deseja saber a opinião. A técnica usada foi a “bola de neve”, pois SANTOS

(1999) esclarece que por meio desta, um dos entrevistados indicou outros sujeitos que

poderiam contribuir para a pesquisa.

3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se a entrevista aberta (ANEXO

C) mediada por imagens/fotos (ANEXO A), pois Loizos (2002, p.137-138) enfoca o uso

da aplicação do uso de imagens na pesquisa qualitativa, a saber:

[...] oferece um registro restrito, mas poderoso das ações

temporais e dos acontecimentos reais – concretos, materiais [...]

ela pode empregar, como dados primários, informação visual

que não necessita ser nem em forma de palavras escritas, nem

em forma de números [...] o mundo em que vivemos é

crescentemente influenciado pelos meios de comunicação, cujos

resultados, muitas vezes, dependem de elementos visuais.

Conseqüentemente, o “visual” e a “mídia” desempenham papéis

importantes na vida social, política e econômica. Eles se

tornaram “fatos sociais” no sentido de Durkheim. Eles não

podem ser ignorados.

As imagens foram aqui denominadas de “fotos/gravuras” (CARDOSO, 1994)

contendo 6 (seis) de homens (ANEXO), retiradas da internet e/ou por o utros meios de

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comunicação de massa, como revistas e jornais – escolhidas por se aproximarem do

cotidiano dos possíveis sujeitos a serem entrevistadas; padronizadas (cintura até a

cabeça e em tons de cinza) posteriormente ampliadas (para uma melhor visualização) e

ainda numeradas (um a seis).

Com relação à escolha das gravuras couberam os seguintes critérios:

FOTO 1: Jogador de Futebol – escolhido por representar um dos

esportes símbolo da masculinidade/virilidade;

FOTO 2: Emo – representa um grupo com características (cabelo,

roupas, etc) diferentes da média da população e por conter traços

femininos;

FOTO 3: Modelo masculino – profissão que valoriza o corpo e a

beleza;

FOTO 4: Homem sem camisa e com corpo definido – escolhido

pelo porte físico e pela preocupação com a modelação do corpo;

FOTO 5: Bailarino: profissão reconhecida pelos homens como

sendo de escolha das mulheres e homossexuais;

FOTO 6: Homem negro: escolhido por não realçar nenhum

estereótipo da população.

3.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

Inicialmente os homens entrevistados foram contatados via telefone. Após

aceitarem o convite para a participação da presente pesquisa, o segundo passo dirigiu-se

no sentido de convidá- los individualmente para virem à instituição acadêmica - Univali

(Universidade do Vale do Itajaí) localizada na cidade de Biguaçu – Campus IV, ou local

mais adequado para a realização da mesma (que possam corresponder aos critérios de

sigilo e discrição), onde foram explanados os objetivos e propósitos desse estudo,

permitindo a participação voluntária da pesquisa após assinado o termo de

consentimento (APÊNDICE B).

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Posteriormente exibimos de modo individual as 6 (seis) fotos/gravuras e

solicitamos aos entrevistados que pudessem por meio das destas, ordená- las - numa

superfície onde foi possível visualizá-las-, classificando-as de acordo com suas

preferências, a “foto/gravura” que mais se identificava com a masculinidade – nesse

caso identificando-a com número 1- escolhendo as que menos se identificam de modo

decrescente, através dos números 2, 3, 4, e 5 até aquela que o entrevistado considerou

como mais distante do modelo de masculinidade – número 6.

Ainda assim, os sujeitos foram questionados através de perguntas que constam

no roteiro (APÊNDICE C) e outras que surgiram de acordo com a situação e reações

dos sujeitos entrevistados para uma melhor averiguação sobre o porquê de cada uma de

suas escolhas; identificando assim, por meio destas imagens e do discurso dos próprios

entrevistados, qual modelo perceberam como representativo da masculinidade. Frisamos

que o conteúdo da entrevista foi gravado, bem como transcrito na íntegra e analisados

posteriormente.

Cabe ressaltar que os sujeitos foram avisados sobre a possibilidade de que a

qualquer momento do processo poderiam interromper sua participação e com isso, suas

informações seriam desconsideradas para o estudo em questão.

3.5 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS

A análise dos dados foi feita através da análise de conteúdo, haja vista ter esta a

função de descobrir o conteúdo latente nos discursos dos indivíduos entrevistados, além

do que aparentemente está sendo comunicado pelos mesmos. Não somente isso, mas

pudemos considerar a afirmativa de Gomes (1994, p. 74) ao apontar que através da

análise dos conteúdos é possível “encontrar respostas para as questões formuladas e

também confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de investigação

(hipóteses).” Por conta disso, pudemos assim, construir categorias analíticas para

avaliação das respostas e/ou dados apresentados pelos homens entrevistados,

favorecendo assim a análise dos conteúdos de modo organizado e sistemático.

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3.6 CUIDADOS ÉTICOS

Todos os indivíduos envolvidos nessa pesquisa foram informados quanto aos

aspectos éticos, de acordo com a resolução do CFP n° 016/2000, e apontado no código

de ética profissional do Psicólogo, nos artigos 9° e 16°, ressaltando:

O dever do psicólogo em respeitar sigilo profissional, tem por finalidade

proteger a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, que tenha acesso em seu

exercício profissional, art. n° 9;

Os participantes não receberam nem pagaram quaisquer valores para a

participação na pesquisa;

Todos os objetivos da pesquisa foram esclarecidos aos participantes, como

também, o uso das informações;

Avaliar os riscos envolvidos na pesquisa, tanto pelos procedimentos quanto a

divulgação dos resultados, com objetivo de proteção dos envolvidos, art. n° 16 alínea

“a”;

Foi garantida a participação voluntária na pesquisa, de acordo com o termo de

consentimento (APÊNDICE B), salvo nas situações previstas em específica legislação e

respeitando os princípios deste Código, art. 16 alínea “b”;

Garantido o anonimato das pessoas envolvidas na pesquisa, grupos ou

organizações, salvo interesse manifesto destes, art. 16 alínea “c”;

Garantido também o acesso às pessoas, grupos ou organizações aos resultados

das pesquisas ou estudos, sempre que assim o desejarem art. 16 alínea “d”.

Os esclarecimentos prestados acima visaram o respeito aos sujeitos de

pesquisa, observando de igual maneira sua integridade física, psíquica e social,

observando o cumprimento das normas do Código da profissão da Psicologia em vigor,

seguindo também as normas previstas na resolução 196/1996 do Conselho Nacional de

Saúde.

Com isso, o trabalho de pesquisa se realizou permitindo o conhecimento e

esclarecimento sobre os termos de consentimento aos sujeitos, visando de acordo com

os termos, o respeito e o comprometimento do pesquisador frente aos entrevistados. Por

conseguinte esclarecemos que ao final da investigação será feita uma devolutiva dos

resultados aos participantes.

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.

NOME IDADE PROFISSÃO ES COLARIDADE RENDA (R$)

SUJEITO 1 32 ANOS REPRES ENTANTE.

COMERCIAL

GRADUAÇÃO EM

ADM EMPRESAS

1600 ATÉ

2000

SUJEITO 2 32 ANOS TÉCNICO EM

INFORMÁTICA

GRADUAÇÃO EM

PEDAGOGIA

1200 ATÉ

2000

SUJEITO 3 26 ANOS QUIROPRAXIS TA GRADUAÇÃO EM

QUIROPRAXIA

1200 ATÉ

2000

SUJEITO 4 31 ANOS PROFESSOR MES TRANDO EM

FILOSOFIA

1200 ATÉ

2000

SUJEITO 5 32 ANOS FIS IOTERAPEUTA GRADUAÇÃO EM

FIOSTERAPIA

1500 ATÉ

2000

SUJEITO 6 25 ANOS DANÇARINO GRADUANDO EM

ADM. EMPRES AS

1200 ATÉ

2000

SUJEITO 7 35 ANOS ES TUDANTE DOUTORANDO EM

FARMÁCIA

2000 ATÉ

2500

SUJEITO 8 27 ANOS GERENTE GRADUANDO EM

PSICOLOGIA

1200 ATÉ

2000

SUJEITO 9 25 ANOS JORNALISTA GRADUAÇÃO EM

JORNALIS MO

1500 ATÉ

2000

SUJEITO 10 27 ANOS JORNALISTA GRADUAÇÃO EM

JORNALIS MO

1200 ATÉ

2000

SUJEITO 11 29 ANOS DES IGNER GRADUAÇÃO EM

DES IGN

1200 ATÉ

2000

QUADRO 1: PERFIL DOS SUJEITOS ENTREVISTADOS DA CLASSE MÉDIA.

4.1 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS DOS SUJEITOS DA CLASSE MÉDIA

4.1.1 ATIVIDADE/PROFISSÃO COMO SÍMBOLO DE MASCULINIDADE

Com relação à masculinidade a que os indivíduos entrevistados foram

convidados a apontar e ordenar, dentre as fotos apresentadas, foi perceptível a

importância e/ou representação social da masculinidade associada ao trabalho e às

profissões. Tal escolha e justificativa, exposta nos discursos dos entrevistados remete-

nos ao que Nolasco (1995) acentua sobre o relevante papel do trabalho na constituição

da identidade masculina, pois este é usado como referencial para construir o modelo e

comportamentos a serem seguido pelos homens de um modo geral.

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Assim, mais do que apontar o trabalho como constituinte dessa classe (no caso

do trabalho em questão: a mais masculina), o jogador de futebol foi apresentado por

grande parte dos entrevistados da classe média como o mais masculino; suas

justificativas para a escolha dirigiram-se em grande parte por estar a profissão e/ou

futebol intrinsecamente associado ao masculino e por também representar a

masculinidade tal como apontado pelo sujeito 1, ao citar que o futebol é “um esporte

que representa o masculino... esporte que é de homem” (sic.). Tais aspectos são

confirmados através das pontuações feitas por Eco (1984, p. 231) o qual expõe que “o

futebol está para o adulto masculino como o jogo de mamãe para as meninas”, Elias e

Dunning (1992) e por Souza (1996) tratando das normas masculinas aplicadas no

esporte e da questão de virilidade presente na busca pela vitória de um ho mem sobre o

outro.

Mais do que isso, as relações sociais e o próprio ambiente de trabalho -

conforme apontado pelo sujeito 5 - conferem por si só ao jogador e/ou homem a

intitulação de masculino ou mais masculino, pois segundo o sujeito 10 “o cara está em

um campo de futebol... logo o cara é macho” (sic.) e não somente isso, ele acrescenta

ser “um ícone da masculinidade” e “virilidade” (sic.). Podemos acrescentar também as

ações, comportamentos e as atividades que envolvem o esporte em questão, trazem

consigo significados diversos como “força, velocidade, brincadeira, raciocínio, isso são

coisas que o masculino gosta” (sic.), segundo o sujeito 3.

Desse modo, pensar na escolha do jogador de futebol como o mais masculino e a

representação do esporte como sinônimo de masculinidade, incita-nos a pensar na

grande influencia que tal esporte desempenha na constituição da identidade de um

sujeito, perpassando pela questão de gênero. Tal como representada acima e confirmada

por Freitas (2007) como talvez a primeira das inserções sociais e, que no futebol

encontra-se de forma mais visível - fator que este pontua como constituinte da cultura

brasileira. Ademais, aponta que:

[...] os indivíduos que socialmente são identificados como homens são

ensinados, também nos gramados e nas arquibancadas de futebol, que seu

lugar é o público (fora/externo), que devem se sobrepor aos outros [...]

devem ser ativos (fazem a ação) e o mais importante: nesta socialização de

gênero localizada no campo de futebol (e talvez nos esportes em geral mais

discretamente), eles não podem ser femin inos/afeminados. Freitas (2007,

p.04-05)

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Desta maneira, a questão da ação e poderio esteve presente em tudo aquilo que se

relacione o futebol, excluindo assim, qualquer forma de ligação com o feminino ou

afeminação; assunto que vem confirmar a resposta do sujeito 1 ao dizer-nos que “você

não vai ver um homem afeminado jogando futebol” (sic.).

Não podemos deixar de pontuar que a profissão trazida como fator de

diferenciação para detectar a masculinidade – nesse caso, o jogador de futebol e suas

características – foi pontuada também como fator suscetível de emasculação do sujeito.

Tal realidade foi constatada por Giusepp e Romero (2004) ao pesquisar a visão dos

estudantes de educação física quanto às atividades corporais desenvolvidas pelos

jogadores de futebol e os bailarinos; foi assim apresentada uma visão sexista sobre a

profissão última e uma supervalorização do futebol como prática masculina, conforme

apresentaremos a seguir.

Tal estudo pode se refletir na presente pesquisa e na realidade dos entrevistados

pesquisados, pois o balé foi considerado como uma profissão do feminino pelos sujeitos

1, 7 e 11. Porém os sujeitos 5 e 8 acrescentam ainda que essa profissão – o balé -,

fazem lembrá-los das questões de leveza e delicadeza – associadas à mulher e/ou

feminino.

Outros pontos se apresentaram tais como: não ser prioridade no mundo

masculino; conforme o sujeito 3 , não ser bem vista; e sofrer preconceitos por fazerem

coisas de “menininha” de acordo com o sujeito 4 (o qual pontua igualmente a

existência de bailarinos homossexuais) e por não serem “tão machos”, segundo nos

falou o sujeito 9.

Com relação à profissão de modelo, o sujeito 5 apontou como aquele ao qual

teve dificuldade de distinguir o gênero; ainda assim foi apontada com desconfiança sua

masculinidade pela excessiva preocupação com a estética pelo sujeito 6 e apontado

pelo sujeito 10 como não representante da masculinidade - porém justificado por ser a

profissão dele. Ainda assim, o sujeito 11, descreve que os problemas que a profissão

pode ocasionar como a anorexia – mais presente em modelos – e o uso de remédios para

emagrecer, preocupações ditas pelo entrevistado como típicas de mulher, “vai de

encontro ao que pede de masculinidade” (sic.).

Cabe ainda salientar que a supervalorização do futebol se fez presente também

em comparação com o modelo, de modo que aspectos como força aliada à “macheza”

foi um ponto de discussão avaliado pelo sujeito 9. Este propôs colocar a prova a

masculinidade e o machismo do modelo, ao citar: “por exemplo, se você encontrar um

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modelo e se o modelo for brigar com o jogador de futebol aqui, acho que o modelo vai

apanhar, entendesse?” (sic.); ou seja, confirmando o aspecto pontuado por Dunning

(1992) ao dizer-nos que representado pelo confronto, o futebol expressa aspectos da

masculinidade ou virilidade por meio da agressão física.

Outro fator a ser levantado em análise refere-se aos pontos levantados pelos

sujeitos da pesquisa quanto à separação da profissão que é/pode/deve ser do masculino e

a que representa o feminino, ou seja, uma divisão sexual. Claramente percebe-se a

grande relevância do conceito de habitus (BORDIEU, 1995) através dos sistemas de

percepção, pensamento e ação; são dessa forma apreendidas pelo mundo social que

arbitrariamente divide a ordem social - neste caso, o dos sexos -, naturalizando e

justificando a ordem masculina que reforça todas as atividades, bem como o local,

momento e instrumentos voltados para o que deve ser do masculino.

Desse modo, há uma marginalização de qualquer outra forma ou tentativa de

mudança ou mesmo reflexão quanto às novas possibilidades de atividades, momentos e

instrumentos anteriormente citados – como aqui foi citado quanto ao modelo e

bailarino. Pensamento e percepções estas, naturalizadas e reforçadas pela ordem social e

masculina, citada como androcêntrica16, pois segundo Flores (2001, p. 38) em seu

trabalho numa comunidade no Equador descreve que o trabalho:

[...] realizado por hombres y mujeres les permite representarse a unos y

otras, a traves de prácticas incorporadas o inscritas, como de hombres o de

mujeres. Estas representaciones son mensajes que, de acuerdo a como hayan

sido realizadas, reafirman a masculin idad o femineidad de una persona17

Desse modo, assim como na comunidade pesquisada - denominada de Pindal, no

Equador -, homens e mulheres prestavam trabalhos e ações, aprendidos e naturalizados

com o tempo; esses comportamentos os tornavam reconhecíveis e aceitos como

masculinos e femininos, fez-se presentes de igual maneira no discurso dos sujeitos

entrevistados, dito de outra forma, tais mensagens fixas e inscritas, servem como forma

de produção do gênero masculino, através das profissões ditas como masculinas

(BUTLER, 2005).

16

Focalizada na superioridade do homem sobre a mulher. 17 “Realizado por homens e mulheres permite que elas representem para si, através de práticas registradas

ou incorporadas, como homens ou mulheres. Essas representações são mensagens que, de acordo com a

forma como elas foram feitas, reafirmam uma masculinidade ou feminilidade de uma pessoa” – Tradução

Livre

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4.1.2 O OLHAR E A EXPRESSÃO FACIAL

Além de representar a masculinidade por meio da profissão, outros assuntos

foram levantados pelos sujeitos participantes da pesquisa. Assim, alguns homens

afirmaram reconhecer a masculinidade ou não masculinidade pelo olhar (sujeitos 1, 2, 3,

5, 6 e 7). Neste momento cumpre-nos questionar: teriam as foto/gravuras influenciado

e/ou exercido sobre os indivíduos pesquisados uma forma de reproduzir as

representações sociais da masculinidade? Ou uma nova forma do homem se perceber

e/ou ver o mundo? Ou ainda, perceber a própria masculinidade a partir de uma

percepção mais aguçada e detalhada sobre o que o olhar de um homem pode transmitir

por meio de uma imagem (cientificamente e popularmente apropriada, como

pertencente às mulheres)?

Justamente por isso faremos uma descrição amiúde do conteúdo apresentado,

para refletirmos a questão da representação dessa imagem masculina, pois segundo

Aumont (1993 apud CORD e FERREIRA, 2006) a produção e uso das imagens como

foco, o valor representativo e por isso mesmo, constitui-se como mediador na relação

entre o homem e o mundo, através de um vínculo com o simbólico (a significação dada

à imagem e seus elementos).

A partir dessas considerações, vale aqui esclarecer que o olhar foi descrito como

método norteador para investigar e detectar a presença de uma categorização quanto ao

grau de masculinidade presente ilustrativamente nas foto/gravuras. Com isso, os sujeitos

1 e 2, utilizaram a representação do olhar para identificar o emo, como feminino por

causa da pintura.

Entretanto, o sujeito 3 descreveu de modo detalhado que a utilização do olhar

como ponto de partida, foi seu método próprio para identificar a masculinidade ou

feminilidade de uma pessoa; pois segundo ele “o olho diz tudo” (sic.), ou como ele

mesmo descreve e classifica, um "traço masculino”, traduzido em seriedade e “sem

ceder a opiniões” (sic.). Dito de outra forma, explicou-nos que o olhar masculino é

fechado (apontado por ele no jogador de futebol e no emo) e o feminino, uma expressão

mais sensível (metrossexual).

Na esteira desse pensamento, o sujeito 5 expressou as suas escolhas

expressamente através do olhar apresentado nas fotos. Desse modo a escolha do jogador

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de futebol foi realizada observando o olhar do mesmo, pois pareceu para o entrevistado,

como mais masculino (igualmente citado pelo sujeito 3); mais que isso, foi apresentado

como “fechado”, sem sensibilidade e sem preocupar-se com os outros. Isso nos remete

ao conteúdo exposto por Bourdieu (2005, p.26) ao referir-se à comunidade Cabília e,

mais especificamente às “partes altas e públicas masculinas” – nesse caso os olhos -,

que por sua vez estabelecem-se como “ponto de honra” (da identidade social); aqui vale

a pena citar o uso dessas partes como “fazer frente a, enfrentar” – citado pelo próprio

autor -, sem que necessariamente houvesse uma preocupação com o outro, conforme

citou o sujeito 3 - anteriormente frisado.

Contudo, não somente na masculinidade presente na foto/gravura 4 (jogador de

futebol) o olhar referiu-se a um conteúdo da ordem do masculino, mas a própria

identificação do emo como menos masculino, foi representada por um olhar aberto,

investigativo – olho no olho -, que contradiz esse ponto de honra, pois segundo o autor

supracitado esse olhar nos olhos é dito como masculino, ponto aqui trazido como do

feminino. Aqui verificamos a diferenciação da masculinidade a partir da definição de

masculinidade tomada como base para tal pesquisa, pois para Dantas (1997) há uma

diferenciação da mesma quanto ao grupo a qual o homem faz parte. Nesse caso, o olhar

para o sujeito em questão (e sua classe social) foi de fundamental importância para

destacar a hierarquia da masculinidade, o que é menos e o que é mais masculino – ponto

trazido por Almeida (1995).

Ainda sobre esse quesito, o sujeito 6 elucidou que sua observação quanto ao

olhar, deveu-se ao fato de que “o olhar pra mim é o que fica” (sic.) e, sendo o jogador

de futebol o mais masculino para o sujeito entrevistado, considerou que o jogador

possuía um olhar fixo, decidido. A mesma estratégia foi utilizada para identificar o

menos masculino, pois segundo o mesmo sujeito: “de cara eu analisei pelo olhar de cada

um” (sic.) e o emo foi apontado como possuidor de uma olhar mais feminino (apesar de

ter sido trocado de posição em seguida).

Clarificando as afirmações citadas anteriormente, faz-se importante conjeturar

como esse olhar e, esse discurso sobre o mesmo, pode estar ligado ao conceito de

masculinidade e mais ainda, às linguagens e representações da mesma. Essas

informações foram assinaladas por Alves (2004, p.14) o qual as denomina como

“dualismo centrado na natureza e na biologia contraposto ao cultural e social”. Este

autor descreve ainda que tais dualismos foram criados ao longo dos séculos, sendo

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usados para fortalecer o sexismo – valorizando o masculino e desvalorizando o

feminismo ou o que se distancia do masculino.

Sobre esses aspectos, o autor supracitado apresenta um quadro que separa a

linguagem empregada para referir-se ao homem e a mulher, o que também foi feito por

Misse (1979) - porém pontuado as diferentes características entre feminilidade 18 e

virilidade. Com isso, podemos citar as seguintes terminologias empregadas por ambos

os autores: forte, rígido, ação, agressivo, determinação, etc. para o masculino e para o

feminino: doce, frágil, dentro, ser penetrado (por ter abertura), sentimental, etc.

Aspectos esses utilizados pelos entrevistados para descrever e referenciar o olhar

daquele que foi escolhido como o mais masculino e o menos masculino, exatamente

como na literatura pesquisada sobre a representação social da masculinidade composta

no referencial teórico do presente trabalho.

Não somente o olhar foi usado como referência, mas a expressão facial surgiu

como forma de medir e classificar a masculinidade por meio das fotos. Com isso, os

sujeitos 3, 4, 6, 7, 8, 9 e 11 esclareceram que essa expressão apresentava-se por

intermédio da seriedade, agressividade, ou ainda por uma expressão fechada, forte ou

concentrada. Porém, dos sete homens entrevistados que pontuaram a expressão facial,

seis expuseram ser a seriedade um dos traços mais marcantes para representar a

masculinidade ou “cara de macho” (sic.) conforme apresentado pelo sujeito 7; o que nos

leva a problematizar a questão da seriedade, associada a um rigor em expor a

afetividade, sempre em busca de uma afirmação viril que necessita ser constantemente

reafirmada por não conseguir alcançar o ideal de masculinidade: viril, forte, destemido

(LE RIDER apud NOLASCO, 1997). Por conseguinte, retornamos ao conceito de

habitus anteriormente citado na categoria: atividade/profissão como símbolo de

masculinidade, representado e pensado, por meio de uma teoria de senso comum

(Representação Social da Masculinidade): cara de macho = séria.

Não obstante, vale a pena concatenar sobre a afirmação com a qual Pino (2006)

discorre ao explicar-nos que as imagens possuem sinais - constitutivos delas próprias -,

os quais são processados em busca de um registro (carregado de significação) do que o

sujeito vê e pensa sobre estas, com o olhar e a expressão facial posta pelos entrevistados

como definidores de uma masculinidade ou não masculinidade. Assim, percebe-se o

conteúdo de sinais e significações pessoais e coletivas (representadas socialmente) às

18

Aqui o autor faz o uso do termo passivo para se referir tanto aos homoss exuais quanto às mulheres, por

receberem-se o estigma por serem passivos na relação sexual.

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quais foram associadas às imagens de cada homem nas foto/gravuras e o significado do

olhar e da expressão facial – como masculino ou não.

4.1.3 CORPO E POSTURA

Pensar no corpo como objeto de significação e de entendimento o qual

estabelece significados em contextos singulares e, mais precisamente, um criador de

linguagens (CASTILHO, 2002) será nosso ponto de partida para analisarmos o quanto

os homens entrevistados, significaram o corpo apresentado nas foto/gravuras e qual a

representação social da masculinidade apresentada.

O corpo foi então representado – e aqui abarcamos também a aparência física -

como mais um forma de vislumbrar a questão da hierarquização da masculinidade

conforme Almeida (1996) e por Bourdieu (2005) da diferenciação sexual. A maneira

como os homens apresentados nas imagens portavam-se foi expresso no discurso de

alguns entrevistados (3, 4, 5, 8 e 9), sendo que mostravam esse aspecto como parte do

jogador de futebol.

Assim, cumpre compreender as respostas dos sujeitos acima nas quais

discorriam sobre uma “postura séria implica... a masculinidade” (sic.), especificamente

pelo sujeito 3, traduzidas em postura séria, o porte físico e pela pose a qual lembrava

uma postura militar com as mãos para trás; esta última confirmada por pela construção

social da masculinidade proferida por Oliveira (2004) ao tratar da questão da

militarização e nacionalismo, que como instituições militares reforçaram e reproduziram

condutas ditas como masculinas para defesa e honra de sua pátria. O que significa dizer

que a forma pela qual deveriam demonstrar sua lealdade seria por meio do sacrifício,

devoção, virilidade (força) e atos de coragem, que por sua vez se imbricavam com os

ideais de masculinidade a ser seguido por todo jovem.

Percebe-se ainda a presença desse pensamento ainda inculcado no discurso do

sujeito 4, pois o mesmo justifica que a sua escolha pelo jogador de futebol deve-se a

algumas observações corporais, dente elas a postura militar como citado anteriormente,

ponto apresentado como representativo da foto mais masculina.

Entrementes, considerar “mais” ou “menos” a masculinidade através do corpo,

foi dialogado pelos entrevistados envolvendo aspectos de aparência física, pois “uma

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barbicha que é um símbolo masculino, uma barba” (sic.) pelo sujeito 5 e também o

sujeito 10 para o jogador de futebol ou ainda a presença de pelos no corpo, como

apontado pelos entrevistados 7 e 8 (metrossexual). Entretanto outros símbolos fizeram-

se presente como o cabelo curto e/ou rapado – jogador de futebol – de acordo com o

individuo 11. Tais símbolos são vistos como partes públicas e “órgãos nobres da

apresentação”, igualmente como pontos de honra citados anteriormente quanto ao olhar

apontado por Bourdieu (2005)

Essa discussão leva-nos a refletir sobre uma codificação presente nesses

símbolos citados pelos homens da pesquisa, pois tais símbolos presentes no corpo dos

homens das foto/gravuras “processam significações” do pertencer ao universo

masculino e, mais ainda, poder ser titulado como masculino. Diante disso, tais

significações são construídas a partir de uma manifestação às quais o corpo produz são

apontadas como textuais, produtoras de sentidos e aqui na pesquisa foram usados como

parâmetros para categorizar a masculinidade (CASTILHO, 2002).

4.1.4 ROUPA E ADEREÇO COMO CARACTERÍSTICAS DA IDENTIFICAÇÃO DE

GÊNERO

O corpo por si só não se estabeleceu como forma única de indicação para

categorizar a masculinidade pelos sujeitos da pesquisa, pois elementos como roupa e

adereços apresentado através das gravuras, foram foco de atenção dos mesmos. Ficou

claro a importância de tais referências para explicação de suas escolhas quanto às suas

ordenações (do mais masculino para o menos masculino) na escolhas das fotos; assim a

roupa emergiu como outra forma de pontuar e diferenciar aquela foto que representaria

o mais masculino, ou uma construção da própria masculinidade, explicitado no discurso

dos sujeitos 1, 9 e 11.

Entretanto, a observação dos entrevistados quanto à roupa e adereços, vinculou-

se à foto identificada como número 5 (emo). Para grande parte dos sujeitos da classe

média (1, 2, 4, 5, 7, 8, 9, 10 e 11) as roupas e adereços apresentados pelo emo na

fotografia como: luva, cabelo grande, maquiagem e mais especificamente lápis ao redor

dos olhos, cachecol, a luva e o brinco – foi tipificado pelo sujeito 4 como do gênero

feminino. Isso por ser a luva adereço feminino e o brinco por representar a pureza -,

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camisas sobrepostas – a de baixa identificada como mais apertada pelo sujeito 10,

utilizando um diminutivo nas palavras (“luvinha” – sujeito 4 e camisa de baixo

apertadinha - sujeito 10), como uma forma de categorizá- los como menos masculino

(daí o uso da diminuição).

Tudo isso, confere a presença de elementos femininos, o que constitui uma

efeminização, pois Badinter (1993) ao declarar sobre o significado do que é ser homem,

disse que é “não ser efeminado na aparência física ou nos gestos” (grifo da autora) – e

sobre esse tópico vemos a confirmação por meio do sujeito 5 o qual aponta esse modo

de pensar quando informa-nos que o emo com “mãozinha na cintura... dá um ar de

delicadeza, um ar feminino” (sic.).

Entretanto essas mesmas características supracitadas que servem como

norteadoras para apontar a existência de elementos femininos no emo pelos

entrevistados servem para tal grupo (os emos) também, como forma de se diferenciarem

e escaparem da heteronormatividade, ou como pontua RODRIGUEZ (2008) um suposto

ataque pela maneira distinta de vestir e atuar, ao modelo tradicional de masculinidade,

confirmando a fala do sujeito 9 ao dizer que o emo “ não quer seguir regra nenhuma,

então para ele tanto faz ser homossexual ou não, ou mais macho, menos macho” (sic.).

4. 2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS DOS SUJEITOS DA CLASSE POPULAR

NOME IDADE PROFISSÃO ES COLARIDADE RENDA (R$)

SUJEITO 1 31 ANOS ZELADOR ENS INO

FUNDAMENTAL

INCOMPLETO

400 ATÉ 600

SUJEITO 2 34 ANOS VIGILANTE ENS INO

FUNDAMENTAL

INCOMPLETO

400 ATÉ 600

SUJEITO 3 26 ANOS LIMPADOR DE

VIDROS

ENS INO

FUNDAMENTAL

INCOMPLETO

400 ATÉ 600

SUJEITO 4 25 ANOS JARDINEIRO ENS INO

FUNDAMENTAL

INCOMPLETO

400 ATÉ 600

SUJEITO 5 34 ANOS CONTROLADOR DE

ENTRADA E S AÍDA

DE CARROS

ENS INO

FUNDAMENTAL

COMPLETO

400 ATÉ 600

SUJEITO 6 30 ANOS SERVIÇOS GERAIS ENS INO

FUNDAMENTAL

INCOMPLETO

400 ATÉ 600

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SUJEITO 7 31 ANOS VIGILANTE ENS INO

FUNDAMENTAL

INCOMPLETO

400 ATÉ 600

SUJEITO 8 30 ANOS SERVIÇOS GERAIS ENS INO

FUNDAMENTAL

INCOMPLETO

400 ATÉ 600

SUJEITO 9 29 ANOS VIGILANTE ENS INO

FUNDAMENTAL

COMPLETO

400 ATÉ 600

SUJEITO 10 29 ANOS VIGILANTE ENS INO

FUNDAMENTAL

COMPLETO

400 ATÉ 600

SUJEITO 11 30 ANOS ZELADOR ENS INO

FUNDAMENTAL

INCOMPLETO

400 ATÉ 600

QUADRO 2: PERFIL DOS SUJEITOS ENTREVISTADOS DA CLASSE

POPULAR.

4.2.1 ATIVIDADE/PROFISSÃO COMO SÍMBOLO DE MASCULINIDADE

A atividade profissional serviu como base de identificação da masculinidade

também para os sujeitos entrevistados da classe popular. Para o sujeito 5, o jogador de

futebol – identificado como o mais masculino – mostrou haver uma intrínseca relação

entre a atividade esportiva e a masculinidade; segundo ele, o jogador “representa ser...

deve ser masculino... homem é óbvio” (sic.). Dito de outra forma, não há um

questionamento de sua “virilidade” em detrimento de sua atividade e/ou profissão, por

ser algo que, mesmo podendo ser realizado por mulheres - e ele ainda cita também

“mulheres lésbicas”- continua sendo o carro chefe do ser homem. Comentário este no

qual podemos parafrasear Freitas (2007) ao apontar o futebol como um fenômeno social

e “catalizador” das questões voltadas para o gênero e Giddens (1993) apontando o

trabalho como aquele que constrói certos tipos de relações soais e culturais; podemos

ainda parafrasear Oliveira (2004), descrevendo a escolha da masculinidade autêntica,

voltada para o uso do corpo em atividades físicas, nesse caso o futebol. Esse aspecto foi

também trazido pelo sujeito 6 ao informar-nos que “pela carreira que ele tá seguindo,

sabe?! que ele tem mais tendência de ser mais masculino assim, né?” (sic.) – cabe aqui

ressaltar que este sujeito colocou o jogador de futebol como o segundo mais masculino.

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Porém tal afirmação, foi refutada pelo sujeito 7, ao declarar que o futebol “não é

profissão só para macho, o jogador de futebol é como qualquer esses daqui, né?” (sic.) e

ainda pode ser feito tanto por “homem macho e pode ser um homem afeminado” (sic.).

Aqui percebemos certa relativização da figura masculina associada ao esporte; contudo,

a foto/gravura escolhida como a mais masculina pelo sujeito em questão, foi a do

modelo (nº 3), pois para o sujeito entrevistado “o trabalho dele é destinado ao público

masculino” (sic.). Desse modo, o sujeito 7 continua confirmando o papel do trabalho e

sua finalidade como algo inerente à condição da masculinidade (NOLASCO, 1993;

TOLSON, 1978; ECO, 1984), o que nos leva a discutir as pontuações de Oliveira

(2004) supracitadas, pois este sujeito – também da classe popular – declara a

valorização de tal profissão – modelo -, como verdadeiramente masculina, apesar de

lidar com questões de “refinamento” no comportamento (ponto este trazido pelo mesmo

autor, como não aceito pela classe popular).

Assim, não podemos deixar de enfatizar que não houve uma acentuada

preocupação da classe popular em associar a masculinidade ou não-masculinidade ao

trabalho, como apontado por Oliveira (2004). Mais que isso, o sujeito 4 descreveu-nos a

ausência de uma diferenciação da questão masculina (mais ou menos), pois para ele:

“Cada um tem uma idéia diferente de si” (sic.), uma visível percepção do significado de

masculinidades, ou mais ainda, a definição de masculinidade a qual apontamos ser

utilizada nessa pesquisa, trazida por Dantas (1997), variando conforme cultura, tempo e

classes e por outros autores (CONNELL, 1995; LOURO, 1997; GARCIA, 1998;

SANTOS, 2007; PIRES e FERRAZ, 2008) enfatizando a necessidade do uso da palavra

masculinidades, em detrimento da questão cultural, religiosa e socioeconômica.

Dentro dessa perspectiva, percebe-se que esta ótica relativizada da

masculinidade, percebida pelo sujeito 4 e, de certa forma, pelo sujeito 7 ao expor uma

“revolução” social na qual o homem sempre sofreu preconceito e que hoje pode “ousar

mais”, no que se refere ao cabelo, cor de roupa (rosa), etc., não foi perceptível na classe

média; assunto este, tratado como inerente à tal classe, pela proximidade de informação

e estudos, poder aquisitivo e acesso às clínicas psicológicas para compreender, aceitar e

carregar o “fardo” em ser homem em função da posição atual da masculinidade e a

“queda dos privilégios” da mesma (NOLASCO, 1995; OLIVEIRA, 2004; PIRES e

FERRAZ, 2008).

Referente a essas pontuações, podemos assinalar e refletir sobre uma abertura da

classe popular quanto aos modelos de masculinidade e uma rigidez da classe média

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quanto ao mesmo tema; entretanto, podemos, mais do que isso, apontar a questão

trazida por Connell (ibidem) sobre a existência de diferentes tipos de masculinidades

num mesmo contexto social. No tocante a este assunto, recorremos à questão que

norteia a pesquisa sobre as crenças, comportamentos e sobre a própria representação

social da masculinidade que perpassa questões além do biológico, mas de uma

construção social influenciada pelas mudanças no meio em que as pessoas vivem,

aprendem e se comportam como homens ou mulheres.

Desse modo podemos citar novamente o sujeito 7 que historicizou a

masculinidade e os comportamentos esperados do homem, o que segundo ele:

“antigamente a gente vivia num mundo muito machista, hoje tá mais tranqüilo” (sic.);

continua informando: “ hoje em dia não... o cara hoje em dia pode usar uma blusa rosa,

né?” (sic.); Ainda podemos citar suas próprias palavras sobre o bailarino, tido como não

menos masculino: “ele usa mais sensibilidade naquilo que ele faz, ele tem porra cara...!

ele tem que tirar o lado masculino [...] tem que ter a performance do masculino e do

feminino” (sic.), como algo difícil de ser realizado.

4.2.2 ROUPA E ADEREÇO COMO CARACTERÍSTICAS DA IDENTIFICAÇÃO DE

GÊNERO

A questão da masculinidade apontada pelos sujeitos da classe popular associou-

se às roupas e adereços de modo semelhante ao conteúdo trazido pelos homens da classe

média. Entretanto, a roupa e os acessórios, foram também apontados como indicadores

de uma masculinidade na escolha da foto/gravura que representava o mais masculino;

como, por exemplo, os sujeitos 2, 6, 9,10 e 11. Amiúde, podemos destacar, conforme o

sujeito 2, que o jogador de futebol – escolhido como o mais masculino para o

entrevistado – “encaixa mais no gênero masculino [...] significa assim... normal pra

sociedade” (sic.). Nesse ponto, há uma corroboração quanto à idéia marcada por

Giusepp e Romero (2004, p.144) explicitando a forte relação presente numa simbologia

em que a roupa “é uma marca registrada que tem o poder de distinguir o indivíduo do

grupo ou, ainda o grupo de outro grupo ao qual eles pertencem”.

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Neste ponto, podemos correlacionar a afirmativa supracitada com o lugar do

emo que, sob o ponto de vista da classe média, assemelha-se sobremaneira quanto aos

adereços e roupas da foto/gravura 5; pois, de modo semelhante, para oito dos onze

entrevistados da classe popular, este foi posto em último lugar ou 6º em suas escalas de

valores quanto à masculinidade; assim, para o sujeito 2, os adereços e roupas do emo

permitiram-no dizer que se “encaixa mais com o perfil de um homossexual né?” (sic.),

mais feminilizado, exposto também pelo diminutivo nos sufixos, por exemplo, as

luvinhas.

Vale a pena citar nesse momento o gênero como um “estilo corporal” e,

portanto, performativo conforme explicitado por Butler (2003, p. 200) que por meio da

Teoria Queer, ensina-nos sobre a “repetição estilizada de atos” e, mais ainda, de uma

ritualização social por meio de estilos corporais (aqui podemos citar também roupa e

adereços) que ensinados ao longo do tempo, alcançam uma dimensão pública e coletiva

de grande escala. Isso fica claro, através das palavras do sujeito 1 ao declarar que o balé

não torna o bailarino como menos masculino, mas “a roupa de balé, a gente colocou que

é coisa do feminino” (sic.).

De modo mais claro, a autora aprofunda nosso entendimento, discutindo que:

[...] o efeito do gênero se produz pela estilização do corpo e deve ser

entendido, conseqüentemente, como a forma corriqueira pela qual os gestos,

movimentos e estilos corporais de vários tipos constituem a ilusão de um eu

permanente marcado pelo gênero [...] uma realização performativa em que a

platéia social mundana, incluindo os próprios atores, passa a acreditar,

exercendo-a sob a forma de uma crença. (BUTLER, 2003, p. 200)

Dessa maneira, discorremos sobre uma crença centralizada dos homens entrevistados da

classe popular sobre aquilo que lhes foi ensinado, estabelecido e repetido durante um

longo tempo; passando a ser cristalizado e percebido como uma representação social de

uma masculinidade aceita como central e/ou normativa, com gestos e atos definidos

sobre o ser homem e o que não pode ser feito para deixar de sê- lo, compreendidos nas

roupas e adereços de homem e de mulher, desde tenra idade. Tal ponto pode ser

expresso pelo sujeito 9, esclarecendo porque pôs o emo na última posição: “porque eu já

não usaria essa roupa” (sic.). Mais ainda, é importante reconhecer veículos de

comunicação que influenciam nessa ritualização de papéis e estilos e questionar o papel

da mídia na construção e “circulação dos sentidos que determinam o modo como os

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gêneros - feminino e masculino – são vistos pelos indivíduos” (GHILARDI-LUCENA,

2008, p.13).

4.2.3 CORPO E POSTURA

No que se refere ao corpo, reiteremos as palavras de Castilho (2000) pontuadas

para descrever a significação simbólica de linguagens possível através do corpo e suas

representações. Pois, segundo os sujeitos da pesquisa, a postura na qual os homens das

fotos/gravuras se posicionaram, constituiu-se como fator de diferenciação descritos

como postura de um homem responsável (sujeito 6), jeito de se expressar masculino

(sujeito 9) comprovados pela pesquisa realizada por Ribeiro (2000) e Santos (2007)

sobre os modelos de masculinidade percebidos em camadas populares na cidade de João

Pessoa (PB), no qual descobriu-se ser a responsabilidade um dos fatores constituintes da

identidade do homem.

Além disso, outros aspectos como postura rude e “de machão” (sujeito 1, 5, 8,

11), surgiram como ponto de diferenciação com a classe média, já que esta apenas citou

a postura séria, sem necessariamente destacar uma atitude de machão. Aqui podemos

levantar a seguinte questão: o que é esperado para homens de ambas as classes, seja em

sua própria casa, trabalho ou mesmo em sua comunidade, influenciaria na escolha dessa

postura? Pois para Oliveira (ibidem) há uma diferenciação quanto ao habitus masculino,

conforme a inserção social do homem que, de certa forma, refletirá em seus

comportamentos; mais do que isso, para os homens da classe popular, a masculinidade é

exercida de modo não lapidada, grosseira e rude – conforme explicitado pelos sujeitos

citados anteriormente.

A exibição do corpo apresentou-se como forma de representar a masculinidade

pelo sujeito 3 sobre o jogador de futebol que exibe seu corpo e do metrossexual; porém

retratada como uma atitude recriminada pelo sujeito 1 ao explicar que o metrossexual

“mostra muito a barriga, o homem não vai mostrar tanto a barriga como esse que está

mostrando” (sic.). Sobre este, o sujeito 2 o intitulou como gay; o sujeito 5 demonstrou

uma certa desconfiança dizendo que “aquele ali pode ser que seja homessexual” (sic.); e

“um monte de músculos só isso!” (sic.) pelo sujeito 9. Além disso, “exibido demais para

ser homem” pelos sujeitos 10 e 11. Tudo isso pode ser analisado com o lugar que o

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corpo encontra e apresenta-se, por meio de uma analogia, como um texto a ser lido por

outras pessoas de modo permanente, representando a fragilidade de uma masculinidade

que necessita constantemente ser exposta e reforçada, para evitar dúvidas e

questionamentos (FLORES, idem).

Outra questão merece nossa consideração em relação ao corpo do emo,

conforme apresentado pelos entrevistados. O cabelo (além dos adereços) foi apontado

como um dos pontos cruciais, através do qual o reconheceram como menos masculino,

por ter um cabelo grande e por parecer uma mulher, pelos sujeitos 1, 2, 3, 4, 9, 10 e 11.

O que corrobora a afirmação feita por Oliveira (2004) na recusa e repulsa de qualquer

traço feminino e, portanto, não masculino pelos homens da camada popular.

4.2.4 EXPRESSÃO FACIAL

A questão do olhar como forma de identificar a masculinidade nas

fotos/gravuras não apareceu na fala dos sujeitos das camadas populares, diferentemente

da classe média que atentou para este quesito por grande parte dos sujeitos

entrevistados.

Porém, a expressão facial foi ressaltada de modo considerável pelos homens

entrevistados, como demonstração de masculinidade (mais masculino). De sorte que

aspectos como “cara mais de rude” (sic.) apontado pelo sujeito 1 reportando-se ao

jogador de futebol, uma “seriedade no rosto” (sic.), conforme o sujeito 6, ao rapaz da

foto/gravura 6 e uma cara concentrada, sujeitos 10 e 11 – jogador de futebol; pontos

estes também reconhecidos pela classe média, que por sua vez corresponde a

representação social do que um homem é: sério, duro e racional, características da

virilidade (MISSE, 1979) e, de igual maneira uma repetição de atos performativos

característicos do gênero, observados e interiorizados como próprios do masculino

(BUTLER, ibidem).

Todavia tal expressão serviu também para marcar uma diminuição da

masculinidade para outras foto/gravuras, tais como uma sensibilidade no rosto, ou ainda

“o rosto assim, não é um homem assim... sabe assim... na sua naturalidade” (sic.) foi

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associando o bailarino à homossexualidade pelo sujeito 2, 10 e 11. Características da

feminilidade e que, por isso, devem ser afastadas de um homem, podendo estigmatizá-

lo através de uma nomenclatura (gay, viado, etc.), como apontado por Misse (ibidem).

Assim, podemos referenciar novamente Pino (2006) ao afirmar a presença de

sinais carregados de significação e que produziu nos sujeitos entrevistados da classe

popular também, um retorno às suas concepções e/ou representações sociais, aprendido

de modo coletivo sobre a masculinidade. Vale nesse momento ressaltarmos o processo

de ancoragem, produtor das representações sociais – aqui, da masculinidade -, no qual

uma imagem pode tornar familiar um conceito não-familiar, pois a partir de quais

conceitos os homens da classe popular e média puderam apontar o olhar e a expressão

facial, como detentoras de uma masculinidade ou pouca masculinidade? Que padrões

foram usados senão o da repetição de atos corporais visíveis? (BUTLER, ibidem;

MOSCOVICI, 2003)

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5. O NOVO HOMEM

Analisar a perspectiva de um “novo homem”, trazido pela literatura sob a égide

da masculinidade e, a partir daí correlacionar com as considerações dos entrevistados,

levou-nos a decidir ilustramos por meio da espiral abaixo, como as escolhas dos

entrevistados e suas preferências nos trouxeram de informação quanto a esse “novo

modelo”, equiparado com o lugar do jogador de futebol e do emo. Tal escolha originou-

se pela freqüência nas escolhas e a posição correspondente na qual o metrossexual foi

posicionado (conforme iremos explanar); principalmente no que se refere à constituição

hierárquica da masculinidade (do mais, para o menos masculino), presente nas classes

sociais pesquisadas, conforme segue abaixo:

FIGURA 1: ESPIRAL DAS MASCULINIDADES: HEGEMÔNICA,

SUBLATERNA/RELATIVA E SUBORDINADA.

Percebeu-se claramente a presença e exposição de uma masculinidade

hegemônica (ou dominante) na amostra pesquisada - presente nas respostas dos homens

entrevistados – exceto no caso do sujeito 4 da classe popular, no qual explicou serem

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todos os sujeitos das fotos/gravuras, masculinos, independente de seu comportamento e

modos de ser.

Tanto na classe média, quanto na classe popular o jogador de futebol, foi

descrito como aquele que corresponde a um modelo de virilidade; mais do que isso,

lembrado como um símbolo da masculinidade. Assim o esporte apresentou e/ou

configurou-se como uma inscrição perceptível da masculinidade em questão. Não

somente por ser o futebol, mas por ser considerado uma “paixão nacional”, o esporte

descrito pelo sujeito 5 da classe popular “o futebol sempre foi o carro chefe do esporte

como se apresenta o homem”. Aqui nesse ponto retornamos às palavras de Eco (1984)

ao citar a relação entre futebol e o adulto masculino, como o brincar de mamãe para as

meninas, citado anteriormente, para ilustrar a importância da correlação entre o futebol

e a representação deste com a masculinidade; um portal de entrada e aceitação de uma

masculinidade a ser seguida e reconhecida como tal socialmente.

Ainda assim, podemos concatenar sobre esse modelo e/ou padrão de virilidade a

ser seguido, associando-o a uma masculinidade hegemônica, que se apresenta nas

palavras de Almeida (1995, p.2) como “um modelo cultural ideal que, não sendo

atingível – na prática e de forma consistente e inalterada – por nenhum homem, exerce

sobre todos os homens [...] um efeito controlador”.

Além disso, o autor posiciona-a como um componente central numa ordenação

do gênero, o que nos permite exemplificar por meio da ilustração acima, pois o jogador

de futebol foi posto pela maioria dos entrevistados como o mais masculino. Houve

assim, um consenso cultural (meio social) na eleição do jogador como a masculinidade

central e ideal, pelo porte físico, esporte que pratica e um caráter de atividade em

oposição à passividade (VICENTE E SOUZA, 2006), mas também na comparação com

as outras fotos ou modelos de masculinidade.

Do outro lado da espiral, de igual maneira, o emo (foto/gravura 5) foi apontado

na hierarquia da masculinidade por grande parte dos entrevistados como uma

marginalização da hegemônica ou como uma masculinidade subordinada (CONNELL,

1997), desviante ou periférica à central. Nesse sentido, cumpre-nos esclarecer que os

pontos apresentados pelos entrevistados para defini- lo como o “menos masculino”

segundo sua opção, voltaram-se para uma comparação com o jogador de futebol e suas

atitudes (esporte, modo de vestir e comportamentos diversos), o que o torna

subordinado ao mesmo (masculinidade hegemônica). Este apareceu na maioria das

vezes como o 6º escolhido para representar a masculinidade.

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Com isso, outro aspecto apontado por Connell (idem) traz à baila a questão da

dominação de uma heterossexualidade, e uma subordinação da homossexualidade

expelida simbolicamente da masculinidade hegemônica; isso por exacerbar-se na

utilização de adereços ou pelo prazer sexual anal, assimilada à feminilidade – ponto

trazido pelos entrevistados, ao citar os adereços utilizados como indicadores de uma

masculinidade duvidosa, ou uma feminilidade. Nesse ponto, vale destacar o estigma do

passivo sexual, pontuado por Misse (1979) ao destacar a questão de uma “normalidade”

associada ao ativo e uma “anormalidade” (perigo) ao passivo sexual, presente no

intercurso sexual; desse modo o estigma segundo o autor, aparece sob uma simbologia

do estigma, “sob a forma de metáforas” e nas linguagens sobre o próprio ator social em

questão, aqui descrito pelo sujeito 2 da classe média como: “um gay”, por suas

características femininas e seus adereços, tais como: brincos, roupas, etc.

Além desses atores sociais descritos, há entre o jogador de futebol e o emo, o

metrossexual – “novo homem”. Na grande maioria das respostas dos homens

entrevistados, este esteve posicionado entre o jogador de futebol e o emo

(masculinidade hegemônica e a subordinada). Tal ponto nos faz refletir sobre as

próprias respostas dos sujeitos entrevistados, pois, para eles havia uma espécie de

indeterminação quanto à questão de gênero, conforme declara o sujeito 3 da classe

média ao referir- se da seguinte maneira: “mas ta uma coisa indefinida, a gente não pode

dizer ao certo, ele está entre os dois... entre o masculino e o feminino; ele tem a

sensibilidade, digamos... feminino, como é que se diz... o jeito está um pouco de

feminino e o corpo de masculino” apontada por outros homens (olhar, exposição

exacerbada do corpo e músculos, preocupação com a beleza, etc.).

Assim, o corpo apareceu como uma marcação ou como descreveu Douglas

(1969 apud BUTLER, 2003) ao citar que os contornos do corpo, estabelecem-se como

marcações, ou seja, há um código social prescrito que busca estabelecer fronteiras e/ou

separar, demarcar e pontuar aquilo que é aceito e puro, daquilo que é impuro e deve ser

punido; punição esta proveniente de uma “desordem” da relação binária homem/mulher

ou da questão hegemônica que acima pontuamos, a ser seguida pelos homens em sua

maioria. Mais do que isso, tanto o emo quanto o novo homem “fogem” dessa

expectativa ou do que é repetido e internalizado através da performatividade do gênero

(BUTLER, 2003).

Continua a autora, descrevendo que tais fronteiras, de acordo com os sistemas

sociais desenvolvem margens por serem vulneráveis e que, por isso, são consideradas

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perigosas; são lugares de “poluição e perigo”. Cabe-nos perguntar: perigo para quem?

Pois pensar sobre as palavras de Douglas, a respeito do status de poluição associado à

homossexualidade e, as práticas sexuais entre homens, delineiam os limites daquilo que

é permitido ou não. É possível uma permeabilidade entre homens, sem que o status de

“pureza” possa ser pontualmente retirado deste homem? O cuidar do corpo, o

embelezar-se, a exibição corporal, constitui-se também como uma margem cheia de

poluição? Seria o metrossexual ou o “novo homem” uma “fronteira” permeada de

poluição e perigo, um “não eu como um abjeto” – desprezível (KRISTEVA, 1982 apud

BUTLER, 2003) ou uma nova possibilidade de exercer a masculinidade?

Com isso, podemos refletir e comparar a periferia e o centro exposto por

Douglas (1994) em seu livro Risk and Blame, refletindo sobre a posição em que o

jogador de futebol encontrou-se nas respostas dos entrevistados, como um centro, pela

aceitação geral social e pelos aspectos corporais visivelmente aceitos pela grande

maioria; podemos inferir também o lugar do emo, como uma periferia, por encontrar-se

na ponta da espiral e também ter sido apontado como um modelo de masculinidade,

distante daquilo aprendido como “do que o homem faz” ou “pode fazer e/ou usar” –

adereços, relacionamentos e etc.

Esse “novo homem” – aqui, o metrossexual -, pode ser considerado e intitulado

como uma masculinidade subalterna/relativa, pois vimos a presença de uma

masculinidade subordinada ou subalterna à hegemônica; isso tudo por possuir

características de uma masculinidade viril - com o corpo másculo -, algumas vezes

citado como um “olhar masculino”. Não somente isso, mas uma relativização quanto à

periferia do emo, mesmo porque a exposição exacerbada, o “cuidado extremo com o

corpo”, beleza, barba, cabelo, apreciar boa comida (FLOCKER, 2004) - questões

referentes a preocupações da ordem do feminino - fazem-se presentes como formas de

um afastamento da centralidade hegemônica da masculinidade, nesse mesmo homem.

Ainda assim, não podemos deixar de apontar – verificando a espiral e o

movimento circular, de dentro para fora -, que mesmo havendo uma centralidade

(masculinidade hegemônica), o movimento para fora da espiral prevê um perigo

apontado para a periferia. O jogador de futebol refere-se a um modelo a ser seguido

pelos entrevistados, porém, reconhecem que existe outro movimento e/ou modelo de

homem, o metrossexual, que ultrapassando algumas barreiras (conforme citado acima),

está na margem, pode tornar-se perigoso por adotar traços de feminilidade e, com isso,

ferir a masculinidade hegemônica; mais que isso, eles discutem a presença de outro

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modelo de masculinidade (ou um distanciamento da masculinidade), o emo; este se

encontra fora do centro, já poluído e visto como perigoso e marginalizado (como na

periferia, representada socialmente como perigosa) por apresentar traços femininos e

ambigüidade na preferência sexual.

Nesse ponto não podemos deixar de citar que tais masculinidades subordinadas

são referenciadas por Almeida (ibidem) como constituintes da hegemônica, estando

contidas nesta última - aqui podemos também citar a subalterna/relativa. Isso nos

permite dizer que, essas masculinidades que fogem desse modelo central, são apontadas

pelo autor como “efeitos perversos” dessa centralidade; pois há uma potencialidade de

perigo na homossociabilidade masculina (relações, comportamentos, etc.).

Percebe-se então uma fragilidade nesse modelo central frente às masculinidades

subordinadas e subalterna/relativa; o que nos leva a questionar: seria esse modelo

central - impossível de ser alcançado - o causador da criação de outras masculinidades?

E mais ainda, cansou o homem de esconder o feminino em seu comportamento e, por

isso, apresenta ou cria novos modos de ser homem? Cansou ele de encontrar-se

estereotipado em “caixas” (LIMA et al, 2007) ou ser “discriminado pra caralho”,

segundo o sujeito 7 da classe popular? Ou também, as mudanças no âmbito social e a

competição acirrada no mercado de trabalho, forçaram o homem a posicionar-se nessa

masculinidade subalterna/relativa que ora é compreendida por uns ora rejeitada por

outros?

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6. CONCLUSÃO

Compreender as representações sociais da masculinidade, na cidade de

Florianópolis, para as classes média e popular, constituiu-se como objetivo do presente

trabalho. Mais do que isso, descrever a partir das representações sociais masculinas, os

valores e comportamentos compartilhados ou não pelos sujeitos entrevistados, de modo

a comparar as representações de ambas as classes.

Desse modo, foi possível verificar que a masculinidade foi representada pelos

entrevistados da classe média e da classe popular, através de alguns pontos que

assinalaram a mesma por meio da profissão/atividade como símbolos da masculinidade,

sendo o futebol escolhido como representante dessa simbologia; porém outras

atividades, tais como modelo e bailarino, distantes do modelo de masculinidade

hegemônica, por serem reconhecidas como profissões do feminino. Aqui ressaltamos a

importância do quesito olhar para identificação da masculinidade e da não-

masculinidade; uma observação minuciosa para as fotos/gravuras e da simbologia que o

mesmo aponta, seja o olhar aberto voltado para o feminino ou fechado, para o

masculino (ou mais masculino), conforme explicitado pelos sujeitos da pesquisa; tal

perspectiva foi apontada somente pelos homens entrevistados da classe média como

sinalizador de uma (maior) masculinidade, uma representação até então não marcada na

literatura pesquisada no Brasil; além de mostrar esse ponto, a contribuição desse

trabalho para a ciência psicológica sobre percepção dos homens quanto à própria

masculinidade.

Além dessas questões, percebeu-se certo distanciamento das pesquisas realizadas

quanto à masculinidade, pois, grande parte dos homens da classe média demonstrou

rigidez nos padrões e comportamentos quanto aos valores da masculinidade no que se

refere aos adereços, roupas e postura – conforme acima explicitado. Sendo assim foi

possível verificar que a masculinidade hegemônica descrita por Almeida (1995) e de

Connell (2005) apresentou-se sobremaneira no discurso não só dos homens da classe

média, mas também da classe popular, porém com certa flexibilidade quanto à indicação

daquilo que hoje é considerado como mais masculino ou menos masculino; haja vista

ter sido observado na classe popular, sujeitos que disseram ser o momento atual um

período de mudança social frente à masculinidade presente nos comportamento e

valores (estéticos e morais). Ainda assim, foi dito por tais sujeitos (classe popular) que

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os homens apresentados nas fotos/gravuras eram todos masculinos, ou seja,

representavam masculinidades possíveis de serem vividas; o que nos mostra, uma

alteração quanto ao padrão de masculinidade (duro, machista, rude, grosso, etc.) entre

os homens da classe popular, mas um novo olhar frente às mesmas mudanças ocorridas

no meio social em que vivem e convivem.

Mais do que apontar essas diferenças, podemos verificar que a masculinidade

hegemônica presente no discurso dos entrevistados em suas escolhas – da 1ª à 6ª

foto/gravura e sua representação social – favoreceu observarmos uma fragilidade que

precisa ser constantemente reforçada e repetida por meio de adereços, esportes, olhares,

postura, etc., daquilo que é aceito socialmente e, portanto, não recriminado. Uma

preocupação em exibir nos corpos e/ou transformá-los em textos a serem lidos por

terceiros (amigo (a) s, namorada (o) s, esposa (o) s e todo a meio soc ial) e expostos

como forma de não haver dúvidas quanto à própria masculinidade. Assim, a abjeção

frente à masculinidade subordinada, foi apontada pelos entrevistados por ter sido o emo,

escolhido em sua grande maioria como o menos masculino; e aqui podemos destacar

que se encontrava na maioria dos casos, como detentor de quase todos os adereços que o

distanciariam de uma masculinidade aceita (cabelo, roupa, luva, olhar feminino,etc.)

Ainda assim, o metrossexual ou “novo homem” foi também identificado pelos

entrevistados e posto na maior parte de suas escolhas entre a masculinidade hegemônica

(jogador de futebol) e a subordinada (emo); tais escolhas permitiu-nos trazer uma nova

nomenclatura (subalterna/relativa), possibilitando-nos mostrar que, ao ultrapassar a

centralidade da masculinidade hegemônica, o perigo e a poluição podem fazer-se

presentes, por meio de uma permeabilidade de relações entre homens e por meio de uma

permissividade dita como inerente ao feminino (no cuidado do corpo), apesar de

mostrar um corpo másculo – típico do masculino -, mas que mesmo ultrapassando

algumas barreiras ainda não está na periferia da masculinidade, ou mesmo na

subordinação ao modelo central.

Concluímos que foi possível verificar a importância de uma performance de

gênero presente no olhar, corpo e seus adereços na representação da masculinidade para

os sujeitos entrevistados das classes média e popular da cidade de Florianópolis;

também a importância dada ao comportamento corporal ritualizado masculino ainda

presente e o valor moral de tal comportamento, quanto a norma que dita o que permite

ser masculino ou feminino. O valor estético corporal foi visto como importante, mas

não de modo exacerbado para os homens, estando a beleza física e a preocupação da

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mesma associada ao feminino; mesmo sendo apontado por alguns homens a presença de

força física como ponto a ser discutido na representação social da masculinidade – o que

se constituiu como ressalva.

Deixemos aqui como indicação para outras pesquisas, pontos que não puderam

ser investigados devido aos objetivos do presente trabalho, a questão da influência: do

meio social na escolha de comportamentos e roupas para ambas as classes, dos meios de

comunicação e família na constituição das representações sociais da masculinidade e a

flexibilidade nos papéis que os homens desempenham, conforme varia o ambiente

social.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado a participar, como voluntário, em uma pesquisa.

Caso aceite fazer parte do estudo, após ser esclarecido sobre as informações a seguir,

favor assinar este documento, que está em duas vias. Sendo que uma delas será de sua

propriedade e a outra, do pesquisador responsável. Em caso de desistência, salientamos

que não haverá nenhuma forma de penalização.

O projeto tem como título: “As Representações Sociais da Masculinidade

para Homens das Classes Média e Popular da cidade de Florianópolis” e por

objetivo geral, compreender as representações sociais da masculinidade para homens

das classes média e popular da cidade de Florianópolis.

No que se refere a esse estudo, não estão previstos riscos e desconfortos

durante a realização da entrevista. Os pesquisadores estarão disponíveis para qualquer

informação e esclarecimento que por ventura necessitar, antes e durante, a realização da

pesquisa. Pelo fato desta investigação ter como interesse único e exclusivo, o científico,

a mesma foi aceita espontaneamente pela Sr(a)., que no entanto poderá desistir a

qualquer momento, inclusive sem nenhum motivo, bastando para isso, informar da

maneira que achar mais conveniente, a sua desistência. Por ser voluntária e sem

interesse financeiro, não haverá nenhuma remuneração. Seus dados serão preservados,

mantidos em anonimato e arrolados somente na discussão do resultado, a divulgação do

mesmo visará apenas mostrar os possíveis benefícios obtidos pela pesquisa em questão,

sendo que poderás solicitar informações durante todas as fases desta pesquisa, inclusive

após a publicação da mesma.

Pesquisador Responsável: Leandro Oltramari

Pesquisador Participante: Aurivar Fernandes Filho

Telefone e e-mail para contato: (48) 8425-1983; [email protected]

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CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO

Eu,_______________________________________________________________,

RG_________________________ CPF ____________________ abaixo assinado,

concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e

esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os

possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que

posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer

penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Estou

também ciente de minha participação voluntária e de que não terei direito a

remuneração.

Florianópolis,___ de ____________, 200__

Assinatura do participante da pesquisa:

________________________________________

Telefone para contato: ___________________________________________

Assinatura do pesquisador:__________________________________________________

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APÊNDICE B

TERMO DE COMPROMISSO DO PESQUISADOR

Nós, abaixo assinado, aluno pesquisador e professor orientador do Curso de

Psicologia da UNIVALI – CE – Biguaçu. Comprometemo-nos em realizar a pesquisa

do Trabalho de Conclusão de Curso “As Representações Sociais da Masculinidade para

Homens de Classe Média e Popular da cidade de Florianópolis”, desenvolvendo todas

as atividades relacionadas à sua concretização.

______________________________ _______________________________

Aurivar Fernandes Filho Leandro Oltramari

Aluno Pesquisador Professor Orientador

Florianópolis, _______ /_______ /________

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APÊNDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ENUNCIADO: COLOQUE ESSAS SEIS GRAVURAS, DE ACORDO COM SUA PREFERÊNCIA, AQUELA QUE VOCÊ CONSIDERA COMO MODELO DE MASCULINO SEGUINDO EM ORDEM DECRESCENTE (DO MAIS PARA O

MENOS) AO QUE MENOS REPRESENTA A MASCULINIDADE.

1) POR QUE VOCÊ ESCOLHEU ESSA GRAVURA COMO NÚMERO UM ? 2) QUE CARACTERÍSTICAS ESSA GRAVURA TEM DE MAIS MASCULINA?

3) O QUE A GRAVURA ESCOLHIDA COMO A NÚMERO 6 POR VOCÊ, TEM DE MENOS MASCULINO?

4) QUE CARACTERÍSTICAS ESSA GRAVURA TEM DE MENOS MASCULINA? 5) POR QUE ESSAS OUTRAS FOTOS FORAM COLOCADAS NESSA POSIÇÃO ESCOLHIDA POR VOCÊ?

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ANEXOS

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IMAGENS: “FOTOS/

GRAVURAS” :

FOTO 1: Disponível em: < http://www.aelosgatos.com.br/futebol/wp-

content/gallery/fotos2/jogador6.jpg>. Acesso em: 09 nov. 2008.

FOTO 2: Disponível em: < http://www.flickr.com/photos/tazzykitten/541372213/ > Acesso em 17 out.

2008.

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FOTO 3: Disponível em: < http://img.photobucket.com/albums/v148/marianacarey/videbula.jpg> Acesso

em 19 out. 2008.

FOTO 4: Disponível em: <http://anthidoto.files.wordpress.com/2008/08/leandro23.jpg>. Acesso em: 19

out. 2008.

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FOTO 5: Disponível em: < http://images.inmagine.com/img/bananastock/bs166/dan073.jpg:>. Acesso em

19 out. 2008.

FOTO 6: Disponível em:<http://blog.scudeto.com/2008/06/09/3819/>. Acesso em: 19 out. 2008.