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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE AMARAL FERREIRA ACIDENTES E INCIDENTES AERONÁUTICOS NO BRASIL OCORRIDOS NOS ÚLTIMOS ANOS, TENDO COMO FATOR CONTRIBUINTE CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS Palhoça 2019

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Page 1: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

PEDRO HENRIQUE AMARAL FERREIRA

ACIDENTES E INCIDENTES AERONÁUTICOS NO BRASIL OCORRIDOS NOS

ÚLTIMOS ANOS, TENDO COMO FATOR CONTRIBUINTE CONDIÇÕES

METEOROLÓGICAS ADVERSAS

Palhoça

2019

Page 2: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

PEDRO HENRIQUE AMARAL FERREIRA

ACIDENTES E INCIDENTES AERONÁUTICOS NO BRASIL OCORRIDOS NOS

ÚLTIMOS ANOS, TENDO COMO FATOR CONTRIBUINTE CONDIÇÕES

METEOROLÓGICAS ADVERSAS

Monografia apresentada ao Curso de graduação

em Ciências Aeronáuticas, da Universidade do

Sul de Santa Catarina, como requisito parcial

para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Cleo Marcus Garcia, Msc

Palhoça

2019

Page 3: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

PEDRO HENRIQUE AMARAL FERREIRA

ACIDENTES E INCIDENTES AERONÁUTICOS NO BRASIL OCORRIDOS NOS

ÚLTIMOS ANOS, TENDO COMO FATOR CONTRIBUINTE CONDIÇÕES

METEOROLÓGICAS ADVERSAS

Esta monografia foi julgada adequada à

obtenção do título de Bacharel em Ciências

Aeronáuticas e aprovada em sua forma final

pelo Curso de Ciências Aeronáuticas, da

Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 30 de abril de 2019.

__________________________________________

Orientador: Prof. Cleo Marcus Garcia, Msc

__________________________________________

Avaliador: Prof. Orlando Flavio Silva, Esp

Page 4: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

AGRADECIMENTOS

Agradeço principalmente a Deus e a meus pais, que são meu porto seguro, por mais

este passo importante em minha vida.

A meus irmãos, familiares, amigos, em especial ao amigo Helder pelo apoio.

A esta Universidade, ao meu orientador por toda paciência, suporte e correções,

além dos incentivos “céu de brigadeiro”.

E a todos que de alguma forma fizeram parte de minha formação, meu sincero

agradecimento.

Page 5: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

RESUMO

Desde a origem da aviação e seus primeiros voos, as condições meteorológicas adversas estão

classificadas entre os fatores contribuintes de maior preocupação quando consideramos os

acidentes e incidentes ocorridos ao longo dos anos. Diante disto, efetuaremos uma análise dos

índices disponibilizados pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos

(CENIPA), a fim de colaborar com a comunidade aeronáutica, visando a redução destes tipos

de ocorrências. Nesta pesquisa abordaremos um dos fatores contribuintes principais, as

condições meteorológicas adversas, além de gráficos que nos darão a visão geral do impacto

deste fator nos acidentes e incidentes aeronáuticos, reforçando a importância quanto as

operações de voos serem executadas dentro das normas e regulamentação vigentes, além dos

treinamentos de tripulação e uso de tecnologia. Foram feitos levantamentos estatísticos

produzidos através de relatórios pelas organizações e autoridades nacionais e internacionais,

em que se constatou a importância de criação de campanhas de prevenção e a participação ativa

destes órgãos na busca pela redução destes índices e melhoria na segurança de voo.

Palavras-chave: Condições meteorológicas adversas. Segurança de voo. Prevenção de

acidentes.

Page 6: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

ABSTRACT

Ever since the beginning of aviation and its first flights, adverse weather conditions have been

classified among the most critical contributing factors in accidents and incidents along the

years. Considering this scenario, this research will make an analysis of accidents and incident

rates with data provided by CENIPA, Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes

Aeronáuticos, in order to contribute to the aeronautical community on the reduction of these

kinds of occurrences. In this study we will address one of the most common contributing factors

in accidents and incidents: adverse weather conditions, by presenting graphs, which will

provide a general scenario of the impact of this matter in aeronautical accidents and incidents,

reinforcing the importance from the operators of adherence to the rules of the air and current

aviation regulations and guidelines, crew training and correct use of technology. Statistic data

gathered from national and international aviation organizations authorities’ reports lead to the

conclusion that campaigns of aviation safety are needed in order to prevent these occurrences

and reduction of these rates. A more active participation of the national aviation regulator was

also considered a major factor in order to improve the safety of flight.

Keywords: Adverse weather conditions. Safety of flight. Accident prevention.

Page 7: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Taxa de acidentes totais (acidentes por milhões de decolagens) em 2017 e taxa média

entre 2012 e 2016 para diferentes regiões, conforme classificação IATA ............................... 18

Figura 2 – Zona de convergência Intertropical (ZCIT) ............................................................ 26

Figura 3 – Influência da TSM do Atlântico Tropical na posição ZCIT ................................... 27

Figura 4 – Trajeto do voo AF447 ............................................................................................. 27

Figura 5 – Últimos minutos do voo AF447 .............................................................................. 28

Figura 6 – ZCIT – área do acidente voo AF447 ....................................................................... 29

Figura 7 – Trajetória de descida do PR-SOM em relação à propriedade do operador da aeronave

.................................................................................................................................................. 35

Figura 8 – Reconstituição do perfil de descida da aeronave .................................................... 36

Figura 9 – Perfil da trajetória durante a primeira tentativa de aproximação ............................ 36

Figura 10 – Perfil da trajetória durante a segunda tentativa de aproximação........................... 37

Figura 11 – Trajetória estimada entre a última posição do EGPWS e o ponto de impacto ..... 38

Figura 12 – Final da cabeceira 28 de Paraty (SDTK)............................................................... 39

Figura 13 – Carta SIGWX do dia 19Jan2017 das 12h00 UTC. Paraty no círculo vermelho ... 39

Figura 14 – Análise sinótica do dia 19Jan2017 ........................................................................ 40

Figura 15 – Imagem do RADAR meteorológioc do Pico do Couto das 15h46 UTC .............. 41

Figura 16 – Comparativo de condições de visibilidade no local da queda da aeronave .......... 41

Page 8: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Ranking de implementação efetiva (EI) da OACI .................................................. 19

Tabela 2 – Acidentes na região de Paraty e Angra (RJ), nos 10 anos anteriores ao acidente da

aeronave PR-SOM .................................................................................................................... 43

Page 9: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Acidentes e Incidentes – Avaliação equivocada das condições meteorológicas ... 25

Gráfico 2 – Acidentes Aeronáuticos 2006 a 2015 .................................................................... 30

Gráfico 3 – Acidentes Aeronáuticos – Condições meteorológicas adversas como fator

contribuinte entre 2006 e 2015 ................................................................................................. 31

Gráfico 4 – Incidentes Aeronáuticos 2006 a 2015 ................................................................... 31

Gráfico 5 – Incidentes Aeronáuticos – Condições meteorológicas adversas como fator

contribuinte entre 2006 e 2015 ................................................................................................. 32

Gráfico 6 – Evolução da quantidade de aeronaves registradas no RAB - ANAC.................... 33

Page 10: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFIS Aerodrome Flight Information Service

ANAC Agência Nacional de Aviação Civil

APP Approach Control

ATC Air Traffic Control

ATS Air Traffic Services

BEA Bureau d’Enquêtes et d’Analyses

CB Cumulus Nimbus

CENIPA Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos

CFIT Controlled flight into terrain

CGNA Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea

CINDACTA Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo

CMAO Continuous Monitoring Approach

CMV-CW Centro Meteorológico de Vigilância de Curitiba

CRM Crew Resources Management

CVR Cockpit Voice Recorder

DECEA Departamento de Controle do Espaço Aéreo

EGPWS Enchanced Ground Proximity and Wind Shear Detection

EI Implementação Efetiva

FAA Federal Aviation Administration

FAB Força Aérea Brasileira

FCA Folheto do Comando da Aeronáutica

FT Feet

GAMET General Aviation Meteorological Information

GPS Global Positioning System

IATA International Air Transport Association

ICA Instrução do Comando da Aeronáutica

ICAO International Civil Aviation Organization

IFR Instrument Flight Rules

IMC Instrument Meteorological Conditions

METAR Meteorological Aerodrome Report

MPF Ministério Público Federal

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NSCA Norma do Sistema do Comanda da Aeronáutica

NTSB National Transportation Safety Board

OACI Organização de Aviação Civil Internacional

RADAR Radio Detection And Ranging

RASO Relatório Anual de Segurança Operacional

REDEMET Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica

RF Relatório Final

RNAV Area Navigation

SDAG Designativo do aeródromo de Angra dos Reis-RJ

SDTK Designativo do aeródromo de Paraty-RJ

SIGWX Significant Weather Chart

SIPAER Serviço de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos

STF Supremo Tribunal Federal

TCU Towering Cumulus

TSB Transportation Safety Board

TSM Temperatura da Superfície do Mar

USOAP Universal Safety Oversight Audit Programme

UTC Universal Time Coordinated

VFR Visual Flight Rules

ZCIT Zona de Convergência Intertropical

ZCOU Zona de Convergência de Umidade

Page 12: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 14

1.1 PROBLEMÁTICA .......................................................................................................... 15

1.2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 15

1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................. 15

1.2.2 Objetivos Específicos................................................................................................... 15

1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 15

1.4 METODOLOGIA ............................................................................................................ 16

1.4.1 Natureza da pesquisa e tipo de pesquisa ................................................................... 16

1.4.2 Materiais e métodos .................................................................................................... 16

1.4.3 Procedimentos de coleta de dados.............................................................................. 17

1.4.4 Procedimentos de análise de dados ............................................................................ 17

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ............................................................................... 17

2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 18

2.1 PANORAMA DE AVIAÇÃO MUNDIAL ..................................................................... 18

2.2 DEFINIÇÃO DE ACIDENTES E INCIDENTES AÉREOS .......................................... 19

2.2.1 Lesão grave .................................................................................................................. 21

2.3 FATORES CONTRIBUINTES ....................................................................................... 21

2.4 METEOROLOGIA AERONÁUTICA ............................................................................ 23

2.4.1 Fatores que podem contribuir para uma avaliação equivocada das condições

meteorológicas ......................................................................................................................... 25

2.4.2 Períodos específicos de agravo meteorológico .......................................................... 26

2.4.3 Fontes de informações meteorológicas ...................................................................... 29

3 ACIDENTES E INCIDENTES AÉREOS NO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS ...... 30

3.1 ACIDENTES AÉREOS NO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS ..................................... 30

3.2 ACIDENTES AÉREOS NO BRASIL COM FATOR CONTRIBUINTE AS

CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS NOS ÚLTIMOS ANOS ........................ 30

3.3 INCIDENTES AÉREOS NO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS .................................... 31

3.4 INCIDENTES AÉREOS NO BRASIL COM FATOR CONTRIBUINTE AS

CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS NOS ÚLTIMOS ANOS ........................ 32

3.4.1 Evolução de aeronaves na frota brasileira ................................................................ 32

4 CULTURA E NEGLIGÊNCIA OPERACIONAL ........................................................ 34

4.1 ESTUDO DE CASO DA AERONAVE PREFIXO PR-SOM ........................................ 34

Page 13: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

4.1.1 Dados do voo ................................................................................................................ 35

4.1.2 CVR (Cockpit Voice Recorder) e exames ................................................................... 38

4.1.3 Aeródromo ................................................................................................................... 38

4.1.4 Informações meteorológicas ....................................................................................... 39

4.1.5 Fatores contribuintes .................................................................................................. 42

4.1.6 Semelhanças com outros acidentes ............................................................................ 42

4.2 ENSINAMENTOS E MEDIDAS PREVENTIVAS PARA MITIGAÇÃO DE

ACIDENTES E INCIDENTES AERONÁUTICOS ................................................................ 43

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 45

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 47

Page 14: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

14

1 INTRODUÇÃO

A aviação é um dos meios de transporte mais importantes atualmente em todo o

mundo. Com a evolução da tecnologia e o aumento do número de aeronaves em nosso país ao

longo dos anos, é de extrema importância e necessária a segurança dos voos, tanto para

passageiros como para a comunidade aeronáutica.

Desde que se iniciou a aviação até os dias atuais, os incidentes e acidentes

aeronáuticos sofreram uma ampla redução, a partir de pesquisas realizadas e a identificação dos

perigos, mitigando os riscos e cada dia mais utilizando de tecnologia como auxílio à navegação

aérea. Para essa análise se tornar factível, foram estudados diversos acidentes e incidentes ao

longo dos anos da aviação. Um dos temas recorrentes e que será abordado nessa pesquisa é o

fator meteorológico como contribuinte nestes casos, que apesar da redução citada acima é um

tema recorrente em muitos casos nos últimos anos no Brasil.

No passado nota-se que acidentes semelhantes eram mais comuns se comparados

com hoje em dia. Diante desta afirmativa, o setor aeronáutico aprendeu com os erros e concluiu

que é de extrema necessidade e importância uma atenção preditiva e constante visando o

gerenciamento da segurança operacional.

Por se tratar de um tema que abrange inúmeros fatores ou erros para ser abordado,

o foco da pesquisa será as condições meteorológicas adversas como fator contribuinte para os

casos de incidentes e acidentes. Para que isso se materializasse, o método de pesquisa baseou-

se em revisão literária de documentos junto aos órgãos governamentais, através do Relatório

Anual de Segurança Operacional (RASO) e Relatório Mensal de Segurança Operacional

(RASO) da Agencia Nacional de Aviação Civil (ANAC), autoridades aeronáuticas e empresas

voltadas para segurança operacional, podendo ser citadas FlightSafety e CAE Simuflite. Além

dos relatórios acima, a análise de dados nacionais brasileiros atualizados de acidentes

aeronáuticos foi primordial, publicado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes

Aeronáuticos (CENIPA), através do relatório Panorama Estatístico da Aviação Brasileira (FCA

58-1/2016).

Ansiamos que o estudo atenda como meio informativo e de conscientização para a

sociedade aeronáutica, a brasileira em principal, com a contribuição da melhoria da segurança

operacional.

Page 15: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

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1.1 PROBLEMÁTICA

Quais acidentes e incidentes aeronáuticos ocorreram no Brasil nos últimos anos,

tendo como fator contribuinte as condições meteorológicas adversas?

1.2 OBJETIVOS

Apresentar objetivos geral e específicos.

1.2.1 Objetivo Geral

Analisar os índices de acidentes e incidentes aeronáuticos tendo como fator

contribuinte as condições meteorológicas adversas no Brasil afim de colaborar com a

comunidade aeronáutica para a redução deste tipo de acidente.

1.2.2 Objetivos Específicos

a) Apresentar dados sobre acidentes e incidentes no Brasil que tem como fator contribuinte

as condições meteorológicas adversas;

b) Verificar fenômenos naturais que agravam períodos específicos no Brasil;

c) Identificar, do ponto de vista técnico e na ótica da legislação aeronáutica, fatores

comuns nestes incidentes e acidentes;

d) Identificar fatores negligenciais operacionais;

e) Identificar medidas preventivas para reduzir a probabilidade e/ou severidade de novos

eventos;

1.3 JUSTIFICATIVA

O tema da pesquisa foi escolhido, para analisar os índices de acidentes e incidentes

aeronáuticos tendo como fator contribuinte as condições meteorológicas adversas no Brasil,

pois por motivos diversos os tripulantes correm riscos desnecessários, seja por falta de

treinamento, seja por falta de informação ou por negligência operacional.

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1.4 METODOLOGIA

1.4.1 Natureza da pesquisa e tipo de pesquisa

A natureza da pesquisa é explicativa, no âmbito de identificar fatores contribuintes

para a ocorrência dos acidentes e incidentes aeronáuticos. Neste trabalho, são utilizadas as

informações estatísticas, pesquisa bibliográfica, desenvolvida através da análise de ocorrências

aeronáuticas, pelo Panorama Estatístico da Aviação Brasileira, publicado pelo Centro de

Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA). Segundo GIL (2008), a pesquisa explicativa

tem como objetivo básico a identificação dos fatores que determinam ou que contribuem para

a ocorrência de um fenômeno. É o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da

realidade, pois tenta explicar a razão e as relações de causa e efeito dos fenômenos. A pesquisa

causal baseia-se, muitas vezes, em experimentos, envolvendo hipóteses especulativas,

definindo relações causais.

Para LAKATOS & MARCONI (2001), este tipo de pesquisa visa estabelecer

relações de causa-efeito por meio da manipulação direta das variáveis relativas ao objeto de

estudo, buscando identificar as causas do fenômeno.

1.4.2 Materiais e métodos

Os materiais e métodos utilizados para a pesquisa foram bibliográficos e

documentais:

• Panorama Estatístico da Aviação Brasileira, publicado pelo Centro de Prevenção de

Acidentes Aeronáuticos (CENIPA).

• Relatórios de Acidentes e Incidentes aeronáuticos publicados pelo CENIPA.

• Relatório Anual de Segurança Operacional (RASO) – ANAC.

• Documentos diversos sobre legislação regendo a Aviação Civil Brasileira.

Page 17: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

17

1.4.3 Procedimentos de coleta de dados

No que tange à coleta de dados, classifica-se como bibliográfica e documental.

Segundo DUARTE (2002), a coleta de dados bibliográficos é resultante da

combinação de diversas fontes o que fundamentam o trabalho pelo conhecimento teórico

oferecido e documental, pois é realizada através de documentos que sofreram tratamento

analítico.

Os documentos a serem analisados serão de diversos órgãos ligados a aviação civil

brasileira, da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e do Centro de Prevenção de

Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), por serem órgãos oficiais em relação ao tema proposto.

Além destes, a bibliografia da ICAO, FAA e obras de autores do ramo aeronáutico serão

considerados;

1.4.4 Procedimentos de análise de dados

Foram feitas leituras dos materiais, organização das informações estatísticas a

respeito do tema e procedeu-se a análise dos dados.

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O presente trabalho está dividido em cinco capítulos. No primeiro capítulo traz as

informações introdutórias e apresentação geral da pesquisa abordada, além dos objetivos,

problema, justificativa e metodologia adotada. No segundo o panorama geral e atualizado, além

da definição teórica dos assuntos relacionados ao tema, apresentando as ocorrências de

aprendizado histórico, já no capítulo terceiro abordaremos os levantamentos estatísticos,

juntamente com os gráficos com ênfase no histórico da redução do número de acidentes. No

quarto capítulo discorreremos sobre a cultura e a negligência operacional e as formas de

combate com foco na melhoria da segurança operacional, através do cumprimento das normas

e regulamentos e o quinto e último, conclui o trabalho através das considerações finais.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 PANORAMA DE AVIAÇÃO MUNDIAL

O transporte aéreo de passageiros vem ano após ano demonstrando estar entre os

mais seguros do mundo, segundo MARTINS (2015) ele só perde para elevadores no quesito de

segurança. Neste sentido as mais conceituadas organizações ligadas a aviação publicam os

números gerais de desempenho da segurança operacional, são elas a International Air Transport

Association (IATA) e a Organização Internacional de Aviação Civil (OACI), também

conhecida por International Civil Aviation Organization (ICAO).

Conforme ANAC (2017), a figura abaixo mostra o desempenho da aviação

comercial mundial com as taxas¹ de acidentes por milhão de decolagens em 2017, além das

taxas médias do período de 2012 a 2016, conforme agrupamento regional utilizado pela IATA

(2017).

Figura 1 – Taxa de acidentes totais (acidentes por milhões de decolagens) em 2017 e

taxa média entre 2012 e 2016 para diferentes regiões, conforme classificação IATA

Fonte: ANAC, CENIPA e IATA, 2017

______________________

1.As taxas de acidentes consideradas no gráfico em questão referem-se ao número de acidentes por milhão de

decolagens envolvendo voos comerciais de operações regulares e não regulares, incluindo voos de translado, para

aeronaves com PMD acima de 5700kg.

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19

No atual cenário o Brasil tem uma taxa de 1,16 no ano de 2017 e a média de 2012

a 2016 está em 1,42, apresentado de forma individual para facilitar o comparativo com o

restante do mundo.

Outro parâmetro relevante é o resultado dos indicadores do Programa Universal

Safety Oversight Audit Programme – Continuous Monitoring Approach (USOAP-CMAO) da

OACI (2017), que monitora a capacidade dos Estados em realizar a vigilância da segurança

operacional de sua aviação, onde o monitoramento é continuo através de questionários e

auditorias seguindo os padrões internacionais de segurança, com avaliação inclusive de

regulamentos e procedimentos. De acordo com o relatório RASO (2017), a última auditoria

realizada no Brasil ocorreu em 2015 e o indicador que antes era de 87,6% passou para 95,14%

de aderência aos padrões estabelecidos pela OACI (2017).

Tabela 1 - Ranking de implementação efetiva (EI) da OACI

Países Indicador EI

Emirados Árabes Unidos 98,91%

Singapura 98,60%

República da Coreia 98,48%

França 96,00%

Brasil 95,14%

Canadá 95,10%

Irlanda 95,06%

Austrália 95,02%

Chile 94,65%

Nicarágua 94,55% Fonte: ANAC, 2017.

2.2 DEFINIÇÃO DE ACIDENTES E INCIDENTES AÉREOS

De acordo com NABUCO (2016), os acidentes aéreos fatais como por exemplo, a

queda do avião que transportava a delegação Chapecoense levando à morte mais de 70 pessoas

a bordo, ou o acidente da TAM voo 3054 em Congonhas que levou à morte 199 pessoas,

costumam causar pavor na população e com isso aumentar o medo que as pessoas têm em voar.

Apesar de considerado um meio de transporte muito seguro, voar não é uma atividade isenta de

acidentes e incidentes, como qualquer outra atividade humana, o que torna este medo em voar

legitimado. Com isto, o ramo aeronáutico, como tem feito sempre, busca sempre a mitigação

destes riscos.

Page 20: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

20

Segundo a ANAC (2012), existem diferenças relevantes que destacaremos sobre a

diferença entre acidentes e incidentes aeronáuticos. São considerados acidentes aeronáuticos as

ocorrências compreendidas entre o momento de embarque (com a intenção de realizar um voo)

e desembarque que resultam ao passageiro em no mínimo uma das situações abaixo:

a) Morte ou lesão grave em decorrência de:

I. estar na aeronave,

II. em contato direto com qualquer de suas partes, incluindo aquelas que dela

tenham se desprendido,

III. ou submetido à exposição direta do sopro de hélice, rotor ou escapamento

de jato, ou às suas consequências.

b) A aeronave sofra dano ou falha estrutural que:

I. Afete adversamente a resistência estrutural, o seu desempenho ou as suas

características de voo ou,

II. Caso exija a substituição de grandes componentes ou a realização de

grandes reparos no componente afetado.

c) A aeronave seja considerada desaparecida ou inacessível.

(NSCA, 2008 apud ANAC, 2012, p. 6).

Já os incidentes aeronáuticos são as ocorrências associadas a operação das

aeronaves, em que a segurança da operação tenha sido afetada ou eventual possibilidade de

ocorrer, mas sem que caracterize um acidente. Descreve-se um incidente quando há alguma

anormalidade na operação de voo, porém não há nenhuma ocorrência que resulte em acidente.

Classificamos ainda, incidentes como graves nas situações abaixo:

a) Incapacidade ou falta de habilitação da tripulação.

b) Tentativas de aterrissagem ou Aterrissagens em pista fechada ou ocupada.

c) Uma manobra evasiva para evitar colisão ou situação de perigo para a segurança

do voo.

d) Decolagens interrompidas por diversos motivos ou efetuadas de uma pista

fechada.

e) Falhas estruturais da aeronave ou motor que não se enquadre como acidente.

f) Ocorrências que obriguem a utilizar em emergência o oxigênio.

g) Mau funcionamento de sistemas operacionais.

h) CFIT – voo controlado contra o terreno marginalmente evitado.

Page 21: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

21

i) Falta de combustível para cumprir a etapa onde seja necessário a declaração de

emergência em voo.

j) Qualquer falha grave que agrave o desempenho previsto durante decolagem ou

subida inicial, ou operações efetuadas fora do envelope de voo.

k) Fogo ou fumaça na cabine e/ou aeronave.

l) Aterrissagens antes ou posterior da pista, ou saída pelas laterais.

m) Fenômenos meteorológicos que ocasionam dificuldades para o controle da

aeronave.

(NSCA, 2008 apud ANAC, 2012)

Com isto, acidentes e incidentes no ramo aeronáutico são resultados de uma

sequência de quebra de fatores importantes como: omissões, planejamento inadequado, falhas,

desatenção, condutas equivocadas, etc., que isoladamente ou quando combinados podem

ocasionar ocorrências desastrosas.

2.2.1 Lesão grave

É qualquer lesão que uma pessoa sofra, ocasionada em um acidente, e que:

a) Hospitalize-se por mais de 48 horas.

b) Danos a qualquer órgão interno.

c) Frature qualquer osso.

d) Cause lesões nos nervos, músculos ou tendões, ou hemorragias graves.

e) Seja exposto a radiações prejudiciais ou a substâncias infecciosas.

f) Tenha queimaduras em mais de 5% do corpo.

2.3 FATORES CONTRIBUINTES

Os fatores contribuintes na aviação são classificados em “fator humano”, “fator

material” e “fator operacional”, baseados no trinômio “Homem, meio e máquina” do CENIPA

(2017).

O erro humano na avaliação tradicional, tanto para acidentes como incidentes, era

visto como único responsável ignorando os demais aspectos. Devido aos novos modelos de

gestão da segurança operacional, o fator humano foi associado a outras questões facilitadoras

Page 22: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

22

como a ergonomia física, que abrange postura, distúrbios músculo esqueléticos; saúde; fadiga;

alterações no ritmo circadiano; sono; saúde e desempenho; estresse; uso de álcool ou outras

drogas; trabalho em equipe; liderança, comunicação; motivação; tratamento de informações;

personalidade, atitudes e crenças; além dos aspectos ergonômicos de construção dos postos de

trabalho e também a ergonomia cognitiva que se refere a memória, raciocínio e a interação

principalmente CRM entre tripulantes, etc. (ANAC, 2010, p.6).

Os acidentes aeronáuticos costumam resultar em uma cadeia de eventos, e muitas

vezes, o erro humano é o responsável por esse desencadeamento. (WEIGMANN E SHAPBELL

2003, apud CAMPOS, 2013). De acordo com o National Transportation Safety Board (NTSB,

2010, apud CAMPOS, 2013), há uma grande dificuldade em reduzir os índices de acidentes

relacionados ao erro humano. Porém, somente após James Reason publicar seu livro Human

Error (Erro Humano), em 1990, que as autoridades aeronáuticas abriram os olhos e passaram

a estudar esse fator.

Em sua obra, REASON (1990), apresenta uma visão geral sobre a ocorrência de

acidentes em sistemas complexos e desenvolve um modelo para demonstrar as falhas causais.

No conceito do autor, o erro humano é analisado a partir de uma série de eventos que envolvem

toda a organização. De acordo com essa abordagem, os acidentes decorrem de falhas no sistema

organizacional, isto é, a origem de desastres está nas decisões gerenciais ou de supervisão.

Assim, o erro cometido pelos tripulantes é considerado um fator contribuinte, que se soma a

outros eventos, resultando em um acidente. (REASON, 1990).

Segundo a ICAO (1998), em seu Manual de Treinamentos sobre Fatores Humanos

– o DOC 9683 –, lançado em 1998, assume uma certa dificuldade em definir o conceito de

Fatores Humanos. É um termo que ainda precisa ser definido de forma mais clara, pois quando

é utilizado na linguagem do dia a dia, aplica-se a qualquer fator relacionado aos seres humanos.

O aspecto humano é a parte mais flexível, adaptável e valiosa dentro do ramo aeronáutico, mas

é também a que está mais vulnerável às influências externas que poderão vir a afetar

negativamente o seu desempenho. (ICAO, 1998). Em outras palavras, significa dizer que o ser

humano tem um grande valor dentro do sistema aeronáutico, por ter a capacidade de se adaptar

e de ser flexível, porém pode ser facilmente influenciado por fatores externos, causando

insegurança à operação. Apesar de assumir a dificuldade em encontrar uma definição exata, o

manual estabelece que fatores humanos se referem aos indivíduos em situações de vida e de

trabalho, na execução de procedimentos ou interação com máquinas, pessoas e ambientes.

Ainda de acordo com a ICAO (1998), o conceito de fator humano tem relação com

o estudo das capacidades e das limitações humanas oferecidas pelo local de trabalho, enquanto

Page 23: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

23

a FAA (2009, apud CAMPOS, 2013) estabelece que este entendimento envolve a união de

cuidados médicos, pessoais e biológicos, no sentido de manter a operação aérea de forma

segura. (ICAO, 1998; FAA, 2009, apud CAMPOS, 2013). Por isso surgiu a necessidade do

estudo dos fatores humanos no ramo aeronáutico, dado que este elemento abrange inúmeros

aspectos do comportamento humano. Dentre eles, o destaque é a tomada de decisão, que

infelizmente causa erros e, consequentemente, acidentes.

Já o fator material, está diretamente relacionado a defeitos de fabricação, erro de

manuseio ou a engenharia da aeronave, etc. Segundo REASON (2005) considera que acidentes

são resultantes de combinações, nem sempre previsíveis, de fatores humanos e operacionais

dentro de um sistema complexo. Seu modelo de acidente organizacional explica esses eventos

com a ocorrência de falhas ou faltas de barreiras e salvaguardas desenvolvidas no sistema para

minimizar a chance de acidentes. As falhas ativas acontecem nas proximidades do desfecho do

acidente envolvendo comportamentos (decisões, ações ou omissões) de operadores e são de

difícil previsão e controle. Essas falhas ativas têm origens em condições latentes relacionadas

a fatores técnicos e organizacionais presentes no sistema bem antes da ocorrência de acidentes.

Com base no modelo de Reason, o modelo Human Factors Analysis and Classification System

(HFACS) tem sido utilizado para análise de acidentes, pois permite identificar um grande

número de fatores contribuintes para a ocorrência de acidentes.

Os fatores operacionais, são aqueles que envolvem a relação das aeronaves e seus

equipamentos de apoio, inclusive aqueles de logística e controle de navegação, composto por

tripulação, manutenção, apoio de solo e suas inter-relações. Além disto, os fatores ambientais,

incluindo condições meteorológicas adversas, fenômenos naturais e também a regulamentação

e regras de tráfego aéreo. Na lista de fatores contribuintes do CENIPA, destacam-se aspectos

centrados em pessoas e naqueles representados no grupo dos fatores operacionais. Estes últimos

foram considerados nas análises realizadas pelo CENIPA em conjunto com os demais do grupo

dos fatores humanos. A construção de instrumentos de análise de acidentes que explicitem tanto

a natureza relacional quanto à existência de interações de diversos dispositivos técnicos em

comportamentos em situação de trabalho ainda é um desafio.

2.4 METEOROLOGIA AERONÁUTICA

A Meteorologia Aeronáutica é o ramo da meteorologia aplicado à aviação que

visa contribuir para a garantia dos padrões de segurança, de economia e de eficiência dos voos.

Page 24: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

24

No Brasil, a estrutura do serviço de meteorologia aeronáutica compreende uma rede de estações

e centros meteorológicos, objetivando o processo de coleta de dados para aplicação nas

atividades aéreas. O trabalho dos meteorologistas consiste em fazer observações visuais

(quantidade e altura de nuvens, velocidade e direção dos ventos) nos aeroportos colher dados

de estações e radares meteorológicos, interpretar os dados produzindo previsões

meteorológicas específicas para a região do aeródromo e rotas aéreas, muito mais detalhadas

que as previsões vistas nos telejornais, assim como divulgar esses dados à tripulação. A

meteorologia é indispensável para os controladores de tráfego aéreo exercerem suas funções,

colhendo e interpretando os dados meteorológicos, para assim controlarem e instruírem a

tripulação quanto a pousos, decolagens, arremetidas, etc.

As condições meteorológicas adversas podem ocasionar realmente acidentes e

incidentes à aviação. Nesse contexto, a seguir são apresentadas condições adversas que

tripulantes e meteorologistas devem ter em seu planejamento visando maior segurança de voo

(SONNEMAKER, 2012).

Iniciando pelas nuvens, que é um aglomerado de partículas de água. SOUZA (2014)

aponta, no entanto, que nem todas as nuvens caracterizam condição meteorológica adversa para

aviação, porém podem ocasionar turbulências fortes que colocam em risco a segurança de voo,

além de gerar teto baixo, que é a pouca visibilidade para o tripulante (principalmente em voos

visuais). Algumas nuvens formadas com instabilidade do ar podem ainda estarem associadas a

chuvas fortes, rajadas de vento, granizos e tornados, FERREIRA (2006). A única nuvem capas

de produzir as trovoadas é a cumulonimbus, que tem em seu interior grande quantidade de água,

neve e gelo, que com ar agitado e úmido pode gerar fortes descargas elétricas (raios) pela

energia acumulada. SOUZA (2014) explica que a segurança da operação e da aeronave é

colocada em risco, pois podem danificar sistemas automáticos e elétricos da aeronave.

Observamos que operações de pousos e decolagens tem uma situação crítica quando

ocorrem trovoadas, pois podem ocorrer de a aeronave efetuar uma descida abrupta, o

Downburst, ou ainda o Wind Shear que ocorre quando essas trovoadas estão localizadas na

cabeceira da pista, onde as correntes de vento ficam em um estágio indefinido, provocando

fortes turbulências durante a aproximação. Outros fatores são os ventos e a corrente de jato, que

ocorrem na atmosfera que podem influenciar diretamente no planejamento do voo, ventos fortes

podem causar danos às aeronaves, além dificultar devido as turbulências a eles associados.

Outros três fatores são as frentes, os tornados e os nevoeiros, as frentes se estendem

por quilômetros e ocorrem com variações de temperaturas, com uma mistura de ar quente e frio,

gerando uma diferença na densidade do ar, que resulta em elevação de uma massa sobre a outra,

Page 25: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

25

provocando nebulosidade, chuvas, trovoadas acompanhadas de granizo, tempo severo e intensa

precipitação. Os tornados são tempestades violentas de ar que em coluna giratória se estende

para baixo de uma nuvem e os nevoeiros que apesar de ser estável, restringem a visibilidade

tanto vertical, como horizontal dos tripulantes, prejudicando a operação no momento mais

crítico, que é no pouso e/ou decolagem.

2.4.1 Fatores que podem contribuir para uma avaliação equivocada das condições

meteorológicas

De acordo com o CENIPA (2018), através de seu painel SIPAER, foram registrados

38 das 121 ocorrências de acidentes e incidentes, em que as condições meteorológicas adversas

com avaliação inadequada atuaram como possíveis fatores contribuintes no período de 2007 a

2017, conforme gráfico a seguir:

Fonte: SIPAER, 2018.

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Avaliação inadequada das condições meteorológicas

Trovoadas

Rajadas de vento

Nevoeiro

Vento de través

Turbulencia

Windshear

Chuva

Formação de gelo

Descargas elétricas

Chuva leve e pista contaminada

Vento de cauda

Teto baixo

Gráfico 1 - Acidentes e Incidentes - Avaliação equivocada das

condições meteorológicas

Page 26: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

26

As ocorrências apontam ainda outros fatores que podem ter contribuído para esta

avaliação equivocada das condições meteorológicas, que são:

• Erro de interpretação das informações.

• Indisponibilidade de informações.

• Autoconfiança.

• Pressões externas.

2.4.2 Períodos específicos de agravo meteorológico

Zonas de convergência são sistemas meteorológicos que tem forte influência sobre

o tempo e o clima e se caracterizam por ser uma interação entre eventos meteorológicos das

latitudes médias e tropicais. Segundo HASTENRATH E LAMB (1977), essas zonas não se

apresentam sobre a mesma faixa de latitude e sim próximas umas das outras interagindo entre

si.

A mais relevante para a aviação brasileira é a Zona de Convergência Intertropical

(ZCIT), sistema meteorológico que determina se haverá abundância ou falta de chuvas na parte

Norte do Nordeste do Brasil. A seguir ilustração da ZCIT e zona de atuação.

Figura 2 – Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)

Fonte: Global, 2018.

Outro fator que afeta o posicionamento da Zona de Convergência Intertropical

(ZCIT) é a temperatura da superfície do mar (TSM) do Atlântico, que pode causar períodos

excepcionalmente secos ou chuvosos na região, conforme figura a seguir:

Page 27: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

27

Figura 3 – Influência da TSM do Atlântico Tropical na posição da ZCIT

Fonte: Confins, 2016

Temos como exemplo o acidente do voo da Air France – AF447 de 2009, o A330-

200 perdeu contato com o CINDACTA III, próximo a Fernando de Noronha no dia 01 de junho

de 2009 com os destroços encontrados dias após somente.

Figura 4 – Trajeto do voo AF447

Fonte: Globo, 2009.

Page 28: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

28

Figura 5 – Últimos minutos do voo AF447

Fonte: Globo, 2012.

O acidente do voo da Air France – AF447, segundo a Agência Bureau d’Enquêtes

et d’Analyses (BEA, France), órgão Francês que analisa os acidentes de seu país apresentou um

relatório em 2012 onde apontou uma combinação de erros de avaliação dos pilotos

(inconsistência temporária das velocidades medidas pelos tripulantes, desestabilização, falha

de procedimento adequado pela tripulação, demora de identificação de trajetória da aeronave e

identificação de aproximação de estol). Segundo o Diretor do BEA JEAN PAUL TROADEC,

2012 “Este acidente resultou de um avião ter sido retirado de seu ambiente operacional normal

por uma equipe que não tinha entendido a situação”.

A associação dos pilotos franceses se posicionou contra tal relatório e em abril de

2014, após ordenação judicial francesa pelas juízas Sylvia Zimmermann e Sabine Kheris e

análise das caixas pretas encontradas somente em abril de 2011 foi anunciado que a queda do

voo deveu-se a “uma reação inadequada da tripulação após a perda momentânea das indicações

de velocidade”, com relatório conclusivo que especificam uma junção de fatores, como erros

humanos, falhas em procedimentos e técnicos da aeronave, além de condições meteorológicas

adversas.

Diante disto, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é um dos possíveis

fatores contribuintes para este acidente.

Page 29: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

29

Figura 6 – ZCIT – área do acidente do voo AF447

Fonte: Estadão, 2009.

2.4.3 Fontes de informações meteorológicas

Para a realização de um voo seguro, o planejamento é a palavra-chave. Dentro deste

planejamento, consultar as condições meteorológicas no trecho, alternativas de rotas, origem e

destino é primordial.

As fontes de consultas disponíveis são:

a) Redemet – www.redemet.aer.mil.br

b) Decea – http://publicacoes.decea.gov.br/?q=meteorologia

c) National Weather Service – http://aviationweather.gov

d) Portal CGNA – http://portal.cgna.gov.br

e) FAA Aviation Weather Cameras

f) Câmeras ao vivo em cidades brasileiras

g) Condições do tempo ao vivo em vários aeroportos,

helipontos: http://www.camerasdotempo.com.br/ e http://www.camerasdotem

po.com.br/members/members.php

h) Radares sobre a região metropolitana de São Paulo

i) Ocorrências de raios em tempo real sobre a América do Sul e Caribe

j) Estações meteorológicas

k) Condições atuais de vento, clima e poluição

l) Monitoramento das condições meteorológicas na capital paulista

m) Previsão do tempo

n) Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais

Page 30: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

30

3 ACIDENTES E INCIDENTES AÉREOS NO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS

Este capítulo apresenta os dados referente aos acidentes e incidentes aeronáuticos

ocorridos no Brasil nos últimos anos, fornecidos pelo Centro de Investigação e Prevenção de

Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), com o objetivo de abordar as condições meteorológicas

adversas como fator contribuinte.

3.1 ACIDENTES AÉREOS NO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS

O gráfico a seguir apresenta quantitativamente os acidentes aeronáuticos ocorridos

entre 2006 e 2015 no Brasil, em média nota-se 130 acidentes por ano aproximadamente e um

total de 1.294 acidentes ocorridos no período, com maior incidente (185) em 2012 e menor (71)

em 2006.

Fonte: CENIPA, 2016

3.2 ACIDENTES AÉREOS NO BRASIL COM FATOR CONTRIBUINTE AS

CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS NOS ÚLTIMOS ANOS

O gráfico a seguir apresenta quantitativamente os acidentes aeronáuticos que

tiveram as condições meteorológicas como fator contribuinte ocorridos entre 2006 e 2015 no

Brasil, em média nota-se 11 casos por ano aproximadamente de um total de 107 acidentes em

que as condições meteorológicas adversas estiveram presentes, segundo os 766 relatórios finais

publicados pelo CENIPA (2016).

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

71

101109 114 115

161

185

165

147

126

Gráfico 2 - Acidentes Aeronáuticos - 2006 a 2015

Page 31: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

31

Dentre os fatores contribuintes, as condições meteorológicas adversas aparecem em

14% aproximadamente dos acidentes do total de relatórios finais publicados.

Fonte: CENIPA, 2016

3.3 INCIDENTES AÉREOS NO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS

O gráfico a seguir apresenta quantitativamente os incidentes aeronáuticos ocorridos

entre 2006 e 2015 no Brasil, em média nota-se 53 incidentes por ano aproximadamente e um

total de 526 incidentes ocorridos no período, com maior incidente (79) em 2012 e menor (23)

em 2007.

Fonte: CENIPA, 2016

0

5

10

15

20

25

30

2006-2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

30

14 15

19

1210

7

Gráfico 3 - Acidentes Aeronáuticos - Condições Meteorológicas

adversas como fator contribuinte entre 2006 a 2015

0

10

20

30

40

50

60

70

80

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

43

23

3640

58

66

79

67 67

47

Gráfico 4 - Incidentes Aeronáuticos - 2006 a 2015

Page 32: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

32

3.4 INCIDENTES AÉREOS NO BRASIL COM FATOR CONTRIBUINTE AS

CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS NOS ÚLTIMOS ANOS

O gráfico a seguir apresenta quantitativamente os incidentes aeronáuticos que

tiveram as condições meteorológicas como fator contribuinte ocorridos entre 2006 e 2015 no

Brasil, em média nota-se 02 casos por ano aproximadamente de um total de 19 incidentes em

que as condições meteorológicas adversas estiveram presentes, segundo os 224 relatórios finais

publicados pelo CENIPA.

Dentre os fatores contribuintes, as condições meteorológicas adversas aparecem em

8,5% aproximadamente dos incidentes do total de relatórios finais publicados.

Fonte: CENIPA, 2016

3.4.1 Evolução de aeronaves na frota brasileira

O gráfico a seguir apresenta quantitativamente a evolução da quantidade de

aeronaves, exceto aeronaves experimentais, registradas no Registro Aeronáutico Brasileiro

(RAB – ANAC) entre 2006 e 2018 no Brasil, nota-se o crescimento da frota brasileira em

aproximadamente 49% ao longo do período, pulando de 11.113 aeronaves em 2006 para 16.528

em 2018, segundo dados publicados pela ANAC.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

2006-2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

5

3 3

1 1

4

2

Gráfico 5 - Incidentes Aeronáuticos - Condições Meteorológicas

adversas como fator contribuinte entre 2006 a 2015

Page 33: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

33

Fonte: ANAC, 2019

0

5000

10000

15000

20000

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

11113 11351 1185712505

1328414236

1501915704 16229 16631 16397 16421 16528

Gráfico 6 - Evolução da quantidade de aeronaves registadas no

RAB - ANAC

Page 34: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

34

4 CULTURA E NEGLIGÊNCIA OPERACIONAL

Ao analisar os relatórios finais publicados pelo CENIPA (2019), nota-se um cenário

acentuado de quebra de disciplina de voo, isto continua matando excessivamente na aviação

geral brasileira. Há em demasia ocorrências onde a aeronave está voando visual em condições

IMC (Instrument Meteorological Conditions - Condição Meteorológica de voo por

Instrumentos), através de um mau julgamento de pilotagem, o piloto decide prosseguir com a

viagem mesmo em condições meteorológicas adversas, indisciplina esta causada por falta de

habilitação para o tipo de voo, planejamento inadequado ou cultura da empresa (pressão

externa). A condição meteorológica adversa é um dos principais fatores contribuintes para

desorientação espacial e a perda de controle da aeronave CENIPA (2019).

Diante disto, este capítulo apresenta o estudo de caso referente ao acidente ocorrido

em 19 de janeiro de 2017 com o então Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori

Zavascki, nas proximidades do aeródromo de Paraty-RJ, onde o King Air C90GT, de matrícula

PR-SOM, que colidiu contra a água, por “perda de controle em voo” sob condições

meteorológicas de visibilidade restrita CENIPA (2017).

O Ministro Teori Zavascki na ocasião era o principal relator da operação Lava-Jato,

o que levantou suspeita de envolvimento político no acidente, o que foi descartado pelo

procurador da República Sr. Igor Miranda (MPF, 2019), afirmou que “as provas forenses, os

depoimentos prestados e a análise do voo da aeronave afastam qualquer indício de

materialidade de crime de homicídio, seja doloso ou culposo”.

4.1 ESTUDO DE CASO DA AERONAVE PREFIXO PR-SOM

Após os capítulos anteriores no trazer as informações objetivando analisar com

dados estatísticos as condições meteorológicas adversas como elemento contribuinte, o presente

trabalho também apresenta este estudo de caso para exemplificar tal fato, com dados do acidente

da aeronave Beechcraft King Air C90GT, de prefixo PR-SOM, bimotor turboélice que no dia

19 de janeiro de 2017 durante a segunda tentativa de aproximação para pouso no aeródromo de

Paraty-RJ, o piloto perdeu contato visual com as referências do terreno, devido às condições

meteorológicas restritas, o que acarretou na perda de controle e o impacto contra a água,

acidente classificado pelo CENIPA (2017) como “Perda de Controle em Voo”, com a morte

dos 05 (cinco) ocupantes da aeronave. Houve ainda a designação de representantes do NTSB

(National Transportation Safety Board) USA, país de projeto e fabricação da aeronave e do

Page 35: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

35

TSB (Transportation Safety Board) Canada, país de projeto e fabricação dos motores. Todos

os dados estão publicados no Relatório Final A-013, disponibilizado pelo Cenipa em 2017

(BRASIL, 2017).

4.1.1 Dados do voo

No dia 19 de janeiro de 2017, a aeronave PR-SOM decolou do aeródromo de

Campo de Marte-SP (SBMT), às 15h01 UTC, com plano de voo apresentado as 10h35 UTC,

aeronave devidamente abastecida com 500 litros (865 libras) para cumprir o trecho de ida e de

volta, com destino ao aeródromo de Paraty-RJ (SDTK), voo particular, a bordo estavam um

piloto e quatro passageiros. (BRASIL, 2017), de acordo com a ATC (Air Traffic Control)-SP

ocorreu sem anormalidades.

A aeronave prosseguiu normalmente, às 15h28 UTC solicitou mudança de regras

de voo para VFR (Visual flight rules ou Regras de Voo Visual) e seguiu, liberado pela APP-

SP, com coordenação de tráfego aéreo na “frequência livre”.

Durante a descida, houve coordenação de tráfego com outra aeronave que havia

decolado do aeródromo de Angra dos Reis-RJ (SDAG), conforme áudio do CVR, realizou a

trajetória que tangenciou uma área de propriedade do operador da aeronave e prosseguiu com

proa da Baía de Paraty, cruzando 3.800 ft, conforme imagem a seguir:

Figura 7 – Trajetória de descida do PR-SOM em relação à propriedade do operador da

aeronave (imagem ilustrativa)

Fonte: CENIPA, 2017

Page 36: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

36

Ao atingir 3.200ft, realizou curva à esquerda com proa Sul e, ao aproximar-se da

linha litorânea, fez curva a direita aproando o aeródromo de Paraty, com ingresso pela pista 28

a 1.500ft. O perfil de descida foi constatado, conforme reconstituição e sincronização dos dados

fornecidos pelo RADAR do APP-SP com as informações do terreno da região do aeródromo

de Paraty, conforme figura a seguir:

Figura 8 – Reconstituição do perfil de descida da aeronave

Fonte: CENIPA, 2017

Às 15h39min54s UTC houve a primeira tentativa de pouso registrada pelo EGPWS.

Após 35 segundos do alerta de Sink Rate, o piloto reporta: “Sierra Oscar Mike setor echo de

Paraty, aguardando um pouquinho, até a chuva passar, melhorar a visibilidade. Mantém mil e

trezentos pés, Sierra Oscar Mike” (sic) e trem recolhido.

Figura 9 – Perfil da trajetória durante a primeira tentativa de aproximação.

Fonte: CENIPA, 2017

Page 37: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

37

O piloto reportou “reingressar” na final de Paraty, com trem baixado e travado cerca

de dois minutos e dez segundos após o recolhimento do trem da primeira tentativa. Às

15h43min56s UTC, final da segunda tentativa registrada pelo EGPWS, a aeronave estava a 270

ft de altura, com 121 kt de ground speed e proa 236º.

Figura 10 – Perfil da trajetória durante a segunda tentativa de aproximação.

Fonte: CENIPA, 2017

Baseado nessas informações foi combinado os dados da última posição no EGPWS,

com a proa da aeronave no momento do impacto, com o áudio do CVR e com o relato de

observadores, que mencionaram que a aeronave apresentava uma grande inclinação de asas à

direita no momento do impacto e a Comissão de Investigação elaborou um modelo matemático

que estima a trajetória, sequência dos eventos e pressupõe uma curva constante no momento do

impacto, com tempo de voo de 31s a partir do último ponto registrado no EGPWS.

A estimativa é que a aeronave iniciou a curva às 15h44min06s UTC, com

velocidade média de 120Kt e inclinação variado em torno de 38º, resultando um fator de carga

médio de 1,27G e com o trem recolhido as 15h44min12s UTC, segundo análise do áudio do

CVR e figura a seguir:

Page 38: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

38

Figura 11 – Trajetória estimada entre a última posição do EGPWS e o ponto de impacto.

Fonte: CENIPA, 2017

4.1.2 CVR (Cockpit Voice Recorder) e exames

Com base nos dados fornecidos pelo CVR (Cockpit Voice Recorder) e análise

técnica dos parâmetros de fala, linguagem e voz, o CENIPA não constatou ou identificou

indícios de nenhuma alteração, uso de substâncias entorpecentes ou alcoólicas. Os exames

toxicológicos após o acidente também não constataram presença de algo que pudesse ter

interferido no desempenho do voo, de modo conclusivo que nenhuma evidência, do ponto de

vista médico, possa ter relação com o desempenho do piloto neste caso específico.

4.1.3 Aeródromo

O aeródromo de Paraty-RJ era público, administrado pela prefeitura municipal

daquela cidade. As operações eram visuais (VFR) em período diurno. A pista possuía

cabeceiras 10 e 28, com dimensão de 700m de comprimento por 23m de largura. A elevação

era de 10ft. (BRASIL, 2017).

A cabeceira da pista 28 era localizada a 590m das margens da Baía de Paraty-RJ e

determinava uma proa de aproximação final no sentido continente, conforme figura a seguir:

Page 39: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

39

Figura 12 – Final da cabeceira 28 de Paraty (SDTK).

Fonte: CENIPA, 2017

4.1.4 Informações meteorológicas

As informações meteorológicas de Paraty-RJ, antes da decolagem eram favoráveis

ao voo visual, havendo a possibilidade de piora por chuva contínua, tempo nublado e presença

de nuvem TCU (Towering Cumulus) a 1.200ft, conforme carta SIGWX de 12h00 UTC com

projeção até as 15h00 UTC abaixo:

Figura 13 – Carta SIGWX do dia 19Jan2017 das 12h00UTC. Paraty no círculo vermelho

Fonte: CENIPA, 2017

Page 40: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

40

Além disto no mesmo dia, as 12h00 UTC observou-se uma ZCOU (Zona de

Convergência de Umidade), que tem característica de nebulosidade organizada e chuvas

intensas em uma área específica sobre a região sudeste do Brasil, como pode notar na imagem

a seguir em azul claro:

Figura 14 – Análise sinótica do dia 19/Jan/2017

Fonte: CENIPA, 2017

A GAMET (General Aviation Meteorological Information) com validade entre

12h00 UTC e 18h00 UTC previa formação de nuvens (CB), trovoadas (TS), visibilidade a 4.000

metros, conforme documento elaborado pelo Centro Meteorológico de Vigilância de Curitiba

(CMV-CW) que continha as informações:

SBCW GAMET VALID 191200/191800 SBGL- SBCW CURITIBA

FIR/SECTORS 04 AND 11 BLW FL100 SECN I SFC VIS : 15/18 4000M

TSRA/RA SECTOR 4 SIGWX : 15/18 ISOL TS SECTOR 4 MT OBSC : MAR

AND MANTIQUEIRA SIG CLD : ISOL EMBD CB AND TCU 2500/ABV

10000FT AGL SECTOR 04 SECN II PSYS : NIL WIND/T : S04 2000FT

VRB/10KT PS24 5000FT VRB/10KT PS18 10000FT 340/10KT PS09 S11

2000FT 010/15KT PS26 5000FT 360/15KT PS19 10000FT 360/15KT PS10

CLD : SCT/BKN CUSC 1500/5000FT AGL AND SCT/BKN ACAS

8000/ABV 10000FT AGL FZLVL : ABV 10000FT AGL MNM QNH :

1008HPA VA : NIL= (CENIPA, RF A-013, 2017, p.16)

Devido a inexistência de METAR (Boletim Meteorológico de Localidade) em

Paraty-RJ, buscou outras fontes e as imagens de RADAR meteorológico da cidade de

Petrópolis, TJ, localizado no Pico do Couto, registrou potencialmente 25mm/h sobre a Baía de

Page 41: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PEDRO HENRIQUE

41

Paraty, formação de nuvens (CB) informação gerada as 15h46 UTC, dois minutos após o

impacto na água e também imagens de câmera na região.

Figura 15 – Imagem do RADAR meteorológico do Pico do Couto das 15h46 UTC

Fonte: CENIPA, 2017

Figura 16 – Comparativo de condições de visibilidade no local da queda da aeronave

Fonte: CENIPA, 2017

Na imagem à esquerda temos o horário de decolagem 15h01m03s e à direita

15h46m27s, dois minutos após o impacto da aeronave.

Diante disto, constatou-se que a visibilidade horizontal na região no momento do

acidente estava restrita a 1.500m.

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4.1.5 Fatores contribuintes

Conforme investigação do CENIPA, os fatores contribuintes para o acidente foram:

Cultura do grupo de trabalho, processo decisório e condições meteorológicas adversas.

A cultura do grupo de trabalho contribuiu, pois à época a característica da aviação

executiva onde os interesses do operador, levavam a necessidade de adaptação por parte dos

pilotos, desenvolvendo pressões externas, que diminuía a margem de segurança dos voos,

aliado a uma cultura de reconhecimento e valorização dos pilotos que operavam sob condições

meteorológicas adversas, para os que realizavam voos rotineiros para a região de Paraty-RJ,

com adesão inclusive de práticas informais e interferiram inclusive na percepção e adequada

análise dos riscos presentes na segurança da operação naquele dia.

A indisciplina de voo e a recorrência de acidentes na região, com características

similares ao acidente em questão, demonstra tal cultura há vários anos, sem que houvesse

nenhum tipo de conscientização de todos os envolvidos, pilotos e operadores.

Outro fator contribuinte foi o processo decisório, pois as condições meteorológicas

resultaram restrição de visibilidade, o piloto deveria ter optado pela execução do procedimento

de acordo com o estabelecido pela ICA 100-12, poderia ter aguardado uma melhora nas

condições meteorológicas numa altitude segura, ou até mesmo partido para um aeródromo de

alternativa.

E as condições meteorológicas adversas, no momento do acidente, havia muita

chuva (CB) e visibilidade horizontal de 1.500m, com isto, as condições no aeródromo de

Paraty-RJ estava abaixo dos mínimos para um procedimento de pouso para operação VFR.

Considerando que o aeródromo de Paraty-RJ (SDTK) permitia somente operações

VFR, as condições meteorológicas eram impeditivas para um voo em segurança, dentro de seus

limites mínimos exigidos.

4.1.6 Semelhanças com outros acidentes

Conforme apresentado pelo CENIPA, 2017 tivemos nos 10 anos anteriores ao

acidente da aeronave PR-SOM, nosso estudo de caso deste capítulo, somente na região de

Paraty e Angra dos Reis no Rio de Janeiro, 13 acidentes semelhantes. Destes 13, observa-se 06

deles a condição meteorológica adversa como fator contribuinte, conforme tabela a seguir:

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Tabela 2 - Acidentes na região de Paraty e Angra (RJ), nos 10 anos anteriores ao acidente da aeronave PR-SOM

Matrícula Data Local Classificação

PT-YGB 15/01/2008 Angra dos Reis Outros

PR-IPO 30/04/2008 Angra dos Reis Desorientação espacial

PR-MES 12/06/2009 Angra dos Reis Incursão em pista

PP-AFM 12/10/2009 Angra dos Reis Saída de pista

PT-OPR 30/01/2011 Paraty Causado por fenômeno meteorológico em voo

PT-MAB 12/07/2012 Angra dos Reis CFIT

PP-LOS 31/08/2012 Angra dos Reis Outros

PP-PFC 27/12/2012 Angra dos Reis Pouso brusco

PR-EAG 10/11/2013 Paraty CFIT

PU-WFA 22/08/2014 Angra dos Reis Causado por fenômeno meteorológico em voo

PU-TOF 18/09/2015 Angra dos Reis Falha do motor em voo

PP-LMM 03/01/2016 Paraty CFIT

PT-MMP 10/09/2016 Angra dos Reis Saída de pista Fonte: CENIPA, 2017

Neste estudo, “CFIT” e “Desorientação espacial” tem em comum, a operação do

voo em condições meteorológicas críticas, ou adversas e com visibilidade abaixo dos mínimos

requeridos para operações em segurança, sob condição de voo VFR, o que leva o piloto à

desorientação e perda de controle da aeronave.

4.2 ENSINAMENTOS E MEDIDAS PREVENTIVAS PARA MITIGAÇÃO DE

ACIDENTES E INCIDENTES AERONÁUTICOS

Diante da pesquisa realizada, observamos que alguns aspectos podem ser seguidos

e/ou melhorados para uma mitigação dos acidentes e incidentes aeronáuticos, como um melhor

planejamento do voo se faz necessário por parte dos tripulantes, levando em consideração todas

as informações meteorológicas, topológicas e particularidades do local de destino disponíveis,

elevando a consciência situacional da tripulação (CHECKLIST MÍNIMOS OPERACIONAIS

ANAC, 2019), além de utilização somente de procedimentos efetuados por profissionais e não

por outros tripulantes que frequentam uma determinada área.

Fatores de infraestrutura, tais como implementação de estações meteorológicas,

câmeras de tempo ao vivo e órgãos ATS, como rádios (AFIS – Aerodrome Flight Information

Service) nos aeródromos estratégicos com demanda de voos. Operacionalmente,

implementação de procedimentos de aproximação por instrumentos, em aeroportos estratégicos

em grande escala por todo o país, podendo utilizar o procedimento RNAV (GPS) que tem baixo

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custo de manutenção, alto grau de precisão e não requer nenhum auxílio de navegação a rádio

em solo.

E por fim, melhoria na formação e treinamento de pilotos, além de campanhas de

segurança operacional, a fim de combater a cultura de valorização e reconhecimento de pilotos

que operam em condições meteorológicas abaixo dos mínimos ou através de procedimento não

oficiais, ressaltando a importância da aderência e cumprimento aos procedimentos e regras para

maior segurança às operações.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho teve como objetivo geral analisar os índices de acidentes e incidentes

aeronáuticos tendo como fator contribuinte as condições meteorológicas adversas no Brasil

afim de colaborar com a comunidade aeronáutica para a redução deste tipo de acidente. Para

atingir esse objetivo, efetuou-se a pesquisa de forma explicativa com abordagem qualitativa,

com coleta de dados através de pesquisa bibliográfica e documental, principalmente com dados

oficiais publicados pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) e CENIPA (Centro de

Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).

Já em objetivos específicos a) apresentar dados sobre acidentes e incidentes no

Brasil que tem como fator contribuinte as condições meteorológicas adversas, constatou-se que

as condições meteorológicas adversas aparecem em 14% aproximadamente dos acidentes e

8,5% aproximadamente dos incidentes, do total de relatórios finais publicados pelo CENIPA.

Para o objetivo específico b) Verificar fenômenos naturais que agravam períodos

específicos no Brasil, temos em nosso país a Zona de Convergência de Umidade (ZCOU) e a

Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que agravam as áreas em períodos específicos,

podendo levar o planejamento do voo em um curto espaço de tempo para uma situação crítica.

Para o objetivo específico c) Identificar, do ponto de vista técnico e na ótica da

legislação aeronáutica, fatores comuns nestes incidentes e acidentes; foi constatado como

fatores comuns erros de planejamento de voo, julgamento de pilotagem, indisciplina de voo e

o nosso fator contribuinte principal pesquisa, a condição meteorológica adversa, em média nota-

se por ano, 11 casos aproximadamente de acidentes e 53 casos aproximadamente de incidentes.

Para o objetivo específico d) Identificar fatores negligenciais operacionais.

constatou-se a grande incidência de erros humanos, falhas em procedimentos operacionais,

indisciplina de voo e voar fora das regras de segurança operacional mínima.

Para o objetivo específico e) Identificar medidas preventivas para reduzir a

probabilidade e/ou severidade de novos eventos. Identificou-se a necessidade de planejar o voo

de forma correta, levando em consideração todas as informações meteorológicas, topológicas e

particularidades do local de destino disponíveis, utilização somente de procedimentos efetuados

por profissionais. Implementação de estações meteorológicas, câmeras de tempo ao vivo e

órgãos ATS nos aeródromos estratégicos com demanda de voos. Implementação de

procedimentos de aproximação por instrumentos. Treinamento de pilotos e campanhas de

segurança operacional, ressaltando a importância da aderência e cumprimento aos

procedimentos e regras para maior segurança às operações.

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Sobre o problema da pesquisa - Quais acidentes e incidentes aeronáuticos

ocorreram no Brasil nos últimos anos, tendo como fator contribuinte as condições

meteorológicas adversas? – Constatou-se grande incidência de fatalidades ocorridas advindas

deste fator contribuinte, sendo 107 acidentes e 19 incidentes no período de 2006 a 2015

(CENIPA, 2019). Além de apresentar os casos do AF447 da Air France e o PR-SOM para

exemplificar tal problema.

Este projeto de pesquisa delimitou-se em colher informações sobre como o fator

contribuinte condições meteorológicas adversas influenciaram nos acidentes e incidentes

aeronáuticos ocorridos nos últimos anos, tendo como referência os indicativos e relatórios

publicados pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) e CENIPA (Centro de

Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgãos estes especializados em

investigação e prevenção de acidentes e incidentes aeronáuticos.

Baseado nas presentes identificações e constatações, sugere-se para evitar futuros

acidentes e incidentes que órgãos de regulação, fiscalização e de prevenção de acidentes

continuem com as pesquisas sobre o tema, além de novos estudos que abordem os fatores

humanos, pois percebe-se que muitas vezes estas situações poderiam ter sido evitadas caso

houvesse uma melhor avaliação e julgamento correto da situação por parte da tripulação, além

disto que o setor aeronáutico, principalmente os pilotos e operadores entendam que a segurança

de voo vem em primeiro lugar.

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