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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE
YGOR AUGUSTO REYNAUD RODRIGUES
EPIDEMIOLOGIA DOS CASOS CONFIRMADOS DE HANTAVIROSE
NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Dissertação de Mestrado
Joaçaba
2017
Ygor Augusto Reynaud Rodrigues
EPIDEMIOLOGIA DOS CASOS CONFIRMADOS DE HANTAVIROSE
NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Biociências e Saúde - PPGBS, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Biociências e Saúde, da Universidade do Oeste de Santa Catarina.
Orientador: Profa. Fernanda Maurer D’ Agostini
Coorientador: Profa. Wilma Beltrame
Joaçaba
2017
YGOR AUGUSTO REYNAUD RODRIGUES
EPIDEMIOLOGIA DOS CASOS CONFIRMADOS DE HANTAVIROSE
NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Esta dissertação foi julgada e aprovada como requisito parcial para a obtenção do
grau de Mestre em Biociências e Saúde no Programa de Mestrado em Biociências e
Saúde da Universidade do Oeste de Santa Catarina
Joaçaba 01 de setembro de 2017.
________________________________ Prof. Dr. Jovani Antônio Steffani
Coordenador do Programa
BANCA EXAMINADORA
__________________________ _________________________ Profa. Dra. Fernanda Maurer D’Agostini Monalize Salete Mota Orientadora Unoesc - Joaçaba
Examinador Externo
___________________________ __________________________ Andréia Dalla Vecchia Fabiana Meneghetti Dallacosta Unoesc - Joaçaba Unoesc - Joaçaba Examinador Interno Examinador Interno
AGRADECIMENTOS
A minha esposa Michele e minha filha Marina, meus pais que me proporcionaram
essa oportunidade e minhas orientadoras professoras Doutoras Fernanda M.
D’Agostini e Vilma Beltrame que me auxiliaram na execução da pesquisa.
RESUMO
Introdução: A hantavirose é uma zoonose grave de distribuição mundial transmitida através da inalação de partículas virais eliminadas nas fezes e urina de roedores silvestres e domésticos. Apresenta-se de duas formas distintas, a Febre Hemorrágica com Síndrome Renal (FHSR) na Europa e Ásia, e a outra forma chamada de Síndrome Cardiopulmonar por Hantavirus (SCPH) que ocorre nas Américas. Objetivos: Este estudo procurou identificar o perfil epidemiológico dos casos confirmados de hantavirose registrados em Santa Catarina entre 1999 e 2015 através dos dados do Sistema de Notificação de agravos de Notificação (SINAN), procuramos ainda identificar a distribuição espacial das ocorrências no estado e correlaciona-las com fenômenos naturais como pluviosidade e sazonalidade e por fim analisar as variáveis clínicas, laboratoriais e de tratamento relacionados aos casos confirmados da doença. Método: O estudo possui características quantitativa e descritiva e foi realizado através da base de dados do SINAN, a qual contém as informações lançadas nas fichas de investigação de hantavirose, preenchidas nas unidades de saúde quando dos atendimentos aos casos suspeitos da doença. Resultados: Observou-se que a doença possui uma taxa de letalidade no estado de (28,4%), tem maior ocorrência em áreas rurais em pessoas ligadas a atividades agropecuárias, a região oeste do estado concentrou 50,8% dos casos e fenômenos naturais como chuvas e estações do ano bem como a chamada “ratada” exercem influência na ocorrência da doença. Quanto as variáveis clinicas, febre, cefaleia, mialgia, vomito e dispneia foram os sintomas mais relatados e com relação ao tratamento (91,6%) dos pacientes necessitaram de tratamento hospitalar. Conclusões: Constatamos que a doença possui caráter ocupacional, sendo que, fenômenos naturais exercem influência sobre as ocorrências, e que não há um sintoma específico que possa levar isoladamente a suspeição da doença, desta forma, a correta anamnese torna-se importante na correlação dos fatores de risco associados.
ABSTRACT
Introduction: Hantavirus is a serious worldwide distribution zoonosis transmitted through inhalation of particular viral elimination in the feces and urine of wild and domestic rodents. It occurs in two distinct forms, Hemorrhagic Fever with Renal Syndrome (FHSR) in Europe and Asia, and another form called Hantavirus Cardiopulmonary Syndrome (SCPH) that happens in the Americas. Objectives: This study aimed to identify the epidemiological profile of confirmed cases of hantavirus in Santa Catarina from 1999 to 2015 through data from the Notification of Injury Information System (SINAN). We also sought to identify the spatial distribution of occurrences in the state, with natural phenomena such as rainfall and seasonality, and finally to analyze the clinical, laboratorial and treatment variables related to the confirmed cases of the disease. Method: The study has quantitative and descriptive characteristics and was carried out through the SINAN database, which contains the information released in the hantavirus case files, filled in the health units when attending the suspected cases of the disease. Results: It was observed that the disease has a fatality rate in the state of (28.4%), it has a higher occurrence in rural areas in people related to agricultural activities and natural phenomena such as rains and seasons, as well as the so-called "ratada" Influence the occurrence of the disease. As for clinical variables, fever, headache, myalgia, vomiting and dyspnea were the most reported symptoms and in relation to treatment (91.6%) of the patients required staying in the hospital. Conclusions: We’ve found out that the disease has occupational character, natural phenomena influence the occurrence, opposed to the idea that there’s a specific symptom that can lead to the suspicion of the disease alone, the correct anamnesis becomes important in the correlation of the associated risk factors.
LISTA DE SIGLAS
CIDASC – Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa
Catarina
CPAP – Continous positive airway pressure.
DataSus – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde.
DIVE – Diretoria de Vigilância Epidemiológica considera todo o estado
de Santa Catarina.
DNA – Ácido desoxirribonucleico
EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa
Catarina.
FHSR – Febre Hemorrágica com Síndrome Renal.
FIN – Ficha Individual de Investigação.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IgG – Imunoglobulina G.
IgG-ELISA – Imunoglobulina G, ensaio imunoenzimático.
IgM – Imunoglobulina M
IgM-ELISA – Imunoglobulina G, ensaio imunoenzimático.
PCR – Reação em cadeia de polimerase.
Qpcr – Reação em cadeia de polimerase quantitativa.
RNA – Ácido desoxirribonucleico
RT-PCR – Reação em cadeia de polimerase com transcriptase reversa.
SARA – Síndrome da angústia respiratória do adulto.
SCPH – Síndrome Cardiopulmonar por Hantavirus.
SINAN – Sistema de Informações de Agravos de Notificação.
TGO – Transaminase oxalacética.
TGP – Transaminase pirúvica.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Akodon montensis. ..................................................................................... 20
Figura 2. Mapa da distribuição das espécies de Akodon no Brasil. .......................... 21
Figura 3. Necromys lasiurus. ..................................................................................... 22
Figura 4. Distribuição das espécies de Necromys no Brasil. ..................................... 22
Figura 5. Oligoryzomis sp. ......................................................................................... 23
Figura 6. Distribuição de Oligoryzomis Brasil. ........................................................... 24
Figura 7. Rattus rattus. .............................................................................................. 25
Figura 8. Rattus novergicus. ...................................................................................... 26
Figura 9. Incidência de hantavirose para cada 100.000 habitantes em Santa
Catarina entre 1999 e 2015. ...................................................................................... 41
Figura 10. Número de casos confirmados de hantavirose por ano entre
1999 e 2015. ............................................................................................................. 42
Figura 11. Distribuição de casos em 1999. ............................................................... 43
Figura 12. Distribuição de casos em 2000. ............................................................... 43
Figura 13. Distribuição de casos em 2001. ............................................................... 43
Figura 14. Distribuição de casos em 2002. ............................................................... 43
Figura 15. Distribuição de casos em 2003. ............................................................... 44
Figura 16. Distribuição de casos em 2004 ................................................................ 45
Figura 17. Distribuição de casos em 2005. ............................................................... 46
Figura 18. Distribuição de casos em 2006. ............................................................... 47
Figura 19. Distribuição de casos em 2007. ............................................................... 47
Figura 20. Distribuição de casos em 2008. ............................................................... 48
Figura 21. Distribuição de casos em 2009. ............................................................... 48
Figura 22. Distribuição de casos em 2010. ............................................................... 49
Figura 23. Distribuição de casos em 2011. .............................................................. 49
Figura 24. Distribuição de casos em 2012. ............................................................... 50
Figura 25. Distribuição de casos em 2013. ............................................................... 50
Figura 26. Distribuição de casos em 2014. ............................................................... 50
Figura 27. Distribuição de casos até março de 2015. ............................................... 51
Figura 28. Distribuição regional dos casos de Hantavirose entre 1999 e 2015. ........ 52
Figura 29. Distribuição sazonal das ocorrências de hantavirose entre 1999 e 2015. 53
Figura 30. Sexo e idade média dos pacientes confirmados com hantavirose
entre 1999 e 2015. .................................................................................................... 54
Figura 31. Local de residência dos pacientes confirmados com hantavirose entre
1999 e 2015. ............................................................................................................. 55
Figura 32. Provável local de infecção dos pacientes confirmados com
hantavirose entre 1999 e 2015. ................................................................................. 55
Figura 33. Provável ambiente de infecção dos pacientes confirmados com
hantavirose entre 1999 e 2015. ................................................................................. 56
Figura 34. Antecedentes epidemiológicos nos 60 dias antecedentes ao
atendimento, dos pacientes confirmados com hantavirose entre 1999 e 2015. ........ 58
Figura 35. Local da provável fonte de infecção dos pacientes confirmados com
hantavirose entre 1999 e 2015. ................................................................................. 59
Figura 36. Sinais clínicos mais frequentes nos pacientes confirmados com
hantavirose entre 1999 e 2015. ................................................................................. 61
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Custos de internamento de pacientes confirmados com Hantavirose
entre 1999 e 2015. .................................................................................................... 65
Tabela 2. Diferença entre sintomas nos pacientes sobrevivente e não
sobreviventes. ........................................................................................................... 66
Tabela 3. Diferenças laboratoriais entre pacientes sobreviventes e não
sobreviventes. ........................................................................................................... 67
Tabela 4. Diferenças entre o tratamento em pacientes sobreviventes e não
sobreviventes. ........................................................................................................... 68
Tabela 5. Percentual de campos sem preenchimento da ficha de notificação de
hantavirose em Santa Catarina entre 1999 e 2015. .................................................. 69
SUMARIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 1.1 HISTÓRICO DA DOENÇA .................................................................................. 13 1.1.1 Febre Hemorrágica com Síndrome Renal ........................................................ 13 1.1.2 Síndrome Cardiopulmonar por Hantavirus ....................................................... 14 1.2 CARACTERÍSTICAS DO VÍRUS ........................................................................ 15 1.3 ROEDORES RESERVATÓRIOS ........................................................................ 16 1.4 GÊNEROS DE ROEDORES RESERVATÓRIOS QUE OCORREM EM SANTA CATARINA ................................................................................................................ 18 1.4.1 Gênero Akodon ................................................................................................ 20 1.4.2 Gênero Necromys ............................................................................................ 21 1.4.3 Gênero Oligoryzomis ........................................................................................ 23 1.4.4 Gênero Rattus .................................................................................................. 24 1.5 HANTAVIROSE EM HUMANOS ......................................................................... 26 1.5.1 Patogenia ......................................................................................................... 27 1.5.2 Patologia .......................................................................................................... 28 1.5.3 Quadro Clínico ................................................................................................. 29 1.6 DIAGNÓSTICO ................................................................................................... 30 1.7 TRATAMENTO .................................................................................................... 32 1.8 PREVENÇÃO E CONTROLE .............................................................................. 34 1.9HISTÓRICO DAS AÇÕES DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA DE DOENÇAS ............................................................................... 35 1.10 SISTEMA DE INFORMAÇÕES DE AGRAVOS E NOTIFICAÇÃO – SINAN ..... 35
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 38 2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 38
3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 39
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 41 4.1 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA .......................................................................... 42 4.2 DISTRIBUIÇÃO SAZONAL ................................................................................. 52 4.3 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO ............................................................................... 53 4.4 VARIÁVES CLÍNICAS ......................................................................................... 59 4.5 VARIÁVEIS LABORATORIAIS ............................................................................ 61 4.6 VARIÁVEIS DE TRATAMENTO .......................................................................... 63 4.7 CARACTERÍSTICA DOS PACIENTES QUE VIERAM A ÓBITO ........................ 65 4.8 QUALIDADE DOS DASOS DO SINAN ............................................................... 68
5 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 71
6 INTERDISPLINARIDADE ...................................................................................... 73
7 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 74
ANEXOS ................................................................................................................... 82 ANEXO A – Ficha de Investigação de Hantavirose. .................................................. 82 ANEXO B – Confirmação de submissão de manuscrito à Revista Brasileira de
Epidemiologia.............................................................................................................82
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1 INTRODUÇÃO
A Hantavirose é uma zoonose mundialmente distribuída, transmitida através da inalação de partículas virais eliminadas nas fezes e urina de roedores silvestres e domésticos portadores de Hantavirus. São conhecidas duas síndromes distintas causadas por Hantavirus, uma denominada Febre Hemorrágica com Síndrome Renal (FHSR), que ocorre na Europa e Ásia e outra chamada de Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus (SCPH), que ocorre nas Américas (FERREIRA, 2003). O Hantavirus pertence à família dos Bunyavirus, possuem RNA de fita simples envelopado. São conhecidos vários membros do grupo dos Hantavirus; quatro causam a febre hemorrágica com síndrome renal e cerca de duas dezenas causam a síndrome cardiopulmonar por Hantavirus (RABONI, 2006).
Roedores silvestres das famílias Cricetidade, subfamília Sigmodontinae e
família Muridae, subfamília Murinae são os principais reservatórios de cepas de
Hantavirus associados aos casos da doença em humanos no continente americano.
Para Pincelli et al. (2003), a Síndrome Cardio-Pulmonar por Hantavirus é uma doença
de conhecimento relativamente recente e frequentemente fatal, afeta indivíduos
previamente hígidos, apresentando quadro febril e sintomas semelhantes a de um
resfriado comum, podendo evoluir rapidamente para edema pulmonar, insuficiência
respiratória aguda e choque.
Segundo a Portaria nº 2.472, de 31 de agosto de 2010 do Ministério da Saúde,
a Hantavirose consiste em um agravo à saúde incluído na lista nacional de doenças
de notificação compulsória imediata (BRASIL, 2010). A Diretoria de Vigilância
Epidemiológica considera todo o estado de Santa Catarina como área de risco para a
doença (DIVE, 2012).
Segundo Schmidt (2007), a partir de 1993, quando iniciaram as notificações no
Brasil, foram registrados 1921 casos com letalidade média de 39, 04%. Na região Sul,
foram registrados 647 casos totalizando 219 óbitos que representam 33,8% dos
casos. Em Santa Catarina o primeiro caso ocorreu em 1999, porém trava-se de um
caso não autóctone, isto é, não originário do local aonde foi identificado, o primeiro
caso autóctone ocorreu no município de Seara em 2000 onde cinco pessoas da
mesma família foram acometidas.
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De acordo com dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2015), desde 1999
foram confirmados no estado de SC 304 casos de Hantavirose, sendo que, 92 vieram
a óbito representando uma taxa de letalidade de 30,2%, embora as literaturas
apontem taxas de mortalidade em torno de 40%, os números do estado bem como a
existência de poucos estudos relacionados, motivam novas pesquisas sobre o perfil
epidemiológico da doença.
1.1 HISTÓRICO DA DOENÇA
1.1.1 Febre Hemorrágica com Síndrome Renal
A febre hemorrágica com síndrome renal é endêmica na Europa e Ásia com
uma média de 200.000 casos por ano com uma letalidade que varia de 3 a 10%
dependendo da variante viral e da estrutura dos sistemas de saúde da região. Os
primeiros casos surgiram durante a guerra da Coréia, na década de 1950, quando
mais de 3000 soldados apresentaram doença súbita com comprometimento renal,
dores abdominais, cefaleia, hiperemia de mucosas e diversas manifestações
hemorrágicas, sendo a doença denominada de febre hemorrágica coreana.
Aproximadamente 25 anos depois, foi isolado a partir do roedor Apodemus agrarius a
variante Hantann, causadora da febre hemorrágica coreana, hoje denominada de
Febre Hemorrágica com Síndrome Renal (FHSR). Os primeiros indícios de circulação
de Hantavirus no Brasil surgiram na década de 1980, durante um inquérito sorológico
em roedores capturados nas cidades de Belém PA, São Paulo SP, Recife e Olinda
PE. Na ocasião foi isolado e caracterizado o Hantavirus circulante como sendo
antigênicamente semelhante ao vírus Seoul (causador da FHSR na Coréia). O vírus
foi recuperado do tecido de roedores da espécie Rattus novergicus capturados em
Belém PA (CHIORATTO et al., 2010).
As primeiras pesquisas em humanos no Brasil foram realizadas com habitantes da Amazônia, São Paulo e Paraná que teriam tido contato com
14
roedores silvestres ou urbanos. Estas pesquisas revelaram prevalência de 5,7% no Pará 11,8% em Rondônia, 2,3% em São Paulo e 8,9% no Paraná de anticorpos IgG anti-hantavírus. Outros estudos detectaram anticorpos específicos para o vírus Seoul em pacientes com diagnóstico de leptospirose em Recife (PE) e anticorpos para o vírus Hantann e Puumala na cidade de São Paulo, corroborando a circulação de Hantavirus no país (CHIORATTO et al., 2010).
1.1.2 Síndrome Cardiopulmonar por Hantavirus
Em maio de 1993 um surto de doença respiratória foi relatado no sudoeste dos
EUA, caracterizando-se por apresentar uma fase prodrômica com sintomas
inespecíficos de uma doença infecciosa, que evoluía rapidamente para edema
pulmonar e insuficiência respiratória, e apresentava uma alta taxa de mortalidade
Raboni (2006). Inicialmente, não foi descoberta a etiologia destes casos, até que
estudos sorológicos realizados a partir de amostras dos pacientes acometidos
demonstraram a presença de anticorpos do tipo G e M anti-hantavírus. Análises
posteriores, utilizando técnicas de biologia molecular, em exemplares de roedores
Peromyscus maniculatus, demonstraram a presença do material genético viral nesses
animais, confirmando assim um novo membro do gênero Hantavirus (JUNIOR et. al
2012).
A descoberta de uma nova variante de Hantavirus permitiu a correlação direta
entre a infecção humana e o roedor reservatório infectado. Este novo agente foi
denominado inicialmente de vírus Four corners, e posteriormente Muerto canyon, pois
historicamente os Hantavirus recebem seu nome baseado na área geográfica ou local
onde foi descrito, porém objeções da população local e apoio de pesquisadores
fizeram com que o nome fosse mudado para vírus Sin Nombre. Ainda segundo
Raboni, (2006), as descrições posteriores do quadro clínico, epidemiologia em
humanos e roedores, patogênese e virologia deste agente infeccioso, reforçaram a
conclusão que esta síndrome seria uma nova febre hemorrágica viral americana e foi
chamada de síndrome pulmonar causada por Hantavirus. Posteriormente devido às
evidências do comprometimento cardíaco provocado por este vírus o nome foi
substituído por Síndrome Cardiopulmonar por Hantavirus (SCPH).
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No Brasil os primeiros casos de SCPH ocorreram em novembro e dezembro de 1993 em Juquitiba, São Paulo, onde três irmãos, residentes na zona rural do município em uma área com histórico recente de desmatamento, apresentaram os sintomas. Dois casos evoluíram para óbito com sintomas predominantes de insuficiência respiratória aguda, o terceiro evoluiu para recuperação sem sequelas (SILVA et al., 1997).
1.2 CARACTERÍSTICAS DO VÍRUS
Segundo Vogel (2007), os Hantavirus pertencem à família Bunyaviridae que
contém o maior número de vírus animais, abrigando centenas de espécies virais
isoladas principalmente de insetos. A maioria desses vírus foram isolados de insetos
ou de animais silvestres, sem estarem necessariamente associados com doença, dos
cindo gêneros da família apenas os membros do gênero Hantavirus, não são
transmitidos por insetos.
A família Bunyaviridae é a maior família de vírus RNA, composta por mais de
350 vírus divididos em cinco gêneros Orthobunyavirus, Nairovirus, Phlebovirus,
Hantavirus e Tospovirus (HORNE, 2014). Com exceção do gênero Hantavirus, os
outros quatro são arbovírus, ou seja, são transmitidos por vetores (mosquitos,
flebótomos ou carrapatos). Hantavirus infectam naturalmente roedores silvestres e
são transmitidos por contato direto ou indireto, ou ainda, pela inalação de aerossóis
oriundos das excreções destes animais (VOGEL, 2007).
Os vírions são esféricos e envelopados, com 80 a 120 nm de diâmetro. A
superfície do envelope possui projeções de 5 a 10 nm, formadas pelas glicoproteínas
G1 e G2. O interior dos vírions contém três nucleocapsídeos de simetria helicoidal,
cada um deles composto por um segmento de RNA conjugado com proteínas
(proteína N + polimerase L). A composição química dos vírus foi estimada em 2% de
RNA, 58% de proteínas, 33% de lipídios e 7% de carboidratos (VOGEL, 2007).
Segundo Baró et.al (1999), os Hantavirus apresentam pouca resistência ao
meio ambiente e a desinfetantes comuns e são de difícil cultivo in vitro.
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1.3 ROEDORES RESERVATÓRIOS
Numerosas espécies de Hantavirus estão ligadas a síndrome cardiopulmonar na América do Sul: No Brasil cada tipo de Hantavirus parece estar associado a uma espécie de roedor silvestre. Atualmente existem sete variantes associadas SCPH conhecidas: Juquitiba (JUQV), Araraquara (ARAV), Castelo dos Sonhos (CASV), Laguna Negra – Like (LNV) e Anajatuba vírus (ANAJV), (ARAÚJO, 2010). Outras duas variantes são conhecidas Rio Mearin e Jaborá, porém até o momento não estão envolvidas com doenças em humanos (SOUZA et al., 2012).
Segundo Oliveira et al. (2013), foram identificados como portadores de
hantavírus no Brasil 12 espécies de roedores dos gêneros Akodon, Callomys,
Holochilus, Oxymycteurs, Necromys e Rattus. Os casos de hantavirose registrados no
país estão distribuídos em todas as regiões, identificados em três dos seis grandes
biomas brasileiros, Cerrado, Mata Atlântica e Floresta Amazônica, bem como em
áreas de transição entre esses biomas. Estudos sobre a distribuição das variantes de
hantavírus demonstram que, para cada bioma, há diferentes espécies de
reservatórios, que albergam diferentes variantes do vírus e assim estabelece uma
relação espécie-específica, responsável pela manutenção da circulação viral em cada
bioma. De acordo com Pincelli et al. (2003), no bioma do cerrado, o roedor reservatório
e a variante viral envolvidos nos casos de hantavirose são o Necromys lasiurus e a
variante Araraquara. No bioma Mata Atlântica, foram descritos dois reservatórios, e
respectivas variantes: o roedor Oligoryzomis nigripes, que alberga a variante Juquitiba
e, o roedor Akodon montensis, que alberga a variante Jaborá.
Embora tenha-se demonstrado os reservatórios, bem como as variantes virais
para cada bioma, o que pode nos dar uma ideia de que a doença ocorre apenas em
áreas florestais, nos últimos anos, de acordo com Junior et al. (2012), os casos
também estão sendo relatados nas periferias de cidades principalmente de países em
desenvolvimento, onde o crescimento desordenado de conglomerados humanos
associado ao desmatamento e baixo índice de saneamento básico, promoveram a
proliferação de roedores e a aproximação destes com habitações humanas. Ainda
segundo Junior et al. (2012), inquéritos sorológicos em áreas urbanas mostram
positividades em torno de 1 a 4% o que demonstra a circulação viral também nestas
áreas.
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O micro-habitat dos reservatórios determina a epidemiologia das hantaviroses, a conformação da vegetação, o clima, a sazonalidade, bem como atividades humanas nas áreas de ocorrência dos reservatórios tem importância fundamental no ciclo da doença, um exemplo foi o surto ocorrido em Four Corners nos Estados Unidos em 1993, onde um grande aumento na precipitação da região proporcionou um incremento na oferta de alimento para os reservatórios elevando sua população favorecendo assim o início dos casos (KRUGER et al., 2015). Outro evento relacionado ao aumento de casos da doença é a chamada “ratada”, onde a floração e posterior frutificação da taquara-lixa (Merostachys skvortzovii) uma espécie de bambu, proporciona um grande incremento de alimentos e assim um aumento significativo na população de roedores silvestres fazendo com que estes invadam galpões, lavouras e residências. Este evento ocorre em média a cada trinta anos (LIEBSCH, 2009).
Segundo Raboni (2006), a infecção do roedor reservatório por Hantavirus
caracteriza-se pela ausência de doença e capacidade de estabelecer uma infecção
persistente que pode durar meses ou anos. Para Chioratto et al. (2010), a transmissão
dos Hantavirus entre os roedores ocorre de forma horizontal, por contato direto,
principalmente durante lutas por território ou alimentos. Em condições experimentais
foi demonstrada transmissão indireta para roedores expostos a ambientes
contaminados com Hantavirus Puumala por até 15 dias após a contaminação induzida
no ambiente.
No início da infecção ocorre uma fase aguda com pico de viremia, replicação
viral e disseminação principalmente para coração e pulmão considerados tecidos alvo.
Na segunda fase ocorre diminuição da replicação viral, porém os vírus persistem no
organismo o que caracteriza a próxima fase da infecção denominada persistente. O
início da fase persistente pode variar entre as espécies hospedeiras, mas geralmente
inicia-se nas duas primeiras semanas de infecção. Nesta fase é possível detectar
antígenos em praticamente todos os tecidos do roedor, os vírus são eliminados nas
fezes, urina e saliva dos roedores e acredita-se que isto ocorre durante toda vida do
animal (SIMMONS, RILEY, 2002; CHIORATTO et al., 2010).
De maneira geral, a infecção por Hantavirus apresenta uma patogenia
relacionada a uma resposta exacerbada do organismo à presença do vírus, tendo
como consequências o extravasamento de liquido nos pulmões, choque e morte. Os
roedores infectados parecem apresentar respostas inflamatória e antiviral reduzidas,
o que explicaria a ausência de sintomas causados pela presença do vírus no
organismo (SIMMONS, RILEY, 2002; CHIORATTO et al., 2010). Ainda de acordo com
Chioratto et al., (2010), os Hantavirus parecem não causar alterações histopatológicas
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importantes nos roedores, mesmo em tecidos com altas cargas virais. Entretanto
estudos com o vírus norte americano Sim nombre indicam que esta variante pode
causar alterações pulmonares nos roedores reservatórios.
Estudos de soroprevalência em roedores indicam que os machos são maioria entre os infectados, essa diferença entre os sexos pode ser explicada por fatores comportamentais, nos quais são mais expostos durante disputas por território e alimento. Por outro lado, estudos com a variante Seul em machos e fêmeas de diferentes idades, esterilizados ou não, antes e após a puberdade, sugerem que machos apresentam menor resposta imunológica e maior carga viral em relação às fêmeas devido a fatores hormonais (CHIORATTO et al., 2010).
Além dos roedores, os Hantavirus tem sido detectados em morcegos, porcos,
pássaros e animais domésticos como cães e gatos, porém não existem estudos nem
para determinar se essa infecção é ou não persistente e assintomática nem estudos
de transmissão do vírus para outros animais ou humanos (YEDA, 2009). Holmes
(2015) relata particularmente as Ordens Chiroptera de morcegos e Soricomorpha de
outros roedores como a Toupeira, como reservatórios e considera a transmissão
cruzada entre espécies em escalas variáveis importantes para o processo evolutivo
dos Hantavirus.
1.4 GÊNEROS DE ROEDORES RESERVATÓRIOS QUE OCORREM EM SANTA CATARINA
O Estado de Santa Catarina está localizado na região sul do Brasil, possui uma
área de 95.985 km², com limite ao norte com o estado do Paraná, ao sul com o estado
do Rio Grande do Sul, a leste com Oceano Atlântico e a oeste com a Argentina. De
acordo coma escala de Koeppen o clima é do tipo subtropical úmido com verões
quentes no litoral e nas partes mais baixas do planalto e subtropical úmido com verões
brandos no restante do planalto Cherem et al. (2004). Quanto ao bioma, todo território
do estado compõe juntamente com outros onze estados brasileiros o bioma da Mata
Atlântica, que caracteriza-se como um complexo de montanhas, vales, planaltos e
planícies que se estende por toda faixa continental atlântica leste brasileira, além de
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avançar sobre o Planalto Meridional até o Rio Grande do Sul. O tipo de vegetação
predominante na Mata Atlântica é a floresta ombrófila densa, normalmente composta
por árvores altas e relacionada a um clima quente e úmido (BRASIL, 2009).
Em 1978, Klein caracterizou fitogeograficamente o território catarinense em
seis formações bem distintas: a Vegetação Litorânea predominantemente herbácea e
arbustiva que ocorre ao longo do litoral; a Floresta Tropical Atlântica que ocorre ao
longo das encostas da Serra do Mar e Serra Geral, bem como planícies quaternárias;
a Floresta Nebular que encontra-se nas altitudes superiores a 1.200 m; a Floresta de
Araucária e os Campos que ocorrem em grande parte do planalto; e a Floresta
subtropical do Rio Uruguai que ocorre no vale deste rio e ao longo de seus afluentes
(KLEIN, 1978).
Oliveira et al. (2013), aponta os roedores silvestres da família Cricetidae,
subfamília Sigmodontinae além de gêneros da família Muridae, subfamília Murinae,
como principais reservatórios de Hantavirus, no Brasil, foram identificados como
portadores de Hantavirus, os gêneros Akodon, Callomys, Holochilus, Oxymycteurs,
Necromys e Rattus. A subfamília Sigmodontinae representa um dos mais complexos
e diversos grupos de mamíferos encontrados no mundo contendo cerca de 377
espécies das quais 131 já foram registradas no Brasil (PETERS et al., 2012).
Ainda segundo Peters et al., (2012), o trabalho de Cherem et al. (2004), tem
grande relevância na identificação de mamíferos em Santa Catarina, verificando 20
espécies de Sigmodontineos com ocorrência confirmada e mais 15 espécies com
ocorrências potenciais.
Levando em consideração as informações de Oliveira et. al. (2013), sobre os
gêneros de roedores portadores de Hantavirus, buscamos no Guia dos Roedores do
Brasil, com chaves para gêneros baseados em caracteres externos segundo
Bonvicino; Oliveira; D' Andrea (2008), as características físicas, de habitat, bem como
a distribuição dos animais no território nacional.
20
1.4.1 Gênero Akodon
Pertence a ordem Rodentia, família Cricetidade, subfamília Sigmodontinae, possui tamanho pequeno a médio, comprimento da cauda um pouco menor que o corpo. Coloração do dorso variando do castanho-claro ao castanho escuro, sem limite definido entre a coloração do ventre que pode apresentar-se amarelo-cinzenta ou branco-acinzentada, com a base dos pelos acinzentados. Possui orelhas grandes, pouco pilosas. As superfícies superiores das patas são claras. A cauda apresenta-se pouco pilosa com escamas epidérmicas aparentes. Possui quatro pares de mamas: peitoral, pôs axial, abdominal e inguinal, habitat terrestre, habita formações florestais, áreas abertas adjacentes, e campos de altitude ao longo de toda Mata Atlântica, Campos do Sul, áreas florestais da Caatinga bem como formações vegetais abertas e fechadas no Cerrado. Em Santa Catarina foram registradas as seguintes espécies: A. montensis, A. paranaenses, A. serrensis (BONVINCINO; OLIVEIRA; D`ANDREA, 2008).
Figura 1. Akodon montensis. Fonte: (BONVICINO; OLIVEIRA; D' ANDREA, 2008).
21
Figura 2. Mapa da distribuição das espécies de Akodon no Brasil. Fonte: (BONVICINO; OLIVEIRA; D' ANDREA, 2008).
1.4.2 Gênero Necromys
Pertence a Ordem Rodentia, família Cricetidae, subfamília Sigmodontinae,
possui tamanho pequeno a médio, com comprimento da cauda menos que o tamanho
do corpo. Pelagem do dorso variando entre castanho-acinzentada e castanho-
amarelada, com limite pouco definido entre o ventre que apresenta-se nas cores
branco-acinzentado ou amarelo-acinzentado. Ao redor de cada olho apresenta um
anel de coloração mais clara na pelagem que pode apresenta-se muito tênue em
alguns espécimes. Orelhas com pelos na base da mesma coloração do dorso e sem
pelos nas pontas. Cauda mais escura na parte superior, com poucos pelos e escamas
aparentes particularmente próximo a base. Parte superior das patas geralmente
escuras, com garras parcialmente recobertas por pelos ungueais claros. Possui
habitat terrestre, habita formações abertas e florestais do Cerrado até a Mata
Atlântica, além de áreas de vegetação aberta no estado do Pará. Em Santa Catarina
22
foi registrada a espécie Necromys lasiurus (BONVICINO; OLIVEIRA; D' ANDREA,
2008).
Figura 3. Necromys lasiurus. Fonte: (BONVICINO; OLIVEIRA; D' ANDREA, 2008).
Figura 4. Distribuição das espécies de Necromys no Brasil. Fonte: (Bonvicino; Oliveira; D' Andrea, 2008).
23
1.4.3 Gênero Oligoryzomis
Pertence a ordem Rodentia, família Cricetidae, subfamília Sigmodontinae,
possui tamanho pequeno, sendo o tamanho da cauda maior que o comprimento do
corpo. Possui coloração do dorso variando entre castanho-avermelhada e amarelada
com as laterais mais claras com limite brevemente definido entre a coloração do ventre
que apresenta-se esbranquiçada ou amarelada. Possui olhos grandes, patas longas
e finas cobertas com pequenos pelos claros, cauda fina e pouco pilosa. Quatro pares
de mamas: peitoral, pós-axial, abdominal e inguinal. Apresenta habitat terrestre, e
habita formações florestais e formações abertas da Floresta Amazônica, Mata
Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pantanal. Em Santa Catarina foram registradas as
seguintes espécies: O. flavencens e O. nigripies (BONVICINO; OLIVEIRA; D'
ANDREA, 2008).
Figura 5. Oligoryzomis sp. Fonte: (Bonvicino; Oliveira; D' Andrea, 2008).
24
Figura 6. Distribuição de Oligoryzomis Brasil.
Fonte: (Bonvicino; Oliveira; D' Andrea, 2008).
1.4.4 Gênero Rattus
O gênero Rattus é o que possui o maior número de espécies entre todos os
gêneros de mamíferos Nowak (1991). Pertence a ordem Rodentia, família Muridade,
subfamília Murinae, apresenta tamanho médio a grande com cauda maior que o
comprimento do corpo, orelhas longas quase sem pelos e pés sem membrana
interdigital. Rattus novergicus apresenta tamanho grande, cauda menor que o
comprimento do corpo, orelhas mais curtas e um pouco pilosas além de pés com
membrana interdigital. O Rattus rattus apresenta três colorações de pelagem: preto
no dorso, mais clara no dorso e no ventre; castanho-acinzentada no dorso com
branco-acinzentado no ventre e castanho escuro no dorso com ventre branco puro.
Apresenta ainda cinco a seis pares de mamas, o peitoral, o pós axial, o inguinal e dois
abdominais (BONVICINO; OLIVEIRA; D' ANDREA, 2008).
Quanto aos hábitos e habitat, o Rattus novergicos tem hábitos semiaquáticos
vivendo de preferência à beira de águas doces, salobras ou salgadas, nada e
mergulha com habilidade e cava galerias extensas. O Rattus rattus possui habito
25
terrestre, porém apresenta grande habilidade para escalar frequentando forros de
casas e galpões. Já foi registrado longe de habitações humanas, geralmente em locais
de transporte e armazenagem de grãos que lhe servem como alimento (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2002; BONVICINO; OLIVEIRA; D' ANDREA, (2008). São introduzidos no
Brasil provavelmente pelo trânsito de navios durante a colonização europeia. Rattus
novergicos é mais frequente no litoral mais também é encontrado em regiões campos
onde frequenta estrebarias, aviários, pocilgas e outras instalações de animais
domésticos. Rattus rattus vive em locais secos, em habitações humanas ambos são
registrados em todos os estados brasileiros (BONVICINO; OLIVEIRA; D' ANDREA,
2008).
Figura 7. Rattus rattus. Fonte: AUSTRALIAN ENVIRONMENTAL PEST MANAGERS ASSOCIATION LTDA, 2015.
26
Figura 8. Rattus novergicus. Fonte: EXTERMÍNIO HIGIENE CONTROLE LTDA, 2013.
1.5 HANTAVIROSE EM HUMANOS
A Hantavirose é considerada uma zoonose de distribuição mundial, adquirida predominantemente por inalação de aerossóis contaminados com excreta de roedores constituindo uma doença emergente de importância para saúde pública. Os primeiros registros da doença são da década de 50 onde mais de três mil soldados americanos apresentaram a Febre Hemorrágica com Síndrome Renal, uma variante da doença que ocorre apenas na Europa e Ásia, durante a guerra da Coréia. A primeira evidencia sorológica da doença nas Américas foi registrada em Recife, Pernambuco, Brasil durante um surto de Leptospirose, onde houveram dois casos reagentes para Hantavirus. No continente Americano a variante da doença mais comum é a Síndrome Cardiopulmonar por Hantavirus (SCPH) onde Brasil, Chile, Argentina e Paraguai registram grande número de casos da doença (JUNIOR et al., 2012).
Para Oliveira et al. (2013) a gravidade da doença e a alta taxa de letalidade da
Hantavirose ressaltam a importância em saúde pública, apontando para necessidade
de avanços sobre o conhecimento das condições ecológicas e as circunstâncias da
transmissão em humanos bem como as especificidades dos ecossistemas que
mantém a propagação dos reservatórios e a circulação do vírus.
Certos grupos de profissionais são mais afetados, como agricultores,
agrônomos, veterinários, zootecnistas, geólogos, trabalhadores da construção civil em
27
áreas rurais e biólogos principalmente os que se dedicam a estudos com pequenos
mamíferos. Profissionais que trabalham em atividades de desmatamento e
reflorestamento também estão expostos aos reservatórios silvestres que eliminam o
vírus no ambiente, existem relatos de transmissão inter-humana no Chile e Argentina,
porém é uma via rara somente relatada com a variante Andes vírus (ULLMANN et al.,
2008).
1.5.1 Patogenia
Os mecanismos fisiopatológicos da infecção por Hantavirus tanto na FHSR
quanto na SCPH, parecem estar relacionados com a resposta imune exagerada ao
vírus, somente a presença do vírus não é capaz de provocar a destruição das células
infectadas e assim o aumento da permeabilidade capilar. Após a instalação da
resposta imune, ocorrem alterações funcionais na permeabilidade dos capilares
pulmonares Raboni, 2006. Estudos imuno-histoquímicos em pacientes com SCPH
mostraram grande presença de antígenos virais em células endoteliais, porém sem
evidencias de necrose celular, os antígenos virais também estão presentes em outros
órgãos como coração e tecido linfoide. Nos pulmões há considerável infiltração de
linfócitos CD8, também presentes sob a forma de linfócitos atípicos no sangue
periférico. Após ativados, os linfócitos CD8 passam a produzir citocinas que atuam
diretamente no endotélio vascular ou estimulam os macrófagos a produzir citocinas
locais aumentando a permeabilidade vascular, levando a grande transudação de
líquido no espaço alveolar o que gera edema pulmonar e insuficiência respiratória
aguda (ULLMANN et al., 2008).
As doenças causadas pelos Hantavirus frequentemente cursam com
trombocitopenia (mais de 80% dos casos). Sua patogênese parece estar relacionada
ao fato de esses vírus possuírem capacidade de aderência às plaquetas sanguíneas,
através de receptores de integrina (β3), desencadeando sua retirada da circulação
(FERREIRA, 2003).
28
1.5.2 Patologia
Geralmente as hantaviroses apresentam poucas evidências histopatológicas
de dano celular, sendo os rins, a glândula pituitária e o átrio direito, os órgãos mais
acometidos na FHSR e os pulmões os mais lesados na SCPH (FERREIRA, 2003;
ELKHOURY 2008).
De acordo com Ferreira (2003), nos casos autopsiados de FHSR, durante a
guerra da Coreia, as lesões mais proeminentes foram: dilatação capilar, diapedese de
eritrócitos, hemorragias focais edema intersticial, e ainda grande edema
retroperitoneal. As alterações vasculares e hemorragias foram vistas na pele, na
superfície das membranas mucosas, na região subendocárdica do átrio direito e na
glândula pituitária, além de vários outros órgãos. Os rins encontravam-se edematosos;
microscopicamente, observou-se congestão medular, compressão dos túbulos renais
por massas de eritrócitos e necrose das alças de Henle e túbulos coletores, o fígado,
em cerca de 30% dos casos, apresentou de necroses focais na periferia dos lóbulos
hepáticos e, nos pulmões, pode se constatar, com frequência, a presença de graus
variados de edema pulmonar.
Na SCPH, os achados anatomopatológicos basicamente estão nos pulmões,
podendo haver discretas outras lesões em fígado, baço e linfonodos.
Macroscopicamente, os pulmões mostram-se congestos, avermelhados, com peso
até 2 vezes maior que o seu valor normal; é comum a presença de efusão pleural
amarelo-citrina uni ou bilateral. As lesões histopatológicas são primariamente
vasculares com dilatação capilar e edema endotelial; na maioria dos casos revela-se
a presença de pneumonite intersticial leve a moderada com graus variados de
congestão, edema e infiltração de células mononucleares, com aparência de
imunoblastos (FERREIRA, 2003; ELKHOURY, 2008).
A formação focal de membranas hialinas, além de extenso edema intra-
alveolar, com presença de fibrina e hemácias constituem achados histopatológicos
consideráveis. Em geral, não há hiperplasia de pneumócitos tipo II. Documenta-se
dano alveolar difuso, característico da síndrome da angústia respiratória do adulto
(SARA), em pacientes com doença de curso mais prolongado e, nesses casos,
29
evidenciam-se as alterações características dos estágios exsudativo e proliferativo da
síndrome. Outros achados histopatológicos típicos podem ser vistos no baço e
linfonodos, e incluem a presença de imunoblastos na polpa vermelha e regiões peri-
arteriolares esplênicas e na região paracortical dos linfonodos. Em um caso,
autopsiado na Universidade Federal de Uberlândia, descreveu-se a presença de
imunoblastos no parênquima cerebral, fato ainda não relatado na literatura.
Finalmente, nos espaços portais, documenta-se a presença de infiltrado inflamatório,
além de raros focos de necrose hepatocítica, que justificariam o aumento discreto das
aminotransferases séricas constantemente observados nos pacientes com as formas
graves da virose (FERREIRA, 2003).
1.5.3 Quadro Clínico
Para Raboni (2006), a FHSR caracteriza-se por apresentar um período de
incubação de duas a três semanas, seguida do início súbito de uma fase febril
(prodrômica) com sintomas semelhantes à influenza, febre, mal-estar, tremores e
prostração, que dura de três a cinco dias. No decorrer deste período pode ocorrer a
fase hemorragia, que se manifesta com um rubor cutâneo e (ou) hiperemia de
conjuntivas e mucosas, decorrente da dilatação dos capilares, e edema
retroperitoneal, que se manifesta como dores nas costas, decorrente do aumento da
permeabilidade capilar. O início súbito e grave de albuminúria no 4º dia da fase febril
é uma característica da forma severa desta doença. Este sinal é seguido de
hipotensão, trombocitopenia grave, petéquias, náuseas e vômitos e, em torno de 15%
dos casos, choque; também pode ocorrer oligúria. A insuficiência renal contribui para
a metade dos óbitos durante esta fase. Os sobreviventes entram em uma fase
diurética, que pode durar meses, e em seguida na fase de convalescença, que dura
de semanas a meses. Estas fases não são observadas em todos os doentes, e são
descritos casos de evolução fatal muito rápida, assim como formas muito leves desta
doença, sendo a sua causa ainda desconhecida.
30
A SCPH, de acordo Raboni (2006), apresenta-se como uma síndrome febril
aguda caracterizada pelo grave comprometimento cardiovascular e respiratório que
clinicamente assemelha-se à síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA). O
período de incubação estimado é de zero a 33 dias, com uma média de 15 dias.
Mazzarotto (2009), relata um período de incubação observado na infecção pela
variante Sin Nombre de cerca de 8 à 20 dias seguida de rápida morte do paciente um
a três dias após o aparecimentos dos sintomas.
A SCPH caracteristicamente apresenta quatro estádios: febre prodrômica, fase
cardiopulmonar, diurese e convalescença. No período prodrômico, que pode durar de
três a seis dias, observam-se frequentemente febre, mialgias, náuseas e diarreia,
raramente são relatados vômitos, cefaleia, dor abdominal, dor torácica, sudorese,
vertigem, tosse e dispneia. A fase cardiopulmonar dura em torno de dois a dez dias,
e pode manifestar-se desde uma doença leve apenas com dispnéia até um grave
comprometimento cardiovascular, insuficiência respiratória e instabilidade
hemodinâmica. A hipotensão é comum nesta fase, podendo culminar com o choque.
A doença progride rapidamente, necessitando hospitalização e assistência ventilatória
nas primeiras 24 horas, sendo que o óbito ocorre em até 50% dos casos nos primeiros
três dias de internamento. Nos sobreviventes, ocorre subitamente a diurese,
usualmente associada com uma rápida melhora clínica. O curso e a duração da fase
de convalescença são muito variáveis, mas muitos pacientes descrevem uma fadiga
persistente e uma limitada tolerância aos exercícios por vários meses (RABONI, 2006;
ELKHOURY, 2008).
1.6 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico laboratorial da hantavirose pode ser realizado por técnicas
sorológicas e virológicas. As técnicas virológicas, como cultivo celular do vírus,
fornecem importantes informações das características virais, mais requerem alto nível
de biossegurança (nível 3) e capacitação técnica, limitando seu uso. Por apresentar
boa especificidade e sensibilidade e serem de fácil execução as técnicas sorológicas
vêm sendo utilizadas no diagnóstico da hantavirose desde a década de 1970. A
31
imunofluorescência indireta para pesquisa de anticorpos da classe IgG foi bastante
utilizada até o final da década de 1980. No início da década de 1990, foram
desenvolvidos métodos de diagnóstico sorológico utilizando a proteína N do vírus
preparada a partir de células Vero E6 ou antígeno N recombinante Chioratto et. al.
(2010). A infecção neste substrato não produz efeito citopático, sendo confirmada por
imunifluorescência indireta ou RT-PCR após duas semanas da inoculação (RABONI,
2006).
Para a produção de antígenos recombinantes a proteína N tem sido escolhida
por ser um alvo antigênico mais sensível do que as glicoproteínas, e também por
induzir inicialmente uma resposta humoral mais intensa, precoce e duradoura,
técnicas tradicionais como o cultivo celular, a detecção de anticorpos e a detecção de
antígenos em ensaios imunohistoquímicos têm sido utilizados em conjunto com
métodos mais avançados de detecção viral, baseados na detecção do RNA viral.
Estes últimos incluem: reação de cadeia de polimerase após transcrição reversa (RT-
PCR), que permite além da detecção, a caracterização genética do vírus; testes de
quantificação da carga viral pelo método de PCR em tempo real ou PCR quantitativo
(qPCR); testes para identificação de diversos genótipos de hantavírus pela análise de
polimorfismo dos fragmentos clivados por enzimas de restrição, além da técnica de
microarranjo de alta densidade de DNA (RABONI, 2006).
Para Ferreira (2003), a imunohistoquímica aplicada aos tecidos, com finalidade
de identificação de antígenos virais, é uma forma de confirmação diagnóstica
principalmente utilizada em casos fatais, nos quais não se pode obter amostras de
soro durante o curso da doença.
O diagnóstico sorológico apresenta alta sensibilidade e especificidade, pois
desde o início dos sintomas da infecção por hantavírus, anticorpos das classes IgG e
IgM estão presentes na maioria dos pacientes. No entanto, há relatos de casos que
demonstram uma soroconversão um pouco mais tardia; por este motivo, quando há
suspeita clinica com sorologia negativa, o teste deve ser repetido (RABONI, 2006).
De acordo com Ferreira (2003), os anticorpos da classe IgG persistem por toda
a vida do indivíduo e podem ser utilizados em investigações sorológicas, visando
identificar infecções passadas sintomáticas ou assintomáticas. Um ensaio Western-
blot, usando antígenos recombinantes e conjugados isotípicos específicos para
diferenciar anticorpos IgG e IgM, foi desenvolvido recentemente para diagnóstico para
síndrome cardiopulmonar por hantavírus e os resultados obtidos com esse novo teste
32
concordam com testes imunoenzimáticos. Ainda segundo Ferreira (2003), o uso de
cepas virais locais para realização das reações sorológicas não tem sido possível,
embora isso não seja essencial uma vez que os diversos hantavírus possuem alta
semelhança na sequência de aminoácidos.
De acordo a normatização para diagnóstico de hantavirose da Diretoria de
Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (DIVE) de 2006, todas as amostras
biológicas devem ser encaminhadas seguindo normas de biossegurança e
acompanhadas de cópia da ficha de notificação devidamente preenchida e do
formulário de pesquisa de hantavírus, onde deve ser registrada a data do início dos
sintomas, a data da coleta da amostra e o município de residência do paciente. O
laboratório de referência nacional para Santa Catarina é o Instituto Adolfo Luz em São
Paulo.
Quanto ao material a ser enviado a orientação da DIVE (2006), diz que para
diagnóstico sorológico de Elisa IgG e Elisa IgM, serão enviados 5 ml de sangue
venoso (soro), e em caso de óbito do paciente sangue intra-cardíaco. As amostras
serão acondicionadas em frascos sem anticoagulante, congeladas a – 20ºC ou
refrigeradas por no máximo 24 horas. Para técnica de RT-PCR, 5 ml de soro, plasma,
sangue ou coagulo até 7 dias após o início dos sintomas, em caso de óbito do paciente
enviar 1,5 cm² de fragmentos de pulmão, rins, baço e fígado coletados em até 8 horas
após o óbito. A conservação destas amostras deverá ser realizada a -70ºC ou em
nitrogênio líquido. Para a técnica de imunohistoquímica, o material coletado será 1,5
a 2 cm² de fragmentos de pulmão, rim, baço, linfonodo, coração, pâncreas, glândula
pituitária, cérebro e fígado retirados em até 8 horas após o óbito. Estas amostras
deverão ser acondicionadas em solução de formalina tamponada a 10% ou em blocos
de parafina e não deverão ser refrigeradas (DIVE, 2006).
1.7 TRATAMENTO
Segundo Yeda (2009), não existem métodos terapêuticos e profiláticos eficazes
e seguros contra FHSR e SCPH, como antivirais, imunoterápicos ou vacinas
licenciadas pela Organização Mundial da Saúde. A ribaravina, um antiviral utilizado
no tratamento das hantaviroses, mostra-se eficiente quando aplicada na fase inicial
33
da infecção, isto é, nos primeiros cinco dias após o aparecimento dos sintomas, e vem
sendo utilizada em casos de surtos de FHSR caudados pelo vírus Hantaan, na Coréia
e China porém, não mostra a mesma eficácia nos pacientes com SCPH de acordo
com estudos nos EUA e Brasil.
Para Ferreira (2003), os casos graves da doença devem ser tratados em
unidades de terapia intensiva. Como geralmente não há confirmação do diagnóstico
no início do tratamento, este deverá envolver medidas terapêuticas destinadas a
outras infecções pulmonares. Se a suspeita de hantavirose for elevada com base em
dados hamatológicos e epidemiológicos, cuidado deve ser tomado com administração
intravenosa de fluidos, que se excessiva poderá precipitar o edema pulmonar. Grande
número de pacientes desenvolve hipotensão e/ ou choque, cujo tratamento deve
incluir, além da reposição volêmica, o uso de drogas vasoativas como a dobutamina
ou dopamina. Alguns autores preconizam o uso precoce destas aminas, com
finalidade de prevenir o aparecimento do choque e da depressão miocárdica que
ocorrem de forma sistemática nas formas graves.
Ainda segundo Ferreira (2003), após término do período prodrômico, instala-se
a fase cardiopulmonar da doença, com desenvolvimento de insuficiência respiratória,
e grave hipoxemia, cujo tratamento inicial deve incluir, suplementação de oxigênio
preferencialmente por máscara devendo-se realizar periodicamente dosagens dos
gases sanguíneos para avaliar a eficácia desta medida. Grande percentual de
pacientes necessita de ventilação mecânica durante períodos variados. Infelizmente
quase a metade dos pacientes morre após o desenvolvimento do edema pulmonar e
do choque. A duração média da enfermidade desde o início dos sintomas até a cura
ou óbito é de sete a dez dias.
Devido ao quadro de choque estar ligado a baixos níveis de anticorpos
neutralizantes contra o vírus, a imunização passiva com a utilização de anticorpos
neutralizantes humanos pode representar uma alternativa efetiva no tratamento de
infecções por hantavírus. Embora não existam relatos de sua eficácia em humanos,
estudos em camundongos, utilizando anticorpos monoclonais neutralizantes ou soros
policlonais para o vírus Hantaan, têm protegido os animais da infecção pelo hantavírus
(YEDA, 2009).
34
1.8 PREVENÇÃO E CONTROLE
Segundo Pincelli et al. (2003), as estratégias de prevenção têm importância
para o controle dessa grave síndrome. A erradicação dos hospedeiros roedores não
é factível, nem desejável, pela alteração importante que esta medida poderia induzir
em seu ecossistema. A maneira mais eficaz de diminuir o risco de síndrome
cardiopulmonar por hantavírus, consiste em limitar a exposição humana aos roedores
infectados ou a locais fechados onde haja infestação ativa por esses animais. Em
geral, suspeita-se de infestação por roedores pela observação direta de animais, pelo
encontro de seus “ninhos” ou fezes (estas são pequenas e ovais como grãos de arroz
e de coloração escura), ou ainda pela evidência de marcas de roedura em alimentos
e outros objetos.
Para Ullmann et al., (2008), edificações fechadas por longos períodos devem
ser abertas primeiramente para ventilação, os locais que apresentam excretas de
roedores devem ser inicialmente umedecidos com agua contendo detergentes ou
hipoclorito de sódio a 10% por 30 a 60 minutos, o que evite suspensão de partículas,
após estes procedimentos o local pode ser limpo, o uso de mascaras com filtro tipo
P3 também é recomendado.
Nas áreas onde há relatos de casos, deve-se orientar a população sobre como
limpar e lidar com dejetos e roedores mortos. É importante também a orientação
quanto à exposição eventual a roedores, especialmente em acampamentos,
excursões e atividades rurais. Não se deve dormir ao relento, nem sobre a grama,
sem forrações ou tendas. Deve-se conservar o lixo em locais tampados e longe da
barraca de camping. Os gêneros alimentícios devem permanecer guardados em
recipientes vedados, para não atrair os roedores. Nas habitações de área rural é
interessante orientar para cuidados com o armazenamento de ração e água para
animais, não deixando que permaneçam disponíveis no período da noite. Toda fonte
de alimento para roedores deve ser removida das cercanias da residência, assim
como lixo, veículos abandonados, pneus velhos, etc., que podem servir de local para
que os roedores façam seus ninhos. Deve-se alertar para que áreas como hortas e
viveiros de animais, assim como pilhas de lenha, tijolos, pedras e outros materiais,
fiquem a, pelo menos, 50 metros de distância da residência (PINCELLI et al., 2003).
As áreas de armazenamento como galpões e silos, devem ser vedadas para
evitar a entrada de roedores e frequentemente ventiladas. Não se deve armazenar
35
colheitas ao ar livre. Nas áreas infestadas por roedores, deve-se proteger os seus
predadores naturais, como cobras não venenosas e corujas. Em locais com grandes
infestações, além dos cuidados descritos acima, é importante acrescentar às
precauções o uso de óculos de proteção e de máscaras com filtro de partículas aéreas
de alta eficiência (PINCELLI et al., 2003).
1.9 HISTÓRICO DAS AÇÕES DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA DE DOENÇAS
O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e Notificação de doenças foi
instituído através do Decreto 78.231 de agosto de 1976, que determina que a
vigilância epidemiológica será exercida, em todo território nacional pelo conjunto de
serviços públicos e privados, organizados em sistema específico sob a coordenação
do Ministério da Saúde.
Ainda de acordo com este decreto, as ações de vigilância epidemiológica serão
de responsabilidade dos serviços de saúde que disporão de meios para coleta das
informações básicas necessárias ao controle de doenças; diagnóstico de doenças que
estejam sob o regime de notificação compulsória; averiguação da disseminação da
doença notificada e a determinação da população sob risco; proposição e execução
de medidas de controle; e adoção e mecanismos de comunicação e coordenação do
sistema Ministério da Saúde (BRASIL, 2015).
1.10 SISTEMA DE INFORMAÇÕES DE AGRAVOS E NOTIFICAÇÃO – SINAN
O SINAN foi implantado no país entre 1990 e 1993, e em 1998 foi atualizado, é
um sistema nacional de livre acesso que tem por objetivo o registro e processamento
de dados sobre agravos de notificação em todo território nacional, fornecendo
informações para análise do perfil de morbidade e contribuindo, desta forma, para
tomada de decisões em nível municipal, estadual e federal IBGE (2015). Funciona
36
através da coleta de dados a partir da ficha individual de investigação (FIN), que é
preenchida nas unidades assistenciais para cada paciente quando da suspeita de
ocorrência de agravo a saúde de notificação compulsória ou de interesse nacional,
estadual ou municipal. Este instrumento é encaminhado para os serviços
responsáveis pela informação e/ ou vigilância epidemiológica das secretarias
municipais que repassam semanalmente as informações às secretarias estaduais de
saúde. O repasse dos dados da secretaria estadual para nível federal ocorre
quinzenalmente, de acordo com cronograma definido pelo Ministério da Saúde no
início de cada ano (IBGE, 2015).
De acordo com a Portaria nº 1.271 de 06 de junho de 2014 do Ministério da
saúde que define a lista nacional de notificação compulsória de doenças, agravos e
eventos de saúde pública nos serviços de saúde pública e privados em todo território
nacional, a Hantavirose representa um agravo de notificação compulsória imediata.
Como notificação compulsória a mesma portaria define em seu artigo 2º (VI),
comunicação obrigatória à autoridade de saúde, realizada pelos médicos,
profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos de saúde, públicos ou
privados, sobre a ocorrência de suspeita ou confirmação de doença, agravo ou evento
de saúde pública, descritos no anexo da portaria, podendo ser imediata ou semanal.
A portaria ainda diferencia tipos de notificação compulsória em imediata onde a
notificação deve ocorrer em até 24 horas a partir do conhecimento da ocorrência de
doença; notificação compulsória semanal onde a comunicação do evento deve ser
realizada em até 07 dias após a ocorrência; e notificação compulsória negativa onde
os estabelecimentos de saúde informam a não ocorrência de eventos da lista de
notificação (BRASIL, 2015).
De acordo com o guia de vigilância epidemiológica da Fundação Nacional de
Saúde (2002), o Sistema de Vigilância a Hantavirose no Brasil tem por objetivos
detectar precocemente casos ou surtos, conhecer a história natural da doença no
Brasil, identificar fatores de risco associados, identificar espécies de roedores
reservatórios, identificar os vírus circulantes no Brasil, conhecer a distribuição
geográfica dos Hantavirus no país, recomendar e executar medidas de prevenção e
controle e estudar a tendência da doença. Ainda de acordo com o guia, uma caso
suspeito de hantavirose está definido como pacientes com doença febril, geralmente
acima de 38° C acompanhado de mialgia e um ou mais dos seguintes sintomas:
calafrio, astenia, náuseas, dor abdominal, vomito, cefaleia intensa, insuficiência
37
respiratória aguda de etiologia não determinada, ou edema pulmonar não
cardiogênico na primeira semana do quadro, ainda como casos suspeitos são
considerados pacientes com enfermidade aguda apresentando edema pulmonar não
cardiogênico com evolução para óbito e pacientes com doença febril com histórico de
contato com a mesma fonte de infeção de uma caso confirmado laboratorialmente.
Como casos confirmados define-se pelo critério laboratorial o paciente suspeito
com os seguintes resultados de exame laboratorial: sorologia reagente positiva para
anticorpos séricos específicos contra hantavírus da classe IgM, soroconversão para
anticorpos séricos específicos da classe IgG (aumento de quatro vezes ou mais no
título de IgG entre a primeira e segunda amostras) ainda é possível confirmação
através de imunohistoquímica de tecidos positiva e reação de cadeia de polimerase
com transcriptase reversa (RT-PCR). Através do critério clinico epidemiológico
confirma-se um caso de hantavirose em pacientes que tenham frequentado áreas
conhecidas de transmissão de hantavírus ou tenham sido expostos à mesma situação
de risco de pacientes confirmados laboratorialmente, apresentando obrigatoriamente
as seguintes alterações: raio X de tórax com infiltrado intersticial bilateral com ou sem
derrame pleural que quando presente pode ser uni ou bilateral, hematócrito maior que
45% e trombocitopenia (número de plaquetas menos que 150 mil/mm³).
Um caso suspeito de hantavirose é descartado quando durante a investigação
tenha sido confirmado, laboratorialmente, para outra doença que não preencha os
critérios descritos acima.
38
2 OBJETIVOS
Identificar o perfil epidemiológico dos casos de hantavirose confirmados no
estado de Santa Catarina desde o primeiro caso em 1999 até 2015.
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Identificar através de dados do SINAN (Sistema de Informações de Agravos
de Notificação), a distribuição espacial dos casos notificados no estado.
b) Mapear as áreas de ocorrência da doença, correlacionando com dados
ambientais como sazonalidade e pluviosidade, bem como ocorrência dos
reservatórios nestas áreas.
c) Analisar as variáveis clínicas, laboratoriais e de tratamento relacionados aos
casos confirmados da doença.
39
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo quantitativo dos casos de Hantavirose
lançados no Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), no estado de
Santa Catarina, entre 1999, quando ocorreu o primeiro caso, a 2015. Serão analisadas
variáveis epidemiológicas, demográficas, clínicas, laboratoriais e de tratamento
contidas na ficha de investigação de Hantavirose do Ministério da Saúde.
As variáveis epidemiológicas e demográficas são: município provável de
infeção, total de casos confirmados por ano, faixa etária (< 1 ano, de 1-4 anos, de 5-
9 anos, de 10-19 anos, de 20-29 anos, de 30-39 anos, de 40-49 anos, de 50-59 anos
e igual e maior que 60 anos), local de residência, se rural ou urbana e provável
ambiente em que ocorreu a infecção, domiciliar de trabalho ou lazer.
Quanto as variáveis clínicas, foram avaliados presença de sinais e sintomas
como febre, cefaleia, hipotensão, dor torácica, sintomas neurológicos, tosse seca,
mialgia generalizada, choque, tontura/vertigem, astenia, dispneia, dor lombar (região
dos rins), náuseas/vômito, insuficiência cardíaca, petéquias (manchas vermelhas na
pele), insuficiência respiratória aguda, dor abdominal, diarreia, insuficiência renal.
Nas variáveis laboratoriais foram consideradas as seguintes informações:
realização ou não de radiografia torácica, bem como presença de alterações
radiográficas como infiltrado pulmonar difuso, infiltrado pulmonar localizado ou
derrame pleural. Ainda com relação às variáveis laboratoriais foram analisados a
realização ou não de coleta de sangue para exames bioquímicos e os resultados
destes exames como hematócrito, trombocitopenia, presença de linfócitos atípicos,
aumento de ureia e creatinina, TGO e TGP e morfologia de leucócitos. Com relação
ao diagnóstico, foram analisados dados referentes ao tipo de diagnóstico realizado,
pesquisa de anticorpos, imunohistoquímica, RT-PCR ou diagnóstico clínico
epidemiológico.
Nas informações sobre o tratamento, foram analisados as seguintes variáveis:
suporte terapêutico através de respirador mecânico; uso de drogas vasoativas como
dopamina, dobutamina ou similares; uso de medicamentos anti-virais; uso de
antibióticos; uso de corticoides; ou outros tratamentos. Ainda nesta variável será
analisada a evolução dos casos, se evoluiu para cura ou óbito.
40
Com objetivo de mapear as áreas de ocorrência da doença, identificamos no
mapa do estado os municípios onde ocorreram as notificações anualmente e
analisamos possíveis eventos naturais que possam ter relação com as ocorrências
como sazonalidade e pluviosidade. Os dados pluviométricos foram obtidos através de
solicitação ao serviço de monitoramento meteorológico da Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina através do Centro de Informações
de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia. Os dados de sazonalidade foram
extraídos das fichas de investigação de hantavirose através das datas de ocorrência
da doença. As marcações dos municípios do estado nos mapas, correspondem aos
casos confirmados, em ordem cronológica, de acordo com data registrada na ficha de
investigação, ocorrências repetidas em um mesmo município não serão
demonstradas.
O Tratamento estatístico foi realizado através da tabulação dos dados
utilizando o software Microsoft Excel 2013 calculando-se os percentuais de cada
variável.
41
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos dados do SINAN, lançados através da ficha de investigação de
Hantavirose, mostrou que foram notificados entre 1999 e 2015, em Santa Catarina,
1803 casos suspeitos; destes, 334 casos (18,5%) investigados foram confirmados, 239
pacientes (72,6%) sobreviveram, 95 (28,4%) foram a óbito e 5 (1,4%) casos, não
possuíam informação sobre evolução. A taxa de letalidade total foi de 28,4%, entre
homens e mulheres mostrou 29,9% para os homens e 26,4% para as mulheres. A
incidência média no período foi de 0,32 para cada 100.000 habitantes como mostra a
figura 9.
Figura 9. Incidência de hantavirose para cada 100.000 habitantes em Santa Catarina entre 1999 e 2015. Fonte: O Autor, 2017.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
INCIDÊNCIA / 100.000 HAB
INCIDÊNCIA
42
4.1 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
Ocorreram em média, entre 1999 e 2015, 20,7 casos de hantavirose por ano
(figura 10). Os dados do SINAN mostram o primeiro caso notificado em 1999 no
município de Navegantes (figura 11), embora Schmidt (2007), relate em seu estudo
sobre hantavirose em Santa Catarina, o município de São Lourenço do Oeste como
sendo o primeiro registro da doença no estado, porém este caso foi considerado não
autóctone e também foi confirmado pelo estado do Paraná. Os dados do SINAN
referentes a investigação de 1999 apresentam pouca consistência uma vez que os
campos referentes ao tratamento e evolução do caso não possuíam preenchimento.
No ano de 2000 as ocorrências foram dispersas com destaque para os quatro casos
do município de Seara registrados em uma mesma família (figura 12), aqui também
encontramos diferenças com o estudo de Schmidt (2005), que relata cinco casos no
município de Seara em 2000.
Figura 10. Número de casos de hantavirose confirmados por ano entre os anos de 1999 e 2015, no Estado de Santa Catarina. Fonte: O Autor, 2017.
0
10
20
30
40
50
60
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
CASOS POR ANO
Nº DE CASOS
43
Figura 11. Distribuição de casos em 1999. Figura 12. Distribuição de casos em 2000. Fonte: O Autor, 2017. Fonte: O Autor, 2017.
No ano de 2001, conforme mostra a figura 13, têm-se 19 registros, detectados
na região Oeste do Estado, sendo que destes, 17 casos na região meio oeste e apenas
dois na região do extremo oeste. Em 2002 (figura 14) o número de casos confirmados
foi menor, 14 ocorrências, porém cinco delas ocorreram na região do vale do Rio Itajaí,
região que anteriormente possuía apenas um caso registrado no ano de 2000.
Figura 12. Distribuição de casos em 2001. Figura 13. Distribuição de casos em 2002.
Fonte: O Autor, 2017. Fonte: O Autor, 2017.
44
Em 2003 (figura 15), assim como 2002, as ocorrências se concentraram nas
regiões oeste, com 03 casos e, meio oeste, com 07 casos, a região do Vale do Rio Itajaí
apresentou duas ocorrências.
Figura 14. Distribuição de casos em 2003.
Fonte: O Autor, 2017.
Como mencionado anteriormente, a média anual de ocorrências foi 20,7 casos,
sendo que a distribuição de casos em 2004 foi superior ao dobro deste número, foram
48 ocorrências registradas (figura 16). Duas hipóteses podem estar ligadas a esse
aumento, na primeira hipótese, Kruger et. al. (2014), aponta o aumento de casos
relacionado ao aumento de chuvas o que favorece a disponibilidade de alimento para
os reservatórios. Analisamos os dados climatológicos da época e encontramos índices
de chuva acima do normal nos meses de Janeiro, Março, Abril e Maio o que pode ter
contribuído com a elevação da ocorrência da doença. Outra causa relacionada,
segundo Oliveira et. al. (2013) é a chamada ratada, fenômeno biológico caracterizado
45
por um grande aumento na população de roedores silvestres de determinada área, em
decorrência de maior oferta de sementes produzidas durante a floração e frutificação
de determinadas espécies de bambus, conhecidos como taquaras. Ao término do clico
dos bambus a superpopulação de roedores parte em busca de alimentos em
residências, galpões de grãos entre outros; este fenômeno ocorre em média a cada 10,
20, ou mais anos, e teve registros de ocorrências em 2004, 2005, 2006 nos estados do
Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, Oliveira et. al. (2013). O fenômeno da
“ratada”, descrito, coincide com a elevação dos casos registrados nos anos de 2004 e
2006.
Figura 15. Distribuição de casos em 2004
Fonte: O Autor, 2017.
Outra característica das ocorrências de 2004 está relacionada a localização, 32
casos (66,6%) do total, foram registrados na região da grande Florianópolis, área que
até então não possuía registros da doença, no aspecto sazonal as ocorrências nesta
área também apresentaram uma característica em comum pois foram registradas entre
46
os meses de setembro e dezembro correspondentes a primavera e verão. A maior
ocorrência na primavera pode estar ligada a maior atividade de reservatórios. Estudos
em algumas regiões do Brasil têm demonstrado a ecologia de populações de
sigmodontíneos (roedores da subfamília Sigmodontinae) em áreas de Mata Atlântica e
áreas de Floresta Ombrófila Mista, ambas componentes do território catarinense. De
forma geral, nas áreas de Mata Atlântica a reprodução de espécies de sigmodontíneos
parece ocorrer de forma continuada ao longo do ano com picos em determinadas
épocas. Em áreas das regiões Sul e Sudeste, estudos demonstraram um pico de
populações de sigmodontíneos como Akodon montensis, Akodon cursor e Oligoryzomis
nigripies em períodos de junho a agosto o que representa um aumento na atividade
reprodutiva no final do verão (TEIXEIRA 2013).
Em 2005 (figura 17) foram registrados 22 casos, com destaque para região Meio
Oeste com nove ocorrências (40,9%). Embora o número de casos tenha ficado na
média em relação aos à média geral, relatos de produtores rurais na região de Caçador
revelaram grande infestação de roedores silvestres no mês de outubro, com perdas em
plantações de hortaliças e invasões de residências, Página Rural (2005), o município
de Caçador juntamente com Curitibanos, Calmon, Macieira, Timbó Grande, Videira e
Salto Veloso concentraram as nove ocorrências da região meio oeste, com exceção de
Salto Veloso que registrou a doença no mês de junho, os outros municípios citados
registraram os casos nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro daquele
ano.
Figura 16. Distribuição de casos em 2005.
Fonte: O Autor, 2017.
47
Em 2006, houve o registro de 45 casos (figura 18). Neste ano, como em 2004,
houve elevação em relação à média anual de ocorrências e assim como em 2005, um
número elevado de ocorrências na região meio oeste, com 11 casos. A região do Vale
do Rio Itajaí também apresentou um acumulo de registros, com 12 casos. Houve
registros da doença em todos os meses de 2006, com 25 casos (55,5%) ocorrendo na
primavera e verão. Em 2006 também houve ocorrência da ratada no estado Oliveira et.
al., (2013), o que pode ter contribuído com o aumento de casos da doença.
Figura 17. Distribuição de casos em 2006.
Fonte: O Autor, 2017.
A partir de 2007 (figura 19), a distribuição mostrou-se dispersa no Estado, sendo
registrados 20 casos neste ano. Em 2008 (figura 20), foram 19 ocorrências sem
características de acúmulo entre as regiões assim como 2009, que registrou 14
ocorrências também dispersas pelo estado (figura 21).
48
Figura 18. Distribuição de casos em 2007. Figura 19. Distribuição de casos em 2008.
Fonte: O Autor, 2017. Fonte: O Autor, 2017.
Figura 20. Distribuição de casos em 2009.
Fonte: O Autor, 2017.
Em 2010 foram 23 ocorrências com concentração de casos na região Oeste com
nove registros, sete no vale do Rio Itajaí e cinco na região da Grande Florianópolis.
Como citado anteriormente, um fator que pode contribuir para elevação do número de
casos pode ser o aumento de chuvas nos locais de ocorrência Kruger et. al. (2014).
Analisamos os índices pluviométricos de 2010 fornecidos pelo centro meteorológico
Epagri/Ciram e estes foram acima da média nas regiões Oeste, Vale do Rio Itajaí e
Grande Florianópolis nos meses de janeiro, março e abril. Um exemplo foi a região do
Vale do Rio Itajaí que apresenta historicamente médias para o mês de janeiro de 150
49
a 210 mm de chuva, porém em janeiro de 2010 o índice chegou à 485,5 mm em uma
estação meteorológica situada no município de Indaial. Já a estação do município de
Ponte Serrada, no Oeste, registou médias de 278 mm em março e 330mm em abril
quando as médias para estes meses são de 130 a 150 mm. Na Grande Florianópolis
uma estação localizada no município de São José registrou média de 349 mm em
março, quando a média para o período fica entre 130 e 150mm.
Figura 21. Distribuição de casos em 2010. Fonte: O Autor, 2017.
Entre 2011 e 2015 os casos ocorreram de forma distribuída sem acumulo de
ocorrências como mostram as figuras 23, 24, 25, 26 e 27. Em 2011 foram 19
confirmações, seguidas por 18 em 2012, 25 em 2013, 17 em 2014 e nove até março de
2015, quando iniciamos o estudo.
50
Figura 22. Distribuição de casos em 2011. Figura 23. Distribuição de casos em 2012.
Fonte: O Autor, 2017. Fonte: O Autor, 2017.
Figura 24. Distribuição de casos em 2013. Figura 25. Distribuição de casos em 2014. Fonte: O Autor, 2017. Fonte: O Autor, 2017.
51
Figura 26. Distribuição de casos até março de 2015.
Fonte: O Autor, 2017.
Em todo período estudado, dos 334 casos, 170 (50,8%) foram confirmados na
região oeste, formada majoritariamente por municípios pequenos e com características
agrícolas, esta região caracteriza-se como a maior área de produção agropecuária do
estado, segundo Marcondes (2016) a região oeste ocupa a primeira posição na
produção de milho e soja, como também, Fischer (2011) aponta a região como
responsável por 72,4% de todo leite produzido no estado. Atividades de avicultura e
suinocultura também tem sua maior concentração na região oeste Cidasc (2015), sendo
que, essas atividades se desenvolvem em áreas de transição entre plantações,
pastagens, instalações agropecuárias e a mata nativa que abriga os reservatórios da
doença. Kruger et. al. (2014) apontam que além dessa coexistência, o clima, a
sazonalidade tem importância no ciclo da hantavirose.
52
Figura 27. Distribuição regional dos casos de Hantavirose entre 1999 e 2015.
Fonte: O Autor, 2017.
4.2 DISTRIBUIÇÃO SAZONAL
Em todo período, o estudo sazonal demonstrou maior ocorrência da doença
entre os meses de setembro a dezembro, ou seja, na primavera com 41,61% dos casos.
A distribuição entre as outras estações do ano se equivalem sendo, 19,7% para verão
e outono e 18,8% para o inverno (figura 29). Figueiredo et. al. (2001), relacionam a
hantavirose com época do ano, coincidindo com a colheita de grãos que atrairiam o
reservatório e, favorecendo a aproximação com o ser humano.
Teixeira (2013), em estudos em áreas das regiões Sul e Sudeste, demonstrou
um pico de populações de sigmodontíneos como A. montensis, A. cursor e O. nigripies
em períodos de junho a agosto o que representa um aumento na atividade reprodutiva
no final do verão. Iaeger et. al. (2014), demonstraram em seu estudo sobre dimorfismo
sexual e variação sazonal em uma comunidade de roedores no sul do Brasil, maior
53
incidência de fêmeas A. montensis durante o inverno e machos durante a primavera e
verão, já a espécie O. nigripies apresentou maior incidência tanto de machos quanto
de fêmeas durante o inverno. Cademartori et. al. (2004) identificaram em seu estudo
sobre abundância de roedores Rodentia, Sigmodontinae, em áreas de floresta
ombrófila mista no Rio Grande do Sul, floresta também componente do território
catarinense, picos de populações de ocorrência de espécimes de O. nigripies e A.
montensis no mês de agosto de 1993 e 1992. Estes picos populacionais podem estar
relacionados à maior disponibilidade de alimentos e a maior atividade de reservatórios
na primavera (IAEGER et. al. 2014).
Figura 28. Distribuição sazonal das ocorrências de hantavirose entre os anos de 1999 e 2015 no Estado de Santa Catarina, Brasil. Fonte: O Autor, 2017.
4.3 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO
A análise dos dados mostrou o perfil dos pacientes acometidos por hantavirose
em Santa Catarina; 79,6% são homens com média de 35,9 anos e 20,4% são mulheres
66 66 63
139
19,7 19,7 18,8
41,6
Verão Outono Inverno Primavera
SAZONALIDADE
Ocorrências %
54
com 36 anos em média, como vemos na figura 30. A figura 31 mostra que 64% dos
pacientes residem em áreas rurais o que favorece o contato com os reservatórios, as
outras opções representam residência urbana 25,7% e periurbana 1,7%, em 3,8% dos
casos à informação sobre o local de residência foi ignorado. O provável local de
infecção da doença também ocorreu em áreas rurais, 77,8% dos casos (figura 32), os
outros locais de possível infecção são representados por áreas urbanas (11,3%) ou
periurbana (2%), neste item o percentual de casos com a informação ignorada foi de
8,6%. As informações da figura 33 mostram que o ambiente de trabalho foi o maior
responsável pelo contato com o agente causador da doença, 44,6% dos casos, outras
formas de contágio descritas foram ambiente domiciliar, 37,7% dos casos e áreas de
lazer, 6,8% dos casos e em 10,7% dos casos o provável local de infecção foi ignorado.
Figura 29. Sexo e idade média dos pacientes confirmados com hantavirose entre os anos de1999 e 2015 no Estado de Santa Catarina, Brasil. Fonte: O Autor, 2017.
79,6
20,4
35,9 36
0
20
40
60
80
100
MASCULINO FEMININO
SEXO E IDADE MÉDIA
% TOTAL IDADE MÉDIA
55
Figura 30. Local de residência dos pacientes confirmados com hantavirose entre os anos de 1999 e 2015 no Estado de Santa Catarina, Brasil. Fonte: O Autor, 2017.
Figura 31. Provável local de infecção dos pacientes confirmados com hantavirose entre os anos de 1999 e 2015 no Estado de Santa Catarina, Brasil. Fonte: O Autor, 2017.
0
50
100
150
200
250
Rural Urbana Periurbana Sem informação
LOCAL DE RESIDÊNCIA
LOCAL DE RESIDÊNCIA
0
50
100
150
200
250
300
Rural Urbana Periurbana Seminformação
PROVÁVEL LOCAL DE INFECÇÃO
PROVÁVEL LOCAL DE INFECÇÃO
56
Figura 32. Provável ambiente de infecção dos pacientes confirmados com hantavirose entre os anos
de 1999 e 2015 no Estado de Santa Catarina, Brasil.
Fonte: O Autor, 2017.
O campo 68 da ficha de notificação (anexo A) remete a informação sobre a
relação da doença com o trabalho, sendo que, da amostra total de 334 casos, 287
possuíam este dado, destes, 51,7% foram relacionados ao trabalho, isto é, o paciente
com média de 35,9 anos para os homens e 36 anos em média para as mulheres estava
trabalhando quando adquiriu a doença, 34,1% dos casos não foram atribuídos a
atividades de trabalho e 14% não possuíam informação. Watson et al. (2014)
consideram as hantaviroses doenças de caráter profissional, desta forma, profissionais
como agricultores, médicos veterinários, engenheiros agrônomos, biólogos entre
outros, ligados direta ou indiretamente à atividades relacionadas ao ambiente dos
roedores estão mais expostos ao vírus afirmam ainda que em mais de 50% dos casos
no Brasil os pacientes estão ligados a atividades agropecuárias. O campo 32 da ficha
de investigação remete, ainda, a informação sobre as atividades de trabalho
desenvolvidas pelo paciente, este campo é preenchido de acordo com o código
brasileiro de ocupações, desta forma, encontramos 94 casos (28,1%) sem código de
ocupação ou códigos invalidados, dos 240 pacientes restantes que possuíam a
informação, 133 (55,4%) tiveram relatados como código de ocupação atividades ligadas
a agricultura e pecuária sejam elas produtivas ou extrativistas.
Os antecedentes epidemiológicos, representados no campo 33 da ficha de
investigação (anexo A) indicam atividades que o paciente possa ter desenvolvido nos
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Trabalho domiciliar Lazer Sem informação
PROVÁVEL AMBIENTE DE INFECÇÃO
PROVÁVEL AMBIENTE DEINFECÇÃO
57
60 dias anteriores à busca pelo atendimento, estas informações tem o objetivo de
contribuir na conclusão do diagnóstico da doença. Neste sentido, 61,9% dos pacientes
relataram exposição ou limpeza de casa, despensa, galpão, depósitos, sótãos, porões
ou semelhantes, corroborando com o observado por Junior et al. (2012). Segundo
Manual da Vigilância Prevenção e Controle das Hantaviroses, Brasil (2013), geralmente
a infecção humana ocorre por meio de vias aerógenas, um exemplo disso é a inalação
de poeiras e aerossóis contaminados como a urina, fezes ou saliva de roedores
infectados. Elkhoury (2008), relata que, embora outros antecedentes epidemiológicos
são descritos em países da América Latina, no Brasil, assim como encontramos em
Santa Catarina, predomina a limpeza de ambientes potencialmente contaminados com
excretas de roedores como principal mecanismo exposição à doença, o ato da limpeza
suspende partículas de poeira o que facilita a inalação.
Cinquenta e cinco por cento dos pacientes relataram contato direto ou visual com
rato silvestre vivo ou morto e suas excretas ou vestígios como fezes, urina, sangue,
saliva, roeduras, pegadas, trilhas, manchas e outros sinais de ratos. A opção de
desmatamento, aragem de terra, plantio e colheita agrícola, corte de lenha e outros
semelhantes foi relatada por 54,1% dos pacientes. O vírus da hantavirose pode ser
mais facilmente transmitido em ambientes que armazenam grãos, uma vez que os
mesmos servem de alimentos para os roedores. Além disso, o contágio pode ocorrer
durante os procedimentos como a limpeza dos locais onde há a presença desses
roedores, no transporte de sacas de grãos (SCHMIDT, 2007).
58
Figura 33. Antecedentes epidemiológicos nos 60 dias antecedentes ao atendimento, dos pacientes confirmados com hantavirose entre os anos 1999 e 2015 no Estado de Santa Catarina, Brasil. Fonte: O Autor, 2017.
Sessenta e dois pacientes (18,5%) relataram apenas uma atividade dentre as
opções da ficha que possa ter gerado o contato com o agente, 81,4% dos pacientes
relatou mais de uma opção. As associações entre as possíveis atividades
desenvolvidas no momento da aquisição da doença convergem para o dado
apresentado anteriormente de que em mais da metade dos casos (87,4%), os pacientes
adquiriram a doença trabalhando, visto que as demais opções também caracterizam
atividades de trabalho como atividades agrícolas de aragem de terras, plantio ou
colheitas e moagem e/ou transporte de grãos. As opções dormir, descansar em
barracas, galpões, ou outros locais semelhantes bem como as atividades de lazer como
pesca, caça, turismo rural ou similares representaram isoladamente um índice baixo,
apenas 3,2% dos pacientes relataram estas atividades isoladamente. Em 5,9% dos
casos não havia informações sobre contato com o agente.
O campo 56 da ficha de notificação informa sobre o local provável da fonte de
infecção, desta forma 36,5% dos casos foram considerados autóctones do município
de residência dos pacientes; 9,5% não autóctones; 4,1% indeterminados e em 49% dos
casos não há informação, o que representa uma falha no preenchimento ou lançamento
dos dados da ficha de investigação, visto que a informação sobre o local aonde o
0
50
100
150
200
250
Exposição Contato diretoou visual
Atividadesagrícolas
Moagem degrãos
Lazer Descanso
ATIVIDADES QUE O PACIENTE SE EXPÔS NOS ÚLTIMOS 60 DIAS
59
paciente adquiriu a doença tem valor muito importante no aspecto de controle e
prevenção da enfermidade.
Figura 34. Local da provável fonte de infecção dos pacientes confirmados com hantavirose entre os anos de 1999 e 2015 no Estado de Santa Catarina, Brasil. Fonte: O Autor, 2017.
Embora, através da análise dos dados da ficha de investigação, não tenhamos
como determinar o período de incubação da doença, que de acordo com Limongi;
(2007) e Ferreira (2003), pode variar entre 2 a 42 dias, com média de aproximadamente
14 dias, podemos determinar o intervalo médio entre o aparecimento dos sintomas e a
busca pelo atendimento na unidade de saúde, este intervalo foi de 3,5 dias,
corroborando ao citado por Figueiredo et. al. (2001), que descrevem a busca pela
assistência medica no 4º dia da doença, quando se inicia dispneia, que se manifesta
inicialmente com esforços moderados, progredindo em 24 a 48 horas para dispneia aos
mínimos esforços do paciente, bem como, tosse frequente com eliminação de
secreções pulmonares.
4.4 VARIÁVES CLÍNICAS
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
Autóctones Não autóctonesIndeterminados SemInformação
LOCAL DA PROVÁVEL FONTE DE INFECÇÃO
LOCAL DA PROVÁVEL FONTE DEINFECÇÃO
60
Os principais sintomas apresentados foram febre (causada principalmente pela
infecção do hantavírus), relatada em 90,1% dos pacientes, seguida de cefaleia 82,3%,
mialgia 72%, vômito e dispneia apareceram em 70,3% e 64,6% respectivamente.
Ferreira (2003) apresenta em uma revisão sobre hantavirose, a cefaleia como um
sintoma menos frequente, porém ela aparece como o segundo sintoma mais relatado
pelos pacientes em Santa Catarina, outra diferença encontrada é a ocorrência de
diarreia que não se mostrou tão frequente no presente estudo, apenas 15% dos casos.
Já Ferreira (2003), apresenta 40% de ocorrência deste sintoma. Os demais sintomas
relatados foram em sequência: dor abdominal, tosse, tontura, astenia, dor lombar,
hipotensão, insuficiência respiratória, diarreia, insuficiência renal, sintomas
neurológicos, choque, dor de garganta, insuficiência cardíaca, cianose, petéquias.
Embora a doença curse com comprometimento pulmonar, Figueiredo (2006) ressalta
em seu estudo sobre febres hemorrágicas no Brasil que no início do quadro não
ocorrem tosse, coriza ou outros sinais respiratórios, estes sinais geralmente aparecem
após o terceiro dia da doença cursando com tosse inicialmente seca e posteriormente
produtiva com expectoração muco sanguinolenta, a tosse foi relatada por 55% dos
pacientes (figura 36), como vimos anteriormente o intervalo médio entre o aparecimento
dos sintomas e a busca pelo atendimento foi de 3,5 dias podemos relacionar que a
busca ocorre quando inicia-se a tosse. Segundo Peters (1998), não é fácil, por meio
dos sintomas iniciais, realizar o reconhecimento precoce dessa doença, uma vez que
os mesmos podem ser confundidos com outras doenças como dengue e a leptospirose.
A evolução clínica da doença divide-se em cinco fases (febril, hipotensiva,
oligúrica, diurética e de convalescência) e, dependendo do grau da doença podem
sobrepor-se ou mesmo não aparecerem. Inicialmente surge rapidamente sintomas
como febre elevada, calafrios, cefaleia, fotofobia, mialgias, dor abdominal, náuseas e
vômitos. O fígado pode ser palpado em significativo número de casos. A recuperação
nesta fase é lenta, mas não é incomum porém, alguns pacientes evoluem com
hipotensão e choque que costuma ocorrer antes do 5º ou 6º dia Schmaljohn (1994),
Linderholm (1997), encontramos relatos de hipotensão em 70 (20,9%) dos pacientes e
choque foi reportado em 27 (8,08%) dos casos, estes autores ainda citam nesta fase,
hemorragias relatadas em 16 (4,7%) dos casos e comprometimento da função renal
encontrada em 53 (15,8%) dos pacientes em Santa Catarina.
61
Figura 35. Sinais clínicos mais frequentes nos pacientes confirmados com hantavirose entre os anos de 1999 e 2015, no Estado de Santa Catarina, Brasil. Fonte: O Autor, 2017.
4.5 VARIÁVEIS LABORATORIAIS
As informações laboratoriais mostraram que em 94% dos pacientes foi realizada
coleta de sangue, em 33% deles o hematócrito foi maior que 45%, corroborando com
o encontrado no estudo de Meneses Filho e colaboradores 2016. Este valor de
hematócrito maior do que 45% ocorre pelo extravasamento do liquido do espaço
intravascular para o parênquima pulmonar Figueiredo, (2006). Conforme Johnson et.
al. (1999) o extravasamento de líquido intravascular para o interstício nos tecidos leva
à falência renal, respiratória e ao choque séptico. Trombocitopenia esteve presente em
57% dos pacientes, número inferior dos 80% citados por Ferreira (2003), o mecanismo
de infecção celular utilizado pelos hantavirus do continente Americano se dá através de
receptores β3 integrinas, presentes também nas plaquetas o que pode explicar a
trombocitopenia, este fenômeno também está ligado em partes às manifestações
hemorrágicas da doença devido à redução da adesividade das plaquetas
0
50
100
150
200
250
300
350
SINAIS CLÍNICOS MAIS FREQUENTES
62
(FIGUEIREDO et. al., 2001). Leucocitose esteve presente em 35,6% dos casos sendo
que a presença de linfócitos atípicos foi constatada em 8,3%. Em 36% dos pacientes
foi realizado diagnóstico por imagem através de radiografia torácica, 62% deles
apresentaram reações, sendo o infiltrado pulmonar difuso a alteração mais frequente,
presente em 53,7% dos pacientes. Ferreira (2003) associa um discreto aumento nas
aminotransferases séricas a casos graves da doença, encontramos informações
referentes às enzimas hepáticas TGO e TGP em 78 casos, 23,3% do total, destes 28%,
22 casos evoluíram para óbito.
Com relação ao diagnóstico da doença, em 93,7% dos casos foi laboratorial, em
5% o diagnóstico foi realizado somente pelo histórico clínico epidemiológico e 1,1% não
possuíam informação. Quanto ao tipo de diagnóstico, a pesquisa de anticorpos mostrou-
se o método mais utilizado; 90,4% dos pacientes foram reagentes à pesquisa de IgM. Os
anticorpos IgM estão presentes já nas fases iniciais da doença sendo a técnica de ELISA
a mais utilizada, além disso, um aumento de quatro vezes nos títulos de IgG também
confirma o diagnóstico visto que estes permanecem por toda vida do paciente
(FERREIRA, 2003). Schonrich et al. (2008) e Pettersson et al. (2013) citam também,
além da IgG, altos títulos de IgA presentes na fase aguda da doença, para estes autores
a carga viral está diretamente associada aos títulos destes anticorpos, sendo que quanto
menor o título, maior a carga viral, esta correlação ocorre em pacientes com quadros
moderados e graves da hantavirose. Em contrapartida com altos títulos de IgG tiveram
resultados favoráveis no desfecho clínico. Estes dados indicam que um futuro tratamento
utilizando imunização passiva poderia auxiliar na evolução destes pacientes. A
imunohistoquímica foi realizada em 13 pacientes dos quais 10 tiveram resultado
reagente. A imunohistoquímica, aplicada aos tecidos com a finalidade de identificar
antígenos virais, é outra forma de confirmação diagnóstica, sendo fundamentalmente
utilizada em casos fatais, nos quais não se pode obter amostras de soro durante o
período da doença. Diagnósticos retrospectivos também podem ser realizados através
do uso dessa técnica em tecidos parafinados, retirados de necropsias realizadas meses
ou anos antes (FERREIRA, 2003).
A técnica de reação de cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR)
foi utilizada em cinco pacientes, destes, três apresentaram resultado positivo. Este
método pode ser utilizado para identificar o RNA viral em amostras de sangue ou tecidos
provenientes de casos suspeitos. Esse teste usualmente identifica o RNA viral nos
primeiros 7 a 10 dias de doença. Embora primers sensíveis para amplificação,
63
provenientes de sequências genéticas obtidas de tecidos humanos ou de roedores
tenham sido utilizadas, existem, por vezes, diferenças significativas entre os vírus
isolados de cada região ou país, complicando o uso e a sensibilidade da técnica para
uso rotineiro no diagnóstico das hantaviroses (JENISON et. al.; 1995, PETERS, 1998;
TERAJIMA et.al.; 1999).
Ferreira (2003) considera os ensaios de RT-PCR métodos rápidos de
caracterização genética de novos hantavírus, mesmo sem obter-se o isolamento viral.
A combinação de testes sorológicos (IgM-ELISA e IgG-ELISA) e testes de moleculares
(RT-PCR) pode aumentar a sensibilidade e a especificidade do diagnóstico de
hantavirose, no entando Figueiredo e colaboradores (2010), em estudo com pacientes
de um hospital no estado de São Paulo, registraram um caso negativo a esses testes
porém a presença do vírus foi confirmada por análise histoquímica, sendo que o
paciente foi a óbito.
O campo 54 da ficha de investigação representa a informação referente a forma
clínica da doença, prodrômica ou inespecífica ou síndrome cardiopulmonar por
hantavírus. Esta classificação não aparece nas planilhas de informação anteriores a
2007, os dados existentes, posteriores a este ano, apresentam 166 pacientes com
informação, 96 (57,8%) casos foram classificados como síndrome cardiopulmonar por
hantavírus (SCPH), e 68 (40,9%) como forma prodrômica ou inespecífica, dois casos
não possuíam esta informação. A determinação da forma clínica da doença depende
da fase em que o paciente se encontra no momento do preenchimento da ficha de
investigação, para Elkhoury (2007), a SCPH apresenta quatro fases clínicas, a fase
prodrômica dura de 3 a 6 dias com sinais inespecíficos como febre, mialgia, cefaléia e
náuseas, a fase seguinte é denominada de cardiopulmonar e dura de 7 a 10 dias com
sinais de insuficiência respiratória aguda e choque, nesta ocorre a maioria das mortes,
a fase diurética segue a cardiopulmonar e se caracteriza pela eliminação do líquido
extra vascular com duração de 5 dias, a última fase é a de convalescença, é a mais
longa podendo varias de semanas a meses caracterizada pela melhora gradativa dos
sintomas.
4.6 VARIÁVEIS DE TRATAMENTO
64
A análise dos dados referentes ao tratamento recebido pelos pacientes mostrou
que 91,6% necessitaram de tratamento hospitalar. Quanto ao tipo de tratamento
recebido 35,3%; necessitaram de ventilação mecânica, uso de antibióticos 47,3%, uso
de drogas vasoativas 14,3%, uso de corticoides 9,8%, antivirais 9,5%, CPAP 4,8%.
Para Severo (2002), o uso de corticoides é controverso e Figueiredo et.al., (2001), cita
que o uso destes medicamentos não mostrou-se eficiente em seu estudo de 18 casos
confirmados de hantavirose na região de Ribeirão Preto SP, nossa analise mostrou o
uso de corticoides em 33 (9,8%) dos pacientes, destes 15 (45,4%) não sobreviveram.
A Ribaravina, antiviral indicado na ficha de investigação, mostrou-se vantajoso
no caso da FHSR porém SCPH não foi capaz de reduzir a letalidade Severo (2002),
desta forma, como citado acima em 32 pacientes (9,5%), foi utilizado este antiviral,
destes 8 (25%) vieram a óbito.
A necessidade de ventilação mecânica mostrou-se uma condição ligada a
gravidade do quadro clínico, visto que 62% dos pacientes ventilados mecanicamente
faleceram, Filho (2016), relata em seu estudo sobre a letalidade da hantavirose no
estado de Goiás entre 2007 e 2013 que pacientes não ventilados mecanicamente tem
um prognóstico desfavorável. Outra condição grave e ligada ao óbito, foi a necessidade
do uso de medicamentos vasoativos representados na ficha de investigação pela
Dopamina, Dobutamina ou similares utilizados em casos de choque, 70% dos pacientes
que necessitaram de tais medicamentos faleceram. A associação entre os dois
procedimentos, ventilação mecânica com o uso de medicamentos vasoativos também
está intimamente ligado ao óbito, quando necessária esta associação para o
tratamento, 73% dos pacientes não sobreviveram. Para Fonseca (2001), o uso de
medicamentos vasoativos em pacientes críticos tem a função de otimizar o debito
cardíaco e o tônus vascular da circulação sistêmica e vascular, com o objetivo de
reestabelecer o aporte sanguíneo para os órgãos vitais durante o choque circulatório.
Como citado anteriormente 91,6% dos pacientes foram internados,
determinamos o período de internação através das datas de internamento e alta,
descartamos 67 casos em que não havia informação, no restante dos casos o período
de internamento foi de 7,8 dias, dentro do intervalo descrito por Oliveira (2013), de 7 a
10 dias como duração média da doença desde o início dos sintomas até cura ou óbito.
Com relação aos pacientes não sobreviventes o período em que estes permaneceram
internados foi de 1,9 dias, Khan (1996), cita a maior serie de hantavirose dos EUA com
65
100 casos estudados, nestes o período médio de internação de pacientes que vieram
a óbito foi de um dia.
Os custos de internação variam entre os anos, porém de acordo com análise dos
dados do sistema DataSus os pacientes internados com hantavirose custaram em
média R$ 120.208,67 por ano entre 1999 e 2015; excluímos do cálculo o ano de 1999
onde não há informação sobre internamento e o ano 2007 em que não obtivemos a
informação dos custos de internamento, e enquadramos os pacientes na categoria de
pesquisa no sistema DataSus, designado: “algumas doenças infecciosas e
parasitárias”.
Tabela 1. Custos de internamento de pacientes confirmados com Hantavirose entre os anos de 1999 e 2015.
ANO Nº DE
CASOS CUSTO MÉDIO
$ / DIA DIAS DE
INTERNAMENTO CUSTO ANUAL
TOTAL
1999 1 0 0 0
2000 9 R$ 374,57 7,8 R$ 26.294,81
2001 19 R$ 407,85 7,8 R$ 60.443,37
2002 12 R$ 449,20 7,8 R$ 42.045,12
2003 13 R$ 526,19 7,8 R$ 53.355,67
2004 48 R$ 610,81 7,8 R$ 228.687,26
2005 20 R$ 682,18 7,8 R$ 106.420,08
2006 47 R$ 706,83 7,8 R$ 259.123,88
2007 20 R$ 0,00 7,8 R$ 0,00
2008 20 R$ 719,60 7,8 R$ 112.257,60
2009 14 R$ 954,17 7,8 R$ 104.195,36
2010 21 R$ 1.017,05 7,8 R$ 166.592,79
2011 20 R$ 1.172,34 7,8 R$ 182.885,04
2012 18 R$ 1.167,88 7,8 R$ 163.970,35
2013 25 R$ 1.315,57 7,8 R$ 256.536,15
2014 17 R$ 1.317,07 7,8 R$ 174.643,48
2015 10 R$ 1.360,21 7,8 R$ 106.096,38
TOTAL R$ 2.043.547,35
Fonte: O Autor, 2017.
4.7 CARACTERÍSTICA DOS PACIENTES QUE VIERAM A ÓBITO
66
A análise das características exclusivamente dos pacientes que não
sobreviveram tem por objetivo identificar alguma variável que possa dar agilidade ao
diagnóstico e consequentemente reduzir a letalidade da doença. Como apresentado
anteriormente 95 pacientes 28,8% do total não sobreviveram. No aspecto dos sintomas,
89,4% apresentaram febre, 74,7% cefaleia, mialgia foi relatada por 68,4% dos
pacientes, 65,2% dos pacientes tiveram vômito, 61% apresentaram dispneia e 56,8%
tosse. A tabela 02 mostra a comparação entre os sintomas mais relatados entre os
pacientes sobreviventes e não sobreviventes, como vemos não há um sinal específico
que possa determinar a severidade do quadro, assim como Severo (2002), não
encontrou diferenças em seu estudo sobre os aspectos epidemiológicos e clínicos de
18 casos de hantavirose no Rio Grande do Sul este autor ainda descreve como
diferença entre os grupos o tempo de internamento, nosso estudo também apresenta
diferenças nesse aspecto sendo 1,9 dias para os pacientes não sobreviventes e 7,8
para os sobreviventes.
Tabela 2. Diferença entre sintomas nos pacientes sobrevivente e não sobreviventes.
Sinais apresentados Pacientes Sobreviventes Pacientes não sobreviventes
Febre 90,1% 89.4%
Cefaleia 85% 74,7%
Mialgia 73% 68,4%
Vômito 71.7% 65,2%
Dispneia 66,2% 61%
Tosse 54,2% 56,8%
Fonte: O Autor, 2017.
O diagnóstico por imagem mostrou alterações pulmonares em 43% dos óbitos,
sendo o infiltrado pulmonar difuso a alteração mais comum, presente em 30,5% e a
combinação entre infiltrado pulmonar difuso com derrame pleural apareceu em 32,6%
dos pacientes, nos pacientes sobreviventes o infiltrado pulmonar difuso também foi a
alteração mais frequente, presente em 51,2% dos casos.
67
Quanto ao perfil laboratorial destes pacientes, 50,5% apresentaram hematócrito
aumentado, 51,5% apresentaram trombocitopenia, 31,5% aumento de ureia e
creatinina e 40% leucócitos aumentados, nos sobreviventes, o hematócrito aumentado
apareceu em 41,8% dos casos, trombocitopenia esteve presente em 54,2%, aumento
de ureia e creatinina em 28,6% e 30,7% dos pacientes apresentaram leucócitos
aumentados.
Tabela 3. Diferenças laboratoriais entre pacientes sobreviventes e não sobreviventes.
Sinais apresentados Pacientes Sobreviventes Pacientes não sobreviventes
Hematócrito acima de 45% 41,8% 50,5%
Trombocitopenia 54,2% 51,5%
Aumento de Uréia e Creatinina 28,6% 31,5
Leucocitose 30,7% 40%
Fonte: O Autor, 2017.
Estes achados, embora não característicos, podem trazer suporte ao diagnóstico
de um caso suspeito. Raboni (2006) considera a trombocitopenia como uma
anormalidade consistente que poderia sozinha levar a suspeição de hantavirose visto
que é observado em mais de 80% dos casos, porém não foi o que observamos em
Santa Catarina, a trombocitopenia esteve presente em 54,2% nos pacientes
sobreviventes e 51,5% para os não sobreviventes.
Com relação ao tratamento 37,8% foram ventilados mecanicamente, em 28,4%
foi utilizado de drogas vasoativas, e a combinação entre estes dois procedimentos foi
realizada em 27,3% dos pacientes. Trinta e sete por cento dos pacientes ainda recebeu
antibióticos como parte do tratamento, Ferreira (2003), cita que não há tratamento
específico e os casos graves devem ser tratados em unidades de terapia intensiva,
como a confirmação do diagnóstico não rápida o tratamento deve envolver medidas
destinadas a outras infecções pulmonares como antibioticoterapia cujo espectro deve
incluir patógenos habituais e atípicos.
68
Tabela 4. Diferenças entre o tratamento em pacientes sobreviventes e não sobreviventes.
Tipo de Tratamento Pacientes Sobreviventes
Pacientes não sobreviventes
Ventilação Mecânica 18,3% 37,8%
Uso de drogas vasoativas 5,5% 28,4%
Uso de antibióticos 45,7 37%
Fonte: O Autor, 2017.
4.8 QUALIDADE DOS DASOS DO SINAN
Santos e Garrett, (2005) realizaram uma avaliação do sistema de vigilância de
hantaviroses no Brasil, e quanto à utilidade do sistema, concluíram ser útil e capaz de
detectar casos e surtos da doença, fornecendo informações que possibilitam conhecer
e descrever os segmentos populacionais sob risco de adoecer. O sistema também
mostrou-se útil para gerar mudanças em condutas de vigilância, praticas clínicas, e
reorganizar medidas de prevenção e controle.
Quanto a análise qualitativa, o sistema de vigilância de hantavirose mostrou-se
complexo e pouco flexível, a ficha de coleta é longa, a investigação é feita por etapas
necessita, frequentemente, de busca de informações em prontuários médicos sendo
assim é de fundamental importância a integração entre as instituições hospitalares e os
profissionais da vigilância para que estes tenham acesso às informações dos
prontuários. A ficha de investigação possui 109 campos de preenchimento, doa quais,
25 são destinados a informações sócio demográficas referentes a notificação. Os 84
campos complementares buscam informações sobre os aspectos etimológico, clínicos,
laboratoriais, de tratamento, ambientais, de conclusão dos casos e identificação do
profissional responsável pela investigação. Para aproximadamente 42 variáveis, é
necessária realização de busca em documentos ou entrevistas com os profissionais
nos hospitais ou laboratórios para completar os campos da investigação o que favorece
o não preenchimento completo da ficha. Ainda de acordo com Santos e Garret (2005),
o percentual de campos incompletos é elevado o que dá baixa qualidade aos dados, o
69
período de confirmação de um caso foi de uma semana, considerado longo pela
agressividade da doença.
Realizamos a análise de todas as variáveis e identificamos o percentual de
campos sem preenchimento (tabela 05).
Tabela 5. Percentual de campos sem preenchimento da ficha de notificação de hantavirose em Santa Catarina entre 1999 e 2015.
Campo da ficha de notificação Percentual de incompletos
Diagnóstico por imagem 52,39
Local provável da fonte de infecção 49,7
Tratamento 29
Ocupação 28,1
Data de alta hospitalar ou óbito 20
RT-PCR 19,46
Imunohistoquímica 14,37
Relação com o Trabalho 14
Ambiente de infecção 10,77
Local de infecção 8,68
Antecedentes epidemiológicos 6,28
Pesquisa de IgM 5,68
Local de residência 3,89
Data do primeiro atendimento 3,29
Colheita de Material 2,99
Evolução 1,49
Sinais Clínicos 0,59
Fonte: O Autor, 2017.
Os dois campos que apresentaram maior índice de não preenchimento foram o
diagnóstico por imagem e o local provável de infecção, quanto ao diagnóstico por
imagem o não preenchimento gera uma lacuna a respeito da execução desse método
de diagnóstico, visto que dentre as opções existentes para o preenchimento estão,
(sim) para realização do RX torácico, (não) para não realização do RX e (ignorado) para
70
informação ignorada, o campo em branco gera dúvida no sentido de não distinguirmos
o que realmente ocorreu do decorrer da investigação.
O campo referente ao local provável da fonte de infecção busca elucidar se o
paciente adquiriu a doença no local onde reside ou não, se tornando assim de
fundamental importância nas ações de prevenção e controle, uma vez que poderia
direcionar essas ações para áreas de maior ocorrência, o não preenchimento deste
campo também gera dúvidas no aspecto epidemiológico, pois temos uma doença
ocorrendo em uma determinada área porém informações insuficientes sobre se os
pacientes estão se infectando nesta área em outras regiões.
Como descrito anteriormente em 42 variáveis há necessidade de buscas
posteriores pelas equipes de investigação através de entrevistas com médicos e
pesquisas em prontuários para conclusão do processo investigativo, uma alternativa
seria a delegar o preenchimento destas variáveis para equipe médica que realiza o
tratamento do paciente, assim a ficha seria preenchida de acordo com a evolução dos
pacientes.
71
5 CONCLUSÕES
O estudo nos proporcionou a união de várias áreas do conhecimento, a biologia
referente aos reservatórios de hantavirus, as áreas medicas com relação a toda
dinâmica de ocorrência da doença desde os mecanismos de infecção passando pelos
protocolos de tratamento até cura ou óbito dos pacientes.
Podemos concluir que a hantavirose possui caráter ocupacional, visto que ocorre
em mais da metade dos casos em agricultores ou pessoas ligadas a atividades
agropecuárias. Acomete mais homens (79,6%) dos casos, com idade média de 35,9
anos, residentes em áreas rurais. O ambiente rural e as atividades de trabalho são
responsáveis pelo contato com o agente em mais da metade dos casos, 61% dos
pacientes relataram atividades de exposição ou limpeza de casa, despensa, galpão,
depósitos, sótãos, porões ou semelhantes quando adquiriram a doença. Ocorre em
todos os períodos do ano, porém na primavera, apresenta maiores índices de
ocorrência, fenômenos naturais como aumento de chuvas e a ratada, também tem
influência direta no aumento de casos da doença. A área aonde a doença foi mais
registrada em Santa Catarina é a região oeste, que possui a maior área de produção
agropecuária do estado condição ligada a coexistência entre o homem e os
reservatórios da doença.
Com relação aos sinais clínicos, não há algum especifico que possa levar
isoladamente a suspeição da doença, comparamos também os sinais apresentados por
pacientes sobreviventes e não sobreviventes em busca de alguma diferença
significativa e não os encontramos, assim a anamnese torna-se fundamental juntando
condições predisponentes descritas anteriormente auxiliando assim no diagnostico final
e na tomada de decisões a respeito do quadro.
Na área da prevenção e controle, acreditamos que a educação em saúde seja o
mais indicado, o controle populacional dos reservatórios não é factível por questões
legais e o mais importante pelo desequilíbrio ambiental que poderia acarretar. A
orientação à população partindo dos serviços de saúde coletiva através de agentes de
saúde ou serviços de sanidade animal e ou proteção ambiental, é fundamental no
esclarecimento dos mecanismos da doença, a capacitação destes atores responsáveis
72
por disseminar a informação também é muito importante, visto que a Hantavirose é uma
zoonose emergente e de conhecimento recente.
73
6 INTERDISCIPLINARIDADE
Para Leis (2005), a interdisciplinaridade pode ser entendida como uma condição
fundamental do ensino e da pesquisa na sociedade contemporânea, e define o conceito
como o ponto de cruzamento entre atividades disciplinares e interdisciplinares com
lógicas diferentes, na busca de um equilíbrio entre a analise fragmentada e a síntese
simplificadora do conhecimento.
A constante e impactante ação humana no meio ambiente vem proporcionando
cada vez mais um cenário propício para interação entre homens e animais domésticos
ou silvestres ampliando as chances de disseminação de agentes infecciosos e
parasitários entre esses hospedeiros, os animais silvestres em vida livre ou em
cativeiro, podem ser reservatórios e portadores de zoonoses significantes para saúde
pública e conservação da vida silvestre Barbosa et. al. (2011). Trabalhar com doenças
com potencial zoonótico como é o caso da Hantavirose, por si só abrange
conhecimentos interdisciplinares, visto que a interação entre ambiente, reservatórios,
vetores e hospedeiros envolve várias áreas do conhecimento como a biologia, no
entendimento das dinâmicas que envolvem a vida dos animais silvestres ou
domésticos, a medicina veterinária atuando dentro da sanidade animal seja ela em
setores voltados a produção ou sanidade de animais de companhia, e as ciências da
vida responsáveis pelos processos após a instalação das doenças.
74
7 REFERÊNCIAS
ARAÚJO J. Detecção molecular de hantavírus pela técnica de real-time PCR em amostras de roedores silvestres coletadas na região do Vale do Ribeira no estado de São Paulo. São Paulo, 2010. Tese [Doutorado em Microbiologia] Instituto de Ciências Biomédicas – Universidade de São Paulo.
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BARBOSA AD, MARTINS NRS, MAGALHÃES DF. Zoonoses e saúde pública: riscos da proximidade humana coma fauna silvestre. Cienc. Vet. Trop. Recife-PE 14(1)(2)(3): 1-9 jan-dez 2011.
BARÓ MA, VERGARA JO, NAVARRETE MC. Hantavirus en Chile: revisión y análisis de casos desde 1975. Rev. Med. Chile; 127(12): 1513-1523, 1999.
BONVICINO CR, OLIVEIRA JA, D’ANDREA OS. Guia dos roedores do Brasil, com chaves para gêneros baseadas em caracteres externos. Rio de Janeiro: Centro Pan-Americano de Febre Aftosa – OPAS/OMS, 2008.
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ANEXOS
ANEXO A – Ficha de Investigação de Hantavirose.
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ANEXO B – Confirmação de submissão de manuscrito à Revista Brasileira de Epidemiologia.