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Universidade do Minho Instituto de Educação e Psicologia Graça Maria Lopes de Carvalho Sanches CONCEPÇÕES DE ALUNOS SOBRE A SIGNIFICÂNCIA DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA: UM ESTUDO COM ALUNOS DE UMA ESCOLA SECUNDÁRIA DE CABO VERDE Tese de Mestrado em Educação Área de especialização em Supervisão Pedagógica em Ensino de História Trabalho efectuado sob a orientação de Professora Doutora Isabel Barca e Doutora Júlia Castro Março de 2008

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Universidade do Minho Instituto de Educação e Psicologia

Graça Maria Lopes de Carvalho Sanches

CONCEPÇÕES DE ALUNOS SOBRE A SIGNIFICÂNCIA DA

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA: UM ESTUDO COM ALUNOS

DE UMA ESCOLA SECUNDÁRIA

DE CABO VERDE

Tese de Mestrado em Educação

Área de especialização em Supervisão Pedagógica em

Ensino de História

Trabalho efectuado sob a orientação de

Professora Doutora Isabel Barca

e

Doutora Júlia Castro

Março de 2008

DECLARAÇÃO

Nome: GRAÇA MARIA LOPES DE CARVALHO SANCHES

Endereço electrónico: [email protected]

Número do Bilhete de Identidade: 14657421

CONCEPÇÕES DE ALUNOS SOBRE A SIGNIFICÂNCIA DA

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA: UM ESTUDO COM ALUNOS

DE UMA ESCOLA SECUNDÁRIA

DE CABO VERDE

Orientadoras: Professora Doutora Isabel Barca

Professora Doutora Júlia Castro

Ano de conclusão: 2008

Dissertação de Mestrado em Educação, Área de Especialização em Supervisão Pedagógica em Ensino de

História.

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA TESE, APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, 29 de Março de 2008 Assinatura: ________________________________________________

i

AGRADECIMENTOS

Foram várias as pessoas que contribuíram para a consecução deste trabalho,

nomeadamente, as minhas orientadoras: Professa Doutora Isabel Barca e Doutora Júlia

Castro.

Professora Doutora Isabel Barca primeiro por me ter incutido o gosto pela

investigação nesta área, desde os trabalhos do 1º ano do Mestrado, depois por me ter

incentivado e apoiado na realização da minha dissertação sobre uma realidade por ela

desconhecida e que iria ser feita à distância. Agradeço ainda pelas críticas sempre

pertinentes e construtivas e pela total disponibilidade que teve durante esse tempo. À

professora, um especial agradecimento sincero, não sem antes dizer que é a minha

inspiradora, como acredito que fora para muita gente.

Doutora Júlia Castro que foi incansável nas suas sugestões em todas as

situações e que foram preciosas para a minha dissertação. Por ter confiado em mim e

me motivado, ainda que à distância. À Professora, por ter sido minha amiga neste

processo todo.

Aos meus pais, irmãos, sobrinhos e primos que sempre estiveram do meu lado

nos momentos mais difíceis deste projecto e em toda a minha carreira profissional,

apoiando e incentivando a realização do mesmo, pedindo desculpas pelos momentos

em que se privaram da minha presença.

Em especial, agradeço ao João da Luz, meu companheiro incansável durante

esses anos, pela disponibilidade, paciência, carinho e apoio que demonstrou desde o

início da minha caminhada, a quem dedico este trabalho.

Aos alunos envolvidos na investigação, assim como os professores e a direcção

do Liceu Cónego Jacinto da Costa, pela disponibilidade para a concretização deste

projecto de investigação.

ii

A todos os meus colegas de mestrado, que sempre se disponibilizaram em

apoiar-me, em especial à Cláudia que sempre me apoiou e incentivou de forma

carinhosa nesta caminhada e que foi sempre uma amiga e irmã e ao Hugo que me

incentivou, encorrajou nos momentos mais difíceis da minha dissertação.

Queria deixar uma palavra de apreço e agradecimento às pessoas da cidade do

Porto que também me apoiaram nesta caminhada, em especial aos estudantes cabo-

verdianos, aos professores Luís Alberto Alves, Luís Amaral e Esposa, e aos meus

irmãos amigos Cláudia Ribeiro, Maria João, Mário Vieira e ao pessoal do Varanda da

Barra.

A todas as pessoas amigas que não foram aqui mencionados, mas que de

alguma forma apoiaram na realização desta investigação.

iii

RESUMO

CONCEPÇÕES DE ALUNOS SOBRE A SIGNIFICÂNCIA DA HISTÓRIA

CONTEMPORÂNEA: UM ESTUDO COM ALUNOS DE UMA ESCOLA

SECUNDÁRIA DE CABO VERDE

Este estudo, que se insere no âmbito da pesquisa em cognição histórica, visa

compreender as concepções de alunos em torno do conceito de Significância Histórica,

tendo em conta a importância de um estudo desta natureza num contexto como o de

Cabo Verde. Como tal, o principal objectivo do estudo é compreender as ideias dos

alunos em Cabo Verde, no final do ensino secundário, acerca da significância que

atribuem a personagens da História Contemporânea, designadamente em relação com a

História de Cabo Verde.

Trata-se de um estudo de natureza descritiva, com uma abordagem essencialmente

qualitativa, realizada com uma amostra de 60 alunos de duas turmas do 12º ano da área

humanística, na cidade da Praia, com idades compreendidas entre os 17 e os 22 anos.

Na análise de dados, recorreu-se a uma análise de conteúdo a fim de: a) estabelecer a

frequência das personagens que a amostra seleccionou como significativas para a

História de Cabo Verde e, b) levantar as ideias veiculadas pelos alunos nas suas

argumentações, nomeadamente no que respeita à independência de Cabo Verde. Para o

estabelecimento de inferências sobre categorias de significância histórica subjacentes

às ideias manifestadas, seguiu-se uma metodologia inspirada na Grounded Theory.

Com base nos estudos de Castro (2007) e Cercadillo (2000), criaram-se seis níveis de

significância, segundo os dados empíricos obtidos. Constatou-se que os alunos não

tiveram dificuldades em argumentar acerca das suas opções, sendo o nível de

significância mais frequente o da “Significância Causal”.

Importa dizer que este estudo reveste-se de grande importância para o ensino da

História em Cabo Verde, servindo como um diagnóstico para que os professores

reflictam sobre a significância que os alunos atribuem ao que lhes é ensinado.

iv

v

ABSTRACT

STUDENTS’ CONCEPTIONS ABOUT HISTORICAL SIGNIFICANCE IN THE

CONTEXT OF CAPE VERDE CONTEMPORARY HISTORY

The present study, carried out in the area of historical cognition, aims to understand

students’ ideas about the concept of Historical Significance, taking into account the

importance of studies like this in a specific context, as it is the case of Cape Verde.

This study attempts to examine the Cape Verde student’s ideas, at the end of secondary

education, concerning the significance they attribute to characters of Contemporary

History, namely when they are related to the History of Cape Verde.

The study is of a descriptive nature, with an essentially qualitative approach. The

sample consisted of 60 students, aged 17 to 22, from two classgroups selected among

the school population attending grade 12 in Cape Verde (the final year of “secondary

school”) of the humanistic area.

Data analysis was conducted: a) to establish the frequency of the characters selected by

the sample as significant for the History of Cape Verde and, b) to raise the ideas used

by the students in their arguments, namely those related to the independence of Cape

Verde. For the establishment of inferences on categories of historical significance that

could exist on the revealed ideas, a methodology inspired by the Grounded Theory was

employed.

The qualitative analyses of the empirical data allowed to create six levels of historical

significance grounded on the studies of Castro (2007) and Cercadillo (2000).

In this study was evidenced that the pupils did not have difficulties in arguing for their

options being "Causal Significance" the more frequent level of significance verified on

those students’ ideas.

The present study might contribute to history education in Cape Verde as a diagnosis

so that teachers could reflect about the significance that students attribute to the

History they are taught.

vi

ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS.....................................................................................................I

RESUMO ...................................................................................................................... III

ABSTRACT................................................................................................................... V

ÍNDICE GERAL...........................................................................................................VI

QUADROS................................................................................................................. VIII

GRÁFICOS ................................................................................................................ VIII

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

CAPÍTULO I – O ENSINO DA HISTÓRIA EM CABOVERDE ................................. 4

1. A estrutura do Sistema Educativo antes da Independência..................................... 4

2. A Estrutura do Sistema Educativo depois da Independência................................ 11

CAPÍTULO II – A EDUCAÇÃO HISTÓRICA........................................................... 27

1- O Contributo do Construtivismo Social e a Aprendizagem Social........................... 27

2– As Ideias de Segunda Ordem – A Significância Histórica....................................... 32

- Canadá......................................................................................................................... 34

- Estados Unidos da América ........................................................................................ 42

- Espanha ...................................................................................................................... 52

- Portugal ....................................................................................................................... 55

CAPÍTULO III – O ESTUDO EMPÍRICO – METODOLOGIA E ANÁLISE DE DADOS ......................................................................................................................... 66

1 - METODOLOGIA.................................................................................................... 66

1.1- Objectivos e Questões de Investigação.................................................................. 66

1.2- Desenho do Estudo ................................................................................................ 66

1.3- População e Amostra ............................................................................................. 68

vii

1.4- Os Instrumentos .................................................................................................... 74

1.5- Procedimentos da recolha de dados ....................................................................... 76

2. ANÁLISE DE DADOS............................................................................................. 77

CAPÍTULO IV - REFLEXÕES FINAIS .................................................................... 103

1 - RESPOSTAS ÀS QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO.................................... 104

2 - CONTRIBUTOS DO ESTUDO PARA A INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO HISTÓRICA................................................................................................................ 107

3 - PISTAS PARA O ENSINO DA HISTÓRIA EM CABO VERDE .................. 108

4 - LIMITAÇÕES DO ESTUDO............................................................................... 110

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 112

ANEXOS..................................................................................................................... 119

viii

QUADROS

Quadro 1 Organigrama do Sistema Educativo cabo-verdiano antes e depois da

independência....................................................................................................................5

Quadro 2 Distribuição dos tempos lectivos .....................................................................8

Quadro 3 Organigrama do Sistema Educativo cabo-verdiano actual ............................12

Quadro 4 Programa do 9ºano - História.........................................................................16

Quadro 5 Programa do 11º ano - História.....................................................................16

Quadro 6 Programa do 12º ano - História......................................................................16

Quadro7 Modelo aula oficina ........................................................................................28

Quadro 8 População da Cidade da Praia ........................................................................66

Quadro 9 Média idade da amostra .................................................................................71

Quadro 10 Profissão dos Pais Encarregados de Educação ............................................72

Quadro 11 Frequência dos personagens ........................................................................76

Quadro12 Categorias de análise.....................................................................................78

Quadro 13 Identificação dos personagens .....................................................................79

Quadro 14 Construto da significância Padrão (exclusiva).............................................84

Quadro 15 Construto da significância Padrão (discute relações) ..................................84

Quadro 16 Frequência dos personagens significativos para História de Cabo Verde

(estudo piloto...................................................................................................................88

Quadro 17 Frequência dos personagens importantes para os alunos (estudo piloto) ....88

Quadro 18 Resposta dos alunos que explicitam o nível 1 – Compreensão Restrita(4.1)89

Quadro 19 Resposta dos alunos que explicitam o nível 1 – Compreensão Restrita (4.2)90

Quadro 20 Resposta dos alunos que explicitam o nível 1 – Compreensão Emergente

Condicionada (4.1) ..........................................................................................................92

Quadro 21 Resposta dos alunos que explicitam o nível 1 – Compreensão Emergente

Condicionada (4.2) ..........................................................................................................94

GRÁFICOS

Gráfico 1 Distribuição da amostra por sexo ...................................................................70

Gráfico 2 Percentagem das categorias............................................................................78

1

INTRODUÇÃO

O presente tema para a proposta de dissertação de Mestrado surge, no decorrer

das aulas da disciplina de Investigação em Supervisão Pedagógica do Ensino da

História – I semestre, do Mestrado em Educação – Especialização em Supervisão

Pedagógica do Ensino da História.

No entanto, considerei que pudesse ser útil explorar ideias dos alunos, no sentido

de saber qual a importância que atribuem à disciplina de História, ou seja, na sequência

da reflexão sobre vários estudos, surgiu a ideia de aprofundar a compreensão sobre a

Significância que os alunos atribuem à História.

Os estudos em cognição histórica para a qualidade do ensino da História,

apresentam a necessidade do mesmo se desenvolver em contextos diferentes, daí a

ideia de realizar o estudo em Cabo Verde, não só pelo facto de ser um contexto

diferente e ser cabo-verdiana, mas também por se tratar de uma área ainda por explorar

no campo da cognição. É de realçar o campo exploratório deste estudo, dado que

avança para a indagação de ideias de uma população escolar ainda não estudada nesta

perspectiva.

Na sociedade moderna a educação constitui um motor de desenvolvimento, e por

isso, não é de estranhar que ela ocupe um lugar de destaque nas políticas de

desenvolvimento que se adoptam nos Estados modernos. Esta preocupação com a

educação é maior nos Estados subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento,

principalmente aqueles que não possuem recursos naturais, como é o caso de Cabo

Verde. Estudar a educação é, nesta perspectiva, compreender o processo evolutivo de

uma sociedade nos seus aspectos económicos, políticos, sociais, culturais. Sendo assim

torna-se pertinente, um estudo mais centralizado na área de cognição histórica para que

se possa saber o que pensam os alunos. É nesta lógica que se justifica o tema do

estudo, cujo objectivo será explorar e compreender as ideias dos alunos em Cabo

Verde, no final do ensino secundário, acerca da significância que atribuem aos factos

da História Contemporânea de Cabo Verde.

Tendo em conta os objectivos que conduziram a realização deste estudo, torna-se

pertinente o seguinte problema de investigação: como constroem os alunos a

significância da História Contemporânea de Cabo Verde?. Este problema procura,

com as respostas dos alunos responder às seguintes questões de investigação:

2

1. Quais as referências conceptuais dos alunos sobre personagens significativos

para a História Contemporânea de Cabo Verde?

2. Como avaliam os alunos acontecimentos da História, como a independência de

Cabo Verde?

Este estudo de natureza descritiva enquadra-se numa abordagem qualitativa. É

descritiva no sentido de que pretende compreender como os alunos atribuem

significância histórica a personagens históricas significativas para a História

Contemporânea de Cabo Verde. Para isto recorreu-se a uma amostra de sessenta alunos

de duas turmas a frequentar o 12º ano de escolaridade, da área humanística. Após a

formulação de questões de investigação, procedeu-se à construção e validação do

respectivo instrumento. Num primeiro momento a aplicação de um piloto numa turma

do 12º ano, também de área humanística, constituída por 28 alunos, para averiguar se o

instrumento estava ou não adequado às questões de investigação e afinar falhas que

pudessem ser detectados no momento da recolha de dados, principalmente no que

tange à linguagem. A seguir ao estudo piloto procedeu-se a algumas alterações e

depois aplicado o estudo final.

O presente estudo totaliza cinco capítulos, além desta introdução:

O capítulo um – O Ensino da História em Cabo Verde, pretende-se fazer uma

breve historial do que foi o ensino da História em Cabo Verde, tomando como pontos

principais o antes e o depois da independência, com base nos programas curriculares,

apresentando os objectivos preconizados para o ensino da História. Este capítulo ainda

tem como objectivo divulgar para aqueles que não conhecem (cabo-verdianos e não

só), o que foi ensinado em História e o que está a ser ensinado actualmente, para que

possam conhecer o currículo do História do seu país.

O capítulo dois – Educação Histórica, subdivide-se em duas partes: a primeira

parte – O papel do construtivismo social e a aprendizagem situada, o objectivo é dar a

conhecer, qual o contributo do construtivismo para o ensino da História. Em Cabo

Verde, este tema torna-se pertinente, na medida em que o Ministério de Educação está

a dar passos para a revisão curricular, apostando num modelo de ensino por

competências. Por isso é importante que conheçam a teoria construtivista, que centra a

sua aprendizagem no aluno, trabalhando em prol de um aluno competente e não um

aluno passivo, mas aquele que contribui para a construção do seu próprio

conhecimento. Na segunda parte – A Significância Histórica onde se pretende agregar

3

um conjunto heterogéneo de autores portugueses e estrangeiros que apresentam

estudos com alunos sobre a significância histórica. Autores que inspiraram este estudo,

na medida em que as categorias apresentadas serviram de base na análise de dados,

nomeadamente, os níveis da Cercadillo 2000. Estes estudos apresentados, também

tinham como objectivo clarificar o conceito de significância histórica.

O capítulo três – O Estudo Empírico - Metodologia e Análise de dados, subdivide-

se em duas partes, nomeadamente: Metodologia - objectivos e questões de

investigação; desenho de estudo, onde é apresentado o tipo de estudo, o método

adoptado para a análise de dados, a amostra participante no estudo incluindo uma

breve caracterização da cidade da Praia, os instrumentos e os procedimentos para a

recolha de dados no estudo exploratório e no estudo final. Na segunda parte, a Análise

de Dados, apresenta-se e discute-se a análise das respostas de alunos a cada questão,

enquadrada pelas categorias criadas.

O capítulo quarto – Reflexões finais apresenta uma breve introdução para

relembrar as questões metodológicas que nortearam o estudo; respostas às questões de

investigação; contributo do estudo para a Educação Histórica; pistas para o ensino da

História; as limitações do estudo e, por fim, algumas pistas para futuras investigações.

Este estudo revela-se de uma grande importância para a história da educação em

Cabo Verde, que, para além de ser um estudo exploratório neste domínio, ela poderá

constituir uma referencialização, para que os professores, os pais e encarregados de

educação e toda a comunidade educativa, compreendam a forma como os alunos

atribuem a significância histórica a um determinado acontecimento. Ela poderá

também constituir um diagnóstico, que os professores e o Ministério da Educação

poderão usar para reflectirem e pensarem na significância histórica que os alunos

atribuem ao que lhes é ensinado. Será também uma oportunidade para que os

professores reflictam no ensino da História em Cabo Verde, mostrar aos professores de

que é preciso ensinar História para que os alunos consigam exercitar a sua capacidade

crítica, cabendo ao professor a tarefa de incentivar os alunos a expor e a fundamentar

as suas ideias com mais frequência.

4

CAPÍTULO I – O ENSINO DA HISTÓRIA EM CABOVERDE

1. A estrutura do Sistema Educativo antes da Independência

As estruturas jurídicas que regulamentavam o sistema educativo cabo-verdiano antes

da independência, segundo a Constituição Portuguesa, eram da competência do

governo da província ultramarina de Cabo Verde, cabia a este governo a sua

aprovação, aplicação e vigilância.

As linhas mestras que regiam a elaboração da estrutura jurídica para o sistema

educativo de Cabo Verde caracterizavam-se, sobretudo, por uma componente

fortemente aculturadora, plasmada nas disposições legislativas contidas nos vários

regulamentos que sustentavam o sistema educativo cabo-verdiano.

O corpo legislativo que regularia as províncias ultramarinas portuguesas, no caso

concreto Cabo Verde era implementado naquelas provincías após a sua aprovação e

entrada em vigor em Portugal1.

Este conjunto de leis sofreria, no entanto, algumas modificações que tinham como

objectivo a adaptação à realidade política, económica e social de Cabo Verde.

Contudo, essa adaptação não considerava a realidade Caboverdiana em todas as suas

dimensões, nomeadamente não tinha em conta a cultura e os anseios legitímos dos

caboverdianos.

Como exemplo do tipo de regulamentação que suportava o sistema educativo na

província de Cabo Verde, nomeadamente o seu funcionamento seleccionamos, o

Regulamento do Ensino Primário Elementar que foi aprovado pelo governo da

Província Ultramarina de Cabo Verde, pelo diploma legislativo nº 1724 de 23 de

Setembro de 1970.

1 A base jurídica que passou a regular o funcionamento do ciclo preparatório do ensino secundário na Província de Cabo Verde já tinha sido aprovado em Portugal em Janeiro de 1967 no decreto-lei nº 47 480.

5

- A Estrutura Orgânica

Quadro 1 – Organigrama: graus de ensino

Idade

Antes da Independência

Depois da Independência

12

Liceal: - Curso Geral

Secundário – Curso Complementar

Profissional

Via Geral

Liceal

Via Técnica

10

Ciclo preparatório do Ensino Secundário

Primário Complementar

6

Primário

Primário Elementar

5

Pré-primário

Pré-primário*

Segundo aquele regulamento , o ensino primário compreendia quatro anos, primeira,

segunda, terceira e quarta classe respectivamente, precedida da pré-primária2.

Segundo este regulamento, o ensino primário deveria ser ministrado em locais

próprios, devidamente autorizado pelo governo da província ultramarina de Cabo

Verde. Este ciclo de ensino teria obrigatoriamente lugar em postos escolares, escolas

primárias oficiais, oficializadas e particulares em regime doméstico e individual.3

Segundo aquele regulamento o funcionamento das escolas oficializadas e particulares

necessitavam uma autorização do Governo-Geral da província ultramarina de Cabo

Verde.

Oensino pré-primário era apontado no referido regulamento como sendo uma fase

muito importante no processo educativo das crianças uma vez que constituía o

2 Suplemento ao Boletim Oficial da Província de Cabo Verde, nº 38 de 23 de Setembro de 1970, art. 2, p.1. 3 Suplemento ao Boletim Oficial da Província de Cabo Verde, nº 38 de 23 de Setembro de 1970, art. 2, p.1.

6

primeiro contacto da criança com o meio escolar a partir do qual se dava íncio à sua

preparação para o seu posterior ingresso no ensino primário.

Os objectivos preconizados para aquela fase, segundo aquela legislação centravam-se

“aquisição da prática do uso corrente da língua nacional e actividades preparatórias

(…) para o ensino escolarizado (…)”.4

Relativamente à metodologia utilizada no no ensino pré – primário estava focalizada

na oralidade . Utilizavam-se sobretudo “actividades lúdicas e sensoriais (…) com o

objectivo de despertar racionalmente na criança o desenvolvimento da sua

personalidade e integra-la no ambiente mais directo e imediato do seu

desenvolvimento”.5

No ensino primário destacam-se dois aspectos fundamentais:a obrigatoriedade6,

estipulada na própria Constituição da República Portuguesa de 1933 no seu artigo nº

43, nº 1; e a sua duração, que compreendia quatro anos lectivos.

O objectivo da sua implementação era a continuação e consolidação dos objectivos

iniciados na pré-primária. Ensinar os alunos, sobretudo a ler, a escrever e a fazer

cálculos, na língua nacional, a língua portuguesa 7. Sublinhe-se que este último

aspecto foi um poderoso instrumento no processo de aculturação imposto aos

caboverdianos durante o período colonial, cuja finalidade resultaria na secundarização

da sua língua e cultura .

Podemos dizer que o fim último do ensino primário era a integração do indivíduo na

sociedade e a defesa dos valores nacionais portugueses. Esta educação procurava

essencialmente uma finalidade socializadora e formadora, sobretudo ao nível da

cidadania, segundo os moldes da potência colonizadora, o estado português.

A permanência obrigatória de quatro anos na primária ( precedido de um ano de pré-

escolar) para as crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 12 anos.

O ingresso na pré –primária estava estabelecido no regulamento acima referido “(…)

com cinco anos feitos até 31 de Dezembro do ano da matrícula”.8

4Idem, art. 3, p.2 5 Ibidem. 6 O ensino primário elementar é obrigatório, podendo fazer-se em escolas particulares, domésticas e oficiais. 7 Suplemento ao Boletim Oficial da Província de Cabo Verde, nº 38 de 23 de Setembro de 1970, Capítulo I, secção I art. 4, p. 2 8 Idem, Secção II, art. 6, p. 2.

7

“Os pais tinham por obrigação matricular os filhos e assegurar os livros, utensílios e

demais materiais escolares de uso corrente. (…) Tinham ainda, que vigiar e regular a

frequência dos filhos à escola”.9

A importância da família no processo da instrução da criança era determinante. De

facto a família deveria ser o garante da frequência da escola pelos alunos e posterior

cumprimento da escolaridade obrigatória. As famílias que não cumprissem com essa

obrigação poderiam incorrer em sanções pecuniárias.

A obrigatoriedade da frequência neste primeiro ciclo de ensino não considerava,

contudo, um conjunto de factores relevantes: a rede escolar não cobria todo o território

nacional; havia falta de professores e os que existiam tinham uma formação nem

sempre adequada; não havia materiais didácticos em quantidade e qualidade; as

condições económicas de muitos pais e encarregados de educação, sobretudo das zonas

rurais de interior, não lhes permitia a manutenção dos filhos na escola.

Outros factores estruturais contribuíam para a impossibilidade de garantir, por parte

das famílias, a permanência das suas crianças na escola. Os maus anos agrícolas

provocados por um ciclo prolongado de seca depauperaram os recursos económicos

das populações. A este factor acresce o facto das famílias serem muito numerosas (

com várias crianças em idade escolar) o que dificultava a manutenção das crianças na

escola uma vez que a aquisição dos materiais e outros utensílios necessários na escola

eram da responsabilidade dos pais.

Conscientes destes obstáculos à permanência das crianças na escola os legisladores

responsáveis pelo supracitado regulamento determinam no artigo 12 que “os alunos

que moravam a uma distância superior a 5 km em relação a escola e não houvesse

transporte gratuito não era obrigatório a sua matrícula. Esta distância aumenta para

6 km se perto da escola houver uma cantina escolar ou os caminhos são de fácil

acesso (...) e se os menores já tiverem completado 9 anos à data da matrícula ou

venham a completar até ao mês de Dezembro do ano da matrícula”10.

Uma outra característica do sistema de ensino neste período era a gratuitidade. No

artigo 6 da Secção II do regulamento em análise determina-se o seguinte: “o ensino

primário elementar compreende cinco ano de escolaridade (incluindo a pré-primária),

(...) e é gratuito para as crianças dos cinco aos doze anos de idade, feitos até 31 de

9 Ibidem. 10 Idem, art.12, p.2.

8

Dezembro do ano da matrícula”11. Este regulamento estipulava ainda que as escolas

ou postos escolares providenciassem auxilio financeiro aos alunos que possuíssem

dificuldades económicas.

11 Idem, art.6, p.2.

9

Ciclo preparatório do Ensino Secundário: Currículo e Conteúdos Programático

Quadro 2 – Distribuição dos tempos lectivos

Distribuição de Tempos Lectivos

Disciplinas 1º Ano 2º Ano

L. Portuguesa 4 4

Hist.e Geog. Port. 3 3

Moral e Religião 2 2

Matemática 3 3

C. da Natureza 2 3

Desenho 2 1

T. Manuais 1 2

Ed. Musical 1 1

Ed. Física 2 3

Francês/ Inglês 4 3

Fonte: Suplemento ao Boletim Oficial da Província de Cabo Verde. nº42, de 29 de Setembro de 1971,

artigo 6, p.7.

1.2. O ensino da História

- Os objectivos

O objectivo do ensino da História era, sobretudo, dar a conhecer, aos alunos, “factos

que possibilitam a sua integração na grande realidade que une os portugueses,

provocar estados emotivos capazes de fortalecer o sentimento pátrio e a consciência

nacional”12. Note-se que os objectivos preconizados para a disciplina de História de

Portugal, nem sempre eram alcançados, visto, estar dependente do ensino da Língua

Portuguesa, sendo a aprendizagem desta um factor determinante no sucesso da

aprendizagem.

“(...) O ensino da História deve ser um factor essencial para fazer a criança crer na

excelência da nossa pátria da sua missão civilizadora (...), levando a criança a sentir-

se exaltado por ter nascido portuguesa, e pensando que essa condição é um factor de

valorização individual e social”13. A importância do ensino da História de Portugal,

era clara considerando a finalidade maior de criação de um sentimento de solidariedade

social; integração dos valores espirituais e culturais da comunidade nacional; orgulho

num passado e num presente que glorificasse a grandeza da nação portuguesa.

12 Idem, p.8 13 Idem, p.8

10

- A metodologia

Relativamente à metodologia do ensino da disciplina de História destacam-se

duas características marcantes: a narrativa ligada a factos heróicos enquanto

justificação para a presença portuguesa em África; e a pragmática ligada à formação

cívica segundo os valores portugueses.

- O compêndio

O principal recurso da disciplina era o compêndio que se dividia-se em dois

volumes: O volume I para o primeiro ano, e o volume II para o segundo ano. Esta

divisão tinha como função atender à idade dos alunos.

- Os conteúdos programáticos

No que diz respeito aos conteúdos programáticos para a disciplina de História

e Geografia de Portugal diríamos que, segundo o diploma legislativo em estudo

estavam organizados de seguinte forma:

1º Ano

Antes da Formação de Portugal

I – A Terra e o Homem;

II – Península Ibérica.

A Formação de Portugal

a) Conquista do Território

b) Povoamento e Organização Política, Económica e Social

c) A Acção da Igreja

d) As transformações do século XIV

A Expansão de Portugal

a) Descobrimentos e conquistas

b) A organização política

c) Geografia da Metrópole e do Ultramar

d) A sociedade

e) A acção da Igreja,

A União com a Espanha

11

2º Ano14

a) A Restauração

b) O Reformismo

c) A crise no início do século XIX

O constitucionalismo

a) O constitucionalismo monárquico

b) O constitucionalismo republicano

A nossa época

A) Os meios rurais

b) Os outros meios.

2. A Estrutura do Sistema Educativo depois da Independência

Com o advento da independência (1975), o novo governo vai procurar criar uma nova

identidade política, social e cultural para o país. O objectivo é fazer com que a nação,

que há séculos estava a ser alienada da sua realidade política, histórica e cultural, se

reencontre consigo mesma15.

A partir da independência, vamos assistir a um esforço por parte das novas autoridades

governamentais no sentido de substituir toda a estrutura jurídica que sustentava o

sistema educativo cabo-verdiano durante a tutela portuguesa, procurando uma nova

identidade para o sistema educativo cabo-verdiano.

A substituição de uma estrutura jurídica enraizada é um processo longo e moroso,

considerando os desafios e as dificuldades que um país recém libertado do jugo dos

estrangeiros, com problemas económicos gravíssimos e uma estrutura produtiva

obsoleta e deficitária teria que enfrentar.

Nos primeiros tempos após a independência do país assistimos a um período de

permanência da maioria das estruturas jurídicas coloniais. A falta de condições

técnicas e finanaçeiras impediram a criação de um novo sistema educativo. Apesar da

educação ter sido uma prioridade, Cabo Verde possuía outras necessidades que urgia

14 Idem, p. 13. 15 O artigo 16 da constituição da República de Cabo Verde de 1980, no seu parágrafo primeiro diz o seguinte: “ é imperativo fundamental do Estado criar e promover condições favoráveis à salvaguarda da identidade cultural, como suporte da consciência e da dignidade nacional e factor estimulante de desenvolvimento harmonioso da sociedade. O Estado preserva e valoriza o património cultural do povo cabo-verdiano.

12

resolver, nomeadamente a pobreza causada pelas secas prolongadas e a falta de

investimento.

Assiste-se a reajustamentos, sobretudo, nos programas de algumas disciplinas, como a

de História, Português, Filosofia e Formação Política.

Maria Manuela Afonso, sublinha esta ideia no seu estudo “Educação e Classes Sociais

em Cabo Verde”, afirmando que “o ensino secundário em Cabo Verde manteve a sua

estrutura da época colonial” ( 2002, p. 134).

Esta perspectiva, é também, partilhada pelo investigador André Corsino Tolentino, um

dos ministros da educação de Cabo Verde no período pós independência, que afirma

que a partir da independência, Cabo Verde vai começar a desenvolver esforços para a

substituição de toda a estrutura jurídica, relativamente à educação, e este processo

arrasta-se, de uma forma lenta, até à sua conclusão em 1990, com a elaboração e

aprovação pela Assembleia Nacional Popular de Cabo Verde, da primeira Lei de Base

do Sistema Educativo de Cabo Verde. (consultar anexo )16

Nesta sequência, assistimos à adopção de uma série de medidas que visavam

reestruturar o sistema educativo. Assiste-se à criação do Ministério da Educação e

Cultura de Cabo Verde, à revisão da estrutura programática, à reorganização dos níveis

escolares com vista à criação de uma nova identidade educativa em Cabo Verde,

objectivo este que, como já foi referido, só iria ser consumado com a publicação da

primeira Lei de Bases do Sistema Educativo cabo-verdiano.

16 Lei Bases do Sistema Educativo Cabo-verdiano.

13

Quadro 3 – Organigrama actual do Sistema Educativo Cabo Verdiano

14

2.1. O ensino da disciplina de História e Geografia

Na sequência deste conjunto de alterações assiste-se a mudanças ao nível da disciplina

d disciplina de História e Geografia. A mudança mais imediata é a substituição de

conteúdos programáticos relativos a Portugal e a inclusão de conteúdos relacionados

com a realidade cabo-verdiana num contexto de surgimento e expansão de movimentos

Pan Africanistas17. Saliente-se, contudo, que os aspectos relacionados com Portugal

não foram banidos em absoluto do programa, propõe-se apenas uma mudança de

perspectiva face aos temas a trabalhar na disciplina .18

A Lei de Bases do Sistema Educativo, aprovada em 1990, veio conferir a estrutura

educativa cabo-verdiana uma nova roupagem e uma abordagem própria, a nível das

disciplinas ministradas nas escolas. No caso concreto da disciplina de História,

propunha mudanças ao nível dos objectivos, das metodologias, das pedagogias e dos

conteúdos, através da seguinte estrutura:

- As Finalidades da Disciplina de História

As finalidades da disciplina de História para o 9º ano :

Contribuir para situar o aluno no mundo em que vive, através de alargamento das

noções operatórias de tempo e espaço;

� Propiciar uma atitude de rigor na abordagem da evolução da Humanidade,

através da aquisição de hábitos e técnicas de organização de informação;

� Fomentar o interesse e a curiosidade pelas expressões e valores da cultura

universal.

As finalidades da disciplina de História para os 11º e 12º ano:

� Promover o conhecimento e a reflexão sobre os valores de Cabo Verde e dos

valores democráticos em geral.

17 Pan Africanismo é uma corrente de pensamento amplamente defendida por Amílcar Cabral, Leopold Senghor e Kuamn Kumara e outros líderes independentistas africanos que apelava para um estudo e valorização da História africana, como forma de afirmação deste continente. 18 Quanto à disciplina de Filosofia e Introdução a Política, facilmente podemos constatar que passou a haver uma nova selecção de textos filosóficos de cariz revolucionário. Na disciplina de Introdução a Política vão-se ministrar conteúdos de forma a formar uma consciência revolucionária nos educandos.

15

� Contribuir para a formação integral e permanente.

� Formar a consciência ética e cívica.

� Preparar para uma constante reflexão sobre os valores espirituais, estéticos,

morais e cívicos.

� Reforçar a consciência e unidade nacionais.

� Estimular a preservação e reafirmação dos valores culturais e do património

nacional.

� Promover o respeito pelos direitos do Homem e o espírito de tolerância e

solidariedade.

- Os Objectivos Gerais da Disciplina de História

- Objectivos para o segundo ciclo (9º ano):

� Desenvolver os conceitos de mudança/permanência, através: do conhecimento

de diferentes formas de organização social num determinado espaço, em

diferentes períodos da História da Humanidade, da distinção de diferente

formas de vida de diversos povos, ao longo dos tempos;

� Desenvolver os conceitos de interacção/ causalidade, através do

reconhecimento de acontecimentos que produziram alterações significativas na

vida da Humanidade;

� Desenvolver capacidades de comunicação através da utilização, de forma

correcta e adequada do vocabulário específico da disciplina, de técnicas

adequadas de expressão gráfica e da elaboração de trabalhos de consulta e

pesquisa.

� Desenvolver valores e atitudes de autonomia e solidariedade, através da

manifestação de espírito crítico na análise de situações concretas da vida dos

povos e de respeito para com os povos de diferentes culturas.

Os objectivos para o terceiro ciclo (11º e 12º anos):

� Compreender os mecanismos e as especificidades do conhecimento histórico

� Avaliar da importância e das dificuldades da ambição totalizante da História

enquanto ciência

16

� Compreender, nas suas grandes linhas, o processo de construção da

contemporaneidade

� Relacionar a pluralidade temporal com as dimensões sincrónica e diacrónica

na compreensão da dinâmica histórica

� Identificar factores dinâmicos e factores de decadência e crise nos processos

de evolução histórica

� Utilizar criteriosamente recursos e metodologias da História

� Desenvolver capacidades de comunicação e expressão

� Ampliar capacidades de organização do trabalho intelectual

� Fomentar a autonomia e o espírito crítico

Na análise destas finalidades e objectivos propostas para a disciplina emerge uma

preocupação por parte do Ministério da Educação em valorizar a História Nacional no

contexto da História Universal. A identidade nacional, a tolerância e capacidade de

reflexão fazem parte das propostas sistematizadas neste conjunto de finalidades e

objectivos sendo é visível este conjunto de preocupações na Lei de Bases do Sistema

Educativo Cabo-Verdiano, no seu artigo 9, alínea 1 e 2:

“1. A educação deve basear-se nos valores, necessidades e aspirações colectivas e

individuais e ligar-se à comunidade, associando ao processo educativo os aspectos

mais relevantes da vida e da cultura cabo-verdiana.”

“2. Com o objectivo de reforçar a identidade cultural e de integrar os indivíduos na

colectividade em desenvolvimento, o sistema educativo deve valorizar a língua

materna, com manifestação privilegiada da cultura.”

Os programas para a disciplina de História, contém os objectivos específicos para cada

conteúdo programático, bem como as unidades didácticas de cada temática.

Assim, o programa para o 9º, 11º e 12º ano estruturam os seguintes conteúdos, com as

respectivas cargas horárias: Ministério Educação (1996)19

19 Como se pode constatar, a partir da análise dos conteúdos programáticos, quer do 11º, quer do 12º ano

de escolaridade, os aspectos ligados a Portugal e a Europa no geral, não foram banidos completamente

do currículo. O que aconteceu, foi que passaram a ter um novo enquadramento e uma forma de

abordagem diferente do período antes da independência.

17

Quadro 4 – Programa do 9º Ano

Tema Carga Horária I: Mundos Antigos, Mundos Modernos e Contemporâneos 1º Trimestre20 II: As Primeiras Sociedades Humanas 1º Trimestre

III: As Primeiras Civilizações: O Exemplo da Civilização Egípcia 1º Trimestre

IV: As Grandes Civilizações Mediterrânicas: Grécia E Roma 1º Trimestre

V: Dois Mundos Em Confronto Á Idade Média: A Civilização Cristã e a

Civilização Islâmica

2º Trimestre

VI: As Relações Intercontinentais 2º Trimestre

VII: A Formação Da Mentalidade Moderna 2º Trimestre

Quadro 5 – Programa do 11º Ano

Tema Carga Horária I: Introdução à História 24

II:Da Expansão Às Economias Mundos: Séculos XV – XVIII 20

III: A Africa Ocidental Entre Dois Reinos E Impérios: Crises e

Reajustamentos Entre Os Séculos XV – XVIII

12

IV: O Achamento, Povoamento e Colonização de Cabo Verde: 1460-1878 24

Quadro 6 - Programa do 12º Ano

Tema Carga Horária V: O Desenvolvimento Do Capitalismo E A Partilha De África: Século XIX E

XX

20

VI: Cabo Verde No Contexto Do Colonialismo Português: 1878 – 1974 20

VII: Cabo Verde: Da Libertação À Construção Do Estado Democrático 20

VIII: Trabalho Projecto 20

- Obrigatoriedade da disciplina de História por ciclo

No sistema educativo de Cabo Verde de acordo com a Lei de Bases, a disciplina de

História é obrigatória até a sexta classe, ou seja, só no ensino básico.

20 A distribuição específica da carga horária vai depender dos objectivos traçados pelo grupo de

Coordenação. Em Cabo Verde, existe para cada disciplina, um Coordenadora, que semanalmente reúne

com os restantes professores de disciplina e fazem a planificação semanal e a concepção dos testes.

Note-se ainda que os Coordenadores têm uma redução de carga horária, ou seja, devendo ter 16 tempos

lectivos. Consta do anexo, o documento oficial que regulamenta as funções do Coordenador de

disciplina.

18

1º Ciclo: 7º e 8º Ano

O plano de estudos para o 1º ciclo procura responder às várias expectativas sobre a

função do Tronco Comum na realização dos objectivos da escala para a faixa etária dos

alunos nesse ciclo. Teve, portanto em conta as aprendizagens que os alunos realizaram

no âmbito da educação básica numa perspectiva de transição para uma educação cada

vez mais especializada.

O curriculum do Tronco Comum dá sequência ao plano de estudos do Ensino básico

mantendo as disciplinas de Língua Portuguesa, de Matemática e a Educação Física.

Introduz outras áreas integradas como Homem e Ambiente, Estudos Científicos,

Conhecimento do Mundo Contemporâneo (8º ano) e Educação Artística. Oferece o

estudo de uma língua estrangeira e de disciplinas novas como Introdução à Actividade

Económica, Educação Tecnológica e Formação Pessoal e Social.

No 1º ciclo não temos uma disciplina chamada História, no entanto existe a disciplina

de Mundo contemporâneo cujos objectivos se assemelham aos da disciplina de

História. Tem um carácter obrigatório e um manual editado pelo Ministério da

Educação.21

Esta disciplina vai antecipar a História, que tem o seu início no 2º ciclo.

Segundo o plano de estudos do Ensino Secundário, para um melhor entendimento dos

problemas e realidades presentes, a perspectiva contemporânea de análise deve

permitir incursões no passado histórico, pelo que a visão diacrónica recente iniciará o

aluno no estudo da evolução da sociedade cabo-verdiana alargando o horizonte de

conhecimentos do País para o Mundo.

As questões relacionadas com o equilíbrio ecológico, as preocupações relativas ao

crescimento descontrolado das populações, com implicações graves no modo e

ambiente de vida no País deverão ser equacionadas a nível mundial, para que o aluno

possa compreender que os problemas do mundo contemporâneo são preocupações

gerais, comuns a todos os povos.

21 Manual do Mundo Contemporâneo - 8° ano; Autora: Carmém G. Anahorm ; Editor: Ministério de Educação, Cabo Verde, 1997.

19

2º Ciclo: 9º e 10º Ano

Para o 10º ano, a disciplina que vai substituir História é a de Cultura Cabo-verdiana,

anunciada como uma das inovações do currículo. Esta disciplina complementa e

contextualiza os temas estudados em História (no 9º ano) permitindo uma abordagem

mais aprofundada das questões ligadas à formação e evolução da sociedade cabo-

verdiana. O programa corporiza objectivos essenciais da política educativa

estimulando a preservação e reafirmação dos valores e do património cultural e

promovendo nos alunos o conhecimento da história e da cultura do país,

desenvolvendo o apreço pelos valores nacionais. Neste ciclo, estas disciplinas são

obrigatórias, quer a História no 9º ano, quer a Cultura Cabo-verdiana no 10 º ano.

No 2º ciclo importa aqui ressalvar que o programa do 9º ano de Cabo Verde é

semelhante ao programa do 7º ano da disciplina de História em Portugal.

3º Ciclo: 11º e 12º Ano

No 3º ciclo, a disciplina de História é obrigatória na área Humanística, quer no 11º,

quer no 12º ano. Nas restantes áreas de estudo, a História é uma disciplina opcional.

- Os recursos para a disciplina de História

Relativamente aos manuais para a disciplina nos 2º e 3º ciclos, não existem manuais

produduzidos especificamente para Cabo Verde. Os professores socorrem-se de

manuais de outros países com os conteúdos temáticos que estão a abordar nos

respectivos anos. Os alunos, podem adquirir estes manuais à venda no país, ou em

alternativa, considerando as dificuldades económicas de alguns alunos os professores

elaboram fichas de estudo, ou compilações de fotocópias.

De uma forma geral, os materiais utilizados pelos professores de História em Cabo

Verde são provenientes da compilação dos vários manuais utilizados em Portugal e

Brasil com temáticas tratadas nos programas. Os alunos realizam trabalhos de pesquisa

nas bibliotecas, fazem fichas de trabalho,. São utilizados recursos multimédia e são

projectados filmes, contudo a utilização desses recursos depende das condições de cada

escola. São realizadas visitas de estudo sempre que é oportuno.

- A Avaliação

20

Os objectivos da avaliação no ensino secundário de acordo com o documento oficial

do Ministério da Educação: Sistema de avaliação Ensino secundário Decreto-Lei

n°42/03/20 de 20 de Outubro 2003 são:

a) Melhorar o sistema educativo, fornecendo elementos para a selecção de

métodos e recursos educativos com vista à adequação e reformulação dos

programas e das metodologias;

b) Orientar a intervenção do professor na sua relação / com os alunos e com os

pais e/ou encarregados de educação;

c) Ajudar os alunos a seguir o seu próprio processo de aprendizagem;

d) Propiciar ao encarregado de educação elementos para o acompanhamento

do processo de aprendizagem do respectivo educando.

A avaliação no ensino secundário em Cabo Verde é de acordo com o artigo 4 (funções

da avaliação) classificativa e formativa.

- As funções da avaliação formativa:

1. A função formativa é prosseguida através de uma avaliação sistemática e contínua

e consiste na recolha e tratamento das informações relativas aos vários domínios de

aprendizagem, que revelem os conhecimentos, as habilidades, as capacidades e as

atitudes desenvolvidas pelos alunos.

2. As informações recolhidas permitem caracterizar os pontos fortes e fracos, avaliar

os êxitos e os fracassos dos alunos, as necessidades, ritmos e oportunidades de

melhoria da aprendizagem e, em função destes elementos, aplicar medidas educativas

de reorientação e de superação das dificuldades sentidas pelos alunos.

- As funções da avaliação classificativa:

1. A função classificativa consiste na obtenção de elementos que permitam classificar

o aluno, medindo as competências individuais adquiridas ao longo do processo de

aprendizagem.

21

2. A classificação certifica as competências adquiridas através da avaliação dos

conhecimentos, habilidades e capacidades dos alunos, quer para o prosseguimento de

estudos, quer para melhor integração na sociedade.

- As modalidades da avaliação:

a) Avaliação Diagnóstica;

b) Avaliação Formativa;

c) Avaliação Sumativa;

d) Avaliação Aferida.

As informações classificativas são emitidas de forma quantitativa e qualitativa, nos

seguintes termos:

a) Muito Bom — De 20 a 17 valores;

b) Bom — De 16 a 14 valores;

c) Suficiente — De 13 a 10 valores;

d) Insuficiente — Inferior a 10 valores.

No artigo 38° da Avaliação no Ensino Secundário está consignada a avaliação final do

1°, 2° e 3° ciclos, designadamente:

a) Provas Gerais Internas (PGI).

É uma prova sumativa que se aplica a todos os alunos do ensino secundário e abarca

os objectivos do ano, para as disciplinas anuais, e do 2° ano de cada ciclo, para as

disciplinas bianuais. Ela é elaborada a nível das escolas e realizada na última

quinzena do 3° trimestre. Artigo 39º

b) Prova Geral Nacional (PGN).

A prova geral nacional é a última prova de avaliação sumativa do 3° ciclo, que

abarca os objectivos do ciclo e se aplica às disciplinas específicas obrigatórias. A

prova geral nacional é elaborada pelos serviços centrais competentes do

departamento governamental responsável pela educação, sob proposta das escolas, e

realiza-se no fim do 2° ano do 3° ciclo. Em cada disciplina do plano de estudos

correspondente, são dispensados da Prova Geral Nacional (PGN) os alunos que

tiverem nota igual ou superior a catorze valores. Artigo 40º

22

c) Provas de Recurso (PR). As provas de recurso realizam-se em Julho ou Setembro e

destinam-se aos alunos que:

a) Tenham deficiência ou reprovação, no máximo de três disciplinas, com nota não

inferior a sete valores;

b) Tendo ficado aprovados no 2° ciclo, pretendam transitar para o ciclo seguinte e

possuam a nota mínima de doze valores, em apenas uma das disciplinas

correspondentes às específicas obrigatórias da respectiva área de estudos;

c) Tenham em falta duas disciplinas para concluir 3° ciclo. Artigo 41°

Em Cabo Verde, todos os professores têm uma ficha de registo de avaliação, onde no

final de cada trimestre lançam as suas respectivas notas. Desta ficha constam: OEA -

Outros elementos da avaliação e a avaliação formativa; a nota dos dois testes, ou seja,

a avaliação sumativa.

Esta ficha encontra-se em suporte digital facilitando o cálculo das notas e o

lançamento das mesmas.

Uma das características que distingue o sistema educativo cabo verdiano do sistema

português são as coordenações pedagógicas.

Em Cabo Verde o coordenador de cada disciplina é escolhido pelo Subdirector

Pedagógico22, que normalmente é o professor do grupo que tem mais experiência e um

melhor currículo académico dentro do grupo.

O coordenador de disciplina tem uma redução da carga horária e reúne com a sua

equipa semanalmente, nessa reunião é traçado o plano semanal da disciplina,

nomeadamente, os recursos, estratégias e os objectivos das aulas. O coordenador da

disciplina tem uma reunião mensal, com os coordenadores das outras disciplinas com

o director da escola e o subdirector pedagógico, esta reunião tem como objectivo para

fazer um balanço e ponto da situação dos trabalhos realizados. No final de cada

trimestre o coordenador de disciplina apresenta um relatório à direcção da escola.

22 As escolas secundárias em Cabo Verde são dirigidas por uma equipa, composta pelo Director que é

escolhido pelo Ministério da Educação e pelos subdirectores que são escolhidos por sua vez pelo

director da escola, nomeadamente o Subdirector Pedagógico, Subdirector para Assuntos Sociais e

Comunitários, O subdirector Administrativo e Financeiro e o Secretário.

23

3. Desigualdades Sociais face à Educação: Um estudo sociológico

Em Cabo Verde, pouco são os estudos de investigação na área da educação e no caso

específica, estudos realizados com alunos. Contudo, Manuela Afonso, no âmbito da

Dissertação de Mestrado realizou um estudo de carácter científico, com alunos de Cabo

Verde e, que nos fornece dados importantes sobre o estado da educação em Cabo

Verde.

Afonso (2002) realizou um estudo para averiguar a extensão e características das

desigualdades face à educação em Cabo Verde. Para o estudo a investigadora realizou

um inquérito, cujo objectivo central era inferir sobre as (des) igualdades no acesso e

progresso na educação, resultantes das desigualdades de classes que marcam a

sociedade cabo-verdiana. Foram inquiridos 1734 alunos do ensino formal da ilha de

Santiago23, do Ensino Básico Complementar e do Ensino Secundário24:

� Dos 192 alunos inquiridos no 5º ano, mais de metade são do sexo feminino

(61%) e a idade média é de 11.6 anos, tendo 53.4% mais de 11 anos de idade.

Cerca de 91% dos alunos são naturais da ilha de Santiago;

� Dos 219 alunos inquiridos no 6º ano, cerca de metade (50.2%) são do sexo

masculino, a média de idade é de 12.6 anos, tendo 43.9% mais de 12 anos.

Cerca de 95% são naturais da ilha de Santiago;

� Foram inquiridos 276 alunos do 1º ano do Curso Geral, 141 do 2º ano do

Curso Geral e 144 do 3º Curso Geral. Cerca de metade dos inquiridos são sexo

feminino (52%, 47% e 53% respectivamente);

� Dos 575 alunos inquiridos, 237 são do 1º do Curso Complementar e 338 do 2º

ano do Curso Complementar. Cerca de metade dos inquiridos são do sexo

feminino (51%, e 52%, respectivamente);

23 A escolha da ilha de Santiago resultou do facto da ilha concentrar mais de 50 % da população residente em Cabo verde e representar mais de 5’% da população escolar no país. 24 As escolas onde foram aplicadas o inquérito na ilha de Santiago foram: Santa Cruz, Tarrafal, Santa Catarina e Praia, para o ensino Básico Complementar e Liceu de Assomada, Liceu Domingos Ramos e Liceu da Várzea para o Ensino Secundário.

24

� No ano zero foram inquiridos 187 alunos, mas de metade dos inquiridos são do

sexo masculino (57%), com idade média de 19 anos, tendo 63% mais de 17

anos, com intervalo que vai dos 16 aos 23 anos.

� Os resultados do inquérito permitiram a investigadora tirou as seguintes

conclusões:

� Comparando a estrutura de classes cabo-verdiana com a das famílias de origem

dos alunos verificamos que a pequena burguesia dirigente e técnica (PBD) e a

pequena burguesia executante (PBE), estão sempre sobre-representadas. A

burguesia (B) e as pequenas burguesias proprietária (PBP) e auxiliar (PBA)

aproximam-se dos seus valores na estrutura de classes cabo-verdiana, enquanto

os operariados (ORP e OI) e, especialmente, o campesinato (C) apresentam,

quase sempre, valores muito abaixo do seu peso na estrutura de classes de Cabo

Verde e/ou da ilha de Santiago (20). É possível observar alguma representação

do operariado (15%) e do campesinato (5%) podendo afirmar-se que pela

escola passam algumas trajectórias sociais de mobilidade social ascendente,

facto que não é de desprezar na reestruturação da sociedade cabo-verdiana.

Perante as desigualdades de acesso, as classes sociais mais penalizadas

adoptam estratégias de classe diferentes: olhando para a composição por sexo,

nessas classes sociais o peso das raparigas vai diminuindo com o aumento da

escolaridade, o que não acontece nas pequenas burguesias executante e

dirigente.

� Verifica-se que nas classes mais baixas a idade dos alunos é tendencialmente

mais elevada para cada ano escolar. Isto significa que se é verdade que a

estrutura de classes tende a diversificar-se por virtude do alargamento do acesso

à escola e das vantagens que ela permite, esse processo afecta as classes sociais

mais desfavorecidas em menor número, devido aos maiores obstáculos que se

lhe colocam. Daí frequentarem a escola em idade mais avançada do que os

filhos da burguesia e da pequena burguesia, em particular nos anos terminais de

escolaridade.

� Os alunos que frequentaram o ensino pré-primário podem ingressar no ensino

básico com 6 anos de idade enquanto os restantes apenas o podem fazer com 7

anos. Como a rede do pré-escolar se concentra nos centros urbanos, uma vez

mais são os jovens aqui residentes que têm maiores vantagens comparativas, se

25

olharmos para o peso dos alunos com idade igual ou inferior à idade de

frequentar cada ano de escolaridade, verificamos que entre os alunos das

pequenas burguesias, e em particular da PBD e PBE, o valor é superior ao das

restantes. Por outro lado, independentemente da classe social de origem, a

proporção de alunos com essas características diminui com o avançar da

escolaridade, reflexo das elevadas taxas de insucesso que caracterizam o

sistema.

� Numa análise por ciclo escolar há algumas diferenças a assinalar. No EBC (5º

e 6º anos) e no CG (1º, 2º e 3º anos) do ES, ao contrário do CC (1º e 2º anos), a

composição por sexo dentro de cada classe social não evidencia uma posição

diferente para a mulher, sendo mesmo maior o peso das raparigas no EBC, em

quase todas as classes sociais. No CC e no Ano Zero, a composição por sexo

dentro de cada classe social evidencia de forma clara a posição diferente que a

mulher tem em cada uma delas, sendo mais valorizada nas fracções de classe

mais altas. Assim, entre os estudantes provenientes das famílias do OI e do

ORP a percentagem de raparigas é diminuta e tende a diminuir com o aumento

da escolaridade. Em contrapartida, essa percentagem cresce progressivamente à

medida que se avança na classe social de origem.

� A dimensão das famílias também é variada segundo a classe social do aluno,

penalizando as classes mais desfavorecidas. Em todos os anos de escolaridade

verificamos que nas pequenas burguesias a maior parte dos alunos tem menos

de 5 irmãos, acontecendo o inverso no operariado e no campesinato. Sendo o

agregado familiar maior nas classes sociais com menor capacidade económica,

é evidente que há dificuldades adicionais que estas famílias têm que ultrapassar

colocando, também aqui, esses alunos em desvantagem perante os filhos da

burguesia e da pequena burguesia.

� Comparando a estrutura das classes sociais dos avós destes alunos com a dos

seus pais, a grande diferença verifica-se no maior peso que as várias fracções

da pequena burguesia têm na geração dos pais relativamente à dos avós,

predominando o funcionário público. Isto significa que, sem dúvida, o Estado

se tornou num dos principais factores de diferenciação social em Cabo Verde.

A vantagem de uma educação ocidental de que beneficiaram nos anos terminais

do período colonial ou no imediato pós-independência tornou-se, como

demonstram os resultados do questionário, numa importante vantagem

26

comparativa para os alunos filhos das pequenas burguesias, relativamente aos

do operariado e do campesinato.

� Com o aumento da escolaridade, o sistema de ensino aumenta o seu papel

selectivo. Nos anos terminais do ES a percentagem de alunos com pais

camponeses ou operários diminui, aumentando o peso das pequenas burguesias,

em particular da pequena burguesia dirigente e técnica e da pequena burguesia

executante, em particular da ligada ao aparelho do Estado.

27

CAPÍTULO II – A EDUCAÇÃO HISTÓRICA

1- O Contributo do Construtivismo Social e a Aprendizagem Social

A teoria construtivista tem raízes na Psicologia, na Sociologia, na Filosofia, na

Antropologia e na Educação. Foram vários os autores que construíram os alicerces que

fundamentaram a teoria construtivista de aprendizagem. Bruner, Vygotsky e outros

autores, defendem que qualquer ciência pode ser aprendida em qualquer idade, desde

que apresentada em níveis adequadas às experiências dos alunos (Ferreira, 2005,

pp.25).

Fosnot define construtivismo como:

Uma teoria sobre o conhecimento e aprendizagem, que se ocupa tanto daquilo que é o «conhecer»

como do modo que se chega a conhecer. Descreve o conhecimento como temporário, passível de

desenvolvimento, não objectivo, estruturado internamente e medido social e culturalmente onde a

aprendizagem é encarada como um processo auto-regulador de luta contra o conflito entre

modelos pessoais preexistentes do mundo e novos conhecimentos discrepantes( pp.9).

Esta abordagem baseada na linha de pensamento de Vygotsky toma o nome de

«construtivismo social», propondo a valorização da capacidade dos alunosna procura

de soluções para os problemas práticos do dia-a-dia, em tarefas e projectos com cariz

colaborativo, ao contrário do ensino sequencial, orientado para a aprendizagem de

conteúdos e técnicas. (Ferreira, 2005)

Esta teoria do conhecimento considera a construção do conhecimento a partir

de ideias tácitas que:

são construções pessoais resultantes das vivências específicas e pessoais das

crianças. As ideias tácitas são importantes referências às quais as crianças recorrem

para dar sentido às novas informações. Grudzinski (2007)

Estas ideias podem ainda ser entendidas como sínteses mentais de informação

mais ou menos carregadas de «afectividade» que os sujeitos transpõem, tanto

consciente como inconscientemente a partir do que eles são, foram, se projectam, ou

guiam o comportamento. (Ferreira, 2005)

28

1.1. O contributo do construtivismo para o ensino da História?

O modelo construtivista não aspira a ser um «guia de receitas» para ensinar

História, mas dela pode-se retirar um conjunto de medidas ou princípios úteis para o

desenvolvimento das práticas educativas. Segundo este modelo, os alunos não são

«tábua rasa» a preencher com informações que a escola decida transmitir-lhes (Miras,

2001, citado em Ferreira, 2005, pp. 27), mas é necessário, é imprescindível valorizar os

seus conhecimentos tácitos, para que o aluno construa pessoalmente o seu significado,

com base nos significados que já conseguiu construir previamente (Barca, 1995, citado

em Ferreira, 2005, pp. 27). É imprescindível que os professores conheçam as ideias

tácitas dos alunos e saibam as trabalhar em contexto de sala de aula.

Mauri (1997) defende a importância dos professores conhecerem os

conhecimentos tácitos dos alunos, afirmando que:

Que los professores conozcan los conocimientos previos de los alunnos y alunnas sobre el

tema que van estudiar es importante no únicamente porque son las que éste utiliza para aprender,

es decir, no puede prescindir de ellas en la realización de nuevos aprendizajes, sino porque de ellos

dependen las relaciones que les es posible establecer para atribuir significado a la nueva

información que se le plantea. Es dcir, los conocimientos que el alunno posee sobre un determinado

tema posibilitan estabelecer de relaciones sustantivas y, en consecuencia, permiten, también,

atribuir significado al nuevo contenido. (p. 15).

Melo (2000) refere ainda que os alunos eram vistos como agentes passivos,

onde a sua função maior era a maior ou menor capacidade de armazenar informações,

pelo contrário, na abordagem construtivista de ensino e aprendizagem, passou-se a

considerar que o ser humano é «co-construtor» de realidades privadas com e às quais

reage.

Na sequência da abordagem construtivista no ensino da história Isabel Barca(

1991) sublinha que a aula de História tem que ser um espaço, uma «oficina» onde os

alunos constroem os seus conhecimentos e onde o professor tem um papel de

orientador das suas aprendizagens.

Nesta sequência a autora ( Barca ,2004) afirma que,

Se o professor quiser participar nua educação para o desenvolvimento, terá de

assumir como um «investigador social»:

29

Apreender a interpretar o mundo conceptual dos seus alunos, não para de imediato

os classificar em certo/errado, completo/incompleto, mas para esta sua

compreensão o ajude a modificar positivamente a conceptualização dos alunos, tal

como o construtivismo social propõe. Neste modelo, o aluno é efectivamente visto

como um dos agentes do seu próprio conhecimento, as actividades da aula,

diversificadas e intelectualmente desafiadoras, são realizadas por estes e os

produtos daí resultantes são integrados na avaliação (pp.131).

1.2 - O modelo de aula construtivista, proposto por Barca (2004, pp. 134):

Quadro 7 - Paradigmas Educativos – modelo de aula-oficina

Lógica ♣ O aluno, agente da sua formação com

ideias prévias e experiências diversas

♣ O professor, investigador social e

organizador de actividade problematizadoras.

Saber

♣ Modelo de saber multifacetado e a

vários níveis:

♠ senso comum

♠ ciência

♠ epistemologia

Estratégias e recursos ♣ múltiplos recursos intervenientes

♣ aula-oficina

Avaliação ♣ material produzido pelo aluno, testes e

diálogos

Efeitos sociais ♣ agentes sociais

A aula-oficina em História segundo Barca (2002), envolve um conjunto de

estratégias tendentes à investigação por parte do aluno, o trabalho com fontes

primárias, secundárias, momentos de exposição/clarificação por parte do professor,

períodos de reflexão, discussão, confrontação de ideias, trabalho de pares, trabalho de

grupo, momentos de síntese e de silêncio. Este tipo de aulas, devido à sua grande

vertente activa, privilegia as interacções professor/aluno, aluno/aluno.

A concretização de uma aula-oficina, segundo a autora (2002) pode ser apoiada em

materiais produzidos nas investigações, nomeadamente: o levantamento de ideias

tácitas dos alunos no momento inicial da aula, que pode assumir um carácter

sistemático, dado a importância dessas ideias dos alunos no decorrer da aula; o

desenvolvimento de competências de interpretação de fontes, em tarefas ao longo da

aula, como por exemplo, fontes diversas sobre um mesmo acontecimento, onde o

30

professor ajuda o aluno a cruzar fontes, apresentando um guião de questões a serem

resolvidas em grupos, a utilização de artefactos arqueológicos, trabalhos de Internet e o

uso da televisão na aprendizagem da História; a avaliação sistemática das

aprendizagens é fundamental, no momento inicial, para ver a evolução das ideias dos

alunos e no momento final da intervenção, poderá se fazer um exercício análise de

mudança conceptual.

Torna-se necessário que os professores de História reflictam sobre este novo modelo

de aula para a disciplina de História uma vez que esta proposta permite ultrapassar a

ideia de que a História é um produto acabado, pronto a consumir e que o aluno é um

simples receptor-reprodutor de conhecimentos.

O papel do professor de História não se pode limitar à mera transmissão de

conhecimentos. A teoria construtivista do conhecimento enfatiza a necessidade de ser o

aluno o agente principal na construção do seu conhecimento. Parte do princípio de que

é necessário estabelecer uma ponte entre os conhecimentos que se têm e os que se

adquirem, considerando-se fundamental explorar esses conhecimentos para, com eles,

desenvolver novos conceitos.

A teoria construtivista aponta para a ideia de que os esquemas de conhecimento

daquilo que se aprende são específicos de cada disciplina, daí a importância dos alunos

acederem aos mecanismos de pensamento de cada saber.

O acto de aprender não é um acto passivo, mas uma actividade mental criativa, o

professor deve, por isso, implementar situações de aprendizagem que desenvolvam o

pensamento criativo e fundamentado dos alunos, um pensamento aberto que questiona,

que estabelece problemas e discute contradições, que procura soluções, que vê

alternativas, que consulta documentos, que cruza documentos com mensagens

diversificadas, que ultrapassa os obstáculos e constrói explicações históricas plausíveis

(Moreira, 2004).

Por conseguinte, a História deve fornecer aos alunos a prática de construir, com base

na evidência sistematicamente analisada, as suas próprias ideias sobre a sociedade

enquanto cidadãos que se desejam participativos, críticos e empreendedores. Tal, na

opinião de Barton (2004), é uma das razões mais nobres para os lançar no estudo da

História e uma das melhores formas da História poder contribuir para a formação de

cidadãos conscientes e intervenientes no meio em que habitam.

Moreira (2004) salienta que uma boa aprendizagem é sempre uma aprendizagem activa

em que os alunos aprendem a resolver problemas, desafiando o pensamento e isto

31

ajudá-los-á a dar sentido àquilo que estudam. Os alunos precisam de exercitar o

pensamento crítico e de aprender a seleccionar as respostas mais adequadas sobre o

real, passado e presente.

É possível aprender a pensar, pois as competências cognitivas treinam-se

mobilizando experiências em ordem a uma conceptualização cada vez mais elaborada,

na aula de História. Caberá ao professor a tarefa de incentivar os alunos a expor e

fundamentar com frequência as suas ideias para que possa orientá-los no tempo

histórico. Integrar o conceito de significância histórica nesta proposta de acção é

fundamental, pois permitirá conhecer e avaliar as ideias dos alunos para, a partir delas,

ajudá-los a desenvolver o raciocínio histórico.

Os estudos realizados no campo da cognição histórica, norteados pelos

princípios de aprendizagem situada, salientam que devemos ensinar os alunos a pensar

a partir das suas ideias tácitas, e este objectivo só pode ser atingido se o ensino da

História se basear na iniciação do aluno no método da pesquisa histórica, método com

base na interpretação de fontes, em que o aluno selecciona dados, compara, aprecia,

formula hipóteses e procura conclusões (Moreira, 2004).

Por conseguinte, cabe ao professor a tarefa de concretizar o ensino da História

recorrendo a estratégias motivadoras baseadas na análise de fontes históricas, que

forneçam ao aluno evidência do passado e a partir das quais possa construir-se as

explicações históricas sobre aspectos dos fenómenos estudados. Através delas, o aluno

poderá reconstruir o passado e, ao mesmo tempo, vai compreendendo que a História se

faz a partir de fontes. Daí a importância de familiarizar os alunos com todo o tipo de

fontes, fazendo a necessária distinção entre as fontes primárias e secundárias, fontes

historiográficas ou outras, incluindo as de carácter ficcional. Isto passa,

necessariamente, pelo trabalho com fontes diversificadas, o que permitirá ao aluno

construir o seu próprio conhecimento, desenvolvendo a competência de interpretação,

raciocínio e reflexão em torno das fontes históricas.

As fontes apresentadas neste estudo, assim como as fontes apresentadas no

estudo de Martins (2007), procurou estimular a aprendizagem com recurso à fontes

diversas sobre um mesmo acontecimento permitindo que os alunos, de uma forma

estruturada, acedam à informação disponível desenvolvendo actividades de forma

autónoma e construtiva, ao mesmo tempo que desenvolvem competências na área

específica da História, em particular a de atribuição de significância à História.

32

2– As Ideias de Segunda Ordem – A Significância Histórica

A Significância Histórica é um dos conceitos históricos estruturais, normalmente

designados de segunda ordem. Narrativa, Evidência, Interpretação, Explicação

(Motivo/Causa e Consequência/Efeito), Empatia, Tempo (Continuidade e Mudança,

Progresso/Desenvolvimento e Declínio), … são alguns dos conceitos de segunda

ordem.

Vários estudos, com base nos debates da Filosofia Analítica da História, defendem que

estes conceitos permitem a compreensão da lógica interna da História, a organização

do conhecimento e a compreensão dos conceitos substantivos da disciplina, e são as

ferramentas intelectuais de que os sujeitos se servem para pensarem sobre a

humanidade no tempo, como esta resolveu os seus problemas e tomou decisões, e o

meio pelo qual a compreensão histórica destes pode ser desenvolvida. Isto, porque

actualmente se considera que a História compreende o conhecimento substantivo do

passado – conceitos substantivos – e as ideias implícitas ou explícitas sobre e em torno

da História – conceitos de segunda ordem (Monsanto, 2004)

De facto, este tipo de investigação tem as suas raízes em variadas tradições que

desenvolveram novas teorias educativas e práticas de ensino relacionadas com a

História. Nas décadas de 1970 e 1980 surge o movimento da “New History” no Reino

Unido que preconiza uma abordagem cognitiva da aprendizagem (que nada tem a ver

com a “Nouvelle Histoire” em França), e que também se desenvolveu no Norte da

América, a partir da década de 1990.

Os estudos britânicos iniciais sobre a aprendizagem da História baseavam-se

essencialmente nas teorias de Piaget. A aplicação do modelo de desenvolvimento

cognitivo de Piaget, aplicado à História, teve como consequência uma série de estudos

nos anos 1960 e 1970, efectuados por Hallam. Concluiu-se que a História exigia níveis

do pensamento formal operacional que os alunos com idade inferior a 16 anos não

conseguiam atingir. Alarmados com estas conclusões negativas e interessados na

natureza singular do pensamento histórico, alguns autores discutiram um novo

objectivo na investigação: uma análise com um final aberto que não tivesse por base o

pensamento formal operacional desenvolvido por Piaget, mas sim o pensamento

histórico em particular. As novas abordagens da pesquisa em educação histórica,

desenvolvidas nos anos 1970 e 1980 acabariam por influenciar o currículo. O modelo

mais detalhado de uma abordagem empírica no ensino com base na New History foi o

33

“Schools Council History 13 – 16 Project (SCHP)”, no qual um grande número de

escolas secundárias britânicas participou a partir de meados de 1970 (in Martins, 2007;

Barca, 2000).

Segundo Martins (2007), o SCHP questionou os modelos conceptuais relacionados

com a idade segundo a teoria de Piaget. Os fundadores do projecto argumentaram, com

base em dados empíricos, que a educação tradicional da História poderia levar os

alunos a possuir uma enorme quantidade de informação histórica, não possuindo,

contudo, a competência de interpretar e contextualizar a informação. No entanto,

alcançavam níveis de compreensão mais elevados se a História fosse concebida como

uma forma distinta de conhecimento e os seus conteúdos programáticos fossem

estruturados em torno da natureza de investigações e explicações históricas, não se

baseando apenas em conhecimentos factuais.

O SCHP teve um forte impacto na investigação e práticas em torno da compreensão

histórica dos alunos. Investigadores da educação histórica começaram a voltar-se para

a análise conceptual dos filósofos sobre a epistemologia da História e para as ideias

que professores e alunos tinham sobre determinados conceitos históricos, sobretudo

aqueles que conferiam à História a sua distinção – conceitos de segunda ordem. Estes

investigadores questionavam se a aprendizagem da História podia oferecer uma forma

“pura” de complexidade conceptual, descrita em termos de níveis que são livres de

conteúdos. Como alguns piagetianos propunham. A necessidade de responder a esta

questão e de ultrapassar alguns dos obstáculos foi algumas das razões da mudança e do

enfoque nos conceitos históricos de segunda ordem. A Causa, as Razões, o Tempo, a

Continuidade e a Mudança, a Relevância e a Significância são conceitos

“organizacionais” da disciplina; eles actuam como um meio para apreender a lógica

interna da História. Para alcançar uma compreensão sofisticada, os conteúdos deveriam

ser moldados por conceitos de segunda ordem e por procedimentos históricos

actualizados. Na verdade, os estudantes tendem a possuir determinadas ideias, que são

sugeridas ou compreendidas indirectamente, que podem facilitar ou dificultar a sua

compreensão histórica. Os conhecimentos que os alunos têm sobre a organização de

conceitos e a consequente construção em hierarquia lógica, feita por investigadores,

são meios para abordar uma compreensão do desenvolvimento da aprendizagem dos

estudantes em História. Desta forma, para muitos investigadores da escola inglesa, é

possível delinear padrões de progressão – não invariantes – ou hierarquias de

34

complexidade conceptual na aprendizagem da História, que se podem aplicar a

qualquer tipo de conteúdo (Martins 2007).

Assim, as pesquisas sobre estes conceitos tiveram início em Inglaterra nas décadas de

1970 e 1980, no seio do movimento chamado New History, sempre numa tradição de

estudos qualitativos, numa abordagem cognitiva acerca do conhecimento meta-

histórico. De facto, o primeiro trabalho publicado sobre conceitos históricos de

segunda ordem foi o de Dickinson & Lee (1978), seguindo-se o de Shemilt (1980).

Os conceitos de segunda ordem continuam a ocupar um lugar de destaque nas

preocupações dos investigadores em cognição histórica em vários países europeus e no

continente americano. No caso específico da Significância Histórica destaca-se Lis

Cercadillo em Espanha, nos E.U.A. Keith Barton, Linda Levstik, Elizabeth Yeager,

Jennifer Greer, no Canadá, Peter Seixas e, também em Portugal, através de um grupo

de investigadores da Universidade do Minho.

Neste sentido, apresentam-se alguns estudos cuja preocupação central é a

compreensão do conceito de Significância Histórica pelos alunos, nos diversos países

europeus e americanos:

- Canadá

O estudo realizado por Seixas (1994), “Students` Understanding of Historical

Significance”, contribuiu para uma melhor compreensão da construção do conceito de

significância histórica. Para o autor o conceito de significância histórica é o critério

primordial aquando da avaliação de determinado fenómeno por parte dos

investigadores em História.Os historiadores sentem a necessidade de usar esse critério

na impossibilidade de estudarem a totalidade do passado humano. Assim, quando um

fenómeno é estudado, o mesmo teve que ser historicamente significativo para o

investigador ter iniciado esse estudo. Seixas coloca também a questão: Com que

critérios é que o historiador atribui significância histórica a um fenómeno passado?

Os historiadores, para atribuírem maior significância histórica a um facto e não

a outro, têm de ter em consideração determinados aspectos. Para um fenómeno do

passado ser historicamente significativo, os historiadores consideram se esse fenómeno

afectou um grande número de pessoas de pessoas durante um longo período de tempo;

35

estabelecem relações com outros fenómenos históricos e, finalmente, procuram

estabelecer uma relação com o presente.

No seu estudo, Seixas pretendeu explorar a forma como os jovens conduzem o

seu pensamento sobre a significância do passado. Para tal, analisou as escolhas que os

jovens faziam acerca de factos e desenvolvimentos passados que consideram

historicamente significativos, e como sustentam as suas escolhas. Neste estudo a

amostra foi composta por 41 alunos que frequentavam a disciplina de Estudos Sociais

de uma escola urbana canadiana, do 10.º ano de escolaridade.

No questionário elaborado para o efeito, os alunos tinham duas tarefas: a

primeira tarefa era uma questão em que, de acordo com uma escala de cinco itens, os

alunos deveriam estabelecer o interesse/gosto relativamente à disciplina de Estudos

Sociais durante aos últimos dois anos de escolaridade, justificando as suas opções; na

segunda tarefa, os alunos teriam que indicar os três factos ou desenvolvimentos que

consideravam mais importantes dos últimos 500 anos e explicar as razões das suas

escolhas.

Para clarificar algumas das escolhas dos alunos relativas às duas tarefas, o autor

teve necessidade de recorrer à técnica da entrevista, entrevistando catorze dos alunos, a

fim de obter diversos exemplos do pensamento acerca da significância do passado.

Assim, na análise dos dados, Seixas observou que, relativamente à segunda

tarefa, os factos mais recorrentes considerados pelos alunos mais importantes dos

últimos 500 anos foram as Guerras Mundiais, Ascensão e queda do Comunismo,

Descoberta do Novo Mundo, Confederação Canadiana e/ou Independência, Revolução

Francesa, Guerra do Vietname, Revolução Americana, Revolução Industrial …

respectivamente por ordem decrescente. Segundo o autor, todos os factos referidos são

omnipresentes na cultura popular e todos eles tiveram grandes implicações

internacionais, o que revela que os alunos consideraram nas suas escolhas o impacto

global do facto. No entanto, de todos os factos mencionados, o autor observou que a

maioria dos factos que os sujeitos mencionaram fazem parte do programa curricular da

disciplina de Estudos Sociais, com excepção de dois que alguns alunos mencionaram, a

Guerra do Vietname e o Referendo Constitucional (mas este último tenha ocorrido no

ano anterior à realização do estudo e foi alvo de debate na disciplina).

No que concerne às justificações dadas para a escolha dos três factos, Seixas

agrupou-as em três grupos distintos. Por conseguinte, no primeiro grupo foram

incluídas as respostas dos alunos que estabeleciam uma relação passado/presente no

36

sentido de causa/efeito e também as que manifestavam uma noção de progresso. Para

estes alunos, os factos são historicamente significativos se tiveram um grande impacto

no Mundo contemporâneo ou pelo menos na civilização ocidental, nomeadamente, no

Canadá contemporâneo, e que afectaram um grande número de pessoas. Os alunos

também consideraram que os factos são historicamente significativos se estes

implicaram progresso. Portanto, para esses alunos, o passado é importante para a

compreensão do presente e a História é entendida tendo como fim o progresso, que

pode ser constatado em situações no presente.

No segundo grupo foram incluídas as respostas dos alunos em que a

significância histórica dos factos era estabelecida em função da contextualização do

presente através do uso de analogias entre o passado e o presente, em que os factos dos

passado serviam como lições para o presente de forma a que a humanidade evite os

erros do passado. Por conseguinte, as posições históricas dos alunos que se enquadram

neste grupo são definidas por analogia com tempos passados menos desenvolvidos

moralmente, já que revelam entender que a História avança no sentido do progresso

moral da humanidade, entendendo a História com optimismo. Neste grupo, o tema do

progresso histórico é, então, mais proeminente no que no primeiro.

No terceiro grupo foram incluídas as respostas dos alunos em que a

significância histórica era baseada ou nos interesses pessoais dos sujeitos, ou pelo lugar

que o facto ocupa na História do Canadá, ou porque a compreensão da escolha de

factos para estudo em História faz parte de uma obrigação para com os seus

antepassados.

Ainda nesse estudo, Seixas considera necessário que se tenha em atenção, no

currículo da disciplina de Estudos Sociais, ao ensino de vários e diferentes aspectos do

pensamento histórico dos alunos, nomeadamente, o ensino da argumentação do que

torna os factos historicamente significativos e de como se tornaram significativos, pois

não pode continuar a basear-se na acumulação de conteúdos prescritos, cujo

significado permanece um mistério para os alunos que os aprendem. Cabe, por isso,

aos professores analisar como os alunos pensam sobre significância histórica e de que

estratégias eles se socorrem na atribuição de significância aos factos. Como sugestão,

Seixas aconselha os professores que proporcionem aos alunos este tipo de actividades,

pedindo-lhes que façam uma selecção de factos passados que considerem significativos

e que os questionem sobre a atribuição de significância desses mesmos factos.

37

No estudo “Mapping the Terrain of Historical Significance”, Seixas (1997)

procurou aprofundar a compreensão sobre as ideias dos alunos em torno da

significância histórica, visto considerar que a significância história varia de aluno para

aluno, por causa de diversas formas interpretativas, dos seus valores e das ideias que os

alunos possuem, resultando em formas próprias de compreensão da significância

histórica. Essas formas próprias de compreensão de cada aluno resultam das

experiências vividas na escola, fora da sala de aula, provenientes da família, de filmes

históricos, de ficção televisiva e de comemorações. Segundo o autor, os professores

não podem ignorar qualquer construção dos alunos relativa à significância histórica,

devendo ajudar os alunos a expor as suas concepções para os orientar no tempo

histórico, pois essas formas de compreensão devem ser o ponto de partida para o

ensino da História.

Nesse sentido, colocou as seguintes questões de investigação:

1. Há diferenças importantes na forma como os alunos do ensino

secundário abordam a questão de significância histórica?

2. Algumas das suas abordagens são melhores do que outras e, se sim,

quais os critérios que utilizam?

3. Como podem tais diferenças ter implicações no currículo e no ensino?

Para tal, a amostra, composta por 82 alunos canadianos do ensino secundário,

realizou várias tarefas escritas, referentes a factos da História Mundial abordados no

currículo canadiano da disciplina de Estudos Sociais, divididas em duas partes.

Na primeira parte, foi pedido aos alunos que elaborassem um diagrama com os

factos da História Mundial que para eles tinham maior significância, ordenados de

forma a fazerem sentido para eles, e depois de realizarem essa tarefa, foram

confrontados com duas questões abertas:

1. Este é o motivo da minha escolha.

2. Esta é a razão porque organizei os factos dessa forma.

Na segunda parte, os alunos foram confrontados com uma lista de vinte

acontecimentos da História Mundial ordenados cronologicamente, em que deviam

assinalar aqueles de que já tinham ouvido falar. Depois, teriam que responder a um

questionário com as seguintes questões abertas:

38

1. Dos acontecimentos assinalados, qual o mais significativo? Porquê?

2. Qual o menos importante? Porquê?

3. Se alguém considerar que o acontecimento assinalado como o menos

significativo é o mais significativo para ele, como pode fazê-lo?

4. Há algum acontecimento que não esteja na lista e que penses que seria muito

significativo na História Mundial?

5. Se sim, qual? Por que pensas que deveria constar na lista?

As respostas da segunda parte de tarefas possibilitaram estabelecer uma

comparação com as da primeira parte, visto que, segundo o autor, é necessário utilizar

uma variedade de perguntas para se chegar à compreensão dos estudantes sobre

significância histórica.

Na parte da análise dos dados, os diagramas foram analisados em função de

critérios que permitissem observar como é que os alunos integram os seus interesses

“pessoais” na História Mundial, nomeadamente, focalização geográfica, temporal e

temática e coerência em todos os campos.

Segundo a análise dos dados, o autor observou que os alunos, nas suas

respostas, evidenciavam um pensamento que podia agrupar-se em dois tipos de

orientações, uma subjectivista e outra objectivista. A orientação subjectivista era

estruturada em função dos interesses e conceitos pessoais dos alunos, e a orientação

objectivista era ditada por diferentes autoridades, nomeadamente, professores, livros e

historiadores. No entanto, cada uma dessas orientações apresentava variações, as

básicas (menos elaboradas) e as sofisticadas (mais elaboradas). Para além disso, o

autor encontrou respostas de uma minoria de alunos que ultrapassavam essas duas

orientações. Esse conjunto de respostas seguia uma orientação diferente, mais

narrativista, em que era possível observar que os alunos construíam a significância

histórica a partir da conexão de vários factos particulares, que são entendidos como

fazendo parte de uma narrativa histórica integrada. Nessas respostas havia um

estabelecimento de ligação entre conceitos e interesses pessoais com tendências e

desenvolvimentos históricos, chegando mesmo a fazer especulações sobre o futuro da

humanidade.

39

Assim, Seixas situou as respostas dos alunos em cinco posições na

compreensão da Significância Histórica: Objectivista Básica, Subjectivista Básica,

Objectivista Sofisticada, Subjectivista Sofisticada e Narrativista.

Na posição Objectivista Básica, a significância é determinada pelas autoridades

externas, que definem o que é, ou não, significativo. Por isso, os alunos que seguem

esta posição apresentam respostas copiadas a partir dessas autoridades, confiando nelas

por serem especialistas, sem criticar.

Na posição Subjectivista Básica, a significância é determinada em função das

preferências e interesses pessoais. Tudo o que interessa ao aluno é significativo, não se

notando esforço em estabelecer relações entre o acontecimento que ele considera

significativo com outros acontecimentos e/ou com outras pessoas. Alguns apontam a

data do próprio nascimento, como sendo um acontecimento muito significativo.

Na posição Objectivista Sofisticada, os alunos associam o impacto que o

acontecimento teve para com um grande número de pessoas durante grandes períodos

de tempo. Para esses alunos, os acontecimentos são significativos porque afectaram

muita gente, porque mudaram o mundo, ou porque influenciaram o mundo em que

vivemos.

Na posição Subjectivista Sofisticada, os alunos associam o impacto que o

acontecimento teve sobre um grupo próximo dos alunos como, por exemplo, aspectos

ligados à família, à religião, à etnia e até ao país. Nesta posição, há uma clara

identificação com o grupo de pertença.

Finalmente, na posição Narrativista, os alunos associam interesses pessoais com

conceitos de progresso e declínio, ou seja, os acontecimentos são considerados

significativos se proporcionaram maior ou menor desenvolvimento para a humanidade.

Há uma associação entre conceitos históricos e interesses subjectivos com tendências e

desenvolvimentos históricos, com alguma especulação sobre o futuro da humanidade.

Os acontecimentos individuais tornam-se significativos, fazendo parte integrante de

uma narrativa histórica.

Com base nestas formas de orientação do pensamento dos alunos na

compreensão da Significância Histórica, o autor concluiu que existem diferenças

importantes na forma como os alunos abordam a questão da significância histórica: uns

orientam-se através da história estabelecida pelas autoridades (Objectivista Básica);

outros orientam-se pelos seus próprios interesses (Subjectivista Básica); outros, de uma

forma mais elaborada, articulam critérios como o impacto de um acontecimento com

40

um grande número de pessoas (Objectivista Sofisticada) ou então em termos de

impacto em grupos aos quais o aluno pertence (Subjectivista Sofisticada). Para além

disso há uma minoria de alunos com uma postura mais narrativista, unindo conceitos e

interesses pessoais com grandes tendências e desenvolvimentos históricos, que pensam

nos lugares dos eventos particulares no contexto de uma maior narrativa histórica.

Para além disso, Seixas considerou que a significância que os alunos atribuem

aos acontecimentos históricos determina a aprendizagem que realizam da História. Por

isso, os professores devem contemplar este conceito de segunda ordem nas aulas de

História porque senão os alunos não conseguirão estabelecer associações entre

acontecimentos, não os relacionando, considerando-os meros factos isolados.

No ensaio “Conceptualizing the Growth of Historical Understanding” de Seixas

(1998), reflecte sobre a estrutura da História que molda o nosso pensamento histórico,

com a finalidade de fomentar o desenvolvimento do conhecimento histórico. Segundo

esse ensaio, a estrutura da História é composta por conceitos de segunda ordem como a

evidência, causa, empatia, mudança e tempo. Ao conceito de mudança, Seixas

acrescenta por inter-relação os de continuidade, progresso e declínio, e significância.

São conceitos que fazem parte da natureza específica da História, que nos ajudam a ter

uma compreensão histórica mais abrangente e que nos ajudam a construir o significado

histórico.

No entanto, ainda segundo Seixas, muito antes de termos consciência e

conhecimento dessas estruturas específicas que possibilitam a compreensão histórica,

todos encontramos estímulos que nos levam a pensar sobre o passado e, deste modo,

sobre a História. Esses estímulos são os vestígios (artefactos, relíquias, documentos,

ambiente construído, paisagens e instituições) e os relatos do passado humano

(histórias familiares, notícias da televisão, filmes, romances históricos, referências

históricas na publicidade e comemorações populares). O autor realça o facto de que os

jovens se confrontam com o passado muito antes das suas primeiras experiências

formais na disciplina de História, ou seja, antes de se iniciarem em educação histórica

na escola. Esse confronto pode ocorrer nas suas experiências quotidianas, na televisão

ou em conversas com a família. Assim, cedo iniciam o seu pensamento histórico,

através da criação de procedimentos temporais, que dão sentido à vida humana. Esses

procedimentos temporais remetem para processos intelectuais que convocam

41

implicitamente conceitos como evidência, causa, tempo, empatia, continuidade,

mudança, julgamento moral, significância, progresso e declínio.

Porém, este autor, aponta que quer os vestígios quer os relatos não possibilitam

o confronto com o passado em si mesmo, mas somente com representações sobre o

passado, visto que os vestígios podem sofrer mudanças ao longo do tempo e os relatos

são interpretações dos acontecimentos passados. Perante essa impossibilidade de nos

confrontarmos com o passado em si mesmo, devemos organizar mentalmente uma

narrativa sobre esses vestígios e esses relatos, pois só dessa forma poderemos

compreender a nossa situação no tempo. Para essa organização mental, temos que nos

socorrer dos conceitos de segunda ordem supracitados.

De acordo com Seixas, no que respeita à atribuição de significância de

acontecimentos históricos particulares, o que permite atribuir significado são as

relações que se estabelecem entre eventos e processos, passados e presentes. Assim, ao

atribuímos significância a um acontecimento particular passado, primeiro fazemos uma

escolha, onde está implícito um juízo. Depois, estabelecemos a sua relação com outros

factos e connosco, e, por último, procuramos atestar a sua importância para o presente.

Isto porque, segundo Seixas, a História é sempre uma interpretação do presente, pois o

nosso interesse no passado é contextualizar e compreender o presente através dos

vestígios e dos relatos do passado. Nesta linha de pensamento, a História é a disciplina

através da qual organizamos esses vestígios e relatos do passado de uma forma

significativa para nós no presente.

Por tudo isto, a educação histórica não pode desenrolar-se como se os jovens

nunca tivessem tido nenhuma ideia anterior sobre o passado. Por isso, é necessário

conhecer as ideias tácitas que os jovens possuem sobre o passado, e em que estruturas

assenta esse pensamento para alcançar a compreensão histórica. Só desta forma

poderemos ajudar os jovens de hoje a pensar historicamente, a fim de desenvolverem

uma compreensão histórica significativa e crítica. Assim, é necessário realizar

investigações, como é o caso do presente estudo, sobre o pensamento histórico das

crianças e dos jovens e criar oportunidades na sala de aula para os alunos exporem as

suas ideias e o seu pensamento sobre o passado, de forma a que os professores possam

criar estratégias para melhorar a educação histórica.

42

- Estados Unidos da América

Levstik (1998) no estudo “Early Adolescents Understanding of the Historical

Significance of Women’s Rights” procurou explora como adolescentes americanos

abordam a questão da significância histórica em relação da História dos Estados

Unidos, nomeadamente, a significância histórica que atribuem à Carta dos Direitos.

Também pretendeu compreender como entendem a significância histórica do

movimento sufragista feminino, o papel das mulheres na História do seu país e o que

pensam sobre a continuação do machismo na sociedade americana. Sobre este aspecto,

a autora refere que os manuais escolares não são a única fonte de informação para os

alunos, porque, tal como os historiadores, os alunos constroem as suas ideias sobre o

passado, atribuindo significância a factos passados com base no contexto sociocultural

em que estão inseridos, onde são confrontados com as histórias oficiais, comemoradas

de diversas formas na sociedade, as histórias vernáculas e a história escolar, muitas

vezes com imagens e interpretações do passado diferente e, por vezes, divergente. A

autora pretendia, ainda, explorar a forma como os adolescentes convivem com essa

divergência de várias narrativas, por vezes em competição, bem como de que forma

contribuem para a significância que atribuem aos factos passados. A amostra foi

constituída por alunos pertencentes a quatro escolas do centro e do norte de Kentucky,

trabalhando em grupos de três/quatro elementos do mesmo sexo; a amostra e a

metodologia fora a mesma do estudo realizado com Barton (1998), quanto à

metodologia, de vinte imagens legendadas, os alunos tinham que seleccionar apenas

oito, consideradas as de maior significância histórica para serem incluídas numa barra

cronológica dos últimos 500 anos da História dos E.U.A.. Dessas vinte imagens,

apenas dez incluíam imagens de mulheres e/ou raparigas, e apenas duas dessas dez

representavam factos explicitamente abordados na História política convencional e

também no currículo escolar. Após a selecção das oito imagens, os alunos reponderam

a um questionário semi-estruturado, a fim de explorar a compreensão sobre

significância histórica e das quais a autora destaca do protocolo da entrevista a seguinte

questão:

1. Na tua opinião, se um grupo de sexo oposto fizesse esta tarefa pensas que fariam

escolhas diferentes das tuas?

43

Para a recolha de dados foram utilizadas registos vídeo e audiocassetes vídeo e áudio

de discussões dos grupos sobre as imagens que deviam incluir na barra cronológica,

como explicavam as razões das suas escolhas, como discutiam, o que pensavam que

um grupo de alunos de sexo oposto escolheria, e o que aprenderam sobre História na

escola e fora dela.

A autora constatou que os participantes no estudo descrevem o progresso da História

dos Estados Unidos numa perspectiva inclusiva, visto que justificaram a preferência da

imagem representativa da Carta dos Direitos Humanos, afirmando que esta estabelecia

os parâmetros do que se considerava ser um Americano. Assim, para estes

adolescentes, a ideia de progresso na História do seu país abarcou a extensão de

direitos aos que inicialmente estavam excluídos da participação cívica plena. A maioria

também relacionou o movimento dos Direitos das Mulheres com os Direitos Civis para

os Afro-Americanos. Esta análise dos dados também permitiu à autora concluir que há

alguma dificuldade entre os jovens em pensar sobre a significância histórica no que

respeita às diferenças entre o género masculino e o feminino, excepto em relação ao

Sufrágio. De facto, esta problemática foi abordada pelos alunos quando o papel das

mulheres era um assunto explícito representado na imagem como na Carta dos

Direitos, no Sufrágio, nos Direitos Civis e na Proclamação da Emancipação. Assim,

não discutiram outras imagens que diziam respeito às mulheres, porque não as

identificaram como agentes principais da História.

A autora observou também que os rapazes e as raparigas têm motivos diferentes para

incluir a mesma imagem na barra cronológica, como é o caso do sufrágio feminino,

apesar de todos considerarem que o sufrágio feminino devia ser incluído na barra

cronológica. Esses motivos foram resumidos pela autora em três categorias:

1. Motivos baseados no interesse pessoal. Os alunos consideram que homens e

mulheres têm perspectivas e interesses diferentes dos factos. No caso concreto da

escolha do Sufrágio feminino, tanto os rapazes como as raparigas pensam e concordam

que, provavelmente, os rapazes seleccionariam guerras e tecnologia e as raparigas

educação e Direitos Civis, devido, precisamente, a terem interesses diferentes.

2. Motivos baseados na atracção pelos factos. Os alunos consideram que homens e

mulheres podem ter atracções ou simpatias diferente pelos factos.

44

3. Motivos baseados em atitudes sexistas, visto que os alunos consideram que há

diferenças no modo como cada género pensa em História e na forma como cada género

atribui significância aos factos históricos.

Neste estudo, Levstik pode observar que os rapazes concordaram com as raparigas no

que respeita ao facto que as mulheres deviam partilhar o poder político, exercer

autoridade e que o sexo masculino não devia dominar o feminino, que as mulheres

deviam ter os mesmos direitos que os homens aquando da discussão de problemas que

afectam as suas vidas. No que respeita ao sufrágio feminino, em geral concordaram

que daí resultou uma maior competição entre candidatos, que há uma maior

probabilidade de diferentes perspectivas de um mesmo assunto serem ouvidas, para

que haja uma maior satisfação com os eleitos.

Acerca da discussão das imagens, tanto os rapazes como as raparigas se identificaram

com agentes do mesmo sexo: no caso da discussão da imagem representativa do

Sufrágio, as raparigas identificaram-se com as mulheres do princípio do século XX e

os rapazes com os homens desse período.

Face aos resultados, a autora sugere que sejam introduzidas experiências femininas no

currículo de História a fim dos alunos obterem uma visão mais alargada da História e,

portanto das suas possibilidades para as suas próprias vidas. No entanto, a autora atenta

para que não sejam incluídas apenas as mulheres excepcionais em áreas

tradicionalmente masculinas pelo simples facto de ser considerado “socialmente

correcto”. Deve acabar-se com o currículo onde dominam os factos do género

masculino, públicos, políticos e diplomáticos, porque assim os alunos ficam com a

ideia que isso é que é historicamente significativo. A veiculação dessa informação

proporciona aos alunos informação inadequada sobre o papel da mulher na História, o

que os leva a concluir que a experiência masculina é universal, em lugar de

considerarem experiências diversificadas.

Barton e Levstik (2001) desenvolveram o estudo “Explicações da Significância

Histórica com Alunos do Ensino Básico” com o objectivo de compreender como os

alunos do Ensino Básico entendem a Significância Histórica nos EUA. Para responder

a este problema formularam as seguintes questões de investigação:

45

- Que sentido dão os jovens às ideias e às imagens sobre História que encontram

na Escola e fora dela?

- Como é que adolescentes do 5º ao 8º ano de escolaridade avaliam a

significância histórica nos EUA, e como usam a História para criar o sentimento de

identidade colectiva?

Os autores chamam a atenção para o facto de que, as ideias sobre a significância

histórica serem construções culturais transmitidas aos membros de uma sociedade de

diversas formas, sendo que a escola, para além da família, dos mass media, dos locais

históricos e museus também contribui para essa construção, já que todos manifestam

versões do passado e facilitam a edificação de imagens e ideais sobre o passado. Sendo

assim, os jovens são confrontados com a disparidade entre as versões da História que

encontram na escola e na sociedade em geral.Quando tal acontecer, o seu entendimento

da significância histórica pode divergir da do currículo escolar e fornecer perspectivas

alternativas acerca da significância do passado.

Esta investigação teve como amostra 48 adolescentes, de quatro níveis de escolaridade

diferentes, do 5º ao 8º ano. Estes alunos trabalharam em grupo de 3/4, sendo que eram

grupos constituídos por alunos do mesmo sexo, onde foram confrontados com vinte

imagens legendadas, que caracterizavam personagens e factos históricos dos EUA.

Nesta tarefa, foi solicitada aos alunos que lessem as legendas de cada uma das

imagens, de seguida para seleccionarem oito imagens das vinte, devendo fazer parte

das oito as que considerassem importantes para construir uma cronologia dos últimos

quinhentos anos da História dos EUA. Depois, foram questionados com as razões da

escolha dessas oito imagens e, de seguida, foi-lhes pedido para identificarem que

outras fotografias também poderiam ter escolhido e aquelas que pensavam que

ninguém iria escolher; foi-lhes pedido para falarem acerca do que aprenderam sobre a

História, dentro e fora da escola.

Após a análise dos dados empíricos, verificaram que a maioria dos adolescentes

nas suas escolhas focou como tema central a História dos EUA, tanto ligados à sua

origem como ao desenvolvimento político e social, salientando a expansão dos direitos

de oportunidades e as liberdades sociais na História do país. As imagens mais

apontadas pelos alunos foram a “Proclamação da Emancipação”, “Direitos Civis”,

“Sufrágios”, “Carta dos Direitos”, “Revolução Americana” e “II Guerra Mundial”,

imagens que mostram os factos que os alunos julgam demonstrar a superioridade moral

do seu país. Outros alunos evidenciaram a evolução tecnológica, e avaliaram a sua

46

evolução na vida contemporânea ao seleccionarem imagens de “Thomas Edison”,

“Computadores” e “Avião”. Segundo os investigadores, as justificações dos alunos

revelam com os conceitos de liberdade, independência, desenvolvimento e progresso

fazem parte da significância histórica.

Verificaram ainda que os alunos geralmente excluíam imagens de pessoas e de

acontecimentos que não conseguiam associar à representação de desenvolvimento

benéfico de um país, tais como as imagens de “Elvis Presley” e “O. J. Simpson” por as

avaliar e considerar com pouco impacto na transformação da cultura, em contraposição

à expansão da liberdade e aos avanços tecnológicos.

Barton e Livstik mencionam que se os alunos tiveram muitas dificuldades em

associar acontecimentos e pessoas à representação de um progresso histórico benigno e

sucessivo de um país, é porque na escola não são consideradas várias explicações

históricas para os mesmos factos e pessoas, de modo a que os alunos compreendam

que existe várias explicações históricas válidas, mas também contraditarias, que

demonstrem que a História se caracteriza por discórdias e por consensos, por recuos e

por avanças, por restrições e expansões de oportunidades.

Os mesmos investigadores verificaram ainda que os alunos tiveram dificuldades

em conjugar as suas próprias perspectivas da História, que derivam das suas

experiências quotidianas fora da escola e de pessoas que conhecem, com as do

currículo nacional. O mesmo aconteceu com a atribuição de significância exposta e

valorizada no currículo escolar. Isso notou-se também no facto das crianças se

identificarem muitas vezes com a História vernacular, colocando-os em conflito com a

apresentada nos currículos escolares – História oficial. Nessa óptica, os autores

sugerem que os professores deveriam investir no desenvolvimento do espírito crítico

dos seus alunos, de forma a permitirem a discussão e a especulação sobre as

perspectivas da História:

“Os professores devem desenvolver o espírito crítico nos alunos, para que estes

adquiram o poder argumentativo e contra argumentativo sobre as diferentes

perspectivas da História, ou seja, sobre a História oficial e a História vernácula, para

alcançarem uma maior compreensão da História que lhes permita valorizar e que lhes

seja útil e relevante para as suas vidas” (Barton e Livstik 2001, pp.228).

Barton (2004) desenvolveu um estudo sobre o pensamento das crianças dos

EUA e da Irlanda do Norte em História, centrada na questão: qual a ideia das crianças

47

acerca da vida ao longo do tempo? O objectivo era verificar as diferentes ideias de um

aluno americano e de um aluno da Irlanda do Norte.

A amostra foi constituída por 120 crianças dos 6 aos 12 anos, em 4 escolas dos

EUA e 4 escolas da Irlanda do Norte com proveniências heterogéneas

(protestante/católica, urbana/rural). Barton utilizou como método para recolha de dados

o inquérito por entrevistas (semi-estruturadas), a pares de alunos, sobre imagens de

diferentes épocas históricas.

Barton considerou que um dos resultados mais notáveis da sua pesquisa foi facto

de, em ambos os países, as crianças, desde muito cedo, se considerarem historicamente

informados e indivíduos conscientes. Realça ainda que as crianças reconhecem que a

História lhes fornece um conhecimento valioso, embora se interessem menos pela

História aprendida na escola, do que a aprendida com outras fontes. Nessa mesma

linha, constatou ainda que, os alunos consideram que a História aprendida na escola os

ajuda a analisar criticamente a opinião aceite na sua comunidade a completar as suas

próprias ideias do passado.

Após a análise dos dados, Barton verificou três tipos de tendências diferentes

entre os alunos americanos e irlandeses:

▪ Ideias de progresso ou de mudança - que as crianças dos E.U.A têm mais

presente a ideia de progresso do que as da Irlanda, já que para estas há sobretudo a

ideia de que as coisas mudaram;

▪ Ideias de mudança por questões individuais ou factores sociais – nos E.U.A., as

crianças atribuem as mudanças a pessoas individuais, enquanto que as crianças da

Irlanda demonstram uma visão mais social;

▪ Ideias de evolução ou de diversidade nas mudanças históricas – os alunos dos

E.U.A. detiveram a ideia de que a História tem de evoluir de determinada forma ligada

ao desenvolvimento nacional, utilizando a palavra “nós”, enquanto que as crianças da

Irlanda consideram a História importante para conhecerem o passado do homem, a

nível de vivências quotidianas.

Assim, o investigador chegou a conclusão de que existem diferenças entre os

alunos dos E.U.A. e da Irlanda, atribuindo essa diferença a vários factores:

- Nos E.U.A. a aprendizagem da História tem a ver com a história nacional, onde

dão grande enfoque à pessoa singular e líder de movimentos civis, narrando os

acontecimentos nacionais. Não existe um programa a nível nacional, estuda-se pelos

manuais escolhidos por critérios de «beleza e riqueza de imagens», ninguém impõe o

48

que se deve estudar na disciplina, os conteúdos didácticos não são os estudados pelos

historiadores, e os professores de história não são bem formados;

- Na Irlanda do Norte, os professores são bem formados, os programas abarcam uma

História Universal, não dando muita importância ao indivíduo, mas sim à sociedade

como um todo, onde as crianças desenvolvem capacidades de análise centrada nas

evidências para chegarem a conclusões.

No livro “Learning to Teach History in the Secondary School” de Haydn e

Hunt (2001), os autores referem que é possível desenvolver com sucesso a

compreensão histórica dos alunos se estes estiverem envolvidos de forma activa na sua

aprendizagem. Para tal, fazem várias recomendações aos professores quando abordam

o conceito de significância histórica:

1. Compreender que a História opera na base de que alguns factos e mudanças

podem ser mais importantes do que outros;

2. Estabelecer critérios para avaliar a significância dos factos, mudanças ou

pessoas no passado;

3. Compreender que alguns factos que foram considerados significativos no seu

tempo, hoje não o são, e que a significância de outros factos só é reconhecida

posteriormente, às vezes, muitos anos depois;

4. Compreender que as pessoas diferentes de nós poderão ter ideias diferentes

sobre a significância dos factos, assuntos ou mudanças;

5. Compreender por que razão as pessoas podem defender ideias diferentes

sobre o que foi considerado significativo;

6. Compreender que a significância de um facto ou mudança é determinada

pela natureza da investigação histórica;

7. Compreender que os factos considerados secundários podem ser altamente

importantes num contexto alargado;

8. Distinguir entre as consequências de um facto e a sua significância;

9. Compreender que um facto ou mudança normalmente se torna significativo

devido à sua conexão com outros factos.

No estudo “How Eight Graders in England and the United States View

Historical Significance” de Yeager, Foster e Greer (2002), os autores exploram a

49

atribuição de significância por alunos a factos históricos a partir das suas perspectivas

contemporâneas e quais os critérios que usam nessa atribuição.

Para os autores, a compreensão das concepções de significância histórica dos

alunos é importante porque, por um lado, depende muito das informações obtidas pelos

alunos, fruto dos manuais escolares, e, consequentemente, do currículo e das decisões

políticas do que é considerado importante na História curricular. Por outro lado, é

importante porque a apreciação que fazem da História provém de outros factores

socioculturais, como etnia, classe social, história de família, cultura popular e os

media.

Por isso, os autores propuseram-se a analisar os seguintes tópicos:

1. A importância atribuída pelos alunos ao que aprendem sobre História

nas escolas;

2. De que forma os media e a cultura popular afectam a significância que

atribuem à História;

3. Que importância desempenha a História pessoal e da família na

significância histórica.

A amostra deste estudo foi constituída por um grupo de quarenta e quatro

alunos com idades compreendidas ente os treze e os catorze anos, vinte e um alunos

provenientes de uma turma de Inglaterra e vinte e três alunos e uma turma dos E.U.A.,

de forma a poder-se estabelecer algumas comparações e analisar a relação entre

significância histórica e cultura nacional, bem como obter dados sobre o ensino e a

aprendizagem da História nos dois países.

Esta amostra foi confrontada com uma lista de quarenta e sete factos históricos

do século XX. Na selecção desses quarenta e sete factos a serem apresentados aos

alunos, os autores tiveram em consideração os temas presentes nos manuais escolares

da História inglesa e americana bem como factos recentes, supostamente importantes

para os alunos, apesar de não serem contemplados nos manuais desses países. Assim,

os alunos teriam que eleger os dez que consideravam mais significativos em termos de

História, justificando as suas opções. Foi ainda pedido aos alunos que, dos dez factos

escolhidos, indicassem o que consideravam mais importante e porquê.

Após a análise de dados, os autores entrevistaram sete alunos de cada turma

seleccionados ao acaso, de forma a possibilitar a compreensão de uma diversidade de

50

ideias sobre significância histórica. Assim, foram entrevistados alunos que indicaram

factos não incluídos na lista, alunos que tiveram dificuldade na selecção dos factos,

alunos cujos factos seleccionados são representativos das escolhas de outros

participantes no estudo, e alunos que seleccionaram factos que os colegas não

consideraram importantes.

O estudo revelou que muitos dos alunos modelaram e justificaram as suas

escolhas de acordo com a importância que individualmente atribuíram aos factos, pelo

que aprenderam na escola e através das relações que estabeleceram entre o passado e

presente, segundo a visão da história nacional. Como tal, uma das formas como os

alunos compreendem a História é atribuindo significância a factos históricos.

Os autores constataram também que os alunos americanos afirmaram ter

aprendido mais sobre a História do século XX na escola do que fora dela, afirmando

que a família, a televisão e a Internet também constituíam fontes de informação para o

seu conhecimento sobre História. No entanto, os alunos ingleses afirmaram que

aprenderam mais sobre a História do século XX fora da escola, em programas de

televisão, na Internet, em conversas com familiares e em livros de História.

No que diz respeito à selecção dos factos, a maioria dos alunos ingleses

considerou a morte da Princesa Diana o facto de maior significância, seguido das I e II

Guerras Mundiais. Em terceiro lugar escolheram as inovações técnicas, científicas e

médicas. Segundo os autores, a escolha do primeiro facto deveu-se à intensiva

cobertura e exploração por parte dos media que apresentaram este acontecimento com

muito dramatismo; a escolha de factos relacionados com as inovações técnicas,

científicas e médicas foram justificadas em termos históricos como factores de

melhoria da qualidade de vida do presente em relação ao passado.

Uma grande parte dos alunos ingleses também seleccionou factos que não

foram contemplados na lista, por considerarem importantes para si ou para a sua

família como, por exemplo, o dia do seu nascimento, o casamento dos pais e a morte

de um familiar ou de um animal de estimação. Isto porque acreditam que tais

acontecimentos fazem parte da História e a “sua” História e a das suas famílias têm

mais significância do que qualquer outra História. A ênfase dada às histórias pessoais é

uma forma que os alunos têm de compreender o seu lugar e o seu papel na História.

Para além disso, a maioria dos alunos ingleses também seleccionou mais factos

relacionados com a História da Inglaterra e do Reino Unido do que da Europa ou do

Mundo. Segundo os autores, este resultado deve-se sobretudo ao facto de o currículo

51

nacional de História em Inglaterra privilegiar a História do Reino Unido, tendo a

grande maioria dos alunos participantes nascido e frequentado as escolas inglesas. Os

autores realçam que nenhum aluno seleccionou na sua lista dos 10 factos mais

significativos do século XX a formação da União Europeia, o que não deixa de ser

motivo de reflexão.

Quanto às opções dos alunos americanos, a II Guerra Mundial foi o facto mais

significativo da histórica do século XX, seguido da Grande Depressão e da I Guerra

Mundial, considerando depois as inovações técnicas, científicas e médicas. Segundo os

autores, é de salientar estes alunos estudam a História do século XX, no nível oito. Por

sua vez, uma minoria de alunos seleccionou factos internacionais que não envolviam o

seu país e nenhum indicou factos relacionados com as suas Histórias de vida ou com as

da sua família. As suas opções foram justificadas quase sempre por estes

acontecimentos terem permitido o desenvolvimento do seu país e afectado um grande

número de pessoas em todo Mundo. Quando falam sobre factos passados da História

do seu país usam os pronomes “nós” e “nosso”, o que pode indicar uma visão de

história centrada na História dos E.U.A..

Quando comparadas as respostas dos alunos ingleses e americanos, constata-se

que os alunos dos dois países consideram a História importante porque a compreensão

do passado permite retirar lições de moral para o presente; consideram um facto

significativo se este afectou muitas pessoas, se provocou a morte de muitas pessoas;

estabelecem relações entre o passado e o presente quando por exemplo reflectem sobre

os progressos para a humanidade no presente, como consequência desse facto; tendem

a centrar-se na História nacional e no papel do seu país na História mundial,

considerando os seus países como modelos para o mundo; e quando indicam um facto

que não constava lista com os quarenta e sete factos da História do século XX

seleccionados pelos autores, fazem-no porque esse facto reflecte a História pessoal,

familiar ou próximo do meio em que se inserem.

Em conclusão, segundo os autores, os professores de História devem trabalhar

com os alunos a questão da significância de factos passados para a História, de forma a

ajudá-los a compreenderem como certos factos são considerados importantes e são

considerados significativos para os historiadores.

52

- Espanha

Cercadillo (2000) realizou um estudo de carácter descritivo, essencialmente

qualitativo e comparativo, no qual foi estudada a progressão das ideias de estudantes

ingleses e espanhóis, no que respeita à sua compreensão do conceito de Significância

Histórica e até que ponto se apercebiam e compreendiam que a narrativa histórica é o

resultado da convergência de diferentes atribuições e significados. Este tipo de

investigação pertence a uma tradição, de origem britânica, de estudos qualitativos

desenvolvidos em torno da compreensão de conceitos estruturais na história da

educação. Neste estudo, também, foi feita uma análise quantitativa, em alguns casos

específicos, como a comparação de níveis de progressão por grau e país, uma vez

delineados os padrões de progressão na análise qualitativa.

A investigadora optou por uma metodologia de análise comparativa entre

alunos espanhóis e ingleses. Os níveis etários estudados foram faseados em grupos de

alunos de 12-13 anos, 14-15 anos e 16-17 anos, numa amostra constituída por 144

alunos. Na base deste estudo de tipo comparativo, está o facto de apesar das diferenças

ao nível do currículo entre os dois países, as premissas sobre os quais assentam eram

similares, justificando-se assim, a existência de estudos desta natureza (Cercadillo

2000 p.123).

Os objectivos do trabalho concentraram-se na:

i. Exploração da compreensão dos alunos (ingleses e espanhóis) sobre

Significância, as suas atribuições e as suas intercepções com as narrativas

históricas;

ii. Categorização e cartografia da compreensão deste conceito de forma a

delinear padrões de progressão no ensino da História nos dois países (ibid.,

p.117).

As tarefas estavam ligadas por dois tópicos diferentes:

i. A derrota da Armada Espanhola em 1588. Esta temática tinha como objectivo

comparar as ideais de alunos ingleses e espanhóis num assunto que lhes era

familiar e que é ensinado nas escolas dos dois países, mas cuja significância

era diferente para ambos;

53

ii. As campanhas de Alexandre o Grande. Este tema foi seleccionado pela

neutralidade e implicou duas questões principais: não implicar um

envolvimento directo dos alunos de qualquer das nacionalidades e não ser um

tema abordado na escolaridade obrigatória dos dois países, (ibid., p. 124).

Lis Cercadillo define cinco diferentes tipos de Significância (ibid., pp. 125-

128), sendo esta tipologia um eixo definidor dos principais atributos considerados no

modelo de níveis de progressão:

Contemporâneo – O acontecimento é visto como importante para as pessoas

daquele tempo no contexto das suas percepções, convicções e visão do mundo. Nas

respostas dos alunos tudo é visto como incluso;

Causal – Situa um acontecimento ou processo em relação ao seu poder causal.

A partir daí, a Significância é em parte dependente dos últimos acontecimentos ou

consequências;

Padrão – Indica um nível elevado de sofisticação nas respostas dos alunos. Está

sempre aliada ao contexto, refere-se usualmente a modelos concretos (...) tais como

progresso e declínio;

Simbólica – Pode operar a partir da perspectiva das pessoas do passado. Ao

contrário do último tipo, a significância simbólica encontra-se ligada a noções de

exemplo moral (lições da História) e o passado mítico. Implica um uso particular da

História ligada a questões da identidade nacional (...), mas pode também estar ligada a

conceitos gerais não-históricos como piedade ou ideias morais transcendentais;

Presente/Futuro - Está ligada à importância do peso causal, só opera no tempo longo,

quando a fronteira com o futuro é enfatizada.

Considerando esta tipologia, a autora coloca as seguintes questões de

investigação:

i. Os alunos vêm a significância em História como sendo fixa ou variável?

ii. No caso de verem a significância como variável, em que medida estão atentos

às diferentes possíveis atribuições que funcionam numa narrativa histórica?

iii. Consideram que a lógica da narrativa obedece a diferentes teorias de peso

causal e diferente ênfase num tipo particular de Significância? (ibid., pp.131-

132).

54

Na sequência desta investigação a autora espanhola apresenta uma proposta de

níveis de progressão com uma enorme complexidade, reflectindo a dificuldade que a

Significância coloca à investigação:

Sem qualquer alusão a qualquer tipo de Significância - Neste nível, a

significância é vista como fixa, ligada ao próprio acontecimento; aparece uma visão

moral a-histórica. Pode envolver problemas de compreensão geral. Podem surgir

exemplos desligados da temática que se está a tratar. Não há menção a qualquer tipo

de significância e as explicações são geralmente feitas com termos do quotidiano, sem

referência a histórias concretas ou ao contexto histórico geral.

Significância intrínseca e simples - Este nível encerra a significância enquanto

fixa, em termos intrínsecos, medida sempre pelo tipo contemporâneo. Neste nível é

central a capacidade dos alunos para verem a noção de significância exclusivamente

em termos contemporâneos.

Significância fixa e contextual - A significância é fixa em e entre atribuições

(só causal e contemporânea) - Para a maioria dos alunos, a significância é reduzida à

atribuição de importância, ou seja as questões de significância de um acontecimento

em História é maioritariamente explicada pelas consequências em termos gerais.

Significância fixa e contextual - Este nível enquadra as respostas que

distinguem diferentes tipos de significância, mas não fazem referência ao possível

conflito entre narrativas na consideração dos tipos, ou na variação interna dos tipos.

Significância contextual variável - As respostas para este nível caracterizam-se

pela discriminação de vários estratos de significância com e através das narrativas,

pela referência a diferentes atribuições da significância e da alusão a um conflito

entre narrativas, e que o conflito seja percebido como factual ou criterial. (ibid., p.

139)

A autora chama a atenção para o facto da Significância ser definida por

referência às fontes, ou tipos de fontes, que estabelecem a relação entre acontecimentos

e processos na narrativa. Refere, ainda, que a Significância de qualquer acontecimento

pode mudar consoante os historiadores seleccionam diferentes pontos de vista que

provêm de diferentes fontes.

55

Os alunos ingleses e espanhóis apontaram maioritariamente concepções de

Significância que se enquadram no tipo contemporâneo e causal. Efectivamente, a

noção de Significância interfere na aprendizagem dos alunos em História, conclui a

autora.

- Portugal

Em Portugal esta ideia de segunda-ordem conta com a contribuição de estudos de

vários investigadores no âmbito da dissertação de Mestrado em Supervisão do Ensino

da História, apresentada ao Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do

Minho.

Castro (2002) desenvolveu um estudo, partindo de uma primeira abordagem do

problema através da construção e aplicação de um estudo exploratório, onde foi

utilizado o inquérito por questionário, com vinte e um alunos do 9º ano da Escola

Básica do 2º e 3º Ciclo do concelho de Matosinhos do norte do país. Este estudo teve

como objectivo dar início a um trabalho que terá continuidade, com a elaboração de

outros instrumentos de recolha de dados. O trabalho realizado pretende dar exemplo de

como é possível partir da sala de aula e das ideias dos alunos e das suas concepções,

para uma reflexão mais objectiva sobre uma das dimensões da significância histórica,

descobrir o que os alunos preferem e o que consideram importante a nível pessoal ou

social.

Foi utilizado um questionário, tendo em consideração diferentes áreas, que interligados

entre si, poderiam fornecer dados sobre as várias dimensões de significância histórica

no pensamento dos alunos. Sendo assim, o primeiro núcleo explorava as ideias dos

alunos sobre a importância da História; o segundo centrou-se em questões sobre as

temáticas que despertava mais interesse por parte dos alunos ao longo do seu percurso

escolar do 7º ao 9º ano. Um terceiro núcleo procurou detectar que temáticas gostariam

de ver tratadas na disciplina de História, bem como as razões. Um último núcleo

focalizou-se nas fontes de informação sobre o passado, às quais os alunos têm acesso

para além da escola.

A análise de dados teve como objectivo principal encontrar padrões de ideias entre os

alunos inquiridos.

56

Apesar da provisoriedade dos dados, ela não impede de tirar algumas ilações e deixar

algumas sugestões:

- Os alunos inquiridos tendem a considerar a História com uma disciplina importante,

numa escala gradativa de “Muito Importante, Importante e Pouco Importante” apesar,

de nas respostas sobre preferências, esta ser pouco expressiva;

- Nas respostas onde a História aparece como sendo importante, surgiram alguns

padrões de ideias; o primeiro relacionado com aquilo que entendem ser o

conhecimento sobre o passado; o segundo com o conhecimento do mundo sem

qualquer referência à temporalidade;

- As ideias que os alunos atribuem à importância da História revelam pouco sobre a

dimensão formativa do conhecimento histórico;

- Perante os dados deste estudo, constatou-se que não se conhece com clareza o

pensamento dos alunos sobre significância histórica, bem como os conceitos que eles

têm sobre o conhecimento histórico.

A investigadora salientar a necessidade de levantamento e análise das ideias dos alunos

para o trabalho do professor de História na sala de aula. Isto porque tal preocupação

pode permitir ao professor, e não só, ter uma ideia mais clara das ideias dos seus

alunos e, a partir destas, proporcionar experiências de aprendizagens mais

significativas.

A investigadora salienta ainda, que é necessário que os alunos não só aprendam que

certos acontecimentos ou processos são importantes, mas sobretudo que compreendam

como é que as noções como importância ou significância funcionam na disciplina de

História. A disciplina de História deve contribuir para a formação de um aluno

globalmente competente, através de confronto das suas concepções com as dos outros,

e só assim poderá dar-se um sentido para a educação histórica.

Monsanto (2004) realizou um estudo, de tipo descritivo e essencialmente qualitativo,

cujos objectivos foram explorar as concepções de alunos acerca de um conceito de

segunda ordem – a significância histórica – no contexto da História de Portugal;

57

verificar se a idade, o sexo, o desenvolvimento cognitivo e as vivências extra-escolares

interferiam ou não na compreensão que fazem da significância histórica; e ainda

compreender até que ponto os temas da História de Portugal, já contemplados no

Programa da disciplina de História podem ser mais aprofundadas pelos professores da

disciplina e contemplados em maior número. Para o comprimento desses objectivos

partiu das seguintes questões de investigações:

1- Como abordam os alunos a questão de significância histórica no contexto de

História de Portugal?

2- Existem diferenças na forma como os alunos do 3º Ciclo do Ensino Básico e os do

Secundário abordam a questão de significância histórica no contexto de História de

Portugal?

3- Os alunos quando abordam a questão de significância histórica são condicionados

pela idade, pelo sexo, pelo desenvolvimento cognitivo e pelas vivências extra-

escolares?

O estudo foi realizado com a participação voluntária de 45 adolescentes de anos finais

do 3º Ciclo do Ensino Básico (9º ano) e do Ensino Secundário (12º ano), com idades

compreendidas entre os 14 e os 19 anos, de duas escolas públicas de Santo Tirso, do

Norte de Portugal.

A investigadora utilizou dois procedimentos para a recolha de dados: uma tarefa

de papel e lápis e uma entrevista não estruturada. A tarefa de papel e lápis foi adaptada

de Seixas (1997). Este instrumento tinha por objectivo recolher informação sobre a

forma como os alunos abordam a questão da Significância Histórica de factos da

História de Portugal. A tarefa realizou-se em duas partes: A criação de uma lista com

os factos da História de Portugal que os alunos consideravam ser os mais

significativos, ordenados em função da importância atribuída pelo aluno e a

confrontação com uma lista com 21 factos da História de Portugal ordenados

cronologicamente na qual os alunos deveriam assinalar os factos de que já ouviram

falar e de seguida a resposta a sete questões relacionadas com os factos que haviam

assinalado.

O primeiro instrumento de recolha de dados foi validado através da realização de

um estudo exploratório que permitiu uma melhor adequação deste instrumento

assegurando-lhe uma maior fiabilidade.

Relativamente a este instrumento as questões foram seleccionadas seguindo, de

modo muito próximo, os estudos realizados por Seixas (1997) no Canadá, Barton

58

(1999) na Irlanda do Norte, Hunt (2000) em Inglaterra e Levstik (2000) nos EUA. As

questões estavam adaptadas à compreensão dos alunos e permitiam dar resposta às

questões de investigação propostas.

O segundo instrumento de recolha de dados – a entrevista não estruturada – foi

aplicada com o objectivo de clarificar e aprofundar as tarefas realizadas pelos alunos.

Foram entrevistados 31% dos alunos envolvidos no estudo (sete de cada turma).

A análise qualitativa dos dados empíricos permitiu verificar que as concepções dos

alunos acerca da significância histórica se enquadram em cinco posturas, de acordo

com o modelo apresentado por Seixas (1997), que propõe cinco posturas: Objectivista

Básica, Subjectivista Básica; Objectivista Sofisticada; Subjectivista Sofisticada;

Narrativista. A compreensão da significância histórica pelos alunos que participaram

neste estudo distribui-se pelas cinco posturas acima referidas. As posturas

subjectivistas foram identificáveis através do predomínio da expressão de interesses

pessoais. As posturas objectivistas foram identificáveis, quando essa expressão de

interesses pessoais desaparecia nas avaliações que os alunos faziam da significância de

episódios da História de Portugal. A postura Narrativista foi perceptível quando os

alunos construíam a significância histórica a partir da conexão de vários factos

particulares, entendidos como fazendo parte de uma narrativa histórica integrada, e a

conexão que estabeleciam entre conceitos e interesses subjectivos e tendências e

desenvolvimento histórico, numa breve especulação do futuro do país. A análise

quantitativa dos dados permitiu observar que as posturas encontradas por idade, sexo,

desenvolvimento cognitivo, a escola e as vivências extra-escolares permitirá observar

que poderá haver interpretações das variáveis acima referidas na compreensão que

fazem da significância histórica e que os alunos convocam as noções de

progresso/desenvolvimento, declínio, contemporaneidade e causalidade quando

avaliam a significância dos factos históricos.

A análise dos dados recolhidos permite responder claramente à 1.ª e à 2.ª questões

colocadas pela investigadora:

1 – Como abordam os alunos a questão da Significância Histórica no contexto

da História de Portugal?

- Os alunos quando abordam a questão da Significância Histórica são

influenciados pela Escola e pelas suas vivências extra-escolares,

59

convocam noções de progresso/ desenvolvimento, declínio,

contemporaneidade e causalidade, e o seu pensamento agrupa-se nas

cinco posições de Seixas (1997);

- Na atribuição de maior significância a um facto, a maioria dos

alunos envolvido neste estudo, convocou as noções de

progresso/desenvolvimento e de contemporaneidade, o que sugere que os

factos seleccionados são importantes porque têm relação com o presente e

com realidades do mundo actual;

- Na atribuição de pouca significância a um facto, a maioria dos

alunos convoca a noção de declínio, porque para eles um facto tem pouca

significância histórica se implicou ou ainda implica o declínio do país;

- Os alunos estabeleceram relações entre o passado e o presente

quando abordam a questão de significância histórica de factos passados,

pois estabelecem ligações com a actualidade, para compreenderam quais

as repercussões desses factos no presente. (Monsanto, 2004, pp.174)

2 – Existem diferenças na forma como os alunos do 3.º ciclo do Ensino Básico e

os do Secundário abordam a questão da Significância Histórica no contexto da História

de Portugal?

Monsanto concluiu que existem diferenças na forma como os alunos abordam a

questão de significância histórica, agrupando a compreensão da significância em dois

tipos de orientações e variações: uma subjectiva, menos sofisticada, e uma objectiva,

mais sofisticada.

- Existem diferenças relevantes na forma como os alunos abordam a

questão da Significância Histórica, já que foram os alunos do Ensino

Secundário que seguiram as posições mais sofisticadas na abordagem

dessa questão e que mais convocam e dominam a noção de causalidade.

- A maioria dos alunos do 9º ano seguem a posição subjectivista

básica, enquanto que a maioria dos alunos do 12º ano, seguem a posição

objectivista sofisticada, e somente dois alunos dessa turma, seguem a

posição objectivista mais avançada, a Narrativista.

Relativamente à terceira questão:

60

3 – Os alunos quando abordam a questão da Significância Histórica são

condicionados pela idade, pelo sexo, pelo seu desenvolvimento cognitivo e pelas suas

vivências extra-escolares?

- A idade, o sexo, o desenvolvimento cognitivo e as vivências extra-

escolares dos alunos interferem e condicionam a compreensão que fazem

da Significância Histórica; (Monsanto, 2004, pp.178)

- Os alunos do 12º ano foram quem mais vezes convocaram e melhor

dominou a noção de causalidade, o que também pode ser um indicador de

que a idade e o desenvolvimento cognitivo dos alunos interferem no

domínio desta noção; (Monsanto, 2004, pp.179)

- No que refere ao sexo dos alunos, este também parece ter interferido

na compreensão que fazem da significância dos factos históricos, pois nas

duas turmas foram as raparigas que seguem posturas mais sofisticadas.

Chaves (2006) fez um estudo que contribuiu para uma maior clarificação do

conceito de Significância Histórica acerca de personagens históricas relevantes em

Portugal e no Brasil. Esta pesquisa tinha o objectivo de explorar as concepções dos

alunos, no final da escolaridade obrigatória, acerca de personagens que, de acordo com

as suas perspectivas, adquiriram significância na História pela positiva ou pela

negativa. Para isso, a investigadora formulou as seguintes questões de investigação:

1. Que personagens consideram os alunos como sendo significativas na

História, pela positiva e pela negativa, em dois momentos distintos do mesmo

ano lectivo?

2. Que razões e valores implícitos manifestam os alunos para as suas escolhas

em dois momentos distintos do mesmo ano lectivo?

3. Que fontes de informação percepcionam os alunos para as suas escolhas,

em dois momentos distintos do mesmo ano lectivo?

4. Que convergências e especificidades emergem das ideias dos alunos

portugueses e brasileiros quanto a personagens relevantes na História, valores

subjacentes e fontes de informação?

61

A investigadora realizou um estudo de natureza descritiva, com uma abordagem

qualitativa e quantitativa, inspirada na Grounded Theory e de tendência longitudinal

com vista a observar as concepções dos alunos em dois momentos diferentes do

mesmo ano lectivo, no início e no final do ano lectivo. A amostra era constituída por 4

turmas, 98 alunos com idades compreendidas entre os 13 e os 15 anos, pertencente à

população escolar correspondente ao 9. °ano, em Portugal, e à 8.ª série (Final do

Ensino Fundamental) no Brasil. As turmas seleccionadas integravam-se em escolas de

zonas geográficas equivalentes nos dois países, região Norte e Sul.

A investigadora privilegiou a observação indirecta recorrendo ao questionário

como instrumento de recolha de dados. O questionário, afinado num estudo

exploratório era composto por cinco questões abertas, três de resposta directa e duas de

resposta de desenvolvimento.

Após a recolha de dados, Chaves procedeu à sua análise constatando que os

alunos portugueses consideraram como personagens mais significativas pela positiva:

no primeiro momento, Afonso Henriques, Inês de Castro, Hitler, Lavoiser, Vasco da

Gama e Henry Ford. As personagens que mais se destacaram pela “antipatia” foram:

Hitler, Mussolini, Salazar, Estaline, Napoleão Bonaparte e Camões, destacando-se os

ditadores como as personagens mais negativas da História, dado os malefícios que

provocaram.

No segundo momento da recolha de dados, os alunos portugueses destacaram

pela positiva: Vasco da Gama, Afonso Henriques, Inês de Castro, Joana D’Arc, Hitler

e Marilyn Monroe. As personagens que mais se destacaram pela negativa foram:

Hitler, Salazar, Mussolini, Estaline, Lenine e Napoleão. Segundo a investigadora, a

alteração das respostas dos alunos entre os dois momentos de recolha de dados poderá

estar relacionado com a leccionação dos conteúdos programáticos da disciplina de

História do 9.º ano, que versa assuntos relativos à História Mundial do Século XX,

assim como à relevância atribuída pela negativa a personagens históricas por diferentes

fontes de informação.

Os alunos portugueses consideraram como fontes de informação mais

relevantes ao nível de construção do seu conhecimento histórico as aulas de História,

os media, livros e conversas com amigos e familiares.

No âmbito de exploração das ideias dos alunos brasileiros, acerca das

personagens mais significativas de História, quer pela positiva quer pela negativa, a

investigadora também procedeu à recolha de dados nesses dois momentos diferentes.

62

Assim, no primeiro momento, os alunos inquiridos do Norte do Brasil consideraram

que as personagens que mais se salientaram pela positiva foram: Jesus Cristo, Joana

D’Arc e o Padre Cícero – personagens relacionadas com a religião; no Sul os alunos

destacaram, pela positiva, personagens políticas que se distinguiram pela prática de

acções de assistência social como é o caso da Princesa Isabel, bem como à descoberta e

independência do Brasil, associadas respectivamente a Pedro Álvares Cabral e a D.

Pedro I. As personagens da História que se destacaram pela negativa foram: Hitler,

Mussolini, Nicolau II, Bin Laden, Bush, Getúlio Vargas além de outras personagens

que obtiveram frequência diminuta. É de salientar que, tanto os alunos do Norte como

os do Sul do Brasil, apontaram os ditadores como as personagens mais relevantes pela

negativa.

No segundo momento da recolha de dados, os alunos inquiridos no conjunto

das escolas brasileiras destacaram pela positiva: Jesus Cristo, Joana D’Arc, Getúlio

Vargas, Einstein, Princesa Isabel e Pedro I. Os alunos do Norte do Brasil continuaram

a apontar Jesus Cristo como a personagem histórica mais relevante pela positiva. Já no

Sul, esta personagem não consta na escolha dos alunos. As personagens que mais

“antipatia” lhes provocaram foram as seguintes: Hitler, Mussolini, Bush, Getúlio

Vargas, Fernando H. Cardoso e Bin Laden. Constata-se, através da comparação dos

dados recolhidos em momentos diferentes, que os alunos brasileiros destacam pela

negativa sobretudo Hitler e Mussolini – ditadores.

Os alunos brasileiros apontaram como fontes de informação mais relevantes

para a construção do seu conhecimento histórico as aulas de história/escola, os livros e

os media. Os alunos do Norte do Brasil também consideram a Igreja e a Bíblia como

fontes de informação.

Assim, Chaves (2006) em resposta à primeira questão de investigação, sobre

que personagens consideravam os alunos como sendo significativas na História, pela

positiva e pela negativa, em dois momentos distintos do mesmo ano lectivo, constatou

que, tanto os alunos portugueses como os brasileiros, atribuem relevância pela positiva

a heróis e heroínas nacionais, embora outras personagens sejam destacadas,

provavelmente também por influências extra-escolares.

No que concerne aos “maus” da História, constatou-se que havia uma certa

convergência na escolha dos alunos em torno de personagens “mundiais” como Hitler

e Mussolini, responsáveis pela implantação de regimes ditatoriais e repressivos.

63

No entanto, a investigadora verificou haver alguma especificidade ao nível de

escolha dos personagens estrangeiros pela negativa, entre os alunos portugueses e

brasileiros. Os alunos portugueses referem mais personagens como Estaline, Napoleão

e Lenine; os alunos brasileiros evocam personagens como Bush, Nicolau II e Bin

Laden. Esta especificidade, segundo a investigadora, poderá estar relacionada com

experiências diferentes nos conteúdos educativos, assim como nas respectivas

vivências extra-escolares.

Relativamente à segunda questão de investigação, sobre que razões e valores

implícitos manifestam os alunos para as suas escolhas em dois momentos distintos do

mesmo ano lectivo, os alunos portugueses destacaram pela positiva valores como, por

exemplo, heroísmo, progresso tecnológico e científico, assistência/luta por justiça

social e cultura. Do mesmo modo, os alunos brasileiros salientaram como valores

positivos o heroísmo e, com uma ordem de frequência diferente da dos alunos

portugueses e com diferentes «nuances», a assistência/luta por justiça social, cultura,

progresso tecnológico e científico e religião. É de salientar que os valores positivos

ligados ao Cristianismo foram evocados sobretudo pelos alunos do Norte do Brasil.

Quanto aos valores considerados relevantes pela negativa, a investigação aponta para

uma certa convergência nas escolhas efectuadas por alunos portugueses e brasileiros,

como também alguma permanência, tanto nas imagens consideradas negativas como

nos valores que lhes estão subjacentes, nos dois momentos de recolha de dados.

No que se refere à terceira questão, análise da origem da informação, observou-

se uma convergência entre alunos portugueses e brasileiros relativamente à relevância

atribuída às aulas de História e à Escola como fontes de informação e que, segundo

eles, são mais relevantes para a construção do seu conhecimento histórico.

Relativamente a outras fontes de informação existem acentuadas especificidades. Os

alunos portugueses referiam por ordem decrescente de frequência: os media, as aulas

de outras disciplinas e os livros como fontes relevantes para a construção do seu

conhecimento histórico. Os alunos brasileiros evocaram, por ordem decrescente de

frequência: os livros, os media, manuais de História, outras disciplinas e conversas

com familiares e amigos, como fontes de informação importantes para a atribuição dos

diferentes significados à História.

Ressalte-se que a Internet como fonte de informação para a História é referida

apenas por portugueses, embora com reduzida frequência. Os alunos brasileiros, do

64

Norte, evocam sobretudo a Igreja e a Bíblia como a origem de informação para a

atribuição dos diferentes sentidos a personagens da História.

No que diz respeito à quarta questão de investigação, sobre que convergências e

especificidades emergem das ideias dos alunos portugueses e brasileiros quanto a

personagens relevantes na História, valores subjacentes e fontes de informação,

constatou-se que os alunos portugueses parecem dar sentido a personagens

consideradas negativas para a História da Humanidade e que são estudadas nesse ano

de escolaridade (ditadores europeus como Hitler, Salazar, Mussolini e Estaline). As

personagens, com imagem positiva evocadas, foram estudadas ao longo do seu

percurso escolar – Afonso Henriques, Inês de Castro, Joana D’ Arc e Vasco da Gama.

Os alunos brasileiros referiram pela positiva e pela negativa personagens que

aprenderam na História, nesse ano lectivo. Constata-se que existe um certo consenso

entre os alunos portugueses e brasileiros no que se refere a valores negativos. Os

alunos abominam valores e situações relacionadas com ditaduras/regimes autoritários,

imperialismo, socialismo utópico, guerras mundiais, terror e violência, traição, crise

económica e algumas entidades colectivas.

Nesta subsecção descreveram-se, sumariamente, alguns estudos realizados no

estrangeiro e em Portugal sobre o conceito de segunda ordem, a Significância

Histórica. Todos eles foram importantes para a realização do presente estudo,

contribuindo, de algum modo para a construção de alguns instrumentos bem como

aquando da análise dos dados obtidos.

De acordo com Seixas (1997), as concepções dos alunos acerca da significância

histórica variam devido às diferentes formas de interpretativas, valores e ideias que

estes possuem resultantes de experiência vividas dentro e fora da escola, provenientes

de vários meios de informação. Assim, devemos pressupor que os alunos confrontam-

se, implícita e explicitamente, nas aulas de História, com as suas próprias estruturas de

compreensão histórica, geradas a partir de várias histórias vividas e ouvidas: na

família, em filmes e televisão, nas comemorações colectivas e, naturalmente nas suas

experiências escolares anteriores. De acordo com Chaves (2006), sabe-se que os alunos

não absorvem tudo aquilo que os manuais e os professores dizem que é historicamente

significativo. Pelo contrário, eles seleccionam, lembram e esquecem. Adicionam,

modificam e reconstroem as suas estruturas de compreensão ao longo das suas várias

experiências. E deste processo, formam e comunicam as suas atribuições pessoais de

significância à História.

65

66

CAPÍTULO III – O ESTUDO EMPÍRICO – METODOLOGIA E ANÁLISE DE DADOS

1 - METODOLOGIA

O presente estudo insere-se no contexto actual de investigação em Educação Histórica,

nomeadamente em cognição histórica situada, em que se assume como relevante

compreender as concepções dos alunos, no final do ensino secundário, em Cabo Verde,

em torno da significância histórica.

1.1- Objectivos e Questões de Investigação

O objectivo central deste estudo será compreender as ideias dos alunos em Cabo

Verde, no final do ensino secundário, acerca da significância que atribuem a

personagens da História Contemporânea de Cabo Verde, no caso específico da

Independência. Assim torna-se pertinente o seguinte problema:

Como constroem os alunos a Significância da História Contemporânea de Cabo

Verde?

Para dar resposta a este problema de investigação, foram levantadas as seguintes

questões de investigações:

1. Quais as referências conceptuais dos alunos sobre personagens significativas para

a História Contemporânea de Cabo Verde?

2. Como avaliam os alunos acontecimentos da História como a Independência de

Cabo Verde?

1.2 - Desenho do Estudo

O presente estudo assume um caracter exploratório, no sentido de ser um

primeiro estudo realizado em Cabo Verde, no âmbito da investigação em cognição

67

situada , descritivo, numa abordagem essencialmente qualitativa e com algum

tratamento quantitativo25.

Pretende-se compreender como os alunos envolvidos atribuem significância

histórica à independência de Cabo Verde, através de uma análise das respostas dos

alunos na sua eventual riqueza e diversidade, recorrendo a procedimentos sistemáticos

e objectivos de descrição dos conteúdos das mensagens. Pretende-se inferir como os

alunos abordam a questão da significância histórica, e retirar conclusões

contextualizadas, ou seja, tendo em consideração a realidade escolar em que o estudo

foi realizado. É um estudo também qualitativo porque se pretende inferir como os

alunos participantes justificam as suas escolhas e quais as referências conceptuais que

os alunos têm sobre a História Contemporânea de Cabo Verde.

Relativamente à análise de dados privilegiou a técnica da análise de conteúdo

decorrentes do método da Grounded Theory. Esta metodologia qualitativa proposta por

Glasser e Strauss em 1967: “é um método de investigação qualitativa que utiliza um

conjunto sistemático de procedimentos com o objectivo de desenvolver uma teoria

fundamentada indutivamente sobre um fenómeno” (Castro 2007).

Os principais procedimentos da Grounded theory podem ser assim resumidos:

- Definição do problema e das questões que irão orientar a investigação;

- Construção da amostra que é definida pela análise e que deve ser relevante para o

fenómeno em estudo;

- Procedimentos de codificação que podem ser de três tipos – aberta, axial e selectiva.

Na codificação Aberta opera-se a decomposição, a análise, a comparação, a

conceitualização e a categorização dos dados, ou seja, o processo consiste em fazer

questões, fazer comparações, rotular e etiquetar. Nesta etapa procura-se construir um

conhecimento a partir dos dados colhidos para a seguir, agrupar os conceitos em

categorias. A associação de cada conceito a uma categoria é provisória e um mesmo

conceito pode associar-se a outros conceitos para integrar diferentes categorias. A

seguir, na codificação Axial realiza-se um conjunto de procedimentos através dos

quais os dados já conceptualizados são reorganizados com base no estabelecimento de

ligações entre as categorias. E finalmente, na codificação Selectiva realiza-se a

selecção da categoria central na busca de um estabelecimento sistemático de relações

25 Recorreu-se a uma abordagem quantitativa com vista a explorar a frequência com que os participantes referem as personagens mais significativos para a História de Cabo Verde.

68

entre a categoria central e as demais, bem como a validação destas relações.

(Grudzinski, 2007, pp. 83)

1.3- População e Amostra

A população –alvo é constituída pelos alunos do 12º Ano de escolaridade de

Cabo Verde.

A amostra é constituída por duas turmas, do 12º Ano de escolaridade, num total

de 60 alunos do Liceu Cónego Jacinto da Costa.

Com vista a uma melhor compreensão do contexto sócio- económico e cultural

da amosta selecionada entendeu-se útil apresentar uma breve caracterização da cidade

da Praia como complemento introdutório à caracterização da referida amostra.

1.3.1- Breve caracterização da Cidade da Praia

O Município da Praia é um concelho/município de Cabo Verde, situado a sul da Ilha de

Santiago. É o concelho onde fica situado a capital de Cabo Verde, a cidade da Praia. É

constituído por apenas uma freguesia: Nossa Senhora da Graça. Mais de 90% da

população reside na cidade da Praia, sendo o resto constituído por pequenas

localidades pouco povoadas.

Quadro 8 – População da cidade da Praia

Ano População

1990 (23 de Junho, Censo) 61.644

2000 (16 de Junho, Censo) 94.757

2003 101.000

2005 (1 de Janeiro) 113.364

Fonte: Instituto Nacional de Estatística

A vila da Praia de Santa Maria surgiu em 1615, quando se deu o início do povoamento

de um planalto situado perto de uma praia (praia de Santa Maria) que oferecia boas

69

condições para navios. Inicialmente utilizada como porto clandestino (para que não se

pagassem as taxas aduaneiras na então capital, Ribeira Grande) a localidade foi

progressivamente adquirindo características de uma vila com a gradual fuga das

populações da Ribeira Grande, aquando do declínio desta última. A passagem oficial

da capital de Ribeira Grande para Praia de Santa Maria deu-se em 1770.

Ilhéu de S.ta Maria visto do miradouro Diogo Gomes (um dos descobridores de Cabo Verde)

Geograficamente, Praia pode ser descrita como um conjunto de planaltos e os

respectivos vales circundantes. Esses planaltos têm geralmente a designação de

achadas (Achada de Santo António, Achada de São Filipe, Achada Eugénio Lima,

Achada Grande, Achadinha, etc.), mas o planalto que constitui o centro da cidade é

designado coloquialmente de Plateau. A ocupação urbana é feita sobretudo sobre esses

planaltos e ao longo dos vales (ribeiras). Há que contar ainda com o Ilhéu de Santa

Maria, à frente da praia com o mesmo nome, hoje em dia mais conhecida por

Gambôa.

Durante muito tempo, só o Plateau é que era considerado como sendo a cidade, sendo

os outros bairros relegados à condição de subúrbios periféricos, apesar de sempre ter

havido uma relação estreita entre o Plateau e os outros bairros (movimentos humanos,

trocas de bens e serviços, etc.). É por esse motivo que praticamente só o Plateau é que

usufruiu de uma urbanização adequada com infra-estruturas próprias. Os restantes

bairros desenvolveram-se organicamente, de um modo um pouco caótico.

70

Gamboa vista do Plateau

A nível económico a Praia vive do sector secundário mas sobretudo do sector terciário.

Existem algumas indústrias, localizadas na costa (indústria pesqueira) ou bairros

periféricos (indústrias transformadoras de produtos agrícolas, indústrias de material de

construção civil, etc.)

Mas as principais actividades económicas da Praia pertencem ao sector terciário. Para

além de actividades ligadas à administração e governação (autárquica e nacional),

existe extenso comércio, serviços (saúde, educação, turismo, restauração e hotelaria,

função pública, etc.) e outras actividades de carácter liberal.

A nível de transportes, Praia possui uma rede de transportes públicos urbanos, um

porto e um aeroporto. O porto da Praia é a principal porta de saída de produtos de toda

a ilha, e a principal porta de entrada de produtos de grande porte. O aeroporto,

recentemente ampliado para voos de longo curso, assegura ligações domésticas e

internacionais.

Aeroporto Internacional da Praia Porto da Praia

71

Palácio do Governo Paços do Concelho (Câmara Municipal)

Em termos culturais, a cidade da Praia contrasta nitidamente com o resto da ilha de

Santiago. Por ter sido a primeira a ser habitada, mantém características conservadoras e

tradicionalistas, a Praia, por ser cidade-capital, possui características mais

cosmopolitas. Na cultura, Praia absorve facilmente influências das outras ilhas, devido

à migração interna inter-ilhas, mas também influências do estrangeiro devido à

concentração de população de origem estrangeira e devido a facilidades de

comunicação com o exterior. Para se encontrar elementos culturais «autênticos» de

Santiago, é mais fácil quanto mais se afasta da Praia.

Exactamente por ser cidade-capital, por ter facilidades de comunicação com o exterior

e maior concentração e diversidade de pessoas, Praia é um dos sítios mais privilegiados

de Cabo Verde para solicitações de carácter cultural. Ocorrem ocasionalmente

actividades culturais como lançamentos de obras, exposições, espectáculos, tendo para

isso infra-estruturas de apoio à cultura, como por exemplo, várias salas de

espectáculos, o chamado Palácio da Cultura, o Museu Etnográfico e o Arquivo

Histórico Nacional. Praia conta também com diversas infra-estruturas para diversão

nocturna.

72

Arquivo Histórico Nacional Palácio da Cultura (interior)

A cidade da Praia albergou a primeira escola primária do arquipélago, chamada então

Escola Central (actualmente conhecida por Escola Grande). Durante muito tempo foi

a única escola primária a existir na cidade da Praia. Só a partir da década de 60 é que

começaram a ser erigidas outras instalações para ensino primário, noutros bairros à

volta do Plateau e noutras localidades da ilha.

Praia também foi o primeiro sítio em Cabo Verde onde se instituiu o ensino

secundário, com a criação do Liceu Nacional em 1861. No entanto, as autoridades

portuguesas não estavam interessadas em implementar o ensino secundário em Cabo

Verde, e o liceu acabou por fechar devido a dificuldades, passando o ensino secundário

ser, posteriormente, tarefa do Seminário de Ribeira Brava, e mais tarde do liceu em

Mindelo. Só em 1960 é que Praia voltaria a ter ensino secundário, primeiro instalado

num edifício à frente da Praça 12 de Setembro, e depois em edifício próprio. Com a

massificação do ensino em Cabo Verde na década de 90, vários edifícios dedicados ao

ensino foram construídos em Cabo Verde, e Praia conta presentemente com 7 Escolas

Secundárias.

Para o ensino superior, existe o Instituto Superior de Educação, integrada na

Universidade Pública de Cabo Verde (em fase de reajustamentos finais) e o

Instituto Piaget.

Liceu Domingos Ramos26

26Foi neste liceu onde realizamos o Estudo Piloto, um dos mais antigos da capital.

73

1.3.3 - Caracterização da amostra

Gráfico 1 - Distribuição Por Sexo

MasculinoFeminino

S10%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Série1

Dos 60 participantes no estudo, a maioria é do sexo feminino – 38 dos 60

inquiridos (37% Masculino; 63% Feminino). Este facto pode ser explicado com o

fenómeno do sucesso escolar que é maior, em percentagem, nos alunos do sexo

feminino e também pelo facto destes inquiridos pertencerem a área de humanística,

uma área onde, tradicionalmente, se encontra mais alunos do sexo feminino.

É de destacar que a faixa etária dos alunos que responderam a este questionário

situa-se entre os 17 e 21 anos. E a soma confere uma média de 18, 5 anos de idade. No

cruzamento das variáveis género/idade pode-se notar que a média de idade é

ligeiramente menor nos alunos do sexo feminino.

Quadro 9 – Média de idade da amostra

Sexo

Média de Idade Media de Idade Geral

Feminino

18,3 18,5

Masculino

18,6 18,5

A média de idade dos alunos do sexo masculino ultrapassa a média geral. Por

outro lado, a média da idade dos alunos do sexo feminino é ligeiramente inferior à

média geral.

74

Os alunos que participaram neste estudo são oriundos dos bairros periféricos da cidade

da Praia. Todas as zonas são consideradas periféricas, porque o centro é o Plateau.

Uma análise das profissões dos pais, encarregados de educação, aponta para uma

maioria de funcionários públicos, como por exemplo polícia, guarda, secretária, etc.

Um outro de profissões abrange os sectores da agricultura e serviços empresas.

Estes dados apontam para uma certa heterogeneidade do contexto económico deste

conjunto de alunos. Uma boa parte das mães são domésticas, facto bastante comum em

Cabo Verde. Sublinhe-se que com frequência os encarregados de educação omitem

alguns dados pessoais por forma a pagarem valores mais baixos de propinas, factor que

pode condicionar os resultados de uma análise desta natureza.

Quadro 10 - Profissão dos Pais Encarregados de Educação da amostra

Profissão dos Pais Encarregados de Educação Mãe Pai

Doméstica 25 0

Sem Informação 7 18

Serviços 13 14

Operários 0 6

Agricultores 0 3

Desempregado 0 1

Cabelereira 1 0

Emigrante 0 1

Comerciantes 1 1

Reformado 0 2

1.4- Os Instrumentos

Para a realização deste estudo foi utilizado o questionário como instrumento de recolha

de dados. Neste sentido, e com o objectivo de explorar a questão da significância

histórica, no contexto da História Contemporânea de Cabo Verde.

A escolha do inquérito por questionário como técnica de recolha de dados teve

com pressupostos, o facto deste tipo de instrumento ser facilitador ao nível da

aplicação permitindo recolher uma quantidade razoável de informação. (Tukman

2000). Pode-se dizer ainda que é flexível na medida em que permite recolher grande

variedade de informação relativamente a valores, atitudes, comportamentos e crenças.

75

Cientes das limitações, mas também das vantagens que a técnica de observação

centrada no questionário implica, o facto destas ter resultado positivamente em

trabalhos de investigação cuja base empírica é reconhecida como adequada aos

problemas que a investigação em cognição situada em História coloca reforçou a noção

relativa às vantagens e, em simultâneo, redobrou a atenção no que toca às limitações de

uma investigação empírica assente neste tipo de técnica de observação. (Castro 2007:

p.149)

Segundo Bell (1993), a aplicação de questionários possibilita ao investigador a

realização de descrições, comparações e até relacionar as respostas obtidas no sentido

de encontrar características comuns entre os respondentes.

Foi elaborado um instrumento, constituído por questões de resposta aberta e

fechada. Algumas questões solicitavam uma resposta directa para o tratamento

estatístico e outras solicitavam uma resposta de desenvolvimento, para uma análise

qualitativa. Este tipo de questionário possibilita, conhecer as preferências dos alunos,

bem como lhes permite um espaço de fundamentação das suas ideias e opiniões e/ou

apresentar justificações sobre determinados aspectos por si apontados.

A primeira parte do questionário é constituída por uma questão fechada, onde

os alunos foram confrontados com um conjunto de imagens para escolherem as

personagens mais significativas para a História de Cabo Verde, devendo ordená-las por

ordem de importância sendo-lhes solicitada uma justificação para a suas escolhas.

Na segunda parte, foi proposta uma tarefa escrita, com base em três textos

seguidos de uma questão aberta sobre a colonização e a descolonização de Cabo

Verde, apoiando-se nos documentos apresentados.

A terceira parte era constituída por uma questão aberta, com uma proposta de

argumentamentação sobre a independência de Cabo Verde.

As questões relacionadas com um progressivo refinamento do instrumento

foram registadas no final do estudo piloto, uma vez que um dos objectivos centrais da

existência dessa fase é procurar, através de uma análise e reflexão sobre os dados,

adequar as questões e tarefas propostas nos instrumentos utilizados, para uma possível

afinamento das falhas que possam ser detectadas.

76

1.5- Procedimentos da recolha de dados

Estudo Piloto

O estudo piloto foi implementado em meados de Dezembro numa turma do 12º

ano, constituída por vinte e nove alunos, com idades compreendidas entre os dezassete

e os vinte anos de idade no Liceu Domingos Ramos na cidade da Praia, em Cabo

Verde.

Para a realização do estudo, a investigadora pediu a colaboração de uma

professora de História, que se disponibilizou para aplicar o estudo, realçando o facto

de ser um contributo muito importante para o ensino e aprendizagem da disciplina de

História em Cabo Verde. E também por se tratar de um estudo inédito em Cabo Verde.

O instrumento foi aplicado numa aula de História, de quarenta e cinco minutos,

acompanhados da professora de disciplina e da investigadora.

No momento da realização do questionário, a investigadora esteve presente,

com o objectivo de explicar aos alunos, o objectivo do questionário, dado que, esta

prática é pouco utilizada em Cabo Verde, os alunos precisam ser motivados para a

realização deste tipo de tarefa.

O objectivo principal deste estudo exploratório consistiu em verificar se o

instrumento estava ou não adequado às questões de investigação nomeadamente no

que respeita à linguagem e aos materiais utlizados.

O questionário (em anexo), é constituído por cinco questões: na primeira

questão, apresentou-se um quadro com várias personalidades, perguntando aos alunos

quais das personagens consideravam mais importantes para a História de Cabo Verde,

justificando as suas escolhas; na segunda questão foi perguntado aos alunos, qual era a

personagem mais significativo para eles, justificando também a escolha; na terceira

questão, foram apresentados três textos, como suporte para responderem às questões,

onde foram pedidos aos alunos que indicassem razões apontadas nos textos A, B e C a

favor do colonialismo e razões a favor da descolonização; na questão cinco, foi

perguntado aos alunos como defenderiam o direito à independência de Cabo Verde.

Após a análise às respostas dos alunos, foram detectadas algumas dificuldades

que se prenderam essencialmente com o nível da linguagem, que em alguns casos não

foi bem interpretada ou bem compreendida pelos alunos. Os textos também

evidenciaram ser muito longos, factor que não facilitou a sua leitura e compreensão.

77

Considerando esta primeira abordagem procedeu-se a uma reformulação das questões,

com o objectivo de serem mais claras e melhor compreendidas pelos alunos. Na

questão um alterou-se a palavra importante para “importantes”. Na questão dois, tirou-

se o ponto de interrogação e colocou-se um ponto final. A questão três foi substituída

por uma outra: - Que relação encontras entre as outras personagens do Quadro I

(aquelas que não escolhestes) e a História de Cabo Verde?

A questão quatro foi dividida em 4.1 e 4.2. A questão 4.1 foi formulada da

seguinte forma - Dos textos A, B e C, quais apresentam razões: A favor do

Colonialismo e A favor da Descolonização?

A questão 4.2 foi formulada da seguinte forma: O que conheces acerca dos

autores dos três textos: Texto A, Texto B e Texto C?

Em relação aos textos foram retirados alguns parágrafos, no sentido de tornar mais

simples a sua leitura e análise.

Aplicou-se este instrumento reformulado a três alunos do Liceu Domingos Ramos de

uma turma do 12º ano, mas diferente da turma do estudo Piloto, com o objectivo de

verificar a adequação das alterações introduzidas no instrumento. Após a análise desse

conjunto de respostas apurou-se da adequação do instrumento que seria palicado no

estudo final.

Os objectivos propostos para o Estudo Piloto centraram-se na construção de um

instrumento válido, perseguido através de uma análise da pertinência e adequação das

fontes apresentadas. Com este objectivo, o Estudo Piloto deu-nos um conjunto de

pistas conducentes à construção de categorias/níveis.

2. ANÁLISE DE DADOS

Este estudo procurou, em função dos dados, obter um quadro de distribuição de

preferências relativas às personagens identificadas pelos alunos como sendo

importantes para a História de Cabo Verde, compreender as razões subjacentes às

escolhas e até que ponto os alunos conseguiram identificar as fontes e interpreta-los.

Sendo assim, primeiro procurou-se conhecer as personagens mais significativas

para a História Contemporânea de Cabo Verde, numa abordagem quantitativa e no

78

âmbito da análise de conteúdo, proceder à categorização das ideias destes alunos no

que concerne à significância atribuída História Contemporânea de Cabo Verde. Nesta

análise de conteúdo, procurou-se inferir os construtos que estão na origem das

respostas e categorizar as razões apontadas pelos alunos a quando das suas escolhas.

Por último, procurou-se fazer uma breve análise das fontes históricas propostas,

numa abordagem qualitativa, codificando-os em dois níveis.

Após a recolha dos dados, a investigadora procedeu à análise das respostas,

passando à codificação de acordo com os seguintes critérios:

1. Identificação dos personagens mais importantes para a História de Cabo

Verde (questão 1)

2. Natureza das razões apresentadas (questão 2)

3. Relações intemporais (questões 3 e 5)

4. Identificação da mensagem e o contexto (questões 4.1 e 4.2)

As categorias criadas no processo de análise de dados emergiram da leitura das

respostas dadas pelos alunos, que se assemelharam às categorias/níveis propostas nos

estudos da Cercadillo 2000 e Castro 2007, embora com algumas adaptações para o

caso dos níveis da Castro 2007.

3.1 - Análise de Dados do Estudo final

A primeira questão: Das personagens que são apresentadas no quadro I,

quais consideras importantes para a História de Cabo Verde?

Na primeira questão, constatamos nas respostas dos alunos que os personagens

que eles consideraram mais importantes para a História de Cabo Verde foram: Amílcar

Cabral, Cesária Évora, Nácia Gomes, Eugénio Tavares e Vera Duarte. Trata-se de

personagens que no entender dos alunos inquiridos marcaram a História de Cabo

Verde e, como tal, adquiriram com mais frequência relevância na atribuição de

Significância na História de Cabo Verde. Outros personagens como Luís Figo e Jorge

W. Bush não obtiveram nenhuma frequência enquanto personagem importante para a

História de Cabo Verde, como se pode constatar pelo quadro que se segue.

79

Quadro 11 – Frequência das personagens importantes para História de Cabo

Verde escolhida pelos alunos

Personagens Rapazes Raparigas Total Amílcar Cabral 22 38 60 Nácia Gomes 17 18 35 Eugénio Tavares 23 25 48 Vera Duarte 11 8 19 Cesária Évora 18 20 38 Nelson Mandela - 2 2 José Eduardo dos Santos - 1 1 Jorge W. Bush - - - Luís Figo - - -

Como se pode verificar que todos os alunos inquiridos apontaram nas suas

escolhas o personagem de Amílcar Cabral, como sendo um dos personagens marcantes

na História Contemporânea de Cabo Verde.

Os personagens que não foram seleccionados segundo os argumentos daqueles

alunos não estão associados directamente ao desenvolvimento de Cabo Verde, como

Luís Figo, considerando ainda nas suas justificações que são personagens com pouco

impacto na transformação da cultura e da identidade de Cabo Verde, ou seja, não

lutaram pela independência e nem contribuíram pela difusão da cultura cabo-verdiana.

Eu penso que ambos são figuras importantes, como Figo e Bush, são importantes,

mas não fazem parte da História de Cabo Verde, visto que não contribuíram de

nenhuma forma para ela e não são cabo-verdianos (…) Artemisa, 17 anos.

Argumentos semelhantes foram utilizados por jovens nos EUA (Barton &

Levstik , 2001).

A análise das justificações apresentadas pelos alunos para a escolha do

Personagem mais importante para a História de Cabo Verde, revela que os alunos na

atribuição de significância histórica às escolhas convocam as noções de causalidade, de

desenvolvimento, progresso, contexto, identidade nacional, heróis da História e de

contemporaneidade, e por vezes na mesma justificação convocam mais do que uma

destas ideias.

Estas ideias apresentadas pelos alunos na justificação às suas escolhas aproximaram-

se das categorias apresentadas no estudo da Lis Cercadillo (2000), realizado com

alunos Ingleses e Espanhóis.

80

♣ Contemporâneo – O acontecimento é visto como importante para as pessoas

daquele tempo no contexto das suas percepções, convicções e visão do mundo. Nas

respostas dos alunos tudo é visto como incluso;

♣ Causal – Situa um acontecimento ou processo em relação ao seu poder

causal. A partir daí, a Significância é em parte dependente dos últimos acontecimentos

ou consequências;

♣ Padrão – Indica um nível elevado de sofisticação nas respostas dos alunos.

Está sempre aliada ao contexto, refere-se usualmente a modelos concretos (...) tais

como progresso e declínio;

♣ Simbólica – Pode operar a partir da perspectiva das pessoas do passado. Ao

contrário do último tipo, a significância simbólica encontra-se ligada a noções de

exemplo moral (lições da História) e o passado mítico. Implica um uso particular da

História ligada a questões da identidade nacional (...), mas pode também estar ligada a

conceitos gerais não-históricos como piedade ou ideias morais transcendentais;

♣ Presente/Futuro - Está ligada à importância do peso causal, só opera no tempo longo,

quando a fronteira com o futuro é enfatizada.

Assim, tendo em conta as categorias de Cercadillo, agrupamos as respostas dos

alunos considerando a ligação entre essas categorias e as noções convocadas.

Quadro 12 – Categorias

Número de alunos Categorias Construtos

Nº %

Contemporâneo 1 1,6

Causal Peso causal 19 31,6%

Padrão Contexto; progresso;

desenvolvimento;

12 20%

Simbólico Passado fabuloso; Herói do

Colectivo (povo); Identidade

Nacional;

12 20%

Presente/Futuro Peso causal a longo prazo

(futuro)

16 26,6%

Gráfico 2 – Percentagem dos alunos por categorias

81

Numa primeira análise deste quadro, podemos constatar que existem diferentes formas

de abordar a questão da significância, como mostram as noções convocadas pelos

alunos, nomeadamente, causalidade, progresso, etc. Por isso a opção pelas diferentes

categorias de análise.

Também se pode constatar que os alunos que participaram neste estudo usam muito a

terceira pessoa do plural e o pronome possessivo Nossa nas suas explicações de

Significância Histórica dos personagens importantes para a História de Cabo Verde.

Segundo estudos realizados nesta área, quando os alunos elegem esses factos ou neste

caso os personagens significativos, é porque foram determinantes na afirmação da

identidade e no seu progresso do seu país27.

(…) Amílcar teve um papel muito importante na História de Cabo Verde porque foi

o fundador da nossa nacionalidade. (…) Carla, 17 anos.

Quando os alunos justificam as suas escolhas fazem sempre menção à área em que

cada um dos personagens se destaca ou se destacou na História de Cabo Verde. Ficou

também patente nas respostas dos alunos que, a História de Cabo Verde engloba a

política e a cultura. A música e a literatura, são áreas destacadas nas respostas destes

alunos enquanto focos importantes da História de Cabo Verde. Os dados recolhidos no

estudo piloto haviam já fornecido indicações neste sentido.

Quadro 13 – Identificação dos personagens

PERSONAGENS

JUSTIFICAÇÕES CONSTRUTOS

Amílcar Cabral HISTÓRICAS/POLÍTICAS Independência Nacional Cesária Évora Eugénio Tavares Nácia Gomes Vera Duarte

CULTURAL/ LITERÁRIA

Valorização, divulgação e expansão da cultura cabo-verdiana através da música e da poesia. Lutaram pela independência com palavras

27 Estas conclusões foram também constatadas nos estudos de Monsanto (2004) com alunos portugueses; Barton (1999), com alunos dos EUA e da Irlanda do Norte.

82

Na categoria Contemporânea,

Nácia Gmoes ela é a mãe do batuque cabo-verdiano; Vera Duarte foi a primeira

mulher a defender a tese dos direitos humanos em Portugal; Cesária Èvora a

rainha da musica do nosso país; Eugénio Tavares é um escritor cabo-verdiano, por

fim temos o mais importante o Amílcar Cabral que combateu na luta pela liberdade

e independência de Cabo Verde. Rolanda, 20 anos.

Na categoria Causal, constatamos que existe um conjunto substancial de alunos que

revelam ideias que se prendem com o peso causal que um determinado personagem

teve ou ainda tem na História de Cabo Verde. A significância, nas ideias daqueles

alunos, parece estar ligada ao impacto que as acções do personagem podem ter para a

História de Cabo Verde.

Vera Duarte foi a primeira mulher cabo-verdiana a defender os direitos humanos,

principalmente da mulher…Nácia Gomes e Cesária Évora promovem a nossa

música, Amílcar Cabral foi o promotor da luta pela independência de Cabo Verde

e Eugénio Tavares foi um pré-claridoso ou um dos promotores da literatura cabo-

verdiana. Cristina, 18 anos.

Eu fiz esta escolha porque Cabral foi como o representante de Cabo Verde para a

ONU, ele foi um diplomata, Eugénio foi e será sempre um grande poeta, Cesária é

uma das maiores estrelas da nossa música e através dela a nossa música é

conhecida a nível mundial e Vera porque ela é uma escritora e como tal ela

desenvolve ou divulga a nossa cultura e a História de Cabo Verde. André, 18

anos.

Escolhi ele, porque foi ele quem lutou pela liberdade, tomou a independência da

Guiné, Cabo Verde, ele lotou pela nossa liberdade…. Ivanilda, 19 anos.

Síntese

Nas respostas destes alunosemerge a ideia de significância em função do impacto que

os personagens tiveram na História de Cabo Verde. A resposta do André evidencia este

facto. O que conta é o peso causal, caso contrário, não estariam na lista.

Na categoria Padrão, nota-se um nível mais sofisticado de ideias nomeadamente nas

justificações dos alunos, é referenciado um contexto e a significância é vista como algo

aliado ao desenvolvimento e ao progresso do país. Também verificamos que uma boa

parte dos alunos participantes no estudo se enquadram nesta categoria (14 alunos).

83

São considerados importantes para a História porque ambos personagens deram a

sua contribuição para o surgimento da nossa história, sua dispersão pelo mundo,

como por exemplo: Nácia e Cesária contribuíram com as suas músicas; Vera e

Eugénio com as obras literárias e o Amílcar foi o pai da nossa “nacionalidade”

que lutou e incentivou os povos da Guiné e Cabo Verde a lutar através do PAIGV.

Ilídio, 19 anos.

Amílcar teve um papel muito importante na História de Cabo Verde porque foi o

fundador da nossa nacionalidade e defensor da pátria. Eugénio deu êxito a

literatura cabo-verdiana, Nácia contribui para o enriquecimento da nossa

tradição/cultura com a sua finaçon/batuque e Cesária também com a sua morna

leva um pedaço de Cabo Verde e da cultura de Cabo Verde para o mundo. Carla,

17 anos.

Considero-os importantes para a História de Cabo Verde visto que todos

contribuíram para o desenvolvimento de Cabo Verde, na sua propagação pelo

mundo fora, expandiram e deram a conhecer no mundo a nossa História, o nosso

sofrimento, ajudaram-nos a ter os nossos direitos e liberdades. Arikson, 18 anos.

Síntese:

Nesta categoria, nota-se claramente que os alunos vão mais além nas suas

justificações, uma vez que se nota uma preocupação com o contexto, tome-se

como exemplo a resposta do Ilídio quando refere que Amílcar Cabral incentivou

os povos da Guiné e Cabo Verde através do PAIGC. O argumento da Carla,

parece apontar no mesmo sentido quando menciona o enriquecimento da nossa

cultura através de tradições, o mesmo tipo de argumento é utilizado pelo

Arickson quando menciona o desenvolvimento de Cabo Verde através do

desempenho dos nossos personagens.

Na categoria Simbólica, nota-se que os alunos veem a questão da significância

quando relacionada com assuntos ligados à identidade nacional e ao patriotismo,

heroísmo, ou também relacionado com conceitos mais gerais ou não históricos.

Amílcar Cabral por ser o fundador da pátria e um dos grandes homens que o

Mundo já viu lutar pelo seu povo. Eugénio Tavares por ser um dos maiores

escritores de Cabo Verde e um dos fundadores da literatura cabo-verdiana. Nácia

84

Gomes um dos grandes nomes da nossa cultura e por divulgá-la por todo mundo.

Edmilson, 19 anos.

Considero alguns como fundadores da Nacionalidade cabo-verdiana e outros

como pedras fundamentais na ascensão da cultura cabo-verdiana, tanto na

literatura escrita e contada. Diamantino, 20 anos.

Em primeiro lugar Amílcar é importante para Cabo Verde porque é ele que lutou

com o nosso povo cabo-verdiano, foi ele que sacrificou pela luta armada em Guiné

e Cabo Verde, enquanto Eugénio foi um grande escritor cabo-verdiano, foi um

homem com competência para Cabo Verde e Cesária ela também é importante

para Cabo Verde porque ela foi a melhor cantora cabo-verdiana até hoje. Indira,

19 anos.

Sintese:

Nas ideias destes alunos perpassam ligações ideia de identidade nacional, através de

expressões como o nacionalismo, pátria. Invocam noções de sacrifício, heroísmo

relatado nas conquistas que Cabral fez para Cabo Verde enquanto herói do povo cabo-

verdiano e da Guiné.

Importa também realçar que todos os alunos escolhem o personagem Amílcar Cabral e

associam-no à independência, justificando ser um marco de viragem na História de

Cabo Verde. Na categoria simbólica, quando falam de Cabral enfatiza-o, indo mais

longe, ao afirmar que ele lutou para que não morrêssemos de fome, para Ângela, o

Cabral lutou pelo bem-estar de Cabo Verde.

Porque ele lutou pelo nosso país, para não morrermos de fome, de guerra (…)

Ângela, 20 anos.

Na categoria Presente/Futuro, a significância está relacionada com o peso

causal, mas com a diferença de que opera a longo prazo, enfatizando o futuro.

Nas respostas dos alunos também está patente a ideia de que as acções dos

personagens ainda têm reflexos para a História de Cabo Verde, por isso a

consideram importante.

Eu escolhi esses personagens acima transcritos porque cada uma dessas

personagens tiveram ou ainda tem dado um grande contributo para a História de

85

Cabo Verde, como o Cabral que lutou pela independência de Cabo Verde; Nácia

Gomes, Cesária Évora e Eugénio Tavares que praticamente são os que, maior

contributo deram para a cultura de Cabo Verde e Vera Duarte defende os direitos

das mulheres. Nélson Mandela defende a raça negra, lutou contra a injustiça que

os africanos sofriam dos brancos e Cabo Verde é África. Josimar, 20 anos.

Eu acho que Amílcar é importante porque ele lutou muito para que Cabo Verde

seja um país livre. Nácia Gomes ajuda a desenvolver a cultura de Cabo Verde, ela

contribui para que a cultura cabo-verdiana não se desvalorize (…) Mira, 18 anos.

Considero Eugénio importante para a História de Cabo Verde porque ele foi um

dos maiores poetas e músicos que até hoje já existiu e isso põe Cabo Verde a ser

conhecido por um país que tem grandes poemas e esse homem ficou na História de

Cabo Verde. Amílcar porque foi um grande guerreiro, ele lutou pela

independência de Cabo Verde e graças a ele Cabo Verde é agora um país livre e

por fim a Cesária porque ela é considerada a rainha da morna, é um cantora

inconfundível e ela fica na História de Cabo Verde. Lorena.

Sintese:

As ideias destes alunos indicam uma clara ligação das acções dos personagens com o

presente, sobretudo quando eles referem que os personagens tiveram ou ainda têm

importância para a História de Cabo Verde. Relacionam também a significância com o

desenvolvimento de Cabo Verde numa perspectiva causal enfatizando o futuro, quando

afirmam que alguns personagens ficam na História de Cabo Verde, pelas acções que

tiveram no passado ou no presente.

Algumas respostas evidenciam essa ligação com o presente e o futuro as acções dos

personagems são relatadas no presente, no sentido de que ainda têm importância,

enquanto, que outros quando referem as acções dos personagens relatam no passado,

ou seja, o personagem foi importante, ou o personagem é importante.

Considero-os importantes para a História de Cabo Verde visto que todos contribuíram

para o desenvolvimento de Cabo Verde (…) Arickson, 18 anos.

Eu fiz esta escolha porque Cabral foi como o representante de Cabo Verde para a ONU, ele foi

um diplomata (…) André, 18 anos.

86

Eu escolhi-os visto que esses personagens são dádivas da cultura cabo-verdiana, da

história do nosso arquipélago. Através desses personagens aprendemos vários aspectos da

nossa cultura, vários aspectos da nossa cultura são divulgados. Álvaro 18 anos.

A terceira questão: Que relação encontras entre as outras personagens (que não

escolheste) e a História de Cabo Verde?

Nesta questão procurava compreender-se se a significância é interpretada de uma

forma exclusiva ou se se discute a relação com outros países. No caso de haver

relações, se ela é positiva ou negativa.

Nota-se que um conjunto de alunos interpretam a significância de uma forma

exclusiva, ou seja, para eles, personagens importantes para a História de Cabo Verde,

têm que ser cabo-verdianos, ou estrangeiros. No caso de serem estrangeiros têm, que,

ter contribuído para o desenvolvimento de Cabo Verde. Esse desenvolvimento pode ser

de vários níveis: cultural, político, económico e mesmo de ajuda de várias ordens. É

curioso, porque mesmo aceitando que existem relações positivas, estes alunos fazem a

distinção da nacionalidade, apesar de não serem cabo-verdianos, poderão contribuir

para a História de Cabo Verde. Quando discutem relações, seja positivo ou negativo, a

significância é atribuída em função do contributo que os personagens poderão ter dado,

ou poderão vir a dar a Cabo Verde.

Se formos analisar as respostas dos alunos em função das categorias apresentadas,

podemos constatar que, mesmo estando na mesma categoria, as respostas dos alunos

para esta questão divergem uma das outras, no sentido de que para alguns a

significância é exclusiva e para outros é preciso discutir relações numa perspectiva

positiva ou negativa.

Significância Padrão:

Quadro 14 - Construtos da Significância Padrão: Exclusiva

Significância Exclusiva/ Fixa

Construtos

Não fizeram nada para o desenvolvimento de Cabo Verde

Não são cabo-verdianos

Foram importantes para as suas pátrias e não para Cabo Verde

A relação que encontro é que todos eles fazem parte da história das suas pátrias,

todos são dádivas da cultura e da história das suas pátrias, todos divulgam a

87

cultura e história das suas pátrias e todos são importantes para a história das suas

pátrias. Álvaro, 18 anos.

As relações que existem entre os outros personagens que eu não escolhi, tem

outros que não tem praticamente nada a ver com a nossa História, ou seja, não são

de Cabo Verde. Anícia, 17 anos.

As relações que encontrei entre as outras personagens que não escolhi e a História

de Cabo Verde é que não participaram em nada para ajudar Cabo Verde, não

deram nenhum apoio, nem contributo. Igor, 18 anos.

Quadro 15 - Construtos da Significância Padrão: discute relações

Significância: Discute Relações

Construtos

Existe uma relação de amizade; ajuda;

Personagens como um ídolo;

Mesma História: domínio colonial; luta pela

independência, defesa da raça negra

Contribuíram para o desenvolvimento de Cabo Verde;

Emigração

Bush representa para mim os EUA que contribui com diversas ajudas para Cabo

Verde e que de uma forma ou outra pressionou Cabo Verde a fazer a sua abertura

política. Figo, pelo facto de ser português, representa Portugal e os longos anos de

colonização. José Eduardo dos Santos, presidente de Angola foi um dos cinco

países colonizados por Portugal. Cíndria, 17 anos

As relações que encontro entre as outras personagens e que não escolhi para a

História de Cabo Verde, no caso de Bush, ele em Cabo Verde tem uma grande

relação, porque EUA ajuda-nos em vários tipos de coisas, como por exemplo,

género alimentícios, empréstimos de dinheiro, etc. Figo ajuda Cabo Verde na

formação dos nossos jovens futebolistas nas suas formações para serem grandes

futebolistas, enquanto que Nelson Mandela contribui ou apoiou para a História

Cabo Verde porque defendeu a nossa raça, a nossa cultura negra, contribui de

certa forma para a independência de todos os povos africanos. Carlos, 19 anos

Significância Causal

Quando analisamos as respostas dos alunos nesta categoria, constatamos que, quando a

significância é exclusiva, as respostas assemelham-se, ou seja, quando justificam

88

apontam razões como: não deram nenhum contributo para a História de Cabo Verde;

são personagens importantes para o mundo e não para Cabo Verde. Encontramos

novamente a ideia de que, o facto de não serem cabo-verdianos é um indicador

importante para se discutir a importância.

Esses outros personagens também são personagens históricas, mas não de Cabo

Verde, cada um deles já desempenharam cargos importantes no mundo. Miram, 20

anos.

Eu acho que eles não têm nada a ver com a cultura de do nosso país. Mas Nélson

Mandela tem a ver com a cultura Africana e não com Cabo Verde em particular.

Soraia.

Na minha opinião, eu acho que Georg Bush, Luís Figo não fazem parte da História

de Cabo Verde, eles não dão nenhum contributo, nem na luta, nem noutro aspecto.

Georgina, 17 anos.

A ideia de relação com a História de Cabo Verde, emerge também com o sentido de

ajuda, empréstimos, relações amigáveis, alguma relação em termos históricos, etc.

A relação que existe entre Cabo Verde e outros países é de entreajudas e

empréstimos. Simónica.

Significância Simbólica

Nesta categoria também é visível nas respostas dos alunos a significância exclusiva,

quando eles nos apontam construtos como: eles são estrangeiros, são de outra

nacionalidade.

As outras personagens também são importantes, mas não fazem parte da História

cabo-verdiana, eles pertencem mais aos países estrangeiros do que para Cabo

Verde. Indira, 19 anos.

A argumentação que aponta para a ideia de relação aponta também para a questão dos

direitos humanos, igualdade, amizade e como em todas as outras categorias, a questão

do desenvolvimento.

Entre as outras personagens como Nélson Mandela, penso que ele deu algum apoio

para Cabo Verde em relação aos Direitos Humanos na medida em que lutam por

essa causa procurando a igualdade, apelando a paz não só para o seu país, mas

também para o mundo e daí Cabo Verde fazer parte. Diamantino, 20 anos.

Significância Presente Futuro

89

Nesta categoria perante as respostas dos alunos, nota-se que os alunos convocaram

questões ligadas à História de Cabo Verde, nomeadamente a cultura para enunciar que

é uma significância exclusiva, ou mesmo quando afirmam que alguns personagens não

fizeram o suficiente para ser importantes para Cabo Verde.

(…) Alguns não fazem parte da História de Cabo Verde e aqueles que fazem parte.,

Os que fizeram não é suficiente ainda para Cabo Verde, porque precisamos ainda

deles e de muito mais para a História de Cabo Verde. Helena.

Ao contrário, quando analisam as relações que possam existir convocam noções de

complementaridade e ajuda, amizade, o bem-estar e uma luta comum entre países.

Nomemadamente quando mencionam a relação entre os personagens que não

escolheram com a História de Cabo Verde, ou seja, a significância não é de uma forma

generalizada exclusiva.

Acho que tem uma relação de complementaridade porque para Cabo Verde estar

como está hoje era preciso ajuda de todos os países e portanto algumas

personagens como Nélson Mandela e José Eduardo dos Santos talvez deram algum

contributo para a nossa pátria. Suzete, 17 anos.

Existe muita relação entre essas personagens e a História de Cabo Verde porque

por exemplo, Eugénio Tavares deu grande contributo na literatura de Cabo Verde.

Cesária também contribui porque ele é uma das grandes cantoras cabo-verdianas, a

Nácia também e muitos outros, na época do colonialismo lutaram não com as

armas, mas com as canetas, escrevendo, cantando, etc Cátia, 17 anos.

Síntese:

Nas respostas destes alunos, podemos constatar que eles apesar de considerarem que

exista relações entre os outros personagens, deixam nomemadamente nas suas

justificações é clara a ideia de que que esses personagens foram escolhidos porque

deram ou ainda podem dar algum contributo para a História de Cabo Verde. O que

podemos constatar com estas respostas, é que os alunos ao abordarem a significância,

mostram que ela é exclusiva no sentido de que, para ser importante para a História de

Cabo Verde é preciso, antes de mais tem que ser cabo-verdiano. Procuram sempre uma

ligação através do contributo que essa personagem deu ao seu país.

Acreditam que os personagens possam ser importantes para a História de Cabo Verde,

mas quando vão discutir relações, asseguram não ter ajudado no desenvolvimento de

Cabo Verde. Por exemplo, quando falam do Luís Figo, aventam a possibilidade dele

90

ser importante no mundo do futebol, mas já não o consideram importante para a

História de Cabo Verde.

Em relação a Nélson Mandela, tenho muita admiração por ele tal como o Cabral,

ele lutou para a liberdade dos africanos. Bush é estúpido, bruto é um atraso para

Cabo Verde e para o Mundo. Luís Figo, grande jogador de futebol, fala português,

mas não é cabo-verdiano (…) Ismael, 21 anos.

Nota-se que os alunos, ao fazerem as suas escolhas não tiveram em conta os seus

gostos pessoais, porque apesar de considerar Luís Figo como importante, se calhar na

sua perspectiva, não pesou na significância enquanto agente na História de Cabo

Verde. Mas uma vez é o peso causal a ter mais influência na atribuição da significância

dos alunos. Estas ideias emergiram também na análise dos dados do Estudo Piloto,

poucos foram os que escolheram Luís Figo, optaram mais para figuras ligadas à

História do país.

Quadro 16 - Personagens mais significativas para a História de Cabo Verde – Estudo Piloto

PERSONAGENS FREQUÊNCIA PERCENTAGEM TOTAL ALUNOS Amílcar Cabral 28 100% 28 Cesária Évora 23 82% 28 Eugénio Tavares 21 75% 28 George W. Bush 0 0% 28 José E. os Santos 0 0% 28 Luís Figo 0 0% 28 Nácia Gomes 14 50% 28 Nelson Mandela 0 0% 28 Vera Duarte 4 14% 28

Quadro 17– Personagem mais significativo para os alunos - Estudo Piloto

Personagem Frequência

Amílcar Cabral 22 Alunos

Nácia Gomes 2 Alunos

Luís Figo 2 Alunos

Nelson Mandela 1 Aluno

Eugénio Tavares 1 Aluno

Podemos ver mais um exemplo de atribuição de significância exclusiva e de relações:

91

Luís Figo, ele não tem nenhuma relação com Cabo Verde porque ele foi apenas um

dos maiores futebolistas do mundo, mas isso não tem nada a ver com a História de

Cabo Verde e José Eduardo dos Santos, o presidente de Angola apenas contribuiu

com que a relação entre Cabo Verde e Angola fosse boa, a mesma coisa com

Nélson Mandela e G. Bush. José.

Nas questões 4.1. Dos textos A, B e C, quais os que apresentam razões: A Favor do

Colonialismo e A favor da Descolonização e 4.2: O que conheces acerca doa autores

dos três textos apresentados?

Com estas questões, pretendíamos saber se os alunos conseguiam ou não identificar a

mensagem que estava nas fontes propostas e se os mesmos teriam conhecimento dos

autores dos textos, contextualizando-os de acordo com o tema tratado no texto. Com

base nas respostas dos alunos, criamos dois níveis, tendo por base os níveis da Castro

(2007), que passamos a apresentar:

Nível 1 – Compreensão Restrita – o aluno centra o seu pensamento e,

consequentemente, a sua argumentação no acontecimento e a análise da informação é

centrada numa perspectiva fixa.

Em algumas respostas surgem uma argumentação do tipo descritivo limitando-se a

transcrição de extractos com expressões da fonte. E ainda temos aquelas respostas onde

os alunos só identificam os textos, não apresentando qualquer justificação.

As respostas que explicitam este nível:

Quadro 18 – Resposta dos alunos que explicitam o nível da Compreensão Restrita (questão 4.1)

Alunos 4.1. A Favor do Colonialismo 4.1. A Favor da Descolonização

Ivanito 18

anos

Texto B Textos A e C

Ivanilda,

19 anos

È o texto B, porque nos diz tudo o que Cabo

Verde não precisa de agitadores palavrosos

e enganadores que … da mentira e

prometem o que não podem cumprir.

È o texto C, por frase que se segue que diz:

unamo-nos todos para libertar depressa a

Guiné e Cabo Verde – acabar com as

colónias.

Rolanda

20 anos

Texto B é a favor do colonialismo. Exemplo:

Até agora ninguém morreu de fome, a

população cresceu, e não houve retrocesso

nem se quer estagnação no desenvolvimento

do arquipélago.

Texto A é a favor da descolonização.

Exemplo: O processo de libertação é

irreversível e que par evitar crises é

necessário por fim ao colonialismo e todas as

práticas de segregação e descriminação que

lhes é inerente.

Ângela, 20 Eu acho que é o texto C porque mais uma Acho que é o texto A

92

anos vez milhares de pessoas morrem por causa

do colonialismo português.

PSP, 18

anos

Texto B, têm os cabo-verdianos encontrados

na metrópole trabalho remunerados de

acordo com as suas condições e toda a

simpatia paterna de que é merecedora a

gente séria e diligente tão abundante entre

eles.

Texto A, convencido que a manutenção do

colonialismo impede o desenvolvimento da

cooperação económica internacional, trava o

desenvolvimento social, cultural e económico

dos povos dependentes e vai contra o ideal da

paz das nações unidas.

Indira, 19 anos

O Texto fala sobre o colonialismo, dentro do

colonialismo houve pessoas que ficam

isoladas nos países, contribuíram para que

houvesse agitação num desenvolvimento

dentro do governo.

Um governo Salazar considera que o

território ultramarino constituía províncias e

um estado pluricontinental, pelo que não

faziam sentido falar da descolonização.

As respoastas dos alunos evidenciaram uma análise centrada na mensagem intrínseca

da fonte apontando claramente para uma repetição da informação contida na fonte.

Ainda neste nível, constatou-se que nenhuma resposta dos alunos fazia referência aos

autores específicos dos documentos apresentados, nem qualquer referência ao

contexto.

Na questão 4.2: O que conheces acerca doa autores dos três textos apresentados?

Nas respostas de um conjunto alunos é evidente a dificuldade em contextualizar os

autores dos textos propostos. A argumentação é do tipo descritivo, limitando-se a

transcrever frases do texto.

Dezassete alunos não responderam a esta questão. É evidente nas resposta que um

conjunto de alunos não lerem os textos propostos uma vez que não utilizam qualquer

informação contida nos mesmos.

Quadro 19 - Resposta dos alunos que explicitam o nível da Compreensão Restrita (4.2)

Alunos 4.2:Texto A 4.2:Texto B 4.2:Texto C

Ângela Semedo, 20 anos

É que reconhecendo que os povos do mundo desejam ardemente o fim do colonialismo em todas as manifestações

Até agora ninguém morreu de fome, a população cresceu, e não houve retrocesso nem se quer estagnação no desenvolvimento do arquipélago.

Que a nossa luta vai também acabar depressa com o colonialismo e libertar o povo da fome e da miséria.

93

Claúdia, 19 anos

Não Responde Não Responde Não Responde

Suleia, 18 anos

O autor doo texto A é a mesma coisa que falei sobre o texto B

O autor do texto B, não conheço e nunca ouvi falar dele.

Esse tal de Abel Djassi não conheço, só ouvi falar dele por alto, não sei nenhuma informação sobre ele.

Indira, 19 anos

Havia exploração estrangeira, o colonialismo impede o desenvolvimento de cooperação económica internacional.

Naquela época havia fome porque a população cresceu, houve um retrocesso, precisava de pessoas para prevenir o futuro.

Mais de milhares de pessoas morreram de fome por causa do colonialismo português.

A Suleia, apesar de não responde à questão 4.2, na questão 4.1, escolheu os textos e

justificou com expressões do texto, podendo aproximar-se de uma Compreensão

Emergente condicionada.

94

Síntese:

Neste nível, o pensamento dos alunos centra-se no acontecimento ou acontecimentos

referenciados nas fontes propostas para análise. A preocupação dos alunos dirige-se

para a mesma informação dos documentos que é transcrita. Neste sentido, observa-se

uma ausência do contexto, nomeadamente no que se refere a produção da fonte

(autoria).

A significância e vista numa perspectiva fixa, onde se transforma em importância fixa,

assumindo um carácter restrito, dirigido para os agentes enunciados e para informação

contida na fonte. Estas constatações vão de encontro aos resultados apresentados no

estudo de Castro (2007).

Os alunos demonstraram que têm alguma dificuldade na interpretação das fontes, o que

nos leva a reflectir sobre literacia dos alunos. Alguns comentaram durante a realização

do estudo, quer Piloto, quer Final, de que têm preguiça de ler os textos e depois

interpretar a informação contida nela. Deixa-nos uma reflexão para que todos os

professores de todas as disciplinas ajudem os alunos a ganharem o hábito de leitura.

Pelas oscilações dos alunos nas questões, nota-se que, se tivessem lido e interpretado

bem os textos, teriam menos dificuldades na resolução das questões 4.1 e 4.2. basta

vermos que alguns alunos que não conseguiram identificar e contextualizar os textos e

os autores, nas outras questões conseguiram obter um bom nível de resposta. É o caso

do Álvaro, 18 anos.

Eu escolhi-os visto que esses personagens são dádivas da cultura cabo-verdiana,

da história do nosso arquipélago. Através desses personagens aprendemos vários

aspectos da nossa cultura, vários aspectos da nossa cultura são divulgados.

A relação que encontro é que todos eles fazem parte da história das suas pátrias,

todos são dádivas da cultura e da história das suas pátrias, todos divulgam a

cultura e história das suas pátrias e todos são importantes para a história das suas

pátrias.

Texto B, têm os cabo-verdianos encontrados na metrópole trabalho remunerados

de acordo com as suas condições e toda a simpatia paterna de que é merecedora a

gente séria e diligente tão abundante entre eles.

Texto A, convencido que a manutenção do colonialismo impede o desenvolvimento

da cooperação económica internacional, trava o desenvolvimento social, cultural e

económico dos povos dependentes e vai contra o ideal da paz das nações unidas.

ONU é uma organização que zela pela paz mundial, desenvolve entre as nações as

relações amigáveis, desenvolve a cooperação internacional, etc.

95

Marcelo Caetano é um deputado

Abel Djassi era um grupo contra o colonialismo. Membro do PAIGC.

Defenderia que Cabo Verde tem direito à independência pois o colonialismo

impede o desenvolvimento económico, social, internacional, a cooperação e vai

contra o ideal da paz e harmonização das nações unidas

Nível 2 – Compreensão Emergente Condicionada – neste nível, apesar de o

acontecimento continuar a ocupar o centro da atenção dos alunos, há uma procura de

modelos justificativos, de cariz simbólico. Neste nível, nota-se uma preocupação dos

alunos em contextualizar a fonte ou o próprio acontecimento, ao contrário do nível

anterior.

As respostas que explicitam este nível:

Quadro 20 - Resposta dos alunos que explicitam o nível da Emergente Condicionada (4.1)

96

Nestas respostas dos alunos, nota-se uma procura de contexto, surgindo algumas

referências temporais, como o “Regime Fascista”, na resposta do Ilídio, “Direitos

Humanos”, na resposta da Cindira.

Em algumas respostas também houve uma procura de modelos de cariz simbólico,

nomeadamente ligada a ideia de povo, nação e pátria, enquanto motivação para as

acções dos homens. Esta procura evidencia-se quando os alunos falam do Marcelo

Caetano, como sendo um meio de comunicação para enganar a sociedade

internacional, ou do povo de Cabo Verde, ou africanos, que querem ser autónomos e

livres.

Alunos 4.1. A Favor do Colonialismo 4.1. A Favor da Descolonização

Ilídio, 19 anos

É o texto B, porque fala do discurso do Marcelo Caetano, que era um representante do regime fascista em Portugal e que era o meio de comunicação para enganar a sociedade internacional que estava tudo bem com as colónias, mas acontecia o contrário.

São os textos A e C, porque falam de resolução da Assembleia Geral ONU, que declara um conjunto de ideias e Leis que são contra o colonialismo, a discriminação, segregação e apoia a descolonização, a liberdade, a igualdade entre todos os povos e reconhece que a colonização era um obstáculo ao desenvolvimento das colónias.

André, 18 anos

É o texto B, porque mostra o total desinteresse dos colonialistas a favor da independência de Cabo Verde, mas queriam progredir com o colonialismo.

São os textos A e C, porque tanto a Assembleia Geral da ONU, como os povos de Cabo Verde, os africanos querem ser povos autónomos e independentes a nível cultural, económico e social, etc.

Cíndria, 17 anos

O texto B em que se apresentam desculpas para a não negociação da liberdade das colónias pelo governo português.

O texto A, mostra alguns conteúdos da Declaração Universal dos Direitos Humanos feita pela Assembleia Geral da ONU, que directamente condena o colonialismo. O texto C, faz a caracterização dos países colonizados mostrando a necessidade urgente da independência e autonomia.

Lenine, 17 anos

È o texto B, porque está a referir um discurso positivo sobre o colonialismo, ou seja, tudo o que ela pode proporcionar aos povos dominados.

O texto A porque aponta para as consequências que esse facto pode deixar e tem também os princípios dos direitos humanos da ONU que é contra qualquer tipo de domínio de qualquer povo sobre outro.

Idalina, 20 anos

E o texto B, porque no discurso do Marcelo Caetano apresentado no texto dá-nos a perceber que e a favor do colonialismo. Exemplo” Cabo Verde precisa daquilo que lhe temos dado sem regatear (…)

São os textos A e C porque mostram claramente que o povo quer a independência, querem ser livres (…)

Suleia, 18 anos

A favor do Colonialismo é o texto B, porque diz que Cabo Verde não precisa de agitadores palavrosos e enganadores que … da mentira e prometem o que não podem cumprir (…)

É o texto C, porque a frase que diz: unamo-nos todos para libertar depressa a Guiné e Cabo Verde – acabar com as colónias, já diz tudo, acabar com as colónias.

97

A questão 4.2. O que conheces acerca doa autores dos três textos apresentados?

Nesta questão, os alunos já demonstraram algum conhecimento dos autores, mostraram

também que leram o texto, já que conseguem fazer uma contextualização dos

personagens com o assunto tratado no texto. Os alunos que estão neste nível,

mostraram alguma regularidade em relação às categorias, ou seja, nas questões

anteriores, conseguem contextualizar as suas escolhas justificando-as. Neste nível

podemos apontar alguns construtos, que os alunos apontaram, quando falam dos

autores dos textos, nomeadamente:

Quadro 21 - Resposta dos alunos que explicitam o nível da Emergente Condicionada (4.2)

98

Nas respostas dos alunos é clara uma associação da Organização das Nações Unidas ao

processo de independência, à luta contra a colonização, à paz no mundo, à relação

entre países. Alguns vão mais longe ao relacionarem a ONU com a Declaração dos

Direitos Humanos, inclusive temos alunos que referem a data da criação e os

objectivos da organização.

Construtos 4.2:Texto A 4.2:Texto B 4.2:Texto C

Ajuda Igualdade entre povos Regime Fascista Combatentes

A ONU é uma das grandes e importante organização no mundo, ela desenvolveu, desenvolve e desenvolverá grandes actividades para ajuda os necessitados e promover a igualdade entre povos. Ilídio, 19 anos

Marcelo Caetano foi o representante do regime fascista que foi erradicado dentro e fora do Portugal. Ele também foi deportado para Madeira depois da queda do seu regime.

Abel Djassi foi um dos combatentes para a independência do seu país.

Paz Independência Direitos Humanos Desconhecimento da situação do povo das ilhas Revolucionadores

Eu acho que a ONU é uma organização que zela pela paz e pela independência e pelos direitos humanos. Artemisa, 17 anos

Não conheço, acho que fazia parte de alguns que estavam em Portugal e que não conhecia bem o que se passava com o povo das ilhas.

Não conheço, mas pelo que li agora, pude constatar que foi um dos Revolucionadores para a independência.

Decisões Regime Fascista colonial Luta contra descolonização Luta Guiné e Cabo Verde

A Assembleia Geral da ONU era um organismo central da ONU, onde há representações de vários partidos e nessa assembleia é que se tomam grandes decisões da ONU. André, 18 anos

Marcelo Caetano foi um representante do regime fascista colonial, assim como Américo Tomás, eles lutaram contra a descolonização das colónias.

Cabral foi uns maiores diplomatas da Guiné e Cabo Verde, ele era um estratega, ele não lutava, mas realizava …? Para a luta armada e foi um grande diplomata da luta político-militar de Cabo Verde e Guiné.

Relações entre nações Direitos Humanos Defesa do Colonialismo

É uma das partes constituintes da ONU, foi responsável pela criação dos Declaração Universal dos Direitos Humanos que gere a relação entre nações e assegura o direito de cada ser humano. Cíndria, 17 anos

Marcelo Caetano foi 1º Ministro de Portugal, defendia o colonialismo em Cabo Verde e tinha um regime de ditadura em ses país – fascismo. Apresenta desculpas para a não negociação da descolonização dos cinco países.

Não Responde

Liberdade povos Regime Fascista Libertação Nacional

ONU, organização das Nações Unidas, ela tem com princípio a liberdade de todos os países, povos, também pela paz no mundo. Lenine, 17 anos

Marcelo Caetano era o braço direito de Salazar no regime fascista, depois da morte de Salazar foi também 1º Ministro de Portugal.

Abel Djassi foi combatente na luta pela libertação nacional.

Descolonização Regime Fascista

ONU publicou a Declaração Universal dos Direitos Humanos a favor da b descolonização. Carla, 17 anos

Marcelo Caetano foi deportado para Madeira e em seguida para Brasil, era a favor do regime fascista português.

Não sei.

Ajuda na luta pela independência Contra colonização Independência

A Assembleia Geral da ONU fez muito para ajudar Cabo Verde não só, como outros povos a se libertarem e a terem independência. Cátia, 17 anos

Marcelo Caetano não conheço, mas pelo que li no texto B, ele é contra a descolonização e por causa disso, eu não acho que ele é um bom homem.

O Borreau político do PAIGC, Abel Djassi luta a favor da independência.

Criação (ano) Objectivo Favor colonialismo Unidade Guiné e Cabo Verde

ONU fundada em 1945 é uma organização cujo objectivo é manter a paz no mundo. È constituída por 191 países. Adérito, 17 anos.

Marcelo Caetano foi o último presidente do Concelho de Estado Novo e era a favor do colonialismo, substituindo Salazar, defendia a federação da República portuguesa.

Abel Djassi foi camarada de Cabral no PAIGC, defendia a unidade da Guiné e Cabo Verde.

Desumano, manutenção das colónias em África

È uma obra de uma instância internacional e por sua vez … a descolonização, são textos da ONU.

Este texto é de Marcelo Caetano, posso dizer que é um desumano visto que quer manter a todo custo as colónias em África.

(…)são personalidades fundamentais na descolonização de Cabo Verde, visto que foram representante do PAIGC.

99

Quando falam do Marcelo Caetano associam-no ao governo português, ao regime

fascista, à colonização, afirmando que ele era contra a descolonização. Mais ainda,

referem a algumas características pessoais do personagem, como desumano, ditador,

não é um bom homem. Associam-no sobretudo ao facto dele não querer a liberdade das

colónias.

Já em relação ao autor do texto C, Abel Djassi, apontaram o autor tendo por base o seu

papel na luta pela independência de Cabo Verde, mais uma vez o peso do factor causal.

Todos os alunos focaram a questão da luta pela independência de Cabo Verde e uma

luta onde o autor teve um papel fundamental.

Uma outra constatação prende-se com o facto de os alunos terem tido alguma

dificuldade em identificar o autor do texto C, alguns falam do Boreau, outros falam de

Cabral implicitamente.

Sintese:

O conjunto das respostas dos alunos que se podem enquadrar neste nível evidencia um

posicionamento centrado no acontecimento, contudo os alunos não se centram no

documento como sendo fonte única, sendo por isso a sua importância direccionada

para outros factores que irão condicionar directamente a sua significância. Mostraram

também um nível maior de sofisticação quando falam dos autores contextualizando-

os com os assuntos tratados nos textos.

A questão 5: Como defenderias o direito à independência de Cabo Verde

considerando as relações entre países e entre povos?

Nesta questão, constatamos que existe uma multiplicidade de respostas, pelo que

tentamos agrupa-las, consoante os construtos utilizados por eles, analisando em função

da significância apresentada anteriormente nas questões, procurando fazer uma ligação

com a questão 3: Que relação encontras entre as outras personagens (que não

escolheste) e a História de Cabo Verde?

Assim, nas respostas enquadradas na significância Padrão, encontramos os seguintes

construtos:

100

♣ Defensores da independência → Como um direito de todos os países

→ Factor de mudança, desenvolvimento, boas

relações e cooperação entre povos,

→ Independência como condição para o

desenvolvimento

Todo o Homem tem direito a sua liberdade e todo o povo tem direito a sua

autonomia, a ser livre mostrando livremente a sua cultura, levando e

desenvolvendo a sua dignidade. Nenhum povo tem direito de submeter o outro a

sua ordem e no caso disso acontecer é necessário lutar primeiro com palavras e em

último caso com armas. Assim defenderia o direito à independência do meu país

com base no direito a liberdade, dignidade e respeito ente povos. Cíndria, 17 anos.

Considerando as relações entre países e povos, eu defenderia o direito à

independência de Cabo Verde, visto que com a independência Cabo Verde pode

fazer a sua economia, facilita a cooperação com outros países, desenvolve a

cooperação internacional, liberta o povo da fome e da miséria. Igor, 18 anos.

Defenderia que Cabo Verde tem direito à independência pois o colonialismo

impede o desenvolvimento económico, social, internacional, a cooperação e vai

contra o ideal da paz e harmonização das nações unidas. Álvaro, 18 anos.

As justificações destes alunos apontam, implicitamente o facto de o colonialismo

impedir o desenvolvimento de Cabo Verde, numa perspectiva de que, a independência

não impede as boas relações entre países, veem a independência como algo positivo

para o seu país. Refira-se nas respostas de dois alunos enquadradas na significância

padrão, é argumentado sobre a integração de Cabo Verde no território português com

a razão de que este seria mais desenvolvido e teria mais acesso a outros países.

Nas respostas destes alunos surgem ideias como as de diálogo, autonomia, etnia.

Na significância causal, os construtos não divergem muito da significância padrão, ou

seja, também os alunos defendem a independência, apontando justificações como:

101

♣ Defensores da independência → Como um direito

→ Apresentam formas de lutar pela independência

→ Facilita a vivência entre povos, boas relações

→ Tem capacidade para tomar conta do país

Eu acho que Cabo Verde deve ter direito a independência, assim facilita na

vivência dos povos (…) a fim de conviver em união. Adilson, 21 anos.

Acho que Cabo Verde deveria ser independente, pois acho que tem pessoas

maduras capazes de tomar conta do nosso próprio país e depois Portugal não

consegue tomar conta do próprio nariz muito menos de nós, e se não fossem

racista a coisa poderia ser outra, gostam é de ter em quem mandar, mas detestam

cuidar de quem mandam. Cristina, 18 anos.

Nesta categoria encontramos alguns valores subjacentes ao conceito de independência,

como: paz, justiça, negociações, racismo, via pacífica, amizade.

Foi boa porque só veio a existir essas relações entre esses povos porque houve a

independência. Eu penso que se continuíssimos a ser colónia de Portugal não

haveria essa amizade porque ali nós éramos os seus escravos, submetidos e nunca

amigos. Miriam, 20 anos.

Na significância simbólica, as ideias presentes nas respostas dos alunos a ideia de

independência de Cabo Verde parte de justificações como:

♣ Defensores da independência → Como um direito autonomia

→ Necessidade, bem-estar;

→ Facilita boas relações, liberdade de expressão,

progresso

Eu penso que todos os países deveram ser independentes, sendo cabo-verdiana

desejando o bem-estar do meu povo e do meu país, penso que não deveríamos ser

submetidos a fome e a miséria, mas construía e reconstruía o nosso país, deixando

102

que nós cabo-verdianos tratássemos dos nossos problemas quer internos, quer

externos. E deixar as questões pessoais e intrigas de lado. Artemisa, 17 anos.

Eu acho que foi muitíssimo bom a tomada da independência de Cabo Verde,

porque agora o povo sofre menos, são livres de escolher o que querem agora, o

povo não é vendido como antigamente que não tinham a independência. Agora

Cabo Verde tem saído muito bem, faz relações com muitos outros países do mundo,

como por exemplo, o Luxemburgo. Cabo Verde agora está a ser beneficiada por

outros países, isso é por causa da independência. Clerdira, 19 anos.

A resposta da Clerdira, apresenta uma justificação com contextualização, ou seja, ela

toca na questão da escravatura antes da independência, por isso ela defende a

independência, com base nos valores do progresso, relações com outros países e

liberdade de expressão.

Ainda, tendo em conta as justificações dos alunos, podemos constatar a existência de

outros valores, como a paz, harmonia, diálogo e amizade. Continuamos a ter respostas

a-histórico.

Na significância presente futuro, os construtos apresentados pelos alunos nas

respostas também aludem à defesa da independência, tendo por base justificações do

tipo:

♣ Defensores da independência → Como liberdade para gerir país nos vários

aspectos

→ Direito de todos

→ Defender ter uma cultura própria

Cada povo tem direito a independência para poder não depender da cultura dos

outros e dar importância aos seus. Clara.

Eu acho que Cabo Verde como qualquer outro país deve ser livre, autónomo para

gerir a sua economia, os seus direitos, assim facilita ligações com outros países,

como ajudas internacionais que é importante para um país como Cabo Verde, as

cooperações. Quando povo de um país se dá bem com outro país implica um livre

relacionamento, como amizade, ajuda, turismo, cooperação e isso é bom para a

economia de qualquer país, principalmente para Cabo Verde. Edson, 19 anos.

Sintese:

103

Uma primeira constatação é o facto da maioria dos alunos defenderem a independência

de Cabo Verde, com excepção dos dois alunos que acham que Cabo Verde deveria ser

parte do território português, por questões económicas. Aqueles que defendem a

independência, justifica-na pelo facto de todos os povos terem direito a independência,

independentemente serem pobres, ricos ou mesmo de prejudicarem a relação com

outros países, porque para eles, a independência ajuda na relação entre países e povos.

Mais uma vez nota-se a predominância da significância causal, uma vez que os alunos

nas suas justificações recorrem ao impacto que a independência teve para Cabo Verde,

como por exemplo a relação com outros países, o desenvolvimento, as cooperações,

ajudas, o diálogo, etc.. O surge peso causal da independência, embora às vezes numa

perspectiva presente/futuro, quando dizem que a independência ainda tem um grande

impacto para Cabo Verde.

Os alunos reagiram de forma diferente em relação à esta questão, uns comentam o

processo de independência, numa perspectiva de como foi, de forma crítica, analisando

o seu impacto. Outros dizem como acham que deveria ser o processo de independência

ou ainda e apontam implicitamente alguns valores.

CAPÍTULO IV - REFLEXÕES FINAIS

104

Antes de apresentar as conclusões/reflexões finais deste estudo importa agora

relembrar os procedimentos metodológicos que nortearam este estudo.

Tratou-se de um estudo de natureza descritiva essencialmente qualitativa e com alguma

abordagem quantitativa, realizado com alunos cabo-verdianos no final do ensino

secundário, onde se pretendeu explorar as ideias dos mesmos acerca das personagens

que, segundo as suas percepções consideravam significativas para a História

Contemporânea de Cabo Verde.

Esta investigação assentou na observação indirecta, recorrendo à técnica do

questionário como instrumento de recolha de dados. Na análise de dados, num

primeiro momento procurou-se indagar quais os personagens escolhidos pelos alunos

como sendo importantes (através de frequência) e numa segunda fase agrupar as

justificações dos alunos em categorias, tendo por base o estudo da Cercadillo (2000),

discutindo depois as respostas das outras questões em função das categorias

apresentadas, com excepção das questões 4.1 e 4.2 em que foram criadas dois níveis de

acordo com o estudo da Castro (2007).

Após a análise dos dados, interessa agora reflectir sobre as respostas as questões de

investigações, assim como algumas conclusões que foram emergindo ao longo do

estudo e que será de grande importância para o ensino da História em Cabo Verde.

1 - RESPOSTAS ÀS QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

Sendo que o objectivo central deste estudo foi compreender as ideias dos alunos em

Cabo Verde, no final do ensino secundário, acerca da significância que atribuem a

personagens da História contemporânea de Cabo Verde, designadamente a

independência de Cabo Verde, tornou-se pertinente o seguinte problema:

Como constroem os alunos a Significância da História Contemporânea de Cabo

Verde?

Para dar resposta a este problema de investigação, foram levantadas as seguintes

questões de investigações:

1. Quais as referências conceptuais dos alunos sobre personagens significativas para

a História Contemporânea de Cabo Verde?

2. Como avaliam os alunos acontecimentos da História como a independência de

Cabo Verde?

105

Em relação à primeira questão de investigação constatou-se que os alunos partiram de

uma referência histórica e cultural, esta é a primeira constatação que podemos avançar.

Para eles os personagens significativos foram aqueles que, dentro da sua área

específica de actuação: histórica e política para o caso do Amílcar Cabral; cultural e

literário para os outros personagens que escolheram, deram algum contributo para a

História Contemporânea de Cabo Verde. As referências deles foram as acções desses

personagens enquanto cabo-verdianos, na luta pela independência de Cabo Verde e

pela afirmação e divulgação da cultura cabo-verdiana. Assim as escolhas dos

personagens mais significativos para a História de Cabo Verde foram: Amílcar Cabral,

Cesária Évora, Eugénio Tavares, Nácia Gomes e Vera Duarte. Se formos analisar as

justificações dos alunos, podemos constatar que, para eles o mais importante

acontecimento da História Contemporânea de Cabo Verde é a independência, pelo que

as justificações referem sempre a esse facto, ou seja, contributo de cada personagem na

luta pela independência de Cabo Verde. Por outro lado, houve uma referência menor às

outras personagens que, pelo menos, directamente não tiveram nenhuma acção

referente ao processo de independência de Cabo Verde.

Nesta questão também constatamos que os alunos revelam algum conhecimento tácito

sobre a História Contemporânea de Cabo Verde, ao escolherem os personagens,

justificando as suas escolhas de forma contextualizada. Os alunos ao fazerem as suas

justificações elegeram valores associados ao heroísmo nacional, progresso,

desenvolvimento cultural, político, económico, identidade nacional, como o caso do

Amílcar Cabral que está presente nas escolhas de todos os alunos como um herói, um

exemplo para Cabo Verde, como uma pessoa que lutou e incentivou a luta pela

independência, sem excluir aqueles que, segundo os alunos lutaram de uma outra

forma.

Amílcar porque teve muita importância na luta pela independência de Cabo Verde,

quer militarmente e politicamente, lutou na Guiné pela independência de Cabo

Verde e também fez junto da ONU as denúncias do colonialismo português.

Eugénio também lutou pela independência, mas utilizando as palavras como sua

arma, como escritor ele escrevia a situação que se vivia em Cabo Verde relatando

a vida do povo das ilhas de Cabo Verde. Lenine, 17 anos.

No que concerne à segunda questão de investigação, não restam dúvidas de que os

alunos avaliam a independência como algo muito significativo para a História

Contemporânea, se não o mais importante. Para eles a independência é um marco de

106

viragem na História de Cabo Verde, porque ainda hoje temos repercussões,

nomeadamente o desenvolvimento conseguido após a independência.

Bem, em relação entre países e entre povos e as cooperações de Cabo Verde, acho

que Cabo Verde deve ter a independência. Com a independência, Cabo Verde tudo

tornou melhor em todos os termos: políticos, culturais, social e económico. Cátia,

17 anos.

Quando questionados sobre a independência de Cabo verde, todos os alunos, com

excepção de dois, defendem que Cabo Verde deveria ser independente, por avaliar a

mesma com um grande impacto. Justificam essa independência como algo que é

próprio de um país, com base na declaração dos direitos humanos e por outro lado por

considerar fundamental para a relação com outros países.

Defenderia que Cabo Verde tem direito à independência pois o colonialismo

impede o desenvolvimento económico, social, internacional, a cooperação e vai

contra o ideal da paz e harmonização das nações unidas. Álvaro, 18 anos.

Nota-se também que a significância da História Contemporânea de Cabo Verde em

alguns casos é interpretada de forma exclusiva, noutros discute-se relações com outros

países, com se pode notar na análise da questão 3. Alguns alunos admitem que possa

haver uma relação com outros países, mas outros já acham que não há relações, porque

não são cabo-verdianos e nada fizeram para a História de Cabo Verde, como Luís Figo.

Este estudo vem contrariar algumas ideias do censo comum em relação ao facto de

hoje, os jovens nada saberem sobre a História do seu próprio país. Nesse caso, os

alunos revelaram assim como já foi avançado, ideias tácitas sobre a História de Cabo

Verde, ao elegerem a independência como algo significativo para a História de Cabo

Verde e justificarem o porquê, mostrando que têm consciência de que, a independência

foi e é um acontecimento muito importante, e mais ainda, mostraram que aprenderam

alguns valores sobre Cabo verde, como a cultura, mostrando que a História de um país,

é muito mais do que estudar os heróis, é também ela constituída por actores que deram

algum contributo em outras áreas para o desenvolvimento e divulgação da cultura e

identidade nacional, como os músicos e autores ligados à literatura. O próprio Ministro

da Cultura nas suas intervenções costuma dizer que “Cabo Verde é hoje um país de

Desenvolvimento Médio graças à cultura”.

Constatou-se que existe um certo consenso nas respostas dos alunos, quanto às

escolhas dos personagens importantes para a História de Cabo Verde, porque se formos

ver o quadro das escolhas, podemos ver que todos os alunos escolheram o personagem

107

Amílcar Cabral. E os personagens Luís Figo e Bush não obteveram nenhuma

frequência nas escolhas dos alunos, atendendo ao facto de que não contribuíram para a

História de Cabo Verde, embora possa existir uma relação de entreajuda quando se

refere ao Bush.

Em síntese, constata-se que os alunos na atribuição de significância aos personagens

convocaram noções de identidade nacional, progresso, desenvolvimento e a difusão da

própria cultura. Ao escolherem os personagens, mostraram uma valorização de um

acontecimento em particular da História de Cabo Verde: a independência. Pelas

justificações verifica-se que esta luta não se deve em exclusivo à uma luta política, mas

também a uma luta cultural.

Os alunos utilizaram a primeira pessoas do plural, quando se referiam ao peso dos

acontecimentos da História de Cabo Verde. Expressões como Nós, Nosso, etc foram

frequentemente utilizadas. Segundo Levstik (2000), os alunos assumem-se como

colectivo e que esses acontecimentos referenciados por eles foram determinantes na

formação da identidade nacional colectiva. No caso deste estudo, pressupõe-se a

mesma análise e constatação, mas uma vez que não se recorreu à entrevista, não

podemos ter como um dado adquirido.

De realçar que também foi constatado uma semelhança no pensamento histórico desses

alunos, com as ideias dos alunos que participaram no estudo da Castro (2007); Chaves

(2007); Monsanto (2004) e Cercadillo (2000), neste caso de onde foram inspiradas as

categorias apresentadas na análise de dados.

2 - CONTRIBUTOS DO ESTUDO PARA A INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO HISTÓRICA

Salienta-se, que as conclusões deste estudo devem ser entendidas como contributo para

perspectivar a realidade investigada e possibilitar a formulação de pistas para a

investigação no domínio da Educação Histórica.

Pensamos que este estudo revela de grande importância para a Educação Histórica no

sentido de que, foi realizado num contexto diferente e de carácter exploratório, o que

pode servir não como uma receita a seguir a risca, mas como uma referência para

futuras investigações. Ela também poderá servir de base para fazer estudos

108

comparativos entre estudos realizados nesta mesma área em contextos diferentes,

apesar de se ter constatado que os alunos apresentam pensamento histórico semelhante.

Pensamos que poderá ser interessante o contributo deste estudo para o ensino da

História em Cabo Verde.

3 - PISTAS PARA O ENSINO DA HISTÓRIA EM CABO VERDE

A educação histórica tem como objectivo levar os alunos, através de estratégias

adequadas, a compreender História, a pensar nas ligações profundas entre o passado e

o presente. Os conteúdos na aula de História têm que ser trabalhados a partir das

representações iniciais dos alunos. Estes conceitos vão evoluir com a ajuda do

professor que terá que estar atento às concpetualizações dos alunos antes da

aprendizagem e à sua evolução no decorrer do processo.

A primeira ideia é sugerir aos professores que reflitam sobre a significância que os

alunos atribuem ao que lhes é ensinado, ou que aprendem informalmente por outras

fontes.

Tomei a liberdade de deixar aqui algumas sugestões, principalmente aos

professores de História em Cabo Verde, que é a minha realidade.

a) Ao construírem planos de aula, que tivessem em atenção a identificação de dados

que desejam que os alunos aprendam. Pois os professores devem destrinçar os

conteúdos/conceitos históricos com significados avançados frequantemente revistos e

sintetizados, daqueles que surgem nos alunos, para que desenvolvam uma

aprendizagem mais elaborada. Isto na sequência do que outros investigadores, como

Lee & Ashby (2002):

Progression connot be guaranted – but, studants may have more

chance of developing their ideas about history of their teacher have

clear ideas, can recognize their studants starting points, and have

strategies for building on them.

b) Os alunos cabo-verdianos à semelhança dos outros alunos do Mundo podem ser

estimulados a pensar relativamente a diversos acontecimentos do passado. Eles são

capazes de produzir arugumentações e contra argumentações sobre as diferentes

109

versões ou explicações históricas, mas no entanto, não se pode cair no erro de exigir

aos alunos (cabo-verdianos ou não) um nível de explicação históricas sem ser ter

primeiro explorado e tomado a consciência do nível concpetual em que os alunos se

encontram. Daí a importância do meu estudo, no sentido de que, serve de diagnóstico,

para sabermos como pensam os alunos historiacamente. Barca 2000 afirma o mesmo

em relação aos jovens portugueses:

(…) diagnosticar com os alunos rexolvem questões do tipo porquê

constitui o primeiro passo, antes de se propor a execução de tarefas

ou «explicações» (…) qualquer abordagem ao desenvolvimento de um

raciocínio crítico tem de ser progressivamente conduzida de acordo

com os nívies conceptuais dos alunos.

c) É importante que os professores de História estimulem os alunos a encar a História,

não como um almanaque ou um repertório de datas e factos do passado, mas como

uma estratégia temperal para compreender a diversidade do mundo em que envolvem

os alunos (Magalhães, 2000). Isto porque muitas vezes os alunos manifestam não

gostar da disciplina de História porque tem muitos conteúdos, muitas datas para fixar e

mais, dizendo datas sobre o passado. Neste sentido é indispensável que o professor

estimule os alunos, no sentido de reforçar o papel da cultura extracurricular dos alunos

na interpretação que fazem da História. È sabido que a televisão, o cinema e outras

fontes confrontam os alunos com interpretações do passado diferente daqueles que

aprendem em contexto de sala de aula, dando uma ideia do passado com base no

conceito de progresso e desenvilvimento. Assim é importante que, assim como afirma

Seixas (2000), os alunos na sala de aula quando analisam narrativas históricas

encontrem noções subentendidas de progresso ou declínio.

d) Apelar aos professores de História, autores de manuais que questionem aos alunos

sobre quais as suas ideias do passado e do presente, porque é de extrema importância

que se apresentem aos alunos diferentes explicações sobre o passsado, para que possam

debater e procurar a melhor e a mais válida argumentação sobre quais os objectivos

tiveram no passado e têm no presente. Por isso no meu estudo contrastei os

partecipantes do estudo com diferentes perspectivas sobre a

110

colonização/descolonização, para que percebessem das diferentes explicações em

História sobre um mesmo aconteciemento. Barca & Gago (2001) afirmam que:

Se os alunos forem historicamente educados, as suas concepções

transformar-se-ão em mais racionais, já que não se pretende formar

para um pensamento único, mas sobretudo, estimular a reflexão

sistemática, fundamentada em daodos históricos sobre a realidade

humana e social.

Mas nestas tarefas de trabalhar com fontes históricas de perspectivas diversas, Barca &

Gago (2001) chamam a atenção dos professores para alguns cuidados a ter neste tipo

de abordagans:

♠ O trabalho com fontes na aula de História não pode ser uma tarefa mecânica. Ele

terá de ser ancorado e contextualizado numa situação que faça sentido humano. A

contextualização tem de ser adequada aos alunos em concreto. E não poderá perder-

se de vista que um contexto mais abrangente se vai adquirindo e

compreendendo progressivamente, ao longo das vivências académicas e não

académicas. É com o tempo que se apreende o tempo. E ninguém, mas ninguém,

poderá apreender o contexto histórico total;

♠ As fontes devem ser cuidadosamente seleccionadas, para responderem às questões a

apresentar aos alunos, e em quantidade adequada, de forma a que os alunos não se

percam com a dose da informação fornecida.

♠ As perguntas devem ser claras e objectivas, de forma a que o aluno saiba qual a

tarefa a desempenhar. Perguntas descontextualizadas induzem uma não-resposta, ou

uma resposta desprovida de sentido. Os termos não conhecidos devem ser

descodificados pelo/a professor/a.

4 - LIMITAÇÕES DO ESTUDO

O facto da recolha de dados ter sido circunscrita a uma escola secundaria do

país, poderá ter limitado os resultados obtidos no estudo empírico, uma vez que uma

amostra mais dispersa em termos geográficos poderia eventualmente permitir um

111

leque mais diversificado de ideias talvez relacionadas com experiências diversas

suscitadas por contextos culturais diferenciados.

De qualquer forma, destaque-se que neste estudo descritivo, de natureza

essencialmente qualitativa, não se pretende generalizar os resultados à população do

ensino secundário que tem no seu currículo, a disciplina de História. As tendências de

ideias encontradas, dentro do pressuposto de um modelo de progressão conceptual,

poderão constituir-se apenas como pontos de partida a considerar em hipóteses de

trabalho futuro.

Os dados empíricos deste estudo foram obtidos num contexto investigativo

específico e, portanto, os perfis construídos a partir deles também são específicos desse

contexto. Por outro lado, estes perfis são provisórios, sujeitos a reformulações e

alterações, quer na forma como foram agrupados os níveis e tipos de significância

histórica, quer dos critérios de significância e modos explicativos que lhes estão

subjacentes.

112

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ANEXOS

Anexo I – Estudo Piloto Anexo II - Estudo Final Anexo III – Respostas de três alunos ao questionário reafinado antes da aplicação do estudo final Anexo IV – Caracterização dos Pais Encarregados de Educação da Amostra

120

Anexo I – Estudo Piloto

I PARTE: Quadro I

ESCOLA:

Nome: ____________________________________________________

Turma______; Idade _______Sexo__________

É a primeira vez que frequentas este ano lectivo? ________

121

1. Das personagens que são apresentadas no quadro I, quais consideras importante para a História de Cabo Verde? ______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Justifica as tuas escolhas? ______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3. Das personagens que estão no Quadro I, qual o mais significativo para ti? Justifica a tua escolha. ______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

ESCOLA:

Nome: ____________________________________________________

Turma______; Idade _______Sexo__________

É a primeira vez que frequentas este ano lectivo? ________

122

ESCOLA:

Nome: ____________________________________________________

Turma______; Idade _______Sexo__________

É a primeira vez que frequentas este ano lectivo? ________

II PARTE: TEXTOS A, B e C 4. Tenha em atenção aos seguintes textos, e responda à questão. 4.1. Indica as razões apontadas nos textos A, B e C, a favor do colonialismo e a favor da descolonização de Cabo Verde. A Favor do Colonialismo: ______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

A Favor da Descolonização: ______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

5. Como defenderias o direito à Independência de Cabo Verde? ______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Bom Trabalho!

MUITO OBRIGADA PELA TUA COLABORAÇÃO!

123

TEXTO A A ONU E A DESCOLONIZAÇÃO A Assembleia-Geral, consciente de que na carta das Nações Unidas os povos do

Mundo resolvidos a proclamar de novo a sua fé nos direitos fundamentais do

Homem; na dignidade e no valor da pessoa humana; na igualdade de direitos de

homens e mulheres, tanto nas grandes como nas pequenas nações, e em

favorecer o progresso social instaurando melhores condições de vida e uma

melhor liberdade;

Reconhecendo o desejo apaixonado de liberdade de todos os povos dependentes

e o papel decisivo desses povos no acesso à independência;

Consciente dos crescentes conflitos que provocam a ausência de liberdade destes

povos ou lhes colocam obstáculo que constituem uma grave ameaça à paz

mundial;

Reconhecendo que os povos do Mundo desejam ardentemente o fim do

colonialismo em todas as suas manifestações;

Convencida de que a manutenção do colonialismo impede o desenvolvimento da

cooperação económica internacional; trava o desenvolvimento social, cultural e

económico dos povos dependentes e vai contra o ideal da paz das Nações Unidas

(…);

Persuadida de que o processo de libertação é irreversível e que para evitar crises

é necessário pôr fim ao colonialismo e todas as práticas de segregação e

discriminação que lhes é inerente;

E com este fim declara o que se segue:

1. A sujeição dos povos a uma subjugação, a uma dominação e a uma

exploração estrangeira constitui uma negação dos direitos fundamentais do

Homem, contrária à Carta das Nações Unidas e comprometedora da causa

da paz e da cooperação mundial.

2. A falta de preparação no domínio político, económico, social, ou no campo

da educação não deve jamais servir de pretexto para o retardamento da

independência.

3. Será posto fim a toda a acção armada e a todas as medidas de repressão,

de qualquer tipo que sejam, dirigidas contra os povos dependentes, para

permitir a estes povos exercerem pacífica e livremente o seu direito a

independência completa, e a integridade do seu território nacional será

respeitada.

Resolução nº 1514, de 14 de Dezembro de 1960, em L.

Gothier e A. Troux (orgs.), La Rencontre des Hommes.

124

TEXTO B

A RECUSA DA DESCOLONIZAÇÃO NAS VÉSPERAS DA REVOLUÇÃO DE

ABRIL:

SE NÃO HOUVESSE PESSOAS INGÉNUAS

Se não houvesse pessoas ingénuas que acreditam em tudo quanto lhes dizem, o

papel, de tão estúpido que é, não mereceria dois minutos de atenção. Mas não

faltarão oradores nas próximas reuniões da ONU que perfilhem as idiotices dele.

Ora a verdade é que ainda há pouco tempo um homem da ciência, conhecedor

das realidades cabo-verdianas, depois de visitar o arquipélago afirmava que, «a

actual seca, entrando no seu quinto ano consecutivo, é a mais prolongada de que

há memória, mas também, de todas as que há memória, é aquela que até a gora

menores males causou». E porquê? Porque desde a primeira hora os governos,

central e local, em constante e eficaz colaboração, planearam o auxílio às

populações o qual tem sido prestado oportuna e constantemente. Até agora

ninguém morreu de fome; a população cresceu; e não houve retrocesso, nem se

quer estagnação, no desenvolvimento do arquipélago.

Emigra dele quem quer emigrar. Têm os cabo-verdianos encontrado na metrópole

trabalho remunerado de acordo com as suas condições e toda a simpatia fraterna

de que é merecedora a gente séria e diligente tão abundante entre eles.

Quanto a tal movimento de libertação, lembro que há um ano fui pessoalmente

inteirar-me do estado do arquipélago e da eficiência das providências tomadas.

Andei pela maioria das ilhas no meio do povo, como é meu costume. Falei com

muitas pessoas. Encontrei por toda a parte acolhimento carinhoso, compreensão

dos problemas, reconhecimento do esforço dos governantes, vontade de colaborar

com eles. Mas não encontrei em parte alguma, sinais de tal movimento de

libertação, nem sintomas de opressão desejosa de expansão libertadora. Cabo

Verde precisa daquilo que lhe temos dado sem regatear: amizade, auxílio

financeiro e alimentar, apoio técnico, medidas práticas para combater os efeitos do

flagelo que martiriza as ilhas e para prevenir o futuro. Não precisa de agitadores

palavrosos e enganadores que vivem da mentira e prometem o que não podem

cumprir.

Discurso de Marcelo Caetano na Rádio e na Televisão portuguesa em 14 de

Novembro de 1972, em Razões da presença de Portugal no Ultramar, Lisboa,

Gráfica da SEIT, 1973.

125

TEXTO C

APELO À CONSCIÊNCIA DOS GUINEENSES E CABO-VERDIANOS

(…) Em Cabo Verde o povo está a passar fome por falta de “cachupa”. Mas uma

vez milhares de pessoas morrem de fome por causa do colonialismo português. O

nosso partido já tem duas secções em Cabo Verde, uma em Barlavento e outra

em Sotavento. A nossa luta vai também acabar depressa com o colonialismo

português em Cabo Verde e libertar o povo da fome e da miséria.

(…) Enquanto o povo passa fome na Guiné e morre em Cabo Verde, enquanto a

polícia portuguesa prende e tortura os nosso patrícios, que estão na capital desta

terra, fazem “assembleias que dão em zaragatas, discutem questões pessoais,

arranjam intrigas, sonham com bolsas e estudo na Europa, metem medo a uns e

outros… e dizem que vão libertar todas as colónias portuguesas.

Mas a maioria dos guineenses e cabo-verdianos, que estão a viver nesta terra,

sabem que as coisas assim como estão, não estão bem. Então o que fazer? É

preciso organizar, com urgência, todos os guineenses e a todos os cabo-verdianos

que estão nesta terra. É preciso acabar com as questões pessoais, as intrigas.

Toda a África se liberta do colonialismo. O Mali será independente no dia 20 deste

mês. A República do Congo, o Tchad, a Centrafrique e o Gabão também serão

independentes dentro de 20 dias. E nós? Patrícios!

É já hora de todos os guineenses e cabo-verdianos, que estão nesta terra,

tomarem coragem de acabar, de vez e imediatamente com todas as coisas que

estão a impedir a nossa união. É já hora de nos organizarmos para podermos

reforçar a luta travada pelo nosso povo dentro da nossa terra. Vamos trabalhar

unidos para a libertação dos nossos povos.

UNAMO-NOS TODOS PARA LIBERTAR DEPRESSA A GUINÉ E CABO VERDE.

Conakry, 2 de Junho de 1960 Pelo O Bureao Político do Partido Africano da

Independência Abel Djassi

... jurei a mim mesmo que tenho que dar a minha vida, toda a minha

energia, toda a minha coragem, toda a capacidade que posso ter como homem,

até ao dia em que morrer, ao serviço do meu povo, na Guiné e Cabo Verde. Ao

serviço da causa da humanidade, para dar a minha contribuição, na medida do

possível, para a vida do homem se tornar melhor no mundo. Este é que é o meu

trabalho.

Amílcar Cabral

Seminário de Quadros de 1969

126

Anexo II – Estudo Final

I PARTE: Quadro I

ESCOLA:

Nome: ____________________________________________________

Turma______; Idade _______Sexo__________

É a primeira vez que frequentas este ano lectivo? ________

127

ESCOLA:

Nome: ____________________________________________________

Turma______; Idade _______Sexo__________

É a primeira vez que frequentas este ano lectivo? ________

1. Das personagens que são apresentadas no quadro I, quais consideras importantes para a História de Cabo Verde? ______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Justifica as tuas escolhas. ______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3. Que relações encontras entre as outras personagens (que não escolheste) e a História de Cabo Verde? ______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

128

ESCOLA:

Nome: ____________________________________________________

Turma______; Idade _______Sexo__________

É a primeira vez que frequentas este ano lectivo? ________

II PARTE: TEXTOS A, B e C 4. Tenha em atenção aos seguintes textos, e responda à questão. 4.1.Dos textos A, B e C, quais os que apresentam razões: A Favor do Colonialismo: ______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

A Favor da Descolonização: ______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4.2. O que conheces acerca dos autores dos três textos apresentados?

Texto A

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Texto B

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Texto C

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5. Como defenderias o direito à Independência de Cabo Verde considerando as relações entre países e entre povos? ______________________________________________________________________

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Bom Trabalho!

MUITO OBRIGADA PELA TUA COLABORAÇÃO!

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TEXTO A Reconhecendo que os povos do Mundo desejam ardentemente o fim do

colonialismo em todas as suas manifestações;

Convencida de que a manutenção do colonialismo impede o desenvolvimento da

cooperação económica internacional; trava o desenvolvimento social, cultural e

económico dos povos dependentes e vai contra o ideal da paz das Nações Unidas

(…);

Persuadida de que o processo de libertação é irreversível e que para evitar crises

é necessário pôr fim ao colonialismo e todas as práticas de segregação e

discriminação que lhes é inerente;

E com este fim declara o que se segue:

4. A sujeição dos povos a uma subjugação, a uma dominação e a uma

exploração estrangeira constitui uma negação dos direitos fundamentais do

Homem, contrária à Carta das Nações Unidas e comprometedora da causa

da paz e da cooperação mundial.

5. A falta de preparação no domínio político, económico, social, ou no campo

da educação não deve jamais servir de pretexto para o retardamento da

independência.

6. Será posto fim a toda a acção armada e a todas as medidas de repressão,

de qualquer tipo que sejam, dirigidas contra os povos dependentes, para

permitir a estes povos exercerem pacífica e livremente o seu direito a

independência completa [ e a integridade do seu território nacional será

respeitada ].

Resolução da Assembleia Geral da O.N.U. nº 1514, de

14 de Dezembro de 1960. Porto Editora, 2005.

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TEXTO B

Até agora ninguém morreu de fome; a população cresceu; e não houve retrocesso,

nem se quer estagnação, no desenvolvimento do arquipélago.

Emigra dele quem quer emigrar. Têm os cabo-verdianos encontrados na

metrópole trabalho remunerado de acordo com as suas condições e toda a

simpatia fraterna de que é merecedora a gente séria e diligente tão abundante

entre eles.

Quanto a tal movimento de libertação, lembro que há um ano fui pessoalmente

inteirar-me do estado do arquipélago e da eficiência das providências tomadas.

Andei pela maioria das ilhas no meio do povo, como é meu costume. Falei com

muitas pessoas. Encontrei por toda a parte acolhimento carinhoso, compreensão

dos problemas, reconhecimento do esforço dos governantes, vontade de colaborar

com eles. Mas não encontrei em parte alguma, sinais de tal movimento de

libertação, nem sintomas de opressão desejosa de expansão libertadora. Cabo

Verde precisa daquilo que lhe temos dado sem regatear: amizade, auxílio

financeiro e alimentar, apoio técnico, medidas práticas para combater os efeitos do

flagelo [ da seca] que martiriza as ilhas e para prevenir o futuro. Não precisa de

agitadores palavrosos e enganadores que vivem da mentira e prometem o que

não podem cumprir.

Discurso de Marcelo Caetano na Rádio e na Televisão portuguesa em 14 de

Novembro de 1972, [em Razões da presença de Portugal no Ultramar, Lisboa,

Gráfica da SEIT, 1973]

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TEXTO C

(…) Em Cabo Verde o povo está a passar fome por falta de “cachupa”. Mas uma

vez milhares de pessoas morrem de fome por causa do colonialismo português. O

nosso partido já tem duas secções em Cabo Verde, uma em Barlavento e outra

em Sotavento. A nossa luta vai também acabar depressa com o colonialismo

português em Cabo Verde e libertar o povo da fome e da miséria.

(…) Enquanto o povo passa fome na Guiné e morre em Cabo Verde, enquanto a

polícia portuguesa prende e tortura os nosso patrícios, que estão na capital desta

terra, fazem “assembleias que dão em zaragatas, discutem questões pessoais,

arranjam intrigas, sonham com bolsas e estudo na Europa, metem medo a uns e

outros… e dizem que vão libertar todas as colónias portuguesas.

Mas a maioria dos guineenses e cabo-verdianos, que estão a viver nesta terra,

sabem que as coisas assim como estão, não estão bem. Então o que fazer? É

preciso organizar, com urgência, todos os guineenses e a todos os cabo-verdianos

que estão nesta terra. É preciso acabar com as questões pessoais, as intrigas.

Toda a África se liberta do colonialismo. O Mali será independente no dia 20 deste

mês. A República do Congo, o Tchad, a República Centro – Africana e o Gabão

também serão independentes dentro de 20 dias. E nós? Patrícios!

É já hora de todos os guineenses e cabo-verdianos, que estão nesta terra,

tomarem coragem de acabar, de vez e imediatamente com todas as coisas que

estão a impedir a nossa união. É já hora de nos organizarmos para podermos

reforçar a luta travada pelo nosso povo dentro da nossa terra. Vamos trabalhar

unidos para a libertação dos nossos povos.

UNAMO-NOS TODOS PARA LIBERTAR DEPRESSA A GUINÉ E CABO VERDE.

Conakry, 2 de Junho de 1960 Pelo O Bureau Político do Partido Africano da

Independência Abel Djassi

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Anexo III – Respostas de três alunos ao questionário refinado antes da aplicação do estudo final

JANICE SEMEDO, 19 ANOS SEXO FEMININO, 12ºANO (Repetente) 1ª QUESTÃO: Das personagens que estão apresentadas no quadro que considero mais importantes são: Amílcar Cabral, Eugénio Tavares, Cesária Évora e José Eduardo dos Santos. 2ª QUESTÃO: São personagens que tivera, papéis importantes no passado da nossa história, principalmente na resistência à colonização e ao processo de independência nacional, como Amílcar Cabral e José Eduardo dos Santos como também alguns que estão dando o seu contributo para o desenvolvimento de Cabo Verde como é o caso de Vera Duarte, Presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos. A Cesária Évora e Nácia Gomes grandes intérpretes da música e da cultura cabo-verdiana ou ainda o Presidente da Angola José Eduardo dos Santos, um grande amigo do governo e do povo cabo-verdiano do ponto de vista político e governamental para Cabo Verde. 3ª QUESTÃO: Nelson Mandela, mesmo a distância teve um papel importante na luta dos povos para a independência, direitos humanos e dignidade do povo africano. George Bush como presidente dos EUA, tem uma grande influência no mundo inteiro, principalmente a nível político e económico. Luís Figo é um ídolo desportivo de muitos jovens cabo-verdianos, por isso capaz de influenciar o futebol cabo-verdiano e a vida de muitos jovens desportistas cabo-verdiano. TEXTOS A, B, C 4ª QUESTÃO: 4.1 A FAVOR DO COLONIALISMO O texto B é um discurso fascista do ditador Marcelo Caetano defendendo claramente a manutenção da situação de colonialismo, para isso ele tenta passar a mensagem de que está tudo bem com os cabo-verdianos e que aqueles que prometem a independência e desenvolvimento estão a enganar o povo, na verdade não passa de um discurso falacioso e enganador. Devia ser o povo cabo-verdiano a dizer isso. A FAVOR DA DESCOLONIZAÇÃO Os textos A e C são dois textos que defendem claramente o fim da dominação colonial e da colonização., proclamando o direito de autodeterminação dos povos, os direitos humanos e a dignidade humana. No texto A os membros da Assembleia Geral da ONU declaram que o colonialismo é um atentado ao desenvolvimento, à cooperação e a paz.

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Enquanto que, por outro lado, a texto C põe a tónica no sofrimento e na injustiça que o povo da Guiné e Cabo Verde estavam a passar por causa da colonização. Era preciso organizar-se, unir-se e lutar pela libertação dos dois povos. 4ª QUESTÃO: 4.2 Texto A – A Assembleia Geral da ONU é o órgão máximo da ONU, onde têm assento todos os países membros da ONU. As mais importantes resoluções são daí debatidas e tomadas. Texto B – Marcelo Caetano (1960-1980) político e Presidente de Portugal de 1968 a 1974. Foi um dos protagonistas, pela negativa do processo de descolonização das ex-colónias portuguesas, incluindo Cabo Verde. Texto C - Abel Djassi era o nome da guerra de Amílcar Cabral que assina o voto em representação do Bureau político do PAIGC. Amílcar Cabral é a maior figura da nossa história por isso, por todos conhecidos. 5ª QUESTÃO Eu acho que a defesa fundamental do direito a independência de um país, considerando as relações entre países e povo, deve basear-se no princípio de que não pode haver relações livres, verdadeiras e dignas entre os países e os povos sem que ambos sejam soberanos e titulares dos seus direitos. Por isso Cabo Verde teria que ser necessariamente um país independente. EVILINE PATRÍCIA SEMEDO, 18 ANOS SEXO FEMININO, 12ºANO ( Não Repetente) 1ª QUESTÃO: Os que considero importantes para a História de Cabo Verde são sem dúvida Amílcar Cabral, Cesária Évora, Eugénio Tavares e Nácia Gomes. 2ª QUESTÃO: Escolhi estas personagens pois penso que embora desenvolvendo actividades diferentes todos contribuem para a História de Cabo Verde, quer seja na música, na literatura ou na defesa da liberdade de Cabo Verde. São pessoas que valorizam muito a cultura cabo-verdiana. 3ª QUESTÃO: Entre as que não escolhi, acho que existe uma relação entre os seguintes personagens: José Eduardo dos Santos e Nelson Mendela ambos foram personalidades que lutaram para a liberdade, justiça e igualdade do seu povo e a História de Cabo Verde também teve grandes personalidades na luta de libertação. Quanto aos outros personagens, eu acho que não existe uma

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relação com a História de Cabo Verde, nomeadamente Luís Figo, George Bush. OBS: Todos os personagens cabo-verdianos que estão na primeira parte acho que fazem parte da História de Cabo Verde, simplesmente pelo facto de serem cabo-verdianos. 4ª QUESTÃO: 4.1 Razões a favor do colonialismo: Texto B Razões a favor da descolonização: Textos A e C 4ª QUESTÃO: 4.2 Texto A – O autor é a ONU, uma organização internacional que visa a manutenção da paz e da segurança internacional, portanto toma medidas colectivas e eficazes para prevenir e afastar a ameaça à paz com base nos princípios de igualdade e liberdade entre outros. Texto B – Marcelo Caetano é o homem que substitui Salazar (1968-1974) permanecendo com o regime de ditadura, embora procurando liberalizar o regime sem nunca pôr em causa o fim do regime. Texto C – O autor é o PAIGC ou partido africano de independência Abel Djassi é o nome de guerra de Amílcar Cabral. Foi criado em 1956 na clandestinidade por Amílcar Cabral e outros camaradas para a defesa da autodeterminação da Guiné e Cabo Verde. 5ª QUESTÃO: Defenderia a direito à independência de Cabo Verde primeiramente através da diplomacia, procurando todos os recursos possíveis e indo até à última instância na tentativa de uma solução pacífica. Mas se não resultar a solução é a via violenta sem dúvida. AYANA LIVRAMENTO DOM, 17 ANOS SEXO FEMININO, 12ºANO (Não Repetente) 1ª QUESTÃO: As personagens que considero importantes para a História de Cabo Verde são: Nácia Gomi (Gomes), Amílcar Cabral, Cesária Évora e Eugénio Tavares. 2ª QUESTÃO: Nácia Gomi é uma batucadeira que espalha a nossa cultura pelo país e para fora. Leva-os para todos os cantos do mundo, assim como a Cesária Évora.

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Eugénio Tavares foi um grande poeta, para não dizer o melhor poeta de Cabo Verde. As suas mornas muito conhecidas marcaram a época e a actualidade. Amílcar Cabral é o nosso herói. Não podemos falar da História de Cabo Verde sem o mencionar. Seria um crime tremendo. 3ª QUESTÃO: Nelson Mandela é o “nosso” Amílcar Cabral. Um grande homem que sempre procurou estabilizar a ordem e a paz no mundo. Os outros, uns não reconheço pela fotografia (talvez pelo nome) e outros acho que nada tem a ver com a nossa História. 4ª QUESTÃO: 4.1 A FAVOR DO COLONIALISMO: Texto B A FAVOR DA DESCOLONIZAÇÃO: Textos A e C 4ª QUESTÃO: 4.1 Texto A – ONU (organização das Nações Unidas) é uma organização internacional formada por centenas de países que têm como objectivo garantir a segurança, a paz e a cooperação mundial. Texto B – Marcelo Caetano, foi presidente de Portugal logo após Salazar. Continuou o regime de ditadura mas foi mais “brando” que Salazar. Texto C – Não conheço propriamente Abel Djassi, embora já tenha ouvido falar nele. Conheço o Bureau político do Partido Africano da independência. 5ª QUESTÃO: Faria o mesmo que o PAIGC, iria pelo caminho diplomático, fazendo relações com outros países e recrutando aliados.

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Anexo IV – Caracterização dos Pais Encarregados de Educação da Amostra

PROFISSÃO NOTA HISTÓRIA NOTA

PORTUGUÊS

NOME IDADE MORADA PAI MÃE CA 11º

CA 12º CC

CA 11º

CA 12º CC

Igor 18 Terra Branca N/R Secretaria 15 15 15 10 13 12 Diamantino 20 Calabaceira N/R Doméstica 13 15 14 10 13 12 Georgina 17 A. S. A Funcionário Funcionária 14 14 14 10 12 11 Júlia 18 Tira Chapéu Comerciante Professora 15 13 14 10 11 11

Edmilson 19 Tira Chapéu Pedreiro Doméstica 17 14 15 10 13 12 Edson 19 Varzea Polícia Doméstica 12 11 11 10 12 11 Adérito 17 Ponta D´Água N/R Doméstica 11 16 14 10 14 12 Benvindo 17 Varzea Guarda Doméstica 16 14 15 10 11 11 Milton 18 Achadinha Reformado Doméstica 18 17 17 11 15 13 Carla 17 Eugénio Lima Empresa Doméstica 14 17 16 15 17 16 Anicia 17 Achadinha N/R Doméstica 13 14 14 10 13 12 Suleia 18 A. G.F N/R Funcionária 14 14 14 10 14 12 Evandro 20 Achadinha Condutor Doméstica 15 10 12 10 10 10 Ismael 21 Não encontrei Não encontrei Não encontrei 13 17 14 8 12 10

Celestino 20 Ponta D´Água Guarda Doméstica 11 11 11 10 10 10 Narisa 20 Bela Vista N/R Vendedeira 15 11 13 11 13 12 Carla 19 Terra Branca Emigrante Empregada 12 12 12 12 11 11

Cleidira 19 Varzea N/R Doméstica 11 10 10 10 12 11 Suzete 17 Não encontrei Não encontrei Não encontrei 13 11 11 14 11 12 Rolanda 20 Safende Desemp. Doméstica 15 8 11 10 12 11 Ângela 20 Achadinha Pires Pedreiro Doméstica 13 11 12 8 9 5 Cláudia 19 Varzea Agricultor Recepcionista 12 9 10 9 10 10 Ana 20 Não encontrei Não encontrei Não encontrei 15 13 14 8 11 10 Geisa 19 Eugénio Lima N/R Doméstica 15 14 14 8 11 10 Ivanilda 19 Achadina N/R Doméstica 12 12 12 8 13 11 Evanito 18 Eugénio Lima Inspector M.E Doméstica 13 10 11 13 13 12 Noylene 17 A.S.A Funcionário Funcionária 13 15 14 10 13 12 Andreia 19 Bairro N/R Professora 13 14 14 10 14 12 Elisângela 19 A.G.F N/R Funcionária 13 8 10 13 13 13 Edson Horta 18 Achadinha Reformado Doméstica 17 17 17 11 15 13 Cristina 18 A.S.A Serrelheiro Telefonista 16 15 15 11 14 13 Ilídio 19 N/R Carpinteiro N/R 14 16 15 11 11 11

André C 18 N/R Emigrante Doméstica 17 18 18 13 14 14 António 19 Achadinha Polícia Doméstica 11 13 12 10 10 10 Cíndria 17 Calabaceira Gerente Doméstica 18 18 18 16 16 16 Lenine 17 Achadinha Funcionário Doméstica 15 15 15 11 12 12 Cátia 17 Calabaceira N/R Calabaceira 14 12 13 11 13 12

Artemisa 17 Não encontrei Não encontrei Não encontrei 11 12 12 10 10 10 Carla 17 Calabaceira Funcionário Doméstica 14 11 12 12 13 13 Menely 18 Varzea Agricultor Doméstica 18 15 16 10 15 13

Elisângela 17 Achadinha Instrutor Técnica Hospital

17 16 16 11 14 13

Arikson 18 Não encontrei Falecido Não encontrei 11 8 10 10 10 10 Angelina 18 Varzea N/R Funcionária 13 14 14 13 14 14 Josimar 20 Varzea N/R Doméstica 13 13 13 9 12 12 José 18 Achadinha Jornalista Funcionária 12 8 10 9 11 10

Idalina 20 Achadinha Funcionário N/R 15 16 16 13 14 14 Adilson 21 Calabaceira Carpinteiro Doméstica 10 10 10 8 10 6 Indira 19 Achadinha Agricultor Doméstica 13 13 13 8 9 5

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