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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS PROGRAMAÇÃO DOS GRUPOS DE TRABALHO 28/11/2018 I QUARTA- FEIRA_____________________________________________ 14:00 ÀS 15:30 GT 1.1: POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA ENTRE RELAÇÕES SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS RESUMOS Mariana Davi Ferreira (Universidade Estadual da Paraíba) Política Externa Brasileira e burguesia industrial em tempos de colapso do neodesenvolvimentismo: algumas hipóteses em debate Este artigo analisa o posicionamento e a atuação política da burguesia industrial brasileira no que tange à política externa do Brasil na atual crise econômica e político-institucional. A perspectiva é apreender a inflexão no posicionamento desse setor da burguesia brasileira, que abandonou a defesa do neodesenvolvimentismo durante os governos petistas e passou a apoiar um projeto neoliberal ortodoxo, no que tange à política econômica e à política externa. A burguesia industrial brasileira compõe a grande burguesia interna, fração de classe que compôs o bloco no poder dos governos petistas e obteve ganhos econômicos de destaque nesse período. Os setores econômicos que compunham este bloco se movimentavam e aglutinaram-se na defesa do neodesenvolvimentismo. Para defender seus interesses e atuar na luta política, a burguesia industrial se organiza em entidades e associações como a Fiesp e a CNI. Assim, neste trabalho buscamos compreender os fatores que resultaram na inflexão no posicionamento da Fiesp e da CNI no que tange à política externa para o comércio exterior no período da crise político-institucional, apontando algumas hipóteses iniciais. Para tal, a pesquisa foi de caráter qualitativo e exploratório, realizado por meio da análise dos documentos elaborados pelas entidades à luz da Teoria Social Crítica.

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES

INTERNACIONAIS

PROGRAMAÇÃO DOS GRUPOS DE TRABALHO

28/11/2018 I QUARTA-FEIRA_____________________________________________

14:00 ÀS 15:30

GT 1.1: POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA ENTRE RELAÇÕES SOCIAIS, POLÍTICAS E

ECONÔMICAS

RESUMOS

Mariana Davi Ferreira (Universidade Estadual da Paraíba)

Política Externa Brasileira e burguesia industrial em tempos de colapso do

neodesenvolvimentismo: algumas hipóteses em debate

Este artigo analisa o posicionamento e a atuação política da burguesia industrial brasileira

no que tange à política externa do Brasil na atual crise econômica e político-institucional.

A perspectiva é apreender a inflexão no posicionamento desse setor da burguesia

brasileira, que abandonou a defesa do neodesenvolvimentismo durante os governos

petistas e passou a apoiar um projeto neoliberal ortodoxo, no que tange à política

econômica e à política externa. A burguesia industrial brasileira compõe a grande

burguesia interna, fração de classe que compôs o bloco no poder dos governos petistas e

obteve ganhos econômicos de destaque nesse período. Os setores econômicos que

compunham este bloco se movimentavam e aglutinaram-se na defesa do

neodesenvolvimentismo. Para defender seus interesses e atuar na luta política, a

burguesia industrial se organiza em entidades e associações como a Fiesp e a CNI. Assim,

neste trabalho buscamos compreender os fatores que resultaram na inflexão no

posicionamento da Fiesp e da CNI no que tange à política externa para o comércio exterior

no período da crise político-institucional, apontando algumas hipóteses iniciais. Para tal, a

pesquisa foi de caráter qualitativo e exploratório, realizado por meio da análise dos

documentos elaborados pelas entidades à luz da Teoria Social Crítica.

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Solange Pastana de Góes (UERJ)

A política externa brasileira nos governos FHC e Lula e a concepção gramsciana de “Estado

integral”

O campo de estudo da análise de política externa busca compreender como se dá a

participação internacional dos Estados a partir da investigação de como é composta,

formulada e executada a política externa dos diversos países que fazem parte do sistema

internacional. Concentra-se em entender as estratégias de ação e inserção internacional

dos Estados a partir da investigação de elementos políticos internos. Nesse sentido,

estabelece dialogo com estudos acerca das formações institucionais, materiais, culturais e

psicológicas tanto do campo político quanto da sociedade civil. O objetivo desse trabalho é

o de analisar as linhas gerais da política externa brasileira nos governos FHC e Lula, em

especial naquilo que se refere às concepções institucionalistas pragmáticas e

universalistas e a consideração dos interesses de diferentes atores em relação aos

fundamentos desses paradigmas de política externa, a partir da ideia de Estado Integral de

Antônio Gramsci. Busca-se no conceito de Estado Integral ou Estado Ampliado a

compreensão da relação entre a sociedade política e a sociedade civil brasileira no que se

refere ao projeto de inserção internacional do país. Segundo Gramsci, o Estado busca se

legitimar por meio da conquista de parte dos interesses das classes que formam a

sociedade civil e que são compostas por elementos institucionais e culturais. Parte-se do

pressuposto de que a política externa formulada pelo Estado brasileiro reflete também a

luta de classe presente na sociedade civil. No que diz respeito à formulação e à

implementação da política externa brasileira, o Itamaraty é tido como instituição insulada,

representante do interesse do Estado sem incorporar bandeiras partidárias e, portanto,

desvinculado dos conflitos e disputas da política interna. Todavia, a característica insular e

a legitimidade dos diplomatas frente à formulação e implementação da política de Estado é

passível de questionamento a partir da relação que Gramsci faz entre a sociedade política,

a sociedade civil e os intelectuais.

Gustavo Oliveira Teles de Menezes (PPGRI San Tiago Dantas)

O Brasil e as questões do Kosovo e da Crimeia

A independência do Kosovo apoiada pelos EUA (2008) e a anexação da Crimeia pela Rússia

(2014) são episódios marcados pela tensão entre o uso discricionário do poder, de um

lado, e a concertação multilateral e a normatividade legal, do outro, na política

internacional. O Brasil, apesar de não ter reconhecido nenhuma dessas mudanças

territoriais, comportou-se de forma distinta quanto aos dois casos. O país, assim como a

Rússia, não só não reconheceu a independência do Kosovo por considerá-la uma violação

de princípios do direito internacional e do multilateralismo, como criticou a atuação dos

EUA nesse sentido. Já quanto à Crimeia, onde considerações de natureza similar estiveram

em jogo, o país, apesar de formalmente defender a integridade territorial da Ucrânia,

absteve-se de criticar a Rússia, que - a grande contragosto de Washington - absorveu a

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região ao seu território sem o consentimento de Kiev. Os dois eventos ocorreram no

horizonte temporal dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil, período em

que o país, em especial nas gestões presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva,

reconhecidamente buscou transformar a ordem internacional dominada pelos EUA.

Amparado principalmente na fase de crescimento econômico que vivia, o Brasil também

tencionou minorar a assimétrica distribuição de poder no sistema internacional em favor

de Washington. Para atingir esses fins, apostou tanto no multilateralismo e na retórica

defensora do direito internacional quanto na formação de coalizões com países de

interesses convergentes a respeito da ordem internacional. Destaca-se, nesse último

aspecto, exatamente a Rússia, uma das protagonistas do BRICS em conjunto com Brasília.

Tendo em vista esse quadro, o objetivo do trabalho é compreender a aparente contradição

entre as posturas do Brasil com respeito às questões do Kosovo e da Crimeia. Para tanto,

faz-se uso da histórica noção de “projeto autonomista” na política externa brasileira, isto é,

a busca pela mitigação das assimetrias de poder que constrangem a atuação independente

do Brasil na arena internacional. Analisando os referidos traços da política externa

brasileira nos governos do PT à luz desse conceito, argumenta-se que as diferenças no

posicionamento brasileiro podem ser explicadas pela percepção de que as posturas dos

EUA nos dois casos, em termos de suas implicações para a ordem internacional,

representavam maiores constrangimentos para o empreendimento autonomista.

DEBATEDOR: CAMILO LOPES (ICP - FSC – UDELAR)

GT 1.2: POLÍTICA EXTERNA PARTINDO DE CONJUNTURAS BRASILEIRAS E ARGENTINAS

RESUMOS

Jéssica Germano de Lima Silva (Escola de Guerra Naval / AMAZUL)

Crescentes desafios da liderança brasileira em seu entorno estratégico

Com a decorrência de alterações estruturais na ordem internacional, os Estados passaram

a possuir demandas de agendas e esferas até então não conjecturadas, as quais exigiam

respostas distintas das convencionalmente adotadas. Com o objetivo de lidar com tais

questões, os Estados passaram a buscar alternativas de atuação, sendo uma delas a

cooperação internacional com seus pares e instituições. Observa-se que tal articulação

seria oportuna tanto para a consolidação dos interesses nacionais do Estado brasileiro no

cenário internacional, como para a sua projeção de poder, de maneira positiva. Desta

forma, o presente trabalho busca examinar a atuação brasileira na cooperação com seus

pares, no entorno estratégico do Atlântico Sul, visando garantir seus interesses

estratégicos, de modo a evitar a presença de Estados exógenos à região. O espaço possui

relevada importância geopolítica e geoestratégica para o Brasil e demais Estados da

região, de forma em que urge a necessidade de protegê-lo e garantir o pleno acesso a seus

recursos e potencialidades. Ressalta-se ainda que espaço apresenta-se sujeito a uma série

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vulnerabilidades. Parte-se do pressuposto que os projetos de cooperação internacional,

em distintas áreas, podem ser utilizados para a aproximação entre os Estados, de forma a

construir uma identidade regional ao passo em que evitam a militarização da mesma,

reforçando os pilares da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS). O trabalho

constitui-se a partir de uma revisão de literatura de cooperação internacional, construindo

uma análise através do método indutivo, utilizando dados e informações quantitativos e

qualitativos, oriundos de fontes bibliográficas e documentais. A teoria da

interdependência complexa é utilizada para embasar o estudo. Percebe-se que as

instituições no âmbito do entorno estratégico do Atlântico Sul são incipientes e carecem

de maior institucionalização, embora sejam observadas como uma boa oportunidade para

a inserção brasileira na região, assim como projeção internacional do país. Ademais,

observa-se que na região destacam-se atores como a Marinha do Brasil, que fomentam e

desenvolvem atividades de cooperação com o objetivo de resguardarem os interesses do

Brasil no espaço em questão. O espaço geoestratégico é envolto por diversas

oportunidades, riquezas, ameaças e vulnerabilidades, ao passo em que se apresenta como

importante para o Brasil no alcance de seus objetivos no cenário internacional.

Ariane Costa dos Santos (UERJ)

Brasil e Argentina em Perspectiva: a autonomia e a aquiescência 1989 e 2001

Esta pesquisa visa analisar as dinâmicas de associação de Brasil e Argentina em relação

aos Estados Unidos entre 1989 e 2001, período de implementação da estratégia de

alinhamento por parte do governo argentino e de autonomia pela integração por parte do

Brasil. Para isso, serão analisados em perspectiva comparada os paradigmas de política

externa implementados por ambos os países no período: realismo periférico, na Argentina,

e institucionalismo pragmático, no Brasil. Como apoio conceitual será utilizada a

dicotomia autonomia e aquiescência de Russell e Tokatlián (2013), assim como a aplicação

das quatro estratégias categorizadas pelos autores para a ação política de Estados não

centrais; a saber: equilíbrio brando ou soft balancing; diversificação; recuo (tradução

nossa) e unidade coletiva. O objetivo principal da pesquisa é responder quais as principais

causas de um comportamento diferente entre dois países com históricos e capacidades

materiais similares.

Beatriz Bandeira de Mello Souza e Silva (UNIRIO)

A política externa de Maurício Macri: estudo de caso sobre o papel argentino na crise da

Venezuela

O presente trabalho analisa a Política Externa Argentina institucionalizada pelo presidente

Maurício Macri, eleito em dezembro de 2015. O objetivo do trabalho é identificar as

características do atual modelo de inserção internacional argentino frente aos desafios

diplomáticos regionais a partir de um contraste com a posição defendida pelo país nos

anos Kirchner. A discussão parte de um estudo de caso sobre o papel da diplomacia

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argentina na escalada da crise na Venezuela - que culminou com a suspensão do país do

Mercosul. Para alcançar o objetivo pretendido, a metodologia empregue terá como base

uma análise crítica dos discursos oficiais do presidente Maurício Macri e dos chanceleres

que compõem o Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, bem como dos comunicados e

notas emitidos pelo órgão governamental no período entre 2016 e 2017. Sugere-se que a

postura assumida pela diplomacia argentina e, em particular, pelo presidente Maurício

Macri, representa uma ruptura com o governo anterior que assumiu um viés de integração

regional pautado pelo alinhamento aos interesses dos países da América Latina. Os

resultados parciais apontam para uma proposta de política externa guiada por princípios

liberais, visto que o discurso entoado pelo presidente Maurício Macri e por seus

chanceleres, Susana Malcorra e Jorge Faurie, se baseou em quatro eixos fundamentais: a

opção pelo diálogo e a conciliação entre governo e oposição venezuelana, a defesa da

democracia e dos direitos humanos em instâncias internacionais – preponderantemente a

OEA -, a não-ingerência, e a pauta econômica e comercial. Sugere-se também que a

preocupação com a Venezuela, para além do cumprimento dos princípios democráticos foi

a instabilidade que a crise poderia provocar no Mercosul – afetando as pretensões

argentinas no bloco e consequentemente o acordo com a União Europeia, um dos pilares

da política externa atual. A conclusão apresenta algumas características da estratégia

adotada em relação à Venezuela e as bases do projeto de Política Externa Argentina de

Maurício Macri.

Rafael Macedo da Rocha Santos (UFRJ)

Las hermanitas perdidas: um estudo comparado entre as políticas internas e externas

argentinas para as ilhas Malvinas (1946-1982)

As ilhas Malvinas representaram um dos poucos pontos de convergência para os

argentinos durante a segunda metade do século XX. A causa atravessou gerações como um

problema irresoluto em um país cada vez mais dividido internamente. Diante de

sucessivas turbulências políticas, sociais e econômicas, a sociedade daquele país

materializou no arquipélago, em litígio com os britânicos desde 1833, uma saída para

diversos problemas domésticos urgentes. Nesse sentido, esse projeto busca relacionar

comparativamente as políticas internas e externas da Argentina para as ilhas Malvinas

entre 1946 e 1982.

DEBATEDOR: FIDEL FLORES (UNB)

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GT 1.3: DIFERENÇA E TOLERÂNCIA NAS RI

RESUMOS

Taís Souza Carareto (UFU)

Feminismos, gênero e Relações Internacionais: um diálogo necessário

O presente trabalho busca analisar as Relações Internacionais por meio das lentes

oferecidas pelas teorias feministas e pelos estudos de gênero. Nessa direção, o objetivo

central desta pesquisa está em apresentar tais abordagens enquanto alternativas

necessárias ao mainstream das Relações Internacionais – capazes de contribuir para o

melhor entendimento e exame do cenário internacional atual. Com efeito, compreende-se

que as significativas transformações que demarcaram o sistema internacional a partir da

década de 1980, aliadas ao Terceiro Debate, fizeram com que novas e plurais questões (e

preocupações) ocupassem relativo espaço na agenda das Relações Internacionais.

Iniciava-se, então, um movimento de questionamento com relação às formas pelas quais o

sistema internacional vinha sendo entendido e explicado até então. Desse modo, o

procedimento técnico adotado é baseado essencialmente em pesquisa bibliográfica,

fundamentada em materiais já desenvolvidos acerca da temática – tais como: livros,

publicações em periódicos, artigos científicos e documentos oficiais. Assim, para alcançar a

proposta central deste estudo, em um primeiro momento, é feito um levantamento sobre

as principais perspectivas e definições do conceito de gênero, tomando como referências

centrais as formulações de Joan W. Scott. Ainda no que tange ao arcabouço teórico basilar

para esta pesquisa, é apresentado o debate proporcionado pelas teorias feministas e como

este se desenvolveu no campo das Relações Internacionais – indicando, nessa direção,

algumas das principais contribuições da abordagem feminista para a construção de um

novo programa de pesquisa para a disciplina. Por fim, valendo-se das ferramentas teóricas

anteriormente apresentadas, é feita uma breve análise do uso do estupro enquanto arma

de guerra – frisando, neste ponto, a relevância destas abordagens para os estudos de

Segurança. Conclui-se, nesse sentido, que as teorias do mainstream das Relações

Internacionais já não se fazem suficientes para analisar o sistema internacional

contemporâneo – e, especialmente, são insuficientes para analisar determinadas questões

de Segurança. Outra conclusão alcançada está no fato de que, tendo sido construídas sobre

binarismos hierarquizantes, as abordagens tradicionais da disciplina desconsideram – e

até mesmo excluem – as experiências das mulheres e de outros grupos marginalizados.

Henrique Brenner Gasperin (PUC-Rio)

O dilema da diferença e as fronteiras obscuras das Relações Internacionais

Com o presente trabalho, inspirado em discussões tidas ao longo de uma disciplina

curricular, eu me proponho a avaliar criticamente algumas das bases teórico-filosóficas

caras às Relações Internacionais. Almejando uma problematização da dimensão

“modernizante” das RI – presente, principalmente, nos discursos e práticas inspirados na

Teoria da Paz Liberal – abordarei princípios da filosofia kantiana, entendendo-os como

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centrais na constituição da disciplina, tanto na sua dimensão teórica quanto prática. A

partir daí, trarei contribuições de pensadores “reflexivistas” para evidenciar algumas

dimensões políticas normalmente renegadas por uma grande parte dos estudos de

Relações Internacionais, especialmente no que tange à dimensão da raça. Por fim, farei

algumas considerações e reflexões de base pós-colonial com base nas discussões

realizadas para refletirmos sobre nosso posicionamento enquanto pesquisadores/as de RI.

Juliana de Santana Oliosi (Universidade Metodista de São Paulo)

Religião e Relações Internacionais: perspectivas teóricas na análise de movimentos cristãos

da sociedade civil

Ao longo das décadas, especialmente considerando os marcos internacionais do

estabelecimento da Carta da ONU e da Declaração Universal dos Direitos Humanos,

questões de direitos humanos tornaram- se uma característica dominante do sistema

internacional, envolvendo novos atores, e enfraquecendo o conceito tradicional de

soberania westfaliana. Isso progressivamente levou a uma aceitação de que a o tratamento

de indivíduos e grupos dentro das sociedades domésticas é legitimamente um foco de

atenção global. Nesse sentido, este trabalho defende a necessidade e a relevância de olhar

para questões internacionais relacionadas às religiões, considerando também os aspectos

nacionais e locais que compõe as religiões e os fenômenos sociais religiosos. A conjuntura

atual, de recrudescimento de movimentos conservadores nos campos da política e da

cultura, também inspira análises mais detalhadas da interseccionalidade entre Religião e

Relações Internacionais. A proposta aqui apresentada pretende debater a relação entre as

teorias de Relações Internacionais e os estudos de Religião e refletir sobre as defasagens

teóricas na abordagem de fenômenos religiosos no cenário internacional. O objetivo da

discussão é auxiliar em uma pesquisa em andamento sobre grupos transnacionais de

advocacy da sociedade civil, de cunho religioso cristão, que atuam internacionalmente na

defesa pela liberdade religiosa com o objetivo alegado de defender o Cristianismo. Pela

lente das Relações Internacionais, esse fenômeno será debatido com o suporte do

Construtivismo. Para discutir o peso que a fé e as motivações religiosas têm nesses

processos, aportes acadêmicos da área de estudos da religião serão somados à pesquisa

em andamento.

Rafael Jordan de Andrade Campos (PUC - Rio)

O triângulo rosa e a estrela amarela: uma análise dos binarismos de gênero e

heterossexualidade na construção estatal da Alemanha levando ao genocídio nazista

Este trabalho busca analisar os processos de formação, cristalização e (re)produção de

binarismos de gênero e heterossexistas do Estado-Nação, enquanto unidade política no

sistema europeu westfaliano através do nacionalismo, fenômeno esse que se constitui

como uma manifestação particularmente potente de identificação política na

modernidade. O trabalho se desenvolve a partir do entendimento de que essas dicotomias

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e binarismos promovem uma negligência da emoção, desejo, sexualidade, cultura e,

portanto, dos processos de identidade e identificação (PETERSON, 1999). Isso tipicamente

pressupõe que o modelo eurocêntrico de agente (sujeito) como unitário e autônomo

profundamente enraizado nas Relações Internacionais se desfaz quando analisamos certos

episódios de conflitos, como o genocídio, o que por sua vez expõe a ilusão de

homogeneidade fomentada pelas narrativas nacionalistas. Usando o Holocausto como um

estudo de caso, demonstro como a conjuntura da ideologia e prática heterossexista é

inextricável a partir da centralização da autoridade política/poder coercitivo a que nos

referimos como “statebuilding” e que buscam através de uma homogeneização patológica

(RAE, 2002), a aniquilação física de indivíduos considerados indesejáveis. Este trabalho,

portanto, pretende fornecer uma análise coesa e minuciosa da relação entre a produção da

sexualidade e dos binômios de gênero do Estado Nacional Alemão e sua relação com o

desenvolvimento do genocídio nazista (1933-1945).

DEBATEDORA: TATIANA OLIVEIRA (IESP-UERJ)

GT 1.4: AGÊNCIA E ESTRUTURA: VISÕES TRADICIONAIS E CRÍTICAS

RESUMOS

Pedro Txai Leal Brancher (IESP/UERJ)

Estrutura e agência nas Relações Internacionais: relação entre processo de construção do

Estado e a evolução dos sistemas políticos internacionais

O artigo analisa dos efeitos da competição social em diferentes níveis para os

processos evolutivos da estrutura de sistemas políticos internacionais, sistemas

políticos nacionais e estados. A hipótese é que as interações entre as estratégias dos

agentes para enfrentar a competição com que se deparam causam mudanças ao longo

do tempo nos sistemas políticos internacionais, nacionais e estados. Para tanto,

discute-se a ontologia de cada um dos objetos de analise, enfatizando-se as

características dos Sistemas Políticos Internacionais. Assim, na primeira seção trata-se

de analisar os pressupostos da anarquia e da baixa especialização funcional presentes

no modelo de Kenneth Waltz. Na segunda seção, critica-se a perspectiva determinístico em

relação a formação de balanças de poder. Desse modo, caracteriza-se os SPI como sistemas

sociais abertos nos quais há mecanismos concorrentes em disputa. Por conta disso,

entende-se que não há necessidade de reprodução ao longo do tempo do princípio da

anarquia, mas sim há existência de múltiplas trajetórias evolutivas para Sistemas Políticos

Internacionais. Por fim, avalia-se o modelo analítico discutido nas duas primeiras seções a

partir da obra de Victoria Tin-Bor Hui sobre o processo de formação do Império Qin na

China antiga. Naquele contexto, um longo período no qual o princípio da anarquia

predominou entre os reinos em conflito chegou ao final em função da adoção de reformas

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fortalecedoras e estratégias de desestabilização de alianças que tornaram a concentração

dos meios de coerção um processo de reforço positivo.

Matheus Sousa Marques (UERJ)

Por uma "Virada Prática" nas Relações Internacionais: Pierre Bourdieu e o Campo

metodológico da disciplina

A vasta produção do sociólogo francês Pierre Bourdieu ainda encontra resistências no

campo teórico das Relações Internacionais. Mesmo sendo considerado um dos maiores

pensadores do século XX, os conceitos e ideias de Bourdieu demoraram para ganhar

espaço na arena internacional. Esse diálogo, mesmo que recente, vem se mostrando

frutífero para o desenvolvimento de formas e práticas de saber que buscam alternativas às

correntes teóricas hegemônicas da disciplina, que se comportam como instrumento de

dominação instrumentalizadas por acadêmicos inseridos nos extremos dominantes dos

Campos. Um elemento distinto no trabalho do autor é sua abordagem a partir da

construção de interações diretas com o mundo empírico. Tal fato influencia novas

abordagens teóricas das R.I. guiadas por uma chamada “Virada Prática” na disciplina. O

sociólogo procura dissolver a distinção entre a dicotomia teoria/realidade ao passo que

demonstra a impossibilidade de produção de ciências puramente objetivas. Nesse sentido,

é demonstrado um processo de reflexão prática sobre o próprio papel do pesquisador,

através de práticas que enfatizam a produção de conhecimentos contextuais, a partir de

determinados pontos de vista políticos, geográficos e históricos. Essa reflexividade prática

demonstra um reconhecimento sobre o Campo e o Habitus (conceitos bourdieusianos)

como pilares de pesquisa. O que a abordagem de Bourdieu oferece é a oportunidade de

combinação de pesquisas empíricas com filosofias reflexivas sobre o próprio processo de

“fazer ciência” na tentativa de superar tensões e violências tanto objetivas quanto

subjetivas e simbólicas. Os conceitos expostos podem ajudar na compreensão das lógicas

estruturais que agem sobre as Relações Internacionais continuamente. Além disso, a

maneira como o sociólogo francês encara a produção de conhecimento pode revolucionar

a produção teórica dominante de R.I. atual, pautada pelo positivismo metodológico e por

ontologias soterradas. O presente trabalho busca suprir, mesmo que de maneira sucinta,

essa necessidade de aproximação entre teoria e prática, procurando mostrar como a

sociologia reflexiva bourdieusiana, a partir de sua epistemologia e metodologia distintas,

pode contribuir para os grandes debates das R.I.

DEBATEDORA: LORENA GRANJA (IESP-UERJ)

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GT 1.5: DIREITOS HUMANOS EM CONTEXTOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS: TEORIA E

PRÁTICA

RESUMOS

Roberta Maria Botelho Bevilacqua (Universidade Federal de Uberlândia)

As cidades-santuário nos EUA e o contra movimento do Texas: o caso da lei SB-4

O presente trabalho tem o objetivo de analisar o movimento das cidades-santuário nos

EUA, com foco no período da administração Trump, e contrapor essas atividades com o

caso do Estado do Texas, através de um estudo de caso da implementação da lei de

imigração SB-4. Considerando o contexto atual da política imigratória do Presidente dos

EUA, de cunho extremamente conservador e xenofóbico, as cidades-santuário vêm

ganhando destaque através da forma pela qual têm procurado lutar contra essas políticas,

propiciando ao imigrante maior segurança e dignidade para viver no país. Em relação às

medidas implementadas nessas localidades pode-se perceber que elas abrangem desde a

instauração de políticas locais de combate às ordens da polícia federal imigratória e de

proteção do imigrante, além do engajamento em diversas batalhas judiciais contra as

medidas que vem sendo instituídas pelo governo federal, como no caso dos banimentos de

viagem. No caso do Texas, percebe-se uma aproximação maior com o direcionamento de

política imigratória federal, mesmo sendo constituído por uma população imigrante

abundante. Principalmente com a criação da lei SB-4 em 2017, conhecida como lei “show

me your papers”, a qual, dentre outras provisões, obriga as forças policiais locais a

questionar o status de imigração de quaisquer indivíduos que julguem necessário, não

apenas aqueles que se envolvam com crimes, o Texas vem sendo considerado um estado

hostil, com uma das legislações mais rigorosas em questão de imigração em todo o país. Os

argumentos contrários a lei circulam ao redor da destruição da relação entre forças

policiais locais e as comunidades de imigrantes, fomento ao medo do imigrante e possíveis

perdas econômicas; já o argumento a favor está calcado principalmente na maior sensação

de segurança entre os residentes que a lei geraria. Como conclusão, nota-se que o

movimento do Texas é completamente contrário a proposta das cidades-santuário, pois,

ao desenvolver a SB-4, não é somente o imigrante que passa a se ver em diversas situações

de risco, mas também o próprio estado, ao gerar possibilidades de perdas econômico-

sociais.

Gustavo do Amaral Loureiro (UNIRIO) e Luiz Felipy dos Santos Costa Leomil (Unilasalle-

RJ)

Do Princípio à Prática: um estudo sobre as políticas públicas para Direitos Humanos e o caso

do refúgio no Canadá

Bucci (2001) argumenta que os Direitos Humanos são, em geral, tratados como valores

que devem compor o ''espírito das normas'', sendo expressos mais frequentemente em

princípios que em regras de fato. No entanto, entende-se que, além de princípios

orientadores, é necessário que os Direitos Humanos sejam capazes de agir para corrigir ou

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amenizar as injustiças causadas ou agravadas pelas desigualdades entre os indivíduos e

sociedades (BIELEFELDT, 2006). Assim, chega-se a seguinte questão: quais medidas ou

ações devem ser tomadas para que as normas de Direitos Humanos deixem de ser

somente princípios distantes da realidade e, de fato, tenham repercussão nas sociedades?

Este trabalho parte da hipótese de que o melhor caminho, assim como proposto por Bucci

(2001), seria a construção de políticas públicas voltadas a proteção e/ou garantia desses

direitos. A fim de testar esta hipótese, através do método dedutivo, este artigo propõe um

estudo de caso do sistema de refúgio no Canadá – primeiramente normatizado como lei na

segunda metade dos anos 1970, de maneira tardia – a fim de observar os efeitos causados

pela construção de uma política pública apropriada para abordar o problema em questão.

Um país que aderiu tardiamente aos acordos internacionais sobre o refúgio, o Canadá, ao

longo das últimas décadas, não somente adequou-se às normas propostas pela

comunidade internacional, como, ainda, tornou-se referência na recepção, proteção e

reassentamento de refugiados. A conclusão obtida por este trabalho é de que, assim como

elucidado por Bucci (2001), políticas públicas seriam essenciais para a concretização e

implementação das normas internacionais voltadas aos Direitos Humanos. Também,

levando em conta a experiência do Canadá, apesar da aderência tardia do país às

convenções internacionais voltadas ao refúgio, a construção de políticas públicas o

possibilitou não somente uma adequação às normas, mas, também, uma expansão de sua

atuação na área, fato responsável por sua atual reputação no que tange o tratamento dos

migrantes forçados.

Guilherme Antunes Ramos (UERJ)

Apatridia no Século XXI: um estudo sobre os “Sem direitos” em plena Era dos Direitos

O artigo objetiva, fundamentalmente, analisar as principais questões referentes ao

fenômeno da apatridia no século XXI, tendo por norte as vulnerabilidades em que se

encontram as pessoas apátridas e o despojo de seus direitos em uma época em que,

paradoxalmente, emerge um inédito arcabouço jurídico-institucional de alcance

internacional destinado à proteção dos direitos humanos, consagrando um inédito acesso

a esses direitos (a denominada “Era dos Direitos”). Avalia-se que, muito embora a

crescente internacionalização dos direitos humanos tenha resultado na celebração de um

conjunto de direitos a serem universalmente usufruídos, o vínculo de pertencimento

nacional ainda mantém-se muitas vezes como um requisito indispensável para o acesso a

direitos considerados como fundamentais a uma existência digna. Nesse sentido, persiste

como uma necessidade premente à comunidade internacional e às instituições inseridas

no Sistema ONU a criação de mecanismos de proteção aos apátridas, bem como o

aperfeiçoamento dos já existentes. Buscar-se-á: (a) esclarecer a definição de apátrida, em

consonância com instituições internacionais a exemplo da Convenção de 1954 sobre o

Estatuto dos Apátridas, (b) mapear os principais regimes internacionais aplicáveis ao

fenômeno da apatridia, (c) identificar as principais origens desse fenômeno na

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contemporaneidade, e (4) apresentar dados relevantes sobre os apátridas,

disponibilizados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

Ademais (5), espera-se adentrar em algumas particularidades do Brasil, destacando como

o país vem se posicionando em relação ao fenômeno da apatridia, a quais regimes

internacionais relacionados a este tema já aderiu, e como a legislação interna, mormente a

recente lei nº 13.445/2017 (Lei de Migração), aborda a questão. Em síntese, trata-se de

um trabalho de natureza introdutória que busca apresentar a apatridia em seus aspectos

mais relevantes, tendo por mote a contraposição entre a consagração de direitos ditos

universais com a persistência de um requisito que subverte dita universalidade, a saber, o

gozo de uma nacionalidade. Em termos metodológicos, pretende-se proceder à consulta a

dados tornados públicos por organizações como o ACNUR, declarações, acordos e

convenções internacionais, e leis internas do Brasil. Os itens mencionados comporão as

fontes primárias de pesquisa, que serão complementadas por fontes secundárias, as quais,

em sua essência, corresponderão a uma bibliografia de apoio que versará sobre a apatridia

e sobre o sistema internacional de proteção aos direitos humanos. O recurso a essas fontes

permitirá a avaliação crítica dos resultados manifestos nos dados, além de apontar as

limitações das leis e regimes internacionais que tratam do tema.

DEBATEDORA: IVI ELIAS (UERJ)

16:00 ÀS 17H30

GT 1.6: CULTURA, ARTE E EDUCAÇÃO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

RESUMOS

Mariana Pimenta Bueno (UNIRIO)

Museu e colonialidade: a repatriação museológica como instrumento de luta

Não obstante as vitórias na luta pela independência no século XX no continente africano, a

ideia de tutela e proteção europeia dos povos africanos reflete até hoje em alguns

aspectos, como a permanência artefatos africanos em museus europeus. Intelectuais como

Franz Fannon e Albert Memmi trouxeram diversos temas durante os processos de

descolonização. Dentre eles puderam-se destacar o colonialismo cultural e a necessidade

da busca de um passado histórico, anterior à dominação europeia, como instrumentos de

formação de uma cultura nacional para que o próprio povo escrevesse sua história. No

entanto, esta retomada às origens esbarrou na ausência de artefatos que foram retirados

do continente ao longo do imperialismo para ser expostas, mostrando — de acordo com o

pensamento europeu — uma “exoticidade” e o domínio sobre esses povos. Partindo do

entendimento dos museus como espaços de construção e acesso à memória, essa pesquisa

surgiu com o questionamento do porquê da continuidade dessa dominação cultural,

mesmo com as independências conquistadas. Através da análise de documentos da

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Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) sobre

este assunto, reportagens de alguns casos de pedidos de retorno de peças e a leitura dos

intelectuais já citados, como também de Benedict Anderson e Aníbal Quijano, a hipótese

testada foi a importância da repatriação de peças museológicas para uma cultura nacional

como uma reação à colonialidade. Sendo assim, o repatriamento de peças museológicas

emergiu como um debate necessário para o entendimento da construção do conhecimento

nacional e do movimento decolonial. Com as convenções e conferências da UNESCO sobre

esse assunto, a luta pelo retorno ganhou respaldo e atenção no sistema internacional, pois

a repatriação de peças museológicas têm como objetivo propiciar um ambiente para a

identificação do sujeito com a cultura nacional, revisitando e criando uma memória de

suas origens, além de se encaminhar à decolonização cultural.

Alice Gravelle Vieira (UERJ) e Eduarda Lattanzi (UERJ)

Políticas para internacionalização da educação superior: uma avaliação do Programa

Ciência sem Fronteiras sob a perspectiva do ciclo de políticas públicas

O programa Ciência Sem Fronteiras (CSF) foi criado em 2011 e encerrado oficialmente em

2017, e consistiu em uma das mais amplas e importantes iniciativas para a

internacionalização da educação e desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil. Com

base nas ideias e estudos no campo das políticas públicas, o presente trabalho tem como

objetivo promover uma avaliação ex post de processo do CSF, a partir da abordagem das

três últimas fases do denominado Ciclo de Políticas Públicas – implementação, avaliação e

extinção/reformulação - com ênfase em sua implementação. Para a realização de tal

análise, será abordado o contexto político do governo de Dilma Rousseff (2011-2016),

suas preferências e prioridades, especialmente no que se refere à educação superior. A

perspectiva teórica da pesquisa estará fundamentada em conceitos e processos das

políticas públicas. Para tal, serão utilizadas pesquisas de autores como Figueiredo;

Figueiredo (1986), Leonardo Secchi (2003) e Celina Souza (2007). A análise pretendida do

CSF consiste, especificamente, em uma Policy Evaluation, ou avaliação de políticas

públicas. Tal abordagem é apontada pela doutrina como a análise crítica do programa

(política) com o objetivo de apreender, principalmente, em que medida as metas estão

sendo alcançadas, a que custo, quais os processos ou efeitos colaterais que estão sendo

ativados (previstos ou não previstos, desejáveis ou não desejáveis) indicando novos

cursos de ação mais eficazes. O objetivo central do presente trabalho consiste em avaliar a

referida política utilizando dois critérios específicos: eficiência administrativa, a fim de

analisar se o programa foi promovido para assegurar o cumprimento dos compromissos

propostos em sua formulação; e eficácia, analisando os resultados possíveis. É possível

concluir, a partir das avaliações realizadas baseadas nos dois critérios e das declarações

dos envolvidos no programa, que o CSF não foi realizado da maneira mais eficiente

possível, apesar de ter se mostrado eficaz.

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Fabiana Kent Paiva (PUC-Minas)

Muros de separação: senso de comunidade e isolamento na arte urbana da Irlanda do Norte

e Palestina

Este trabalho tem como objetivo investigar de que forma a arte urbana traduz e propaga

sensos de comunidade ou isolamento na Irlanda do Norte e no território da Palestina. Nos

dois territórios é possível encontrar muros de separação: a West Bank Wall, separando o

território israelense do palestino, e as Peace Lines, barreiras erigidas em cidades da

Irlanda do Norte para conter os conflitos entre unionistas e nacionalistas. Nesses muros de

separação, e nas áreas próximas a eles, é possível encontrar uma enorme quantidade de

intervenções artísticas urbanas que abordam a existência de tais barreiras, e é através

delas, também, que se sustentam os discursos de isolamento ou união dessas

comunidades. A Irlanda do norte e a Palestina são palco de conflitos centenários que

dividem opiniões e já causaram centenas de mortes, criando animosidade entre os

habitantes das regiões e dificultando o processo de paz. Para este estudo, mobilizam-se as

ideias de comunidade e identidade para compreender, por meio do estudo das

intervenções artísticas nos muros de separação, a ligação entre os habitantes das áreas

separadas pelos muros. Para isso, serão examinados os contextos em que são produzidas

as intervenções artísticas, através do estudo dos conflitos territoriais. Além disso, serão

analisados os símbolos nacionais mobilizados pelos artistas na arte urbana desses muros

de separação, as representações dos mártires e heróis dos conflitos, as mensagens de

união e de separação e outros elementos artísticos, e então serão propostas interpretações

sobre as ideias de identidade que inspiraram e são propagadas por essas intervenções.

Será possível compreender que na Irlanda do Norte, apesar da união territorial, ainda há

um forte sentimento de separação entre as comunidades católicas e protestantes, e

unionistas e nacionalistas. Já na Palestina, entende-se que as mensagens das obras de arte

comunicam princípios de um ideal comunitário palestino, e ao mesmo tempo um total

isolamento de Israel. Assim, através do estudo das intervenções artísticas nos muros de

separação, será possível visualizar que os conflitos dessas regiões estão ainda longe de

encontrar uma solução, devido à fragmentação comunitária de suas populações.

Juliana Assis Nascimento (UFRJ)

As representações do universalismo: de Kant à criação da UNESCO

O presente trabalho investiga os fundamentos da categoria de universalismo que

informaram a fundação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura (UNESCO) nos anos imediatamente posteriores ao fim da Segunda Guerra Mundial.

Fundada em novembro de 1946, a UNESCO foi o palco privilegiado para a construção de

projeções utópicas do futuro em um mundo devastado pela experiência da guerra. As

bases que garantiriam a viabilidade dessa utopia foram discutidas por intelectuais

consagrados, oriundos de diferentes áreas de estudo, como Albert Einstein, Lucien Febvre

e Julian Huxley. As divergências expressas nos debates promovidos pela UNESCO em seus

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primeiros anos de existência testemunham uma disputa entre diferentes pontos de vista

sobre quais dimensões da vida humana seriam capazes de fornecer as bases intelectuais

universais necessárias para a consolidação de uma cultura mundial da paz. Para

compreender quais eram as diferentes acepções de universal em jogo, retomaremos o

percurso histórico da categoria, tomando como ponto de partida as concepções do projeto

filosófico kantiano. A adoção de Kant como baliza temporal em nossa análise, se justifica

pela centralidade dos ideais iluministas nos discursos oficiais da organização e pela

reconhecida centralidade do pensamento político kantiano na formulação dos princípios

das organizações internacionais no pós-guerra. Indicaremos como a junção de suas

proposições com as formuladas da corrente funcionalista das relações internacionais

foram essenciais para o desenvolvimento das organizações multilaterais voltadas para a

cooperação técnica e científica internacional. Na segunda parte do artigo, confrontaremos

estas concepções universalistas com o desenvolvimento da cooperação científica

internacional e as diferentes ideias de universalismo científico que se configuram no

século XIX e no início do século XX. O breve percurso percorrido indica que, em um lapso

temporal de pouco mais de duzentos anos, a categoria de universal foi continuamente

mobilizada e ressignificada. De uma concepção kantiana baseada na universalidade dos

direitos fundamentais do homem e no cosmopolitismo político, o universal também

adjetivou a ciência de diferentes formas. Estas diferentes definições entrariam em disputa

nos primeiros anos de funcionamento da organização.

DEBATEDORA: MÔNICA LESSA (UERJ)

GT 1.7: POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA: CASOS DE PARTIDARIZAÇÃO E MÍDIA

RESUMOS

Jonatas Torresan Marcelino (USP)

Facebook e relações internacionais no Brasil: a polarização da política doméstica e o

desinteresse em política externa

O trabalho tem o objetivo de estudar a evolução dos parâmetros de interação dos

brasileiros em páginas de relações internacionais no Facebook nos anos 2010. Nesse

período, as redes sociais ganharam grande centralidade no debate político e se tornaram

um espaço privilegiado da crescente polarização da política doméstica, iniciada nas

Jornadas de Junho (2013), aprofundada nas Eleições Presidenciais (2014) e no

impeachment da presidenta Dilma Rousseff (2016). O Brasil está entre os cinco países com

mais usuários de Facebook em números absolutos, com 139 milhões de perfis. O número

equivale a mais da metade da população do País. As crises na política doméstica do Brasil

sucedem um período de crescimento da exposição internacional do País, após os mandatos

presidenciais de Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva. O problema de pesquisa é: de

que modo a intensificação da atuação internacional do Brasil nas décadas de 1990 e 2000

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alterou a percepção de temas internacionais pelas elites e pela opinião pública de forma

geral na década seguinte? As hipóteses de trabalho são: (i) O crescimento da exposição

internacional do País não causou uma ampliação do interesse por temas externos no

Brasil; (ii) O interesse por temas internacionais caiu ao longo do marco cronológico

considerado; (iii) A polarização da política doméstica não é refletida no comportamento

dos brasileiros interessados por relações internacionais no Facebook. Foram selecionadas

680 páginas da rede social, relativas a embaixadas e organismos multilaterais; câmaras

comerciais; centros culturais, em especial os relacionados a Estados estrangeiros;

editorias internacionais da imprensa brasileira e veículos estrangeiros com conteúdo em

português; páginas acadêmicas especializadas em relações internacionais; organizações

não-governamentais e instituições filantrópicas; e páginas de promoção de turismo no

exterior. As páginas escolhidas no Facebook apresentam conteúdo em português e tem o

objetivo primário de ser canais de relacionamento de instituições nacionais e

internacionais com a sociedade civil brasileira em temas globais.

Eduardo da Nóbrega Monteiro (PPGRI-UERJ)

Despierta Bolivia, despierta. Los Gringos nos quieren robar el gas: nacionalização dos

hidrocarbonetos bolivianos, a mídia e a política externa brasileira

Em um contexto de forte polarização entre as forças progressistas e as forças tradicionais

e conservadoras, a estatização do gasoduto boliviano-brasileiro – desdobramento de uma

série de nacionalizações de hidrocarbonetos pelo governo Evo Morales -, em maio de

2006, não só ensejou acalorados debates com duras críticas sobre a resolução do conflito,

mas também sobre a condução geral da política externa do governo de Luís Inácio Lula da

Silva. Pouco estudado pelos cientistas sociais, segundo Aldé, Mendes e Figueiredo (2007),

essa passagem importante do primeiro governo Lula da Silva remete a uma discussão mais

ampla sobre a relação entre mídia e política. No Brasil, parte do debate sobre a crise da

nacionalização do gasoduto boliviano-brasileiro ocorreu no Parlamento, parte em

importantes órgãos da imprensa brasileira. Por isso, considerando as premissas do

conceito de agenda setting e do método de valência, o objetivo deste artigo é analisar o

comportamento da grande imprensa brasileira em relação a esse episódio,

problematizando-o com o momento de reeleição do então presidente Lula da Silva, que

perdeu 22% das intenções de votos dos eleitores com remuneração acima de 10 salários-

mínimos, desde sua última eleição, em 2002, e contrastando-o com a posição oficial do

governo brasileiro. Sem ceder às pressões da imprensa, o governo brasileiro manteve uma

posição conciliadora em função de alguns cálculos políticos: a preservação da liderança

brasileira no cenário regional e a importância geoestratégica dos recursos energéticos

bolivianos para o Brasil. Selecionou-se o jornal O Globo, em formato impresso,

considerando sua importância : na ocasião era o segundo jornal mais vendido no Brasil e

um dos 10 membros do Grupo de Diários América, associação formada por jornais da

América Latina com o fito de “informar e influir en la opinión pública en sus respectivos

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mercados”. O marco cronológico definido observa que a cobertura do O Globo ficou mais

negativa no mês de maio de 2006 para praticamente desaparecer após a reeleição do

presidente Lula da Silva.

DEBATEDOR: FIDEL FLORES (UNB)

GT 1.8: OUTRAS EXPERIÊNCIAS EM INTEGRAÇÃO REGIONAL

RESUMOS

Julia de Souza Borba Gonçalves (PPGRI San Tiago Dantas)

A Aliança do Pacífico na integração regional sul-americana: proposta, alcances e

relacionamento externo

Em 2011 verificou-se o surgimento de um novo bloco de integração regional latino-

americano cujo eixo norteador tem sido a abertura comercial por meio do estabelecimento

individual de tratados de livre-comércio: a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, Peru e

México). A aparição deste bloco expressou o retorno do regionalismo aberto e as visões

compartilhadas de seus presidentes de fortalecer uma governança regional alinhada com

as estruturas dominantes. Consequentemente, o surgimento da Aliança do Pacífico gerou

discussões acerca da fratura entre os eixos Atlântico e Pacífico da América do Sul, de modo

que a Aliança do Pacífico permite que seus membros disseminem e socializem sua visão de

mundo. Este trabalho se propõe a analisar a proposta de integração regional da Aliança do

Pacífico e seu principais resultados ao longo desses 7 anos, e trazer à discussão as

principais implicações desse bloco para os processos de integração regional da América do

Sul.

Tainah Santos Pereira (UNIRIO)

Esquerda renovadora versus esquerda refundadora: como o embate entre Brasil e Venezuela

solapou a criação do Banco do Sul

O objetivo do trabalho é investigar a estagnação das discussões sobre o Banco do Sul,

apontando para a hipótese de que foi o embate entre diferentes correntes da onda rosa

(esquerda renovadora x esquerda refundadora) que minou a iniciativa. Analisaremos a

evolução das tratativas desde a primeira menção ao Banco, em 2004, até os movimentos

mais recentes. Debateremos possíveis causas do arrefecimento das discussões em torno

da criação do Banco do Sul. A hipótese é de que o embate entre diferentes correntes da

onda rosa – esquerda renovadora (representada pelo Brasil) e esquerda refundadora

(reproduzida pela Venezuela) – teria minado essa iniciativa conjunta de constituição de

um novo órgão de financiamento para o desenvolvimento na América Latina. Iniciado no

fim a década de 1990, o movimento democrático de chegada ao poder de vários

candidatos de entro-esquerda na América Latina ficou conhecido como onda rosa ou maré

rosa. Este novo conjunto de governos não-identificados com o neoliberalismo traz consigo

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perspectivas próprias para o fazer político, dentre as quais destacaremos as de cunho

socioeconômico e de integração regional, que permitiram que a Venezuela propusesse o

Banco do Sul. Contudo, ainda que tenham emergido em um momento de boom econômico,

os governos de centro-esquerda da onda rosa têm de lidar com a premissa de instabilidade

política na América Latina. Deste modo, muitos adotam medidas que acreditam que terão

os melhores efeitos sobre a economia, mesmo contradizendo suas agendas de campanha,

para evitar quedas nos índices de confiança do mercado e também possíveis crises. Assim,

na primeira seção trataremos do surgimento da onda rosa, suas correntes e visões sobre o

caminho a ser percorrido para garantir o desenvolvimento da América Latina. Em seguida,

discriminaremos a proposta da Nova Arquitetura Financeira Regional (NAFR) e os

diferentes papéis pretendidos por Brasil e Venezuela para o Banco do Sul dentro dessa

estrutura. Por fim, analisaremos como se deu a evolução da criação do Banco do Sul,

salientando os diferentes posicionamentos das lideranças do projeto durante os

encontros, até o atual estágio de negociações.

Ricardo Luigi (Universidade Federal do Oeste da Bahia)

Unasul: ascensão e queda de uma instituição

A Unasul enfrenta, em 2018, adversidades profundas que podem resultar no

encerramento dessa organização internacional, criada oficialmente em 2011, embora

existente, em seus trâmites iniciais, desde 2008. O presente trabalho busca refletir sobre

as motivações do ocaso dessa instituição, analisando, ainda, a efetividade mantida pela

organização durante esses anos. Como instituição supranacional a Unasul está sujeita a

pressões em diversas escalas e/ou níveis de análise. Dada a sua institucionalização ainda

em andamento, a crise regional e a turbulência política, em âmbito doméstico, que

acomete seus principais participantes, compromete a continuidade da organização. Para

evitar a ruptura que a assombra, é preciso renovar os esforços para seu prosseguimento,

superando uma visão nacionalista ideológica, amplificada pelo momento de crise, e

fazendo uma avaliação real sobre as vantagens de se manter essa instituição diante de

suas dificuldades no presente. O trabalho em questão parte de uma avaliação das

dimensões objetivas e subjetivas que suportam a Unasul ao longo de seu histórico, com

base nos seus feitos, em sua institucionalização, e com enfoque maior na análise da sua

produção documental, enfatizando os documentos produzidos nas chamadas cúpulas.

Como resultados da continuidade da organização temos a constatação de um efervescente

crescimento institucional no período de 2011 a 2014, com efetivação de propostas ligadas

à preservação da democracia, a projetos de infraestrutura, a cooperações entre sistemas

de saúde pública e às iniciativas voltadas para a segurança regional. Como entraves que

apontam para a ruptura da organização podem ser citados a desaceleração a partir de

2014 que culmina num quadro de desestrutura institucional, estagnação do processo de

integração e debandada de países integrantes da instituição. Acredita-se que a Unasul

possa, mesmo que remodelada, ser um instrumento de concertação regional e projeção

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global para os países da América do Sul, visto que políticas públicas importantes são

tomadas com base nessa organização, e a efetividade dessas políticas públicas se faz ainda

mais importante nos momentos de crise.

DEBATEDOR: LORENA GRANJA (UERJ)

GT 1.9: CHINA EM PERSPECTIVA: UM DEBATE SOBRE A SEGURANÇA INTERNACIONAL E A

ESTRATÉGIA GEOPOLÍTICA CHINESAS

RESUMOS

Leticia Cordeiro Simões de Moraes Lima (UERJ/Unilasalle-RJ)

Conflitos no Mar do Sul da China: o que o Brasil tem a ver com isso?

As disputas territoriais no Mar do Sul da China (MSC) vêm despertando a atenção de

políticos e estudiosos ao redor do globo, apesar de ter pouco destaque na academia e nos

veículos de notícias brasileiros. Contudo, tais questões passaram a receber maior atenção,

em grande medida, devido à elevação das tensões entre China e EUA naquela região, com a

construção de ilhas artificiais, a passagem de embarcações e aeronaves em áreas

contestadas e as disputas territoriais pelos países que circundam o mar. Tais disputas

territoriais têm questões muito mais profundas que um possível embate entre duas

superpotências, são consequência de conflitos e negociações regionais entre a China e os

demais países periféricos banhados pelo MSC, como Filipinas, Vietnã, Malásia, Indonésia e

Brunei. Um possível escalonamento do conflito entre os Estados chinês e americano na

região do MSC refletiria diretamente no posicionamento militar e de segurança regional

das partes envolvidas, no comércio marítimo internacional e no posicionamento dos

países membros da Associação de Países do Sudeste Asiático (ASEAN) que estão

intimamente ligados à disputa. No Brasil, há pouco destaque e pouca informação sobre os

principais atores envolvidos nas disputas, suas motivações e quais as consequências do

início de um conflito entre duas grandes potências na Ásia-Pacífico. Apesar de estar no

imaginário do brasileiro de que se trata do ‘outro lado do mundo’ e que o impacto de um

possível embate naquelas águas seria muito pequeno para o país, não poderíamos estar

mais equivocados. Por que o Brasil deve se preocupar, mas também se informar sobre um

conflito no MSC? Este artigo pretende apresentar em linhas gerais, através de um estudo

quali-quanti, a importância daquela região, bem como um panorama dos lados do conflito

e suas reivindicações e ainda apresentar as razões para o Brasil ser um dos primeiros

afetados por uma hipotética crise no MSC.

Soraya Fonteneles de Menezes (EGN)

A expansão marítima da República Popular da China à luz do Direito Internacional do Mar

A República Popular da China (RPC) protagoniza diversos litígios marítimos na região

Ásia-Pacífico, disputas cujo cerne está diretamente relacionado aos conceitos de soberania

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e de liberdade de navegação normatizados pelo Direito do Mar, em especial pela

Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982. O mar tornou-se um dos

pontos centrais na agenda de segurança da região, marcada pelo intenso fluxo de linhas de

comércio marítimo, na qual interesses relativos à explotação de recursos naturais, à

delimitação de fronteiras e à soberania sobre territórios marítimos se sobrepõem. No que

tange às disputas marítimas, os Mares do Sul e do Leste da China são palco de constantes

atritos diplomáticos, legais e militares entre a RPC e os demais Estados lindeiros. Em

ambas as regiões, existe discordância em relação à soberania e aos usos dos territórios

arquipelagicos e em relação à delimitação de áreas marítimas, uma vez que a conformação

geográfica da região gera múltiplas sobreposições. O processo de territorialização

marítima capitaneado pela RDC fica patente na construção de ilhas artificiais no Mar do

Sul da China. Condição de Poder Marítimo em ascensão no século XXI, a RPC afora uma

estratégia marítima assertiva na defesa de seus interesses estratégicos no âmbito

marítimo. Observou-se uma relativa dicotomia entre a estratégia marítima adotada pela

RPC e as interpretações do Direito do Mar conferidas por essa acerca da soberania e da

liberdade de navegação. O presente trabalho analisa se a atual interpretação conferida

pela RPC ao Direito do Mar é coerente com a atual expansão de seu Poder Marítimo e com

a atuação de seu Poder Naval na região Ásia Pacífico. Concluiu-se, por meio do estudo de

declarações interpretativas, da estratégia marítima no século XXI e de diversos

posicionamentos oficiais internos e externos, que a RPC defende uma postura restritiva à

liberdade de navegação, contrapondo-se assim a um dos princípios basilares da CNUDM.

Rita de Cássia Oliveira Feodrippe (EGN) e Kathleen Vieira (EGN)

Tecnologia e poder: a trajetória da China

O trabalho visa a apresentar o histórico de desenvolvimento tecnológico chinês nos

últimos cinquenta anos, com foco nos setores nuclear e espacial. Para isso, discutem-se

conceitualmente as definições e relações entre "tecnologia" e "poder". O primeiro é

entendido como um conjunto de conhecimentos utilizado em prol da produção de bens e

serviços para a sociedade, enquanto o segundo é visto como um fenômeno relacional que

envolve Estados no cenário internacional. Centrada nas mudanças socioeconômicas

decorrentes do esforço de guerra estadunidense, a pesquisa primeiramente contextualiza

as escolhas chinesas no ambiente bipolar da Guerra Fria. Em seguida, explora as alterações

na ordem mundial desde o fim da União Soviética, quando Pequim, colhendo os frutos do

processo de reforma e abertura da década anterior, apresenta crescimento econômico

exponencial. As autoras recorrem à revisão de literatura, utilizando metodologia

qualitativa e descritiva na análise tanto de dados oficiais do governo chinês, quanto de

relatórios institucionais reconhecidos pela credibilidade, como os do Fundo Monetário

Internacional. Tendo em vista as recentes transformações no equilíbrio de poder nas

relações internacionais, especialmente as que envolvem Estados Unidos e China, este

trabalho busca ressaltar as escolhas chinesas que, hoje, estão expressas no consenso de

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sua ascensão econômica, militar e política. Subjacente a e condicionante para esse

processo, o binômio de ciência e tecnologia (C&T) está no centro das preocupações

chinesas frente à recente guerra comercial iniciada pelo governo do presidente

estadunidense, Donald Trump. Os resultados da investigação apontam para a necessidade

de uma abordagem abrangente, que não limitam os investimentos em C&T ao setor militar

- pelo contrário. A sinergia da indústria de defesa com os segmentos civis foi fundamental

para a consolidação da base tecnológica de Pequim, de forma que os campos nuclear e

espacial representam o ápice de uma cadeia logística coordenada, focada na atuação de

"campeões nacionais" - grandes empresas estatais financiadas pelos bancos chineses.

Guiada pela grande estratégia nacional cujo objetivo é restaurar a glória do povo, a China

demonstra seguir trajetória própria, que por vezes se aproxima e se afasta daquela

escolhida pela maior potência tecnológica do mundo - os Estados Unidos. Rompendo as

barreiras do cerceamento oriundo dos países centrais, por meios que incluem do

desenvolvimento autóctone à espionagem industrial, o país mostra estar apenas no início

de um longo caminho que definirá a ordem internacional contemporânea, atualmente em

transição.

DEBATEDOR: MAURÍCIO SANTORO (UERJ)

29/11/2018 I QUINTA-FEIRA_____________________________________________

14:00 ÀS 15:30

GT 2.1: VERDADE, REPARAÇÃO E MEMÓRIA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

RESUMOS

Tamara Claudia Coimbra Pastro (PPGRI-UFU)

O discurso global de Reconciliação e as Comissões da Verdade na América do Sul

O presente trabalho busca compreender de que forma o discurso de Reconciliação foi

forjado ao longo dos últimos anos deixando de ocupar o âmbito interno dos países para

ascender a uma política global, que deve ser almejado por todos os países que passaram

por graves violações dos Direitos Humanos. A partir da ótica de Judith Renner que utiliza a

experiência sul-africana como formadora do significante vazio que se torna reconciliação,

após 1995. Dentro desse contexto, as Comissões da Verdade foram elevadas a instituição

principal para promover a reconciliação nacional através dos testemunhos, da memória e

da história dos países. São oito experiências no continente sul-americano de constituição

dessas instituições, baseadas em experiências em que houve quebra do ordenamento

democrático e instauração de ditaduras civis-militares, alicerçadas na ideia de Segurança

Nacional: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai. Cada uma se

apropria de uma forma distinta do conceito de reconciliação. Esse trabalho se inicia

fazendo uma análise sobre como se constitui o discurso de Reconciliação, partindo dos

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estudos de Renner, principalmente, e como esse acaba se tornando hegemônico ao se

trabalhar com Justiça de Transição. Em seguida, são analisadas as Comissões da Argentina

(1984) e do Chile (1990), pensando em seu pioneirismo na região e a perspectiva anterior

de Reconciliação propagada a partir da experiência sul-africana. E a última dessas

instituições a produzir um informe final, a Comissão brasileira (2011), pensando em quais

aspectos é possível apresentar contrastes entre eles, mas também semelhanças, apesar da

distância temporal entre os países e de suas experiências distintas. A partir do caso

brasileiro, as sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos no julgamento dos

casos “Gomes Lund e outros” e “Herzog e outros” versus Brasil, são analisadas para pensar

a necessidade de se julgar e punir crimes de lesa a humanidade aliados com a ideia global

de Reconciliação, uma vez que esse discurso se constitui antagônico ao de impunidade.

Maria Alice Venancio Albuquerque (IRI/PUC-Rio)

A verdade por trás da retórica: mapeando o direito à verdade no Brasil

Em 2012 o estado brasileiro instaurou a Comissão Nacional da Verdade, com a atribuição

de examinar, esclarecer e divulgar em um relatório final as graves violações ocorridas no

período em que o país foi comandado por governos militares de caráter autoritário (1964-

1988). Por esse período, o Brasil foi alvo de denúncias junto a organismos internacionais

de proteção dos direitos humanos e da democracia, sendo alvo de demandas históricas por

responsabilização, verdade, memória e reparação. O direito à verdade figura entre essas

demandas e embora associado diretamente nas últimas décadas ao estabelecimento de

comissões da verdade, é definido de forma abrangente por órgãos e instituições de

direitos humanos, como a obrigação do Estado de investigar e divulgar para vítimas,

familiares e sociedade como um todo o destino e circunstâncias envolvidas nas mortes e

desaparecimentos ocorridos em determinado período. O direito à verdade, todavia, não se

configura oficialmente como um direito, emergindo, pois, como um princípio implícito em

resoluções, orientações e documentos oficiais produzidos por instituições regionais e

internacionais, tornando seu significado e materialidade tão disputado quanto elusivo.

Logo, esse trabalho se concentra em como foi entendido o direito à verdade no Brasil, uma

vez que ao país é demandando, regional e internacionalmente desde a sua

redemocratização, o emprego de ferramentas de justiça de transição, sendo a comissão

nacional da verdade a última ação tomada pelo país a esse

respeito. Para alcançar objetivo principal de mapear como/em torno do que se constrói o

direito à verdade no Brasil, projeta-se o desenvolvimento desse direito em dois sistemas

de direitos humanos: ONU e Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH). Com

isso, busca-se definir o direito à verdade no Brasil vis-à-vis as trajetórias do direito à

verdade no sistema internacional e regional referidos, no intuito final de captar até que

ponto a trajetória brasileira condiz com as referências contidas nessas instituições.

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Amanda Ferreira (PPGRI San Tiago Dantas)

O luto e a memória enquanto expressão política da vulnerabilidade nas Relações

Internacionais

O trabalho busca analisar a vulnerabilidade enquanto fenômeno que se expressa no

âmbito político, introduzindo-se às Relações Internacionais a partir das noções de luto e

memória. A partir da concepção de violência de Galtung e dos escritos sobre

vulnerabilidade de Butler, entendemos esta enquanto uma condição ontológica da

sociedade, que é relacional, intersubjetiva e assimétrica, separando a condição de vida

humana real da potencial, mediante concepções de risco e ameaça. Partindo de trabalhos

como os de Estelle Ferarese, Martha Nussbaum e Judith Butler, propomos que uma

interpretação possível da relação entre vulnerabilidade e política e a expressão desta no

campo das Relações Internacionais venha a ser a percepção dos fenômenos do luto e da

memória enquanto mecanismos de construção de identidade e percepção da alteridade,

com uma dimensão sócio-simbólica que nem sempre, porém, se desenvolve em esferas de

reconhecimento. Percebemos o luto, a princípio particular e privado, enquanto fenômeno

que integra a esfera privada e pública a partir do momento em que imagens que

representam o luto são levadas à mídia e geram comoção social sobre determinado tema

internacional. Por outro lado, a memória, que nos poderia inicialmente aparentar coletiva,

mostra-se mais pertencente ao âmbito do privado, se observarmos, por exemplo, como

com o tempo a memória e o reconhecimento permanece para os que foram afetados

diretamente e não para a sociedade em geral. Entretanto, isso nos remete também à noção

das “vidas que importam” ou das “vidas que valem o luto”, visto que é perceptível uma

diferenciação entre a política de memória para determinadas populações ocidentais e para

populações que carregam consigo estigmas sociais ou provém de zonas de conflito em

países africanos, por exemplo. A estrutura do trabalho compreende um esforço inicial de

revisão literária sobre as aproximações possíveis entre a vulnerabilidade e a esfera do

político, seguida da investigação dos fenômenos do luto e da memória enquanto

expressões dessa aproximação. Por fim, casos empíricos como o genocídio de Ruanda, os

atentados de 11 de setembro nos EUA e os fluxos migratórios mais recentes de refugiados

em direção à Europa nos permitem um quadro de análise sobre essas questões sob a

perspectiva das Relações Internacionais.

DEBATEDOR: EMERSON MAIONE (UFRJ)

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GT 2.2: NOVAS ABORDAGENS PARA TEMAS DE TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

RESUMOS

Vinícius Guimarães Reis Gonçalves (UFRJ)

Estudos africanos e Relações Internacionais: paradigmas e dinâmicas do território africano

Este artigo tem como objetivo abordar uma literatura crítica em relação ao discurso

apriorístico e determinista que discorre sobre a natureza, e por consequência formação

histórica, do Estado e das Relações Internacionais nas sociedades africanas. Focando nos

aspectos teóricos e bibliográficos a serem abordados, percebe-se que as “dinâmicas” do

território africano tendem a ser analisadas sob paradigmas normativos. Com base nessa

premissa nota-se a existência de diagnósticos, referentes aos Estados Africanos, que a

partir de visões inerentemente negativas sobre as sociedades e economias analisadas,

chegam a conclusões enviesadas. Por se tratar de um tema complexo, a revisão

bibliográfica foi chave na elaboração de uma visão concisa, tanto na identificação de

alguns dos principais paradigmas quanto a formulação quanto na forma como os mesmos

foram descritos e problematizados. Explorou-se algumas das principais questões das

agendas de pesquisa mais recentes que buscam explorar, e reconstruir, a forma como o

espaço africano é entendido dentro da teoria das Relações Internacionais. Com ênfase no

campo da Economia Política Internacional, História e nos Estudos Africanos, se efetuará

uma análise sobre a importância deste espaço geográfico e econômico para a atual

estrutura do Sistema Internacional. Estruturando o artigo em eixos temáticos, de maneira

exploratória, buscou-se em um primeiro momento apresentar a problemática, e discuti-la

com embasamento na bibliografia proposta. Em seguida, alguns casos de estudo foram

apresentados de maneira reforçar os argumentos apresentados enquanto estimulava-se o

senso crítico em torno de todo o eixo central. A conclusão se estabelece em torno do que

são as dificuldades inerentes, e por tanto inevitáveis, de toda pesquisa no campo das RI

que envolve, de alguma forma, os países africanos. A região, territorialmente e

culturalmente extensa, do continente africano faz com que tenha-se que lidar com a

dicotomia entre questões de ordem doméstica e questões de ordem internacional de

maneira a abrir novas perspectivas e agendas de pesquisa.

Amanda Poton Cavati de Siqueira (UNIRIO)

Analisando o conceito de estados falidos de uma perspectiva decolonial

O objetivo deste trabalho é analisar a teoria de Estados falidos a partir de uma

perspectiva decolonial, bem como o conceito ocidental de Estado. Tendo em vista que

apesar da emancipação legal dos países periféricos, com o fim do colonialismo, houve uma

manutenção dos mecanismos de dominação, dando início ao que se denomina

colonialidade, o mundo ainda encontra-se dividido, com o lado mais forte (Europa

ocidental e Estados Unidos) dominando o mais fraco. Uma das manifestações da

colonialidade é o saber científico, no qual o Norte consegue apagar o conhecimento do Sul

enquanto ciência. O argumento principal deste artigo é o de que a determinação de países

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enquanto Estados falidos está diretamente relacionada com o que se compreende por

Estado, conceito que, por sua vez, é estabelecido de forma hegemônica pelo Norte. Nesse

sentido, o Estado eurocêntrico possui uma determinada trajetória e definição específica,

que é baseada nas experiências europeias e universalizada para o resto do globo,

ignorando as particularidades da periferia. Aqueles países que não se encaixam no molde

são taxados como falidos. A literatura difere um pouco no que tange à determinação do

que faria com que um Estado fosse falido. No entanto, é viável afirmar que Estados falidos

são aqueles países que perderam as características básicas do que os estabelece enquanto

Estados. Logo, é possível perceber que a teoria de Estados falidos está embasada em um

conceito altamente hegemônico, de forma que pode-se argumentar que a concepção de

Estado, assim como a teoria de Estados falidos são passíveis de serem interpretadas como

mais uma das manifestações da colonialidade. Visando cumprir o objetivo deste trabalho,

será utilizada uma análise bibliográfica de importantes autores do pensamento ocidental,

que discorrem sobre a teoria de Estados falidos e sobre o próprio conceito de Estado, bem

como autores relevantes da teoria decolonial.

DEBATEDORA: FERNANDA BRANDÃO (UERJ)

GT 2.3: DEFESA E SEGURANÇA SOB UMA ÓTICA BRASILEIRA

RESUMOS

Sarah Carvalho da Rosa (UERJ)

Os impactos da crise da Venezuela no Brasil: questões humanitárias e transfronteiriças

O aprofundamento da crise política e econômica na Venezuela tem provocado a saída em

massa de refugiados para países vizinhos na América Latina, inclusive o Brasil. O estado

brasileiro de Roraima, fronteira com o país, é o principal ponto de entrada para milhares

de venezuelanos que migram por via terrestre. A partir dessa conjuntura, o objetivo do

artigo é demonstrar através de uma análise teórico-acadêmica os impactos da crise no

Brasil, com ênfase nas questões humanitárias e transfronteiriças que se aprofundam desde

2016. Para isso, será analisado, sobretudo, a crise venezuelana e os desafios enfrentados

pelo Brasil no acolhimento dos cidadãos em situação de vulnerabilidade, assim como a

atuação das instituições nacionais existentes. Nesse sentido, o que tem se observado é que

a Venezuela segue rumo a uma crise interna cada vez mais ampla e violenta. O resultado é

a crescente escassez de abastecimento de itens básicos, o aumento do desemprego e a

perseguição política. Para o Brasil, um dos problemas principais é a falta de estrutura para

abrigar a todos os refugiados que chegam nas cidades fronteiriças, principalmente em

relação ao sistemas de saúde, alimentação e abrigo, perpetuando ainda mais o drama dos

venezuelanos que aguardam um acolhimento digno no território brasileiro. A

consequência é o aumento da violência e a discriminação do nacional para com o

estrangeiro. Atos xenofóbicos já fazem parte do cotidiano roraimense. Portanto, é

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imprescindível, que o Estado repense e adapte suas políticas migratórias a fim de garantir

direitos e proteção aos refugiados e imigrantes. Para isso, é preciso compreender os

impactos do crescimento significativo da imigração na mobilidade humana, a fim de

aprimorar as políticas, legislações e a governança institucional. O cenário atual aponta

para um aumento do fluxo de venezuelanos, evidenciando que os efeitos da crise

transpõem os limites territoriais do país, tornando urgente e relevante o estudo do tema

nas relações internacionais.

Adriane Gomes Fernandes de Almeida (PPGRI San Tiago Dantas)

Os acordos de salvaguardas tecnológicas e o Centro de Lançamento de Alcântara:

dilemas entre os interesses comerciais e a autonomia estratégica

A criação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), inaugurado em 1983, enquadrava-

se nos esforços voltados para a busca de autonomia estratégica brasileira no setor

aeroespacial, que previa também a produção de tecnologia nacional de satélites de

observação e o desenvolvimento de meios de acesso ao espaço, especialmente o veículo

lançador de satélite (VLS). Contudo, na década de 1990, com a modificação do contexto

internacional do setor, marcado pela ascensão de atores e investimentos privados, e da

orientação político-econômica brasileira, o papel do CLA nas questões políticas passou a

ser mais vinculado com as potencialidades econômico-comerciais do setor, na medida em

o novo referencial de autonomia passou a ser a integração brasileira ao comércio

internacional e a busca por credibilidade. Contudo, os limites dessa estratégia se fizeram

sentir nos acordos de salvaguardas tecnológicas assinados entre meados da década de

1990 e os anos 2000, os quais, em nome do potencial comercial do CLA, ameaçavam a

autonomia estratégica brasileira, visto que esses acordos estipulavam clausulas a respeito

da restrição de determinada área do Centro apenas para representantes estrangeiros,

impediam a fiscalização pela Alfândega brasileira dos materiais que chegavam na base e

impunham até critérios políticos que não tinham relação com o objetivo de proteção da

tecnologia estrangeira. Desse modo, o presente artigo busca analisar os dilemas

geopolíticos da utilização do CLA, com base na seguinte pergunta: os acordos de

salvaguardas tecnológicas no setor aeroespacial, assinados pelo Brasil, contribuem ou

prejudicam a busca pela autonomia estratégica? Para tanto, foram realizados estudos de

caso, baseados no método histórico e na análise documental, de três acordos de

salvaguardas tecnológicas assinados pelo Brasil: o acordo com os EUA, de 2000, com a

Ucrânia, de 2002, e com a Rússia, de 2007. Os resultados parciais indicam que os acordos

de salvaguardas são mais restritivos e prejudiciais à autonomia estratégica brasileira

quando ocorrem sob duas condições centrais: o nível da assimetria tecnológica e de poder

entre as partes e; quando a comercialização dos serviços do CLA para atores estrangeiros é

percebida como a única alternativa para o aproveitamento do potencial da base e para o

desenrolar do programa aeroespacial nacional.

DEBATEDOR: SAMUEL SOARES (UNESP-SAN TIAGO DANTAS)

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GT 2.4: POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA: HISTÓRIA E CONCEITOS

RESUMOS

Fábio Santino Bussmann (UERJ)

A teoria da autonomia testada

O objetivo de pesquisa é testar a Teoria da Autonomia de Hélio Jaguaribe mediante o

estudo de caso da Política Externa Independente (PEI) do governo Jânio Quadros. A

hipótese é a de que a Teoria da Autonomia , especificamente a de Jaguaribe, possui grande

potencial explicativo, por sua visão estrutural da assimetria e multi-dimensionalidade, no

referente aos momentos da Política Externa Brasileira (PEB) considerados como

autônomos de forma consensual pelos estudiosos renomados desse fenômeno, quais

sejam, além da PEI como um todo, o I Governo Vargas e o Governo Geisel. A pesquisa

resgata e se põe a testar uma teoria da Relações Internacionais, com possibilidade de uso

direto em análises de política externa, concebida, como só em raras oportunidades, a

partir do Sul global, que caiu, todavia, desde os anos 1990, em desuso. Esse por motivos

pouco convincentes, como a alegada não validez da teoria depois do fim da Guerra Fria. Ao

mesmo tempo, o conceito de autonomia, deslocado da teoria que o originou, continuou a

ser usado e ressignificado na pesquisa das políticas externas latino-americanas. A escolha

da PEI do governo Jânio Quadros deveu-se ao alto grau de controle analítico que esse caso

possibilita, já que é baixa a probabilidade de que o presidente tenha se influenciado

positivamente, dada a sua origem partidária conservadora, pelas ideias da CEPAL e do

nacional-desenvolvimentismo, bases conceituais, como se verá, da Teoria da Autonomia.

Buscou-se, assim impedir que a pesquisa ficasse viciada, evitando analisar o

posicionamento de atores mediante ideias que eles mesmo já conheciam e pretendiam

colocar em prática. Como a pesquisa visa comprovar a referida hipótese teórico-conceitua,

escolheu-se o tipo de caso denominado “teste de teoria”. O estudo foi feito mediante a

análise de conteúdo, no programa Nvivo, de 14 documentos produzidos pelos principais

atores da PEI do governo Jânio Quadros. Assim, foram criadas categorias de acordo com a

teoria e a hipótese em questão, pelas quais se pode codificar, em uma análise dos períodos

gramaticais, desses textos primários, tendo o cuidado, todavia, de também criar contra-

categorias que possibilitem que a análise não corrobore a hipótese. A hipótese foi

confirmada em parte pelo estudo empírico aqui realizado: o modelo de autonomia de

Jaguaribe se conforma apenas em sua dimensão político-econômica e estrutural ao

desenvolvimentismo objetivado na Política Externa Independente do governo Jânio

Quadros.

Rafaela Rodrigues Andrade (UERJ)

Saúde global e cooperação sul-sul em perspectiva: desafios da Nova Agenda Global

O fim do século XX e a globalização aumentaram, em diferentes graus, o senso de

vulnerabilidade das sociedades. Essa percepção difere dos países desenvolvidos para

aqueles em desenvolvimento. Nos primeiros, esta sensação é pautada na insegurança e no

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medo provocados pelo aumento dos fluxos migratórios e pela eminência dos ataques

terroristas, além de instabilidades econômicas; nos segundos, a sensação de

vulnerabilidade é estrutural, expressa pelas desigualdades, pobreza e miséria, além da

violência social e da negligência política. Nos dois casos, há desafios para conciliar as

políticas econômicas de desenvolvimento com a melhoria da qualidade de vida da

população. Neste cenário, a emergência de novos temas, atores e agendas passaram a

receber atenção crescente no cenário internacional. Entre eles, podemos citar a dimensão

da saúde global e da cooperação internacional Sul-Sul nas pautas de segurança e do

desenvolvimento econômico e social, com seus respectivos desdobramentos na política

doméstica e externa de cada país. Até grande parte do século XX, a saúde foi tratada como

um assunto secundário em política externa. Entretanto, a ocorrência de uma série de

eventos no período pós-Guerra Fria alterou a percepção dos Estados em relação aos

problemas da saúde. Há muitas variáveis envolvidas nesta mudança, mas

especificamente, a ameaça das epidemias e pandemias repercute em quatro dimensões

centrais na política externa de qualquer país: 1) a garantia da segurança nacional; 2) a

preservação e a expansão do poder econômico; 3) o estímulo ao desenvolvimento em

regiões e países estratégicos, do ponto de vista geopolítico; e 4) o apoio à dignidade e aos

direitos humanos. O Brasil tem empenhado esforços no desenvolvimento das capacidades

em saúde, no intercâmbio de experiências e no compartilhamento de resultados e

responsabilidades com diversos parceiros, especialmente através da cooperação Sul-Sul.

Com a transnacionalização dos temas, cada vez mais a política externa se assume

enquanto política pública e sofre interferência de diversas forças no seu processo

decisório. O artigo a seguir reúne e apresenta algumas variáveis de política externa e

saúde, além de acontecimentos-chave ao longo das últimas décadas, com o objetivo de

traçar uma linha evolutiva e crescente para o conceito de saúde global e de cooperação

Sul-Sul, notadamente duas das principais pautas de atuação internacional do Brasil no

século XXI.

Heitor Erthal (UFF)

A política externa dos círculos concêntricos em perspectiva: diferentes abordagens da

política externa do governo Castelo Branco

O presente artigo pretende discorrer sobre as diferentes vertentes sobre a política externa

desenvolvida durante o primeiro período da ditadura militar, no governo do general

Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967). A tomada do poder feita pelos

militares visou pôr fim ao governo do presidente João Goulart, em especial dois pontos de

sua agenda, as reformas de base e a Política Externa Independente (PEI). A PEI iniciada

por Jânio Quadros, e mantida após a ascensão de Goulart, foi interpretada pelos setores

mais conservadores da sociedade brasileira como um afastamento dos parceiros mais

tradicionais, em contrapartida a aproximação do Brasil ao bloco dos países soviéticos. A

política externa formulada pelo Estado brasileiro após golpe de 1964 veio, segundo os

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militares, trazer o Brasil para sua área de atuação mais tradicional o ocidente e afastá-lo

da influência comunista. Em seu discurso no Instituto Rio Branco em julho de 1964 o

presidente comenta sobre as suas diretrizes de política externa, estruturada a partir dos

estudos geopolíticas da Escola Superior de Guerra (ESG) ao longo da década de 1950 e

1960. A chamada política externa dos círculos concêntricos foi anunciada por Castelo

Branco, mostrando que a presença do Brasil se daria em intensidades diferentes. Ou seja,

havia parte do globo mais prioritárias para o governo brasileiro, como o Cone Sul e a

América Latina, e outras áreas menos importantes, tal como a União Soviética. Dois pontos

eram entendidos enquanto objetivos dessa política, a segurança e o desenvolvimento,

binômio pensado na ESG por Golbery do Couto e Silva. O desenvolvimento seria o

crescimento

DEBATEDOR: PAULO VELASCO (UERJ)

16:00 ÀS 17H30

GT 2.5: OPERAÇÕES DE PAZ E SEGURANÇA HUMANA

RESUMOS

Pablo Victor Fontes (IRI/PUC-RIO)

Entre a Vida Nua e as Vidas Precárias: uma releitura pós-estrutural a

partir do conceito de desumanização na agenda de segurança humana

Com o fim da Guerra Fria (1991), a agenda de segurança humana ganhou

espaço e legitimidade nas instituições internacionais a partir dos processos de operação

de paz, intervenção humanitária, direito internacional humanitário e, sobretudo, tendo

em vista a ampliação das agendas e temas da disciplina sobre (in) segurança

internacional. Após o 11 de setembro de 2001, com as invasões no Afeganistão (2001) e

a Guerra do Iraque (2003), a temática da (in) segurança humana novamente ganhou

espaço nos principais fóruns e organizações internacionais. Este artigo tem por objetivo

refletir a fim de desestabilizar os discursos e práticas desumanizadas na agenda de

segurança humana por meio dos conceitos de Vida Nua de Giorgio Agamben e Vidas

Precárias de Judith Butler. O artigo tem como problema de pesquisa a seguinte questão:

Como refletir sobre os conceitos de Vidas Nuas (Agamben) e Vidas Precárias (Butler)

permite desestabilizar o discurso de proteção/salvação na agenda de segurança humana

por meio das práticas desumanizadas sobre o Outro? Temos como reflexão que a

desumanização sobre o Outro, na agenda de segurança humana, ocorre na medida em

que os discursos e práticas neoliberais buscam “salvar/proteger” os indivíduos em nome

de modelos coloniais impostos pelas organizações internacionais e os estados a partir de

uma perspectiva ocidental. Metodologicamente o paper se utiliza de reflexões a partir

das reflexões de autores (as) vinculados a teoria pós-estrutural e por vezes, pós-colonial.

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Agossou Lucien Ahouangan (UERJ)

Resolução de conflito e operação de manutenção da paz na Costa do Marfim

O presente trabalho pretende analisar o processo de resolução do conflito marfinense e a

implementação da Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim - ONUCI-. O período a

ser analisado é de 2004 data do estabelecimento da ONUCI até 2017 ano de fim oficial da

operação de manutenção da paz. Deste modo, a pergunta principal que delineará nosso

trabalho é de saber se a ONU alcançou os objetivos que se traçaram através de suas

resoluções para manutenção da paz na Costa do Marfim? Nossa hipótese é que a ONUCI

não foi completamente efetiva, com foco prioritário na atuação militar e faltou uma

coordenação entre ações civis e militares. Para poder testar nossa hipótese, vamos

primeiramente estudar as resoluções 1479, 1528, 1572, 1721, 1942, 1951, 1967 e 1975 do

Conselho de Segurança das Nações Unidas - CSNU- para a manutenção da paz na Costa do

Marfim identificando os componentes civis e militares, e em segundo lugar ver como as

resoluções foram implementadas. A teoria de Zartman sobre a resolução de conflito

através da negociação nós ajudará a entender o processo que leva a assinatura do acordo

de paz e em seguida a implementação da missão de paz, também usaremos a teoria de

transformação de conflito de Lederach que abordará a questão de coordenação dos

esforços externos de paz e do apoio aos atores internos, e sobretudo uma possível

transformação de conflitos armados enraizados em conflitos pacíficos reconstruindo

relacionamentos destruídos pelo intermediário de uma reconciliação dentro da sociedade

e no fortalecimento do potencial de construção da paz na sociedade.

Lucas Duarte Vitorino de Paula Xavier Guerra (IRI/PUC-Rio)

Raça, racismo e operações de paz: uma análise da MINUSTAH

No presente trabalho, argumentamos que a raça e o racismo são elementos estruturantes

da política mundial moderna, e que essa dimensão racializada pode ser observada nas

operações de paz da ONU contemporâneas. Nesse sentido, partindo de uma metodologia

essencialmente qualitativa, abordamos as formas com que as categorizações hierárquicas

inicialmente baseadas em distinções biológicas entre brancos e não-brancos foram

historicamente ressignificadas, assumindo a forma de padrões civilizatórios e de discursos

de modernização. Argumentamos ainda que esses discursos racializados constituem a

base de conceitos centrais das narrativas ortodoxas sobre resolução de conflitos e

processos de pacificação, como a paz liberal, os “Estados falidos” e o peace building e

statebuilding. Finalmente, apresentamos um estudo de caso da Missão das Nações Unidas

para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH) a partir de um enfoque em aspectos de raça e

racismo, argumentando que lógicas racializadas presentes na Missão levam à sua

instrumentalização para a despossessão do povo negro haitiano de alguns de seus direitos

fundamentais, dentre eles o da autodeterminação.

DEBATEDOR: SAMUEL SOARES (UNESP-SAN TIAGO DANTAS)

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GT 2.6: AÇÕES E IMPACTOS DE AGENTES ECONÔMICOS SOBRE AS NAÇÕES

RESUMOS

Eduardo Santos Maia (UFRJ)

O rentismo na América Latina: a economia política da dívida pública em Brasil e Equador no

século XXI

A década de 1970 foi de crédito internacional fácil, proveniente do excesso de dólares nos

países produtores de petróleo. A necessidade de circular o capital ocioso motivou ondas

de empréstimos em massa para regiões acostumadas à escassez de crédito, como a

América Latina. O endividamento do subcontinente em moeda estrangeira resultou na

“crise da dívida”, após o aumento das taxas de juros estadunidenses em 1979, cujas

consequências são sentidas até os dias de hoje. No entanto, questiona-se que parte da

dívida seja ilegal ou ilegítima, representando um mecanismo de transferência de renda das

sociedades para o rentismo internacional. Diante deste cenário, o presente projeto visa

preencher lacunas existentes na temática da dívida pública. Inexistem, ao alcance dos

esforços aqui empreendidos, pesquisas que trabalhem o assunto de forma comparada a

partir de uma perspectiva internacional. Nesse sentido, a presente pesquisa tem por

objetivo analisar comparativamente as posições de Brasil e Equador em relação ao

pagamento de suas dívidas públicas no presente século, considerando que: 1) o Equador

conduziu uma auditoria, o que possibilitou um alívio orçamentário revertido em

investimentos sociais e afastou o país da esfera do rentismo e 2) o Brasil optou por seguir

o curso de manutenção do pagamento de sua dívida e dos privilégios do setor financeiro. A

pesquisa se utiliza de uma análise histórico-comparativa e possui características tais

como: a realização de comparações sistemáticas e contextualizadas entre um número

reduzido de casos similares e contrastantes; e a incorporação da estrutura temporal dos

eventos nas explicações. Embora se trate de um método indutivo, não há pretensão de

universalidade. Acredita-se, entretanto, que a análise é replicável para países em situação

estrutural similar, em especial da América Latina. Os resultados preliminares sugerem que

a auditoria equatoriana possibilitou avanços sociais de caráter duradouro; enquanto no

Brasil a opção pela continuidade no pagamento da dívida restringiu as opções, tornando

mais difícil o aumento dos investimentos sociais em tempos de estagnação econômica.

Embora de caráter predominantemente financeiro, a questão da dívida pública toca

também em aspectos econômicos, políticos e sociais. É um dos elementos constritores do

desenvolvimento e projeção dos países da América Latina, bem como de sua inserção

subordinada no sistema internacional. Assim, torna-se premente uma reorientação das

políticas acerca do tema.

Pedro Lange Netto Machado (Universidade Federal de Santa Catarina)

Os governos de Dilma Rousseff (2011-2016) frente às agências de classificação de risco

O trabalho analisa como as agências de classificação de risco atuaram sobre os governos

de Dilma Rousseff (2011-2016), de modo a compor o cenário de crise que culminou no

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impeachment da presidente. No contexto de globalização financeira, as avaliações

atribuídas pelas agências a Estados nacionais influenciam as condições de seus acessos aos

mercados de capitais globalizados e desintermediados, produzindo impactos no

financiamento de suas economias. Como consequência, seus governos se veem

constrangidos a aderir à agenda do Consenso de Washington, com a qual as agências se

alinham, em prol da obtenção de melhores notas e, consequentemente, de empréstimos

em condições mais vantajosas. É diante dessa realidade que o caso do Brasil, ao longo dos

governos Dilma, desponta como representativo das pressões que esses atores podem

exercer sobre governos nacionais. Em meio a uma conjuntura internacional adversa e

diante de reviravoltas na condução da política econômica nacional, o ativismo das

agências de classificação de risco nos cenários político e econômico brasileiros foi

constante ao longo do período, implicando em ingerências externas na esfera estatal. Tal

realidade se manifesta a partir das três vias por meio das quais as agências são capazes de

atuar, a saber: o rating que atribuem ao Estado, os relatórios que emitem periodicamente

e as declarações de seus executivos em variados canais de mídia. Nesse sentido, a

metodologia empregada na pesquisa é o process tracing, levando em conta os materiais

mencionados, que serão inseridos e devidamente confrontados com o contexto em

questão. Os resultados preliminares apontam para a participação ativa das agências na

configuração das crises política e econômica, gestadas em 2013 e que se agravariam até

2016, quando a presidente é destituída de seu cargo através de um controverso processo

de impeachment. O trabalho, por conseguinte, contribui com maiores esclarecimentos

acerca de atores ainda pouco explorados pela literatura, mas que se constituem como

imprescindíveis à dinâmica financeira internacional e que incidem diretamente sobre a

governança democrática estatal. Ademais, lança-se uma nova perspectiva acerca da crise

que se configurou ao longo dos governos de Dilma e cujos impactos só se agravariam a

posteriori.

Caroline Barbosa Souza de Oliveira (UFU)

A cooperação Brasil-Paraguai atendendo aos interesses sul-mato-grossenses: uma questão

de governança multinível

Esse artigo tem como objetivo estudar o projeto da construção da ponte

internacional entre Porto Murtinho (BR) à Carmelo Peralta (PY) que resultou em um

acordo de cooperação entre Brasil e Paraguai. Ademais, esse trabalho irá demonstrar que

a iniciativa para esse projeto partiu da busca de atores não governamentais brasileiros,

unidades subnacionais paraguaias e o do governo do Estado de Mato Grosso do Sul pela

motivação de ambos em buscar uma nova rota de escoamento para o exterior, pois, estão

geograficamente afastados dos principais portos oceânicos. Sendo assim, esse artigo tem

como hipótese comprovar que houve uma governança multinível de baixo para cima

envolvendo desde os municípios fronteiriços, passando pelos atores subnacionais

paraguaios, pelo o governo do Estado de Mato Grosso do Sul até chegar ao governo

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nacional, para assim, se formalizar o acordo internacional entre Brasil e Paraguai. Além

disso, o artigo se propõe a mostrar que esse projeto para construção da ponte é

fundamental para fomentar a criação de rotas alternativas para exterior, como, a rota

bioceânica com saída terrestre até os portos do Chile. Deste modo, artigo chegou nos

seguintes resultados, que o projeto de construção da ponte demandou uma governança

multinível de baixo para cima, envolvendo os atores subnacionais paraguaios e brasileiros.

No caso do Brasil, especificamente, esta governança se reflete na iniciativa dos

representantes sul-mato-grossenses no Congresso que, atendendo às pressões dos atores

privados interessados, propõem um projeto de lei para assinatura de um acordo bilateral

de cooperação entro o Brasil e o Paraguai, a fim de colocar em prática o projeto de

construção da ponte. Enfim, pode-se concluir que, se não houvesse esta governança

multinível, seria praticamente impossível a iniciativa do projeto, haja vista que os

interesses que estão em jogo estão muito mais concentrados na escala local/regional,

ainda que os resultados advindos deste projeto também tragam benefícios para a

economia nacional.

Augusto Gavioli (UERJ)

O adensamento do relacionamento econômico bilateral entre Brasil e China: riscos e

oportunidades para a economia brasileira

Tendo por base a parceria estratégia entre Brasil e China, este artigo tem por objetivo

investigar os riscos e as oportunidades que surgem para a economia brasileira, a partir do

progressivo adensamento das relações econômicas bilaterais, propondo uma análise

acerca do atual perfil dessas relações no que diz respeito às trocas comerciais e aos

investimentos chineses no Brasil. O argumento central é que o reforço da entrada de

capital chinês no Brasil, por meio de investimentos externos diretos, não somente

acarretou em nova perspectiva no relacionamento bilateral, como também agregou

desafios e oportunidades para o crescimento econômico brasileiro na forma de maiores

opções de acesso ao crédito e também de concorrência às empresas já estabelecidas em

território nacional. O artigo discutirá o histórico e a importância das trocas comerciais

entre Brasil e China, principalmente a partir do século XXI, e a estratégia de

internacionalização de capital nacional chinês para terceiros mercados, a fim de

demonstrar que os investimentos externos diretos chineses no Brasil assumem uma

perspectiva que se insere na dinâmica do desenvolvimento chinês e nos seus objetivos de

garantir a segurança alimentar, de assegurar acesso a mercados estrangeiros e de buscar

controlar o fluxo da cadeia produtiva em setores específicos da economia para garantir o

fornecimento de matérias-primas necessárias ao seu desenvolvimento. Nesse sentido, este

artigo busca esclarecer qual a relevância da presença de capital chinês no Brasil e quais

são os riscos e oportunidades para a economia brasileira, a partir do incremento das

relações bilaterais econômicas, evidenciando o teor das trocas comerciais realizadas e

destacando a complementaridade econômica entre Brasil e China.

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DEBATEDORA: PATRÍCIA NASSER (UFMG)

GT 2.7: POLÍTICA EXTERNA SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS E DAS

QUESTÕES DE GÊNERO

RESUMOS

Melina Moreira Campos Lima (IBMEC)

Promoção dos direitos humanos por países desenvolvidos ocidentais: diplomacia versus

direito internacional

O presente artigo tem por objetivo comparar os papeis do direito internacional e da

política externa no campo dos direitos humanos, revelando o comportamento de Estados

desenvolvidos ocidentais em relação a esse Regime internacional e seus impactos. Mais

especificamente, tem-se como objeto de estudo a atuação de quatro países: França e Reino

Unido, berços dos direitos humanos e tradicionais impositores de valores relacionados ao

tema; e Noruega e Suécia, países internacionalmente reconhecidos como modelos de

respeito e promoção aos direitos humanos. A partir da catalogação e do estudo das

decisões diplomáticas desses países no campo dos direitos humanos, assim como do

mapeamento da participação em tratados e cortes internacionais referentes ao tema,

revela-se que, embora o engajamento seja alto no plano do direito internacional, ele é

muito baixo no plano da política externa. Ao se analisarem as consequências desse

comportamento para a efetiva promoção dos direitos humanos internacionalmente,

observa-se, por um lado, que o direito internacional, na prática, gera um impacto muito

maior na situação interna dos Estados do que no plano internacional. Por outro lado, a

diplomacia tem maior capacidade de reverberar internacionalmente, mas, no caso das

nações estudadas, não vem sendo praticada efetivamente em favor dos direitos humanos

dentro das principais instituições públicas internacionais promovedoras do tema. Entre as

conclusões, expõem-se as seguintes considerações: o engajamento de países

desenvolvidos ocidentais no contexto do direito internacional ocorre basicamente porque

ele não implica grandes sacrifícios ou mudanças internas, tendo em vista que as leis

nacionais sobre direitos humanos dos Estados analisados já são, via de regra, bastante

satisfatórias; a falta de compromisso com a defesa dos direitos humanos em órgãos

políticos internacionais mostra que a defesa do tema no plano mundial é essencialmente

retórica e que se constitui em um eficiente instrumento de manutenção de poder por parte

da civilização pan-europeia.

Camila De' Carli (UERJ) e Ivi Vasconcelos Elias (UERJ)

Mais mulheres diplomatas: a necessidade de uma política de gênero para o Itamaraty

Este trabalho pretende analisar a desigualdade de gênero dentro do Ministério

das Relações Exteriores (MRE) investigando as ações do órgão para superar esse

problema. Parte-se aqui da campanha #maismulheresdiplomatas, realizada nos meses de

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junho e julho de 2018 pelo Itamaraty a fim de incentivar um maior número de mulheres

a participar do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata. Na primeira parte do

trabalho, busca-se identificar nos depoimentos de mulheres as principais estratégias

discursivas usadas pelo Ministério para enfrentar a sub-representação feminina na

atividade diplomática. Acredita-se que a identificação dessas estratégias poderá sugerir

aqueles que seriam considerados, pelo MRE, os maiores entraves para um maior interesse

das mulheres pela carreira. Como contraponto, em uma segunda parte do trabalho,

pretende-se verificar as principais dificuldades identificadas pela ótica das mulheres

diplomatas depois de ingressar na carreira e que tipo de ações têm sido implementadas

internamente desde a criação do Comitê Gestor de Gênero e Raça a fim de promover a

igualdade de gênero no MRE. Para tanto, será empregado um questionário com o objetivo

de auferir a percepção dessas diplomatas sobre possíveis obstáculos na carreira relativos

a questões de gênero, como assédios, falta de apoio político nas promoções ou episódios

em que tenham sido preteridas em desempenhar alguma função por serem mulheres.

Tatiana de Souza Sampaio (UERJ)

Uma análise do processo de tomada de decisões em política externa sob a ótica feminista

construtivista

Vozes silenciadas, teorias marginalizadas pelo mainstream acadêmico das Relações

Internacionais, permanência do patriarcalismo, pouca literatura sobre gênero,

encruzilhadas no construtivismo, a contínua ênfase no estadocentrismo e a pequena

aceitação de abertura para outros atores internacionais geram um buraco teórico que

comprime e superficializa os estudos das Relações Internacionais e uma análise teórica

sobre Política Externa e sobre o processo de tomada de decisões políticas. Tal realidade é

um retrato da permanência da ênfase das análises teóricas realistas e liberais das Relações

Internacionais sobre temas que precisam de releituras, ou outros pontos de vista, para o

aprofundamento do conhecimento do sistema internacional, dos Estados, dos indivíduos e

de toda uma nova agenda que surgiu após a Guerra Fria. Dessa forma, pretende-se, com

esse artigo, promover um debate sobre um novo olhar teórico no processo de tomada de

decisões de política externa. A história do feminismo está centrada na busca por

ferramentas analíticas que possam compreender as diversas formas de distribuição

desigual de poder, para, com base nesse conhecimento, modificar essas posições. As

abordagens que trabalham com interseccionalidades, que criticam a forma de produção do

conhecimento e propõem novos olhares para a produção teórica oferecem recursos

relevantes para que possamos compreender a produção de sujeitos nessa nova ordem

mundial.

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Patrícia Porto de Barros (IESP/UERJ)

A política externa europeia e a sua agenda migratória

A guerra civil na Síria ocasionou o deslocamento forçado de milhões de pessoas, tanto

interna, quanto externamente. Atualmente, encontram-se em solo turco, mais de 3 milhões

de refugiados sírios, sendo a Turquia a maior receptora mundial deste fluxo migratório.

Tal situação traz preocupações à União Europeia (UE) relativas à migração irregular, com

origem na Turquia. Nesse contexto, em março de 2016, foi assinado um acordo entre UE e

a Turquia, tendo como um dos principais objetivos frear a chegada de imigrantes

“indesejados” no território europeu. Este artigo traz uma análise dos relatórios da

Comissão Europeia, relativos à implementação deste acordo de 2016, junto aos relatórios

de organismos internacionais e a literaturas referentes à política externa. O enfoque deste

trabalho se encontra na União Europeia e na securitização de sua agenda migratória,

conjuntamente a trabalhos sobre acordos de cooperação internacional e a influência do

auto-interesse, bem como a importância dos direitos humanos presente nestes.

DEBATEDOR: EMERSON MAIONE (UFRJ)

GT 2.8: A DIMENSÃO GEOESTRATÉGICA DA POLÍTICA INTERNACIONAL

RESUMOS

Mehmet Arif Köşk (UFRJ)

Energia, Segurança, e Poder: uma análise sobre as disputas geopolíticas no Mar Negro

Este trabalho, além da proposta interdisciplinar, busca pensar uma região geográfica

pouco estudada no Brasil. A desintegração da União Soviética, os atentados de 11 de

setembro, a guerra russo-georgiana e a guerra civil no leste da Ucrânia reafirmaram a

importância geopolítica do Mar Negro e, por conseguinte, intensificou as disputas sobre o

domínio da região. Essas dinâmicas políticas estão interseccionadas por um dos fatores

mais proeminentes: a geopolítica energética. A abordagem geopolítica orientada para a

energia, em particular para o Mar Negro, tal como este trabalho propõe, se difere da visão

da geopolítica clássica, que explica a distribuição geográfica dos recursos naturais dentro

das fronteiras nacionais. A partir de uma crítica à abordagem clássica, este trabalho busca

pensar as relações entre a Turquia e os países do Mar Negro e suas políticas econômicas

no setor energético. Para tal, será realizada uma revisão bibliográfica sobre a geopolítica

energética nessa região, bem como sua história recente, em contraste com análise

minuciosa de dados quantitativos sobre as transações econômicas dos países ao redor do

Mar Negro. Dentre as principais considerações às quais esta pesquisa chega, estão: I) o

crescimento dos países dominantes na região do Mar Negro (Rússia e Turquia) faz com

que aquela área se torne estratégica e competitiva para os demais poderes globais; II) a

geopolítica do Mar Negro cria concorrência entre Rússia e o Ocidente (Estados Unidos,

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União Europeia e OTAN); e III) a posição geoestratégica da Turquia tem papel crucial na

segurança energética da UE e a diversificação das fontes de energia.

João Montenegro da S. P. Reis (UFRJ)

A abertura do setor petróleo na América Latina

Diversos países latino-americanos vêm promovendo reformas de abertura política e

econômica nos últimos anos. O movimento abrange setores estratégicos e de alta

relevância geopolítica, como o de energia e o de petróleo e gás em especial. Em 2014, o

governo mexicano, liderado por Enrique Pena Neto, derrubou o monopólio de 70 anos da

petroleira estatal Pemex e, desde então, leiloou áreas exploratórias terrestres e marítimas

de grande potencial. Sob a gestão de Michel Temer, o Brasil aprovou o fim da operação

única da Petrobras no pré-sal, definiu um calendário anual de rodadas de licitação de

blocos exploratórios e reduziu as exigências de nacionalização de bens e serviços a fim de

atrair investimentos estrangeiros. Na Argentina, no Equador e no Uruguai também se

promovem ou planejam-se reformas regulatórias com o mesmo intuito. O objetivo deste

trabalho será identificar as razões que explicam esse movimento de abertura do setor

petróleo na América Latina e avaliar seus impactos na região. Para tanto, estão sendo

colhidos e analisados dados oficiais nos sítios eletrônicos dos governos e agências

reguladoras de cinco países: Argentina, Brasil, Equador México e Uruguai. O levantamento

inclui ainda informações disponibilizadas pela Energy Information Administration (EIA),

Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), consultorias e veículos

jornalísticos especializados e páginas de sindicatos, além de entrevistas com especialistas.

Os resultados parciais indicam que o movimento de abertura na região reflete, entre

outros fatores, a crise mundial da indústria – que forçou, em função da queda dos preços

do barril, a adoção de medidas liberalizantes para estimular novos investimentos –, em

combinação com a necessidade de reposição de reservas por parte de petroleiras

internacionais e a chegada de governos de direita ao poder. Entre os possíveis efeitos

nocivos da abertura estão riscos à soberania e integração energéticas na região e a

redução do potencial de industrialização associado à indústria petrolífera, ampliando-se a

exposição ao chamado mal da “doença holandesa”. Por outro lado, a abertura poderia ser

um meio de acelerar a geração de riquezas a partir da exploração de um recurso que tende

a perder valor nas próximas décadas, diante da crescente participação de fontes

renováveis na matriz energética mundial. Apesar disso, a fragilidade política e econômica

da região em relação aos países de origem dos investimentos que se pretende atrair pode

pesar negativamente no balanço final.

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Letícia Figueiredo Ferreira (PEPI/UFRJ)

A Parceria Russo-Turca no Século XXI: Reconfigurações de Forças e Alianças em um Sistema

Internacional em Câmbio

A história testemunha uma série de revezes nas relações entre Rússia e Turquia. Ainda

que os países tenham rivalizado em doze guerras ao longo dos séculos XVII e XX, a União

Soviética foi a primeira potência a reconhecer a República da Turquia ainda no desenrolar

de sua Guerra de Libertação. No seio da Guerra Fria, a relação russo-turca volta a se

deteriorar, à medida que a Turquia adentra a esfera de influência estadunidense. Após

alguns ensaios de aproximação em 1960 e outros intentos exitosos em 1980, os anos 2000,

enfim, consagram o estreitamento dos laços entre os dois atores.

Alexandre Andrade Alvarenga (UERJ)

Energia na literatura política, econômica, geopolítica e internacional

O objetivo desse trabalho foi pensar as relações internacionais a partir de uma visão que

considere os recursos energéticos e o tema da energia como fatores fundamentais para

entender o desenvolvimento das sociedades históricas e das relações internacionais

modernas. O trabalho tentou trazer, à luz do debate internacional, a importância do tema

da energia para as relações internacionais do século XXI, bem como a contribuição de

autores clássicos da ciência política, da economia política e da geopolítica ao longo da

história. A partir de uma análise da literatura, o trabalho também tem como objetivo fazer

uma análise histórica, teórica e conceitual sobre o tema da energia e dos recursos naturais

e energéticos de modo a identificar os diferentes recursos e atores ao longo do

desenvolvimento das sociedades, dos estados e do sistema internacional. O trabalho parte

de uma análise sobre o conceito de energia e a importância dos recursos energéticos em

diferentes períodos históricos, demonstrando também diferentes relações de poder,

recursos, pólos e atores. O trabalho faz parte de uma tentativa de construção de um

framework teórico e histórico sobre energia e relações internacionais, e faz parte de um

estudo sobre as guerras e conflitos por recursos naturais e energéticos em países em

desenvolvimento, como o caso do Brasil. Somado a isso, o trabalho tem também como

objetivo contribuir para o debate teórico e conceitual das relações internacionais ao trazer

uma abordagem mais específica e um elemento de análise diferente das correntes

dominantes que privilegiam alguns atores e recursos. Nesse caso, o tema da energia e foi

escolhido tanto pelas suas complexidades manifestadas na economia e nas relações

internacionais modernas quanto pela conexão com o nosso passado histórico,

evidenciando uma ligação política e econômica de longa data entre seres humanos,

sistemas políticos e recursos naturais. Por fim, cabe destacar que o trabalho não

representa uma pesquisa finalizada, as uma pesquisa ainda em desenvolvimento.

DEBATEDOR: THAUAN SANTOS (EGN)

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30/11/2018 I SEXTA-FEIRA_____________________________________________

14:00 ÀS 15:30

GT 3.1: O INSTITUTO DO REFÚGIO NA SOCIEDADE INTERNACIONAL

RESUMOS

Flávia Rodrigues de Castro (PUC/RJ)

Solidarismo e desigualdade nas relações com o solicitante de refúgio: um olhar situado e a

partir da Cáritas/RJ

Se o espaço humanitário está profundamente marcado pela lógica pastoral, do cuidado

caritativo estabelecido em torno da hierarquia protetor / vítima, pode-se argumentar que

há também uma tensão constitutiva entre desigualdade e solidariedade, nos termos

propostos por Didier Fassin (2007). No âmbito da instituição Cáritas Arquidiocesana do

Rio de Janeiro (Cáritas/RJ) é possível observar que, por um lado, há a preocupação com

a transparência do processo de elegibilidade que envolve as instâncias governamentais

brasileiras de modo que fique claro para o solicitante o que significa o estatuto do

refúgio e o que ele implica, esboçando um modelo de relação solidarista; por outro

lado, há um processo de transformação das narrativas e histórias em casos burocráticos

com a busca pela antecipação da crítica governamental em que é pressuposto a fraqueza

ou não de um “caso”, em um processo não-participativo e desigual de designação

daqueles que se encaixam nos requisitos institucionais e burocráticos. O objetivo dessa

proposta é, então, analisar a ambivalência produzida nas interações entre o

funcionário/voluntário da Cáritas/RJ e o solicitante de refúgio, tendo em mente aquelas

tensões constitutivas entre uma desigualdade radical e o estabelecimento de relações

solidaristas que funcionam também no âmbito daquilo que Fassin chama de “política da

vida” – a seleção da vida que é possível e legítimo salvar. Esse estudo parte da minha

experiência de engajamento como voluntária na Cáritas/RJ e, portanto, do lugar de

privilégio e desconforto de uma acadêmica engajada.

Isabela Souza de Werneck Lustosa (UERJ)

Direito de Fuga e suas Reinterpretações

O instituto do refúgio é fruto da primeira metade do século XX. Tão logo fora instituído,

precisou sofrer modificações e reinterpretações para que estivesse de acordo com as

novas conjunturas da Política Internacional. As atualizações a respeito das definições de

status só foram possíveis graças às mudanças ocorridas no âmbito do regime internacional

sobre o refúgio, que se deu através do ACNUR. As mudanças no regime são aqui

entendidas à luz da teorização a respeito dos regimes internacionais proposta por Stephen

Krasner. Neste sentido, sustenta-se que ao longo do tempo, o regime internacional sobre

os refugiados sofreu alterações em suas regras e procedimentos, preservando, porém seus

princípios e normas. Estas mudanças no regime têm impacto no tratamento que se dá ao

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tema ainda hoje no século XXI, mais especificamente no entendimento regional americano

sobre o refúgio, que apresenta definição mais ampla. Apesar de ter incorporado em seu

ordenamento jurídico a Declaração de Cartagena de 1984, este trabalho levanta a hipótese

de que o Brasil possui dificuldades em mudar também os procedimentos práticos

referentes ao entendimento mais amplo do regime do refúgio, tendo em vista os episódios

do terremoto haitiano e a crise migratória dos venezuelanos no século XXI. Neste sentido,

“Direito de Fuga e suas Reinterpretações” propõe que nem todos os regimes

internacionais geram resultados práticos a depender do tema em questão, e da

possibilidade de ir de encontro à soberania nacional. Portanto, pretendemos defender a

hipótese proposta analisando os casos haitiano e venezuelano de fluxo de pessoas em

direção ao Brasil, observando as medidas tomadas pelo governo brasileiro para se eximir

do reconhecimento de tais cidadãos como refugiados. Ainda, levantaremos os argumentos

da proximidade geográfica, abertura de precedentes e relações diplomáticas para delinear

as decisões tomadas pelo governo brasileiro em relação ao tema, bem como as

consequências destas decisões para os indivíduos em trânsito.

Thais Vivacqua Souza (PUC-RJ)

Corpos temerosos em movimento: a subjetivação pelo medo e a dimensão afetiva da

categoria do refugiado

A administração global da mobilidade envolve um regime de controle da

mobilidade que não somente distingue rigidamente as dinâmicas e experiências de

movimento, como também cria hierarquias entre estas modalidades de deslocamento

baseadas em emoções (MOULIN, C.; 2012). Sendo assim, este trabalho busca explorar

a dimensão afetiva da construção e sustentação da categoria do refugiado no regime de

controle da mobilidade. Ao propor as indagações de qual é o medo do regime

internacional de refúgio e o que ele faz, contesto a pretensão universal da noção de

“temor” da Convenção de 1951 e argumento que o medo inscrito no instituto de refúgio

é uma emoção situada e construída dentro de um sistema de valores ocidental do

pensamento liberal moderno. Partindo disso, argumento que o medo do instituto de

refúgio é um medo liberal que privilegia o temor da violência física e a garantia de

direito políticos, o que gera exclusão de outras experiências de medo como a situação de

violação de direitos socioeconômicos. Por fim, proponho que o medo opera como uma

prática de poder do regime de controle global da mobilidade (re)produzindo

subjetividades e expectativas de comportamento dos sujeitos em movimento, ao mesmo

tempo que traça rigidamente as fronteiras entre o refugiado e o migrante econômico, em

uma relação dicotômica entre o medo e a esperança. Por meio de uma metodologia de

qualitativa e revisão de bibliografia, busco apontar como, por um lado, o refugiado é

subjetivado como um sujeito temeroso, sem agência e desejo em seu deslocamento, com

expectativas de exibição de qualidades como status de vítima sem voz política. Nesta

dicotomia, por outro lado, o migrante econômico vulnerável é subjetivado por sua

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condição laboral, reduzido ao interesse econômico, à esperança de progresso e

permeado por desejo e agência no deslocamento.

DEBATEDOR: MAURÍCIO SANTORO (UERJ)

GT 3.2: DEFESA E SEGURANÇA NA AMÉRICA DO SUL

RESUMOS

Charles Matins Hora (EGN)

Projetos de cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação no âmbito da defesa: diagnóstico

acerca da interação entre o Brasil e os países da UNASUL

Destaca-se que com virada do século, a Agenda de segurança internacional assumiu

contornos multifacetados, dada a sua constante reestruturação. Como resultado, novas

demandas de defesa passaram a se apresentar aos Estados. No âmbito brasileiro, as

respostas às necessidades existentes estruturam-se por meio de diferentes formas, dentre

elas, atividades de cooperação com outros Estados. Considerando a relevância desta

temática, o presente trabalho tem como finalidade analisar as atividades de Ciência,

Tecnologia e Inovação em defesa, entre o Brasil e os países da UNASUL, da sua criação até

o fim do primeiro mandato da Presidente Dilma Rousseff. Parte-se do pressuposto de que

as atividades exercidas neste período favoreceram a aproximação entre os países da

Organização, contribuindo com comércio de produtos de defesa. Neste sentido, apresenta-

se a conformação histórica das relações entre o Brasil e os países da Organização, bem

como a conjuntura em que ocorreu a sua criação. Realiza-se um debate teórico acerca da

cooperação internacional. Por fim, é apresentada a análise dos documentos de cooperação

no âmbito da Agência Brasileira de Cooperação, Ministério da Defesa e da UNASUL. Como

forma de possibilitar a consecução dos objetivos deste estudo, adotou-se a teoria da

interdependência complexa. O procedimento utilizado será o exploratório, por meio da

técnica de documentação indireta, com foco na coleta de dados e análise documental, de

modo que as informações utilizadas subsidiem a confirmação ou refutação do pressuposto

apresentado. Foi possível observar, na perspectiva do desenvolvimento regional mútuo,

que a iniciativa de cooperação se configurou válida para contribuir não apenas para o

desenvolvimento de políticas públicas no âmbito dos Estados, mas também para gerar um

ambiente propício para o diálogo e intercâmbio entre empresas da área de defesa. Neste

cenário, destaca-se que esta aproximação entre os Estados contribuiu para a criação da

Escola Sul-Americana de Defesa, assim como para a realização de atividades como o

adestramento e coordenação das forças militares dos países da UNASUL, ambos no sentido

de reafirmação e alcance dos objetivos da instituição.

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Cecília Anello Balbela (PPGEEI UFRGS)

O caso da expansão da Plataforma Continental Argentina

O presente artigo tem como objetivo demonstrar as ações realizadas do Estado Argentino

para expandir sua soberania rumo ao Atlântico Sul, por meio da sua Plataforma

Continental estendida até 350 milhas marítimas, como estabelecido pela Convenção das

Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Para realizar essa tarefa analítica faremos uma

problematização sobre a expansão territorial dos estados costeiros rumo aos espaços

oceânicos, mais especificamente o caso Plataforma Continental estendida argentina. Para

isso fizemos um apanhado histórico sobre as leis referentes à sua costa adjacente.

Destacando a criação de um suporte jurídico que viabilizasse a formulação da COPLA (La

Comisión Nacional del Límite Exterior de la Plataforma Continental), instituição

responsável pela produção da proposta de expansão da Plataforma Continental argentina

e depositá-lo junto a Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) , órgão

vinculado as Nações Unidas que tem como função delimitar as plataformas continentais

estendidas dos estados costeiros. Além disso, vamos explorar mais minuciosamente o

processo de criação do pleito argentino até sua apresentação da proposta final juntamente

com as decisões da CLPC. Vale ressaltar que a COPLA apresentou sua proposta final em

2009 e, em março de 2017, a CLPC aceitou as recomendações dadas pelos técnicos

argentinos consolidando assim a nova fronteira marítima argentina. Por fim, abordaremos

as controvérsias que envolvem as fronteiras marítimas argentinas mais especificamente a

questão das Ilhas Malvinas/Falklands. Esses territórios insulares têm uma importância

estratégica vital na perspectiva do Atlântico Sul. Um dos pontos é o Estreito de Magalhães

que este localizado no extremo sul do continente americano, que liga os mares do pacifico

com os mares do atlântico. Outro fator é a exploração de hidrocarbonetos no subsolo

marítimo na região das Malvinas. A busca pelo “ouro negro” na plataforma continental no

entrono dessas ilhas propicia uma atividade econômica altamente rentável para empresas

britânicas.

DEBATEDOR: PAULO VELASCO (UERJ)

GT 3.2: ECONOMIA POLÍTICA E INTEGRAÇÃO REGIONAL PARTINDO DE UM

ENQUADRAMENTO EUROPEU

RESUMOS

Gabriele Carlo Giuseppe Ciapparella (UFRJ-IE-PEPI)

Espaços, Civilizações e Territórios: um estudo da dialética das fronteiras na península dos

Bálcãs

Partindo da ideia de que o espaço funciona como elemento mediador entre objetos

históricos, durações e temporalidades diferentes, o presente trabalho procura identificar e

pôr em relação dialética a variabilidade das fronteiras políticas dos estados balcânicos,

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observada entre os séculos XIX e XX, com a continuidade das fronteiras culturais, gravadas

no marco imutável da geografia da península. O trabalho desenvolve-se em três etapas. Na

primeira parte, é explorada a morfologia geográfica da península balcânica e sua posição

dentro de dois conjuntos geográficos mais amplos: a Ilha Mundial de Mackinder e o

Mediterrâneo de Braudel. Destaca-se a estrutura montanhosa e a projeção para Oriente da

península, funcionando como conexão entre a Europa e o Oriente Médio. Na segunda

parte, é examinada a geo-história da península, a partir das evoluções das civilizações

mediterrâneas, apresentadas por Braudel. Elas trabalham e disputam o espaço balcânico,

incidindo profundas fronteiras culturais nele e gerando fraturas e pontos de não retorno.

Na terceira parte, é analisado o enquadramento da península balcânica dentro da

geopolítica contemporânea, interpretada a partir de duas tensões, que investem os Bálcãs:

a expansão do Heartland de Mackinder e a articulação do Rimland de Spykman. Ao longo

das fronteiras culturais, esses movimentos produzem cenários opostos, no que diz

respeito à configuração dos territórios balcânicos e à articulação de suas fronteiras

políticas.

Mario Afonso Massiere y Correa de Moraes Lima (UFRJ)

Dos escombros a liderança: A reconstrução alemã no pós-guerra e suas bases econômicas

para as décadas seguintes

A Alemanha é, e tem sido por décadas, um dos principais atores no sistema internacional.

No entanto, ao longo do século XX, a Alemanha foi a grande responsável por duas guerras

que marcaram o continente europeu e o mundo, alterando de forma indiscutível o

equilíbrio de poder global. Após o final da II Guerra Mundial, a Alemanha se encontrava

destruída, ocupada e com pesadas dívidas de reparação de guerra. Suas cidades eram

pouco mais do que escombros e ainda assim, menos de 30 anos depois, esse mesmo país

era uma economia de ponta liderando o continente europeu. A ideia que guia esse artigo é

entender de que forma ocorreu a reconstrução do Estado alemão no imediato pós-guerra e

algumas das consequências do período de ocupação alemão por parte das forças aliadas.

Como é possível entender de que forma a mistura entre a reconstrução de uma Alemanha

marcada por um regime nazista, junto com a vontade de não permitir que se tornasse uma

potência capaz de gerar uma nova guerra mundial e um espírito punitivo por parte dos

aliados, foi capaz de resultar em uma das economias mais avançadas do mundo com

altíssima rentabilidade em poucas décadas. Quais os fatores políticos e econômicos que

permitiram esse grande salto nas décadas de 1940 e 1950? Seria somente por conta da

destruição trazida pela guerra? Se sim, por que isso não ocorreu em 1920, se não, quais

outros motivos estiveram por trás da reconstrução e do desenvolvimento alemão. Para

melhor compreender o que foi a reconstrução alemã, esse artigo busca abordar os

seguintes temas: A Situação Alemã No Imediato Pós-Guerra; Os Legados da República de

Weimar e do Regime Nazista; A Ocupação Aliada; “Melhores Pessoas Através De

Construções Melhores”; e por fim o Modelo Alemão De Desenvolvimento adotado no

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período pós guerra. Através desse debate, buscamos entender as bases para o

desenvolvimento alemão e sua subsequente liderança dentro do bloco europeu, se

tornando um dos eixos fundamentais do processo de integração europeu.

DEBATEDORA: CAMILA DE’ CARLI (UERJ)

GT 3.4: ORIENTE MÉDIO EM PAUTA: ANÁLISES NO CONTEXTO DA SEGURANÇA

INTERNACIONAL

RESUMOS

Aline Rangel (IRI-PUC-Rio)

Israel Defense Forces e a formação de uma sociedade de experts em violência: a perpetuação

do conflito dentro da green line

Este trabalho busca pensar, a partir do conceito de “especialistas em violência” de Charles

Tilly (2003), os efeitos do serviço militar obrigatório na sociedade israelense. Dentre as

considerações às quais este trabalho chega, tem-se a formação de uma sociedade de

peritos em violência, o que além de militarizar a esfera social cotidiana, intensifica a

assimetria de forças entre os grupos que reivindicam a autonomia palestina e o Estado de

Israel. Embora as atividades da IDF sejam centrais na ocupação da Cisjordânia e no cerco

militar à Gaza, optou-se por pensar a militarização dentro da green zone, isto é, dentro dos

muros de Israel (com exceção de Jerusalém Ocidental). Tal opção também tem como pré-

texto sugerir a conexão entre os “bolsões de segurança” de Tel Aviv e Haifa e a vida

precarizada nos territórios de Gaza e da Cisjordânia.

Marina D'Lara Siqueira Santos (PUC Minas) e Matheus de Abreu Costa Souza (PUC Minas)

"Reconhecemos o óbvio - Jerusalém é a capital de Israel": Analisando as dinâmicas de

violência no Conflito Israel-Palestina após a declaração de Trump

Comumente referenciado como um conflito intratável, a disputa territorial entre Israel e

Palestina já dura décadas e o seu fim não parece próximo. O presente artigo investiga se há

uma relação de interveniência entre o aumento da violência política no conflito israelo-

palestino o reconhecimento, por parte do presidente dos Estados Unidos da América

(EUA), Donald Trump, de Jerusalém como a capital simbólica de Israel, cidade que é alvo

da reivindicação das partes em conflito. A partir dessa avaliação, busca-se identificar de

que maneira a interferência estadunidense em um recurso central pode intensificar a

natureza intratável da disputa.

André Figueiredo Nunes (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)

Os Estreitos do Oriente Médio e o Subcomplexo dos Chokepoints

O objetivo deste trabalho é analisar a relevância dos Estreitos do Oriente Médio para a

segurança energética internacional. Desse modo, propõe-se uma análise do valor

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geográfico e político de três importantes rotas marítimas da região, a saber o Estreito de

Ormuz, o Estreito de Bab el-Mandeb e o Canal de Suez, que apesar de não ser um Estreito é

um canal aquaviário de grande importância para o fluxo comercial marítimo entre o

Oriente e o Ocidente. Nesse sentido, com o intuito de atender a finalidade deste estudo, a

pesquisa aborda a Teoria do Complexo de Segurança Regional elaborada no âmbito da

Escola de Copenhagen e, somado a isto, propõe a análise de um subcomplexo regional de

segurança no Oriente Médio voltado para o estudo dos seus três principais chokepoints

marítimos. Além disso, é discutido o conceito de segurança energética sob o ponto de vista

dos países produtores e consumidores de hidrocarbonetos, bem como a importância dos

Estreitos como rotas de trânsito naval para o atendimento das demandas internacionais

deste setor. Para finalizar, o artigo examina a navegação através dos Estreitos à luz do

Direito Internacional apoiando-se em tratados internacionais como a Convenção das

Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982 e da Convenção de Constantinopla de 1888.

Leandro Loureiro Costa (UERJ)

A Revista Dabiq e a construção do inimigo: um projeto de análise de conteúdo das

classificações utilizadas pelo DAESH para nomear os seus opositores

A organização terrorista Estado Islâmico tem sido obstáculo, tanto pela promoção de

atentados, mas também por ser capaz de recrutar jovens pelo mundo para que lutem de

acordo com os interesses do grupo. Para tal objetivo, desenvolveu-se uma máquina de

propaganda com poder de construir representações demonizadas do inimigo e criar

fortes identificações para os que partilham das ideias da organização. São vídeos,

áudios, músicas, livros e revistas que servem como base para o desenho do modelo de

vida do Estado Islâmico e dos seus militantes. Esta pesquisa se baseou na Revista Dabiq

para analisar como o mundo social do grupo foi construído. A partir dos seus textos e

imagens foi possível compreender quais são os elementos que compõem o mesmo, dando

subsídios para estudos mais específicos sobre a problemática do extremismo islâmico.

Portanto, neste artigo, foi criado um dicionário capaz de auxiliar os pesquisadores da

área de terrorismo em futuras contribuições que tratarão da construção de discursos e a

sua instrumentalização por esses grupos radicais. Estes padrões lexicais caracterizam os

chamados “inimigos” do Estado Islâmico, além da própria identificação do “eu” do

grupo estar diretamente ligada a essa definição do “outro”. Esses são parte de uma

visão de mundo que busca responder às crises da modernidade, propondo uma

alternativa radical baseada na violência.

DEBATEDORA: LAYLA DAWOOD (UERJ)

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16:00 ÀS 17H30

GT 3.5: ABORDANDO O NEOLIBERALISMO NA ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL

Bruna Machado Targino (UFRJ) e Eduardo Alberto Crespo (UFRJ)

América Latina y Asia Oriental en Perspectiva Comparada

En este trabajo analizaremos críticamente algunas de las propuestas teóricas que

interpretan el neoliberalismo como una orientación política estatal que busca limitar las

capacidades de intervención de los Estados, en especial las referidas a políticas

redistributivas en términos sociales y territoriales. Como parte de esas políticas la

segunda globalización de finales del siglo XX e inicios del XXI, entendida como apertura

comercial y especialmente financiera, debilita los vínculos entre los procesos de

acumulación de capital regionales o urbanos y los respectivos territorios nacionales

entendidos como totalidad, profundizando asimetrías sociales, regionales y políticas.

Analizaremos este proceso como una limitación para el desarrollo económico y como una

amenaza para la forma democrática de las políticas públicas.

Matheus de Freitas Cecílio (UFRJ)

A armadilha de renda média: uma apreciação crítica

A questão da armadilha de renda média, essencialmente, significa uma reflexão

acerca dos desencontros e obstáculos presentes nos diferentes caminhos e trajetórias de

desenvolvimento dos países. Ela se conecta, neste sentido, umbilicalmente à teoria e à

observação histórica-prática do desenvolvimento. Não há definição universalmente aceita

do termo “armadilha de renda média” na literatura, sendo que o conceito vem sendo

recentemente usado para se referir às economias aparentemente “presas” na condição de

renda média (FELIPE, KUMAR & GALOPE; 2014). Contudo, o termo vem ganhando

especial atenção por parte das instituições financeiras internacionais, como evidenciado

pelo crescente número de estudos (ASIAN DEVELOPMENT BANK; 2014; WORLD

BANK; 2013). Sua primeira menção, pelos economistas do Banco Mundial Indermit Gill

e Homi Kharas, data de 2007, e foi utilizada para categorizar economias do Leste Asiático

que cresceram rapidamente e aparentemente estagnaram (ROBERTSON; YE; 2013). Ou

seja, o termo é bastante novo, contando apenas dez anos de uso, e foi gestado dentro do

quadro das instituições financeiras internacionais. Ao lado de outros estudos recentes, os

criadores do termo levantaram a hipótese de que, para sustentar o crescimento e

ultrapassar a renda média, as economias devem realizar “significativas reformas” nas

instituições de política econômica e nos processos políticos (ROBERTSON; YE; 2013).

Outros autores levantam a hipótese de que não se pode falar em armadilha de renda

média, apenas em “ritmos diferentes de crescimento” dos países (FELIPE, KUMAR &

GALOPE; 2014). Ou seja, de modo geral, nesta perspectiva, pensar a armadilha de renda

média inclui pensar o que os países nela presos estão fazendo de errado, quais reformas

são necessárias, o que deve mudar. Sabendo que a questão da armadilha de renda média

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se entrelaça tão profundamente com outros elementos, fazendo parte da mais ampla

categoria da teoria do desenvolvimento, e que o termo é bastante recente; não é de se

estranhar que diferentes autores e escolas tratem do tema sob diferentes ângulos e

teorizações. “Armadilha de renda média”, dependendo da perspectiva, pode significar o

mesmo que “armadilha do subdesenvolvimento”. Para outros referenciais, um país em

condição de renda média nada mais é do que um país “semiperiférico” (ARRIGHI, 1997).

Enfim, não há clareza absoluta para se tratar do conceito de “armadilha de renda média”,

embora seja imprescindível defini-la e identificá-la como um processo histórico e

observável, previsto teoricamente.

Pedro Henrique Mota de Carvalho (PPGRI San Tiago Dantas)

Países em desenvolvimento e difusão de normas no Regime Internacional de Propriedade

Intelectual

Negociações de acordos internacionais em propriedade intelectual se intensificaram no

decorrer da segunda metade do século XX até o presente. Enquanto suas origens

remontam a acordos que datam do fim do século XIX, como os de Paris (1883) e Berna

(1886), seus elementos constitutivos formaram-se depois: no ano de 1967, data da criação

da Organização Mundial de Propriedade Intelectual como agência especializada da ONU, e,

sobretudo, em 1992, com a inclusão do tema no Regime Internacional de Comércio através

do acordo Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights (TRIPS). O acordo TRIPS

estabeleceu padrões mínimos e obrigatórios de proteção para todos os membros da OMC,

implicando em diversas contradições ao utilizar a legislação de países desenvolvidos como

padrão dos textos. Como resultados adversos da proteção do TRIPS sobre patentes e

outras formas de propriedade intelectual, parte da literatura aponta para a limitação da

capacidade em formular políticas públicas em diversas áreas, como inovação econômica,

acesso a medicamentos, educação e segurança alimentar. Na atualidade, diversos acordos

que excedem o padrão colocado pelo TRIPS estão em negociação e diversos foram

implementados por países em desenvolvimento. Almejamos discutir as razões que levam

países em desenvolvimento a aderir a normas com maiores níveis de proteção, excedendo

os padrões multilaterais do TRIPS e ampliando assim os problemas decorrentes da

proteção. A partir de uma revisão sistematizada da literatura que trata a difusão de

normas em propriedade intelectual, este trabalho busca mapear e discutir as principais

razões que levam os países em desenvolvimento a aderir a padrões internacionais de

proteção apontados como prejudiciais. A literatura analisada atribui a difusão de normas a

uma combinação de fatores explicativos, sendo os principais: i) o nível de inovação, de

modo que países em desenvolvimento adotam normas TRIPS-plus para proteger setores

específicos, com perdas difusas para sociedade; ii) através de mecanismos de socialização,

como organizações internacionais e iii) e coerção, especialmente dos EUA, através da

Seção special 301 dos EUA.

DEBATEDORA: PATRÍCIA NASSER (UFMG)

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GT 3.6: CHINA, ESTADOS UNIDOS E A DISPUTA PELA HEGEMONIA NO PACÍFICO

RESUMOS

Emerson Maciel Junqueira (PPGRI San Tiago Dantas)

A Política Externa Chinesa de Ascensão Pacífica

O crescimento econômico da China, as ações do governo durante os protestos da Praça de

Tiananmen e os exercícios militares no leste asiático nos anos 90 resultaram no temor de

países vizinhos de uma possível expansão chinesa na região e dentro do governo de

Pequim a possibilidade dos EUA exercer políticas de contenção ao crescimento chinês.

Visando mitigar estas percepções, no final da década de 1990 e início dos anos 2000

Pequim elaborou a diplomacia de “ascensão pacífica” (posteriormente alterado para

“desenvolvimento pacífico”), cujo ponto central era garantir aos demais países que a China

não possuía intenções expansionistas, mantendo a tradição dos princípios da Coexistência

Pacífica em voga desde a década de 1950, na qual a China se compromete respeitar a

soberania nacional e adotar práticas não-intervencionistas. O “desenvolvimento pacífico”

iniciou-se no governo de Hu Jintao (2003-2013), que também lançou a ideia de “mundo

harmonioso”, partindo da premissa que era necessário um sistema internacional estável

para manter o crescimento chinês. O seu governo também foi marcado pelo crescimento

econômico próximo aos dois dígitos e politicamente pela necessidade de formação de

consenso nas principais instâncias de decisão do Partido Comunista. O governo Xi Jinping

(2013- ) apresenta mudanças internas e também na política externa. Internamente o seu

governo é caracterizado pelo crescimento estável da economia chinesa e a meta de

promover o desenvolvimento tecnológico do país, na área política a sua gestão é

considerada mais centralizada comparada ao governo anterior. Ambos atributos afetam a

sua política externa, que pode ser considerada mais ativa e atribui a China o caráter de

potência internacional, modificando a histórica posição chinesa, vigente desde meados dos

anos 80, no qual a China deveria manter um perfil de baixo engajamento, não reivindicar a

posição de liderança e focar no desenvolvimento do país. Assim o artigo objetiva

demonstrar que o governo Xi Jinping modifica e flexibiliza as características da política

externa chinesa para atender o novo status internacional do país, algo que não estava

presente no mandato anterior.

Fernanda Cristina Nanci Izidro Gonçalves (Unilasalle-RJ/IESP-UERJ) e Marcella Germano

(Unilasalle-RJ)

Twiplomacy: a ascensão de Donald Trump em 140 caracteres

A partir do conceito de diplomacia digital, o presente artigo tem como objetivo analisar

como o Twitter, uma rede social, foi utilizado como importante ferramenta nas eleições

estadunidenses de 2016, servindo como plataforma de campanha para o candidato

republicano Donald Trump. Busca-se analisar a campanha do então candidato no Twitter,

com ênfase em três dos mais importantes temas discutidos na disputa eleitoral: imigrantes

e refugiados; terrorismo; relações com a Rússia. Esses temas foram selecionados, por

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serem assuntos em que os candidatos americanos mais divergiram, além de terem sido

frequentemente abordados em debates. Considerando o objetivo apresentado, este artigo

busca responder a seguinte questão: como o Twitter foi utilizado por Trump como

instrumento de campanha nas eleições americanas de 2016? Para responder esta questão,

parte-se do pressuposto de que o Twitter, embora não tenha sido o único responsável pelo

resultado das eleições, desempenhou um papel fundamental ao ampliar a visibilidade do

candidato e de sua plataforma de campanha, permitindo a propagação de suas ideias.

Assim, entende-se que Trump utilizou a rede social para descrever sua agenda política,

transmitir suas ideias, cativar apoiadores para sua campanha e contradizer os seus rivais

políticos, realizando uma diplomacia digital. O conceito de diplomacia digital é

fundamental no artigo, assim como a discussão sobre como as mídias sociais podem ser

instrumentos eficazes na promoção de resultados neste tipo de diplomacia. Desta forma,

este artigo investiga como as redes sociais podem ser utilizadas com três funções

específicas: (i) para estabelecer uma “agenda digital”, definindo temas centrais na pauta

política, (ii) para expandir a “presença digital”, potencializando o alcance da mensagem,

(iii) para gerar “conversas digitais”, ampliando a interação com o público. Por meio de um

estudo de caso e da análise dos tweets sobre os temas acima aventados, este artigo conclui

que o Twitter foi de máxima importância para a campanha de Trump, que ao adotar a

diplomacia digital, usou o Twitter e os posts de até 140 caracteres como meio de

comunicação para fortalecer sua proposta de campanha. Ao engajar seus eleitores através

de tweets, replies, retweets e likes, Trump transmitiu sua agenda política, aumentou o

alcance das suas mensagens e ampliou a interação com o público, causando um

envolvimento na sociedade em rede que culminou na expansão da sua presença tanto no

ambiente digital quanto no ambiente “real”, o qual junto ao sistema democrático

americano, o levaram a vitória.

Ben Lian Deng (UFRJ). Caroline Rocha Travassos Colbert (UFRJ)

An International Relations Crisis: US Taiwan Policy during the George W. Bush

Administration (2001-2009)

The purpose of this article is to analyze the United States’ (US) Taiwan policy during

the George W. Bush administration (2001-2009)—specifically, how Washington actively

opposed Taiwanese independence during this period. After the Korean War (1950), the

US’s official policy on Taiwan was to “neutralize” and prevent war across the Taiwan

Strait, thereby maintaining the status quo in the region. During the 1950´s and 1960´s, the

US successfully prevented Chinese attempts to invade Taiwan. However, the dynamic of

the cross-strait relations changed drastically in the 1990´s, following Taiwan’s political

liberalization and the emergence of the Taiwanese independence movement. During the

George W. Bush administration (2001-2009), Taiwan was ruled by the pro-independence

Chen Shui-bian (2000-2008), which increased cross-strait tensions. In order to satisfy its

own geopolitical interests, the US actively denied support to this movement, boycotting

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Chen´s attempts to declare Taiwan´s independence. This paper concludes that the core of

the US’s Taiwan policy is to prevent alteration of the status quo or threat of war in the

region, while using the “Taiwan Card” as a bargaining chip in bilateral negotiations with

China.

DEBATEDORA: LETICIA SIMÕES (UERJ-UNILASALLE/RJ)

GT 3.7: INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS E AS DIVERSAS FACES DO DESENVOLVIMENTO

RESUMOS

Cecilia Madeira de Menezes (Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares)

Análise da fragilidade institucional quanto à segurança do armazenamento e deposição dos

rejeitos radioativos

Toda atividade humana gera rejeitos e a maioria deles tem associado um risco à saúde

humana e ao meio-ambiente que não pode ser negligenciado. Ao se falar sobre o risco de

uma atividade industrial, percebe-se a multiplicidade de áreas de atividade relacionadas

ao risco que ali está evidenciado. Uma sociedade industrial pode trazer riscos elevados

para o meio-ambiente e para a saúde humana e essa preocupação atinge esferas do poder

público. A probabilidade de acidentes ambientais decorrentes de atividades industriais

consideradas potencialmente impactantes cresce na mesma proporção da demanda por

bens e serviços e, na proporção inversa, da preocupação do poder público com aqueles

riscos. Pode-se observar que o controle institucional para licenciamento e fiscalização

dessas atividades faz-se imprescindível, segundo o INEA-RJ, com uma intensidade ainda

maior sobre indústrias que manipulam substâncias químicas consideradas perigosas. A

gestão insatisfatória dos rejeitos gerados por uma indústria química traz um risco

eminente de contaminação do meio hídrico, solo, ar e, consequentemente, da população. O

papel das instituições governamentais para o gerenciamento de risco é analisar as

situações ou eventos potenciais e orientar a tomada de decisão, de modo que o

estabelecimento de ações evite ou pelo menos minimize a manifestação de danos para a

saúde humana e o meio-ambiente. A prevenção de um risco de contaminação de solo, por

exemplo, devido a uma mineradora, deverá ser minuciosamente calculada, pois os danos

podem ser intoleráveis e irreversíveis. Tem-se como exemplo o desastre da cidade de

Mariana, MG. A gestão dos rejeitos radioativos é um exemplo de perigo associado às

atividades industriais o qual requer muita atenção e controle regulatório. Além do perigo

presente nos materiais radioativos, deve-se considerar também o tempo de confinamento

necessário para que a radioatividade do rejeito decaia a níveis aceitáveis. Por vezes, esse

tempo pode chegar a milênios até que o rejeito não apresente mais riscos para a saúde

humana. Para que seja efetivo o controle e a segurança sobre esses rejeitos durante todo

esse tempo, a estabilidade da instituição responsável deve ser garantida. Um exemplo

disso é o caso ocorrido posteriormente à dissolução da União Soviética, quando fontes

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radioativas órfãs, fontes que saíram do controle institucional, foram localizadas na Estônia

após terem causado um sério acidente radiológico. Durante a transição de regime político,

a Instituição responsável pelo Programa Nuclear Soviético se dividiu nos múltiplos

territórios e o sistema de controle ruiu.

Ivi Vasconcelos Elias (UERJ)

Regime alimentar internacional contemporâneo e a centralidade do papel da mulher na

promoção da soberania alimentar e nutricional (SAN) na governança global

O tema proposto busca investigar o nexo entre desenvolvimento e a promoção da

igualdade de gênero no alcance da soberania alimentar e nutricional (SAN) no âmbito da

governança da ordem internacional contemporânea. A SAN pode ser definida como a

garantia de condições de acesso aos alimentos básicos, seguros e de qualidade, em

quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras

necessidades essenciais. O conceito de regime alimentar internacional abrange as relações

entre estado e mercado associadas a ordens político-econômicas internacionais

institucionalizadas. Sendo assim, as configurações de poder no espaço-tempo constituem

hegemonias que atuam como traço unificador da organização da produção e circulação

mundial de alimentos. Esta, por sua vez, encontra-se arraigada em uma dinâmica de

acumulação específica que condiciona o vínculo do Estado com o mercado em cada ordem

alimentar mundial, incluindo relações financeiras, de trabalho e ecológicas. O capitalismo,

base desse processo, organiza-se em ciclos organizados de acumulação associado a

relações agroalimentares. Em cada ciclo, o regime alimentar é sustentado por formas de

cercamentos, conceito marxiano que aponta mecanismos de apropriação de esferas que

costumavam ser externas ao processo de acumulação de capital e que se prestam à

contínua reprodução do capitalismo. Tal conceito mostra-se importante para entender

formas atípicas e não tradicionais de exploração, especialmente no Sul global. No tocante

ao setor agrícola, a transição agrária, ou seja, a mudança dos trabalhadores da agricultura

para os setores industrial e de serviços impulsionada por processos de desenvolvimento

tem sido notavelmente genderizada, constituindo a chamada feminização da agricultura.

Por esse fenômeno, as mulheres são hoje a principal força de trabalho na produção de

alimentos organizada ainda de forma precarizada e, muitas vezes, pautada por dinâmicas

locais. Sendo assim, o presente trabalho busca investigar de que forma o regime alimentar

corporativo apresenta tensões que apontam para a configuração de uma acumulação

primitiva que possui nas mulheres uma de suas formas de cercamentos principais, o que é

expresso na lógica de promoção do desenvolvimento rural encampada pelas organizações

internacionais.

DEBATEDOR: BRUNO BORGES (UERJ)

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GT 3.8: HEGEMONIAS, CRÍTICA E POSSIBILIDADES DE TRANSFORMAÇÃO NO SISTEMA

INTERNACIONAL

RESUMOS

Jean Victor Mercini Fausto (PUC Minas)

A dimensão internacional da construção de um socialismo global: a ideia trotskista da

revolução permanente

Neste trabalho, apresentamos uma discussão a respeito da ideia de fronteiras relacionadas

às teses trotskistas de revolução permanente e sua crítica à doutrina stalinista do

‘Socialismo em um só país’. Analisamos os argumentos trotskistas em relação à dimensão

internacional da construção de um socialismo global, especialmente quanto à sua ideia dos

“Estados Unidos da Europa”, contidos em suas obras a partir de 1905. Em que pese o fato

de que a doutrina stalinista tinha a função mais de subordinar a ideia da revolução

socialista à União Soviética e seus processos do que de operar um isolacionismo ativo, a

discussão de Trotsky é interessante por expor algumas concepções interessantes de

fronteiras. Primeiro sua tese da revolução permanente – necessariamente vinculada à

expansão da revolução a outros estados (especialmente europeus) – e depois essa sua

visão a respeito de como se configurava o sistema capitalista mundial revelam que Trotsky

reconhecia uma natureza necessariamente móvel das forças produtivas e de suas

fronteiras, constituindo territórios de sujeição imperial dependentes do grau dessa

expansão. Ao mesmo tempo, ele enxergava um sistema de estados, em que a União

Soviética estava inserida como uma das unidades políticas determinadas, de território

relativamente fixos, cujas fronteiras permaneciam existentes e politicamente

significativas, mesmo que as forças produtivas capitalistas não restringissem sua atuação

espacial por elas. Portanto, conclui-se que existe uma contradição entre as fronteiras do

sistema econômico global capitalista (e, necessariamente para poder superá-lo, as

fronteiras globais entre burgueses e proletários) e as fronteiras dos estados que formam o

sistema de estados modernos. Assim, é a sobreposição da hierarquia de classes no âmbito

econômico e da anarquia político-militar como ordenadora do sistema político que gera

essa contradição. Obviamente em Trotsky, seu apelo à solidariedade internacional da

classe proletária e seus comprometimentos materialistas históricos parecem indicar que,

na sua contemporaneidade, as principais linhas de demarcação eram entre classes, mais

que entre estados. Por fim, analisamos se a condução do processo de integração regional

na Europa ter se dado em termos mais liberais que socialistas contradiz a ideia trotskista

da impossibilidade do capitalismo gerar esse tipo de processo, chamando atenção para a

dimensão internacional da construção de movimentos socialistas e seu papel nesse

processo.

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Fernanda Castro Gastaldi (UFU)

Gramsci e o negacionismo climático estadunidense: a construção do discurso hegemônico no

Antropoceno

Antropoceno é o termo utilizado por alguns cientistas para denominar o período

geológico mais recente do planeta Terra - período este marcado pela ação humana

prejudicial ao meio ambiente. Diante desse contexto, o aquecimento global emerge como

um tema relevante nos debates científicos e políticos. O consenso científico reconhece a

existência de um processo de aquecimento global antropogênico atualmente em curso,

enquanto as vertentes negacionistas o questionam. Nos Estados Unidos, o negacionismo

climático tem obtido êxito em influenciar processos políticos, enquanto por eles é

influenciado. O país é centro preponderante de formulação e difusão internacional das

vertentes negacionistas e, como superpotência, possui capacidade de estabelecer termos

do discurso hegemônico global. Este trabalho objetiva apresentar uma análise

essencialmente gramsciana a respeito do negacionismo, abordando-o enquanto discurso

que visa colocar-se e preservar-se como hegemônico ou dominante em benefício do

sistema capitalista neoliberal vigente. O estudo concretiza-se por meio de pesquisa

bibliográfica, avaliações qualitativas, análise teórica e método de abordagem hipotético-

dedutivo. A partir disso, verifica-se que o bloco histórico hoje vigente é o do sistema

capitalista. Particularmente nos Estados Unidos, esse sistema é orientado pelo liberalismo

econômico, o que favorece a hegemonia de uma classe fundamental formada pelas grandes

corporações do setor privado. O negacionismo adquire importância ao se configurar como

uma ideologia orgânica do sistema corrente. Em âmbito estrutural, o negacionismo

sanciona um sistema produtivo coerente à valorização do capital. Na esfera da sociedade

civil, propicia o consumismo. O discurso negacionista é, portanto base relevante do

consenso e da manutenção do sistema capitalista como hoje se apresenta. Trata-se de um

recurso ideológico que permite a preservação das relações sociais no âmbito do processo

produtivo, de forma a beneficiar a classe dirigente e dar continuidade à sua hegemonia.

Conclui-se que a construção e o colapso de qualquer bloco histórico constituem processo

diretamente atrelado à questão da hegemonia. O discurso negacionista certamente

acompanhará esse processo.

DEBATEDOR: LAYLA DAWOOD (UERJ)

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GT 3.9: TERRORISMO E GUERRA ÀS DROGAS NA CONJUNTURA DE SEGURANÇA

INTERNACIONAL

RESUMOS

Renée Couto Lara Ferreira (UERJ)

O Hezbollah e o processo de construção de segurança no Líbano

A abordagem teórica dos Estudos Críticos de Segurança feita por Matt McDonald é

utilizada para pensarmos o espaço que o Hezbollah ocupa no processo de construção de

segurança do Líbano. Através da metodologia da Reconstrução Crítica Explicativa de Axel

Honneth e da análise do histórico de criação do grupo enquanto terrorista e enquanto

partido político podemos perceber que o mesmo ocupa um espaço intermediário no

processo. Nosso objetivo é propor uma reflexão sobre a forma como lemos o grupo no

construção de segurança libanesa, saindo da visão tradicional de “ameaça terrorista” e

indo em direção à compreensão mais contextualizada e política que consideramos mais

apropriada para lidar com as transformações na ação do mesmo.O grupo passou a exercer

papel político de destaque no período posterior ao Acordo de Taif como representante dos

Xiitas por seu declarado comprometimento com a mudança nas estruturas de poder, logo

ocupando um lugar de provedor de segurança para a comunidade, principalmente os

Xiitas do Sul do país, antes deixada desprestigiada e pouco representada pela sua elite

política tradicional estagnada e incapaz de compreender as transições demográficas pelas

quais a comunidade passava. Sem perder o status de organização armada e, ainda assim,

comprometida com a negociação e a igualdade política entre as comunidades sectárias,

hoje o Hezbollah ocupa um espaço ambíguo no processo de construção de segurança, pois

possibilitou voz ativa aos seus representados e atua dentro das regras do jogo

institucional democrático a maior arte do tempo. E ao mesmo tempo mantém da

desconfiança internacional e libanesa quanto ao emprego de táticas terroristas e ao seu

envolvimento em conflitos fora das fronteiras libanesas.

Gabriel Gama de Oliveira Brasilino (PUC-Rio)

The Metaphor of "War on Drugs" and "Mass Murder" in the Philippines: discourse analysis,

power relations, and an interview with President Rodrigo Duterte

In this article I offer an analysis of statements pronounced by Rodrigo Duterte in a

interview conducted by two journalists from the Al Jazeera Global Media Network. I show

how through these statements and rhetoric - a political discourse dependent on and

effective through the metaphor of "war on drugs" - Duterte attempted to legitimize the

extrajudicial killing of more than 3.500 citizens constructed as threats to public security,

and enemies to be (“legitimately”) killed. I draw on Foucault's Critical and Genealogical

Discourse Analysis (1971; 2003; 2007), to argue that, although the "war on drugs" is a

metaphor (MIDDLEMASS, 2014) mobilized within a discursive strategy previous to, during

and after presidential elections, it [“war on drugs”] is also a (bio)politics of drugs and

security that results in confrontations, hunting, punishment, and, in the limit,

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extermination of declared enemies (FOUCAULT, 2003; 2007; ZACCONE, 2015). Critical

discourse analysis (CDA), as other methods of discourse analysis, involves a theory of

language, its nature (what it is), its effects (what it does) and how it (re)produces specific

effects (i.e. identification; differentiation; subjectivation; persuasion; legitimization;

normalization). CDA, however, is the most interdisciplinary, encompassing different

methods and analytical categories – linguistic and multimodal – among different

epistemological principles, especially Foucault’s. It also involves an engagement with

social movements that are critical to the uneven distribution of material and symbolic

resources; to the naturalization of discourses – drug prohibition and “war on drugs” for

instance – that serves dominant interests and tries to legitimize, normalize militarized

security policies. The main goal of CDA, thus, is to unveil power struggles, to show how

those interests represent particular groups, despite of being presented as ‘national(ist)’,

‘universal’, ‘morally correct’ and ‘legitimate’. This article shows how through the

metaphorical language of ‘war’, Duterte admits, and normalize exceptional (political)

violence(s) to deal with the “the problem of drugs,” that is, his statements produce specific

power- and knowledge-effects. I also delineate the historical level of analysis, and consider

the role of discourse analysis for critical security studies, being reflexive to the previous

arguments, and offering paths for future research on the debate on drugs

(de)criminalization, (racist) criminal justice systems, and political violence(s) more

generally.

Maria Aparecida Felix Mercadante (Universidade Federal da Integração Latino-

Americana)

Da Guerra às Drogas ao Plano Colômbia: uma agenda securitária dos Estados Unidos para a

América do Sul

Em 1971, o presidente norte-americano Richard Nixon declarou o abuso de drogas como

sendo o inimigo público número um dos Estados Unidos. A partir disso, o discurso e a

articulação das políticas norte-americanas contra as drogas basearam-se na divisão do

mundo entre dois grupos: os países produtores de ilícitos e os países consumidores. Os

Estados Unidos, como pertencentes do grupo de países consumidores, se posicionam como

“vítimas” gerando uma retórica de segurança nacional que mais tarde seria estendida para

o continente e militarizada nos governos de Ronald Reagan (1981-1989) e George Bush

(1989-1993). A utilização de conceitos como narcodemocracia e narcoguerrilha, este que

inclusive deslegitimava o caráter político dos movimentos insurgentes latino-americanos,

por parte dos agentes do governo norte-americano com relação à Colômbia reforçam o

narcotráfico e o conflito interno colombiano como ameaças à segurança nacional, regional

e continental e impulsionam a um dever “moral” de ação por parte dos Estados Unidos. O

objetivo do presente trabalho, portanto, é analisar a securitização do narcotráfico pelos

Estados Unidos e o desenvolvimento do Plano Colômbia, em 2000, como um caso de

overlay dos interesses norte-americanos. À luz do conceito de securitização, recorre-se a

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documentos e discursos oficiais para identificar o alinhamento, por meio do aparato

discursivo, das políticas de segurança realizadas entre os países. A combinação entre

interdição, erradicação e combate às organizações narcotraficantes, subordinados às

diretrizes de política de segurança norte-americana, resultou na criação do Plan Colombia:

Plan para la paz, la prosperidad y el fortalecimiento del Estado e na internacionalização do

conflito interno colombiano. O Plano securitizou a relação bilateral entre Estados Unidos e

Colômbia. O aparato discursivo norte-americano moldou uma estratégia repressiva, o

overlay dos interesses norte-americanos garantiu uma política cujo eixo central era o

caráter bélico, principalmente, após o 11/9 com a campanha militar conhecida como Plano

Patriota e a incorporação da guerra às drogas pela guerra ao terror.

DEBATEDOR: HUGO SUPPO (UERJ)