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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
PROGRAMAÇÃO DOS GRUPOS DE TRABALHO
28/11/2018 I QUARTA-FEIRA_____________________________________________
14:00 ÀS 15:30
GT 1.1: POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA ENTRE RELAÇÕES SOCIAIS, POLÍTICAS E
ECONÔMICAS
RESUMOS
Mariana Davi Ferreira (Universidade Estadual da Paraíba)
Política Externa Brasileira e burguesia industrial em tempos de colapso do
neodesenvolvimentismo: algumas hipóteses em debate
Este artigo analisa o posicionamento e a atuação política da burguesia industrial brasileira
no que tange à política externa do Brasil na atual crise econômica e político-institucional.
A perspectiva é apreender a inflexão no posicionamento desse setor da burguesia
brasileira, que abandonou a defesa do neodesenvolvimentismo durante os governos
petistas e passou a apoiar um projeto neoliberal ortodoxo, no que tange à política
econômica e à política externa. A burguesia industrial brasileira compõe a grande
burguesia interna, fração de classe que compôs o bloco no poder dos governos petistas e
obteve ganhos econômicos de destaque nesse período. Os setores econômicos que
compunham este bloco se movimentavam e aglutinaram-se na defesa do
neodesenvolvimentismo. Para defender seus interesses e atuar na luta política, a
burguesia industrial se organiza em entidades e associações como a Fiesp e a CNI. Assim,
neste trabalho buscamos compreender os fatores que resultaram na inflexão no
posicionamento da Fiesp e da CNI no que tange à política externa para o comércio exterior
no período da crise político-institucional, apontando algumas hipóteses iniciais. Para tal, a
pesquisa foi de caráter qualitativo e exploratório, realizado por meio da análise dos
documentos elaborados pelas entidades à luz da Teoria Social Crítica.
Solange Pastana de Góes (UERJ)
A política externa brasileira nos governos FHC e Lula e a concepção gramsciana de “Estado
integral”
O campo de estudo da análise de política externa busca compreender como se dá a
participação internacional dos Estados a partir da investigação de como é composta,
formulada e executada a política externa dos diversos países que fazem parte do sistema
internacional. Concentra-se em entender as estratégias de ação e inserção internacional
dos Estados a partir da investigação de elementos políticos internos. Nesse sentido,
estabelece dialogo com estudos acerca das formações institucionais, materiais, culturais e
psicológicas tanto do campo político quanto da sociedade civil. O objetivo desse trabalho é
o de analisar as linhas gerais da política externa brasileira nos governos FHC e Lula, em
especial naquilo que se refere às concepções institucionalistas pragmáticas e
universalistas e a consideração dos interesses de diferentes atores em relação aos
fundamentos desses paradigmas de política externa, a partir da ideia de Estado Integral de
Antônio Gramsci. Busca-se no conceito de Estado Integral ou Estado Ampliado a
compreensão da relação entre a sociedade política e a sociedade civil brasileira no que se
refere ao projeto de inserção internacional do país. Segundo Gramsci, o Estado busca se
legitimar por meio da conquista de parte dos interesses das classes que formam a
sociedade civil e que são compostas por elementos institucionais e culturais. Parte-se do
pressuposto de que a política externa formulada pelo Estado brasileiro reflete também a
luta de classe presente na sociedade civil. No que diz respeito à formulação e à
implementação da política externa brasileira, o Itamaraty é tido como instituição insulada,
representante do interesse do Estado sem incorporar bandeiras partidárias e, portanto,
desvinculado dos conflitos e disputas da política interna. Todavia, a característica insular e
a legitimidade dos diplomatas frente à formulação e implementação da política de Estado é
passível de questionamento a partir da relação que Gramsci faz entre a sociedade política,
a sociedade civil e os intelectuais.
Gustavo Oliveira Teles de Menezes (PPGRI San Tiago Dantas)
O Brasil e as questões do Kosovo e da Crimeia
A independência do Kosovo apoiada pelos EUA (2008) e a anexação da Crimeia pela Rússia
(2014) são episódios marcados pela tensão entre o uso discricionário do poder, de um
lado, e a concertação multilateral e a normatividade legal, do outro, na política
internacional. O Brasil, apesar de não ter reconhecido nenhuma dessas mudanças
territoriais, comportou-se de forma distinta quanto aos dois casos. O país, assim como a
Rússia, não só não reconheceu a independência do Kosovo por considerá-la uma violação
de princípios do direito internacional e do multilateralismo, como criticou a atuação dos
EUA nesse sentido. Já quanto à Crimeia, onde considerações de natureza similar estiveram
em jogo, o país, apesar de formalmente defender a integridade territorial da Ucrânia,
absteve-se de criticar a Rússia, que - a grande contragosto de Washington - absorveu a
região ao seu território sem o consentimento de Kiev. Os dois eventos ocorreram no
horizonte temporal dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil, período em
que o país, em especial nas gestões presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva,
reconhecidamente buscou transformar a ordem internacional dominada pelos EUA.
Amparado principalmente na fase de crescimento econômico que vivia, o Brasil também
tencionou minorar a assimétrica distribuição de poder no sistema internacional em favor
de Washington. Para atingir esses fins, apostou tanto no multilateralismo e na retórica
defensora do direito internacional quanto na formação de coalizões com países de
interesses convergentes a respeito da ordem internacional. Destaca-se, nesse último
aspecto, exatamente a Rússia, uma das protagonistas do BRICS em conjunto com Brasília.
Tendo em vista esse quadro, o objetivo do trabalho é compreender a aparente contradição
entre as posturas do Brasil com respeito às questões do Kosovo e da Crimeia. Para tanto,
faz-se uso da histórica noção de “projeto autonomista” na política externa brasileira, isto é,
a busca pela mitigação das assimetrias de poder que constrangem a atuação independente
do Brasil na arena internacional. Analisando os referidos traços da política externa
brasileira nos governos do PT à luz desse conceito, argumenta-se que as diferenças no
posicionamento brasileiro podem ser explicadas pela percepção de que as posturas dos
EUA nos dois casos, em termos de suas implicações para a ordem internacional,
representavam maiores constrangimentos para o empreendimento autonomista.
DEBATEDOR: CAMILO LOPES (ICP - FSC – UDELAR)
GT 1.2: POLÍTICA EXTERNA PARTINDO DE CONJUNTURAS BRASILEIRAS E ARGENTINAS
RESUMOS
Jéssica Germano de Lima Silva (Escola de Guerra Naval / AMAZUL)
Crescentes desafios da liderança brasileira em seu entorno estratégico
Com a decorrência de alterações estruturais na ordem internacional, os Estados passaram
a possuir demandas de agendas e esferas até então não conjecturadas, as quais exigiam
respostas distintas das convencionalmente adotadas. Com o objetivo de lidar com tais
questões, os Estados passaram a buscar alternativas de atuação, sendo uma delas a
cooperação internacional com seus pares e instituições. Observa-se que tal articulação
seria oportuna tanto para a consolidação dos interesses nacionais do Estado brasileiro no
cenário internacional, como para a sua projeção de poder, de maneira positiva. Desta
forma, o presente trabalho busca examinar a atuação brasileira na cooperação com seus
pares, no entorno estratégico do Atlântico Sul, visando garantir seus interesses
estratégicos, de modo a evitar a presença de Estados exógenos à região. O espaço possui
relevada importância geopolítica e geoestratégica para o Brasil e demais Estados da
região, de forma em que urge a necessidade de protegê-lo e garantir o pleno acesso a seus
recursos e potencialidades. Ressalta-se ainda que espaço apresenta-se sujeito a uma série
vulnerabilidades. Parte-se do pressuposto que os projetos de cooperação internacional,
em distintas áreas, podem ser utilizados para a aproximação entre os Estados, de forma a
construir uma identidade regional ao passo em que evitam a militarização da mesma,
reforçando os pilares da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS). O trabalho
constitui-se a partir de uma revisão de literatura de cooperação internacional, construindo
uma análise através do método indutivo, utilizando dados e informações quantitativos e
qualitativos, oriundos de fontes bibliográficas e documentais. A teoria da
interdependência complexa é utilizada para embasar o estudo. Percebe-se que as
instituições no âmbito do entorno estratégico do Atlântico Sul são incipientes e carecem
de maior institucionalização, embora sejam observadas como uma boa oportunidade para
a inserção brasileira na região, assim como projeção internacional do país. Ademais,
observa-se que na região destacam-se atores como a Marinha do Brasil, que fomentam e
desenvolvem atividades de cooperação com o objetivo de resguardarem os interesses do
Brasil no espaço em questão. O espaço geoestratégico é envolto por diversas
oportunidades, riquezas, ameaças e vulnerabilidades, ao passo em que se apresenta como
importante para o Brasil no alcance de seus objetivos no cenário internacional.
Ariane Costa dos Santos (UERJ)
Brasil e Argentina em Perspectiva: a autonomia e a aquiescência 1989 e 2001
Esta pesquisa visa analisar as dinâmicas de associação de Brasil e Argentina em relação
aos Estados Unidos entre 1989 e 2001, período de implementação da estratégia de
alinhamento por parte do governo argentino e de autonomia pela integração por parte do
Brasil. Para isso, serão analisados em perspectiva comparada os paradigmas de política
externa implementados por ambos os países no período: realismo periférico, na Argentina,
e institucionalismo pragmático, no Brasil. Como apoio conceitual será utilizada a
dicotomia autonomia e aquiescência de Russell e Tokatlián (2013), assim como a aplicação
das quatro estratégias categorizadas pelos autores para a ação política de Estados não
centrais; a saber: equilíbrio brando ou soft balancing; diversificação; recuo (tradução
nossa) e unidade coletiva. O objetivo principal da pesquisa é responder quais as principais
causas de um comportamento diferente entre dois países com históricos e capacidades
materiais similares.
Beatriz Bandeira de Mello Souza e Silva (UNIRIO)
A política externa de Maurício Macri: estudo de caso sobre o papel argentino na crise da
Venezuela
O presente trabalho analisa a Política Externa Argentina institucionalizada pelo presidente
Maurício Macri, eleito em dezembro de 2015. O objetivo do trabalho é identificar as
características do atual modelo de inserção internacional argentino frente aos desafios
diplomáticos regionais a partir de um contraste com a posição defendida pelo país nos
anos Kirchner. A discussão parte de um estudo de caso sobre o papel da diplomacia
argentina na escalada da crise na Venezuela - que culminou com a suspensão do país do
Mercosul. Para alcançar o objetivo pretendido, a metodologia empregue terá como base
uma análise crítica dos discursos oficiais do presidente Maurício Macri e dos chanceleres
que compõem o Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, bem como dos comunicados e
notas emitidos pelo órgão governamental no período entre 2016 e 2017. Sugere-se que a
postura assumida pela diplomacia argentina e, em particular, pelo presidente Maurício
Macri, representa uma ruptura com o governo anterior que assumiu um viés de integração
regional pautado pelo alinhamento aos interesses dos países da América Latina. Os
resultados parciais apontam para uma proposta de política externa guiada por princípios
liberais, visto que o discurso entoado pelo presidente Maurício Macri e por seus
chanceleres, Susana Malcorra e Jorge Faurie, se baseou em quatro eixos fundamentais: a
opção pelo diálogo e a conciliação entre governo e oposição venezuelana, a defesa da
democracia e dos direitos humanos em instâncias internacionais – preponderantemente a
OEA -, a não-ingerência, e a pauta econômica e comercial. Sugere-se também que a
preocupação com a Venezuela, para além do cumprimento dos princípios democráticos foi
a instabilidade que a crise poderia provocar no Mercosul – afetando as pretensões
argentinas no bloco e consequentemente o acordo com a União Europeia, um dos pilares
da política externa atual. A conclusão apresenta algumas características da estratégia
adotada em relação à Venezuela e as bases do projeto de Política Externa Argentina de
Maurício Macri.
Rafael Macedo da Rocha Santos (UFRJ)
Las hermanitas perdidas: um estudo comparado entre as políticas internas e externas
argentinas para as ilhas Malvinas (1946-1982)
As ilhas Malvinas representaram um dos poucos pontos de convergência para os
argentinos durante a segunda metade do século XX. A causa atravessou gerações como um
problema irresoluto em um país cada vez mais dividido internamente. Diante de
sucessivas turbulências políticas, sociais e econômicas, a sociedade daquele país
materializou no arquipélago, em litígio com os britânicos desde 1833, uma saída para
diversos problemas domésticos urgentes. Nesse sentido, esse projeto busca relacionar
comparativamente as políticas internas e externas da Argentina para as ilhas Malvinas
entre 1946 e 1982.
DEBATEDOR: FIDEL FLORES (UNB)
GT 1.3: DIFERENÇA E TOLERÂNCIA NAS RI
RESUMOS
Taís Souza Carareto (UFU)
Feminismos, gênero e Relações Internacionais: um diálogo necessário
O presente trabalho busca analisar as Relações Internacionais por meio das lentes
oferecidas pelas teorias feministas e pelos estudos de gênero. Nessa direção, o objetivo
central desta pesquisa está em apresentar tais abordagens enquanto alternativas
necessárias ao mainstream das Relações Internacionais – capazes de contribuir para o
melhor entendimento e exame do cenário internacional atual. Com efeito, compreende-se
que as significativas transformações que demarcaram o sistema internacional a partir da
década de 1980, aliadas ao Terceiro Debate, fizeram com que novas e plurais questões (e
preocupações) ocupassem relativo espaço na agenda das Relações Internacionais.
Iniciava-se, então, um movimento de questionamento com relação às formas pelas quais o
sistema internacional vinha sendo entendido e explicado até então. Desse modo, o
procedimento técnico adotado é baseado essencialmente em pesquisa bibliográfica,
fundamentada em materiais já desenvolvidos acerca da temática – tais como: livros,
publicações em periódicos, artigos científicos e documentos oficiais. Assim, para alcançar a
proposta central deste estudo, em um primeiro momento, é feito um levantamento sobre
as principais perspectivas e definições do conceito de gênero, tomando como referências
centrais as formulações de Joan W. Scott. Ainda no que tange ao arcabouço teórico basilar
para esta pesquisa, é apresentado o debate proporcionado pelas teorias feministas e como
este se desenvolveu no campo das Relações Internacionais – indicando, nessa direção,
algumas das principais contribuições da abordagem feminista para a construção de um
novo programa de pesquisa para a disciplina. Por fim, valendo-se das ferramentas teóricas
anteriormente apresentadas, é feita uma breve análise do uso do estupro enquanto arma
de guerra – frisando, neste ponto, a relevância destas abordagens para os estudos de
Segurança. Conclui-se, nesse sentido, que as teorias do mainstream das Relações
Internacionais já não se fazem suficientes para analisar o sistema internacional
contemporâneo – e, especialmente, são insuficientes para analisar determinadas questões
de Segurança. Outra conclusão alcançada está no fato de que, tendo sido construídas sobre
binarismos hierarquizantes, as abordagens tradicionais da disciplina desconsideram – e
até mesmo excluem – as experiências das mulheres e de outros grupos marginalizados.
Henrique Brenner Gasperin (PUC-Rio)
O dilema da diferença e as fronteiras obscuras das Relações Internacionais
Com o presente trabalho, inspirado em discussões tidas ao longo de uma disciplina
curricular, eu me proponho a avaliar criticamente algumas das bases teórico-filosóficas
caras às Relações Internacionais. Almejando uma problematização da dimensão
“modernizante” das RI – presente, principalmente, nos discursos e práticas inspirados na
Teoria da Paz Liberal – abordarei princípios da filosofia kantiana, entendendo-os como
centrais na constituição da disciplina, tanto na sua dimensão teórica quanto prática. A
partir daí, trarei contribuições de pensadores “reflexivistas” para evidenciar algumas
dimensões políticas normalmente renegadas por uma grande parte dos estudos de
Relações Internacionais, especialmente no que tange à dimensão da raça. Por fim, farei
algumas considerações e reflexões de base pós-colonial com base nas discussões
realizadas para refletirmos sobre nosso posicionamento enquanto pesquisadores/as de RI.
Juliana de Santana Oliosi (Universidade Metodista de São Paulo)
Religião e Relações Internacionais: perspectivas teóricas na análise de movimentos cristãos
da sociedade civil
Ao longo das décadas, especialmente considerando os marcos internacionais do
estabelecimento da Carta da ONU e da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
questões de direitos humanos tornaram- se uma característica dominante do sistema
internacional, envolvendo novos atores, e enfraquecendo o conceito tradicional de
soberania westfaliana. Isso progressivamente levou a uma aceitação de que a o tratamento
de indivíduos e grupos dentro das sociedades domésticas é legitimamente um foco de
atenção global. Nesse sentido, este trabalho defende a necessidade e a relevância de olhar
para questões internacionais relacionadas às religiões, considerando também os aspectos
nacionais e locais que compõe as religiões e os fenômenos sociais religiosos. A conjuntura
atual, de recrudescimento de movimentos conservadores nos campos da política e da
cultura, também inspira análises mais detalhadas da interseccionalidade entre Religião e
Relações Internacionais. A proposta aqui apresentada pretende debater a relação entre as
teorias de Relações Internacionais e os estudos de Religião e refletir sobre as defasagens
teóricas na abordagem de fenômenos religiosos no cenário internacional. O objetivo da
discussão é auxiliar em uma pesquisa em andamento sobre grupos transnacionais de
advocacy da sociedade civil, de cunho religioso cristão, que atuam internacionalmente na
defesa pela liberdade religiosa com o objetivo alegado de defender o Cristianismo. Pela
lente das Relações Internacionais, esse fenômeno será debatido com o suporte do
Construtivismo. Para discutir o peso que a fé e as motivações religiosas têm nesses
processos, aportes acadêmicos da área de estudos da religião serão somados à pesquisa
em andamento.
Rafael Jordan de Andrade Campos (PUC - Rio)
O triângulo rosa e a estrela amarela: uma análise dos binarismos de gênero e
heterossexualidade na construção estatal da Alemanha levando ao genocídio nazista
Este trabalho busca analisar os processos de formação, cristalização e (re)produção de
binarismos de gênero e heterossexistas do Estado-Nação, enquanto unidade política no
sistema europeu westfaliano através do nacionalismo, fenômeno esse que se constitui
como uma manifestação particularmente potente de identificação política na
modernidade. O trabalho se desenvolve a partir do entendimento de que essas dicotomias
e binarismos promovem uma negligência da emoção, desejo, sexualidade, cultura e,
portanto, dos processos de identidade e identificação (PETERSON, 1999). Isso tipicamente
pressupõe que o modelo eurocêntrico de agente (sujeito) como unitário e autônomo
profundamente enraizado nas Relações Internacionais se desfaz quando analisamos certos
episódios de conflitos, como o genocídio, o que por sua vez expõe a ilusão de
homogeneidade fomentada pelas narrativas nacionalistas. Usando o Holocausto como um
estudo de caso, demonstro como a conjuntura da ideologia e prática heterossexista é
inextricável a partir da centralização da autoridade política/poder coercitivo a que nos
referimos como “statebuilding” e que buscam através de uma homogeneização patológica
(RAE, 2002), a aniquilação física de indivíduos considerados indesejáveis. Este trabalho,
portanto, pretende fornecer uma análise coesa e minuciosa da relação entre a produção da
sexualidade e dos binômios de gênero do Estado Nacional Alemão e sua relação com o
desenvolvimento do genocídio nazista (1933-1945).
DEBATEDORA: TATIANA OLIVEIRA (IESP-UERJ)
GT 1.4: AGÊNCIA E ESTRUTURA: VISÕES TRADICIONAIS E CRÍTICAS
RESUMOS
Pedro Txai Leal Brancher (IESP/UERJ)
Estrutura e agência nas Relações Internacionais: relação entre processo de construção do
Estado e a evolução dos sistemas políticos internacionais
O artigo analisa dos efeitos da competição social em diferentes níveis para os
processos evolutivos da estrutura de sistemas políticos internacionais, sistemas
políticos nacionais e estados. A hipótese é que as interações entre as estratégias dos
agentes para enfrentar a competição com que se deparam causam mudanças ao longo
do tempo nos sistemas políticos internacionais, nacionais e estados. Para tanto,
discute-se a ontologia de cada um dos objetos de analise, enfatizando-se as
características dos Sistemas Políticos Internacionais. Assim, na primeira seção trata-se
de analisar os pressupostos da anarquia e da baixa especialização funcional presentes
no modelo de Kenneth Waltz. Na segunda seção, critica-se a perspectiva determinístico em
relação a formação de balanças de poder. Desse modo, caracteriza-se os SPI como sistemas
sociais abertos nos quais há mecanismos concorrentes em disputa. Por conta disso,
entende-se que não há necessidade de reprodução ao longo do tempo do princípio da
anarquia, mas sim há existência de múltiplas trajetórias evolutivas para Sistemas Políticos
Internacionais. Por fim, avalia-se o modelo analítico discutido nas duas primeiras seções a
partir da obra de Victoria Tin-Bor Hui sobre o processo de formação do Império Qin na
China antiga. Naquele contexto, um longo período no qual o princípio da anarquia
predominou entre os reinos em conflito chegou ao final em função da adoção de reformas
fortalecedoras e estratégias de desestabilização de alianças que tornaram a concentração
dos meios de coerção um processo de reforço positivo.
Matheus Sousa Marques (UERJ)
Por uma "Virada Prática" nas Relações Internacionais: Pierre Bourdieu e o Campo
metodológico da disciplina
A vasta produção do sociólogo francês Pierre Bourdieu ainda encontra resistências no
campo teórico das Relações Internacionais. Mesmo sendo considerado um dos maiores
pensadores do século XX, os conceitos e ideias de Bourdieu demoraram para ganhar
espaço na arena internacional. Esse diálogo, mesmo que recente, vem se mostrando
frutífero para o desenvolvimento de formas e práticas de saber que buscam alternativas às
correntes teóricas hegemônicas da disciplina, que se comportam como instrumento de
dominação instrumentalizadas por acadêmicos inseridos nos extremos dominantes dos
Campos. Um elemento distinto no trabalho do autor é sua abordagem a partir da
construção de interações diretas com o mundo empírico. Tal fato influencia novas
abordagens teóricas das R.I. guiadas por uma chamada “Virada Prática” na disciplina. O
sociólogo procura dissolver a distinção entre a dicotomia teoria/realidade ao passo que
demonstra a impossibilidade de produção de ciências puramente objetivas. Nesse sentido,
é demonstrado um processo de reflexão prática sobre o próprio papel do pesquisador,
através de práticas que enfatizam a produção de conhecimentos contextuais, a partir de
determinados pontos de vista políticos, geográficos e históricos. Essa reflexividade prática
demonstra um reconhecimento sobre o Campo e o Habitus (conceitos bourdieusianos)
como pilares de pesquisa. O que a abordagem de Bourdieu oferece é a oportunidade de
combinação de pesquisas empíricas com filosofias reflexivas sobre o próprio processo de
“fazer ciência” na tentativa de superar tensões e violências tanto objetivas quanto
subjetivas e simbólicas. Os conceitos expostos podem ajudar na compreensão das lógicas
estruturais que agem sobre as Relações Internacionais continuamente. Além disso, a
maneira como o sociólogo francês encara a produção de conhecimento pode revolucionar
a produção teórica dominante de R.I. atual, pautada pelo positivismo metodológico e por
ontologias soterradas. O presente trabalho busca suprir, mesmo que de maneira sucinta,
essa necessidade de aproximação entre teoria e prática, procurando mostrar como a
sociologia reflexiva bourdieusiana, a partir de sua epistemologia e metodologia distintas,
pode contribuir para os grandes debates das R.I.
DEBATEDORA: LORENA GRANJA (IESP-UERJ)
GT 1.5: DIREITOS HUMANOS EM CONTEXTOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS: TEORIA E
PRÁTICA
RESUMOS
Roberta Maria Botelho Bevilacqua (Universidade Federal de Uberlândia)
As cidades-santuário nos EUA e o contra movimento do Texas: o caso da lei SB-4
O presente trabalho tem o objetivo de analisar o movimento das cidades-santuário nos
EUA, com foco no período da administração Trump, e contrapor essas atividades com o
caso do Estado do Texas, através de um estudo de caso da implementação da lei de
imigração SB-4. Considerando o contexto atual da política imigratória do Presidente dos
EUA, de cunho extremamente conservador e xenofóbico, as cidades-santuário vêm
ganhando destaque através da forma pela qual têm procurado lutar contra essas políticas,
propiciando ao imigrante maior segurança e dignidade para viver no país. Em relação às
medidas implementadas nessas localidades pode-se perceber que elas abrangem desde a
instauração de políticas locais de combate às ordens da polícia federal imigratória e de
proteção do imigrante, além do engajamento em diversas batalhas judiciais contra as
medidas que vem sendo instituídas pelo governo federal, como no caso dos banimentos de
viagem. No caso do Texas, percebe-se uma aproximação maior com o direcionamento de
política imigratória federal, mesmo sendo constituído por uma população imigrante
abundante. Principalmente com a criação da lei SB-4 em 2017, conhecida como lei “show
me your papers”, a qual, dentre outras provisões, obriga as forças policiais locais a
questionar o status de imigração de quaisquer indivíduos que julguem necessário, não
apenas aqueles que se envolvam com crimes, o Texas vem sendo considerado um estado
hostil, com uma das legislações mais rigorosas em questão de imigração em todo o país. Os
argumentos contrários a lei circulam ao redor da destruição da relação entre forças
policiais locais e as comunidades de imigrantes, fomento ao medo do imigrante e possíveis
perdas econômicas; já o argumento a favor está calcado principalmente na maior sensação
de segurança entre os residentes que a lei geraria. Como conclusão, nota-se que o
movimento do Texas é completamente contrário a proposta das cidades-santuário, pois,
ao desenvolver a SB-4, não é somente o imigrante que passa a se ver em diversas situações
de risco, mas também o próprio estado, ao gerar possibilidades de perdas econômico-
sociais.
Gustavo do Amaral Loureiro (UNIRIO) e Luiz Felipy dos Santos Costa Leomil (Unilasalle-
RJ)
Do Princípio à Prática: um estudo sobre as políticas públicas para Direitos Humanos e o caso
do refúgio no Canadá
Bucci (2001) argumenta que os Direitos Humanos são, em geral, tratados como valores
que devem compor o ''espírito das normas'', sendo expressos mais frequentemente em
princípios que em regras de fato. No entanto, entende-se que, além de princípios
orientadores, é necessário que os Direitos Humanos sejam capazes de agir para corrigir ou
amenizar as injustiças causadas ou agravadas pelas desigualdades entre os indivíduos e
sociedades (BIELEFELDT, 2006). Assim, chega-se a seguinte questão: quais medidas ou
ações devem ser tomadas para que as normas de Direitos Humanos deixem de ser
somente princípios distantes da realidade e, de fato, tenham repercussão nas sociedades?
Este trabalho parte da hipótese de que o melhor caminho, assim como proposto por Bucci
(2001), seria a construção de políticas públicas voltadas a proteção e/ou garantia desses
direitos. A fim de testar esta hipótese, através do método dedutivo, este artigo propõe um
estudo de caso do sistema de refúgio no Canadá – primeiramente normatizado como lei na
segunda metade dos anos 1970, de maneira tardia – a fim de observar os efeitos causados
pela construção de uma política pública apropriada para abordar o problema em questão.
Um país que aderiu tardiamente aos acordos internacionais sobre o refúgio, o Canadá, ao
longo das últimas décadas, não somente adequou-se às normas propostas pela
comunidade internacional, como, ainda, tornou-se referência na recepção, proteção e
reassentamento de refugiados. A conclusão obtida por este trabalho é de que, assim como
elucidado por Bucci (2001), políticas públicas seriam essenciais para a concretização e
implementação das normas internacionais voltadas aos Direitos Humanos. Também,
levando em conta a experiência do Canadá, apesar da aderência tardia do país às
convenções internacionais voltadas ao refúgio, a construção de políticas públicas o
possibilitou não somente uma adequação às normas, mas, também, uma expansão de sua
atuação na área, fato responsável por sua atual reputação no que tange o tratamento dos
migrantes forçados.
Guilherme Antunes Ramos (UERJ)
Apatridia no Século XXI: um estudo sobre os “Sem direitos” em plena Era dos Direitos
O artigo objetiva, fundamentalmente, analisar as principais questões referentes ao
fenômeno da apatridia no século XXI, tendo por norte as vulnerabilidades em que se
encontram as pessoas apátridas e o despojo de seus direitos em uma época em que,
paradoxalmente, emerge um inédito arcabouço jurídico-institucional de alcance
internacional destinado à proteção dos direitos humanos, consagrando um inédito acesso
a esses direitos (a denominada “Era dos Direitos”). Avalia-se que, muito embora a
crescente internacionalização dos direitos humanos tenha resultado na celebração de um
conjunto de direitos a serem universalmente usufruídos, o vínculo de pertencimento
nacional ainda mantém-se muitas vezes como um requisito indispensável para o acesso a
direitos considerados como fundamentais a uma existência digna. Nesse sentido, persiste
como uma necessidade premente à comunidade internacional e às instituições inseridas
no Sistema ONU a criação de mecanismos de proteção aos apátridas, bem como o
aperfeiçoamento dos já existentes. Buscar-se-á: (a) esclarecer a definição de apátrida, em
consonância com instituições internacionais a exemplo da Convenção de 1954 sobre o
Estatuto dos Apátridas, (b) mapear os principais regimes internacionais aplicáveis ao
fenômeno da apatridia, (c) identificar as principais origens desse fenômeno na
contemporaneidade, e (4) apresentar dados relevantes sobre os apátridas,
disponibilizados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Ademais (5), espera-se adentrar em algumas particularidades do Brasil, destacando como
o país vem se posicionando em relação ao fenômeno da apatridia, a quais regimes
internacionais relacionados a este tema já aderiu, e como a legislação interna, mormente a
recente lei nº 13.445/2017 (Lei de Migração), aborda a questão. Em síntese, trata-se de
um trabalho de natureza introdutória que busca apresentar a apatridia em seus aspectos
mais relevantes, tendo por mote a contraposição entre a consagração de direitos ditos
universais com a persistência de um requisito que subverte dita universalidade, a saber, o
gozo de uma nacionalidade. Em termos metodológicos, pretende-se proceder à consulta a
dados tornados públicos por organizações como o ACNUR, declarações, acordos e
convenções internacionais, e leis internas do Brasil. Os itens mencionados comporão as
fontes primárias de pesquisa, que serão complementadas por fontes secundárias, as quais,
em sua essência, corresponderão a uma bibliografia de apoio que versará sobre a apatridia
e sobre o sistema internacional de proteção aos direitos humanos. O recurso a essas fontes
permitirá a avaliação crítica dos resultados manifestos nos dados, além de apontar as
limitações das leis e regimes internacionais que tratam do tema.
DEBATEDORA: IVI ELIAS (UERJ)
16:00 ÀS 17H30
GT 1.6: CULTURA, ARTE E EDUCAÇÃO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
RESUMOS
Mariana Pimenta Bueno (UNIRIO)
Museu e colonialidade: a repatriação museológica como instrumento de luta
Não obstante as vitórias na luta pela independência no século XX no continente africano, a
ideia de tutela e proteção europeia dos povos africanos reflete até hoje em alguns
aspectos, como a permanência artefatos africanos em museus europeus. Intelectuais como
Franz Fannon e Albert Memmi trouxeram diversos temas durante os processos de
descolonização. Dentre eles puderam-se destacar o colonialismo cultural e a necessidade
da busca de um passado histórico, anterior à dominação europeia, como instrumentos de
formação de uma cultura nacional para que o próprio povo escrevesse sua história. No
entanto, esta retomada às origens esbarrou na ausência de artefatos que foram retirados
do continente ao longo do imperialismo para ser expostas, mostrando — de acordo com o
pensamento europeu — uma “exoticidade” e o domínio sobre esses povos. Partindo do
entendimento dos museus como espaços de construção e acesso à memória, essa pesquisa
surgiu com o questionamento do porquê da continuidade dessa dominação cultural,
mesmo com as independências conquistadas. Através da análise de documentos da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) sobre
este assunto, reportagens de alguns casos de pedidos de retorno de peças e a leitura dos
intelectuais já citados, como também de Benedict Anderson e Aníbal Quijano, a hipótese
testada foi a importância da repatriação de peças museológicas para uma cultura nacional
como uma reação à colonialidade. Sendo assim, o repatriamento de peças museológicas
emergiu como um debate necessário para o entendimento da construção do conhecimento
nacional e do movimento decolonial. Com as convenções e conferências da UNESCO sobre
esse assunto, a luta pelo retorno ganhou respaldo e atenção no sistema internacional, pois
a repatriação de peças museológicas têm como objetivo propiciar um ambiente para a
identificação do sujeito com a cultura nacional, revisitando e criando uma memória de
suas origens, além de se encaminhar à decolonização cultural.
Alice Gravelle Vieira (UERJ) e Eduarda Lattanzi (UERJ)
Políticas para internacionalização da educação superior: uma avaliação do Programa
Ciência sem Fronteiras sob a perspectiva do ciclo de políticas públicas
O programa Ciência Sem Fronteiras (CSF) foi criado em 2011 e encerrado oficialmente em
2017, e consistiu em uma das mais amplas e importantes iniciativas para a
internacionalização da educação e desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil. Com
base nas ideias e estudos no campo das políticas públicas, o presente trabalho tem como
objetivo promover uma avaliação ex post de processo do CSF, a partir da abordagem das
três últimas fases do denominado Ciclo de Políticas Públicas – implementação, avaliação e
extinção/reformulação - com ênfase em sua implementação. Para a realização de tal
análise, será abordado o contexto político do governo de Dilma Rousseff (2011-2016),
suas preferências e prioridades, especialmente no que se refere à educação superior. A
perspectiva teórica da pesquisa estará fundamentada em conceitos e processos das
políticas públicas. Para tal, serão utilizadas pesquisas de autores como Figueiredo;
Figueiredo (1986), Leonardo Secchi (2003) e Celina Souza (2007). A análise pretendida do
CSF consiste, especificamente, em uma Policy Evaluation, ou avaliação de políticas
públicas. Tal abordagem é apontada pela doutrina como a análise crítica do programa
(política) com o objetivo de apreender, principalmente, em que medida as metas estão
sendo alcançadas, a que custo, quais os processos ou efeitos colaterais que estão sendo
ativados (previstos ou não previstos, desejáveis ou não desejáveis) indicando novos
cursos de ação mais eficazes. O objetivo central do presente trabalho consiste em avaliar a
referida política utilizando dois critérios específicos: eficiência administrativa, a fim de
analisar se o programa foi promovido para assegurar o cumprimento dos compromissos
propostos em sua formulação; e eficácia, analisando os resultados possíveis. É possível
concluir, a partir das avaliações realizadas baseadas nos dois critérios e das declarações
dos envolvidos no programa, que o CSF não foi realizado da maneira mais eficiente
possível, apesar de ter se mostrado eficaz.
Fabiana Kent Paiva (PUC-Minas)
Muros de separação: senso de comunidade e isolamento na arte urbana da Irlanda do Norte
e Palestina
Este trabalho tem como objetivo investigar de que forma a arte urbana traduz e propaga
sensos de comunidade ou isolamento na Irlanda do Norte e no território da Palestina. Nos
dois territórios é possível encontrar muros de separação: a West Bank Wall, separando o
território israelense do palestino, e as Peace Lines, barreiras erigidas em cidades da
Irlanda do Norte para conter os conflitos entre unionistas e nacionalistas. Nesses muros de
separação, e nas áreas próximas a eles, é possível encontrar uma enorme quantidade de
intervenções artísticas urbanas que abordam a existência de tais barreiras, e é através
delas, também, que se sustentam os discursos de isolamento ou união dessas
comunidades. A Irlanda do norte e a Palestina são palco de conflitos centenários que
dividem opiniões e já causaram centenas de mortes, criando animosidade entre os
habitantes das regiões e dificultando o processo de paz. Para este estudo, mobilizam-se as
ideias de comunidade e identidade para compreender, por meio do estudo das
intervenções artísticas nos muros de separação, a ligação entre os habitantes das áreas
separadas pelos muros. Para isso, serão examinados os contextos em que são produzidas
as intervenções artísticas, através do estudo dos conflitos territoriais. Além disso, serão
analisados os símbolos nacionais mobilizados pelos artistas na arte urbana desses muros
de separação, as representações dos mártires e heróis dos conflitos, as mensagens de
união e de separação e outros elementos artísticos, e então serão propostas interpretações
sobre as ideias de identidade que inspiraram e são propagadas por essas intervenções.
Será possível compreender que na Irlanda do Norte, apesar da união territorial, ainda há
um forte sentimento de separação entre as comunidades católicas e protestantes, e
unionistas e nacionalistas. Já na Palestina, entende-se que as mensagens das obras de arte
comunicam princípios de um ideal comunitário palestino, e ao mesmo tempo um total
isolamento de Israel. Assim, através do estudo das intervenções artísticas nos muros de
separação, será possível visualizar que os conflitos dessas regiões estão ainda longe de
encontrar uma solução, devido à fragmentação comunitária de suas populações.
Juliana Assis Nascimento (UFRJ)
As representações do universalismo: de Kant à criação da UNESCO
O presente trabalho investiga os fundamentos da categoria de universalismo que
informaram a fundação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO) nos anos imediatamente posteriores ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Fundada em novembro de 1946, a UNESCO foi o palco privilegiado para a construção de
projeções utópicas do futuro em um mundo devastado pela experiência da guerra. As
bases que garantiriam a viabilidade dessa utopia foram discutidas por intelectuais
consagrados, oriundos de diferentes áreas de estudo, como Albert Einstein, Lucien Febvre
e Julian Huxley. As divergências expressas nos debates promovidos pela UNESCO em seus
primeiros anos de existência testemunham uma disputa entre diferentes pontos de vista
sobre quais dimensões da vida humana seriam capazes de fornecer as bases intelectuais
universais necessárias para a consolidação de uma cultura mundial da paz. Para
compreender quais eram as diferentes acepções de universal em jogo, retomaremos o
percurso histórico da categoria, tomando como ponto de partida as concepções do projeto
filosófico kantiano. A adoção de Kant como baliza temporal em nossa análise, se justifica
pela centralidade dos ideais iluministas nos discursos oficiais da organização e pela
reconhecida centralidade do pensamento político kantiano na formulação dos princípios
das organizações internacionais no pós-guerra. Indicaremos como a junção de suas
proposições com as formuladas da corrente funcionalista das relações internacionais
foram essenciais para o desenvolvimento das organizações multilaterais voltadas para a
cooperação técnica e científica internacional. Na segunda parte do artigo, confrontaremos
estas concepções universalistas com o desenvolvimento da cooperação científica
internacional e as diferentes ideias de universalismo científico que se configuram no
século XIX e no início do século XX. O breve percurso percorrido indica que, em um lapso
temporal de pouco mais de duzentos anos, a categoria de universal foi continuamente
mobilizada e ressignificada. De uma concepção kantiana baseada na universalidade dos
direitos fundamentais do homem e no cosmopolitismo político, o universal também
adjetivou a ciência de diferentes formas. Estas diferentes definições entrariam em disputa
nos primeiros anos de funcionamento da organização.
DEBATEDORA: MÔNICA LESSA (UERJ)
GT 1.7: POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA: CASOS DE PARTIDARIZAÇÃO E MÍDIA
RESUMOS
Jonatas Torresan Marcelino (USP)
Facebook e relações internacionais no Brasil: a polarização da política doméstica e o
desinteresse em política externa
O trabalho tem o objetivo de estudar a evolução dos parâmetros de interação dos
brasileiros em páginas de relações internacionais no Facebook nos anos 2010. Nesse
período, as redes sociais ganharam grande centralidade no debate político e se tornaram
um espaço privilegiado da crescente polarização da política doméstica, iniciada nas
Jornadas de Junho (2013), aprofundada nas Eleições Presidenciais (2014) e no
impeachment da presidenta Dilma Rousseff (2016). O Brasil está entre os cinco países com
mais usuários de Facebook em números absolutos, com 139 milhões de perfis. O número
equivale a mais da metade da população do País. As crises na política doméstica do Brasil
sucedem um período de crescimento da exposição internacional do País, após os mandatos
presidenciais de Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva. O problema de pesquisa é: de
que modo a intensificação da atuação internacional do Brasil nas décadas de 1990 e 2000
alterou a percepção de temas internacionais pelas elites e pela opinião pública de forma
geral na década seguinte? As hipóteses de trabalho são: (i) O crescimento da exposição
internacional do País não causou uma ampliação do interesse por temas externos no
Brasil; (ii) O interesse por temas internacionais caiu ao longo do marco cronológico
considerado; (iii) A polarização da política doméstica não é refletida no comportamento
dos brasileiros interessados por relações internacionais no Facebook. Foram selecionadas
680 páginas da rede social, relativas a embaixadas e organismos multilaterais; câmaras
comerciais; centros culturais, em especial os relacionados a Estados estrangeiros;
editorias internacionais da imprensa brasileira e veículos estrangeiros com conteúdo em
português; páginas acadêmicas especializadas em relações internacionais; organizações
não-governamentais e instituições filantrópicas; e páginas de promoção de turismo no
exterior. As páginas escolhidas no Facebook apresentam conteúdo em português e tem o
objetivo primário de ser canais de relacionamento de instituições nacionais e
internacionais com a sociedade civil brasileira em temas globais.
Eduardo da Nóbrega Monteiro (PPGRI-UERJ)
Despierta Bolivia, despierta. Los Gringos nos quieren robar el gas: nacionalização dos
hidrocarbonetos bolivianos, a mídia e a política externa brasileira
Em um contexto de forte polarização entre as forças progressistas e as forças tradicionais
e conservadoras, a estatização do gasoduto boliviano-brasileiro – desdobramento de uma
série de nacionalizações de hidrocarbonetos pelo governo Evo Morales -, em maio de
2006, não só ensejou acalorados debates com duras críticas sobre a resolução do conflito,
mas também sobre a condução geral da política externa do governo de Luís Inácio Lula da
Silva. Pouco estudado pelos cientistas sociais, segundo Aldé, Mendes e Figueiredo (2007),
essa passagem importante do primeiro governo Lula da Silva remete a uma discussão mais
ampla sobre a relação entre mídia e política. No Brasil, parte do debate sobre a crise da
nacionalização do gasoduto boliviano-brasileiro ocorreu no Parlamento, parte em
importantes órgãos da imprensa brasileira. Por isso, considerando as premissas do
conceito de agenda setting e do método de valência, o objetivo deste artigo é analisar o
comportamento da grande imprensa brasileira em relação a esse episódio,
problematizando-o com o momento de reeleição do então presidente Lula da Silva, que
perdeu 22% das intenções de votos dos eleitores com remuneração acima de 10 salários-
mínimos, desde sua última eleição, em 2002, e contrastando-o com a posição oficial do
governo brasileiro. Sem ceder às pressões da imprensa, o governo brasileiro manteve uma
posição conciliadora em função de alguns cálculos políticos: a preservação da liderança
brasileira no cenário regional e a importância geoestratégica dos recursos energéticos
bolivianos para o Brasil. Selecionou-se o jornal O Globo, em formato impresso,
considerando sua importância : na ocasião era o segundo jornal mais vendido no Brasil e
um dos 10 membros do Grupo de Diários América, associação formada por jornais da
América Latina com o fito de “informar e influir en la opinión pública en sus respectivos
mercados”. O marco cronológico definido observa que a cobertura do O Globo ficou mais
negativa no mês de maio de 2006 para praticamente desaparecer após a reeleição do
presidente Lula da Silva.
DEBATEDOR: FIDEL FLORES (UNB)
GT 1.8: OUTRAS EXPERIÊNCIAS EM INTEGRAÇÃO REGIONAL
RESUMOS
Julia de Souza Borba Gonçalves (PPGRI San Tiago Dantas)
A Aliança do Pacífico na integração regional sul-americana: proposta, alcances e
relacionamento externo
Em 2011 verificou-se o surgimento de um novo bloco de integração regional latino-
americano cujo eixo norteador tem sido a abertura comercial por meio do estabelecimento
individual de tratados de livre-comércio: a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, Peru e
México). A aparição deste bloco expressou o retorno do regionalismo aberto e as visões
compartilhadas de seus presidentes de fortalecer uma governança regional alinhada com
as estruturas dominantes. Consequentemente, o surgimento da Aliança do Pacífico gerou
discussões acerca da fratura entre os eixos Atlântico e Pacífico da América do Sul, de modo
que a Aliança do Pacífico permite que seus membros disseminem e socializem sua visão de
mundo. Este trabalho se propõe a analisar a proposta de integração regional da Aliança do
Pacífico e seu principais resultados ao longo desses 7 anos, e trazer à discussão as
principais implicações desse bloco para os processos de integração regional da América do
Sul.
Tainah Santos Pereira (UNIRIO)
Esquerda renovadora versus esquerda refundadora: como o embate entre Brasil e Venezuela
solapou a criação do Banco do Sul
O objetivo do trabalho é investigar a estagnação das discussões sobre o Banco do Sul,
apontando para a hipótese de que foi o embate entre diferentes correntes da onda rosa
(esquerda renovadora x esquerda refundadora) que minou a iniciativa. Analisaremos a
evolução das tratativas desde a primeira menção ao Banco, em 2004, até os movimentos
mais recentes. Debateremos possíveis causas do arrefecimento das discussões em torno
da criação do Banco do Sul. A hipótese é de que o embate entre diferentes correntes da
onda rosa – esquerda renovadora (representada pelo Brasil) e esquerda refundadora
(reproduzida pela Venezuela) – teria minado essa iniciativa conjunta de constituição de
um novo órgão de financiamento para o desenvolvimento na América Latina. Iniciado no
fim a década de 1990, o movimento democrático de chegada ao poder de vários
candidatos de entro-esquerda na América Latina ficou conhecido como onda rosa ou maré
rosa. Este novo conjunto de governos não-identificados com o neoliberalismo traz consigo
perspectivas próprias para o fazer político, dentre as quais destacaremos as de cunho
socioeconômico e de integração regional, que permitiram que a Venezuela propusesse o
Banco do Sul. Contudo, ainda que tenham emergido em um momento de boom econômico,
os governos de centro-esquerda da onda rosa têm de lidar com a premissa de instabilidade
política na América Latina. Deste modo, muitos adotam medidas que acreditam que terão
os melhores efeitos sobre a economia, mesmo contradizendo suas agendas de campanha,
para evitar quedas nos índices de confiança do mercado e também possíveis crises. Assim,
na primeira seção trataremos do surgimento da onda rosa, suas correntes e visões sobre o
caminho a ser percorrido para garantir o desenvolvimento da América Latina. Em seguida,
discriminaremos a proposta da Nova Arquitetura Financeira Regional (NAFR) e os
diferentes papéis pretendidos por Brasil e Venezuela para o Banco do Sul dentro dessa
estrutura. Por fim, analisaremos como se deu a evolução da criação do Banco do Sul,
salientando os diferentes posicionamentos das lideranças do projeto durante os
encontros, até o atual estágio de negociações.
Ricardo Luigi (Universidade Federal do Oeste da Bahia)
Unasul: ascensão e queda de uma instituição
A Unasul enfrenta, em 2018, adversidades profundas que podem resultar no
encerramento dessa organização internacional, criada oficialmente em 2011, embora
existente, em seus trâmites iniciais, desde 2008. O presente trabalho busca refletir sobre
as motivações do ocaso dessa instituição, analisando, ainda, a efetividade mantida pela
organização durante esses anos. Como instituição supranacional a Unasul está sujeita a
pressões em diversas escalas e/ou níveis de análise. Dada a sua institucionalização ainda
em andamento, a crise regional e a turbulência política, em âmbito doméstico, que
acomete seus principais participantes, compromete a continuidade da organização. Para
evitar a ruptura que a assombra, é preciso renovar os esforços para seu prosseguimento,
superando uma visão nacionalista ideológica, amplificada pelo momento de crise, e
fazendo uma avaliação real sobre as vantagens de se manter essa instituição diante de
suas dificuldades no presente. O trabalho em questão parte de uma avaliação das
dimensões objetivas e subjetivas que suportam a Unasul ao longo de seu histórico, com
base nos seus feitos, em sua institucionalização, e com enfoque maior na análise da sua
produção documental, enfatizando os documentos produzidos nas chamadas cúpulas.
Como resultados da continuidade da organização temos a constatação de um efervescente
crescimento institucional no período de 2011 a 2014, com efetivação de propostas ligadas
à preservação da democracia, a projetos de infraestrutura, a cooperações entre sistemas
de saúde pública e às iniciativas voltadas para a segurança regional. Como entraves que
apontam para a ruptura da organização podem ser citados a desaceleração a partir de
2014 que culmina num quadro de desestrutura institucional, estagnação do processo de
integração e debandada de países integrantes da instituição. Acredita-se que a Unasul
possa, mesmo que remodelada, ser um instrumento de concertação regional e projeção
global para os países da América do Sul, visto que políticas públicas importantes são
tomadas com base nessa organização, e a efetividade dessas políticas públicas se faz ainda
mais importante nos momentos de crise.
DEBATEDOR: LORENA GRANJA (UERJ)
GT 1.9: CHINA EM PERSPECTIVA: UM DEBATE SOBRE A SEGURANÇA INTERNACIONAL E A
ESTRATÉGIA GEOPOLÍTICA CHINESAS
RESUMOS
Leticia Cordeiro Simões de Moraes Lima (UERJ/Unilasalle-RJ)
Conflitos no Mar do Sul da China: o que o Brasil tem a ver com isso?
As disputas territoriais no Mar do Sul da China (MSC) vêm despertando a atenção de
políticos e estudiosos ao redor do globo, apesar de ter pouco destaque na academia e nos
veículos de notícias brasileiros. Contudo, tais questões passaram a receber maior atenção,
em grande medida, devido à elevação das tensões entre China e EUA naquela região, com a
construção de ilhas artificiais, a passagem de embarcações e aeronaves em áreas
contestadas e as disputas territoriais pelos países que circundam o mar. Tais disputas
territoriais têm questões muito mais profundas que um possível embate entre duas
superpotências, são consequência de conflitos e negociações regionais entre a China e os
demais países periféricos banhados pelo MSC, como Filipinas, Vietnã, Malásia, Indonésia e
Brunei. Um possível escalonamento do conflito entre os Estados chinês e americano na
região do MSC refletiria diretamente no posicionamento militar e de segurança regional
das partes envolvidas, no comércio marítimo internacional e no posicionamento dos
países membros da Associação de Países do Sudeste Asiático (ASEAN) que estão
intimamente ligados à disputa. No Brasil, há pouco destaque e pouca informação sobre os
principais atores envolvidos nas disputas, suas motivações e quais as consequências do
início de um conflito entre duas grandes potências na Ásia-Pacífico. Apesar de estar no
imaginário do brasileiro de que se trata do ‘outro lado do mundo’ e que o impacto de um
possível embate naquelas águas seria muito pequeno para o país, não poderíamos estar
mais equivocados. Por que o Brasil deve se preocupar, mas também se informar sobre um
conflito no MSC? Este artigo pretende apresentar em linhas gerais, através de um estudo
quali-quanti, a importância daquela região, bem como um panorama dos lados do conflito
e suas reivindicações e ainda apresentar as razões para o Brasil ser um dos primeiros
afetados por uma hipotética crise no MSC.
Soraya Fonteneles de Menezes (EGN)
A expansão marítima da República Popular da China à luz do Direito Internacional do Mar
A República Popular da China (RPC) protagoniza diversos litígios marítimos na região
Ásia-Pacífico, disputas cujo cerne está diretamente relacionado aos conceitos de soberania
e de liberdade de navegação normatizados pelo Direito do Mar, em especial pela
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982. O mar tornou-se um dos
pontos centrais na agenda de segurança da região, marcada pelo intenso fluxo de linhas de
comércio marítimo, na qual interesses relativos à explotação de recursos naturais, à
delimitação de fronteiras e à soberania sobre territórios marítimos se sobrepõem. No que
tange às disputas marítimas, os Mares do Sul e do Leste da China são palco de constantes
atritos diplomáticos, legais e militares entre a RPC e os demais Estados lindeiros. Em
ambas as regiões, existe discordância em relação à soberania e aos usos dos territórios
arquipelagicos e em relação à delimitação de áreas marítimas, uma vez que a conformação
geográfica da região gera múltiplas sobreposições. O processo de territorialização
marítima capitaneado pela RDC fica patente na construção de ilhas artificiais no Mar do
Sul da China. Condição de Poder Marítimo em ascensão no século XXI, a RPC afora uma
estratégia marítima assertiva na defesa de seus interesses estratégicos no âmbito
marítimo. Observou-se uma relativa dicotomia entre a estratégia marítima adotada pela
RPC e as interpretações do Direito do Mar conferidas por essa acerca da soberania e da
liberdade de navegação. O presente trabalho analisa se a atual interpretação conferida
pela RPC ao Direito do Mar é coerente com a atual expansão de seu Poder Marítimo e com
a atuação de seu Poder Naval na região Ásia Pacífico. Concluiu-se, por meio do estudo de
declarações interpretativas, da estratégia marítima no século XXI e de diversos
posicionamentos oficiais internos e externos, que a RPC defende uma postura restritiva à
liberdade de navegação, contrapondo-se assim a um dos princípios basilares da CNUDM.
Rita de Cássia Oliveira Feodrippe (EGN) e Kathleen Vieira (EGN)
Tecnologia e poder: a trajetória da China
O trabalho visa a apresentar o histórico de desenvolvimento tecnológico chinês nos
últimos cinquenta anos, com foco nos setores nuclear e espacial. Para isso, discutem-se
conceitualmente as definições e relações entre "tecnologia" e "poder". O primeiro é
entendido como um conjunto de conhecimentos utilizado em prol da produção de bens e
serviços para a sociedade, enquanto o segundo é visto como um fenômeno relacional que
envolve Estados no cenário internacional. Centrada nas mudanças socioeconômicas
decorrentes do esforço de guerra estadunidense, a pesquisa primeiramente contextualiza
as escolhas chinesas no ambiente bipolar da Guerra Fria. Em seguida, explora as alterações
na ordem mundial desde o fim da União Soviética, quando Pequim, colhendo os frutos do
processo de reforma e abertura da década anterior, apresenta crescimento econômico
exponencial. As autoras recorrem à revisão de literatura, utilizando metodologia
qualitativa e descritiva na análise tanto de dados oficiais do governo chinês, quanto de
relatórios institucionais reconhecidos pela credibilidade, como os do Fundo Monetário
Internacional. Tendo em vista as recentes transformações no equilíbrio de poder nas
relações internacionais, especialmente as que envolvem Estados Unidos e China, este
trabalho busca ressaltar as escolhas chinesas que, hoje, estão expressas no consenso de
sua ascensão econômica, militar e política. Subjacente a e condicionante para esse
processo, o binômio de ciência e tecnologia (C&T) está no centro das preocupações
chinesas frente à recente guerra comercial iniciada pelo governo do presidente
estadunidense, Donald Trump. Os resultados da investigação apontam para a necessidade
de uma abordagem abrangente, que não limitam os investimentos em C&T ao setor militar
- pelo contrário. A sinergia da indústria de defesa com os segmentos civis foi fundamental
para a consolidação da base tecnológica de Pequim, de forma que os campos nuclear e
espacial representam o ápice de uma cadeia logística coordenada, focada na atuação de
"campeões nacionais" - grandes empresas estatais financiadas pelos bancos chineses.
Guiada pela grande estratégia nacional cujo objetivo é restaurar a glória do povo, a China
demonstra seguir trajetória própria, que por vezes se aproxima e se afasta daquela
escolhida pela maior potência tecnológica do mundo - os Estados Unidos. Rompendo as
barreiras do cerceamento oriundo dos países centrais, por meios que incluem do
desenvolvimento autóctone à espionagem industrial, o país mostra estar apenas no início
de um longo caminho que definirá a ordem internacional contemporânea, atualmente em
transição.
DEBATEDOR: MAURÍCIO SANTORO (UERJ)
29/11/2018 I QUINTA-FEIRA_____________________________________________
14:00 ÀS 15:30
GT 2.1: VERDADE, REPARAÇÃO E MEMÓRIA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
RESUMOS
Tamara Claudia Coimbra Pastro (PPGRI-UFU)
O discurso global de Reconciliação e as Comissões da Verdade na América do Sul
O presente trabalho busca compreender de que forma o discurso de Reconciliação foi
forjado ao longo dos últimos anos deixando de ocupar o âmbito interno dos países para
ascender a uma política global, que deve ser almejado por todos os países que passaram
por graves violações dos Direitos Humanos. A partir da ótica de Judith Renner que utiliza a
experiência sul-africana como formadora do significante vazio que se torna reconciliação,
após 1995. Dentro desse contexto, as Comissões da Verdade foram elevadas a instituição
principal para promover a reconciliação nacional através dos testemunhos, da memória e
da história dos países. São oito experiências no continente sul-americano de constituição
dessas instituições, baseadas em experiências em que houve quebra do ordenamento
democrático e instauração de ditaduras civis-militares, alicerçadas na ideia de Segurança
Nacional: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai. Cada uma se
apropria de uma forma distinta do conceito de reconciliação. Esse trabalho se inicia
fazendo uma análise sobre como se constitui o discurso de Reconciliação, partindo dos
estudos de Renner, principalmente, e como esse acaba se tornando hegemônico ao se
trabalhar com Justiça de Transição. Em seguida, são analisadas as Comissões da Argentina
(1984) e do Chile (1990), pensando em seu pioneirismo na região e a perspectiva anterior
de Reconciliação propagada a partir da experiência sul-africana. E a última dessas
instituições a produzir um informe final, a Comissão brasileira (2011), pensando em quais
aspectos é possível apresentar contrastes entre eles, mas também semelhanças, apesar da
distância temporal entre os países e de suas experiências distintas. A partir do caso
brasileiro, as sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos no julgamento dos
casos “Gomes Lund e outros” e “Herzog e outros” versus Brasil, são analisadas para pensar
a necessidade de se julgar e punir crimes de lesa a humanidade aliados com a ideia global
de Reconciliação, uma vez que esse discurso se constitui antagônico ao de impunidade.
Maria Alice Venancio Albuquerque (IRI/PUC-Rio)
A verdade por trás da retórica: mapeando o direito à verdade no Brasil
Em 2012 o estado brasileiro instaurou a Comissão Nacional da Verdade, com a atribuição
de examinar, esclarecer e divulgar em um relatório final as graves violações ocorridas no
período em que o país foi comandado por governos militares de caráter autoritário (1964-
1988). Por esse período, o Brasil foi alvo de denúncias junto a organismos internacionais
de proteção dos direitos humanos e da democracia, sendo alvo de demandas históricas por
responsabilização, verdade, memória e reparação. O direito à verdade figura entre essas
demandas e embora associado diretamente nas últimas décadas ao estabelecimento de
comissões da verdade, é definido de forma abrangente por órgãos e instituições de
direitos humanos, como a obrigação do Estado de investigar e divulgar para vítimas,
familiares e sociedade como um todo o destino e circunstâncias envolvidas nas mortes e
desaparecimentos ocorridos em determinado período. O direito à verdade, todavia, não se
configura oficialmente como um direito, emergindo, pois, como um princípio implícito em
resoluções, orientações e documentos oficiais produzidos por instituições regionais e
internacionais, tornando seu significado e materialidade tão disputado quanto elusivo.
Logo, esse trabalho se concentra em como foi entendido o direito à verdade no Brasil, uma
vez que ao país é demandando, regional e internacionalmente desde a sua
redemocratização, o emprego de ferramentas de justiça de transição, sendo a comissão
nacional da verdade a última ação tomada pelo país a esse
respeito. Para alcançar objetivo principal de mapear como/em torno do que se constrói o
direito à verdade no Brasil, projeta-se o desenvolvimento desse direito em dois sistemas
de direitos humanos: ONU e Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH). Com
isso, busca-se definir o direito à verdade no Brasil vis-à-vis as trajetórias do direito à
verdade no sistema internacional e regional referidos, no intuito final de captar até que
ponto a trajetória brasileira condiz com as referências contidas nessas instituições.
Amanda Ferreira (PPGRI San Tiago Dantas)
O luto e a memória enquanto expressão política da vulnerabilidade nas Relações
Internacionais
O trabalho busca analisar a vulnerabilidade enquanto fenômeno que se expressa no
âmbito político, introduzindo-se às Relações Internacionais a partir das noções de luto e
memória. A partir da concepção de violência de Galtung e dos escritos sobre
vulnerabilidade de Butler, entendemos esta enquanto uma condição ontológica da
sociedade, que é relacional, intersubjetiva e assimétrica, separando a condição de vida
humana real da potencial, mediante concepções de risco e ameaça. Partindo de trabalhos
como os de Estelle Ferarese, Martha Nussbaum e Judith Butler, propomos que uma
interpretação possível da relação entre vulnerabilidade e política e a expressão desta no
campo das Relações Internacionais venha a ser a percepção dos fenômenos do luto e da
memória enquanto mecanismos de construção de identidade e percepção da alteridade,
com uma dimensão sócio-simbólica que nem sempre, porém, se desenvolve em esferas de
reconhecimento. Percebemos o luto, a princípio particular e privado, enquanto fenômeno
que integra a esfera privada e pública a partir do momento em que imagens que
representam o luto são levadas à mídia e geram comoção social sobre determinado tema
internacional. Por outro lado, a memória, que nos poderia inicialmente aparentar coletiva,
mostra-se mais pertencente ao âmbito do privado, se observarmos, por exemplo, como
com o tempo a memória e o reconhecimento permanece para os que foram afetados
diretamente e não para a sociedade em geral. Entretanto, isso nos remete também à noção
das “vidas que importam” ou das “vidas que valem o luto”, visto que é perceptível uma
diferenciação entre a política de memória para determinadas populações ocidentais e para
populações que carregam consigo estigmas sociais ou provém de zonas de conflito em
países africanos, por exemplo. A estrutura do trabalho compreende um esforço inicial de
revisão literária sobre as aproximações possíveis entre a vulnerabilidade e a esfera do
político, seguida da investigação dos fenômenos do luto e da memória enquanto
expressões dessa aproximação. Por fim, casos empíricos como o genocídio de Ruanda, os
atentados de 11 de setembro nos EUA e os fluxos migratórios mais recentes de refugiados
em direção à Europa nos permitem um quadro de análise sobre essas questões sob a
perspectiva das Relações Internacionais.
DEBATEDOR: EMERSON MAIONE (UFRJ)
GT 2.2: NOVAS ABORDAGENS PARA TEMAS DE TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
RESUMOS
Vinícius Guimarães Reis Gonçalves (UFRJ)
Estudos africanos e Relações Internacionais: paradigmas e dinâmicas do território africano
Este artigo tem como objetivo abordar uma literatura crítica em relação ao discurso
apriorístico e determinista que discorre sobre a natureza, e por consequência formação
histórica, do Estado e das Relações Internacionais nas sociedades africanas. Focando nos
aspectos teóricos e bibliográficos a serem abordados, percebe-se que as “dinâmicas” do
território africano tendem a ser analisadas sob paradigmas normativos. Com base nessa
premissa nota-se a existência de diagnósticos, referentes aos Estados Africanos, que a
partir de visões inerentemente negativas sobre as sociedades e economias analisadas,
chegam a conclusões enviesadas. Por se tratar de um tema complexo, a revisão
bibliográfica foi chave na elaboração de uma visão concisa, tanto na identificação de
alguns dos principais paradigmas quanto a formulação quanto na forma como os mesmos
foram descritos e problematizados. Explorou-se algumas das principais questões das
agendas de pesquisa mais recentes que buscam explorar, e reconstruir, a forma como o
espaço africano é entendido dentro da teoria das Relações Internacionais. Com ênfase no
campo da Economia Política Internacional, História e nos Estudos Africanos, se efetuará
uma análise sobre a importância deste espaço geográfico e econômico para a atual
estrutura do Sistema Internacional. Estruturando o artigo em eixos temáticos, de maneira
exploratória, buscou-se em um primeiro momento apresentar a problemática, e discuti-la
com embasamento na bibliografia proposta. Em seguida, alguns casos de estudo foram
apresentados de maneira reforçar os argumentos apresentados enquanto estimulava-se o
senso crítico em torno de todo o eixo central. A conclusão se estabelece em torno do que
são as dificuldades inerentes, e por tanto inevitáveis, de toda pesquisa no campo das RI
que envolve, de alguma forma, os países africanos. A região, territorialmente e
culturalmente extensa, do continente africano faz com que tenha-se que lidar com a
dicotomia entre questões de ordem doméstica e questões de ordem internacional de
maneira a abrir novas perspectivas e agendas de pesquisa.
Amanda Poton Cavati de Siqueira (UNIRIO)
Analisando o conceito de estados falidos de uma perspectiva decolonial
O objetivo deste trabalho é analisar a teoria de Estados falidos a partir de uma
perspectiva decolonial, bem como o conceito ocidental de Estado. Tendo em vista que
apesar da emancipação legal dos países periféricos, com o fim do colonialismo, houve uma
manutenção dos mecanismos de dominação, dando início ao que se denomina
colonialidade, o mundo ainda encontra-se dividido, com o lado mais forte (Europa
ocidental e Estados Unidos) dominando o mais fraco. Uma das manifestações da
colonialidade é o saber científico, no qual o Norte consegue apagar o conhecimento do Sul
enquanto ciência. O argumento principal deste artigo é o de que a determinação de países
enquanto Estados falidos está diretamente relacionada com o que se compreende por
Estado, conceito que, por sua vez, é estabelecido de forma hegemônica pelo Norte. Nesse
sentido, o Estado eurocêntrico possui uma determinada trajetória e definição específica,
que é baseada nas experiências europeias e universalizada para o resto do globo,
ignorando as particularidades da periferia. Aqueles países que não se encaixam no molde
são taxados como falidos. A literatura difere um pouco no que tange à determinação do
que faria com que um Estado fosse falido. No entanto, é viável afirmar que Estados falidos
são aqueles países que perderam as características básicas do que os estabelece enquanto
Estados. Logo, é possível perceber que a teoria de Estados falidos está embasada em um
conceito altamente hegemônico, de forma que pode-se argumentar que a concepção de
Estado, assim como a teoria de Estados falidos são passíveis de serem interpretadas como
mais uma das manifestações da colonialidade. Visando cumprir o objetivo deste trabalho,
será utilizada uma análise bibliográfica de importantes autores do pensamento ocidental,
que discorrem sobre a teoria de Estados falidos e sobre o próprio conceito de Estado, bem
como autores relevantes da teoria decolonial.
DEBATEDORA: FERNANDA BRANDÃO (UERJ)
GT 2.3: DEFESA E SEGURANÇA SOB UMA ÓTICA BRASILEIRA
RESUMOS
Sarah Carvalho da Rosa (UERJ)
Os impactos da crise da Venezuela no Brasil: questões humanitárias e transfronteiriças
O aprofundamento da crise política e econômica na Venezuela tem provocado a saída em
massa de refugiados para países vizinhos na América Latina, inclusive o Brasil. O estado
brasileiro de Roraima, fronteira com o país, é o principal ponto de entrada para milhares
de venezuelanos que migram por via terrestre. A partir dessa conjuntura, o objetivo do
artigo é demonstrar através de uma análise teórico-acadêmica os impactos da crise no
Brasil, com ênfase nas questões humanitárias e transfronteiriças que se aprofundam desde
2016. Para isso, será analisado, sobretudo, a crise venezuelana e os desafios enfrentados
pelo Brasil no acolhimento dos cidadãos em situação de vulnerabilidade, assim como a
atuação das instituições nacionais existentes. Nesse sentido, o que tem se observado é que
a Venezuela segue rumo a uma crise interna cada vez mais ampla e violenta. O resultado é
a crescente escassez de abastecimento de itens básicos, o aumento do desemprego e a
perseguição política. Para o Brasil, um dos problemas principais é a falta de estrutura para
abrigar a todos os refugiados que chegam nas cidades fronteiriças, principalmente em
relação ao sistemas de saúde, alimentação e abrigo, perpetuando ainda mais o drama dos
venezuelanos que aguardam um acolhimento digno no território brasileiro. A
consequência é o aumento da violência e a discriminação do nacional para com o
estrangeiro. Atos xenofóbicos já fazem parte do cotidiano roraimense. Portanto, é
imprescindível, que o Estado repense e adapte suas políticas migratórias a fim de garantir
direitos e proteção aos refugiados e imigrantes. Para isso, é preciso compreender os
impactos do crescimento significativo da imigração na mobilidade humana, a fim de
aprimorar as políticas, legislações e a governança institucional. O cenário atual aponta
para um aumento do fluxo de venezuelanos, evidenciando que os efeitos da crise
transpõem os limites territoriais do país, tornando urgente e relevante o estudo do tema
nas relações internacionais.
Adriane Gomes Fernandes de Almeida (PPGRI San Tiago Dantas)
Os acordos de salvaguardas tecnológicas e o Centro de Lançamento de Alcântara:
dilemas entre os interesses comerciais e a autonomia estratégica
A criação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), inaugurado em 1983, enquadrava-
se nos esforços voltados para a busca de autonomia estratégica brasileira no setor
aeroespacial, que previa também a produção de tecnologia nacional de satélites de
observação e o desenvolvimento de meios de acesso ao espaço, especialmente o veículo
lançador de satélite (VLS). Contudo, na década de 1990, com a modificação do contexto
internacional do setor, marcado pela ascensão de atores e investimentos privados, e da
orientação político-econômica brasileira, o papel do CLA nas questões políticas passou a
ser mais vinculado com as potencialidades econômico-comerciais do setor, na medida em
o novo referencial de autonomia passou a ser a integração brasileira ao comércio
internacional e a busca por credibilidade. Contudo, os limites dessa estratégia se fizeram
sentir nos acordos de salvaguardas tecnológicas assinados entre meados da década de
1990 e os anos 2000, os quais, em nome do potencial comercial do CLA, ameaçavam a
autonomia estratégica brasileira, visto que esses acordos estipulavam clausulas a respeito
da restrição de determinada área do Centro apenas para representantes estrangeiros,
impediam a fiscalização pela Alfândega brasileira dos materiais que chegavam na base e
impunham até critérios políticos que não tinham relação com o objetivo de proteção da
tecnologia estrangeira. Desse modo, o presente artigo busca analisar os dilemas
geopolíticos da utilização do CLA, com base na seguinte pergunta: os acordos de
salvaguardas tecnológicas no setor aeroespacial, assinados pelo Brasil, contribuem ou
prejudicam a busca pela autonomia estratégica? Para tanto, foram realizados estudos de
caso, baseados no método histórico e na análise documental, de três acordos de
salvaguardas tecnológicas assinados pelo Brasil: o acordo com os EUA, de 2000, com a
Ucrânia, de 2002, e com a Rússia, de 2007. Os resultados parciais indicam que os acordos
de salvaguardas são mais restritivos e prejudiciais à autonomia estratégica brasileira
quando ocorrem sob duas condições centrais: o nível da assimetria tecnológica e de poder
entre as partes e; quando a comercialização dos serviços do CLA para atores estrangeiros é
percebida como a única alternativa para o aproveitamento do potencial da base e para o
desenrolar do programa aeroespacial nacional.
DEBATEDOR: SAMUEL SOARES (UNESP-SAN TIAGO DANTAS)
GT 2.4: POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA: HISTÓRIA E CONCEITOS
RESUMOS
Fábio Santino Bussmann (UERJ)
A teoria da autonomia testada
O objetivo de pesquisa é testar a Teoria da Autonomia de Hélio Jaguaribe mediante o
estudo de caso da Política Externa Independente (PEI) do governo Jânio Quadros. A
hipótese é a de que a Teoria da Autonomia , especificamente a de Jaguaribe, possui grande
potencial explicativo, por sua visão estrutural da assimetria e multi-dimensionalidade, no
referente aos momentos da Política Externa Brasileira (PEB) considerados como
autônomos de forma consensual pelos estudiosos renomados desse fenômeno, quais
sejam, além da PEI como um todo, o I Governo Vargas e o Governo Geisel. A pesquisa
resgata e se põe a testar uma teoria da Relações Internacionais, com possibilidade de uso
direto em análises de política externa, concebida, como só em raras oportunidades, a
partir do Sul global, que caiu, todavia, desde os anos 1990, em desuso. Esse por motivos
pouco convincentes, como a alegada não validez da teoria depois do fim da Guerra Fria. Ao
mesmo tempo, o conceito de autonomia, deslocado da teoria que o originou, continuou a
ser usado e ressignificado na pesquisa das políticas externas latino-americanas. A escolha
da PEI do governo Jânio Quadros deveu-se ao alto grau de controle analítico que esse caso
possibilita, já que é baixa a probabilidade de que o presidente tenha se influenciado
positivamente, dada a sua origem partidária conservadora, pelas ideias da CEPAL e do
nacional-desenvolvimentismo, bases conceituais, como se verá, da Teoria da Autonomia.
Buscou-se, assim impedir que a pesquisa ficasse viciada, evitando analisar o
posicionamento de atores mediante ideias que eles mesmo já conheciam e pretendiam
colocar em prática. Como a pesquisa visa comprovar a referida hipótese teórico-conceitua,
escolheu-se o tipo de caso denominado “teste de teoria”. O estudo foi feito mediante a
análise de conteúdo, no programa Nvivo, de 14 documentos produzidos pelos principais
atores da PEI do governo Jânio Quadros. Assim, foram criadas categorias de acordo com a
teoria e a hipótese em questão, pelas quais se pode codificar, em uma análise dos períodos
gramaticais, desses textos primários, tendo o cuidado, todavia, de também criar contra-
categorias que possibilitem que a análise não corrobore a hipótese. A hipótese foi
confirmada em parte pelo estudo empírico aqui realizado: o modelo de autonomia de
Jaguaribe se conforma apenas em sua dimensão político-econômica e estrutural ao
desenvolvimentismo objetivado na Política Externa Independente do governo Jânio
Quadros.
Rafaela Rodrigues Andrade (UERJ)
Saúde global e cooperação sul-sul em perspectiva: desafios da Nova Agenda Global
O fim do século XX e a globalização aumentaram, em diferentes graus, o senso de
vulnerabilidade das sociedades. Essa percepção difere dos países desenvolvidos para
aqueles em desenvolvimento. Nos primeiros, esta sensação é pautada na insegurança e no
medo provocados pelo aumento dos fluxos migratórios e pela eminência dos ataques
terroristas, além de instabilidades econômicas; nos segundos, a sensação de
vulnerabilidade é estrutural, expressa pelas desigualdades, pobreza e miséria, além da
violência social e da negligência política. Nos dois casos, há desafios para conciliar as
políticas econômicas de desenvolvimento com a melhoria da qualidade de vida da
população. Neste cenário, a emergência de novos temas, atores e agendas passaram a
receber atenção crescente no cenário internacional. Entre eles, podemos citar a dimensão
da saúde global e da cooperação internacional Sul-Sul nas pautas de segurança e do
desenvolvimento econômico e social, com seus respectivos desdobramentos na política
doméstica e externa de cada país. Até grande parte do século XX, a saúde foi tratada como
um assunto secundário em política externa. Entretanto, a ocorrência de uma série de
eventos no período pós-Guerra Fria alterou a percepção dos Estados em relação aos
problemas da saúde. Há muitas variáveis envolvidas nesta mudança, mas
especificamente, a ameaça das epidemias e pandemias repercute em quatro dimensões
centrais na política externa de qualquer país: 1) a garantia da segurança nacional; 2) a
preservação e a expansão do poder econômico; 3) o estímulo ao desenvolvimento em
regiões e países estratégicos, do ponto de vista geopolítico; e 4) o apoio à dignidade e aos
direitos humanos. O Brasil tem empenhado esforços no desenvolvimento das capacidades
em saúde, no intercâmbio de experiências e no compartilhamento de resultados e
responsabilidades com diversos parceiros, especialmente através da cooperação Sul-Sul.
Com a transnacionalização dos temas, cada vez mais a política externa se assume
enquanto política pública e sofre interferência de diversas forças no seu processo
decisório. O artigo a seguir reúne e apresenta algumas variáveis de política externa e
saúde, além de acontecimentos-chave ao longo das últimas décadas, com o objetivo de
traçar uma linha evolutiva e crescente para o conceito de saúde global e de cooperação
Sul-Sul, notadamente duas das principais pautas de atuação internacional do Brasil no
século XXI.
Heitor Erthal (UFF)
A política externa dos círculos concêntricos em perspectiva: diferentes abordagens da
política externa do governo Castelo Branco
O presente artigo pretende discorrer sobre as diferentes vertentes sobre a política externa
desenvolvida durante o primeiro período da ditadura militar, no governo do general
Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967). A tomada do poder feita pelos
militares visou pôr fim ao governo do presidente João Goulart, em especial dois pontos de
sua agenda, as reformas de base e a Política Externa Independente (PEI). A PEI iniciada
por Jânio Quadros, e mantida após a ascensão de Goulart, foi interpretada pelos setores
mais conservadores da sociedade brasileira como um afastamento dos parceiros mais
tradicionais, em contrapartida a aproximação do Brasil ao bloco dos países soviéticos. A
política externa formulada pelo Estado brasileiro após golpe de 1964 veio, segundo os
militares, trazer o Brasil para sua área de atuação mais tradicional o ocidente e afastá-lo
da influência comunista. Em seu discurso no Instituto Rio Branco em julho de 1964 o
presidente comenta sobre as suas diretrizes de política externa, estruturada a partir dos
estudos geopolíticas da Escola Superior de Guerra (ESG) ao longo da década de 1950 e
1960. A chamada política externa dos círculos concêntricos foi anunciada por Castelo
Branco, mostrando que a presença do Brasil se daria em intensidades diferentes. Ou seja,
havia parte do globo mais prioritárias para o governo brasileiro, como o Cone Sul e a
América Latina, e outras áreas menos importantes, tal como a União Soviética. Dois pontos
eram entendidos enquanto objetivos dessa política, a segurança e o desenvolvimento,
binômio pensado na ESG por Golbery do Couto e Silva. O desenvolvimento seria o
crescimento
DEBATEDOR: PAULO VELASCO (UERJ)
16:00 ÀS 17H30
GT 2.5: OPERAÇÕES DE PAZ E SEGURANÇA HUMANA
RESUMOS
Pablo Victor Fontes (IRI/PUC-RIO)
Entre a Vida Nua e as Vidas Precárias: uma releitura pós-estrutural a
partir do conceito de desumanização na agenda de segurança humana
Com o fim da Guerra Fria (1991), a agenda de segurança humana ganhou
espaço e legitimidade nas instituições internacionais a partir dos processos de operação
de paz, intervenção humanitária, direito internacional humanitário e, sobretudo, tendo
em vista a ampliação das agendas e temas da disciplina sobre (in) segurança
internacional. Após o 11 de setembro de 2001, com as invasões no Afeganistão (2001) e
a Guerra do Iraque (2003), a temática da (in) segurança humana novamente ganhou
espaço nos principais fóruns e organizações internacionais. Este artigo tem por objetivo
refletir a fim de desestabilizar os discursos e práticas desumanizadas na agenda de
segurança humana por meio dos conceitos de Vida Nua de Giorgio Agamben e Vidas
Precárias de Judith Butler. O artigo tem como problema de pesquisa a seguinte questão:
Como refletir sobre os conceitos de Vidas Nuas (Agamben) e Vidas Precárias (Butler)
permite desestabilizar o discurso de proteção/salvação na agenda de segurança humana
por meio das práticas desumanizadas sobre o Outro? Temos como reflexão que a
desumanização sobre o Outro, na agenda de segurança humana, ocorre na medida em
que os discursos e práticas neoliberais buscam “salvar/proteger” os indivíduos em nome
de modelos coloniais impostos pelas organizações internacionais e os estados a partir de
uma perspectiva ocidental. Metodologicamente o paper se utiliza de reflexões a partir
das reflexões de autores (as) vinculados a teoria pós-estrutural e por vezes, pós-colonial.
Agossou Lucien Ahouangan (UERJ)
Resolução de conflito e operação de manutenção da paz na Costa do Marfim
O presente trabalho pretende analisar o processo de resolução do conflito marfinense e a
implementação da Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim - ONUCI-. O período a
ser analisado é de 2004 data do estabelecimento da ONUCI até 2017 ano de fim oficial da
operação de manutenção da paz. Deste modo, a pergunta principal que delineará nosso
trabalho é de saber se a ONU alcançou os objetivos que se traçaram através de suas
resoluções para manutenção da paz na Costa do Marfim? Nossa hipótese é que a ONUCI
não foi completamente efetiva, com foco prioritário na atuação militar e faltou uma
coordenação entre ações civis e militares. Para poder testar nossa hipótese, vamos
primeiramente estudar as resoluções 1479, 1528, 1572, 1721, 1942, 1951, 1967 e 1975 do
Conselho de Segurança das Nações Unidas - CSNU- para a manutenção da paz na Costa do
Marfim identificando os componentes civis e militares, e em segundo lugar ver como as
resoluções foram implementadas. A teoria de Zartman sobre a resolução de conflito
através da negociação nós ajudará a entender o processo que leva a assinatura do acordo
de paz e em seguida a implementação da missão de paz, também usaremos a teoria de
transformação de conflito de Lederach que abordará a questão de coordenação dos
esforços externos de paz e do apoio aos atores internos, e sobretudo uma possível
transformação de conflitos armados enraizados em conflitos pacíficos reconstruindo
relacionamentos destruídos pelo intermediário de uma reconciliação dentro da sociedade
e no fortalecimento do potencial de construção da paz na sociedade.
Lucas Duarte Vitorino de Paula Xavier Guerra (IRI/PUC-Rio)
Raça, racismo e operações de paz: uma análise da MINUSTAH
No presente trabalho, argumentamos que a raça e o racismo são elementos estruturantes
da política mundial moderna, e que essa dimensão racializada pode ser observada nas
operações de paz da ONU contemporâneas. Nesse sentido, partindo de uma metodologia
essencialmente qualitativa, abordamos as formas com que as categorizações hierárquicas
inicialmente baseadas em distinções biológicas entre brancos e não-brancos foram
historicamente ressignificadas, assumindo a forma de padrões civilizatórios e de discursos
de modernização. Argumentamos ainda que esses discursos racializados constituem a
base de conceitos centrais das narrativas ortodoxas sobre resolução de conflitos e
processos de pacificação, como a paz liberal, os “Estados falidos” e o peace building e
statebuilding. Finalmente, apresentamos um estudo de caso da Missão das Nações Unidas
para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH) a partir de um enfoque em aspectos de raça e
racismo, argumentando que lógicas racializadas presentes na Missão levam à sua
instrumentalização para a despossessão do povo negro haitiano de alguns de seus direitos
fundamentais, dentre eles o da autodeterminação.
DEBATEDOR: SAMUEL SOARES (UNESP-SAN TIAGO DANTAS)
GT 2.6: AÇÕES E IMPACTOS DE AGENTES ECONÔMICOS SOBRE AS NAÇÕES
RESUMOS
Eduardo Santos Maia (UFRJ)
O rentismo na América Latina: a economia política da dívida pública em Brasil e Equador no
século XXI
A década de 1970 foi de crédito internacional fácil, proveniente do excesso de dólares nos
países produtores de petróleo. A necessidade de circular o capital ocioso motivou ondas
de empréstimos em massa para regiões acostumadas à escassez de crédito, como a
América Latina. O endividamento do subcontinente em moeda estrangeira resultou na
“crise da dívida”, após o aumento das taxas de juros estadunidenses em 1979, cujas
consequências são sentidas até os dias de hoje. No entanto, questiona-se que parte da
dívida seja ilegal ou ilegítima, representando um mecanismo de transferência de renda das
sociedades para o rentismo internacional. Diante deste cenário, o presente projeto visa
preencher lacunas existentes na temática da dívida pública. Inexistem, ao alcance dos
esforços aqui empreendidos, pesquisas que trabalhem o assunto de forma comparada a
partir de uma perspectiva internacional. Nesse sentido, a presente pesquisa tem por
objetivo analisar comparativamente as posições de Brasil e Equador em relação ao
pagamento de suas dívidas públicas no presente século, considerando que: 1) o Equador
conduziu uma auditoria, o que possibilitou um alívio orçamentário revertido em
investimentos sociais e afastou o país da esfera do rentismo e 2) o Brasil optou por seguir
o curso de manutenção do pagamento de sua dívida e dos privilégios do setor financeiro. A
pesquisa se utiliza de uma análise histórico-comparativa e possui características tais
como: a realização de comparações sistemáticas e contextualizadas entre um número
reduzido de casos similares e contrastantes; e a incorporação da estrutura temporal dos
eventos nas explicações. Embora se trate de um método indutivo, não há pretensão de
universalidade. Acredita-se, entretanto, que a análise é replicável para países em situação
estrutural similar, em especial da América Latina. Os resultados preliminares sugerem que
a auditoria equatoriana possibilitou avanços sociais de caráter duradouro; enquanto no
Brasil a opção pela continuidade no pagamento da dívida restringiu as opções, tornando
mais difícil o aumento dos investimentos sociais em tempos de estagnação econômica.
Embora de caráter predominantemente financeiro, a questão da dívida pública toca
também em aspectos econômicos, políticos e sociais. É um dos elementos constritores do
desenvolvimento e projeção dos países da América Latina, bem como de sua inserção
subordinada no sistema internacional. Assim, torna-se premente uma reorientação das
políticas acerca do tema.
Pedro Lange Netto Machado (Universidade Federal de Santa Catarina)
Os governos de Dilma Rousseff (2011-2016) frente às agências de classificação de risco
O trabalho analisa como as agências de classificação de risco atuaram sobre os governos
de Dilma Rousseff (2011-2016), de modo a compor o cenário de crise que culminou no
impeachment da presidente. No contexto de globalização financeira, as avaliações
atribuídas pelas agências a Estados nacionais influenciam as condições de seus acessos aos
mercados de capitais globalizados e desintermediados, produzindo impactos no
financiamento de suas economias. Como consequência, seus governos se veem
constrangidos a aderir à agenda do Consenso de Washington, com a qual as agências se
alinham, em prol da obtenção de melhores notas e, consequentemente, de empréstimos
em condições mais vantajosas. É diante dessa realidade que o caso do Brasil, ao longo dos
governos Dilma, desponta como representativo das pressões que esses atores podem
exercer sobre governos nacionais. Em meio a uma conjuntura internacional adversa e
diante de reviravoltas na condução da política econômica nacional, o ativismo das
agências de classificação de risco nos cenários político e econômico brasileiros foi
constante ao longo do período, implicando em ingerências externas na esfera estatal. Tal
realidade se manifesta a partir das três vias por meio das quais as agências são capazes de
atuar, a saber: o rating que atribuem ao Estado, os relatórios que emitem periodicamente
e as declarações de seus executivos em variados canais de mídia. Nesse sentido, a
metodologia empregada na pesquisa é o process tracing, levando em conta os materiais
mencionados, que serão inseridos e devidamente confrontados com o contexto em
questão. Os resultados preliminares apontam para a participação ativa das agências na
configuração das crises política e econômica, gestadas em 2013 e que se agravariam até
2016, quando a presidente é destituída de seu cargo através de um controverso processo
de impeachment. O trabalho, por conseguinte, contribui com maiores esclarecimentos
acerca de atores ainda pouco explorados pela literatura, mas que se constituem como
imprescindíveis à dinâmica financeira internacional e que incidem diretamente sobre a
governança democrática estatal. Ademais, lança-se uma nova perspectiva acerca da crise
que se configurou ao longo dos governos de Dilma e cujos impactos só se agravariam a
posteriori.
Caroline Barbosa Souza de Oliveira (UFU)
A cooperação Brasil-Paraguai atendendo aos interesses sul-mato-grossenses: uma questão
de governança multinível
Esse artigo tem como objetivo estudar o projeto da construção da ponte
internacional entre Porto Murtinho (BR) à Carmelo Peralta (PY) que resultou em um
acordo de cooperação entre Brasil e Paraguai. Ademais, esse trabalho irá demonstrar que
a iniciativa para esse projeto partiu da busca de atores não governamentais brasileiros,
unidades subnacionais paraguaias e o do governo do Estado de Mato Grosso do Sul pela
motivação de ambos em buscar uma nova rota de escoamento para o exterior, pois, estão
geograficamente afastados dos principais portos oceânicos. Sendo assim, esse artigo tem
como hipótese comprovar que houve uma governança multinível de baixo para cima
envolvendo desde os municípios fronteiriços, passando pelos atores subnacionais
paraguaios, pelo o governo do Estado de Mato Grosso do Sul até chegar ao governo
nacional, para assim, se formalizar o acordo internacional entre Brasil e Paraguai. Além
disso, o artigo se propõe a mostrar que esse projeto para construção da ponte é
fundamental para fomentar a criação de rotas alternativas para exterior, como, a rota
bioceânica com saída terrestre até os portos do Chile. Deste modo, artigo chegou nos
seguintes resultados, que o projeto de construção da ponte demandou uma governança
multinível de baixo para cima, envolvendo os atores subnacionais paraguaios e brasileiros.
No caso do Brasil, especificamente, esta governança se reflete na iniciativa dos
representantes sul-mato-grossenses no Congresso que, atendendo às pressões dos atores
privados interessados, propõem um projeto de lei para assinatura de um acordo bilateral
de cooperação entro o Brasil e o Paraguai, a fim de colocar em prática o projeto de
construção da ponte. Enfim, pode-se concluir que, se não houvesse esta governança
multinível, seria praticamente impossível a iniciativa do projeto, haja vista que os
interesses que estão em jogo estão muito mais concentrados na escala local/regional,
ainda que os resultados advindos deste projeto também tragam benefícios para a
economia nacional.
Augusto Gavioli (UERJ)
O adensamento do relacionamento econômico bilateral entre Brasil e China: riscos e
oportunidades para a economia brasileira
Tendo por base a parceria estratégia entre Brasil e China, este artigo tem por objetivo
investigar os riscos e as oportunidades que surgem para a economia brasileira, a partir do
progressivo adensamento das relações econômicas bilaterais, propondo uma análise
acerca do atual perfil dessas relações no que diz respeito às trocas comerciais e aos
investimentos chineses no Brasil. O argumento central é que o reforço da entrada de
capital chinês no Brasil, por meio de investimentos externos diretos, não somente
acarretou em nova perspectiva no relacionamento bilateral, como também agregou
desafios e oportunidades para o crescimento econômico brasileiro na forma de maiores
opções de acesso ao crédito e também de concorrência às empresas já estabelecidas em
território nacional. O artigo discutirá o histórico e a importância das trocas comerciais
entre Brasil e China, principalmente a partir do século XXI, e a estratégia de
internacionalização de capital nacional chinês para terceiros mercados, a fim de
demonstrar que os investimentos externos diretos chineses no Brasil assumem uma
perspectiva que se insere na dinâmica do desenvolvimento chinês e nos seus objetivos de
garantir a segurança alimentar, de assegurar acesso a mercados estrangeiros e de buscar
controlar o fluxo da cadeia produtiva em setores específicos da economia para garantir o
fornecimento de matérias-primas necessárias ao seu desenvolvimento. Nesse sentido, este
artigo busca esclarecer qual a relevância da presença de capital chinês no Brasil e quais
são os riscos e oportunidades para a economia brasileira, a partir do incremento das
relações bilaterais econômicas, evidenciando o teor das trocas comerciais realizadas e
destacando a complementaridade econômica entre Brasil e China.
DEBATEDORA: PATRÍCIA NASSER (UFMG)
GT 2.7: POLÍTICA EXTERNA SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS E DAS
QUESTÕES DE GÊNERO
RESUMOS
Melina Moreira Campos Lima (IBMEC)
Promoção dos direitos humanos por países desenvolvidos ocidentais: diplomacia versus
direito internacional
O presente artigo tem por objetivo comparar os papeis do direito internacional e da
política externa no campo dos direitos humanos, revelando o comportamento de Estados
desenvolvidos ocidentais em relação a esse Regime internacional e seus impactos. Mais
especificamente, tem-se como objeto de estudo a atuação de quatro países: França e Reino
Unido, berços dos direitos humanos e tradicionais impositores de valores relacionados ao
tema; e Noruega e Suécia, países internacionalmente reconhecidos como modelos de
respeito e promoção aos direitos humanos. A partir da catalogação e do estudo das
decisões diplomáticas desses países no campo dos direitos humanos, assim como do
mapeamento da participação em tratados e cortes internacionais referentes ao tema,
revela-se que, embora o engajamento seja alto no plano do direito internacional, ele é
muito baixo no plano da política externa. Ao se analisarem as consequências desse
comportamento para a efetiva promoção dos direitos humanos internacionalmente,
observa-se, por um lado, que o direito internacional, na prática, gera um impacto muito
maior na situação interna dos Estados do que no plano internacional. Por outro lado, a
diplomacia tem maior capacidade de reverberar internacionalmente, mas, no caso das
nações estudadas, não vem sendo praticada efetivamente em favor dos direitos humanos
dentro das principais instituições públicas internacionais promovedoras do tema. Entre as
conclusões, expõem-se as seguintes considerações: o engajamento de países
desenvolvidos ocidentais no contexto do direito internacional ocorre basicamente porque
ele não implica grandes sacrifícios ou mudanças internas, tendo em vista que as leis
nacionais sobre direitos humanos dos Estados analisados já são, via de regra, bastante
satisfatórias; a falta de compromisso com a defesa dos direitos humanos em órgãos
políticos internacionais mostra que a defesa do tema no plano mundial é essencialmente
retórica e que se constitui em um eficiente instrumento de manutenção de poder por parte
da civilização pan-europeia.
Camila De' Carli (UERJ) e Ivi Vasconcelos Elias (UERJ)
Mais mulheres diplomatas: a necessidade de uma política de gênero para o Itamaraty
Este trabalho pretende analisar a desigualdade de gênero dentro do Ministério
das Relações Exteriores (MRE) investigando as ações do órgão para superar esse
problema. Parte-se aqui da campanha #maismulheresdiplomatas, realizada nos meses de
junho e julho de 2018 pelo Itamaraty a fim de incentivar um maior número de mulheres
a participar do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata. Na primeira parte do
trabalho, busca-se identificar nos depoimentos de mulheres as principais estratégias
discursivas usadas pelo Ministério para enfrentar a sub-representação feminina na
atividade diplomática. Acredita-se que a identificação dessas estratégias poderá sugerir
aqueles que seriam considerados, pelo MRE, os maiores entraves para um maior interesse
das mulheres pela carreira. Como contraponto, em uma segunda parte do trabalho,
pretende-se verificar as principais dificuldades identificadas pela ótica das mulheres
diplomatas depois de ingressar na carreira e que tipo de ações têm sido implementadas
internamente desde a criação do Comitê Gestor de Gênero e Raça a fim de promover a
igualdade de gênero no MRE. Para tanto, será empregado um questionário com o objetivo
de auferir a percepção dessas diplomatas sobre possíveis obstáculos na carreira relativos
a questões de gênero, como assédios, falta de apoio político nas promoções ou episódios
em que tenham sido preteridas em desempenhar alguma função por serem mulheres.
Tatiana de Souza Sampaio (UERJ)
Uma análise do processo de tomada de decisões em política externa sob a ótica feminista
construtivista
Vozes silenciadas, teorias marginalizadas pelo mainstream acadêmico das Relações
Internacionais, permanência do patriarcalismo, pouca literatura sobre gênero,
encruzilhadas no construtivismo, a contínua ênfase no estadocentrismo e a pequena
aceitação de abertura para outros atores internacionais geram um buraco teórico que
comprime e superficializa os estudos das Relações Internacionais e uma análise teórica
sobre Política Externa e sobre o processo de tomada de decisões políticas. Tal realidade é
um retrato da permanência da ênfase das análises teóricas realistas e liberais das Relações
Internacionais sobre temas que precisam de releituras, ou outros pontos de vista, para o
aprofundamento do conhecimento do sistema internacional, dos Estados, dos indivíduos e
de toda uma nova agenda que surgiu após a Guerra Fria. Dessa forma, pretende-se, com
esse artigo, promover um debate sobre um novo olhar teórico no processo de tomada de
decisões de política externa. A história do feminismo está centrada na busca por
ferramentas analíticas que possam compreender as diversas formas de distribuição
desigual de poder, para, com base nesse conhecimento, modificar essas posições. As
abordagens que trabalham com interseccionalidades, que criticam a forma de produção do
conhecimento e propõem novos olhares para a produção teórica oferecem recursos
relevantes para que possamos compreender a produção de sujeitos nessa nova ordem
mundial.
Patrícia Porto de Barros (IESP/UERJ)
A política externa europeia e a sua agenda migratória
A guerra civil na Síria ocasionou o deslocamento forçado de milhões de pessoas, tanto
interna, quanto externamente. Atualmente, encontram-se em solo turco, mais de 3 milhões
de refugiados sírios, sendo a Turquia a maior receptora mundial deste fluxo migratório.
Tal situação traz preocupações à União Europeia (UE) relativas à migração irregular, com
origem na Turquia. Nesse contexto, em março de 2016, foi assinado um acordo entre UE e
a Turquia, tendo como um dos principais objetivos frear a chegada de imigrantes
“indesejados” no território europeu. Este artigo traz uma análise dos relatórios da
Comissão Europeia, relativos à implementação deste acordo de 2016, junto aos relatórios
de organismos internacionais e a literaturas referentes à política externa. O enfoque deste
trabalho se encontra na União Europeia e na securitização de sua agenda migratória,
conjuntamente a trabalhos sobre acordos de cooperação internacional e a influência do
auto-interesse, bem como a importância dos direitos humanos presente nestes.
DEBATEDOR: EMERSON MAIONE (UFRJ)
GT 2.8: A DIMENSÃO GEOESTRATÉGICA DA POLÍTICA INTERNACIONAL
RESUMOS
Mehmet Arif Köşk (UFRJ)
Energia, Segurança, e Poder: uma análise sobre as disputas geopolíticas no Mar Negro
Este trabalho, além da proposta interdisciplinar, busca pensar uma região geográfica
pouco estudada no Brasil. A desintegração da União Soviética, os atentados de 11 de
setembro, a guerra russo-georgiana e a guerra civil no leste da Ucrânia reafirmaram a
importância geopolítica do Mar Negro e, por conseguinte, intensificou as disputas sobre o
domínio da região. Essas dinâmicas políticas estão interseccionadas por um dos fatores
mais proeminentes: a geopolítica energética. A abordagem geopolítica orientada para a
energia, em particular para o Mar Negro, tal como este trabalho propõe, se difere da visão
da geopolítica clássica, que explica a distribuição geográfica dos recursos naturais dentro
das fronteiras nacionais. A partir de uma crítica à abordagem clássica, este trabalho busca
pensar as relações entre a Turquia e os países do Mar Negro e suas políticas econômicas
no setor energético. Para tal, será realizada uma revisão bibliográfica sobre a geopolítica
energética nessa região, bem como sua história recente, em contraste com análise
minuciosa de dados quantitativos sobre as transações econômicas dos países ao redor do
Mar Negro. Dentre as principais considerações às quais esta pesquisa chega, estão: I) o
crescimento dos países dominantes na região do Mar Negro (Rússia e Turquia) faz com
que aquela área se torne estratégica e competitiva para os demais poderes globais; II) a
geopolítica do Mar Negro cria concorrência entre Rússia e o Ocidente (Estados Unidos,
União Europeia e OTAN); e III) a posição geoestratégica da Turquia tem papel crucial na
segurança energética da UE e a diversificação das fontes de energia.
João Montenegro da S. P. Reis (UFRJ)
A abertura do setor petróleo na América Latina
Diversos países latino-americanos vêm promovendo reformas de abertura política e
econômica nos últimos anos. O movimento abrange setores estratégicos e de alta
relevância geopolítica, como o de energia e o de petróleo e gás em especial. Em 2014, o
governo mexicano, liderado por Enrique Pena Neto, derrubou o monopólio de 70 anos da
petroleira estatal Pemex e, desde então, leiloou áreas exploratórias terrestres e marítimas
de grande potencial. Sob a gestão de Michel Temer, o Brasil aprovou o fim da operação
única da Petrobras no pré-sal, definiu um calendário anual de rodadas de licitação de
blocos exploratórios e reduziu as exigências de nacionalização de bens e serviços a fim de
atrair investimentos estrangeiros. Na Argentina, no Equador e no Uruguai também se
promovem ou planejam-se reformas regulatórias com o mesmo intuito. O objetivo deste
trabalho será identificar as razões que explicam esse movimento de abertura do setor
petróleo na América Latina e avaliar seus impactos na região. Para tanto, estão sendo
colhidos e analisados dados oficiais nos sítios eletrônicos dos governos e agências
reguladoras de cinco países: Argentina, Brasil, Equador México e Uruguai. O levantamento
inclui ainda informações disponibilizadas pela Energy Information Administration (EIA),
Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), consultorias e veículos
jornalísticos especializados e páginas de sindicatos, além de entrevistas com especialistas.
Os resultados parciais indicam que o movimento de abertura na região reflete, entre
outros fatores, a crise mundial da indústria – que forçou, em função da queda dos preços
do barril, a adoção de medidas liberalizantes para estimular novos investimentos –, em
combinação com a necessidade de reposição de reservas por parte de petroleiras
internacionais e a chegada de governos de direita ao poder. Entre os possíveis efeitos
nocivos da abertura estão riscos à soberania e integração energéticas na região e a
redução do potencial de industrialização associado à indústria petrolífera, ampliando-se a
exposição ao chamado mal da “doença holandesa”. Por outro lado, a abertura poderia ser
um meio de acelerar a geração de riquezas a partir da exploração de um recurso que tende
a perder valor nas próximas décadas, diante da crescente participação de fontes
renováveis na matriz energética mundial. Apesar disso, a fragilidade política e econômica
da região em relação aos países de origem dos investimentos que se pretende atrair pode
pesar negativamente no balanço final.
Letícia Figueiredo Ferreira (PEPI/UFRJ)
A Parceria Russo-Turca no Século XXI: Reconfigurações de Forças e Alianças em um Sistema
Internacional em Câmbio
A história testemunha uma série de revezes nas relações entre Rússia e Turquia. Ainda
que os países tenham rivalizado em doze guerras ao longo dos séculos XVII e XX, a União
Soviética foi a primeira potência a reconhecer a República da Turquia ainda no desenrolar
de sua Guerra de Libertação. No seio da Guerra Fria, a relação russo-turca volta a se
deteriorar, à medida que a Turquia adentra a esfera de influência estadunidense. Após
alguns ensaios de aproximação em 1960 e outros intentos exitosos em 1980, os anos 2000,
enfim, consagram o estreitamento dos laços entre os dois atores.
Alexandre Andrade Alvarenga (UERJ)
Energia na literatura política, econômica, geopolítica e internacional
O objetivo desse trabalho foi pensar as relações internacionais a partir de uma visão que
considere os recursos energéticos e o tema da energia como fatores fundamentais para
entender o desenvolvimento das sociedades históricas e das relações internacionais
modernas. O trabalho tentou trazer, à luz do debate internacional, a importância do tema
da energia para as relações internacionais do século XXI, bem como a contribuição de
autores clássicos da ciência política, da economia política e da geopolítica ao longo da
história. A partir de uma análise da literatura, o trabalho também tem como objetivo fazer
uma análise histórica, teórica e conceitual sobre o tema da energia e dos recursos naturais
e energéticos de modo a identificar os diferentes recursos e atores ao longo do
desenvolvimento das sociedades, dos estados e do sistema internacional. O trabalho parte
de uma análise sobre o conceito de energia e a importância dos recursos energéticos em
diferentes períodos históricos, demonstrando também diferentes relações de poder,
recursos, pólos e atores. O trabalho faz parte de uma tentativa de construção de um
framework teórico e histórico sobre energia e relações internacionais, e faz parte de um
estudo sobre as guerras e conflitos por recursos naturais e energéticos em países em
desenvolvimento, como o caso do Brasil. Somado a isso, o trabalho tem também como
objetivo contribuir para o debate teórico e conceitual das relações internacionais ao trazer
uma abordagem mais específica e um elemento de análise diferente das correntes
dominantes que privilegiam alguns atores e recursos. Nesse caso, o tema da energia e foi
escolhido tanto pelas suas complexidades manifestadas na economia e nas relações
internacionais modernas quanto pela conexão com o nosso passado histórico,
evidenciando uma ligação política e econômica de longa data entre seres humanos,
sistemas políticos e recursos naturais. Por fim, cabe destacar que o trabalho não
representa uma pesquisa finalizada, as uma pesquisa ainda em desenvolvimento.
DEBATEDOR: THAUAN SANTOS (EGN)
30/11/2018 I SEXTA-FEIRA_____________________________________________
14:00 ÀS 15:30
GT 3.1: O INSTITUTO DO REFÚGIO NA SOCIEDADE INTERNACIONAL
RESUMOS
Flávia Rodrigues de Castro (PUC/RJ)
Solidarismo e desigualdade nas relações com o solicitante de refúgio: um olhar situado e a
partir da Cáritas/RJ
Se o espaço humanitário está profundamente marcado pela lógica pastoral, do cuidado
caritativo estabelecido em torno da hierarquia protetor / vítima, pode-se argumentar que
há também uma tensão constitutiva entre desigualdade e solidariedade, nos termos
propostos por Didier Fassin (2007). No âmbito da instituição Cáritas Arquidiocesana do
Rio de Janeiro (Cáritas/RJ) é possível observar que, por um lado, há a preocupação com
a transparência do processo de elegibilidade que envolve as instâncias governamentais
brasileiras de modo que fique claro para o solicitante o que significa o estatuto do
refúgio e o que ele implica, esboçando um modelo de relação solidarista; por outro
lado, há um processo de transformação das narrativas e histórias em casos burocráticos
com a busca pela antecipação da crítica governamental em que é pressuposto a fraqueza
ou não de um “caso”, em um processo não-participativo e desigual de designação
daqueles que se encaixam nos requisitos institucionais e burocráticos. O objetivo dessa
proposta é, então, analisar a ambivalência produzida nas interações entre o
funcionário/voluntário da Cáritas/RJ e o solicitante de refúgio, tendo em mente aquelas
tensões constitutivas entre uma desigualdade radical e o estabelecimento de relações
solidaristas que funcionam também no âmbito daquilo que Fassin chama de “política da
vida” – a seleção da vida que é possível e legítimo salvar. Esse estudo parte da minha
experiência de engajamento como voluntária na Cáritas/RJ e, portanto, do lugar de
privilégio e desconforto de uma acadêmica engajada.
Isabela Souza de Werneck Lustosa (UERJ)
Direito de Fuga e suas Reinterpretações
O instituto do refúgio é fruto da primeira metade do século XX. Tão logo fora instituído,
precisou sofrer modificações e reinterpretações para que estivesse de acordo com as
novas conjunturas da Política Internacional. As atualizações a respeito das definições de
status só foram possíveis graças às mudanças ocorridas no âmbito do regime internacional
sobre o refúgio, que se deu através do ACNUR. As mudanças no regime são aqui
entendidas à luz da teorização a respeito dos regimes internacionais proposta por Stephen
Krasner. Neste sentido, sustenta-se que ao longo do tempo, o regime internacional sobre
os refugiados sofreu alterações em suas regras e procedimentos, preservando, porém seus
princípios e normas. Estas mudanças no regime têm impacto no tratamento que se dá ao
tema ainda hoje no século XXI, mais especificamente no entendimento regional americano
sobre o refúgio, que apresenta definição mais ampla. Apesar de ter incorporado em seu
ordenamento jurídico a Declaração de Cartagena de 1984, este trabalho levanta a hipótese
de que o Brasil possui dificuldades em mudar também os procedimentos práticos
referentes ao entendimento mais amplo do regime do refúgio, tendo em vista os episódios
do terremoto haitiano e a crise migratória dos venezuelanos no século XXI. Neste sentido,
“Direito de Fuga e suas Reinterpretações” propõe que nem todos os regimes
internacionais geram resultados práticos a depender do tema em questão, e da
possibilidade de ir de encontro à soberania nacional. Portanto, pretendemos defender a
hipótese proposta analisando os casos haitiano e venezuelano de fluxo de pessoas em
direção ao Brasil, observando as medidas tomadas pelo governo brasileiro para se eximir
do reconhecimento de tais cidadãos como refugiados. Ainda, levantaremos os argumentos
da proximidade geográfica, abertura de precedentes e relações diplomáticas para delinear
as decisões tomadas pelo governo brasileiro em relação ao tema, bem como as
consequências destas decisões para os indivíduos em trânsito.
Thais Vivacqua Souza (PUC-RJ)
Corpos temerosos em movimento: a subjetivação pelo medo e a dimensão afetiva da
categoria do refugiado
A administração global da mobilidade envolve um regime de controle da
mobilidade que não somente distingue rigidamente as dinâmicas e experiências de
movimento, como também cria hierarquias entre estas modalidades de deslocamento
baseadas em emoções (MOULIN, C.; 2012). Sendo assim, este trabalho busca explorar
a dimensão afetiva da construção e sustentação da categoria do refugiado no regime de
controle da mobilidade. Ao propor as indagações de qual é o medo do regime
internacional de refúgio e o que ele faz, contesto a pretensão universal da noção de
“temor” da Convenção de 1951 e argumento que o medo inscrito no instituto de refúgio
é uma emoção situada e construída dentro de um sistema de valores ocidental do
pensamento liberal moderno. Partindo disso, argumento que o medo do instituto de
refúgio é um medo liberal que privilegia o temor da violência física e a garantia de
direito políticos, o que gera exclusão de outras experiências de medo como a situação de
violação de direitos socioeconômicos. Por fim, proponho que o medo opera como uma
prática de poder do regime de controle global da mobilidade (re)produzindo
subjetividades e expectativas de comportamento dos sujeitos em movimento, ao mesmo
tempo que traça rigidamente as fronteiras entre o refugiado e o migrante econômico, em
uma relação dicotômica entre o medo e a esperança. Por meio de uma metodologia de
qualitativa e revisão de bibliografia, busco apontar como, por um lado, o refugiado é
subjetivado como um sujeito temeroso, sem agência e desejo em seu deslocamento, com
expectativas de exibição de qualidades como status de vítima sem voz política. Nesta
dicotomia, por outro lado, o migrante econômico vulnerável é subjetivado por sua
condição laboral, reduzido ao interesse econômico, à esperança de progresso e
permeado por desejo e agência no deslocamento.
DEBATEDOR: MAURÍCIO SANTORO (UERJ)
GT 3.2: DEFESA E SEGURANÇA NA AMÉRICA DO SUL
RESUMOS
Charles Matins Hora (EGN)
Projetos de cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação no âmbito da defesa: diagnóstico
acerca da interação entre o Brasil e os países da UNASUL
Destaca-se que com virada do século, a Agenda de segurança internacional assumiu
contornos multifacetados, dada a sua constante reestruturação. Como resultado, novas
demandas de defesa passaram a se apresentar aos Estados. No âmbito brasileiro, as
respostas às necessidades existentes estruturam-se por meio de diferentes formas, dentre
elas, atividades de cooperação com outros Estados. Considerando a relevância desta
temática, o presente trabalho tem como finalidade analisar as atividades de Ciência,
Tecnologia e Inovação em defesa, entre o Brasil e os países da UNASUL, da sua criação até
o fim do primeiro mandato da Presidente Dilma Rousseff. Parte-se do pressuposto de que
as atividades exercidas neste período favoreceram a aproximação entre os países da
Organização, contribuindo com comércio de produtos de defesa. Neste sentido, apresenta-
se a conformação histórica das relações entre o Brasil e os países da Organização, bem
como a conjuntura em que ocorreu a sua criação. Realiza-se um debate teórico acerca da
cooperação internacional. Por fim, é apresentada a análise dos documentos de cooperação
no âmbito da Agência Brasileira de Cooperação, Ministério da Defesa e da UNASUL. Como
forma de possibilitar a consecução dos objetivos deste estudo, adotou-se a teoria da
interdependência complexa. O procedimento utilizado será o exploratório, por meio da
técnica de documentação indireta, com foco na coleta de dados e análise documental, de
modo que as informações utilizadas subsidiem a confirmação ou refutação do pressuposto
apresentado. Foi possível observar, na perspectiva do desenvolvimento regional mútuo,
que a iniciativa de cooperação se configurou válida para contribuir não apenas para o
desenvolvimento de políticas públicas no âmbito dos Estados, mas também para gerar um
ambiente propício para o diálogo e intercâmbio entre empresas da área de defesa. Neste
cenário, destaca-se que esta aproximação entre os Estados contribuiu para a criação da
Escola Sul-Americana de Defesa, assim como para a realização de atividades como o
adestramento e coordenação das forças militares dos países da UNASUL, ambos no sentido
de reafirmação e alcance dos objetivos da instituição.
Cecília Anello Balbela (PPGEEI UFRGS)
O caso da expansão da Plataforma Continental Argentina
O presente artigo tem como objetivo demonstrar as ações realizadas do Estado Argentino
para expandir sua soberania rumo ao Atlântico Sul, por meio da sua Plataforma
Continental estendida até 350 milhas marítimas, como estabelecido pela Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Para realizar essa tarefa analítica faremos uma
problematização sobre a expansão territorial dos estados costeiros rumo aos espaços
oceânicos, mais especificamente o caso Plataforma Continental estendida argentina. Para
isso fizemos um apanhado histórico sobre as leis referentes à sua costa adjacente.
Destacando a criação de um suporte jurídico que viabilizasse a formulação da COPLA (La
Comisión Nacional del Límite Exterior de la Plataforma Continental), instituição
responsável pela produção da proposta de expansão da Plataforma Continental argentina
e depositá-lo junto a Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) , órgão
vinculado as Nações Unidas que tem como função delimitar as plataformas continentais
estendidas dos estados costeiros. Além disso, vamos explorar mais minuciosamente o
processo de criação do pleito argentino até sua apresentação da proposta final juntamente
com as decisões da CLPC. Vale ressaltar que a COPLA apresentou sua proposta final em
2009 e, em março de 2017, a CLPC aceitou as recomendações dadas pelos técnicos
argentinos consolidando assim a nova fronteira marítima argentina. Por fim, abordaremos
as controvérsias que envolvem as fronteiras marítimas argentinas mais especificamente a
questão das Ilhas Malvinas/Falklands. Esses territórios insulares têm uma importância
estratégica vital na perspectiva do Atlântico Sul. Um dos pontos é o Estreito de Magalhães
que este localizado no extremo sul do continente americano, que liga os mares do pacifico
com os mares do atlântico. Outro fator é a exploração de hidrocarbonetos no subsolo
marítimo na região das Malvinas. A busca pelo “ouro negro” na plataforma continental no
entrono dessas ilhas propicia uma atividade econômica altamente rentável para empresas
britânicas.
DEBATEDOR: PAULO VELASCO (UERJ)
GT 3.2: ECONOMIA POLÍTICA E INTEGRAÇÃO REGIONAL PARTINDO DE UM
ENQUADRAMENTO EUROPEU
RESUMOS
Gabriele Carlo Giuseppe Ciapparella (UFRJ-IE-PEPI)
Espaços, Civilizações e Territórios: um estudo da dialética das fronteiras na península dos
Bálcãs
Partindo da ideia de que o espaço funciona como elemento mediador entre objetos
históricos, durações e temporalidades diferentes, o presente trabalho procura identificar e
pôr em relação dialética a variabilidade das fronteiras políticas dos estados balcânicos,
observada entre os séculos XIX e XX, com a continuidade das fronteiras culturais, gravadas
no marco imutável da geografia da península. O trabalho desenvolve-se em três etapas. Na
primeira parte, é explorada a morfologia geográfica da península balcânica e sua posição
dentro de dois conjuntos geográficos mais amplos: a Ilha Mundial de Mackinder e o
Mediterrâneo de Braudel. Destaca-se a estrutura montanhosa e a projeção para Oriente da
península, funcionando como conexão entre a Europa e o Oriente Médio. Na segunda
parte, é examinada a geo-história da península, a partir das evoluções das civilizações
mediterrâneas, apresentadas por Braudel. Elas trabalham e disputam o espaço balcânico,
incidindo profundas fronteiras culturais nele e gerando fraturas e pontos de não retorno.
Na terceira parte, é analisado o enquadramento da península balcânica dentro da
geopolítica contemporânea, interpretada a partir de duas tensões, que investem os Bálcãs:
a expansão do Heartland de Mackinder e a articulação do Rimland de Spykman. Ao longo
das fronteiras culturais, esses movimentos produzem cenários opostos, no que diz
respeito à configuração dos territórios balcânicos e à articulação de suas fronteiras
políticas.
Mario Afonso Massiere y Correa de Moraes Lima (UFRJ)
Dos escombros a liderança: A reconstrução alemã no pós-guerra e suas bases econômicas
para as décadas seguintes
A Alemanha é, e tem sido por décadas, um dos principais atores no sistema internacional.
No entanto, ao longo do século XX, a Alemanha foi a grande responsável por duas guerras
que marcaram o continente europeu e o mundo, alterando de forma indiscutível o
equilíbrio de poder global. Após o final da II Guerra Mundial, a Alemanha se encontrava
destruída, ocupada e com pesadas dívidas de reparação de guerra. Suas cidades eram
pouco mais do que escombros e ainda assim, menos de 30 anos depois, esse mesmo país
era uma economia de ponta liderando o continente europeu. A ideia que guia esse artigo é
entender de que forma ocorreu a reconstrução do Estado alemão no imediato pós-guerra e
algumas das consequências do período de ocupação alemão por parte das forças aliadas.
Como é possível entender de que forma a mistura entre a reconstrução de uma Alemanha
marcada por um regime nazista, junto com a vontade de não permitir que se tornasse uma
potência capaz de gerar uma nova guerra mundial e um espírito punitivo por parte dos
aliados, foi capaz de resultar em uma das economias mais avançadas do mundo com
altíssima rentabilidade em poucas décadas. Quais os fatores políticos e econômicos que
permitiram esse grande salto nas décadas de 1940 e 1950? Seria somente por conta da
destruição trazida pela guerra? Se sim, por que isso não ocorreu em 1920, se não, quais
outros motivos estiveram por trás da reconstrução e do desenvolvimento alemão. Para
melhor compreender o que foi a reconstrução alemã, esse artigo busca abordar os
seguintes temas: A Situação Alemã No Imediato Pós-Guerra; Os Legados da República de
Weimar e do Regime Nazista; A Ocupação Aliada; “Melhores Pessoas Através De
Construções Melhores”; e por fim o Modelo Alemão De Desenvolvimento adotado no
período pós guerra. Através desse debate, buscamos entender as bases para o
desenvolvimento alemão e sua subsequente liderança dentro do bloco europeu, se
tornando um dos eixos fundamentais do processo de integração europeu.
DEBATEDORA: CAMILA DE’ CARLI (UERJ)
GT 3.4: ORIENTE MÉDIO EM PAUTA: ANÁLISES NO CONTEXTO DA SEGURANÇA
INTERNACIONAL
RESUMOS
Aline Rangel (IRI-PUC-Rio)
Israel Defense Forces e a formação de uma sociedade de experts em violência: a perpetuação
do conflito dentro da green line
Este trabalho busca pensar, a partir do conceito de “especialistas em violência” de Charles
Tilly (2003), os efeitos do serviço militar obrigatório na sociedade israelense. Dentre as
considerações às quais este trabalho chega, tem-se a formação de uma sociedade de
peritos em violência, o que além de militarizar a esfera social cotidiana, intensifica a
assimetria de forças entre os grupos que reivindicam a autonomia palestina e o Estado de
Israel. Embora as atividades da IDF sejam centrais na ocupação da Cisjordânia e no cerco
militar à Gaza, optou-se por pensar a militarização dentro da green zone, isto é, dentro dos
muros de Israel (com exceção de Jerusalém Ocidental). Tal opção também tem como pré-
texto sugerir a conexão entre os “bolsões de segurança” de Tel Aviv e Haifa e a vida
precarizada nos territórios de Gaza e da Cisjordânia.
Marina D'Lara Siqueira Santos (PUC Minas) e Matheus de Abreu Costa Souza (PUC Minas)
"Reconhecemos o óbvio - Jerusalém é a capital de Israel": Analisando as dinâmicas de
violência no Conflito Israel-Palestina após a declaração de Trump
Comumente referenciado como um conflito intratável, a disputa territorial entre Israel e
Palestina já dura décadas e o seu fim não parece próximo. O presente artigo investiga se há
uma relação de interveniência entre o aumento da violência política no conflito israelo-
palestino o reconhecimento, por parte do presidente dos Estados Unidos da América
(EUA), Donald Trump, de Jerusalém como a capital simbólica de Israel, cidade que é alvo
da reivindicação das partes em conflito. A partir dessa avaliação, busca-se identificar de
que maneira a interferência estadunidense em um recurso central pode intensificar a
natureza intratável da disputa.
André Figueiredo Nunes (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)
Os Estreitos do Oriente Médio e o Subcomplexo dos Chokepoints
O objetivo deste trabalho é analisar a relevância dos Estreitos do Oriente Médio para a
segurança energética internacional. Desse modo, propõe-se uma análise do valor
geográfico e político de três importantes rotas marítimas da região, a saber o Estreito de
Ormuz, o Estreito de Bab el-Mandeb e o Canal de Suez, que apesar de não ser um Estreito é
um canal aquaviário de grande importância para o fluxo comercial marítimo entre o
Oriente e o Ocidente. Nesse sentido, com o intuito de atender a finalidade deste estudo, a
pesquisa aborda a Teoria do Complexo de Segurança Regional elaborada no âmbito da
Escola de Copenhagen e, somado a isto, propõe a análise de um subcomplexo regional de
segurança no Oriente Médio voltado para o estudo dos seus três principais chokepoints
marítimos. Além disso, é discutido o conceito de segurança energética sob o ponto de vista
dos países produtores e consumidores de hidrocarbonetos, bem como a importância dos
Estreitos como rotas de trânsito naval para o atendimento das demandas internacionais
deste setor. Para finalizar, o artigo examina a navegação através dos Estreitos à luz do
Direito Internacional apoiando-se em tratados internacionais como a Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982 e da Convenção de Constantinopla de 1888.
Leandro Loureiro Costa (UERJ)
A Revista Dabiq e a construção do inimigo: um projeto de análise de conteúdo das
classificações utilizadas pelo DAESH para nomear os seus opositores
A organização terrorista Estado Islâmico tem sido obstáculo, tanto pela promoção de
atentados, mas também por ser capaz de recrutar jovens pelo mundo para que lutem de
acordo com os interesses do grupo. Para tal objetivo, desenvolveu-se uma máquina de
propaganda com poder de construir representações demonizadas do inimigo e criar
fortes identificações para os que partilham das ideias da organização. São vídeos,
áudios, músicas, livros e revistas que servem como base para o desenho do modelo de
vida do Estado Islâmico e dos seus militantes. Esta pesquisa se baseou na Revista Dabiq
para analisar como o mundo social do grupo foi construído. A partir dos seus textos e
imagens foi possível compreender quais são os elementos que compõem o mesmo, dando
subsídios para estudos mais específicos sobre a problemática do extremismo islâmico.
Portanto, neste artigo, foi criado um dicionário capaz de auxiliar os pesquisadores da
área de terrorismo em futuras contribuições que tratarão da construção de discursos e a
sua instrumentalização por esses grupos radicais. Estes padrões lexicais caracterizam os
chamados “inimigos” do Estado Islâmico, além da própria identificação do “eu” do
grupo estar diretamente ligada a essa definição do “outro”. Esses são parte de uma
visão de mundo que busca responder às crises da modernidade, propondo uma
alternativa radical baseada na violência.
DEBATEDORA: LAYLA DAWOOD (UERJ)
16:00 ÀS 17H30
GT 3.5: ABORDANDO O NEOLIBERALISMO NA ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL
Bruna Machado Targino (UFRJ) e Eduardo Alberto Crespo (UFRJ)
América Latina y Asia Oriental en Perspectiva Comparada
En este trabajo analizaremos críticamente algunas de las propuestas teóricas que
interpretan el neoliberalismo como una orientación política estatal que busca limitar las
capacidades de intervención de los Estados, en especial las referidas a políticas
redistributivas en términos sociales y territoriales. Como parte de esas políticas la
segunda globalización de finales del siglo XX e inicios del XXI, entendida como apertura
comercial y especialmente financiera, debilita los vínculos entre los procesos de
acumulación de capital regionales o urbanos y los respectivos territorios nacionales
entendidos como totalidad, profundizando asimetrías sociales, regionales y políticas.
Analizaremos este proceso como una limitación para el desarrollo económico y como una
amenaza para la forma democrática de las políticas públicas.
Matheus de Freitas Cecílio (UFRJ)
A armadilha de renda média: uma apreciação crítica
A questão da armadilha de renda média, essencialmente, significa uma reflexão
acerca dos desencontros e obstáculos presentes nos diferentes caminhos e trajetórias de
desenvolvimento dos países. Ela se conecta, neste sentido, umbilicalmente à teoria e à
observação histórica-prática do desenvolvimento. Não há definição universalmente aceita
do termo “armadilha de renda média” na literatura, sendo que o conceito vem sendo
recentemente usado para se referir às economias aparentemente “presas” na condição de
renda média (FELIPE, KUMAR & GALOPE; 2014). Contudo, o termo vem ganhando
especial atenção por parte das instituições financeiras internacionais, como evidenciado
pelo crescente número de estudos (ASIAN DEVELOPMENT BANK; 2014; WORLD
BANK; 2013). Sua primeira menção, pelos economistas do Banco Mundial Indermit Gill
e Homi Kharas, data de 2007, e foi utilizada para categorizar economias do Leste Asiático
que cresceram rapidamente e aparentemente estagnaram (ROBERTSON; YE; 2013). Ou
seja, o termo é bastante novo, contando apenas dez anos de uso, e foi gestado dentro do
quadro das instituições financeiras internacionais. Ao lado de outros estudos recentes, os
criadores do termo levantaram a hipótese de que, para sustentar o crescimento e
ultrapassar a renda média, as economias devem realizar “significativas reformas” nas
instituições de política econômica e nos processos políticos (ROBERTSON; YE; 2013).
Outros autores levantam a hipótese de que não se pode falar em armadilha de renda
média, apenas em “ritmos diferentes de crescimento” dos países (FELIPE, KUMAR &
GALOPE; 2014). Ou seja, de modo geral, nesta perspectiva, pensar a armadilha de renda
média inclui pensar o que os países nela presos estão fazendo de errado, quais reformas
são necessárias, o que deve mudar. Sabendo que a questão da armadilha de renda média
se entrelaça tão profundamente com outros elementos, fazendo parte da mais ampla
categoria da teoria do desenvolvimento, e que o termo é bastante recente; não é de se
estranhar que diferentes autores e escolas tratem do tema sob diferentes ângulos e
teorizações. “Armadilha de renda média”, dependendo da perspectiva, pode significar o
mesmo que “armadilha do subdesenvolvimento”. Para outros referenciais, um país em
condição de renda média nada mais é do que um país “semiperiférico” (ARRIGHI, 1997).
Enfim, não há clareza absoluta para se tratar do conceito de “armadilha de renda média”,
embora seja imprescindível defini-la e identificá-la como um processo histórico e
observável, previsto teoricamente.
Pedro Henrique Mota de Carvalho (PPGRI San Tiago Dantas)
Países em desenvolvimento e difusão de normas no Regime Internacional de Propriedade
Intelectual
Negociações de acordos internacionais em propriedade intelectual se intensificaram no
decorrer da segunda metade do século XX até o presente. Enquanto suas origens
remontam a acordos que datam do fim do século XIX, como os de Paris (1883) e Berna
(1886), seus elementos constitutivos formaram-se depois: no ano de 1967, data da criação
da Organização Mundial de Propriedade Intelectual como agência especializada da ONU, e,
sobretudo, em 1992, com a inclusão do tema no Regime Internacional de Comércio através
do acordo Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights (TRIPS). O acordo TRIPS
estabeleceu padrões mínimos e obrigatórios de proteção para todos os membros da OMC,
implicando em diversas contradições ao utilizar a legislação de países desenvolvidos como
padrão dos textos. Como resultados adversos da proteção do TRIPS sobre patentes e
outras formas de propriedade intelectual, parte da literatura aponta para a limitação da
capacidade em formular políticas públicas em diversas áreas, como inovação econômica,
acesso a medicamentos, educação e segurança alimentar. Na atualidade, diversos acordos
que excedem o padrão colocado pelo TRIPS estão em negociação e diversos foram
implementados por países em desenvolvimento. Almejamos discutir as razões que levam
países em desenvolvimento a aderir a normas com maiores níveis de proteção, excedendo
os padrões multilaterais do TRIPS e ampliando assim os problemas decorrentes da
proteção. A partir de uma revisão sistematizada da literatura que trata a difusão de
normas em propriedade intelectual, este trabalho busca mapear e discutir as principais
razões que levam os países em desenvolvimento a aderir a padrões internacionais de
proteção apontados como prejudiciais. A literatura analisada atribui a difusão de normas a
uma combinação de fatores explicativos, sendo os principais: i) o nível de inovação, de
modo que países em desenvolvimento adotam normas TRIPS-plus para proteger setores
específicos, com perdas difusas para sociedade; ii) através de mecanismos de socialização,
como organizações internacionais e iii) e coerção, especialmente dos EUA, através da
Seção special 301 dos EUA.
DEBATEDORA: PATRÍCIA NASSER (UFMG)
GT 3.6: CHINA, ESTADOS UNIDOS E A DISPUTA PELA HEGEMONIA NO PACÍFICO
RESUMOS
Emerson Maciel Junqueira (PPGRI San Tiago Dantas)
A Política Externa Chinesa de Ascensão Pacífica
O crescimento econômico da China, as ações do governo durante os protestos da Praça de
Tiananmen e os exercícios militares no leste asiático nos anos 90 resultaram no temor de
países vizinhos de uma possível expansão chinesa na região e dentro do governo de
Pequim a possibilidade dos EUA exercer políticas de contenção ao crescimento chinês.
Visando mitigar estas percepções, no final da década de 1990 e início dos anos 2000
Pequim elaborou a diplomacia de “ascensão pacífica” (posteriormente alterado para
“desenvolvimento pacífico”), cujo ponto central era garantir aos demais países que a China
não possuía intenções expansionistas, mantendo a tradição dos princípios da Coexistência
Pacífica em voga desde a década de 1950, na qual a China se compromete respeitar a
soberania nacional e adotar práticas não-intervencionistas. O “desenvolvimento pacífico”
iniciou-se no governo de Hu Jintao (2003-2013), que também lançou a ideia de “mundo
harmonioso”, partindo da premissa que era necessário um sistema internacional estável
para manter o crescimento chinês. O seu governo também foi marcado pelo crescimento
econômico próximo aos dois dígitos e politicamente pela necessidade de formação de
consenso nas principais instâncias de decisão do Partido Comunista. O governo Xi Jinping
(2013- ) apresenta mudanças internas e também na política externa. Internamente o seu
governo é caracterizado pelo crescimento estável da economia chinesa e a meta de
promover o desenvolvimento tecnológico do país, na área política a sua gestão é
considerada mais centralizada comparada ao governo anterior. Ambos atributos afetam a
sua política externa, que pode ser considerada mais ativa e atribui a China o caráter de
potência internacional, modificando a histórica posição chinesa, vigente desde meados dos
anos 80, no qual a China deveria manter um perfil de baixo engajamento, não reivindicar a
posição de liderança e focar no desenvolvimento do país. Assim o artigo objetiva
demonstrar que o governo Xi Jinping modifica e flexibiliza as características da política
externa chinesa para atender o novo status internacional do país, algo que não estava
presente no mandato anterior.
Fernanda Cristina Nanci Izidro Gonçalves (Unilasalle-RJ/IESP-UERJ) e Marcella Germano
(Unilasalle-RJ)
Twiplomacy: a ascensão de Donald Trump em 140 caracteres
A partir do conceito de diplomacia digital, o presente artigo tem como objetivo analisar
como o Twitter, uma rede social, foi utilizado como importante ferramenta nas eleições
estadunidenses de 2016, servindo como plataforma de campanha para o candidato
republicano Donald Trump. Busca-se analisar a campanha do então candidato no Twitter,
com ênfase em três dos mais importantes temas discutidos na disputa eleitoral: imigrantes
e refugiados; terrorismo; relações com a Rússia. Esses temas foram selecionados, por
serem assuntos em que os candidatos americanos mais divergiram, além de terem sido
frequentemente abordados em debates. Considerando o objetivo apresentado, este artigo
busca responder a seguinte questão: como o Twitter foi utilizado por Trump como
instrumento de campanha nas eleições americanas de 2016? Para responder esta questão,
parte-se do pressuposto de que o Twitter, embora não tenha sido o único responsável pelo
resultado das eleições, desempenhou um papel fundamental ao ampliar a visibilidade do
candidato e de sua plataforma de campanha, permitindo a propagação de suas ideias.
Assim, entende-se que Trump utilizou a rede social para descrever sua agenda política,
transmitir suas ideias, cativar apoiadores para sua campanha e contradizer os seus rivais
políticos, realizando uma diplomacia digital. O conceito de diplomacia digital é
fundamental no artigo, assim como a discussão sobre como as mídias sociais podem ser
instrumentos eficazes na promoção de resultados neste tipo de diplomacia. Desta forma,
este artigo investiga como as redes sociais podem ser utilizadas com três funções
específicas: (i) para estabelecer uma “agenda digital”, definindo temas centrais na pauta
política, (ii) para expandir a “presença digital”, potencializando o alcance da mensagem,
(iii) para gerar “conversas digitais”, ampliando a interação com o público. Por meio de um
estudo de caso e da análise dos tweets sobre os temas acima aventados, este artigo conclui
que o Twitter foi de máxima importância para a campanha de Trump, que ao adotar a
diplomacia digital, usou o Twitter e os posts de até 140 caracteres como meio de
comunicação para fortalecer sua proposta de campanha. Ao engajar seus eleitores através
de tweets, replies, retweets e likes, Trump transmitiu sua agenda política, aumentou o
alcance das suas mensagens e ampliou a interação com o público, causando um
envolvimento na sociedade em rede que culminou na expansão da sua presença tanto no
ambiente digital quanto no ambiente “real”, o qual junto ao sistema democrático
americano, o levaram a vitória.
Ben Lian Deng (UFRJ). Caroline Rocha Travassos Colbert (UFRJ)
An International Relations Crisis: US Taiwan Policy during the George W. Bush
Administration (2001-2009)
The purpose of this article is to analyze the United States’ (US) Taiwan policy during
the George W. Bush administration (2001-2009)—specifically, how Washington actively
opposed Taiwanese independence during this period. After the Korean War (1950), the
US’s official policy on Taiwan was to “neutralize” and prevent war across the Taiwan
Strait, thereby maintaining the status quo in the region. During the 1950´s and 1960´s, the
US successfully prevented Chinese attempts to invade Taiwan. However, the dynamic of
the cross-strait relations changed drastically in the 1990´s, following Taiwan’s political
liberalization and the emergence of the Taiwanese independence movement. During the
George W. Bush administration (2001-2009), Taiwan was ruled by the pro-independence
Chen Shui-bian (2000-2008), which increased cross-strait tensions. In order to satisfy its
own geopolitical interests, the US actively denied support to this movement, boycotting
Chen´s attempts to declare Taiwan´s independence. This paper concludes that the core of
the US’s Taiwan policy is to prevent alteration of the status quo or threat of war in the
region, while using the “Taiwan Card” as a bargaining chip in bilateral negotiations with
China.
DEBATEDORA: LETICIA SIMÕES (UERJ-UNILASALLE/RJ)
GT 3.7: INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS E AS DIVERSAS FACES DO DESENVOLVIMENTO
RESUMOS
Cecilia Madeira de Menezes (Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares)
Análise da fragilidade institucional quanto à segurança do armazenamento e deposição dos
rejeitos radioativos
Toda atividade humana gera rejeitos e a maioria deles tem associado um risco à saúde
humana e ao meio-ambiente que não pode ser negligenciado. Ao se falar sobre o risco de
uma atividade industrial, percebe-se a multiplicidade de áreas de atividade relacionadas
ao risco que ali está evidenciado. Uma sociedade industrial pode trazer riscos elevados
para o meio-ambiente e para a saúde humana e essa preocupação atinge esferas do poder
público. A probabilidade de acidentes ambientais decorrentes de atividades industriais
consideradas potencialmente impactantes cresce na mesma proporção da demanda por
bens e serviços e, na proporção inversa, da preocupação do poder público com aqueles
riscos. Pode-se observar que o controle institucional para licenciamento e fiscalização
dessas atividades faz-se imprescindível, segundo o INEA-RJ, com uma intensidade ainda
maior sobre indústrias que manipulam substâncias químicas consideradas perigosas. A
gestão insatisfatória dos rejeitos gerados por uma indústria química traz um risco
eminente de contaminação do meio hídrico, solo, ar e, consequentemente, da população. O
papel das instituições governamentais para o gerenciamento de risco é analisar as
situações ou eventos potenciais e orientar a tomada de decisão, de modo que o
estabelecimento de ações evite ou pelo menos minimize a manifestação de danos para a
saúde humana e o meio-ambiente. A prevenção de um risco de contaminação de solo, por
exemplo, devido a uma mineradora, deverá ser minuciosamente calculada, pois os danos
podem ser intoleráveis e irreversíveis. Tem-se como exemplo o desastre da cidade de
Mariana, MG. A gestão dos rejeitos radioativos é um exemplo de perigo associado às
atividades industriais o qual requer muita atenção e controle regulatório. Além do perigo
presente nos materiais radioativos, deve-se considerar também o tempo de confinamento
necessário para que a radioatividade do rejeito decaia a níveis aceitáveis. Por vezes, esse
tempo pode chegar a milênios até que o rejeito não apresente mais riscos para a saúde
humana. Para que seja efetivo o controle e a segurança sobre esses rejeitos durante todo
esse tempo, a estabilidade da instituição responsável deve ser garantida. Um exemplo
disso é o caso ocorrido posteriormente à dissolução da União Soviética, quando fontes
radioativas órfãs, fontes que saíram do controle institucional, foram localizadas na Estônia
após terem causado um sério acidente radiológico. Durante a transição de regime político,
a Instituição responsável pelo Programa Nuclear Soviético se dividiu nos múltiplos
territórios e o sistema de controle ruiu.
Ivi Vasconcelos Elias (UERJ)
Regime alimentar internacional contemporâneo e a centralidade do papel da mulher na
promoção da soberania alimentar e nutricional (SAN) na governança global
O tema proposto busca investigar o nexo entre desenvolvimento e a promoção da
igualdade de gênero no alcance da soberania alimentar e nutricional (SAN) no âmbito da
governança da ordem internacional contemporânea. A SAN pode ser definida como a
garantia de condições de acesso aos alimentos básicos, seguros e de qualidade, em
quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais. O conceito de regime alimentar internacional abrange as relações
entre estado e mercado associadas a ordens político-econômicas internacionais
institucionalizadas. Sendo assim, as configurações de poder no espaço-tempo constituem
hegemonias que atuam como traço unificador da organização da produção e circulação
mundial de alimentos. Esta, por sua vez, encontra-se arraigada em uma dinâmica de
acumulação específica que condiciona o vínculo do Estado com o mercado em cada ordem
alimentar mundial, incluindo relações financeiras, de trabalho e ecológicas. O capitalismo,
base desse processo, organiza-se em ciclos organizados de acumulação associado a
relações agroalimentares. Em cada ciclo, o regime alimentar é sustentado por formas de
cercamentos, conceito marxiano que aponta mecanismos de apropriação de esferas que
costumavam ser externas ao processo de acumulação de capital e que se prestam à
contínua reprodução do capitalismo. Tal conceito mostra-se importante para entender
formas atípicas e não tradicionais de exploração, especialmente no Sul global. No tocante
ao setor agrícola, a transição agrária, ou seja, a mudança dos trabalhadores da agricultura
para os setores industrial e de serviços impulsionada por processos de desenvolvimento
tem sido notavelmente genderizada, constituindo a chamada feminização da agricultura.
Por esse fenômeno, as mulheres são hoje a principal força de trabalho na produção de
alimentos organizada ainda de forma precarizada e, muitas vezes, pautada por dinâmicas
locais. Sendo assim, o presente trabalho busca investigar de que forma o regime alimentar
corporativo apresenta tensões que apontam para a configuração de uma acumulação
primitiva que possui nas mulheres uma de suas formas de cercamentos principais, o que é
expresso na lógica de promoção do desenvolvimento rural encampada pelas organizações
internacionais.
DEBATEDOR: BRUNO BORGES (UERJ)
GT 3.8: HEGEMONIAS, CRÍTICA E POSSIBILIDADES DE TRANSFORMAÇÃO NO SISTEMA
INTERNACIONAL
RESUMOS
Jean Victor Mercini Fausto (PUC Minas)
A dimensão internacional da construção de um socialismo global: a ideia trotskista da
revolução permanente
Neste trabalho, apresentamos uma discussão a respeito da ideia de fronteiras relacionadas
às teses trotskistas de revolução permanente e sua crítica à doutrina stalinista do
‘Socialismo em um só país’. Analisamos os argumentos trotskistas em relação à dimensão
internacional da construção de um socialismo global, especialmente quanto à sua ideia dos
“Estados Unidos da Europa”, contidos em suas obras a partir de 1905. Em que pese o fato
de que a doutrina stalinista tinha a função mais de subordinar a ideia da revolução
socialista à União Soviética e seus processos do que de operar um isolacionismo ativo, a
discussão de Trotsky é interessante por expor algumas concepções interessantes de
fronteiras. Primeiro sua tese da revolução permanente – necessariamente vinculada à
expansão da revolução a outros estados (especialmente europeus) – e depois essa sua
visão a respeito de como se configurava o sistema capitalista mundial revelam que Trotsky
reconhecia uma natureza necessariamente móvel das forças produtivas e de suas
fronteiras, constituindo territórios de sujeição imperial dependentes do grau dessa
expansão. Ao mesmo tempo, ele enxergava um sistema de estados, em que a União
Soviética estava inserida como uma das unidades políticas determinadas, de território
relativamente fixos, cujas fronteiras permaneciam existentes e politicamente
significativas, mesmo que as forças produtivas capitalistas não restringissem sua atuação
espacial por elas. Portanto, conclui-se que existe uma contradição entre as fronteiras do
sistema econômico global capitalista (e, necessariamente para poder superá-lo, as
fronteiras globais entre burgueses e proletários) e as fronteiras dos estados que formam o
sistema de estados modernos. Assim, é a sobreposição da hierarquia de classes no âmbito
econômico e da anarquia político-militar como ordenadora do sistema político que gera
essa contradição. Obviamente em Trotsky, seu apelo à solidariedade internacional da
classe proletária e seus comprometimentos materialistas históricos parecem indicar que,
na sua contemporaneidade, as principais linhas de demarcação eram entre classes, mais
que entre estados. Por fim, analisamos se a condução do processo de integração regional
na Europa ter se dado em termos mais liberais que socialistas contradiz a ideia trotskista
da impossibilidade do capitalismo gerar esse tipo de processo, chamando atenção para a
dimensão internacional da construção de movimentos socialistas e seu papel nesse
processo.
Fernanda Castro Gastaldi (UFU)
Gramsci e o negacionismo climático estadunidense: a construção do discurso hegemônico no
Antropoceno
Antropoceno é o termo utilizado por alguns cientistas para denominar o período
geológico mais recente do planeta Terra - período este marcado pela ação humana
prejudicial ao meio ambiente. Diante desse contexto, o aquecimento global emerge como
um tema relevante nos debates científicos e políticos. O consenso científico reconhece a
existência de um processo de aquecimento global antropogênico atualmente em curso,
enquanto as vertentes negacionistas o questionam. Nos Estados Unidos, o negacionismo
climático tem obtido êxito em influenciar processos políticos, enquanto por eles é
influenciado. O país é centro preponderante de formulação e difusão internacional das
vertentes negacionistas e, como superpotência, possui capacidade de estabelecer termos
do discurso hegemônico global. Este trabalho objetiva apresentar uma análise
essencialmente gramsciana a respeito do negacionismo, abordando-o enquanto discurso
que visa colocar-se e preservar-se como hegemônico ou dominante em benefício do
sistema capitalista neoliberal vigente. O estudo concretiza-se por meio de pesquisa
bibliográfica, avaliações qualitativas, análise teórica e método de abordagem hipotético-
dedutivo. A partir disso, verifica-se que o bloco histórico hoje vigente é o do sistema
capitalista. Particularmente nos Estados Unidos, esse sistema é orientado pelo liberalismo
econômico, o que favorece a hegemonia de uma classe fundamental formada pelas grandes
corporações do setor privado. O negacionismo adquire importância ao se configurar como
uma ideologia orgânica do sistema corrente. Em âmbito estrutural, o negacionismo
sanciona um sistema produtivo coerente à valorização do capital. Na esfera da sociedade
civil, propicia o consumismo. O discurso negacionista é, portanto base relevante do
consenso e da manutenção do sistema capitalista como hoje se apresenta. Trata-se de um
recurso ideológico que permite a preservação das relações sociais no âmbito do processo
produtivo, de forma a beneficiar a classe dirigente e dar continuidade à sua hegemonia.
Conclui-se que a construção e o colapso de qualquer bloco histórico constituem processo
diretamente atrelado à questão da hegemonia. O discurso negacionista certamente
acompanhará esse processo.
DEBATEDOR: LAYLA DAWOOD (UERJ)
GT 3.9: TERRORISMO E GUERRA ÀS DROGAS NA CONJUNTURA DE SEGURANÇA
INTERNACIONAL
RESUMOS
Renée Couto Lara Ferreira (UERJ)
O Hezbollah e o processo de construção de segurança no Líbano
A abordagem teórica dos Estudos Críticos de Segurança feita por Matt McDonald é
utilizada para pensarmos o espaço que o Hezbollah ocupa no processo de construção de
segurança do Líbano. Através da metodologia da Reconstrução Crítica Explicativa de Axel
Honneth e da análise do histórico de criação do grupo enquanto terrorista e enquanto
partido político podemos perceber que o mesmo ocupa um espaço intermediário no
processo. Nosso objetivo é propor uma reflexão sobre a forma como lemos o grupo no
construção de segurança libanesa, saindo da visão tradicional de “ameaça terrorista” e
indo em direção à compreensão mais contextualizada e política que consideramos mais
apropriada para lidar com as transformações na ação do mesmo.O grupo passou a exercer
papel político de destaque no período posterior ao Acordo de Taif como representante dos
Xiitas por seu declarado comprometimento com a mudança nas estruturas de poder, logo
ocupando um lugar de provedor de segurança para a comunidade, principalmente os
Xiitas do Sul do país, antes deixada desprestigiada e pouco representada pela sua elite
política tradicional estagnada e incapaz de compreender as transições demográficas pelas
quais a comunidade passava. Sem perder o status de organização armada e, ainda assim,
comprometida com a negociação e a igualdade política entre as comunidades sectárias,
hoje o Hezbollah ocupa um espaço ambíguo no processo de construção de segurança, pois
possibilitou voz ativa aos seus representados e atua dentro das regras do jogo
institucional democrático a maior arte do tempo. E ao mesmo tempo mantém da
desconfiança internacional e libanesa quanto ao emprego de táticas terroristas e ao seu
envolvimento em conflitos fora das fronteiras libanesas.
Gabriel Gama de Oliveira Brasilino (PUC-Rio)
The Metaphor of "War on Drugs" and "Mass Murder" in the Philippines: discourse analysis,
power relations, and an interview with President Rodrigo Duterte
In this article I offer an analysis of statements pronounced by Rodrigo Duterte in a
interview conducted by two journalists from the Al Jazeera Global Media Network. I show
how through these statements and rhetoric - a political discourse dependent on and
effective through the metaphor of "war on drugs" - Duterte attempted to legitimize the
extrajudicial killing of more than 3.500 citizens constructed as threats to public security,
and enemies to be (“legitimately”) killed. I draw on Foucault's Critical and Genealogical
Discourse Analysis (1971; 2003; 2007), to argue that, although the "war on drugs" is a
metaphor (MIDDLEMASS, 2014) mobilized within a discursive strategy previous to, during
and after presidential elections, it [“war on drugs”] is also a (bio)politics of drugs and
security that results in confrontations, hunting, punishment, and, in the limit,
extermination of declared enemies (FOUCAULT, 2003; 2007; ZACCONE, 2015). Critical
discourse analysis (CDA), as other methods of discourse analysis, involves a theory of
language, its nature (what it is), its effects (what it does) and how it (re)produces specific
effects (i.e. identification; differentiation; subjectivation; persuasion; legitimization;
normalization). CDA, however, is the most interdisciplinary, encompassing different
methods and analytical categories – linguistic and multimodal – among different
epistemological principles, especially Foucault’s. It also involves an engagement with
social movements that are critical to the uneven distribution of material and symbolic
resources; to the naturalization of discourses – drug prohibition and “war on drugs” for
instance – that serves dominant interests and tries to legitimize, normalize militarized
security policies. The main goal of CDA, thus, is to unveil power struggles, to show how
those interests represent particular groups, despite of being presented as ‘national(ist)’,
‘universal’, ‘morally correct’ and ‘legitimate’. This article shows how through the
metaphorical language of ‘war’, Duterte admits, and normalize exceptional (political)
violence(s) to deal with the “the problem of drugs,” that is, his statements produce specific
power- and knowledge-effects. I also delineate the historical level of analysis, and consider
the role of discourse analysis for critical security studies, being reflexive to the previous
arguments, and offering paths for future research on the debate on drugs
(de)criminalization, (racist) criminal justice systems, and political violence(s) more
generally.
Maria Aparecida Felix Mercadante (Universidade Federal da Integração Latino-
Americana)
Da Guerra às Drogas ao Plano Colômbia: uma agenda securitária dos Estados Unidos para a
América do Sul
Em 1971, o presidente norte-americano Richard Nixon declarou o abuso de drogas como
sendo o inimigo público número um dos Estados Unidos. A partir disso, o discurso e a
articulação das políticas norte-americanas contra as drogas basearam-se na divisão do
mundo entre dois grupos: os países produtores de ilícitos e os países consumidores. Os
Estados Unidos, como pertencentes do grupo de países consumidores, se posicionam como
“vítimas” gerando uma retórica de segurança nacional que mais tarde seria estendida para
o continente e militarizada nos governos de Ronald Reagan (1981-1989) e George Bush
(1989-1993). A utilização de conceitos como narcodemocracia e narcoguerrilha, este que
inclusive deslegitimava o caráter político dos movimentos insurgentes latino-americanos,
por parte dos agentes do governo norte-americano com relação à Colômbia reforçam o
narcotráfico e o conflito interno colombiano como ameaças à segurança nacional, regional
e continental e impulsionam a um dever “moral” de ação por parte dos Estados Unidos. O
objetivo do presente trabalho, portanto, é analisar a securitização do narcotráfico pelos
Estados Unidos e o desenvolvimento do Plano Colômbia, em 2000, como um caso de
overlay dos interesses norte-americanos. À luz do conceito de securitização, recorre-se a
documentos e discursos oficiais para identificar o alinhamento, por meio do aparato
discursivo, das políticas de segurança realizadas entre os países. A combinação entre
interdição, erradicação e combate às organizações narcotraficantes, subordinados às
diretrizes de política de segurança norte-americana, resultou na criação do Plan Colombia:
Plan para la paz, la prosperidad y el fortalecimiento del Estado e na internacionalização do
conflito interno colombiano. O Plano securitizou a relação bilateral entre Estados Unidos e
Colômbia. O aparato discursivo norte-americano moldou uma estratégia repressiva, o
overlay dos interesses norte-americanos garantiu uma política cujo eixo central era o
caráter bélico, principalmente, após o 11/9 com a campanha militar conhecida como Plano
Patriota e a incorporação da guerra às drogas pela guerra ao terror.
DEBATEDOR: HUGO SUPPO (UERJ)