universidade do estado do amazonas fundaÇÃo de … · 1.1.7 etiopatogênia e manifestações...

75
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS INQUÉRITO SOROEPIDEMIOLÓGICO DA INFECCÃO PELO Trypanosoma cruzi NA ÁREA URBANA DO MUNICIPIO DE BARCELOS, AMAZONAS, BRASIL. MAURICIO HUMBERTO PEÑA MARQUEZ MANAUS 2012

Upload: vukien

Post on 08-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR HEITOR VIEIRA DOURADO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS

INQUÉRITO SOROEPIDEMIOLÓGICO DA INFECCÃO PELO Trypanosoma cruzi NA ÁREA URBANA DO MUNICIPIO DE BARCELOS, AMAZONAS,

BRASIL.

MAURICIO HUMBERTO PEÑA MARQUEZ

MANAUS

2012

Page 2: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

i

MAURICIO HUMBERTO PEÑA MARQUEZ

INQUÉRITO SOROEPIDEMIOLÓGICO DA INFECCÃO PELO Trypanosoma cruzi NA ÁREA URBANA DO MUNICIPIO DE BARCELOS, AMAZONAS, BRASIL.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, para obtenção do título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas.

Orientador (a): Prof. Dr. Jorge Augusto de Oliveira Guerra

Co-orientador (a): Prof. Dr. José Rodrigues Coura

MANAUS

2012

Page 3: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

ii

FICHA CATALOGRÁFICA

}

Peña, Mauricio Humberto

Inquérito Soroepidemiológico da infecção pelo Trypanosoma cruzi na área urbana do município de Barcelos, Amazonas, Brasil/

Mauricio Humberto Peña Marquez-Manaus-Am,2012. 87 p.il.

Dissertação de Mestrado – Universidade do Estado do Amazonas.

Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical. Curso de Mestrado em Doenças Tropicais e infecciosas. 2012

Orientador: Guerra, Jorge Augusto de Oliveira

1. Doença de Chagas 2. Amazonas 3. Rio Negro

Page 4: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

iii

AGRADECIMENTOS

Às pessoas que fizeram possível este trabalho, sem distinção de gênero, raça,

religião ou ideologia política.

Ao meu orientado o Dr, Jorge Augusto de Oliveira Guerra pela oportunidade,

pela disposição, por sua capacidade como professor e qualidade humana de entender

que a vida além da academia tem outros significados; a família, a vida e o eterno

devenir no qual estamos imersos.

Ao co-orientador Dr. José Rodrigues Coura, exemplo de pesquisador, de

acadêmico, pela paciência, pelos conselhos, minhas sinceras desculpas pelos

inconvenientes e atrasos na realização deste trabalho.

A todos os membros do Laboratório de Doenças Parasitárias, Instituto Oswaldo

Cruz-Fiocruz, Rio de Janeiro, Dr. José Borges Pereira, Angela Veríssimo Junqueira,

Julio Cesar Miguel.

Ao Dr. Pedro Albajar pela assessoria metodológica, a Dra. Maria das Graças

Vale Barbosa por sua experiência na Doença de Chagas no Estado do Amazonas.

Aos agentes comunitários de saúde e enfermeiros da SEMSA Barcelos que

apoiaram a coleta de material deste estudo.

Aos membros há FMT/HVD-AM e do Programa de Pós-Graduação em Medicina

Tropical/UEA.

Aos meus pais, a minha família colombo-venezuelano-brasileira, que, com

trabalho e esforço, pela dedicação, retidão de caráter e solidariedade humana, me dão

exemplo de vida até hoje.

Page 5: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

iv

À minha esposa Sofia Caroline de Castro Souza Peña, e meus filhos Jose

Alejandro e Agnes Valentina, alavancas e fontes de energia e criatividade da minha

vida.

A todos que padecem da Doença de chagas em nossa Latino América, por eles

e para eles este trabalho.

Page 6: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

v

LISTA DE ABREVIATURAS

AGC´S: Agentes comunitários de saúde

DC: Doença de Chagas

DCC: Doença de Chagas Crônica

DTUs: Discrete typing units

ELISA: Enzyme-linked immunosorbent assay

FE: Ficha epidemiológica

FVS: Fundação de Vigilância em saúde de Barcelos

IFI: Imunofluorescência indireta em papel de filtro

IFIPF: Imunofluorescência indireta

LAFEPE: Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco

PCR: Polimerase Chain Reaction

RA: Região Amazônica

SEMSA: Secretaria Municipal de Saúde de Barcelos

SINAN: Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SUS: Sistema único de saúde

TCLE: Termo de Consentimento Livre Esclarecido

TESA blot: Trypamastigote Excreted-Secreted Antigen Blot

WB: Western Blot

Page 7: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

vi

RESUMO

A Doença de Chagas é considerada uma doença endêmica, negligenciada, acometendo grupos populacionais de baixa renda e condições socioeconômicas desfavoráveis na América Latina. Em inquérito realizado pelo Ministério de Saúde do Brasil nos anos 70´s evidenciou-se uma média nacional na prevalência da infecção chagásica de 4.2%, destacando-se municípios no estado de Amazonas como: Japurá (6,9%), Novo Airão (6,8%), Barcelos (6,3). No Médio e Alto Rio Negro estudos realizados descrevem prevalências entre 2,8 % e 5 % na população local associada às atividades extrativistas locais (Piaçaba), sendo descritos casos crônicos autóctones urbanos; pelo qual foi realizado um inquérito soro epidemiológico da infecção pelo Trypanosoma cruzi na área urbana do município de Barcelos, em papel de filtro numa amostra de 4540 indivíduos: foram achados 4,364 (96.12%) indivíduos oriundos do estado do Amazonas; 2,534 (55,8 %) eram homens e 2011 (20,4%) menores de 18 anos. As amostras foram achadas reagentes, indeterminadas ou inconclusivas e não reagentes por imunofluorescência indireta. Foram achadas reagentes 201 (4,5%) amostras, 281 (6,18%) indeterminadas e 4050 (89,4%) casos negativos. Se evidenciaram 48/347 (13,83%) casos positivos na sorologia confirmatória para uma ocorrência de infecção pelo Trypanosoma cruzi no município de Barcelos de 1,05 %. Observou-se predomínio do gênero masculino com 27 (0,594%) indivíduos. A ocupação que predominou foi o extrativismo de piaçaba com 22 (45,83%), se considerarmos o odds ratio ou razão de chances para ocorrer a infecção pelo Trypanosoma cruzi, poderíamos supor o fato de exercer a atividade extrativista aumenta em 2,3 vezes a possibilidade de adquirir o parasita; esta aumentaria em 6,7 vezes se o local onde se observou o triatomíneo foi o piaçabal. Os resultados deste estudo apresentam informação sobre a magnitude da infeção chagásica no Rio Negro, onde existe a possibilidade de endemicidade e transmissão congênita da Doença de Chagas. Palavras chaves: Doença de Chagas, Amazônia, Rio Negro, sorologia, ELISA,IFI.

Page 8: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

vii

RESUMO

Chagas disease is considered an endemic disease, neglected, affecting populations of low income and unfavorable socioeconomic conditions in Latin America. In the survey conducted by the Ministry of Health of Brazil in the 70's-showed a national average prevalence of T. cruzi infection of 4.2%, highlighting municipalities in the state of Amazonas as Japurá (6.9%), New Airão (6.8%), Barcelos (6.3). Middle and Upper Rio Negro studies describing prevalence between 2.8% and 5% in the local population associated with local extractive activities (Piaçaba), being described urban indigenous chronic cases; by which a serum epidemiological survey of Trypanosoma cruzi infection in the urban area of the municipality of Barcelos, on filter paper in a sample of 4540 individuals was conducted: findings were 4,364 (96.12%) individuals from the state of Amazonas; 2,534 (55.8%) men and 2011 (20.4%) under 18 years. Samples reagents, inconclusive or uncertain and no chemicals were found by indirect immunofluorescence. Reagents 201 (4.5%) samples were found, 281 (6,18%) indeterminate and 4050 (89.4%) negative cases. It showed 48/347 (13.83%) positive cases in the confirmatory serology for an occurrence of Trypanosoma cruzi infection in the municipality of Barcelos 1.05%. There was a predominance of males with 27 (0.594%) individuals. The occupation pattern was that extraction of piaçaba with 22 (45.83%), considering the odds ratio or odds ratio for infection with Trypanosoma cruzi occur, we would expect the fact to exercise the mining activity increases by 2.3 times the possibility of acquiring the parasite; this increase by 6.7 times the location where we observed the triatomine was piaçabal. The results of this study provide information on the magnitude of Chagas infection in Rio Negro, where there is the possibility of endemicity and congenital transmission of Chagas disease. Palavras chaves: Chagas disease, Amazon, Rio Negro, serology, ELISA, IFA.

Page 9: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Distribuição Doença de Chagas na América Latina.....................................8 Figura 2 Estimativas de indivíduos infectados em países não endêmicos................9 Figura 3 Local de estudo Barcelos Amazonas Brasil...............................................23 Figura 4 Áreas de extensão territorial da palmeira Leopoldinia Piassaba no Rio Negro ..............................................................................................................................24 Figura 5 Descrição da área de estudo e sua divisão por bairros.............................25 Figura 6 Distribuição dos resultados sorológicos em inquérito Epidemiológico Filtro Barcelos Amazonas........................................................................................................34 Figura 7 Fluxograma de resultados dos testes sorológicos inquérito soroepidemiológico Barcelos Amazonas........................................................................35 Figura 8 Distribuição dos pacientes com sorologia positiva por faixa etária e sexo, Barcelos, Amazonas.......................................................................................................39

Page 10: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuição geográfica do T. cruzi...............................................................3 Tabela 2 Casos Doença de Chagas aguda, Estado do Amazonas SINAN..............26 Tabela 3 Distribuição da população área urbana, IFIPF...........................................30 Tabela 4 Características demográficas e perguntas sobre o triatomíneo da população estudada IFIPF, Barcelos, Amazonas...........................................................31 Tabela 5 Reconhecimento e contato com triatomíneo.............................................33 Tabela 6 Resultados testes sorológicos por paciente inquérito soroepidemiológico, Barcelos, Amazonas......................................................................................................36 Tabela 7 Resultados testes sorológicos por paciente Inquérito soroepidemiológico, Barcelos, Amazonas.......................................................................................................37 Tabela 8 Características sociodemográficas e perguntas sobre o triatomíneo dos casos confirmados, Barcelos, Amazonas......................................................................38

Page 11: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

x

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 1.1 A Doença de Chagas 1 1.1.1 Parasito e diversidade genética do T.cruzi 2 1.1.2 Vetor 3 1.1.3 Reservatórios 4 1.1.4. Ciclo de vida do parasito 4 1.1.5 Ciclo de transmissão 5 1.1.6 Distribuição geográfica 6 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 1.2 Região Amazônica 12 1.2.1 Doença de Chagas na Amazônia 14 1.2.2 Infecção chagásica no Rio Negro, Estado do Amazonas Brasil 17 2. OBJETIVOS 2.1 Geral 20 2.2 Específicos 20 3. MATERIAL E METODOS 3.1 Modelo de estudo 21 3.2 Universo do estudo 21 3.2.1 População de referência 21 3.2.2 População de estudo 23 3.2.3 Desenvolvimento do estudo 24 3.3 Procedimentos 24 3.3.1 Entrevista e aplicação do questionário epidemiológico 24 3.3.2 Coleta de material 25 3.3.3 Sorologia de screening 25 3.4 Analise de dados 26 4. RESULTADOS 4.1. Descrições da casuística 28 4.1.1 Distribuição por gênero e idade 30 4.1.2 Reconhecimento e contato com triatomíneos 30 4.2 Resultados da sorologia em papel de filtro (IFIPF) 30 4.3 Resultados da sorologia confirmatória 30 4.3.1 Descrição das variáveis epidemiológicas nos casos reagentes positivos 30 4.3.2 Distribuição por gênero e idade 31 4.3.3 Reconhecimento e contato com triatomíneos 31 4.3.4 Relação dos pacientes positivos com a atividade laboral 31 5 Discussão 32

5. DISCUSSÃO 33

Page 12: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

xi

6. CONCLUSÕES 41

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42 8. ANEXOS A Ficha epidemiológica 70 B Termo de consentimento livre esclarecido 71 C Trabalhos com a população humana 72

Page 13: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

1

1 INTRODUÇÃO

1.1 A Doença de Chagas

A Doença de Chagas (DC), descoberta por Carlos Chagas em 1909, é

causada pela infecção com o hemoflagelado protozoário Trypanosoma cruzi o qual é

transmitido naturalmente ao ser humano por insetos hematófagos da família

Reduviidae, subfamília Triatominae, principalmente dos gêneros Triatoma,

Panstrongylus e Rhodnius, porém outros doze gêneros tem transmitido a doença

entre animais por quase dez milhões de anos na natureza. A distribuição de vetores

e mamíferos se estende desde os Estados Unidos até Argentina e Chile, em total 22

países são endêmicos para a doença enzoótica nas Américas (Moncayo et al., 2009;

Albajar e Coura, 2010)1,2.

Considerada uma doença endêmica, negligenciada, pertencente a grupos

populacionais de baixa renda e condições socioeconômicas desfavoráveis na

América Latina; hoje em dia se considera um problema de saúde pública

internacional e uma doença emergente, inclusive naqueles sem evidencias de

transmissão vetorial (Loup et al., 2009; Albajar e Coura, 2010)3,2.

A DC apresenta duas fases clínicas: uma aguda e outra crônica. A fase aguda

dura em média oito semanas, após esta fase 20-35 % dos indivíduos infectados pelo

T. cruzi, dependendo da área geográfica, desenvolvem a fase crônica vários anos

depois, desenvolvendo lesões irreversíveis no sistema nervoso periférico (SNP) e no

sistema nervoso autônomo (SNA), em particular do coração, esôfago e cólon, por

esse motivo a DC representa uma das principais causas de lesões cardíacas na

população jovem e economicamente produtiva nos países endêmicos da América

Latina (Moncayo et al., 2009)1.

Page 14: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

2

O diagnóstico se faz través de dados clinico - epidemiológicos associados ao

diagnóstico laboratorial. Na fase aguda com observação direta do parasita no

esfregaço de sangue periférico ou mediante hemoconcentração (técnica de Strout),

e na fase indeterminada e crônica da doença por técnicas sorológicas- IFI, ELISA,

HAI- ou parasitológicas – WB, PCR – (Rassi e Marin-Neto, 2010)4.

O tratamento específico disponível na atualidade para a infecção por

Trypanosoma cruzi, consiste em dois compostos químicos sintéticos; O Nifurtimox

(Lampit ®) desenvolvido por Bayer em 1967 e o Benznidazol (Rochagan ® ou

Radanil ® pelo LAFEPE) por Roche em 1972 (Abad-Franch et al., 2010)5.

1.1.1 Parasito e diversidade genética do T. cruzi O T. cruzi é um protozoário flagelado da classe Zoomastigophora, ordem

Kinetoplastida, família Trypanosomatidae (um só flagelo), gênero Trypanosoma, se

desenvolvendo nos vertebrados na forma tripomastigota. A forma tripomastigota do

mesmo se desenvolve no sangue circulante dos vertebrados, é móvel, de grande

tamanho (15-25 μm). A forma amastigota, imóvel, de menor tamanho (2-4 μm)

dentro de células cardíacas ou gastrintestinais. E a forma epimastigota, forma

intermédia em invertebrados (Develoux et al., 2009; Loup et al., 2009; Coura e

Borges-Pereira, 2010)6,3,7.

A diversidade genética ou polimorfismo genético do T. cruzi é considerada

como possível fator determinante da variação geográfica, patogênese,

manifestações clínicas e morbidade da DC e a classificação dessas populações tem

sido analisada por diversos pesquisadores e sofrido modificações ao longo dos

anos, no qual vem sendo utilizados marcadores enzimáticos, cariótipos moleculares

e estudos de DNA (Brisse et al., 2000. Lewis et al., 2009; Devera et al., 2003; Del

Puerto al., 2010)8,9,10,11. Para o atual consenso foi feito um esforço para padronizar e

unificar a nomenclatura do T. cruzi, denominando, dessa forma, as diferentes cepas

em TcI, TcII, TcIII,TcIV,TcV e TcVI de acordo com os estudos anteriores (Brisse et

al., 2000)8; distribuídas geograficamente com seus vetores e hospedeiros desde o

Norte a Sul da América (Zingales et al., 2009)12, ver Tabela 1.

Page 15: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

3

1.1.2 Vetor

Mais de 130 espécies de triatomíneos têm sido descritas como potenciais

vetores de T. cruzi no mundo (Coura e Dias, 2009)13, contudo, entre os

transmissores naturais da doença na América Latina (Silveira, 2000)14, se

destacavam:

1) Cone Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai, e sul do

Peru): Triatoma infestans.

2) Brasil central: Triatoma sórdida.

3) Brasil nordeste: Triatoma brasiliensis e Triatoma pseudomaculata.

4) Brasil Litoral: Panstrongylus megystus.

Page 16: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

4

5) Pacto andino (Colômbia, Equador, Venezuela e norte no Peru): Rhodnius

prolixus, Triatoma maculata e Triatoma dimidiata.

6) Guianas e Suriname: Rhodnius prolixus e Triatoma maculata.

7) América central: Rhodnius prolixus, Triatoma dimidiata e Rhodnius

pallescens.

8) México: Triatoma barberi, Triatoma dimidiata e Triatoma phyllosoma.

Essa distribuição vem apresentando mudanças, nas áreas clássicas de

transmissão, devido ao controle e certificação no ano de 2006 por parte da OMS da

eliminação do T. infestans como principal vetor da DC no Brasil e em outros países

da América do Sul; outros vetores secundários também têm sido mais recentemente

estudados por sua relação com casos humanos de DC, tais como: Panstrongylus

geniculatus na Ilha do Marajó no Estado do Pará (Rebelo et al., 1998)15, Rhodnius

brethesi em Barcelos, Rhodnius robustus e Rhodnius pictipes em Manaus, Coari e

Tefé no Estado do Amazonas (Coura et al., 2002a; 2002b)16,17, Triatoma brasiliensis,

Triatoma pseudomaculata eTriatoma sórdida no nordeste e estado de Minas Gerais

(Araujo et al., 2009)18, Rhodnius robustus em Rondônia (Carvalho et al., 2011)19 e

Triatoma maculata em Bonfim e Normandia no Estado do Roraima (Luitgards-Moura

et al., 2005)20.

1.1.3 Reservatórios

Mais de 100 reservatórios animais diferentes para o T. cruzi tem sido

descritos; entre os principais podemos destacar marsupiais (Caluromys, Cavia,

Didelphis, Gracilianus, Marmosa, Metachirus, Monodelphis, Oxymycterus,

Philander), preguiça (Bradypus), morcegos (Carollia, Molossus, Thyroptera),

carnívoros (Canis, Conepatus, Felis, Nasua, Mephitis, Potos, Procyon), tatus

(Dasypus) roedores (Akodon, Cavia, Clyomys, Coendou, Dasyprocta, Echimys,

Holochilus, Nectomys, Octodon, Octodontomys, Oecomys, Oligoryzomys,

Oxymycterus, Oryzomys, Phyllotis, Proechimys, Rattus, Sciurus, Thrichomys,

Tylomys) e primatas não humanos (Aotus, Callicebus, Callithrix, Cebuella, Cebus,

Chiropotes, Saguinus, Saimiri) (Coura e Dias, 2009; Abad-Franch et al., 2010)13,5.

Page 17: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

5

Dentre dos reservatórios domésticos, possuem importância os cachorros, gatos e

ratos domésticos. Outros animais como suínos domésticos e cabras também têm

sido achados infectados. Aves, répteis e peixes não são infectados porque geram

“lisinas” que destroem o T. cruzi (Coura e Dias, 2009)13.

Em estudos recentes realizados na área rural de Manaus e nos municípios de

Coari e Tefé no estado de Amazonas, Brasil, 70 % dos residentes reportaram a

presença nas proximidades da sua moradia, do Didelphis marsupialis (gambá), dai a

possibilidade de exposição ao parasita, pela contaminação por urina (carregando

formas metacíclicas do T. cruzi) reafirmando o risco de endemicidade na Amazônia

(Magalhães et al., 2011)21.

1.1.4 Ciclo de vida do parasito

A história natural da DC começa milhões de anos antes como uma doença

enzoótica entre animais silvestres e ainda persiste em áreas enzoóticas, tais como a

Região Amazônica (RA). No decurso de 200 a 300 anos, com o progressivo

desflorestamento para aumentar a fronteira agrícola-pecuária e abertura de vias de

transporte; os triatomíneos perderam sua fonte primária de alimento (animais

silvestres) correndo atrás de novas fontes de alimento, adaptando-se então ás

moradias humanas, alimentando-se de animais domésticos e do homem. Dessa

maneira estabeleceu-se um novo ciclo da infecção chagásica, passando ser uma

zoonose endêmica (Albajar e Coura, 2010)2 com três ciclos biológicos relacionados

entre si: O ciclo silvestre (animais silvestres) o ciclo peridoméstico (animais

domésticos) e o doméstico (seres humanos). Entretanto, os mecanismos de

adaptação dos triatomíneos silvestres ao ciclo doméstico e peridoméstico ainda não

estão completamente esclarecidos (Coura e Borges–Pereira, 2010; Coura e Dias,

2009)7,13.

1.1.5 Ciclo de transmissão

Segundo Coura, 200722 os principais mecanismos de transmissão da infecção

chagásica seriam resumidos assim:

Mecanismos primários

Page 18: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

6

1) Por vetores (triatomíneos)

2) Por transfusão sanguínea

3) Via oral (alimentos contaminados)

4) Congênita (Placentária ou canal vaginal)

Mecanismos secundários

1) Acidentes de laboratório

2) Manipulação de animais infectados

3) Transplante de órgãos

4) Via sexual (Feridas, esperma ou sangramento menstrual)

5) Inoculação sanguínea ou oral criminosa.

A ocorrência da infecção chagásica humana por transmissão vetorial depende

do contato entre os triatomíneos infectados com o ser humano, a taxa de infecção

pelo T. cruzi, tempo entre a picada e dejeção, o número e intervalo de dejeções, a

quantidade de parasitas eliminadas, a percentagem de formas parasitárias

infectantes, sua capacidade de penetração e a intensidade de prurido durante a

picada (Coura e Borges–Pereira, 2010)7.

O risco de adquirir a DC por transfusão sanguínea a partir de uma única bolsa

de um doador infectado é menor de 10-20 %, dependendo da concentração de

parasitas do doador, do componente sanguíneo transfundido (o risco é maior com

transfusão de plaquetas) e da cepa do T. cruzi em questão (Rassi e Marin-Neto,

2010)4.

A ingestão de alimentos contaminados com T. cruzi está relacionada a surtos

agudos regionais da DC incluindo áreas sem presença de vetores domiciliados

(Água, sucosde açaí, goiaba ou cana de açúcar , leite materno e carne de animais);

resultando muitas vezes em formas clínicas graves e com elevada mortalidade

(Bastos et al., 2010; Noya et al., 2010; Pereira et al., 2009; Rodriguez-Morales,

2008)23,24,25,26.

Page 19: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

7

A transmissão congênita ocorre em 5 % de grávidas com doença crônica de

Chagas na Bolívia, Chile e Paraguai e em 1 a 10 % nos outros países endêmicos.

Estas diferenças regionais podem ser atribuíveis à cepa do T. cruzi, estado

imunológico da paciente, fatores placentários e as diferentes metodologias utilizadas

no diagnóstico dos casos congênitos (Rassi e Marin-Neto, 2010; Develoux et al.,

2009)4,6.

Na América Latina, transplantes de órgãos sólidos e medula óssea têm sido

relacionados a casos de DC. Em países desenvolvidos (Canadá, Europa e Japão)

caracterizados pela ausência de vetores naturais (exceção EEUU) as principais vias

de transmissão são através de sangue de doadores infectados, vertical de mãe para

filho, transplante de órgãos e acidentes de laboratório, além de turistas e crianças

adotadas que também influenciam este resultado (Rassi e Marin-Neto, 2010; Fores

et al., 2007; Altclas et al., 2005; Gascon et al., 2010; Albajar e Coura, 2010)4,27,28,29,2.

1.1.6 Distribuição geográfica

A infecção chagásica incluindo seus reservatórios e seus vetores estendem-

se do sul dos Estados Unidos até o sul da Argentina e Chile. Deste modo, num total

de 18 países (Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, México,

Nicarágua, Panamá, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,

Peru, Uruguai e Venezuela), estimando-se que entre noventa e cem milhões de

pessoas estejam expostas à infecção nessas regiões. Atualmente estimam-se treze

a dezesseis milhões o número de infectados, com uma incidência entre 185.000 a

317.000 casos por ano (Coura e Dias, 2009; WHO, 2007)13,30 Figura 1.

Page 20: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

8

Figura 1

Distribuição da Doença de Chagas na América Latina

Fonte: Modificado de http://geo.arc.nasa.gov/sge/health/sensor/disea

ses/images/chagas.gif

Várias iniciativas regionais no mundo de origem governamental têm sido

desenvolvidas para o controle da DC e a erradicação de seus principais vetores

(Coura e Dias, 2009; Franco-Paredes et al., 2009; Moncayo e Silveira, 2009)13,31,1:

1) Iniciativa Centro América e México – criada em 1998 – Rhodnius prolixus,

Triatoma dimidiata, Triatoma barberi, Rhodnius pallescens.

2) Iniciativa Andina - criada em 1997 – Rhodnius prolixus, Triatoma dimidiata,

Triatoma maculata e Rhodnius ecuadoriensis.

4) Iniciativa do Cone Sul – criada em 1991 – Triatoma infestans, Triatoma

brasiliensis, Triatoma sordida, Panstrongylus megystus.

5) E a mais recentemente a Iniciativa Amazônica - criada em 2004 – Rhodnius

prolixus, Rhodnius robustus, Panstrongylus, Rhodnius Brethesi.

Page 21: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

9

A DC representa nestes países um problema de saúde pública local com

novos debates epidemiológicos, econômicos, sociais e políticos. Este problema têm

sido criado pela internacionalização da DC pela migração humana legal e ilegal a

partir dos países endêmicos da América Latina para países não endêmicos como

América do Norte, Europa, Ásia e Oceania, em particular os Estados Unidos,

Canadá, Espanha, França, Suíça, Japão e Austrália (Coura e Dias, 2009)13, estima-

se que existem, atualmente >300.000 indivíduos infectados pelo T. cruzi nos

Estados Unidos, >800.00 na Europa e o Pacífico Ocidental, >3.000 no Japão e

>1.500 na Austrália (Albajar e Coura, 2010)2. Figura 2.

Figura 2

Estimativas de indivíduos infectados em países não endêmicos.

No inquérito sorológico nacional de prevalência da DC no Brasil, realizado

entre 1975-1981, com 1.626.745 amostras coletadas em papel de filtro e

processadas através do teste de imunofluorescência indireta, foi possível computar

1.352.197 observações provenientes de 3.026 municípios que, excetuando-se São

Paulo e o Distrito Federal, permitiu estimar uma prevalência média nacional de

reações sorológicas positivas de 4,2% (Camargo et al., 1984)32.

Fonte: RASSI e MARIN-NETO, 2010.

Page 22: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

10

Na análise desses dados encontraram-se as cinco maiores prevalências nos

Estados de Rio Grande do Sul (8,84%); Minas Gerais (8,83%); Goiás (7,40%);

Sergipe (5,97%) e Bahia (5,44%). Prevalências inferiores de 1% em Maranhão

(0,12%); Roraima (0,31%); Espírito Santo (0,32%); Rondônia (0,41%); Pará (0,56%)

e Ceará (0,84%); chamando atenção dos pesquisadores prevalências acima da

média nacional nos municípios de Japurá (6,9%), Novo Airão (6,8%) e Barcelos

(6,3%) no Estado do Amazonas e o município de Colares (5,1%) no Estado do Pará,

sugerindo a existência de bolsões de transmissão nessas áreas. (Camargo et

al.,1984)32.

Após os programas de erradicação e controle do principal vetor da DC no

Brasil, o T. infestans, outros inquéritos tem sido realizados no país para avaliar a

transmissão da DC. Um deles, realizado em 226.138 escolares de 7 a 14 anos, no

período de 1987-1989 revelaram 325 (0,14%) soros-reagentes, sendo os índices de

infecção mais elevados nos estados do Rio Grande do Sul (0,70 %), Goiás (0,45%),

Rio Grande do Norte (0,20%), Sergipe (0,19%) Paraíba (0,16%), Minas Gerais

(0,07%), Mato Grosso do Sul (0,05%), Pernambuco (0,05%), Piauí (0,04%), Bahia

(0,03%), e Ceará (0,02%) (Vinhaes e Dias, 2000)33.

Nos anos de 2001-2008 foi realizado um estudo para avaliar o controle da DC

na totalidade da área rural brasileira, onde foram estudadas 104.954 crianças de 0-5

anos, encontrando-se 104 (0,1%) positivos pela IFI e ELISA em papel de filtro, dos

quais 32 (0,03%) foram confirmadas como infectadas. (Ostermayer et al., 2011)34.

1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas

A doença de Chagas apresenta três estágios: A fase aguda, indeterminada e

crônica (Prata, 2001)35.

Page 23: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

11

As lesões da fase aguda da doença acontecem duas semanas após a

infecção, são caracterizadas pela presença de reações inflamatórias locais, com

predominância de células mononucleares, formação ocasional de granulomas,

especialmente no tecido miocárdico, apresentando formas reativas clínicas

diferentes, tais como miocardite difusa aguda com edema intersticial, hipertrofia das

fibras miocárdicas e dilatação de cavidades cardíacas. A destruição de neurônio do

plexo mientérico cardíaco, com redução do seu número na fase aguda assintomática

ou sintomática continua ate a fase crônica da doença (Coura e Borges-Pereira,

2010; Amezcua-Vesely et al., 2010)7,36.

A fase indeterminada ou assintomática é descrita como um período “silente”

durante o qual o infectado apresenta ausência de sinais e/ou sintomas, estudos

eletrocardiográficos, ecocardiográficos e imagem (esôfago e cólon) sem alterações.

Aproximadamente um terço dos casos indeterminados desenvolve a fase crônica da

doença com alterações cardíacas ou digestivas, sugerindo a persistência do

parasita, onde um desequilíbrio da resposta imune explicaria as alterações

observadas durante a fase crônica. (Amezcua-Vesely et al., 2010; Prata, 2001.

Andrade, 1999; Macedo, 1999)36,35,37,38.

Os fatores responsáveis pela transição da fase indeterminada para a crônica,

em aproximadamente 30 % dos casos, parecem estar relacionados com a reativação

da inflamação; caracterizada pela presença de T CD8+ ativadas pelas moléculas

MHC I e ausência de uma resposta T CD4+ e apoptose destas, produzindo em nível

histopatológico: hipertrofia miocárdica, degeneração do miócito e fibrose intersticial

severa, expressa clinicamente pela disfunção ventricular (Bloqueios

atrioventriculares, taquicardia ventricular) (Fiuza et al., 2009; Andrade, 1999;

Macedo, 1999)39,37,38.

Nas formas gastrointestinais se apresentam lesões inflamatórias nas fibras do

músculo liso das paredes dos órgãos (Esôfago, estomago, duodeno, vesícula biliar,

bexiga e brônquios) afetando os neurônios intramurais parassimpáticos – Plexo de

Page 24: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

12

Auerbach e Meissner (Teixeira et al., 2006) 40.Porém, até os dias de hoje a

patogênese da doença de Chagas ainda não está clara (Coura e Borges-Pereira,

2010) 7.

1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento

Na fase aguda da DC o “gold standard” seria a visualização direta do parasita

em sangue periférico, sem necessidade de outros exames, com este teste detectam-

se 85 % dos casos na fase aguda e somado às técnicas de concentração:

microhematócrito e técnica de Strout, em 95 %, até os 30 dias do início dos

sintomas, entre os 30 e 60 dias do início dos sintomas, a positividade depende do

momento da coleta de amostras sanguíneas em picos febris. O uso da sorologia

seria útil após15/20 dias da inoculação do parasito no sangue do paciente, porque a

partir deste momento encontram-se níveis ascendentes de IgM (Muñoz et al., 2011;

SVS, 2005; Gomes et al., 2009) 41,42,43.

Outros procedimentos seriam úteis na fase aguda como a hemocultura,

Xenodiagnóstico e PCR por sua especificidade, mas o custo técnico e monetário

obstaculizam sua implementação nos serviços de atendimento de rotina em saúde

pública (Murcia et al., 2010) 44.

Na pesquisa de casos na fase indeterminada, se necessita uma alta

especificidade; contrariamente, em bancos de sangue e inquéritos soro

epidemiológicos se requer testes de alta sensibilidade (ELISA, IFI) (WHO, 2007) 30.

O diagnóstico na fase crônica é confirmado pela detecção de anticorpos IgG

circulantes contra T.cruzi no soro do paciente, processadas por de meio de duas das

seguintes técnicas: IFI, ELISA ou HAI (Umezawa et al., 2001; Muñoz et al., 2011;

Abad-Franch et al., 2010) 45,41,5.

Page 25: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

13

Atualmente o Benznidazol (Bz) e o Nifurtimox (Nf) são os dos medicamentos

aprovados para uso em seres humanos. A dose depende da idade do paciente e da

fase da doença no Nf; na fase aguda e faixa etária entre 5 e 14 anos a dose é de 15

mg/kg/dia por 120 dias, em adultos com fase crônica é de 8 a 10 mg/kg/dia por 30 a

120 dias. O Bz mostra eficácia similar ou superior ao Nf na dose de 5 a 10 mg/kg/dia

por 30 a 60 dias em pacientes com fase aguda (Oliveira et al., 2008) 46.

O estudo internacional Benznidazole Evaluation for Interrupting

Trypanosomiasis - BENEFIT – que tem previsão para concluir no ano de 2013

deverá trazer conclusões sobre a redução ou aumento da morbidade e mortalidade

em 3000 pacientes com Doença de Chagas Crônica nos países de Argentina,

Bolivia, Brasil,Colômbia e El Salvador. Outros tratamentos alternativos se encontram

ainda em fase de estudo (Ribeiro et al., 2009; Lescure et al., 2010) 47,48.

1.2 Região Amazônica

Gutiérrez Acosta e Salazar (Aragon, 2005) 49 definem a Amazônia:

“As expressões Amazônia, Pan-Amazônia, Amazônia Sul-Americana, Região

Amazônica ou Grande Amazônia, compreendem diferentes enfoques,

discernimentos e representações espaciais. Em geral, esses termos referem-se à

maior floresta tropical úmida do planeta, localizada ao norte da América do Sul, à

bacia hidrográfica do rio Amazonas, às nações que têm território nestas áreas, aos

estados que promovem, através de ações conjuntas, o planejamento do

desenvolvimento sustentável da Amazônia para preservar o meio ambiente e o uso

racional dos recursos naturais, aos limites artificiais de conveniência político-

administrativa para a aplicação de incentivos fiscais em territórios determinados, aos

povos que a habitam, e a sua fauna terrestre e aquática. Esses conceitos têm a

dificuldade de que não se podem traduzir facilmente numa cartografia única porque

se referem os espaços diferentes, cujos limites não necessariamente coincidem. A

Amazônia, como entidade unificada, só pode existir como uma amálgama de

regiões. Dessa forma pode-se afirmar que existem varias amazônias as quais

Page 26: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

14

conformam uma grande região, onde cada uma tem uma distribuição regional

diferente”.

A Amazônia esta composta por segmentos de território dos seguintes países:

Suriname, Guiana francesa, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e

Brasil. A chamada Amazônia Legal no Brasil, constituída pelos estados de

Rondônia, Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e

Maranhão (aoeste do Meridiano 44). Sua superfície é de 5.034.740 km2, sendo um

59,12 % do país e 67,76 % da Amazônia mundial; com uma população de 20129685

habitantes, uma densidade de 1,24 hab/km2, a maioria está concentrada em áreas

urbanas, destacando-se cidades de mais de um milhão de habitantes (Belém e

Manaus) (Aragón, 2005; Aguilar et al., 2007) 49,50.

Segundo 51Sachs e Mendes (1998) as mais importantes mudanças

experimentadas pela Amazônia nos últimos 50 anos foram:

-Um notável crescimento demográfico, sobretudo de populações urbanas.

-Avançada depredação da natureza.

-Avanço na discussão geopolítica relacionada com a soberania e com a exploração

dos recursos naturais.

-Avanço do movimento ambientalista ao redor do mundo relacionado com a

Amazônia.

1.2.1 Doença de Chagas na Amazônia

Em 1924 Carlos Chagas, descobridor da doença de Chagas no mundo, fez

comentários sobre o ciclo de transmissão do Trypanosoma cruzi entre macacos da

espécie Saimiri sciureus na região amazônica onde se encontrava realizando um

Page 27: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

15

diagnóstico de saúde local com vistas ao desenvolvimento de empreendimentos

econômicos nesta região do Brasil (Chagas, 1924 apud) 52.

O primeiro caso de Doença de Chagas Aguda (DCA) registrado na RA

ocorreu e foi investigado na Guiana Francesa em 1940, em um menor, de sete anos,

quando se encontraram amastigotas de Trypanosoma cruzi em material de punção

esternal (Floch, 1941 apud) 53.

O primeiro inquérito hemoparasitoscópico de doença de chagas na Amazônia

brasileira foi realizado em Aura, Pará por 55Rodrigues e Melo (1942) com 117

indivíduos, todos negativos, além disso, observaram a infecção natural

porTrypanosoma cruzi em animais silvestres (gambás, tatus, morcegos, tamanduás,

irara), comprovando o ciclo silvestre na região. Posteriormente, estudos feitos nos

Estados do Amapá e Pará, não detectaram casos positivos nas populações

estudadas (Deane, 1964 apud) 54.

No ano de 1969 foram descritos os primeiros casos autóctones de doença de

Chagas, de tipo agudo, provenientes da mesma família, na cidade de Belém, Pará

(Shaw,1969 apud) 55.

Segundo (Fernandez, 2005) 56 em áreas de baixa prevalência, (como no caso

da RA) a freqüência da apresentação das formas clínicas poderia compreender:

1. Casos agudos congênitos.

2. Casos agudos adquiridos.

3. Casos crônicos assintomáticos (indeterminados).

4. Casos crônicos sintomáticos.

Page 28: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

16

5. Casos crônicos com reativação da infecção.

A história natural da (DC) tem início como uma doença enzoótica entre

animais, e ainda persiste em áreas enzoóticas tais como Região Amazônica (RA)

onde a espécie humana aventurou-se nos ecótopos da infecção, inaugurando a

transmissão acidental para humanos como uma antropozoonose (Coura e Dias,

2009) 13.

As vias de transmissão na RA propostas pelo Consenso Brasileiro em Doença

de Chagas (2005) e o inquérito nacional de prevalência de avaliação do controle da

doença de chagas no Brasil 2001-2008 seriam visitação de vetores silvestres,

vetorial extradomiciliar, vetorial domiciliar, peridomiciliar sem colonização do vetor e

via oral (Ostermayer et al., 2011;SVS, 2005) 34,42

Inquéritos soro epidemiológicos feitos pela Fundação Nacional de Saúde

(FNS) na RA brasileira nos anos 1975-1980 destacando-se municípios acima da

média nacional de 4,2 % no estado de Amazonas como: Japurá (6,9 %), Novo Airão

(6,8 %), Barcelos (6,3 %) e Colares (5,1 %) no Estado de Pará. (Camargo et al.,

1984; Silveira et al., 1986) 32,57. Os inquéritos soro epidemiológicos por Coura,

Albajar e Brum et al., de 1991 a 2008 16,17,58,59,60,61,62,75 no estado de Amazonas,

mostraram prevalências de 2,54 % a 5 %.

“Na época, essas cifras foram atribuídos a possíveis casos falsos positivos A

interpretação inicial dada a esses resultados, considerou como possibilidades

a serem investigadas; i) reações cruzadas com leishmanioses, em especial

com a leishmaniose cutâneo-mucosa, altamente prevalente na Amazônia; ii) a

existência de um número significativamente maior de migrantes, desde

regiões endêmicas, naqueles municípios; iii) erros de registro ou de

processamento dos dados. Nenhuma dessas hipóteses bastante razoáveis

pelo fato de que se desconhecia aí a existência de triatomíneos domiciliados

se pode confirmar” (Guhl e Schoefield, 2004) 63.

Page 29: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

17

Municípios pertencentes a uma região considerada não endêmica, onde

estudos sugerem que em determinadas áreas a infecção se faz presente de forma

endêmica sem a presença de vetores domiciliados como no Médio e Alto Rio Negro,

associadas à atividades extrativistas locais (Piaçabais para fabricação de vassouras,

cipó e coleta de castanha) com transmissão vetorial extra-domicliar e relacionada a

uma atividade laboral; coexistindo um significativo e crescente registro de casos

agudos associados à transmissão por via oral por consumo de suco de frutas nativas

tais como o açaí (Euterpe oleracea) nos estados de Pará e Amazonas (Miles et al.,

1981; Silveira et al., 1986; Fraiha et al., 1995; Valente et al., 1998, 1999a, 1999b,

2001, 2002; Coura et al., 2002b; Albajar et al., 2003b; Pinto et al., 2004; Xavier et al.,

2006; Aguilar et al., 2007; Brum et al., 2010) 64,57,65,66,67,68,69,70,17,61,71,72,50,62.

No estado do Amazonas estudo realizado por Bóia et al., 199973, na sede do

município de Novo Airão, avaliou 346 amostras de soro sanguíneo por meio

deELISA convencional e IFI evidenciando positividade em 16 (4,6 %), dos quais 3

(0,86%) se relacionaram com o reconhecimento do barbeiro e afirmaram picados

pelo “piolho da piaçaba”; sugerindo, entretanto, a possibilidade de reações cruzadas

por leishmaniose tegumentar e/ou malária.

Trabalhos publicados por Ferreira et al., 200974, estudando 37 pacientes

nativos e moradores do Estado, maiores de 12 anos, com fração de ejeção < 45%,

presença de miocardiopatía dilatada e disfunção sistólica ventricular esquerda sem

etiologia definida, encontraram três casos confirmados de DC; um dos casoscom

história de trabalho em área de extração de piaçaba no município de Barcelos, outro

com antecedentes de trabalho rural no Rio Purús e o último proveniente de

Iranduba. A relevância do estudo foi que os pacientes eram todos do estado de

Amazonas.

No município de Tefé-AM registrou se no ano de 2004, a partir de um surto de

DCA associado a transmissão oral por ingestão de açaí, um caso com;

Page 30: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

18

comprometimento neurológico (meningoencefalite) em paciente imunocompetente

(Medeiros et al, 2008)75.

Em 2007 no município de Coari-AM, 25 casos para DCA resultaram positivos

de 175 investigados por vínculo epidemiológico em um surto pelo mesmo

mecanismo de transmissão observado em Tefé; foi identificando mediante PCR o

Zimodema III - atual TcIII ou TcIV–(Monteiro et al., 2010) 76.

Inquérito feito em Coari, Manaus e Tefé com 1.263 pessoas, achou 12

pacientes com sorologia positiva, estimando-se uma prevalência 0,9% e 1,2 %,

ratificando a importância de monitorizar a doença de Chagas no estado do

Amazonas (Magalhães et al., 2011) 77.

1.2.2 Infecção chagásica no Rio Negro, Estado do Amazonas, Brasil

Sobre o Rio Negro Wallace78 comentava em 1853:

“A piaçaba cresce em lugares úmidos..... Todo o seu tronco é densamente revestido

pelas fibras, que dele pendem como grossos pelos.... Numerosos grupos de homens, mulheres e crianças entram para a floresta a dentro para cortar essas fibras..... servindo também para confeccionar os cabos e cordas utilizados nas

pequenas e grandes embarcações que navegam pelos rios amazônicos... Acredito

que a piaçaba seja uma espécie do gênero Leopoldinia..... fiz um esboço e

denominei-a Leopoldinia piassaba”

O triatomíneo Rhodnius brethesi, foi descrito por Alfredo da Matta em 1919 a

partir espécimes coletados de áreas extrativistas de piaçaba. Ele mesmo falou em

1922 sobre a presença destes insetos e o fato de que picavam os “piaçabeiros”

(Santos-Mallet et al., 2005) 79.

Page 31: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

19

Em nível de casos os primeiros do município de Barcelos foram registrados

em 1977, em seis indivíduos oriundos de áreas de extração da fibra vegetal, que

apresentaram sorologia positiva para DC (Ferraroni et al., 1977) 80. Em 1985, um

caso agudo com infecção mista pelo T. cruzi e T. rangeli foi descrito na mesma

região (Souza et al., 1985) 81.

Pesquisas realizadas no ano de 1991 sobre hepatite B na Região do Rio

Negro, e o informe pelos entrevistados de triatomíneos atacando populações

humanas em áreas de extrativismo da Leopoldinia piassaba, incentivaram pesquisas

sorológicas na zona, visando estabelecer a morbilidade e mortalidade da DC (Albajar

et al., 2003a, 2003b; Brum et al., 2010; Dr. Jorge Augusto de Oliveira Guerra

[Comunicação verbal, 2011]) 60,61,62.

Em 1991, 1993 e 1997 foram realizados três inquéritos soro epidemiológicos:

os dois primeiros inquéritos com 1.368 soros avaliados através da pesquisa de

anticorpos por IFI.O terceiro de 886 soros por ID-PaGIa confirmado por IFI, ELISA

convencional e ELISA recombinante (CRA-FA) Das triagens se registraram

prevalências de 12,5% (1991) , 13,7% (1993) e 13,2% (1997). Estas taxas

diminuíram na confirmação sorológica para 2,8%, 3,5% e 5% respectivamente

(Coura et al.,1995; 2002a; 2003a) 59,16,60.

Pela técnica de Reação em Cadeia da Polimerasa (PCR) se isolou o TcI e o

zimodema III que corresponderiam atualmente a TcI e TcIII ou TcIV, relacionados à

variedade silvestre (Zingales et al., 2009; Devera et al., 2003) 12,10.

A situação epidemiológica da DC no Brasil é considerada de tendência

declinante, devido à redução significativa de apresentação de casos em nível

nacional, entretanto, na região Amazônica, existem vetores silvestres capazes de

transmitir e perpetuar o parasita na natureza, através de inúmeros hospedeiros

(Carmo et al., 2003) 82.

Page 32: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

20

Nos últimos anos se tem registrado um aumento do número de casos nesta

Região, e a escolha da realização de um inquérito sorológico na área urbana de

Barcelos foi em função do aumento da notificação de casos crônicos, sintomáticos e

assintomáticos, autóctones da região do Médio Rio Negro, associado ao frequente

deslocamento dessas pessoas ás áreas de extração vegetal (Piaçaba)

desenvolvendo uma atividade considerada econômica, rentável e sustentável, e que

pode gerar renda suficiente para subsistência de suas famílias (Albajar et al.,

2003b)61.

As maiorias dos piaçabeiros possuem domicilio fixo na área urbana de

Barcelos, onde não há evidencia do vetor domiciliado, assim sendo, o estudo da

magnitude da infecção chagásica em nível urbano, irá proporcionar informações

sobre alguns fatores determinantes desta doença nesta região (Santos-Mallet et al.,

2005) 79.

Page 33: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

21

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Realizar um inquérito soroepidemiológico da infecção pelo Trypanosoma cruzi na

área urbana do município de Barcelos.

2.2 Específicos

Realizar um inquérito sorológico através de imunofluorescência indireta em papel de

filtro.

Realizar a confirmaçãodos casos positivos e duvidosos em papel de filtro mediante

imunofluorescência indireta, ELISA convencional e ELISA recombinante em soro

sanguíneo.

Realizar o analise dos dados a partir de colheita de informação por entrevista

durante o inquérito sorológico.

Estudar algumas características epidemiológicas da infecção chagásica em

indivíduos residentes na área urbana do município de Barcelos.

Estimar a magnitude da infecção chagásica na área urbana do município de

Barcelos.

Page 34: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

22

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Modelo de estudo

Trata-se de um estudo observacional, descritivo, de avaliação da magnitude

da infecção chagásica utilizando a coleta de sangue em polpa digital processada

pela técnica de IFI e sua confirmação em soro sanguíneo mediante ELISA e IFI,

abrangendo 100% dos moradores encontrados no momento da pesquisa na área

urbana no período de setembro a outubro de 2010.

3.2 Universo do estudo

3.2.1 População de referência

O estudo teve como alvo a população que habita a sede urbana do município de

Barcelos. A cidade está situada à margem direita do Rio Negro no norte do Estado

do Amazonas, distante 304 milhas de Manaus por rota fluvial e 403 km a Nordeste

em linha reta. Se convertendo no principal meio de acesso para Barcelos. Duas

vezes por semana, barcos fazem a ligação Barcelos - Manaus - Barcelos,

transportando passageiros e cargas. A cidade possui um aeroporto para aviões de

pequeno e médio porte.

A sede do município está localizada a 0°58'1'' latitude sul e 62°56' longitude

oeste de Greenwich. Limita-se, ao leste com o estado de Roraima; ao oeste com o

município de Santa Isabel do Rio Negro;, ao norte com Venezuela, e ao sul e

sudeste com o município de Novo Airão e Maraã, sua extensão abrange uma área

terrestre de 122.475,728 km2 (IBGE, 2010)83, sendo considerado o segundo maior

município do Brasil. A população è constituída de 25718 habitantes, concentrando-

se 11157 (43.38 % do total da população) na área urbana e 14561 na rural;

resultando terceiro menor índice de densidade demográfica no Brasil, atrás de

Page 35: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

23

Japurá e Atalaia do Norte; as cidades todas pertencentes ao Estado do Amazonas

(Figura 3).

Figura 3

Local de estudo

Barcelos Amazonas Brasil

A temperatura oscila entre 21º e 38º C, caracterizada por contar com uma

floresta tropical úmida, junto aos ciclos sazonais de chuvas entre os meses de

janeiro a julho e enchentes durante o período de junho a novembro, a precipitação

varia entre 2.500 mm a 3.500 mm anuais (Oliete [Dissertação em Biologia Tropical e

Recursos Naturais] 2008) 84.

Os tipos de vegetação compreendem o igapó (floresta alagada), floresta de

terra-firme (floresta tropical densa) e campinarana amazônica, presente nas zonas

arenosas do Rio Negro: assim é observada a presença de densas extensões da

palmeira Leopoldinia Piassaba na margem direita do mesmo (Da Silva et al., 2007)85

(Figura 4).

Page 36: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

24

Figura 4

Áreas de extensão territorial da palmeira Leopoldinia Piassabano Rio Negro.

A população de Barcelos no ano de 2010 segundo o IBGE 2010 foi de 25718

moradores, com uma população urbana de 11157 (43,38 %) na área urbana, e de

14561 (56,62 %) na área rural, destes 5845 homens e 5312 mulheres moram na

sede e 7971 homens, mas 6590 mulheres na área rural.

Dos moradores 13951 (52,8 %) se identificam como de raça parda, 8367

(32,5 %) de raça indígena, 2533 (9.8%) de raça branca, 1029 (4 %) e 198 (0,8 %) da

raça amarela (IBGE, 2010) 83.

Na área urbana se contabilizavam 2354 domicílios e na área rural 2381;

predominando os prédios com 4 moradores ou mais. Chamando atenção os 556

Áreas em laranja correspondem aos piaçabais

Page 37: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

25

domicílios de 10 moradores ou mais. A proporção de domicílios em 2010 com

acesso ao direito de propriedade atingiram 79,4%. Os homens respondem por 3600

dos domicílios e as mulheres por 1142. 890 domicílios possuem renda familiar entre

um e dois salários mínimos e somente 21 apresentaram renda familiar maior de 20

salários mínimos (IBGE, 2010) 83.

Nos 10 bairros do município (figura 5) 2352 domicílios possuem energia

elétrica procedente da rede pública. Desses, 2197 ficam ligados à rede geral. 49,5 %

dos domicílios tinham acesso à rede geral e 1831 (41,2 % ) não possuem banheiro

ou sanitário. Em 2231 o lixo é coletado (IBGE, 2010) 83.

Figura 5 Descrição da área de estudo e sua divisão por bairros.

A população menor de 15 anos é de 8738 pessoas e 1002 são maiores de 65

anos; sendo a maior distribuição masculina e feminina na faixa de 10 a 14 anos.

Segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) o

numero de óbitos de crianças menores de um ano foi de 84 de 1995 a 2010. A taxa

de mortalidade de menores de um ano de 34,7 por cada 1000 crianças menores de

Fonte: Modificado de FVS - Barcelos, 2009

Page 38: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

26

um ano. Não houve casos de mortalidade materna. O percentual de crianças

nascidas de mães adolescentes foi de 40,5%.

No SINAN foram notificados sete casos de Chagas agudo no ano 2010

pertencentes um surto de Doença de Chagas no Rio Negro (Ver Tabela 2)

3.2.2 População de estudo

Foram incluídos no estudo foram todos os moradores da área urbana do

município de Barcelos encontrados no momento da pesquisa, sem distinção de

sexo, idade, cor ou condição física. Correspondente aos 10 bairros que a

conformam: Aparecida, Centro, Mariúa, Nazaré, São Francisco, São Lazaro, São

Sebastião, Marará, Santo Antonio e Mariúa.

Page 39: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

27

Os dados populacionais foram baseados no inquérito para cadastro de

população para pesquisa de malária da FVS do ano de 2009, pois não se contava

ainda com os dados do censo do IBGE 2010.

Esse projeto está incluso dentro de um estudo maior: “ Estudo Evolutivo da

Doença de Chagas e dos fatores determinantes de sua morbidade em áreas da

microrregião do Rio Negro, Estado do Amazonas” , coordenado pelo Dr. José

Rodrigues Coura, onde já veêm sendo desenvolvidas atividades sobre a infecção

chagásica desde o ano de 1991.

3.2.3 Desenvolvimento do estudo

No período de setembro de 2010 e abril de 2012 foram convidados a

participar do estudo, as pessoas pertencentes à área urbana do município de

Barcelos, moradores do município de Barcelos, Estado de Amazonas, Brasil.

3.3 Procedimentos

3.3.1 Entrevista e aplicação do questionário epidemiológico

Cinco equipes de dos agentes comunitários de saúde cada, realizaram

opreenchimento de ficha epidemiológica (FE) (Ver anexo A), aplicada a toda a

família, feita mediante anamnese que incluiu fatores de risco para infecção

chagásica, tais como: residências anteriores, ocupações atuais e anteriores,

profissão e viagens fora do estado do Amazonas. Mostrou-se a cada um dos

participantes do estudo uma coleção de triatomíneos, contendo exemplares de

Panstrongylus, Rhodnius e Triatoma; com finalidade de saber se eram capazes de

reconhecer esses insetos.

A justificativa de não achar às pessoas no seu domicilio foi a mudança de

endereço, viagem para outro município do Rio Negro (São Gabriel da Cachoeira,

Santa Isabel do Rio Negro), deslocamento para área rural (pesca artesanal e

extrativismo) ou procura de serviços de saúde especializados, emprego ou educação

em nível superior na capital do Estado (Manaus).

Page 40: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

28

3.3.2 Coleta de material

A coleta de material sanguíneo se fez através de punção digital, previa

assepsia de dedo da mão não dominante com lanceta estéril (Safety Lancet ®

Premium) e coleta de 2 a 3 gotas de sangue para ser colocada em 2 círculos de 1,2

cm de diâmetro (duplicata) feitos previamente com lápis HB No 2 ( Faber Castell ®)

em cada folha de papel de filtro (Kablin 80 grs, onde a sangue não podia exceder o

limite de espaço feito pelo circulo correspondente) de 5 cm x 12,5 cm, com 4 colunas

de 2 círculos cada, separadas por papel celofane; agrupadas em 5 folhas de papel

de filtro mas 5 folhas de papel impermeável resultava em 20 amostras sanguíneas

em duplicata por bloco. O número de amostra correspondia exatamente com o

mesmo número da ficha epidemiológica (FE).

3.3.3 Sorologia de screening O diagnóstico sorológico foi realizado em duas etapas:

1. Técnica de imunofluorescência indireta (IFI) em papel de filtro

2. Técnica de IFI, ELISA convencional e ELISA recombinante em soro

sanguíneo.

A técnica qualitativa de (IFI) (Camargo, 1966)pelo qual foram coletadas

amostras de sangue da polpa digital em papel de filtro (Klabin 80g) as quais foram

mantidas em meio ambiente (23º C a 30º C), durante o período da pesquisa

(aproximadamente 45 dias) em caixa de isopor, livres de contato com calor extremo

e umidade, sendo esse material transportado por uma empresa especializada nesse

ramo, desde a sede do município via marítima até a FMT-HVD Manaus e

posteriormente o laboratório de doenças parasitárias, Fiocruz, Rio de Janeiro, onde

foram armazenadas em geladeira com temperaturas de 2 a 8 °C, no máximo por 60

dias com o fim de ser processadas (Borges-Pereira et al., 2006) 87.

No processamento das amostras de sangue pela técnica de eluato (Alvarez et

al., 1971) 88 feita somente por um mesmo técnico, os discos de 1,2 cm de diâmetro

são depositados em pequenos batoques de plástico, de fundo plano – adicionando-

se 0,2 ml de solução salina tamponada com fosfatos de 0,01M e pH 7,2, se deixava

Page 41: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

29

pelo tempo mínimo de 3 horas em temperatura ambiente – aproximadamente 24º C,

para obter uma diluição final. Em seguida, uma gota do eluato, cerca de 20 μl, era

transferida para a área demarcada da lâmina na qual estavam fixadas as formas

epimastigotas do T. cruzi, empregadas como antígenos. Para leitura e interpretação

das reações, dois observadores independentes treinados utilizaram o microscópio

(modelo Dialux) para imunofluorescência com objetiva de 40 x. Procedeu-se a leitura

das amostras, considerando os padrões a seguir:

• Amostra reagente: Presença e fluorescência em todos os parasitas nas

diluições 1:40 e 1:80.

• Amostra não reagente: Ausência de fluorescência em todos os

parasitas, nas diluições1:40 e 1:80, conforme o poço de controle

negativo (1:40).

• Indeterminado: Presença de fluorescência em todos os parasitas na

diluição 1:40 e ausência de fluorescência na diluição 1:80.

3,4 Sorologia confirmatória

Os indivíduos considerados reagentes e indeterminados na sorologia de

screening em papel de filtro,foram procurados numa outra etapa deste projeto, casa

por casa, pela equipe do projeto (enfermeiro e médico pesquisador) durante o

período compreendido de fevereiro de 2011 a março de 2012, em seus domicílios, e

foi realizadacolheita de 10 ml de sangue total. Posteriormente foi centrifugada e se

produz extração do sorosanguíneo para realização dos seguintes testes:

Imunofluorescência indireta em soro (IFI – Chagas – Bio-Manguinhos

(Camargo,1966) 86; ELISA convencional - DMED e ELISA recombinante o ELISA

Chagatest (WHO, 2007)30.

Para confirmação do diagnóstico sorológico da doença de Chagas (WHO,

2001)89, os resultados foram interpretados assim: soronegativo - todos os testes

negativos; soro inconclusivo - apenas um teste positivo e soropositivo - dois ou mais

testes positivos com técnicas diferentes. O número de soropositivos foi utilizado para

estimar a magnitude da infecção.

3.5 Analise de dados

Page 42: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

30

A partir dos dados coletados na FE e resultados do IFIPF foi construído um

banco de dados no aplicativo Excel Versão 2003 para Windows®. Foi usado o

programa Epi Info™ 3.5 Project Team para o analise dos modelos de regressão

logística multivariada.

4 RESULTADOS 4.1 Descrições da casuística

Foram visitadas 2817 casas, com um total de 10782 pessoas segundo o

censo de Malaria da FVS de Barcelos (2009), foram coletadas 4540 amostras

correspondendo à 51% da população da área urbana do município; a media de

pessoas encontradas em cada casa após três visitas domiciliares foi de 1,6 e de

pessoas não encontradas de 2,2 (tabela 3).

Na tabela 4 podemos observar as características sociodemográficas e

econômicas da população estudada.Dos examinados, 411 se declararam brancos,

4096 pardos e 33 indígenas. No estado civil 363 estavam casados, 4125 solteiros e

52 viúvos.

Page 43: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

31

O bairro onde se acharam mais moradores no momento da pesquisa foi o

bairro de São Francisco com 986 habitantes, onde o tempo médio de moradia foi de

11,42 anos, mediana de oito anos e com um desvio padrão de +/- 12,51 anos. No

bairro de Mariúa a população estudada (125,95 %) foi maior que a registrada pela

FVS. O tempo médio de residência no local foi de 11,51 anos, com desvio padrão de

+/- 12,74 anos e mediana de oito anos. 4363 (96,10%) dos participantes eram

oriundos do Estado de Amazonas, 3458 (76.16 %) do município de Barcelos e 145

(3,19 %) de outros estados, predominando os originários de Roraima 57 (1,25 %),

Pará com 37 (0,81 %), Ceará com 15 (0.33 %), e 3 (0.066) de outros países da

América Latina (dois indivíduos de Peru e 1 de Colômbia). Dos 4540 examinados,

4282 (94,3 %) declararam não ter viajado fora do estado do Amazonas (Tabela 4).

4.1.1 Distribuição por gênero e idade

Page 44: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

32

Foi encontrada uma média de idade em torno de 25,93 anos, com um desvio

padrão de +/- 20 anos; a idade mínima foi de 17 dias de vida e a idade máxima

encontrada de 97 anos; a mediana foi de 21 anos. Dos 4540 examinados, 2011

(20,4%) eram menores de 18 anos. Na faixa etária de 10-19 anos foi registrado o

maior número de entrevistados com 624 mulheres e 442 homens. (Figura 6).

Figura 6

Distribuição por gênero e idade dos examinados em IFIPF

Barcelos, Amazonas.

4.1.2 Reconhecimento e contato com triatomíneos

De 4540 moradores, 1292 (28,5%) reconheceram o triatomíneo e 708 (16%) o

correlacionaram com o espécime de Rhodnius Brethesi, sendo confundido com

outras espécies (Panstrongylus e Triatoma) em 245 (5%) vezes. 578 (13%) deles

Page 45: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

33

referiram encontra-lo na área de piaçabal, sendo 105 (2.3%) dentro das moradias,

291 (6.4%) fora de casa e 22 (0,48%) dentro e fora de casa. (ver tabela 5)

Tabela 5

Reconhecimento e contato com triatomíneo

Moradores Barcelos 4540 (100%)

Reconheceram o triatomíneo 1292 (28,5%)

Especie de Triatomíneo Rhodnius Brethesi 708 (16%)

Panstrongylus e Triatoma 245 (5%)

Local onde encontrou o triatomíneo Piaçabal 578 (13%)

Dentro de casa 105 (2,3%)

Fora de casa 291 (6,4%)

Dentro e fora de casa 22 (0,48%)

Dos moradores reconhecendo o reduvídeo, 340 (7.5%) afirmaram terem sido

picados e 281 (6%) foram picados mais de uma vez.

4.2 Resultados da sorologia em papel de filtro (IFIPF)

De 4540 amostras processadas foram achados 201 (4,5 %) casos soro

reagentes, 281 (6,2%) com resultado indeterminado, e 4050 (89,4 %) casos

negativos. Na figura 6, demonstramos a distribuição das sorologias encontradas na

população estudada.

Page 46: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

34

Figura 6

Distribuição dos resultados sorológicos em inquérito soroepidemiológico IFIPF

Barcelos, Amazonas

4.3. Resultados da sorologia confirmatória

4.3.1 Descrição das variáveis epidemiológicas nos casos reagentes positivos

Dos casos considerados positivos (201) foi possível recuperar 150 amostras e

os de resultado indeterminado foram 197 de 281, para um total de 347/482 (70,1%),

o restante dos casos não foram achados no seu domicilio após pelo menos três

visitas domiciliares.

Page 47: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

35

Das amostras recuperadas se evidenciaram 48/347 (13,83%) casos positivos

para uma ocorrência de infecção pelo Trypanosoma cruzi no município de Barcelos

de 1,05 % (Figura 7).

Figura 7

Fluxograma de resultados dos testes sorológicos

inquérito soro epidemiológico, Barcelos, Amazonas.

Os resultados para cada sorologia são descritos nas tabelas 6 e 7.

Page 48: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

36

Tabela 6

Resultados testes sorológicos por paciente Inquérito soro epidemiológico, Barcelos

Amazonas 2010-2012

Page 49: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

37

Tabela 7

Resultados testes sorológicos por paciente Inquérito soroepidemiológico Barcelos

Amazonas 2010-2012

IFIpf Inmunofluorescência indireta em papel de filtro IFIs Imunofluorescência indireta em soro ELC ELISA convencional Biomanguinhos. ELCDO/CO ELISA convencional DO=Densidade óptica, CO=Cut off ELRDO/CO ELISA recombinante Biomanguinhos DO=Densidade óptica, CO=Cut off Sorol Sorologia confirmatória SX Sexo ID Idade NR Não realizado Pos Positivo Neg Negativo Rur Rural Urb Urbano AM Amazonas

Page 50: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

38

4.3.2.Distribuição por gênero e idade

Observou-se predomínio do gênero masculino com 27 (0,594%) indivíduos

(tabela 8).

Tabela 8

Características sociodemográficas e perguntas sobre o triatomíneo

dos casos confirmados, Barcelos, Amazonas.

A distribuição por faixa etária encontra-se na figura 8. Em nível geral o maior

número de positivos (casos) apresentou-se nos pacientes de gênero masculino, com

predomínio na faixa de maiores de 60 anos.

Page 51: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

39

Figura 8

Distribuição dos pacientes com sorologia positiva por faixa etária e sexo

Barcelos, Amazonas.

A media de idade nos indivíduos achados positivos foi de 31,7 similar ao da

população geral; 42 (87,5%) declararam não ter viajado fora do municipio de

Barcelos.

4.3.3 Reconhecimento e contato com triatomíneos

A maioria dos casos positivos reconheceu o barbeiro 42/48 (87,5%), a despeito dos

picados 22(45,83%). Em relação a especie, o Rhodnius Brethesi foi o mas

reconhecido pelos casos positivos com 31 (64,6%) dos mesmos. O local onde foi

observado foi no piaçabal 37 (77,1%).

Page 52: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

40

O número de pessoas picadas foi de 45,8%. 43,8% referiu ter sido picado,

mas de uma vez. O local da picada predominante foi aárea rural (Piaçabal) em

43,8%.

4.3.4 Relação dos pacientes positivos com a atividade laboral

A ocupação que predominou foi o extrativismo de piaçaba com 22 (45,83%)

(Tabela 5 e 6).

Page 53: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

41

5 DISCUSSÂO

As pessoas não encontradas no seu endereço pelas equipes de agentes

comunitários de saúde, mesmo após pelo menos domiciliares três visitas em cada

casa, influenciaram para o resultado final desta pesquisa.

Para o planejamento e execução deste trabalho se tomou em conta os

registros do censo da FVS-Barcelos de Malaria do ano 2009, já que é levado a cabo

um censo anual para realizar as estratégias em controle da doença e precisam-se

dados atuais. Os dados fornecidos pelo IBGE eram do ano 2001, considerados não

atualizados e sem refletir a verdadeira quantidade de pessoas na sede do município.

Já na discussão se abordam dados do IBGE do ano de 2012.

O Censo do IBGE de 2010 finalizado no ano de 2012 em Barcelos (devido à

imensidade geográfica) apresentou uma população urbana e rural de 11157 (43.38

%) e 14561 (56.62 %) respectivamente; dados do mesmo instituto no ano 2001

evidenciavam 7954 (32.8%) na área urbana e 16243 (67,2 %) na rural. Isto reflete

um crescimento populacional urbano de 3203 (40,26%) pessoas em nove anos e um

decréscimo rural de 10,35%.

Isso pode explicado pela intensificação da migração das populações ou

comunidades próximas dos centros urbanos do Rio Negro, a busca por acesso a

educação formal, emprego e saúde, aos conflitos pela posse de terra, ao isolamento

geográfico, fatores adicionais poderiam incluir escassez de recursos proteicos tipo

peixe, no alto do curso do rio, conflitos familiares e incentivos publicas locais e

federais, tais como Bolsa Família. (Da Silva et al., 2007) 85.

Em nível social, a desigualdade cresceu no município de Barcelos: o Índice de

Gini passou de 0,46 em 1991 para 0,66 em 2000, estabilizando-se em 0,59 no ano

Page 54: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

42

de 2010. A porcentagem de pessoas abaixo da linha da indigência é de 53,4 %, e

entre a linha de indigência e pobreza de 20.1 %. A participação dos 20 % mais

pobres da população na renda passou de 5,2 % em 1991, para 0.0 % em 2000,

aumentado ainda mais os níveis de desigualdade (IBGE, 2010) 83.

As atividades do extrativismo da piaçaba produziram historicamente um

sistema pré-capitalista de relações sociais, favorecido pelo isolamento geográfico

conhecido como aviamento; principal ferramenta de subordinação da mão de obra

na exploração de recursos naturais, caracterizado pelo recrutamento da força de

trabalho extrativista através do fornecimento controle do comercio de

mercadorias(Feijão, arroz, óleo, gasolina, álcool, etc..), em adiantamento, para o

sustento do trabalhador enquanto realizar esta atividade. Sendo a relação dos

preços sempre desigual e favorável aos empregadores, deixando os trabalhadores

da piaçaba com dividas impagáveis (Oliete [Dissertação] 2008; Suaréz-Mutis e

Coura, 2007) 84,90.

Muitos entrevistados possuíam endereço fixo na sede do município, más o

forte deslocamento intermunicipal torna-se constante pela procura de uma fonte de

renda, em Oliete, 2008, descreve-se um novo perfil de coletor da piaçaba em

Barcelos:

“A ação conjunta da crise da economia extrativista e o aparecimento dos

novos paradigmas de vida ocidentais (acesso a saúde e educação) têm provocado o

enorme êxodo rural para as cidades próximas, como Barcelos... O entorno urbano

altera os parâmetros de organização familiar, muda as lógicas. A falta de alternativas

em forma de empregos e de expectativas de melhoria de vida acabam por

desestruturar muitas famílias provocando os quadros de violência social urbana.

Diante da falta de possibilidades no entorno urbano, muitos homens voltam a

trabalhar no extrativismo, configurando o que poderia ser um novo modelo de

extrativista o 'coletor urbano'. Desta vez a família permanece na cidade e o homem

viaja com a “intenção de trabalhar, pagar a conta com o patrão e tirar saldo” (L. C.,

Page 55: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

43

patrão). Este novo modelo de ‘extrativista urbano’ ou da cidade precisa ser descrito

com mais detalhe, pois as mudanças de paradigma podem ter alterado também as

formas de percepção e exploração do recurso, e podendo criar conflitos entre a

esfera rural e urbana” .

Estas mudanças nas relações sociais, associado com o aumento demográfico

das populações urbanas e a depredação da natureza na Amazônia mundial,

consideram-se fatores de influencia no quadro atual da DC (Aragon et al., 1998) 51,

produzido principalmente pela necessidade de novas áreas de produção agrícola e

pecuária, estreitando a relação entre vetor silvestre e o homem, neste caso

hospedeiro acidental do parasita (Rocha et al., 2004)91. Somado a amplificação da

transmissão do parasita devido à abundancia de reservatórios competentes, animais

silvestres (Didelphis sp) (Naiff et al., 1998)92, animais domésticos e humanos (Xavier

et al.,2012)93. Em condições ambientais altamente favoráveis à transmissão da

doença.

Nos estados de Pará, Acre, Amapá e Amazonas veem sendo registrados um

aumento de casos de DCA, estando relacionados a via oral pela ingestão de

alimentos contaminados pelas fezes de insetos (Coura et al., 2002b; Xavier et al.,

2012)17,93. Reportes atuais confirmam a presença de infecção pelo Trypanosoma

cruzi III/Z3, variedade também silvestre e raramente associado com transmissão

para humanos; em surto por consumo de açaí registrado no município de Coari no

Rio Solimões no ano de 2007 (Monteiro et al., 2010)76.

A via oral predomina como forma mais frequente (Dias et a., 2011)94, porém,

não sendo a única via de transmissão existente na região (Ostermayer et al.,

2011)34. Observa-se uma prevalência baixa de pacientes sintomáticos onde se tem

isolado o Trypanosoma cruzi I (Guhl et al., 2011)95, pertencente ao ciclo silvestre

(Zingales et al., 2009; Añez et al., 2004)12,96.

Page 56: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

44

Em estudo realizado na RA por Grijalva et al., 200397 coletando 6866

amostras, foi achada uma prevalência geral de 2,4 % (sendo de 1,2% em menores

de 10 anos), sugerindo o padrão de doença endêmica associado com transmissão

ativa, porém ainda não verificada esta última hipótese.

Na Amazônia brasileira, particularmente nos município de Coari, Manaus e

Tefé, estado do Amazonas, em inquérito com 1263 amostras, os resultados apontam

para 1,9 % (Magalhães et al., 2011)21. Em Monte Negro, Rondônia, diminuiu para

1.2 % em 344 indivíduos pesquisados (Costa de Carvalho et al., 2011)98

Comparativamente, neste trabalho com 4540 amostras foi encontrada uma

magnitude de 4,5%, sendo muito semelhante com outros realizados na região; ainda

tendo em conta as diferentes metodologias usadas em trabalhos anteriores (Coura

et al.,1995; 2002a; Albajar [Tese], 2003a) 59,16,60.

Em relação a sua ocorrência pode-se considerara DC na RA, como doença

de baixa prevalência, onde as características sociodemográficas, vetores,

reservatórios e ecótopos variam de acordo com o local de pesquisa, modificando os

resultados dos mesmos.

Tendo em conta a IFI em papel de filtro utilizada como metodologia de

screening em Barcelos, esta apresentou vantagens frente às outras técnicas

ELISA(1),WB(2), principalmente no relacionado aos custos em materiais e

equipamentos de laboratório, contribuindo com o valor da pesquisa inicial.

Se comparada com outras pesquisas onde a metodologia de screening foi

aamostra sanguínea em papel de filtro e a confirmação de casos em sangue total;

esta pesquisa deu sorologia confirmatória positiva em 14% dos pacientes com

sorologia positiva em papel de filtro; em Roraima Luitgards-Moura et al. 2005(3) a

Page 57: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

45

soropositividade confirmatoria foi de 8% e no caso de Coari,Tefé (Estado do

Amazonas) em Magalhães et al. 2011(1) esta aumentou para um 44%.

Desta maneira, com as dificuldades para procurar às pessoas no seu

endereço após do processamento de amostras em papel de filtro (135/482 30%),

sugere-se a realização de testes em soro para screening com ELISA convencional, a

despeito do aumento do valor da pesquisa, a necessidade de pessoal treinado e a

padronização na técnica e kit utilizado.

Na confirmação sorológica observou-se o aumento da confirmação dos casos

por infecção chagásica com a utilização de três técnicas diferentes, isto poderia ser

explicado talvez pela utilização de misturas de antígenos características de cada tipo

de Tripanosoma e dependendo da fase da doença (aguda ou crônica), o que tornaria

o diagnóstico desta doença na RA, mais sensível e específico.

Sugere-se a utilização de kits de diagnóstico de rápido (Stat Pack®, Imbios®

e Lemos Path®) para serem utilizados na amazônia em posteriores estudos, onde

além das dificuldades técnicas e humanas de desenvolver pesquisas (Grijalva et al.,

2003)97 existem parasitas circulantes, diferentes dos isolados das áreas

consideradas endêmicas classicamente.

No reconhecimento do triatomíneo, pessoas leigas podem confundir as

diferentes espécies entre si e com outras espécies presentes na área de piaçabal do

tipo fitófago ou depredador, tais como o Eratyrus mucronatus, do qual um

colaborador local da equipe trouxe um exemplar, sendo levado ao laboratório de

entomologia da FMT AM-HVD e identificado como vetor provável e acidental da

infecção chagásica em outros estados da Amazônia legal (Meneguetti et al.,

2011)119.

Page 58: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

46

A transmissão de t. cruzi relacionada com a atividade de extração das fibras

da palmeira (L. piassaba), poderia estar afetando às famílias que entram no ecótopo

natural do vetor (R. brethesi), tanto dos homens como as de mulheres e crianças

possibilitando uma via alternativa da doença, a de transmissão vertical, e à ausência

de um vetor domiciliado sugeriria uma baixa prevalência.

Estudos anteriores acharam um risco aumentado entre a atividade laboral e a

ocorrência da doença em Barcelos com uma soropositividade 19,9 vezes mais

frequente nos trabalhadores do extrativismo em geral e de 10,4 vezes nas pessoas

dedicadas à extração da piaçaba (Brum-Soares, et al., 2010)62. As diferenças

poderiam ser explicadas pelo fato das anteriores pesquisas terem sido por meio de

busca ativa de casos. Neste trabalho exercer a atividade extrativista de piaçaba

aumentou em 2,3 vezes a possibilidade de adquirir a infecção, reforçando que a

Doença de Chagas é uma doença ocupacional.

Page 59: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

47

6 CONCLUSÔES

1. A ocorrência na população de estudo foi baixa (1.05%), porém, comparável

com outros dados na bibliografia e estudos realizados na mesma zona por

equipes anteriores, assim poderia considerar-se a doença de Chagas como

uma doença endêmica no médio e alto Rio Negro.

2. A atividade de extrativismo (em particular de extração de piaçaba) aumenta a

exposição a vetores silvestres infetados com o T.cruzi, nestes pacientes a

sorologia positiva foi maior, podendo a DC ser considerada como

ocupacional.

3. A presença de um grande número de piaçabeiros com endereço fixo em nível

urbano, se deslocando por períodos de tempo indefinido para a zona rural de

Barcelos (Piaçabais) e em certos casos levando com eles, suas famílias,

aumenta a capacidade de dispersão da doença.

Page 60: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

48

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Moncayo Á, Silveira AC. Current epidemiological trends for Chagas disease in

Latin America and future challenges in epidemiology, surveillance and health policy.

Mem Inst Osw Cruz 2009 104 (May):17-30.

2. Albajar P, Coura JR. Chagas disease : a new worldwide challenge. Nature,

outlooks 2010 (June):6-7.

3. Loup GL, Lescure F, Develoux M, Pialoux G. Maladie de Chagas : formes

cliniques et prise en charge en zone non endémique. Presse Med 2009 38 ;1654-

1666.

4. Rassi A e Marin-neto JA. Chagas disease. The Lancet 2010 375 (9723) :1388-

1402. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(10)60061-X.

5. Abad-Franch F, Santos WS, Schofield CJ. Research needs for Chagas disease

prevention. [Internet]. Acta tropica 2010 115(1-2):44-54. Available from:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20227378.

6. Develoux M, Lescure F, Loup GL, Pialoux G. Maladie de Chagas Chagas disease.

La Revue de Médecine Interne 2009 30. p 686-695.

7. Coura JR, Borges-Pereira J. Chagas disease : 100 years after its discovery. A

systemic review . Acta Tropica 2010 115, 5-13.

8. Brisse S, Barnabé C, Tibayrenc M. Identification of six Trypanosoma cruzi

phylogenetic lineages by random amplified polymorphic DNA and multilocus enzyme

electrophoresis. Int Journal for Parasitology 2000 30, 35–44.

9. Lewis MD, Ma J, Yeo M, Carrasco HJ, Llewellyn MS, Miles MA. Genotyping of

Trypanosoma cruzi : Systematic Selection of Assays Allowing Rapid and Accurate

Discrimination of All Known Lineages. Am Soc Trop Med Hyg 2009 81(6):1041-1049.

Page 61: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

49

10. Devera R, Fernandes O, Coura JR, Should Trypanosoma cruzi be Called “ cruzi ”

Complex ? A Review of the Parasite Diversity and the Potential of Selecting

Population after in Vitro Culturing and Mice Infection. Mem Inst Osw Cruz 2003

98(1):1-12.

11. Del Puerto R, Nishizawa JE, Kikuchi M, Iihoshi N, Roca Y, Avilas C, et al.

Lineage analysis of circulating Trypanosoma cruzi parasites and their association

with clinical forms of Chagas disease in Bolivia. [Internet]. PLoS neglected tropical

diseases. 2010 4(5):e687. Available

fromhttp://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=2872639&tool=pmcen

trez&rendertype=abstract.

12. Zingales B, Andrade SG, Briones MR, Campbell DA, Chiari E, Fernandes O, et

al. A new consensus for Trypanosoma cruzi intraspecific nomenclature: second

revision meeting recommends TcI to TcVI. [Internet]. Mem Inst Osw Cruz 2009

104(7):1051-4. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20027478.

13. Coura JR, Dias JC, Epidemiology, control and surveillance of Chagas disease:

100 years after its discovery. [Internet]. Mem Inst Osw Cruz 2009 104 Suppl (I):31-

40. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19753455.

14. Silveira AC. Situação do controle da transmissão vetorial da doença de Chagas

nas Américas Current situation with Chagas disease vector control in the Americas.

Cad. Saúde. Pub. 2000.16 (sup 2):35-42.

15. Rebelo JMM, Barros VLL, Mendes WA. Espécies de Triatominae ( Hemiptera :

Reduviidae ) do Estado do Maranhão , Brasil.Cad. Saúde Pub.1998.14(1):187-192.

16. Coura JR, Junqueira AC, Boia MN, Fernandes O, Bonfante C, Campos JE, et al.

Chagas disease in the Brazilian Amazon: IV. a new cross-sectional study. [Internet].

Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. 2002a ;44(3):159-

65.Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12163910.

Page 62: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

50

17. Coura JR, Junqueira AC, Fernandes O, Valente SA, Miles MA. Emerging Chagas

disease in Amazonian Brazil.Trends in Parasitology.2002b ;18(4):171-176.

18. Araújo CAC, Waniek PJ, Jansen AM. An Overview of Chagas Disease and the

Role of Triatomines on Its Distribution in Brazil.Annual Review of Microbiology.2009

;9(3).

19. Carvalho CD, Aristeu J, et al. Study on Chagas disease occurrence in the

municipality of Monte Negro, State of Rondônia, Brazilian Amazon. Rev. Soc. Bras.

Med. Trop. 2011 ;44(6):703-707.

20. Luitgards-Moura JF, Borges-Pereira J, Costa J, Zauza PL,Rosa-Freitas Maria

Goreti. On the possibility of autochthonous chagas disease in Roraima , Amazon

region , Brazil , 2000-2001. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo.2005 ;47(1):45-54.

21. Magalhães BML, Coelho LIARC, Maciel MG, et al. Serological survey for Chagas

disease in the rural areas of Manaus , Coari , and Tefé in the Western Brazilian .Rev.

Soc. Brás. Med.Trop. 2011 ;44(6):697-702.

22. Coura JR. Chagas disease : what is known and what is needed – A background

article. Mem. Inst. Osw. Cruz. 2007 ;102(supl I):113-122.

23. Bastos CJ, Aras R, Mota G, Reis F, Dias JP, et al. Clinical Outcomes of Thirteen

Patients with Acute Chagas Disease Acquired through Oral Transmission from Two

Urban Outbreaks in Northeastern Brazil. PLOS Neglected Tropical Diseases. 2010;

4(6):16-17.

24. Noya BA, Diaz-Bello Z, Colmenares C, Ruiz-guevara R, Mauriello L, Zavala-

Jaspe R, et al. Large Urban Outbreak of Orally Acquired Acute Chagas Disease at a

School in Caracas , Venezuela. The Journal of Infectious Diseases.2010

;201(9):1308-1315.

25. Pereira KS, Schmidt FL, Guaraldo AM, Franco RM, Dias VL, Passos LA, Chagas’

Disease as a Foodborne Illness.J. Food Prot., 2009 ;72(2):441-446.

Page 63: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

51

26. Rodriguez-Morales AJ. Letter Chagas disease : an emerging food-borne entity?.

J Infect Developing Countries. 2008 ; 2(2):149-150.

27. Forés R, Sanjuán I, Portero F, Ruiz E, Regidor C, López-Vélez R, et al. Chagas

disease in a recipient of cord blood transplantation. [Internet].Bone Marrow

Transplantation.2007 ;39:127-128. Available from:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17213850.

28. Altclas J, Sinagra A, Dictar M, Luna C, Verón MT, De Rissio AM, et al. Chagas

disease in bone marrow transplantation: an approach to preemptive therapy.

[Internet].Bone marrow transplantation.2005 ;36(2):123-9. Available from:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15908978.

29. Gascon J, Bern C, Pinazo MJ. Chagas disease in Spain , the United States and

other non-endemic countries. Acta Tropica.2010 ;115;22-27.

30. WHO. Consultation on International Biological Reference Preparations for

Chagas Diagnostic Tests, Geneva, 2-3 July. 2007.

31. Franco-Paredes C, Bottazzi ME, Hotez PJ. The Unfinished Public Health Agenda

of Chagas Disease in the Era of Globalization.PLOS Neglected Tropical

Diseases.2009 ;3(7):1-4.

32. Camargo ME, Silva GR, Castilho EA, Silveira AC. Inquérito sorológico da

prevalência da infecção chagásica no Brasil, 1975- 1980. Ver. Inst. Med. Trop. São

Paulo 1984; 26:192-204.

33. Vinhaes MC, Dias JC. Chagas disease in Brazil. Cadernos de saude publica

Ministerio da Saude Fund. Osw. Cruz. Escola Nacional de Saude Publica. 2000 ;16

Suppl 27-12.

34. Ostermayer, A. L., Passos, A. D. C., Silveira, A. C., Ferreira, A. W., Macedo, V.,

Prata, A. R. The National Survey of Seroprevalence for evaluation of the control of

Chagas Disease in Brazil (2001-2008). Soc. Bras. Med. Trop. 2011; v. 44: sup. II.

Page 64: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

52

35. Prata A. Clinical and epidemiological aspects of Chagas disease.[Internet].The

Lancet infectious diseases.2001 ;1(2):92-100.Available from:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16482811.

36. Amezcua-Vesely C, Montes CL, Merino C, Gehrau RC, Bermejo DA, Gruppi A, et

al. BAFF Mediates Splenic B Cell Response and Antibody Production in

Experimental Chagas Disease. Infection,2010. 4(5), 1-11.

37. Andrade ZA. Immunopathology of Chagas disease.[Internet]. Mem Inst Osw

Cruz. 1999;94 (I):71-80. Available from:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10677693.

38. Macêdo V. Indeterminate Form of Chagas Disease. Mem Inst Osw. Cruz.1999;

94(I): 311-316.

39. Fiuza JA, Fujiwara RT, Gomes JAS, Rocha MOC, Chaves AT, de Araújo FF, et

al. Profile of central and effector memory T cells in the progression of chronic human

chagas disease. [Internet]. PLoS Neglected Tropical Diseases. 2009

;3(9):e512.Available from:

http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=2729721&tool=pmcentrez

&rendertype=abstract.

40. Teixeira ARL, Nascimento RJ, Sturm NR. Evolution and pathology in Chagas

Disease - A Review.Mem.Inst. Osw. Cruz. 2006.101(5):463-491.

41. Muñoz MJ, Murcia L, Segovia M.The urgent need to develop new drugs and tools

for the treatment of Chagas disease.Expert Rev. Anti. Infect. Ther. 2011. 9(1), 5-7.

42. SVS, Ministério da saúde. Consenso Brasileiro em Doença de Chagas. Rev Soc.

Brás. Med. Trop, 2005; Vol. 38 : sup III.

Page 65: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

53

43. Gomes YM, Lorena VM, Luquetti AO. Diagnosis of Chagas disease : what has

been achieved ? What remains to be done with regard to diagnosis and follow up

studies ? .Mem Inst Osw Cruz.2009 ;104(I):115-121.

44. Murcia L, Carrilero B, Muñoz MJ, Iborra MA, Segovia M. Usefulness of PCR for

monitoring benznidazole response in patients with chronic Chagas' disease: a

prospective study in a non-disease-endemic country. [Internet].J Antimicrob

chemother.2010 ;65(8):1759-64.Available from:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20542903.

45. Umezawa ES, Stolf AMS, Corbett CE, Shikanai-Yasuda MA. Chagas ’ disease.

The Lancet.2001. Vol 357:797-799.

46. Oliveira MF. Nagao-dias AT, Pontes VMO, Junior ASS, et al. Tratamento

Etiológico da Doença de Chagas. Rev Pato Tropical.2008 ;37(3):209-228.

47. Ribeiro I, Sevcsik AM, Alves F, Diap G, Don R, Harhay MO, et al. New, improved

treatments for Chagas disease: from the R&D pipeline to the patients. [Internet].

PLoS neglected tropical diseases.2009;3(7):e484.Available from:

http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=2702098&tool=pmcentrez

&rendertype=abstract.

48. Lescure FX, Loup GL, Freilij H, Develoux M, Paris L, Brutus L, et al. Chagas

disease : changes in knowledge and management [Internet]. The Lancet Infectious

Diseases.2010 ;10(8):556-570.Available from: http://dx.doi.org/10.1016/S1473-

3099(10)70098-0.

49. Aragon LE, (Organizador). Populações da Pan-Amazônia. Belém(PA). Núcleo de

estudos amazônicos.2005.p 13-27.

50. Aguilar HM, Abad-Franch F, Dias JC, Junqueira AC, Coura JR. Chagas disease

in the Amazon region. Mem. Inst. Osw. Cruz. 2007;102(I): 47–55.

Page 66: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

54

51. Aragon, Luis E. (Org.) Conferencia Internacional Amazônia 21: Uma agenda para

um mundo sustentável. 1998. Brasília, DF; UNAMAZ/SCA. p 245-250.

52. Chagas C. Infection naturelle des singes du Pará (Crysotrix, sciureus) par

Trypanosoma cruzi. C R Seances Soc Biol Fil 1924; 90:873-6 apud Briceño-León R.

Chagas disease and globalization of the Amazon.Cad Saúde Publica. 2007;23

(I):s33-s40.

53. Floch H, Tasque P 1941. Un cas de maladie de Chagas en Guyane Française.

Bull Soc Path Exot 40: 36-37. Apud. Coura JR, Junqueira AC.Risks of endemicity,

morbidity and perspectives regarding the control of Chagas disease in the Amazon

Region. 2012 ;107(March):145-154.

54. Deane, LM. Inquérito de Toxoplasmose e de Tripanosomiase realizado em

Cachoeira do Arari, Ilha de Marajo, Pará, pela V Bandeira Cientifica do Centro

Acadêmico Oswaldo Cruz da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Revista de Medicina,1964c, v. 48, p. 107-116. Apud. Coura JR, Junqueira AC. Risks

of endemicity, morbidity and perspectives regarding the control of Chagas disease in

the Amazon Region. 2012 ;107(March):145-154.

55. Shaw J, Lainson R, Fraiha H 1969. Considerações sobre a epidemiolo- gia dos

primeiros casos autóctones de doença de Chagas registra- dos em Belém, Pará,

Brasil. Rev Saude Publica 3: 153-157.Apud. Coura JR, Junqueira AC. Risks of

endemicity, morbidity and perspectives regarding the control of Chagas disease in

the Amazon Region. 2012 ;107(March):145-154.

56. Fernandez HB, Enfermedad de Chagas en áreas de baja prevalencia. in Curso

de Diagnóstico , Manejo e tratamento de enfermidade de Chagas. OPS/MSF/SSA.

2005 p 205-212. Disponível em. http:www.mex.ops-

oms.org/documentos/chagas/capítulo%202.pdf.

57. Silveira AC e Passos ADC. - Altos índices de prevalência sorológica de infecção

chagásica em área da Amazônia. Rev. Soc. bras. Med. trop. 1986; 19 (supl.): 45.

Page 67: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

55

58. Coura JR, Junqueira ACV, Giordano CM, Funatsu IRK. Chagas`disease in the

Brazilian Amazon. I. A short review. Rev. Inst. Med. Trop. S Paulo.1994a;36:363-

368.

59. Coura JR, Naranjo MA, Willcox HPF. Chagas´disease in the Brazilian Amazon. II.

A serological survey. Rev. Inst. Med. Trop. S Paulo.1995.37(2): 103-107.

60. Albajar P. Emergência da infecção chagásica humana em áreas do rio Negro,

Estado do Amazonas, Tese [Doutorado em Biologia parasitaria], FIOCRUZ, Rio de

Janeiro, 2003a.

61. Albajar P, Laredo SV, Terrazas MB, Coura JR. Miocardiopatia dilatada em

pacientes com infecção chagásica crônica. Relato de dois casos fatais autóctones do

Rio Negro, Estado do Amazonas. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2003b. 36, 401–407.

62. Brum-Soares LM, Xavier SS, Sousa AS, Borges-Pereira J, Bemfica JM, Ferreira

B, et al. Morbidade da doença de Chagas em pacientes autóctones da microrregião

do Rio Negro, Estado do Amazonas.Rev. Soc. Brás. Med. Trop. 2010; 43(2):170-

177.

63. Guhl F e Schofield CJ, Proceedings of the ECLAT-AMCHA International

Workshop on Chagas Disease Surveillance in the Amazon Region, Palmari, Brazil.

2004. CIMPAT, Universidad de los Andes, Bogotá - Colombia, 162 pp.

64. Miles MA, Povoa MM, de Souza AA, Lainson R, Shaw JJ, Ketteridge DS. Chagas

disease in the Amazon Basin: II. The distribution of Trypanosoma cruzi zymodemes 1

and 3 in Pará State, north Brazil.Trans. R. Soc. Trop. Med. Hyg.1981a:75, 667–674.

65. Fraiha NH; Valente SAS, Valente VC, Pinto AYN. Doença de Chagas - Endêmica

na Amazônia? .Anais da Academia do Pará, Belém.1995; 6:53-57.

66. Valente VC, Valente SA, Noireau F, Carrasco HJ, Miles MA. Chagas disease in

the Amazon Basin: association of Panstrongylus geniculatus (Hemiptera:

Reduviidae) with domestic pigs. J. Med. Entomol.1998; 35, 99–103.

Page 68: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

56

67. Valente SAS, Leão RQ. Valente VC, Pinto AYN. Crescente JAB, et al.

Microepidemia familiar com 11 casos de doença de Chagas em Abaetetuba, Estado

do Pará com suspeita de transmissão oral. 1999a; 31, 83-84.

68. Valente SAS, Valente, VC, Fraiha Neto H. Considerations on the epidemiology of

Chagas Disease in the Brazilian Amazon.Mem. Inst. Osw. Cruz.1999b ;94, 395–398.

69. Valente SAS, Pimentel PS, Valente VC, Pinto AY, et al. Microepidemia familiar

de doença de Chagas em Santarém, primeiro registro no Oeste do Pará. Ver. Soc.

Brás. Med. Tropical. 2001; 34,19-20.

70. Valente VC, Valente SAS, Pinto AYN. Microepidemia com 10 casos de doença

de Chagas em Ponta de Pedras Região do Marajó, Pará com suspeita de

transmissão oral. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2002, v. 35,

p. 164.

71. Pinto AY, Valente SAS, Valente VC, Emerging acute Chagas disease in

Amazonian Brazil: case reports with serious cardiac involvement. Braz. J. Infect. Dis.

2004; 8, 454–460.

72. Xavier SS, Sousa AS, Viñas PA, Junqueira AC, Bóia MN, Coura JR. Chronic

chagasic cardiopathy in the Rio Negro, Amazon State. Report of three new

autochthonous cases confirmed by serology, clinical examination, chest X- rays,

electro and echocardiography.Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2006; 39, 211–216.

73. Bóia MN, Da Motta LP, Salazar MSP, Mutis MPS, Coutinho RBA, Coura JR,

Estudo das parasitoses intestinais e da infecção chagásica no Município de Novo

Airão, Estado do Amazonas, Brasil.Cad. Saúde Pública.1999.15(3):497-504.

74. Ferreira JMBB, Guerra JAO, Barbosa MGV. Aneurisma ventricular em paciente

chagásico crônico da Amazônia brasileira. Ver Soc. Brás. Med. Trop.

2009;42(4):474-475.

Page 69: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

57

75. Medeiros MB, Guerra JAO, Lacerda MVG. Meningoencefalite em paciente com

doença de Chagas aguda na Amazônia Brasileira. Soc. Brás. Med. Trop.

2008;41(5):520-521.

76. Monteiro WM, Magalhães LK, Santana FK, Borborema M. Short Communication

Trypanosoma cruzi TcIII ⁄ Z3 genotype as agent of an outbreak of Chagas disease in

the Brazilian Western Amazonia. Tropical Medicine and International Health.

2010;15(9):1049-1051.

77. Magalhães, B. M. L. et al. Serological survey for Chagas disease in the rural

areas of Manaus, Coari, and Tefe in the Western Brazilian Amazon. Rev. Soc. Bras.

Med. Trop. [online]. 2011, vol.44, n.6 [cited 2012-06-11], pp. 697-702.Available

from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-

86822011000600009&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0037-8682.

http://dx.doi.org/10.1590/S0037-86822011000600009.

78. Wallace AR. Viagens pelos Rios Amazonas e Negro. Tradução Eugenio Amado.

Ed. Itatiaia; São Paulo. 1979. p 317.

79. Santos-Mallet JR, Junqueira ACV, Moreira CJC, Andrade Z et al.

Morphobiological aspects of Rhodnius brethesi Matta , 1919 ( Hemiptera :

Reduviidae ) from the Upper and Middle Negro River , Amazon region of Brazil . I -

Scanning electron microscopy. 2005 ;100(8):915-923.

80. Ferraroni JJ, Melo JAN, Camargo ME, Moléstia de Chagas na Amazônia.

Ocorrência de seis casos suspeitos, autóctones, sorologicamente positivos. Acta

Amazônica (Manaus) 1977; 7: 438-440.

81. Souza MZM, Miranda IKF. Souza AAA, et al. - Caso humano de infecção mista

por Trypanosoma cruzi e organismos tipo Trypanosoma rangeli procedente de

Barcelos, Rio Negro, Amazonas. In: Congreso da Sociedade Brasileira de Medicina

Tropical, 21, São Paulo, 1985. Resumos. p. 44 .

Page 70: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

58

82. Carmo, EH; Barreto, ML; Silva JR, et al. Mudanças nos padrões de

morbimortalidade da população brasileira: os desafios para um novo século.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 12, n. 2, jun. 2003 . Disponível em

<http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167949742003000200

002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 24 jun. 2012. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-

49742003000200002.

83. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades@. Rio de Janeiro: Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística; 2010. disponível

em:http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1.

84. Oliete JI, Piaçabeiros e piaçaba no médio rio Negro (Amazonas, Brasil),

socioeconomia da atividade extrativista e ecologia da Leopoldinia piassaba,

Dissertação em Biologia Tropical e Recursos Naturais. INPA/UFAM, Manaus, 2008.

85. Da Silva, AL. Comida de gente: preferências e tabus alimentares entre os

ribeirinhos do Médio Rio Negro (Amazonas, Brasil). Revista de Antropologia. São

Paulo. Universidade de São Paulo 2007, v. 50 n 1.

86. Camargo ME. Fluorescent antibody test for the serodiagnosis of American

trypanosomiasis, Technical modification employing preserved cultures forms of

Trypanosoma cruzi in a slide test. Rev. Inst. Med. Trop. Sao Paulo.1966. 8: 227-234.

87. Borges-Pereira J, Adail J, Castro FD, Gonçalves A, Lago P, Bulhões TP, et al.

Soroprevalência da infecção chagásica no Estado do Piauí, 2002. Revi. Soc. Brás.

Med. Trop. 2006; 39(6):530-539.

88. Alvarez M, Rissio AM, Martini GJW, Orrego LA, Cerisola JA. Recolección de

sangre en papel para diagnóstico de infección chagásica por imunofluorescencia.

Bol. Chil. Parasitol 1971 26: 2-6.

89. WHO. Control of Chagas Disease. Technical Report Series 811, Geneva. 1991.

Page 71: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

59

90. Suarez-Mutis, MC e Coura, JR. Mudanças no padrão epidemiológico da malária

em área rural do médio Rio Negro, Amazônia brasileira: análise retrospectiva.

Cad.Saúde Pública [online]. 2007, vol.23, n.4 [cited 2012-04-05], pp. 795-804 .

Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-.

91. Rocha, DS; Dos Santos, CM; Cunha, V; et al. Ciclo Biológico em Laboratório de

Rhodnius brethesi Matta, 1919 (Hemiptera, Reduviidae, Triatominae), Potencial

Vetor Silvestre da Doença de Chagas na Amazônia. Mem. Inst. Osw. Cruz.

2004.Oct. Vol. 99(6): 591-595.

92. Naiff, MdF. Naiff, RD. Barret, TV. Vetores selváticos da doença de Chagas na

área urbana de Manaus (AM): atividade de voo nas estações secas e chuvosas. Rev

Soc Bras Med Trop 1998 31 (1): 103-105, jan-fev.

93. Xavier, SCdC. Roque, ALR. Lima, VdS. Monteiro, KJL. Otaviano, JCR. Silva,

LFCF.Jansen, AM. Lower Richness of Small Wild Mammal Species and Chagas

Disease Risk. Risk. PLoS Negl Trop Dis 6(5): 2012. e1647.

doi:10.1371/journal.pntd.0001647.

94. Dias, JCP. Neto, VC e Luna, EJdeA. Mecanismos alternativos de transmissão do

Trypanosoma cruzi no Brasil e sugestões para sua prevenção. Rev Soc Bras Med

Trop.44(3):375-379, mai-jun,2011.

95. Guhl, F. Ramirez, JD. Trypanosoma cruzi I diversity: Towards th need of genetic

subdivision?.Acta Tropica. 119: 1-4. 2011. Em doi:10.1016/j.actatropica.2011.04.002.

96. Añez. N; Crisante. G; et al., Predominance of lineage I among Trypanosoma

cruzi isolates from Venezuelan patients with differente clinical profiles of acute

Chagas´ disease. Trop. Med. Int. Health: 2004. Dec. Vol (9) No 12 Pags 1319-1326.

97. Grijalva MJ, Escalante L, Paredes RA, Costales JA, Padilla A, Rowland EC, et al.

Seroprevalence and risk factors for trypanosoma cruzi infection in the amazon region

of ecuador. Am.J.Trop.Med.Hyg. 2003 ;69(4):380-385.

Page 72: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

60

98. Costa de Carvalho, EO. Rosa, JÁ. Carvalho, AA. Chaves, HCO. et al. Study on

Chagas disease occurrence in the municipality of Monte Negro, State of Rondônia,

Brazilian Amazon. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2011 44(6):703-707, Nov-dez.

99. Meneguetti,DUO. Trevisan, O. Rosa, RM. Camargo,LMA.First report of Eratyrus

mucronatus, Stal, 1859, (Hemiptera, Reduviidae, Triatominae), in the State of

Rondônia,Brazil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop 2011 44(4):511-512, jul-ago.

Page 73: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

61

ANEXO A

Ficha epidemiológica

Page 74: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

62

ANEXO B

Page 75: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE … · 1.1.7 Etiopatogênia e manifestações clínicas 9 . 1.1.8 Diagnóstico laboratorial e tratamento 11 . 1.2 Região Amazônica

63

ANEXO C

Trabalhos com a população humana

O estudo obedeceu aos princípios éticos contidos nas diretrizes da resolução 196/96

do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos. O

estudo foi considerado de risco mínimo, tendo sido identificados como

potencialmente importantes os riscos advindos das complicações das punções

digital-venosas e aqueles relacionados com sigilo e confidencialidade das

informações prestadas. Todos os participantes da pesquisa foram previamente

informados sobre os objetivos, riscos e benefícios, individuais e coletivos, advindos

de sua participação no estudo, tendo os mesmos em aceitar em participar e

assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo C). Os

indivíduos identificados como infectados mediante confirmação sorológica serão

referenciados para acompanhamento na SEMSA Barcelos para inicio de tratamento

antiparasitário e avaliação médica correspondente.

Este trabalho forma parte de um estudo maior denominado “ Estudo Evolutivo da

doença de Chagas e dos fatores determinantes de sua morbidade em áreas da

microrregião do Rio Negro, Estado do Amazonas” aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa do Instituto de Pesquisas Clinicas Evandro Chagas, FIOCRUZ/RJ com

Numero 0019.0.009.000-07 conduzido e coordenado pelo Prof. Dr. Jose Rodrigues

Coura.