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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL
SIENNE CUNHA DE OLIVEIRA
RESPONSABILIDADE ESTATAL POR DANOS AO MEIO AMBIENTE DO
TRABALHO DO PROFESSOR: O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO NA REDE
ESTADUAL DE ENSINO NA CIDADE DE MANAUS
MANAUS
2016
SIENNE CUNHA DE OLIVEIRA
RESPONSABILIDADE ESTATAL POR DANOS AO MEIO AMBIENTE DO
TRABALHO DO PROFESSOR: O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO NA REDE
ESTADUAL DE ENSINO NA CIDADE DE MANAUS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Direito Ambiental da
Universidade do Estado do Amazonas, como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Direito Ambiental.
Linha de Pesquisa: Dano ao Meio Ambiente
do Trabalho.
ORIENTADOR: Prof. Dr. Sandro Nahmias
Melo
MANAUS
2016
SIENNE CUNHA DE OLIVEIRA
Responsabilidade Estatal por danos ao meio ambiente do trabalho do professor: O ensino
fundamental e médio na rede estadual de ensino na cidade de Manaus
Dissertação aprovada pelo Programa de Pós-
Graduação em Direito Ambiental da
Universidade do Estado do Amazonas pela
Comissão Julgadora abaixo identificada.
Manaus, 23 de agosto de 2016.
_________________________________________
Presidente: Professor Dr. Sandro Nahmias Melo
Universidade do Estado do Amazonas
_________________________________________
Membro: Professor Dr. Erivaldo Cavalcanti e Silva Filho
Universidade do Estado do Amazonas
_________________________________________
Membro: Professor Dr. Sebastião Marcelice Gomes
Universidade Federal do Amazonas
Ao meu Pai Celestial, toda honra e toda glória a ti, pai
amado, pelas oportunidades que me tens concedido de
novas conquistas e de poder ajudar o semelhante de
alguma maneira.
AGRADECIMENTOS
Agradeço de todo meu coração a Deus - que palavras poderiam brotar de meus
lábios para demonstrar o meu agradecimento e minha alegria por honrar minha fé. Foram
tantas bênçãos recebidas e muitos livramentos que fizeste durante toda minha caminhada no
mestrado, confesso que não foi fácil, em alguns momentos tive desânimo, mas o Senhor
renovou minhas forças. Por tudo que sou e tenho, por tua infinita misericórdia em minha vida,
por seu amor que é sem limites, te rendo graças, SENHOR, e hoje prostrada aos Teus pés só
tenho muito a agradecê-Lo meu amado PAI celestial.
A Rosumiro Trindade Junior, meu amado esposo, pela paciência e incentivo, a
meus filhos, Samir, Saulo e Selton pelo carinho e estímulo, a minha neta Sara, pelos
beijinhos e abraços.
Agradeço, imensamente aos professores que foram membros da banca de seleção
para o mestrado em Direito Ambiental do ano de 2014, Prof. Dr. Erivaldo Cavalcanti e Silva
Filho, Prof. Maria Nazareth da Penha Vasques Mota e Prof. Dr. Edson Damas,
instrumentos usados por Deus para abençoar minha aprovação.
Ao meu orientador Professor Dr. Sandro Nahmias Melo pelas pertinentes
considerações ao trabalho.
A todos os maravilhosos e competentes professores, do mestrado da Universidades
do Estado do Amazonas – Programa de Pós-graduação em Direito Ambiental, que tive a
honra de ter para aprimorar meus conhecimentos.
A Seduc/Am na pessoa da gestora da E. E. Ruy Araújo, Francinete Serrão do
Nascimento, pelo apoio em todos os momentos durante minha caminhada no mestrado.
Aos docentes que se permitiram fazer parte desse estudo, por fornecer dados
preciosos que fundamentaram este trabalho e que sonham em ter um meio ambiente de
trabalho digno.
Aos colegas da turma de 2014 do mestrado que tive a honra de conhecer e que se
solidarizaram ao longo dessa jornada, pelo salutar convívio, bem como pelas inestimáveis
trocas de experiências e conhecimentos.
Enfim, a todos que por algum momento contribuíram direta ou indiretamente para a
realização deste trabalho que fiz com muito orgulho e amor...
Muito obrigada!!!
“Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel; eles
ajudarão a experimentar a sabedoria e a disciplina; a
compreender as palavras que dão entendimento; a viver
com disciplina e sensatez, fazendo o que é justo, direito e
correto; ajudarão a dar prudência aos inexperientes e
conhecimentos e bom senso aos jovens. Se o sábio lhes
der ouvidos, aumentará o seu conhecimento, e quem tem
discernimento obterá orientação. Para entender os
provérbios e sua interpretação; as palavras dos sábios e os
seus enigmas. O temor do Senhor é o princípio do
conhecimento; os insensatos desprezam a sabedoria e a
instrução.”
(Provérbios 1:1-7)
RESUMO
O mal-estar docente é um fato real e complexo que é proveniente de múltiplas situações,
como: problemas emocionais, psíquicos, orgânicos e situacionais que estão relacionados ao
meio ambiente laboral inadequado, essa problemática ambiental contemporânea revela o
descaso com o meio ambiente do trabalho do professor em nível nacional e internacional. A
presente dissertação tem como tema a responsabilidade estatal por danos ao meio ambiente do
trabalho do professor do ensino fundamental e médio na rede estadual de ensino na cidade de
Manaus. Seu objetivo foi analisar as causas do mal-estar docente do professor da rede pública
de ensino da cidade de Manaus relacionando-as a responsabilidade estatal. Adotou-se a
pesquisa teórica-bibliográfica, consolidando-se com a pesquisa quali-quantitativa, fez-se uso
do conhecimento bibliográfico, utilizando-se para o seu desenvolvimento obras já publicadas
como: teses jurídicas, jurisprudências, artigos, dissertações, revistas, livros e os sites
especializados, enfocando multidisciplinarmente, de forma mais intensa, o Direito Ambiental,
o Direito Ambiental do Trabalho, Direito Constitucional, Consolidação das Leis Trabalhistas,
Leis infraconstitucionais e específicas, além das outras áreas multidisciplinares, como obras
da Ciência da Saúde. Quanto aos meios para obter-se as informações utilizou-se tanto a
pesquisa bibliográfica quanto a pesquisa de campo. O resultado da pesquisa de campo trouxe
a confirmação que os professores da SEDUC/Am da cidade de Manaus possuem diversas
doenças ocupacionais provenientes de riscos biológicos, físicos, químicos, psíquicos e
ergonômicos adquiridos em seu meio ambiente laboral, e com isso as causas de absenteísmo
do professor do ensino médio e fundamental da rede estadual de ensino da cidade de Manaus
é elevado. Esse resultado confirma que um “bem” ambiental está sendo infligido e o poder
público está inerte na aplicação das sanções pertinentes, pois a legislação brasileira rege que
quando ocorre dano ambiental a responsabilidade é objetiva e deve ser indenizado a vítima ou
a coletividade lesada, segundo a interpretação sistemática e teleológica do § 3º do art. 225, §
6º e caput do art. 37 da CF/88, § 1º do art. 14 da Lei nº 6.938/81 e o parágrafo único do art.
927 do Código Civil. Assim, mesmo com existência de leis subsidiando os professores,
nenhuma delas trazem leis específicas de promoção a higidez de seu ambiente de trabalho,
bem como o reconhecimento de suas doenças ocupacionais adquiridas em seu meio ambiente
laboral ou em razão dele. Urge, que não se olvide, assim, o reconhecimento de um meio
ambiente sadio para os profissionais que se dedicam ao trabalho intelectual.
Palavras-chave: Meio Ambiente do Trabalho. Danos Ambientais. Doenças Ocupacionais do
Professor. Responsabilidade Estatal.
RESUMEN
El malestar docente es un hecho y compleja que viene de muchas situaciones, tales como
problemas emocionales, psicológicos, orgánicos y de situación que están relacionados con el
ambiente de trabajo apropiado, estos temas ambientales contemporáneos revela el descuido
del medio ambiente de trabajo maestro a nivel nacional e internacional. Esta tesis está sujeto a
la responsabilidad del Estado por los daños al medio ambiente de trabajo de la maestra de
escuela intermedia y secundaria en las escuelas públicas en la ciudad de Manaus. Su objetivo
fue analizar las causas del malestar docente de las escuelas públicas de maestros en la ciudad
de Manaus relacionándolos con la responsabilidad del Estado. Se hizo la literatura teórica y la
consolidación de la investigación cualitativa y cuantitativa se adoptó el uso del conocimiento
bibliográfico, utilizando para su desarrollo publicó obras como legales doctrina, la
jurisprudencia, artículos, disertaciones, revistas, libros y sitios especializados, centrándose en
multidisciplinaria, con mayor intensidad, Derecho Ambiental, legislación Ambiental, Derecho
Constitucional, Consolidación de las leyes del Trabajo, infra y leyes específicas, además de
otras áreas multidisciplinares, como obras de Ciencias de la Salud. el los medios para obtener
la información se utilizó tanto en la literatura como un campo de investigación. El resultado
de la investigación de campo trajo la confirmación de que los maestros SEDUC / AM de
Manaus tienen varias enfermedades profesionales de biológicos, físicos, químicos,
psicológicos y ergonómico adquirida en su medio ambiente de trabajo, y que las causas de
absentismo media maestro y la escuela primaria en los colegios públicos de la ciudad de
Manaus es alta. Este resultado confirma que un "buen" medio ambiente está siendo infligido y
el gobierno es inerte en la aplicación de las sanciones pertinentes, porque la ley brasileña
regula que cuando hay responsabilidad de los daños ambientales es objetiva y debe ser
indemnizado a la víctima o la colectividad heridos, de acuerdo interpretación sistemática y
teleológica del § 3 del art. 225, § 6 y el primer párrafo del art. 37 CF / 88, § 1 del art. 14 de la
Ley Nº 6.938 / 81 y el párrafo único del art. 927 del Código Civil. Así que incluso con la
existencia de leyes que subvencionan los profesores, ninguno de ellos que las leyes
específicas de promoción de la salubridad de su escritorio, así como el reconocimiento de sus
enfermedades profesionales adquiridas en su lugar de trabajo o medio a causa de ella. Instar a
que no se ha olvidado de este modo el reconocimiento de un ambiente saludable para los
profesionales que se dedican al trabajo intelectual.
Palabras clave: Medio Ambiente Medio de Trabajo. Daños al Medio Ambiente. Los Maestros
Enfermedades Derivadas del Trabajo. La Responsabilidad del Estado.
LISTAS DE FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Motivo dos afastamentos de professores da rede paulista comparado à sua
incidência na população.........................................................................................85
Figura 2 – Acústica arquitetônica adequada para a sala dos professores.............................110
Figura 3 – Resultado da Síndrome de Burnout – Sintomas físicos nas escolas públicas
estaduais de Manaus dos níveis fundamental e médio......................................125
Figura 4 – Resultado da Síndrome de Burnout – Sintomas psíquicos - escolas públicas
estaduais de Manaus dos níveis fundamental e médio.......................................128
Figura 5 – LER ou DORT – Síndrome do túnel de carpo (parte das mãos).........................131
Figura 6 – LER ou DORT – Síndrome do manguito rotativo (parte do ombro)..................131
Figura 7 – LER ou DORT – Epicondicites (região lateral do cotovelo)...............................132
Figura 8 – LER ou DORT – Bursites (doença no ombro) ..................................................132
Figura 9 – LER ou DORT – Renites....................................................................................133
Figura 10 – LER ou DORT – Sinusites..................................................................................134
Figura 11 – LER ou DORT – Faringites crônicas..................................................................135
Figura 12 – LER ou DORT – Lombalgia (ou dor lombar baixa) ..........................................135
Figura 13 – Frequências das principais LER e DORT relatadas pelos docentes das escolas
públicas estaduais de Manaus dos níveis fundamental e médio.......................136
Figura 14 – Resultado das Doenças da Voz – escolas públicas estaduais de Manaus dos
níveis fundamental e médio..............................................................................141
Figura 15 – Resultado das Doenças Psíquicas das escolas públicas estaduais de Manaus dos
níveis fundamental e médio..............................................................................143
Figura 16 – Panorama dos níveis de doenças ocupacionais dos docentes das escolas públicas
estaduais de Manaus dos níveis fundamental e médio....................................145
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Principais legislações – Direitos do Trabalho dos professores da rede privada e
pública..................................................................................................................73
Quadro 2 – Alguns artigos da CLT direcionados aos direitos dos professores, inclusive os
específicos sobre o ofício do professor (317 a 323)............................................76
Quadro 3 – L ei de Diretrizes e Base da Educação (LDB) 9.394/96......................................78
Quadro 4 – Principais legislações – Meio Ambiente do Trabalho.........................................79
Quadro 5 – Conceitos das principais doenças do meio ambiente laboral do professor..........88
Quadro 6 – Quantitativo de escolas por coordenadoria distrital de educação da rede pública
estadual de Manaus/2016.....................................................................................99
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Doenças diagnósticas dos professores paulistas..................................................86
Tabela 2 – Acidentes do trabalho no Brasil – Dados oficiais – período 2010 a 2013...........90
Tabela 3 – Acidentes de Trabalho com e sem CAT registrados no Brasil- período 2010 a
2013.....................................................................................................................90
Tabela 4 – Excluídos do mundo do trabalho no Brasil por acidente do Trabalho ou doença
ocupacional período 2010 a 2013........................................................................90
Tabela 5 – Sociodemográficos e profissionais – Distribuição dos docentes quanto ao
gênero.................................................................................................................102
Tabela 6 – Sociodemográficos e profissionais – Distribuição dos docentes quanto sua média
da faixa etária.....................................................................................................103
Tabela 7 – Sociodemográficos e profissionais – Distribuição dos docentes quanto a média
do grau de escolaridade dos docentes................................................................104
Tabela 8 – Sociodemográficos e profissionais – Distribuição dos docentes quanto a média
de tempo de serviço na docência.......................................................................105
Tabela 9 – Sociodemográficos e profissionais – Distribuição dos docentes quanto a média
de tempo de serviço na atual escola...................................................................105
Tabela 10 – Sociodemográficos e profissionais – Distribuição dos docentes quanto a média
da jornada de trabalho........................................................................................106
Tabela 11 – Sociodemográficos e profissionais – Distribuição dos docentes quanto ao
Distribuição dos docentes quanto ao vínculo no trabalho.................................106
Tabela 12 – Condições Ergonômicas – Boas condições físicas (móveis e instrumentos) de
trabalho nas escolas públicas estaduais de Manaus dos níveis fundamental e
médio.................................................................................................................108
Tabela 13 – Condições Ergonômicas – Em relação ao ruído, como você classificaria o
seu ambiente de trabalho?..................................................................................108
Tabela 14 – Condições Ergonômicas – Em relação à agradabilidade do conforto térmico
(temperatura) como você classificaria o seu ambiente de trabalho?..................109
Tabela 15 – Condições Ergonômicas – Em relação as condições ergonômicas do seu ambiente
de trabalho contribuem para que você tenha estresse ocupacional?...................109
Tabela 16 – Condições Ergonômicas – A sala de aula possui acústica?.............................109
Tabela 17 – Condições Ergonômicas – A sala de aula possui os recursos pedagógicos
e multimídia, quais?...........................................................................................110
Tabela 18 – Situações Funcionais – Carga horária de trabalho dos professores................111
Tabela 19 – Situações Funcionais – Falta de material de apoio didático-pedagógico.......112
Tabela 20 – Situações Funcionais – Superlotação das salas ..............................................113
Tabela 21 – Situações Funcionais – Desvalorização do professor .....................................113
Tabela 22 – Situações Funcionais – Formação continuada dos professores.......................114
Tabela 23 – Situações Funcionais – Reajuste salarial dos professores...............................115
Tabela 24 – Situações Funcionais – Modernização tecnológica ........................................116
Tabela 25 – Situações Funcionais – Ritmo acelerado de trabalho .....................................116
Tabela 26 – Situações Funcionais – Barulho constante no ambiente de trabalho...............117
Tabela 27 – Situações Funcionais – Ambiente fechado com má circulação de ar .............118
Tabela 28 – Situações Funcionais – Fica muito tempo em pé?...........................................118
Tabela 29 – Doenças Ocupacionais – Você já foi acometido por alguma doença
ocupacional?....................................................................................................119
Tabela 30 – Doenças Ocupacionais – Você já trabalhou doente?.......................................119
Tabela 31 – Doenças Ocupacionais – Você tem oportunidade de atividade de lazer e
descanso?...........................................................................................................120
Tabela 32 – Doenças Ocupacionais – Você sente algum tipo de cansaço?.........................120
Tabela 33 – Doenças Ocupacionais – Você trabalha em um ambiente de trabalho
saudável?.........................................................................................................120
Tabela 34 – Doenças Ocupacionais – Você possui plano de saúde particular?...................121
Tabela 35 – Doenças Ocupacionais – Síndrome de Burnout – Dores de cabeça
constante............................................................................................................123
Tabela 36 – Doenças Ocupacionais – Síndrome de Burnout – Tonturas.............................123
Tabela 37 – Doenças Ocupacionais – Síndrome de Burnout – Alterações do sono............123
Tabela 38 – Doenças Ocupacionais – Síndrome de Burnout – Problemas digestivos.........124
Tabela 39 – Doenças Ocupacionais – Síndrome de Burnout – Faltas de ar........................124
Tabela 40 – Doenças Ocupacionais – Síndrome de Burnout - Excesso de cansaço............125
Tabela 41 – Doenças Ocupacionais – Síndrome de Burnout – Ansiedade.........................127
Tabela 42 – Doenças Ocupacionais – Síndrome de Burnout – Dificuldade em concentrar-
se......................................................................................................................127
Tabela 43 – Doenças Ocupacionais – Síndrome de Burnout – Variações de humor...........127
Tabela 44 – Síndrome de Burnout – Perda de motivação no emprego................................128
Tabela 45 – Síndrome de Burnout – Ficar isolado dos colegas de trabalho........................128
Tabela 46 – LER ou DORT – Postura inadequada..............................................................130
Tabela 47 – LER ou DORT – Excesso no trabalho..............................................................130
Tabela 48 – LER ou DORT – Síndrome do túnel de carpo (parte das mãos)......................130
Tabela 49 – LER ou DORT – Síndrome do manguito rotatório (parte do ombro).............131
Tabela 50 – LER ou DORT – Epicondicites (região lateral do cotovelo)...........................132
Tabela 51 – LER ou DORT – Bursites (doença no ombro)................................................132
Tabela 52 – LER ou DORT – Tendinites (doença no ombro).............................................133
Tabela 53 – LER ou DORT – Rinites.................................................................................133
Tabela 54 – LER ou DORT – Sinusites...............................................................................134
Tabela 55 – LER ou DORT – Faringites crônicas..............................................................134
Tabela 56 – LER ou DORT – Alergias...............................................................................135
Tabela 57 – LER ou DORT – Lombalgia (ou dor lombar baixa).........................................135
Tabela 58 – Doença da Voz – Rouquidão com mais de 10 dias..........................................140
Tabela 59 – Doença da Voz – Nódulos................................................................................140
Tabela 60 – Doença da Voz – Pólipos ................................................................................140
Tabela 61 – Doença da Voz – Edemas nas pregas vocais....................................................141
Tabela 62 – Doença da Voz – Câncer..................................................................................141
Tabela 63 – Doenças Psíquicas – Estresse Ocupacional......................................................142
Tabela 64 – Doenças Psíquicas – Ansiedade.......................................................................143
Tabela 65 – Doenças Psíquicas – Depressão........................................................................143
Tabela 66 – Doenças Psíquicas – Síndrome do pânico........................................................143
Tabela 67 – Situações de riscos – Constrangimento por não acompanhar as inovações
tecnológicas.....................................................................................................147
Tabela 68 – Situações de riscos – Ritmo de trabalho intenso..............................................147
Tabela 69 – Situações de riscos – Violência física ............................................................147
Tabela 70 – Situações de riscos – Violência verbal.............................................................148
Tabela 71 – Situações de riscos – Assédio moral.................................................................148
Tabela 72 – Situações de riscos – Assédio sexual................................................................148
Tabela 73 – Direitos – Você já teve algum afastamento médico por doença......................150
Tabela 74 – Direitos –Tirou várias licenças e foi readaptado(a). Qual foi a doença que o(a)
levou a readaptação? .........................................................................................151
Tabela 75 – Direitos – Você ajuizou alguma ação judicial contra o Estado pelo motivo de
doenças ocupacionais? ......................................................................................151
Tabela 76 – Direitos – Você sabia que as doenças ocupacionais dos professores não são
reconhecidas como doenças ocupacionais no ordenamento jurídico?...............151
Tabela 77 – Prevenção – Você recebeu alguma palestra de prevenção à saúde do professor
no início de sua carreira de professor?...............................................................153
Tabela 78 – Prevenção – É oportunizado prevenção contra as doenças ocupacionais pela
Instituição de ensino que trabalha?....................................................................153
Tabela 79 – Prevenção – Você é feliz com sua profissão? ...................................................153
Tabela 80 – Prevenção – Você já pensou em mudar de profissão? ....................................154
Tabela 81 – Prevenção – Você faz exames periódicos solicitados pela Instituição de ensino
que trabalha?......................................................................................................154
LISTA DE SIGLAS
AJUFESP Associação dos Juízes Federais do Estado de São Paulo.
AMATRA Associações dos Magistrados da Justiça do Trabalho.
APAMAGIS Associação Paulista de Magistratura.
CAT Comunicação de Acidente de Trabalho.
CCT Convenção Coletiva do Trabalho.
CDC Código de Defesa do Consumidor.
CDE Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
CEV Centro de Estudos da Voz.
CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes.
CLT Consolidação das Leis do Trabalho.
CNTE Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.
CNPq Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente.
COP Conferência do Clima.
CPC Código de Processo Civil.
CSJT Conselho Superior da Justiça do Trabalho.
CT-SST Comissão Tripartite de Saúde e Segurança no Trabalho.
DORT Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho.
ECA Estatuto da Criança e Adolescente.
EIA Estudo de Impacto Ambiental.
EIU Economist Intelligente Unit.
FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação.
FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério.
GECAP Gerência de Cadastro e Aposentadoria.
GEE Gases de Efeito Estufa.
HTP Hora de Trabalho Pedagógico.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IES Instituição de Ensino Superior.
IIPE Instituto Internacional de Planeamiento de la Educación.
ILO International Labour Organization.
INSS Instituto Nacional do Seguro Social.
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change / Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas.
ISO Organização Internacional de Padronização.
LDB Lei de Diretrizes e Base da Educação.
LER Lesão por Esforço Repetitivo.
MEC Ministério de Educação e Cultura.
MP Medida Provisória.
MTE Ministério do Trabalho e Emprego.
NR Norma Regulamentadora.
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
OIT Organização Internacional do Trabalho.
OMS Organização Mundial da Saúde.
ONG Organização Não-Governamental.
ONU Organização das Nações Unidas.
ORTNs Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional.
OSHA Occupational Safety and Health Administration/ Serviços de Avaliação de
Segurança e Saúde Ocupacional.
PAPSE Programa de Acompanhamento Psicossocial dos Servidores da Educação.
PCMSO Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional.
PIACT Programa Internacional para Melhora das Condições e Meio Ambiente do
Trabalho.
PISA Programa Internacional de Avaliação de Estudantes.
PGRs Programa de Gerenciamento de Riscos.
PNSST Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho.
PSQI-BR Índice de Qualidade do Sono de Pittsburg.
PUC Pontifícia Universidade Católica.
SBFa Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.
SEDUC Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino.
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente.
SST Segurança e Saúde no Trabalho.
STF Supremo Tribunal Federal.
STJ Superior Tribunal de Justiça.
STMC Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Campinas.
TACA Termo de Ajustamento de Conduta Administrativo.
TERI Instituto de Energia e Recurso.
TFT Tribunal Federal do Trabalho.
TJ Tribunal de Justiça.
TRT Tribunal Regional do Trabalho.
TST Tribunal Superior do Trabalho.
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
UNFCCC Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................26
2 O MEIO AMBIENTE DO TRABALHO................................................................29
2.1 ASPECTOS DO MEIO AMBIENTE.........................................................................30
2.2 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: AMPLITUDE CONCEITUAL....................34
2.3 NATUREZA JURÍDICA...........................................................................................36
2.4 AUTONOMIA DO DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO..............................38
2.5 TEORIA DO DIREITO AMBIENTAL: ANTROPOCENTRISMO.........................40
2.6 RELEVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS NO DIREITO AMBIENTAL...........................43
2.7 PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO DIREITO AMBIENTAL............................45
2.7.1 Princípio do desenvolvimento sustentável...............................................................46
2.7.2 Princípio da Prevenção.............................................................................................49
2.7.3 Princípio da Precaução.............................................................................................51
3 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO DO PROFESSOR...................................54
3.1 EVOLUÇÃO DO TRABALHO DO PROFESSOR.................................................54
3.2 PECULIARIDADES DAS LESÕES AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO DO
PROFESSOR..............................................................................................................57
3.2.1 A profissão do professor na sociedade de risco......................................................59
3.3. O DIREITO À SADIA QUALIDADE DE VIDA NO MEIO AMBIENTE DE
TRABALHO...............................................................................................................68
3.3.1 Direitos trabalhistas e o Meio Ambiente do Trabalho...........................................71
3.4 PROTEÇÃO JURÍDICA AO MEIO AMBIENTE LABORAL DO
PROFESSOR..............................................................................................................80
3.4.1 Direito à saúde e segurança no meio ambiente do trabalho..................................82
3.4.2 A qualidade no meio ambiente do trabalho: principais doenças e
disfunções...................................................................................................................87
3.5 VISÃO DOS TRIBUNAIS.........................................................................................89
3.5.1 Levantamento de processos julgados com o nexo causal reconhecido de 2005 a
2015.............................................................................................................................92
4 RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE DE TRABALHO E CAUSAS DE
ABSENTEÍSMO DO PROFESSOR DO ENSINO MÉDIO E FUNDAMENTAL
DA REDE ESTADUAL DE ENSINO NA CIDADE DE MANAU......................95
4.1 A REVISÃO DA LITERATURA SOBRE O CONCEITO DE
ABSENTEÍSMO.........................................................................................................96
4.2 MAPEAMENTO DOS PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE ENSINO NA
CIDADE DE MANAUS/AM - NÍVEIS FUNDAMENTAL E MÉDIO...................97
4.3 METODOLOGIA APLICADA..................................................................................98
4.4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................101
4.4.1 Sociodemográficos e profissionais..........................................................................102
4.4.2 Condições Ergonômicas..........................................................................................107
4.4.3 Situações Funcionais...............................................................................................111
4.4.4 Doenças Ocupacionais............................................................................................118
4.4.4.1 Síndrome de Burnout................................................................................................122
4.4.4.2 LER (Lesões por Movimento Repetitivo) /DORT – Distúrbios Osteomoleculares
Relacionados ao Trabalho.........................................................................................129
4.4.4.3 Doença da Voz.........................................................................................................138
4.4.4.4 Doenças Psíquicas.....................................................................................................142
4.4.5 Prevenção no meio ambiente do trabalho.............................................................146
4.4.5.1 Situações de riscos que ocorrem no meio ambiente do trabalho..............................146
4.4.5.2 Direitos......................................................................................................................150
4.4.5.3 Prevenção..................................................................................................................152
4.5 Resultado geral da pesquisa de campo..................................................................155
5 ASPECTOS GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO........159
5.1 A EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO......................160
5.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA....................166
5.3 A RESPONSABILIDADE ESTATAL POR OMISSÃO E COMISSÃO................168
5.4 CAUSAS EXCLUDENTES E ATENUANTES.......................................................171
5.5 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL ..................................................................173
5.5.1 Responsabilidade pelo meio ambiente....................................................................174
5.5.2 Responsabilidade por dano ambiental...................................................................174
5.5.3 Âmbito de Responsabilidade no Direito Ambiental.............................................176
5.5.3.1 Responsabilidade no âmbito Administrativo............................................................177
5.5.3.2 Responsabilidade no âmbito Civil.............................................................................180
5.5.3.3 Responsabilidade no âmbito Penal............................................................................181
5.5.4 Responsabilidade do Estado por danos ao meio ambiente do trabalho.............184
6 CONCLUSÕES.......................................................................................................190
REFERÊNCIAS......................................................................................................196
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO....................213
APÊNDICE B – CARTA DE SOLICITAÇÃO DA PESQUISA – JUNTA
MÉDICA PERICIAL DO ESTADO DO AMAZONAS....................................217
APÊNDICE C – OFÍCIO N. 165/2016 – JUNTA MÉDICA PERICIAL DO
ESTADO DO AMAZONAS – RESPOSTA........................................................218
APÊNDICE D – CARTA RESPOSTA DA SECRETARIA DE ESTADO DE
EDUCAÇÃO E QUALIDADE DE ENSINO – SEDUC/AM............................219
26
1 INTRODUÇÃO
No contexto atual, o meio ambiente é um dos temas de preocupação da sociedade de
todo o mundo, questões de ordem global vem sendo objeto de estudo e de muita discussão,
pois a falta de consciência humana vem ocasionando várias ações predatórias no meio
ambiente natural ao ponto de ameaçar a própria sobrevivência de todos.
A maioria dos danos ambientais são irreversíveis e precisam de medidas preventivas
e precaucionais urgentes que tragam proteção ao meio ambiente e equilíbrio para o homem
usufruir de uma sadia qualidade de vida. Cabe ao poder público e a sociedade o dever de
caminharem juntos para minimizar esses problemas, uma vez que, trata-se de um tema que
interessa a todos indistintamente.
Ressalta-se que a proteção ambiental deve alcançar qualquer espécie de vida, porém
a visão antropocêntrica das normas ambientais justifica-se pelo homem ser considerado centro
do universo, logo centro das preocupações com as questões ambientais uma vez que busca-se
preservar a vida humana.
Como o conceito de meio ambiente é amplo buscou-se tutelar, na Constituição
Federal de 1988, art. 225, quatro aspectos ambientais: (natural, artificial, cultural e do
trabalho) para facilitar a compreensão e estudos específicos de cada um, assim temos: Físico:
flora, fauna, solo, água, ecossistemas, atmosfera, etc. (art. 225, §1º, I,VII); Cultural:
patrimônio cultural, artístico, arqueológico, paisagístico, manifestações culturais populares
etc. (art. 215, §1º e §2º); Artificial: É o conjunto de edificações particulares ou públicas,
principalmente urbanas, (art.182, art. 21, XX art. 5º, XXIII); Trabalho: É o conjunto de
condições ou existentes no local de trabalho relativos à qualidade de vida do trabalhador (art.
200, inciso VIII).
Apesar de todos os aspectos ambientais serem importantes, optou-se analisar nesta
dissertação sobre o meio ambiente do trabalho, por ser interessante e indispensável na vida de
todos, pois trabalhar é condição essencial, não somente pela manutenção financeira, mas pela
dignificação da vida, logo, compreender a relação saúde-trabalho é necessário para que sejam
analisados seus hábitos diários a fim de que ocorra o reconhecimento jurídico do seu processo
produtivo em todas as profissões, e com isso a identificação dos riscos ambientais que cada
profissão enfrenta em seu meio ambiente laboral ou em razão dele.
O meio ambiente do trabalho possui características peculiares e diferentes do Direito
do Trabalho, sua caracterização baseia-se numa reorientação da tutela ambiental, esse direito
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propõe uma reflexão sobre a proteção jurídica do trabalhador no seu meio ambiente laboral
diante de uma perspectiva de dignidade da pessoa humana. Para delimitar esse estudo
contemplou-se em estudar sobre o meio ambiente do trabalho do professor.
Sabe-se que a preservação do meio ambiente do trabalho do professor é alvo de
preocupação em nível nacional e internacional em todos os níveis de ensino, porém mesmo
com as mudanças ocorridas nos aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais e
tecnológicos pouco avanço jurisdicional houve no que concerne a regulamentação de leis
específicas sobre a saúde e segurança no meio ambiente laboral dos professores do Brasil.
Embora a Organização Internacional do Trabalho1 (OIT), em 1981 tenha classificado
a “profissão de professor numa atividade de risco físico e mental” e em 1983 mencionado que
a atividade de professor é o segundo lugar das profissões que mais apresentam doenças
ocupacionais, tal fato não chamou a atenção do poder público brasileiro.
Mediante essa situação, investigações científicas em outras áreas do conhecimento
estão sendo feitas, buscando compreender melhor o mal-estar docente, porém na pesquisa
científica do Direito pouco é o avanço sobre o referente tema, contudo o Direito Ambiental
tem buscado numa perspectiva interdisciplinar e transdisciplinar com as outras ciências do
conhecimento, principalmente com a Ciência da Saúde, a sinergia necessária para suas
pesquisas científicas jurídicas fundamentações concretas sobre o mal-estar do professor, para
que no futuro próximo, possa contribuir na aplicação prática desses estudos para a solução dos
problemas desses trabalhadores.
Diante da relevância do tema, nos dias atuais, esta dissertação teve como objetivo
analisar as causas do mal-estar docente do professor da rede pública de ensino da cidade de
Manaus relacionando-as à responsabilidade estatal. Sua metodologia fundamentou-se na
pesquisa teórica-bibliográfica consolidando-se com a pesquisa quali-quantitativa, fez-se uso
do conhecimento bibliográfico, utilizando-se para o seu desenvolvimento obras já publicadas
como: teses jurídicas, jurisprudências, artigos, dissertações, revistas, livros e os sites
especializados, enfocando multidisciplinarmente, de forma mais intensa, o Direito Ambiental,
o Direito Ambiental do Trabalho, Direito Constitucional, Consolidação das Leis Trabalhistas,
Leis infraconstitucionais e específicas, além das outras áreas multidisciplinares, como obras
da Ciência da Saúde. Quanto aos meios para obter-se as informações utilizou-se tanto a
pesquisa bibliográfica quanto a pesquisa de campo.
1 OIT Emploi et conditions de travail dês enseignants. Genebra: Bureau Internationale Du Travail, 1981.
28
Para melhor compreensão da temática, o trabalho foi desenvolvido em seis capítulos,
sendo que o primeiro e o segundo fornecem uma abordagem sobre o meio ambiente e meio
ambiente do trabalho em geral, com destaque para a relevância de seus princípios e a visão
antropocêntrica do meio ambiente.
O terceiro enfoque apresenta o meio ambiente do trabalho do professor, destacando
as peculiaridades das lesões no seu meio ambiente do trabalho, sua proteção jurídica, quadro
das doenças ocupacionais, seu direito à sadia qualidade de vida no meio ambiente de trabalho
hígido e seguro e visões dos tribunais sobre o referido tema.
O quarto ponto apresenta o resultado de uma pesquisa de campo sobre a relação entre
meio ambiente de trabalho e causas de absenteísmo do professor do ensino médio e
fundamental da rede pública estadual de ensino na cidade de Manaus, com destaque para o
mapeamento de professores da rede estadual na cidade de Manaus/Am - níveis fundamental e
médio; principais causas de absenteísmo diagnosticados no ano de 2015 e o resultado geral da
pesquisa de campo.
O quinto capítulo destina-se a analisar sobre os aspectos gerais da responsabilidade
civil do estado, em especial, destaque para a responsabilidade ambiental do estado do
Amazonas frente aos danos infligidos do meio ambiente do trabalho.
Finalmente, na conclusão, visou-se destacar algumas reflexões sobre o resultado da
pesquisa de campo realizada nas escolas da rede pública estadual de ensino de Manaus devido
o adoecimento silencioso desses profissionais decorrentes das doenças ocupacionais que
precisam estar, oficialmente reconhecidas, nas relações da Previdência Social, seja ela doença
profissional ou doença de trabalho.
29
2 O MEIO AMBIENTE DO TRABALHO
Meio ambiente é um dos temas que está em pauta há algumas décadas na sociedade
de todo o mundo, questões de ordem global, bem como de ordem local ou regional vem sendo
objeto de estudo e de muita discussão na atualidade, pois a falta de consciência humana vem
ocasionando várias ações predatórias do meio ambiente natural ao ponto de ameaçar a própria
sobrevivência de todos.
Silva (2013, p. 30) defende que:
A ação predatória do meio ambiente natural manifesta-se de várias maneiras, quer
destruindo os elementos que o compõem, como a derrubada das matas, quer
contaminando-os com substâncias que lhes alterem a qualidade, impedindo seu uso
normal, como se dá com a poluição do ar, das águas, do solo e da paisagem...
A Lei n. 6.938/81 (Lei de Política Nacional do Meio Ambiente), art. 3º, inciso I
conceitua meio ambiente como sendo “o conjunto de condições, leis, influências e interações
de ordens física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas”. Nota-se que ele pode ser considerado como um conjunto de condições naturais e de
influências que agem sobre os organismos vivos e sobre os seres humanos.
Com tantas catástrofes ambientais que alguns países estão enfrentando, inclusive o
Brasil, o homem tem buscado respostas imediatas, entre os diversos segmentos da sociedade,
que ajudem a minimizar tanta destruição ambiental.
Bonavides (2010, p. 23) ressalta que “Sem aprofundar a investigação acerca da
função dos princípios no ordenamentos jurídico não é possível compreender a natureza, a
essência e os rumos do constitucionalismo contemporâneo”.
Os termos principiológicos que delimitam zonas comuns entre diversos ramos do
Direito são normas que devem ser obedecidas por todos, pois podem ser utilizados para o
saneamento e resolução de eventuais conflitos decisórios em aspectos que envolvam o meio
ambiente.
O homem vem colocando em risco a natureza com suas ações predatórias, ela aos
poucos vem apresentando sinais de degradação, comprometendo até as condições de vida
planetária. Tal problemática traz diversas discussões e estudos sobre o tema entre os vários
profissionais das diversas áreas do saber, todos com uma visão diferenciada, mas com um
mesmo objetivo, a preservação do planeta. Assim, observou-se a necessidade da integralidade
dos saberes, ou seja, de se adotar a forma interdisciplinar e transdisciplinar.
Diante dessa necessidade de integralização dos saberes, em especial com a Ciência
da Saúde, o Direito Ambiental tem buscado a sinergia necessária para fundamentar o nexo de
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causalidade das doenças com as atividades desenvolvidas pelos professores, porém ressalta-se
que existem divergências na seara jurídica sobre o tema, pois ainda não há regulamentação
jurídica específica que a assegure. Desde logo, salienta-se que não há pretensão de esgotar o
assunto, o que por si não seria possível neste estudo, ante a problemática do tema.
2.1 ASPECTOS DO MEIO AMBIENTE
Como o meio ambiente é um tema amplo e também possuir muitas peculiaridades
houve a necessidade de ser enquadrado em diferentes aspectos: meio ambiente natural, meio
ambiente artificial, meio ambiente cultural e meio ambiente do trabalho. Vale ressaltar que
embora o meio ambiente tenha sido dividido em quatro, ele possui unicidade, pois o maior
objeto a ser tutelado é a vida saudável em todas as suas formas.
Buscou-se, assim, com tal classificação facilitar a identificação do aspecto ambiental
no que concerne o objeto de estudo, pois cada um possui suas peculiaridades que será
apresentado de forma mais minuciosa nos parágrafos seguintes:
O meio ambiente natural ou físico é caracterizado pela originalidade da criação da
natureza (água, solo, ar atmosférico, fauna e flora), sem nenhuma contribuição da ação
humana, porém juridicamente existem casos que o meio ambiente natural recebe interferência
humana e mesmo assim continua pertencendo a essa classificação, o que é restringido é que
não seja alterada sua substância pelo homem.
Sua tutela é encontrada no artigo 225, parágrafo §1º, incisos I, II, IV, V, VII e § 2º,
da Constituição Federal:
Art. 225 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade. (...)
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
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Apesar de serem elementos diferentes possuem pontos em comum, todos provêm da
natureza e são responsáveis por seu equilíbrio. Para Melo (2013, p. 28) “O meio ambiente
natural ou físico é constituído pelo solo, água, flora e fauna, representando o equilíbrio
dinâmico entre os seres vivos na terra e o meio em que vivem”.
O meio ambiente artificial é o inverso do meio ambiente natural, é resultado da
interferência direta do homem (modificado ou trabalhado pela ação humana), ressalta-se que
nem todas as ações de interferências são assim consideradas, pois se não há mudança na sua
substancialidade prevalece a classificação de meio ambiente natural.
Segundo Fiorillo (2012, p. 79):
Cuida salientar, ainda, que o meio-ambiente artificial alberga, ainda, ruas, praças e
áreas verdes. Trata-se, em um primeiro contato, da construção pelo ser humano nos
espaços naturais, isto é, uma transformação do meio-ambiente natural em razão da
ação antrópica, dando ensejo à formação do meio-ambiente artificial. Além disso,
pode-se ainda considerar alcançado por essa espécie de meio-ambiente, o plano
diretor municipal e o zoneamento urbano.
Melo (2013, p. 28) afirma que “O meio ambiente artificial é o espaço urbano
habitável, constituído pelo conjunto de edificações feitas pelo homem, estando ligado ao
conceito de cidade, embora não exclua os espaços rurais artificiais criados pelo homem”.
Nesse diapasão, nota-se que a definições são pacíficas entre os doutrinadores da
seara do Direito Ambiental sobre o meio ambiente artificial, sendo assim aceita a ação
substancial do homem no meio ambiente natural, pois agora será o homem a modificar ao seu
modo o que foi oferecido pela natureza.
Nota-se que esse aspecto ambiental não é regido apenas pelo art. 225 da Constituição
Federal/88, ele possui outros dispositivos legais que o disciplinam também, destaca-se:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
(...)
Art. 21 Compete à União:
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação,
saneamento básico e transportes urbanos;
(...)
Art. 182 A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o
pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes. (Regulamento)
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com
mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento
e de expansão urbana.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
32
§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa
indenização em dinheiro.
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área
incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo
urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão
previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos,
em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os
juros legais.
Esses dispositivos disciplinam a política urbana de forma mediata e imediata o que o
faz está intrinsecamente ligada à dinâmica das cidades. Eles normatizam os espaços fechados
e equipamentos públicos para proteger o meio ambiente artificial e com isso possa preservar o
meio ambiente saudável para que possa se obter a sadia qualidade de vida.
O meio ambiente cultural são bens também criados pelo homem como o meio
ambiente artificial, porém possuem características e finalidades próprias. O patrimônio
cultural brasileiro é composto do patrimônio artístico, paisagístico, arqueológico, histórico e
turístico que constitui o Meio Ambiente Cultural.
Silva (2013, p. 21) conceitua Meio Ambiente Cultural como “integrado pelo
patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que, embora artificial, em
regra, como obra do homem, difere do anterior, que também é cultural, pelo sentido de valor
especial”. Melo (2013, p. 28) corrobora ao afirmar “O meio ambiente cultural diz respeito à
história, formação e cultura de um povo”.
Sua fundamentação constitucional está no art. 216:
Art. 216 Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o
patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância,
tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação
governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela
necessitem. (Vide Lei nº 12.527, de 2011)
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e
valores culturais.
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências
históricas dos antigos quilombos.
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§ 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de
fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para
o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses
recursos no pagamento de: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de
19.12.2003)
I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 42, de 19.12.2003)
II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos
ou ações apoiados. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003).
A importância dada pelo ordenamento jurídico ao meio ambiente cultural é singular,
pois sua existência está relacionada a manter viva a memória coletiva, preservar os bens de
valor material e imaterial ligados a identidade e as ações do povo brasileiro. Assim, pode-se
afirmar que a preservação do patrimônio cultural possui uma relação com o direito de
personalidade, pois a memória a identidade do homem, modificador da ordem original).
O meio ambiente do trabalho é um dos aspectos ambientais que busca salvaguardar
a pessoa do trabalhador do interesse econômico concorrentes, pois a perspectiva da
diminuição dos riscos das doenças ocupacionais e acidentes de trabalho ainda são, para
algumas profissões, alvos importantes a conseguir. Vejamos alguns conceitos de meio
ambiente do trabalho:
Fiorillo (2012, p. 211):
É o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam remuneradas
ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes
que comprometam a incolimidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente
da condição que ostentem (homens ou mulheres, maiores ou menores de idade,
celetistas, servidores públicos e autônomos.
Silva (2013, p. 23):
É um meio ambiente que se insere no artificial, mas digno de tratamento especial,
tanto que a Constituição o menciona explicitamente no art.200, VII, ao estabelecer
que uma das atribuições do Sistema Único de Saúde consiste em colaborar na
proteção do ambiente, nele compreendido o do trabalho.
Nesse sentido Santos (2010, p. 24) corrobora:
De fato, a qualidade do meio ambiente do trabalho influi consideravelmente na
própria qualidade de vida do trabalhador. Tal ambiente pode ser satisfatório e
atrativo, e ensejar o desenvolvimento daquele que vende a própria força de trabalho
para garantir o sustento de si e de sua família.
Nota-se que todos os conceitos possuem a mesma visão geral de proteger a saúde e
segurança do trabalhador e desenvolver o meio ambiente laboral digno onde cada ofício é
realizado. Essas conceituações estão voltadas para preservação da saúde e bem estar dos
trabalhadores.
34
Foram criadas normas regulamentadoras na legislação brasileira direcionadas ao
meio ambiente geral que apesar de estar implícito a palavra “do trabalho” estão
intrinsecamente voltadas à saúde, higiene e segurança do trabalhador, como: art. 3º, inciso I
da Lei nº 6.938/ 81 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, conceitua meio
ambiente “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Diferentemente do artigo supracitado a palavra “do trabalho” está explícito no art.
200, VIII da Constituição Federal que regulamenta o Sistema Único de Saúde cita que
compete ao SUS, nos termos da lei: “colaborar na proteção do meio ambiente, nele
compreendido o do trabalho”.
Na concepção de Melo (2013, p. 29) o conceito de meio ambiente do trabalho,
ultrapassa os limites físicos do local de trabalho:
O meio ambiente do trabalho estrito do trabalhador. Ele abrange o local de trabalho,
os instrumentos de trabalho, o modo de execução das tarefas e a maneira como o
trabalhador é tratado pelo empregador ou tomador de serviço e pelos próprios
colegas de trabalho. Por exemplo, quando falamos em assédio moral no trabalho,
nós estamos nos referindo ao meio ambiente do trabalho, pois em um ambiente onde
os trabalhadores são maltratados, humilhados, perseguidos, ridicularizados,
submetidos a exigências de tarefas abaixo ou acima da sua qualificação profissional,
de tarefas inúteis ou ao cumprimento de metas impossíveis de atingimento,
naturalmente haverá uma deterioração das condições de trabalho, com o
adoecimento do ambiente e dos trabalhadores, com extensão até para o ambiente
familiar. Portanto, o conceito de meio ambiente do trabalho deve levar em conta a
pessoa do trabalhador e tudo que o cerca.
Com o aumento de abusos contra o estado de saúde e os elevados riscos ocupacionais
dos trabalhadores houve a necessidade de rever judicialmente alguns aspectos que viessem
normatizar o tema.
2.2 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: AMPLITUDE CONCEITUAL
É importante traçar alguns conceitos sobre o meio ambiente do trabalho e o meio
ambiente do trabalhador docente, embora eles ainda sejam temas complexos e pouco
estudados no âmbito jurídico, possuem uma importância singular para o meio ambiente.
A Constituição Brasileira de 1988 em seu art. 225, caput e o art. 3º, item I, da Lei nº
6.938/81 citam os direitos dos trabalhadores, porém num contexto restrito de meio ambiente.
A proteção deles é considerada importante pelo Direito do Trabalho por considerar o
trabalhador a parte mais frágil da relação de emprego.
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Acredita-se que o meio ambiente de trabalho merece lugar de destaque devido ser o
lugar onde muitos trabalhadores, remunerados ou não, passam a maior parte de seu dia
durante quase toda a sua vida desenvolvendo suas atividades produtivas.
Melo (2001, p. 70) justifica a importância do meio ambiente do trabalho:
[...] Justifica-se porque, normalmente, o homem passa a maior parte de sua vida útil
no trabalho, exatamente no período da plenitude de suas condições físicas e mentais,
razão pela qual o trabalho, habitualmente, determina o estilo da vida, interfere no
humor do trabalhador, bem como no de sua família.
Silva corrobora (2013, p. 23) afirmando que meio ambiente do trabalho “é o local
em que se desenrola boa parte da vida do trabalhador, cuja qualidade de vida está, por isso,
em íntima dependência da qualidade daquele ambiente”.
Como o meio ambiente do trabalho é integrante do meio ambiente geral, logo, direito
fundamental, precisa oferecer uma qualidade de vida digna, adequada e equilibrada aos
trabalhadores.
Melo (2013, p. 30-31) conceitua “Meio ambiente do trabalho adequado e seguro é
um dos mais importantes e fundamentais direitos do cidadão trabalhador, o qual, se
desrespeitado, provoca agressão a toda a sociedade, que, no final das contas, é quem custeia a
Previdência Social.”
Nota-se que os conceitos supracitados não receberam a devida importância pelo
Poder Público brasileiro, pois o descaso é histórico com os cuidados com a saúde e com o
bem estar do trabalhador, pelo Estado brasileiro, como podemos observar no Decreto
Legislativo n. 3.724/1919: “[...] parte da Medicina Legal que estuda os infortúnios ou riscos
industriais, sejam agudos, físicos e químicos, propriamente acidentes do trabalho, sejam
subagudos ou crônicos, tóxicos ou biológicos, as doenças profissionais”. Hoje, o que vigora
são normas jurídicas contidas na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em seus arts. 154
e seguintes que tratam da Segurança e da Medicina do Trabalho e regulam os problemas
decorrentes de agentes físicos, químicos e biológicos, porém não regulamentam as doenças
psicológicas dos trabalhadores.
Com a preocupação voltada para o objeto de estudo desta dissertação, ou seja, o meio
ambiente de trabalho do professor, buscou-se conceitos sobre o mesmo. Para Lemos e Cruz
(2005, p. 20-21) “A profissão docente é uma das mais antigas da humanidade e, com o
passar dos tempos, os professores foram obrigados a adquirir diferentes competências
daquelas exigidas no início da profissão” (grifo nosso).
36
Com a evolução da profissão do professor foi obrigatório que todos eles tivessem
nível superior para lecionarem desde o ensino infantil à pós-graduação (Lei 9.394/96 – LDB),
também tiveram que aprender outras habilidades e diferentes competências, pois foram
necessárias para eles acompanharem o avanço tecnológico.
Para Nahas (2010, p. 298) o bem estar do trabalhador docente:
Altera-se por meio dos problemas enfrentados pelos professores, como: a
indisciplina, a violência e as péssimas condições de trabalho, baixo controle do
estresse, má alimentação entre outros fatores. As dificuldades apresentadas pelos
professores podem auxiliar o docente a apresentar um sentimento de mal estar.
Nesse contexto, o meio ambiente laboral do docente não está limitado ao local
físico laboral do professor, mas sim na integração de todos os elementos norteadores que
ofereçam proteção e prevenção contra os agentes que comprometem sua saúde física ou
mental, a qualidade de seu ambiente de trabalho está intrinsecamente ligado ao controle dos
limites de tolerância dos padrões de condições ambientais eficazes estabelecidos pelos órgãos
competentes brasileiros no que concerne às normas de saúde, higiene e segurança.
2.3 NATUREZA JURÍDICA
A natureza jurídica do meio ambiente do trabalho pertence ao Direito difuso. Seu
surgimento e sua classificação foram alvos de muita discussão ao longo do tempo, porém, nos
tempos atuais, é considerada por muitos doutrinadores e jurisprudência pátria como sendo um
Direto que extrapola a esfera individual, passando a pertencer a toda uma coletividade, res
omnium (ou seja, coisa de todos).
O Direito difuso, nova categoria intermediária entre o público e privado, também é
conhecido como os interesses ou direitos metaindividuais. Assim, sua natureza jurídica é
reafirmada por vários doutrinadores, como sendo difusa. Para Mancuso (2011, p. 70-71) são:
“compreensivos dos interesses que perpassam a órbita da atuação individual, para se
projetarem na ordem coletiva, vale dizer: sua finalidade é altruística”.
Nessa perspectiva Manus (1995, p. 157) define a natureza jurídica como sendo
“aquele que transcende o direito individual, sendo indivisível e cujos titulares não podem ser
individualizados”.
Outra classificação sobre o meio ambiente do trabalho como de natureza difusa é de
Rocha (1997, p. 32):
Quanto ao meio ambiente laboral, quando considerado como interesse de todos os
trabalhadores em defesa de condições da salubridade do trabalho, ou seja, o
equilíbrio do meio ambiente do trabalho e a plenitude da saúde do trabalhador,
constituem direito essencialmente difuso, inclusive porque sua tutela tem por
37
finalidade a proteção da saúde, que, sendo direito de todos, de toda a coletividade,
caracteriza-se como um direito eminentemente metaindividual.
Pode-se, também, traduzir a natureza jurídica do meio ambiente do trabalho pelo
conceito de Melo (2001, p. 33):
O Direito ao meio ambiente equilibrado, aí incluído o do trabalho surge dentre os
novos padrões de conflituosidade, como direito de todos e de ninguém - termos
exclusivos - ao mesmo tempo, ou seja, difuso de titulares indetermináveis.
Nesse diapasão, aponta Fiorillo (2012, p. 66) “A salvaguarda do homem trabalhador,
enquanto ser vivo, das formas de degradação e poluição do meio ambiente onde exerce seu
labuto, que é essencial à sua sadia qualidade de vida, é, sem dúvida, um direito difuso”.
O marco da nova regulamentação no ordenamento jurídico com visão peculiar
voltada a preservação da sadia qualidade de vida do homem-trabalhador está baseado em
elementos contextuais concretos, porém negativos, que vem afetando o seu meio ambiente do
trabalho, assim o Direito Difuso surge nesse novo contexto para atender os anseios da
sociedade pós-moderna. Assim, o Direito positivo ficou dividido em: público, privado e
difuso.
Esse marco na formação de novos direitos, possibilitou a elaboração de uma nova
classificação no Direito Positivo Brasileiro, principalmente os direitos das sociedades de
massa que foram o Direito do consumidor e o Direito Ambiental.
No inciso I, art. 81 da Lei 8.078/90 do Código de Defesa do Consumidor – CDC
define Direito Difuso todo aquele “interesse transindividual, de natureza indivisível, cujos
titulares sejam pessoas indeterminadas, ligadas por circunstâncias de fato”.
No artigos 2º, 3º e I alínea "c", V, § 3º do art. 6º da Lei nº 8.080/90 (Lei Orgânica da
Saúde):
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover
as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
Art. 3o Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País,
tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a
moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a
atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais.s
indispensáveis ao seu pleno exercício.
[...]
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde
(SUS):
I - a execução de ações:
c) de saúde do trabalhador
V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho;
§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de
atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância
sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à
recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e
agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo:
38
A legislação brasileira atribuiu a saúde pública os meios e políticas de ações para a
defesa do meio ambiente laboral e da saúde do trabalhador, a conscientização da sociedade
que o bem tutelado é coletivo, pertence a toda a comunidade.
Assim, tendo o meio ambiente do trabalho natureza de Direito difuso teremos um
direito de labor ambiental equilibrado, pois sua finalidade consiste em proteger bem jurídico
substanciado na saúde de trabalhadores com medidas preventivas eficazes que venha garantir
a plenitude da saúde a todos os trabalhadores.
2.4 AUTONOMIA DO DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO
O Direito, na sua essência, vive em constante mutação, assim como toda atividade
humana, ele caminha paralelo a história, porém precisa ser compreendido e adequado às
exigências das circunstâncias históricas atuais.
Capella (1995, p. 85):
Sem a capacidade para adotar a perspectiva histórica, você terá poucas defesas
contra a tergiversação e a mentira, pois lhe faltará um critério e um modo de ver
fundamental para avaliar o mundo social em que vivemos. Sem perspectiva
histórica, o terrível de nosso mundo lhe parecerá natural, como um terremoto ou um
acidente. A história lhe ensinará que houve sociedades que algum aspecto eram
melhores que a nossa e também por que se produzem certas calamidades sociais e o
que pessoas como você fizeram, em outras circunstâncias, para lutar contra elas,
para não as ficar observando passivamente, acreditando que o horror não chegaria
até onde nós estamos.
As aglomerações de grupos e o crescimento populacional tornou-se necessária a
sistematização do direito para impor limites e manter o convívio social, trouxe direitos e
deveres individuais, mas que aceita pelo coletivo.
Milaré (2001, p.153):
Como ocorreu no passado, em situações cruciais, ou de mudanças profundas, a
Questão Ambiental sacudiu também a estrutura do direito. A velha árvore da
Ciência Jurídica recebeu novos enxertos. E assim se produziu um ramo novo e
diferente, destinado a embasar novo tipo de relacionamento das pessoas individuais,
das organizações e, enfim, de toda a sociedade com o mundo natural. O Direito
Ambiental ajuda-nos a explicar o fato de que, se a Terra é um imenso organismo
vivo, nós somos a sua consciência. O espírito humano é chamado a fazer às vezes da
consciência planetária. E o saber jurídico ambiental, secundado pela Ética e
municiado pela Ciência, passa a co-pilotar os rumos desta nossa frágil espaçonave.
O meio ambiente do trabalho equilibrado e seguro também surgiu da necessidade de
proteção do trabalhador. A industrialização surgida na Inglaterra no século XVIII foi um
marco na vida dos trabalhadores, pois com as péssimas condições de trabalho, eles
começaram uma organização de movimentos grevistas em busca do reconhecimento
39
trabalhista que compensasse as condições inadequadas laborais que enfrentavam, como: as
lesões à saúde, baixos salários e jornada diária elevada entre outros problemas sociais. A
exploração era muito grande, chegando a se equiparar com o trabalho escravo, porém com
outra nomenclatura.
Derani (2001, p. 80):
Como todo novo ramo normativo que surge, o direito ambiental responde a um
conflito interno da sociedade, interpondo-se no desenvolvimento dos seus atos.
Dührenmatt já nos lembrava que quando uma sociedade entra em conflito com seu
presente produz leis. É exatamente o que ocorre com as normas chamadas de
proteção ao meio ambiente. São elas reflexo de uma constatação social paradoxal
resumida no seguinte dilema: a sociedade precisa agir dentro de seus pressupostos
industriais, porém estes mesmos destinados ao prazer e ao bem-estar podem
acarretar desconforto, doenças e miséria. Para o solucionamento deste conflito,
desenha-se todo um novo cabedal legislativo, que, uma vez parte do ordenamento
jurídico, produzirá efeitos em todos os seus ramos.
Discussões sobre o meio ambiente, em especial o meio ambiente de Trabalho já
vinha ocorrendo há alguns anos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) através do
Programa Internacional para Melhora das Condições e Meio Ambiente do Trabalho (PIACT)
e a Convenção da OIT nº 155 passaram a discutir questões referentes ao ambiente do trabalho.
Para Rocha (1997, p. 146):
[...] Desenvolveram-se legislações provindas do poder público, consagradas pelas
leis e regulamentos; por outro lado, surgiu o direito advindo das negociações entre
empregados e empregadores. Como resultado, abriu-se um campo alternativo para a
determinação de condições de trabalho e proteção a saúde dos trabalhadores.
A legislação e a doutrina construíram um sistema protetivo ao trabalhador, pois a
classe operária precisava garantir a manutenção das conquistas trabalhistas adquiridas ao
longo da história.
Rocha (1997, p. 147) ressalta que:
[...] Os ambientes de trabalho têm atravessado profundas modificações, repercutindo
na forma e tipo de proteção legal estabelecidos pelo poder público. Após a
constitucionalização dos direitos sociais, observa-se progressivamente, surgimento
de normas de saúde ocupacional e segurança industrial, em resposta as mudanças
nos processos produtivos e aprimoramento das relações de trabalho.
Várias modificações e evoluções internacionais e nacionais repercutiram na nova
forma legal regulamentada pelo Direito. No Brasil teve a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) em 1943 que trouxe, em seu capítulo V, uma regulamentação sobre “higiene e
segurança do trabalho”, que posteriormente foi alterada pela Lei 6.514/77 para “DA
SEGURANÇA E DA MEDICINA DO TRABALHO”, que rege em seu art. 154:
A observância, em todos os locais de trabalho, do disposto neste Capitulo, não
desobriga as empresas do cumprimento de outras disposições que, com relação à
matéria, sejam incluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos
40
Estados ou Municípios em que se situem os respectivos estabelecimentos, bem como
daquelas oriundas de convenções coletivas de trabalho.
O Ministério do Trabalho recebeu também a incumbência de estabelecer normas
(regulamentadoras), com base nas especificidades de cada atividade ou setor das relações
trabalhistas.
O Direito Ambiental possui particularidades e princípios próprios, que o sustentam
como o novo ramo da ciência. Não há dúvidas de que o Direito Ambiental é um direito
Autônomo da Ciência Jurídica, pois sua finalidade basilar é proteger a vida e garantir a sua
sadia qualidade a todos os seres humanos de geração a geração. Para Antunes (2005, p. 31)
“O primeiro e mais importante princípio do Direito Ambiental é que “o direito ao ambiente é
um direito humano fundamental”.
Essa autonomia jurídica no meio ambiente do trabalho visa proteger e preservar a
vida do trabalhador, ou seja, ela delimita seu público alvo e o objeto a ser tutelado.
No entanto, salienta Farias (2009, p. 225):
Que admitir que a conceituação de meio ambiente do trabalho se resume ao objeto
do Direito do Trabalho implica dizer que o legislador escreveu algo de forma
aleatória ou sem propósito, o que definitivamente não faz sentindo. Se a
hermenêutica jurídica ensina que não existem palavras desnecessárias na lei, isso é
ainda mais verdadeiro em se tratando do constituinte originário, tendo em vista que
o inciso VII, do artigo 200, da CF/88, determina expressamente a proteção ao meio
ambiente do trabalho.
Deve ser esclarecido que apesar de o Direito do Trabalho e o meio ambiente do
Trabalho terem as nomenclaturas parecidas ambos possuem suas características diferenciadas.
O primeiro vincula-se às relações empregatícias com vínculo de subordinação, enquanto a
segunda tem que garantir a saúde e segurança do trabalhador.
Diante de um novo direito metaindividual de natureza difusa, o Direito Ambiental do
Trabalho deve ser compreendido como novo ramo da ciência jurídica que tem o Direito
Ambiental e o Direito do Trabalho como “aliados” na busca de adequações preventivas à
eliminação dos riscos à saúde do trabalhador e às responsabilidades legais pelos riscos de
acidentes e doenças do trabalho, considerando assim, suas especificidades do ambiente do
trabalhador e suas relações humanas.
2.5 TEORIA DO DIREITO AMBIENTAL: ANTROPOCENTRISMO
Umas das principais Teorias do Direito Ambiental que fundamentam a ética
ambiental é o antropocentrismo que tem o homem como o centro das preocupações
ambientais (relação entre homem & natureza). Para melhor entendimento desse vocábulo, a
41
etimologia esclarece seu significado através da análise dos elementos que as constituem. Para
Milaré (2004, p. 9) infere sobre a origem da palavra “antropocentrismo”:
Etimologicamente, antropocentrismo é um vocábulo híbrido de composição greco-
latina, surgido na língua francesa, em 1907, que significa: anthropos (do grego) = o
homem (como ser humano, como espécie) + centrum, centricum (do latim) = o
centro, o cêntrico, o centrado.
A teoria sobre a proteção do meio ambiente antropocêntrica é importante para o
Direito Ambiental, pois valoriza a vida.
O primado, por conseguinte, dos valores antropológicos sobre os ecológicos tem
como base o valor primordial da pessoa humana, o único ser vivo que tem
consciência do que é e do que deve ser. Somente ela é dotada da faculdade que os
juristas italianos denominam consapevolezza, que poderíamos traduzir por
conscienciabilidade, ou seja, o poder de ter ciência de si mesmo e de deliberar em
razão dela. Não se trata de um antropocentrismo que coloque o ser humano no
centro do universo, pois essa é uma das várias teses relativas à posição do homem
como cosmo, havendo pensadores ilustres que se limitam a considerá-lo um ente
finito que se distingue dos demais por sua autoconsciência. O humanismo tem
múltiplas e variadas dimensões, como o sabe qualquer leitor atento mesmo de
compêndios elementares de Filosofia”. (REALE 2004)
Dentro do panorama do antropocentrismo o homem é o centro de tudo, sua
capacidade de pensar o torna superior a tudo e a todos. No Direito Ambiental essa visão nega
autonomia aos bens naturais, sendo que apenas receberá proteção tudo que tenha utilidade ou
seja necessária ao homem.
Nesse sentido Fiorillo (2012, p. 132-133) assevera: “Não há, por assim dizer, como
não se ver que o direito ambiental possui uma necessária visão antropocêntrica. Necessária
pelo motivo de que, como único animal racional que é, só o homem tem possibilidades de
preservar todas as espécies, incluindo a sua.”
No Direito Ambiental o antropocentrismo traz regras que beneficiam somente a
qualidade de vida do homem, mesmo havendo lei que proteja as outras formas de vida, seja
no meio ambiente natural, artificial, cultural ou do meio ambiente do trabalho, será sempre
voltado para assegurar o destinatário direto, ou seja, o homem.
Para Araújo (2008, p. 19-20) o “Antropocêntrico vem a ser o pensamento ou a
organização que faz do homem o centro do Universo, em cujo redor (ou órbita) gravitam os
demais seres, em papel meramente subalterno e condicionado.” Corrobora Waldman (2006, p.
36) quando aduz que “O ser humano é definitivamente o animal que mais transforma o seu
ambiente”.
A atividade humana é a maior responsável pelos impactos ambientais negativos que
acometem o desequilíbrio ambiental do planeta, mas ele pode mudar essa realidade através de
42
um processo participativo consciente. Quanto a isso, Antunes (2005, p. 5) escreve que: “O
Homem é o único dos seres vivos dotado de capacidade para alterar conscientemente o „status
quo’ do mundo natural.”
Milaré e Coimbra (2004, p. 13) afirmam que:
Os seres naturais não-humanos não são capazes de exercer deveres e reivindicar
direitos de maneira direta, explícita e formal, embora o ordenamento natural lhes
assegure alguma sorte de direitos, visto que cumprem um papel no equilíbrio do
mundo. São constituintes do ecossistema planetário, tanto quanto o é a espécie
humana. A Ciência não tem força impositiva ou de coação; por isso exige que o
Direito tutele o ecossistema planetário, de modo a prover à sua subsistência e
garantir-lhe a perpetuação, notadamente no que concerne aos componentes da
biosfera. Esta exigência não procede apenas da Ciência, mas principalmente da
Sabedoria.
A evolução da humanidade trouxe uma produção destrutiva nas bases da vida
terrestre mediante a degradação ambiental, assim tal situação tornou-se uma preocupação
comum a todos. Logo o homem precisa da natureza para usufruir uma sadia qualidade de
vida.
Fiorillo (2012, p. 16):
De acordo com esta visão, um bem que não seja vivo, material ou imaterial, assim
como uma vida que não seja humana, poderá ser tutelado pelo direito ambiental na
medida em que for relevante para a garantia da sadia qualidade de vida do ser
humano, visto ser este o único animal racional e por isto, destinatário das normas
jurídicas. Cabe ao homem a preservação das espécies, incluindo a espécie humana.
Percebe-se que na visão antropocêntrica no direito ambiental o homem tem o livre
arbítrio de destruir ou preservar a natureza, porém cabe ao homem decidir em viver
harmonicamente com a natureza para garantir a sua própria existência.
Sirvinskas (2007, p. 65):
Do ponto de vista jurídico, antropocentrismo e biocentrismo não se excluem, mas
atuam de modo complementar. Basicamente sustenta que no direito a natureza tem
sido considerada ora bem, ora sujeito. Enquanto objeto a proteção é da
biodiversidade, no caso do direito ambiental, independentemente de sua utilidade
para o homem.
É ato de cidadania a preservação ambiental, assim é importante a participação de
toda a sociedade dos diversos países e em todos segmentos, como: nas políticas públicas,
cultural, social, político, educacional entre outros.
Antunes (2005, p. 76):
Entendo que o Direito Ambiental pode ser definido como um direito que se
desdobra em três vertentes fundamentais, que são constituídas pelo direito ao meio
ambiente, direito sobre o meio ambiente e direito do meio ambiente. Tais vertentes
existem, na medida em que o Direito Ambiental é um direito humano fundamental
que cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida, ao
desenvolvimento econômico e proteção dos recursos naturais. Mais do que um
43
direito autônomo, o Direito Ambiental é uma concepção de aplicação da ordem
jurídica que penetra, transversalmente, em todos os ramos do Direito. O Direito
Ambiental, portanto, tem uma dimensão ecológica e uma dimensão econômica que
se devem harmonizar sob o conceito de desenvolvimento sustentado.
As teorias são importantes para o Direito Ambiental, pois umas não excluem as
outras, buscam uma visão holística e global entre o homem e a natureza que mantenha a
preservação da natureza. Araújo (2008, p. 21):
Para o direito ambiental, o desenvolvimento sustentável que visa atender às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem as suas próprias necessidades não escapa ao antropocentrismo. Ou seja, o
direito ambiental objetiva proteger o meio ambiente, nele inserido o meio ambiente
do trabalho, tão-somente à vista da necessidade do homem e, trazendo para o objeto
da presente dissertação, do homem enquanto trabalhador.
O equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a proteção da natureza tem sido o
objetivo que o Direito Ambiental tem almejado, pois o desenvolvimento econômico sem
sustentabilidade é o que tem preocupado a sociedade, pois a degradação ao meio ambiente é
grande, e muitas vezes irreversível causando devastação e redução dos recursos com isso a
dizimação de seres vivos.
Melo (2001, p. 36-37):
[...] A ideia de desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas,
transmitida pelo art. 225 e incisos da Constituição Federal, realça a necessidade de
interação do homem com o mundo natural, para que, num dado ecossistema, não se
perca de vista que o ser humano ali radicado tem tanto direito à vida quanto a fauna
e flora ali ocorrentes. Sucintamente, a necessária defesa do Tamanduá-Bandeira ou
do Mogno em determinada região do país, deve ser gerenciada de modo a que haja
igual preocupação com o homem ali vivente.
A teoria do Antropocentrismo possui na sua essência a preservação da vida, porém
há uma necessidade de interação com as demais teorias é importante. Deve existir uma
consciência que a relação entre os seres vivos e meio ambiente sadio permitirá a
sobrevivência de todas as espécies.
2.6 RELEVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS NO DIREITO AMBIENTAL
O meio ambiente foi consagrado pela Constituição Federal de 1988 como um direito
humano fundamental, pois passou a tratar dos recursos ambientais de forma integrada e
holística. Com isso o Direito Ambiental ganhou sua devida relevância com sua gradativa
evolução ao ponto de ganhar autonomia como ramo da Ciência Jurídica ao nível de ter seus
próprios princípios.
Podemos encontrar os princípios do Direito Ambiental em diversas partes da
Constituição Federal, umas explícitas e outras implícitas. Eles prestam auxílio no
44
conhecimento do sistema jurídico no que concerne identificar formas eficazes para que haja
um sistema lógico, harmônico, racional e coerente das normas.
Conhecer os princípios é condição sine qua non para aplicar o direito de forma
correta e efetiva. São amplamente utilizados em diversas disciplinas de várias áreas do
conhecimento, porém no Direito Ambiental os princípios são importantes bases a serem
respeitadas pela sociedade. Assim, os princípios constituem mandamentos nucleares de
qualquer sistema a que se relacionam.
Para melhor entendimento vamos a alguns conceitos: A palavra “princípios” deriva
do latim principiu e significa o local ou trecho ou momento em que alguma coisa tem origem.
Já no conceito simples presente no dicionário da Língua Portuguesa, Ferreira (2011, p. 710)
dá os seguintes significados: “Causa primária; Origem; Preceito: regra; Antes de qualquer
consideração; Antes de mais nada”.
Mello o conceitua (2004, p. 451):
O princípio é um mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele,
disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o
espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência,
exatamente para definir a lógica e racionalidade do sistema normativo, no que lhe
confere a tônica de lhe dá sentido harmônico.
Nesse sentido, percebe-se a relevância ímpar dos princípios para o Direito, eles
devem conter informação, orientação e inspiração para as regras gerais, sua violação é
considerada gravosa para quem o faz, pois ofende todo o sistema.
Nunes (2002, p. 37) define os Princípios Constitucionais:
Os princípios constitucionais são o ponto mais importante de todo o sistema
normativo, já que estes são os alicerces sobre os quais se constrói o Ordenamento
Jurídico. São os princípios constitucionais que dão estrutura e coesão ao edifício
jurídico.
Nesse sentido, Ataliba (2001, p. 6-7) aduz:
[...] Princípios são linhas mestras, os grandes nortes, as diretrizes magnas do sistema
jurídico, apontam os rumos a serem seguidos por toda a sociedade e
obrigatoriamente a perseguidos pelos órgãos do governo (poderes constituídos).
Dessa maneira, observa-se que os princípios são o ponto de partida para que o
sistema jurídico seja interpretado de maneira coesa, lógica, harmônica e com uniformização
de entendimentos.
O Direito Ambiental no Brasil teve seu marco com a edição da Lei n. 6.938/81 que
trata sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, sendo que seus princípios foram essenciais
45
para seu reconhecimento como ramo autônomo da Ciência Jurídica, embora desempenhassem
as mesmas funções dos outros ramos do direito recebeu destaque devido a sociedade ter tido a
necessidade de desenvolver um “modelo” que não fosse ameaça à sustentabilidade do planeta.
Benjamin (1993, p. 227) aponta as quatro principais funções dos princípios do
Direito Ambiental no que diz respeito a sua compreensão e aplicação:
a) São os princípios que permitem compreender a autonomia do Direito Ambiental
em face dos outros ramos do Direito;
b) São os princípios que auxiliam no entendimento e na identificação da unidade e
coerência existentes entre todas as normas jurídicas que compõem o sistema
legislativo ambiental;
c) É dos princípios que se extraem as diretrizes básicas que permitem compreender a
forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista na sociedade;
d) E, finalmente, são os princípios que servem de critério básico e inafastável para a
exata inteligência e interpretação de todas as normas que compõem o sistema
jurídico ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do Direito nessa
área.
Nesse diapasão, Lorenzetti (1998, p. 286) conceitua os princípios:
Os princípios, tais como as regras, se inserem no campo do deve ser, delineando
comportamentos a serem seguidos pelos destinatários, possuindo inegável força
normativa. A diferença das regras e princípios baseia-se no fato de que estas
possuem uma generalidade mais ampla que aquelas. As regras podem se referir a
casos específicos conquanto os princípios possuem amplitude genérica.
Assim, sua autonomia como ramo da Ciência Jurídica foi importante para todos, pois
tem como finalidade a proteção à vida, e assim tentar propiciar as presentes e futuras gerações
uma vida digna com qualidade.
2.7 PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO DIREITO AMBIENTAL
Encontramos os princípios do Direito Ambiental de forma explícita na Constituição
Federal e de forma implícita em diversos textos do ordenamento jurídico, ambos com
aplicabilidade no sistema jurídico brasileiro. Como parte desses princípios ambientais são de
caráter doutrinário, não há uniformidade entre os juristas de quantos e quais são os princípios
que regem o Direito Ambiental.
Milaré (2004, p. 136-152) enumera os seguintes princípios do Direito Ambiental:
Meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa
humana, natureza pública da proteção ambiental, controle de poluidor pelo Poder
Público, consideração da variável ambiental no processo decisório de políticas de
desenvolvimento, participação comunitária, poluidor-pagador, prevenção, função
social da propriedade, desenvolvimento sustentável e cooperação entre os povos.
46
Para Machado (2007, p. 43-78) são estes os princípios que considera mais
importantes: “acesso equitativo aos recursos naturais, usuário-pagador e poluidor-pagador,
precaução, prevenção, reparação, informação e participação.”
Antunes (2005, p. 16-37) trabalha com os seguintes: “direito humano fundamental,
desenvolvimento, democrático, precaução, prevenção, equilíbrio, limite, responsabilidade,
poluidor-pagador.”
Percebe-se que não há um consenso doutrinário sobre os princípios do Direito
Ambiental devido as diferenças e divergências quanto a sua classificação principiológica.
Assim, a principiologia do Direito Ambiental é imprescindível para termos
conhecimento e compreensão do tema. De qualquer forma, serão analisados os princípios
gerais voltados ao tema central desta dissertação.
2.7.1 Princípio do Desenvolvimento Sustentável
O princípio do desenvolvimento sustentável ocorre quando o Direito Ambiental tem
interação com o Direito econômico-social, e há cooperação de todos na tarefa de dizimar a
pobreza e assegurar o crescimento econômico dos recursos naturais e não renováveis, porém
esse princípio enfrenta uma grande divergência de interesses.
Vianna (2011, p. 58):
Assim, a grande divergência entre economia e meio ambiente consiste no fato de
que a natureza é estruturada em eventos cíclicos, ao passo que a economia, e,
comportamento lineares. Enquanto no meio ambiente um determinado
comportamento humano pode gerar um impacto ambiental, seguindo-se-lhe um
efeito em cascata passível de afetar o próprio ser humano, ante a interdependência e
interconexão dos seres e elementos que compõem o globo terrestre, na economia o
que importa é a lei da oferta e da procura, a busca de novos mercados.
Veiga (2008, p. 187-188) relaciona três fundamentais âmbitos que se relacionam,
interagem e se sobrepõem no desenvolvimento sustentável:
a) A dos comportamentos humanos, econômico e sociais, que são objeto da teoria
econômica e das demais ciências sociais;
b) O da evolução da natureza, que é objeto das ciências biológicas, físicas e
químicas;
c) O da configuração social do território, que é objeto da geografia humana, das
ciências regionais e da organização do espaço.
Nos últimos anos, com o aumento dos problemas ambientais houve a necessidade de
estreitar a temática do crescimento econômico com o meio ambiente, o tema
“desenvolvimento sustentável” passou a ter muita importância no cenário mundial, para isso
buscou-se eixos de consolidação entre a necessária adequação do homem com a natureza.
47
Veiga (2008, p. 198) denomina como “área cinzenta” a questão do desenvolvimento
& sustentabilidade:
Mais de trinta anos depois, são imensos os obstáculos que precisariam ser
ultrapassados para que a ciência econômica venha dar conta da problemática
ambiental. (...) A valoração econômica dos elementos do meio ambiente tem sido
tentada como se fosse o único caminho possível para que se alcance um
planejamento de ações governamentais compatíveis com a aspiração a um
desenvolvimento sustentável (...) o elevado grau de incerteza a respeito das relações
da causa e efeito que podem estar associadas a certos ecossistemas.
Percebe-se que ajustes devem ocorrer tanto no aspecto da sustentabilidade ambiental
quanto em relação ao seu crescimento para se obter a melhoria da qualidade de vida, porém
são muitas as incertezas que o termo desenvolvimento sustentável nos traz, pois a solução é
complexa, embora exista uma legislação ambiental, a mesma não garante que sua aplicação
será totalmente segura.
Sachs (2004, p. 15):
[...] É baseada no duplo imperativo ético de solidariedade sincrônica com a geração
atual e de solidariedade diacrônica com as gerações futuras. Elas nos compele a
trabalhar com as escalas múltiplas de tempo e espaço, o que desarruma a caixa de
ferramentas do economista convencional. Ela nos impele ainda a buscar soluções
triplamente vencedora eliminando o crescimento selvagem obtido ao custo de
elevadas externalidades negativas, tanto sociais quanto ambientais. Outras
estratégias, de curto prazo, levam ao crescimento ambientalmente destrutivo, mas
socialmente benéfico, ou ao crescimento ambientalmente benéfico, mas socialmente
destrutivo.
A interligação entre direitos humanos e ambientais é imprescindível para que haja
uma medida mais consensual de sustentabilidade ambiental, pois a condição de vida está
ameaçada pela própria ação do homem.
Vianna (2011, p. 59):
No entanto, esse “desenvolvimento” há de ser “sustentável”, vale dizer, deve ser
implementado mediante uma visão holística e sistêmica, inserida no complexo
indissociável que homem e natureza, concretizando entre ambos um convívio sóbrio
e saudável, ecologicamente equilibrado, propiciando ao homem de hoje e ao de
amanhã uma sadia qualidade de vida.
Na legislação brasileira o princípio de desenvolvimento sustentável oferece vários
conceitos, como: Na legislação ambiental brasileira no art. 2º da lei 6.938/81 (Política
Nacional de Meio Ambiente):
A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país,
condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana.
48
E ainda no seu inciso I. art. 4º cita: “visará à compatibilização do desenvolvimento
econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio
ecológico”.
Na Constituição Federal/88 no art. 7º, incisos XXII e XXIII concretizam o
desenvolvimento sustentado dos trabalhadores: “XXII - redução dos riscos inerentes ao
trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXIII - adicional de
remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;”.
Alguns de seus artigos regula a área de conflituosidade, como: Ainda em seu art. 170,
inciso IV cita: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: IV - livre concorrência”.
No art. 225 que rege que:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1991, p. 46)
conceitua como sendo: “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade das gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades.”
Na Declaração do Rio/92 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, o 4º princípio
rege que: “Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção constituirá parte
integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente em
relação a ele”.
Para Pachauri (2016, p. 5), Ex-Presidente do Painel intergovernamental sobre
mudanças climáticas no período de 2002-2015 e Diretor-Geral do Instituto de Energia e
Recursos (TERI), é extremamente preocupante o desenvolvimento sustentável:
O Acordo alcançado em dezembro de 2015 na 21ª Conferência das Partes (COP-21)
da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC),
realizada em Paris, é um importante avanço na forma de lidar com o desafio da
mudança climática. O fato de quase todos os países do Planeta terem assinado o
Acordo de Paris é um êxito importante, cujo crédito cabe em grande parte ao
Governo da França. (...) Todo acordo sobre mudança climática deve levar em conta
a avaliação científica dos impactos que o mundo enfrentará e dos riscos que deverá
suportar se não forem realizados esforços suficientes para mitigar as emissões de
Gases de Efeito Estufa (GEE). Também é preciso avaliação científica em nível de
mitigação que limite os riscos dos impactos consequentes a níveis aceitáveis. O
Quinto Informe de Avaliação (AR5) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC) fornece uma avaliação clara sobre o rumo que o Planeta seguirá
se não forem modificadas suas práticas habituais. O AR5 estabelece claramente que,
se não forem feitos esforços de mitigação adicionais aos existentes hoje em dia, e
inclusive com a adaptação, o aquecimento do Planeta no final do Século 21 gerará
49
riscos muito altos de consequências graves, generalizadas e irreversíveis em nível
mundial.
Assim, o princípio do desenvolvimento sustentável é um dos mais antigos ideais de
justiça, pois contempla as dimensões: humana, física, econômica, política, cultural e social em
harmonia com a proteção ambiental, apesar de toda a ambiguidade que ela carrega, pois não
se deve construir o desenvolvimento à custa do sacrifício ambiental e a diminuição das
possibilidades de vida planetária.
2.7.2 Princípio da Prevenção
O Princípio da Prevenção é considerado um dos mais importantes princípios para a
preservação do meio ambiente, pois é através de medidas preventivas que será evitado o dano
ambiental. A degradação ambiental afeta toda a natureza, é global, motivo de preocupação.
Camargo e Melo (2013, p. 63):
O princípio da prevenção, através de medidas preventivas, objetiva evitar danos ao
meio ambiente por atividades efetiva ou potencialmente causadoras de danos. Neste
caso, os riscos ou as causas de possíveis danos ambientais são bem conhecidos,
cabendo ao potencial poluidor e, de forma residual, ao Poder Público, adotar as
medidas preventivas cabíveis.
A prevenção se diferencia dos demais devido sua relação ser com o perigo concreto
que precisa ser evitado, logo orienta o Direito Ambiental à medida que é aplicável num dano
ambiental determinado.
Para Marchesan (2005, p. 30):
De maneira sintética, podemos dizer que a prevenção trata de riscos ou impactos já
conhecidos pela ciência, ao passo que a precaução se destina a gerir riscos ou
impactos desconhecidos. Em outros termos, enquanto a prevenção trabalha com o
risco certo, a precaução vai além e se preocupa com o risco incerto. Ou ainda, a
prevenção se dá em relação ao perigo concreto, ao passo que a precaução envolve
perigo abstrato.
Os riscos ou impactos ambientais conhecidos pela ciência leva a sociedade a
procurar conjuntamente com os outros ramos do saber medidas preventivas que não agrida a
natureza, pois a reparação de um dano ambiental muitas vezes é irreversível.
A proteção ambiental deve ser estendida também ao Direito do Trabalho para
garantir ao trabalhador um meio ambiente laboral digno que traga uma sadia qualidade de
vida.
50
Camargo e Melo (2013, p. 54-55) assevera que:
A prevenção significa adoção de medidas tendentes a evitar riscos ao meio ambiente
e ao ser humano. [...]. No que se refere ao meio ambiente do trabalho, o princípio da
prevenção não só é aplicado, como deve ser observado de forma mais rigorosa, pois
é o ambiente em que o homem sofre diretamente os efeitos do dano, enquanto
trabalhador.
No âmbito trabalhista o princípio da prevenção deve ser obedecido por todos os
sujeitos, pois assim como os empregadores têm o dever de informar os direitos e deveres a
seus empregados, esses indivíduos devem praticar esse princípio em sua vida diária no seu
ambiente laboral, a fim de se evitar riscos ambientais que ele possa sofrer, pois medidas
preventivas para elidir ou minimizar os riscos no ambiente do trabalho devem existir e o
empregado (maior interessado) deve contribuir na aplicação da lei.
Melo (2013, p. 58):
Nossa legislação, como se vê, não faz distinção entre prevenção e precaução,
cabendo à doutrina fazê-lo. Assim, aplica-se a prevenção quando se sabe das
consequências de determinado ato, pois o nexo causal já é cientificamente
comprovado e certo, decorrendo muitas vezes da lógica das coisas. Pelo princípio da
precaução, previne-se mesmo não sabendo quais serão as consequências decorrentes
do ato supostamente danoso, diante da incerteza científica. Isso porque os danos
ambientais, uma vez concretizados, como regra, não podem restituir o bem ao estado
anterior.
A ideia de reparação no dano ambiental é um fato que as leis buscam combater, pois
a reconstituição do meio ambiente ao estado quo é muitas vezes irreversível, e a prevenção
ainda é menos oneroso a todos.
No art. 225 da Constituição Federal/88 está explícito o dever de todos preservarem o
meio ambiente: [...] “impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
de preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.(Grifo nosso)
A Resolução n. 237/97 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é um
instrumento administrativo usado no estudo de impacto e licenciamento ambiental:
Considerando a necessidade de revisão dos procedimentos e critérios utilizados no
licenciamento ambiental, de forma a efetivar a utilização do sistema de
licenciamento como instrumento de gestão ambiental, instituído pela Política
Nacional do Meio Ambiente.
Na Consolidação das Leis Trabalhistas o Princípio da Prevenção surge em diversos
artigos, como:
Art. 154 - A observância, em todos os locais de trabalho, do disposto neste Capitulo,
não desobriga as empresas do cumprimento de outras disposições que, com relação à
matéria, sejam incluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos
Estados ou Municípios em que se situem os respectivos estabelecimentos, bem como
daquelas oriundas de convenções coletivas Art. 155 - Incumbe ao órgão de âmbito nacional competente em matéria de
segurança e saúde do trabalhador:
51
[...]
II - coordenar, orientar, controlar e supervisionar a fiscalização e as demais
atividades relacionadas com a segurança e a medicina do trabalho em todo o
território nacional, inclusive a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do
Trabalho.
[...]
Art. 161 - O Delegado Regional do Trabalho, à vista do laudo técnico do serviço
competente que demonstre grave e iminente risco para o trabalhador, poderá
interditar estabelecimento, setor de serviço, máquina ou equipamento, ou embargar
obra, indicando na decisão, tomada com a brevidade que a ocorrência exigir, as
providências que deverão ser adotadas para prevenção de infortúnios de trabalho.
[...]
Art. 186 - O Ministério do Trabalho estabelecerá normas adicionais sobre proteção
e medidas de segurança na operação de máquinas e equipamentos, especialmente
quanto à proteção das partes móveis, distância entre estas, vias de acesso às
máquinas e equipamentos de grandes dimensões, emprego de ferramentas, sua
adequação e medidas de proteção exigidas quando motorizadas.
[...]
Art. 195 - A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade,
segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através de perícia a cargo
de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do
Trabalho.
[...]
Art. 200 - Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições complementares
às normas de que trata este Capítulo, tendo em vista as peculiaridades de cada
atividade ou setor de trabalho.
Embora haja bastante dispositivos legais protetivos no ordenamento jurídico
brasileiro, sua aplicação por parte do Estado deve ser incansável e criativa de modo que
envolva toda a sociedade, deve informar os riscos ambientais graves que cada um está sujeito.
Melo (2013, p. 55) defende uma medida compensadora: “incentivos fiscais
conferidos às atividades que atuem em parceria com o meio ambiente e maiores benefícios às
empresas que utilizem tecnologias limpas”.
Todas as formas de desenvolvimento econômico levam a degradação ambiental
direta ou indireta, mesmo diante do desenvolvimento sustentável, pois é um “enigma”. Se as
liberações de licenças para construções de grandes obras serão ou não viáveis para o
verdadeiro desenvolvimento.
A visão holística ambiental traz à tona a necessidade de bases sólidas na aplicação
desses princípios a começar pela educação ambiental, fiscalização e sanção mais severas
direcionadas aos inimigos da natureza. A parceria do Poder Público, sociedade e os
empresários é uma estratégia para a prevenção ambiental.
2.7.3 Princípio da Precaução
O Princípio da Precaução surgiu nos meados da década de 30, primeiramente
desenvolvido e consolidado pelo direito alemão (Vorsorgeprinzip) que era centrando na ideia
52
do gerenciamento de um bom lar, mais tarde foi estabelecido nos outros países. O Estado
considerou que esse princípio seria um aliado no gerenciamento das mudanças ambientais do
futuro tanto na política quanto nas ações regulatórias, pois ajudaria a evitar os riscos
ambientais não previstos.
Para Melo (2013, p. 56): “Precaução em Direito Ambiental, tem a ver com risco, mas
diante da irreversibilidade dos prejuízos eventuais ao ser humano, devem-se adotar, medidas
preventivas, pois o aspecto humano prevalece em face do econômico”.
Consagrado pela doutrina internacional o princípio da precaução é considerado um
princípio basilar que age frente aos riscos imprevisíveis e desconhecidos. Sua aplicabilidade
está voltada à análise dos casos de incertezas científicas acerca de sua degradação, ficando
assim o ônus da prova para o proponente do empreendimento que deverá provar a ausência de
riscos ambientais.
Silva (2004, p. 84-86):
O princípio da precaução pode, portanto, ser definida como uma nova dimensão da
gestão do meio ambiente na busca do desenvolvimento sustentável e da
minimização dos riscos. Diante dos progressos tecnológicos das sociedades
contemporâneas, o princípio da precaução busca implementar uma lógica de
segurança suplementar que vai além da óptica preventiva e questiona a razão do
desenvolvimento das atividades humanas, em função de uma melhora qualitativa de
vida para o homem, no presente e no futuro. Ele constitui o fio condutor da lógica da
proteção ambiental, da defesa e da preservação do meio ambiente para as gerações
presentes e vindouras.
O Princípio da Precaução adota medidas acautelatórias que buscam o
desenvolvimento sustentável com o mínimo de risco possível, pois a aplicabilidade desse
princípio pode evitar possíveis ameaças à saúde e segurança do homem.
Houve um marco importante para o meio ambiente na Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, pois
foi construída a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento que trouxe
descrito em seus princípios 15 e 17 o princípio da precaução:
Princípio 15: Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução
deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades.
Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza
científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas
economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.
Princípio 17: A avaliação de impacto ambiental, como instrumento internacional,
deve ser empreendida para as atividades planejadas que possam vir a ter impacto
negativo considerável sobre o meio ambiente, e que dependem de uma autoridade
nacional competente.
53
É um princípio norteador das políticas ambientais, pois sua aplicabilidade serve para
evitar riscos de ocorrência de danos ambientais. Tanto é a sua importância que foi
incorporado no art. 4º, incisos, I e IV da Lei nº 6.938/81 (Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente); art. 225, § 1º, Inc. IV da Constituição Federal de 1988/81; e no art. 54, § 3º da Lei
n. 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais).
O princípio da precaução é importante para a proteção do meio ambiente laboral
hígido. Como há interesse econômico, esse princípio é uma forma de proteção do trabalhador,
pois impõe limites e sua aplicabilidade deve estar respaldada de segurança jurídica para
salvaguardar os interesses dos trabalhadores considerados, pela lei, como parte frágil da
relação trabalhista.
Contudo, vale ressaltar que há diferença nas tutelas pretendidas pelo Direito do
Trabalho e o Direito Ambiental do Trabalho. Enquanto o primeiro tutela as relações
empregatícias com vínculo de subordinação, a segunda garante a saúde e segurança do
trabalhador.
Para Melo (2013, p. 57):
O princípio da precaução é a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com
o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificada. Decorre desse
princípio que mesmo na ausência da certeza científica formal, a existência de um
risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que
possam evitar possível dano.
Interessante que o princípio da precaução que tutela o meio ambiente do trabalho
absorve temas que até então eram objetos de estudo exclusivo do direito do trabalho e do
direito da seguridade social.
Melo (2013, p. 57) sustenta que:
Como se observa no dia a dia da prática forense, há casos de grande e iminentes
riscos em que não se tem dúvida quanto à potencialidade de acidentes; mas em
outros, numa primeira análise, o juiz pode não se convencer do perigo para a
integridade física dos trabalhadores. Porém, como os danos à saúde são quase
sempre irreversíveis, o bom-senso aconselha maior prudência do magistrado
mediante priorização dos aspectos humanos e sociais em relação ao aspecto
econômico. O caso, o que se protege é a pessoa, “valor fonte de todos os valores”,
pelo que, em momento algum, se deve priorizar o aspecto econômico da atividade,
como se tem visto em algumas decisões judiciais que, com fundamento no prejuízo a
ser causado pela suspensão da atividade econômica, indeferem medidas de
interdições administrativas feitas pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Como o meio ambiente faz parte do direito difuso, a responsabilidade é objetiva,
assim não precisa ter certeza sobre a ocorrência do dano ambiental, basta que o suposto dano
seja irreversível e irreparável para tomar as medidas legais cabíveis.
54
Nesse contexto, o princípio da precaução é considerado um instrumento da política
ambiental baseado na inversão do ônus da prova amparado pelo inciso VI art. 6º Código de
Defesa do Consumidor, pois antecede a manifestação de perigo precavendo-se do risco ainda
indefinido.
3 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO DO PROFESSOR
Antes, porém, de ingressar no cerne do meio ambiente do trabalho do professor,
imperiosa se faz conceituar a profissão do docente: O professor é um facilitador no
desenvolvimento educacional, moral e intelectual do discente. Ele é o profissional primordial
na transmissão e aquisição de conhecimento de forma adequada, criativa e prazerosa, pois
possui estratégias que despertam a visão crítica do aluno frente a realidade em que vive a
sociedade. Visa o pleno desenvolvimento do alunado, preparando-os para o exercício da
cidadania e qualificando-os para o mercado de trabalho.
O meio ambiente de trabalho saudável é um direito de qualquer trabalhador, assim o
labor-ambiental do professor é constituído por condições específicas presentes na sua
profissão que vai além do local em que ele desenvolve suas atividades cotidianas e precisa
também ter higidez.
Diante disso, esta dissertação analisou neste capítulo sobre o meio ambiente do
trabalho do docente, ressaltando: A evolução do trabalho do professor; Peculiaridades das
lesões ao meio ambiente do trabalho do professor; O direito à sadia qualidade de vida no meio
ambiente de trabalho; Proteção jurídica ao meio ambiente laboral do professor; e Visão dos
tribunais.
3.1 EVOLUÇÃO DO TRABALHO DO PROFESSOR
A evolução do trabalho do professor começou de fato no início do Brasil Colônia,
onde a maioria dos professores eram os padres jesuítas, suas intenções não estavam voltadas,
exclusivamente para ensino, e sim para o domínio clerical. Nessa época, a profissão de
professor não existia, mas como eram os padres jesuítas que catequizavam a sociedade deu a
conotação equivocada de “sacerdócio”.
55
Carlotto (2002, p. 22):
[...] O próprio clero era responsável pela atividade docente. A necessidade de
convocar colaboradores leigos fez com que fosse instituída a realização de uma
profissão de fé e juramento de fidelidade aos princípios da Igreja, o que deu origem
ao termo professor: pessoa que professa a fé e fidelidade dos princípios da
instituição e se doa sacerdotalmente aos alunos.
Os jesuítas permaneceram no Brasil por 210 anos, após a chegada de Marquês de
Pombal, eles foram expulsos de Portugal e de suas Colônias, e com isso a Coroa escolhia
quem poderia ensinar. O descaso com a educação coexistiu por três séculos, formas dispersas
de ensino-aprendizagem foram utilizadas. Nessa época não havia a função de docente e sim só
uma função secundária sem qualificação alguma.
Para Nóvoa (1995, p. 15):
A função docente desenvolve-se de forma subsidiária e não especializada,
constituindo uma ocupação secundária de religiosos ou leigos das mais diversas
origens. A gênese da profissão de professor tem lugar no seio de algumas
congregações religiosas, que se transformaram em verdadeiras congregações
docentes.
Em 1835 é que a profissão de professor foi oficializada na cidade de Niterói no Rio
de Janeiro. Sabe-se que embora a República tivesse sido proclamada nos fins do século XIX
(1889), somente a partir dos anos 20 e 30 do século XX é que houve mudanças significativas
no campo educacional. Os ideais republicanos foram importantes na reivindicação da
ampliação das oportunidades educacionais.
Nagle (1990, p. 102) afirma:
A escolaridade era tratada por homens públicos e por intelectuais que, ao mesmo
tempo, eram “educadores”, num tempo em que assuntos educacionais não
constituíam, ainda, uma atividade suficientemente profissionalizada. Apenas na
década final da primeira república a situação vai ser alterada, com o aparecimento
do “técnico” em escolarização, a nova categoria profissional: este é que vai dar por
diante tratar, com quase exclusividade, dos assuntos educacionais.
O período republicano trouxe uma nova visão para educação brasileira. Foi oferecido
escolas preparatórias para quem quisesse ser professor. Nesse período quem mais trabalhava
no magistério eram as mulheres, com isso, surge mais uma vez o processo de
desprofissionalização do docente, alterna-se para “maternais” por associar as qualidades das
mulheres de serem mais amáveis e terem mais paciência.
Bassanesi (2000, p. 450):
[...] Tudo foi muito conveniente para que se construísse a imagem das professoras
como “trabalhadoras dóceis, dedicadas e pouco reivindicadoras”, o que serviria
56
futuramente para lhes dificultar a discussão de questões ligadas a salário, carreira,
condições de trabalho [...].
O que houve de fato, nessa época, foi que os homens optaram em buscar novas
profissões mais rentáveis nas indústrias, e com isso sobraram vagas de professores no
mercado de trabalho, assim houve a inserção das mulheres na docência.
Ferreira (2000, p. 79-87) informa que “Em 1931, foi publicada a lei que dá início à
regulamentação da profissão, com a criação do Registro Profissional, que se constituiu em
objeto de acentuadas discussões na sociedade, mobilizando sobretudo os professores”.
O surgimento das primeiras indústrias, a emergência das camadas médias e a
imigração tem efeitos sobre o campo educacional mudou o pensar de conquistar o
desenvolvimento intelectual para uma gestão científica do trabalho. Para os professores essa
mudança não trouxe uma melhor situação trabalhista, ao contrário ficou mais desgastante e
rígido.
Carlotto (2002, p.22), comenta:
Dentre as várias questões impostas pela nova organização do trabalho, algumas
foram especificamente formuladas aos professores: 1) desenvolver métodos eficazes
a serem seguidos pelos professores; 2) determinar, em função disso, qualificações
necessárias para o exercício da atividade; 3) capacitá-los em consonância com as
qualificações, ou colocar requisitos de acesso; 4) fornecer formação permanente que
mantivesse o professor à altura de suas tarefas durante a permanência na instituição;
5) dar-lhe instruções detalhadas sobre como realizar o trabalho; 6) controlar
permanentemente o fluxo do “produto parcialmente desenvolvido”, isto é, o aluno.
Desde o início do século XX, mudanças significativas vêm ocorrendo na sociedade
brasileira. No campo da educação o Manifesto dos Pioneiros foi um marco, pois trouxe
mudança no sistema educacional, sua defesa era oportunizar uma educação pública gratuita a
todos.
É fato que a profissionalização do magistério trouxe um avanço importante na vida
profissional dos professores, não que tal mudança melhorou sua vida completamente, mas
devido ter recebido o reconhecimento de sua profissão.
Com o crescimento populacional e o novo pensar educacional, aumentou a
quantidade de escolas gratuitas e consequentemente a quantidade de professores, porém com
baixa qualidade de ensino. A mercantilização do ensino surge a partir de novas políticas neo-
liberais e com isso gerou uma competitividade entre as escolas privadas.
Para Marques de Lima (2009, p. 31):
Em época de flexibilização dos direitos trabalhistas, com as instituições de ensino
privado despontando sob a ótica empresarial, vem crescendo numericamente a cada
ano, precarizando as condições laborais do professor e seus salários, ante a visão
comercial, especulativa, o Direito do Trabalho necessita ser retomado. Ele é o
57
instrumento que liberta o trabalhador e lhe resgata a dignidade [...]. Na crise que se
instala, mais uma vez o corpo docente será chamado para fazer sacrifícios, sob o
pretexto de colaborar com o mantenedor a manter o emprego.
Logo, a evolução do trabalho do professor não trouxe a valorização dos direitos e
garantias fundamentais, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização
Mundial da Saúde (OMS) inferem que as relações de trabalho do professor predominarão as
doenças ocupacionais, logo um futuro desalentador.
3.2 PECULIARIDADES DAS LESÕES AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO DO
PROFESSOR
A preservação do meio ambiente laboral do professor é alvo de preocupação em
nível nacional e internacional, assim apesar das regulamentações de leis ambientais existentes
no que concerne a preservação do meio ambiente saudável e equilibrado, pouco foi feito para
efetivá-lo no meio ambiente laboral do professor.
Dentro dessa preocupação, os países estão estudando o desconforto do exercício do
magistério para tentar encontrar formas de assegurar melhores condições de trabalho a todos
esses trabalhadores, uma vez que passam muito tempo de seu dia e a maioria de sua vida em
seus empregos.
Esteve (1999, p. 8) avalia o problema em nível internacional:
O fenômeno do “mal-estar docente” não é, de maneira alguma, uma peculiaridade
do sistema educacional espanhol, mas se trata de um fenômeno internacional, cujo
sintomas começam a fazer-se evidentes no início da década de oitenta nos países
mais desenvolvidos, a exemplo do que se verificou e se publicou na Suécia (1983),
França (1984) e Reino Unido (1989-90).
.
A degradação do meio ambiente de trabalho dos docentes é um problema que está
ocorrendo em vários países com dados estatísticos e também de relatórios que indicam
problemas concretos feitos por organizações oficiais como a IIPE – UNESCO a OIT entre
outros.
Os profissionais da área da educação estão adquirindo doenças ocupacionais devido
estarem expostos, acima do limite permitido por lei, a agentes nocivos à saúde, isso devido à
falta de precaução e prevenção da maioria das instituições educacionais públicas ou privadas
de todo o país.
O meio ambiente laboral dos docentes tem sido objeto de investigação científica em
outras áreas do conhecimento que estão buscando compreender melhor o mal-estar docente,
porém o Direito Ambiental numa perspectiva interdisciplinar e transdisciplinar tem buscado a
58
sinergia necessária da pesquisa jurídica com as outras ciências do conhecimento,
principalmente com a Ciência da Saúde.
O adoecimento do docente é um fenômeno mundial que o acomete com várias
doenças ocupacionais que o faz se abster ou abandonar a profissão de professor. A OIT (1981,
p. 124) cita que “a intensificação da tensão nervosa é igualmente assinalada na Bélgica,
Canadá, Escócia e Nova Zelândia, especialmente, entre as razões que levam os educadores a
buscar outra profissão.”
Esteve (1999, p. 40):
A profissão de mestre nas escolas de ensino em todos os níveis na Suécia não só
deixou de ser atrativa, como está ameaçada de uma progressiva deserção dos
quadros docentes. A principal razão disso é o esforço psíquico a que estão
submetidos os docentes como consequência do clima dominante nos centros de
ensino. Uma quarta parte dos professores de Estocolmo pensa em mudar de
atividade, se já não fez [...]. Durante o último ano, 264 mestres mudaram de
atividade e os pedidos de emprego em arquivos, museus e outros lugares mais
tranquilos aumentaram nesse setor. Várias centenas de docentes tiveram de recorrer
aos serviços de psicoterapia do departamento de educação.
Zambom, F; Behlau (2009, p. 3) citam uma pesquisa de campo sobre a saúde vocal
em nível internacional:
Um grupo de fonoaudiólogos da Universidade de Utah realizou em 2004 uma
importante pesquisa epidemiológica nos Estados Unidos que mostrou alta incidência
de sinais e sintomas vocais em professores quando comparados com a população
geral (a pesquisa americana foi realizada nos estados de Utah e Iowa e investigou
1243 professores e 1158 sujeitos da população geral). Verificou também que
professores faltam mais o trabalho devido a problemas vocais e consideram mais a
necessidade de mudar de ocupação no futuro devido a um transtorno de voz.
O perfil de adoecimento e morte entre a população em geral advindos de algumas
doenças ocupacionais relacionadas ao uso inadequado de suas cordas vocais, que exercem ou
exerceram, ou pelas condições adversas em que seu trabalho é ou foi realizado é uma
realidade comum na profissão de professor. No entanto, no Brasil ainda não há
regulamentação jurídica reconhecendo os problemas da voz como doença ocupacional do
professor.
Apesar dos profissionais da área de educação desenvolverem umas das mais
importantes atividades na sociedade desde o início de nossa história, ainda hoje, com todas as
mudanças ocorridas, seja nos aspectos sociais, políticos, econômicos, políticos, culturais e
tecnológicos, que trouxeram muitas mudanças significativas no seu meio laboral, eles não
receberam reconhecimento jurídico no ordenamento brasileiro em relação a suas doenças
ocupacionais.
59
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura -
UNESCO2 (2004, p. 12) revelou que:
O Brasil é um país onde, nos últimos anos, ocorreu uma expansão muito rápida,
tanto de sua matrícula escolar, como de seu corpo docente. Os resultados desta
pesquisa permitem a compreensão, com muita clareza, da significativa
heterogeneidade dos docentes do país e a complexa variedade de situações que
existem, do ponto de vista da subjetividade dos mestres.
Esse crescimento foi apenas quantitativo da oferta escolar que gerou modificações na
gestão educacional para acompanhar tal “avanço”. Contudo, os resultados não são
satisfatórios nem no resultado do ensino-aprendizagem do discente e nem na melhoria da
sadia qualidade de vida do professor.
Pesquisa feita pelo Economist Intelligente Unit3 sobre o sistema de ensino no mundo
mostra o baixo desempenho do Brasil.
A pesquisa de uma das mais respeitadas consultorias sobre sistemas de ensino no
mundo, Economist Intelligence Unit, coloca o Brasil em penúltimo lugar em um
ranking sobre a qualidade da educação. A consultoria analisou habilidades
cognitivas e desempenho escolar dos alunos em 40 países. A Finlândia e Coréia do
Sul aparecem em primeiros lugares e o Brasil e a Indonésia em últimos lugares.
Também no último relatório elaborado pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), sobre o índice de desenvolvimento da
Educação, feito em 128 países, o Brasil aparece na 88ª posição. Países menos
desenvolvidos apresentam uma posição melhor. O Brasil aparece ao lado de
Honduras (87ª), Equador(81ª), Bolívia(79ª); mas está muito aquém de nossos
vizinhos e parceiros comerciais como Argentina (38ª), Uruguai (39ª) e Chile (51ª).
O desconforto no exercício do magistério no mundo é real, e isso traz consequências
negativas para todos os sujeitos envolvidos, como: para o aluno baixo nível de aprendizado,
para o docente mal-estar na profissão e para o Brasil o baixo nível de avanço no
desenvolvimento socioeconômico.
3.2.1 A profissão do professor na sociedade de risco
Os profissionais da área de educação estão suscetíveis a iminência de acidentes de
trabalho como qualquer outro profissional, pois à aquisição de doenças em razão da presença
de riscos ocupacionais são diversos, como: estressores psicossociais, ambientais, situacionais
e comportamentais, desse modo espera-se o cumprimento do art. 225 da Constituição de 1988
2 UNESCO. O Perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam. São Paulo.
2004, p. 12. 3 É um negócio dentro do grupo Economist prestação de serviços de previsão e de aconselhamento por meio de
pesquisa e análise, tais como relatórios mensais de cada país, previsões econômicas do país de cinco anos,
relatórios de serviços de risco-país, e relatórios da indústria.
60
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, [...]”, na vida desses
profissionais.
As discussões sobre os riscos ambientais do trabalho do docente nos trazem uma
expectativa criada em torno da profissão do professor, pois se desconhece o motivo da
distância entre o discurso sobre sua função e o reconhecimento que ele verdadeiramente
merece.
Uma das peculiaridades das lesões ao meio do trabalho do professor ocorre com o
risco ambiental que é tema relevante para sociedade, porém pouco conhecido, tanto é a
preocupação que existem programas nacionais e internacionais preocupados com a saúde,
segurança e o meio ambiente, os mais conhecidos em nível internacional são: ISO (para a
qualidade e meio ambiente) e a da OHSAS (para questões de saúde e segurança).
No Brasil, atualmente, existe o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGRs) que
regulamenta as normas preventivas para a proteção do meio ambiente, mas de forma ampla.
Devido isso, os programas internacionais são utilizadas para suprir lacunas do ordenamento
jurídico brasileiro no que concerne um programa de riscos ambientais direcionadas ao meio
ambiente do trabalho.
A OHSA4 (Occupational Safety and Health Administration/ Serviços de Avaliação
de Segurança e Saúde Ocupacional) de origem britânica, incube-se de dar orientações de
como implantar e avaliar as relações dos procedimentos de saúde e segurança do trabalho
integrado ao sistema de gerenciamento ambiental e também ao sistema de qualidade, em sua
apostila de norma (OHSAS 18001, 2007, p. 4) conceitua que: “Risco é uma combinação da
probabilidade de ocorrência de um evento perigoso com a gravidade da lesão, doença ou
perda que pode ser causada pelo evento”.
Em 2008 foi firmado um acordo de cooperação técnica entre o Instituto de Pesquisa
Econômica aplicada (Ipea) e aFundação Jorge Deprat Figueiredo de Segurança e Medicina do
Trabalho objetivando a implementação de ações conjuntas que assegurassem a realização de
estudo e de pesquisa sobre temas concernentes às políticas de Segurança e Saúde no Trabalho
(SST).
Segundo a Segurança e Saúde no Trabalho (2002, p. 12-13):
Registre-se a sua inserção contributiva no cenário atual, quando o país busca
formular e implementar a sua Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho
(PNSST) visando, sobretudo, “a promoção da saúde e a melhoria da qualidade de
4 A OHSAS 18001 foi desenvolvida para ser compatível com as normas de gestão ISO 9001:2000 (Qualidade) e
ISO 14001:2004 (Ambiente), a fim facilitar a integração dos sistemas de gestão da saúde e segurança do
trabalho, com os sistemas de gestão ambiental e com os sistemas de gestão da qualidade, caso as organizações o
pretendam fazer.
61
vida do trabalhador, a prevenção de acidentes e de danos à saúde advindos ou
relacionados ao trabalho ou que ocorram no curso dele”, preconizando, nesta
direção, a “eliminação ou redução dos riscos nos ambientes de trabalho”, conforme
o documento da Comissão Tripartite de Saúde e Segurança no Trabalho (CT-SST),
elaborado em 2010. Seus princípios são os seguintes: “a universalidade; a
prevenção; a precedência das ações de promoção, proteção e prevenção sobre as de
assistência, reabilitação e reparação; o diálogo social; a integralidade.
O risco de um acidente ou contrair doenças no ambiente de trabalho é uma realidade
que qualquer profissional está sujeito. Tanto que algumas profissões até são classificadas
como insalubres, ou perigosas, ou penosas e possuem regulamentação jurídica, normas de
proteção e recebem adicionais. Contudo, a profissão de professor não está inclusa nesse rol de
profissões, o que existem são as leis do sistema educacional, e não das doenças ocupacionais
dos professores. Vieira (2007, p. 45):
Para Moreno, Garrosa e González os docentes foram uma categoria especialmente
exposta aos riscos psicossociais. Estes se defrontam com situações nas quais se
desequilibram as expectativas individuais do profissional e a realidade do trabalho
diário. Diante desta situação, é possível o recurso as estratégias de enfrentamento
não adaptativas que vão esgotando seus recursos emocionais levando-os ao
deterioramento pessoal e profissional.
Os riscos trabalhistas dos professores são diários e doenças podem ser contraídas em
seu ambiente laboral, e nada é feito para reverter a situação. As condições de trabalho e a
situação social dos professores são importantes para que eles desenvolvam suas atividades
laborais com qualidade, porém desde o início da profissão de docente já havia o descaso com
esses profissionais, que infelizmente se perdura até hoje, muitas vezes até complexo, pois
querem qualidade de ensino, mas não dão condições para tanto.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1981 tenha classificado a
“profissão de professor numa atividade de risco físico e mental”, os governantes brasileiros
não deram a devida importância.
Pereira (2000, p. 5) ao comentar sobre atividade de risco do professor, aduz, com
base no estudo sobre “Stress na profissão docente: prevalência e fatores de risco[...] um em
cada três professores sente que a sua profissão é estressante e um em cada seis docentes
encontra-se em estado de exaustão emocional ou com esgotamento cerebral”.
Nesse diapasão Marques de Lima (2009, p. 112) afirma que:
Professores, médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas de reabilitação, assistentes
sociais, policiais, sacerdotes e advogados estão entre as categorias mais expostas e
condições de stress, por serem categorias profissionais de ajuda, “nas quais é muito
grande a carga emotiva de responsabilidade em relação ao cliente ou usuário, pois
do próprio trabalho pode depender o bem-estar ou ruína dos outros.
62
Nota-se que a exposição ao risco do professor é bem maior devido atender ao mesmo
tempo em média entre 30 a 45 alunos por sala, se ele tiver que cumprir 15 horas/aula por
turno, terá em média de 90 a 135 alunos, pois terá que lecionar em três turmas, como ele sofre
desvalorização salarial, precisará trabalhar os outros dois turnos, assim terá então uma média
de 270 a 405 alunos por ano letivo, são poucas as profissões que têm uma realidade parecida a
essa.
A Convenção 155 da OIT, em seu art. 3º, estabelece:
Que a expressão “local de trabalho” abrange todos os lugares onde os trabalhadores
devem permanecer ou onde têm que comparecer, e que esteja sob o controle, direto
ou indireto, do empregador e que o termo “saúde”, com relação ao trabalho, abrange
não só a ausência de afecção ou de doenças, mas também os elementos físicos e
mentais que afetam à saúde e estão diretamente relacionados com a segurança e a
higiene no trabalho.
As condições ambientais inapropriadas das escolas ou universidades trazem
desequilíbrio à saúde dos docentes, o contato direto com tantos alunos trazem diversas
enfermidades, e essa situação os levam a solicitação dos pedidos de licença para tratamento de
saúde ou para afastamento definitivo de sua função.
Vieira (2007, p. 91) tenta explicar que:
O trabalho docente é complexo, abarcando inúmeras problemáticas que envolvem
destes aspectos macros, como a globalização, as transformações no mundo do
trabalho, entre outros até questões do cotidiano. Podemos nos questionar, então, o
motivo de tão excepcionais indivíduos trabalharem num dos piores ambientes
profissionais. Uma hipótese pode ser aventada, a de que o motivo é tão somente o da
satisfação. Mesmo nessas condições adversas, não falta o fundamental: o sentido e o
significado daquilo que se faz. Ter reconhecimento do produto final do seu trabalho
mesmo que subjetivamente - fortalece a identidade do trabalhador.
A profissão de professor é uma atividade complexa, paradoxal e desvalorizada, mas,
mesmo assim, têm pessoas que são apaixonadas por ela, para esse professor, sua maior
recompensa é ver o fruto de seu trabalho, ou seja, ver seus alunos formados e preparados para
a vida, assim apesar de ser uma escolha pessoal, não é sinônimo que lecionará somente por
amor.
Vieira (2007 p. 37) cita os riscos que o professor enfrenta:
a) Desmotivação dos alunos
b) Comportamento indisciplinado dos alunos
c) Falta de oportunidade de ascensão na carreira profissional
d) Baixos salários
e) Más condições de trabalho
f) Pressão de tempo e prazo
g) Baixo reconhecimento e pouco prestígio social da profissão
h) Conflitos com colegas e superiores
i) Rápidas mudanças nas exigências de adaptação dos currículos.
63
Esses casos supracitados são alguns riscos de saúde que o professor enfrenta. Assim,
ser professor, hoje, transformou-se em uma atividade de risco que desafia sua resistência,
emoções, saúde, capacidade de mediar conflitos e transmitir seus conhecimentos de forma
criativa e eficaz.
Esteve (1999, p. 76) evidencia que:
[...] São muitas as doenças ocupacionais que acometem o professor, nos mais
diferentes níveis do ensino, e, por estar sua atividade dissociada do trabalho braçal,
ignoram-se seus direitos, o que representa, inclusive, prejuízo ao tratamento
igualitário a que todos fazem jus.
A profissão do professor na sociedade de risco merece uma reflexão crítica no que
concerne os riscos ambientais, situacionais e comportamentais adquiridos no ambiente laboral
de trabalho ou no seu exercício, como também decorrente da violência nas escolas que vem
crescendo a cada dia.
Existem muitos riscos da docência, porém serão citados apenas os que trazem para
ele maior exaustão. Primeiramente vale ressaltar a diferença de doenças profissionais ou
ocupacionais de doenças do trabalho, a primeira é adquirida ou desencadeada pelo exercício
do trabalho específico de cada profissão ou função, e a segunda está relacionada ao meio
ambiente do trabalho, ou seja, onde o trabalho é exercido.
Há doenças dos docentes que estão relacionadas ao meio ambiente do trabalho,
como: problemas ergonômicos, problemas funcionais, acústica arquitetônica, estresse
ocupacional (síndrome de Burnout), assédio moral, violência, mercantização do ensino e
as doenças vocais.
Desse modo, as principais causas de afastamento dos docentes de seu trabalho são as
condições inadequadas em seu meio ambiente laboral.
Paranhos (2002, p. 21), embasa esta afirmação quando aponta que:
[...] Deve ser apontado que o meio ambiente do trabalho é composto, além dos bens
móveis e imóveis, pelos métodos de trabalho, agentes agressores (tanto internos
como externos) e os tempos de exposição em que fica submetido o trabalhador.
Os Problemas Ergonômicos que acometem os docentes estão associados a postura
inadequada, ao excesso no trabalho e estresse. Sua má postura ao escrever no quadro em
ângulo superior a noventa graus trazem problemas tanto para coluna quanto para voz, sua
postura ao sentar para preparar as aulas, ficar por muito tempo escrevendo o assunto no
quadro traz sérios adoecimentos, como: síndrome do túnel do carpo, síndrome do manguito
rotatório, epicondilites, bursites do ombro, tendinites, rinites, sinusites e faringites crônicas e
64
alérgicas. Doenças que estão também relacionadas aos músculo-esqueléticos, conhecidas
como LER (lesões por esforços repetitivos) e DORT (distúrbios osteomoleculares
relacionados ao trabalho).
Existem vários problemas funcionais que trazem doenças ao professor, como: carga
horária de trabalho, falta de material de apoio didático-pedagógico, superlotação das salas,
desvalorização do professor, formação continuada, reajuste salarial, modernização
tecnológica, reforma no ensino entre outros.
O Comitê Técnico em Acústica Arquitetônica da Sociedade Americana de Acústica
(2002, p. 2) trouxe informações importantes sobre como criar ambientes de aprendizagem
com condições acústicas favoráveis, seu objetivo é fornecer uma fonte complementar para
arquitetos, educadores e administradores escolares, para ser utilizada na construção e
renovação de instalações escolares:
Desenvolve-se atualmente nos Estados Unidos uma das maiores campanhas de
construção e renovação escolar da história. Com a crescente ênfase na educação, nós
temos que aproveitar a oportunidade para acabar com uma antiga prática americana:
a construção de salas de aula com baixa qualidade acústica. Este problema invisível
tem sérias implicações para o aprendizado, mas é facilmente resolvido.
A falta de acústica da sala de aula e de recursos pedagógicos de multimídia, como:
projetor multimídia (data show), microfone, caixa de som, computador, etc., trazem
problemas para a saúde vocal do professor.
Outra doença frequente do profissional da educação é a fadiga vocal, pois o
professor ao desempenhar suas funções em condições não saudáveis, como: falar em locais
barulhentos (salas com mais de quarenta alunos), mudanças bruscas de temperatura,
ambientes com muita poeira, mofo, cheiros fortes, são acometidos de lesões (laringite, pólipo,
cistos, leocoplasia e até câncer de laringe).
O professor sente desconforto ao usar a voz nos lugares inadequados, pois ocasionam
irritações na garganta, rouquidão e cansaço ao falar. Com isso, aparecem outras doenças do
aparelho respiratório, decorrentes da exigência do professor falar mais alto, esforço extra da
laringe, podendo causar disfonias.
Esses distúrbios vocais (disfonia), ou seja, doenças relacionadas a voz, trazem
enfermidades em muitos profissionais que a utilizam como instrumento de trabalho, e que
também enfrentam um público diferenciado todos os dias, esses problemas acometem
principalmente alguns professores que labutam nos três turnos diariamente.
O adoecimento vocal dos profissionais da área de educação tem sido uma
preocupação dessa categoria, pois tal doença silenciosa (nódulos, pólipos, edemas das pregas
65
vocais e até câncer) não está prescrita no prisma da saúde pública de higiene e saúde vocal no
campo da fonoaudiologia relacionadas a esses trabalhadores.
O problema relacionado à voz é ainda pouco percebido pelos docentes, porém é real,
e seu uso inadequado pode trazer consequências irreversíveis, assim ações de conscientização
a esses trabalhadores sobre essa problemática se faz necessária.
Outro tipo de doença ocupacional é a Síndrome de Burnout, ela acomete o docente
com o esgotamento profissional a tal ponto dele chegar a total desmotivação de continuar na
profissão, tudo causado pelo estresse laboral diário.
A Síndrome foi definida por Herbert J. Freudenberger (1974, p. 154) como:
Um esgotamento físico e mental intimamente ligada à vida profissional. O
pesquisador descobriu com sua própria experiência vivência que, tal sintoma tinha
um „psíquico depressivo‟, verificou que seu conflito de estresses tinha mais
intensidade sobre as profissões que realizavam seus trabalhos em contato direto com
várias pessoas ao mesmo tempo, como a atividade de professores.
Tal síndrome é considerada uma resposta emocional do organismo físico e mental do
professor ao meio ambiente laboral inadequado que trabalha, tal problema é uma preocupação
de vários países, pois vem acometendo muitos profissionais que trabalham com público
diariamente, com morte, morbidade e problemas mentais.
O assédio ou abuso moral contra o professor ocorre no ambiente laboral de forma
repetitiva e prolongada durante a jornada de trabalho ou no exercício de suas funções, o
sujeito agressor pode ser: o aluno, pais, colegas de trabalho, gestor, entre outras pessoas da
comunidade escolar.
Acerca do assédio moral, Menezes (2003, p. 20) relaciona os comportamentos e
formas que o agressor utiliza-se na hora que comete o crime:
A exteriorização do harcèlement5 moral, portanto, ocorre por meio de gestos,
comportamentos obsessivos e vexatórios, humilhações públicas e privadas,
amedrontamento, ameaças, ironias, sarcasmos, difamações, exposição ao ridículo,
sorrisos, suspiros, trocadilhos, jogos de palavras de cunho sexista, indiferença à
presença do outro, silêncio forçado, sugestão para pedido de demissão, ausência de
serviço e tarefas impossíveis ou de dificílima realização, controle de tempo no
banheiro, divulgação pública de detalhes íntimos, agressões e ameaças etc.
Loguércio (2008, p. 45) também comenta sobre o assédio nas escolas:
O tema assédio moral nas relações de trabalho na escola ganha relevo e importância.
O professor está submetido ao crivo de muitas expectativas. Da direção, do lucro, do
pai, da mãe, do aluno, da sociedade em geral. A escola, de outro lado, nas últimas
décadas transformou-se num espaço de consumo. Ela reflete as transformações
sociais e políticas mais recentes, sem conseguir entender e reelaborar seu papel. O
estresse emocional do professor decorre da sensação de impotência de transformar a
sala de aula, preso que está às políticas quantitativas da aprovação ou reprovação
5 Perseguição atualmente conceitua-se assédio.
66
numérica; do número de trabalhos publicados, do número de conferências
realizadas, do número de artigos, bancas, teses, e outros indicadores de
produtividade.
Assédio e abuso moral no ambiente laboral são crimes que trazem danos a saúde
física e psíquica ao trabalhador. O interessante é que mesmo tendo uma pena de reclusão de
dois anos conforme está descrito no art. 136-A do Código Penal do Brasil os agressores agem
como se estivessem imunes à lei.
Marques de Lima (2009, p. 111) cita alguns exemplos de assédio moral ao
professor:
- Pressões psicológicas sobre professor, especialmente frente aos alunos, expondo a
instituição;
- Quando a instituição obriga ou pressiona o professor a aprovar aluno ou a que
fique de frente a ele para justificar a nota atribuída, sendo manifesta a intenção de
coagi-lo a alterar a pontuação ou a rever, indevidamente, a frequência;
- Quando retira a autoridade do professor, negando-lhe o direito de lecionar
livremente desfazendo com frequência seus atos, retirando as faltas dos alunos e
chamando-o constantemente a intenção por fatos irrelevantes;
- Mudança de disciplina a ser lecionada, mediante imposição de matérias e
conteúdos que não são domínio do professor, o que pode expô-lo ao público e
comprometer sua reputação acadêmica;
- Alterações nos horários do professor, durante o curso do período letivo,
inviabilizando que ele desenvolva outras atividades ou assuma outros compromissos
pessoais ou de qualquer outra natureza (cursos, elaboração de projetos específicos,
aulas em outras instituições...). A boa fé, princípio que reside às relações contratuais,
orienta em que as partes facilitem a vida da outra, mutuamente;
- Imposição de perfil ideológico ao magistério, ditando a linha política como a
matéria que deva ser lecionada, ofendendo a liberdade de cátedra;
- Tratamento rigoroso na condução do processo ensino-aprendizagem, exigindo do
professor conduta indelével, exageradamente (rigor excessivo);
- A reiteração frequente de determinadas mensagens tirânicas, opressoras, que
traduzam excesso de cobrança funcional, via e-mail, pela coordenação ou por outro
órgão da administração da escola pode consistir em pressão psicológica, a
caracterizar o assédio moral pelo abalo emocional que criou. O ponto fulcral é que
retira a tranquilidade do lar do professor, afetando-o no seio familiar, levando para
casa problemas do trabalho contra a vontade do empregado.
O professor ao sofrer esse dano desenvolve sentimentos negativos, como:
desvalorização, revolta, mágoa, vergonha, tristeza, entre outros sentimentos que fazem mal à
sua saúde, ao ponto dele não querer voltar mais a trabalhar, o quadro pode evoluir chegando
até mesmo a morte do trabalhador.
A mercantização da educação acompanha o movimento da economia capitalista,
logo está sendo transformada em uma mercadoria com o propósito da obtenção de lucro. O
Estado não consegue administrar direito o ensino público, imagina fiscalizar essa exploração
do ensino privado, o resultado desse descaso são os resultados nos ranking educacionais em
nível internacional, sempre o Brasil está entre os piores do mundo.
67
Por conta da mercantilização, Lima (2010, p. 1) aduz:
Assistimos os professores resistindo às péssimas condições de trabalho, baixos
salários, contratos de trabalho precarizados, temporários e por vezes até sem
registro, sem falar dos ambientes antidemocráticos que predominam na maior parte
das IES privadas. Além disso, temos as classes numerosas, ausência de estímulo e
incentivo acadêmico com ausência de planos de carreira estruturados, e quando
existem, são maquiados, chegando ao extremo do maquiavelismo de algumas dessas
IES demitirem os seus mestres e doutores após a visita do MEC para
credenciamento ou re-credenciamento das instituições.
As Instituições de Educação de Ensino (IES) cresceu no Brasil devido a educação ter
o valor de mercadoria, o lucro é o objetivo, e o aluno é o cliente, jamais ele estará errado.
Com a competitividade entre as escolas em ter cada vez mais cliente, o professor recebe uma
carga de trabalho inadequada, uma responsabilidade que afeta seu psicológico, com isso fica
impossibilitado de exercer suas atividades laborais com autonomia de educador, isso afeta
diretamente seu meio ambiente laboral.
Outro risco na profissão do professor é a violência nas escolas, pois os fatores são
complexos e multifatoriais, reflexo da crise da educação familiar brasileira. Sabe-se da
importância da educação escolar para o desenvolvimento do país, mas com o crescente índice
de violência nas escolas e universidades entre os membros da comunidade escolar, em
especial o professor, estudos e discussões em nível pedagógico estão sendo feitos sobre o
tema, porém ainda sem soluções eficazes para prevenir e proteger a comunidade escolar
desses atos de violência.
Bourdieu (1998, p. 39) reconhece que:
Os conflitos na escola, como a indisciplina e a violência, corroboram com a
qualidade da educação ofertada, principalmente quando os problemas não são
resolvidos a partir de uma perspectiva jurídica e pedagógica.
A violência é considerada crime ou contravenção penal previsto no Código Penal
(Brasil, 1940) para os maiores de idade, caso seja praticado por adolescente é considerado ato
infracional segundo o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). Para Schilling (2004, p. 33-
35) “A violência é conceito multidimensional. Ela implica diversos atores e sujeitos, além de
acontecer sob formas diferentes (violência física, psicológica, emocional, simbólica).”
Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo
único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade” (BRASIL, 1990). Inclusive, o ato
infracional deve ser resolvido autor do ato ilícito penal, devem ser aplicadas a ele
medidas socioeducativas (BRASIL, 1990, art.112). Mas quando forem crianças,
bastam às medidas de proteção previstas no artigo 101 (BRASIL, 1990), uma vez
que tanto os adolescentes quanto as crianças são penalmente inimputáveis (BRASIL,
1940, art. 27; 1990, art. 104).
68
Segundo a pesquisa realizada pela Organização Internacional para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2013 apontou o Brasil como o país que apresenta o
maior número de casos de violência contra os professores. Assim, a violência na escola pode
ser considerada como um problema a ser resolvido de forma imediata e eficaz.
Para a segurança do trabalho e saúde os fatores de riscos são considerados os agentes
agressivos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes, os que podem trazer ou
ocasionar danos à saúde do trabalhador, nos ambientes laborais, em função de sua natureza,
concentração, intensidade e tempo de exposição ao agente.
São de grande importância para a Medicina do Trabalho e para o Direito Ambiental o
diagnóstico das doenças ocupacionais, pois enquanto a Medicina do Trabalho nomeia várias
enfermidades que causam alterações na saúde do trabalhador provocadas por fatores
relacionados ao meio ambiente do trabalho, o Direito Ambiental usa o resultado desses
diagnósticos para a resolução de lides na seara jurídica.
Diante do exposto, os riscos na docência podem estar relacionados ao conjunto de
fatores sociais e psicológicos. Pode-se dizer que as doenças ocupacionais que sofrem os
profissionais da educação são multifatoriais e o reconhecimento delas como doença
ocupacional se faz necessária, pois a prevenção para essa categoria não iria dizimar o
sofrimento vivido por esses trabalhadores, mas com certeza iria fazer justiça a essa classe de
profissionais.
3.3 O DIREITO À SADIA QUALIDADE DE VIDA NO MEIO AMBIENTE DE
TRABALHO
A sadia qualidade de vida tem sido alvo de discussões históricas devido ao alto
índice de enfermidades quem tem acometido os trabalhadores do mundo todo. Assim, o dever
de defesa do meio ambiente de trabalho equilibrado vem alcançando força no mundo jurídico,
por ser aspecto integrante do meio ambiente geral é considerado um direito fundamental.
Antunes (2005, p. 25), aduz que “o primeiro e mais importante princípio do Direito
Ambiental é que: o direito ao ambiente é um Direito Humano Fundamental”.
Nesse contexto, Silva (1997, p. 176-177) afirma que “são direitos fundamentais do
homem no sentido de que a todos, por igual, devem ser, não apenas formalmente
reconhecidos, mas concreta e materialmente efetivados.”
Não existe regulamentação expressa na legislação brasileira sobre o meio ambiente
de trabalho equilibrado, o art. 5º, § 2º da Constituição Federal de 1988 declara: “Os direitos
e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
69
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do
Brasil seja parte.” Porém no seu inciso VIII do art. 200 que compete ao Sistema único de
saúde, rege: “colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.” Já
no seu art. 225, caput, temos que “todos têm direito a um meio ambiente equilibrado (...)”.
Para Melo (2001, p. 70):
A essencialidade da proteção ao meio ambiente de trabalho, como etapa importante
para o equilíbrio do meio ambiente geral, justifica-se porque, normalmente, o
homem passa a maior parte de sua vida útil no trabalho, exatamente no período da
plenitude de suas condições físicas e mentais, razão pela qual o trabalho,
habitualmente, determina o estilo de vida, interfere no humor do trabalhador, bem
como no de sua família.
A atividade laboral, que é uma das formas honestas de sustento da grande maioria da
população, deve ter qualidade e equilíbrio no seu ambiente do trabalho, pois é nesse lugar que
o trabalhador passa a maior parte de sua vida, não para lazer e sim por questão de
sobrevivência e sustento para sua família.
Granzieira (2009, p. 7): ,
O equilíbrio ou o atributo de qualidade do meio ambiente possui um valor – objeto
da tutela legal – que se caracteriza pelos resultados que produz: a garantia da saúde,
a manutenção dos ecossistemas, o bem-estar social, a segurança, a preservação das
condições de equilíbrio atuais, a possibilidade de as gerações futuras usufruírem
desses elementos.
Para termos um meio ambiente saudável aliado ao desenvolvimento sustentável a
participação de todos é fundamental para garantir diversos direitos, como: a inclusão social, a
diversidade de abordagens, o respeito à diversidade cultural, a reflexão entre a geração atual e
a futura, entre tantos outros aspectos a serem considerados.
Para Melo (2001, p. 70) “[...] não há como se falar em qualidade de vida se não haver
qualidade de trabalho, nem se pode atingir o meio ambiente equilibrado e sustentável,
ignorando-se o aspecto do meio ambiente do trabalho”.
Para Mancuso (2002, p. 57):
O conceito de meio ambiente se expandiu para além do mundo da natureza, para
alcançar outras dimensões onde o homem vive, se relaciona e desenvolve suas
potencialidades. Quer dizer, o homem, enquanto „ser vivente‟, integra, como tal o
„mundo da natureza‟, e, nesse prisma, tem tanto direito à vida quanto tudo o mais
que compõe os reinos animal e vegetal. Todavia, é inegável que os horizontes do
homem vão muito além do mero instinto de sobrevivência, dado que sua alma revela
uma natural tendência ao progresso e ao desenvolvimento.
A dignidade de usufruir uma vida social saudável, na atualidade e no futuro, está
intrinsecamente ligado a sua qualidade de vida, assim constata-se a importância do quarto
aspecto do meio ambiente, ou seja, o meio ambiente do trabalho.
70
Segundo Harb (1998, p. 78):
Em síntese, o respeito ao direito do meio ambiente equilibrado implica,
necessariamente, na defesa do direito à vida, que é o mais básico dos direitos
fundamentais, nele se inserindo por visar diretamente à qualidade de vida (artigo
225, caput, da CF/88) como meio de atingir a finalidade de preservação e proteção à
existência, em qualquer forma que esta se manifeste, bem como condições dignas de
existência à presente e às futuras gerações.
No Meio Ambiente do Trabalho deve haver equilíbrio ambiental, pois todos têm o
direito de exercer com plenitude o direito à vida, portanto não importa qual é sua profissão, o
trabalhador terá esse direito. Assim, pelo tempo diário que ele passa trabalhando ao longo de
sua vida é justo que haja também um equilíbrio no seu meio ambiente laboral.
Melo (2001, p. 71): “Na marcha evolutiva dos direitos do trabalhador, especialmente
os relacionados às condições de trabalho, o observador atento pode vislumbrar, em sintonia
fina, fatores diversos até então ignorados ou simplesmente relegados”.
O “capitalismo selvagem” e a falta de humanidade fizeram a grande maioria dos
empregadores (privado ou público) não se importarem com o bem-estar de seus subordinados.
E mesmo com a evolução histórica na seara trabalhista, que trouxe um avanço simplório em
relação ao meio ambiente do trabalho, não resguardou a sadia qualidade de vida dos
trabalhadores.
O Estado brasileiro conseguiu ampliar com sua inércia jurídica uma legião de
trabalhadores acometidos com diversos tipos de doenças adquiridos no meio ambiente do
trabalho. Para Nalini (1997, p. 349) “Se limitar o limite é tornar o homem mais consciente de
suas responsabilidades”.
Melo (2001, p. 72):
A exigência da dignidade das condições de trabalho, consignada na Constituição de
1988, inverte uma ordem de prioridade histórica, colocando o homem como valor
primeiro a ser preservado, em função do qual trabalham os meios de produção. Esta
dignidade prevista no art. 1º, inc. III, da Constituição Federal, tendo o enfoque o ser
humano-trabalhador, é essencial, assim como as condições de trabalho saudáveis,
para que o próprio art. 170 da Constituição, que trata sobre a ordem econômica,
deixa clara a prevalência do homem sobre os meios de produção, na medida em que
preconiza a valorização do trabalho humano.
Nesse diapasão Oliveira (2010, p. 63) afirma que:
Chega a ser paradoxal a postura do homem nos dias atuais. Cresceu a preocupação
com o meio ambiente, com o salvamento de animais em extinção, com a
preservação do ecossistema, mas não houve avanço, com a mesma intensidade, na
melhoria do meio ambiente do trabalho.
Quando há satisfação dos interesses humanos ao uso espontâneo da autonomia
individual quanto a liberdade e vontade, ultrapassando os limites legais, o Estado possui leis
71
punitivas para intervir na situação, porém na elaboração e aprovação de leis há uma lentidão
histórica que prejudica milhares de trabalhadores.
Na legislação brasileira não há leis específicas que regulamentem diretamente sobre
o meio ambiente do trabalho, embora o tema seja motivo de preocupação da sociedade, o que
há são leis que regulamentam o Direito do Trabalho e o Direito Processual do Trabalho, que
embora imprescindíveis para os trabalhadores não oferecem segurança e saúde no ambiente
laboral que proporcione o desenvolvimento da atividade produtiva em um meio ambiente de
trabalho equilibrado.
Para Melo (2001, p. 86) “Infelizmente temos de reconhecer que, o Brasil, o primado
da “sadia qualidade de vida” (art. 225, caput, da CF/88), com relação às condições de
trabalho, nem sempre é observado”.
Outra situação interessante que merece uma análise é o desconhecimento dos
professores em relação aos seus direitos trabalhistas e previdenciários. A inércia, da maioria
dos professores, na reivindicação de seus direitos é grande, e isso é um problema que também
prejudica o avanço do reconhecimento de seus direitos.
Lima (2009, p. 18-19):
Após uma experiência de duas décadas no magistério superior, como Professor de
Cursos universitários em geral, de Universidades Públicas e Privadas, de cursinhos
preparatórios para concursos e escolas de magistratura, desempenhando funções de
coordenador e integrando colegiados acadêmicos, tanto no mestrado e em
especializações, quanto na Graduação, cheguei a algumas conclusões preocupantes
sobre os professores, sobretudo nos estado do Nordeste do Brasil, como: a) Os
professores, mesmo os do ensino superior (e, ainda por cima, muitos do ensino
jurídico!), não conhecem seus direitos trabalhistas; b) Eles não têm a esperada
consciência política de se organizarem em sindicatos batalhadores nem de exigirem
das respectivas entidades representativas a real defesa da categoria; c) Não tem
consciência eficaz do seu papel global no ensino nem da sua função no
empreendimento educacional; d) Têm muito medo de retaliações e represálias. Tudo
isto pode ser sintetizado assim: os professores estão desorganizados e, no ensino
superior, alijados das decisões educacionais tomadas pela Direção [...]
No Brasil não se tem registro do quantitativo de escolas em nível nacional que
possuem um meio ambiente de trabalho saudável, e nem um quantitativo macro de quantas
escolas não oferecem um meio ambiente de trabalho inadequado. O Poder Público não
demonstra interesse nenhum com a efetiva proteção com o meio ambiente laboral do
professor.
3.3.1 Direitos trabalhistas e o Meio Ambiente do Trabalho
O Direito do Trabalho e o Meio Ambiente do Trabalho possuem nomenclaturas
parecidas, porém com significados diferentes. O primeiro tutela as relações de trabalho
72
subordinado ou equiparado, protege o trabalhador que é considerado o hipossuficiente da
relação, já o segundo excede os limites do espaço interno do local onde são executadas as
atividades produtivas, sua tutela jurídica normatiza o direito à dignidade dos trabalhadores
para que os mesmos possam desempenhar suas atividades de forma hígida e salubre.
Embora o Direito do trabalho em sua divisão tenha diferentes sentidos, como: Direito
Material do Trabalho: Direito Coletivo e do Direito Individual do Trabalho; Direito Público
do Trabalho: Direito Processual do Trabalho, Direito Administrativo do Trabalho, Direito
Previdenciário e Acidentário do Trabalho; e Direito Internacional do Trabalho, todos diferem
do Meio Ambiente do Trabalho. Como podemos constatar nas definições a seguir:
Delgado (2008, p. 49-52) define o Direito do Trabalho:
O Direito do Trabalho é ramo jurídico especializado, que regula certo tipo de relação
laborativa na sociedade contemporânea. Seu estudo deve iniciar-se pela
apresentação de suas características essenciais, permitindo ao analista uma imediata
visualização de seus contornos próprios mas; o Direito Individual do Trabalho
define-se como: complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam,
no tocante às pessoas e matérias envolvidas, a relação empregatícia de trabalho,
além de outras relações laborais normativamente especificadas.[...] o Direito
Coletivo do Trabalho pode ser definido como o complexo de princípios, regras e
institutos jurídicos que regulam as relações laborais de empregados e empregadores,
além de outros grupos jurídicos normativamente especificados, considerada sua ação
coletiva, realizada autonomamente ou através das respectivas associações.
Corroborando Nascimento (2009, p. 119) traz um conceito contemporâneo de direito
do trabalho, enfatizando que o “Direito do Trabalho tem sido mais vivido do que
conceituado”, e afirma que existem várias formas de trabalho surgidas com a superação dos
contratados padronizados da sociedade industrial. Já na seara jurídica do meio ambiente do
trabalho ambiental temos:
Fiorillo (2012, p. 21):
O meio ambiente laboral é o local onde as pessoas desempenham suas atividades
laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do
meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos
trabalhadores, independentemente da condição que ostentem (homens ou mulheres,
maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos, etc.).
Com a crescente preocupação da sociedade com a proteção jurídica ao meio
ambiente laboral, o tema começou a ocupar lugar nas legislações, doutrinas e nas
jurisprudências, chegando a adquirir sua autonomia.
Rocha (2002, p. 3) comenta sobre diferenças peculiares sobre Direito do Trabalho e
Meio Ambiente do Trabalho:
De certo modo, essas disciplinas possuem postulados e princípios bastante
peculiares, que revelam pressupostos e ideários em determinado tempo-espaço
73
(dimensão) de produção jurídica. O Direito do Trabalho objetiva primordialmente a
regulação das relações laborais e a proteção do ser humano trabalhador; o Direito
Ambiental, a proteção do meio ambiente e a proteção do ser humano tomado na sua
generalidade. Por conseguinte, o Direito Ambiental dificilmente penetra no Direito
do Trabalho, e vice-versa, na medida em que uma disciplina não é absorvida pela
outra, já que possuem racionalidades e princípios bastante específicos, resultado de
uma circunstância social e histórica determinada.
Contudo, ressalta-se que mesmo sendo direitos diferentes, ambos são importantes
para proteger a vida do trabalhador brasileiro e, possuem pontos semelhantes quanto a
originalidade e pioneirismo. Esses direitos foram privilegiados pela garantia dos direitos
humanos contemporâneos, mas que ainda buscam eficácia em sua aplicação.
O Direito do Trabalho foi pioneiro em adotar uma ação coletiva. Assim, o dissídio
coletivo trouxe a possibilidade da legitimidade adequada, ou seja, referida a um grupo, uma
classe, uma categoria. Temos no ordenamento jurídico a Lei da Ação Popular (Lei nº
4.717/65) e da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85).
Contudo, com o processo de coletivização dos direitos houve o acolhimento do
reconhecimento dos direitos difusos no Brasil, assim foi contemplado na seara jurídica uma
nova forma diferenciada de direito, conhecida como direitos metaindividuais, na qual o direito
ao meio ambiente faz parte.
Portanto, tanto o Direito do Trabalho quanto o Meio Ambiente do Trabalho nasce de
uma necessidade. O primeiro para defender o trabalhador hipossuficiente. E o segundo surge
para proteger o meio ambiente laboral dos trabalhadores.
Vejamos exemplos de alguns Direitos do Trabalho direcionados aos professores da
rede privada e pública e outro com dispositivos legais que tutelam o Meio Ambiente do
Trabalho:
Quadro 1 – Principais legislações - Direitos do Trabalho dos professores da rede privada e pública PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES- DIREITOS DO TRABALHO DOS PROFESSORES DA
REDE PRIVADA E PÚBLICA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88
DIREITOS SOCIAIS
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
I Relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;
II Fundo de garantia do tempo de relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou
sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória,
dentre outros direitos; serviço;
III Salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades
vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,
74
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder
aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
IV Piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho
V Irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
VI Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
VII Décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria
VIII Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
XIX Proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
X Participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente,
participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;
XI Salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei
(redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98);
XII Duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
coletiva de trabalho;
XIII Jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo
negociação coletiva;
XIV Repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XV Remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento a do
normal;
XVI Gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal
XVII Licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias
XVIII Licença-paternidade, nos termos fixados em lei
XIX Proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei
XX Aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de
XXI Trinta dias, nos termos da lei
XXII Redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança
XXIII Adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei
XXIV Aposentadoria
XXV Assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até seis anos de idade em
creches e pré-escolas
XXVI Reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho
XXVII Proteção em face da automação, na forma da lei
XXVIII Seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que
este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
XXIX Ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco
anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do
contrato de trabalho (redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000);
XXX Proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo
de sexo, idade, cor ou estado civil
XXXI Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador
portador de deficiência;
XXXII Proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais
respectivos
XXXIII Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer
trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos
(redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
XXXIV Igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador
avulso.
DOS SERVIDORES PÚBLICOS
Art. 40 Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de
caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos
servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão aposentados,
calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§ 3º e 17:
I Por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto
se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou
75
incurável, na forma da lei[...]
III Voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no
serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as
seguintes condições:
a) Sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinquenta e cinco anos de
idade e trinta de contribuição, se mulher;[...]
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos
abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis
complementares, os casos de servidores:
I Portadores de deficiência;
II Que exerçam atividades de risco;
III Cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física.
§ 5º Os requisitos de idade e de tempo de contribuição serão reduzidos em cinco anos, em
relação ao disposto no § 1º, III, "a", para o professor que comprove exclusivamente tempo
de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino
fundamental e médio”. (grifo nosso)
EDUCAÇÃO
Art. 206º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:[...]
V Valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de
carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes
públicas;
VIII Piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos
de lei federal
Parágrafo
único
A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica
e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.[...]
Art. 207 As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira
e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da
lei
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica.[...]
Art. 211 A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração
seus sistemas de ensino.
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de
ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva,
de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade
do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios. [...]
Fonte: Constituição Federal de 1988.
Elaboração: OLIVEIRA, Sienne C. de.
É aplicado a todos os trabalhadores os Direitos Sociais contidos na Constituição
Federal/88 do arts. 6º e 7º, direcionados a educação a CF/88 trouxe nove artigos (205 a 214),
mas somente três artigos regem sobre os direitos dos professores: incisos V e VIII do art. 206;
§ 1º, § 2º do art. 207; § 1º do art. 211, uma parte do texto dedicado à educação sobre a
valorização dos diversos profissionais da área da educação. No art. 40 trata sobre a
aposentadoria do professor, é considerada especial e tem seus requisitos expressos da CF/88.
76
Quadro 2 – Alguns artigos da CLT direcionados aos direitos dos professores, inclusive os específicos sobre
o ofício do professor (317 a 323) Alguns artigos da CLT direcionados aos direitos dos professores, inclusive os específicos sobre o ofício
do professor (317 a 323)
Art. 3º Definição de empregado
Art. 14 Carteira Profissional
Art. 18 Carga horária do professor
Art. 29 Anotações na Carteira de Trabalho
Art. 59 Hora extra
Art. 71 Intervalo para descanso
Art. 73 Hora noturna- prestada após as 22 horas. Deve ser acrescida de, no mínimo, 20% a mais que
a hora normal. Arts. 130,
134, 140 Férias
Art. 142 Pagamento das férias
Art. 145 Prazo para o pagamento das férias
Art. 157 Cabe às empresas:
I Cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho;
II Instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no
sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais
III Adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente
IV Facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente
Art. 158 Cabe aos empregados:
I Observar as normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções de que trata
o item II do artigo anterior;
II Colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste capítulo
§ único - Constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada:
a) À observância das instruções expedidas pelo empregador na forma do item II do artigo
anterior;
b) Ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa
Art. 317 Exercício do magistério
Art. 318 Carga horária do professor
Art. 319 Proibição do trabalho aos domingos
Art. 320 Remuneração do professor
Art. 321 Remuneração das aulas excedentes
Art. 322 Remuneração de férias
Art. 323 Penalidade pela falta de pagamento do salário
Art. 373ª Proibição do exame de gravidez pré-admissional
Art. 389 Creche
Art. 392 Licença-maternidade
Art. 444 Relações contratuais
Art. 445 Contrato de experiência
Art. 451 Contrato de trabalho
Art. 458 Benefícios
Art. 465 Prazo para pagamento do salário
Art. 468 Alteração no contrato de trabalho
Art. 473 Faltas
Art. 475 Licença médica
Art. 477 Rescisão do contrato de trabalho Arts. 479,
480, 481 Demissão sem justa causa
Art. 482 Demissão por justa causa
Art. 501 Força maior
Art. 503 Redução salarial - força maior
Art. 511 Categoria profissional
Art. 611§1º Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais
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da CLT Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de
trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais do
trabalho
§ 1º É facultado aos Sindicatos representativos de categorias profissionais celebrarem Acordos
Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem
condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das empresas acordantes às
respectivas relações de trabalho.
Art. 617 Acordos coletivos de trabalho - participação do Sindicato
LEI No 9.876/1999
Dispõe sobre a contribuição previdenciária do contribuinte individual, o cálculo do benefício, altera
dispositivos das Leis nos 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e dá outras providências.
Art. 29 O salário-de-benefício consiste:” (NR)
§ 9º Para efeito da aplicação do fator previdenciário, ao tempo de contribuição do segurado serão
adicionados
II Cinco anos, quando se tratar de professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo
exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio
III Dez anos, quando se tratar de professora que comprove exclusivamente tempo de efetivo
exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio
LEI 8.112/90
Regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas
federais
LEI N. 1.762/86 ATUALIZADA ATÉ 07.12.2000
Estatuto dos funcionários públicos civis do Estado do Amazonas
RESOLUÇÃO nº. 122/2010 - CEE/AM aprovada em 30.11.2010
Regimento Geral das Escolas Estaduais do Amazonas Art. 251 São direitos específicos do corpo docente:
I Condições ambientais condizentes com o trabalho;
IV tratamento condigno e com urbanidade;
V segurança a sua integridade física, respeito e liberdade em suas ações didático-pedagógicas;
LEI Nº 1.118/71 Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Manaus
Fonte: Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.
Elaboração: OLIVEIRA, Sienne C. de.
Em ambas instituições, seja pública ou privada, os professores são tutelados pelas
leis e legislação educacional, ou seja, de forma macro são regidos pela Constituição
Federal/88, Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB).
As instituições públicas possuem leis específicas, são regidos pela Lei 8.112/90 que
dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das
fundações públicas federais, em nível estadual é regido pela Lei n. 1.762/86 atualizada até
07.12.2000 que dispõe sobre o estatuto dos funcionários públicos civis do Estado do
Amazonas e em nível municipal é regido Lei nº 1.118/71 que dispõe sobre o Estatuto dos
Servidores Públicos do Município de Manaus.
78
Quadro 3 – Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB) 9.394/96
Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB) 9.394/96
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
VII - Valorização do profissional da educação escolar;
Art. 57 Nas instituições públicas de educação superior, o professor ficará obrigado ao mínimo de
oito horas semanais de aulas.
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso
de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação,
admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5
(cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade
normal:
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios, em regime de colaboração, deverão
promover a formação inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de magistério
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos profissionais de magistério poderão utilizar
recursos e tecnologias de educação a distância
§ 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará preferência ao ensino presencial,
subsidiariamente fazendo uso de recursos e tecnologias de educação a distância
§ 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios adotarão mecanismos facilitadores
de acesso e permanência em cursos de formação de docentes em nível superior para atuar na
educação básica pública.
§ 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios incentivarão a formação de
profissionais do magistério para atuar na educação básica pública mediante programa
institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes matriculados em cursos de
licenciatura, de graduação plena, nas instituições de educação superior.
Parágrafo
único
Garantir-se-á formação continuada para os profissionais a que se refere o caput, no local de
trabalho ou em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de educação
profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação.
Art. 67 Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação,
assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério
público:
I Ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos;
II Aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico
remunerado para esse fim
III Piso salarial profissional
IV Progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho
V Período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho
VI Condições adequadas de trabalho.(Grifo nosso)
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 (Os requisitos de idade e de tempo de
contribuição serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no § 1º, III, "a", para o
professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de
magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio) e no § 8o do art. 201 da
Constituição Federal, são consideradas funções de magistério as exercidas por professores e
especialistas em educação no desempenho de atividades educativas, quando exercidas em
estabelecimento de educação básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além
do exercício da docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e
assessoramento pedagógico
Art. 70 Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as despesas realizadas
com vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições educacionais de todos os
níveis, compreendendo as que se destinam a
I Remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais da educação;
II Aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários
ao ensino;
III Uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino
Fonte: Lei de Diretrizes e Base da Educação.
Elaboração: OLIVEIRA, Sienne C. de.
79
A Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB) 9.394/96 e o Decreto n. 5.773/2006
(dispõe sobre as instituições de ensino superior) são instrumentos normativos que regulam o
trabalho do professor, porém prescrevem mais sobre a educação do que os direitos dos
profissionais de educação. Ressaltamos que o art. 67 da LDB dispõe sobre a valorização dos
profissionais da educação e o direito de possuírem condições adequadas de trabalho nos
sistemas de ensino público federais, estaduais e municipais.
Quadro 4 – Principais legislações - Meio Ambiente do Trabalho
MEIO AMBIENTE DO TRABALHO
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA
Art. 170 A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
I Soberania nacional;
IV Defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação;
DA ORDEM SOCIAL
Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a
justiça sociais.
DA SAÚDE
Art. 196 A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Art. 197 São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor,
nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua
execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou
jurídica de direito privado.
Art. 200 Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
II Executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do
trabalhador;
VIII Colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.(grifo
nosso)
DO MEIO AMBIENTE
Art. 225 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
VI Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública
para a preservação do meio ambiente;
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.
LEI Nº 6.938/81 POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
Art. 3º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
III Poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente:
80
a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
IV Poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
Art. 14 Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o
não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes
e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao
meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e
dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por
danos causados ao meio ambiente.
§ 2º No caso de omissão da autoridade estadual ou municipal, caberá ao Secretário do Meio
Ambiente a aplicação das penalidades pecuniárias prevista neste artigo.
5o A execução das garantias exigidas do poluidor não impede a aplicação das obrigações de
indenização e reparação de danos previstas no § 1o deste artigo
Fonte: Constituição Federal de 1988.
Elaboração: OLIVEIRA, Sienne C. de.
Diante do exposto, o silêncio dos profissionais da educação acerca da reivindicação
de seus direitos a um meio ambiente de trabalho saudável é notório, embora tenham muitos
dispositivos legais direcionados aos direitos dos trabalhadores, pode-se observar a ausência de
uma lei especifica que regulamente as doenças ocupacionais da profissão de professor que
garanta seus direitos em relação ao meio ambiente do trabalho equilibrado trazendo a
existência o adicional de penosidade aos professores dos níveis fundamentais ao superior, pois
urge que os docentes sejam considerados como trabalhadores igualmente como os demais,
apenas se diferenciando na sua especialidade.
Não é justo ter uma aposentadoria diferenciada, considerada como “especial”, onde a
mulher poderá aposentar-se com 25 e o homem com 30 anos de serviços prestados a
educação, se muitos têm morrido antes disso, pois o índice de professores acometidos com
problemas de saúde é muito grande, deixando em evidência a baixa qualidade de vida que
estão usufruindo.
3.4 PROTEÇÃO JURÍDICA AO MEIO AMBIENTE LABORAL DO DOCENTE
A educação brasileira bem como a desvalorização do professor possui uma formação
histórico-social fundamentada na exclusão, clientelismo e descompromisso governamental
desde o início de sua história. Com todas as previsões legais existentes no país, essa situação
de descaso pouco se alterou.
Teixeira (2000, p. 15) defende que: “a degradação ambiental coloca em risco o direto
à vida e à saúde das pessoas, individual e coletivamente consideradas, bem como a própria
perpetuação da espécie humana”. Assim, surge o Direito Ambiental como ramo autônomo da
81
ciência jurídica, após várias discussões voltadas à preservação do meio ambiente equilibrado e
saudável para todos.
Nesse contexto, ratificando o que já foi dito no segundo capítulo deste trabalho
temos o conceito jurídico sobre meio ambiente disposto no art. 3º, I, da Lei nº. 6.938/81, que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, que cita: “é o conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas”.
Nesse diapasão, temos ainda o meio ambiente do trabalho, previsto no art. 200, VIII,
da Constituição Federal de 1988 com a seguinte redação: “Ao sistema único de saúde
compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: colaborar na proteção do meio
ambiente, nele compreendido o do trabalho”.
Oliveira (2010, p. 129) cita que “[...] jamais pode ser obtido uma sadia qualidade de
vida sem que tenha qualidade de trabalho, nem se pode alcançar um meio ambiente
equilibrado e sustentável, ignorando o meio ambiente do trabalho”.
O direito à saúde e garantias de um meio ambiente saudável para todos também
consta na CF/88, em seu art. 7º, inciso XXII, nos Direitos Sociais impõem “São direitos dos
trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”,
como foi explorado no item 3.3 desta dissertação.
No inciso seguinte desse artigo, inciso XXIII cita sobre “adicional de remuneração
para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;”, porém somente foram
regulamentados os adicionais de insalubridade e periculosidade, ficando esquecida até hoje a
regulamentação do adicional de penosidade.
Embora com diversas normatizações no instituto jurídico contemplem os direitos dos
trabalhadores de modo generalizado em leis, decretos, consolidação das leis do trabalho,
constituições estaduais e municipais, leis infraconstitucionais, normas internacionais do
trabalho, normas regulamentares, seguridade social, decretos, etc., pouco interesse houve em
normatizar os direitos e deveres, de maneira especifica, dos profissionais da educação
brasileira, como ocorre em outras categorias profissionais, com vista à assistência à saúde e
bem-estar desses docentes.
82
3.4.1 Direito a saúde e segurança no meio ambiente do trabalho
O direito à saúde do trabalhador é definida pela OMS – Organização Mundial da
Saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a
ausência de doenças e enfermidades”. Para Silva (2008, p. 84) o ideal seria que na saúde física
e funcional fossem incluídas a saúde mental ou psíquica. Ele afirma ainda que:
Que o direito à vida e suas projeções exteriores, as referidas integridade física e
moral, convergem com o direito à saúde do trabalhador, no extenso conteúdo
essencial deste, a ser em breve examinado. Aí está claramente a interdependência
entre os direitos à saúde laboral, à vida, à integridade, porque não há vida digna se o
trabalhador perdeu sua saúde ou se a teve debilitada, principalmente se isso decorre
de descumprimento das obrigações negativas ou positivas impostas ao empregador
ou ao Estado. Não há muito sentido em se proteger os seus direitos materiais
trabalhistas ou os direitos de liberdade da esfera laboral (de sindicalização, de
associação, de greve etc.), quando o trabalhador já não tem mais saúde para
continuar a prestação de serviços ou para a procura de novo emprego.
O meio ambiente laboral precisa ser equilibrado. Devem ser oferecidas medidas
protetivas e de segurança aos trabalhadores colocando em prática o direito à saúde para que
eles possam desenvolver suas atividades de forma produtiva, porém usufruindo de uma sadia
qualidade de vida.
Para Chiavenato (1999, p. 376):
Uma maneira de definir saúde é a ausência de doenças. Contudo, os riscos de saúde
como riscos físicos e biológicos, tóxicos e químicos, assim como condições
estressantes, podem provocar danos às pessoas no trabalho. O ambiente de trabalho
em si também pode provocar doenças. Uma definição mais ampla de saúde é um
estado físico, mental e social de bem-estar. Essa definição enfatiza as relações entre
corpo, mente e padrões sociais.
O meio ambiente do trabalho abrange tanto o lugar onde os trabalhadores
desenvolvem suas atividades quanto os fatores sociais e psicológicos que esse ambiente
oferece, pois as influências físicas e mentais são importantes para o bem estar de qualquer
trabalhador.
Na Convenção n. 161/85 que tratou dos Serviços de Saúde do Trabalho da OIT
observou-se várias normatizações que foram basilares para a busca da sadia qualidade de vida
do trabalhador:
A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho;
Convocada em Genebra pelo Conselho Administrativo da Repartição Internacional
do Trabalho e tendo ali se reunido a 7 de junho de 1985, em sua septuagésima
primeira sessão; Observando que a proteção dos trabalhadores contra as doenças
profissionais e as doenças em geral e contra os acidentes de trabalho constitui uma
das tarefas da Organização Internacional do Trabalho em virtude da sua
Constituição; Observando as Convenções e Recomendações Internacionais do
Trabalho sobre a Matéria, em particular a Recomendação sobre a Proteção da Saúde
83
dos Trabalhadores, 1953; a Recomendação sobre os Serviços Médicos no Trabalho,
1959; a Convenção Relativa aos Representantes dos Trabalhadores, 1971, bem como
a Convenção e a Recomendação sobre a Seguridade da Saúde dos Trabalhadores,
1981, documentos que estabelecem os princípios de uma política nacional e de uma
ação em nível nacional.
Essa fundamentação supracitada dá a certeza da existência da preocupação com o
meio ambiente de trabalho equilibrado, da busca incansável de se preservar o elemento
essencial, à vida, dos trabalhadores que é direito fundamental. Logo no art. 1º, alínea “a”,
inciso I da Convenção n. 161/85 reza “os requisitos necessários para estabelecer e manter um
ambiente de trabalho seguro e salubre, de molde a favorecer uma saúde física e mental ótima
em relação com o trabalho.”
No Brasil a Constituição Federal de 1988 normatizou sobre o meio ambiente de
trabalho, mas sobretudo sobre a proteção à vida dos trabalhadores.
Art. 7º, XXII sobre a proteção ao meio ambiente de trabalho: “a redução dos riscos
inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”, e em seu
inciso III, art. 1º: “A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos: III- a dignidade da pessoa
humana.
Com o desenvolvimento econômico-industrial houve a necessidade de melhorar não
só o salário dos trabalhadores, mas o meio ambiente como um todo, pois a exploração da mão
de obra trouxe a preocupação em buscar efetivar o direito à vida, e o princípio da dignidade
da pessoa humana vem nortear a atividade desenvolvida pelo homem.
Na intenção de proteger a vida do trabalhador surge a saúde ocupacional que é o
ramo da saúde preocupada com a prevenção contra os riscos ocupacionais e também em
promover uma saúde digna aos trabalhadores.
Assim, o Ministério do Trabalho por meio da portaria n.º 24/1994 no uso de suas
atribuições legais considerou todas estas ordenações jurídicas para instituir o Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e aprovar o texto da Norma
Regulamentadora n.º 7 – Exames médicos:
o artigo 2º da Portaria n.º 3.214, de 08 de junho de 1978, que aprovou as Normas
Regulamentadoras - NR, sobre Segurança e Medicina do Trabalho; a Resolução n.º
1.246, de 08 de janeiro de 1988, do Conselho Federal de Medicina, aprovou o Código
de Ética Médica; nos artigos 19 a 23 da Lei n.º 8.213, de 24 de julho de 1991;
Regulamentado dos Benefícios da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n.º 611,
de 21 de julho de 1992, Capítulo III, Seção II a IV, art. 139 e 143; o relatório final da
Comissão Interministerial; conclusões Grupo Técnico de Trabalho instituído para
estudar a revisão da Norma Regulamentadora n.º 7 - EXAMES MÉDICOS, após
análise das contribuições recebidas de toda a comunidade, objeto da Portaria SSST n.º
12, de 13 de outubro de 1994, publicada no D.O.U, de 14 de outubro de 1994.
84
Corroborando Melo (2013, p. 42) comenta sobre a importância do PCMSO:
Todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados,
qualquer que seja o número, têm a obrigação de elaborar e implementar um
Programa de Saúde Ocupacional (PCMSO) para sua empresa, com o objetivo de
promover e preservar a saúde dos seus trabalhadores[...] Os exames médicos são
obrigatórios na admissão, na demissão, periodicamente, de retorno ao trabalho, por
mudanças de função e de forma complementar, de acordo com a atividade exercida
pelo trabalhador.
Nota-se que o PCMSO é um programa fundamental para qualquer trabalhador, pois
possui diretrizes norteadoras de proteção e preservação da saúde, bem como obriga
elaboração e implementação por parte de todos os empregadores e instituições. A fiscalização
por parte do Estado deve ser mais eficaz, pois o alto índice de trabalhadores acometidos de
doenças ocupacionais vem crescendo a cada dia, e no que concerne aos professores o quadro
caótico é crescente em nível nacional e internacional.
O descumprimento das normas de proteção à saúde e segurança dos trabalhadores
traz consequências negativas diretas para o trabalhador e indireta ao Estado que tem que
indenizar as pessoas acidentadas ou com doenças ocupacionais.
A visão moderna do meio ambiente laboral contempla primeiramente o homem para
só depois relacionar tudo que o cerca, como: as novas tecnologias, máquinas, rotinas de
trabalho entre outros, pois para Bom Sucesso (1997, p. 177) “Raiva, medo, tristeza,
frustrações adoecem as pessoas, reduzem a sua criatividade, reduzem a produtividade e o
prazer de trabalhar”.
Bento e Lima (2013, p. 1) destacam as principais obrigações dos empregadores em
relação a proteção à saúde e segurança do trabalho:
São diversas as obrigações dos empregadores vinculadas à segurança do trabalho.
Destacam-se as seguintes, previstas na Consolidação das Leis do Trabalho:
I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho;
II - instruir os empregados, por meio de ordens de serviço, quanto às precauções a
tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais;
III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente
(Delegacia Regional do Trabalho e outros);
IV - facilitar o exercício da fiscalização pela Delegacia Regional do Trabalho;
V - manter serviços especializados em segurança e em medicina do trabalho;
VI - constituir Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA);
VII - fornecer gratuitamente equipamento de proteção individual adequado ao risco
e em perfeito estado de conservação e funcionamento;
VIII - realizar exame médico (admissional, demissional e periódico);
IX - manter material necessário à prestação de primeiros socorros médicos de acordo
com o risco da atividade;
X - notificar as doenças profissionais e as produzidas em virtude de condições
especiais de trabalho comprovadas ou objeto de suspeita (BRASIL, 2013a).
85
Os professores do Estado do Amazonas são regidos pela Lei n. 1.762/86 atualizada
até 7 de dezembro de 2000, que possui 213 artigos que dispõe sobre o estatuto dos
funcionários públicos civis do Estado do Amazonas, porém não contempla em nenhum
dispositivo legal sobre o meio ambiente de trabalho do professor e nem sobre sua proteção e
prevenção à sadia qualidade de vida. E não tramita nenhum projeto ema nível estadual que
contemple tal assunto.
Desse modo, como o estudo é recente e ainda não existem leis especificas sobre o
meio ambiente do trabalho do professor, o que se tem como uma “bússola” é a Constituição
Federal/88 que interliga o meio ambiente do trabalho aos valores norteadores do princípio da
dignidade da pessoa humana, que evidencia como objeto maior a tutela ambiental trabalhista,
ou seja, a busca da proteção do homem trabalhador enquanto ser vivo, denotando uma
humanização no meio ambiente onde desenvolve o seu labuto.
No Brasil são crescentes os índices de afastamento do trabalho, porém têm alguns
estados buscando soluções para amenizar tal problema, como é o caso de São Paulo. Segundo
a publicação da Revista Escola Pública (edição 35 de 2013) a imprensa noticiou na época:
Que cada professor da rede estadual de São Paulo falta, em média, 21 aulas por ano
utilizando licenças de saúde. São quase mil aulas que deixam de ser dadas por dia.
Na rede municipal de São Paulo, o problema não é diferente: cálculos de 2013
apontam para 1,8 milhão de faltas, metade por problemas médicos [...].
Figura 1 – Motivo dos afastamentos de professores da rede paulista comparado
à sua incidência na população
Fonte: Revista Pública de São Paulo
(http://revistaescolapublica.com.br/textos/35/mal-estar-docente-300042-1.asp).
86
Em 2012 o sindicato já tinha divulgado um levantamento importante sobre o meio
ambiente do trabalho dos professores de São Paulo:
Segundo o levantamento, divulgado com exclusividade para o R7, entre as pessoas
que sofrem depressão, 57% acabam se afastando das aulas. A pesquisa mostra que,
além da depressão, os transtornos de ansiedade, também interferem na probabilidade
de afastamento do professor. O estudo com 2.500 professores da rede revelou que
23% deles sofrem de ansiedade ou síndrome do pânico.
Tabela 1 – Doenças diagnosticadas dos professores paulistas
Doenças Percentual
Rinite/alergia 33%
Hipertensão arterial 30%
Tendinite, bursite ou dor muscular no último ano 29%
Transtorno de ansiedade ou pânico no último ano 23%
Laringite/rouquidão 21%
Depressão no último ano 18%
Artrose 14%
Diabetes 10%
Doença do coração 8%
Doenças respiratórias 7%
Acidente Vascular Encefálico (AVE) 2% Fonte: Revista Pública de São Paulo
(http://revistaescolapublica.com.br/textos/35/mal-estar-docente-300042-1.asp).
Diante do quadro caótico o governo do estado de São Paulo instituiu uma Política
Estadual de Prevenção às Doenças Ocupacionais do Educador que entrou em vigor no ano de
2005, Projeto de lei n. 577/96:
Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Artigo 1º - Fica instituída, no âmbito do Estado, a "Política Estadual de Prevenção
às Doenças Ocupacionais do Educador".
Parágrafo único - A Política a que se refere o "caput" dirige-se aos professores e
outros profissionais da área da educação.
Artigo 2º - A "Política Estadual de Prevenção às Doenças Ocupacionais do
Educador" tem por objetivo:
I - informar e esclarecer os professores e outros profissionais da área da educação
sobre a possibilidade da manifestação de doenças decorrentes do exercício
profissional, tais como faringite, bursite, dermatite e outras;
II - orientar sobre os métodos e formas preventivas de combate a referidos males;
III - encaminhar o profissional enfermo para o adequado tratamento das moléstias de
que seja vítima em virtude da profissão.
Artigo 3º - O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta lei no prazo de 90
(noventa) dias, a contar de sua publicação.
Artigo 4º - As despesas decorrentes da aplicação desta lei correrão à conta de
dotações próprias consignadas no orçamento vigente.
Artigo 5º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Diante do exposto, cabem as instituições de Ensino público e privado a obrigação
jurídica de cuidar dos direitos fundamentais do trabalhador no que concerne a saúde e
integridade física e mental. Existem algumas normas protetivas sedimentadas em leis
87
expressas que cuidam da segurança do trabalho, porém não existe lei específica que
regulamente a saúde ocupacional do professor em nível nacional e nem em nível estadual em
alguns estados, como é o caso do Amazonas.
3.4.2 A qualidade no Meio Ambiente do Trabalho: principais doenças e disfunções
Como foi estudado anteriormente, o Meio Ambiental do Trabalho possui
características peculiares e diferentes do Direito do Trabalho, sua caracterização baseia-se
numa reorientação da tutela ambiental propondo uma reflexão sobre a proteção jurídica do
trabalhador no seu meio ambiente do trabalho diante de uma perspectiva de dignidade da
pessoa humana.
A sadia qualidade de vida dos trabalhadores tem sido alvo de discussões históricas
devido ao alto índice de enfermidades que os têm acometido em seu ambiente laboral ou em
razão dele.
Assim, o equilíbrio ambiental laboral é um direito fundamental garantido por lei,
pois todos têm o direito de exercer com plenitude o direito à vida, independente da profissão
que desenvolva. Assim, constata-se a importância do quarto aspecto do meio ambiente, ou
seja, o meio ambiente do trabalho, que merece destaque por ser o lugar onde os trabalhadores
permanecem a maior parte de seu dia para desenvolver suas potencialidades produtivas.
A dignidade da pessoa humana não se afasta do ambiente do trabalho, o que se quer
tutelar é a vida do trabalhador e não a estrutura física onde ele trabalha. Assim, como o
trabalho traz dignidade ao homem, o Meio Ambiental do Trabalho garante o direito dele
desenvolver suas atividades num ambiente laboral saudável e mais humano.
Para Melo (2001, p. 70) “[...] não há como se falar em qualidade de vida se não
houver qualidade de trabalho, nem se pode atingir o meio ambiente equilibrado e sustentável,
ignorando-se o aspecto do meio ambiente do trabalho”. Afirma também Mancuso (2002, p.
57):
O conceito de meio ambiente se expandiu para além do mundo da natureza, para
alcançar outras dimensões onde o homem vive, se relaciona e desenvolve suas
potencialidades. Quer dizer, o homem, enquanto „ser vivente‟, integra, como tal o
„mundo da natureza‟, e, nesse prisma, tem tanto direito à vida quanto tudo o mais
que compõe os reinos animal e vegetal. Todavia, é inegável que os horizontes do
homem vão muito além do mero instinto de sobrevivência, dado que sua alma revela
uma natural tendência ao progresso e ao desenvolvimento.
Constata-se, assim, a importância do Meio Ambiente do Trabalho, pois seu
equilíbrio está baseado na proteção e prevenção contra os agentes que comprometem a
88
incolumidade física ou mental dos trabalhadores. Sua visão holística de reorientação da
tutela ambiental é o diferencial desse direito.
A seguir são demonstrados alguns conceitos de doenças ocupacionais mais comuns,
que acometem os professores no seu meio ambiente laboral no Brasil, segundo pesquisa
bibliográfica realizada neste trabalho:
Quadro 5 - Conceitos das principais doenças do meio ambiente do professor TIPOS DE DOENÇAS CONCEITOS/DESCRIÇÕES
Neuroses (transtornos de
ansiedade)
“Neuroses são quadros patológicos psicogênicos (ou seja, de origem psíquica),
muitas vezes ligados a situações externas na vida do indivíduo, os quais
provocam transtornos na área mental, física e/ou da personalidade”.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Neurose>. Acesso em: 13/03/
2016.
Estresse Ocupacional
“Estresse Ocupacional é o quadro de respostas pouco adequadas à estimulação
física e emocional decorrente das exigências do ambiente de trabalho, das
capacidades exigidas para realizá-lo e das condições do trabalhador”.
Disponível em: http://brasilescola.uol.com.br/psicologia/stress-
ocupacional.htm>. Acesso em: 13/03/ 2016.
Depressão
“A depressão é um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo de
sua história. No sentido patológico, há presença de tristeza, pessimismo, baixa
autoestima, que aparecem com frequência e podem combinar-se entre si. É
imprescindível o acompanhamento médico tanto para o diagnóstico quanto
para o tratamento adequado”. Disponível em:
http://www.minhavida.com.br/saude/temas/depressao>. Acesso em: 13/03/
2016.
Ansiedade
“Ansiedade é um sentimento humano normal, imprescindível para a vida
cotidiana. Até uma certa intensidade ela é útil pois permite que a pessoa possa
levar adiante seus projetos e anseios, impulsionando-a para a frente. Ela se
torna uma doença quando sua intensidade é tal que começa a prejudicar o
desempenho da pessoa em suas atividades.”
Disponível em: http://www.saudemental.net/ansiedade.htm>. Acesso em:
13/03/ 2016.
Síndrome do pânico
“A síndrome do pânico é um tipo de transtorno de ansiedade no qual ocorrem
crises inesperadas de desespero e medo intenso de que algo ruim aconteça,
mesmo que não haja motivo algum para isso ou sinais de perigo iminente”.
Disponível em: http://www.minhavida.com.br/saude/temas/sindrome-do-
panico>. Acesso em: 13/03/ 2016.
Transtorno afetivo
bipolar
O Transtorno Bipolar, também conhecido como doença maníaco-depressiva, é
um transtorno mental que causa mudanças incomuns do humor, energia, níveis
de atividade e da habilidade de realizar as tarefas do dia-a-dia.
Disponível em: <
https://www.lilly.com.br/Areas_Terapeuticas/Transtorno_Bipolar: >. Acesso
em: 13/03/ 2016.
Lesões por Esforços
Repetitivos (LER)
“Lesão por Esforço Repetitivo ou LER são lesões nos sistemas músculo-
esquelético e nervoso causadas por tarefas repetitivas, esforços vigorosos,
vibrações, compressão mecânica (pressionando contra superfícies duras) ou
posições desagradáveis por longos períodos.É um tipo de Distúrbio
Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT)”.
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Les%C3%A3o_por_esfor%C3%A7o_repetitivo>.
Acesso em: 13/03/ 2016.
Distúrbios da voz “Entende-se por distúrbio de voz relacionado ao trabalho qualquer alteração
vocal diretamente relacionada ao uso da voz durante a atividade profissional
que diminua, comprometa ou impeça a atuação e/ou a comunicação do
89
trabalhador”. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1808-
86942015000200202&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 13/03/ 2016.
Síndrome de Burnout
“Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico de caráter depressivo,
precedido de esgotamento físico e mental intenso”. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_burnout>. Acesso em:
13/03/ 2016.
Fonte: OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
3.5 VISÕES DOS TRIBUNAIS
A proteção dos trabalhadores vai além das normas jurídicas, nas últimas décadas, a
Justiça do Trabalho através de suas orientações jurisprudenciais vem reafirmando o direito do
trabalhador de ter um meio ambiente equilibrado e seguro onde sejam respeitadas sua
segurança através da responsabilidade dos empregadores em garantir um meio ambiente do
laboral saudável.
Contudo, no Brasil é crescente o número de acidentes e doenças ocupacionais,
pesquisa da revista Anuário Brasileiro de Proteção 2013 / Estatísticas de Acidentes Brasil
divulgou o resultado de uma pesquisa sobre o referido tema:
Houve um acréscimo de 616.377 empregados em 2012 para 644.411 em 2013
(4,55%).[...] O estado do Amazonas é o 16º em acidentes ocupacionais e o 20º em
óbitos. De 2012 a 2013 foi registrada uma queda de 32 para 29 (-9,37%) no número
de mortes ocupacionais e a mortalidade a cada 100 mil trabalhadores manteve-se em
5.
A justiça ao demonstrar a sociedade o resultando de seu trabalho e o que ela está
efetivamente realizando para proteger juridicamente a saúde dos trabalhadores é de caráter
louvável, porém a justiça brasileira não consegue ser mais célere devido a grande demanda
das ações trabalhistas para a baixa quantidade de juízes.
Segundo o Juiz Sebastião Geraldo de Oliveira (2010, p. 21):
Na labuta diária do exercício da magistratura trabalhista observamos, intrigados, o
volume expressivo de reclamações dos ex-empregados, postulando horas “extras
habituais”, adicional noturno, adicionais de insalubridade ou de periculosidade,
ficando as agressões à saúde dos trabalhadores reduzidas a uma simples expressão
monetária, transacionável, do período não prescrito. Ao percorrer os corredores da
Justiça Comum, percebemos as marcas indeléveis das agressões: deparamos com
enfermos, mutilados, órfãos e viúvas, buscando benefícios previdenciários ou
reparações civis decorrentes de acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais,
ocasionados pelo descaso e indiferença de muitos empregadores no cumprimento
das normas de segurança, higiene e saúde no trabalho.
Nesse contexto, ações inovadoras e necessárias estão ocorrendo, como as campanhas
da conciliação de lides trabalhistas e metas individuais para os juízes, porém é crescente
número de processos, cabe uma ação conjunta para tentar minimizar tal situação e atingir o
90
principal interessado dessa questão, o trabalhador, pois medidas preventivas precisam ser
efetivadas e fiscalizadas pelos órgãos competentes junto as empresas e instituições para evitar
os acidentes e as doenças ocupacionais.
O Tribunal Superior do Trabalho divulgou sua estatística sobre os acidentes do
trabalho no Brasil do período de 2010 a 2013:
Tabela 2 – Acidentes do trabalho no Brasil – Dados oficiais – período 2010 a 2013
Anos Total de
acidentes
Acidentes
típicos
Acidentes
trajeto Doenças Mortes
2010 529.793 417.295 95.321 17.177 2.753
2011 543.889 426.153 100.897 16.839 2.938
2012 546.222 426.284 103.040 16.898 2.768
2013 559.081 432.254 111.601 15.226 2.797
Fonte: http://www.tst.jus.br/documents/1199940/1207004/Estat%C3%ADstica.
Tabela 3 – Acidentes de Trabalho com e sem CAT registrados no Brasil - período 2010 a 2013 Ano Acidentes com CAT
registradas
Acidentes sem CAT
registradas
Soma
2010 529.793 179.681 709.474
2011 543.889 176.640 720.629
2012 546.222 167.762 713.984
2013 559.081 158.830 717.911
Fonte: www.tst.jus.br/documents/1199940/1207004/Estat%C3%ADstica.
Tabela 4 – Excluídos do mundo do trabalho no Brasil por acidente do Trabalho ou doença
ocupacional período 2010 a 2013
Ano Invalidez temporária:
Mais de 15 dias
Invalidez
permanente
Mortes Soma Média por
dia
2009 325.027 14.605 2.560 17.165 47
2010 309.827 15.942 2.753 18.695 51
2011 306.503 16.658 2.938 19.596 54
2012 288.063 17.047 2.768 19.815 54
2013 271.314 14.837 2.797 17.634 48
Fonte: www.tst.jus.br/documents/1199940/1207004/Estat%C3%ADstica.
A evolução da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça em matéria de Direito
Ambiental vem alcançando seu lugar de destaque devido ser um tema de interesse coletivo.
Com a visão preventiva de acidentes e doenças ocupacionais algumas associações de
91
magistrados têm organizado congressos, palestras e ações para discutir soluções que
amenizem os problemas ambientais, como aconteceu em São Paulo com as associações:
Associação Paulista de Magistratura (Apamagis), Associação dos Juízes Federais do Estado
de São Paulo (Ajufesp) e pelas Associações dos magistrados da 2ª e 15ª Regiões (Amatra-2 e
Amatra 5) que promoveram o 1º Congresso Interinstitucional, assim teve como resultado a
criação do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos Coletivos
(Ato, GP n. 05/2013), outra atividade multidisciplinar dos magistrados do Tribunal Superior
do Trabalho (TST) e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) envolveu a
Comissão de Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho resultou na criação do
Programa Trabalho Seguro – Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho.
Nota-se que têm muitos julgados que envolvem casos com danos ambientes macros
com grande impacto ambiental de repercussão em nível nacional e internacional, como por
exemplo o rompimento da barragem em Mariana (MG) que liberou em média 50 cúbicos de
rejeitos que se misturaram ao Rio Doce.
Miranda e Marques (2016, p. 1) comenta sobre o dano ambiental:
O colapso da barragem de rejeitos de Fundão, em Mariana (Minas Gerais, Brasil)
iniciou uma enorme tragédia humana e, provavelmente, o mais grave desastre
ambiental da história recente do Brasil. A barragem continha rejeitos do
processamento de minério de ferro de minas de propriedade da Samarco, uma
empresa controlada pela brasileira Vale S.A.
O que chama a atenção da sociedade são os grandes impactos ambientais, o que a
mídia televisiva mostra, porém há outros aspectos (comentados no primeiro capítulo) que
também trazem prejuízos ao ser humano, destacamos entre eles o meio ambiente do trabalho,
pois apesar de “silencioso” vem matando muita gente ou deixando muitos trabalhadores com
doenças graves para o resto de suas vidas. Os danos ambientais, sejam eles de grande
proporção ou não, sempre trouxeram consequências negativas para a sociedade, pois, em
regra, são irreversíveis, ou de difícil reversibilidade.
O art. 9º, IV da Lei 6.938/81 que trata da Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA) regulamenta sobre a importância da eficácia dos seus instrumentos ambientais para
prevenir futuros danos ambientais, sejam eles em que dimensão for, assim tais procedimentos
fiscalizatórios preventivos precisam ocorrer em todos os aspectos ambientais, inclusive o do
meio ambiente do trabalho.
Segundo Oliveira (2010, prefácio):
Nós órgãos previdenciários, verificamos as aposentadorias especiais, como consolo
pelo desgaste acelerado do trabalhador, que, para ganhar a vida, apressa a própria
morte, e conhecermos as estatísticas constrangedoras dos acidentes do trabalho e
92
doenças ocupacionais, que levaram o Brasil a figurar como campeão mundial nesse
torneio de tragédias.
Diante desse quadro sombrio, começamos a questionar o papel da ciência jurídica
na busca de soluções (GRIFO NOSSO), especialmente porque a Constituição da
Republica de 1988 no art. 196: consagra solenemente que “a saúde é direito de todos
e dever do Estado” e no art. 7º, XXII que o empregado tem direito à “redução dos
riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança”.
A inércia da justiça diante desses fatos só representa sua cômoda cumplicidade e
omissão, pois uma vez que são chamados a lide e passam a ter conhecimento dos danos
causados ao meio ambiente pouco fazem para mudar o plano normativo brasileiro para
reverter o quadro caótico que os trabalhadores vivem.
O que se espera do Poder Público e dos empregadores é que ofereçam um meio
ambiente do trabalho ao professor saudável e equilibrado. E que a Ciência Jurídica faça
estudos sobre o tema, pois se ele é objeto preocupação em outras áreas do saber, como o da
Medicina do Trabalho, da Engenharia de Segurança, da Psicopatologia da Ergonomia entre
outros, cabe um questionamento: o que está acontecendo com a área jurídica? Está
adormecida ou é descaso mesmo. No Amazonas não tem transparência de informações sobre
o quadro de saúde dos profissionais da área de educação, segundo informações da própria
Junta Médica de Manaus (apêndice “C”). Em alguns estados como São Paulo, Minas Gerais,
Mato Grosso entre outros há transparência de dados e o quadro é alarmante. No Brasil não há
normatização jurídica que assegure o reconhecimento das doenças ocupacionais ou em razão
dela aos professores. Espera-se que este presente trabalho contribua, de alguma forma, para
trazer uma reflexão sobre esse fato, que saia do plano estático para um progressivo
reconhecimento jurídico e faça a devida justiça a esses trabalhadores.
3.5.1 Levantamento de processos julgados com o nexo causal reconhecido de 2005 a 2015
O Superior Tribunal do Trabalho através do Programa de Prevenção de Acidente de
Trabalho publicou dados estatísticos oficiais por região sobre acidentes e doenças
ocupacionais até o ano de 2013, assim temos: “No âmbito do Tribunal Regional do Trabalho
da 11ª Região,[...] no estado do Amazonas, houve 8.375 acidentes de trabalho, com 29
fatalidades.”
Pesquisa realizada por meio da jurisprudência do STJ cujo tema selecionado foi a
responsabilidade estatal por danos ao meio ambiente do trabalho dos professores e o
reconhecimento das doenças ocupacionais decorrentes do exercício do magistério obteve um
resultado mediano de ações trabalhistas, no período da pesquisa foi de 2005 a 2015.
93
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal publicou em 11 de março de 2016 a
Apelação Cível APC 20110111948602 (TJ-DF) que teve como relatora Maria de Lourdes
Abreu, e trouxe uma ação de reconhecimento envolvendo professor de rede pública de ensino.
“Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE
CONHECIMENTO. PROFESSOR. REDE PÚBLICA DE ENSINO.
READAPTAÇÃO. DOENÇA OCUPACIONAL. PERÍCIA NÃO REALIZADA.
DESISTÊNCIA. ÔNUS PROBATÓRIO. IMPROCEDÊNCIA. VERBA
HONORÁRIA. REDUÇÃO. 1. Sobre o autor recai o ônus quanto à realização de
prova referente a fato constitutivo de seu direito. Se ele expressamente desiste da
comprovação a seu cargo, tem-se por improcedente o respectivo pedido. 2. Por se
tratar de doença alegadamente ocupacional é imprescindível a realização de perícia
médica tendente a demonstrar a sua efetiva ocorrência, o nexo de causalidade e o
grau correspondente. Ausente essa demonstração, resultam inviabilizados os pedidos
daí decorrentes. 3. Se o valor da verba honorária não condiz com algumas
circunstâncias da causa, notadamente aquelas previstas no § 3º do artigo 20 do
Código de Processo Civil, merece acolhida o pedido de redução. 4. Recurso
conhecido e parcialmente provido.”
No Tribunal Superior do Trabalho foi publicado em 10.10.2014 um Agravo de
Instrumento em Recurso de Revista n. 787920115150029 que entre outros pedidos requer o
reconhecimento de sua doença ocupacional.
“Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA -
DESCABIMENTO. 1. DESCONTOS SALARIAIS. Interposto à deriva dos
requisitos do art. 896 da CLT, não merece processamento o apelo. 2. REDUÇÃO DA
CARGA HORÁRIA. PROFESSOR. Não demonstrada a diminuição do número de
alunos, impossível a aplicação da OJ 244 da SBDI-1 desta Corte. 3. NORMAS
COLETIVAS APLICÁVEIS. Incabível o recurso de revista para reexame de fatos e
provas (Súmula 126/TST). 4. ADICIONAL DE TRANSFERÊNCIA. Ao decidir com
base na interpretação de normas coletivas, o Tribunal Regional fixa moldura fática
que não pode ser dilatada com o reexame da prova por meio de recurso de revista
(Súmula 126 do TST). 5. DOENÇA OCUPACIONAL. Comprovada a existência de
nexo de concausalidade entre a patologia desenvolvida e o trabalho desempenhado,
caracteriza-se o dano moral. Cabível, assim, a indenização respectiva, a cargo do
empregador. Agravo de instrumento conhecido e desprovido.”
Ainda no Tribunal Superior do Trabalho foi publicado em 09 de maio de 2014 O
Recurso de Revista n. 638002720105170010 teve como relator Maurício Godinho Delgado:
“Ementa: RECURSO DE REVISTA. 1. DOENÇA OCUPACIONAL. DISFONIA.
RESPONSABILIDADE CIVIL. NEXO CONCAUSAL. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS E MATERIAIS. 2. DANOS MORAIS. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. APELO DESFUNDAMENTADO. 3. PENSÃO MENSAL
VITALÍCIA. VALOR ARBITRADO. 4. AFASTAMENTO PARA PERCEPÇÃO
DE AUXÍLIO-DOENÇA NÃO ACIDENTÁRIO EM RAZÃO DE DISFONIA.
NEXO CONCAUSAL RECONHECIDO EM JUÍZO. SUSPENSÃO DO
94
CONTRATO DE TRABALHO. OBRIGAÇÃO DE REALIZAR OS DEPÓSITOS
DO FGTS. O pleito de indenização por dano moral e material resultante de acidente
do trabalho e/ou doença profissional ou ocupacional supõe a presença de três
requisitos: a) ocorrência do fato deflagrador do dano ou do próprio dano, que se
constata pelo fato da doença ou do acidente, os quais, por si sós, agridem o
patrimônio moral e emocional da pessoa trabalhadora (nesse sentido, o dano moral,
em tais casos, verifica-se pela própria circunstância da ocorrência do malefício físico
ou psíquico); b) nexo causal, que se evidencia pela circunstância de o malefício ter
ocorrido em face das circunstâncias laborativas; c) culpa empresarial, a qual se
presume em face das circunstâncias ambientais adversas que deram origem ao
malefício. Embora não se possa presumir a culpa em diversos casos de dano moral -
em que a culpa tem de ser provada pelo autor da ação -, tratando-se de doença
ocupacional, profissional ou de acidente do trabalho, essa culpa é presumida, em
virtude de o empregador ter o controle e a direção sobre a estrutura, a dinâmica, a
gestão e a operação do estabelecimento em que ocorreu o malefício. Registre-se que
tanto a higidez física como a mental, inclusive emocional, do ser humano são bens
fundamentais de sua vida, privada e pública, de sua intimidade, de sua autoestima e
afirmação social e, nesta medida, também de sua honra. São bens, portanto,
inquestionavelmente tutelados, regra geral, pela Constituição (art. 5º, V e X). Assim,
agredidos em face de circunstâncias laborativas, passam a merecer tutela ainda mais
forte...”
No Tribunal Regional do Trabalho foi publicado em 18 de março de 2011 o Recurso
Ordinário Trabalhista n. 21682010506 que teve como relator Nelson Soares Junior.
“Ementa: DANO MORAL. LESÃO DECORRENTE DE ESFORÇOS
REPETITIVOS (EPICONDILITE LATERAL). CARACTERIZAÇÃO.
PRECEDENTES. Em se tratando - a epicondilite lateral adquirida no curso do
contrato de trabalho - de doença que tem como agente etiológico ou fator de
risco ocupacional posições forçadas e gestos repetitivos, conforme se verifica do
Grupo XIII, do Anexo II, do Regulamento da Previdência Social aprovado pelo
Decreto nº. 3.048 , de 6 de maio de 1999 (classificada, portanto, como LER/DORT),
não se há de negar à recorrente o direito à reparação do dano moral, da dor psíquica
advinda, uma vez que - na descrição da professora e pesquisadora do Departamento
de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da USP Leni Sato - (...)
os portadores (...) expressam sentimentos de desvalia, insegurança quanto ao futuro
profissional, inconformismo por não poder realizar os afazeres domésticos e praticar
autonomamente a higiene pessoal, além de conviverem com a incerteza e a
morosidade...
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal publicou em 20 de outubro de 2010 a
Apelação Cível n. 218489820058070001 cujo relator foi Romeu Gonzaga Neiva:
“Ementa: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS E MATERIAIS -
ACIDENTE DE TRABALHO - DOENÇA OCUPACIONAL (LER/DORT) -
NEXO CAUSAL COMPROVADO - RESPONSABILIDADE CIVIL
CARACTERIZADA - VALOR INDENIZATÓRIO - razoabilidade. I - os
acometimentos associados à condição relatada pela periciada à respeito de seu
trabalho, onde ocorria posição forçada associada e gestos repetitivos - escrever no
95
quadro negro, datilografar/digitar, perfuração de papel no reflete com pião para
reparar a escrita em braile - caracterizando os fatores de risco de
natureza ocupacional 57.8 constituem, segundo o decreto 6.042 , de 12 de fevereiro
de 2007, patologia relacionada ao seu mister de professora, do tipo ler/dort.' II -
comprovada a negligência do órgão empregador, ao não proporcionar ao funcionário
os meios de recuperação da doença ocupacional a que foi acometida em razão das
atividades laborais exercidas, e bem assim, o nexo de causalidade entre o dano
sofrido (LER/DORT) e a conduta da instituição/ré, cumpre seja reconhecida sua
responsabilidade civil pela reparação do dano. III - com relação a responsabilidade
civil, a obrigação de indenizar é expressa no artigo 927 , do CC , quando diz: "aquele
que, por ato ilícito (arts. 186 e 187) causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo".
IV - o ônus da demonstração da culpa e do nexo causal é sempre do acidentado, pois
representam os fatos constitutivos de seu alegado direito ( CPC , art. 333 , I ).' (in
responsabilidade civil acidente de trabalho, 2001, ed. Saraiva, pág. 15) (g.n.). V -
restando claramente demonstrado que a instituição/ré foi negligente, pois descumpriu
seu dever legal de dar efetividade aos comandos da lei, denota-se o seu
comportamento culposo, como responsável pelo surgimento e agravamento
da doença profissional adquirida pela autora. VI - a relação de causalidade entre a
moléstia de que a parte é portadora, a atividade laboral e a conduta culposa do réu,
também se mostram indene de dúvidas, consoante os elementos analisados...”
4 RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE DE TRABALHO E CAUSAS DE
ABSENTEÍSMO DO PROFESSOR DO ENSINO MÉDIO E FUNDAMENTAL DA
REDE ESTADUAL DE ENSINO NA CIDADE DE MANAUS
Os fundamentos elaborados e sistematizados nesta pesquisa versam sobre as relações
entre as causas de absenteísmo do professor da rede estadual de ensino da cidade de Manaus
nos níveis fundamental e médio em seu meio ambiente laboral.
Sabe-se que o absenteísmo é considerado um fenômeno mundial que atinge muitos
docentes, porém seu estudo é complexo, pois são várias causas/hipóteses que podem levar o
docente ao afastamento por curto, longo tempo do trabalho, ou até mesmo ao abandono da
profissão.
A falta de assiduidade ao trabalho do professor pode ser um alerta, tanto para o
próprio profissional quanto para o Poder Público, pois o absenteísmo por sua complexidade
precisa ser revisto de forma emergencial, pois essa situação, segundo essa pesquisa realizada,
tem infligido o meio ambiente do trabalho dos professores ao ponto de chegar ao extremo
mal-estar desses profissionais.
96
Assim, para explorar a relação entre Meio Ambiente de Trabalho e causas de
absenteísmo do professor do ensino médio e fundamental da rede estadual de ensino na cidade
de Manaus o processo investigativo exigiu:
1) a revisão da literatura especializada sobre o conceito de absenteísmo e suas
implicações;
2) Mapeamento dos professores da rede estadual de ensino na cidade de Manaus/Am -
níveis fundamental e médio;
3) A explicitação de um percurso metodológico que foi realizado através do
mapeamento dos professores da rede estadual na cidade de Manaus/Am - níveis
fundamental e médio que possibilitasse o entrelaçamento das informações coletadas na
pesquisa de campo;
4) Resultado e análise dos dados coletados dos 920 professores a partir de questionário
com perguntas fechadas a fim de constituir e explorar diferentes aspectos que
envolvessem dilemas dos docentes imersos no seu dia a dia profissional;
5) A proposição de algumas considerações diante da complexidade e amplitude do
tema.
A pesquisa foi realizada no Amazonas, região Norte do Brasil que possui 62 municípios
que o compõe, entre eles está Manaus que é sua capital e que possui a maior população com
2.057.711 na região, segundo o IBGE, em 2015.
Manaus é um município brasileiro, capital do estado do Amazonas e o principal
centro financeiro, corporativo e econômico da Região Norte do Brasil. É uma
cidade histórica e portuária, localizada no centro da maior floresta tropical do
mundo. Situa-se na confluência dos rios Negro e Solimões, sendo uma das cidades
brasileiras mais conhecidas mundialmente, principalmente pelo seu potencial
turístico e pelo ecoturismo, o que faz de Manaus o décimo maior destino de turistas
no Brasil. Pertence à mesorregião do Centro Amazonense e à microrregião
homônima, e destaca-se pelo seu patrimônio arquitetônico e cultural, com notáveis
museus, teatros, templos, palácios e bibliotecas. Está localizada no extremo norte do
país, a 3 490 quilômetros da capital nacional, Brasília. (WIKIPÉDIA, a enciclopédia
livre).
4.1 A REVISÃO DA LITERATURA SOBRE O CONCEITO DE ABSENTEÍSMO
Absenteísmo é um fenômeno multifatorial, pois pode decorrer de várias causas,
como: o absenteísmo voluntário, absenteísmo compulsório, absenteísmo legal, absenteísmo
por patologias profissionais e absenteísmo por doenças ocupacionais. Assim, seu significado
faz-se necessário esclarecer, segundo o Wikipédia, a enciclopédia livre:
O absenteísmo é um padrão habitual de ausências no processo
de trabalho, dever ou obrigação, seja por falta ou atraso, devido a algum motivo
97
interveniente. É usado também para designar a soma dos períodos de ausência de um
funcionário de seu ambiente de trabalho. (WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre).
A complexidade do absenteísmo no meio ambiente laboral do professor tem causas
diversas, porém suas consequências são visíveis na saúde desses profissionais, sendo assim
um fator importante a qualidade do meio ambiente do trabalho desses profissionais, pois seu
adoecimento ocasionará afastamento temporário ou definitivo do trabalho.
Para Esteve (1999, p. 63): “Recorre-se, então, aos pedidos de licenças trabalhistas ou,
simplesmente, à ausência do estabelecimento escolar por períodos curtos, que exigem não
mais do que justificativas.”
Corroborando Silva (2014, p. 39) afirma:
Sabemos todos da complexidade do trabalho do professor envolvido em muitas
atribuições e exigências; algumas próprias da profissão, outras das novas demandas
da atualidade. Sabemos também que a atividade é tão multifacetada que dificilmente
o professor consegue cumprir com todas as suas obrigações, por isso, acaba
adoecendo emocional, psíquica e organicamente, sendo necessário afastar-se
periodicamente.
É importante ainda destacar que as diversas patologias trazem doenças ocupacionais
que afastam os docentes de suas atividades profissionais, tais ausências trarão prejuízos no
aprendizado dos alunos, ao erário público que precisará substitui-lo e, principalmente, ao
próprio professor, pois além de ser descontado do seu salário, caso não tenha atestado que
comprove sua ausência, tem que cuidar da doença adquirida em seu ambiente laboral sem
qualquer ajuda de custo do poder público.
4.2 MAPEAMENTO DOS PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE ENSINO NA
CIDADE DE MANAUS/AM - NÍVEIS FUNDAMENTAL E MÉDIO.
A Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino – SEDUC por meio do
Departamento de Planejamento e Gestão Financeira – Gerência de Pesquisa e Estatística –
dados gerais/ Rede Estadual/2015 informou que, em 2015, o Estado do Amazonas
disponibilizou um total geral de 5.492 escolas entre pública, federal e privada a população.
Com isso oportunizou 51.296 vagas de empregos aos professores de todas as redes de ensino.
Desse quantitativo 720 escolas são estaduais (incluindo capital e interior) que possuem em seu
quadro funcional um total de 18.679 professores, sendo que 7.144 na capital e 11.535 no
interior.
98
Devido o grande número de escolas estaduais, a presente dissertação foi
desenvolvida somente na região metropolitana de Manaus - nas escolas estaduais de níveis
médio e fundamental que totalizaram uma média de 230 escolas. Embora tenha essa
quantidade de escolas, o estado oferece em uma mesma escola diferentes níveis de ensinos em
turnos distintos ou no mesmo turno, diante desse quadro é disponibilizado 4.482 escolas com
ensino médio e 591 com nível fundamental.
A Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino – SEDUC descentralizou
sua responsabilidade da administração criando as Coordenadorias Distritais de Ensino por
meio da Lei Delegada n. 3642/2011, baseado nos princípios da administração pública
contemporânea cuja existência pressupõe uma melhor organização administrativa onde haja
uma gestão democrática, porém que obedeça as diretrizes e normas estabelecidas no
ordenamento jurídico.
Para Libâneo (2004, p. 87): “a participação é o principal meio de assegurar a gestão
democrática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de
tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar” .
A efetividade da implementação das sete coordenadorias distritais é o desafio que o
Estado do Amazonas enfrenta para atingir seus objetivos de oferecer uma educação de
qualidade a todos.
4.3 METODOLOGIA APLICADA
Para estruturar esta pesquisa, o procedimento metodológico foi desenvolvido da
seguinte forma:
Quanto à natureza este trabalho embasou-se na pesquisa teórica-bibliográfica
consolidando-se com a pesquisa quali-quantitativa, devido a pesquisa qualitativa preocupa-se
com o aprofundamento dos danos ambientais da classe dos professores e quantitativamente
por demonstrar os dados estatísticos de quantos professores foram acometidos por doenças
ocupacionais adquiridas no ambiente laboral.
Quanto aos fins aplicou-se a pesquisa exploratória e descritiva. Para a pesquisa
exploratória fez-se uso do conhecimento bibliográfico, utilizando-se para o seu
desenvolvimento obras já publicadas como: teses jurídicas, já sedimentada na Justiça do
Trabalho, cujas regras que cuidam da saúde, segurança e higiene do trabalho são garantidas
por normas de ordem pública; jurisprudências, artigos, dissertações, revistas, livros e os sites
especializados, enfocando multidisciplinarmente, de forma mais intensa, o Direito Ambiental,
99
o Direito Ambiental do Trabalho, Direito Constitucional, Consolidação das Leis Trabalhista,
Leis infraconstitucionais e específicas, sempre primando pela legislação específica que regula
a matéria, além das outras áreas multidisciplinares, como obras da Ciência da Saúde que
possui uma vasta publicação pertinentes sobre o tema em questão. Assim, todas elas
acrescentaram sobremaneira a progressão desta pesquisa científica.
Já a abordagem descritiva foi motivada pelos profissionais da área da educação
estarem suscetíveis à aquisição de doenças em razão da presença de riscos ocupacionais
diversos, como os biológicos, físicos, químicos, psíquicos e ergonômicos adquiridos por eles
no exercício de suas atividades diárias ou adquiridas em função de suas condições de trabalho.
E por isso tiveram algum problema de saúde que resultou em afastamento do trabalho.
Quanto aos meios para obter-se as informações, utilizou-se tanto a pesquisa
bibliográfica quanto a pesquisa de campo. Esses meios trouxeram novas perspectivas sobre o
meio ambiente do trabalho do professor, pois foram basilares para a construção desta
pesquisa, ressaltando que o apoio multidisciplinar da área da saúde foi importante para a
fundamentação técnica-científica para diagnosticar o nexo causalidade e o dano ambiental
existentes.
A população de professores da rede estadual de ensino da cidade Manaus/Amazonas
é composta é 7.144 que fazem parte das 230 escolas que foram distribuídas em sete
coordenadorias Distritais:
Quadro 6 – Quantitativo de escolas por coordenadoria distrital de educação da
rede pública estadual de Manaus/2016 COORDENADORIA DISTRITAL DE EDUCAÇÃO DA REDE
PÚBLICA ESTADUAL DE MANAUS/2016
TOTAL
DE
ESCOLAS
Distrito 1 – ZONA SUL 36
Distrito 2 – ZONA SUL 36
Distrito 3 – ZONA CENTRO SUL 36
Distrito 4 – ZONA OESTE 34
Distrito 5 - ZONA LESTE 32
Distrito 6 – ZONA NORTE 26
Distrito 7 – ZONA NORTE 28
Fonte: OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Assim, a presente dissertação foi realizada com uma amostra de 1099 professores
pertencentes a duas escolas de cada Distrito Educacional Estadual de Manaus/Am que
oferecem os níveis fundamental e médio. Desse quantitativo 920 docentes participaram
100
efetivamente respondendo o formulário da pesquisa, o que corresponde a 83,71% da amostra
pesquisada. O critério de inclusão utilizado foi o vínculo que o professor tem com a escola da
rede pública de ensino. E o critério da escolha das duas escolas pesquisadas por Distrito foram
aquelas que oferecessem os dois níveis de ensino ao mesmo tempo.
O instrumento utilizado na prática a pesquisa de campo para a coleta de dados foi um
questionário com oitenta e uma perguntas fechadas6 de múltipla escolha que contemplaram o
objetivo do trabalho, houve o cuidado na aplicação das mesmas para que não fossem
exaustivas e nem desanimassem os pesquisados. Para tanto foi aplicado um pré-teste (piloto)
por meio da aplicação de vinte questionários, logo em seguida foram efetuados alguns ajustes.
Para a realização do estudo foram enviadas duas solicitações de liberação da
pesquisa de campo, uma à Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino –
SEDUC e outra à Junta Médica Pericial do Estado do Amazonas, porém somente foi deferida
a realização da pesquisa junto à SEDUC, pois o indeferimento da Junta Médica dos dados
estatísticos sobre quais tipos de doenças ocorrem no meio ambiente do professor, bem como o
número exato de licenças médicas com mais de três dias médicas dos professores da rede
estadual de ensino foi um obstáculo para a pesquisa. A alegação da presidente em exercício
desse órgão, ofício n. 165/20167, foi que “é impossível atender a solicitação em tela posto que
todo nosso material é de sigilo médico”. Assim, o levantamento das principais doenças que
causam o absenteísmo dos professores em seu ambiente laboral foi parcialmente prejudicado,
pois o órgão em questão é o responsável em atender todos os professores da rede pública
quando estão acometidos de doenças que precisem de afastamento por mais de três dias. Pode
ser observado o descaso sobre o tema na Audiência Pública – Comissão de Educação,
realizado em 2014, pela Câmara Municipal de Manaus uma vez que o representante da
SEDUC/Am não demonstrou nenhum dado estatístico sobre os afastamentos dos professores
de seu ambiente laboral.
Para assegurar os aspectos éticos da pesquisa todos os professores participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Por ser impossível uma pesquisa
científica abranger todo um universo, essa pesquisa fez um levantamento de informações
apenas numa parte pré-determinada da população. Assim, para esta pesquisa, o universo foi
6Quanto às perguntas fechadas são aquelas de ordem objetiva, que apresentam alternativas para respostas.
Quanto às perguntas abertas são aquelas de ordem subjetiva, onde o informante expõe livremente a sua opinião:
As vantagens da utilização dos questionários é o fato de abranger a amostra do universo pesquisado e também a
rapidez de se obter informações. Porém, existem também desvantagem, pois nem sempre e possível confiar na
verdade das informações. 7 Ofício n. 165/2016 – JMPE expedido pela Junta Médica Pericial do estado do Amazonas, documento no
apêndice C , p. 236
101
composto por 1099 professores efetivos e contratados que estão efetivos em regência de
classe nos níveis fundamental e médio.
4.4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Após coleta e análise dos dados coletados nas catorze escolas estaduais selecionadas,
sendo duas de cada Coordenadoria Distrital de Educação da cidade de Manaus, que oferecem
os níveis de ensino fundamental e médio foi iniciada a análise dos dados, mas, antes de lançar
à pesquisa, houve a necessidade de formar a base do conhecimento, que foi feito através de
perguntas aos professores se eles tinham solicitado algum afastamento por motivo de doença
durante sua vida profissional como docente.
Para uma melhor sistematização da apresentação dos resultados os questionários
foram divididos em seis partes, porém com um desdobramento individual. Assim, na primeira
parte ficou a pesquisa sobre os dados sociodemográficos e profissionais que teve seis
perguntas a serem aplicadas. Na segunda parte analisou-se sobre as Condições Ergonômicas e
foram aplicadas seis perguntas. Na terceira parte foi tratado sobre a situação funcional do
professor e foram aplicados onze perguntas. Na quarta parte foi tratado sobre as doenças
ocupacionais e foram aplicados seis perguntas. Já na quinta parte foram envolvidas algumas
doenças ocupacionais que acometem o professor, como: Síndrome de Burnout (físicas ou
psíquicas), LER (Lesões por Movimento Repetitivo) DORT (Distúbios Osteomoloculares
Relacionados ao Trabalho, doença da voz, doenças psíquicas, foram aplicadas trinta e duas
perguntas, e para finalizar na sexta parte foram analisadas as situações de riscos que ocorrem
no meio ambiente do trabalho & direito &prevenção que tiveram dezesseis perguntas.
Os resultados dos questionários foram tabulados de forma que houvesse praticidade
no trato e análise da pesquisa de campo, assim foram apresentados seus percentuais em forma
de tabelas.
Na última parte do trabalho foram feitas as considerações e verificações se os
objetivos propostos por esta pesquisa de campo foram alcançados e, por fim, foi realizada
uma reflexão de forma geral sobre sua contribuição para o meio ambiente de trabalho do
professor saudável.
102
4.4.1 Sociodemográficos e profissionais
Como o panorama da atual situação sociodemográfica dos professores da cidade de
Manaus já foi apresentado, será ressaltado apenas para demonstração desse resultado a
população de professores da rede estadual de ensino da cidade Manaus/Amazonas que é
composta de 7.144 professores que integram as 228 escolas que foram distribuídas em sete
coordenadorias Distritais.
Em relação ao perfil dos professores foram quantificadas as seguintes variáveis nas
tabelas: Tabela 5 – Distribuição dos docentes quanto ao gênero; Tabela 6 – Distribuição dos
docentes quanto sua média da faixa etária; Tabela 7 – Distribuição dos docentes quanto a
média do grau de escolaridade dos docentes; Tabela 8 – Distribuição dos docentes quanto a
média de tempo de serviço na docência; Tabela 9 – Distribuição dos docentes quanto a média
de tempo de serviço na atual escola; Tabela 10 – Distribuição dos docentes quanto a média da
jornada de trabalho; Tabela 11 – Distribuição dos docentes quanto a média da jornada de
trabalho. Ressalta-se que essas variáveis servem para caracterizar a amostra em relação aos
participantes.
Tabela 5 – Sociodemográficos e profissionais - Distribuição dos docentes quanto ao gênero
1. Resposta N. de Professores Percentual
Feminino 555 60,3%
Masculino 365 36,7%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
De forma macro, segundo o MEC/INEP/SEDUC/DPGF/GEPES, dos 18.679
professores no Amazonas, desses 6.872 são do gênero masculino e 11.807 do gênero
feminino. Em relação ao gênero, em Manaus, 2.411 são homens e 4.733 são mulheres.
Como resultado da presente pesquisa, o gênero feminino representou 60,3% da
amostra e o masculino 36,7%. O que afirma que em Manaus tem mais professoras na rede
pública de ensino.
103
Tabela 6 – Sociodemográficos e profissionais - Distribuição dos docentes quanto sua média da faixa etária
Resposta N. de Professores Percentual
20 – 30 111 12,1%
31- 40 147 16,0%
41 – 50 442 48,0%
51 – 60 220 23,9%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
O resultado da média da faixa etária dos professores que mais destacou-se foi dos
docentes que têm entre 41-50 anos, pois representou 48,0%, e o segundo que se destacou foi
dos professores que possuem uma faixa etária entre 51-60 representando 23,90%.
São vários os aspectos importantes que envolvem a idade do professor, como a
experiência que adquire na profissão ao longo do tempo, ingresso em concurso público,
aposentadoria, entres outros.
Ressaltamos que no Amazonas em 2015, segundo a gerência do GECAP/SEDUC–
Gerência de cadastro e aposentadoria, 1.325 professores foram aposentados. Assim, no
Direito Previdenciário a idade é um fator importante para o docente, está intrinsecamente
ligado a sua aposentadoria, que pode ser por tempo de contribuição, por idade ou por “tempo
especial”.
A aposentadoria por tempo de contribuição há carência para sua concessão,
conforme o artigo 235, inciso I, Instrução Normativa/INSS nº 77 DE 21.01.2015, é de 35
anos de contribuição para homens e de 30 anos para mulheres.
Entretanto, para o professor que exerce uma profissão considerada “cansativa”, há
uma diminuição nesse tempo, dos homens passa para 30 anos e para as mulheres 25 anos, se
eles contribuíram, independentemente, de suas idades, contudo precisam comprovar que
durante seu tempo de docência exerceram de forma exclusiva sua função de professor na
educação fundamental I, ou educação fundamental II, ou nível médio. Foi expresso, a partir
da alteração do art. 40, § 5º da Constituição Federal de 1988, trazida pela Emenda
Constitucional nº 20.
§ 5º - Os requisitos de idade e de tempo de contribuição serão reduzidos em cinco
anos, em relação ao disposto no § 1º, III, "a", para o professor que comprove
exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação
infantil e no ensino fundamental e médio.
Essa criação da modalidade “aposentadoria especial” para o professor trouxe uma
discussão sobre a aplicabilidade ou não do fator redutor conhecido como fator previdenciário,
104
observou-se que ao aplicá-lo não há vantagem nenhuma para o beneficiário nesse tipo de
aposentadoria, pois há redução no valor do benefício. O INSS mesmo sabendo nunca
modificou seus cálculos. Devido muitas divergências nos Juizados houve uma uniformização
que não deve ser aplicado o fator previdenciário nas aposentadorias da modalidade B57
(aposentadoria por tempo de contribuição professor).
A Lei nº 13.183, de 4 de novembro de 2015 trouxe novidades em seu art. 29-C:
Art. 29 - C. O segurado que preencher o requisito para a aposentadoria por tempo de
contribuição poderá optar pela não incidência do fator previdenciário no cálculo de
sua aposentadoria, quando o total resultante da soma de sua idade e de seu tempo de
contribuição, incluídas as frações, na data de requerimento da aposentadoria, for:
I - igual ou superior a noventa e cinco pontos, se homem, observando o tempo
mínimo de contribuição de trinta e cinco anos; ou
II - igual ou superior a oitenta e cinco pontos, se mulher, observado o tempo mínimo
de contribuição de trinta anos.
§ 1º Para os fins do disposto no caput, serão somadas as frações em meses
completos de tempo de contribuição e idade.
2º As somas de idade e de tempo de contribuição previstas no caput serão
majoradas em um ponto em:
I - 31 de dezembro de 2018;
II - 31 de dezembro de 2020;
III - 31 de dezembro de 2022;
IV - 31 de dezembro de 2024; e
V - 31 de dezembro de 2026.
§ 3º Para efeito de aplicação do disposto no caput e no § 2º, o tempo mínimo de
contribuição do professor e da professora que comprovarem exclusivamente tempo
de efetivo exercício de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e
médio será de, respectivamente, trinta e vinte e cinco anos, e serão acrescidos cinco
pontos à soma da idade com o tempo de contribuição.
Nesse diapasão, a nova lei trouxe grande justiça nesta modalidade de benefício aos
professores, uma vez que a “aposentadoria especial”, na realidade, nunca beneficiou o
professor, pois ao aposentasse o valor do benefício era baixo e o professor tinha que recorrer a
justiça para tentar receber uma aposentadoria digna.
Tabela 7 – Sociodemográficos e profissionais - Distribuição dos docentes quanto a média do grau de
escolaridade Resposta N. de Professores Percentual
Graduação 368 40,0%
Especialização 516 56,1%
Mestrado 36 3,9%
Doutorado - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
A pesquisa mostra que em Manaus todos os professores possuem o nível superior e
56,1% têm especializações em sua área de conhecimento, pois, em 2014, a SEDUC
105
oportunizou para todos os professores da rede estadual de ensino especialização direcionada à
sua área de conhecimento, porém observa-se um índice de apenas 3,9% de professores com
mestrado e 0,0% no doutorado. O que está demonstrado nessa pesquisa que o Amazonas
pouco tem investido na continuação da vida acadêmica de seus professores em nível de
mestrado e doutorado.
Tabela 8 – Sociodemográficos e profissionais - Distribuição dos docentes quanto a média de tempo de
serviço na docência Resposta N. de Professores Percentual
1 – 10 anos 294 32,0%
11 - 20 anos 369 40,1%
21- 30 anos 257 27,1%
31 – 35 anos - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Os resultados mostram que a maioria dos professores possuem mais de onze anos de
docência, ou seja, esse tempo de labuta confere a esses profissionais mais experiência na
docência e também uma maior probabilidade de serem acometidos por doenças ocupacionais.
Nota-se que sua exposição direta e diária com os alunos podem trazer riscos à sua saúde, pois
o mal-estar docente é complexo e decorre de várias causas, inclusive de doenças infecto
contagiosas transmitidas pelos próprios alunos, como: hepatite A, catapora, doenças
respiratórias, escabiose, sarna, pediculose (piolhos), entre outras.
Tabela 9 – Sociodemográficos e profissionais - Distribuição dos docentes quanto a média de tempo de
serviço na atual escola
Resposta N. de Professores Percentual
1 – 5 anos 554 60,1%
6- 10 anos 257 27,9%
11- 15 anos 36 3,9%
16 – 20 anos 73 7,9%
21 – 25 anos - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Segundo o resultado da pesquisa 60,1% são de professores que têm entre 1 a 5 anos
na mesma escola, isso indica o alto grau de rotatividade dos professores nas escolas, seja, por
término do contrato, ou por pedido de remoção, ou por alguns professores terem sido
readaptados, ou por aposentadoria, ou por desistência da profissão ou por morte, o fato é que
106
tal situação pode ser uma situação que cause estresse nos professores que já passaram por tal
situação.
Para Oliveira (2004, p. 1140):
O aumento dos contratos temporários nas redes públicas de ensino, havendo, em
alguns estados, os numerosos correspondentes aos trabalhadores efetivos, o arrocho
salarial, respeito a um piso salarial nacional, a inadequação ou mesmo ausência, em
alguns casos, de planos de cargos e salários, a perda de garantias trabalhistas e
previdenciárias oriundas dos processos de reforma do aparelho do Estado têm
tornado cada vez mais agudo o quadro de instabilidade e precarização de emprego o
magistério público.
Tabela 10 – Sociodemográficos e profissionais - Distribuição dos docentes quanto a média da jornada de
trabalho
Resposta N. de Professores Percentual
20h 520 56,5%
40h 364 39,6%
60h 36 3,9%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Em relação à jornada de trabalho houve uma prevalência das 20h semanais com
56,5%, seguida dos docentes que trabalham 40h semanais. Quanto maior a carga de trabalho
vinculado aos anos de trabalho observa-se o desgaste na maioria dos professores, doenças
silenciosas que trarão sequelas, muitas vezes irreversíveis.
Tabela 11 – Sociodemográficos e profissionais - Distribuição dos docentes quanto ao vínculo no trabalho
7. Resposta N. de Professores Percentual
Efetivo 811 88,2%
Contratado 73 7,9%
Substituto 36 3,9%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Nas escolas selecionadas as pesquisas mostram que o maior percentual de
professores na regência de classe são os efetivos com 88,2%.
107
4.4.2 Condições Ergonômicas
A ergonomia são provenientes de um grande tempo de exposição do trabalhador na
realização de atividades repetitivas, ou pela ausência de mobiliários, ou pela falta de recursos
ou recursos inadequados , ou pela falta de pausas regulares entre outros.
Moraes (2011, p. 193):
Ergonomia (do grego ergon = trabalho + normas = normas, regras, leis) é o estudo
da adaptação do trabalho às características dos indivíduos, de modo a lhes
proporcionar um máximo de conforto, segurança e bom desempenho de suas
atividades no trabalho
No que concerne ao meio ambiente do trabalho, Melo (2001, p. 76) acentua que:
A mera observância das normas de ergonomia, luminosidade, duração da jornada de
trabalho, previstas em lei, não autoriza – por si só – a conclusão por higidez no meio
ambiente do trabalho. Um trabalho realizado em condições extremas, estressantes
poderá ser tão ou mais danoso ao meio ambiente do trabalho que o labor realizado
em condições de potencial perigo físico. O dano à saúde psíquica – por suas
peculiaridades- dificilmente tem seu perigo imediato.
O órgão responsável para fiscalizar a ergonomia é o Ministério do Trabalho e do
Emprego, é ele que emite as Normas regulamentadoras (NRS) que visa melhorar as condições
laborais de todos os trabalhadores, ressalta-se, porém, que no Amazonas essa fiscalização não
ocorre, pois os índices de doença ocupacional proveniente do meio ambiente laboral
inadequado é grande.
Para Oliveira e Silva Filho (2016, p. 7): “Os problemas ergonômicos que acometem
os professores estão associados a postura inadequada, ao excesso de trabalho e estresse”
Em relação aos dados relacionadas ao Meio Ambiente do Trabalho - Condições
Ergonômicas dos professores foram quantificadas as seguintes variáveis nas tabelas: Tabela
08: Boas condições físicas (móveis e instrumentos) de trabalho; Tabela 09 – Em relação ao
ruído, como você classificaria o seu ambiente de trabalho; Tabela 10 – Em relação à
agradabilidade do conforto térmico ( temperatura) como você classificaria o seu ambiente de
trabalho?; Tabela 11 – Em relação as condições ergonômicas do seu ambiente de trabalho
contribuem para que você tenha estresse ocupacional?; Tabela 12 – A sala de aula possui
acústica?; Tabela 13 – A sala de aula possui os recursos pedagógicos e multimídia, quais?
Ressalta-se que essas variáveis servem para caracterizar a amostra em relação aos
participantes.
108
Tabela 12 – Condições Ergonômicas - Boas condições físicas (móveis e instrumentos) de trabalho nas
escolas públicas estaduais de Manaus dos níveis fundamental e médio
Resposta N. de Professores Percentual
Sim 369 40,1%
Não - 0,0%
Parcialmente 551 59,9%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Segundo o resultado da pesquisa 59,9% responderam que seu meio ambiente do
trabalho possui parcialmente condições físicas para o desempenho das atividades.
Silva (2013, p. 115):
As condições físicas do ambiente de trabalho do professor também afetam a sua
saúde. Estas condições de trabalho englobam aspectos como ruído, ventilação,
umidade, temperatura, arranjo físico e segurança. Além disso, os problemas de
postura decorrentes da posição do quadro-negro, dos degraus nas escolas, da cadeira
incorreta, entre outros, acabam por ocasionar problemas sérios à saúde do professor
O professor necessita de um ambiente laboral equilibrado. Mesmo a ergonomia
possuindo uma Norma Regulamentadora – NRs 17 que “estabelece parâmetros que permitem
a adaptação das condições psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um
máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente” na prática essa condição de trabalho
é ineficiente ao ponto de ocasionar doenças ocupacionais.
Nas Recomendações n. 108 da OIT que rege sobre o Estatuto dos Professores está
regulamentado as normas para as construções dos edifícios escolares.
Tabela 13 – Condições Ergonômicas - Em relação ao ruído, como você classificaria o seu ambiente de
trabalho?
Resposta N. de Professores Percentual
Ruim 74 8,0%
Regular 630 68,5%
Bom 216 23,5%
Ótimo - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
A pesquisa revela 68,5% a situação do ruído no meio ambiente do professor é regular
e 23,5% dos entrevistados acham o conforto térmico bom, esses fatores são importantes para a
proteção do trabalhador, principalmente em se tratando de Manaus que o clima é tropical
úmido e a temperatura máxima média Cº varia de 30.4 a 32,92.
109
Tabela 14 – Condições Ergonômicas - Em relação à agradabilidade do conforto térmico ( temperatura)
como você classificaria o seu ambiente de trabalho?
Resposta N. de Professores Percentual
Ruim 111 12,1%
Regular 368 40,0%
Bom 441 47,9%
Ótimo - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Para 47,9% dos professores pesquisados a agradabilidade do seu conforto térmico no
seu meio ambiente laboral é “Bom”, porém em contrapartida houve 52,1% (40% “Regular” e
12,1% “Ruim”) que estão insatisfeitos com o desconforto térmico recebido em seu ambiente
de trabalho.
Tabela 15 – Condições Ergonômicas - Em relação as condições ergonômicas do seu ambiente de trabalho
contribuem para que você tenha estresse ocupacional?
Resposta N. de Professores Percentual
Sim 111 12,1%
Não 73 7,9%
Parcialmente 700 76,1%
Não respondeu 36 3,9%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Os professores confirmam com o percentual de 88,2% (76,1% “Parcialmente”,
12,1% “Sim”) que as condições ergonômicas do seu ambiente de trabalho contribui para que
tenha estresse ocupacional.
Tabela 16 – Condições Ergonômicas - A sala de aula possui acústica? Resposta N. de Professores Percentual
Sim 111 12,0%
Não 515 56,0%
Parcialmente 294 32,0%
Não respondeu - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
110
O resultado sobre a acústica na sala de aula foi preocupante: 56% dos pesquisados
responderam que a sala “Não” possui acústica, porém 44% (32% “Parcialmente”, 12% “Sim”)
dos professores responderam que têm problemas acústicos arquitetônicos na sala de aula. Esse
resultado negativo contribui significativamente para o aumento de doenças relacionadas à
voz.
A Revista Proteção, em outubro de 2006, editou em sua revista n. 178 sobre a Saúde
do Professor– acústica arquitetônica na sala de aula:
Grande parte dos problemas relacionados à voz do Professor, dizem respeito aos
detalhes acústicos da sala de aula. O tempo de reverberação é influenciado pelo
volume da sala (tamanho e altura do teto), suas proporções (paredes paralelas) e a
capacidade dos materiais usados nas paredes, piso e teto, absorverem a energia
sonora. A relação Fonte- Ruído diz respeito à capacidade do timbre e potência da
voz do Professor serem capazes de ultrapassar o ruído existente na sala de aula. E
finalmente, a Distância Professor-Aluno que, quanto maior, mais difícil fica para o
aluno entender o que o Professor está falando.
O Tempo de Reverberação, definido como o tempo necessário para o abaixamento
da intensidade sonora de 60 decibéis (dB), já é conhecido para vários ambientes
escolares. O "reflexo" das ondas sonoras (representadas na figura abaixo como
setas) nas paredes, piso e teto, aumentam o nível de ruído na sala a tal ponto, que
podem tornar impraticável a lecionação nesse ambiente.
Figura 2 – Acústica arquitetônica adequada para a sala dos professores
Fonte: A saúde do professor – Acústica arquitetônica Disponível em:
http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/voz5.htm. Acesso em:
10.05.2016
Tabela 17 – Condições Ergonômicas - A sala de aula possui os recursos pedagógicos e multimídia, quais? Resposta N. de Professores Percentual
data show 404 43,9%
microfone 73 7,9%
caixa de som 73 7,9%
computador 111 12,1%
Outros : tablet
259 28,2%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
111
As escolas possuem alguns recursos pedagógicos, porém o destaque na presente
pesquisa foi que 43,9% das escolas possuem data show. Em 2014 a SEDUC distribuiu tablets
para todos os professores da rede estadual de ensino e alunos do terceiro ano do ensino médio.
4.4.3 Situações Funcionais
A boa situação funcional do professor contribui para que seu meio ambiente de
trabalho seja adequado. Existem vários problemas funcionais que trazem, direta ou
indiretamente, doenças aos docentes.
A Revista Proteção n. 178/2006 fez uma reportagem sobre a saúde do professor,
entre os assuntos abordados foi contemplado sobre as situações funcionais dos professores
brasileiros:
Os principais Problemas Funcionais que afetam, direta ou indiretamente, a saúde do
Professor são os seguintes:falta de reajuste salarial, carga horária de trabalho
docente, melhoria das condições de trabalho (a superlotação das salas de aula é uma
das mais comuns), e reforma do ensino. Essas são, segundo a reportagem de capa
da Revista Proteção (a que já nos referimos), algumas das mais conhecidas pautas
discutidas pelos professores em nosso País.
Nas questões relacionadas ao Meio Ambiente do Trabalho – Situações Funcionais dos
professores foram quantificadas as seguintes variáveis nas tabelas: Tabela 18 – Carga horária
de trabalho dos professores; Tabela 19 – Falta de material de apoio didático-pedagógico;
Tabela 20 – Distribuição da superlotação das salas; Tabela 21 – Distribuição da
desvalorização do professor; Tabela 22 – Formação continuada; Tabela 23 – Distribuição do
reajuste salarial; Tabela 24 – Distribuição da modernização tecnológica; Tabela 25 –
Distribuição do ritmo acelerado de trabalho; Tabela 26 – Barulho constante no ambiente de
trabalho; Tabela 27 – Distribuição do Ambiente fechado com má circulação de ar; Tabela 28
– Fica muito tempo em pé? Ressalta-se que essas variáveis servem para caracterizar a amostra
em relação aos participantes.
A pergunta feita nessa pesquisa foi: Existem várias situações funcionais que ocorrem
no meio ambiente do trabalho, analise e responda se acontece ou aconteceu com você?
Tabela 18 – Situações Funcionais - Carga horária de trabalho dos professores
Resposta N. de Professores Percentual
20 h 480 52,2%
40h 367 39,9%
Outro:_60h____ 73 7,9%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
112
Segundo o resultado 52,2% dos professores da amostra da pesquisa trabalham
somente 20h, seguidos de 39,9% de professores que trabalham 40h semanais, e finalizando
com 7,9% dos professores que trabalham 60h.
Uma das formas que o Direito tem de resguardar a integridade física do trabalhador
são, em regra, por meio de leis, e uma delas é por meio da duração do tempo de trabalho do
professor Lei 11.738/2008.
Essa Lei traz no § 1º do art. 2º a regulamentação da duração do tempo de trabalho do
docente:
§ 1o - O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial
das Carreiras do magistério público da educação básica, para a jornada de, no
máximo, 40 (quarenta) horas semanais. (Grifo Nosso)
Ainda no § 4º desse art. 2º é regulamentado a Hora de Trabalho Pedagógico – HTP:
“Na composição da jornada de trabalho, observar-se-á o limite máximo de 2/3 (dois terços) da
carga horária para o desempenho das atividades de interação com os educandos”.
Essa lei trouxe muitas divergências dos governantes dos estados do Ceará, Mato
Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul que acreditavam que essa lei era
inconstitucional. Assim, em abril de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgou
constitucional, porém quantificou a reserva de 1/3 no mínimo, da carga horária de professores
destinadas ao desenvolvimento de suas atividades extraclasses relacionadas a sua atividade
laboral.
Embora o governo do Amazonas não tenha entrado na justiça, somente aplicou a
referida lei junto a seus professores em 2014 e com um índice um pouco abaixo do
estabelecido pelo STF nas suas escolas pertencentes a SEDUC/Am.
Tabela 19 – Situações Funcionais - Falta de material de apoio didático-pedagógico Resposta N. de Professores Percentual
Sim 515 56,0%
Não 36 3,9%
Às vezes 369 40,1%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
A falta de material de apoio didático-pedagógico nas escolas públicas estaduais de
Manaus como pode ser analisado: total de 96,1% (56,0 “Sim”, 40,1% “Às vezes”) respostas
113
negativas. Logo, a falta desse apoio é motivo de estresse tanto para o professor quanto para o
aluno.
Tabela 20 – Situações Funcionais - Superlotação das salas Resposta N. de Professores Percentual
Acima de 50 alunos - 0,0%
De 30 a 40 alunos 920 100,0%
Até 30 alunos - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Com 100% das respostas dos professores afirmando que as salas de aula possuem um
excesso de alunos entre 30 a 40 alunos, fica comprovado a superlotação das salas de aula.
Essa superlotação das salas acomete o professor de várias doenças ocupacionais, como: o
cansaço, o esgotamento físico e psíquico, doença da voz entre outros. Que o leva ao
absenteísmo. Existe o Projeto de Lei . 597/2007 da Câmara dos deputados que está, até a
presente data, aguardando a apreciação pelo Senado Federal, ou seja, irá esperar toda a
tramitação legal para que assim possa entrar em vigor e assegurar ao professor um ambiente
de trabalho adequado, pois tal projeto traz uma modificação art. 25 da LDB:
- Crianças até um ano de idade: máximo de cinco alunos por professor
- Crianças de um a dois anos: máximo de oito alunos por professor
- Crianças de dois a três anos: máximo de treze alunos por professor
- Crianças de três a quatro anos: máximo de quinze alunos por professor
- Crianças de quatro a cinco anos: máximo de vinte alunos por professor
- Nos cinco primeiros anos do Ensino Fundamental: máximo de 25 alunos por
professor
- Nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio: máximo de 35 alunos
por professor
Tabela 21 – Situações Funcionais - Desvalorização do professor Resposta N. de Professores Percentual
Sim 369 40,1%
Não 293 31,8%
Às vezes 111 12,1%
Em proc. de melhoramento 147 16,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Com o percentual de 52,2% (40,1% “Sim”, 12,1% “Às vezes”) a desvalorização do
professor é fator preocupante para todos, pois a desvalorização profissional ocorre de várias
114
maneiras, como: o desprestígio, baixo salário, falta de respeito por parte dos alunos e
superiores, entre outros. Tal situação não atrai muitos interessados para a carreira de
professor. É pertinente citar Esteve (1999, p. 105): “paralelamente à desvalorização salarial
produziu-se uma desvalorização social da profissão docente”.
A desvalorização do professor no Brasil é um fato histórico e possui diversas
realidades por todo o país, mas o que é um axioma basilar é que a excelência do ensino está
intrinsecamente ligada à valorização do professor. Sabe-se que toda mudança não é fácil e
nem rápida, mas requer um começo.
Para Nóvoa (2007): “De fato, o número de alunos aumentou e isso é um grande
avanço. Mas outros entraves persistem: a valorização do magistério não aconteceu; o
resultado em termos de aprendizagem é pífio.”
Essa situação de desconforto no exercício do magistério traz o mal-estar docente e
com ele consequências negativas para todos os sujeitos envolvidos, para o aluno um baixo
nível de aprendizado e para o docente desgastes físico e mental.
Tabela 22 – Situações Funcionais - Formação continuada dos professores das escolas públicas estaduais
de Manaus níveis dos níveis fundamental e médio Resposta N. de Professores Percentual
Ruim 332 36,1%
Regular 369 40,1%
Bom 219 23,8%
Ótimo - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
O resultado da pesquisa foi de 40,1% “Regular” seguido de 36,1% “Ruim” e somente
23,8% “Bom”.
Esteve (1999, p.142-143) comenta sobre a formação do docente:
A formação permanente dos professores deve supor a constante disponibilidade de
uma rede de comunicação, que não deve reduzir-se ao âmbito dos conteúdos
acadêmicos, mas, além disso, incluir também os problemas metodológicos,
organizacionais, pessoais, sociais que, continuamente misturam-se às situações do
magistério. A inovação educativa (que resgata o professor do “mal-estar”) ocorre
sempre com a presença de equipes de trabalhos; a professores que, embora
trabalhem individualmente, compartilham com os outros colegas seus êxitos e suas
dificuldades, adaptando e melhorando continuamente, nessa comunicação, os
métodos, objetivos e conteúdos
115
Tabela 23 – Situações Funcionais - Reajuste salarial dos professores Resposta N. de Professores Percentual
Ruim 662 72,0%
Regular 258 28,0%
Bom - 0,0%
Ótimo - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
O resultado aponta 72% “Ruim” para o reajuste salarial, seguido de 28,0% regular. O
que comprova um resultado negativo sobre o assunto.
Em 2009, a OIT e a UNESCO publicaram o resultado de uma pesquisa que concluiu
que o docente do Brasil do nível fundamental recebe o terceiro pior salário do mundo, e
concluiu também que as salas de aula têm o maior número de discentes.
Assim, numa tentativa de valorizar o professor surgiu o FUNDEF – Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização dos Profissionais
de Educação - com uma intervenção institucional na educação que depois foi transformado
em FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação – que abrange desde a Pré-Escola até o Ensino
Médio, mas de nada adiantou. E em 2008 é regulamentado o piso salarial do professor em
nível nacional, Lei 11.738/2008.
Observa-se no caput e inciso X do art. 37 da Constituição Federal/88 rege sobre a
Administração Pública no que concerne o tema:
A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios...
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39
somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa
privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem
distinção de índices; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
A lei regulamentou um piso nacional salarial de R$ 2.135,64, mas essa base foi para
os professores que trabalham 40h e possuem a formação de nível médio em início de carreira,
para os demais níveis de carreira dos docentes precisam de uma negociação com o ente
federativo.
No Amazonas, especialmente em Manaus, onde foi realizado a pesquisa, todos os
professores possuem o nível superior e o salário atual, em 2016, é de R$ 3.269,49 para os
professores que trabalham 40h, sem as gratificações. A Lei Ordinária nº 3.951/2013 de
04/11/2013 que instituiu o plano de cargos, carreiras e remuneração dos servidores da
116
Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino – SEDUC não trouxe satisfação aos
seus servidores, como pode ser observado no resultado desse item da pesquisa. Assim numa
tentativa de minimizar tal situação de descontentamento foi disponibilizado pelo Governo do
Estado, desde 2014, um auxílio alimentação no valor de R$ 220,00 a todos os professores da
rede estadual de ensino, que não mudou em nada a opinião dos professores pesquisados.
Mesmo com a regulamentação da lei, o valor do piso só confirma a desvalorização
nacional do professor, pois o salário não condiz com a realidade da economia nacional.
Tabela 24 – Situações Funcionais - Modernização tecnológica Resposta N. de Professores Percentual
Ruim 216 23,5%
Regular 520 56,5%
Bom 184 20,0%
Ótimo - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Em relação a modernização tecnológica o resultado foi 56,5% “regular”, seguido de
23,5% de “Ruim”, e apenas 20% “Bom”.
Segundo Webber e Vergani (2010, p. 8809):
O modelo globalizado e neoliberal definiu um novo perfil ao trabalho. As inovações
tecnológicas e os novos métodos gerenciais implicaram ritmo acelerado, maior
responsabilidade e complexidade das tarefas, e modificam, inclusive, os fatores
determinantes da saúde desses 37 trabalhadores, e a relação da instituição, e, por
conseguinte, dos professores com os alunos.
Tabela 25 – Situações Funcionais Ritmo acelerado de trabalho dos professores das escolas públicas
estaduais de Manaus dos níveis fundamental e médio Resposta N. de Professores Percentual
Ruim 257 27,9%
Regular 479 52,1%
Bom 184 20,0%
Ótimo - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Os professores apontam 52,1% “Regular” e 27,9% “Ruim” para o ritmo acelerado de
trabalho, e apenas 20,0% considera “Bom”.
117
Tabela 26 – Situações Funcionais - Barulho constante no ambiente de trabalho Resposta N. de Professores Percentual
Ruim 331 36,0%
Regular 589 64,0%
Bom - 0,0%
Ótimo - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
O barulho constante no ambiente de trabalho recebeu 64% “Regular” e 36,05%
“Ruim”. Logo o resultado é preocupante, pois os barulhos podem causar danos a audição não
somente do professor, mas de todo o alunado, e ocasionar estresse.
Tabela 27 – Situações Funcionais - Ambiente fechado com má circulação de ar nas escolas públicas
estaduais de Manaus dos níveis fundamental e médio Resposta N. de Professores Percentual
Ruim 147 16,0%
Regular 589 64,0%
Bom 184 20,0%
Ótimo - 0,0%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Com resultado de 64% “Regular” seguido de 16% “Ruim” e somente 20,0% “Bom”
da má circulação do ar, é um alerta para todos em relação sobre o meio ambiente de trabalho
do professor que está sendo infligido.
A ventilação artificial é necessária quando não exista ventilação natural, e se tratando
de uma sala de aula é condição básica para ter um meio ambiente de trabalho digno para todos
os sujeitos envolvidos. O item 17.5.1 e 2 da NR-17:
17.5. Condições ambientais de trabalho. 17.5.1. As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às
características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser
executado. 17.5.2. Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação
intelectual e atenção constantes, tais como: salas de controle, laboratórios,
escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, dentre outros, são
recomendadas as seguintes condições de conforto.
118
Tabela 28 – Situações Funcionais - Fica muito tempo em pé?
Resposta N. de Professores Percentual
Ruim 405 44,0%
Regular 331 36,0%
Bom 148 16,1%
Ótimo 36 3,9%
Total 920 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Dos professores pesquisados 44,0% responderam que é “Ruim” ficar muito tempo
em pé em seu meio ambiente laboral, seguido de 36,0% “Regular”, contudo 16,1% dos
entrevistados acham “Bom” ficar em pé e somente 3,9% professores demonstraram satisfação
em ficar em pé, pois responderam “Ótimo”.
4.4.4 Doenças Ocupacionais
A degradação do meio ambiente de trabalho dos docentes é um problema que está
ocorrendo em vários estados brasileiros, já algum tempo, os profissionais da área da educação
estão adquirindo doenças ocupacionais devido estarem expostos, acima do limite permitido
por lei, a agentes nocivos à saúde.
A definição exposta por Costa (2009, p. 72) é que as “Doenças ocupacionais são as
moléstias de evolução lenta e progressiva, originárias de causa igualmente gradativa e
durável, vinculadas às condições de trabalho”
Nota-se que os professores adoecem de forma silenciosa em seu meio ambiente
laboral devido a existência de alguns agentes agressores de natureza ambientais, situacionais e
comportamentais.
No Brasil, atualmente, existe o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGRs) que
regulamentam as normas preventivas para a proteção do meio ambiente, mas como é de forma
ampla, não contemplou as especificidades das doenças ocupacionais dos professores. Nota-se
que implantar e avaliar os procedimentos de saúde e segurança do trabalho nas escolas é
importante como forma preventiva contra o elevado número de doenças ocupacionais que têm
acometido os professores de Manaus.
Nas questões relacionadas ao Meio Ambiente do Trabalho – Doenças Ocupacionais
dos professores foram quantificadas as seguintes variáveis nas tabelas: Tabela 29 – Você já
119
foi acometido por alguma doença ocupacional?; Tabela 30 – Você já trabalhou doente?;
Tabela 31 – Você tem oportunidade de atividade de lazer e descanso?; Tabela 32 – Você sente
algum tipo de cansaço?; Tabela 33 – Você trabalha em um ambiente de trabalho saudável?;
Tabela 34 – Você possui plano de saúde particular? Ressalta-se que essas variáveis servem
para caracterizar a amostra em relação aos participantes.
Tabela 29 – Doenças Ocupacionais - Você já foi acometido por alguma doença ocupacional?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
As doenças ocupacionais são uma realidade na vida de muitos docentes da rede
pública estadual de ensino de Manaus, como se pode perceber no resultado foram 80%
(47,9% “Às vezes”, 27,9% do “Raramente”, 4,2% “Sempre”) dos professores que foram
acometidos de alguma doença ocupacional.
Tabela 30 – Doenças Ocupacionais - Você já trabalhou doente?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Observa-se que 80,1% dos docentes responderam “Às vezes”. Esse resultado
expressivo é negativo no que concerne à saúde e bem-estar desses trabalhadores, pois ir
trabalhar doente só vem comprovar o descaso com as doenças ocupacionais desses
trabalhadores, uma situação até desumana. Acredita-se que essa questão só irá melhorar após
esclarecimentos e conclusões completas na seara jurídica sobre esse tema.
120
Tabela 31 – Doenças Ocupacionais - Você tem oportunidade de atividade de lazer e descanso?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Dos professores pesquisados observa-se que só 19,9% “Sempre” têm a oportunidade
de ter uma atividade de lazer e descanso, os outros 80,1% (52,0% “Às vezes”, 16%
“Raramente”, 12,1% do “Nunca”) dos professores são sedentários com grandes possibilidades
de adoecerem.
Tabela 32 – Doenças Ocupacionais - Você sente algum tipo de cansaço?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Com 83,6% (50,4% responderam que sentem cansaço físico e mental, 10,4% só
sentem cansaço mental e 22,8% sentem cansaço só físico) de professores que sentem algum
tipo de cansaço, já é um alerta para futuros casos de absenteísmo na SEDUC/Am.
Tabela 33 – Você trabalha em um ambiente de trabalho saudável?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
121
Nessa questão que envolveu o meio ambiente de trabalho dos professores teve 72%
(56% “Parcialmente”, 15,5% ”Não”) de docentes que responderam que não estão satisfeitos
com seu ambiente laboral, logo não é saudável.
Tabela 34 – Doenças Ocupacionais - Você possui plano de saúde particular ?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
A maioria dos professores da pesquisa, uma média de 68,5%, “Não” possuem plano
de saúde particular. Somente 31,5% responderam que “Sim”. A saúde brasileira, na
atualidade, enfrenta dificuldades para atender toda a população, com isso, o professor da rede
pública de ensino não dispõe de tempo para enfrentar a fila de espera nas consultas de rotina
que ele necessite realizar para prevenir qualquer doença. A SEDUC/Am nunca realizou os
exames periódicos para a categoria, o único exame que é realizado é o admissional obrigatório
que é custeado com recursos próprios do professor.
Têm doenças ocupacionais dos professores adquiridas no Meio Ambiente de
Trabalho ou em razão dele que é objeto de estudo em nível nacional e internacional em
diversas áreas do saber, porém ressalta-se que no Brasil já foram inscritas muitas obras
científicas sobre as doenças que acometem os professores em seu ambiente laboral, uma delas
é da Rosiete Pereira da Silva que em sua dissertação de mestrado intitulado „Absenteísmo
docente: um estudo exploratório‟, analisou o significado, causas e consequências do
absenteísmo na vida do professor, dos últimos dez anos, por meio de exposições de diferentes
autores de teses, dissertações e artigos que podem ser obsevados em sua obra.
Para Bittar (2006, p. 76): “Os direitos da personalidade protegem a integridade física
da pessoa contra lesões ao seu corpo e à sua mente, consistindo na manutenção da higidez
física e mental do ser, opondo-se a qualquer atentado que venha a atingir essa pessoa.”
Como as doenças ocupacionais são diversas, conforme estudos da área da Ciência à
Saúde, foram selecionadas as mais comuns que ocorrem com os professores para análise:
Síndrome de Burnout (Sintomas Físicos e Mentais); LER (Lesões por Movimento Repetitivo)
/DORT – Distúrbios Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho; Doenças da Voz; e
Doenças Psíquicas.
122
4.4.4.1 Síndrome de Burnout
A Síndrome de Burnout é também conhecida como Síndrome do esgotamento
profissional. Essa síndrome tem sido observada em todas as partes do mundo, pois seus
impactos são sobre os profissionais que trabalham com algum tipo de público, como é o caso
do professor, ela independe da idade e do sexo.
Para Sleegers (1999, p. 255) essa Síndrome nos professores merece uma reflexão:
Acredita que burnout deve ser analisado a partir das perspectivas sociológica,
psicológica e organizacional. Burnout em professores pode ser conceitualmente
definido dentro de uma abordagem interacional e considerado o resultado da
interação entre intenções e ações individuais do professor e suas condições de
trabalho.
Nessa pesquisa a Síndrome de Burnout recebeu uma divisão para melhor
acompanhamento do resultado da pesquisa, assim no primeiro momento foi pesquisado a
Síndrome de Burnout (sintomas físicos) e depois Síndrome de Burnout (sintomas psíquicos).
Na Síndrome de Burnout (SINTOMAS FÍSICOS) o ritmo acelerado leva muitos
trabalhadores a terem problemas de saúde, a Síndrome de Burnout é uma consequência disso,
essa doença ocasiona desgastes físicos e emocionais nos trabalhadores.
Essa síndrome é uma preocupação mundial, pois está aumentado e vem acometendo
muitos profissionais que trabalham com o público diariamente, pois ela se difere do stress
ocupacional, é resultante de um prolongado processo de desgaste físico e emocional, traz uma
sensação de desânimo em relação ao trabalho, ocorre de forma silenciosa, gradual, lenta e
imperceptível.
Em relação aos dados relacionados às questões sobre a Síndrome de Burnout Físico
foram quantificadas as seguintes variáveis nas tabelas: Tabela 35 – Dores de cabeça
constantes; Tabela 36 – Tonturas; Tabela 37 – Alterações no sono; Tabela 38 – Problemas
digestivos; Tabela 39 – Falta de ar; Tabela 40 – Excesso de cansaço. Ressalta-se que essas
variáveis servem para caracterizar a amostra em relação aos participantes.
A pergunta realizada para essa síndrome foi: Você tem ou já teve um destes
SINTOMAS FÍSICOS da Síndrome de Burnout, qual?
123
Tabela 35 – Síndrome de Burnout - Dores de cabeça constantes
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
A pesquisa demonstrou que 72,1% (47,9% “Às vezes”,12.1% “Sempre”, 12,1%
“Raramente”) dos professores entrevistados já foram acometidos de dores de cabeça em seu
ambiente laboral.
As dores de cabeça constante dos professores tem várias origens, porém como
trabalha diariamente com classes que têm entre 30 a 50 alunos a tendência é adoecer.
Tabela 36 – Síndrome de Burnout - Tonturas
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Dos professores pesquisados 52,1% responderam que “Nunca” tiveram tontura no
meio ambiente escolar, porém, os outros percentuais totalizaram 47,9% (20,5% “Raramente”,
23,5% “Às vezes”, 3,9% “Sempre”) de professores que já sentiram tonturas em seu meu
ambiente laboral.
Tabela 37 – Síndrome de Burnout - Alterações no sono
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
124
Em relação às alterações no sono houve um total de 76,2% (40,2% “Às vezes”,
20,0% “Raramente”, 16%) de professores que já foram acometidos por essa doença, ou seja,
não dormem normalmente.
A Revista Profissão Mestre publicou em setembro de 2013 uma reportagem de
Raphaella Ribas cujo título foi „Sono: um aliado que pode se tornar vilão‟:
Um estudo realizado pela psicóloga Luiza Elena Ribeiro do Valle, pesquisadora em
Medicina do Sono do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP),
aponta que há uma relação entre as noites mal dormidas com o estresse da rotina do
professor. A pesquisa, realizada no ano passado com 165 professores da rede pública
de Poços de Caldas, em Minas Gerais, mostra que 59% dos entrevistados
apresentavam estresse e 46,7% eram maus dormidores. Para se chegar ao resultado,
foi aplicado um inventário do sono, o PSQI-BR (Índice de Qualidade do sono de
Pittsburg), reconhecido internacionalmente como instrumento de avaliação do sono.
A maioria dos docentes da amostra é do sexo feminino (88,5%) e casada (59%).
A pesquisa só vem corroborar na comprovação que a Síndrome de Burnout traz
alterações no sono aos professores.
Tabela 38 – Síndrome de Burnout - Problemas digestivos
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Em relação aos problemas digestivos houve um total de 79,9% (48,0% “Às vezes”,
24,0% “Raramente”, 7,9% “Sempre”) dos professores que já tiveram algum problema
digestivo decorrente de problemas oriundos do meio ambiente escolar.
Tabela 39 – Síndrome de Burnout - Falta de ar
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
125
Dos professores pesquisados 52,2% responderam que “Nunca” tiveram falta de ar no
seu meio ambiente laboral, porém, 47,8% (27,9% “Raramente”, 16,0% dos “Às vezes”,
3,9%“Sempre”) que foram acometidos desse problema em seu ambiente laboral.
Tabela 40 – Síndrome de Burnout - Excesso de cansaço
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Em relação ao excesso de cansaço 88,6% (68,5% “Às vezes”, 12,10% “Raramente” ,
8% “Sempre”) dos professores sofreram e alguns ainda sofrem com esse problema na escola
em que trabalham.
Figura 3 – Resultado da Síndrome de Burnout – Sintomas Físicos - escolas públicas estaduais de Manaus
dos níveis fundamental e médio
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Assim, os resultados proporcionais dos Sintomas Físicos da Síndrome de Burnout
que estão acometendo de doenças os professores nas escolas estaduais públicas de Manaus
foram: 1º) Excesso de trabalho com 21%; 2º) Problemas digestivos com 19,0%; 3º)
Alterações do sono com 18%; 4º) Dores na cabeça teve 18,0%; 5º) Tonturas 12,0%; 6º) Faltas
de ar 12,0%.
Já a Síndrome de Burnout (SINTOMAS PSÍQUICOS) traz diversos sintomas que
prejudicam bastante a saúde desse profissional, pois desencadeia vários sintomas
Excesso de trabalho
21%
Problemas Digestivos
19%
Alteração do sono18%
Dores na cabeça18%
Tonturas12%
Falta de ar12%
SÍNDROME DE BURNOUT - SINTOMAS FÍSICOS
126
desagradáveis. Tal doença apareceu com a implantação das transformações no contexto
trabalhista, pois a crescente competitividade na reestruturação produtiva trouxe a ansiedade,
depressão, variedades no humor, perda da motivação pelo trabalho entre outras doenças
graves.
A Revista Profissão Mestre publicou em junho de 2013 uma reportagem de Yannik
D‟ Elboux cujo título foi „Professor em exaustão máxima‟:
Estudos revelam que os profissionais das áreas de saúde e educação são mais
vulneráveis à síndrome de burnout. Entretanto, é difícil encontrar dados
abrangentes sobre a incidência do problema entre os professores brasileiros. Um dos
estudos com maior amostragem foi realizado em 1999 pela Confederação Nacional
dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e pelo Laboratório de Psicologia da
Universidade de Brasília (UnB), coordenado pelo doutor em Psicologia Social
Wanderley Codo, com 39 mil profissionais de diversas redes estaduais. Atualizada
em 2002, segundo informações de Chafic Jbeili, a pesquisa incluiu professores de
redes municipais e particulares e demonstrou que 46% dos educadores de todos os
sistemas de ensino de nível básico enfrentam exaustão emocional, seja moderada ou
alta, e 32% têm baixo envolvimento no trabalho, fatores considerados relevantes
para o diagnóstico do burnout. Em um estudo com 499 professores de escolas
públicas e particulares do interior do Estado do Paraná e da região metropolitana de
Curitiba, coordenado pela professora Ana Benevides-Pereira, com dados coletados
em 2004 e divulgados em 2010, constatou-se que 43,8% dos docentes apresentavam
elevada exaustão emocional, sendo que 23,8% também revelaram altos níveis de
desumanização e 31,4% não se sentiam realizados com suas atividades laborais.
Nesse grupo, 65,9% dos participantes relataram o desejo de mudar de profissão.
No Brasil há divergências judiciais sobre o nexo causal entre o transtorno mental e o
trabalho, uma vez que não existe regramento específico sobre a Síndrome de Burnout e o
meio ambiente laboral do professor para responder adequadamente às demandas judiciais
submetidas à Justiça do Trabalho. Assim, esse tópico da presente pesquisa abordou as
seguintes questões sobre o tema supracitado usando as seguintes variáveis: Tabela 41 –
Ansiedade; Tabela 42 – Dificuldade em concentrar-se; Tabela 43 – Variações de humor;
Tabela 44 – Perda de motivação no emprego; Tabela 45 – Ficar isolado dos colegas de
trabalho. Ressalta-se que essas variáveis servem para caracterizar a amostra em relação aos
participantes.
A pergunta realizada para essa síndrome foi: Você tem ou já teve um
destes SINTOMAS PSÍQUICOS da Síndrome de Burnout, qual?
127
Tabela 41 – Síndrome de Burnout - Ansiedade
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
A pesquisa demonstrou que 80,6% (40,2% “Às vezes”, 16,0% “Sempre”, 23,8%
“Raramente”) dos professores entrevistados já foram acometidos de ansiedade.
Tabela 42 – Síndrome de Burnout - Dificuldade em concentrar-se
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Em relação àa dificuldade do professor concentrar-se houve um total de 76,2%
(48,2% “Às vezes”, 28,0% “Raramente” 16,0%) dos que já tiveram algum problema de
concentração em sala de aula.
Tabela 43 – Síndrome de Burnout - Variações de humor
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
A variação de humor no meio ambiente escolar pode ser um alerta de futuras doenças
mais graves no meio ambiente laboral dos professores. Na pesquisa houve 68,2% (52,2% “Às
vezes”, 16%“Raramente”) dos docentes que responderam ter vivido essa situação.
128
Tabela 44 – Síndrome de Burnout - Perda de motivação no emprego
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Nesta pesquisa 88,0% (52,1%“Às vezes”, 23,8%“Raramente”, 16,0% “Sempre”) dos
professores responderam que já ficaram desmotivados, em algum momento, no emprego.
Tabela 45 – Síndrome de Burnout - Ficar isolado dos colegas de trabalho
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Ficar isolado dos colegas de trabalho teve um total de 54.9% (15,2% “Às vezes”,
31,8%“Raramente”, 7,9% “Sempre) de professores que sofreram com tal problema, segundo o
resultado da pesquisa.
Figura 4: Síndrome de Burnout – Sintomas psíquicos - escolas públicas estaduais de Manaus dos níveis
fundamental e médio
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Perda de motivação (emprego)
24%
Ansiedade22%Dificuldade de
concentração21%
Variação do humor
18%
Isolamento dos colegas de trabalho
15%
SÍNDROME DE BURNOUT - SINTOMAS PSÍQUICOS
129
Assim, os resultados proporcionais dos Sintomas Psíquicos da Síndrome de Burnout
que estão acometendo de doenças os professores nas escolas estaduais públicas de Manaus
foram: 1º) Perda de motivação no emprego 24,0%. 2º) Ansiedade 22,0%. 3º) Dificuldade em
concentrar-se teve 21,0%. 4º) Variações de humor houve 18,0%. 5º) Ficar isolado dos colegas
de trabalho teve um total de 15,0%.
O resultado teve a “Perda de motivação no emprego” com a maior percentagem
24,0% das respostas dos educadores que se declararam desmotivados, sabe-se que essa
desmotivação está relacionada a vários fatores que podem ser constatados nesta pesquisa.
Esse resultado da Síndrome de Burnout com sintomas psíquicos contribuiu para o alto índice
de absenteísmo dos professores pesquisados em Manaus, aparecendo como uma forma do
docente buscar um alívio que o permita escapar das tensões trazidas pelo exercício da
profissão.
Jesus (2004 apud WARR, 1982) descreve um estudo realizado com professores:
Um estudo realizado na Inglaterra, em que participaram 3.555 professores,
verificou-se que cerca de 67% deixariam de trabalhar como docentes se tivessem
dinheiro para viver confortavelmente durante o resto da vida. De acordo com esse
posicionamento, nota-se que atualmente, a imagem do professor está em declínio
(OLIVER et al, 1988; SACRISTÁN, 1991).
4.4.4.2 LER (Lesões por Movimento Repetitivo) /DORT – Distúrbios Osteomoleculares
Relacionados ao Trabalho
O professor no seu cotidiano escolar realiza alguns movimentos necessários para
executar suas atividades laborais, porém quando essas atividades são realizadas de maneira
repetitiva ou com postura inadequada podem prejudicar sua saúde.
Há uma diferença entre a LER e DORT. A LER não é ocasionada
necessariamente no ambiente de trabalho ao passo que a DORT são lesões
relacionadas ao trabalho profissional realizado no cotidiano, no caso do professor.
Corroborando Osvaldo Michel (2001, p. 262) cita:
Doença ocupacional comum e grave na classe trabalhadora, cujo sintomas
apresentados são inflamação do músculos, dos tendões, dos nervos e articulações
dos membros superiores (dedos, mãos, ombros, braços, ante-braços e pescoço)
causada pelo esforço repetitivo exigido na atividade laboral que requer do
trabalhador o uso forçado de grupos musculares, como também, a manutenção de
postura inadequada.
Em relação aos dados relacionados as LER (Lesões por Movimento Repetitivo)
/DORT – (Distúrbios Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho) foram quantificadas as
seguintes variáveis nas tabelas: Tabela 46 – Postura inadequada; Tabela 47 – Excesso no
130
trabalho; Tabela 48 – Síndrome do túnel de carpo (parte das mãos); Tabela 49 – Síndrome do
manguito rotatório (parte do ombro); Tabela 50 – Epicondicites (região lateral do cotovelo);
Tabela 51 – Bursites (doença no ombro); Tabela 52 – Tendinites (doença no ombro); Tabela
53 – Rinites; Tabela 54 – Sinusites; Tabela 55 – Faringites crônicas; Tabela 56 – Alergias;
Tabela 57 – Lombalgia (ou dor lombar baixa). Ressalta-se que essas variáveis servem para
caracterizar a amostra em relação aos participantes.
A pergunta realizada para essas doenças foi :Você tem ou já teve problemas de LER
(Lesões por Movimento Repetitivo) ou DORT (Distúrbios Osteomoleculares Relacionados ao
Trabalho)?
Tabela 46 – LER ou DORT - Postura inadequada
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 47 – LER ou DORT - Excesso no trabalho
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 48 – LER ou DORT - Síndrome do túnel de carpo ( parte das mãos)
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
131
Figura 5: : LER ou DORT - Síndrome do túnel de carpo ( parte das mãos)
Fonte: Centro de Ortopedia e imagem - Ortoimagem Disponível em:
<http://www.ortoimagemtb.com.br/noticias/sindrome-do-tunel-do-carpo-doenca-comum-em-consultorio-
de-ortopedia>. Acesso em: 15.02.2016
Tabela 49 – LER ou DORT - Síndrome do manguito rotatório (parte do ombro)
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Figura 6: LER ou DORT - Síndrome do manguito rotatório (parte do ombro)
Fonte: Artroscopia no Ombro - Dr. Rafael Patrocínio Disponível em:
<http://rafaelpatrocinio.site.med.br/areadopaciente/index.asp?PageName=Rupturas-20do-20Manguito-
20Rotador>. Acesso em: 15.02.2016
132
Tabela 50 – LER ou DORT - Epicondicites (região lateral do cotovelo)
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Figura 7: LER ou DORT - Epicondicites (região lateral do cotovelo)
Fonte: Ortopedia ombro e cotovelo/ Esporte – Dr. Leonardo Canivatto Disponível em:
<http://www.dornoombro.com/problemascomuns/>. Acesso em: 15.02.2016
Tabela 51 – LER ou DORT - Bursites (doença no ombro)
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Figura 8: LER ou DORT - Bursites (doença no ombro)
Fonte: Quick massagem Disponível em: <http://quickmassagepassoapasso.com.br/tendinite/> Acesso em:
15.02.2016
133
Tabela 52 – LER ou DORT - Tendinites (doença no ombro)
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 53 – LER ou DORT - Rinites
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Figura 9 – LER ou DORT - Rinites
Fonte: Sepam – Clínica e Cirurgia. Disponível em: <http://www.clinicasepam.com.br/site/?page_id=72>.
Acesso em: 15.02.2016
134
Tabela 54 – LER ou DORT - Sinusites
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Figura 10 – LER ou DORT - Sinusites
Fonte: SaudeMedicina.com. Disponível em: http://www.saudemedicina.com/remedios-naturais-para-
sinusite/. Acesso em: 15.02.2016.
Tabela 55 – LER ou DORT - Faringites crônicas
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
135
Figura11 – LER ou DORT - Faringites crônicas
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em:< https://pt.wikipedia.org/wiki/Faringite>. Acesso
em: 15.02.2016
Tabela 56 – LER ou DORT - Alergias
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 57 – LER ou DORT - Lombalgia (ou dor lombar baixa)
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Figura 12 – LER ou DORT - Lombalgia (ou dor lombar baixa)
Fonte: IPC- Instituto de Patologia da Coluna. . Disponível em:
http://patologiadacoluna.com.br/lombalgia/. Acesso em: 15.02.2016.
136
O número de professores acometidos por lombalgia é alto como está demonstrando a
pesquisa, tal doença causa o absenteísmo nas escolas públicas estaduais de Manaus. Notou-se
ao longo desse trabalho que as pesquisas epidemiológicas sobre o lombalgia e o meio
ambiente de trabalho do professor ainda são escassas, pois quando o professor está doente, na
maioria das vezes, não são emitidos a Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT à
Previdência Social dos acidentes do trabalho ou de trajeto bem como de uma doença
ocupacional.
O art. 169 da CLT e o art. 22 da Lei 8.213/91 regem sobre a notificação que deve
ocorrer da CAT, caso não ocorra é considerado crime conforme consta no art. 29 do Código
Penal. Sua emissão precisa ocorrer no prazo até um dia útil após o fato.
Figura 13 – Frequências das principais LER e DORT relatadas pelos docentes das escolas públicas
estaduais de Manaus dos níveis fundamental e médio
Frequências das Principais LER e DOT relatadas pelos Docentes das escolas públicas
estaduais da cidade de Manaus – níveis fundamental e médio
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Ficou evidenciado no quadro sobre as LER (Lesões por Movimento Repetitivo)
/DORT – Distúrbios Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho que os professores das
escolas públicas estaduais de Manaus estão sendo acometidos das doenças supracitadas e que
elas são uma realidade no seu meio ambiente do trabalho.
137
1º) Lombalgia (ou dor lombar baixa) foi a doença que mais prejudicou os
professores com um percentual: 82,9% ;
2º) O Excesso de trabalho, Alergias, Rinites e Faringites crônicas tiveram o
mesmo índice de 76,2%;
3º) Sinusites teve 72,0% ;
4º) Bursites (doença no ombro) teve 59,9%;
5º) Duas patologias tiveram 52,1%: Postura inadequada e a Síndrome do
manguito rotatório (parte do ombro);
6º) Epicondicites (região lateral do cotovelo) teve 43,80% ;
7º) Tendinites (doença no ombro) teve 48,9%;
8º) Síndrome do túnel de carpo(parte das mãos) teve 43,8%.
Segundo o pesquisador da Fiocruz Codo (2005, p. 2) o professor está vulnerável a
doenças diversas :
É uma categoria acometida por diversas patologias que do ponto de vista da
medicina do trabalho podem ser enquadradas como ocupacionais, em especial a
laringite, mas entre os professores, ela não é tratada como doença ocupacional pela
grande parte dos empregadores. Fica evidente que os professores são profissionais
que têm no seu aparelho fonador um dos elementos fundamentais para o exercício
de seu trabalho.
Para corroborar com esse entendimento há uma decisão judicial noticiada pelo
Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Campinas (STMC):
Sindicato ganha na Justiça ação que indeniza professor com LER
Indenização arbitrada em 40 (quarenta) salários mínimos por danos morais
Um servidor, professor da rede municipal de ensino, procurou a Diretoria do STMC
com uma situação de LER (Lesão por Esforços Repetitivos). Ao identificar a
situação, o STMC, por meio de seu departamento jurídico, entrou com ação e obteve
sentença favorável, em que o juiz reconhece que devido às atividades exercidas, o
professor sofreu lesão caracterizada como doença ocupacional, isso devido aos
excessos realizados no desempenho de suas atividades.
A doença profissional do servidor era incontroversa, pois há vários diagnósticos
onde a PMC informa que o problema era crônico e apresenta-se nos membros
superiores. Antes de ingressar no serviço público, o servidor não tinha problemas de
saúde. Na sentença dada pelo juiz está descrito que, “periciado, o requerente foi
diagnosticado como portador de "osteoartrose acrômio clavicular e tendinopatia
supra espinhal a direita e espondilose cervical" (fls. 64). O nexo causal com o
trabalho está assim estabelecido: "as alterações no tendão supra espinhal direito,
pelas características dos sintomas e relato das funções laborais como sendo condição
clínica multicausal, precipitada por acúmulo de influências (atividades músculo -
esqueléticas) que ultrapassam a capacidade de adaptação dos tecidos moles
envolvidos, normalmente relacionado à força muscular empreendida, postura
incorreta, repetitividade dos movimentos e compressão dos membros envolvidos,
podendo a osteoartrose acrômio-clavicular direita e o trabalho terem contribuído
138
como fatores de agravo." (fls. 64)”.A sentença inda declara que “a própria
Prefeitura, ora requerida, reconheceu através de parecer médico ocupacional que o
requerente deveria evitar esforços físicos, movimentos repetitivos e elevar os braços
acima dos ombros, reconhecendo, naquele momento, a incapacidade laborativa
parcial (fls. 11).”O juiz considerou então adequada a fixação da indenização em
quarenta 40 salários mínimos, valor hoje equivalente a R$ 24.880,00, condenando a
Prefeitura Municipal de Campinas a pagar o trabalhador. Fonte: STMC- Sindicato
dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Campinas
Diante dessa realidade, os professores são expostos à realização de atividades em
condições desfavoráveis e contínuas que trazem essas enfermidades.
4.4.4.3 Doença da Voz
A voz é uma característica humana que possui uma importância singular no processo
de comunicação. Todos que a usam com mais intensidade e maior tempo em situações
adversas sem prevenção tende a ter problemas vocais. A alteração da voz desperta maiores
cuidados quando o problema compromete a qualidade de vida do indivíduo, como toda
doença.
Wikipédia, a enciclopédia livre8 encontramos:
A voz é uma característica humana intimamente relacionada com a necessidade do
homem de se agrupar e se comunicar. Ela é produto da sua evolução, um trabalho
em conjunto do sistema nervoso, respiratório e digestivo, e
de músculos, ligamentos e ossos, atuando harmoniosamente para que se possa obter
uma emissão eficiente.
A voz é o instrumento de trabalho de alguns profissionais que a usam em suas
atividades laborais no dia a dia, como é o caso do professor, e por isso está vulnerável a
distúrbios em suas cordas vocais que, quando não tratadas, podem levá-lo à morte.
Os problemas vocais dos professores é um problema de caráter nacional e
internacional, e já vem despertado a atenção de alguns países, já a algum tempo, devido o alto
índice de docentes que têm sido acometidos de distúrbios vocais.
Zambom e Behlau (2009, p. 5) apresentaram no 17º Congresso Brasileiro de
Fonoaudiologia e 1º Congresso Ibero-Americano de Fonoaudiologia suas pesquisas sobre o
Panorama epidemiológico sobre a voz do professor no Brasil:
Em 2004, um grupo da Universidade de Utah (EUA) publicou em uma conceituada
revista científica na área de voz (Journal of Voice) a maior pesquisa já realizada
8Wikipédia, a enciclopédia livre . Disponível em:< https://pt.wikipedia.org/wiki/Voz_humana>. Acesso em:
29.04.2016
139
sobre a voz dos professores. O estudo investigou 1243 professores das cidades de
Utah e Iowa (EUA) e os comparou com um grupo de 1279 indivíduos da população
em geral, que não eram e nunca tinham sido professores. Esse grande estudo
epidemiológico pode comprovar que professores sofrem mais de problemas vocais
relacionados ao trabalho, quando comparado com a população geral.Verificou
também que professores faltam mais ao trabalho devido a problemas vocais e
consideram mais a necessidade de mudar de ocupação no futuro devido a um
transtorno de voz.
O docente deve cuidar de sua voz desde o início de sua carreira, pois ela é frágil e
quando usada de forma inadequada por longo tempo traz consequências irreversíveis, como:
limitações físicas, emocionais e profissionais.
Outras áreas de conhecimento vêm estudando, a algum tempo, com maior
profundidade sobre as doenças relacionadas àas cordas vocais dos professores. Desde 2004, o
Comitê de Voz Profissional do Departamento de Voz da Sociedade Brasileira de
Fonoaudiologia (SBFa) tem feito um levantamento sobre essa temática. Com isso, as
Doutoras: Maria Lúcia Suzigan Dragone9, Susana Pinto Pimentel Giannini
10, Léslie Piccolotto
Ferreira11
, a Mestre Bruna Mateus Rocha de Andrade12
e a mestranda Érika Sousa
Ditscheiner13
publicaram um levantamento intitulado „A voz do Professor‟ que reuniu 900
obras científicas publicadas no período compreendido entre 2008-2012. Desse levantamento
vem explícito, no quadro 1. 347 fontes bibliográficas sobre a saúde da voz do professor.
A VOZ DO PROFESSOR
Resumo: o Comitê de Voz Profissional do Departamento de Voz da Sociedade
Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa) tem realizado desde 2004 um levantamento da
produção sobre voz profissional. Esse levantamento tem sido frequentemente
atualizado e considerado importante para a própria área conhecer sua produção,
assim como auxiliar novos pesquisadores na busca por pesquisas sobre a temática.
Objetivo: atualizar o levantamento de publicações referentes à voz do professor no
período de 2008 a 2012. Método: procurou-se levantar publicações indexadas em
bases de dados; consultar bibliotecas e sites de instituições; levantar anais de
congressos de Fonoaudiologia; buscar referências bibliográficas citadas em artigos
da área; rastrear currículo de pesquisadores na Plataforma Lattes do Conselho
Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que demonstraram
produção efetiva sobre o tema. Todas as produções foram categorizadas quanto ao
ano de publicação, tipo de divulgação, e número de autores. Resultados: foram
computadas 347 produções de fontes referentes à voz do professor no período
analisado, com registro de média/ano de 69,4 fontes. Mais uma vez, a divulgação em
anais foi a forma utilizada em maior número pelos fonoaudiólogos (217-62,5%),
seguido por artigos (66 - 19%). As fontes contaram com a participação de 1 a 9
autores, com registro de 3 em média. Conclusão: na somatória das atualizações
sobre a temática, observa-se que a área conta com mais de 900 publicações, fato
que evidencia que a voz do professor permanece como objeto priorizado nas
pesquisas dos fonoaudiólogos, interessados em compreender as condições de
produção da voz no contexto de trabalho. (Grifo nosso)
9 Fonoaudióloga. Doutora em Educação pela UNESP
10 Fonoaudióloga. Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP
11 Fonoaudióloga. Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP
12 Mestrado em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo .
13 Mestranda no Programa de Pós-graduação em Fonoaudiologia da PUC-SP
140
Diante desse estudo percebe-se que a doença da voz é preocupante, pois vem
acometendo vários professores de lesões vocais, e esse quadro é agravado devido a
inobservância da higidez do meio ambiente laboral desses profissionais e pela falta de
prevenção.
Em relação às Doenças da Voz foram quantificadas as seguintes variáveis nas
tabelas: Tabela 58 – Rouquidão com mais de 10 dias; Tabela 59 – Nódulos; Tabela 60 –
Pólipos; Tabela 61 – Edemas nas pregas vocais; Tabela 62 – Câncer. Ressalta-se que essas
variáveis servem para caracterizar a amostra em relação aos participantes.
A pergunta realizada para início dessa pesquisa sobre as doenças da voz foi: Você
tem ou já teve doenças relacionadas à voz?
Tabela 58 – Doença da Voz - Rouquidão com mais de 10 dias
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 59 – Doença da Voz - Nódulos
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 60 – Doença da Voz - Pólipos
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
141
Tabela 61 – Doença da Voz - Edemas nas pregas vocais
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 62 – Doença da Voz - Câncer
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Figura 14 – Resultado das Doenças da Voz - escolas públicas estaduais de Manaus dos níveis fundamental
e médio
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
O Resultado da pesquisa sobre as doenças da voz:
1º) Rouquidão com mais de 10 dias teve 88,0%;
2º) Duas patologias tiveram 70,8% :Edemas nas pregas e Nódulos;
3º) Pólipos com 40,1%;
4º) Câncer teve 0,0% de respostas “Não”, logo nenhum professor com câncer.
Observa-se que esse item poderia ser melhor explorado junto à Junta Médica do
Amazonas, pois essa doença é complexa e de difícil cura, mas a pesquisa foi
indeferida nesse órgão.
142
O estudo pôde concluir que os professores da rede estadual de Manaus apresentam
múltiplos sinais e sintomas vocais, com destaque para a rouquidão com mais de 10 dias,
seguido dos nódulos e edemas nas pregas vocais.
O expressivo resultado negativo sobre as doenças vocais nesta pesquisa só vem
confirmar a doença e o descaso no Estado do Amazonas, pois pesquisas internacionais e
nacionais de outras regiões mais aprofundadas já tinham sido feitas e medidas protetivas,
mesmo que isoladas, foram tomadas, como aconteceu em São Paulo.
4.4.4.4 Doenças Psíquicas
O entendimento do adoecer psíquico dos docentes, por se tratar de um tema relevante
e com a alta incidência de ocorrência nessa classe, principalmente nas escolas públicas,
tornou-se preocupante para a sociedade de vários países. As doenças psíquicas do educador é
complexa e envolve problemas internos (oriundos de sua personalidade) e externos
(provenientes do meio ambiente do trabalho, familiares, e conjunturas político-sociais).
Nunes Sobrinho (2008, p. 82) diferencia estresse de estresse ocupacional:
O estresse é um estado geral de tensão também fisiológica e que tem uma relação
direta com as demandas do ambiente. O estresse ocupacional constitui-se em
experiência individual, extremamente desagradável, associada a sentimentos de
hostilidade tensão, ansiedade, frustração e depressão, desencadeados por estressores
localizados no ambiente de trabalho.
Em relação às Doenças Psíquicas foram quantificadas as seguintes variáveis nas
tabelas: Tabela 63 – Estresse Ocupacional; Tabela 64 – Ansiedade; Tabela 65 – Depressão;
Tabela 66 – Síndrome do pânico. Ressalta-se que essas variáveis servem para caracterizar a
amostra em relação aos participantes.
O questionamento inicial das doenças psíquicas foi: Você apresenta algum problema
de saúde mental relacionado ao seu trabalho?
Tabela 63 – Doenças Psíquicas - Estresse Ocupacional
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
143
Tabela 64 – Doenças Psíquicas - Ansiedade
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 65 – Doenças Psíquicas - Depressão
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 66 – Doenças Psíquicas - Síndrome do pânico
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 15 – Resultado das Doenças Psíquicas das escolas públicas estaduais de Manaus dos níveis
fundamental e médio
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
432379
36 73111
257
441
111
384 389
147
0
185
662
730
0
100
200
300
400
500
600
700
Sim Não As Vezes Não, já tive
Doenças Psíquicas dos professores das escolas públicas estaduais de Manaus - níveis médio e
fundamental
Estresse Ocupacional Ansiedade Depressão Sindrome do Pânico
144
O Gráfico acima apresenta o resultado sobre as doenças psíquicas relatadas pelos 920
professores das escolas da rede pública de Manaus demonstra:
1º) Ansiedade teve 72,1%;
2º) Estresse Ocupacional com 58,8%;
3º) Depressão com 57,7%;
4º) Síndrome do pânico com 20,1% “Sim”.
O resultado do estudo apontou a existência de doenças psíquicas nos professores
pesquisados. Houve um destaque de 72,1% para a ansiedade seguida de estresse ocupacional,
tais resultados são preocupantes. Essas doenças psíquicas trazem mal-estar ao professor
causando o esgotamento emocional, vale ressaltar que sua experiência é muito pessoal, porém
suas consequências atingem os demais membros da comunidade escolar.
Para a OMS (1993) “estamos na Era da Ansiedade, decorrente da turbulência
resultante da competição, das dificuldades relacionais, do consumismo desenfreado, das
atrocidades e discrepâncias sociais, das injustiças e da corrupção generalizada, entre outros”.
Nota-se que são tantas transformações que se processam no mundo, e com isso os
seus reflexos, seara do trabalho do professor, são inevitáveis. Assim, a saúde mental do
docente tem sido objeto de estudo em outras ciências, já algum tempo, pois é crescente o
aumento de casos de professores com transtornos mentais.
Para exemplificar Both (2011, p. 15) cita:
Entre os problemas enfrentados na profissão docente, alguns investigadores tanto
nacionais (GATTI, 1997; LAPO e BUENO, 2003; DELCOR et al., 2004; LÜDKE e
BOING, 2004; BRAGGER et al., 2005; CHIU et al., 2006; CHIU e LAM, 2007)
quanto internacionais (ANDREWS, 1993; DORMAN, 2003; NILAN, 2003;
SOUSA, 2004; BRAGGER et al., 2005; CHIU et al., 2006; CHIU e LAM, 2007)
têm analisado o alto índice de doenças detectadas oriundas do meio ambiente
desfavorável a saúde desses trabalhadores.
Constatou-se que as doenças psíquicas levam o sujeito a um nível de desequilíbrio
emocional que traz consequências negativas ao professor, assim o maior bem que precisa ser
tutelado é a vida, através da prevenção do meio ambiente laboral.
Na obra de Strieder e Schacker (2010, p 13): „Depressão e ansiedade em professores:
implicações educacionais e profissionais‟ foi desenvolvida uma pesquisa em Santa Catarina
que mostrou a existência de significativos índices de ansiedade e depressão dos professores:
Após as reflexões realizadas, tanto com base em referenciais teóricos quanto aquela
a partir dos resultados da pesquisa de campo, podemos dizer que a ansiedade define
um estado de alerta, que amplia o estado de atenção diante de uma situação de
perigo real ou imaginário. Ela está presente como uma sensação difusa,
desagradável, de apreensão, acompanhada por sensações físicas como mal-estar
gástrico, palpitações, sudorese excessiva e cefaleia.
145
A elevada prevalência de doenças psíquicas nos professores da rede pública estadual
de Manaus precisa ser foco de ações que melhorem as condições de seu meio ambiente
laboral.
Diante do exposto, pode-se obsevar o resultado geral das doenças ocupacionais mais comuns
que motivaram os afastamentos dos professores da rede pública da cidade de Manaus/Am:
Figura 16 – Panorama dos níveis de doenças ocupacionais dos docentes das escolas públicas estaduais de
Manaus dos níveis fundamental e médio
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
No resultado geral das doenças ocupacionais foi demonstrado que os professores da
rede pública estadual de Manaus estão sendo lesados, pois seu direito constitucional à sadia
qualidade de vida está sendo infligido, em especial, em seu direito à vida e à sua integridade
física.
Verificou-se nesse resultado que em todas as doenças apresentadas o resultado foi
expressivo e preocupante, porém a Síndrome de Burnout (físico) teve maior destaque com
88,6%, seguido da Síndrome de Burnout (psíquico) e as Doenças da voz que tiveram 88,0%.
A LER/DORT tiveram um resultado de 82,9% e por último ficou a Doença Psíquica com
72,1%.
Sabe-se da existência de leis ambientais que protegem o meio ambiente, e como o
meio ambiente do trabalho é um de seus aspectos merece também igual atenção, contudo,
apesar das regulamentações dessas leis no que concerne a preservação do meio ambiente
saudável e equilibrado, pouco foi feito para efetivá-la no meio ambiente laboral do professor
no estado do Amazonas.
LER/DORT; 82,9%
Psíquica; 72,1%
Voz; 88,0%
Sindrome de Burnout (físico);
88,6%
Sindrome de Burnout (psíquico);
88,0%
0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%90,0%
100,0%
LER/DORT Psíquica Voz Sindrome de Burnout (físico)
Sindrome de Burnout (psíquico)
PANORAMA DOS NÍVEIS DE DOENÇAS OCUPACIONAIS DOSDOCENTES DA E.E. DE MANAUS
146
A inércia da sociedade e do Poder Público diante de tal situação de mal-estar do
professor do Amazonas precisam de uma reflexão crítica, pois as doenças são reais e estão
atingindo uma categoria de trabalhadores. Urge, que medidas protetivas sejam criadas e
verdadeiramente aplicadas para combater esses reais problemas.
4.4.5 Prevenção no meio ambiente de trabalho
Acredita-se que nunca existirá risco zero nas atividades trabalhistas, pois é utopia,
mas medidas preventivas pode minimizar o caos que está o meio ambiente laboral do
professor no estado do Amazonas. Para Luhmann (1992, p. 72): “não existe nenhuma conduta
livre de risco”. O meio ambiente de trabalho saudável vai muito além de uma estrutura física
perfeita.
Para Bessa (2009, p. 4):
Sabe-se que o risco tem aumentado com o crescimento econômico e com isso são
ampliados os direitos de proteção do trabalhadores em geral, porém o que se busca é
a aplicabilidade da lei no concerne a proteção e a prevenção do meio ambiente do
trabalho dos professores.
O que se espera do Poder Público e dos empregadores são o cumprimento das leis
preventivas existentes no ordenamento jurídico brasileiro para que o professor possa usufruir
de um meio ambiente de trabalho digno e saudável.
4.4.5.1 Situações de riscos que ocorrem no meio ambiente do trabalho
As situações de riscos que ocorrem no meio ambiente do trabalho do professor é fato
notório no Brasil, pois seu trabalho é com público de diferentes faixas etárias e de diferentes
níveis de ensino diariamente, eles estão expostos a diversos riscos, entre eles os riscos
psicossociais, pois a realidade de seu trabalho necessita está em sintonia com suas
expectativas profissionais.
Segundo Arantes (2008, p. 91):
Alguns trabalhadores estão mais expostos a riscos de doenças em razão do trabalho.
Assim ocorre com os bancários, com os professores e empregados no setor da
educação. São categorias consideradas, hoje, dentre as que mais expõem ao risco de
doença ocupacional, em razão do trabalho que executam.
Diante disso, percebe-se a fragilidade do meio ambiente laboral do professor, esse
desequilibrado com o passar dos anos traz seu esgotamento físico e mental e os leva a
contraírem lesões e doenças ocupacionais diante da situação dessa vulnerabilidade.
147
Desde 1981 a Organização Internacional do Trabalho OIT considerou a profissão de
professor como uma atividade de risco, e pouco foi feito no Brasil para reverter o quadro. É
interessante que a maioria dos professores nada fazem para melhorar essa situação, ficam
inertes, mesmo em movimento de greve, situação paradoxal e mais preocupante ainda, pois
sofrem em silêncio.
Em relação as situações de riscos que ocorrem no Meio Ambiente do Trabalho foram
quantificadas as seguintes variáveis nas tabelas: Tabela 67 – Constrangimento por não
acompanhar as inovações tecnológicas; Tabela 68 – Ritmo de trabalho intenso; Tabela 69 –
Violência física; Tabela 70 – Violência verbal; Tabela 71 – Assédio moral; Tabela 72 –
Assédio sexual. Ressalta-se que essas variáveis servem para caracterizar a amostra em relação
aos participantes.
A pergunta realizada para início dessa pesquisa: Você já sofreu algum desses tipos de
riscos no meio ambiente de trabalho?
Tabela 67 – Situações de riscos - Constrangimento por não acompanhar as inovações tecnológicas
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 68 – Situações de riscos - Ritmo de trabalho intenso
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 69 – Situações de riscos - Violência física
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
148
Tabela 70 – Situações de riscos - Violência verbal
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 71 – Situações de riscos - Assédio moral
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 72 – Situações de riscos- Assédio sexual
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
O resultado das Situações de riscos que ocorrem no meio ambiente do trabalho:
1º) Ritmo de trabalho intenso 64% (16,1% “Sim”, 47,9% “Às vezes”);
2º) Violência verbal 59,9% “Sim”;
3º) Assédio moral 39,0% “Sim”;
4º) Constrangimento por não acompanhar as inovações tecnológicas 26,0%
“Sim”;
5º) Assédio sexual 3,9%“Sim”.
Ao analisar o resultado supracitado observa-se que o ritmo de trabalho acelerado dos
professores destacou-se com 64% na presente pesquisa, logo esse excesso está cansando e
adoecendo os professores da rede pública estadual de ensino da cidade de Manaus, tal excesso
de trabalho pode ter várias causas, mas a mais clara está nas políticas públicas ineficientes que
não acompanham as mudanças constantes na sociedade.
Na seara jurídica esse excesso de trabalho é conhecida como jornada de trabalho,
possui peculiaridades do Direito do Trabalho, porém quando infligidos direitos de uma
categoria muda-se a tutela para o Direito Ambiental, pois passa a ser um Direito Difuso.
149
Cabe esclarecer uma diferença entre jornada de trabalho e horário de trabalho. Para
Zenni e Rafael (2009, p. 130):
O horário de trabalho representa o momento inicial e terminal do trabalho, e a
jornada todo o espaço de tempo à disposição do empregador, compreendendo, ainda,
intervalos, disponibilidades, paralisações, extraordinárias, etc.
Existem dois tipos de violências: a física e a verbal, ambas causam danos ao
trabalhador. Como resultado desta pesquisa não houve violência física contra os professores
pesquisados, porém a Violência Verbal destacou-se com 59,9% do percentual, essa violência,
às vezes, atinge a alma, pois seus danos demandam de tempo para serem tratados, pois as
situações humilhantes e constrangedoras que ocorrem diariamente no ambiente escolar é o
alimento para o desencadeamento para as doenças ocupacionais.
O Assédio Moral teve 39,0% “Sim”, logo vem ocorrendo no ambiente escolar e
nada está sendo feito. Sabe-se que o assédio moral também é conhecido como abuso de poder
e está dividido em: vertical e paritário. No assédio vertical surge de duas maneiras: o assédio
descendente e o ascendente.
Assim nesta pesquisa houve o assédio moral vertical ascendente, ou seja, de alunos
para os professores (ocorre frequentemente quando há o desrespeito ao docente) e também de
forma descendente entre superior hierárquico e professor (humilhações frequentes e, às vezes,
em público). Não houve o paritário, pois não há o isolamento de nenhum professor causado
por algum grupo de outros professores.
O Constrangimento por não acompanhar as inovações tecnológicas teve 26,0%
“Sim”, logo o avanço nas inovações tecnológicas estão acontecendo em todas as áreas do
conhecimento em nível mundial, e acompanhá-la passou a ser uma necessidade de qualquer
profissional, porém precisa ser oportunizado treinamentos pelo empregador dentro do horário
de trabalho.
Barreto (1996, p. 4) reforça a necessidade de uma formação aos professores de
maneira que venha se cumprir os Parâmetros Curriculares Nacionais:
Não é mais possível em mais uma proposta de governo ser "esquecida" a obrigação
dos dirigentes da nação com a formação sólida e continuada dos principais
formadores de mentalidade do país.
Segundo a pesquisa, em Manaus, o governo do Estado, ao longo do anos, não
conseguiu acompanhar os avanços tecnológicos, pois embora tenha se “modernizado” não
ofereceu cursos preparatórios para o uso das poucas tecnologias oferecidas. Outro obstáculo,
150
segundo eles, é a falta do wi-fi14
em sala de aula, pois em pleno século 21 a internet no
Amazonas ainda é lenta, pois o seu sinal não é de qualidade.
4.4.5.2 Direitos
Ter o direito a um meio ambiente de trabalho hígido é o que estabelece a
Constituição Federal de 1988, pois esse aspecto ambiental estar interligado intrinsecamente à
vida, pois o reconhece como o maior bem a ser tutelado pelo Direito Ambiental.
Ter um meio ambiente do trabalho saudável é um Direito Constitucional como já foi
estudado no segundo capítulo deste trabalho. Assim, buscou-se nesse item da pesquisa
aprofundar a relação do direito dos professores de Manaus em alguns pontos específicos,
como: o quantitativo de afastamento por licenças médicas, o direito do professor readaptado,
o ajuizamento de ações contra sua instituição empregadora e a efetividade do direito à
informação de seus direitos sobre suas doenças ocupacionais.
Em relação aos Direitos foram quantificadas as seguintes variáveis nas tabelas:
Tabela 73 – Você já teve algum afastamento médico por doença; Tabela 74 – Tirou várias
licenças e foi readaptado(a). Qual foi a doença que o(a) levou à readaptação?; Tabela 75 –
Você ajuizou alguma ação judicial contra o Estado pelo motivo de doenças ocupacionais?;
Tabela 76 – Você sabia que as doenças ocupacionais dos professores não são reconhecidas
como doenças ocupacionais no ordenamento jurídico? Ressalta-se que essas variáveis servem
para caracterizar a amostra em relação aos participantes.
Tabela 73 – Direitos - Você já teve algum afastamento médico por doença
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
14
Wi-fi é um termo que designa a tecnologia que permite transmitir dados via internet sem a utilização de
cabos. O termo vem do nome da empresa que desenvolveu a tecnologia a Wi-Fi Alliance, sendo que wi-fi é uma
denominação popular, o nome original dessa tecnologia é IEEE 802.11. Disponível em:
https://www.significadosbr.com.br/wi-fi. Acesso em: 20.05.2016.
151
Tabela 74 – Direitos -Tirou várias licenças e foi readaptado(a). Qual foi a doença que o(a) levou à
readaptação?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 75 – Direitos - Você ajuizou alguma ação judicial contra o Estado pelo motivo de doenças
ocupacionais?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 76 – Direitos - Você sabia que as doenças ocupacionais dos professores não são reconhecidas como
doenças ocupacionais no ordenamento jurídico?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
O resultado dos supracitados direitos:
1º) Afastamento médico por doença foram 75% “Sim”, com destaque para licença
médica até três dias 62,91% e a licença médica com mais de 3 dias teve 12, 1%;
2º) Informação sobre o não reconhecimento das doenças ocupacionais dos
professores 97,5% “Não”;
3º) Readaptação 8,0 “Sim”;
4º) Ajuizamento de Ação 0,0% “Não”.
Pelos resultados, pode-se perceber que os 75% dos professores adoeceram em
decorrência da atividade laboral desenvolvida e tiveram de licenciar-se, e com isso o
absenteísmo em Manaus é um fator preocupante.
Neste diapasão, observa-se também nesta pesquisa um elevado número de
professores - 97,5% que responderam “Não” saber do não reconhecimento legal das doenças
152
ocupacionais dos professores. A falta de conhecimento é um mal, da maioria do povo
brasileiro, pois saber dos direitos e deveres de cidadão é um mínimo que o indivíduo precisa
saber para que possa reivindicá-los.
Para Sodré (1975, p. 52):
Se educar consiste em ministrar conhecimento valorativo, impossível se torna
exercer a profissão desconhecendo-a, ou seja, abstraindo-se dos deveres,
prerrogativas, normas de conduta e direitos que lhe são tradicionalmente
assegurados.
Esse resultado da pesquisa supracitada nos faz refletir: se os professores que são
formadores de opinião não sabem seus direitos, imagina o restante do povo brasileiro com
menos estudo.
O resultado de 0,0% de “Não” ajuizamentos de nenhuma ação judicial contra o
Estado pelo motivo de doenças ocupacionais só demonstra que os professores pesquisados
estão inertes quanto a reivindicação de seus direitos, porém almejam melhores condições de
trabalho para a categoria.
Em relação aos professores readaptados houve 8,0% que responderam “Sim”. Eles
foram lesionados e adoeceram em seu meio ambiente laboral e agora foram considerados
inválidos para exercerem sua função de professor na qual fizeram alto investimento para tal.
4.4.5.3 Prevenção
Sabe-se que existe uma preocupação em nível nacional e internacional com a
preservação do meio ambiente do trabalho. No Brasil, o aspecto do meio ambiente do trabalho
trouxe em seu art. 225, caput da Constituição Federal de 1988, expressamente, que é “dever
do Poder Público e da coletividade de proteger e preservar o meio ambiente”, pois todos os
trabalhadores precisam ter condições adequadas em seu ambiente laboral para que seja
assegurado o seu direito à sadia qualidade de vida, tutelando assim o seu direito à vida
saudável.
Bessa (2009, p. 4):
No que diz respeito à eficácia e exigibilidade dos direitos sociais, questionar o "não
fazer" ou atitudes proibitivas ou repressivas contra ações praticadas pelo Estado é
comum e simples, no entanto, a grande dificuldade está no "dever fazer" as atitudes
que o Estado deveria praticar e não pratica, as omissões do Estado quanto aos
direitos sociais.
Em relação a Prevenção foram quantificadas as seguintes variáveis nas tabelas:
Tabela 77 – Você recebeu alguma palestra de prevenção à saúde do professor no início de sua
153
carreira de professor?; Tabela 78 – É oportunizado prevenção contra as doenças ocupacionais
pela Instituição de ensino que trabalha?; Tabela 79 – Você é feliz com sua profissão?; Tabela
80 – Você já pensou em mudar de profissão?; Tabela 81 – Você faz exames periódicos
solicitados pela Instituição de ensino que trabalha? Ressalta-se que essas variáveis servem
para caracterizar a amostra em relação aos participantes.
Com o intuito de obter mais dados sobre a prevenção no âmbito escolar foram
direcionadas todas as perguntas desta pesquisa que tratassem sobre o tema:
Tabela 77 – Prevenção - Você recebeu alguma palestra de prevenção à saúde do professor no início de sua
carreira de professor?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 78 – Prevenção - É oportunizado prevenção contra as doenças ocupacionais pela Instituição de
ensino que trabalha?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 79 – Prevenção - Você é feliz com sua profissão?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
154
Tabela 80 – Prevenção - Você já pensou em mudar de profissão?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
Tabela 81 – Prevenção - Você faz exames periódicos solicitados pela Instituição de ensino que trabalha?
Fonte: Dados da pesquisa. OLIVEIRA, Sienne C. de (2016).
O resultado sobre as medidas preventivas realizadas pela SEDUC/Am junto aos
professores de Manaus:
1º) Você faz exames periódicos solicitados pela Instituição de ensino que
trabalha? - 100,0% “ Nunca”;
2º) É oportunizado prevenção contra as doenças ocupacionais pela Instituição
de ensino que trabalha? 96,1% - “Não”;
3º) Você recebeu alguma palestra de prevenção à saúde do professor no início
de sua carreira de professor? 96,4% “Não”;
4º) Você é feliz com sua profissão? 72,0% “ Sim” e 28,0% “Parcialmente”;
5º) Você já pensou em mudar de profissão? 48,0%“ Sim”, 16,0% “Parcialmente” e
36,0%” Nunca”.
A análise referente à prevenção dos professores nos mostra que não há prevenção
nenhuma contra as doenças ocupacionais dos professores, pois conforme os dados da pesquisa
100,0% “Nunca” fizeram os exames periódicos obrigatórios. E não receberam palestra de
prevenção à saúde no início de sua carreira, inclusive até agora. A SEDUC/Am não
disponibilizou nenhum programa preventivo aos professores contra doenças ocupacionais.
155
Oliveira e Silva Filho (2014, p. 311) afirmam:
A prevenção e precaução na defesa dos interesses coletivos ou difusos em prol de
um bem jurídico a ser protegido (a sadia qualidade de vida) busca a superação dos
problemas existentes, e assim posa, se não resolver, pelo menos minimizar as
doenças ocupacionais do profissional da área de educação.
Na pesquisa 72% dos professores são felizes com a carreira que escolheram e
somente 28,0% são “Parcialmente”, porém mesmo amando a profissão somente 36% nunca
deixaria a docência.
Há na SEDUC/AM programas de prevenção desde 2014, como Programa de
Acompanhamento Psicossocial dos Servidores da Educação (PAPSE), Ginástica Laboral e
Campanha de Avaliação Física, que conforme o resultado das pesquisas nunca chegaram nas
escolas e nunca foram informados sobre eles, só funciona na Sede da Seduc.
4.5 Resultado geral da pesquisa de campo
Diante dos resultados apresentados constatou-se que as causas de absenteísmo do
professor dos ensinos médio e fundamental da rede estadual de ensino na cidade de Manaus
são provenientes do adoecimento emocional, psíquica, orgânico e situacional decorrentes do
Meio Ambiente de Trabalho inadequado.
Os resultados dos dados sociodemográficos e profissionais demonstraram que as
escolas públicas estaduais de Manaus possuem mais professoras que professores, todos
possuem nível superior (graduação), contudo, somente 3,9% possuem mestrado e nenhum
deles têm doutorado. Os 67,2% dos professores possuem mais de onze anos de experiência na
docência. Na atual escola um quantitativo de 60,1% têm menos de cinco anos na atual escola,
logo o índice de rotatividade é preocupante. A média de jornada de trabalho deles variou entre
20h e 40h semanais, e 88% deles são efetivos.
As Condições Ergonômicas do meio ambiente do trabalho do professor de Manaus
não possuem boas condições físicas (móveis e instrumentos) de trabalho adequado, e os
recursos pedagógicos e multimídia são insuficientes e limitados. A agradabilidade do conforto
térmico variou entre bom e regular, o que mostra descontentamento com a situação. Segundo
eles a acústica não é a ideal para as salas. Esses resultados só vêm confirmar que as condições
ergonômicas inadequadas contribuem para que eles tenham estresse ocupacional.
A situação funcional dos professores é desanimadora, pois o resultado da pesquisa é
um indicador de um descaso com o professor da rede pública estadual de ensino da cidade de
Manaus: Falta de material de apoio didático-pedagógico, há superlotação das salas, ritmo
156
acelerado de trabalho, o barulho constante no ambiente de trabalho, o ambiente é fechado com
má circulação de ar, e o professor fica muito tempo em pé e ainda não há uma modernização
tecnológica que atenda às necessidades do professor e do aluno. Na questão salarial houve um
percentual de 100,0% negativo variando entre 72,0% “Ruim” e 28% “Regular”. Também há
baixo investimento na educação continuada do docente, e 40% dos professores afirmam que
são desvalorizados.
No que concerne ao Meio Ambiente do Trabalho – Doenças Ocupacionais dos
professores houve um índice de 80% de docentes que já foram acometidos por alguma doença
ocupacional, e 72% deles responderam que não trabalham num ambiente de trabalho
saudável. Segundo 80,1% deles responderam que “às vezes” já trabalharam doentes. Dos
80,1% (52,0% “às vezes”, 16% “raramente, 12,1% do “Nunca”) não têm oportunidade de
realizarem atividades de lazer e descanso, logo esses professores são sedentários com grandes
possibilidades de adoecerem. Esse resultado é confirmado com 83,6% das respostas positivas
dos docentes que responderam que têm algum tipo de cansaço físico ou mental, sendo que
desse total 50,4% são acometidos com esses dois tipos de cansaço. Dos 920 professores
pesquisados 68,5% informaram que não possuem plano de saúde.
Diante desse resultado, cabe uma reflexão crítica e um novo repensar, do Poder
Público e da coletividade, de modo geral, sobre a preservação do meio ambiente laboral do
professor do estado do Amazonas. A regulamentação de leis ambientais trouxe uma
“segurança” generalizada no que concerne a preservação do meio ambiente saudável e
equilibrado, porém onde está sua aplicabilidade no meio ambiente laboral do professor?
Dentro dessa preocupação, o meio ambiente do trabalho que é um aspecto do meio
ambiente geral surge para assegurar melhores condições de trabalho a todos, uma vez que
qualquer trabalhador passa muito tempo de seu dia e a maioria de sua vida em seus empregos,
o que não excluem os docentes, pois existem muitos projetos de lei em nível nacional sobre o
tema que estão esquecidos à espera de uma “aprovação”, em nível estadual no Amazonas não
há nenhum projeto de lei que contemple a preservação do meio ambiente laboral do professor
e em nível municipal no Amazonas há um Projeto de Lei n. 246/2014 que institui a política
municipal de prevenção às doenças ocupacionais do educador da rede municipal de ensino,
porém ainda não foi aprovada.
Deve-se refletir sobre o descaso histórico com a saúde e o mal-estar do docente.
Grandes empresas têm investido na qualidade de vida dos trabalhadores com o objetivo de
trazer satisfação e prevenir seus funcionários de doenças ocupacionais, através de
disponibilidade de plano de saúde, palestras educativas direcionadas para o início da carreira
157
profissional e no mínimo mais duas anuais, ginástica laboral semanal e exames periódicos
obrigatórios.
Dentre as doenças ocupacionais mais comuns que ocorrem no Meio Ambiente do
Trabalho dos professores as variáveis selecionadas foram: Síndrome de Burnout (Sintomas
Físicos e Mentais); LER (Lesões por Movimento Repetitivo) /DORT – Distúrbios
Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho; Doenças da Voz; e Doenças Psíquicas.
A Síndrome de Burnout tanto físico quanto psíquica estão presentes no meio
ambiente laboral dos professores das escolas públicas estaduais de Manaus, constatou-se
índices preocupantes, que podem ser obsevadas na pesquisa. Seu reconhecimento pelo Poder
Público, como um problema sério com implicações psicossociais, precisa ser visto com
urgência, pois é uma doença silenciosa, mas com consequências desastrosas na vida do
professor.
Percebeu-se que as doenças LER (Lesões por Movimento Repetitivo) /DORT –
(Distúrbios Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho) estão presente na vida dos
professores da rede estadual de ensino, com destaque para a Lombalgia com 82,9%, seguida
de Excesso de trabalho, Alergias, Rinites, Faringites crônicas que tiveram 76,2%, Sinusites
teve 72,0, Bursites (doença no ombro) teve 59,9%. Com 52,1%: Postura inadequada e a
Síndrome do manguito rotatório (parte do ombro), Epicondicites (região lateral do cotovelo)
teve 43,80%. Tendinites (doença no ombro) teve 48,9%, Síndrome do túnel do carpo(parte
das mãos) teve 43,8%. Essa doença traz muito sofrimento, e além disso, o professor tem a
sensação de inutilidade e sente-se incapaz para realizar suas atividades diárias. O professor
torna-se frágil, e essa doença, silenciosa aos olhos do Poder Público, mas dolorida no corpo e
na alma para quem a adquiriu, pois agora precisará deixar suas funções para ser readaptado
para uma função alheia a que ele escolheu.
O estudo pôde confirmar que os professores estaduais da rede pública de ensino de
Manaus apresentam múltiplos sinais e sintomas vocais. Os sinais e sintomas vocais que mais
se destacaram foram a rouquidão com mais de 10 dias, seguidos dos nódulos e edemas nas
pregas e para finalizar com os pólipos. Tal estudo tem relevância uma vez que pode ser um
parâmetro para melhorar as condições de bem-estar do docente.
Os problemas relacionados à educação são complexos e numerosos, assim o
resultado das Doenças Psíquicas confirmou a existência de significativo índice para a
Ansiedade nesta pesquisa. Seguido de Estresse Ocupacional com 58,8% e Depressão com
57,7%. Por último aparece a Síndrome do pânico com 20,1%. Ressalta-se, porém as causas
158
que os levaram a ter esse resultado precisa de estudos mais aprofundados na cidade de
Manaus, pois são vários os motivos que podem trazer tais doenças.
Situações de riscos que ocorrem no meio ambiente do trabalho do professor é uma
realidade desse profissional no Brasil, as mudanças sócio, política, econômica e tecnológica
trazem insegurança e consequências diretas a saúde dos trabalhadores. O avanço tecnológico
trouxe mais riscos à saúde do professor, um verdadeiro paradoxo, pois o professor precisa do
seu salário mesmo tendo que assumir alguns riscos.
Nesse diapasão, analisou-se que 64% dos professores responderam que ritmo de
trabalho acelerado em seu meio ambiente é real e complexo, pois possui várias causas, porém
destaca-se o descaso do Poder Público e da sociedade em relação a esse problema. O
professor convive em seu meio ambiente laboral com constantes violências verbais 59,9%,
assédio moral 39,0%, constrangimento por não acompanhar as inovações tecnológicas 26,0%
e ainda assédio sexual 3,9%.
O resultado da pesquisa referente à alguns direitos específicos dos professores
trouxe como resultado um índice elevado de absenteísmo de professores das escolas públicas
da rede de ensino, pois teve 75% de afastamentos médicos por doença. A falta de informação
sobre o não conhecimento de suas doenças ocupacionais no ordenamento jurídico brasileiro
foi de 97,5%. Do universo de 920 professores 8,0% foram readaptados, ou seja, tiveram de
abandonar suas funções de professor para exercer outra função que não é equivalente aquela
na qual foi selecionado no concurso público. E ao ser readaptado não recebe nenhuma
indenização do Estado, pois a lesão ocorreu, mas todos ficam inertes ao fato. Tal fato é
confirmado, pois não houve nenhuma ação judicial para reivindicar direito algum dos danos
infligidos no seu ambiente laboral.
O resultado desta pesquisa confirmou que os professores do estado do Amazonas não
possuem um meio ambiente de trabalho equilibrado. E quando questionados sobre prevenção
contra doenças ocupacionais, eles responderam que desde o início de suas carreiras até a data
da aplicação do questionário desta pesquisa nunca ocorreu. Os 100,0% dos professores
“Nunca” fizeram os exames periódicos obrigatórios, pois não foram oportunizados pela
SEDUC/Am. Devido à desvalorização da profissão 48% dos docentes já pensaram em mudar
de profissão. O maior paradoxo foi que 72% deles são felizes com a profissão que
escolheram.
Diante do exposto, os objetivos da pesquisa foram alcançados, pois conforme o
resultado geral da pesquisa confirma-se que os professores da SEDUC/Am da cidade de
Manaus possuem diversas doenças ocupacionais provenientes de riscos biológicos, físicos,
159
químicos, psíquicos e ergonômicos, e que seu meio ambiente do trabalho está sendo infligido,
e com isso as causas de absenteísmo do professor do ensino médio e fundamental da rede
estadual de ensino da cidade de Manaus é preocupante, pois com o índice elevado de doenças
e afastamentos de seu ambiente laboral é fator preocupante tanto para esse profissional quanto
para o Poder Público.
Considerando o grande percentual de licenças dos professores verificou-se que torna-
se necessário uma atenção especial na compreensão do adoecimento dessa categoria
profissional. Cabe uma intervenção do Poder Público a fim de encontrar soluções
emergenciais para tais problemas. Medidas preventivas eficazes devem ser adotadas para
garantir um meio ambiente laboral saudável para o docente desenvolver suas atividades.
5 ASPECTOS GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Antes de analisar o tema os „Aspectos gerais da responsabilidade civil do estado‟ faz-
se necessário saber o significado do instituto da Responsabilidade Civil, pois é uma base
importante para o estudo do direito devido não deixar a vítima de danos sem a devida
reparação moral ou patrimonial.
Diniz (2007, p. 40) conceitua Responsabilidade Civil:
Poder-se-á definir a responsabilidade civil como a aplicação de medidas que
obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão
de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou
animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva), ou, ainda, de simples imposição
legal (responsabilidade objetiva).
Corroborando Amaral (1998, p. 531) aprofunda o conceito:
A expressão responsabilidade civil pode compreender-se em sentido amplo e em
sentido estrito. Em sentido amplo, tanto significa a situação jurídica em que alguém
se encontra de ter de indenizar outrem quanto a própria obrigação decorrente dessa
situação, ou, ainda, o instituto jurídico formado pelo conjunto de normas e
princípios que disciplinam o nascimento, conteúdo e cumprimento de tal obrigação.
Em sentido estrito, designa o específico dever de indenizar nascido do fato lesivo
imputável a determinada pessoa.
Nesse sentido, a responsabilidade civil é um instituto dinâmico e flexível que
caracteriza-se por aspectos patrimoniais: alguém que tenha prejudicado a outrem em razão de
sua ação ou omissão precisará responder pelos seus atos.
A Responsabilidade Civil do Estado é sempre um tema atual, pois caminha paralelo a
história, assim para compreendê-lo é importante a análise de sua evolução histórica.
160
5.1 A EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
A responsabilidade civil do Estado, ao longo de sua história, passou por algumas
transformações importantes que ficaram conhecidas como teorias, as mais importantes foram:
as teorias da irresponsabilidade, teorias civilistas, teorias publicistas, teoria da culpa do
serviço e teoria do risco, e recebeu dois diferentes nomes: Responsabilidade da Administração
Pública e Responsabilidade Patrimonial do Estado.
A teoria da Irresponsabilidade é uma tese que surgiu nos meados da época do
absolutismo, o Estado não era penalizado por nenhum ato danoso que porventura seus agentes
causassem à população, o rei era a lei e exercia o poder de forma indiscriminada.
Arêas (2007, p. 3) destaca: “O Estado Moderno tal qual como conhecemos
atualmente, teve seu início a que os “monarcas julgavam-se estar acima da lei, o que originou
a expressão L’État cest moi traduzindo significa „o Estado sou eu‟.”
Com isso, diante do poder absoluto e déspota do rei, estabelecia-se a ligação entre a
figura do rei (que não cometia erros) com as ações do Estado, logo não havia a possibilidade
do súdito enquanto cidadão, ser ressarcido em caso de falha estatal.
No entanto, essa regra não valia para os criados que atuavam na administração do
feudo, que por sua vez pediam a “punição” do serviçal sob seu comando. O direito
administrativo começa a ser esboçado com a Revolução Francesa de 1789.
Cavalcanti (1905, p. 108):
O ato do funcionário seria, destarte, ato do Estado, mas tal teoria só se aplicava
enquanto o funcionário agisse dentro da lei. Ao cometer abusos, o funcionário não
comprometeria o Estado; por outro lado, enquanto agisse dentro da lei, não se
poderia responsabilizar o Estado pela prática de atos que estava ele obrigado a
praticar
Na ebulição política, cultural e intelectual advindas do Iluminismo, a ideia imputar a
responsabilidade administrativa por parte do Estado ganha força a partir da implantação das
teorias iluministas, favoráveis à separação dos poderes com a introdução do
constitucionalismo, da república e da democracia.
Com isso, fortaleceu-se a ideia de igualdade entre os homens, como forma de
pressionar a monarquia ao impor limites aos privilégios dos nobres e reconhecer o direito dos
demais cidadãos.
Entre esses direitos destacamos: a participação política e fiscal igualitária, normas
que garantissem a segurança da propriedade e do comércio, bem como a eliminação de
qualquer tipo de maus-tratos aos trabalhadores.
161
A Revolução Francesa traduz o discurso iluminista na qual a base do governo dá-se
pela lei. Nas palavras do Procurador e Mestre em Direito Processual e Cidadania Fernando
Menegueti Chaparro (2014, p. 3) “sai o monarca e entra a norma”.
Assim, regulamenta-se a vida social e estabelece-se as diretrizes para a resolução dos
conflitos interpessoais com princípios da generalidade e impessoalidade, onde a lei é válida
para todos: desta forma, todos seriam iguais perante a lei.
Contudo, o novo sistema pouco ou nada se diferencia da prática monárquica, senão
vejamos, embora revestido com argumentos humanistas e democráticos, a nova ordem sócio-
político procurava legitimar outra forma de poder, através da dominação do povo pela lei,
através do legislador soberano e impessoal.
Desta forma o princípio da lei estaria implantado como meio para solução de todos
os conflitos sociais, de forma perfeita e universal, trazendo com isso as mesmas
peculiaridades de onipresença e onipotência que a divindade representava no período arcaico,
romano e medieval.
A ideia da produção de leis pelo Estado, sem a influência dos governantes foi usada
como direcionador do sistema vigente na época, na qual essa atribuição caberia ao povo,
tomando ares de Estado Democrático.
Afirma Rousseau (1996, p. 48-52) que:
As leis não são, em verdade, senão as condições da associação civil. O povo
submetido às leis deve ser o autor delas; somente aos que se associam compete
regulamentar as condições da sociedade. Mas como regulamentarão? De comum
acordo ou por súbita inspiração? […] Eis de onde nasce a necessidade de um
legislador. [...]
Aquele que redige as leis não tem, portanto, ou não deve ter nenhum direito
legislativo, e nem o próprio povo pode, quando o quiser, despojar‐se desse direito
intransferível porque, segundo o pacto fundamental, somente a vontade geral obriga
os particulares, e só se pode assegurar que uma vontade particular está de acordo
com a vontade geral depois de submetê‐la aos sufrágios livres do povo. Já disse isso,
mas não é inútil repeti‐lo.
Com a emancipação política das colônias, principalmente no continente americano,
ocorridas no século XV e XVI, levaram essas ex-colônias a adotarem o mesmo sistema, com
base na Teoria da Irresponsabilidade.
Para Coelho (2001, p. 39):
As ideias iluministas influenciaram o pensamento e ações da sociedade por mais de
um século, repercutindo nos campos político, na medida em que instituiu o Estado
dotado de território, população, poder central; e na filosofia do direito, já que fez
predominar a dogmática jurídica, ou seja, a implementação do direito positivo, do
primado da lei e do dogma do Estado‐Legislador justo, onipresente e neutro.
162
Isso perdurou até 1946 nos Estados Unidos da América, onde através do Federal Tort
Claims Act aboliram essa prática, seguido no ano seguinte pela Inglaterra que aprovou lei
similar através do Crown Proceeding Act, de 1947. Momento em que novas reivindicações
sociais e jurídicas passaram a sustentar uma reformulação estrutural na sociedade, tal como
originou-se o pensamento iluminista. Isso foi motivado pelo uso do poder político-econômico
pela burguesia que influenciava a formação das leis do Estado.
Eram os impostos que sustentavam o Estado nessa época. Diante disso o Estado dava
legitimidade e legalidade à exploração da mão de obra dos trabalhadores dessa época.
O ordenamento jurídico brasileiro não adotou essa Teoria da Irresponsabilidade, pois
foi devidamente alterada pela conjuntura dos elementos liberais trazidos pela educação da
ideologia nacional.
A segunda teoria foi a Civilista, com o declínio da Teoria da Irresponsabilidade e a
superação dos Estados absolutos surge a Teoria Civilista, que à medida que houve
desenvolvimento da sociedade ocorreu a transfiguração de nomenclatura de Estado para
Estado Democrático de Direito. A partir dela é atribuído ao Estado a responsabilidade estatal,
apoiando-se na ideia de culpa.
Diante das mudanças históricas, ocorreu essa nova etapa da evolução da
responsabilidade estatal, onde o Estado passou a ser responsável pelas ações culposas de seus
agentes. Nessa condição, entende-se que uma vez que esses servidores atuam investidos de
autoridade outorgada pelo Estado, ele é o responsável direto da ação de seus outorgados.
Carvalho Filho (2009, p. 382):
Abolindo-se assim, a teoria da irresponsabilidade, com o estabelecimento das
Teorias Civilistas na qual permitiam a responsabilização do Estado por culpa. Para
fins de responsabilidade do Estado, era usual fazer-se distinção entre os atos
estaduais de gestão e os de império
Arêas (2007, p. 4) também discorre sobre responsabilização civil do Estado:
Devido ao caráter de ato regulamentado por normas essencialmente de direito
público e protetoras da figura estatal, o Estado não poderia se ver responsabilizado.
Assim, dadas as não raras dificuldades de se verificar na prática se determinado ato
seria de gestão ou de império.
A insatisfação dos administradores aliada à dificuldade de verificar se o ato era de
gestão ou de império, motivou alterações nos conceitos, pondo fim à distinção das
responsabilidades.
No âmbito do Direito Civil, era milenar paradigma, herdado do Direito Romano, que
não havia responsabilidade sem culpa provada. Nesse diapasão, a vítima, para obter
a correspondente reparação por um dano sofrido, deveria demonstrar – já que
tradicionalmente o ônus da prova pertence a quem alega o fato – que sofrera um
dano, que o autor do fato cometera um ilícito (delito) e que o dano decorria desse
163
delito: dano, conduta culposa e nexo causal, eis os grandes pressupostos da
responsabilidade. Sem tal demonstração, era-lhe recusada qualquer indenização
(JOSSERAND, 1941, p. 551)
A evolução trouxe algumas divergências. Com a mudança o Estado passou a ter
problemas jurídicos com o patrimônio público, pois se o poder não pertencia mais ao rei e
nem ao Estado soberano, seria de quem? Na época houve a contribuição alemã que trouxe a
teoria do fisco que classificou o Estado nas suas relações de ordem civil ou de direito público.
Mayer (1949, p. 61-62):
O Fisco seria, por sua natureza, encarado como o homem ordinário, que administra
seu patrimônio e está submetido ao direito civil e à jurisdição civil, sendo um súdito
do Estado, como os demais; enquanto o Estado propriamente dito não teria
patrimônio, mas se acha investido do poder público, do poder geral de mando.
Essa nova ideia não apresentou os resultados desejados em sua efetivação, pois
houve muitas divergências em identificar os atos de império com os atos de gestão, do Estado
ou do Fisco devido ao grande quantitativo de atividades e complexidade dos serviços.
Para Josserand (1941, p. 550):
O próprio direito civil já vinha abrandando suas rígidas concepções de culpa e ônus
da prova, uma vez que o evolver social e o progresso técnico tornaram cada vez
mais difícil a demonstração, pela vítima, do dano causado pela conduta culposa de
outrem, frustrando-lhe, em grande medida, o direito à reparação. Assim, em especial
por via jurisprudencial, passou-se a admitir mais facilmente a existência da culpa,
seja reconhecendo-a por presunção de existência em diversas situações, seja por
estender os domínios da responsabilidade contratual, para tornar mais facilitada a
situação da vítima. Em fim, houve o momento em que a culpa passou a ser
considerada desnecessária, substituindo-a pela noção de risco, em variadas matizes.
Diante desse diapasão, houve o declínio da teoria, uma vez que o desgaste da noção
de culpa tanto no Direito Civil quanto no Direito Público e os objetivos não foram alcançados.
Surge, assim, uma terceira fase da evolução, a Teoria Publicista, tal teoria é voltada
para a responsabilidade civil do Estado.
Dergint (1994, p. 38):
Essa terceira fase da evolução histórica da responsabilidade civil do Estado coincide
com a consagração do Estado Social. Nela, a responsabilidade do Poder Público
torna-se autônoma, como matéria específica do Direito Administrativo, o que se
logrou, sobretudo, a partir do labor do Conselho de Estado francês.
Essa teoria é consagrada com o famoso caso Blanco, fato ocorrido na França em
1873, na qual o Conselheiro do Tribunal de Conflitos decidiu pela competência do Conselho
de Estado da França, para decidir um conflito negativo de competência.
164
Essência do caso Blanco
Considerando que a responsabilidade que pode incumbir ao Estado os danos
causados aos particulares, causados pelas pessoas empregadas pelo serviço público,
não pode ser regida pelos princípios que são estabelecidos no Código Civil, para as
relações jurídicas de particular a particular; que esta responsabilidade não é plena
nem absoluta; que ela tem suas regras especiais que variam de acordo com as
necessidades do serviço e a necessidade de conciliar o direito do Estado (direito
público) com os direitos privados (direito civil). Arrêt Blanco du Tribunal des
Conflits sur Légifrance(www.legifrance.gouv.fr)
Serve-se portanto, da referida teoria chamada de publicista como fundamentos de
ordem política e jurídica, da responsabilidade objetiva do Estado como regra nos Estados
modernos, disciplinada pelo direito público.
Justificada pelo desequilíbrio real entre o Estado, dotado de maior poder e
prerrogativas tendo em vista o interesse público. Enquanto que o particular, em posição
antagônica ao Estado, permaneceu em situação de subordinação, mesmo em face da proteção
legislativa e constitucional.
A partir dessa teoria surgiram outras teorias, como: a Teoria da culpa do serviço,
culpa administrativa ou de falta do serviço e Teoria do Risco, que a princípio
despersonalizaram a culpa, que depois foi substituída pelo risco, e que mais tarde denominou-
se como responsabilidade objetiva do Estado.
Na Teoria da culpa do serviço ou culpa anônima, tinha como objetivo substituir a
culpa do funcionário pela função da culpa anônima. Ela surge decorrente de grande
insatisfação gerada pelas outras teorias, trouxe o pensamento que não era mais preciso a
distinção do agente causador do dano, só era necessário comprovar o dano causado pela
atividade estatal.
Para Duez (1938, p. 29-30):
Com relação ao não funcionamento do serviço, trata-se de situação na qual o Estado,
não agindo, comete uma falta, pois estava obrigado a agir. Nesse caso, deve reparar
as consequências de sua inação. Isto porque o exercício de uma competência
administrativa não é um privilégio, mas um dever para o agente que tem obrigação
funcional de ser vigilante. Valendo tal assertiva não só para os casos de competência
vinculada, trata-se de uma alternativa encontrada pelo Conselho de Estado para
controlar o poder discricionário da administração: apesar de não poder obrigá-la a
agir, por não haver, estritamente, ilegalidade, poderia declará-la responsável pelas
consequências na omissão.
A teoria da culpa administrativa adotada, como forma de equalizar as
responsabilidades sobre os atos, baseava-se na responsabilização de ordem subjetiva (por
culpa ou dolo do agente estatal), igual ao anterior, porém não fazia distinção para fins de
responsabilidade, entre os atos de gestão e de império praticados pelo Estado.
165
No Brasil os princípios da Teoria da Culpa Civil ou da Responsabilidade
Subjetiva, com bases na constatação da culpa, foi adotada através do Código Civil de 1916,
através do art. 15:
As pessoas jurídicas de direito público são civilmente responsáveis por atos dos seus
representantes que nessa qualidade causem danos a terceiros, procedendo de modo
contrário ao direito ou faltando a dever prescrito por lei, salvo o direito regressivo
contra os causadores do dano.
A base dessa decisão motivou a primeira teoria pública da responsabilidade do
Estado em detrimento as ideias civilistas. Com isso pondera Oliveira (2015, p. 4) que “o
ofendido, deveria comprovar, para fins de responsabilidade estatal, que o dano por ele
suportado decorreu do serviço público que: não funcionou; funcionou mal; ou funcionou
tardiamente.”
Barreto (2012, p. 7):
Como restou demonstrado, a culpa ainda é elemento nuclear dessa teoria publicista,
de modo que não é correto considerá-la vertente de responsabilidade objetiva. É, isto
sim, responsabilidade subjetiva, lastreada na culpa, ainda que redefinida segundo
critérios de direito público. Em diversas situações, nas quais ainda assim seria um
esforço desproporcional para o particular provar a culpa anônima, tal teoria
contempla uma presunção, o que, por dispensar o lesado dessa prova, faz parecer
que a culpa é irrelevante. Mas não é esse o caso, pois, tratando-se de verdadeira
inversão do ônus da prova, o Estado poderia se esquivar da reparação, bastando para
tanto provar que o seu serviço não padecia de culpa – o que demonstra que o
elemento subjetivo ainda permanecia subjacente à questão.
O conselho do Estado Francês passou a adotar a teoria do risco, porém não
abandonou a teoria da culpa do serviço, pois a nova teoria servia de base para a
responsabilidade objetiva do Estado.
Sobre a teoria do risco Júnior (2008, p. 325) afirma:
É a teoria do risco que serve de fundamento para a ideia de responsabilidade
objetiva ou sem culpa do Estado. Ela toma por base os seguintes aspectos: (1) o
risco que a atividade administrativa potencialmente gera para os administrados e (2)
a necessidade de repartir-se, igualmente, tanto os benefícios gerados pela atuação
estatal à comunidade como os encargos suportados por alguns, por danos
decorrentes dessa atuação.
O caso Blanco constitui uma das fontes que estabeleceu o direito jurídico-
administrativo no Brasil com a dificuldade do ofendido comprovar a culpa do serviço,
estabeleceu-se a teoria do risco integral ou do risco administrativo, existente desde 1978 na
Declaração dos Direitos do Homem (Artigo 13).
Assim, em suma, e como próprio nome sugere, essa teoria leva em conta o risco que
a atividade estatal gera para os administrados e na possibilidade de causar danos a
determinados membros da comunidade, impingindo-lhes um ônus não suportado
166
pelos demais. Para compensar essa desigualdade, todos os demais membros da
comunidade devem concorrer, através dos recursos públicos, para a reparação dos
danos.
No entanto, Carvalho Filho (2009, p. 524) propõe uma diferenciação acerca das
teorias desencadeadas pelo risco administrativo:
No risco administrativo, não há responsabilidade civil genérica e indiscriminada: se
houver participação total ou parcial do lesado para o dano, o Estado não será
responsável no primeiro caso e, no segundo, terá atenuação no que concerne a sua
obrigação de indenizar. Por conseguinte, a responsabilidade civil decorrente do risco
administrativo encontra limites. Já no risco integral a responsabilidade sequer
depende de nexo causal e ocorre até mesmo quando a culpa é da própria vítima.
Assim, por exemplo, o Estado teria que indenizar o indivíduo que se atirou
deliberadamente à frente de uma viatura pública. É evidente que semelhante
fundamento não pode ser aplicado à responsabilidade do Estado, só sendo
admissível em situações raríssimas e excepcionais. Em tempos atuais, tem-se
desenvolvido a teoria do risco social, segundo a qual o foco da responsabilidade
civil é a vítima, e não o autor do dano, de modo que a reparação estaria a cargo de
toda a coletividade, dando ensejo ao que se denomina de socialização dos riscos –
sempre com o intuito de que o lesado não deixe de merecer a justa reparação pelo
dano sofrido.
Merece destaque a aplicabilidade da Teoria do Risco Integral, no direito pátrio,
bem como os casos reconhecidos pela doutrina e suas críticas, o § 6º, art. 37 da Constituição
Federal de 1988 o fundamenta:
Art. 37, § 6º. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.
No Brasil, como regra geral, a legislação geral civil adotou a responsabilidade
subjetiva, contudo a responsabilidade objetiva firmada na teoria do risco coexiste com a
subjetiva e está estabelecida no parágrafo único do art. 927 do Código Civil de 2002.
A culpa objetiva aqui tratada, substitui a ideia de culpa (subjetiva) em função do
nexo causal, na qual o prejudicado deve comprovar a culpa do Estado e vinculá-la a ação e/ou
omissão do Estado e o dano causado (objetivo).
5.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O vocábulo “responsabilidade”, segundo o dicionário Aurélio, é a “obrigação de
responder pelas ações próprias, pelas dos outros ou pelas confiadas,” já na seara jurídica
constitui uma obrigação de reparar ou executar ato jurídico que se tenha acordado.
Gonçalves (2010, p. 19) comenta: “existem várias acepções da palavra
responsabilidade. Dentre as várias existentes, algumas fundadas na doutrina do livre arbítrio,
167
outras em motivações psicológicas, destaca-se a noção de responsabilidade como aspecto da
realidade social”
A responsabilidade civil da administração pública após sua evolução histórica é
normatizada com algumas mudanças na Constituição Federal/88 e a criação da lei específica
nº 8.112, de 11/12/90 que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da
União, das autarquias e das fundações públicas federais e em nível estadual são
regulamentados por seus estatutos.
Na Constituição Federal/88 está prevista no § 6º e caput do art. 37:
A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.
Esse dispositivo confirma a responsabilidade objetiva do Estado que se fundamenta
na teoria do risco administrativo.
Os serviços são prestados pelo Poder Público de forma direta ou indireta (regime de
concessão ou permissão), como dispõe o dispositivo legal: art. 175 da CF/88:
Art. 175. Incumbe ao poder público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços
públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as
condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.
No estado democrático, o Estado é investido de Poder emanado do povo em função
do bem comum, com essa outorga popular cabe-lhe responder por suas próprias ações e/ou as
que lhe foram confiadas.
Assim, explica Pietro (2007, p. 638) sobre a responsabilidade do Estado:
Quando se fala em responsabilidade do Estado, está se cogitando dos três tipos de
funções pelas quais se reparte o poder estatal: a administrativa, a jurisdicional e a
legislativa. Fala-se, no entanto, com mais frequência, de responsabilidade resultante
de comportamentos da Administração Pública, já que, com relação aos Poderes
Legislativo e Judiciário, essa responsabilidade incide em casos excepcionais.
Ao infringir as regras estabelecidas na forma de lei, o Estado, pessoa jurídica de
direito público, responde pelo dano causado quer por seus próprios atos, quer pelos causados
168
por meio dos seus agentes. Havendo a culpabilidade estatal comprovada a penalidade é
aplicada nas três esferas do Poder Estatal: a administrativa, a jurisdicional e a legislativa.
Portanto, o ressarcimento na ordem civil é de forma pecuniária.
Lei nº 8.112, de 11/12/90:
Art. 121. O servidor responde civil, penal e administrativamente pelo exercício
irregular de suas atribuições.
Art. 122. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou
culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou a terceiros.
Art. 123. A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções imputadas ao
servidor, nessa qualidade.
Art. 124. A responsabilidade civil-administrativa resulta de ato omissivo ou
comissivo praticado no desempenho do cargo ou função.
Art. 125. As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo
independentes entre si.
Diante desse pressuposto, o Estado pode ser responsabilizado com base em duas
modalidades: contratual e extracontratual. Enquanto que na responsabilização contratual, é
caracterizada pelas relações negociais, de direito privado, sob a égide dos contratos
administrativos e fundamentada nos casos de inadimplência de uma obrigação.
Souza (2012, p. 2) afirma que: “a responsabilidade civil é um conceito vindouro
do direito privado, elencado no direito civil e se manifesta com a ocorrência do
descumprimento da obrigação, pelo não atendimento a uma regra contratual ou legal.”
Já na responsabilidade extracontratual do Estado, a sua responsabilidade origina-
se de qualquer serviço prestado por ele, independente da preexistência de um contrato, isto é,
uma responsabilidade resultante de atos ou comportamentos, lícitos ou ilícitos, que causem a
pessoas danos ou ônus maior do que os suportados pelos administrados.
Vale lembrar, conforme dispõe Carvalho Filho (2009, p. 382):
Que as normas jurídicas são autônomas entre si, por conseguinte os fatos resultantes
também o serão. Não há uma correlação direta entre elas, pois a responsabilidade
civil não necessariamente gera a responsabilidade penal ou administrativa.
O foco deste estudo dá-se na responsabilidade extracontratual, nesta conjetura os
elementos estruturais da responsabilidade aquiliana ou os pressupostos do dever de indenizar
são quatro: ação ou omissão, culpa ou dolo do agente, relação de causalidade e o dano, estes
serão descritos a seguir.
5.3 A RESPONSABILIDADE ESTATAL POR OMISSÃO E COMISSÃO
O Estado é sujeito abstrato, logo para existir é representado por seus agentes públicos
devidamente selecionados através de concurso. Eles têm leis específicas que regulam seus
169
direitos e deveres. Sendo eles subordinados ao Estado, quem responderá juridicamente pelos
danos que porventura causem a outrem será o próprio Estado, podendo este entrar,
posteriormente, com uma ação de regresso contra o agente.
Carvalho Filho (2009, p. 600) distingui os agentes:
Por ser o Estado um ente abstrato, sem vontade própria, como pessoa jurídica atua
através de seus agentes, que são pessoas físicas dotadas de vontade real [...] Deve
considerar‐se, por conseguinte, que na noção de agentes estão incluídas todas
aquelas pessoas cuja vontade seja imputada ao Estado, sejam elas dos mais elevados
níveis hierárquicos e tenham amplo poder decisório, sejam elas os trabalhadores
mais humildes da Administração, no exercício das funções por ela atribuídas. Diante
disso, são agentes do Estado os membros dos Poderes da República, os servidores
administrativos, os agentes sem vínculo típico de trabalho, os agentes colaboradores
sem remuneração, enfim todos aqueles que, de alguma forma, estejam juridicamente
vinculados ao Estado. Se, em sua atuação, causam danos a terceiros, provocam a
responsabilidade civil do Estado.
Assim, ressalta-se a diferença entre agente e servidor. O primeiro, (o agente) é toda
pessoa incumbida de um serviço público, em caráter permanente ou transitório, e o segundo, o
servidor, é aquele que tem relação de trabalho com o Estado. No caso de responsabilidade
estatal se o agente a serviço do Estado tiver envolvido no ato danoso o Estado responderá
juridicamente por esse agente.
Cavalieri Filho (2009, p. 236) “Não se faz mister, portanto, que o exercício da função
constitua a causa eficiente do evento danoso; basta que ela ministre a ocasião para praticar‐se
o ato. A nota constante é a existência de uma relação entre a função pública exercida pelo
agente e o fato gerador do dano”
Observa-se que na primeira constituição do Brasil em 1824, outorgada por D. Pedro
I, no início do Império, reconhecia a responsabilidade civil na Administração Pública, ou seja,
a responsabilidade civil ocorreu desde seus primórdios não havendo portanto período de
irresponsabilidade estatal. Tal fato é justificado no seu artigo 178, ao estabelecer que: "Os
empregados públicos são estritamente responsáveis pelos abusos e omissões praticados no
exercício de suas funções, e por não fazerem efetivamente responsáveis aos seus subalternos".
Tal fato repetiu-se na Constituição Republicana de 1891, que no art. 82, onde se
decreta que “os funcionários públicos são estritamente responsáveis pelos abusos e omissões
em que incorrerem no exercício de seus cargos, assim como pela indulgência ou negligência
em não responsabilizarem efetivamente seus subalternos”.
Observa-se que tanto a constituição de 1824 quanto a de 1891 não houve a previsão
da responsabilidade do Estado, atribuindo a responsabilidade do dano à ação do funcionário.
170
O primeiro dispositivo legal de responsabilização civil do Estado foi estabelecido
pelo Código de Processo Civil de 1916 em seu art. 15 que decreta:
As pessoas jurídicas de direito público são civilmente responsáveis por atos de
seus representantes que nessa qualidade causem danos a terceiros, procedendo de
modo contrário ao direito ou faltando a dever prescrito por lei, salvo o direito
regressivo contra os causadores do dano. (BRASIL, CÓDIGO CIVIL, 1916 (Grifo
Nosso).
Na Constituição de 1946 a responsabilidade civil estatal acontecia da seguinte
maneira: o terceiro comprovava a relação de causalidade entre conduta estatal e dano e
recebia a reparação civil.
Cavalieri Filho (2009, p. 235):
Destarte, a partir da Constituição de 1946, a responsabilidade civil do Estado
brasileiro passou a ser objetiva, com base na teoria do risco administrativo, onde não
se cogita da culpa, mas, tão‐somente da relação de causalidade. Provado que o dano
sofrido pelo particular é consequência da atividade administrativa, desnecessário
será perquirir a ocorrência de culpa do funcionário ou, mesmo, de falta anônima do
serviço. O dever de indenizar da Administração impor‐se‐á por força do dispositivo
constitucional que consagrou o princípio da igualdade dos indivíduos diante dos
encargos públicos.
Entende-se portanto que, há uma igualdade de responsabilidades jurídicas que se
refere às pessoas jurídicas de direito público e de direito privado prestadoras de serviços
públicos.
Para haver a responsabilidade civil, depende da presença do nexo de eventualidade
entre a atuação ou não do agente e o dano, além disso, é fundamental a prova dessa relação de
causalidade.
Para ocorrer dano, tem que haver relação entre a causa e o evento danoso, o que
chamamos de nexo ou vinculação de causalidade. Silva (2012, p. 2) aduz que nexo de
causalidade é “uma relação necessária entre o fato incriminado e o prejuízo. É necessário que
se torne absolutamente certo que, sem esse fato, o prejuízo não poderia ter lugar”
Conforme Pietro (2007, p. 1):
Podemos assentar que a responsabilidade extracontratual do Estado corresponde à
obrigação de reparar danos causados a terceiros em decorrência de comportamentos
comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos, lícitos ou ilícitos, imputáveis aos
agentes públicos.
A responsabilidade civil advém de um dano ou prejuízo suportado pelo terceiro
lesado. Sem dano, não existirá responsabilidade. Não imperiosamente esse prejuízo terá fundo
patrimonial. Hoje em dia, o preceito majoritário indica duas formas de danos: o material ou
patrimonial e o dano moral.
171
Silva, (2012, p. 2):
Dano material ou patrimonial, aquele que surge a partir de fato causador de efetiva
lesão ao indivíduo e o dano moral, que adentra a seara íntima do terceiro, causando-
lhe malefícios de ordem física e psíquica, com profundo sentimento de dor.
Nota-se para o fato de que a omissão só se configura como uma responsabilidade de
reparar quando a ação era vital para evitar o dano, o agente tinha o compromisso jurídico de
perpetrar determinado ato ou quando o servidor público realizou o ato de forma omissa,
negligente, leviana ou com incompetência trazendo adversidades ao particular.
A responsabilidade civil do Estado pode ocorrer por comissão (ação) ou por omissão.
Quando for por conduta comissiva praticada pelo agente a responsabilidade do Estado será
objetiva (dispensa-se a análise da culpa e o Estado terá que indenizar). Porém quando o
Estado gera o dano a terceiros a conduta é omissiva.
Assim, o Estado tem responsabilidade objetiva quando ocorre uma conduta
comissiva, e adotada a teoria do risco administrativo, contudo precisa ter os pressupostos
necessários: ação do Estado, dano e nexo causal entre ambos. Ressalta-se que pode ocorrer
excludente de responsabilidade ou atenuantes como será estudado no item a seguir.
5.4 CAUSAS EXCLUDENTES E ATENUANTES
A responsabilidade civil do Estado adotou a teoria do risco administrativo, esse risco
aceita dois tipos de causas: as excludentes e as atenuantes, ambas vinculadas à ideia de
causalidade.
Para não ser responsabilizado o Estado deve evidenciar a sua não participação e/ou
conduta do lesado para o dano e assim caracterizar a sua condição de vítima (excluindo sua
responsabilidade) ou que sua ação não foi a única causa do dano (atenuante), caso não consiga
provar sua inocência, o ente estatal virá a assumir toda a responsabilidade.
Para Bittar (1985, p. 81) “São princípios básicos: a necessidade de previsão legal da
excludente, a necessidade de prova no caso concreto e a elisão, para o imputado, da realização
do efeito da responsabilidade”.
Ressalta-se que nesse caso, o Estado fica liberado de ressarcir a vítima, ou seja, a
causa de excludente de responsabilidade deve ocorrer quando o próprio lesado foi o único
causador do dano (culpa exclusiva), caracteriza-se como de um caso de autolesão.
Em referência à culpa exclusiva da vítima, é certo que o Estado não tem o dever de
indenizar o prejudicado, se o lesionado deu causa à ocorrência, e o agente foi um simples
instrumento para tanto, excluindo assim o nexo causal
172
A observação do nexo de causalidade entre a atuação do agente no exercício de suas
funções e o dano ou prejuízo ocasionado à vítima constituem-se nas primícias a serem
observadas . Não existindo o vínculo subjetivo ou este é interrompido, originam as causas
excludentes da responsabilidade, enumeradas pela doutrina e construídas firmemente na
jurisprudência a saber: força maior, culpa da vítima e culpa de terceiro.
Di Pietro (2007, apud SILVA, 2012, p. 3) conceitua:
Conceitua força maior como o acontecimento imprevisível, inevitável e estranho à
vontade das partes, por exemplo, uma tempestade ou um raio. Este tipo de evento
não pode ser imputado ao Estado, pois independe de sua vontade. Ademais, não há
nexo de causalidade entre as ocorrências.
No parágrafo único do art. 393 do Código Civil de 2002 conceitua o caso fortuito e a
força maior: “O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos
não era possível evitar ou impedir”.
Porém, não está pacificado o entendimento do conceito de caso fortuito e de força
maior, pois vários autores conceituam de forma diferente em função de ponto de vista
variado, havendo ainda quem atribua que as expressões são sinônimas.
Diniz (2007, p. 53) assevera que “a força maior é decorrente de um fato da natureza
e sendo assim, é conhecido o motivo que deu origem ao fato danoso. Já no caso fortuito esse
motivo é desconhecido.”
Enquanto que Cavalieri Filho (2009, p. 235) “infere que caso fortuito é um evento
imprevisível e inevitável, já a força maior é inevitável, ainda que previsível, já que se refere a
fato superior às forças do agente.”
Cabe lembrar que existe uma exceção na responsabilidade do Estado no caso de
omissão nas prestações de serviços básicos que der causa ao dano.
Silva (2012, p. 6):
Entretanto, essa regra comporta exceção no caso de omissão do Estado. Se ocorrer
um motivo de força maior, o Estado poderá ser responsabilizado nos casos em que
se omitir em realizar um serviço. Exemplifiquemos: uma enchente destrói a cidade
de São Paulo – SP, caso reste comprovado que o Poder Público foi omisso em
realizar obras de hidrovia e limpeza de bueiros, o que ampliou os efeitos da
enchente, este deverá reparar.[...] um exemplo claro dessa situação é o tráfico de
drogas, situação amplamente conhecida pelo Poder Público, que quando não
combatida gera assaltos, assassinatos e outros ilícitos suportados pelo particular
quando desprotegidos.
A responsabilidade estatal estará caracterizada nos casos de ato de terceiros (culpa de
terceiro) ou ato de multidões, quando comprovadamente existir a omissão do Estado, em
proteger o patrimônio dos cidadãos e evitar os danos ocasionados pela multidão.
173
Entende-se por terceiro, qualquer pessoa que além do lesado ou vitimado e do
responsável pelo dado, também contribuiu para que o fato danoso ocorresse. Para que ocorra a
transferência de responsabilidade a terceiros faz-se necessário que exista uma quebra de nexo
de causalidade do agente, para que seja excluída sua responsabilidade. Com isso,
comprovando-se que o ato praticado pelo terceiro eliminou a relação de causalidade entre o
evento danoso e o ato do agente.
Em se tratando de nexo causal e não da culpa, há de se distinguir um fato exclusivo
da vítima da culpa exclusiva da vítima. O art. 945 Código de Processo Civil de 2002, traz a
luz do conhecimento apenas a culpa concorrente, “Se a vítima tiver concorrido culposamente
para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua
culpa em confronto com a do autor do dano.”
Caso o fato danoso tenha como autor, além do terceiro a colaboração da vítima, eles
são responsáveis solidários pela obrigação de indenizar, cabendo ao ofendido a possibilidade
de escolher quem vai ser acionado para pagamento da indenização.
O art. 942 do Código Civil de 2002 define:
Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam
sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos
responderão solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os coautores e as
pessoas designadas no art. 932.
Como foi visto no art. 945 no Código Civil as atenuantes estão presentes se houver
concurso parcial da vítima ou do ofendido, nesse caso, o Estado indenizará proporcionalmente
a sua concorrência para o evento danoso.
5.5 A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
A responsabilidade ambiental ocorre para os bens que compõem o meio ambiente
que são divididos em quatro aspectos: meio ambiente natural, meio ambiente artificial, meio
ambiente cultural, e meio ambiente do trabalho, porém ressaltasse a importância da unicidade
que fazem parte, ou seja, todos eles são importantes para a preservação do meio ambiente
saudável, de forma que a degradação de um deles importará em consequências aos demais.
Para Pinheiro (2010, 114):
A responsabilização pelo meio ambiente constitui tema central na seara da proteção
ao bem ambiental. Por se tratar de uma responsabilidade o indivíduo ou a
coletividade é parte legítima para responder, de forma legítima ou remediadora, pela
tutela do referido bem que a sua proteção poderá efetivar-se.
174
Cabe o dever jurídico Constitucional de preservação para que se cumpra a
transmissão do patrimônio ambiental de geração a geração. Assim, no presente subcapítulo,
será tratado sobre a amplitude e especificidades da responsabilização pelo meio ambiente.
Serão abordados: Responsabilidade pelo meio ambiente, Responsabilidade por dano ao meio
ambiente, Âmbitos de Responsabilidade no Direito Ambiental: Administrativo, Civil e Penal,
e por fim Responsabilidade do Estado por danos ao meio ambiente do trabalho.
5.5.1 Responsabilidade pelo meio ambiente
O meio ambiente é considerado uma dimensão dos direitos fundamentais que se
caracteriza por pertencer a toda coletividade, é um direito autônomo e unitário, sua tutela
maior é proteger o direito à vida.
Como a vida é o bem mais precioso a ser preservado, o meio ambiente possui sua
tutela diferenciada dos demais direitos, sua responsabilidade é objetiva bastando uma mera
criação de risco com relação de causalidade entre o autor e o resultado para comprovar sua
existência.
O binômio dano-ressarcimento é critério da objetividade no Direito Ambiental,
ressalta-se que o dano nesse direito não opera como uma constante e sim como uma variável
em função de determinações legais que ligam os máximos e os mínimos com os prejuízos
juridicamente relevantes. É interessante essa variável do dano ambiental, pois se for acima do
limite pagamos todos, abaixo não pagamos nada.
Para o Direito Ambiental a função preventiva é a mais importante medida para evitar
a responsabilização pelos danos ambientais, pois o ressarcimento em dinheiro, na maioria das
vezes, não é relevante, pois os danos causados são irreversíveis.
Portanto, sabe-se que há uma vasta legislação de proteção ambiental, porém de nada
adianta se seu sistema funcional for precário. A prevenção torna-se uma espécie de
responsabilização que pode anteceder ao dano, o que se espera é que não ocorra piores
problemas ambientais no Brasil e no mundo, por falta da responsabilização antecipada ao
dano.
5.5.2 Responsabilidade por dano ambiental
Antes de adentrar na questão da responsabilidade por dano ambiental é necessário
que se defina dano ambiental:
175
No dizer de Antunes (2000, p. 181) ele define “ dano ambiental como sendo “a
poluição que, ultrapassando o limite do desprezível, causa alterações adversas ao ambiente”.
Segundo Édis Milaré (2001, p. 421-422) “dano ambiental é a lesão aos recursos
ambientais, com consequente degradação - alteração adversa ou in pejus - do equilíbrio
ecológico e da qualidade de vida”.
A Constituição Federal/88 não conceituou dano ambiental, todavia a Lei 6.938/81
trouxe características basilares em seu inciso III do art. 3º:
Art. 3º III – poluição é a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades
que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos.(Grifo Nosso)
Observa-se no vocábulo “poluição”, e acredita-se que exista associação à ideia de
degradação ambiental, logo, dano ambiental. Assim, dano ambiental é toda lesão causada
diretamente ao meio ambiente, que cause dano ao direito difuso.
Por se tratar de uma responsabilidade por dano ambiental é imprescindível a
identificação do agente causador do dano para que o mesmo receba a sanção cabível da
responsabilização.
Para Pinheiro (2010, p. 115) “Quando a proteção preventiva não subsiste e a lesão ao
meio ambiente se produz, torna-se necessário que ocorra a responsabilização pelo dano
causado para que o bem ambiental afetado, na medida do possível, possa ser restabelecido”.
No Brasil, é recente a conscientização da relevância da proteção ao meio ambiente
bem como sua responsabilização. Embora no país tenha tido outras constituições, a
Constituição Federal de 1988 foi um marco na legislação ambiental brasileira, em seu caput
do art. 225 rege que “[...] impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” (Grifo Nosso), porém a
responsabilização ambiental surge no § 1º do mesmo artigo “Para assegurar a efetividade
desse direito, incumbe ao Poder Público” (Grifo Nosso).
Diante disso, cabe a responsabilização ambiental, segundo a Constituição Federal/88,
a União, Estados, Distrito Federal e Municípios. E de forma inovadora, estabelece a proteção
do meio ambiente como princípio da ordem econômica, no art. 170.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
176
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as
leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei. (Grifo Nosso)
A lei nesse dispositivo constitucional traz fundamentos à valorização do trabalho
humano e a livre iniciativa privada assegurando a todos acesso à atividade econômica. Um
novo pensar sobre o desenvolvimento econômico está levando em conta a preservação
ambiental, porém uma visão estritamente econômica só vem prejudicar os impactos
ecológicos no processo produtivo e com isso deve existir a reparação dos danos.
5.5.3 Âmbito de Responsabilidade no Direito Ambiental
No Direito Ambiental a responsabilidade é tríplice, segundo dispõe o artigo 225, § 3º
da Constituição Federal: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.
O dispositivo constitucional supracitado reconhece três modalidades de
responsabilidades que são independentes entre si, possuem sanções diferenciadas e têm
normas específicas: a administrativa, a criminal e a civil. Observa-se que esses tipos de
sanções não são uma exclusividade do Direito Ambiental, ou seja, essas sanções são adotadas
pelo poder público em outras situações que envolvam dano a bem de interesse público.
Mukai (2008, p. 1) comenta sobre os tipos de sanções existentes no Direito
Ambiental: “Quanto ao tipo de sanção, verifica-se que ela pode ser: de ordem moral
(advertência), patrimonial (multa ou a indenização decorrente da responsabilidade civil), ou a
limitação da liberdade”.
Essas responsabilidades geradas pelo dano ambiental ou ecológico têm as mesmas
sanções no tocante as outras repercussões jurídicas. Ressalta-se, que cada responsabilidade
supracitada possuem normas específicas, logo possuem suas próprias especificidades.
177
5.5.3.1 Responsabilidade no âmbito administrativo
É obrigação do Estado assegurar um meio ambiente equilibrado e saudável para
todos como rege a Constituição Federal/88, e para efetivar essa defesa precisa usar suas
medidas legais que ocorrem através do exercício do Poder de Polícia Ambiental.
Silva (2013, p. 325) conceitua a responsabilidade administrativa:
A responsabilidade administrativa resulta de infração a normas administrativas,
sujeitando-se o infrator a uma sanção de natureza também administrativa:
advertência, muito simples, interdição de atividade, suspensão de benefícios, etc.
Corroborando Américo Luís Martins da Silva (2004, p. 682) cita:
A responsabilidade por danos causados ao meio ambiente (...) diz respeito à
obrigação de determinada pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responder por um fato ou ato omissivo que causa dano ou lesão ao meio ambiente e
reparar tal dano de maneira in natura ou pecuniária.
A responsabilidade administrativa no Direito Ambiental é imposta pelo poder de
polícia administrativo a todas as pessoas (físicas ou jurídicas) que venham causar danos ao
bem ambiental tutelado. Todos os entes federativos do Brasil dispõem desse poder, que deve
condicionar e restringir o uso e gozo dos bens, objeto da infração ou sanção, assim cada um
ente impõe seus limites obedecendo normas constitucionais estabelecidas, aplicando, assim,
as sanções nos casos concretos de desobediência às ordens legais.
As infrações administrativas e suas sanções estão previstas na Lei n. 9.605/98 bem
como as sanções penais e administrativas, elas dispõem sobre as condutas e atividades lesivas
ao meio ambiente. Essa lei esclarece pontos importantes sobre os direitos e obrigações dos
sujeitos envolvidos nesse tipo de infração que ocorre no meio ambiente, como: o conceito,
peça informativa equivalente, competência, representação, forma, prazos, sanções direitas e
por omissão, valor da multa, responsáveis direto e coautores, destinação do valor arrecado na
multa.
A formalização das sanções por responsabilidade administrativas ambientais requer a
instauração de processo administrativo punitivo que observa os princípios processuais
presentes na constituição, como: precisa ter o nome do infrator, o fato da infração, local, hora
e data do fato, disposição legal do pedido, penalidade a ser aplicada, oportunidade do
contraditório com tempo para a defesa do infrator, entre outros.
Essa lei conceitua infração administrativa em seu art. 70 “Considera-se infração
administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo,
promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.”
178
Em seu § 1º delimita as autoridades competentes para aplicá-la:
São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar
processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema
Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de
fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da
Marinha.
Em seu § 2º traz quem tem legitimidade de propor a ação: “Qualquer pessoa,
constatando infração ambiental, poderá dirigir representação às autoridades relacionadas no
parágrafo anterior, para efeito do exercício do seu poder de polícia.”
No § 3º estabelece sanção para a autoridade que for omissa frente à infração: “A
autoridade ambiental que tiver conhecimento de infração ambiental é obrigada a promover a
sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de
corresponsabilidade.”
O § 4º cita a forma legal, o procedimento a seguir nesse tipo de processo: “As
infrações ambientais são apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o direito
de ampla defesa e o contraditório, observadas as disposições desta Lei.”
Estabelece os prazos no processo administrativo, em seu art. 71:
Art. 71. O processo administrativo para apuração de infração ambiental deve
observar os seguintes prazos máximos:
I - vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o auto de
infração, contados da data da ciência da autuação;
II - trinta dias para a autoridade competente julgar o auto de infração, contados da
data da sua lavratura, apresentada ou não a defesa ou impugnação;
III - vinte dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior
do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e
Costas, do Ministério da Marinha, de acordo com o tipo de autuação;
IV – cinco dias para o pagamento de multa, contados da data do recebimento da
notificação. (Grifo Nosso)
A aplicabilidade do tempo no processo são pontos importantes a serem observados
em qualquer tipo de ação judicial, assim observa-se que os prazos máximos não deve
ultrapassar trinta dias, logo o processo é considerado célere na resolução da lide.
O art. 72 da Lei 9605/98 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas
de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente:
As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o
disposto no art. 6º:
I - advertência;
II - multa simples;
III - multa diária;
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos,
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade;
179
VIII - demolição de obra;
IX - suspensão parcial ou total de atividades;
X - (VETADO)
XI - restritiva de direitos. (Grifo Nosso)
§ 1º Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-lhe-ão
aplicadas, cumulativamente, as sanções a elas cominadas.
§ 2º A advertência será aplicada pela inobservância das disposições desta Lei e da
legislação em vigor, ou de preceitos regulamentares, sem prejuízo das demais
sanções previstas neste artigo.
§ 3º A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo:
I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no
prazo assinalado por órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos,
do Ministério da Marinha;
II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA ou da Capitania dos
Portos, do Ministério da Marinha.
§ 4° A multa simples pode ser convertida em serviços de preservação, melhoria e
recuperação da qualidade do meio ambiente.
§ 5º A multa diária será aplicada sempre que o cometimento da infração se
prolongar no tempo.
§ 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos IV e V do caput obedecerão ao
disposto no art. 25 desta Lei.
§ 7º As sanções indicadas nos incisos VI a IX do caput serão aplicadas quando o
produto, a obra, a atividade ou o estabelecimento não estiverem obedecendo às
prescrições legais ou regulamentares.
§ 8º As sanções restritivas de direito são:
I - suspensão de registro, licença ou autorização;
II - cancelamento de registro, licença ou autorização;
III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais;
IV - perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de crédito;
V - proibição de contratar com a Administração Pública, pelo período de até três
anos.
Em seu art. 73 é esclarecido a destinação dos valores arrecadados das multas
ambientais:
Os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental serão
revertidos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, criado pela Lei nº 7.797, de 10 de
julho de 1989, Fundo Naval, criado pelo Decreto nº 20.923, de 8 de janeiro de 1932,
fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos, conforme dispuser
o órgão arrecadador.
Ao estabelecer a base para o cálculo da multa foi escolhida a forma discricionária, ou
seja, dependerá do caso concreto e do objeto lesado art. 74: “A multa terá por base a unidade,
hectare, metro cúbico, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto
jurídico lesado”.
Em se tratando de valores da multa foi fixado valores no art.75: “O valor da multa de
que trata este capítulo será fixado no regulamento desta Lei e corrigido periodicamente, com
base nos índices estabelecidos na legislação pertinente, sendo o mínimo de R$ 50,00
(cinquenta reais) e o máximo de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais).
180
E finalmente o art. 76 regulamenta sobre a incidência na cobrança: “O pagamento de
multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa
federal na mesma hipótese de incidência.
5.5.3.2 Responsabilidade Civil
A responsabilidade no âmbito civil está explícito na parte final do § 3º do art. 225 da
CF/88, porém com um sinônimo „reparar os danos causados‟, vejamos: “As condutas e
atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, as sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar
os danos causados.”(Grifo Nosso). E também consta no art. 14, § 4º da Lei n. 6.938/81: “[...]
a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
atividade.[...]”
Silva (2010, p. 335) conceitua:
A responsabilidade civil é a que impõe ao infrator a obrigação de ressarcir o
prejuízo causado por sua conduta ou atividade. Pode ser contratual, por
fundamentar-se em um contrato, ou extracontratual, por decorrer de exigência legal
(responsabilidade legal) ou de ato ilícito (responsabilidade por ato ilícito), ou até
mesmo por ato lícito (responsabilidade de risco).
Como já foi analisado no item 5.2 desta dissertação a responsabilidade civil é
objetiva, logo basta a existência do dano e do nexo com a fonte degradadora para que ela se
estabeleça.
Para Colombo (2006, p. 1): [...] “A responsabilidade civil impõe a obrigação de o
sujeito reparar o dano que causou a outrem. É o resultado de uma conduta antijurídica, seja de
uma ação, seja de uma omissão, que se origina um prejuízo a ser ressarcido.”
Existem dois tipos diferentes de reparações da responsabilidade civil ambiental
presentes nos dispositivos legais: a reparação in natura ou em pecúnia: art.14 § 1º da Lei
6.938/81, § 2º do art. 9º da Lei 6.902/81 e § 2º do Art. 225 CF/88:
No art.14 §1º da Lei 6.938/81:
Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. (Grifo
Nosso).
§ 2º do art. 9º da Lei 6.902/81:
- Nas Áreas de Proteção Ambiental, o não cumprimento das normas disciplinadoras
previstas neste artigo sujeitará os infratores ao embargo das iniciativas irregulares, à
medida cautelar de apreensão do material e das máquinas usadas nessas atividades, à
obrigação de reposição e reconstituição, tanto quanto possível, da situação
181
anterior e a imposição de multas graduadas de Cr$ 200,00 (duzentos cruzeiros) a
Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros), aplicáveis, diariamente, em caso de infração
continuada, e reajustáveis de acordo com os índices das ORTNs - Obrigações
Reajustáveis do Tesouro Nacional.(Grifo Nosso)
§ 2º do Art. 225 CF/88:
Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente,
na forma da lei. (Grifo Nosso)
Assim, a responsabilização civil dos danos ambientes jamais irá fazer reintegrar o
bem ambiental ao status quo ante, mas seu ressarcimento existe e é complexo, pois o
beneficiário pode ser o meio ambiente ou uma pessoa. Quando for uma pessoa o
ressarcimento estará direcionado a ela, mas quando o beneficiário do ressarcimento for o meio
ambiente o valor pago será depositado no Fundo de Defesa dos Direitos Difusos criado pela
Lei n. 9008/1995.
O que se espera é que os valores do ressarcimento dos danos aplicados nesse Fundo
de Defesa dos Direitos Difusos retornem a quem é de direito, o povo, isso pode acontecer
através de benefícios que tragam bem-estar a toda sociedade lesada, e quando o bem lesado
afetar uma classe, como foi o caso do meio ambiente do trabalho dos professores das escolas
públicas da rede estadual de ensino do Amazonas que foram infligidos, o valor deve ser
aplicado em ações preventivas para elidir ou minimizar tal situação.
5.5.3.3 Responsabilidade Penal
A Constituição Federal de 1988 traz em seu art. 225 uma tutela ampla ao meio
ambiente e impõe ao poder público e a coletividade o dever de protegê-lo, assim o Direito
Penal Ambiental vem contribuir como parte integrante do Estado para efetivação de sua
defesa através de suas sanções.
Silva (2010, p. 330) declara:
A qualidade do meio ambiente é um valor fundamental, é um bem jurídico de alta
relevância, na medida mesma em que a Constituição o considera bem de uso comum
do povo, essencial à sadia qualidade de vida, que o Poder Público e a coletividade
devem defender e preservar.
Na esfera penal ambiental, a Constituição Federal de 1988 trouxe inovações: no § 3º
do art. 225 da Constituição Federal/88 que rege sobre as condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
182
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”(Grifo Nosso). Esse artigo foi
regulamentado posteriormente pela Lei n. 9.605/98.
A inovação inclui a pessoa jurídica para responder juridicamente por lesões ao meio
ambiente, basta a conduta dolosa advinda de uma decisão de seu representante legal ou
contratual ou de seu órgão colegiado que tenha tido, com isso, algum benefício.
A Lei 9.605/98 que “dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente” sistematizou os crimes contra o meio
ambiente que antes estavam estabelecidos em legislações esparsas, recepcionando todos os
aspectos do meio ambiente (o meio ambiente natural, o artificial, o cultural e o do trabalho):
Nos art. 2º e 3º dessa lei pune a ação e a omissão das pessoas físicas ou jurídicas que
venham ter responsabilidade criminal ambiental:
Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos
nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem
como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o
auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da
conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir
para evitá-la.(Grifo Nosso)
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão
colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.(Grifo Nosso)
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas
físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.
As infrações na responsabilidade penal são de ação pública incondicionada, cabendo
ao Ministério Público propor a ação penal cabível segundo os dispositivos presentes no
Código de Processo Penal.
O art. 22 dessa lei retrata as penas restritivas de direitos da pessoa jurídica:
I - suspensão parcial ou total de atividades;
II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;
III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações. § 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem
obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio
ambiente.
§ 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver
funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com
violação de disposição legal ou regulamentar.
§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios,
subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos.
Já no art. 23 da mesma lei estabelece as penas de prestação de serviços à comunidade
pela pessoa jurídica:
183
I - custeio de programas e de projetos ambientais;
II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
III - manutenção de espaços públicos;
IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
A imposição e a gradação das penalidades estabelecidas estão presentes no art. 6º
dessa lei no item de aplicação da pena:
I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências
para a saúde pública e para o meio ambiente;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse
ambiental;
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.
As circunstâncias atenuantes e agravantes da pena e às excludentes de ilicitude
seguem o modelo dos dispositivos destinados aos crimes em geral.
Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:
I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou
limitação significativa da degradação ambiental causada;
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;
IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental.
Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou
qualificam o crime:
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;
II - ter o agente cometido a infração[...]
O art. 50-A dessa lei supracitada traz excludente de antijuridicidade direcionadas às
pessoas jurídicas de direito público:
Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou
nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão
competente: (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006). Pena - reclusão de 2 (dois) a 4
(quatro) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
§ 1o Não é crime a conduta praticada quando necessária à subsistência imediata
pessoal do agente ou de sua família. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
§ 2o Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil hectares), a pena será
aumentada de 1 (um) ano por milhar de hectare. (Incluído pela Lei nº 11.284, de
2006)
Diante do exposto, acredita-se que a aplicação da norma penal ambiental trouxe a
efetiva proteção ao meio ambiente geral, pois leva em consideração o resultado material
danoso ao meio ambiente antes daquele relativo ao simples cumprimento do dever legal,
porém como instrumento normativo precisa de atualizações que atendam os quatro aspectos
ambientais, principalmente o meio ambiente do trabalho.
184
5.5.5 Responsabilidade do Estado por danos ao meio ambiente do trabalho
A responsabilidade do Estado por danos ao meio ambiente do trabalho pode ser
objetiva ou subjetiva. O Estado, através de seus entes federativos pode ser responsabilizado
pelos danos causados ao meio ambiente do trabalho e com isso reparar ou ressarcir os
prejuízos causados.
Essa ideia de responsabilização do Estado é paradoxal, o Estado estabelece as leis
para aplicar contra ele mesmo, ou o Estado vai indenizar o lesado com o próprio recurso da
vítima, é no mínimo estranho.
Como foi estudado no item 5.3.3, a legislação ambiental traz três tipos de sanções: a
administrativa, penal e civil conforme seu § 3º do art. 225 da CF/88. Contudo, quando se
trata de Estado não cabe a responsabilidade criminal.
Em comentário ao art. 225 da CF/88, Ferreira (1995, p. 296) ensina que:
O direito ambiental encerra um conjunto de normas de caráter preventivo, repressivo
e reparatório, porém a tutela do meio ambiente superou ultimamente o estágio
repressivo e reparatório, fundamentado em regras de responsabilidade penal e civil,
para preocupar-se também com a prevenção do dano ambiental.
Observa-se a responsabilidade objetiva sobre o meio ambiente do trabalho no art.
200 da CF/88, inc. VIII, como parte integrante desta tutela. Como também no art. 14 da Lei
6.938/1981 (Política Nacional de Meio Ambiente) quando aponta, em seu § 1º, que: “Sem
obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao
meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos
Estados terão legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos
causados ao meio ambiente” (grifo nosso).
Os danos causados ao meio ambiente do trabalho afeta diretamente a saúde dos
trabalhadores, como não tem ainda um estudo sistêmico sobre o meio ambiente do trabalho,
acolhe-se o conceito de poluição, assim segundo a lei o empregador, inclusive o Estado, que
descumprir as normas de segurança e medicina do trabalho, que sujeitam o empregado à
condição de risco, é reconhecido como poluidor.
Celso Antônio Pacheco Fiorillo (2004, p. 45) bem define:
A responsabilidade civil pelos danos causados ao meio ambiente de trabalho é do
tipo objetiva, em decorrência de o art. 225, § 3º, da Constituição Federal preceituar
[....]. O art. 14, § 1º, da Lei 6.938/81 foi recepcionado pela Constituição, ao prever a
responsabilidade objetiva pelos danos causados ao meio ambiente [...] (grifo
nosso)
185
Quando for comprovada a negligência ou omissão do Estado nas cobranças de
estudos prévios constantes na lei, ou seja, não fiscalizou ou acompanhou as solicitações de
utilização do meio ambiente, e por ventura ocorra um dano ambiental ele será
responsabilizado.
Para Machado (2002, p. 51): “Deixar de buscar eficiência a Administração Pública
que, não procurando prever danos para o ser humano e o meio ambiente, omite-se no exigir e
no praticar medidas de precaução, ocasionando prejuízos pelos quais será corresponsável.”
Corroborando Sventnickas (2009, p. 43):
Além de preservar, compete à Administração Pública, restaurar o meio ambiente já
degradado por ela ou instigar os poluidores a recuperarem áreas degradadas, seja
através da promulgação de normas, seja por meio de ações judiciais. Destarte, a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, devem estar atentos as suas
obrigações, posto que a não observância das mesmas pode ensejar a
responsabilidade civil do Erário pelos danos aos meio ambiente, inclusive, ao meio
ambiente do trabalho.
A princípio tem-se a impressão de entendimentos dúbios entre a previsão legal e a
constitucional: pois, enquanto a Carta Política garante o direito à vida, saúde, segurança e
integridade física, a legislação ordinária admite uma espécie de permuta ou "barganha" com
questões relacionadas à segurança e à saúde ao regulamentar uma indenização ao trabalhador
por sua exposição a riscos.
O trabalhador diariamente é exposto a graus de riscos diferentes, apesar dos avanços
tecnológicos ocorridos nos últimos trinta anos. Salienta-se porém que, em algumas profissões
o risco é indiscutivelmente maior.
Alertam Ferreira e Figueiredo, que “o risco à vida existe não só em atividades
industriais, mas também em muitas das tidas como essenciais à sociedade”.
Anníbal Fernandes (1995, p. 248):
Há riscos nas sociedades modernas inconfundíveis com os riscos específicos
ocasionados pelo trabalho subordinado; essa distinção é do passado, do presente e,
até d‟onde se possa visualizar, alcança o futuro. Assim, prevenção e reparação
demandam medidas especiais para o infortúnio laboral, correspondendo a riscos
específicos.
Corroborando Leite (2000, p. 204) cita: “Pelos atos causadores de danos diretamente
ao meio ambiente do trabalho ou potencializem a criação de riscos ambientais laborais,
responde o Estado objetiva e solidariamente como qualquer outro particular”
Nesse diapasão Meirelles (1990, p. 550/553 ) cita que:
186
A Lei 6.938/81 e o parágrafo único do art. 225 da CF/88, reforça essa ideia do
disposto no § 6º do art. 37 da mesma constituição, que estabelece a responsabilidade
objetiva ao Estado e das pessoas prestadoras de serviços públicos pelos atos danosos
aos particulares.
Observa-se que a responsabilidade Estatal vai além do ato comissivo, o ato omisso
ocorre quando o poder público omite-se de um dever legal de obstar a ocorrência de tais
danos, ou seja, ele responde em virtude de sua omissão, posto que tinha o dever de impedir a
ocorrência do prejuízo por meio da fiscalização do cumprimento das normas ambientais do
trabalho e não o fez.
A responsabilidade será subjetiva quando for derivada da culpa anônima do serviço.
Como bem leciona Melo (2013, p. 311):
Essa responsabilidade, contudo, é subjetiva, embasada na culpa do Poder Público
pelo não exercício do poder fiscalizatório e de polícia administrativa. Em matéria de
danos decorrentes de condutas omissivas do Estado em geral, prevalece na doutrina
nacional o entendimento de que deve ser aplicado o princípio da responsabilidade
subjetiva, como afirma Nelson de Freitas Porfírio Júnior, embasado nos
ensinamentos de Celso Antônio Bandeira de Mello, que diz: “Quando o dano foi
possível em decorrência de uma omissão do Estado (o serviço não funcionou,
funcionou tardia ou ineficientemente) é de aplicar-se a teoria da responsabilidade
subjetiva. Com efeito, se o Estado não agiu, não pode, logicamente, ser ele o autor
do dano. E, se não foi o autor, só cabe responsabiliza-lo caso esteja obrigado a
impedir o dano. Isto é: só faz sentido responsabiliza-lo se descumprir dever legal
que lhe impunha obstar ao evento lesivo”.
Nessa responsabilidade subjetiva a omissão e falta de fiscalização do poder público
em procedimentos ambientais tem duas derivações denominadas objeto imediato e objeto
mediato, ambos são importantes. Assim, no poder mediato o poder público precisa aplicar
medidas futuras para que o problema não se repita, já aquele (objeto imediato) o poder
público precisa indenizar em dinheiro a manutenção do ambiente degradado para seu uso de
imediato.
Melo (2013, p. 313):
A responsabilidade do Estado surge, portanto, da ausência de serviço ou do seu mau
funcionamento e cuidadoso no vigiar, orientar e ordenar a saúde ambiental nos casos
em que as pessoas haja prejuízo ou potencialidade de riscos para o meio ambiente e
para as pessoas, respondendo, por isso, com o particular agente do dano.
A legislação brasileira estabelece em alguns de seus dispositivos que a União, por
meio do Ministério do Trabalho e Emprego é responsável pela fiscalização no meio ambiente
trabalho no que concerne a medicina e segurança do trabalho, como pode ser lido na CLT art.
155 e ss, Portaria n. 3.214/78, CF/88 art. 225 e art. 200, incisos II e III.
Caso não haja cumprimento dessas leis para efetivar a “segurança” dos
trabalhadores, ocorre a irresponsabilidade do poder público. Essa omissão dá legitimidade
187
para propositura de ações coletivas preventivas e reparatórias que podem ser propostas em
face do órgão público, isoladamente ou em litisconsórcio passivo com uma ou mais empresas,
que podem entrar com diversos pedidos (obrigação de fazer) que venha trazer bem estar aos
trabalhadores.
Melo (2013, p. 314) ainda assevera:
Cabe ao juiz, ao analisar a ação de responsabilidade por omissão do Estado, verificar
a conduta deste, ou seja, se ele realmente se omitiu do poder/dever específico de
cautela exigindo para aquela espécie de caso, sendo necessária a demonstração de
culpa por negligência, imprudência ou imperícia no serviço ou falta do serviço
ensejador do dano.
Quando o meio ambiente do trabalho não tem higidez pelo não cumprimento dos
dispositivos legais referentes à garantia da vida, de saúde e do bem estar do trabalhador por
parte dos empregadores, o poder público deve ser responsabilizado por isso, seu ato
comissivo ou omissivo traz consequências diretas aos lesionados e indireta à própria
sociedade, pois alguém precisa pagar (ônus) literalmente pelo erro. Está claro que o Estado
pode e deve ser responsabilizado por eventuais danos causados ao meio ambiente do trabalho
e à saúde do trabalhador.
O art. 225 da Constituição Federal/88 atribui ao Estado e à coletividade o dever de
defender e preservar o meio ambiente, e ainda compreende três espécies de ações que podem
ocorrer com a participação da sociedade:
a.1) Plebiscito (art. 14, I);
a) Iniciativas legislativas: a.2) Referendo (art. 14, II);
a.3) Iniciativa Popular (art. 14, III).
b.1) Direito de Informação (5°, XXXIII);
b) Medidas administrativas b.2) Direito de petição (5°, XXXIV, “a”);
b.3) Estudo prévio de impacto ambiental (225,
IV).
c) Medidas judiciais: c.1) Ação Popular (art. 5°, LXXIII);
. c.2) Ação Civil Pública (Lei 7347/85).
Existem diversos ordenamentos jurídicos que disciplinam o bem difuso, porém a lei
não possui eficácia sozinha, todos os segmentos da sociedade precisam participar, ter uma
consciência ética de proteção à vida, pois devem ocorrer mudanças significativas na política e
na economia onde o Poder Público tenha uma visão holística para a educação ambiental e o
povo se envolva na causa.
188
No que tange ao meio ambiente do trabalho, o legislador constitucional ainda no
artigo supracitado o incluiu na participação na divisão da responsabilidade pela proteção
ambiental, por acreditar que na relação trabalhista é impossível o Estado estar em todos os
lugares ao mesmo tempo, assim a participação dos interessados tornou-se mais eficaz e célere.
O Princípio da Participação no meio ambiente do trabalho envolve de três sujeitos
ativos: os empregados, com sua devida participação representativa dos trabalhadores
interessados (representação sindical ou comissão de interessados); os empregadores, e o
Estado (poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e pelo Ministério Público do Trabalho).
Santos (2010, p. 138):
As questões do ambiente do trabalho devem ser tratadas adequadamente, com
participação representativa dos trabalhadores interessados.[...] significa o direito do
trabalhador de participar de tudo que se refira a sua saúde e segurança por meio de
representação sindical ou comissão de interessados.
O Estado, por meio do Ministério do Trabalho e Emprego encarrega-se pela
elaboração, orientação, fiscalização e punição pelas normas preventivas e de melhoria dos
ambientes de trabalho.
Melo (2013, p. 65):
Não obstante todo esse aparato legal de instrumentalização do meio ambiente ainda
figura o Brasil como um dos grandes produtores de acidentes de trabalho, o que
requer atuação conjunta, e forma tripartite entre Estado (representante pelos mais
diversos órgãos públicos), empregadores e empregados numa verdadeira força-tarefa
participativa na busca da melhoria das condições de trabalho.
Melo (2013, p. 64) transcreve a aplicação do princípio da participação do meio
ambiente do trabalho:
Com relação ao meio ambiente do trabalho, sabe-se que existe o Estado, por meio do
Ministério Público do Trabalho e Emprego, encarregado não somente de elaborar
normas de prevenção e melhoria dos ambientes de trabalho, como estabelece o art.
156 da CLT, mas também de orientar trabalhadores e empregadores quanto ao
cumprimento dessas normas e fiscalizá-las, imprimindo sanções administrativas pelo
seu descumprimento. Essas sanções vão desde a aplicação de multas pecuniárias
previstas no art. 201 da CLT até a interdição de estabelecimentos, setores de
serviços, maquinários e equipamento ou embargo de obra (CLT, art. 161).
Ao Sistema Único de Saúde – SUS, cabe importante tarefa de executar as ações de
vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador, e
colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho (CF, art.
200, incisos II e VIII). Essa tarefa deve ser executada em conjunto e harmonia com o
Ministério do Trabalho e Emprego, com os Centros de Referência de Saúde do
Trabalhador e outros órgãos incumbidos da tutela ambiental do trabalho.
De outro lado, incumbe aos sindicatos, como parte da sociedade organizada, a defesa
dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões
judiciais e administrativas (CF, art. 8º, III), o que inclui o meio ambiente do
trabalho. Também com a tarefa de prevenir riscos ambientais no trabalho existem as
Comissões Internas de Prevenção de Acidentes – CIPA‟s, cujos representantes
eleitos pelos trabalhadores têm garantia de emprego para bem cumprirem o seu
papel (ADCT, art. 10, inciso II, letra a).
189
Nesse diapasão, o princípio da participação traz formas diversificadas e não
excludentes da sociedade participar da preservação do meio ambiente, pois apesar do meio
ambiente receber destaque no ordenamento jurídico brasileiro, não garante total proteção ao
meio ambiente do trabalho, assim a participação da comunidade constitui um sustentáculo à
sustentabilidade ambiental, pois serão os “olhos” do Estado, podendo mudar efetivamente os
parâmetros da política pública ambiental.
190
6 CONCLUSÃO
Diante do crescimento desordenado e insustentável do planeta surge o Direito
Ambiental para regulamentar as questões relacionadas ao meio ambiente com foco na
proteção do maior bem que temos, a vida. Zelando pelos macros e micros (de forma isolada)
bens existentes. Sabe-se que devido a amplitude do Direito Ambiental, o mesmo possui
quatro aspectos importantes (natural, artificial, cultural e o do trabalho) que o integram.
No Brasil a Constituição Federal de 1988 foi um marco histórico na busca de
soluções para a preservação e o desenvolvimento sustentável do meio ambiente, tal fato deve-
se à quantidade de recursos naturais existentes no país. Buscou-se através de leis,
reconhecidamente avançada, proteger os macro bens, porém observa-se que lacunas ainda
estão abertas à espera de regulamentação específica, como é o caso do meio ambiente do
trabalho.
Dentro dessa preocupação ambiental, contemplou-se analisar dentre os quatro
aspectos do Direito Ambiental o meio ambiente do trabalho, por ser indispensável e relevante
para assegurar o art. 225 da CF/88, pois trabalhar é condição essencial, não somente pela
manutenção financeira, mas pela dignificação da vida. A partir do estudo desenvolvido,
delimitou-se a presente dissertação em analisar o meio ambiente do trabalho do professor da
rede pública estadual de ensino da cidade de Manaus.
A partir da década de 60 começaram alguns estudos sobre o mal-estar docente e a
recomendação de 1966 da OIT/UNESCO é um exemplo disso, pois desde aquela época
procurava-se proteger o meio ambiente laboral dos professores, porém no Brasil não obteve
muita evolução.
Ficou evidenciado nesta pesquisa que, o meio ambiente laboral dos professores da
rede estadual de ensino no estado do Amazonas é inadequado, logo um bem jurídico está
sendo lesado e o Poder Público está inerte, pois o descaso é histórico.
A pesquisa demonstrou que esse mal-estar docente é proveniente de problemas
ambientais diversos, como: problemas psicossociais, ergonômicos, situacionais e doenças
ocupacionais.
O meio ambiente antiergonômico é proveniente da não observância dos patrões
técnicos exigidos por lei. Assim, nos resultados obtidos percebeu-se que as escolas públicas
estaduais de Manaus não possuem boas condições físicas (móveis e instrumentos) de trabalho
adequado, e os recursos pedagógicos e multimídia são insuficientes e limitados. A
agradabilidade do conforto térmico variou entre bom e regular, o que mostra
191
descontentamento com a situação. Segundo eles, a acústica não é a ideal para as salas, pois
tem muito barulho. Esses fatores externos do trabalho dos professores são importantes para a
análise apurada sobre o meio ambiente de trabalho. Tais condições ergonômicas inadequadas
só contribuem para que eles tenham estresse ocupacional.
Em relação à situação funcional dos professores a pesquisa demonstrou um
descaso: Falta de material de apoio didático-pedagógico, há superlotação das salas, ritmo
acelerado de trabalho, a sala de aula tem má circulação de ar, e 80% deles trabalham muito
tempo em pé, e não há uma modernização tecnológica que atenda as necessidades do
professor e do aluno. Na questão salarial houve um percentual de 100,0% de insatisfação, ou
seja, descontentamento geral dos professores pesquisados. Também há baixo investimento na
educação continuada do docente, e 40% dos professores afirmam que são desvalorizados.
Nas doenças ocupacionais dos professores houve um índice de 80% de docentes que
já foram acometidos por alguma doença ocupacional, e 72% deles responderam que não
trabalham num ambiente de trabalho saudável. Segundo 80,1% deles responderam que “às
vezes” já trabalharam doentes. Os 87,9% desses professores não têm oportunidade de
realizarem atividades de lazer e descanso, logo esses professores são sedentários com grandes
possibilidades de adoecerem. Esse resultado é confirmado com 83,6% das respostas positivas
dos docentes que responderam que possuem algum tipo de cansaço físico ou mental, sendo
que desse total 50,4% possui os dois tipos de cansaço. Dos 920 professores pesquisados
68,5% informaram que não possuem plano de saúde.
Dentre as doenças ocupacionais mais comuns que ocorrem no Meio Ambiente do
Trabalho dos professores das escolas públicas estaduais de Manaus destacaram-se a Síndrome
de Burnout (Sintomas Físicos e Mentais), LER (Lesões por Movimento Repetitivo) /DORT –
Distúrbios Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho, Doenças da Voz e Doenças
Psíquicas.
Na Síndrome de Burnout tanto física quanto psíquica constataram-se índices
preocupantes, porém na Síndrome de Burnout com sintomas físicos o destaque foi para o
elevado excesso de trabalho, e na Síndrome de Burnout com sintomas psíquicos o destaque
ficou para a ansiedade. Seu reconhecimento pelo Poder Público, como um problema sério
com implicações psicossociais, precisa ser visto com urgência, pois é uma doença silenciosa,
mas com consequências desastrosas na vida do professor.
Constatou-se que as doenças LER (Lesões por Movimento Repetitivo) /DORT –
(Distúrbios Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho) estão presentes na vida dos
professores da rede estadual pública de ensino de Manaus, neste item destacou-se a lombalgia
192
com 82,9% de professores que tiveram ou têm a doença, seguida de excesso de trabalho,
alergias, rinites, faringites crônicas que tiveram 76,2%.
O estudo pôde confirmar que os professores da amostra apresentam múltiplos sinais
e sintomas vocais, com destaque para a rouquidão com mais de 10 dias, seguidos dos nódulos
e edemas nas pregas e para finalizar com os pólipos. Espera-se que tal estudo possa ter
relevância uma vez que pode ser utilizado pelo poder público como parâmetro para
oportunizar a saúde da voz a esses trabalhadores, logo condições de bem-estar ao docente.
Os problemas relacionados à educação são complexos e numerosos, assim o
resultado das Doenças Psíquicas confirmou a existência de significativo índice para a
ansiedade nesta pesquisa. Seguido de estresse ocupacional com 58, 8% e depressão com
57,7%.
Nesse diapasão, analisou-se que 64% dos professores responderam que o ritmo de
trabalho acelerado em seu meio ambiente é real e possui várias causas, porém destaca-se o
descaso do Poder Público e da sociedade em relação a esse problema. O professor convive em
seu meio ambiente laboral com constantes violências verbais 59,9%, assédio moral 39,0%,
constrangimento por não acompanhar as inovações tecnológicas 26,0% e ainda, assédio
sexual 3,9%.
Segundo o resultado da pesquisa as situações de riscos que ocorrem no meio
ambiente do trabalho do professor é uma realidade em Manaus, as mudanças sócio, política,
econômica e tecnológicas trazem insegurança e consequências diretas à saúde desses
trabalhadores.
O absenteísmo é considerado um fenômeno multifatorial, pois pode decorrer de
várias causas, como: voluntário, compulsório, legal, por patologias profissionais e o
absenteísmo por doença ocupacional, porém nas escolas públicas estaduais de Manaus o
destaque foi para o absenteísmo por doenças ocupacionais que teve 75% de afastamento do
trabalho por motivo de doença.
O desconhecimento dos professores em relação ao não reconhecimento de suas
doenças ocupacionais no ordenamento jurídico brasileiro foi de 97,5%. Com isso, percebe-se
que a falta de conhecimento é um dos males que a sociedade tem enfrentado, pois o Princípio
da Informação no estado contemporâneo recebeu a condição de direito fundamental e é
positivado à luz da Constituição Federal em vários dispositivos, como: inciso XIV, do art. 5º;
§ 2º do art. 5º, Art. 220 inciso VI, § 1°, do art. 225, também em textos esparsos e em diversos
documentos internacionais que reconhecem o direito à informação. Na seara ambiental do
trabalho existem bases legais que embasam a efetivação do direito à informação na atuação do
193
Estado na área das políticas públicas, como: O inciso VI, do art. 170 da Constituição Federal,
art. 2º, § 1º da Lei 8.080/90, Normas Regulamentadoras (NR). Contudo, de nada valerá tantas
leis se não há efetivação desse direito.
Os 100,0% dos professores pesquisados “Nunca” fizeram os exames periódicos
obrigatórios, pois não foram oportunizados pela SEDUC/Am. Contudo, as leis vigentes no
Brasil garantem a todos os trabalhadores, de forma generalizada, o direito de fazer os exames
admissionais, periódicos no curso do vínculo de trabalho e demissionais, sendo os custos de
responsabilidade do empregador, sua realização deve obedecer às condições e procedimentos
contidos nas disposições da NR – 7.
Os 96,1% dos professores pesquisados responderam que nunca receberam nenhum
tipo de prevenção e 96,4% deles confirmam que nem no início da carreira foi feita nenhuma
palestra sobre prevenção de doenças ocupacionais. Sendo que rege no art. 2º, § 1º da Lei
8.080/90 que, “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde,
a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências”,
normas “que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua
promoção, proteção e recuperação”.
Devido a desvalorização da profissão 48% dos professores já pensaram em mudar de
profissão. O maior paradoxo foi que 72% dos professores são felizes com a profissão que
escolheram.
O resultado desta pesquisa confirmou que os professores da rede pública estadual do
estado do Amazonas da cidade de Manaus não possui um meio ambiente de trabalho
equilibrado.
Diante do exposto, os objetivos da pesquisa foram alcançados, pois conforme o
resultado geral da pesquisa confirma-se que os professores da SEDUC/Am possuem diversas
doenças ocupacionais provenientes de riscos biológicos, físicos, químicos, psíquicos e
ergonômicos, e que seu meio ambiente do trabalho está sendo infligido, e com isso as causas
de absenteísmo do professor do ensino médio e fundamental da rede estadual de ensino da
cidade de Manaus é alarmante, pois com o índice elevado de doenças os afastamentos dos
professores de seu ambiente laboral é fator preocupante tanto para esse profissional quanto
para o Poder Público.
Deve-se refletir sobre o descaso histórico com a saúde e o mal-estar docente.
Grandes empresas têm investido na qualidade de vida dos trabalhadores, assim deve ocorrer
também com os professores, seguir com o objetivo de trazer satisfação e preveni-los contra
doenças ocupacionais, utilizando-se de palestras educativas sobre prevenções eficazes com
194
profissionais qualificados, observando o que rege a lei, em relação às medidas protetivas
ambientais, como: campanhas educativas, pelo menos duas vezes ao ano, sobre o meio
ambiente de trabalho equilibrado, ginástica laboral semanal, exames periódicos obrigatórios,
disponibilidade de plano de saúde particular a todos os professores, e treinamentos contínuos
para o uso das novas tecnologias e investimento nos cursos de mestrado e doutorado aos
professores direcionados a sua área do conhecimento.
Nota-se que embora o Direito Ambiental tenha uma legislação de excelência para a
normatização dos macro bens ambientais, as normas protetoras da saúde e segurança dos
professores não existem, o que existe são leis que regulamentam seus deveres e outros direitos
que não trazem proteção nenhuma à sua saúde e segurança. O que se espera é a integralização
do processo de construção do ordenamento jurídico com normas protetoras da saúde e
segurança aos professores e de implementação de políticas públicas. Em nível estadual no
Amazonas não há nenhum projeto de lei que contemple a preservação do meio ambiente
laboral do professor e em nível municipal no Amazonas há um Projeto de Lei n. 246/2014 que
institui a política municipal de prevenção às doenças ocupacionais do educador da rede
municipal de ensino, porém ainda não foi aprovado.
Ficou evidenciado que, as causas de absenteísmo do professor do ensino médio e
fundamental da rede estadual de ensino na cidade de Manaus são provenientes do adoecendo
emocional, psíquica, orgânico e situacional decorrentes do Meio Ambiente de Trabalho sem
higidez.
Percebe-se que o silêncio dos professores e dos empregadores acerca das doenças
ocupacionais (gerando a não emissão de CAT e com isso estatísticas não fidedignas),
acompanhada pela falta do reconhecimento jurídico das doenças e a inexistência de peritos na
justiça do trabalho capacitados para diagnosticar as patologias só vem contribuir para o caos
que se encontram esses profissionais.
Conclui-se no presente trabalho que existe nexo causal entre a doença do professor e
a atividade docente, conforme resultado da pesquisa, logo há responsabilidade estatal do
poder público do estado do Amazonas por danos ao meio ambiente do trabalho do professor
do ensino fundamental e médio na rede pública de ensino da cidade de Manaus. A lei no
Direito ambiental é clara no que concerne a reparação por danos ambientais, se não tem
higidez no meio ambiente do trabalho pelo não cumprimento dos dispositivos legais referente
a garantia à vida, à saúde e ao bem estar do trabalhador por parte dos empregadores, o Poder
Público deve ser responsabilizado por isso, seu ato comissivo ou omissivo traz consequências
195
diretas aos lesionados e indireta a própria sociedade, pois alguém precisa pagar (ônus)
literalmente pelo erro.
O objetivo maior deste estudo não é apenas revelar que o meio ambiente dos
professores da rede pública de ensino está sendo infligido, mas acordar a quem é de direito
para concretizar a proteção desses trabalhadores. Neste sentido, torna-se imperiosa a criação
de normas eficientes para a proteção desse bem jurídico mais precioso de todos, o direito à
vida.
Urge, que tenha uma regulamentação jurídica do meio ambiente do trabalho do
docente no estado do Amazonas, que traga uma proteção jurídica, principalmente com
medidas preventivas eficazes, coibindo condutas que tragam o descaso com os profissionais
de educação.
Diante dessa realidade demonstrada, a profissão de professor deve ser qualificada
juridicamente como penosa, pois há desconfortos e reais riscos como foi demonstrado nessa
pesquisa que são adquiridos em seu meio ambiente de trabalho ou em razão dele.
Salienta-se ainda, que o assunto não se esgota aqui com essa sugestão de proposta de
projeto de regulamentação de lei, pois se trata de um tema em evolução, ante o
desenvolvimento e avanço em busca de um meio ambiente digno a todos.
196
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________. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n. 638002720105170010.
1. DOENÇA OCUPACIONAL. DISFONIA. RESPONSABILIDADE CIVIL. NEXO
CONCAUSAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. 2. DANOS
MORAIS. VALOR DA INDENIZAÇÃO. APELO DESFUNDAMENTADO. 3. PENSÃO
MENSAL VITALÍCIA. VALOR ARBITRADO. 4. AFASTAMENTO PARA PERCEPÇÃO
DE AUXÍLIO-DOENÇA NÃO ACIDENTÁRIO EM RAZÃO DE DISFONIA. NEXO
201
CONCAUSAL RECONHECIDO EM JUÍZO. SUSPENSÃO DO CONTRATO DE
TRABALHO. OBRIGAÇÃO DE REALIZAR OS DEPÓSITOS DO FGTS. Maurício
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213
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO
DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS E PROFISSIONAIS
Nome (opcional):_______________________________________________________
Idade:____ Sexo: ( ) masculino ( ) feminino
Grau de escolaridade: ( ) graduação ( ) especialização ( ) mestrado ( ) doutorado
E- mail (caso queira receber o resultado da pesquisa):_______________________
Tempo total de serviço docente:_______ Tempo de serviço na atual escola:_______
Jornada de trabalho:______
Disciplina que leciona:________________________________________________
Nível de ensino que leciona:
( ) Fundamental I (1º ao 5º) ( ) fundamental II( 6º ao 9º) ( ) médio ( ) fundamental II e
médio
Tipo de vinculo: ( ) Efetivo ( ) Contratado ( ) em substituição ( ) outro:_________
Escola:___________________________Distrito:____
QUESTÕES RELACIONADAS AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO
CONDIÇÕES ERGONÔMICAS
1. Você tem boas condições físicas (móveis e instrumentos) de trabalho?
( ) Sim ( ) Não ( )Parcialmente
2. Quanto ao ruído, como você classificaria o seu ambiente de trabalho?
( ) Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) ótimo
3. Quanto à agradabilidade do conforto térmico ( temperatura) como você classificaria o seu
ambiente de trabalho? ( ) Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) ótimo
4. As condições ergonômicas do seu ambiente de trabalho contribuem para que você tenha
estresse ocupacional? ( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente ( ) Não respondeu
5. A sala de aula possui acústica?( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente ( ) Não respondeu
6 A sala de aula possui os recursos pedagógicos e multimídia, quais?
( ) data show ( ) microfone ( ) caixa de som ( ) computador ( ) Outros:
SITUAÇÕES FUNCIONAIS
1. Existem várias situações funcionais que ocorrem no meio ambiente do trabalho, analise e
responda se acontece ou aconteceu com você?
a) Carga horária de trabalho ( ) 20 h ( ) 40h ( )outro:_____
b) Falta de material de apoio didático-pedagógico ( ) Sim ( )Não ( ) às vezes
c) Superlotação das salas ( )acima de 50 alunos ( ) de 30 a 40 alunos ( ) até 30 alunos
d) Desvalorização do professor ( )Sim ( ) Não ( ) Às vezes ( ) em proc. de melhoramento
e) Formação continuada ( ) Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo
f) Reajuste salarial ( ) Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo
214
g) Modernização tecnológica ( ) Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo
h) Superlotação nas salas de aula ( ) Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo
i) Ritmo acelerado de trabalho( ) Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo
j) Barulho constante no ambiente de trabalho( ) Ruim( ) Regular ( )Bom ( )Ótimo
l ) Ambiente fechado com má circulação de ar( )Ruim ( )Regular ( )Bom ( )Ótimo
m ) Ficar muito tempo em pé ( ) Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo
DOENÇAS OCUPACIONAIS:
1.Você já foi acometido por alguma doença ocupacional?
( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
2.Você já trabalhou doente? ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
3. Você tem oportunidade de atividade de lazer e descanso?
( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
4. Você sente algum tipo de cansaço? ( ) físico ( ) mental ( ) físico e mental ( ) nenhum
5. Você trabalha em um ambiente de trabalho saudável?
( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente ( )Não respondeu
6.Você possui plano de saúde particular: ( ) Sim ( ) Não
SÍNDROME DE BOUNOUT (FÍSICAS OU PSÍQUICAS)
1. Você tem ou já teve um desses sintomas físicos da síndrome de burnout, qual?
a) Dores de cabeça constantes ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
b) Tonturas ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
c) Alterações no sono ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
d) Problemas digestivos( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
e) Falta de ar ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
f) Excesso de cansaço ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
2. Você tem ou já teve um desses sintomas psíquicos da síndrome de burnout, qual?
a) Ansiedade ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
b) Dificuldade em concentrar-se ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
c) Variações de humor ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
d) Perda de motivação no emprego ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
e)Ficar isolado dos colegas de trabalho( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( )Nunca
LER(LESÕES POR MOVIMENTO REPETITIVO) /DORT – DISTÚBIOS
OSTEOMOLECULARES RELACIONADOS AO TRABALHO. Nota: A diferença básica entre LER e DORT é que, a primeira, pode não necessariamente ocorrer em
ambiente de trabalho e, a segunda, refere-se ao dia a dia profissional.
1. Você tem ou já teve problemas de LER(Lesões por movimento repetitivo) ou DORT
(distúbios osteomoleculares relacionados ao trabalho)?
a) Postura inadequada ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
b) Excesso no trabalho ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
c) Síndrome do túnel de carpo ( parte das mãos) ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( )
Nunca
d ) Síndrome do manguito rotatório (parte do ombro) ( ) Raramente ( ) Às vezes ( )
Sempre ( ) Nunca
215
e) Epicondicites (região lateral do cotovelo) ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( )
Nunca
f) Bursites (doença no ombro) ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
g) Tendinites (doença no ombro) ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
h) Rinites ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
i) Sinusites ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
j ) Faringites crônicas ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
l ) Alergias ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
m) Lombalgia (ou dor lombar baixa) ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
DOENÇA DA VOZ
1. Você tem ou já teve doenças relacionadas as voz?
a) Rouquidão com mais de 10 dias( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
b) Nódulos ( ) Sim ( ) Não
c) Pólipos ( ) Sim ( ) Não
d ) Edemas nas pregas vocais ( ) Sim ( ) Não
e ) Câncer ( ) Sim ( ) Não
DOENÇAS PSÍQUICAS
1. Você apresenta algum problema de saúde mental relacionado ao seu trabalho?
a) Estresse Ocupacional ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes ( ) Não, mas já tive
b) Ansiedade ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes ( ) Não, mas já tive
c) Depressão ( ) Sim ( ) Não ( ) Não, mas já tive
d) Síndrome do pânico ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes ( ) Não, mas já tive
e) Outros _________________________________________________________
SITUAÇÕES DE RISCOS QUE OCORREM NO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO
& DIREITOS & PREVENÇÃO
1. Você já sofreu algum desses tipos de riscos no meio ambiente de trabalho?
a) Constrangimento por não acompanhar as inovações tecnológicas ( ) Sim ( ) Não
b) Ritmo de trabalho intenso ( ) Sim ( ) Não ( ) às vezes
c) Violência física ( ) Sim ( ) Não
d) Violência verbal ( ) Sim ( ) Não
e) Assédio moral ( ) Sim ( ) Não
f) Assédio sexual ( ) Sim ( ) Não
DIREITOS
1. Você já teve algum afastamento médico por doença:
( ) Nunca precisei
( ) Licença médica até três dias, quais foram os
motivos?____________________________________________________________________
_________________________________________________________________
216
( ) Licença médica com mais de 3 dias, quais foram os
motivos?____________________________________________________________________
_________________________________________________________________
( ) Tirou várias licenças e foi readaptado(a). Qual foi a doença que o(a) levou a readaptação?
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________
( ) Você ajuizou alguma ação judicial contra o Estado pelo motivos de doenças ocupacionais?
( ) Não ( ) Sim, devido ter contraído a doença___________________
2 Você sabia que as doenças ocupacionais dos professores não são reconhecidas como
doenças ocupacionais no ordenamento jurídico?
( ) Sim ( ) Não
PREVENÇÃO
1. A prevenção e a precaução podem ajudar os professores a usufruírem de um meio
ambiente de trabalho saudável:
a). Você recebeu alguma palestra de prevenção à saúde do professor no início de sua carreira
de professor?
( ) sim ( ) não
b) É oportunizado prevenção contra as doenças ocupacionais pela Instituição de ensino que
trabalha?
( ) sim, semanalmente ( ) Sim, mensalmente ( ) Sim, anualmente
( ) Nunca
c) Você gosta de sua profissão, é feliz com o que faz?
( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente ( ) Não respondeu
d) Você já pensou em mudar de profissão?
( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente ( ) Não respondeu
e) Você faz exames periódicos solicitados pela Instituição de ensino que trabalha?
( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Nunca
Obrigada pela participação, você é muito especial.
Sienne C. Oliveira
219
APÊNDICE D – CARTA RESPOSTA DA SECRETARIA DE ESTADO DE
EDUCAÇÃO E QUALIDADE DE ENSINO – SEDUC/AM
OLIVEIRA, Sienne C. de; SILVA FILHO, Erivaldo Cavalcanti e. O meio ambiente laboral do
professor: os principais riscos da profissão na atualidade e as medidas legais protetivas (2016, p.13).
Disponíveis em:
<http://www.conpedi.org.br/wp-content/uploads/2016/06/artigos-aprovados-XXV-encontro-
bras%C3%ADlia.pdf>. Acesso em: 25 de julho de 2016.