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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS UNIDADE ACADÊMICA DE PASSOS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ANA CAROLINA FERNANDES TALISSA SOARES DE PAIVA MULHERES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE EM PASSOS - MG PASSOS - MG 2017

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

UNIDADE ACADÊMICA DE PASSOS

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ANA CAROLINA FERNANDES

TALISSA SOARES DE PAIVA

MULHERES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE EM PASSOS - MG

PASSOS - MG

2017

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ANA CAROLINA FERNANDES

TALISSA SOARES DE PAIVA

MULHERES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE EM PASSOS - MG

Trabalho apresentado ao curso de Serviço Social da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG - Unidade Acadêmica de Passos, como pré-requisito para a conclusão da graduação. Orientadora: Profª. Ma. Sandra Eliana da Silva Limonta

PASSOS - MG

2017

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ANA CAROLINA FERNANDES

TALISSA SOARES DE PAIVA

MULHERES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE EM PASSOS - MG

MONOGRAFIA APRESENTADA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL

EM SERVIÇO SOCIAL

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________ Profª. Ma. Sandra Eliana da Silva Limonta

Presidente e Orientadora - UEMG de Passos

_______________________________________ Profª. Ma. Camilla Silva Machado Graciano Professora Convidada - UEMG de Passos

_______________________________________ A.S. Me. Maicow Lucas Santos Walhers

Professor Convidado - UNESP de Franca

Passos, 06 de dezembro de 2017.

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Ao curso de Serviço Social da UEMG, e as pessoas com quem convivi neste ambiente ao longo desses anos quatro anos.

Ana Carolina e Talissa

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente а Deus por permitir que tudo isso acontecesse na minha vida,

não apenas nestes anos como universitária, mas em todos os momentos da minha

vida, gratidão pelos obstáculos colocados no meu caminho, pois sem eles eu não

conseguiria crescer espiritualmente.

À minha mãe Marilda, minha heroína, meu alicerce que me deu suporte, me

deu forças e animo a continuar todos os dias, mesmo sendo dias difíceis, me

incentivou nas horas complicadas, de desânimo е cansaço sempre com muito amor

e paciência.

Ao meu pai Edmar qυе apesar de todas as dificuldades me fortaleceu me

apoiou, me incentivou nem se fosse pelo olhar ou com apenas um “vai dar certo” е

qυе para mim foi muito importante.

Aos meus irmãos, Anthony e Larissa por acreditarem e me incentivaram a

nunca desistir, em especial ao meu irmão Lorran que me deu forças e coragem para

lutar por essas mulheres, que foi um verdadeiro poço de força e inspiração.

Gratidão ao meu namorado Hercules que foi essencial nessa fase tão

complexa. Obrigada por ser meu companheiro, amigo, incentivador, por sempre falar

“eu avisei”, por enxugar minhas lágrimas e ouvir por milhares e milhares de vezes a

mesma história mesmo sem paciência ou ânimo para ouvi-la; por acreditar que eu

conseguiria obrigada por caminhar comigo nessa estrada que muitas das vezes teve

mais espinhos do que rosas, por ser meu ponto de equilíbrio, obrigado por estar

comigo nos momentos em que eu menos merecia, mas que mais precisava.

Agradeço às mulheres em privação de liberdade em Passos - MG, por

dividirem e acreditarem no meu trabalho, compartilharem suas histórias, lutas,

medos, sonhos, dividirem seu tempo, por me receberem com tanto carinho, em

especial Luna (nome fictício) que significa “Lua”, “a iluminada”, “a feminina”, foi o que

o que você foi pra mim, uma luz, me devolveu a vontade de lutar por vocês, por nos

mulheres, me recebeu com tanto carinho e boa vontade, dividindo suas histórias,

sonhos, medos, frustrações, seus segredos, nunca vou me esquecer da sua gratidão

por eu ter te dado voz, obrigada por acreditar em mim e no meu trabalho.

À minha orientadora Sandra, pelo suporte no pouco tempo qυе lhe coube,

pelas suas correções, incentivos obrigados por aquele abraço no dia que mais

necessitava.

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À Talissa, pelo companheirismo, apoio, dedicação, obrigada pela troca de

aprendizado e por adotar e dedicar-se ao trabalho.

Aos meus amigos de sala e vida, companheiros de trabalhos е irmãos na

amizade qυе fizeram parte da minha formação е qυе vão continuar presentes em

minha vida com certeza, especialmente Jeovani (eterno raio de sol), Bruno (BruBru),

que entenderam meu afastamento e falta de comparecimento às “festas”, à minha

eterna companheira, amiga de turma e vida Ana Clara Calzavara, que esteve ao

meu lado nas lágrimas e sorrisos sempre com o mesmo companheirismo de sempre,

grata por estar até comigo até aqui.

Minha amiga e eterna supervisora de estágio Luciene, pela amizade,

companheirismo, incentivo, por me receber de braços abertos na Upa de onde

nasceu o interesse pela temática, obrigada por acreditar em mim.

A todos qυе direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, о

meu muitíssimo obrigado.

Ana Carolina Fernandes

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AGRADECIMENTOS

Nenhuma batalha é vencida sozinha. No decorrer desta luta algumas

pessoas estiveram ao meu lado e percorreram este caminho como verdadeiros

companheiros, estimulando que eu buscasse a minha vitória e conquistasse meu

sonho.

Agradeço em primeiro lugar a Deus, que me ouviu nos momentos difíceis,

me confortou e me deu força para chegar onde eu estou.

Aos meus pais, que não somente neste momento, mas em toda minha vida

estiveram comigo, ao meu lado, fornecendo apoio, compreensão e estímulo em

todos os momentos.

À minha mamãe, que me ensinou a ser uma mulher de força e um ser

humano íntegro, com caráter, coragem e dignidade para enfrentar a vida, me

incentivou estudar, inúmeras vezes ao meu lado como companheira nas dificuldades

do conteúdo da disciplina e do trabalho conclusão do curso. Uma mãe que me

deixou livre para seguir minhas escolhas, porém, sempre indicando o caminho certo.

Ao meu papai que me ensinou os maiores valores que se pode ter na vida

me ensinou batalhar e buscar meus objetivos.

Mamãe! Papai! Se eu pudesse voltar à vida, em outro momento, e tivesse a

oportunidade de escolher meus pais, seriam vocês os escolhidos, pois tenho a

certeza de que são os melhores do mundo. Tenho muito orgulho de ter vocês como

meus pais.

À minha querida e amada avó, que por meio de seus ensinamentos e

experiências da vida foram meus alicerces nessa caminhada. Agradeço a todos os

mimos e sei do orgulho imenso por mim.

Ao meu irmão que eu amo tanto Pedro Henrique que sempre terá um lugar

especial no meu coração.

Ao meu primo João Pedro, em especial, por tê-lo como irmão de coração.

Meus primos Natiele, Kelly e Alisson por acompanhado de perto trajeto que percorri

até o momento.

Às minhas tias queridas maternas, que sempre me deram amor, carinho e

atenção Maria Aparecida, Maria José em especial minha madrinha Sonia.

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Agradeço ao meu tio Edson Teixeira pelo suporte prestado quando mais

precisei em razão das ausências de meu pai por motivo de trabalho.

À minha companheira de TCC Ana Carolina, pela dedicação e

companheirismo durante trabalho conclusão curso.

Às minhas amigas e companheiras de trabalho grupal Anne, Franciele e

Lirian sempre compromissadas e dedicadas.

Às mulheres em privação de liberdade em Passos - MG, pela disponibilidade

em colaborar com suas vivências no ambiente prisional, relatando suas lutas por

seus direitos, sofrimentos e sonhos.

Aos servidores que laboram na unidade prisional em Passos que, por suas

disponibilidades, colaboraram para a concretização da pesquisa.

Aos meus amigos do curso ao qual convivemos durante quatro anos.

Obrigada a todos vocês por terem tido oportunidade de aprender, saber respeitar as

diferenças do outro. Vou sentir saudades de ver o rostinho de cada um de vocês.

À professora mestra Sandra Eliana da Silva Limonta por nos proporcionarem

conhecimento, que com sua sabedoria colaborou com o desenvolvimento do nosso

trabalho.

A todos os professores curso Serviço Social da UEMG - Passos, por terem

acrescentado na minha vida todos os conhecimentos necessários para que eu seja

uma excelente profissional.

Às minhas supervisoras de estágio que contribuíram para conhecimento da

prática profissional com a realidade de atuação do assistente social.

Talissa Soares de Paiva

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“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

Carl Jung

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RESUMO

FERNANDES, Ana Carolina; PAIVA, Talissa Soares de. Mulheres em privação de liberdade em Passos - MG. 2017. 75 p. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Serviço Social de Passos, Universidade do Estado de Minas Gerais - Unidade Acadêmica de Passos - MG.

Partindo do pressuposto que o sistema carcerário foi construído por homens e para homens, resultado de um contexto histórico milenar, tem-se a criação de um ambiente majoritariamente masculinizado. As mulheres adentraram neste universo gradativamente ocupando um espaço diferenciado. Tradicionalmente, sobretudo na sociedade ocidental e contemporânea sofrem um preconceito tradicional de inferioridade, apesar de sua participação ativa na vida da humanidade. No sistema carcerário não poderia ser diferente, visto que faz parte das instituições que reproduz as relações sociais de um sistema excludente e historicamente não foi construído para receber essas mulheres, que se diferenciam dos homens em vários aspectos. Pensando de forma crítica, é evidente a necessidade de atentar-se ao fato de essa realidade necessita ser refletida enquanto espaço específico para carcerário feminino, pois o índice de mulheres em privação de liberdade é crescente. O Brasil apresentou um grande aumento no número de mulheres encarceradas nos últimos tempos e em Minas Gerais não foi desigual, desencadeando uma ampliação no encarceramento feminino ocorrida em Passos - MG, levando essa pesquisa até o Presídio local que hoje tem a capacidade de custodiar 168 presos, sendo 138 homens e 30 mulheres. Como em quase todo o país sofre com a precarização do sistema carcerário e sua superlotação, tem hoje, segundo o Diretor atual do Presídio, a custódia de 412 pessoas aprisionadas, sendo 28 mulheres. Essa investigação buscou conhecer as condições vivenciam dentro das celas, bem como pretendeu identificar os vínculos afetivos e a efetivação de direitos e deveres previstos para essas mulheres em privação de liberdade no Presídio de Passos - MG. Foi realizada uma pesquisa exploratória com pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo iniciada com acesso aos dados pessoais das presas, juntamente com as profissionais do Serviço Social e da Administração do Presídio de Passos - MG, e posteriormente feito uma entrevista com questionário semiestruturado após ter o consentimento delas como participantes da pesquisa. Este estudo teve a intenção de contribuir com a temática referente ao cárcere feminino e sobre a visão de quem o vivencia em sua realidade pessoal.

Palavras-chave: Encarceramento Feminino; Mulheres; Privação de Liberdade; Sistema Carcerário.

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ABSTRACT

FERNANDES, Ana Carolina; PAIVA, Talissa Soares de. Mulheres em privação de liberdade em Passos - MG. 2017. 75 p. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Serviço Social de Passos, Universidade do Estado de Minas Gerais - Unidade Acadêmica de Passos - MG.

Starting from the assumption that the prison system was built by men and for men, the result of a millenarian historical context, the creation of a mostly masculinized environment has been created. As women entered the universe gradually occupying a differentiated space. Traditionally, especially in Western and contemporary society they suffer from a traditional prejudice of inferiority, despite their participation in the life of humanity. No prison system could be different, since it is part of the institutions that reproduce as social relations of a system excluding and historically not designed to receive these women, and differ from men in several. Thinking critically, it is evident the need to get in touch with the fact of a reality if necessary. Brazil has shown a large increase in the number of women incarcerated in recent times and in Minas Gerais was not unequal, disengaging an expansion in the female imprisonment occurred in Passos - MG, taking this survey to the local Presidio that today has a custody capacity of 168 inmates being 138 men and 30 women. As in almost all the country suffers with a precariousness of the prison system and its overcrowding, today, according to the current Director of the Presidio, it has a custody of 412 people imprisoned, being 28 women. This research seeks to know the media as a guarantee of deadlines and deadlines, as well as the existence of information about assets and the effectiveness of rights and debtors foreseen for these women in detention in the Presidio de Passos - MG. Receive research with research, research and field research initiated with access to data, dates of attendance, childbirth as Social Service professionals and Administration of Presidency of Passos - MG, and once again with interview to the semistructured questionnaire after their consent as participants of the research. This study has as a result expected contribution with a theme related to the female prison and a vision of who is living in their personal reality.

Keywords: Female Incarceration; Women; Deprivation of Liberty; Prison System.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A.C. - antes de Cristo

AM - Amazonas

APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados

A.S. – Assistente Social

BH - Belo Horizonte

CEJIL - Centro Pela Justiça e o Direito Internacional

CF - Constituição Federal Brasileira

CNJ - Conselho Nacional de Justiça

DEPEN - Departamento Penitenciário Nacional

EBC - Empresa Brasileira de Comunicação

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INFOPEN - Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias

INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

LEP - Lei de Execução Penal

MG - Minas Gerais

RN - Rio Grande do Norte

RO - Rondônia

SEAP - Secretaria de Estado de Administração Prisional

SEDS - Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais

SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SISNAN - Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas

SP - São Paulo

SUAPI - Subsecretaria de Administração Prisional

T.C.L. E. - Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento

U. E. - União Estável

UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais

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LISTA DE GRÁFICOS E QUADRO

GRÁFICO 1 - Faixa Etária......................................................................................... 43

GRÁFICO 2 - Escolaridade ....................................................................................... 44

GRÁFICO 3 - Condição Civil ..................................................................................... 45

GRÁFICO 4 - Filhos .................................................................................................. 45

GRÁFICO 5 - Número de Filhos ............................................................................... 46

GRÁFICO 6 - Cuidadores ......................................................................................... 47

GRÁFICO 7 - Visitas ................................................................................................. 47

GRÁFICO 8 - Visitante .............................................................................................. 48

GRÁFICO 9 - Vínculo Familiar .................................................................................. 48

GRÁFICO 10 - Motivo da Prisão ............................................................................... 49

GRÁFICO 11 - Visão da Vida em Privação de Liberdade ......................................... 50

GRÁFICO 12 - Reincidência ..................................................................................... 51

GRÁFICO 13 - Número de Prisões ........................................................................... 51

GRÁFICO 14 - Tempo de Reclusão .......................................................................... 52

GRÁFICO 15 - Aprendizado...................................................................................... 53

GRÁFICO 16 - Perspectiva do Futuro ....................................................................... 54

QUADRO 1 - Identificação das participantes ............................................................ 41

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

CAPÍTULO I – TRAJETÓRIA DA PRIVAÇÃO PÚBLICA DE LIBERDADE............. 17

1.1 Breve histórico acerca da institucionalização das prisões ................................... 18

1.2 O sistema penitenciário atual .............................................................................. 19

1.3 O encarceramento feminino ................................................................................ 21

1.4 A pesquisa como investigação local .................................................................... 26

CAPÍTULO II – O ESTADO E SEU PODER PRISIONAL ........................................ 29

2.1 Legislação ligada à privação de liberdade........................................................... 30

2.2 A política social voltada à questão feminina ........................................................ 32

2.3 A privação de liberdade por meio do Estado ....................................................... 34

CAPÍTULO III – PERCURSO METODOLÓGICO ..................................................... 37

3.1 Caracterização do campo de estudo ................................................................... 38

3.2 Análise de dados ................................................................................................. 40

3.3 Resultados da análise de dados ......................................................................... 40

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 58

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 62

APÊNDICE A - AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA ................. 68

APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO ............................................................................. 70

APÊNDICE C - ROTEIRO DA ENTREVISTA ........................................................... 72

APÊNDICE D - CARTA DE ANUÊNCIA ................................................................... 74

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INTRODUÇÃO

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O ato de aprisionar é milenar, surgindo muito antes de Cristo pelos egípcios,

gregos entre outros com o objetivo de torturar, punir e manter sob total vigilância

seus escravos ou aqueles que eram considerados por eles criminosos ou faltas

consideradas como crimes. Então, não se planejava um lugar próprio para

aprisionar, não se arquitetava um presídio adequado para receber essas pessoas,

ocupando lugares construídos para outros fins.

Em relação à situação carcerária o Brasil, foi averiguado que tem se

mostrado um cenário desastroso de frequentes violações de direitos a direitos

fundamentais e a dignidade humana, demonstrados pela precariedade estrutural dos

prédios, condições sanitárias e de higiene inadequadas, para atender aos

encarcerados e consequentemente as mulheres, uma quantidade de presos superior

ao número de vagas.

O sistema carcerário foi construído para homens e por homens e as

mulheres adentraram a esse universo, totalmente masculinizado, ocupando uma

posição diferenciada sendo tratada igualmente aos homens mesmo sendo diferente

em vários feitos, sendo inferiorizada.

Com o grande aumento das mulheres em privação de liberdade no Brasil,

não sendo diferente em Minas Gerais e com a inadequação do sistema prisional

brasileiro, este trabalho busca levar o conhecimento, no sentido de como é a

realidade vivenciada pelas mulheres enquanto reclusas no presídio passense, seus

vínculos afetivos, a efetivação dos seus direitos e deveres, a convivência entre elas

dentro da cela, a visão delas sobre o presídio.

O presídio de Passos até meados de dezembro de 2007 era administrado

pela Polícia Militar em conjunto com a Polícia Civil, popularmente conhecido como

“cadeião” com condições totalmente precárias e superlotado. Antes de ser instalada

em seu atual endereço, a unidade prisional de Passos passou por dois outros locais

na cidade e atualmente está sediada na Rua Turquesa, nº 1.792, Bairro Jardim

Aclimação, administrada pela Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas

Gerais - SEDS, por meio de sua Subsecretaria de Administração Prisional - SUAPI,

substituindo os policiais militares e civis por uma equipe técnica (assistente social,

enfermeira pedagoga e psicóloga), agentes penitenciários, servidores

administrativos, embora a precariedade e superlotação não mudaram nos dias

atuais. O presídio conta com a capacidade de aprisionar 138 homens e 30 mulheres,

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porém, o número é atual em 3 de novembro de 2017 é de 412, sendo 384 homens e

28 mulheres.

O grande aumento do cárcere feminino no Brasil e consequentemente em

Minas Gerais perfez-se um aumento de 173%, elevando o número de 1.124 para

mais de 3.070, o que tornou o Estado de Minas Gerais considerado um dos três

estados com o maior número de mulheres em privação de liberdade.

Esse aumento de mulheres encarceradas despertou o interesse para a

investigação das condições de vida das mulheres durante a sua permanência na

unidade prisional de Passos - MG, e também para dar visibilidade e voz a elas

dentro desse universo totalmente masculinizado.

Foi intencionado materializar a invisibilidade das mulheres nesse ambiente,

mostrar a ruptura dos laços afetivos na provisoriedade desse momento de cárcere e

demostrar que muitas sonham em voltar conviver dignamente em sociedade.

Com base nesse cenário, buscou-se investigar as condições da vida dessas

mulheres em privação de liberdade durante a sua permanência no Presídio de

Passos - MG, a efetivação dos seus direitos e deveres e seus laços afetivos, a visão

delas sobre o presídio atualmente e a sua perspectiva de futuro.

O trabalho foi escrito em três capítulos, sendo o primeiro um breve histórico

sobre o surgimento das primeiras prisões, a trajetória do sistema prisional atual,

abordando o encarceramento feminino e a pesquisa como investigação local.

O segundo capítulo aborda sobre o Estado e seu poder prisional, abordando

legislação ligada a privação de liberdade, comentando sobre a politica social voltada

a questão feminina e também a privação de liberdade por meio do Estado e o

terceiro e último capítulo intitulado percurso metodológico que apresenta a coleta e

análise de dados, bem como a caracterização do campo de estudo e todos

instrumentos utilizados para a realização da investigação.

A pesquisa encerra-se com considerações referentes ao conhecimento

sobre a temática trazendo uma reflexão quanto aos enfrentamentos que ainda não

foram superados diante das dificuldades vivenciadas por mulheres na

contemporaneidade.

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CAPÍTULO I

TRAJETÓRIA DA PRIVAÇÃO PÚBLICA DE LIBERDADE

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1.1. Breve histórico acerca da institucionalização das prisões

O surgimento das primeiras prisões aconteceu por volta de 1.700 a. C., por

meio dos egípcios para manterem seus escravos sob constante vigilância. Porém, o

ato de aprisionar não era somente do Egito, mas também da Grécia, Pérsia e

Babilônia, com o objetivo de torturar e vigiar aqueles que para a antiga civilização

cometiam faltas ou algo considerado como delitos (MISCIASCI, 2015)

Dada à desconsideração direcionada às pessoas julgadas merecedoras de

punição devida ato criminoso cometido, não havia necessidade de um lugar

apropriado para aprisionar, sendo assim, não se arquitetava uma penitenciária

apropriada, era usados calabouços, lugares em ruinas, conventos abandonados ou

torre de castelo. O cárcere era visto apenas como o lugar dos prisioneiros, pois se

encontravam a disposição para que os castigos e a pena de morte fossem

cumpridos (MISCIASCI, 2015)

Na Idade Média1 por meio da Igreja Católica, para detenção e a reclusão

passaram a usar o encarceramento como castigo e começou a ser permitido de

todas as maneiras como castigos corporais e à pena de morte. Ainda na Idade

Média surgiu, além da pena-custódia (ato do Direito Processual Penal onde o

acusado por um crime, preso em flagrante, tem direito a ser ouvido por um juiz, de

forma a que este avalie eventuais ilegalidades em sua prisão2), a pena eclesiástica

(que separa um membro transgressor da comunhão da comunidade religiosa:

excomunhão) onde a Igreja Católica tinha a intenção de purificar seus monges do

pecado, isolando-os em celas para refletirem sobre seus atos “impuros”.

Nos mosteiros desta época, havia a pena de prisão, punição aplicada aos

monges ou clérigos recuados nas celas para meditarem. De fato, a construção da

primeira prisão, foi na Idade Moderna, a House of Correction, que ocorreu em

Londres entre 1550 e 1552, sendo um marco do século XVI. Apenas na Holanda, a

privação de liberdade passou a ser pena, no Direito leigo, em 1595 foi construído

Rasphuis de Amsterdã.

Nesta época havia a prisão por dívidas e a prisão preventiva. Era

assombroso o estado de pobreza que se espalhou por diversos países, favorecendo

1Idade Média (476 a 1453) e Idade Moderna (de 1453 a 1789), quando se inicia a Idade Contemporânea até os dias atuais. (Portal Escola, 2017). 2 Conselho Nacional de Justiça. Perguntas frequentes. Consultado em: out. 2017.

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o grande aumento da criminalidade, revolta religiosa, guerras, destruição de países,

ocorrido pelo surgimento do capitalismo. Em 1893, já na Idade Contemporânea, as

prostitutas passaram a serem consideradas como “criminosas natas”, quando as

primeiras mulheres foram presas.

Desde então, aumenta-se cada vez mais o número de mulheres

encarceradas, por se tratar de um universo majoritariamente masculino, elas são

mais uma vez secundarizadas.

1.2. O sistema penitenciário atual

Atualmente o Brasil, seguidos dos países Estados Unidos, Rússia e China

se depara com a quarta maior população carcerária do mundo: 622.202 conforme

dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - INFOPEN.

Segundo o site do Ministério da Justiça e Segurança Pública, quase metade

(40%) não teve condenação. Uma grande parte das prisões se encontra com

superlotação, demonstrando um sistema judiciário e carcerário totalmente falido,

precário e abandonado pelas autoridades competentes.

Com as superlotações dos presídios brasileiros, a pessoa humana não tem

seus direitos garantidos, por serem “invisíveis” para a sociedade. Muitas das vezes

essas pessoas são esquecidas e ficam mais tempo reclusas do que o necessário

pelo fato da demora em ocorrer o julgamento, determinando a sentença a ser

cumprida. Houve casos de pessoas morreram na prisão e, após esse fato foi

descoberto que já estavam com a pena cumprida.

A Lei n. 7.210, de 1984 (conhecida como LEP - Lei de Execução Penal),

alterada pela Lei n. 11.343/2006, tem como objetivo executar a decisão criminal e

deliberações, proporcionar uma harmoniosa integração para o condenado e

sentenciado, fato este de difícil concretização. (BRASIL, 1984; BRASIL, 2006).

No ano de 2017, registraram-se três acontecimentos noticiados pela

imprensa nacional e mundial ligado a uma antiga guerra entre facções criminosas no

interior dos presídios, o que resultou na morte de mais de 100 encarcerados,

atraindo a atenção mundial para a vulnerabilidade que se encontra o Sistema

Penitenciário Brasileiro. Grandes episódios ocorreram dentro de presídios no

primeiro trimestre de 2017. O primeiro fato ocorreu no primeiro dia do ano, em que

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detentos de Manaus (AM) se rebelaram por mais de 15 horas, onde resultou na

morte de mais de 60 presos. Logo em seguida, na mesma semana, em Roraima

(RO) entre 30 detentos foram mortos. Na semana seguinte, no Rio Grande do Norte

(RN), outros 26 presos foram mortos em rebelião na Penitenciária Estadual de

Alcaçuz. Minas Gerais (MG) ocupa atualmente a segunda colocação com o maior

número de presos (as), estimados em 61.392 em 2016, ficando atrás somente de

São Paulo (SP) que contabiliza 220.030. Os dados apontam para um crescimento de

167% na população carcerária brasileira. (EBC, 2017)

Em Passos, sudoeste mineiro, até a data de 12 de dezembro de 2007, o

Presídio de Passos era conhecido como a Cadeia Pública de Passos “cadeião”, e

era administrado pelas Polícias Civil e Militar. As condições da cadeia eram

precárias além da superlotação o que não mudou até os dias atuais.

Então, a partir de 13 de dezembro de 2007, a Secretaria de Estado de

Defesa Social de Minas Gerais - SEDS, através de sua Subsecretaria de

Administração Prisional - SUAPI, assumiu a gestão da Cadeia Pública de Passos

popularmente conhecida como “cadeião”, passando a se chamar Presídio de

Passos, substituindo os policiais civis e militares, por agentes penitenciários e

servidores administrativos e técnicos, dos quais fazem parte enfermeira, psicóloga,

assistente social, pedagoga.

Em forma de troca as Secretarias de Segurança e Justiça foi criada em 2003

a SEDS, que vai além da junção das duas secretarias. Ela caracteriza a fundação de

um Sistema de Defesa Social que tem como base a integração das ações e órgãos

de defesa social, a prevenção à criminalidade, a expansão, modernização e

humanização do sistema prisional, o atendimento às medidas socioeducativas, a

avaliação e melhoria da qualidade da atuação das instituições e a integração do

Sistema de Defesa Social com o Sistema de Justiça (SEDS, 2017).

A unidade prisional de Passos tem a capacidade de custodiar 168 presos,

sendo 138 homens e 30 mulheres, em condição provisória, ou seja, algumas

pessoas aguardando uma sentença judicial. Há também presos (as) que já

receberam uma sentença judicial e cumprem pena nos regimes semiaberto e

fechado. Em novembro de 2017, há 412 pessoas entre mulheres e homens, sendo

28 mulheres recolhidas nesta unidade prisional, segundo informações da

administração do presídio.

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Nos últimos tempos o sistema carcerário brasileiro vem passando por uma

grande crise, como a superlotação dos presídios o que viola os direitos

estabelecidos pelo art. 5º da Constituição Federal de 1988:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação (BRASIL, 1988).

A superlotação é um problema crônico do sistema penitenciário brasileiro e

também está presente no Presídio de Passos.

1.3 O encarceramento feminino

Nos últimos quinze anos, o número de mulheres encarceradas aumentou

567%, o qual representa 6,4% indivíduos detidos, próximo a 607 mil pessoas presas,

mais de 60% dessas mulheres presas por tráfico por assumirem os lugares dos seus

companheiros quando os mesmos vão presos.

O Brasil representa a quinta maior população carcerária feminina do mundo,

ficando atrás dos Estados Unidos, China, Rússia e Tailândia. Entre os anos de 2007

e 2014, o número de mulheres no sistema prisional mineiro cresceu 173%,

avançando de 1.124 para 3.070, colocando Minas Gerais em terceiro lugar em maior

número de mulheres em privação de liberdade no Brasil, depois do Rio de Janeiro e

de Sergipe (CNJ, 2015).

Segundo o Diretor do Presídio de Passos, até o mês de agosto de 2017, 20

mulheres estavam em privação de liberdade divididas em duas celas.

Em um contexto histórico, social e legal, as mulheres possuem uma

vulnerabilidade e inferioridade no universo carcerário por ser um mundo

majoritariamente masculinizado e imperar uma cultura historicamente machista. O

sistema carcerário não se importou em modificar para receber as mulheres, sendo

pessoas com particularidades diferentes do homem.

Pensando em seu processo histórico, é evidente a necessidade de atentar-

se ao fato de que o sistema carcerário foi construído por homens e para homens,

portanto, não atende à expectativa do público feminino como espaço para

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maternidade, uniformes femininos, produtos de higiene de uso da mulher, como o

absorvente. Não atende dignamente nem homens, e muito menos as mulheres, que

tem estrutura física, mental, biológica distinta dos homens.

Tal afirmação pode ser constatada pela precariedade de normas protetivas à

mulher encarcerada e pelo fato de que as normas protetivas existentes continuam

por sustentar, em sua essência, o caráter machista do Direito Penal. Em termos

legislativos, essas normas de proteção são masculinizadas em sua essência. A

legislação como um todo é feita por homens, com homens e para homens, pois são

antigos os costumes arraigados em sua composição e sabe-se que o direito em si, é

uma ciência arcaica onde, na época da antiga civilização, a mulher não tem vez nem

voz.

Observado que o envolvimento das mulheres com a criminalidade está

ligado às suas relações afetivas, por muitas ocasiões serem influenciadas pelos

seus companheiros, que muitas vezes já são reincidentes no mundo do crime, sendo

esse dado confirmado em visita ao Presídio de Passos antes da pesquisa de campo.

Este trabalho revelou que muitas vezes as mulheres encarceradas entram

em conflito com a lei para garantir o próprio sustento e da sua família, por ser muito

comum nos dias atuais elas serem de famílias monoparentais, ou seja, chefes dos

seus lares, também pela prisão de seus familiares, ficando com filhos pequenos.

Sua vida fica mais difícil por possuir pouca escolaridade e não se qualificar para o

mundo do trabalho. É sabida de antemão, que as expressões da questão social

existentes no sistema capitalista excludente, como a fome e ou o desemprego

afetam essas mulheres em suas vidas, em diversas formas na sua busca pela

sobrevivência, quadro que gira em torno do capital diferentemente na sociedade de

classes e privilegia a minoria dominante.

É importante salientar que o capitalismo possui uma estrutura que se

apropria do poder político e do excedente econômico, que antes era dominado por

instituições religiosas ou pela nobreza, como um sistema social que resultou de um

processo construído historicamente e composto basicamente por duas classes

sociais desiguais e antagônicas: a classe burguesa e a classe trabalhadora.

Nesse sentido, sob a ordem burguesa, o sistema capitalista representa um

antagonismo entre a satisfação das necessidades coletivas e necessidades

individuais de modo igualitário, deixando com que as necessidades humanas

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genéricas passem a ser determinadas por uma classe de indivíduos proprietários

dos bens de produção de riqueza gerada somente para os seus, pela exploração de

força do trabalho de outra classe que depende dessa venda para sobreviver.

Considerando a reprodução do capital, a desigualdade social torna-se ineliminável, posto que esta reprodução é assentada na acumulação, ou seja, a necessidade de acumular e concentrar capital determina a exploração da força de trabalho. Nesse sentido, a problemática da desigualdade advém do processo de produção e não da má distribuição da riqueza, posto que a separação entre proprietários e não proprietário é estabelecido no momento da produção. (FIGUEIREDO, 2013, p. 89)

Desse modo, a desigualdade social consolidada sob o capitalismo, evidencia

que o desenvolvimento das condições de reprodução do capital não se dissocia da

desigualdade social.

As raízes da pobreza e da riqueza, acumulada em dois lados diferentes,

permanecem e são adensadas cada vez mais pela conjuntura atual em que surgem

na contemporaneidade crises e condições de reprodução do capital continuando a

secundarizar as necessidades humanas da maioria da população em detrimento da

lógica de expansão e acumulação de capital repercutindo na complexidade das

expressões da questão social.

Entende-se que a desigualdade social possui aspectos diferentes, porém

interligados, apesar de quase sempre ser demonstrada tão somente em dimensões

econômicas, se faz evidente também em dimensões socioculturais, existenciais e

políticas, existindo tanto na ordem material quanto na ordem simbólica,

consideradas imprescindíveis para o presente estudo.

No que diz respeito à parcela da sociedade que é afetada negativamente

pela lógica capitalista, podem-se citar perfeitamente aqueles (as) que entram nesse

caminho da criminalidade às vezes por ocasião de sobrevivência e a exemplo disso,

pode-se citar a parcela crescente que vem sendo estudada, de mulheres que

cometem atos infracionais por necessidade e não terem opção de um trabalho

digno, o que se pretende mostrar com dados obtidos na pesquisa, não justificando

somente a questão estrutural da ordem social nem tampouco culpabilizar a pessoa

sozinha pelos seus atos.

A prisão dessas mulheres gera consequências pessoais, sociais e familiares.

Quando ocorre a prisão, a exclusão começa com a própria família, companheiro e

distanciamento dos filhos com perda ou fragilidade de laços afetivos.

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O número de mulheres encarceradas teve um aumento muito grande nos

últimos anos e o sistema carcerário não estava e não se encontra preparado para tal

acontecimento. Padece-se de efetivação de políticas públicas tanto no sentido

preventivo que talvez pudesse evitar o envolvimento na criminalidade na tentativa de

evitar a reincidência no crime por meio de ações educativas.

Existem muito poucos presídios femininos, o que faz com que as mulheres

permaneçam em presídio misto, separadas apenas de celas, vivendo em condições

masculinizadas.

A visita às presas é permitida dentro de critérios internos de cada instituição,

porém, geralmente são muito raras ou inexistem. Cortam-se os vínculos afetivos de

amizade e ou parentesco, pois na unidade de Passos é permitida a visita de

parentes de primeiro grau, companheiro(a) apenas se forem casados ou tiverem a

união estável registrada em cartório. Outro fato que chamou atenção durante a

entrevista é que muitas mulheres somente celebraram a união estável para

receberem visitas ou “sacolas” ou “jumbadas” (uma vez por semana elas recebem

de seus familiares que são cadastrados uma sacola com alguns alimentos e

produtos de higiene pessoal), mas, o abandono acontece através primeiramente da

família, seguida pelo Estado e sociedade. O abandono geralmente não acontece

quando é ao contrário, ou seja, quando o homem está em privação de liberdade e

sua mãe, sua mulher ou companheira em liberdade, mantém a frequência nas

visitas, inclusiva a íntima, perdurando unilateralmente vínculos afetivos ativos.

Denota-se também o fato de que existem vários companheiros que se encontram

presos e se encontram somente na visita social, se falam por “pipa” 3 que é entregue

por quem está no regime semiaberto e tem livre circulação entre os pavilhões, sendo

as visitas íntimas agendadas com antecedência.

Outro fato observado é o das mulheres que estão gestantes. Em muitos

presídios não tem uma ala especial para as mães ficarem com seus filhos pós-parto,

ocorrendo a separação antes do que o permitido pela justiça.

Conforme a Lei n. 11.942, de 2009, em seu art. 2º, § 2º estabelece que:

§ 2º Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de idade (BRASIL, 2009).

3 Bilhete escrito a próprio punho pelos encarcerados.

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Como são pouquíssimos presídios que tem essa ala, algumas mulheres são

transferidas para outros municípios onde há presídio feminino com ala para

gestante.

Muitas optam por separem do(a) recém-nascido(a) antes do previsto, que é

de seis meses de vida, para voltarem para o município de origem para se

aproximarem dos seus filhos que ficam em sua cidade natal. Outro fato recorrente é

que às vezes não tem quem cuide de seus filhos. Assim, são encaminhados para

abrigos e quando a mãe sai do cárcere tem que pedir a guarda na justiça

novamente, muitas vezes negada por conta de que a genitora não tem emprego fixo.

A questão de emprego também é muito difícil, em especial para as

mulheres. Muitos pedem antecedentes criminais e quando veem que tem uma

condenação ou algum conflito com a lei, se negam a oportunizar um emprego

formal, com carteira assinada, obrigando muitas vezes que essas mulheres

busquem empregos informais. Acredita-se que quando não conseguem um trabalho,

muitas voltam para o mundo do crime, por ser um dinheiro aparentemente rápido e

fácil, e por necessitarem dele para se sustentar. Vive-se em tempos de crise financeira, em situações desconhecidas e

instáveis. O país passou por um processo de impeachment,4 o que afetou

diretamente a economia e por consequência todas as esferas sociais.

A questão econômica está correlacionada à questão da empregabilidade, e

o que já era rivalizado torna-se dia a dia relativamente pior. A qualificação é um

diferencial cada vez mais procurado e necessário pelas empresas (exigido pelo

mundo do trabalho).

A mulher que passa por circunstâncias de privação de liberdade vê suas

oportunidades de trabalhar formalmente e estudarem minar de imediato. O

preconceito, os padrões que as empresas possuem na hora de contratar novos

funcionários, tornam-se cada vez mais frustrantes as carreiras almejadas por essas

mulheres.

4 Dilma Vana Rousseff, presidente da República Federativa do Brasil desde janeiro de 2011 (reeleita

nas eleições de 2014), foi destituída do posto em 31 de agosto de 2016 por meio de um processo de impeachment. (Fernandes, 2016)

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1.4 A pesquisa como investigação local O cenário dessa pesquisa é a cidade de Passos - MG, sendo seu universo o

Presídio de Passos, tendo como participantes as mulheres em privação de

liberdade. Na pesquisa de campo, a técnica de recolha de dados escolhido foi uma

entrevista semiestruturada.

A entrevista semiestruturada tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Os questionamentos dariam frutos a novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes. O foco principal seria colocado pelo investigador-entrevistador. Complementa o autor, afirmando que a entrevista semiestruturada “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]” além de manter a presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações (TRIVIÑOS, 1987, p. 152).

Assim, pesquisador, literatura e realidade através da pesquisa de campo,

tornam-se elementos entrelaçados.

De tal modo destaca-se a importância da pesquisa bibliográfica por meio de

literatura específica com autores como Michel Foucault, Nana Queiroz e Débora

Diniz, complementada em dados da pesquisa de campo em busca de elementos

extraídos da realidade pesquisada.

Percebe-se que as pesquisas descritivas tendem expor a realidade dos fatos

sem interferência de ninguém (agentes). Incide a analisar, observar e interpretar

passagens, situações de forma e local onde verdadeiramente ocorreram, não sendo

possível em razão da vigilância enquanto ocorria a entrevista.

Após muita burocracia para obter a autorização de entrada em campo, foram

realizados diversos contatos via e-mail com a SEDS em Belo Horizonte (BH) em

razão da distância, e ao mesmo tempo contato telefônico com a administração do

Presídio de Passos - MG. Logo após autorização da SEDS, conseguiu-se uma “carta

autorização” para a realização de uma entrevista individual com as presas que

concordaram em participar para sanarmos dúvidas, após uma autorização da SEDS.

Ao entrar em contato com a SEDS e Administração do Presídio foi informado

que não poderia ocorrer nenhum tipo de gravação de voz, imagens ou vídeos, uma

vez que é extremamente proibido o uso de equipamentos tecnológicos dentro da

unidade prisional. Foi enviado, dentre outros documentos necessários à autorização

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da pesquisa, alguns termos de responsabilidade, comprometimento em não gravar e

nem usar nomes, sendo sugerido o uso de pseudônimo por tratar-se de uma

pesquisa que envolve dados pessoais de terceiros, bem como foi explicada a

necessidade da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelas

entrevistadas.

A sociedade é composta de situações que se desenham e se constroem

simultaneamente.

A individualidade, na medida em que é possível, encontra-se atravessada e

subentendida por condutores externos que permeiam a consciência individual dos

seres. Condutores esses que são construídos historicamente, em contextos culturais

específicos a cada época e a cada povo.

Assim, se constrói e se consolida a complexidade do indivíduo e, por

consequência, a explicação dialética da pesquisa em questão, levando-se em conta

que os fatos não podem ser considerados fora de um contexto social, posto que as

contradições se superam dando origem a novas contradições que requerem

soluções. A pesquisa tem uma abordagem qualitativa que se foca em analisar o

caráter subjetivo, examinando suas características e experiências individuais. Pode

ser mais simples e explicativo.

A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro, está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações (PIANA, 2009, p. 178).

Como é sabida sobre a discriminação por gênero em nosso cotidiano, há

uma vulnerabilidade vivida pelas mulheres também no universo carcerário,

destacando o sentimento de inferioridade entre elas. Observou-se a dificuldade em

encontrar material com a temática mulher encarcerada e, quando encontrado,

geralmente é voltado principalmente para o público masculino, por não serem

tratados como seres humanos visíveis, sem distinção de individualidade das

mulheres.

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Utilizou-se a pesquisa exploratória com pesquisa bibliográfica e de campo

com acesso aos dados pessoais das mulheres por meio das profissionais do Serviço

Social e da Administração do Presídio de Passos - MG. O número de participantes

foi determinado por critérios de seleção anteriormente definidos como idade, período

e permanência e um número de participantes que possa esgotar os

questionamentos deste estudo.

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CAPÍTULO II

O ESTADO E SEU PODER PRISIONAL

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2.1 Legislação ligada à privação de liberdade

Poucos ambientes são tão tensos como o universo carcerário: violência,

criminalidade, poder, ambição, controle. Muitos sentimentos estão envolvidos, o

anseio pelo poder, em um sistema de regras informais, gera o fenômeno que

Clemmer (apud PIZOLOTTO, 2014, p.16) denominou de prisonização: “Todo homem

confinado ao cárcere se sujeita à prisonização”, ou seja, em graus diferentes, todos

aqueles que ingressam no sistema penitenciário acabam se moldando aos hábitos e

regras que são praticados no presídio.

Diante das condições supracitadas entre outras, que definem, constroem e

consolidam o sistema prisional, é extremamente importante questionar e explanar

como o Estado está exercendo o seu poder de punir e em tese de ressocializar

os(as) os aprisionados(as).

O sistema carcerário brasileiro parece estar desestruturado apresenta-se em

condições precárias e os estabelecimentos prisionais encontram-se insuficientes de

recursos físicos e humanos sendo amplamente divulgados pela mídia, inclusive com

rebeliões e “mandos” de execuções.

Alguns dos problemas enfrentados, além da deficiência do sistema prisional

cingem-se na superlotação, corrupção, violência, mortes, crime organizado e a

inexistência de uma política de ressocialização entre outros.

A Constituição Federal Brasileira de 1988, em seus arts. 24, inciso I e art.

144, estabelece com clareza que é responsabilidade da União, de forma privativa,

legislar sobre o direito penitenciário e concorrentemente, dever dos Estados e o do

Distrito Federal, a segurança pública, respectivamente.

Assim estabelecem os arts. 24 e 144 da Carta Magna de 1988:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; [...] Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: (...) (BRASIL, 1988).

Além disso, a República Federativa do Brasil tem como um de seus

fundamentos a dignidade da pessoa humana, em que ninguém deverá ser

submetido a tratamento desumano.

Eis o princípio fundamental constitucional:

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Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988).

Assim, deve ser assegurado aos presos o respeito à integridade física e

moral, ou seja, é de responsabilidade do Estado manter locais dignos para que os

condenados possam cumprir suas penas.

Teoricamente, o trabalho penitenciário é considerado um dos elementos

essenciais no processo de ressocialização do preso, enfoque que se contrapõe à

visão do passado, no qual as atividades produtivas realizadas nas prisões se

caracterizavam mais como um recurso punitivo imposto aos (às) encarcerados (as).

(Azevedo, 2006, pág. 29 a 35)

Ao lado da análise do perfil psiquiátrico e do acompanhamento

comportamental (psicológico) do preso, o trabalho penitenciário ainda serve de

componente para a diminuição do tempo de reclusão, conforme estabelece o artigo

126 da Lei de Execução Penal - Lei n. 7.210/84 (BRASIL, 1984).

O intuito da pena privativa de liberdade é preparar o preso para a ressocialização, servindo como uma preparação do indivíduo para voltar ao convívio social. Deve haver o incentivo ao trabalho e estudo, onde o Estado deve proporcionar as ferramentas (FORMOLO, 2016, n.p.)

Em Passos são desenvolvidos projetos relevantes junto ao presídio

localizado no Município de Passos. No âmbito da referida unidade prisional estão

ativos projetos ressocializadores como “Remição pela Leitura”, em que presidiários

(as) fazem a leituras de obras literárias ou livros de autoajuda e posteriormente

elaboram suas respectivas resenhas, possibilitando a remição de 4 (quatro) dias de

pena, limitado a oito resenhas anuais.

Ademais, Passos conta com a Associação de Proteção e Assistência ao

Condenado - APAC, onde também são desenvolvidos projetos ressocializantes junto

aos (às) encarcerados (as) como Campeonato de Redação, Reforço Escolar, além

de culinária, artesanato etc., porém em espaço físico apartado do Presídio, onde são

conduzidos somente homens que conseguem transferência por bom

comportamento.

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Para Azevedo (1999), o sistema prisional está centrado preponderantemente

na premissa da exclusão social do(a) criminoso(a), visto como perigoso(a) e

insubordinado(a).

O confinamento e a vigilância a que está submetido é estrategicamente

ordenado por mecanismos de opressão, o que indiretamente faz com que o Estado

coloque nas prisões pessoas, às vezes, consideradas nem tão perigosas, mas que

no convívio com a massa prisional iniciam um curto e eficiente aprendizado de

violência, corrupção, promiscuidade e marginalidade, manifestada quer no

comportamento dos presos, quer no dos (as) agentes penitenciários incumbidos de

preservar a ordem interna.

Em suma, o poder que é designado ao Estado de controlar a relação entre

criminalidade, punição e o sistema prisional, sofre um constante paradoxo, visto que

existem incontáveis complexidades.

2.2 A política social voltada à questão feminina

O fortalecimento do movimento feminista ocorreu no Brasil a partir dos anos

70. Menos de uma década depois, se consolidou no Brasil um forte movimento

feminista e também na área acadêmica, cujos reflexos, de imediato, se fizeram

presentes na tentativa de incorporação da perspectiva de gênero nas políticas

públicas e programa governamental com o intuito de estabelecer pautas políticas

especifica e/ou direcionada às mulheres (FARAH, 2004).

Scott esclarece:

O conceito de gênero estrutura-se a partir da ênfase nas relações sociais, políticas, econômicas e culturais, etc. entre os sexos, uma vez que sinaliza as condições de desigualdades presentes entre homens e mulheres, sobretudo, relações hierárquicas e de poder (SCOTT, 1995, p. 89).

Evidentemente, há outras desigualdades associadas, além de raça/etnia,

classe, geração etc., tais como de acesso a outras dimensões da esfera pública, a

saber, à justiça, à tecnologia, à saúde, ao sistema bancário/financeiro entre outros.

Sabendo disso, ao propor políticas públicas respeitando “igualdade de

gênero” é necessário que se estabeleça o sentido das mudanças que se pretende,

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sobretudo, com vistas a contemplar a condição emancipatória e a dimensão de

autonomia das mulheres.

Para que as desigualdades de gênero sejam combatidas no contexto social,

cultural e econômico herdado do sistema capitalista pressupõe-se que seja

necessária uma ordem social que tenha em seu bojo a justiça social e quiçá um

Estado que evidencie uma capacidade para poder valorizar igualmente homens e

mulheres, independente de regiões onde mora, a classe social que pertence, suas

etnias e gerações.

Scott argumenta que o conceito de gênero foi criado para opor-se a um

determinismo biológico nas relações entre os sexos, dando-lhes um caráter

fundamentalmente social. “O gênero enfatizava igualmente o aspecto relacional das

definições normativas da feminidade”. 5

Historicamente, a Política de Assistência Social esteve associada a práticas

de caráter assistencialista e filantrópico, sob o enfoque da caridade e da

voluntariedade, realizadas pelas damas da Igreja Católica. Somente a partir da

década de 1930, quando o Estado reconhece e legitima a “questão social”,

reconhecendo-a como política pública e não mais como um caso de polícia e que

emergem as primeiras estratégias e ações do Estado voltadas à Assistência Social.

(BANDEIRA, 2010; SOARES, 2003).

Desde sempre, foram atribuídos alguns papéis e ou tarefas considerados

como “femininos”, as mulheres, tais como: o de mãe, de esposa, de cuidadora e

educadora dos filhos, sendo elas as responsáveis pelo bem-estar de toda a família e

pelos afazeres domésticos. Em síntese, cabe aqui destacar que grande parte desses

elementos estava associada à maternidade e ao instinto materno.

Lyra complementa:

Esses aspectos também evidenciavam que o mundo privado (do lar) estava reservado às mulheres, as quais deveriam agradar-se dos seus atributos e tarefas, já o espaço público, era considerado o masculino, polarizando ainda mais as diferenças entre os papéis, as quais contribuíram com a ideia do “homem-provedor e mulher-cuidadora” (LYRA, 2010, p. 82).

Tais fatos estão intrinsecamente associados à razão de corresponder ao

público feminino, à maioria dos usuários da política de Assistência Social, não

porque haja de fato, uma feminização da pobreza como aponta alguns estudiosos

5 SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, vol. 16, nº 2, Porto Alegre, jul./dez. 1990, p.5.

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sobre o tema, mas, porque são elas as que vivenciam as maiores situações de

vulnerabilidades e risco social, sendo elas tradicionalmente responsáveis pelo

cuidado e atendimento das necessidades familiares e, principalmente, as que dizem

respeito aos seus filhos.

2.3 A privação de liberdade por meio do Estado

O Brasil tem apresentado um expressivo aumento de sua população

prisional. Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), entre

1990 e 2014 a população de pessoas privadas de liberdade no Brasil cresceu 575%,

enquanto que a população brasileira cresceu 16%. Passou-se de 90 mil presos para

mais 607 mil presos e presas (DEPEN, 2014).

O Brasil possuía até junho de 2014, período até o qual se referem os dados

do DEPEN, 376.669 vagas no sistema prisional, contudo abrigava uma população

carcerária de 607.731, fato que corresponde ao encarceramento de pelo menos

mais de 230 mil pessoas além de sua capacidade, demonstrando flagrante

desrespeito aos princípios da legalidade, da humanidade e da dignidade da pessoa

humana consagradas na Carta Magna de 1988 (BRASIL, 2014, p.11).

No que se referem especificamente as mulheres encarceradas, em 2000 a

população prisional era de 5.601 presas, em 2015 alcançamos o número de 37.380,

um aumento de 567%. Elas são quase 7% da população prisional nacional,

colocando o Brasil em quinto lugar no mundo (DEPEN, 2014).

Desde o nascimento há regras básicas às quais somos submetidos(as), e

também se aprende que não pode fazer o que se quer; a todo o momento há

repreensões, primeiro pelos pais, depois nas instituições de ensino, no trabalho,

pelas leis, como as de trânsito entre outras.

No decorrer dessas fases, a cada dia a pessoa humana é subordinada ou

não às normas de acordo com a sociedade que pertence, dentro de suas escolhas

estão à crença religiosa e valores morais. Todavia, os moldes das prisões são

diferentes, pois quando em privação de liberdade, a pessoa está sujeita a restrições

e controles muito maiores, que podem levá-lo a um processo de subjetivação

diferenciado (perdem sua capacidade civil, tornando sua submissão ao Estado e

seus representantes muito maiores que fora do cárcere).

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Segundo Foucault (1987, p.157), “essas instituições se constituem para

‘repartir os indivíduos, fixá-los e distribuí-los espacialmente, classificá-los, tirar deles

o máximo de tempo e o máximo de forças...”.

Diante disso, é preciso questionar sobre a função real da prisão que lida com

pessoas que precisam ser privadas da liberdade individual justificando seu modo de

punir após um erro ou um crime cometido pela pessoa, contrariando sua idealização

que é a ressocialização.

A prisão torna-se um lugar que segrega parte da sociedade de forma a

marginalizá-los sem nenhuma pretensão além da “limpeza” social com a retirada

daqueles que fogem as normas e condutas usuais.

A chamada “LEP” tem como objetivo cumprir o que estiver disposto nas

sentenças ou decisões criminais além de proporcionar uma harmônica integração

social do condenado(a) e do internado, por esses termos é visto a fundamentação

positivista da legalidade brasileira que não objetiva uma condição diferenciada das

pessoas aprisionadas, como valorização humana.

É preciso atentar-se para os detalhes enraizados de forma subentendida no

que tange a Lei de Execução Penal. Embora o mesmo detalhe timidamente tem o

tratamento diferenciado das mulheres no cárcere e também preveja que “os

estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as

condenadas possam amamentar seus filhos, em seu art. 83, § 2º (BRASIL, 1984). É

notório que a LEP e os ambientes prisionais são historicamente instrumentos

masculinizados, pensados “por” e “para” homens. Diante disso, mudanças

estruturais radicais devem ser realizadas para atender as necessidades específicas

das mulheres e adolescentes que se encontram em privação de liberdade.

De acordo com o Centro pela Justiça e o Direito Internacional - CEJIL (2007,

p. 46) cumpre salientar que muitos desses dispositivos foram aditados e alterados

no texto original da Lei de Execução Penal, principalmente com o advento da Lei nº

11.942/2009 que deu nova redação aos arts. 14, 83 e 89 da Lei nº 7.210, de 11 de

julho de 1984 (LEP), para assegurar às mães presas e aos recém-nascidos

condições mínimas de assistência. Há um interstício de mais de duas décadas (21

anos) entre essas alterações ocorridas em 2009 na Lei de Execução Penal e a

promulgação da Constituição Federal de 1988. É preciso entender a relação entre a

voz de poder do Estado e a condição da mulher encarcerada para além do delito,

reconhecendo que anterior a esta condição, ela é culturalmente diminuída pelo

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sistema patriarcal ainda tão presente em nossa sociedade e tem invisibilidade pelo

Estado enquanto estruturador de padrões.

Não há mulher criminosa e sim mulher que comete crimes (...). O sexo não é criador e, muito menos, especializador da criminalidade. Não há criminalidade feminina ou masculina. A criminalidade há de ser praticada por homens e mulheres (LIMA; PERALLES, 2001 apud WIRTH, 2002, n.p.).

Sobretudo é preciso compreender que a realidade acima descrita é diferente

no que tange a classe social rica, a qual a mulher em questão está inserida, em

maioria, na classe trabalhadora. Sabe-se que as mulheres pobres que não tiveram

acesso a uma escolaridade de qualidade para fortalecer sua condição de

enfrentamento no mundo do trabalho não encontram melhores opções de

sobrevivência, são as que mais sofrem com esta infeliz realidade.

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CAPÍTULO III

PERCURSO METODOLÓGICO

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3.1 Caracterização do campo de estudo

Foram considerados para a elaboração desse trabalho, acontecimentos que

permeiam a vida das mulheres em privação de liberdade no Presídio de Passos -

MG.

O Presídio de Passos - localizado à Rua Turquesa nº 1.792, Bairro Jardim

Aclimação é administrado pela Secretaria de Estado de Administração Prisional -

SEAP. Há no presídio duas alas divididas em feminina e masculina, sendo esta

última composta por dois pavilhões. O presídio tem capacidade para sediar 28

mulheres e 384 homens encarcerados.

Figura 1 - Presídio de Passos - Cidade de Passos - MG. Fonte: G1.com.

O Município de Passos, sede do Presídio de Passos, está localizado na

região sudoeste do Estado de Minas Gerais. O município possui uma população

estimada para 2017, de acordo com o censo 2010 do IBGE de 114.458 habitantes

em uma área territorial de 1.338,070 Km². Em 2012, segundo dados do Educacenso,

no município existiam 15.255 matrículas no ensino fundamental distribuídas em 42

estabelecimentos escolares e 4.416 matrículas no ensino médio em 16

estabelecimentos.

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A região polarizada abrange 32 municípios no entorno de Passos e que a referenciam como cidade polo de desenvolvimento, são eles: Alpinópolis, Alterosa, Areado, Bom Jesus da Penha, Cássia, Claraval, Capetinga, Carmo do Rio Claro, Capitólio, Conceição da Aparecida, Doresópolis, Delfinópolis, Fortaleza de Minas, Guaxupé, Ibiraci, Ilicínea, Itamogi, Itaú de Minas, Jacuí, Monte Santo de Minas, Muzambinho, Pains, Pimenta, Piumhi, Pratápolis, São João Batista do Glória, São José da Barra, São Pedro da União, São Roque de Minas, São Sebastião do Paraíso, São Tomás de Aquino e Vargem Bonita (UEMG, 2015, p.12).

A região conta com 35 estabelecimentos de saúde, sendo 34 municipais e 1

estadual, com abrangência da pequena e média complexidade, conforme dados do

IBGE de 2010.

O setor de serviços, seguido pela indústria e agropecuária perfazem o setor

econômico da cidade que carrega consigo o status de cidade polo do Sudoeste

mineiro (SENAC, 2017).

Este trabalho foi desenvolvido no Presídio de Passos, especificamente em

sua ala feminina.

Foram realizadas entrevistas com as encarceradas através da aplicação de

questionários semiestruturados, bem como entrevistas pessoais com algumas

encarceradas, as quais foram selecionadas pelo atual diretor da unidade prisional.

Trata-se de uma pesquisa exploratória que proporciona maior familiaridade

com o problema (GIL, 2008).

Quanto ao percurso metodológico, além da pesquisa bibliográfica com

autores como Michel Foucault (1987), Nana Queiroz (2016) foi também realizada a

pesquisa de campo com 21 participantes (mulheres em privação de liberdade em

Passos), as quais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

após autorização da Secretaria de Estado de Administração Prisional - SEAP.

Utilizada como técnica de recolha de dados, a entrevista foi vigiada pelas agentes do

Presídio, em forma de questionário semiestruturado, ou seja, composto de

perguntas abertas e fechadas. Anteriormente, também foi utilizado um formulário

para levantamento de dados estatísticos. A análise de dados teve abordagem

qualitativa.

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3.2 Análise de dados

A pesquisa de campo é definida por Oliveira (2013) como uma coleta de

informações junto ao objeto pesquisado. Sendo assim, foi aplicada uma entrevista

semiestruturada junto às encarceradas.

A entrevista é definida por Haguette (1997, p. 86) como um “processo de

interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por

objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”.

A entrevista realizada com as mulheres foi feita por meio de perguntas orais,

que foram respondidas também oralmente, transcritas com total e fielmente as

respostas.

Ainda foram aplicados questionários semiestruturados direcionados às

encarceradas. O questionário compôs-se de 13 questões abertas e 3 fechadas, que

foram respondidas de forma manuscrita pelas entrevistadas.

A recolha6 das respostas ocorreu no dia 27 de setembro de 2017 no

Presídio, em Passos, com aplicação de um questionário semiestruturado para 23

encarceradas e a entrevista pessoal para 8 delas, sob a promessa de manter seus

nomes em sigilo total, demonstrando somente suas opiniões.

Os resultados coletados obtidos com os questionários e as entrevistas foram

de extrema relevância para o desenvolvimento deste estudo, sendo possível realizar

uma comparação entre o referencial bibliográfico e a realidade encontrada no campo

de pesquisa.

A partir da coleta de dados foi possível realizar considerações sobre a

realidade vivenciada pelas mulheres que se encontram em privação de liberdade.

3.3 Resultados da análise de dados

As entrevistas ocorreram em uma sala de costura, no interior do Presídio de

Passos sendo as mulheres escolhidas pela atual administração da unidade prisional.

A fim de manter o anonimato das reclusas, foram utilizados apenas nomes fictícios

para se referir a cada uma delas.

6 Termo usado em Portugal para substituir a palavra coleta referindo-se aos dados da pesquisa.

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O quando na sequência apresenta a identificação das mulheres que foram

utilizadas, em algum momento, suas falas.

Quadro 1. Identificação das mulheres

Nome Idade Tempo de Reclusão

Maria 39 anos 1 mês e 15 dias

Cida 23 anos 27 dias

Maura 42 anos 1 ano e 1 mês

Amélia 27 anos 2 anos e 5 meses

Luiza 27 anos 2 anos e 3 meses

Luciana 21 anos 4 meses

Bruna 18 anos 1 mês e 20 dias

Isaura 28 anos 4 meses

Helen 20 anos 10 meses

Sara 32 anos 7 meses

Carla 27 anos 2 anos

Cassia 25 anos 1 mês e 26 dias

Luna 28 anos 4 meses (Atualmente em Liberdade)

Fonte: Elaboração própria.

A primeira pergunta da entrevista individual foi quanto às dificuldades

vivenciadas pelas encarceradas, sendo citados por diversas mulheres os conflitos de

convivência uma concordância entre a maioria delas.

Uma entrevistada cita sobre o respeito para uma boa convivência: “Apesar

do lugar tenho convivência todo mundo só tem uma que dexo de lado, respeitando,

primeiro lugar é o respeito” (Maria).

Para outra participante ela não vê nenhum problema na convivência: “não

nenhuma, tudo tranquilo” (Julia).

Respostas contraditórias entre elas comprovaram que muitas não foram

sinceras ao responder as questões, seja por medo ou outro motivo desconhecido.

A seguir, foi perguntado se elas como mulheres reclusas têm ciência dos

seus direitos enquanto encarceradas, e ao falar sobre a “sacola” e ou “jumbada”, as

autoras do estudo foram bruscamente interrompidas nesse momento pelas agentes

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que acompanhavam a entrevista, alegando que jumbada era apenas regalia; que a

unidade permitia para os(as) presos(as) que tivessem bom comportamento, mas

que o Estado fornecia tudo que o preso(a) necessitava, como chinelos, roupas,

toalhas e produtos de higiene pessoal, como sabonete, papel higiênico entre outros,

colocando esse discurso totalmente em contradição ao ter acesso à listagem do que

a família tem que levar para o(a) recluso na primeira visita ou após realizar o

cadastro social, para os itens serem entregues na “sacola” tem o dia correto e

normas a serem seguidas, mas como muitas não recebem essa “regalia” elas

dividem entre si.

O terceiro ponto foi sobre o relacionamento com outras presas. Para

responder a essa questão, algumas informaram que são até 15 mulheres em uma

cela e a maioria relata que a convivência é tranquila, sendo que algumas se

nomearam “tranquila”, “sossegada” e “sou mais na minha”. Fato não acreditado, pois

foi notado um ambiente tenso e ironia nas respostas, uma vez que a maioria deu

uma risada e ou gargalhou na hora de responder.

Logo em seguida, foi perguntado sobre os pontos positivos e negativos da

vida em privação de liberdade. Através das suas respostas conclui-se que os direitos

das encarceradas infelizmente não são integralmente garantidos. Foi notado que a

deficiência do profissional do Serviço Social no Presídio se reflete nos pontos

negativos pois, por diversas vezes, foi citado a falta que o serviço social está

fazendo na unidade. Foi notável também que elas visam as assistentes sociais como

“ponte para rua”, uma vez que muitas mulheres falaram que agora não conseguem

mais notícias dos familiares que não as visitam, pois quem fazia esse contato era a

assistente social. Em outro momento, foi dito também que a profissional intervia em

atendimentos médicos e era na sala do serviço social que ocorria a visita assistida,

onde as mães conseguiam ver seus filhos menores que não tinha cadastro social;

elas que respondiam as “pipas” (bilhetes), onde as presas sentiam segurança em

pedir alguma ajuda.

A aplicação do questionário se deu com 80% das mulheres encarceradas do

Presídio de Passos. A fim de manter o anonimato das mesmas, serão apresentados

gráficos que representam as respostas obtidas.

A primeira pergunta foi para identificar a faixa etária das encarceradas.

Analisou-se que a maior parte das mulheres encarceradas é jovem, entre 21 e 29

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anos, portanto, em plena idade ativa e produtiva. Das 21 entrevistadas, quatro delas

têm menos que 20 anos; 10 dessas mulheres têm de 21 a 30 anos; 4 das

encarceradas têm de 31 a 40 anos e apenas 3 delas têm mais de 41 anos, como

pode-se observar no gráfico 1 a seguir.

Gráfico 1 - Faixa Etária. Fonte: Elaboração própria.

Outro dado que chamou atenção é a baixa escolaridade, como pode-se

notar no segundo gráfico. Uma boa parte não conseguiu concluir o ensino

fundamental II (6º ao 9º Ano) considerados anteriormente de 5ª a 8ª séries. Muitas

podem ser consideradas analfabetas funcionais, termo que é utilizado para a pessoa

que sabe ler e escrever, mas incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a

escrita em atividades cotidianas, nem colocar ideias no papel por meio de escrita.

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Gráfico 2 - Escolaridade. Fonte: Elaboração própria.

O gráfico 3 esclareceu a condição civil das presidiárias. A situação que

chamou atenção foi o de “amasiada”, que de acordo com o Dicionário Priberam

(2017) da Língua Portuguesa, significa “que se juntou com outrem maritalmente”.

Não sabe se as mulheres que responderam “casadas” são de fato casadas

conforme a Lei, ou se fizeram a U.E. (União Estável) e se consideram casadas, pois

não houve chance de averiguar uma a uma após receber as respostas por escrito.

Compreendeu-se ainda que para receber visitas sociais e íntimas do

companheiro(a) é necessário ter uma união estável registrada em cartório. Em razão

dessa exigência, muitas se denominam amasiadas e não solteiras, pois na

linguagem coloquial o termo amasiado e casado soa com o mesmo significado.

Outro número chamativo é que apenas uma é divorciada e reconhece sua condição

civil legalmente, como se pode verificar a seguir.

Abaixo os dados obtidos consoantes com o que foi respondido:

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Gráfico 3 - Condição Civil. Fonte: Elaboração própria.

Percebeu-se que muitas mulheres entre as 21 encarceradas, possuem

filhos(as) e que apenas três entre elas ainda não são mães.

Nota-se que muitas foram mães jovens e algumas têm mais de um(a) filho(a)

e que está sob os cuidados paternos ou das avós maternas. Outras já têm filhos(as)

maiores de idade e não as visitam ou mantém algum laço afetivo.

Gráfico 4 - Filhos.

Fonte: Elaboração própria.

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Como complementação da questão interior questionou-se a respeito da

quantidade de filhos que cada uma possuía. Abaixo, o gráfico 5 mostra que a maior

parte das mulheres tem entre 1 e 3 filhos e que outras seis dizem ter mais de 3

filhos, o que leva a reflexão que muitos filhos estão sem a presença física da mãe,

ficando meses e até anos sem vê-la, especialmente com a ausência da assistente

social.

Gráfico 5 - Número de Filhos. Fonte: Elaboração própria.

A questão número 6 esclareceu quem são as pessoas que cuidam dos(as)

filhos(as) das presas durante o seu encarceramento. É notável que a família

materna, muita das vezes as avós ficam responsáveis pela criação dessas crianças

e adolescentes, conforme o relato das entrevistadas. Foi notável o número tão

escasso de pais que ficam com seus filhos na privação de liberdade da mãe. Nota-

se ainda que pode ocorrer a presença paterna apenas quando a criança se encontra

em convívio diário com genitora.

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Gráfico 6 - Cuidadores. Fonte: Elaboração própria.

Questionou-se, ainda, se as presas recebem visitas durante a privação de

liberdade. Uma maioria das encarceradas recebe visitas. Dentre as 21 mulheres

apenas quatro relatam não receberem visita devido ao pouco tempo em cárcere, ou

pela falta de vínculo familiar. Um fato confirmado com o gráfico oito.

Gráfico 7 - Visitas. Fonte: Elaboração própria.

Compreendeu-se ainda que a maior parte de visitas é de parentes de 1º

grau: pai, mãe e filhos, seguidos pelo cônjuge, como se pode observar no Gráfico 8,

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embora antigamente não era assim. Trata-se de uma norma do presídio de Passos,

como se pode observar na resposta da participante Isaura:

“Era uma amiga porem o presidio não permiti mais e eu não tenho família de 1º gral e estou abandonado aqui sem sacola jumbada e sem visita, sem nada” (Isaura).

Gráfico 8 - Visitante. Fonte: Elaboração própria.

Em relação ao vínculo familiar, enquanto uma boa parte das mulheres

considera o vínculo familiar entre bom e ótimo, uma parte considera inexistente

observa-se nas respostas das seguintes participantes:

“Ótimo, melhor não tem” (Cida).

“Não tenho vinculo nem um” (Maura)

Gráfico 9 - Vínculo familiar. Fonte: Elaboração própria.

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Como motivo da prisão, uma parte das mulheres optou a não responder.

Quase metade das mulheres encarceradas (10) declaram envolvimento com drogas

ou tráfico. Uma informou não saber o motivo da sua prisão; uma resposta que

chamou atenção foi a da entrevistada Luiza que declarou que o motivo foi

necessidade, não entrando em nenhum detalhe; outra resposta que atraiu atenção

foi o da participante Amélia que declarou que o motivo da sua prisão é amor,

mostrando que muitas das vezes as mulheres arriscam sua liberdade para ficarem

com seus companheiros.

Segue as respostas de algumas das participantes:

“Eu só queria sauvar a pessoa que eu amo meu marido”. (Amélia) “Necessidade”. (Luiza) “Envadirão minha casa, acharão droga la o proprietário da droga não estava lá me troucerão no lugar da pessoa no 33 no tráfico”. (Bruna)

Gráfico 10 - Motivo da prisão. Fonte: Elaboração própria.

Ressalta-se que o número de mulheres detidas por tráfico é altíssimo. Um

fato que aumentou ainda mais no Brasil ocorreu após a aprovação da “Lei dos

Usuários”, de n. 11.343, de 23 de agosto de 2006, que entrou em vigor em 2006,

endureceu a criminalização por tráfico e aumentou consideravelmente as penas,

pois associou o tráfico ao crime organizado.

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Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União (BRASIL, 2006).

Continuando, algumas são presas por tráfico de portaria e são detidas ao

tentar entrar na unidade prisional com entorpecentes.

O gráfico de número 11 a seguir, demonstra a visão das encarceradas sobre

a vida em privação de liberdade. Mais da metade das entrevistadas enxergam a

privação de liberdade como péssima ou ruim, e somente 3 acham boa a vida em

cárcere. Observe o relato chocante de Isaura e Luciana sobre como é viver na cela.

“Um verdadeiro inferno é como deixar de ser humano e virar um verdadeiro animal” (Isaura). “Horrível, muito triste agora sei como um pássaro vive dentro de uma gaiola” (Luciana).

Gráfico 11 - Visão da vida em privação da liberdade. Fonte: Elaboração própria.

O número de reincidentes é próximo ao de não reincidentes, o que mostra

que algumas já estiveram em privação de liberdade mais de uma vez. Observa-se,

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portanto, que precisa de mudanças efetivas no sistema prisional, uma vez que não

se efetivou a ressocialização logo após a primeira prisão.

Gráfico 12 - Reincidência. Fonte: Elaboração própria.

Complementando o dado anterior, quando indagadas sobre o número de

vezes em que estiveram em privação de liberdade, uma parte considerável

respondeu que era primeira vez, oito responderam que já estavam na segunda ou

terceira vez em reclusão e duas optaram por não responder.

Gráfico 13 - Número de prisões. Fonte: Elaboração própria.

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No gráfico número 14 foi esclarecido o tempo de encarceramento de cada

mulher. A grande maioria delas respondeu que está em cárcere privado por tempo

menor que doze meses e nove delas estão por tempo maior que 1 ano. Há mulheres

que estão mais de três anos e não é a primeira vez. Entre as mulheres, há algumas

que estão no presídio apenas por alguns dias, não passando por julgamento ou

audiência.

Gráfico 14 - Tempo de reclusão.

Fonte: Elaboração própria.

A pergunta 15 questionou o aprendizado que tiveram na prisão sejam eles,

positivos ou negativos. Mais da metade das mulheres acharam que tiveram

aprendizados positivos; outras encarceradas relataram aprendizados negativos e

três delas optaram em não responder.

Os relatos apresentados como pontos positivos sugerem que com a privação

de liberdade trouxe algum sentido na religiosidade em apegar a Deus, valor da

família, liberdade, capacidade humana e que as drogas levam a destruições

familiares.

Como pontos negativos algumas não viram nenhum aprendizado, além de

conhecer a palavra de Deus.

Observe o que algumas entrevistadas relataram sobre o aprendizado na

prisão:

“Nenhum, a não ser a palavra de Deus” (Helen)

“A tendência é só piorar” (Sara)

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“Que a liberdade é muito importante” (Carla)

Gráfico 15 - Aprendizado na prisão. Fonte: Elaboração própria.

Na última pergunta do questionário referente à perspectiva de futuro, as

respostas demonstram que há muita esperança no futuro, de ter uma vida melhor,

de voltar a conviver em sociedade, conviver com os filhos, conseguir um emprego

formal, afastar do vício das drogas. Para isso, enquanto uma aguarda o alvará de

soltura, as outras pretendem serem pessoas melhores e terem uma vida diferente.

“Eu gostaria muito de mudar de vida, mais o preconceito é muito grande é dificultuoso arrumar um emprego. Se Deus fizer um milagre quem sabe um dia eu mudase de vida” (Sara). “Pretendo sair daqui e ter um bom comportamento pois tenho uma filha pra criar de (5 anos) (Cássia).

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Gráfico 16 - Perspectiva do Futuro. Fonte: Elaboração própria.

Por fim, cabe aqui mencionar que, ao passar pela privação de liberdade, o

sentimento de confiança em Deus foi renovado nas entrevistadas e o nome dele foi

citado diversas vezes entre as encarceradas, tanto na entrevista quanto no

questionário aplicado. Esse fato demonstra que, de alguma forma, as encarceradas

não se sentem completamente sozinhas, que a esperança de um futuro bom e longe

dali é renovado todos os dias.

Logo após o término das entrevistas realizadas no presídio, uma das

pesquisadoras foi procurada por uma mulher que participou da entrevista enquanto

presa. Em liberdade se disponibilizou espontaneamente a conceder entrevista

novamente, para com mais espontaneidade e sem vigília, sendo agendada por

considerar que esses novos dados dariam mais riqueza de detalhes ao trabalho e

não fugiria do objetivo de dar voz a uma vivência pertinente à temática. A entrevista

foi realizada com o auxílio de um gravador e transcrita em sua íntegra para que as

informações fossem analisadas minuciosa e posteriormente.

A seguir, alguns registros do que pode externar quanto às questões postas

mediante um roteiro semiestruturado.

A entrevistada foi identificada por Luna a qual assinou o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E), e sob o compromisso que seu nome

não seria divulgado.

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As perguntas que foram utilizadas foram as mesmas enquanto ela se

encontrava no presídio e que se teve oportunidade de uma confirmação e novas

informações para um melhor entendimento.

A entrevista começou perguntando idade, estado civil, escolaridade, no qual

Luna respondeu que tem 28 anos, estudou até a quinta série, se considera

amasiada, mas não celebrou a união estável por falta de condições financeiras.

Como uma grande parte das mulheres encarceradas, ela também é mãe de dois

filhos, que moram com o pai. Luna ficou reclusa por 4 meses e o motivo foi tráfico de

drogas, mas alega que não era traficante. Ao ser questionada sobre a visita social

ela informou que recebeu apenas uma visita de uma amiga e que logo foi cortado

por não ser parente de primeiro grau, sendo que a mesma não tem nem pai e mãe

vivos. Como o vínculo afetivo com o irmão não existe, não recebia nenhuma visita

ou mesmo a “sacola”.

Indagado sobre a convivência, Luna ficou pensativa e logo respondeu que é

difícil porque todos têm que “repartir” o mesmo ambiente. O banheiro é usado por

todos e o ambiente é considerado escuro. Relatou também a dificuldade encontrada

com a falta de visitas, pois se quebra ou falta algo seria levado pelo familiar, pois, “a

cadeia não cede nada”. Discorreu também sobre a alimentação, onde relatou que é

“horrível”. Outra fala que chama atenção é sobre não ter uma assistência para levar

para um atendimento médico, por falta de escolta e viaturas, ela é bem categórica

ao afirmar:

“Cê pode está morrendo se não tiver escolta cê tem que ficar ali”. (Luna)

Após essa fala foi perguntado se no interior do Presídio tem médico e

medicamentos. A entrevistada afirmou que a maior parte dos medicamentos que

chega até elas já está vencida e são prescritos pela enfermeira que é “médica” de lá,

e que durante os 4 meses que esteve lá tomou remédio o tempo todo sem melhoras

ou saber o que tinha.

Foi solicitada à entrevistada uma descrição sobre a cela. Ela informou que

dentro da cela tem um banheiro com um buraco no chão, chamado por elas de “boi”,

uma pia apenas na cela dela, na outra não; tem 12 ou 13 camas e quando não tem

cama para todas elas dormem na “praia” no chão; destacou também o mau cheiro

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do esgoto, o grande número de baratas e da falta de produtos de limpeza para a

higienização da cela.

Aproveitou-se a oportunidade para fazer uma pergunta que tinha sido

vedada pela administração atual da unidade prisional, sobre a convivência com os

agentes e funcionários administrativos. Luna relatou que a maioria não se dava bem

com os agentes; que via que muitos agentes não eram profissionais e que levavam

para o lado pessoal; que eles não viam os presos como seres humanos e sim

animais; e que na opinião de Luna muitos dos castigos são acarretados por conta

dos agentes.

Relata que não aprendeu nada enquanto esteve privada de liberdade, pois

no feminino não tem “nada”, nem escola e nem oportunidades de sair para

prestação de serviço na rua e que as mulheres que saem para trabalhar é porque já

tinham emprego antes de irem presas.

Luna já é reincidente, essa é sua segunda prisão.

Foi perguntada a mesma se ela recebia alguma ajuda do Estado com

produtos de higiene pessoal, já que não recebia visitas. Luna deu uma gargalhada e

respondeu que não; que uma ajudava a outra na cela, que muitas das vezes tinham

21 mulheres na cela e apenas três ou quatro recebia “sacola” e dividia com as outras

às vezes, por não sentirem a vontade para pedir “emprestado” diariamente, pois se

acabasse seria mais uma sem nada.

Na visão de Luna, todo serviço deve ser feito com amor e carinho, com

pensamento no dia de amanhã, pois é incerto que todos estão sujeitos a irem presos

por mais honesto que seja, pois, o presídio foi feito para a comunidade.

Ao perguntar se o Serviço Social fazia falta na unidade prisional, ela afirmou

que sim, bastante, e logo em seguida mudou de assunto falando que o presídio não

deveria ser no perímetro urbano e sim afastado para o preso ter a oportunidade de

trabalhar e ter uma renda e ajudar a família que muita das vezes passa dificuldades

financeiras, mas que não tem como fazer nada porque está todo mundo preso e

quem poderia fazer não faz.

Em um ponto da conversa ela afirma para a pesquisadora que se o preso

tivesse a oportunidade de trabalhar e juntar um “dinheirinho” ou ajudar a família se

ele iria querer voltar para o mundo criminoso, completa falando que ao sair do

presídio e tentar arrumar um trabalho enfrenta muito preconceito o que a faz voltar

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para o crime. Aproveitando a oportunidade, foi perguntado se ela está encontrando

dificuldade em conseguir um emprego. Luna relatou que sempre teve, porque sua

família foi do crime. Confidenciou um fato ocorrido na sua vida uma vez que esteve

em um emprego fixo, que ficou doente e “acha” que porque ela já esteve presa não

acreditaram nela; ela precisou sair do emprego, pois realmente estava doente

necessitando até de intervenção cirúrgica.

Ela não é ciente de seus direitos, nem mesmo enquanto estava em privação

de liberdade; acha que essa “lei” não funciona, que talvez quem tem advogado

particular saiba, pois como ela foi pelo Ministério Público, e como ele defende muita

gente, não tem tempo de ir no presídio.

Mais uma vez foi perguntado sobre o Serviço Social, e se na opinião dela se

a Assistente Social estivesse ali alguns direitos estariam sendo efetivados. Luna

afirmou que a assistente social é um “anjo” na vida dos presos, porque na sala do

Serviço Social é onde eles se sentem humanos, onde elas buscam seus familiares,

ajuda com assistência médica.

Para o futuro ela quer um trabalho, comprar móveis para sua casa e trazer

de volta os filhos para morar com ela e seu companheiro, que está nas mãos de

Deus.

Luna representa uma parte das mulheres que saem dos presídios com

vontade de mudar de vida e se tornar pessoas melhores e com um futuro digno, mas

quando chega à realidade se depara com o preconceito, falta de oportunidades que

dificulta a melhoria de vida voltando assim para a vida da criminalidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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É de notório conhecimento e divulgado com frequência nos meios de

comunicação em massa, que o Brasil vive uma crise institucional no sistema

carcerário nacional, superlotações, rebeliões, submissão a condições desumanas e

com maior gravidade a violação de direitos e garantias fundamentais dos(as)

encarcerados(as).

Não bastasse essa série de violações das garantias constitucionais

associada ao processo histórico vivenciado pela mulher na sociedade ao longo dos

anos, há um flagrante aumento de mulheres em situação de privação de liberdade

que se submetem ainda a um ambiente preparado e dominado por homens, o que

de alguma forma, seja direta ou indiretamente, violam seus direitos constituídos

legalmente. Essa violação acaba promovendo uma ruptura de laços afetivos com

familiares, esposos(as), filhos(as) e desencadeando conflitos dentro uma nova

desordem no âmbito da sociedade.

A Lei de Execução Penal (LEP) de n. 7.210/1984, embora garanta o

cumprimento de decisões criminais e suas deliberações se encontram em total

divórcio com a realidade dentro do sistema prisional, não vem proporcionar de forma

satisfatória a efetivação de direitos dos (as) encarcerados (as) que está embutida

em seus escritos.

O objetivo geral da pesquisa foi investigar as condições de vida das

mulheres em privação de liberdade durante a sua permanência no presídio de

Passos - MG. No decorrer do estudo foi observado que as condições vivenciadas

pelas encarceradas no interior de uma cela e no ambiente geral da carceragem

representam um flagrante desrespeito e violação de garantias da pessoa humana.

Foi detectada que o número total de encarceradas está dividido em duas

celas, divisão essa que não oferece condições dignas de permanência no ambiente

prisional, sendo que há apenas um banheiro que é compartilhado por todas de cada

cela e a insuficiência de camas para dormir em detrimento ao quantitativo de

encarceradas. Outro fator que mereceu destaque diz respeito ainda à falta de

produtos de limpeza para higienização das celas, mau cheiro, local escuro,

concluindo que as mesmas estão permanentemente, dia e noite submetidas a um

ambiente insalubre e inadequado que pode propiciar condições favoráveis ao

surgimento de doenças infectocontagiosas além de outros problemas de saúde.

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Este estudo teve como um dos objetivos específicos refletir sobre a

percepção das mulheres quanto às dificuldades vivenciadas em privação de

liberdade em Passos. Essa percepção das dificuldades vividas pelas mulheres em

situação de cárcere é nítida, e não está restrita às condições estruturais (mau cheiro,

banheiro único compartilhado por todas, escuridão e ambiente sujo), mas também

pelo mau tratamento por parte de funcionários(as) do presídio para com as mesmas,

inibindo seus direitos assegurados pela Constituição e legislação infraconstitucional.

Outro objetivo específico para o estudo foi identificar os vínculos afetivos das

mulheres em privação de liberdade em Passos - MG. No que diz respeito à

identificação de vínculos afetivos das mulheres em privação de liberdade no Presídio

de Passos - MG pode-se verificar que os vínculos afetivos são regulares para

algumas encarceradas, sendo que outras não recebem visitas.

As presas sem vínculos afetivos são vítimas de vedação por parte da

administração prisional local, pelo fato de não permitirem a entrada de pessoas que

não tenham vínculo familiar com as encarceradas. O relato de uma encarcerada,

que tem pai e mãe falecidos e não tem filhos, é um caso típico, pois uma amiga foi

visitá-la, porém foi impedida. Para sanar, mesmo que paliativamente tal situação, foi

visto que as mesmas mantêm uma convivência relativamente boa no ambiente de

cárcere que vivem, com conversas e respeito mútuo, por respeitarem norma

disciplinar também.

Foi ainda objetivo específico de esse trabalho investigar sobre a efetivação

de direitos e deveres das mulheres durante a permanência no Presídio de Passos -

MG. Ficando claro que os mesmos são violados, principalmente por justificarem a

ausência da profissional do Serviço Social em prejuízo às visitas sociais e íntimas

que têm por direito, trazendo como única opção para que esses direitos e garantias

se efetivassem de forma plena para as encarceradas, bem como não podem solicitar

intervenção da assistente social para possibilitar atendimentos na área de saúde.

Também não têm o atendimento no Serviço Social de modo privativo quando a

assistente social não está presente, pois era a profissional responsável a realizar o

cadastro social, o qual em sua ausência é feito pela auxiliar administrativa.

Seus relatos atestam que a vivência de privação não é só de liberdade,

apresentado na pesquisa que ficam tempos sem notícias de seus familiares, não

ocorrem as “visitas assistidas”, ou seja, a presença do(a) filho(a) junto da mãe.

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Ademais, outras garantias, em decorrência da falta da assistente social no

âmbito prisional, vêm sendo violadas, principalmente na ausência de intervenções

que possibilitam aos(às) encarcerados(as) e suas famílias acessarem recursos e

serviços sociais, como encaminhamentos à rede de serviços públicos, para acessar

benefícios do INSS, auxílio-reclusão, auxílio-doença e aposentadoria. Cabe também

à assistente social o atendimento às demandas cotidianas relativas às condições de

habitabilidade no cárcere, questões de saúde e de relacionamento entre os(as)

internos(as).

Nesse cenário, a assistente social atua na escuta qualificada com olhar

individualizado para a encarcerada na passagem pela instituição, viabilizando

recursos necessários para o atendimento das demandas das mesmas na busca do

fortalecimento dos seus deveres e direitos.

Também algumas deixam de exercer seu direito quando desejam e não tem

condições financeiras de realizar a regularização da situação do estado civil das

encarceradas que porventura necessitam dessa oficialização da união estável para a

autorização de visitas.

Por fim, cabe destacar que a privação da liberdade de mulheres não se dá

apenas fisicamente, mas também psicologicamente, pois somadas todas às

condições adversas do cárcere, a forma ou modo com que as mesmas recebem o

tratamento no dia a dia por parte da administração do Presídio acabam por

desmerecê-las na condição também de “pessoa humana”, carregada de

sentimentos, arrependimentos, sonhos e esperança de poder um dia voltar a viver

em sociedade usufruindo de sua liberdade.

A privação de liberdade nesse cenário é apresentada como um

impedimento do exercício de direitos e não acessibilidade às garantias preconizadas

pela Constituição da República Federativa do Brasil.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A

AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA

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Passos, 27 de março de 2017.

Ofício Assunto: autorização para realização de pesquisa científica Ilmo. Sr. Eder Soares Borges Diretor do Presídio de Passos - MG.

Pelo presente, solicitamos a Vossa Senhoria autorização para a realização da

pesquisa científica “Mulheres em privação de liberdade”. Estudo este que se propõe

a investigar as condições e dificuldades vivenciadas pelas mulheres em privação de

liberdade no presídio de Passos - MG.

Para tanto, será realizado o levantamento de informações com as

participantes da pesquisa sobre seu tempo de reclusão, sobre tudo dos vínculos

familiares. Ressaltando serão consultadas antecipadamente sobre interesse em

participar da pesquisa, os quais assinarão Termos de Consentimento.

À disposição para quaisquer esclarecimentos que forem necessários,

Ana Carolina Fernandes Graduanda em Serviço Social

UEMG - Passos

Talissa Soares de Paiva Graduanda em Serviço Social

UEMG - Passos

Sandra Eliana da Silva Limonta Professora Orientadora em Serviço Social

Assistente Social Cress nº 3379 - 6ª Região/MG

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APÊNDICE B

QUESTIONÁRIO

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1) Qual a sua idade?

2) Estudou até que série?

3) Qual seu estado civil?

4) Tem filhos? ( ) Sim ( ) Não

5) Quantos?

6) Quem cuida deles?

7) Recebe visitas ( ) Sim ( ) Não

8) Quem te visita?

9) Como é o vínculo com a família?

10) O que motivou sua prisão?

11) Como é viver dentro da cela?

12) É a primeira vez que está presa? ( ) Sim ( ) Não

13) Em quanto tempo?

14) Já está aqui há quanto tempo?

15) Qual aprendizado teve aqui dentro?

16) Qual sua visão de futuro? O que espera dele?

Não deixe que as pessoas te façam desistir daquilo que você mais quer na vida. Acredite. Lute. Conquiste. E acima de tudo, seja feliz.

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APÊNDICE C

ROTEIRO DA ENTREVISTA

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1) Quais dificuldades vivenciadas enquanto reclusa?

2) Você tem consciência dos seus direitos enquanto uma pessoa encarcerada?

( ) Sim Quais?

( ) Não

3) Como é seu relacionamento com as outras presas?

4) Pontos positivos

5) Pontos negativos

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APÊNDICE D

CARTA DE ANUÊNCIA

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