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Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” Crescimento, desenvolvimento e consumo hídrico de cana-de-açúcar sob dois sistemas de manejo da palha Leandro Garcia da Costa Tese apresentada para obtenção do título de Doutor em Ciências. Área de concentração: Engenharia de Sistemas Agrícolas Piracicaba 2017

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Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

Crescimento, desenvolvimento e consumo hídrico de cana-de-açúcar sob dois sistemas de manejo da palha

Leandro Garcia da Costa

Tese apresentada para obtenção do título de Doutor em Ciências. Área de concentração: Engenharia de Sistemas Agrícolas

Piracicaba 2017

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Leandro Garcia da Costa Engenheiro Agrônomo

Crescimento, desenvolvimento e consumo hídrico de cana-de-açúcar sob dois sistemas de manejo da palha

versão revisada de acordo com a resolução CoPGr 6018 de 2011

Orientador: Prof. Dr. FÁBIO RICARDO MARIN

Tese apresentada para obtenção do título de Doutor em Ciências. Área de concentração: Engenharia de Sistemas Agrícolas

Piracicaba 2017

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

DIVISÃO DE BIBLIOTECA – DIBD/ESALQ/USP

Costa, Leandro Garcia da

Crescimento, desenvolvimento e consumo hídrico de cana-de-açúcar sob dois sistemas de manejo da palha / Leandro Garcia da Costa. - - versão revisada de acordo com a resolução CoPGr 6018 de 2011. - - Piracicaba, 2017.

117 p.

Tese (Doutorado) - - USP / Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”.

1. Evapotranspiração 2. Coeficiente de cultivo 3. Irrigação 4. Biometria 5. Modelagem de culturas 6. Calibração 7. APSIM-Sugar L. . I. Título

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DEDICATÓRIA

A todos meus familiares, em especial, meus pais José Fernandes e Luzia Helena, meu irmão

Augusto, minhas avós Clarice e Maria Lúcia, ao senhor José Antônio e senhora Marly, pais de

minha amada e companheira Elisa, que me apoiaram todos estes anos de estudo e dedicação,

incondicionalmente, DEDICO.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço todos àqueles que, de alguma forma, participaram da elaboração deste trabalho, em especial, ao

meu orientador Dr. Fábio Ricardo Marin, por todos os ensinamentos e conselhos, que me foram passados durante os

todos estes anos, sempre com excelente convívio.

À Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, ao Departamento de Engenharia de Biossistemas e

ao PPG em Engenharia de Sistemas Agrícolas pela oportunidade de realização do doutorado.

Agradeço também à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), por financiar,

tanto a pesquisa no país, quanto o intercâmbio cultural, com a Bolsa de Estudos e Pesquisa no Exterior (BEPE), a

partir dos processos 2013/16511-4 e 2014/19410-7, fundamentais para a elaboração da tese, assim como, para meu

próprio desenvolvimento pessoal e intelectual.

Agradeço aos membros da banca de qualificação, Dr. Felipe Gustavo Pilau, Dr. Rubens Duarte Coelho e

Dr. Luiz Roberto Angelocci, aos outros professores e funcionários da ESALQ. Em nome dos colegas do GEPEMA

e da pós-graduação em Engenharia de Sistemas Agrícolas, agradeço o amigo Dr. Daniel Nassif.

Aos amigos de república e apartamento, Leonardo Monteiro, Pöppl Neto, Rafael Battisti, Murilo Vianna,

Bruno Araújo, Fernando Hinnah e Henrique Dias, pelos anos de convívio durante o doutorado.

Ao Dr Peter J. Thorburn, Jody Biggs, Jeda Palmer, Mick Hartcher e a todos os outros amigos do CSIRO,

por todos os ensinamentos sobre o modelo APSIM-Sugar e amizade que demonstraram por mim.

A pesquisadora Raffaella Rossetto por permitir a remoção de certa quantidade de palha de sua área

experimental no município de Iracemápolis-SP, para alocação na nossa área experimental, agradeço também o senhor

Jorge e seus funcionários, por ajudarem nos tratos culturais e a Usina Granelli, pela realização da colheita da cana-de-

açúcar.

Aos meus familiares, meu especial agradecimento por acreditarem que, juntos, poderíamos atingir mais esta

etapa.

Meus pais e sogros ... obrigado pela educação, carinho, amor e proteção!

Elisa, obrigado por estar sempre ao meu lado em todos os momentos!

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EPÍGRAFE

“O Universo é uma imensa livraria.

A Terra é apenas uma de suas estantes.

Somos os livros colocados nela.

Somos homens-livros lendo uns aos outros.

Só quem vence a ilusão da capa e mergulha nas páginas da vida íntima de alguém, descobre seu real valor,

humano e espiritual.

A capa amassa e as folhas podem rasgar. Mas, ninguém amassa ou rasga as ideias e sentimentos de uma

consciência imortal.

O que não foi bem escrito em uma vida poderá ser bem escrito mais a frente, em uma próxima existência ou

além...

Mas, com toda certeza, será publicado pela editora da vida, na estante terrestre ou em qualquer outra estante

por aí...

PS: Há homens-livros de várias capas e cores, mas Deus é o editor de todos eles”.

Adaptado de Wagner D. Borges

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SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................................................................................... 8

ABSTRACT ......................................................................................................................................................... 9

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................................... 10

LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................................... 13

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 15

2. OBJETIVOS .................................................................................................................................................. 17

2.1. Geral ........................................................................................................................................................... 17

2.2. Específicos .................................................................................................................................................. 17

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................................ 19

3.1. Cana-de-açúcar .......................................................................................................................................... 19 3.1.1. Classificação e nomenclatura ............................................................................................................. 19 3.1.2. Distribuição geográfica ....................................................................................................................... 19 3.1.3. Fenologia ............................................................................................................................................ 20 3.1.4. Germinação e emergência ................................................................................................................. 23 3.1.5. Perfilhamento..................................................................................................................................... 25 3.1.6. Crescimento ....................................................................................................................................... 26 3.1.7. Florescimento ..................................................................................................................................... 27 3.1.8. Maturação .......................................................................................................................................... 28 3.1.9. Importância econômica da cana-de-açúcar ....................................................................................... 30 3.1.10. Aspectos sócio ambientais ............................................................................................................... 32 3.1.11. Importância ambiental da manutenção da palha no canavial ......................................................... 33

3.2. A evapotranspiração do canavial ............................................................................................................... 34 3.2.1. Método da razão de Bowen (MRB) .................................................................................................... 36 3.2.2. Método da reflectometria no domínio da frequência (FDR).............................................................. 37 3.2.3. Fluxo de seiva pelo método do balanço de calor (MRB) .................................................................... 38

3.3. Modelagem e simulação de culturas agrícolas .......................................................................................... 39 3.3.1. O modelo APSIM-Sugar ...................................................................................................................... 41 3.3.2. Parametrização de cultivares no modelo APSIM-Sugar ..................................................................... 43

4. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................................... 45

4.1. Caracterização da área experimental ........................................................................................................ 45 4.1.1. Descrição dos procedimentos adotados durante o primeiro ciclo da cultura (cana-planta) ............. 45

4.1.1.1. Descrição dos procedimentos adotados durante o segundo ciclo da cultura (CNSO1) ............. 45

4.2. Coleta dos dados experimentais ................................................................................................................ 50

4.3. Método do balanço de energia - razão de Bowen ..................................................................................... 54

4.4. Fluxo de seiva pelo método do balanço de calor ....................................................................................... 56

4.5. Método da reflectometria no domínio da frequência (FDR) na variação do conteúdo de água no solo .. 58

4.6. Simulação da cana-de-açúcar no modelo APSIM-Sugar ............................................................................ 61 4.6.1. Simulação do efeito combinado da palha e da irrigação na produtividade da cana-de-açúcar. ....... 63

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .........................................................................................................................67

5.1. Avaliações biométricas não destrutivas (BND) .......................................................................................... 67

5.2. Avaliações biométricas destrutivas (BD) ................................................................................................... 74 5.2.1. Massa fresca e seca da parte aérea ................................................................................................... 74 5.2.2. Avaliação tecnológica da cana-de-açúcar .......................................................................................... 79

5.3. Evapotranspiração, evaporação e transpiração do canavial ..................................................................... 80 5.3.1. Método do balanço de calor - razão de Bowen (MRB) ...................................................................... 80 5.3.2. Evapotranspiração pelo método da variação da umidade do solo - FDR .......................................... 83 5.3.3. Transpiração pelo método do balanço de calor – Fluxo de seiva ...................................................... 85

5.4. Avaliação e calibração do modelo APSIM-Sugar para condições de cultivo no município de Piracicaba-SP .......................................................................................................................................................................... 87

5.5. Simulação do efeito combinado de 5 diferentes quantidades de palha associadas à 5 níveis de reposição hídrica na produtividade da cana-de-açúcar. ................................................................................................... 92

5.5.1. Incertezas e limitações do modelo .................................................................................................... 93

6. CONCLUSÕES ............................................................................................................................................ 101

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................ 103

ANEXO A. ...................................................................................................................................................... 115

ANEXO B. ...................................................................................................................................................... 117

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RESUMO

Crescimento, desenvolvimento e consumo hídrico de cana-de-açúcar sob dois sistemas de

manejo da palha

A determinação da quantidade ideal de palha sobre o solo é uma das questões mais discutidas pelo setor sucroenergético, visto que este resíduo vegetal pode ser considerado um subproduto da cana-de-açúcar destinado à produção de etanol celulósico e cogeração de energia elétrica. Para estabelecer estes valores é necessário considerar as necessidades da cultura, juntamente com características físico-químicas e biológicas do solo. Os modelos de culturas baseados em processos (MCPs), especificamente o APSIM-Sugar, capaz de simular a matéria orgânica sobre o solo, pode ser utilizado em conjunto com experimentos de campo, para auxiliar as tomadas de decisão sobre quais as quantidades ideais de palha em cada sistema de produção de cana-de-açúcar no Brasil. Os MCPs devem ser utilizados para simular o desenvolvimento e o crescimento da cultura, além do balanço de água, nitrogênio e carbono no solo, o que possibilitaria a aplicação dos resultados experimentais em outras regiões de interesse, permitindo visão e compreensão mais amplas das principais questões do setor. Neste contexto, este estudo comparou dois tratamentos: manutenção de 100% da palha (CP) e remoção de 100% da palha (SP) em um experimento irrigado conduzido com a primeira soca da cultivar RB867515, cultivada na região meridional do Brasil, no município de Piracicaba, Estado de São Paulo, Lat. 22,67° S and Long. 47,64° W. Foram realizadas avaliações biométricas mensais, referentes as variáveis, perfilhamento, altura e diâmetro de colmos, índice de área foliar (IAF) e número de folhas verdes, assim como avaliações sobre as massas frescas e secas de folhas, colmos e palmitos. A evapotranspiração da cultura (ETc), foi obtida pelo método da razão de Bowen (MRB) e a partir da reflectometria no domínio da frequência (FDR). O fluxo de seiva pelo método do balanço de calor foi assumido como a transpiração (Tp). Comparando os tratamentos, observou-se diferenças significativas apenas para no IAF e na massa seca de folhas (MSF). A ETc mostrou valores entre 3 e 8 mm dia-1, dependendo das condições climáticas e do estágio da cultura. O coeficiente de cultivo (Kc) apresentou relação inversa com a evapotranspiração de referência (ETo), de tal forma que quando ETo < 2 mm, o Kc(SP) = 1,8 e o Kc(CP) = 1,5, e para situações com ETo > 6mm foram observados Kc(CP) = 1,3 e Kc(SP) = 1,2. O modelo de cultura APSIM-Sugar foi aplicado para diferentes regiões brasileiras, visando a determinação das melhores estratégias de manejo, tanto de água, quanto de solo. As simulações mostraram que, para todas as regiões, a manutenção de no mínimo 50% da palha e a reposição de 25% do total de irrigação, resultou nas maiores taxas de incremento da produtividade da cana-de-açúcar.

Palavras-chave: Evapotranspiração; Coeficiente de cultivo; Irrigação; Biometria; Modelagem de culturas; Calibração; APSIM-Sugar

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ABSTRACT

Growth, development and sugarcane water use considering two different trash

management systems

Determining the optimal amount of trash blankets above ground is one of the most discussed issues by the sugarcane industry, since this residue can be considered a byproduct of sugarcane due to cellulosic ethanol and electricity cogeneration. To establish these values, it is necessary to consider the crop needs together with physical, chemical and biological soil characteristics. The process based crop models (PBCMs), specifically APSIM-Sugar, able to simulate the soil organic matter, can be used in conjunction with field experiments to support the decision making about the optimum amounts of trash blanket for Brazilian sugarcane farming systems. PBCMs might be used to simulate the crop development and growth, water, nitrogen and carbon soil balances, and make the experiment data applicable for other regions allowing for a broader view and understanding on the key questions. In this context, this study compared two treatments: maintenance of 100% of the trash (CP) and removal of 100% of the trash (SP) in an experiment carried out with an irrigated first ratoon of RB867515 cultivar in Southern Brazil, at city of Piracicaba, State of São Paulo, Lat. 22,67° S and Long. 47,64° W. Monthly biometric evaluations were performed regarding the variables, tillering, stalk’s height and diameter, leaf area index (LAI) and number of green leaves, as well as fresh and dry mass of leaves, cabbages and stalks. Crop evapotranspiration (ETc) were assessed by Bowen ratio method (MRB) and frequency domain reflectometry (FDR). Sap flow measured by heat balance method was assumed to be the crop transpiration (Tp). APSIM-Sugar crop model was calibrated based on these experimental data, and such model was applied for different Brazilian regions for evaluating the best water-trash management strategies for each region. Comparing both treatments there were just significant differences for leaf area index (LAI) and leaves dry mass (MSF). ETc was ranged from 3 to 8 mm day-1, depending on the weather conditions and crop stage. Crop coefficient (Kc) showed an inverse linear relationship with reference evapotranspiration (ETo), in such way that when ETo < 2 mm, the Kc(SP) = 1,8 and Kc(CP) = 1,5, and for ETo > 6mm it was observed Kc(CP) = 1,3 and Kc(SP) = 1,2. APSIM-Sugar simulations showed that, in the most part of cases, the keeping at least 50% of trash blanket and 25% of total irrigation requirement, resulted on the highest yield rates.

Keywords: Evapotranspiration; Crop coefficient; Irrigation; Biometric data; Crop modelling; Calibration; APSIM-Sugar

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Distribuição da cana-de-açúcar no mundo (Adaptado de UNICA, 2012). ............................................... 20 Figura 3. Estádios fenológicos da cana-de-açúcar (Adaptado de GASCHO e SHIH, 1983). .................................... 21 Figura 4. Ciclo fenológico da cana-de-açúcar, divisão entre cana-planta e cana-soca: a) Pedaços de colmos

utilizados no plantio; b) Começo da emergência da parte aérea e radicular; c) Início do perfilhamento; d) Intensificação do perfilhamento; e) Começo da maturação; f) Colmos industrializáveis com nível ótimo de sacarose; g) Colheita; h) Brotação da soqueira (Ilustração de Rogério Lupo, adaptado de CHEAVEGATTI-GIANOTTO et al., 2011). ............................................................................................................................... 22

Figura 5. As cinco fases (A-E) fenológicas do ciclo da cana-de-açúcar proposta e sua influência na densidade do perfilhamento (adaptado de BEZUIDENHOUT et al., 2003). ........................................................................ 23

Figura 6. Representação da sequência de brotação e emissão dos primórdios radiculares presentes no colmo utilizado para o plantio da cultura da cana-de-açúcar (adaptado de van DILLEWIJN, 1952)....................... 24

Figura 7. Relação entre número de noites com temperatura abaixo de 18ºC no período indutivo e intensidade do florescimento (em porcentagem) (Adaptado de COLEMAN (1963) por MARIN (2014)). ....................... 28

Figura 8. Representação esquemática da concentração de glicose e sacarose em colmos de cana-de-açúcar com o avanço da idade e a posição dos entrenós. Sacarose está representada em linhas sólidas. No eixo das abscissas, a esquerda representa a base da planta. No eixo das ordenadas, a idade é crescente de baixo para cima. Adaptado de Alexander (1973)................................................................................................... 29

Figura 9. Relação entre umidade e teor de fibras no colmo para vários membros do gênero Saccharum. Adaptado de Bull & Glasziou (1963) por Alexander (1973). ........................................................................ 30

Figura 10. Distribuição espacial das usinas sucroalcooleiras e de biodiesel no Brasil em 2010 (MARIN, 2014). .. 31 Figura 11. Esquema geral do modelo APSIM com os módulos principais e em destaque, circulados, podemos

observar os módulos utilizados para calibração de variedades de cana-de-açúcar, o módulo Sugar é o responsável por simular a cultura da cana-de-açúcar (Adaptado de Keating et al., 2003).......................... 42

Figura 12. Descrição do modulo APSIM-Sugar (Adaptado de Keating et al. 2003). ............................................... 43 Figura 13. Representação esquemática da área experimental, com a descrição do pivô central, direção

predominante dos ventos, localização das torres para avaliação da evapotranspiração em cada tratamento (CP) com palha e (SP) sem palha, posicionamento dos tubos de acesso para a sonda Diviner 2000. O quadrado ao lado da cultura indica o local da captação de energia elétrica para os instrumentos....................................................................................................................................................................... 46

Figura 14. Frequência da direção do vento no período dos experimentos instalados na fazenda Areão, Piracicaba - SP, entre 01 de fevereiro 2011 e 16 de outubro de 2013 (NASSIF, 2015). ............................... 46

Figura 15. Avaliação da quantidade de água no solo em relação à capacidade de água disponível (CAD), linha tracejada refere-se ao nível crítico para irrigação limitada em 70% da CAD, avaliação para a “CNSO1”. ... 47

Figura 16. Determinação dos eventos de chuva ou irrigação e o volume precipitado na área experimental durante a condução da “CNSO1”. ................................................................................................................ 47

Figura 17. (A) Colheita manual da cana planta no dia 16/10/2013 e (B) implementos realizando o carregamento e o transporte da cana planta período de 17 a 22/10/2013. ....................................................................... 48

Figura 18. Quantidade de palha restante sobre o solo no tratamento CP logo após a colheita da cana-planta. . 48 Figura 19. (A) Primeiro dia de coleta da palha em Iracemápolis-SP e (B) segundo dia de coleta da palha em

Iracemápolis-SP. ........................................................................................................................................... 49 Figura 20. (A) Trator acoplado no implemento denominado cultivador e (B) área experimental após o processo

de cultivo da cana-de-açúcar. ...................................................................................................................... 49 Figura 21. Delimitação das parcelas experimentais de avaliação biométrica (5 m x 5 linhas), com estacas e fitas

zebradas. ...................................................................................................................................................... 51 Figura 22. (A) Distribuição manual da palha na área destinada ao tratamento CP, com palha e (B) tratamento CP

após a distribuição da palha. ........................................................................................................................ 51 Figura 23. (A) Instrumentos utilizados no campo para avaliação da evapotranspiração pelo MRB e (B) instalação

dos equipamentos nas torres para o MRB. .................................................................................................. 52 Figura 24. Instalação dos sensores de fluxo de seiva. ........................................................................................... 52 Figura 25. Nível crítico do reservatório de abastecimento do pivô central. .......................................................... 54 Figura 26. Colheita da 1ª cana-soca no dia 15/07/2014. ....................................................................................... 54 Figura 27. Representação esquemática do princípio de funcionamento do método do balanço de calor, em que

P é o calor aplicado ao sensor; Qs e Qi são os fluxos axiais de calor para cima e para baixo do sensor

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respectivamente; Qr é o calor dissipado radialmente; Qa é o calor armazenado no segmento de caule amostrado e Qf é o calor conduzido pela seiva (MARIN et al., 2008). ........................................................ 56

Figura 28. Exemplo de distribuição dos tubos de acesso da sonda Diviner 2000 em cada parcela, distribuição nas linhas e entrelinha para representar o conteúdo de água no solo no canavial irrigado. ...................... 58

Figura 29. Exemplo fora de escala do perfil de solo, com destaque para a profundidade do tubo de acesso da sonda Diviner 2000 e a profundidade média do sistema radicular da cana de açúcar na área experimental. ..................................................................................................................................................................... 59

Figura 30. a) Profundidade avaliada em 100 cm para o sistema radicular da cana de açúcar na área experimental. b) Coleta de amostras de solo indeformadas nas profundidades de 5, 15, 30, 60 e 100 cm. ..................................................................................................................................................................... 60

Figura 31. Avaliação temporal do perfilhamento (indivíduos m-²) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........ 67

Figura 32. Variação temporal do índice de área foliar para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), 1ª cana-soca. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ............................................................................................................................................... 69

Figura 33. Avaliação temporal do número médio de folhas verdes por colmo (NFV) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ............................................................................................................................................... 70

Figura 34. Número de graus dia (oC dia-1) necessários para a emissão de folhas nos tratamentos com palha (A) e sem palha (B). .............................................................................................................................................. 71

Figura 35. Graus dia acumulados (oC dia) em relação ao número de folhas totais acumuladas e folhas secas acumuladas, variando entre os tratamentos com palha (A e C) e sem palha (B e D). ................................. 72

Figura 36. Avaliação temporal da altura média dos indivíduos (cm) nos tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........ 73

Figura 37. Avaliação temporal do diâmetro médio de colmos (cm) nos tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........ 73

Figura 38. Avaliação temporal da Massa Fresca Total (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........ 74

Figura 39. Avaliação temporal da Massa Seca Total (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........ 75

Figura 40. Avaliação temporal da Massa Fresca de Colmos (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........ 76

Figura 41. Avaliação temporal da Massa Seca de Colmos (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........ 76

Figura 42. Avaliação temporal da Massa Fresca de Folhas (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........ 77

Figura 43. Avaliação temporal da Massa Seca de Folhas (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........ 78

Figura 44. Avaliação temporal da Massa Fresca de Palmito (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........ 78

Figura 45. Avaliação temporal da Massa Seca de Palmito (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........ 79

Figura 46. Valores médios e desvio padrão referentes à evapotranspiração da cultura (ETc), para variedade RB867515, avaliando a primeira soca, pelo método da Razão de Bowen e a evapotranspiração de referencia (ETo) por Allen et al. (1998), sendo o período 3 (Janeiro), 4 (Fevereiro), 5 (Março), 6 (Abril) e 7

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(Maio). As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. .................................................................................................................................................. 81

Figura 47. Valores médios de Kc para variedade RB867515, ciclo da 1ª cana-soca, avaliados pelo método da Razão de Bowen (Kc-MRB), sendo o período 3 (Janeiro), 4 (Fevereiro), 5 (Março), 6 (Abril) e 7 (Maio). .... 81

Figura 48. Relação do coeficiente de cultura (Kc), avaliado pelo método da Razão de Bowen e a evapotranspiração de referência (ETo), (A) tratamento com palha e (B) tratamento sem palha. .............. 82

Figura 49. Umidade volumétrica (θ) (mm mm-1), variando entre os tratamentos com palha e sem palha, a cada 10 cm de profundidade. ............................................................................................................................... 84

Figura 50. Relação entre a ETc avaliada pelo método da razão de bowen (MRB) e pelo método da reflectometria no domínio da frequência (FDR) nos tratamentos com palha - CP (A) e sem palha - SP (B)....................................................................................................................................................................... 85

Figura 51.Valores médios e desvio padrão de fluxo de seiva (L m-2folha dia-1) pelo método do balanço de calor,

para a 1ª soca, variedade RB867515 cultivada em Piracicaba-SP. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. ........................................................... 86

Figura 52. Variação da umidade volumétrica (θ), em mm.mm-1, avaliada pelo método da FDR, sendo descrita por pontos e a umidade volumétrica simulada pelo modelo APSIM-Sugar, para os tratamentos com palha e sem palha, considerando os primeiros 60 cm do solo, com os valores do ponto de murcha permanente (PMP), capacidade de campo (CC) e saturação (SAT) para profundidade. .................................................. 87

Figura 53. Resultados da simulação após a calibração da variedade RB867515 para o modelo APSIM-Sugarcane, resultados referentes à evapotranspiração real e potencial, transpiração, massa seca total e parcial para colmos, folhas e palmitos (somados) e altura da planta, para cada tratamento, ao longo de todo o ciclo da 1ª cana planta. ............................................................................................................................................. 90

Figura 54. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de palha sobre o solo, para os municípios de Brasilia - DF (A) e Catanduva - SP (B). ............. 94

Figura 55. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de palha sobre o solo, para os municípios de Diamantino - MT (C) e Londrina - PR (D). ........ 95

Figura 56. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de palha sobre o solo, para os municípios de Maceió - AL (E) e Palmas-TO (F). ..................... 96

Figura 57. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de palha sobre o solo, para os municípios de Paranaíba - MS (G) e Piracicaba - SP (H). ........ 97

Figura 58. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de palha sobre o solo, para os municípios de Presidente Prudente - SP (I) e Rio Verde - GO (J). ................................................................................................................................................................. 98

Figura 59. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de palha sobre o solo, para os municípios de São Carlos - SP (K) e São Simão - SP (L). .......... 99

Figura 60. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de palha sobre o solo, para os municípios de Uberaba – MG (M) e Votuporanga - SP (N). . 100

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Estádios fenológicos da cana-de-açúcar descrito para o modelo de culturas baseados em processos APSIM-Sugar (adaptado de Keating et al., 1999). ......................................................................................................................... 23

Tabela 2. Descrição dos manejos realizados para a 1ª cana-soca, contendo as datas e quantidades aplicadas e quais tipos de produtos comerciais (p.c.) utilizados para cada aplicação. ............................................................................ 49

Tabela 3. Descrição do manejo de irrigação para 1ª cana-soca, datas e volumes aplicados. .............................................. 50 Tabela 4. Determinação das variáveis biométricas destrutivas (BD) e não destrutivas (BND), contendo as siglas

utilizadas e as unidades para cada variável analisada durante o ciclo da a 1ª cana-soca. ......................................... 53 Tabela 5. Condicionais para a avaliação dos dados para o método da razão de Bowen (adaptado de PEREZ et al.,

1999). ...................................................................................................................................................................................... 55 Tabela 6. Parâmetros da variedade RB867515 calibrados para as simulações no modelo APSIM, baseados na

variedade Australiana Q117. .............................................................................................................................................. 62 Tabela 7. Estações meteorológicas com suas respectivas latitude, longitude e altitude. .................................................... 63 Tabela 8. Descrição do padrão de manejo utilizado para as simulações da cana-de-açúcar no modelo APSIM-Sugar,

separados por cana planta (CNPL) e 1ª soca (CNSO1). ............................................................................................... 64 Tabela 9. Descrição dos tratamentos utilizados para as simulações. ..................................................................................... 65 Tabela 10. Teste Tuckey para as variáveis biométricas não destrutivas (BND) em relação aos tratamentos com palha

(CP) e sem palha (SP), sendo avaliados o perfilhamento (PERF) em (perfilhos m-2), altura de plantas (ALTP), diâmetro (DIAM), número de folhas verdes (NFV) e o índice de área foliar (IAF). .............................................. 74

Tabela 11. Teste Tuckey para as variáveis biométricas destrutivas (BD) em relação aos tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), sendo avaliadas a massa fresca total (MFT), massa seca total (MST), massa fresca de colmos (MSC), massa seca de colmos (MSC), massa fresca de folhas (MFF), massa seca de folhas (MSF), massa fresca de palmitos (MFP) e massa seca de palmitos (MSP). .................................................................................................... 75

Tabela 12. Análises tecnológicas da cana para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), em três datas de amostragem. .......................................................................................................................................................................... 80

Tabela 13. Relação entre faixas de evapotranspiração de referencia (ETo-MRB) e o Kc para a os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP). .............................................................................................................................................. 82

Tabela 14. Determinação da média mensal para as variáveis evapotranspiração da cultura (ETc), de referência (ETo), além do coeficiente de cultura (Kc), pelo método da reflectrometria no domínio da frequência (FDR), primeira cana soca da variedade RB867515..................................................................................................................................... 85

Tabela 15. Índices estatísticos referentes os valores de umidade do solo, simulados e medidos em campo pelo método da FDR, bias, raiz do erro médio quadrado (RMSE), eficiência da modelagem (EF), coeficiente de correlação (r), índice de Willmott (d), para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP). ............................. 88

Tabela 16. Índices estatísticos referentes às variáveis biométricas e fisiológicas, simuladas e medidas em campo pelo método da FDR, Bias, raiz do erro médio quadrático (RMSE), eficiência da modelagem (EF) e o índice de Willmott (d). Avaliando a altura de plantas (ALTP), o índice de área foliar (IAF), a transpiração (Tp), evapotranspiração (ETc) pelo método da razão de Bowen (ETc-Bowen) e simulada pelo APSIM, além da massa seca total (MST), de colmos (MSC), de folhas (MSF) juntamente com a de palmitos (MSP)................... 91

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1. INTRODUÇÃO

A cana-de-açúcar é uma das culturas mais importantes para a economia brasileira, figurando como uma

fonte de divisas para o país. Possui importância fundamental como fonte de carboidratos para a alimentação e, também,

é responsável por suprir aproximadamente 15% da energia produzida no Brasil (UNICA, 2016).

A questão da sustentabilidade energética e o tema da segurança alimentar são duas vertentes que merecem

a atenção da pesquisa, especialmente se considerada a possibilidade de incremento de 30% na população mundial até

2050. Estas projeções implicam na necessidade de elevar tanto a produção de alimentos, quanto de energia, o que

representa um desafio para a sustentabilidade do planeta (MARIN et al., 2016b).

Uma das formas de aumentar a produção é a partir da intensificação da produção em áreas agrícolas ou pela

expansão das áreas produtivas. Estes acréscimos na área plantada, juntamente com a tecnificação do setor agrícola

brasileiro, podem influenciar positivamente a produção de cana-de-açúcar. No entanto, durante as últimas cinco safras,

observou-se uma tendência de queda na produtividade dos canaviais brasileiros em decorrência, principalmente, das

condições climáticas adversas, devido ao déficit hídrico acentuado nos anos anteriores, assim como, incremento da

área mecanizada, da expansão para novas regiões produtoras e da instabilidade econômica do país. Vale ressaltar que

este tipo de instabilidade proporcionou fechamento de aproximadamente 80 unidades produtoras desde o ano de 2008,

sendo que na região Centro-Sul, somente no ano de 2015, 10 usinas tiveram seus processos interrompidos por questões

financeiras (UDOP, 2016).

Considerando as condições climáticas de diferentes regiões produtoras de cana-de-açúcar no país, a irrigação

parece ser uma boa opção para viabilizar a produção econômica na maioria das áreas de expansão. Neste contexto, a

manutenção de uma determinada camada de palha sob o solo pode auxiliar na manutenção da umidade, principalmente

durante os períodos iniciais de desenvolvimento. Consequentemente, pode-se supor que a redução da evaporação

possa contribuir para conservar umidade no solo, reduzir o estresse hídrico e, eventualmente, diminuir a necessidade

de irrigação. Vale ressaltar que a agricultura é constantemente pressionada para reduzir a utilização dos recursos

hídricos, fundamentais para a manutenção da vida, assim como, para o bem-estar da comunidade. O conhecimento da

fisiologia tanto dos vegetais, quanto dos animais, pode auxiliar na racionalização dos recursos hídricos utilizados pela

agricultura.

No contexto da cana-de-açúcar brasileira, o conhecimento destes processos, ou seja, da sucessão de eventos

que proporcionam o crescimento e desenvolvimento vegetal, principalmente, os relacionados à manutenção da palha

sobre o solo, podem viabilizar a produção em novas regiões, assim como o incremento da eficiência produtiva do

setor. Apesar disso, até o presente momento, este tipo de abordagem não havia sido empregado para a cultura da cana-

de-açúcar no Brasil.

Outra ferramenta importante para avaliação de hipóteses, sistematizar o conhecimento adquirido com a

experimentação e extrapolar predições para outras regiões são os modelos de culturas baseados em processos (MCP),

como é o caso do modelo APSIM-Sugar. Considerando a importância agronômica e econômica do manejo da palhada

nos canaviais brasileiros, dados experimentais e simulações foram aplicadas neste trabalho para contribuir com o

entendimento dos processos envolvidos na interação entre a palhada, o consumo hídrico e o desenvolvimento de um

canavial.

Portanto, a hipótese do trabalho é que a manutenção da palha sobre o solo interfere no desenvolvimento

fenológico da cana de açúcar, assim como no incremento de massa e na evapotranspiração e um canavial plantado com

a variedade brasileira RB867515.

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2. OBJETIVOS

2.1. Geral

O objetivo geral desta tese foi analisar o efeito de dois sistemas de manejo da palha sobre o solo

(manutenção ou remoção completa da palhada) no desempenho agronômico e na evapotranspiração de um canavial

irrigado.

2.2. Específicos

Para a consecução desse objetivo geral esta tese teve os seguintes objetivos específicos:

1) Estudar o consumo hídrico de um canavial, utilizando o método da Razão de Bowen e o método da

Reflectometria no Domínio da Frequência (FDR), ao longo do ciclo da cultura.

2) Avaliar a transpiração através de medida do fluxo de seiva com a utilização do método de balanço de

calor.

3) Determinar os valores do coeficiente de cultura (Kc) para os dois sistemas de manejo da palha sobre o

solo, relacionando com o estágio de desenvolvimento da cultura.

4) Analisar a população, o diâmetro de colmos, o índice de área foliar, a massa fresca e seca de colmos,

folhas e palmitos, para os dois sistemas de manejo da palha sobre o solo do canavial.

5) Estudar o particionamento da evapotranspiração em transpiração e evaporação em um canavial

irrigado, com e sem remoção da palhada.

6) Sistematizar o conhecimento gerado utilizando-se o modelo APSIM-Sugar para checar a capacidade

do modelo em simular o crescimento e produção da cana-de-açúcar, bem como aplicar o modelo para

outras regiões do Brasil.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Cana-de-açúcar

3.1.1. Classificação e nomenclatura

O gênero Saccharum foi primeiramente descrito por Linnaeus (1753) em seu livro Species Plantarum. No

trabalho, o autor descreve apenas duas espécies: S. officinarum e S. spicalum L. O nome Saccharum é derivado do grego

sakcharon, que significa açúcar, o qual foi latinizado pelo próprio Linnaeus (DILLON et al., 2007).

Este gênero possui dois sinônimos conhecidos Saccharophorum e Saccharifera e nas descrições iniciais era

constituído de apenas cinco espécies S. officinarum, S. spontaneum, S. sinense, S. edule e S. barberi, todas provenientes do

“Velho Mundo”, como era chamada a junção de Europa, África e Ásia, ou seja, a parte conhecida do Planeta Terra

antes da “descoberta” das Américas, considerada o “Novo Mundo” e também da Oceania - o “Novíssimo Mundo”.

Posteriormente, novas espécies foram incorporadas ao Saccharum, todas provenientes de outros gêneros, como por

exemplo: Andropogon, Anthoxanthum, Eriochrysis e Erianthus. Vale ressaltar que o gênero Erianthus compreendia espécies

tanto do Velho Mundo quanto do Novo Mundo e agora o Saccharum abrange todas as espécies previamente descritas

como Erianthus (CHEAVEGATTI-GIANOTTO et al., 2011).

A cana-de-açúcar cultivada no Brasil é um híbrido das espécies Saccharum officinarum, Saccharum barberi,

Saccharum robustum, Saccharum spontaneum, Saccharum sinensis e Saccharum edule. A Saccharum officinarum é utilizada como base

para o melhoramento genético no país, devido à capacidade de acumular altos níveis de sacarose no colmo; entretanto,

possui baixa resistência a doenças. Os genes de resistência, vigor, perfilhamento e capacidade de rebrota são

provenientes da espécie Saccharum spontaneum (SCARPARI; BEAUCLAIR, 2008).

Outros autores citam que os genótipos de cana-de-açúcar cultivadas atualmente são provenientes de

hibridização da S. officinarum e da S. spontaneum, iniciada nos primórdios do século XX e que logo resultou na melhoria

dos tratos culturais, na resistência às doenças e também possibilitou a manutenção das soqueiras por mais tempo no

campo, ou seja, viabilizou o cultivo de vários ciclos da cultura sem a necessidade do replantio (DILLON et al., 2007).

No entanto, estas melhorias demandaram novos programas de melhoramento no intuito de elevar os teores de sacarose

no colmo, dentre os quais podemos citar a “nobilização” que consistia no retrocruzamento dos híbridos obtidos com

a S.officinarum o que possibilitaria o incremento dos teores de sacarose no colmo (EDMÉ et al., 2005).

3.1.2. Distribuição geográfica

A cana-de-açúcar possui origem na região localizada entre Nova Guiné e Indonésia com registros de 8000

anos. Porém, há indícios de que, neste mesmo período, também era conhecida na China (JAMES, 2004). Nas Índias,

a cana-de-açúcar já era utilizada desde 1500 a.C (ARANHA; YAN, 1987).

Atualmente a cultura é plantada em todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo (Figura 1), em ambos

os hemisférios, desde a latitude 35°N até 35°S (van DILLEWIJN, 1952). No ano de 2013, os principais países

produtores de cana-de-açúcar foram o Brasil (38.4%), Índia (19.2%), China (6.5%), Tailândia (5.2%), Paquistão (3.1%),

México (2.7%), Colômbia (1.7%), Filipinas (1.7%), EUA (1.6%), Indonésia (1.5%) e Austrália (1.4%) (FAO, 2015).

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Figura 1. Distribuição da cana-de-açúcar no mundo (Adaptado de UNICA, 2012).

No Brasil, o cultivo da cana-de-açúcar é concentrado nas regiões Sudeste (62,4%), Centro-Oeste (21,4%) e

Nordeste (8,7%), estes valores percentuais são estimativas para produção nacional na safra 2015/2016 (CONAB,

2015). A expansão atual da cana-de-açúcar ocorre, principalmente, em regiões mais secas quando comparadas às regiões

tradicionais de cultivo no país, como por exemplo, noroeste do Estado de São Paulo e Centro-Oeste do Brasil, nas

quais algum tipo de irrigação se torna fundamental para a manutenção da cultura na área (VIANNA; SENTELHAS,

2015).

3.1.3. Fenologia

O ciclo produtivo da cana-de-açúcar pode ser dividido em quatro fases distintas, com destaque para a

divisão da etapa intermediária em duas fases distintas: 1) germinação e emergência; 2) estabelecimento e perfilhamento;

3) crescimento intenso e 4) maturação, com acúmulo de sacarose no colmo (Figura 2), estes estádios fenológicos não

são tão simples de serem identificados no campo e a duração de cada um varia em função da época de plantio ou corte,

temperatura do ar e disponibilidade de água no solo (DOOREMBOS e KASSAN,1979; GASHO e SHIH, 1983).

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Figura 2. Estádios fenológicos da cana-de-açúcar (Adaptado de GASCHO e SHIH, 1983).

Existem dois ciclos básicos de produção de cana-de-açúcar, o primeiro, denominado ciclo da cana-planta,

começa com o plantio e termina após a primeira colheita e o segundo, ciclo da cana soca, tem início após a colheita da

cana-planta e continua com as sucessivas colheitas da cana soca até que haja a renovação do canavial (Figura 3). O

ciclo completo de um canavial tem duração média de quatro a cinco anos, tempo após o qual a área é renovada com

novo plantio de toletes, no entanto, vale ressaltar que pode variar com o tipo de manejo empregado na área

(CHEAVEGATTI-GIANOTTO et al., 2011).

As principais diferenças entre a cana-planta e a cana soca estão associadas aos processos de enraizamento e

brotação, que, em situações normais, ocorrem mais rapidamente na cana-soca. No entanto, vale ressaltar as contínuas

quedas de produtividades das soqueiras em relação à cana-planta, as quais têm sido associadas à compactação e à queda

de fertilidade do solo, causadas pelo uso contínuo e intensivo do solo pela cultura da cana-de-açúcar e pela utilização

ineficiente de fertilizantes (MARIN et al., 2009).

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Figura 3. Ciclo fenológico da cana-de-açúcar, divisão entre cana-planta e cana-soca: a) Pedaços de colmos utilizados

no plantio; b) Começo da emergência da parte aérea e radicular; c) Início do perfilhamento; d) Intensificação do

perfilhamento; e) Começo da maturação; f) Colmos industrializáveis com nível ótimo de sacarose; g) Colheita; h)

Brotação da soqueira (Ilustração de Rogério Lupo, adaptado de CHEAVEGATTI-GIANOTTO et al., 2011).

A associação de estádios fenológicos da cana-de-açúcar aos períodos cronológicos fixos não deve ser

adotada, pois, fenologicamente a cana-de-açúcar também responde à disponibilidade hídrica e nutricional do solo,

assim como às características genéticas inerentes a cada variedade e, não somente ao regime térmico local (MARIN,

2014a). Neste contexto, uma terceira abordagem para descrever o ciclo da cultura foi proposta por Bezuidenhout et

al. (2003), com a divisão fenológica em 5 fases: A) pré-germinação; B) pré-emergência; C) emergência de perfilhos

primários; D) emergência de perfilhos secundários e E) senescência de perfilhos (Figura 4). No trabalho de

Bezuidenhout et al. (2003), o foco foi estabelecido para as questões inerentes ao perfilhamento da cultura e, tem sido

considerada a mais adequada para representar o ciclo da cultura (MARIN, 2014a).

Ciclo da cana-planta

Ciclo da cana-soca

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Figura 4. As cinco fases (A-E) fenológicas do ciclo da cana-de-açúcar proposta e sua influência na densidade do

perfilhamento (adaptado de BEZUIDENHOUT et al., 2003).

Alguns modelos de culturas baseados em processos, como é o caso do modelo APSIM-Sugar (do inglês

Agricultural Production Systems sIMulator) utiliza uma outra abordagem fenológica para distinguir as fases durante

todo o ciclo da cultura. Este modelo de cultura específico divide o ciclo em seis diferentes estádios fenológicos

(Tabela 1) (KEATING et al., 1999a).

Tabela 1. Estádios fenológicos da cana-de-açúcar descrito para o modelo de culturas baseados em processos APSIM-

Sugar (adaptado de Keating et al., 1999).

Estádio Descrição

Plantio Do plantio à germinação Germinação ou brotação Da germinação à emergência Emergência Da emergência ao crescimento do colmo Crescimento do colmo Do crescimento do colmo ao florescimento Florescimento Do florescimento ao final do ciclo Final do ciclo Retirada da cultura da simulação do modelo

3.1.4. Germinação e emergência

Ao longo de vários séculos de cultivo da cana-de-açúcar, acreditou-se que a sua reprodução só poderia

ocorrer vegetativamente. Este equívoco se propagou principalmente porque por quase dois séculos e meio, no

continente americano, as variedades cultivadas permaneceram como macho-estéreis e, portanto, não produziam

sementes (van DILLEWIJN, 1952).

No século XIX, alguns autores chegaram a afirmar categoricamente que a cana-de-açúcar não seria capaz

de produzir sementes viáveis (WRAY, 1848; CANDOLLE, 1883). Segundo Marin (2014a), provavelmente, este

equívoco ocorreu devido à observação apenas da cana-de-açúcar produzida no ocidente e à dificuldade de comunicação

daquele período, pois, Parris (1859) em Barbados e Alphen (1862) (apud van DILLEWIJN, 1952), em Java, no mesmo

período em questão, já haviam reportado a possibilidade de produzir sementes capazes de germinar, as quais eram

produzidas em condições naturais.

O processo de brotação inicia-se a partir de 7 a 10 dias após o plantio (DAP) e geralmente se estende até

que haja a emissão dos primórdios radiculares e de brotação primária, que deve ocorrer até o 35° DAP (Figura 5).

Nesta fase o consumo de energia provém da degradação das substâncias de reserva do tolete, a planta utiliza O2 para

a oxidação dos carboidratos, lipídeos e proteínas para produzir a energia necessária a biossíntese (SEGATO et al,

2006), sendo regulada por fatores ambientais externos e internos (PARANHOS, 1987).

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Figura 5. Representação da sequência de brotação e emissão dos primórdios radiculares presentes no colmo utilizado

para o plantio da cultura da cana-de-açúcar (adaptado de van DILLEWIJN, 1952).

Esta fase é influenciada pela qualidade da muda, ambiente de produção, época e manejo do plantio (RIPOLI

et al., 2006). Os toletes da cana-de-açúcar respondem à temperatura do ar para brotação, entre 19ºC e 43ºC. A faixa

ótima é descrita entre 32 e 37 ºC e a emergência é o evento que aparece na sequência da brotação e se dá quando as

folhas atingem a superfície do solo e passam a ser visíveis (MARIN, 2014a). Em trabalho recente, Vianna et al. (2015)

mostraram relação entre a temperatura do solo e o perfilhamento o que pode acontecer também para a germinação.

Dentro da mesma variedade, pode haver variação tanto na taxa de geminação quanto na emergência de

acordo com as idades das mudas e das gemas dentro do mesmo tolete, grau de umidade, concentração de açúcares e

nutrientes minerais, sendo os melhores resultados para mudas com aproximadamente 10 meses de desenvolvimento.

Algumas variedades apresentam baixa emergência a partir do tolete, no entanto, mostram ótimos resultados no ciclo

de cana soca (SEGATO et al, 2006). Estes estádios fenológicos são influenciados tanto por fatores ambientais externos

(umidade do solo, temperatura, entre outros) quanto internos (gema saudável e umidade do tolete)

(PARANHOS, 1987).

Algumas variedades brasileiras de cana-de-açúcar possuem como característica menor exigência térmica

para emergir, com emergência estimada entre 400 e 450 oC.d, valores superiores aos apresentados na (Figura 2) como

é o caso das RB72454, RB867515 e SP83-2847 (MARIN et al., 2011, MARIN et al., 2016), ou seja, ocorre em

aproximadamente 20 dias após o plantio, se considerarmos os períodos mais quentes do ano na região Centro-Sul do

Brasil. Outra variedade de cana-de-açúcar, com relativa importância para a África do Sul (NCo376) necessita de

aproximadamente 1050 °C.d (SINGELS et al., 2008). Esta diferença na exigência térmica para a emergência da cultura

explica a diferença na capacidade produtiva observada entre os materiais genéticos brasileiros e sul-africanos

(SUGUITANI, 2006).

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Segundo Barbieri et al. (1979) a temperatura base para a emergência é de 21°C, sendo 32°C considerada

ótima nesta fase. Keating et al. (1999), porém, indicaram que 9oC é a temperatura base para a cultura da cana-de-açúcar,

semelhante ao apresentado por Singels et al. (2008) em que os autores ditam que a temperatura base para a emergência

da cultura é de 10oC.

3.1.5. Perfilhamento

O desenvolvimento inicial da cana-de-açúcar ocorre na forma de touceiras com os perfilhos se

desenvolvendo desde a parte basal. O perfilhamento faz parte do período de estabelecimento da cultura, assim como

a formação de raízes e emissão de folhas (MARIN, 2014a).

O perfilhamento é um processo de formação de novos brotos originários de uma mesma planta,

provenientes da parte subterrânea do vegetal (toletes, para cana-planta e colmos anteriormente formados, no caso de

cana-soca) e a quantidade de perfilhos por touceira pode variar de acordo com a espécie, cultivar e manejo adotado

(SUGUITANI, 2006). Outro fator relevante para o perfilhamento da cana-de-açúcar é a temperatura do ar, sendo

favorecido na faixa de 30ºC. Consequentemente, a época de plantio se torna outro fator determinante para o

perfilhamento, influenciando diretamente a adequada população de plantas (van DILLEWIJN, 1952). Vianna et al.

(2015) mostraram relação entre a temperatura do solo e o perfilhamento. Bezuidenhout et al. (2003) afirmam ser

possível desenvolver um algoritmo que descreva o padrão de perfilhamento por variedades, utilizando a radiação

incidente, arquitetura da copa e temperatura do ar.

Para o computo da taxa de perfilhamento, o início da somatória térmica deve ocorrer na fase de

pré-germinação que, por sua vez, corresponde ao período entre o plantio e o início do desenvolvimento das gemas

inertes. Vale destacar que logo após a fase de pré-germinação inicia-se a fase de pré-emergência, com crescimento

radicular intenso (van DILLEWIJN, 1952). Segundo Keating et al. (1999), o crescimento ocorre na taxa de

0,8 mm.°C-1.d-1 para temperatura base de 9°C.

O perfilhamento por ser dividido em duas fases, perfilhamento primário e perfilhamento secundário que,

por sua vez, pode ser dividido em duas subfases: perfilhamento abundante e fase de declínio. No perfilhamento

primário a taxa de emergência é constante e, nesta fase, são necessários 170 ºC.d, considerando a temperatura base de

9 ºC. Na fase secundária, o perfilhamento abundante é favorecido pela alta temperatura, enquanto a fase de declínio é

relacionada à competição por radiação solar (BEZUIDENHOUT et al., 2003).

Portanto, a interceptação de radiação solar é um dos fatores determinantes para as fases do perfilhamento

da cultura e, neste contexto, o espaçamento de plantio na entrelinha é fundamental para a capacidade de perfilhamento

da cultura. Com espaçamento menor, a quantidade de colmos industrializáveis por metro quadrado (m²), em geral, é

maior (GALVANI et al., 1997), a não adoção de espaçamentos menores e, portanto, mais eficientes é imposta pelo

maquinário de colheita que não condiz com os espaçamentos mais adequados (MARIN, 2014a).

Tanto a intensidade quanto o período de duração da radiação solar são fundamentais para o perfilhamento.

Neste período, a auxina produzida no meristema apical, desloca-se por toda a planta, regulando o crescimento da

cultura e atuando na inibição do crescimento das gemas laterais, o que está diretamente relacionada com a inibição da

formação de novos perfilhos. Quando a intensidade radiativa na base do colmo é elevada, ocorre a redução da produção

deste hormônio e, consequentemente, ocorre o incremento do perfilhamento, no entanto, quando a área foliar da

cultura atinge o nível adequado, a produção deste hormônio se intensifica, indicando que o perfilhamento pode ser

reduzido (ZHOU et al., 2003; BEIZUIDENHOUT et al., 2003).

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Na fase de estabelecimento da cultura, o desenvolvimento inicial vigoroso e o intenso perfilhamento são

fundamentais para as questões de manejo da cultura, pois o fechamento do dossel é um dos indicativos da formação

adequada da população de plantas na área, favorecendo a absorção de radiação solar, com melhor eficiência na

utilização e também para o controle das plantas daninhas que, a partir do fechamento da copa, não disporão dos níveis

mínimos de radiação para sua manutenção na área (MARIN, 2014a). Na fase final do perfilhamento, os colmos mais

desenvolvidos continuarão a crescer e aumentar em diâmetro. Nesta fase, os perfilhos mais jovens e menores tendem

a ser eliminados em decorrência da competição por radiação solar (INMAN-BAMBER, 1994).

3.1.6. Crescimento

O crescimento da cana-de-açúcar pode ser entendido em termos de alongamento do colmo, no entanto,

também se deve incluir o aumento de massa e tamanho de planta. Durante esta fase vegetativa, três processos

concorrem para a formação de novas estruturas vegetais: divisão, diferenciação e alongamento celular. A primeira fase,

denominada divisão celular, resulta na formação contínua de novas células e ocorre predominantemente no meristema

localizado na região apical da planta. As células formadas recentemente se diferenciam para formar vários tipos de

células e o alongamento toma lugar num estágio subsequente. No caso da cana-de-açúcar, a taxa de crescimento não é

uniforme, o início tende a ser mais lento e há, gradativamente, um incremento nestes valores até que ocorra a maior

taxa de crescimento da cultura, posteriormente ocorre o declínio da taxa de crescimento (van DILLEWIJN, 1952).

A cultura da cana-de-açúcar não necessariamente mantém o crescimento em altura e o incremento de massa

ocorrendo simultaneamente (MARIN, 2014a). Por exemplo, durante os períodos de seca moderada, mesmo que não

haja incremento em altura da planta, ainda pode-se observar o acúmulo de biomassa no colmo, simplesmente

aumentando a espessura dos colmos (van DILLEWIJN, 1952). A sacarose que começa a ser produzida pelas folhas

no período de crescimento da cultura acumula-se prioritariamente nos internódios basais e sua concentração se torna

cada vez menor quanto mais próximo do ápice, sendo que o armazenamento deste carboidrato ocorre nos vacúolos

do parênquima. Vale ressaltar que o processo de crescimento compete diretamente com o acúmulo de sacarose e,

portanto, sobre condições normais, a concentração de sacarose é mínima mesmo nos internódios basais

(MACHADO, 1981).

O crescimento menos acentuado da cultura está diretamente associado com a redução na taxa de

alongamento do colmo e com o aumento no acúmulo de biomassa não estrutural que, por sua vez, possui relação

direta com a taxa de respiração da planta. Esta redução também está associada com a quantidade decrescente do

conteúdo de nitrogênio foliar que, por sua vez, está relacionada com a idade da cultura. Fato comprovado pela ausência

de resposta da cana-de-açúcar ao incremento nas doses de nitrogênio (N) aplicado no mesmo período, no final da fase

de crescimento da cultura (STEVENSON et al., 1992; PAMMENTER e ALLISON, 2002).

Segundo Inman-Bamber; Muchow; Robertson (2002), a fração da biomassa pertencente ao colmo aumenta

conforme ocorre o aumento da biomassa total, sendo que a fração é nula antes do início do crescimento do colmo e

seu valor máximo ocorre na maturação, sendo diretamente afetada pelo estresse hídrico, temperatura e cultivar. Keating

et al. (1999) considera como 70% a fração de biomassa destinada para a produção de colmos, já Nassif (2015) cita

valores entre 59% a 73%. Neste contexto, observa-se que a cana-de-açúcar cresce mais lentamente em comparação

com outras espécies C4, tanto nas fases iniciais como também no final do ciclo, sendo que no que diz respeito à

produção de folhas, a cultura responde menos à temperatura do ar do que outras espécies tropicais similares.

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3.1.7. Florescimento

Ao contrário do que acontece em culturas agrícolas onde o produto colhido é o fruto proveniente do

processo reprodutivo da cultura, na cultura da cana-de-açúcar, o florescimento é uma etapa fisiológica indesejada para

áreas comerciais (MARIN, 2014a). Este processo implica em mobilização da energia armazenada nos colmos para a

produção da inflorescência, dando origem ao processo denominado de “isoporização do colmo” que,

consequentemente, acarreta perdas econômicas significativas para o setor sucroenergético (SANTOS; BORÉM;

CALDAS, 2012).

No entanto, para os programas de melhoramento da cana-de-açúcar, o florescimento é necessário para a

produção de novas progênies (MOORE, 1987) e, em muitos casos, precisa ser induzido artificialmente, utilizando-se

câmaras climatizadas para obtenção das condições exigidas para desencadear o processo (MARIN, 2014). A ocorrência

de florescimento também depende das condições de umidade e fertilidade do solo, fotoperíodo, temperatura do ar e

maturidade da cultura (COLEMAN, 1963).

Neste sentido, Pereira; Barbieri e Villa Nova (1983) estabeleceram que para a variedade NA56-79, o

florescimento pode ser previsto pela contagem do número de dias com temperatura mínimas acima de 18ºC e máximas

abaixo de 31ºC, no período que vai de 25 de fevereiro até 20 de março, como na equação 1:

𝐼𝐹 = 1,263 − 0,06764. 𝑁1 (𝑇𝑚𝑖𝑛>18°C) − 0,02296. N2 (𝑇𝑚𝑎𝑥<31°C) (1)

em que: IF é um indicador da probabilidade de ocorrer o florescimento, sendo que para IF=0, há 50% de probabilidade

do florescimento ocorrer; para IF<0 o florescimento deve ocorrer e, para IF>0, não haverá florescimento; N1 é o

número de noites com temperatura mínima acima de 18ºC durante o período indutivo; N2 é o número de dias com

temperatura máxima abaixo de 31ºC durante o período indutivo.

Stevenson (1965) descreveu os fatores que causam o estímulo para que o meristema apical se modifique,

deixando de produzir folhas e colmos e passando a formar a inflorescência. Segundo ele, o florescimento da cana-de-

açúcar normalmente ocorre quando as taxas de crescimento começam a diminuir devido à redução no fotoperíodo,

em associação com níveis adequados de temperatura e umidade do solo. Assim, pode-se inferir que florescimento

normalmente ocorre após o solstício de verão, com fotoperíodo entre 12h e 12,5h e temperatura noturna acima de

18ºC. Neste contexto, Bull e Glasziout (1963) estabeleceram a necessidade de, pelo menos, 10 dias nestas condições

para desencadear o florescimento complementando o trabalho anteriormente descrito.

Em média, os anos com florescimento apresentaram 18 noites com temperatura mínima maior ou igual a

18°C e 21 dias com temperatura máxima menor ou igual a 31°C; os anos sem florescimento apresentaram 7 noites e

13 dias, respectivamente (MARIN, 2014a). A intensidade de florescimento em canaviais pode ser estimada pela equação

descrita a seguir (Figura 6).

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Figura 6. Relação entre número de noites com temperatura abaixo de 18ºC no período indutivo e intensidade do

florescimento (em porcentagem) (Adaptado de COLEMAN (1963) por MARIN (2014)).

Assim, uma regra geral que pode ser depreendida é que no hemisfério sul o estímulo e a diferenciação

meristemática para a formação da flor ocorrerão nos meses de fevereiro, março e abril, havendo florescimento nos

meses de abril, maio e junho. Já no hemisfério norte, a diferenciação ocorreria em agosto, setembro e outubro, com a

consequente floração de outubro a janeiro (RODRIGUES, 1995).

3.1.8. Maturação

Diferente das culturas que possuem ciclo reprodutivo completo para a produção econômica, na cana-de-

açúcar a fase de maturação não é bem definida fisiologicamente, seu início ocorre nos últimos meses do ciclo da cultura,

nos quais algum tipo de estresse moderado, como por exemplo, deficiência hídrica ou períodos de frio, restringem o

alongamento dos colmos, assim como a multiplicação celular, no entanto, não deverá ocorrer comprometimento da

capacidade fotossintética da planta. Outra abordagem determina o início da maturação no momento em que os colmos

que sobreviveram à competição da fase de perfilhamento passam a acumular sacarose proveniente da fotossíntese

(MARIN, 2014a).

A maturação é um dos aspectos mais importantes para o setor sucroenergético, pois, este período está

diretamente relacionado com o momento de industrialização da cultura, ou seja, a viabilidade econômica do setor

depende da qualidade da matéria prima que, por sua vez, refere-se ao teor de sacarose no colmo, ou seja, qual o grau

de maturação que está sendo atingido no momento que a cana-de-açúcar é colhida (GALDIANO, 2008). Portanto, se

a maturação da cana-de-açúcar não ocorre naturalmente, em determinadas regiões e condições ambientais, é necessário

a utilização de agentes “amadurecedores” ou maturadores exógenos, os quais deverão ser utilizados no período

considerado economicamente ideal e funcionam como inibidores do crescimento vegetativo, sem interferirem na

produção dos fotoassimilados (MARIN, 2014a). Na região Sudeste do Brasil, o início do período de maturação deve

ocorrer naturalmente, com início no mês de maio e o ponto de maturação ideal ou “clímax” ocorre no mês de outubro

(DEUBER, 1988).

Nesse contexto, a utilização de maturadores químicos, os quais também podem ser definidos como

reguladores vegetais, destacam-se como importantes ferramentas para a cultura da cana-de-açúcar (LEITE et al., 2009).

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Podem promover melhorias na qualidade da matéria-prima, otimizando os resultados agroindustriais e econômicos,

além de auxiliar no planejamento da safra (CAPUTO et al., 2008).

No início da safra, a maturação pode não ocorrer naturalmente, mesmo que sejam utilizadas variedades

precoces e, portanto, a aplicação de maturadores deve melhorar os teores de sacarose e, consequentemente, a eficiência

da indústria (SUBIROS, 1990). A utilização de reguladores vegetais não deve ser uma prática rotineira no setor, sendo

somente realizada esporadicamente e, assim que possível, substituída por um programa de manejo de varietal, com

cultivares que amadureçam nas épocas desejadas, melhorando o rendimento durante os períodos críticos da safra

(CAPUTO et al., 2008).

Durante o processo de maturação da cana-de-açúcar, os colmos funcionam como reservatórios com boa

capacidade de acúmulo de sacarose. Este processo está diretamente correlacionado aos elementos climáticos e, segundo

Cardozo e Sentelhas (2013), é possível predizer a concentração de sacarose em função das condições ambientais. O

teor de sacarose no colmo varia de acordo com a idade dos entrenós, sendo sempre maior nos basais (mais velhos) e

menores nos entrenós mais próximos ao ápice (mais novos), pois, próximo à região apical, a quantidade de folhas

verdes é maior, o teor de fibras mais elevado e, portanto, estes dois fatores aliados às altas concentrações de hexoses

que resultam em baixos níveis de sacarose (ALEXANDER, 1973). Essa representação do processo de acúmulo de

sacarose foi utilizada por Marin e Jones (2014) e adaptada de Alexander (1973) (Figura 7).

Figura 7. Representação esquemática da concentração de glicose e sacarose em colmos de cana-de-açúcar com o avanço

da idade e a posição dos entrenós. Sacarose está representada em linhas sólidas. No eixo das abscissas, a esquerda

representa a base da planta. No eixo das ordenadas, a idade é crescente de baixo para cima. Adaptado de Alexander

(1973).

Durante a fase de maturação da cultura, o teor de umidade do colmo também varia de acordo com as

condições ambientais e, portanto, influi diretamente no rendimento comercial, uma vez que a produção é calculada em

base úmida (MARIN, 2014). Alguns modelos de simulação de culturas, como por exemplo, o APSIM-Sugar, utiliza

uma estimativa de umidade do colmo em função do material estrutural do colmo e estádio fenológico da cultura.

Portanto, calcula-se a quantidade de material estrutural produzido por grama de água absorvido, com influência direta

dos estresses hídrico e nutricional. A umidade do colmo também se relaciona com o teor de sacarose do colmo, durante

a maturação a umidade tende a diminuir enquanto o teor de sacarose aumenta (KEATING et al., 1999). Desde que

haja bom suplemento de água, a umidade do colmo pode estar relacionada com a variação da temperatura do ar

(MARTINÉ; SIBAND; BONHOMME, 1999).

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Vale destacar que um dos aspectos fisiológicos mais importantes para o entendimento da relação entre

umidade do colmo e o teor de sacarose está no fato da água ser essencial no colmo para manter a pressão de

turgescência, assim como a circulação normal nesse tecido, enquanto isso a planta pode sintetizar e acumular

carboidratos (ALEXANDER, 1973). Por outro lado, este mesmo autor destaca que no trabalho de Bull & Glasziou

(1963), os autores identificaram relação entre umidade do colmo e o teor de fibra mais forte que entre umidade e teor

de sacarose no colmo (Figura 8).

Figura 8. Relação entre umidade e teor de fibras no colmo para vários membros do gênero Saccharum. Adaptado de

Bull & Glasziou (1963) por Alexander (1973).

3.1.9. Importância econômica da cana-de-açúcar

No final do século XV e início do XVI, na Europa, o açúcar proveniente da cana-de-açúcar era tão

valorizado quanto o ouro. Sua produção no continente europeu era limitada, principalmente por razões climáticas,

assim, o cultivo deste vegetal consolidou-se como um negócio rentável, principalmente para países que possuíam o

monopólio comercial sobre regiões aptas ao cultivo da cana-de-açúcar, como Portugal, com domínio sobre as ilhas de

Açores, Madeira e o Brasil (UNICA, 2012). A partir da introdução da cana-de-açúcar em território brasileiro,

consideram-se os três séculos subsequentes como o “Ciclo da Creoula”, devido ao predomínio desta variedade no

período. Posteriormente, esta foi substituída pela variedade “Caiana”, com maiores teores de açúcar e mais produtiva

(BARBOSA, 2005).

Com o início do melhoramento genético da cana-de-açúcar no final do século XIX e início do século XX,

o Brasil passou a importar rotineiramente variedades de outros países, mais produtivas e com maiores teores de

sacarose. Entretanto, neste período, o controle fitossanitário e o quarentenário não eram realizados.

Consequentemente, os canaviais brasileiros foram acometidos por problemas decorrentes da infestação de pragas e

doenças que provocaram epidemias, como por exemplo, as do mosaico e do carvão. Com a crise do início do

século XX, os produtores e governantes foram obrigados a criar centros experimentais e instituições de pesquisa na

área de cana-de-açúcar, para o melhoramento genético e controle fitossanitário, de acordo com as necessidades locais

(CESNIK e MIOCQUE, 2004).

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A produção de cana-de-açúcar no Brasil ganhou destaque em meados da década de 1970 e, posteriormente,

o governo criou o Programa Nacional do Álcool – PROÁLCOOL, em 1975. Este programa visava ao incentivo a

qualquer insumo capaz de substituir o petróleo, numa tentativa de minimizar a dependência externa aos combustíveis

fósseis e ao elevado preço do barril na época (SZMRECSÁNYI; MOREIRA, 1991). A partir daí a produção de etanol

proveniente da cana-de-açúcar aumentou significativamente, passando de 600 milhões de litros ano-1 para 3,4 bilhões

de litros ano-1 em 1975 e 1976, respectivamente (BORGES et al., 1988).

A chave para compreensão do bem sucedido início do Proálcool reside na conjunção de dois fatores

primordiais: 1) elevação dos preços do açúcar em 1973, que proporcionou maiores investimentos no setor e,

consequentemente, aumento da arrecadação por parte do Instituto do Açúcar e do Álcool; 2) subida dos preços do

petróleo e tentativa de minimizar a dependência externa quanto aos combustíveis (NITSCH, 1991). Após quatro

décadas da criação dos programas de incentivo à produção de etanol, o Brasil ocupa o primeiro lugar no mercado

mundial de produção de cana-de-açúcar, com 50% da produção mundial (NEVES et al., 2009).

A produção de cana-de-açúcar tem aumentado desde o início do século XXI com a implantação da cultura

em novos locais, impulsionada principalmente pelo consumo de etanol no mercado interno (MARIN et al., 2011). O

programa de incentivo à produção de etanol ganhou destaque entre os países emergentes como modelo de energia

renovável e, consequentemente, aumentou o interesse de investimentos internos e externos na sua produção

(GOLDEMBERG, 2007).

Desde a década passada, o Brasil destaca-se pelo grande potencial produtivo, principalmente, quando se

refere às culturas relacionadas a questões energéticas. Neste contexto, contabilizavam-se no ano de 2010, em todo o

território nacional, 596 usinas sucroenergéticas em operação (Figura 9). No entanto, devido à propagação da crise

econômica ocorrida no ano de 2008, aliada à política nacional não favorável ao setor canavieiro, várias unidades

entraram em processo de recuperação judicial ou, até mesmo, fechamento definitivo de algumas destas unidades

produtoras (MARIN, 2014a).

Figura 9. Distribuição espacial das usinas sucroalcooleiras e de biodiesel no Brasil em 2010 (MARIN, 2014).

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3.1.10. Aspectos sócio ambientais

Além dos aspectos econômicos, o setor sucroenergético possui grande relevância nos âmbitos social e

ambiental para o país, principalmente, por ter sido um dos mais influenciados pela reestruturação agropecuária

brasileira (BRAGATO et al., 2008). Esta mudança é caracterizada pela transição entre o “complexo agrário” e o

“complexo agroindustrial”, já consolidado em alguns setores como é o caso do setor sucroenergético. O processo de

transição é marcado pela substituição da economia considerada “natural” por atividades agrícolas ligadas à moderna

industrialização, na qual a divisão do trabalho é intensificada, assim como as trocas intersetoriais, devido à crescente

especialização da agricultura e à substituição das importações pela produção nacional, como é o caso dos implementos

agrícolas (ERTHAL, 2006).

Durante o século XX, a lógica econômica predominante foi caracterizada pela introdução e ampla adesão

às novas tecnologias. Entretanto, estas inovações tecnológicas, se utilizadas sem estudo concreto e consciente dos seus

efeitos, especialmente no que diz respeito às questões sociais, podem resultar em aumento significativo do desemprego,

devido, principalmente, à redução nos postos de trabalho (CEVOLI, 1999; BRAGATO et al., 2008).

Este fato é claramente observado no setor sucroenergético brasileiro, sobretudo, a partir da introdução da

colheita mecanizada, a qual inviabilizou a manutenção da mão-de-obra assalariada, especialmente durante a colheita da

cana-de-açúcar. Em estudo realizado por Caron e Romanach (1999) em uma agropecuária do setor sucroalcooleiro do

interior do Estado de São Paulo, durante a safra 98/99, concluiu-se que a utilização de 85% de colheita mecânica

resultaria na diminuição de aproximadamente 44,6% do número de empregados envolvidos na colheita da cana-de-

açúcar dessa empresa. Isto significa dispensar 18,3% do total de funcionários nessa atividade ao longo da safra. Tal

perspectiva de atuação empresarial, com foco na tecnificação do setor, assim como incremento da produtividade e

rentabilidade da cana-de-açúcar, pode produzir uma série de ameaças em relação ao futuro do país, dentre os quais se

destacam os problemas socioeconômicos que, por sua vez, carecem de medidas urgentes (BRAGATO et al., 2012).

No contexto atual da agricultura brasileira, a colheita mecanizada é uma realidade cujos reflexos imediatos

se traduzem em impactos no mercado de trabalho e, trazem consigo quatro tipos de repercussões: 1) redução do tempo

de execução de determinadas tarefas; 2) diminuição da mão de obra empregada, em virtude do uso de máquinas; 3)

redução da necessidade de mão de obra residente na propriedade; 4) introdução de mudança qualitativa na demanda

por trabalhadores, com maior grau de especialização como tratoristas, motoristas e operadores de máquinas agrícolas

(ABREU et al., 2009). No entanto, dentre as inúmeras questões sociais que a tecnificação do setor sucroenergético

apresenta, são indiscutíveis os efeitos ambientais positivos da cana-de-açúcar como fonte de energia renovável,

sobretudo no que diz respeito à utilização do etanol como combustível automotivo e a possibilidade de produção de

“energia limpa” a partir da utilização dos resíduos culturais, diminuindo a dependência dos combustíveis “fósseis”

(SZMRECSÁNYI, 1994; GOLDEMBERG, 2007).

Neste contexto, os problemas causados pelo fogo sobre o meio ambiente, a insatisfação popular, as

inúmeras ações judiciais contra a prática da queimada nas regiões produtoras, associados à crescente pressão social e

aos conflitos políticos foram os principais fatores que impulsionaram a retomada da mecanização da cana-de-açúcar

no Brasil (SZMRECSÁNYI, 1994). Estas questões foram fundamentais para que o governo do Estado de São Paulo,

principal produtor, regulamentasse a prática da colheita na lavoura canavieira, estabelecendo um cronograma para a

total eliminação das queimadas e após várias negociações entre os principais envolvidos, foi aprovado o Decreto

Estadual nº 47.700/2003, que regulamentou a Lei nº 11.241/2002, denominada “Plano de Eliminação de Queimadas”

ou “Lei das Queimadas” (GONÇALVES, 2005).

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Em outras regiões produtoras de cana-de-açúcar como é o caso da região Nordeste da Austrália, com

destaque para o Estado de Queensland, além de alguns locais nos Estados Unidos, como o Havaí e Luisiana, observa-

se elevado índice de mecanização, principalmente devido à escassez de mão-de-obra, sobretudo na colheita da cana-

de-açúcar. Vale ressaltar que as três regiões em questão possuem características em comum que favoreceram este tipo

de mecanização, como a utilização intensiva de tecnologia, alta produtividade, população rural insuficiente e alto padrão

médio de vida dos habitantes locais.

Além disso, vale ressaltar a pré-existência de empresas especializadas na produção de colhedoras, formação

trabalhadores qualificados para operação deste tipo de maquinário, assim como, áreas aptas ao corte mecanizado da

cana-de-açúcar (VEIGA FILHO, 1998). Na Austrália, por exemplo, a colheita mecanizada da cana-de-açúcar já chega

a quase 100% das lavouras e, desde 1971, 98% da produção de cana-de-açúcar é colhida mecanicamente (ABREU et

al., 2009).

No Brasil, devido a vários fenômenos pertinentes ao processo de desenvolvimento econômico do país, os

primeiros registros “comerciais” da colheita mecanizada de cana-de-açúcar, datam dos anos 70 (VEIGA FILHO,

1998). Este sistema de colheita não foi crescente no país, até meados da década de 90 estes índices permaneceram

relativamente baixos, principalmente, quando comparado aos 100% de mecanização encontrada em outras regiões

canavieiras (BRAUNBECK et al., 1999).

As principais barreiras que as usinas brasileiras possuíam para a completa mecanização eram: 1) número

insuficiente de colhedoras e deficiência no corte basal;2) problemas com a irregularidade do terreno, provenientes do

sistema de plantio do canavial, que tornava as áreas impróprias para a colheita mecanizada e 3) carência de infraestrutura

de apoio no campo. Todas estas barreiras deveriam ser corrigidas antes da adoção da colheita mecanizada no país e,

portanto, demoraria mais de uma safra para ser implantada. Com isso a mecanização do corte se tornou inviável

economicamente para as usinas brasileiras que preferiram continuar com o sistema de colheita manual (RIPOLI e

VILLA NOVA, 1992).

Na questão ambiental, o destino desse material remanescente no campo, após a colheita mecanizada, tem

sido objeto de muitos estudos. As vantagens no seu recolhimento, na sua recuperação e no seu aproveitamento têm

mobilizado pesquisadores de universidades, gerentes e diretores de usinas (FLORENTINO; RANGEL e BAPTISTA,

2005).

3.1.11. Importância ambiental da manutenção da palha no canavial

Na maioria dos ecossistemas naturais é possível observar estreita relação entre a cobertura vegetal e os

sistemas físico, químico e biológico do solo. Essa complexa interação deve-se, principalmente, à ciclagem de nutrientes,

que por sua vez é proporcionada pela relação harmônica entre formação e decomposição da matéria orgânica do solo

(MOS) e, portanto, torna-se indispensável para a manutenção da micro e mesofauna local (RESCK, 1996).

Neste contexto, os principais responsáveis são os microrganismos do solo, como fungos, bactérias e algas,

que formam a biomassa microbiana e estão em constante renovação. Esta biomassa pode funcionar tanto como

fornecedor quanto dreno de nutrientes, pois, podem mineralizar ou imobilizar substâncias essenciais ao

desenvolvimento das plantas (FERREIRA et al., 2007).

A bioestrutura e a produtividade das culturas se baseiam na presença de MOS em decomposição ou

humificado. Este tipo de matéria orgânica contém aproximadamente 58% de carbono e é composta por folhas, raízes

mortas, produtos em decomposição e alguns subprodutos, como por exemplo, ácidos poliurônicos que auxiliam na

estrutura do solo e substâncias húmicas. (PRIMAVESI, 1979).

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A MOS também pode ser responsável por parte do nitrogênio fornecido às plantas (PRIMAVESI, 1979).

No entanto, a ciclagem dos nutrientes pode ser interrompida fisicamente com as operações de preparo do solo, ou

então, alterada quimicamente pela adição de corretivos e fertilizantes que aceleraram ou retardam os processos de

formação, decomposição e, consequentemente, a ciclagem da MOS no sistema (RESCK, 1996).

A transformação de espaços naturais em cultivos agrícolas e pastagens podem alterar as características físicas

e químicas dos solos e, como consequência desta transformação, pode ocorrer redução da fertilidade, aumento da

compactação, fracionamento dos agregados e queda na taxa de infiltração da água no solo (BERTOL et al., 2001;

BRONICK e LAL, 2005). O uso de sistemas de manejo, com o revolvimento mínimo do solo, favorece o incremento

da matéria orgânica, assim como a estruturação do solo (JOHNSON e KERN, 1993; BAYER e BERTOL, 1999). A

decomposição da MOS resulta em perdas de carbono (C) e nitrogênio (N) na forma de gases como o gás carbônico

(CO2) e na transferência de subprodutos e ou resíduos para o solo, como por exemplo, ácidos húmicos e fúlvicos

(PROBERT et al., 1998; THORBURN et al., 2001).

De acordo com Bronick e Lal (2005), os sistemas de manejo que reduzem a taxa de decomposição de

resíduos vegetais, diminuem também as emissões de CO2 e ocasionam aumento no estoque de C no solo. Portanto, o

manejo inadequado pode reduzir rapidamente os estoques de C e, consequentemente, contribuir no aumento das

emissões de CO2 para a atmosfera (JANZEN et al., 1998; CORAZZA et al., 1999). O sequestro de C no solo possui

papel ambiental relevante, pois, ambientes terrestres são apontados como alternativas mitigadoras para as mudanças

climáticas (ASSIS et al., 2006).

A compreensão da dinâmica do C e do N no sistema solo-planta-atmosfera contribui para a melhoria das

práticas de gestão da produção de cana-de-açúcar, principalmente agora que a prática da despalha a fogo tem sido

substituída pela colheita mecanizada com colheita de cana crua. Esta prática substitutiva agrega quantidade considerável

de palha no solo e deve contribuir na fertilização orgânica. Neste contexto, com o incremento da ciclagem de

nutrientes, a dependência por fertilizantes minerais industrializados no longo prazo deverá decrescer (OLIVEIRA et

al., 2000).

O comportamento dos atributos químicos, físicos e biológicos pode proporcionar diferenças significativas

na variação da quantidade de MOS no solo (CZYCZA, 2010). A cana-de-açúcar, por exemplo, pode ser manejada sob

dois sistemas de colheita, com ou sem despalha a fogo. Sem fogo, a manutenção do resíduo vegetal pode aumentar

significativamente a quantidade de MOS no solo, devido à deposição de 10 a 30 t.ha-1 a cada ciclo da cultura e,

consequentemente, 40 a 100 kg ha-1 de N e 3 a 6 t.ha-1 de C (ABRAMO FILHO et al., 1993; TRIVELIN et al., 1995;

NG KEE KWONG et al., 1987).

3.2. A evapotranspiração do canavial

A superfície terrestre é composta de diversos tipos de coberturas, desde oceanos até florestas. Estas

diferenças propiciam padrões distintos de aquecimento do ar e aliada à sazonalidade da incidência de radiação solar

induzem o movimento das massas de ar (RIGHI, 2004). Este movimento contínuo da atmosfera propicia a renovação

do ar próximo à superfície, o que dificulta a saturação do ar nas camadas imediatamente acima da superfície, mantendo

o déficit de saturação do ar e, por consequência, a continuidade do processo evaporativo. O “poder evaporante” da

atmosfera é, portanto, diretamente relacionado à movimentação do ar (PEREIRA et al., 1997).

A evapotranspiração descreve três termos consagrados, evaporação, transpiração e evapotranspiração, que

possuem significados distintos, mas relacionados (PEREIRA et al., 1997). A descrição de evapotranspiração foi

primeiramente proposta por Thorthwaite e Wilm (1944) para representar conjuntamente os processos de evaporação

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e transpiração que, em muitos casos, pode ocorrer simultaneamente. Esse fato foi de extrema importância para a

agrometeorologia, pois, possibilitou a utilização de uma só unidade de medida, milímetros pluviométricos e,

consequentemente, viabilizou a contabilização da disponibilidade de água no solo, a partir de um simples balanço

hídrico climático (CAMARGO e CAMARGO, 2000).

Neste contexto, a evaporação pode ser descrita como o fenômeno no qual a água passa da fase líquida para

gasosa (vapor), tanto a partir de uma massa contínua de água, como rios, lagos e oceanos, assim como a partir de

superfícies úmidas, como no caso das plantas e do solo. Por sua vez, a transpiração é considerada como a perda de

água na forma de vapor pelos tecidos vegetais em contato com a atmosfera. Este processo acontece

predominantemente nas folhas, embora possa ocorrer perda de água pelos colmos, lenticelas dos troncos e também

por parte de raízes expostas à atmosfera. Nas folhas, o processo ocorre a partir das paredes celulares em direção aos

espaços intracelulares de ar e, então, por difusão, o vapor de água passa dos estômatos para a atmosfera

(ANGELOCCI, 2002).

Neste processo, os estômatos, juntamente com a camada de ar adjacente à folha, funcionam como

reguladores da taxa de transpiração e, portanto, pode ser considerada a via preferencial do vapor de água, no entanto,

a transpiração pode ocorrer via cuticular, principalmente, em condições de baixa disponibilidade hídrica (TAIZ e

ZEIGER, 2009). A manutenção da taxa de transpiração depende diretamente da reposição de água nos tecidos vegetais

que, por sua vez, ocorre desde a absorção radicular, passando pelo sistema condutor até a eliminação do vapor de água

pelas folhas, o processo ocorre pela existência do gradiente de potencial de água, observado desde o solo (Ψsolo) até o ar

que compõe a atmosfera nas camadas próximas às folhas (Ψatm) (PEREIRA et al., 1997; REICHARDT, 1985;

ANGELOCCI, 2002).

A evapotranspiração de sistemas vegetados pode ser definida como evapotranspiração de referência ou potencial

(ETo), real (ETr), de oásis (EO) e de cultura (ETc). Para este estudo serão de interesse somente a ETo e a ETc, sendo que

a primeira se refere a quantidade de água que seria hipoteticamente utilizada por uma extensa área vegetada, como

grama, com altura entre 8 e 15 cm, em crescimento ativo, sem restrição hídrica e cobrindo totalmente o solo, sendo

função apenas dos elementos meteorológicos e, portanto, considerada como um deles (PEREIRA et al., 2002).

O segundo tipo utilizado neste trabalho (ETc) refere-se à quantidade de água utilizada por uma cultura em

qualquer fase do seu desenvolvimento, desde que bem suprida hidricamente. Variando em função de desenvolvimento

da lavoura e, principalmente, da sua área foliar. Como a determinação da ETc não é questão simples, foi desenvolvido

o conceito de coeficiente de cultura, facilitando a estimativa dos valores de ETc, a partir dos valores de ETo

(MONTEIRO, 2009; MARIN, 2013), como mostra a equação 2:

𝐸𝑇𝑐 = 𝐸𝑇𝑜 ∗ 𝐾𝑐 (2)

em que Kc é o coeficiente de cultura, variando a cada fase fenológica e diferindo entre as diferentes espécies de plantas.

Neste contexto, para determinação da evaporação, transpiração e, consequentemente, evapotranspiração de

um canavial irrigado, podem ser utilizados os seguintes métodos: 1) Método da razão de Bowen (MBR), que a partir

do balanço de calor é capaz de determinar a taxa de evapotranspiração do sistema vegetado sob o qual é instalado; 2)

Método da reflectometria no domínio da frequência (FDR) que, por sua vez, avalia o conteúdo volumétrico de água

no perfil de solo e pode inferir sobre a variação desta umidade ao longo do tempo que está diretamente relacionada à

evaporação de água pelo solo e à transpiração dos vegetais; 3) Método do balanço de calor no fluxo de seiva, que é

capaz de inferir sobre a taxa de transpiração do vegetal avaliado.

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3.2.1. Método da razão de Bowen (MRB)

O método do balanço de energia - Razão de Bowen (MRB) é utilizado para estimar o fluxo de calor latente

(LE) a partir de medidas das temperaturas de bulbo seco e úmido, avaliação em diferentes alturas, saldo de radiação,

além do fluxo de calor no solo. Este método vem sendo utilizado por diversos autores para a estimativa da

evapotranspiração de diferentes coberturas vegetais (RIGHI, 2004).

Segundo Zeggaf et al. (2008) o MRB é considerado um método robusto para a medida da evapotranspiração,

com resultados favoráveis quando comparado com outros métodos. Quando comparado com o método aerodinâmico

(MA), o MRB apresenta vantagens por não precisar da medida do perfil do vento, de temperatura e de umidade em

mais do que dois níveis e de não necessitar dos valores da rugosidade da superfície (zo) e do deslocamento do plano

zero (d) nos cálculos.

A principal limitação do MRB é a exigência de bordadura relativamente extensa, sendo que bordadura

(“fetch”, do inglês) corresponde à distância percorrida na direção do vento por uma parcela de ar sobre uma área de

interesse. Sob condições de advecção, Kh≠Kw, ou seja, o coeficiente de transporte turbulento para calor sensível é

diferente do latente e, portanto, durante o processo de advecção, podem ocorrer erros significativos na estimativa da

evapotranspiração pelo MRB, principalmente, caso o comprimento da bordadura não seja suficiente para que as

medições sejam realizadas dentro da camada limite ajustada, principalmente pela subestimativa de LE com relação à

medidas lisimétricas (RIGHI, 2004).

Segundo Nassif (2015), diversos autores utilizam a relação da camada limite ajustada e bordadura como

1:50, porém, segundo Pereira (1997), quando o vento se desloca de uma superfície rugosa para uma mais lisa, seria

adequado utilizar uma relação de ao menos 1:70. Heilman e Brittin (1998) avaliaram a bordadura para a utilização do

MRB, afirmando que pode ser utilizada uma razão de 1:20 a 1:100, dependendo do uso do solo circunvizinho. Segundo

Righi (2004) o cálculo da camada limite interna ajustada pode ser feito conforme a equação 3:

δ = 0,1*z00,2*x0,8 (3)

em que δ é a camada limite interna ajustada (m), z0 é função da rugosidade da superfície e x é o comprimento da

bordadura.

Além da camada limite ajustada, à perda de água pela cultura pode ser influenciada pela camada limite foliar,

que é responsável pela resistência da folha a perda de água, a qual diz respeito ao microclima foliar, local onde se define

o grau de acoplamento entre a folha e a atmosfera (MARIN, 2013).

O MRB tem se mostrado eficiente para avaliação do consumo hídrico em diversas culturas como cafezal

por Righi (2004) e Marin et al. (2005). Inman-Bamber; McGlinchey (2003) utilizaram o MRB para a avaliação da

evapotranspiração de cana-de-açúcar na Austrália com a variedade NCo 376. E, também, por Zeggaf et al. (2008) que

utilizaram o MRB para a estimativa da evapotranspiração em milharal.

No Brasil, Toledo Filho (2001) utilizou o MRB em cultura da cana-de-açúcar no estado de Alagoas

encontrando diferenças na utilização do MRB em períodos secos e chuvosos, devido principalmente à disponibilidade

hídrica, demanda evaporativa da atmosfera e diferenças na cobertura vegetal. Silva et al. (2009) utilizou o MRB para

avaliar um canavial irrigado com a variedade RB92579 no Submédio do Vale do São Francisco, realizando avaliações

micrometeorológicas do canavial durante um ciclo da cultura, além de determinar o Kc e acoplamento da cultura com

a atmosfera. Os resultados encontrados foram um fator de desacoplamento de moderado a alto (0,6 a 0,8), indicando

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um controle do processo de troca de vapor de água entre a cana e a atmosfera, no qual os estômatos tendem a restringir

as trovas gasosas, além disso, os resultados mostraram evapotranspiração diária média de 4,7 mm dia-1 e Kc entre 0,95

e 0,98.

Mais recentemente, Nassif (2015) avaliou a evapotranspiração pelo MRB para canavial irrigado, plantado

com a variedade RB867515 no município de Piracicaba, SP. Os resultados obtidos foram que o Kc do canavial

apresentou variabilidade de acordo com os valores diários de ETo, variando entre Kc = 2,5 para níveis baixos de ETo

e Kc = 0,5 para períodos com elevada ETo, entre 5 e 7 mm dia-1.

3.2.2. Método da reflectometria no domínio da frequência (FDR)

A umidade do solo é determinada pelo conteúdo de água adsorvido nos espaços entre as partículas do solo

(ALI, 2010). Apesar de representar uma fração mínima de toda água doce disponível no planeta, aproximadamente

0,15 % (DINGMAN, 1994) é capaz de influenciar diretamente todo o ciclo hidrológico, além de ser fundamental para

diversos processos hidrológicos, biológicos e biogeoquímicos (DOBRIYAL et al., 2012). Por sua vez, um sensor de

umidade do solo é um instrumento que, quando colocado num solo durante um determinado período de tempo,

fornece informações relacionadas com a quantidade de água deste solo, ou até mesmo, referentes às condições de

umidade, por exemplo, se a água está disponível ou não para as plantas (CAPE, 1997).

No contexto da gestão da água de irrigação, o monitoramento do estado hídrico do solo é um componente

essencial para as boas práticas de manejo [do inglês best management practices (BMPs)], tanto na questão da conservação,

quanto na qualidade da água (MUÑOZ-CARPENA, 2004). Portanto, a manutenção da disponibilidade hídrica é

essencial para a ciclagem de nutrientes e um pré-requisito para a produção primária, além disso, está diretamente

relacionada à evapotranspiração, que por sua vez, é um processo central no sistema climático e diretamente relacionado

aos ciclos da água, energia e carbono (DOBRIYAL et al., 2012).

Recentemente, a reflectometria no domínio da frequência [do inglês frequency domain reflectometry (FDR)], foi

desenvolvida para medir o teor de água no solo. Os aparelhos que utilizam este método geralmente possuem um

multivibrador que envia ondas eletromagnéticas a partir de suas sondas e que, posteriormente, mede a frequência da

onda refletida, que deve variar de acordo com o teor de umidade do solo, entre 0 e 1. Estes sensores FDR possuem

algumas vantagens em relação à reflectometria no domínio do tempo [do ingês time domain reflectometry (TDR)], dentre

os quais se destacam o menor custo de manutenção, menor consumo de energia, monitoramento remoto contínuo da

umidade do solo, além da possibilidade de medição em vários locais, ou seja, o aparelho de medição pode ser do tipo

portátil, além de ser facilmente automatizadas com utilização de dataloggers (VELDKAMP e O'BRIEN, 1999).

Portanto, mesmo que o método da FDR seja semelhante ao adotado na TDR, seu princípio está relacionado

à reflectância que o solo possui, devido às propriedades dielétricas, que podem variar de acordo com a umidade do

solo (DOBRIYAL et al., 2012). Quando um capacitor está acoplado a um oscilador é formado um circuito elétrico e

quaisquer alterações nas frequências indicam possíveis mudanças no teor de umidade do solo. A frequência do

oscilador está restrita dentro de certa gama, possibilitando determinar a frequência ressonante e, consequentemente, o

teor de água contida no solo, porém, este método requer calibração específica para cada tipo de solo e vale ressaltar

que a esfera de ação do capacitor é de 4 a 5 cm de raio.

Mesmo sendo vantajoso quando comparado a outros métodos, como por exemplo, ao gravimétrico que

necessita remoção de certa quantidade de solo em cada avaliação realizada, por outro lado, a FDR, após a instalação

dos tubos de acesso da sonda, permite a realização de amostragens sequenciais da umidade do solo, sem a necessidade

de remover amostras indeformadas. No entanto, os sensores da sonda são sensíveis às lacunas de ar, salinidade do

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solo, temperatura, densidade do solo e ao teor de argila, limitando a utilização deste método em algumas situações em

que estes limitantes estiverem presentes (EVETT, 2003; ERLINGSSON et al.,2009).

3.2.3. Fluxo de seiva pelo método do balanço de calor (MRB)

O fluxo de seiva dos vegetais, quando integrado para o período de 24 horas, pode ser relacionado à

transpiração diária. Para isso, é necessário que não haja deficiência hídrica acentuada e que, tanto a área foliar, quanto

as condições ambientais sejam consideradas nas avaliações (ANGELOCCI, 2002). A taxa de transpiração pode ser

considerada para diferentes níveis ou estratos vegetais, como por exemplo, para a planta inteira ou para cada ramo

individual. As técnicas aplicadas também podem determinar a velocidade com que esta seiva pode subir a haste ou

colmo em diferentes períodos do dia e, condições climáticas (SMITH; ALLEN, 1996).

Neste contexto, em plantas vasculares, a transpiração pode ser determinada pelo fluxo ascendente de água

que percorre o xilema, desde as raízes até as folhas, nas quais este mecanismo é conhecido como teoria da coesão-

tensão para ascensão de seiva. O processo é desencadeado pelo contato direto que as células do mesofilo das folhas

têm com a atmosfera, por meio dos espaços intercelulares e, à medida que a água é perdida para a atmosfera, aumenta-

se a tensão no sistema gerando assim o fluxo de seiva. (TAIZ; ZEIGER, 2009). Angelocci (2002) descreve o fluxo de

seiva como resultado da perda de água da cultura pelas folhas, explicado pela teoria da adesão-coesão, o que propicia

a corrente transpiratória nos vegetais.

Existem vários métodos para estimar o movimento da seiva dentro dos vasos condutores. Embora todos

os métodos utilizem o calor como um marcador, são fundamentalmente diferentes em seus princípios de

funcionamento. Dentre os mais comuns estão o método balanço de calor no colmo ou caule (do inglês stem heat balance

method) e o método do pulso de calor (do inglês heat-pulse method). No primeiro a haste é aquecida eletricamente, o

balanço de calor é calculado e a quantidade de calor absorvido durante o movimento contínuo da seiva é estimado, A

quantidade de calor absorvido é então utilizado para calcular a massa ou fluxo de seiva no caule. No método do pulso

de calor, em vez de usar o aquecimento contínuo, pulsos curtos de calor são aplicados e o fluxo de seiva é determinado

a partir da velocidade dos impulsos de calor em movimento ao longo do colmo. Além disso, as taxas de fluxo de seiva

podem ser determinadas empiricamente, pelo método da sonda de dissipação térmica, a partir da temperatura do

colmo, sendo esta temperatura avaliada próxima à resistência que fornecerá calor, a qual deverá ser implantada no

colmo e alimentada continuamente (SMITH; ALLEN, 1996).

O método do pulso de calor pode ser utilizado para medições precisas do fluxo de seiva em troncos, colmos

ou até mesmo em hastes individuais de diferentes espécies vegetais. A partir de um processo de calibração confiável é

possível relacionar a velocidade observada do pulso de calor com o fluxo de seiva real, no entanto, este método deve

ser avaliado cuidadosamente, pois, o grau de perturbação nos colmos depende do tamanho e da geometria das sondas

e a largura das correspondentes feridas nos vasos condutores. (GREEN; CLOTHIER; JARDINE, 2003). Portanto,

os usuários devem entender a teoria subjacente a cada um destes métodos, de modo a selecionar o método mais

adequado para a sua aplicação e tomar as precauções necessárias contra potenciais fontes de erro. Quando tentar

estimar a transpiração de grandes populações, a partir de medições de fluxo de seiva em indivíduos isolados, os usuários

também devem selecionar uma amostragem adequada, ou seja, avaliar as melhores estratégias e métodos para

escalonamento correto dos tratamentos (SMITH; ALLEN, 1996).

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3.3. Modelagem e simulação de culturas agrícolas

Modelos matemáticos, que objetivam descrever a realidade a partir de algoritmos, podem ser classificados

de várias formas, no entanto, didaticamente, podem ser divididos em dois grupos: os modelos empíricos e os

mecanísticos (THORNLEY; JOHNSON, 2000). No contexto agrícola, os modelos dinâmicos ou mecanísticos, são

empregados para descrever as interações do sistema solo-planta-atmosfera e geram como resultados os valores das

variáveis ou dados das saídas dos modelos, com a vantagem de permitir avaliação dos processos intermediários do

sistema. A outra abordagem, denominada empírica, considera os modelos como um conjunto de equações do tipo

funções de resposta às variáveis explicatórias e permitem a análise direta do desempenho geral dos modelos

(WALLACH et al., 2006).

Em geral, considera-se que os modelos empíricos são mais convenientes para o produtor rural por não

necessitarem de aquisição de novas informações e serem normalmente mais simples que os mecanísticos. No entanto,

os modelos mais complexos aplicam-se a uma ampla gama de fenômenos e, além disso, oferecem mais opções de

respostas, com elevada consistência científica. Os modelos empíricos resultam diretamente nas variáveis de interesse,

conectando as variáveis de entrada e saída em qualquer caminho que apresente bom ajuste dos dados. No entanto, os

modelos mecanísticos apresentam um caminho relativamente mais longo, já que seus componentes precisam respeitar

a ordem dos processos e suas respectivas propriedades. Para isso, nos modelos mecanísticos são introduzidas novos

algoritmos para as variáveis extras no nível de órgãos, tecidos e agregados bioquímicos, além de observações adicionais

que são disponibilizadas nos modelos. Portanto, as variáveis de interesse da cultura, como massa de colmos e teor de

sacarose são determinadas pela síntese e integração do conjunto de equações que definem o sistema (MARIN, 2014b).

Nos últimos 30 anos, a quantidade de modelos de culturas agrícolas tem aumentado, principalmente, devido

ao crescimento da capacidade computacional que, por sua vez, possibilitou o estudo e o entendimento de sistemas

mais complexos. Estes modelos são desenvolvidos por razões diferentes, em função do objetivo específico dos seus

idealizadores (HEINEMANN et al., 2010).

Alguns modelos de culturas são desenvolvidos para melhorar a compreensão das relações entre as variáveis

ambientais e tecnológicas de um sistema biológico. Outros podem quantificar o efeito destas variações sobre o

rendimento das variedades analisadas. Os modelos são também utilizados como base para organização do

conhecimento ou como ferramenta para teste de hipóteses e, portanto, com o desenvolvimento computacional e

aumento da capacidade humana de desenvolver modelos, cresce o interesse na utilização deles com objetivo de

determinar as práticas de manejo a serem adotadas, e de auxiliar as tomadas de decisões dentro dos sistemas agrícolas

(CASTRO e KLUGE, 1999).

Na utilização de modelos de simulação, os sistemas são considerados como módulos, com entradas e saídas

de matéria e energia, e são formados por compostos que interagem entre si, se autorregulam e são limitados no espaço

e no tempo. Embora projetados para representar a dinâmica de funcionamento do sistema solo-planta-atmosfera e

interagir concomitantemente com o clima e com as práticas culturais, os modelos não necessariamente descrevem e

simulam todos os processos deste sistema (ANDRADE, et al., 2009).

Existem diferentes formas de classificar os modelos de simulação de culturas, dentre os quais se destaca os

sistemas proposto por Boote et al. (1996) que classificaram em três níveis de uso: 1) modelos utilizados em pesquisas,

2) modelos para uso em análises tecnológicas sobre o manejo dos cultivos e 3) modelos para suporte à política de

planejamento agrícola. Para cada um deles os autores envolveram uma escala espaço-temporal, um nível de

detalhamento e um nível de compromisso com a aplicação operacional.

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Outra proposta de classificação foi desenvolvida por Thornley e Johnson (2000) que classificaram os

modelos em dois grupos principais: 1) os de aplicação em pesquisas e 2) os de aplicação prática. Os modelos aplicados

em pesquisa são mais detalhados, baseados em processos e possuem maior número de parâmetros, portanto, tendem

a apresentar respostas mais próximas da realidade. Já os modelos de aplicação prática, são mais simples e baseados em

equações empíricas, o que resulta em aproximações mais superficiais. Este tipo possui aplicações específicas para os

pontos nos quais foram calibrados e maiores dificuldades para extrapolação e condições de contorno mais limitadas

que os voltados à pesquisa.

No contexto agrícola é comum designar “modelos de culturas” como abreviação para “modelos

mecanísticos de culturas baseados em processos biofísicos”. Essa abordagem considera processos fisiológicos e físicos

do sistema para controlar o desenvolvimento da espécie e sua relação com o ambiente e fatores de manejo da cultura.

Com este tipo de modelagem é possível analisar e manipular um dado sistema produtivo com muito mais facilidade e

rapidez do que seria possível considerando toda a complexidade do sistema real (MARIN, 2014).

Os modelos de culturas são desenvolvidos e refinados constantemente, desde a década de 1960, estes

modelos são guiados por resultados experimentais que preenchiam pequenas lacunas no conhecimento em oposição

aos grandes e onerosos experimentos (OVERMAN & SCHOLTZ III, 2002). Essa pequena história sobre modelagem

também se aplica aos modelos dedicados à cultura da cana-de-açúcar, os quais foram baseados principalmente em

alguns poucos artigos publicados descrevendo os modelos para milho e outras culturas (MARIN, 2014).

Atualmente, há vários modelos dedicados para a cana-de-açúcar: AUSCANE (JONES et al. 1989),

DSSAT/CANEGRO (INMAN-BAMBER, 1991; SINGELS et al. 2008), CASUPRO (VILLEGAS et al. 2005),

QCANE (LIU; KINGSTON 1995), MOSICAS (MARTINÉ 2003), SAMUCA (MARIN; JONES, 2014) e o modelo

APSIM-Sugar (KEATING et al., 1999; THORBURN; MEIER; PROBERT, 2005). No entanto, este número de

modelos disponíveis é considerado pequeno para uma cultura com a importância da cana-de-açúcar, pois, Asseng et

al. (2014) analisaram 30 modelos diferentes para a cultura do trigo e, além disso, apenas dois modelos estão de fato

disponíveis e são efetivamente suportados por suas respectivas instituições: APSIM-Sugar e DSSAT/CANEGRO

(MARIN, 2014).

O DSSAT (Sistema de Suporte à Decisão e Transferência de Agrotecnologia, do inglês Decision Suport

System for Agrotecnology Transfer) é uma das plataformas de simulação mais conhecidas no mundo. Um dos modelos

disponíveis no DSSAT para cana-de-açúcar é o CANEGRO (INMAN-BAMBER,1991; SINGELS et al., 2008),

baseado no modelo CERES-MAIZE (JONES e KINIRY, 1986), desenvolvido com o intuito de modelar os processos

fisiológicos da cana-de-açúcar e o sistema de produção da indústria sul-africana (INMAN-BAMBER, 1991). O DSSAT

contém outro modelo de cana-de-açúcar (CASUPRO), mas que ainda requer desenvolvimento adicional para

aplicações práticas (NASSIF, 2010).

O modelo QCANE é outro modelo desenvolvido para cana-de-açúcar pela Bureau of Sugar Experiment

Stations (BSES) em Queensland, Austrália. O objetivo da criação do QCANE foi, principalmente, estudar o acúmulo

de açúcares e as possíveis formas de maximizar este acúmulo. A ênfase, portanto, foi para a fotossíntese, respiração e

particionamento dos fotoassimilados. A alocação e o acúmulo dos fotoassimilados e dos açúcares no colmo são

determinados pelo estágio de crescimento, taxa de crescimento e pela temperatura (O’LEARY, 2000).

Já o modelo proposto por MARTINÉ (2003) tem sido desenvolvido desde o ano de 1995 no CIRAD. Os

dados de campo utilizados para a elaboração do modelo foram coletados em diferentes regiões edafoclimáticas da Ilha

Reunião e da região de Guadalupe. O modelo tem como variáveis de saída biomassa total, biomassa particionada em

raízes, folhas, colmos, perfilhos, além de outras características morfológicas como altura de colmo e profundidade

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radicular. Além disso, este modelo também integra uma rotina de cálculo do balanço hídrico do solo que permite

simular a irrigação, apenas com adição de água à precipitação (SUGUITANI, 2006).

O modelo proposto por Marin e Jones (2014) é capaz de simular o crescimento e o desenvolvimento da

cana-de-açúcar utilizando algoritmos que descrevem a fenologia, desenvolvimento da copa, perfilhamento, acúmulo e

particionamento de biomassa, crescimento radicular e déficit hídrico. O modelo tem passo de tempo diário e simula a

massa da planta e seus componentes, o sistema radicular, a concentração de sacarose no colmo, a fenologia da planta,

entre outras. Para isso são necessários como variáveis de entrada do modelo as características físicas do solo, como a

capacidade de campo, sendo que a sigla utilizada no modelo é θvul (do inglês drained upper limit), ponto de murcha

permanente ou θvll (do inglês lower limit), saturação ou θvsat (do inglês saturation), além da condutividade hidráulica

saturada ou KSat (do inglês hydraulic conductivity at saturation), variáveis meteorológicas (radiação solar (RAD), temperatura

máxima (MAX) e mínima (MIN), precipitação (PREC)) e irrigação (IRRI) (MARIN; JONES, 2014).

O Modelo de Sistemas de Cultivo para Pesquisas Operacionais (AUSIM, da sigla em inglês) foi desenvolvido

para cultivo em sequeiro em áreas de clima semiárido tropical, com o intuito de simular o desempenho do milho e do

sorgo em um sistema de rotação com pastagens, leguminosas ou consócio de espécies vegetais. Além disso, o modelo

abrangia o efeito do sistema de plantio direto sem retirada da palhada do solo (MCCOWN e WILLIAMS, 1989).

O AUSIM foi desenvolvido com quatro objetivos: i) dispor de uma família de modelos de crescimento da

cultura com características padronizadas e que compartilhassem as sub-rotinas, mesmos sem uma cultura específica;

ii) possuir a capacidade de combinar modelos de crescimento em vários sistemas de cultivo; iii) melhorar a modelagem

de culturas; e iv) aprimorar os modelos chave para os processos do solo (MCCOWN, 2012). O AUSIM consiste de

um conjunto de modelos de culturas e de solo, envolvendo demandas de nitrogênio, água e fósforo, que correspondem

às entradas no período simulado. Neste modelo, o solo e o clima compreendem as configurações básicas de

funcionamento. Portanto, as culturas podem estar em pousio, em sistema de rotação ou consorciadas.

O solo constitui o centro do processo de simulação e permite estimar os efeitos das rotações ou dos

consórcios. Esta é a característica central do AUSIM e de seu sucessor, o modelo APSIM (Simulador de Sistemas de

Produção Agrícola, do inglês Agricultural Production Systems Simulator) (MCCOWN e WILLIAMS, 1989). O modelo

APSIM (KEATING et al., 1999; KEATING et al. 2003) foi utilizado para simular a cana-de-açúcar brasileira neste

trabalho e, por isso, será descrito com maior detalhe na próxima seção.

3.3.1. O modelo APSIM-Sugar

O modelo APSIM (Simulador de Sistemas de Produção Agrícola, do inglês Agricultural Production Systems

Simulator) tem sido desenvolvido pela Unidade de Pesquisa em Sistemas de Produção Agrícola (APSRU), grupo

colaborativo australiano, estabelecido no Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO) e

foi projetado como um simulador de sistemas agrícolas que possui como característica combinar a estimativa de

rendimento das culturas, com a previsão das possíveis consequências das práticas agrícolas sobre os recursos do solo,

como por exemplo, a dinâmica da matéria orgânica, acidificação e erosão. Este programa utiliza a modelagem de

processos biofísicos para projetar sistemas agrícolas e tem como objetivos: 1) gestão do sistema agrícola, 2) avaliação

da previsão climática, 3) análise da cadeia de suprimentos em atividades do agronegócio, 4) desenvolvimento de

diretrizes para gestão de resíduos, 4) avaliação dos riscos nas decisões político-governamentais, além de ser um guia

para atividades de pesquisa e educação (KEATING et al., 2003).

O software de suporte do APSIM proporciona uma estrutura flexível para simulações envolvendo o clima,

o manejo dos solos, o manejo das culturas em diferentes sistemas agrícolas e, além disso, possibilita predizer as

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possíveis alterações nos recursos do solo (PROBERT et al., 1998). Com ele, também é possível simular o crescimento

vegetativo, assim como o acúmulo de nitrogênio (N) e de açúcares nos diferentes compartimentos do vegetal, por

exemplo: 1) folhas, 2) colmos e 3) raízes.

O consumo hídrico, assim como, os pesos seco e fresco podem ser diferenciados de acordo com o estádio

fenológico. Para a cultura da cana-de-açúcar há outra diferenciação, cana-planta e cana-soca. Os fatores avaliados são

respostas ao clima, manejo, solo e fatores genéticos (KEATING et al., 1999).

A estrutura para modelagem no APSIM é constituída pelos seguintes módulos: 1) módulos contendo os

algoritmos de simulação dos principais processos biológicos e físicos dos sistemas agrícolas; 2) módulos de

gerenciamento de regras de manejo e caracterização do cenário a ser simulado; 3) módulos de entrada e saída de dados;

4) módulo de controle do fluxo de informações entre os módulos independentes. Estes elementos podem ser

representados por um comando central e seus módulos anexos (Figura 10), maiores detalhamentos do modelo podem

ser encontrados em Costa (2012).

Figura 10. Esquema geral do modelo APSIM com os módulos principais e em destaque, circulados, podemos observar

os módulos utilizados para calibração de variedades de cana-de-açúcar, o módulo Sugar é o responsável por simular a

cultura da cana-de-açúcar (Adaptado de Keating et al., 2003).

O APSIM contém uma matriz de módulos para simular o crescimento, desenvolvimento e também a

produtividade dos sistemas agrosilvopastoris, assim como as possíveis interações com os modelos de solo e clima.

Dentre os mais de 65 módulos disponíveis, tem-se o da cultura da cana-de-açúcar, sendo denominado módulo Sugar,

como tem sido nomeado este modelo atualmente em alguns trabalhos relacionados. O fluxograma da Figura 11

descreve o módulo Sugar do APSIM e foi adaptado de Keating et al. (2003).

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Figura 11. Descrição do modulo APSIM-Sugar (Adaptado de Keating et al. 2003).

O modelo possui parâmetros gerais para os solos que podem ser alterados de acordo com o local de

interesse, além de variáveis climáticas essenciais para as simulações, como por exemplo: temperatura, radiação e

precipitação (COSTA, 2012). Estes parâmetros e variáveis serão abordados posteriormente na revisão, assim como

aqueles referentes às culturas de interesse, com destaque para a cultura da cana-de-açúcar.

3.3.2. Parametrização de cultivares no modelo APSIM-Sugar

Em 2013, havia apenas 18 cultivares de cana-de-açúcar descritas no modelo APSIM-Sugar, todos

provenientes de países como Austrália, África do Sul, Ilhas Maurício e Estados Unidos1, com interesse por parte dos

desenvolvedores do modelo na inclusão de variedades do Brasil e Índia para facilitar a utilização do modelo por

pesquisadores e produtores destes novos locais e promover a difusão da ferramenta.

Neste contexto, as primeiras variedades parametrizadas para o APSIM, nas condições brasileiras de cultivo,

foram descritas por (MARIN et al., 2014) que utilizaram a RB867515 e a RB83594. Concomitante, (COSTA et al.,

2014a) parametrizaram outra variedade, denominada SP80-1842, possibilitando novas simulações no modelo APSIM-

Sugar. No mesmo período, (OLIVEIRA et al., 2015) publicaram um estudo baseado em simulações para cana-de-

açúcar produzida nos Tabuleiros Costeiros, localizado na região Nordeste do Brasil.

No entanto, para esse estudo específico, Oliveira et al. (2015) não utilizaram uma variedade brasileira

durante suas simulações, os mesmos optaram por utilizar uma variedade australiana denominada Q117, a qual já estava

1 Informação pessoal de Dr. Peter Thorburn

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descrita no arquivo base do modelo APSIM-Sugar, no entanto, não havia sido calibrada para os padrões brasileiros de

cultivo. As razões para os autores não utilizarem cultivares brasileiras foram: 1º) no período em que o trabalho foi

realizado não haviam variedades brasileiras parametrizadas para o APSIM-Sugar e 2º) os autores não possuíam dados

experimentais de campo suficientes para parametrizar o modelo para variedades brasileiras. Vale ressaltar que os três

trabalhos citados como pioneiros para modelagem da cana-de-açúcar no Brasil foram conduzidos aproximadamente

ao mesmo tempo e, portanto, não havia publicações com a calibração da cana-de-açúcar brasileira até o referido

momento utilizando como base o modelo APSIM.

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4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Caracterização da área experimental

O experimento foi conduzido em área pertencente ao Departamento de Engenharia de Biossistemas,

localizada na Fazenda Areão (22,67° S; 47,64° W) no município de Piracicaba-SP. O solo da área experimental foi

classificado como sendo um Nitossolo Háplico Eutrófico Léptico (EMBRAPA, 2013). Climaticamente, a região é

classificada como Cwa, Subtropical úmido e chuvoso no verão (classificação de Koeppen).

4.1.1. Descrição dos procedimentos adotados durante o primeiro ciclo da cultura

(cana-planta)

Os dados biométricos da cana-de-açúcar, de umidade do solo e micrometeorológicos foram coletados

durante o segundo ciclo da cultura, período correspondente à primeira cana-soca (CNSO1). No entanto, é importante

descrever detalhadamente o primeiro ciclo da cultura, desde o plantio até o final da cana-planta (CNPL), seja para o

entendimento do padrão de crescimento observada durante o ciclo analisado neste trabalho, como também para

componente de modelagem abordada.

Como consta em Nassif (2015), o canavial foi plantado no dia 16 de outubro de 2012, com mudas da

variedade RB867515, cedidas pela Usina Costa Pinto, pertencente ao Grupo Raízen. Vale ressaltar que a opção por

esta cultivares deveu-se a importância desta variedade no contexto sucroenergético brasileiro. Na safra de 2012/2013

sua área plantada correspondia a 25% da área total plantada no país e, portanto, era considerada a de maior

representatividade no período de instalação do experimento (RIDESA, 2013).

Para plantio do canavial utilizou-se espaçamento simples, com distância de 1,4 m entrelinhas e média de 9,7

gemas por metro quadrado. A irrigação foi realizada por meio de aspersão por pivô central e foi controlada a partir do

balanço hídrico sequencial (BHS), conforme Pereira et al. (1997). O BHS utilizado para irrigação teve início no dia 1

janeiro de 2012, aproximadamente 10 meses antes da data de plantio, a fim de garantir a normalização do conteúdo de

agua no solo desde o início do efetivo experimento.

A capacidade de água disponível (CAD) foi estabelecida em 100 mm, para profundidade de 1 m de solo na

área experimental (Medeiros, 2012). O nível mínimo de umidade do solo foi estabelecido em 70% da CAD, com o

intuito de garantir adequado suprimento hídrico para a cultura. Portanto, a irrigação do canavial era realizada assim

que atingido o nível mínimo de umidade.

Vale ressaltar que a irrigação somente seria suprimida caso ocorresse alguma precipitação relevante, ou seja,

> 30 mm de chuva, o que completaria a CAD novamente. Para o BHS foi utilizada a estimativa de ETo pelo método

proposto por Allen et al. (1998). Todos os valores, datas e procedimentos adotados para a CNPL estão descritos em

Nassif (2015).

4.1.1.1. Descrição dos procedimentos adotados durante o segundo ciclo da

cultura (CNSO1)

Após a colheita da cana-planta teve início os procedimentos para condução do segundo ciclo do canavial e,

portanto, considera-se o dia 16 de outubro de 2013 como a data inicial do experimento efetivo analisado nesta tese.

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Neste dia, a área experimental de 2,5 ha foi dividida em dois tratamentos: (CP) com palha e (SP) sem palha. Para ambos

os tratamentos foram realizados os mesmos tipos de avaliações, os quais ocorreram sempre simultaneamente. A Figura

13 mostra uma representação esquemática da área experimental e dos sensores micrometeorológicos e dos tubos de

acesso para medida da umidade do solo. Em relação ao canavial descrito por Nassif (2015), adicionou-se outras sete

linhas de cana para assegurar bordadura suficiente para ambos os tratamentos.

Figura 12. Representação esquemática da área experimental, com a descrição do pivô central, direção predominante

dos ventos, localização das torres para avaliação da evapotranspiração em cada tratamento (CP) com palha e (SP) sem

palha, posicionamento dos tubos de acesso para a sonda Diviner 2000. O quadrado ao lado da cultura indica o local

da captação de energia elétrica para os instrumentos.

A localização das torres à noroeste (NW) para cada um dos tratamentos deveu-se aos estudos realizados

por Nassif (2015), no qual foram observados ventos predominantes no sentido de sudeste (SE) no município de

Piracicaba-SP, com certa frequência de ocorrência de ventos oriundos de leste (E) em alguns meses do ano (Figura

13). Portanto, para aumentar o comprimento da bordadura, as torres foram posicionadas no sentido oposto ao de

entrada dos ventos predominantes, assegurando distância suficiente para a formação de camada limite ajustada em

equilíbrio com a superfície vegetal analisada.

Figura 13. Frequência da direção do vento no período dos experimentos instalados na fazenda Areão, Piracicaba - SP,

entre 01 de fevereiro 2011 e 16 de outubro de 2013 (NASSIF, 2015).

Assim como adotado por Nassif (2015), a capacidade de água disponível (CAD) foi igualmente mantida em

100 mm, para profundidade de 1 m de solo. O nível mínimo de umidade do solo foi estabelecido em 70% da CAD

para efeito de manejo da irrigação, com o intuito de garantir adequado suprimento hídrico para a cultura. A irrigação

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foi manejada por BHS, realizando-se a irrigação do canavial assim que atingido o nível mínimo de umidade. (Figura 14

e Figura 15).

Figura 14. Avaliação da quantidade de água no solo em relação à capacidade de água disponível (CAD), linha tracejada

refere-se ao nível crítico para irrigação limitada em 70% da CAD, avaliação para a “CNSO1”.

Figura 15. Determinação dos eventos de chuva ou irrigação e o volume precipitado na área experimental durante a

condução da “CNSO1”.

Os dados meteorológicos diários foram coletados da estação meteorológica automática pertencente ao

Departamento de Engenharia de Biossistemas, localizada na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, latitude

22º42’ Sul, longitude 47º38’ Oeste e altitude de 546 metros (m). A distância entre o posto meteorológico em questão

e a área experimental é 2 km em linha reta. Os dados coletados na escala diária ao longo do experimento foram

temperaturas máxima e mínima (ºC), precipitação (mm), umidade relativa do ar (%), velocidade média do vento a

2m de altura (m s-1), direção do vento (º), radiação solar global e saldo de radiação (MJ m-2 d-1).

A colheita da cana planta no dia 16/10/2013 (Figura 16) marcou o início do segundo ciclo da cultura ou da

1ª cana soca. A remoção dos colmos, por sua vez, teve início no dia 17 e término no dia 22/10.

0

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Prec Areão Irrigação

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Figura 16. (A) Colheita manual da cana planta no dia 16/10/2013 e (B) implementos realizando o carregamento e o

transporte da cana planta período de 17 a 22/10/2013.

Verificou-se após a etapa de colheita da cana planta que a quantidade de palha restante na área não

seria suficiente para simular adequadamente um canavial com corte mecanizado (Figura 17). Portanto, teve

início no dia 30/10 um período de coleta ou recolhimento de palha de outra área, que havia sido plantada com

a mesma variedade RB867515. A área selecionada é pertencente ao município de Iracemápolis-SP e o

recolhimento da palha foi gentilmente autorizado pela pesquisadora Raffaella Rossetto da APTA - Polo

Regional Centro Sul – Piracicaba que possuía um experimento no mesmo local, com a mesma variedade.

Figura 17. Quantidade de palha restante sobre o solo no tratamento CP logo após a colheita da cana-planta.

O transporte da palha da área adjacente resultou na adição de 8 t ha-1 de palha à área experimental

(Figura 18) que, somadas à quantidade remanescente de 3,0 t ha-1, totalizaram 11 t ha-1. A palha coletada foi

mantida coberta com lona plástica até que todos os tratos culturais fossem realizados e a mesma pudesse ser

espalhada na área destinada ao tratamento CP (com manutenção da palha sobre o solo).

A B

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Figura 18. (A) Primeiro dia de coleta da palha em Iracemápolis-SP e (B) segundo dia de coleta da palha em

Iracemápolis-SP.

Após o término dos processos de colheita e recolhimento da palha, foram realizados todos os tratos

culturais necessários para manutenção do canavial (Figura 19). A Tabela 2 que descreve o manejo de fertilizantes

e herbicidas, com as datas e quantidades aplicadas, já a Tabela 3 mostra o manejo de irrigação, datas e o volume

aplicado em cada evento. Os valores relativos à fertilidade do solo foram avaliados em quatro pontos distintos

dentro da área experimental, o quais foram descritos no Anexo A.

Figura 19. (A) Trator acoplado no implemento denominado cultivador e (B) área experimental após o processo

de cultivo da cana-de-açúcar.

Tabela 2. Descrição dos manejos realizados para a 1ª cana-soca, contendo as datas e quantidades aplicadas e

quais tipos de produtos comerciais (p.c.) utilizados para cada aplicação.

DATA MANEJO QUANTIDADE

01/11/2013 Fertilização 1 (NPK 20-10-20) + FTEBr12 (Micronutrientes)

500 Kg ha-1

08/114/2013 Aplicação de herbicida BORAL®

1,6 L (p.c.) ha-1

16/11/2013 Fertilização 2 (NPK 20-10-20) + FTEBr12 (Micronutrientes)

250 Kg ha-1

18/11/2013 Aplicação de herbicida GESAPAX®

6 L (p.c.) ha-1

19/01/2014 Fertilização 3 (Cobertura) Ureia

250 Kg ha-1

A B

A B

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Tabela 3. Descrição do manejo de irrigação para 1ª cana-soca, datas e volumes aplicados.

DATAS VOLUME APLICADO DATAS VOLUME APLICADO

25/11/2013 16 (mm) 09/03/2014 24 (mm)

01/12/2013 8 (mm) 15/03/2014 24.4 (mm)

04/12/2013 8 (mm) 27/03/2014 16 (mm)

13/12/2013 16 (mm) 31/03/2014 17.6 (mm)

17/12/2013 11.8 (mm) 02/04/2014 24 (mm)

20/01/2014 14.4 (mm) 07/04/2014 35.2 (mm)

24/01/2014 6.4 (mm) 09/04/2014 24 (mm)

31/01/2014 3.5 (mm) 12/04/2014 21.6 (mm)

11/02/2014 3.5 (mm) 27/04/2014 16 (mm)

20/02/2014 14.4 (mm) 07/05/2014 19 (mm)

02/03/2014 24 (mm) 21/05/2014 30 (mm)

07/03/2014 35.2 (mm) 17/06/2014 22 (mm)

4.2. Coleta dos dados experimentais

No dia 15 de novembro foram estabelecidas as parcelas para a avaliação biométrica de cada

tratamento, sendo quatro parcelas para cada tratamento. Cada parcela foi constituída de 5 linhas de 5 m cada,

delimitadas por estacas e fita zebrada (Figura 20), em cada parcela foram analisadas 10 plantas, 2 plantas por

linhas, as quais foram marcadas, colocando-se uma fita na base, para que as mesmas pudessem ser avaliadas

durante todo o ciclo.

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Figura 20. Delimitação das parcelas experimentais de avaliação biométrica (5 m x 5 linhas), com estacas e fitas zebradas.

A distribuição manual da palha coletada em Iracemápolis teve início dia 9 e término no dia 18 de dezembro

(Figura 21 A). Este tipo de distribuição possibilitou melhor homogeneidade na cobertura das entre linhas da cultura,

sendo distribuídos 11T ha-1 de palha sob o solo no tratamento CP (Figura 21 B).

Figura 21. (A) Distribuição manual da palha na área destinada ao tratamento CP, com palha e (B) tratamento CP após

a distribuição da palha.

No início do mês de dezembro, com a conclusão dos tratos culturais iniciou-se o período de instalação dos

equipamentos necessários para avaliação da evapotranspiração pelo MRB. Para tanto utilizou-se, as torres de suporte

dos psicrômetros aspirados, montados de acordo com metodologia descrita por Marin et al. (2001); anemômetros do

tipo RM-Young modelo 05103 (fabricado pela R. M. Young Company); pluviômetro de báscula, modelo TE525WS

(fabricado pela Texas Electronics); sensores de fluxo de calor no solo, modelo HFP01 (fabricados pela Hukseflux);

saldo-radiômetros do tipo REBS Net Radiometer, modelo Q7.1-L (fabricados pela REBS, Inc.). Os sinais desses

sensores foram coletados em sistemas automáticos de aquisição de dados modelos CR23X e CR1000, ambas fabricadas

pela Campbell® Scientific (Figura 22). Os primeiros resultados para o MRB foram coletados no dia 22 de dezembro

de 2013.

A B

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Figura 22. (A) Instrumentos utilizados no campo para avaliação da evapotranspiração pelo MRB e (B) instalação dos

equipamentos nas torres para o MRB.

A primeira instalação dos sensores de fluxo de seiva no colmo (Figura 23) foi realizada no dia 28/04/2014.

No entanto, por problemas na instalação dos sensores, especificamente no aparelho regulador de voltagem, esta

primeira seção de medidas foi descartada. Posteriormente, no dia 10/05/2014, os sensores foram reinstalados,

possibilitando a coletada dos primeiros dados válidos para o fluxo de seiva no dia 11/05/2014. Durante as trocas, os

sensores eram removidos das plantas previamente avaliadas e, em seguida, eram colocados em outros indivíduos,

evitando com isso possíveis efeitos indesejáveis nos colmos, como por exemplo, brotação dos entrenós com a emissão

de primórdios radiculares. Neste processo, foram selecionadas apenas plantas aptas a suportar os sensores,

principalmente quanto ao diâmetro mínimo dos colmos, pois, os sensores deveriam estar totalmente em contato com

os colmos e, no caso de colmos com diâmetro menor que 3 cm não seria possível a interação total entre o colmo e o

sensor (Figura 23).

Figura 23. Instalação dos sensores de fluxo de seiva.

As avaliações biométricas ocorreram nos dias 27/12/2013, 15/01/14, 10/02/14, 11/03/14, 05/04/14,

10/05/14, 31/05/14 e 01/07/14. As variáveis coletadas estão descritas na Tabela 4.

A B

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Tabela 4. Determinação das variáveis biométricas destrutivas (BD) e não destrutivas (BND), contendo as siglas

utilizadas e as unidades para cada variável analisada durante o ciclo da a 1ª cana-soca.

TIPO DE BIOMETRIA VARIÁVEIS SIGLAS Unidades

Não destrutiva (BND)

Perfilhamento PERF (perfilhos m-2) Índice de área foliar IAF (m2 m-2) Número de folhas verdes NFV (nº) Diâmetro DIAM

(cm) Altura média de plantas ALTP

Destrutivas (BD)

Massa fresca total MFT

(t ha-1)

Massa seca total MST Massa fresca de colmos MFC Massa seca de colmos MSC Massa fresca de folhas MFF Massa seca de folhas MSF Massa fresca de palmitos MFP Massa seca de palmitos MSP

As avaliações para todas as variáveis foram realizadas seguindo a metodologia descrita por Nassif et al.

(2013). O período de análise variou entre 72 e 258 dias após o corte da cana-planta (DAC) e, posteriormente, os

resultados obtidos foram analisados graficamente, considerando suas respectivas médias e desvios padrão, totalizando

oito períodos de avaliação ao longo da primeira cana soca. As análises estatísticas entre os tratamentos foram feitas

com base em análise de variância (ANOVA) para cada uma das variáveis. Além da análise de variância, os dados

comparados pelo teste de Tukey para detectar diferenças entre as médias dos tratamentos.

Para cada tratamento foram delimitadas quatro parcelas (5linhas x 5m), totalizando 8 parcelas de 25 m

lineares cada uma. Em cada parcela foram selecionados 10 indivíduos, devidamente identificados e avaliados durante

todo o ciclo. Para a biometria destrutiva, utilizou-se 3 amostras por tratamento, avaliando as massas de 10 indivíduos

sequenciais por amostra, vale ressaltar que os locais para cada amostragem foram sorteados aleatoriamente ao longo

do canavial, sem distinção por tamanho ou forma do indivíduo coletado. As análises tecnológicas da cana-de-açúcar

foram realizadas após o surgimento de colmos industrializáveis no campo experimental, totalizando 3 períodos de

avaliação, nos dias 12/5/2014, 9/6/2014, 3/7/2014.

Com a severa seca que atingiu a região Sudeste do país no início de 2014, a manutenção da irrigação na área

experimental não foi possível, já que o conjunto "moto-bomba" que coletava água do reservatório (Figura 24) não

conseguiu mais succioná-la devido ao nível excepcionalmente baixo do reservatório. O mesmo ocorreu com a captação

no Rio Piracicaba, que poderia servir de ponto de abastecimento "emergencial" não fossem os níveis excepcionalmente

baixos. Este fato inviabilizou a manutenção das avaliações para determinação do consumo hídrico potencial da cana-

de-açúcar e, por isso, no dia 2 de julho de 2014, após a remoção de todos os aparelhos utilizados no campo, foi

determinado o final das avaliações e no dia 15 de julho de 2014 foi realizada a colheita, encerrando o ciclo da CNSO1

(Figura 25).Mesmo com o problema com a capitação de água, a Figura 14 indica que praticamente a água disponível

no solo esteve muito próxima ou acima do limite de 70% da CAD. Então essa inviabilização somente ocorreu a partir

de julho de 2014.

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Figura 24. Nível crítico do reservatório de abastecimento do pivô central.

Figura 25. Colheita da 1ª cana-soca no dia 15/07/2014.

4.3. Método do balanço de energia - razão de Bowen

Em cada um dos tratamentos foi instalado um conjunto de equipamentos necessários para avaliação do

balanço de energia pelo método da Razão de Bowen do canavial (BOWEN, 1926). Os conjuntos continham uma torre

na qual foram instalados dois psicrômetros de ventilação forçada (MARIN et al., 2001), distando 1 m entre eles,

localizados na camada limite ajustada do canavial, sempre a 1 m acima do dossel, acompanhando constantemente o

crescimento do canavial em altura (ALLEN et al., 2011). O tecido de algodão que envolvia o bulbo úmido de cada

psicrômetro foi trocado a cada 10 dias. Já os reservatórios de água dos psicrômetros foram reabastecidos diariamente

a fim de evitar o secamento das fibras de algodão que conduziam a água até os termopares.

Em cada uma das torres foi instalado um saldo radiômetro, localizados a 3 m acima do dossel. Instalou-se

também um sensor de medida de fluxo de calor no solo, localizados à ¼ do comprimento total da entrelinha, enterrados

a 2 cm de profundidade. Além disso, os dados foram coletados por dois sistemas automáticos de aquisição de dados,

uma para cada conjunto de medição.

As avaliações do MRB foram realizadas entre os dias 22 de dezembro de 2013 e 2 de julho de 2014. A

bordadura de no mínimo 85m foi respeitada para cada conjunto psicrométrico, com a finalidade de garantir bordadura

suficiente para manter os psicrômetros sempre dentro da camada limite ajustada. Considerando a direção predominante

dos ventos de Sudeste (NASSIF, 2015) e descartando os dados quando os ventos foram originários de quadrantes sem

bordadura suficiente.

Com as medidas do saldo de radiação (Rn), fluxo de calor no solo (G), das diferenças de temperatura (ΔT)

e da pressão de vapor (Δe) entre os dois níveis, foi determinado o balanço de energia, conforme equação 4 e a

evapotranspiração da cultura.

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𝐿𝐸 =𝑅𝑛−𝐺

1+𝛽 → 𝐸𝑇𝑐 =

𝑅𝑛−𝐺

𝜆(1+𝛽) (4)

em que, Rn é a saldo de radiação (MJ m-2 15 min-1), G é o fluxo de calor no solo (MJ m-2 15 min-1), β é a razão de

Bowen, LE é o fluxo de calor latente de evaporação (MJ m-2 15 min-1) e λ é o calor latente de evaporação calculada

por: λ (MJ Kg-1) = 2,503-0,002386*T(ºC).

Os valores da razão de Bowen (β), foram calculados através da equação 5 para cada intervalo de 15 minutos,

com base nos valores de gradientes de temperatura (ΔT) (MARIN et al., 2005).

𝛽 = 𝛾𝛥𝑇

𝛥𝑒 (5)

em que γ é o coeficiente psicrométrico, ∆T é a diferença temperatura do bulbo seco, em °C; ∆e é o gradiente vertical

de pressão de vapor do ar.

Conforme Righi (2004), o MRB pode apresentar incoerência física em algumas situações e, para identificar

tais incoerência e assegurar a robustez do método, os dados foram avaliados conforme metodologia desenvolvida por

Perez et al. (1999). Este método descreve as condições para que os dados coletados apresentem consistência física, o

que pode evitar erros de estimativas causadas por problemas de advecção ou do próprio equipamento (Tabela 5).

Tabela 5. Condicionais para a avaliação dos dados para o método da razão de Bowen (adaptado de PEREZ et al.,

1999).

Nos períodos em que os resultados apresentaram tal incoerência, os valores foram interpolados, a partir

dos valores imediatamente anterior e posterior, desde que não ocorressem períodos contínuos superiores a 2 horas de

dados incoerentes. Nos casos em que as inconsistências fossem superiores, todo o conjunto de dados do dia foi

descartado. Vale ressaltar que os dados foram integrados somente no período diurno, sem considerar o Bowen para

períodos onde Rn < G.

A evapotranspiração de referência ETo (mm dia-1) foi determinada a partir do método de Penman-Monteith

parametrizado por ALLEN et al, (1998), conforme equação 6:

𝐸𝑇𝑜 =0,408∗𝑆(𝑅𝑛−𝐺)+𝛾

900

𝑇𝑎+273𝑢2𝑚(𝑒𝑠−𝑒𝑎)

𝑠+𝛾(1+0,34∗𝑢2𝑚) (6)

em que s é a tangente a curva de pressão de saturação de vapor no ar, Rn é o saldo de radiação (MJ m -2 d-1), G é o

fluxo de calor no solo (MJ m-2 d-1), Ta é a temperatura média diária (oC), u2 é a velocidade do vento a 2m (m s-1), es-

ea é o déficit de pressão de saturação médio diário (kPa) e γ é o coeficiente psicrométrico. Como não havia medida de

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G na estação meteorológica, fez-se sua estimativa com base na temperatura média dos 3 dias anteriores, conforme

equação7 (WRIGHT e JENSEN, 1972) sugerida por ALLEN et al, (1998).

𝐺 = 0,38(𝑇𝑑 − 𝑇−3𝑑) (7)

em que Td é a temperatura média do ar no dia e T-3d é a temperatura média do ar nos 3 dias anteriores.

O coeficiente de cultivo (Kc) foi estimado pela razão entre as medidas de ETc observadas pelo MRB e a

estimativa da ETo. Para comparação dos dados os valores de ETc obtidos pelo MRB foram integrados para períodos

diários e então comparados com os dados de ETo.

4.4. Fluxo de seiva pelo método do balanço de calor

A determinação da transpiração pelo fluxo de seiva foi feita pelo método do balanço de calor, com sensores

Dynamax Inc. (HOUSTON, TEXAS, EUA). Como constituição básica, esses sensores possuem uma jaqueta térmica

para dissipação de calor, de um fluxímetro de termopilha para quantificação do fluxo radial e de junções de termopar

de Cobre-Constantan, do tipo T, convenientemente dispostas para medir o fluxo de calor axial por condução no colmo

(SAKURATANI, 1981; MARIN et al., 2008).

Foram utilizados 6 sensores Dynamax sendo 3 para cada tratamento. Os sensores foram instalados nos

colmos da cana-de-açúcar segundo a metodologia descrita por (NASSIF, 2015), posicionados na região dos entrenós,

afim de evitar a brotação das gemas. De acordo com a metodologia selecionou-se entrenós cilíndricos, uniformes e

com diâmetro maior que 3 cm de diâmetro para assegurar o contato com o sensor.

O princípio do método baseia-se no aquecimento de um segmento do colmo por uma fonte de calor (P),

sendo que a energia térmica é dissipada por condução nos eixos axial (Qi e Qs) e radial (Qr) e também por convecção

através do fluxo de seiva (Qf), conforme mostra a Figura 26.

Figura 26. Representação esquemática do princípio de funcionamento do método do balanço de calor, em que P é o

calor aplicado ao sensor; Qs e Qi são os fluxos axiais de calor para cima e para baixo do sensor respectivamente; Qr é

o calor dissipado radialmente; Qa é o calor armazenado no segmento de caule amostrado e Qf é o calor conduzido

pela seiva (MARIN et al., 2008).

Para a obtenção do fluxo de seiva (FS), foi utilizada a equação 8, conforme Sakuratani e Abe (1985):

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𝐹𝑆 =𝑃𝑖−𝑄𝑎−𝑄𝑟

𝑑𝑇∗𝑐𝑝 (8)

em que, FS é o fluxo de seiva em kg s-1; Pi é a potência aplicada (W); Qa (Qs+Qi) é o fluxo em watts de energia

dissipada axialmente; dados pela soma dos fluxos axiais superior (Qs) e inferior (Qi); Qr é o fluxo de energia dissipada

radialmente; dT é a diferença de temperatura entre a extremidade superior e inferior do sensor e cp é o calor específico

da água (4,186 10-3 J kg-1 ºC-1) .

Os fluxos axiais (Qa) foram calculados conforme equação 9:

𝑄𝑎 = 𝐾𝑠𝑡 ∗ 𝐴𝑐(∆𝑇𝑏−∆𝑇𝑎)

∆𝑥 (9)

em que Kst é a condutividade térmica do colmo, considerada 0,54 W.m-1.oC-1 (SAKURATANI & ABE, 1985), Ac é a

área da seção transversal do colmo (que no caso da média das plantas analisadas foi de 7,694*10-4 m2) e Δx é a distância

entre os termopares (3 mm).

Qr foi calculado conforme equação 10:

𝑄𝑟 = 𝐾𝑟 ∗ ∆𝑇𝑟𝑎𝑑 (10)

em que Kr é a condutividade térmica do fluxímetro de calor radial e pode ser obtida em condições de fluxo de seiva

nulo ou desprezível para cada instalação do sensor, conforme equação 11 (RIGHI, 2004):

𝐾𝑟 =(𝑃𝑖−𝑄𝑎)

∆𝑇𝑟𝑎𝑑 (11)

No presente estudo, a determinação de Kr foi realizada com dados coletados entre as 3 e 5 horas da madrugada, horário

considerado com fluxo de seiva zero ou próximo de nulo. A mesma metodologia foi utilizada por Righi (2004) em que

o autor utilizou o MBC para estimativa do fluxo de seiva em cafezal irrigado.

Segundo Marin et al. (2008), quando ocorre baixo FS, a diferença de temperatura nos sensores se aproxima

de zero, o que pode levar a uma leitura de transpiração excessivamente e incorretamente alta. Devido a esta limitação

do método, foi feito um filtro de baixo FS, descrito a seguir (VAN BAVEL, 1999, apud MARIN et al., 2008):

Se 0 <= Qf< 20% de P

e ΔT <ΔTmínimo (0,75oC), então faça FS = 0

Uma segunda parte do filtro utilizado é:

Se Qf< 0, então faça FS = 0,00001g s-1 ou 0,036 g h-1

Foram estimadas as transpirações por colmo (L colmo-1 dia-1) e, posteriormente, os resultados do FS foram

integrados para todo dia. A partir da estimativa da área foliar de cada colmo analisado, foi estimada a perda de água,

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por meio da transpiração, em metro quadrado de folha por dia e, ao multiplicar este valor pelo IAF da área em questão,

é obtido o consumo de água pela cultura em mm dia-1. A área média de folhas de cada colmo variou entre 0,4 e 0,5 m2

planta-1 dependendo do indivíduo analisado.

4.5. Método da reflectometria no domínio da frequência (FDR) na variação do conteúdo

de água no solo

Entre os dias 2 e 4 de dezembro de 2013 foram realizadas as instalações dos tubos de acesso para a sonda

portátil de monitoramento da umidade do solo, denominado “Diviner 2000®”, que utiliza sensores de capacitância, a

partir do método da FDR (SENTEK, 2000). Para a instalação dos tubos foram abertos 24 buracos com buracos com

profundidade de aproximadamente 1,5 m cada.

Cada tratamento recebeu 12 tubos, divididos em quatro parcelas, com três repetições, sendo dois tubos nas

linhas e um na entrelinha (Figura 27). Esta distribuição específica dos tubos teve o objetivo de representar

adequadamente a variação da umidade do solo de um canavial irrigado.

Figura 27. Exemplo de distribuição dos tubos de acesso da sonda Diviner 2000 em cada parcela, distribuição nas linhas

e entrelinha para representar o conteúdo de água no solo no canavial irrigado.

Após a etapa inicial, os 24 tubos foram inseridos nos respectivos buracos e os espaços restantes foram

preenchidos com o solo do mesmo local, respeitando as distribuições das camadas, ou seja, os perfis do solo (Figura

28). Vale ressaltar que, para o método da FDR, é fundamental que não existam bolsões de ar entre os tubos e o perfil

de solo e, a adoção deste método de instalação dos tubos proporcionou total contato entre os tubos e o solo.

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Figura 28. Exemplo fora de escala do perfil de solo, com destaque para a profundidade do tubo de acesso da sonda

Diviner 2000 e a profundidade média do sistema radicular da cana de açúcar na área experimental.

Por princípio, os valores coletados pela Diviner são relativos à frequência que retorna à sonda de

capacitância e é variável de acordo com o conteúdo de agua no solo. Portanto, após a coleta dos dados armazenados

na datalogger, os resultados das frequências devem ser transformados em umidade volumétrica a partir da equação 12.

𝜃 = 10(log(

𝐹𝑅𝐴 ))

𝐵 (12)

em que, corresponde à umidade volumétrica do solo (cm³.cm-3) estimada a partir de frequência (FR) registrada pela

Diviner 2000 a cada 10 cm de solo. Os valores A e B correspondem à calibração do aparelho para cada tipo de solo,

para a área experimental em questão, os valores obtidos foram 0,06066 e 0,75594, respectivamente.

A equação de calibração da Diviner foi obtida a partir da comparação entre as diferentes frequências

medidas pelo aparelho e seus respectivos valores médios de capacidade de campo (CC = 0,34), ponto de murcha

permanente (PMP = 0,25) e saturação (SAT = 0,40) que, por sua vez, foram determinados em laboratório a partir de

amostras indeformadas de solo. Estas amostras foram coletadas de quatro trincheiras abertas na mesma área do

experimento (Figura 29). Para obtenção da equação, os valores de frequência e umidade volumétrica foram plotados

em gráficos de dispersão e, posteriormente, foram obtidas a equações exponenciais, utilizadas para transformar a

frequência em umidade volumétrica.

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Figura 29. a) Profundidade avaliada em 100 cm para o sistema radicular da cana de açúcar na área experimental. b)

Coleta de amostras de solo indeformadas nas profundidades de 5, 15, 30, 60 e 100 cm.

Os valores de frequência foram obtidos em condições de campo para cada 10 cm de solo até a profundidade

de 1,5m. No entanto, considerando a prevalência de raízes até 0,9 m de profundidade e a facilidade no processamento

e análise dos dados, as análises foram limitadas a esta mesma profundidade durante os cálculos. Para cada parcela

utilizou-se a média dos três tubos a ela referentes e, posteriormente, foram comparados os resultados entre os

tratamentos CP e SP. Vale ressaltar que todos os dados referentes à umidade do solo foram coletados no ano de 2014,

entre os meses de janeiro e maio, com periodicidade média de duas medidas por semana. Apenas no mês de março,

por problemas na operação da Diviner 2000, foram obtidas apenas duas amostras válidas no período e, portanto, os

dados foram desconsiderados para a avaliação da ETc.

Para a determinação da ETc e do Kc a partir do método da FDR foi necessário adaptar um procedimento

específico para análise da variação de umidade do solo. Neste tipo de avaliação seria necessária utilização apenas dos

períodos de decaimento da umidade do solo, pois, considerando que as alterações da umidade nestes períodos

específicos sejam influenciadas apenas por meio da evapotranspiração, ou seja, desconsiderando-se a possibilidade de

saída da água do perfil por drenagem profunda, e/ou lateral, teríamos que a variação da umidade em determinado

período seria proporcional à ETc, como na equação 13.

ETc =[∑ (θ𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙𝑖−θ𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙𝑖

)∗100𝑛𝑖=1 ]

NDP (13)

em que a ETc é a evapotranspiração média diária no período analisado, especificamente no período de decaimento

contínuo da umidade do solo, a θinicial a umidade volumétrica no dia de início do período a ser avaliado (mm mm-1), θfinal

a umidade volumétrica no dia final do período (mm de água . mm-1 de profundidade), i sendo o 1º dia do período e

n o último dia do período.

Com este tipo de procedimento é possível determinar a ETc entre dois eventos de precipitação e irrigação.

No entanto, no caso específico deste experimento, ocorreram constantes eventos de irrigação ou precipitação entre as

avaliações e, portanto, não foi possível analisar períodos sem nenhum tipo de entrada de água, impossibilitando a

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utilização da equação 13. Para resolver este problema a solução encontrada foi adicionar os valores de precipitação (P)

e irrigação (I) ao somatório da umidade do solo e dividir pelo número de dias do período, como descrito da

equação 14.

ETc =[∑ (θ𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙𝑖−θ𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙𝑖

)∗100𝑛𝑖=1 +𝑃+𝐼]

𝑁𝐷𝑃 (14)

em que a ETc é a evapotranspiração média diária no período analisado, especificamente no período de decaimento

contínuo da umidade do solo, a θinicial a umidade volumétrica no dia de início do período a ser avaliado (mm mm-1),

θfinal a umidade volumétrica no dia final do período (mm mm-1), i sendo o 1º dia do período e n o último dia do período,

P seria a o volume precipitado (mm), I o volume irrigado e os demais parâmetros são os mesmos descrito

anteriormente.

4.6. Simulação da cana-de-açúcar no modelo APSIM-Sugar

Para a simulação da cana-de-açúcar em diferentes condições edafoclimáticas é necessário que as variedades

ou os cultivares estejam previamente calibrados (NASSIF, 2010; COSTA, 2012; MARIN, 2014). Para a calibração da

variedade RB867515 foram utilizados os dados coletados na área experimental durante os dois primeiros ciclos da

cultura, como descrito anteriormente.

Os parâmetros de densidade global do solo (BD, do inglês bulk density), ponto de murcha permanente (LL,

do inglês lower limit), capacidade de campo (DUL, do inglês drained upper limit) e o ponto de saturação (SAT, do inglês

saturation) foram parametrizados com base nos resultados obtidos a partir das amostras de solo coletadas nas quatro

trincheiras e, posteriormente, analisadas no Laboratório de Física do Solo – CENA-USP, como descritos

anteriormente. Os demais parâmetros de solo necessários para calibração do modelo foram baseados em

conhecimentos específicos sobre o modelo, obtidos com os desenvolvedores do próprio APSIM, durante o estágio no

exterior no Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation - CSIRO, em Brisbane, no Estado de

Queensland, Austrália.

As operações de manejo e suas respectivas datas, incluindo desde o plantio das mudas à colheita da CNSO1,

irrigação, fertilização e incorporação de resíduos foram especificadas no submodelo de “operações” do APSIM,

refletindo o ocorrido nos diferentes tratamentos (SP) e (CP), o mais fidedignamente possível. A variedade de cana-de-

açúcar RB867515, utilizada no experimento, foi previamente calibrada para o modelo APSIM por Marin et al. (2015)

e os parâmetros obtidos por eles foram utilizados como base para a nova calibração, apresentada na Tabela 6.

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Tabela 6. Parâmetros da variedade RB867515 calibrados para as simulações no modelo APSIM, baseados na variedade

Australiana Q117.

<!Cana-planta (CNPL)> <rb867515 cultivar="yes">

<! based on q117 pending field data -->

<leaf_size>5000 45000 74600 74600</leaf_size>

<leaf_size_no>1 5 18 26</leaf_size_no>

<cane_fraction>0.60</cane_fraction>

<sucrose_fraction_stalk>1.0 0.55</sucrose_fraction_stalk>

<stress_factor_stalk>0.2 1.0</stress_factor_stalk>

<sucrose_delay>0.</sucrose_delay>

<min_sstem_sucrose>800.</min_sstem_sucrose>

<min_sstem_sucrose_redn>10.</min_sstem_sucrose_redn>

<tt_emerg_to_begcane>1050.</tt_emerg_to_begcane>

<tt_begcane_to_flowering>8000.</tt_begcane_to_flowering>

<tt_flowering_to_crop_end>2000.</tt_flowering_to_crop_end>

<green_leaf_no>12</green_leaf_no>

<tillerf_leaf_size>1 1.5 1.5 2 1</tillerf_leaf_size>

<tillerf_leaf_size_no>1 5 10 18 26</tillerf_leaf_size_no>

</rb867515> <!Cana-Soca (CNSO)>

<rb867515_ratoon cultivar="yes">

<!-- ___________________ -->

<leaf_size>5000 45000 74600 74600</leaf_size>

<leaf_size_no>1 5 18 26</leaf_size_no>

<cane_fraction>0.60</cane_fraction>

<sucrose_fraction_stalk>1.0 0.55</sucrose_fraction_stalk>

<stress_factor_stalk>0.2 1.0</stress_factor_stalk>

<sucrose_delay>0.</sucrose_delay>

<min_sstem_sucrose>800.</min_sstem_sucrose>

<min_sstem_sucrose_redn>10.</min_sstem_sucrose_redn>

<tt_emerg_to_begcane>1050.</tt_emerg_to_begcane>

<tt_begcane_to_flowering>8000.</tt_begcane_to_flowering>

<tt_flowering_to_crop_end>2000.</tt_flowering_to_crop_end>

<green_leaf_no>12</green_leaf_no>

<tillerf_leaf_size>1 1.5 1.5 2 1</tillerf_leaf_size>

<tillerf_leaf_size_no>1 5 10 18 26</tillerf_leaf_size_no>

</rb867515_ratoon>

Para a validação da calibração, a qualidade das simulações foi avaliada utilizando a média dos valores

simulado e dos observados em campo; a raiz quadrada do erro médio (RMSE); o BIAS; o índice de Willmott (d) e a

eficiência da modelagem (EF) (Wallach, 2006). Para o conteúdo de água no solo, previsões do modelo foram

comparadas com os dados medidos ao longo do tempo.

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4.6.1. Simulação do efeito combinado da palha e da irrigação na produtividade da

cana-de-açúcar.

Após a calibração da variedade RB867515, o modelo APSIM-Sugar foi utilizado para simular diferentes

cenários de cultivo da cana-de-açúcar, em diferentes regiões edafoclimáticas brasileiras. Foram simulados 25 cenários

para 13 localidades (Brasília-DF, Catanduva-SP, Diamantino-MT, Londrina-PR, Maceió-AL, Palmas-TO, Paranaíba-

MS, Presidente Prudente-SP, Rio Verde-GO, São Carlos-SP, São Simão-SP, Uberaba-MG e Votuporanga-SP).

As 13 cidades foram selecionadas por apresentarem base de dados confiáveis, tanto de clima quanto de

solo, são regiões com potencial de produzir cana-de-açúcar e, principalmente, terem sido previamente utilizadas por

Marin (2014) e Marin et al. (2016) para simulação da cana-de-açúcar. As simulações também englobaram Piracicaba-

SP, município no qual foram realizados os experimentos utilizados para calibração da variedade RB867515 (Tabela 7).

Tabela 7. Estações meteorológicas com suas respectivas latitude, longitude e altitude.

Município da Estação Estado Latitude (Graus) Longitude (Graus) Altitude (m)

Brasília DF -15,79 -47,92 1159,5 Catanduva SP -21,11 -48,93 570 Diamantino MT -14,40 -56,45 286,3 Londrina PR -23,32 -51,13 566 Maceió AL -9,67 -35,70 64,5 Palmas TO -10,19 -48,30 280 Paranaíba MS -19,75 -51,18 331,3 Piracicaba SP -22,7 -47,62 566 Presidente Prudente SP -22,11 -51,40 432 Rio Verde GO -17,80 -50,92 774,6 São Carlos SP -21,97 -47,87 856 São Simão SP -21,48 -47,55 617,4 Uberaba MG -19,74 -47,95 737 Votuporanga SP -20,47 -49,98 502,5

Os dados meteorológicos necessários para realizar as simulações foram coletados da Base de Dados

Meteorológicos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), para isso, cada série climática foi constituída de 31

anos de dados diários (1980 – 2010), contendo precipitação, temperatura máxima e mínima do ar, e irradiação solar

global. Os dados de radiação solar nos locais e períodos faltantes foram estimados com o método de Angstrom-

Prescott (nos locais em que havia dados de insolação disponíveis) ou método de Bristow e Campbell com os

coeficientes calibrados por Marin et al. (2012). Por fim, os dados das 14 estações foram consistidos e tiveram suas

falhas preenchidas com programa WGEN (RICHARDSON; WRIGHT, 1984).

Quando disponível, utilizou-se dados de estações próximas para preenchimento de períodos com grandes

falhas (maior que uma semana). Todas as séries foram uniformizadas para terem início em 1 de janeiro de 1980 e final

em 31 de dezembro de 2006, totalizando 31 anos, com o intuito de padronizar o período das séries históricas e facilitar

a configuração dos modelos para as simulações, além de facilitar o processo de conversão dos arquivos em formato

(.xlsx) para arquivos (.MET), formato utilizado no modelo APSIM.

Os perfis de solos necessários para simulações nos MCP’s, para cada localidade, foram configurados com

base numa análise regional a partir de mapas e perfis de solo provenientes do PROJETO RADAMBRASIL (1973-

1986), na escala 1:250.000, utilizando-se o programa ArcGIS 9.3/ArcMap®, como desenvolvido por Pinto (2012) e

utilizado por Marin et al. (2016). Com o uso da ferramenta “buffer” do referido software estabeleceu-se raio de 100

km em torno de cada um dos pontos que foram cruzados com o mapa de solos e posterior cruzamento com os

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elementos do mapa de solo. Com base nesse procedimento, foi possível identificar e quantificar quais os solos ocorrem

no entorno de cada ponto, selecionando-se então o solo mais representativo de cada ponto, assim como descrito por

Pinto (2015). Após essa seleção, foi realizada busca no banco de dados de perfis de solos da Embrapa

(http://www.bdsolos.cnptia.embrapa.br/) coletando-se dados de perfis de solos com a mesma classificação e oriundos

de análises realizadas em proximidade com o ponto de simulação selecionado. Para os perfis que não contavam com

os parâmetros físico-hídricos, utilizaram-se as equações de pedotransferência para os solos brasileiros, estabelecidas

por Tomasella, Hodnett e Rossato (2000).

Após a calibração e a configuração das séries históricas climáticas, foi ajustado o módulo de manejo para

representar de modo mais próximo possível o sistema produtivo da cana-de-açúcar no país. As simulações foram

realizadas para cana-de-açúcar de ano (ciclo de 365 dias), tanto para CNPL quanto para CNSO1. O plantio e,

consequentemente, a colheita do canavial foram estabelecidos para meados de julho, aproximadamente dia 15 de julho,

com pequena variação para os anos bissextos. A densidade de plantas, profundidade de plantio e quantidade de cortes

para a reforma do canavial, foram determinados buscando tornar a simulação mais próxima possível com o tratamento

dado pelas usinas brasileiras aos canaviais (Tabela 8).

Tabela 8. Descrição do padrão de manejo utilizado para as simulações da cana-de-açúcar no modelo APSIM-Sugar,

separados por cana planta (CNPL) e 1ª soca (CNSO1).

Os tratamentos adotados para as simulações foram estabelecidos variando-se a quantidade de palha (em

relação a um máximo de 11 t ha-1) e a quantidade de água a ser reposta no solo (diretamente relacionada à quantidade

de água que sai diariamente de um determinado sistema, variando com a evapotranspiração do canavial). Os

tratamentos são descritos na (Tabela 9) foram replicados igualmente para todos os locais, com variação apenas para

irrigação de “salvamento” (única aplicação de 50 mm de água com 100% de eficiência de aplicação), que foi simulada

nos municípios de Brasília - DF, Diamantino - MT, Palmas - TO, Paranaíba - MS, Uberaba - MG e Votuporanga – SP.

Manejo Tratamento Descrição

Data de plantio 15 de julho Densidade de plantas – (plantio) (m²) 9 Duração do ciclo (dias) 365 Densidade de plantas – (1ªsoca) (m²) 9 Densidade de plantas – (2ªsoca) (m²) 8 Densidade de plantas – (3ªsoca) (m²) 7 Densidade de plantas – (4ªsoca) (m²) 6 Profundidade de plantio (cm) 15 Adubação (total em kg ha-1 de N) CNPL Aplicação de 60 kg ha-1, parcelados em

30, 60 e 120 dias após o plantio. CNSO1 Aplicação de 120 kg ha-1, parcelados

em 30, 60 e 120 dias após a colheita.

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Tabela 9. Descrição dos tratamentos utilizados para as simulações.

Tratamento Sigla Significado

T1 000T_000I 0 kg ha-1 de palha e 0% de reposição hídrica T2 025T_000I 2750 kg ha-1 de palha e 0% de reposição hídrica T3 050T_000I 5500 kg ha-1 de palha e 0% de reposição hídrica T4 075T_000I 8250 kg ha-1 de palha e 0% de reposição hídrica T5 100T_000I 11000 kg ha-1 de palha e 0% de reposição hídrica T6 000T_025I 0 kg ha-1 de palha e 25% de reposição hídrica T7 025T_025I 2750 kg ha-1 de palha e 25% de reposição hídrica T8 050T_025I 5500 kg ha-1 de palha e 25% de reposição hídrica T9 075T_025I 8250 kg ha-1 de palha e 25% de reposição hídrica T10 100T_025I 11000 kg ha-1 de palha e 25% de reposição hídrica T11 000T_050I 0 kg ha-1 de palha e 50% de reposição hídrica T12 025T_050I 2750 kg ha-1 de palha e 50% de reposição hídrica T13 050T_050I 5500 kg ha-1 de palha e 50% de reposição hídrica T14 075T_050I 8250 kg ha-1 de palha e 50% de reposição hídrica T15 100T_050I 11000 kg ha-1 de palha e 50% de reposição hídrica T16 000T_075I 0 kg ha-1 de palha e 75% de reposição hídrica T17 025T_075I 2750 kg ha-1 de palha e 75% de reposição hídrica T18 050T_075I 5500 kg ha-1 de palha e 75% de reposição hídrica T19 075T_075I 8250 kg ha-1 de palha e 75% de reposição hídrica T20 100T_075I 11000 kg ha-1 de palha e 75% de reposição hídrica T21 000T_100I 0 kg ha-1 de palha e 100% de reposição hídrica T22 025T_100I 2750 kg ha-1 de palha e 100% de reposição hídrica T23 050T_100I 5500 kg ha-1 de palha e 100% de reposição hídrica T24 075T_100I 8250 kg ha-1 de palha e 100% de reposição hídrica T25 100T_100I 11000 kg ha-1 de palha e 100% de reposição hídrica

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Avaliações biométricas não destrutivas (BND)

Observou-se que o pico de perfilhamento (PERF) ocorreu logo no terceiro mês de cultivo,

aproximadamente 91 DAC, sendo 21,7 perfilhos.m-2 para o tratamento CP e 23,3 perfilhos.m-2 para o SP (Figura 30).

Vale ressaltar que, entre os tratamentos, as maiores diferenças ocorreram durante os dois primeiros meses de avaliação,

aos 72 e 91 DAC. Após o sétimo mês, observou-se estabilização, não sendo mais possível observar diferenças entre

os tratamentos. A diferença no começo do ciclo está provavelmente relacionada a temperatura do solo, uma vez que a

camada de palha reduz o fluxo de energia térmica no solo e, consequentemente, baixa a temperatura e retarda o

desenvolvimento da cultura. Neste caso, a palha funciona como isolante térmico e radiativo, influenciando no

perfilhamento do tratamento CP, quando comparado ao SP.

Figura 30. Avaliação temporal do perfilhamento (indivíduos m-²) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP),

primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as

barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

No mesmo canavial avaliado neste trabalho, Vianna et al. (2015) mediram a temperatura do solo nos

tratamentos CP e SP, para 2ª cana-soca, encontrando diferenças de até 25°C entre os tratamentos; nos dias mais quentes

a temperatura a 5 cm de profundidade chegou a 50°C no tratamento SP, cerca de 20 oC superior ao avaliado para o

CP. As maiores diferenças térmicas foram observadas antes do pico de perfilhamento da cultura que atingiu 25

perfilhos m-2 no SP e 15 perfilhos m-2 no CP. Segundo os autores, devido a interceptação da radiação solar pela cultura,

o gradiente de temperatura em ambos os tratamentos foi menor conforme o desenvolvimento do dossel vegetativo.

Segundo Silva (2009), o pico de perfilhamento da variedade RB92579, para a cana soca, foi de 42,5 perfilhos

m-2, enquanto Almeida et al. (2008) avaliando a mesma variedade, em cana-planta, encontrou 27,6 perfilhos m-2, valor

que se aproxima mais dos valores obtidos no presente trabalho - 21,7 e 23,3 perfilhos m-2 para CP e SP, respectivamente

(Figura 30). Oliveira et al. (2005) encontraram máximo perfilhamento variando de 9 a 17 plantas m-2, aos 182 (DAP)

para as variedades RB72454, RB855113 e a RB855536, sendo esta última a que apresentou o maior perfilhamento

dentre as três. Simões; Rocha e Lamparelli (2005) desenvolveram um estudo no município de Araras-SP utilizando a

0

5

10

15

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72 91 117 146 171 206 227 258

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DAC

CP

SP

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68

variedade SP80-1842 e encontraram perfilhamento máximo de 25 perfilhos m-1 durante a safra 2000/2001, e 23,5

perfilhos m-1 para a safra seguinte. Portanto, com exceção do trabalho de Silva (2009), os estudos aqui apresentados

mostraram padrões de perfilhamento similares aos observados no presente estudo.

Leme Filho (2009), ao analisar o desenvolvimento da cana-de-açúcar em diferentes sistemas de colheita,

destaca que diferentes variedades possuem respostas distintas a inibição da brotação e do perfilhamento, devido à

manutenção da palha sobre solo. O autor cita outros trabalhos, como o de Vasconcelos (2002) que, por sua vez,

trabalhou com seis variedades e dois ciclos de cultivo (segunda e terceira socas), constando que a variedade

IAC86-2210 apresenta perfilhamento estatisticamente similar, a partir do segundo mês de cultivo, para ambos os

sistemas de colheita (crua mecanizada e queimada manual). A variedade RB72454, por sua vez, manteve maior número

de perfilhos durante todo o ciclo no tratamento com queima da palha. Vale ressaltar que a maioria das variedades

apresenta perfilhamento reduzido sob palhada, principalmente no início do desenvolvimento e, após alguns meses,

iguala-se ao perfilhamento do sistema sem palha.

O mesmo padrão de estabilização entre os tratamentos CP e SP foi observado neste trabalho, sendo que, a

partir do sétimo mês de cultivo, a média de 9 perfilhos m-² foi mantida até a colheita (Figura 30). Carvalho (1996)

também destacou o efeito negativo da palhada sobre o perfilhamento inicial e, encontrando valores similares aos

observados no presente estudo para número final de perfilhos, considerando como tratamento a remoção e a

manutenção da palha no solo após a colheita.

Vale lembrar que a presença de compostos aleloquímicos liberados pela palhada pode também ter papel

relevante nessa análise, uma vez que podem afetar ou intoxicar a própria cultura (VELINI; NEGRISOLI, 2000).

Segundo Leme Filho (2009) este fenômeno é conhecido como autoalelopatia, sendo provável que a maior ou menor

sensibilidade da cana aos aleloquímicos seja uma característica varietal. Mas ainda não está claro qual a relevância desse

efeito em comparação com a redução da temperatura e da redução da incidência de radiação sobre os brotos novos.

Nassif (2015), avaliando a cana-planta para a mesma área experimental e mesma variedade, encontrou

resultados para estabilização em 10 perfilhos.m-2. Os valores mostram boa correlação com os valores encontrados

neste trabalho, para o tratamento SP, avaliando a 1ª cana-soca. Vale ressaltar que a comparação é feita com apenas um

dos tratamentos, o SP, pois, o ciclo de cana-planta, analisada por Nassif (2015), ainda não considerava a manutenção

de resíduo durante o sistema de plantio.

A avaliação do índice de área foliar (IAF) indicou grande variabilidade do IAF durante todo o ciclo da

cultura (Figura 31). Quando considerada a média total de IAF observou-se que esta variável foi a única que apresentou

diferença significativa entre os tratamentos CP e SP (Tabela 10).

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Figura 31. Variação temporal do índice de área foliar para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), 1ª cana-

soca. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

O tratamento SP obteve os menores valores absolutos de IAF, com destaque para dois momentos: aos

72 DAC com o IAF=1,68 e 171 DAC com o segundo valor mais baixo, IAF=1,85. Ao contrário, valores mais elevados

foram observados no final do ciclo com o IAF variando de 3,86 e 4,75, valores um pouco acima dos observados por

Nassif (2015) em cana-planta, com IAF variando entre 3 e 4 durante a maior parte do ciclo.

Uma das hipóteses levantadas para este padrão de variação de IAF seria as condições meteorológicas nos

respectivos anos analisados. No ciclo da cana-planta, safra 2012/2013, o volume de chuvas foi abundante, praticamente

sem necessidade de irrigação durante toda a safra (NASSIF, 2015). No entanto, na safra discutida no presente trabalho,

observou-se uma das maiores secas já registradas em Piracicaba, com temperatura do ar e déficit de pressão de vapor

acima do normal. Assim, mesmo sob irrigação, é possível admitir que tenha havido algum possível efeito sobre o status

hídrico e desenvolvimento foliar da cultura.

Além do tratamento CP apresentar os maiores valores de IAF, também obteve a menor variação ao longo

do ciclo. A menor variabilidade pode indicar o efeito da palha na manutenção da umidade do solo, diminuindo a

sensibilidade da cultura a intensa seca observada ao longo daquela safra.

Marin (2014) apresenta valores de IAF para experimentos localizados em diversos locais no Brasil. Em

Piracicaba, o autor reporta redução do IAF, passando de valores próximos a 4 para 3 entre 150 e 200 DAC. No mesmo

estádio de desenvolvimento também foi observada redução similar do IAF no presente trabalho. Outros locais

avaliados por Marin (2014) também apresentaram padrão de redução similar, como nos casos de Coruripe-AL,

Olímpia- SP e Colina-SP.

Apesar de estatisticamente iguais (Tabela 10), houve diferença entre os tratamentos para o número de folhas

verdes (NFV) ao longo do ciclo da cultura (Figura 32). Comparando os tratamentos é possível observar que houve

redução no número de folhas verdes a partir do terceiro mês de cultivo, passando de 6 FV de média aos

72 DAC para 5 FV aos 91 DAC e atingindo menores valores aos 117 DAC, correspondendo a 4 FV por colmos

(Figura 32).

0

1

2

3

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72 91 117 146 171 206 227 258

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Figura 32. Avaliação temporal do número médio de folhas verdes por colmo (NFV) para os tratamentos com palha

(CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras

descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

Nassif (2015) apresentou resultados similares, atingindo o número máximo de 8 FV no 2º mês, reduzindo

para 7 FV por colmo a partir do 3° mês e estabilizando neste valor até a colheita do canavial. Assim como mencionado

para o IAF, as condições climáticas do ciclo-cana-planta contribuíram para o maior NFV. Segundo Inman-Bamber e

De Jager (1986), o NFV por colmo depende do filocrono e diminuiu linearmente quando o potencial de água na folha

e no xilema diminui de -1,0 a -2,3 MPa (ao meio dia) para plantas cultivadas em vasos. Em outro trabalho, Inman-

Bamber (1991) observou que, independentemente do tipo de solo, o NFV por colmo foi correlacionado com o déficit

de água no solo (SWD).

Segundo Inman-Bamber (2004), para um experimento conduzido durante um período com alta demanda

evaporativa, em um solo com 240 milímetros de capacidade de água disponível (CAD), as folhas verdes por colmo só

foram reduzidas quando o déficit de água no solo (SWD) foi superior a 80 mm. Neste caso, os autores apontaram que

a senescência foliar, combinada com a redução na taxa de aparecimento foliar, reduziram o número de folhas verdes

por caule. Em outro momento, quando a demanda evaporativa era baixa e SWD era superior a 100 mm (no local e

com a mesma variedade de cana), os autores indicaram que houve redução substancial no número de folhas verdes.

Neste caso, as baixas temperaturas resultaram em diminuição na taxa de aparecimento foliar e, assim, a senescência foi

a principal responsável pelo declínio no número de FV. Os autores apontaram também que o NFV pode funcionar

como indicador de estresse hídrico, para locais onde a água de irrigação é limitada. Silva (2009) observou que o NFV

por colmo variou entre 6 e 8, sendo os maiores valores encontrados no início do ciclo, assim como foi observado neste

trabalho (Figura 32).

Segundo Barbosa et al. (2014), uma vez que o nível de água disponível no solo diminui, a tolerância à seca

das variedades da cana-de-açúcar é relativamente baixa. Os mecanismos eficazes de resistência à seca para a cultura de

cana de açúcar devem estar relacionados com a capacidade das plantas em evitar a perda excessiva de água para a

atmosfera, dentre os mecanismos os autores destacam a regulação estomática, resistência do fluxo de seiva no xilema,

concentração de sais nas raízes e uma exploração mais eficaz da água disponível no perfil do solo, aumentando a

profundidade do sistema radicular.

Robertson et al. (1998) constatou que a área foliar é derivada da relação entre temperatura e taxa de

aparecimento foliar, sendo que, o tempo necessário para o aparecimento de duas folhas consecutivas é denominado

0

1

2

3

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72 91 117 146 171 206 227 258

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CP

SP

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como filocrono (BONNETT, 1998). Neste contexto, Inman-Bamber (2004) observou que em situações de déficit

hídrico a área foliar pode ser reduzida a partir da diminuição na taxa de aparecimento foliar, ou seja, por aumento do

filocrono. Segundo o autor a emergência de folhas verdes e largas pode ser suprimida sob estresse hídrico. Neste

experimento também é foi possível observar diminuição do IAF (Figura 31) devido à redução no NFV (Figura 32),

corroborando com o que foi observado pelo autor anteriormente citado.

Quanto ao filocrono, considerando temperatura base 12°C foi possível observar incremento constante em

°C.dia até o surgimento da 18ª folha (Figura 33), período no qual ocorre inversão na necessidade térmica e, somente a

partir da 30ª folha, observa-se estabilização do filocrono em aproximadamente 120°Cdia para o surgimento de novas

folhas. Vale ressaltar que o mesmo padrão foi encontrado para ambos os tratamentos, CP (Figura 33A) e SP (Figura

33B).

Figura 33. Número de graus dia (oC dia-1) necessários para a emissão de folhas nos tratamentos com palha (A) e sem

palha (B).

Indicando a especificidade varietal, variedades australianas apresentaram filocrono de 108,7 °C (variedade

Q117) e 126,6 (para a variedade Q138) (CAMPBELL; ROBERTSON e GROF, 1998; ROBERTSON et al., 1998).

(INMAN-BAMBER, 1991) mostra que a relação temperatura e aparecimento de folhas é um processo bifásico, com

menor filocrono no início da cultura, até o aparecimento da 11ª folha e, doravante, filocrono na faixa de 130°C dia

(considerando a temperatura basal de 12°C), sendo este também o padrão mais coerente com o encontrado neste

trabalho.

Silva (2009), em condições do submédio do São Francisco, constatou que a taxa de aparecimento foliar

pode ser dividida em dois períodos, o primeiro mais pronunciado, no início do ciclo cultura, que têm como função

principal aumentar a quantidade de radiação interceptada e, consequentemente, a fotossíntese no período. Um segundo

intervalo caracteriza-se pela redução na taxa de aparecimento foliar, resultando em um pequeno incremento do IAF.

O autor aponta que, para a região do submédio do Vale do São Francisco, em cana-soca, o ponto de transição entre

esses dois intervalos é ocorreu próximo à 17ª folha emergida.

Inman-Bamber (1994) constatou para as variedades NCo376 e N12, cultivadas sem irrigação, que o ponto

de inversão ocorreu com 14 folhas. Em outro trabalho, Inman-Bamber (1991), utilizando temperatura base de 12°C

para o aparecimento de folhas, determinou 70°C dia-1 para as 11 primeiras folhas e 130°C dia-1 para as subsequentes.

Bonnett (1998), analisando 9 variedades de cana-de-açúcar, observou o ponto de inversão entre as folhas 10 e 15. Estes

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72

resultados mostram que mesmo em diferentes condições edafoclimáticas e avaliando variedades distintas os resultados

foram coerentes.

Nesta tese, a inversão ocorreu com 18 folhas, para ambos os tratamentos, CP e SP (Figura 33), com

140 °C dia-1 para emissão de folhas. A partir da 20ª folha houve diminuição na quantidade de graus dia acumulados

para cada nova folha emitida (Figura 34). O mesmo padrão foi constatado por Smit e Singels (2006), que avaliando

dois cultivares de cana (N22 e NCo376), em sequeiro e irrigado, com valores acumulados de 2700 a 3000 oC dia, para

um número folhas entre de 25 a 27 folhas, dependendo da variedade e do tratamento.

Figura 34. Graus dia acumulados (oC dia) em relação ao número de folhas totais acumuladas e folhas secas acumuladas,

variando entre os tratamentos com palha (A e C) e sem palha (B e D).

No tratamento com palha (Figura 34A e Figura 34C) e sem palha (Figura 34B e Figura 34D) foi possível

observar que o número total de folhas foi maior que o encontrado por Smit e Singels (2007). Silva (2009), por sua vez,

determinou a taxa de aparecimento foliar em 0,0079 folhas oC dia-1, que equivale a um filocrono de

127 oC dia folha-1, para as condições do Vale do São Francisco. Portanto, é possível observar que, mesmo em regiões

distintas, a taxa de aparecimento de folhas obteve o mesmo padrão para a cultura da cana-de-açúcar, com valores

médios de 120 oC dia-1 folha-1.

Não houve diferença estatística para as medidas de altura e diâmetro de colmos (Tabela 10). No entanto,

quando considerados os períodos individualmente, foi possível observar diferenças entre os tratamentos, sendo que

para a altura das plantas, a diferença ocorreu no meio do ciclo, aos 146 DAC (Figura 35) e, para a variável diâmetro de

colmos a diferença ficou clara no início do ciclo (Figura 36), com clara vantagem do tratamento SP, que obteve média

de 2,15 cm, enquanto o tratamento CP obteve valor médio de 1,4 cm por colmo. Vale ressaltar que houve estabilização

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do diâmetro médio dos colmos entre 2,8 e 2,9 cm, a partir dos 91 DAC, indicando que o acúmulo de fotoassimilados

nos colmos ocorreu, preponderantemente, em relação à altura do vegetal, sem aumento da espessura do órgão de

reserva. Outro ponto a ser observado é que a altura se estabilizou após os 206 DAC.

Figura 35. Avaliação temporal da altura média dos indivíduos (cm) nos tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP),

primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as

barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

Figura 36. Avaliação temporal do diâmetro médio de colmos (cm) nos tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP),

primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as

barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

No período entre 171 e 206 DAC ambos os tratamentos sofreram incremento significativo em altura,

passando de aproximadamente 150 cm para 235 cm de em 35 dias. O padrão de crescimento em altura foi o mesmo

encontrado por Nassif (2015) avaliando a cana-planta na mesma área experimental, com pequena diferença no período

final.

O mesmo tipo de avaliação foi realizado por Silva (2009), tanto para expansão em diâmetro quanto para a

elongação dos colmos. Neste trabalho, o autor relatou variação entre 0,5 a 1,8 cm dia-1 para ALTC e de 1,8 a 0,0 cm

dia-1 para DIAM, valores similares aos observados no presente trabalho após os 91 DAC (Figura 36), em que ocorre

estabilização do DIAM em, aproximadamente, 2,8 cm para ambos os tratamentos.

Portanto, comparando-se as médias finais de cada variável biométrica não destrutiva avaliada, foi possível

observar que os tratamentos CP e SP foram estatisticamente diferentes apenas no IAF (considerando o nível de 5%

0

50

100

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200

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72 91 117 146 171 206 227 258

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SP

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74

de significância). Vale ressaltar que o tratamento CP apresentou valores superiores aos do tratamento SP para o IAF

(Tabela 10).

Tabela 10. Teste Tuckey para as variáveis biométricas não destrutivas (BND) em relação aos tratamentos com palha

(CP) e sem palha (SP), sendo avaliados o perfilhamento (PERF) em (perfilhos m-2), altura de plantas (ALTP), diâmetro

(DIAM), número de folhas verdes (NFV) e o índice de área foliar (IAF).

Variáveis PERF (perfilhos m-2)

ALTP (cm)

DIAM (cm)

NFV (nº)

IAF (m2 m-2)

Tratamentos SP 14,14 a 156,48 a 2,74 a 4,62 a 3,25 a

CP 14,23 a 161,64 a 2,75 a 4,80 a 3,54 b

Letras minúsculas iguais na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.

5.2. Avaliações biométricas destrutivas (BD)

5.2.1. Massa fresca e seca da parte aérea

Durante todo o período de avaliação houve incremento praticamente constante da massa total da parte

aérea, para ambos os tratamentos, em relação a massa fresca total (MFT) (Figura 37), e massa seca total (MST) (Figura

38). Mesmo não havendo diferença estatística entre os tratamentos CP e SP para as variáveis MFT e MST (Tabela 11),

ao se analisar cada período de avaliação individualmente foi possível detectar diferenças entre os tratamentos,

principalmente aos 146 DAC. As diferenças em relação a MFT foram de 42 t ha-1 para o CP e 24 t ha-1 para o SP

(Figura 37), porém, não houve diferença entre os tratamentos em relação a MST, em nenhum dos períodos avaliados.

Figura 37. Avaliação temporal da Massa Fresca Total (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP),

primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as

barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

0

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SP

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Figura 38. Avaliação temporal da Massa Seca Total (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento. Tabela 11. Teste Tuckey para as variáveis biométricas destrutivas (BD) em relação aos tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), sendo avaliadas a massa fresca total (MFT), massa seca total (MST), massa fresca de colmos (MSC), massa seca de colmos (MSC), massa fresca de folhas (MFF), massa seca de folhas (MSF), massa fresca de palmitos (MFP) e massa seca de palmitos (MSP).

Variáveis MFT MST MFC MSC MFF

MSF MFP MSP

(t ha-1)

Tratamentos SP 60,02 a 12,02 a 41,36 a 6,70 a 8,82 a

2,49 a 7,36 a 0,96 a

CP 60,16 a 12,49 a 41,40 a 6,87 a 9,13 a 2,95 b 7,43 a 0,99 a

Letras minúsculas iguais na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.

Uma das hipóteses para explicar tal diferença entre os tratamentos neste período é o teor de umidade

intracelular, ou seja, grau de hidratação das células vegetais, pois, mesmo não havendo diferença em termos de MST,

a MFT apresentou 18 t ha-1 de diferença entre os tratamentos, aos 146DAC, indicando que CP continha maior teor de

umidade no colmo.

A segunda hipótese é que no particionamento dos fotoassimilados, no tratamento SP parte destes

carboidratos tenha sido destinado ao sistema radicular e, portanto, não apareceria no computo da massa total da parte

aérea. Por fim, uma terceira hipótese a ser aventada para explicar esse padrão de variação seria o menor IAF do

tratamento SP, em comparação ao CP, principalmente, no período entre 146 e 171 DAC (Figura 31). A menor área

foliar poderia acarretar em menor taxa de crescimento vegetal.

A massa fresca de colmos (MFC) (Figura 39) e massa seca de colmos (MSC) (Figura 40) apresentaram o

mesmo padrão do avaliado para massa fresca e seca total (MFT e MST), sendo a variável com maior representatividade

em termos de biomassa (g m-2) quando comparada a massa de folhas e palmitos. As maiores diferenças entre os

tratamentos ocorreram aos 146 DAC, totalizando 26 t ha-1 para o CP e 14 t ha-1 para o SP. Vale ressaltar que mesmo

com tais diferenças pontuais os tratamentos não apresentaram diferença significativa para a MFC (Tabela 11).

Comparando-se tais dados com os observados no ciclo de cana-planta (NASSIF, 2015), houve queda na

massa de colmos no ciclo seguinte, 1ª cana-soca, totalizando 120 t ha-1 para cana-planta e aproximadamente 100 t ha-1

na 1ª cana-soca. Além dos fatores de manejo, como por exemplo, o processo de colheita e os tratos culturais, que

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podem atrapalhar a produtividade das safras subsequentes, vale destacar que entre os dois anos analisados houve

diferenças significativas no clima regional. Na safra 2012/2013 (ciclo de cana-planta), as condições climáticas foram

mais favoráveis, com disponibilidade hídrica relativamente maior que na safra 2013/2014. Por fim, vale lembrar que o

ciclo da primeira soca foi encerrado com apenas 9 meses de desenvolvimento. A título de informação, a média nacional

para a produção de colmos foi de aproximadamente 74,2 t ha-1 na safra 2013/2014 (CONAB, 2014).

Figura 39. Avaliação temporal da Massa Fresca de Colmos (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha

(SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média

e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

Figura 40. Avaliação temporal da Massa Seca de Colmos (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP),

primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as

barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

Assim como ocorre com os colmos, a avaliação da massa de folhas (MFF e MSF) é amplamente estudada

para cultura da cana-de-açúcar, devido sua importância em inúmeros processos como na fotossíntese e

evapotranspiração. Vale ressaltar que, em muitos casos, a massa de folhas e de palmitos são estudadas conjuntamente,

por ser difícil especificar no campo qual parte seria considerada como palmito.

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Ao longo do ciclo da cultura, observou-se incremento mais intenso na MFF (Figura 41) no período entre

117 e 146 DAC, com certa estabilização no último mês da cultura. No entanto, na comparação entre os tratamentos,

não houve diferença estatística significativa para MFF (Tabela 11). As maiores diferenças ocorreram aos 146 DAC,

sendo 8 t ha-1 para CP e 5 t ha-1 para SP.

A quantidade de MFF e MSF entre os 71 e 171 DAC foi relativamente menor no tratamento SP e, após

este período, a massa do tratamento SP superou a do CP em aproximadamente 0,8 t ha-1. Mesmo com valores distintos,

após o período de inversão os tratamentos não diferiram entre si.

Observou-se também que a variação do IAF (Figura 31) não proporcionou o mesmo padrão de alteração

na MSF (Figura 41). Isso vai ao encontro do que foi observado por Inman-Bamber (2004), ao avaliar a cana-de-açúcar

sobre diferentes níveis de deficiência hídrica. No trabalho o autor determinou que o estresse hídrico é o principal

responsável por diminuir o surgimento de novas folhas e possui maior efeito sobre a taxa de expansão quando

comparado ao incremento da MSF, ou seja, os níveis de estresse para que ocorram alterações no IAF são inferiores

aos níveis necessários para que ocorram reduções na produção de fotoassimilados.

Figura 41. Avaliação temporal da Massa Fresca de Folhas (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP),

primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as

barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

Para a MSF (Figura 42) foi observado o mesmo padrão da MFF (Figura 41). No entanto, comparando-se

apenas as variáveis biométricas destrutivas, a MSF foi a única que apresentou diferença significativa entre os

tratamentos CP e SP (Tabela 11). A diferença entre os tratamentos no período mais discrepante, 146 DAC, foi de

aproximadamente 0,9 t ha-1 sendo que a MSF no tratamento SP foi menor que o CP em quase todos os períodos, com

inversão entre os tratamentos no último período de medida.

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Figura 42. Avaliação temporal da Massa Seca de Folhas (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP),

primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as

barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

Para a massa de palmitos (MFP e MSP) não foram observadas diferenças estatísticas entre os tratamentos

(Tabela 11). No entanto, assim como para todas as demais variáveis, foram observadas diferenças pontuais. No período

inicial, os maiores valores foram encontrados para o tratamento CP, sendo 7,8 t ha-1 contra 4,7 t ha-1 para o tratamento

SP. No entanto, a situação se inverte no final do ciclo e o SP passa a ser superior ao CP em relação à MFP, 12 t ha-1 e

14,4 t ha-1, respectivamente.

Em relação a MFP (Figura 43) e MSP (Figura 44), observou-se maior variação ao longo do ciclo da cultura

quando comparada à massa de colmos e folhas. Houve também variabilidade temporal relativamente para MSP, em

relação à MSP, o que pode visualizado através do coeficiente de variação (CV%) que, para a MSP, atingiu 32,2% e para

MFP somente 19,41%. Vale ressaltar que a massa de palmitos, em muitos casos, pode ser apresentada conjuntamente

com a massa de folhas, diminuindo possíveis variações nos valores observados devido a determinação do ponto exato

de divisão entre colmos e palmitos da cana-de-açúcar.

Figura 43. Avaliação temporal da Massa Fresca de Palmito (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha

(SP), primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média

e as barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

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Figura 44. Avaliação temporal da Massa Seca de Palmito (t ha-1) para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP),

primeira cana-soca, descrevendo a média e o desvio padrão para cada tratamento. As barras descrevem a média e as

barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

5.2.2. Avaliação tecnológica da cana-de-açúcar

As análises tecnológicas da variedade RB867515, obtidas no final do ciclo de cultivo (Tabela 12),

possibilitaram analisar o rendimento industrial da cana-de-açúcar, sendo que os resultados mostram aumento gradativo

na pureza do caldo (Pza), a cada período de amostragem, indicando a diminuição da quantidade de fibra na amostra

analisada. Esta variável (Pza), assim como o teor de fibras (TF), são importantes na eficiência do processo industrial

(BOVI e SERRA, 1999). Para o experimento, a quantidade de fibra industrial (F) variou entre 9,5 e 10,6 %, o que

mostra valores inferiores ao de outros trabalhos como o de Silva (2009) que encontrou valores de 13,7% , para a

variedade RB92579, nas condições do Submédio do Vale do São Francisco. Outros autores como Marques et al. (2007),

analisando as variedades SP801816, RB845210, SP813250, RB855536, RB867515 e RB72454, obtiveram valores de F

variando entre 12,02 e 13,83%.

Além da fibra, a quantidade de açúcar totais recuperáveis ATR, com base na biomassa seca dos colmos é

outro fator relevante, representando a quantidade de açúcar recuperado por massa de matéria prima. Para este

experimento, as maiores diferenças entre o tratamento CP e SP foi obtido no 8º mês de cultivo da cana-soca, com

ATR=104 kg de açúcar por t-1 de colmos para o tratamento CP e ATR=113 kg t-1 para o SP.

Na colheita do canavial, os resultados entre os tratamentos foram similares, totalizando aproximadamente

120 kg t-1 de matéria prima na indústria. Tais valores de ATR foram semelhantes aos encontrados por Nassif (2015)

avaliando a cana-planta para a mesma área experimental, considerando apenas nove meses de cultivo em ambos os

experimentos. Silva (2009) encontrou valores de 0,41 g de açúcar por g de matéria seca (g g-1), no entanto, para

comparação dos resultados com o deste experimento, é necessário a conversão de MFC em MSC. Os resultados deste

experimento indicam aproximadamente 80 % de umidade na MFC e, portanto, para este experimento o ATR em

relação a massa seca seria de 0,6 g g-1, superior aos resultados encontrados por Silva et al. (2014). Outros autores

também indicam valores inferiores aos encontrados para este experimento. Inman-Bamber; Muchow e Robertson

(2002), por exemplo, encontraram valores entre 0,35 e 0,50 g g-1 e, Robertson et al. (1999), valores entre 0,47 e

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0,53 g g-1, ambos para a variedade Q96, na Austrália. Todos os valores indicam que a variedade RB867515 obteve bons

resultados para conversão biomassa de colmos em sacarose.

Tabela 12. Análises tecnológicas da cana para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP), em três datas de

amostragem.

Rótulos de Linha Tara do cesto PBU Brix LPb POL %caldo F (%) Pex PC Pza ARC ATR

12/05/2014 171,7 09,4 13,2 39,8 9,9 9,6 9,9 8,7 74,7 1,4 95,3

CP 156,9 111,4 13,3 39,9 9,9 9,8 9,9 8,7 74,4 1,4 95,3

SP 186,4 107,5 13,1 39,8 9,9 9,5 9,8 8,7 75,0 1,4 95,3

09/06/2014 156,5 118,1 14,2 48,0 11,8 10,3 11,8 10,3 83,3 1,2 108,7

CP 160,1 121,7 13,7 45,9 11,3 10,6 11,3 9,8 82,7 1,2 104,3

SP 153,0 114,5 14,7 50,2 12,3 10,0 12,3 10,8 83,9 1,1 113,0

03/07/2014 156,5 119,2 15,8 54,1 13,3 10,4 13,2 11,5 83,9 1,1 120,1

CP 160,1 119,9 15,7 53,9 13,2 10,5 13,2 11,5 84,0 1,1 119,5

SP 153,0 118,4 15,9 54,4 13,3 10,3 13,3 11,6 83,7 1,1 120,8

Total Geral 161,6 115,6 14,4 47,3 11,7 10,1 11,6 10,2 80,6 1,2 108,0 PBU - Peso do Bolo Úmido; LPb - Leitura sacarimétrica equivalente a subacetato de chumbo; F – Fibra industrial (%); Pex - Pol%caldo extraído; PC - Pol%cana; Pza – Pureza do caldo; ARC - açucares redutores % cana; ATR - açúcares totais recuperáveis, expressos em kg por tonelada de matéria prima (tc).

5.3. Evapotranspiração, evaporação e transpiração do canavial

5.3.1. Método do balanço de calor - razão de Bowen (MRB)

Os valores de evapotranspiração da cultura (medida pelo método da ETc-MRB) e da evapotranspiração de

referência (ETo), estimada com a parametrização proposta por Allen et al. (1998) mostraram um padrão típico de

variação para um cultivo de cana (Figura 45), respondendo ao déficit de pressão de vapor (DPV), temperatura do ar e

radiação solar. Os valores de ETc foram mais elevados que os de ETo em todas avaliações, no entanto, os dois

primeiros meses de cultivo não foram avaliados neste experimento.

Entre o 3º e o 7º período, as médias de ETc para o tratamento CP variou entre 3,4 e 7,7 mm dia-1 e, enquanto

que no tratamento SP a variação foi menor, entre 4,1 e 7,4 mm dia-1. No ciclo de cana-planta, Nassif (2015) determinou

que os menores valores de ETc foram próximos a 1 mm dia-1, no mês de março de 2013, quando as chuvas chegaram

a 135 mm, já em fevereiro, com temperaturas mais elevadas, a ETc chegou a 6,5 mm d-1. Além disso, foram aplicados

25 mm de irrigação durante o cultivo da cana-planta. Vale ressaltar que a maior parte da precipitação ocorreu em 10

dias consecutivos, explicando os baixos valores de ETc avaliada para a cana-planta no mês de março.

Assim como observado por Nassif (2015) para cana-planta, os valores de ETc para cana-soca tenderam a

decrescer durante o período de cultivo, considerando o início da avaliação nos meses mais quentes do ano e indo até

os mais frios, com menores temperaturas, radiação e DPV. Neste contexto, os valores de Kc (Figura 46) também

mantiveram o mesmo padrão entre a cana-planta e a cana-soca, quando considerado apenas o tratamento SP, pois, no

caso da cana-planta não havia cobertura de palha sobre o solo.

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81

Segundo Nassif (2015) os valores de Kc variaram de 1,1 a 2,4 ao longo do ciclo da cana-planta. Este

incremento no valor de Kc, ao longo do período de avaliação (janeiro-maio) também foi encontrado neste trabalho,

passando de 1,25 no mês de janeiro para aproximadamente 2,00 no mês maio (Figura 46).

Figura 45. Valores médios e desvio padrão referentes à evapotranspiração da cultura (ETc), para variedade RB867515,

avaliando a primeira soca, pelo método da Razão de Bowen e a evapotranspiração de referencia (ETo) por Allen et al.

(1998), sendo o período 3 (Janeiro), 4 (Fevereiro), 5 (Março), 6 (Abril) e 7 (Maio). As barras descrevem a média e as

barras de erro mostram o desvio padrão para cada medida e tratamento.

Figura 46. Valores médios de Kc para variedade RB867515, ciclo da 1ª cana-soca, avaliados pelo método da Razão de

Bowen (Kc-MRB), sendo o período 3 (Janeiro), 4 (Fevereiro), 5 (Março), 6 (Abril) e 7 (Maio).

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Período após o corte (meses)

Média de ETc Com Palha Média de ETc Sem Palha Média de ETo

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Período após o corte (meses)

Média de Kc Com Palha Média de Kc Sem Palha

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82

A avaliação comparativa mostrou diferenças entre os tratamentos CP e SP, principalmente em relação aos

valores de Kc-MRB. No tratamento CP, observou-se leve diminuição nos valores de Kc-MRB em relação ao

incremento nos valores de ETo (Tabela 13), ou seja, a ETc-MRB apresentou valores 50% maiores que a ETo durante

todo o período avaliado (Figura 47A). No entanto, para o tratamento SP, a relação não foi constante, havendo queda

na ETc conforme a ETo aumentava (Figura 47B).

Considerando o período de avaliação, como período médio de desenvolvimento da cultura, entre 3 e 8

meses, assim como descrito por Marin et al. (2016), os valores de Kc foram superiores aos sugeridos por Allen et al.

(1998), que determina Kc constante e igual a 1,25 para o período médio de desenvolvimento da cultura. Vale ressaltar

que este trabalho e o de Marin et al. (2016) foram desenvolvidos para a variedade RB867515, e constatou-se que o Kc

de áreas “sem cobertura de palha” possui relação inversamente proporcional a ETo. Por outro lado, neste experimento,

contatou-se que a área coberta com o resíduo vegetal, manteve o Kc estável, independentemente dos valores de ETo,

como previsto por Allen et al. (1998).

Figura 47. Relação do coeficiente de cultura (Kc), avaliado pelo método da Razão de Bowen e a evapotranspiração de

referência (ETo), (A) tratamento com palha e (B) tratamento sem palha.

Tabela 13. Relação entre faixas de evapotranspiração de referencia (ETo-MRB) e o Kc para a os tratamentos com

palha (CP) e sem palha (SP).

ETo (mm) Kc-MRB (CP) Kc-MRB (SP)

0 a 2 1,4 1,8

2,1 a 4 1,5 1,9

4,1 a 6 1,4 1,4

6,1 a 10 1,3 1,2

y = -0.015x + 1.480R² = 0.009

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0.5

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0 2 4 6 8

Kc

A

y = -0.152x + 2.164R² = 0.345

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3

0 2 4 6 8

Kc

ETo (mm dia-1)

B

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Segundo Silva (2012) a ETc variou entre 1,2 mm dia-1 e 7,5 mm dia-1, em cana-soca da variedade

RB 92-579, para o Submédio do Vale do São Francisco e média de 4,7 mm dia-1. Inman-Bamber e McGlinchey (2003),

avaliando a cana de açúcar para Swazilandia com o MRB encontraram valores entre 1 mm dia-1 e

8,1 mm dia-1. Souza et al. (1999) citado por Silva (2009), obtiveram valores médios de ETc oscilando entre 1,9 mm dia-

1 e 6,3 mm dia-1. Thompson e Boyce (1967) obtiveram valores máximos de ETc igual a 6,8 mm dia-1 para Pongola, na

África do Sul. Ham (1985), citado por Inman-Bamber e Smith (2005), utilizando sondas de nêutrons para o

monitoramento de água no solo, constataram ETc máxima para cultivo irrigado de 7,8 mm dia-1. Interessante notar

que apesar da variação de regiões e técnicas de medida, os valores observados por esses autores coincidem com a faixa

de valores observados no presente trabalho.

5.3.2. Evapotranspiração pelo método da variação da umidade do solo - FDR

É possível observar que houve variação da umidade do solo (mm mm-1) durante todo o ciclo da cultura

(Figura 48). No entanto, para diminuir a interferência da velocidade de infiltração básica (VIB), principalmente, após

eventos de consecutivos de precipitação, seria necessário aumentar a frequência de avaliação pelo método da FDR,

pois, com o aumento da periodicidade das avaliações, seria possível obter mais períodos de decaimento da umidade do

solo e, consequentemente, mais valores de ETc-FDR.

Mesmo com certa dificuldade para a utilização dos dados coletados na forma descrita, foi possível

determinar resultados mensais de ETc-FDR e Kc-FDR como descrito na Tabela 14. Estes resultados foram

relativamente diferentes dos obtidos para o MRB, avaliados para os mesmos períodos (Tabela 14), sendo que para o

tratamento CP os valores de Kc-FDR variaram entre 1,2 e 1,6, acima do que foi sugerido por Allen et al. (1998) para

cana-de-açúcar no mesmo estágio vegetativo, enquanto que para o SP os valores variaram entre 0,8 e 1,2, ficando

abaixo do indicado pelos mesmos autores, que seria 1,25 para o período.

Os valores de ETc-MRB foram cerca de 20% e 37% superiores aos encontrados para ETc-FDR para os

tratamentos CP e SP, respectivamente (Figura 49). Considerando as incertezas de cada método é possível que os valores

reais de ETc e Kc estejam entre os valores obtidos para cada metodologia.

Vale ressaltar que, em condições úmidas, a abordagem do MRB para determinação da evapotranspiração

das comunidades vegetais pode proporcionar bons resultados, porém, o método não é tão preciso em condições muito

secas ou com advecção considerável de energia, mesmo em condições de umidade adequada (ANGUS e WATTS,

1984). Para a metodologia da FDR os problemas podem estar relacionados tanto à precisão de calibração, relacionada

à amostragem do solo e à precisão dos aparelhos utilizados na determinação da curva de retenção de água no solo,

assim como a presença de rochas na região de leitura do elemento sensor, o que pode interferir nos valores de umidade

do solo (HANSON et al., 2004).

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84

Figura 48. Umidade volumétrica (θ) (mm mm-1), variando entre os tratamentos com palha e sem palha, a cada 10 cm

de profundidade.

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85

Tabela 14. Determinação da média mensal para as variáveis evapotranspiração da cultura (ETc), de referência (ETo),

além do coeficiente de cultura (Kc), pelo método da reflectrometria no domínio da frequência (FDR), primeira cana

soca da variedade RB867515.

Tratamento CP

Kc-FDR ETo ETc-FDR ETc-MRB

Janeiro 1,2 5,1 6,0 8,0

Fevereiro 1,4 4,1 5,2 5,6

Março - - - -

Abril 1,2 1,9 2,2 3,4

Maio 1,6 2,4 3,8 3,7

Tratamento SP

Kc-FDR ETo ETc-FDR ETc-MRB

Janeiro 1,2 5,1 5,7 7,8

Fevereiro 0,9 4,7 5,7 7,2

Março - - - -

Abril 0,8 1,9 3,0 5,1

Maio 0,8 2,5 3,6 5,2

Figura 49. Relação entre a ETc avaliada pelo método da razão de bowen (MRB) e pelo método da reflectometria no

domínio da frequência (FDR) nos tratamentos com palha - CP (A) e sem palha - SP (B).

5.3.3. Transpiração pelo método do balanço de calor – Fluxo de seiva

Os resultados mostraram que a transpiração (Tp) em relação a área foliar, no tratamento CP foi superior à

obtida para o SP, variando entre 0,1 e 0,3 L m-2 (folha) dia-1 (Figura 50). O tratamento SP superou o CP somente em duas

datas, 11 e 16 de maio, nas quais o desvio padrão para tratamento SP foi elevado, aproximadamente 1 L m-2(folha) dia-1

(Figura 50).

y = 1.2002xR² = 0.8215

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

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0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0

ETc

(MR

B)

ETc (FDR)

A

y = 1.3795xR² = 0.7762

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

9.0

0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0

ETc

(MR

B)

ETc (FDR)

B

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Figura 50.Valores médios e desvio padrão de fluxo de seiva (L m-2

folha dia-1) pelo método do balanço de calor, para a

1ª soca, variedade RB867515 cultivada em Piracicaba-SP. As barras descrevem a média e as barras de erro mostram o

desvio padrão para cada medida e tratamento.

Os valores de Tp por unidade de área foliar variaram entre 0,36 e 1,69 L m-2

(folha) dia-1 para o tratamento CP

e entre 0,26 e 1,76 L m-2 (folha) dia-1 para o SP. Considerando que os valores de IAF foram diferentes entre os

tratamentos, IAF = 3,5 para o CP e IAF = 3 para o SP, teremos Tp média de 3,6 mm dia-1 para o CP e 3,0 mm dia-1

para SP.

Comparando os valores Tp com a ETc pelo MRB e FDR, observa-se que no tratamento CP a Tp

correspondeu à 97% da ETc-MRB e 94% para ETc-FDR. No entanto, para o tratamento SP, os resultados mostraram

menor relação da Tp com a ETc, apenas 58% da ETc-MRB e para ETc-FDR os resultados mostraram 83% do total

evapotranspirado. Segundo Nassif (2015), com base nos dados de ETc-MRB e de Tp pelo método do fluxo de seiva,

para cana planta, foi possível inferir que no período avaliado 90% da ETc foi relativo a Tp da própria cultura e os

outros 10% por água evaporada diretamente do solo.

Neste contexto, Nassif, Marin e Costa (2013) avaliando a 2° cana-soca da variedade CTC12, determinaram

que a Tp pelo fluxo de seiva variou entre 3,15 e 5,98 mm dia-1. Vale ressaltar que os valores encontrados neste trabalho

ficaram entre os valores encontrados pelos autores. Chabot et al. (2005) avaliando a transpiração da cana-de-açúcar

pelo método do balanço de calor, em área irrigada em região de clima semi-árido no Marrocos, determinaram que os

sensores de fluxo de seiva podem superestimar a transpiração em até 35%, sendo que a média para o período avaliado

foi de 8 mm dia-1.

Segundo Grantz e Meinzer (1991), citado por Inman-Bamber e Smith (2005), o estômato responde ao DPV,

principalmente próximos às células guarda, assim como à densidade de fluxo de fótons e, consequentemente, o fluxo

de seiva sofreria variações relacionadas à resistência estomática. Segundo Jarvis e McNaughton, (1986), as resistências

da copa da cultura (rc) e a resistência aerodinâmica (ra) devem ser consideradas na determinação da Tp. Inman-Bamber

e Smith (2005) ainda citam várias outras interações para regulação estomática, como por exemplo, um mecanismo

0

1

2

3

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Data

Com Palha Sem Palha

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homeostático para regulação da turgescência das células, controle estomático por influência do ácido abscísico (ABA),

além da compactação que pode influenciar na transpiração e devido a alteração no potencial de água no solo.

5.4. Avaliação e calibração do modelo APSIM-Sugar para condições de cultivo no

município de Piracicaba-SP

Após a calibração do modelo, observou-se que os valores simulados pelo modelo APSIM-Sugar indicaram

padrões similares de remoção e reposição hídrica no perfil, quando comparados aos valores absolutos de umidade

volumétrica do solo, medidos periodicamente pelo método FDR (Figura 51). Tanto nos resultados simulados quanto

nos medidos, as maiores variações ocorreram nos primeiros 10 cm de profundidade, variando entre

0,18 mm mm-1 e 0,36 mm mm-1, que correspondem, respectivamente, ao PMP e SAT. Esta variação ocorre devido ao

contato direto desta camada com a atmosfera, sendo a primeira a receber os volumes precipitados e a perder água por

evaporação. Além disso a maior parte do sistema radicular está contido nas primeiras camadas de solo, proporcionando

a remoção de água por transpiração.

Figura 51. Variação da umidade volumétrica (θ), em mm.mm-1, avaliada pelo método da FDR, sendo descrita por

pontos e a umidade volumétrica simulada pelo modelo APSIM-Sugar, para os tratamentos com palha e sem palha,

considerando os primeiros 60 cm do solo, com os valores do ponto de murcha permanente (PMP), capacidade de

campo (CC) e saturação (SAT) para profundidade.

A partir dos 40 cm de solo, a variação temporal da umidade do solo foi menor em comparação às camadas

superiores. Com relação aos tratamentos, as maiores variações devem ocorrer nos primeiros 30 cm de profundidade

θ =

θ

=

θ =

θ =

θ

=

θ =

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e, principalmente, no período inicial de desenvolvimento da cultura, pois, após o fechamento do dossel, a quantidade

de água extraída do solo, em ambos os tratamentos, ocorreu predominantemente por transpiração da cultura (mm dia-

1). Portanto, a quantidade de palha sobre o solo, não mais interferiu na variação de umidade volumétrica simulada e

observada.

Apesar dos indicadores estatísticos revelarem uma relação apenas razoável entre os valores simulados e

medidos de umidade volumétrica (Tabela 15), nota-se que o modelo é capaz de captar adequadamente os principais

processos que controlam a variação da água no solo, assim como reportado por (HANSON et al., 2004; ARBAT et

al., 2008). Nestes trabalhos, os autores observaram variação de 2 a 5% na umidade volumétrica do solo. Considerando

como variável de comparação a RMSE, é possível verificar que os resultados obtidos por aqueles autores coincidem

com os deste trabalho simulados pelo modelo APSIM. Porém, ao considerar apenas a variação de umidade volumétrica

do solo simulada e observada, no tratamento SP o modelo foi estatisticamente mais eficiente que para o tratamento

CP (Tabela 15).

Tabela 15. Índices estatísticos referentes os valores de umidade do solo, simulados e medidos em campo pelo método

da FDR, bias, raiz do erro médio quadrado (RMSE), eficiência da modelagem (EF), coeficiente de correlação (r), índice

de Willmott (d), para os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP).

Índices Estatísticos

Comparações Bias RMSE EF r d

Média (CP) -0,010 0,040 -0,900 0,510 0,660

Média (SP) -0,010 0,020 0,500 0,880 0,890

Segundo Arbat et al. (2008), a diferença encontrada entre os valores observados e simulados são da mesma

ordem de grandeza daqueles encontrados por Singh; Dam e Feddes (2006) e por Bastiaanssen e Feddes (2002), que

simularam a umidade do solo utilizando o modelo SWAP (KROES e DAM, 2003). Esta variação nos valores de RMSE,

na ordem de 2 a 5%, confirmaria a qualidade do ajuste, pois, os resultados simulados pelos modelos são semelhantes

à precisão das medições pelo método da FDR (ARBAT et al., 2008).

Várias abordagens têm sido utilizadas para avaliar a ''qualidade do ajuste'' das simulações em diferentes

modelos, tanto para dados horários, quanto diários ou até mesmo anuais. Tais avaliações são feitas comparando-se os

resultados de saída do modelo com os dados de campo. Vale ressaltar que os dados utilizados podem estar associados

à valores de umidade do solo em capacidade de campo (CC), assim como, às condições extremas, como o ponto de

murcha permanente (PMP) e saturação (SAT). A utilização de valores nestes níveis de umidade, propicia a avaliação

da capacidade do modelo em “enxergar” os dados medidos em condições extremas ou adversas (LOEHLE, 1997).

Segundo Hanson et al. (2004) um único modelo não é capaz de realizar simulações consistentes da variação

de umidade do solo, assim como para qualquer outra variável e, portanto, a utilização da abordagem de multimodelos,

como descrito por Asseng (2013) e confirmado por Marin et al. (2015), poderia melhorar significativamente os

resultados das simulações e, consequentemente, a comparação com os valores diários obtidos para os fluxos de água

no solo.

Hanson et al. (2004) também observou que a média de todos os modelos possui melhor ajuste, em relação

aos dados observados, comparados às repostas obtidas por apenas um modelo. No entanto, os autores também

afirmam que os modelos mecanísticos detalhados foram melhores que os generalistas e que, o melhor desempenho foi

obtido a partir daqueles que incluíram um balanço de energia completo. Nesse mesmo trabalho, as maiores divergências

foram relacionadas com a capacidade do modelo em simular e propagar as respostas aos déficits hídricos.

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Vale lembrar, também, que o período simulado, foi um dos mais quentes e secos da história e, portanto,

estas condições extremas podem ter interferido na qualidade das simulações. No entanto, outros pontos que podem

ter interferido tanto na qualidade das simulações, quanto nas diferenças observadas entre os tratamentos são: 1) O

sistema adotado pelo modelo APSIM para o cálculo da drenagem diária de água entre as camadas de solo, denominado

de “sistema em cascata”, o qual considera que apenas água acima da capacidade de campo passa de uma camada para

outra (KEATING et al., 1999; KEATING et al., 2003).

2) Outro ponto importante seria a absorção radicular, pois, o modelo APSIM considera que, para a cana-

soca, a quantidade de raiz diminuiria em 17% após a colheita, o que pode variar em condições de campo e,

consequentemente, interferir na eficiência da simulação. Neste mesmo contexto, o crescimento radicular no APSIM é

determinado pela proporção entre a biomassa acima do solo e o estresse hídrico do período (MARIN et al., 2015).

3) O último ponto seria o efeito da palha na entrada e saída de água no perfil de solo, pois, determinada

camada de matéria orgânica é capaz de interferir diretamente na velocidade de infiltração e na evaporação de água,

principalmente nos períodos iniciais de desenvolvimento, ou seja, até o fechamento completo da copa, a partir do qual

a transpiração passaria a controlar a saída de água do sistema.

A partir da calibração da água no solo foi possível dar início à calibração das variáveis relativas à espécie e

a variedade utilizada durante a modelagem. A seguir, são apresentados os valores simulados em relação aos obtidos em

campo, para as variáveis biométricas e fisiológicas da RB867515 (Figura 52).

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Figura 52. Resultados da simulação após a calibração da variedade RB867515 para o modelo APSIM-Sugarcane,

resultados referentes à evapotranspiração real e potencial, transpiração, massa seca total e parcial para colmos, folhas

e palmitos (somados) e altura da planta, para cada tratamento, ao longo de todo o ciclo da 1ª cana planta.

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Após a calibração de todas as variáveis observou-se que os valores simulados obtiveram o mesmo padrão

de incremento e decaimento dos valores observados em campo. Neste contexto, os resultados estatísticos mostraram

significância entre a maioria das variáveis, com destaque para a simulação da massa seca de colmos, biomassa seca

total, altura das plantas, que obtiveram avaliação significativa pelo índice de eficiência da modelagem (EF), variando

entre 0,64 para biomassa de colmos e 0,89 para simulação da biomassa total (Tabela 16).

Outra variável com boa avaliação segundo os índices utilizados foi a altura das plantas, considerando do

nível do solo até o meristema apical. A partir da calibração, os resultados estatísticos demostraram que o modelo

APSIM-Sugar foi capaz de descrever coerentemente o crescimento da cultura tanto em termos de acúmulo de

biomassa, quanto em altura, sendo os índices, respectivamente, EF = 0,89 e EF = 0,80.

Tabela 16. Índices estatísticos referentes às variáveis biométricas e fisiológicas, simuladas e medidas em campo pelo

método da FDR, Bias, raiz do erro médio quadrático (RMSE), eficiência da modelagem (EF) e o índice de concordância

Willmott (d). Avaliando a altura de plantas (ALTP), o índice de área foliar (IAF), a transpiração (Tp), evapotranspiração

(ETc) pelo método da razão de Bowen (ETc-Bowen) e simulada pelo APSIM, além da massa seca total (MST),

de colmos (MSC), de folhas (MSF) juntamente com a de palmitos (MSP).

Índices Estatísticos (Com Palha)

Bias RMSE EF d

MST 2,19 3,19 0,89 0,97

MSC 3,38 3,96 0,64 0,93

MSF + MSP 1,85 2,39 -1,45 0,46

IAF 1,67 1,85 -3,05 0,52

ALTP 18,48 35,29 0,80 0,96

Tp 0,54 0,72 0,42 0,87

ETc-APSIM x ETc-Bowen -1,10 2,08 -0,21 0,50

ETc-APSIM x ETP -0,20 1,10 0,66 0,90

Índices Estatísticos (Sem Palha)

Bias RMSE EF d

MST -0,78 2,65 0,92 0,98

MSC 0,30 1,08 0,97 0,99

MSF + MSP 0,16 1,55 0,15 0,72

IAF 0,51 0,99 -0,17 0,72

ALTP -28,47 30,64 0,85 0,96

Tp 0,36 0,60 0,59 0,90

ETc-APSIM x ETc-Bowen -1,10 2,08 -0,21 0,50

ETc-APSIM x ETP -0,20 1,10 0,66 0,90

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5.5. Simulação do efeito combinado de 5 diferentes quantidades de palha associadas à

5 níveis de reposição hídrica na produtividade da cana-de-açúcar.

A aplicação do modelo deu-se na simulação da produtividade da cana-de-açúcar para diferentes condições

edafoclimáticas brasileiras e sob diferentes quantidades de palha e de reposição hídrica. Neste contexto, foram obtidos

resultados distintos para cada local estudado, com relação à interferência da palha na necessidade hídrica dos canaviais

simulados e em relação à produtividade de colmos de cada região, ao longo de 30 anos de cultivo contínuo de cana-

de-açúcar. Os resultados foram divididos em grupos de dois locais para cada figura, separados por letras maiúsculas.

O principal ponto a ser observado seria o incremento da produtividade em relação ao nível mínimo de

reposição hídrica (25% I), no qual, eram repostos apenas 25% do total de água necessário para retornar à umidade do

solo à capacidade de campo (CC). Na maioria das regiões foi possível observar incremento na produtividade anual da

cultura (t ha-1 ano-1), entre 20 e 40 t ha-1 ano-1, mesmo no tratamento com o menor nível de reposição, com exceção

de Londrina – PR (Figura 54D), Palmas – TO (Figura 55F) e Presidente Prudente – SP (Figura 57I) que apresentaram

a menor variação da produtividade.

Para Londrina, a pequena variação na produtividade simulada, em relação aos diferentes níveis de reposição

hídrica, deveu-se, principalmente, às características climáticas da região, que não proporcionaram níveis de estresse

hídrico acentuado e, portanto, o regime pluviométrico local foi capaz de suprir grande parte da necessidade hídrica da

cultura, não sendo observadas grandes diferenças entre o tratamento sequeiro e os tratamentos com algum nível de

reposição. No município de Palmas, o maior incremento produtivo ocorreu com nível de reposição de 50% do ideal

para cada evento de irrigação, mostrando que para regiões com alta demanda atmosférica, a reposição de apenas 25%

não seria suficiente para suprir as necessidades da cultura, sendo os maiores ganhos obtidos quando a reposição

simulada foi de 50%, em relação ao ideal para cada período.

Vale ressaltar que os maiores níveis de reposição hídrica, 75 e 100%, não apresentaram melhorias

significativas quanto a produtividade do canavial. Neste contexto, alguns pontos podem ser destacados, dentre os quais

estão a necessidade da cana-de-açúcar de ser submetida a níveis controlados de estresse, em determinados períodos

vegetativos, proporcionando o aumento da produção de colmos e, posteriormente, acúmulo de sacarose, em

detrimento a produção de folhas e palmitos. Outro ponto seria a lixiviação de nutrientes, que também pode ser

simulado pelo modelo APSIM, nos momentos em que os níveis de água no solo superam a capacidade de campo. Este

processo pode proporcionar níveis de estresse nutricional nas plantas e, consequentemente, diminuir a produtividade

da cultura, mesmo em situações ótimas quanto às questões hídricas, como é o caso do tratamento com reposição de

100%. Por último, a inexistência de resposta pode estar relacionada, em alguns locais, ao estresse por falta de

oxigenação no solo, que também faz parte do modelo APSIM. Este processo é menos provável de acontecer, pois, nas

simulações, os solos não apresentavam problemas de drenagem, que poderia desencadear este tipo de estresse por falta

de oxigenação.

Quanto à variação na quantidade de palha sobre o solo, observou-se que em alguns locais, a quantidade de

palha contribuiu para variação na produtividade de colmos, como por exemplo, em Maceió -AL (Figura 55E), São

Simão – SP (Figura 58L) e em Uberaba – MG (Figura 59M), nos quais houve aporte constante na produtividade,

considerando o aumento na massa de palha sobre o solo. No entanto, para outros locais, como para Piracicaba – SP

(Figura 56H), a manutenção de 100% da palha, não implicou em incremento da produtividade do canavial ao longo de

30 anos, quando comparada a manutenção de 75% da palha, pois, nestes casos ocorre diminuição da entrada de energia

térmica no solo, prejudicando a germinação e o perfilhamento da cultura, como discutido anteriormente. Outro ponto

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a ser considerado é a estabilização da ciclagem do nitrogênio durante as simulações, pois, em situações com

manutenção de quantidades elevadas de palha pode demandar um tempo maior para reduzir a relação CN da palha,

proporcionando competição por N mineral do solo com a cana-de-açúcar.

Mesmo em situações nas quais o incremento da produtividade simulada não seja tão significativo, como

ocorre para o município de São Carlos – (SP) (Figura 58K) é necessário levar em consideração que a manutenção da

palha sobre o solo pode resultar em ganhos em termos de fertilidade do solo, mesmo que ainda não completamente

simulados pelo modelo. Neste contexto, é possível observar estreita relação entre a cobertura do solo e os sistemas

físico, químico e biológico, devendo-se, principalmente, à ciclagem de nutrientes que, por sua vez, é proporcionada

pela relação harmônica entre formação e decomposição da MOS. Portanto, este resíduo vegetal torna-se indispensável

para a manutenção do micro e mesofauna local (RESCK, 1996). Segundo Primavesi (1979), a bioestrutura e a

produtividade das culturas baseiam-se na presença de MOS em decomposição ou humificado. A ciclagem dos

nutrientes pode ser interrompida fisicamente com as operações de preparo do solo, ou então, alterada quimicamente

pela adição de corretivos e fertilizantes que aceleraram ou retardam os processos de formação, decomposição e,

consequentemente, na ciclagem da MOS (RESCK, 1996).

5.5.1. Incertezas e limitações do modelo

As principais fontes de incerteza durante as simulações são: (1) os dados de entrada; (2) parametrização e

(3) na estrutura do modelo. Os dados de entrada, principalmente os dados meteorológicos e os referentes aos solos da

região são considerados fontes constantes de incerteza nos MCPs, pois, como no caso dos dados de temperatura,

radiação e chuva, os mesmos devem ser descritos diariamente e, nem sempre os bancos de dados disponibilizam series

históricas completas, proporcionando incertezas, devido ao processo de preenchimento de falhas. No caso dos dados

de solo, os mesmos nem sempre são descritos para os locais simulados e, portanto, é necessário utilizar dados ou

características daqueles solos próximos, ou então, os mais presentes na região de interesse.

Com relação as simulações realizadas neste trabalho, os resultados obtidos podem ser úteis para a

determinação da quantidade de palha e reposição hídrica em diferentes regiões produtoras de cana-de-açúcar no Brasil.

No entanto, é recomendável certa cautela na aplicação destes resultados no campo, pois, como citado anteriormente,

sempre haverá incertezas nas simulações realizadas por este tipo de modelo.

Vale ressaltar que nem todos os parâmetros exigidos pelo modelo APSIM-Sugar foram avaliados em campo

e quando necessário foram utilizados dados coletados em literatura ou diante da inexistência de parâmetros

previamente calibrados para as variedades brasileiras de cana-de-açúcar, foi recomendado pelos desenvolvedores do

modelo APSIM, manter os valores originais do modelo, estabelecidos para as cultivares australianas, principalmente, a

Q117 e Q124, variedades que foram utilizadas como base para a primeira calibração da cultivar brasileira RB867515

(COSTA et al., 2014; MARIN et al., 2014).

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Figura 53. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de

palha sobre o solo, para os municípios de Brasilia - DF (A) e Catanduva - SP (B).

A

B

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Figura 54. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de

palha sobre o solo, para os municípios de Diamantino - MT (C) e Londrina - PR (D).

C

D

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Figura 55. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de

palha sobre o solo, para os municípios de Maceió - AL (E) e Palmas-TO (F).

E

F

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Figura 56. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de

palha sobre o solo, para os municípios de Paranaíba - MS (G) e Piracicaba - SP (H).

G

H

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Figura 57. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de

palha sobre o solo, para os municípios de Presidente Prudente - SP (I) e Rio Verde - GO (J).

I

J

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Figura 58. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de

palha sobre o solo, para os municípios de São Carlos - SP (K) e São Simão - SP (L).

K

L

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Figura 59. Relação entre a produtividade de colmos (t ha-1), níveis de reposição hídrica e diferentes quantidades de

palha sobre o solo, para os municípios de Uberaba – MG (M) e Votuporanga - SP (N).

M

N

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6. CONCLUSÕES

O experimento, os métodos e as simulações utilizadas nesta tese possibilitaram comparar dois sistemas de

manejo de palhada em canavial cultivado em Piracicaba com a variedade RB867515, alcançando-se as seguintes

conclusões:

1) Não houve diferença estatística entre os tratamentos com palha (CP) e sem palha (SP) para as variáveis

biométricas: perfilhamento (PERF); número de folhas verde (NFV); diâmetro de colmos (DIAM);

altura média de plantas (ALTP); massa fresca total (MFT); massa seca total (MST); massa fresca de

colmos (MFC); massa seca de colmos (MSC); massa fresca de folhas (MFF); massa fresca de palmitos

(MFP) e massa seca de palmitos (MSP). Apenas o índice de área foliar (IAF) e à massa seca de folhas

(MSF) mostraram diferença entre os tratamentos ao nível de 5% de probabilidade.

2) Em relação ao consumo hídrico do canavial, avaliado pelo MRB, verificou-se que a média da ETc, para

o tratamento CP, foi de 5,7 mm dia-1, enquanto no SP, a média foi de 5,9 mm dia-1. Para o método da

FDR, a ETc no tratamento CP obteve média de 4,3 mm dia-1 e no tratamento SP o valor médio do

período foi de 4.5 mm dia-1. No entanto, nos períodos de maior demanda hídrica atmosférica, houve

maior evapotranspiração no tratamento coberto com palha pelos dois métodos, em decorrência da

maior umidade do solo.

3) A transpiração média (Tp) do tratamento CP foi relativamente maior que a do SP, 3,6 mm dia -1 e

3,0 mm dia-1, respectivamente. A transpiração, considerando somente o tratamento CP, correspondeu

à 97% da ETc-MRB e 94% quando comparada a ETc-FDR. No entanto, para o tratamento SP os

resultados mostraram menor representatividade da Tp em relação a ETc, 58% da ETc-MRB e 83%

para a comparação com a ETc-FDR.

4) Os valores de Kc do canavial, avaliado por ambos os métodos, foi superior aos valores atualmente

recomendados pela FAO, mostrando tendência de queda conforme há incremento na

evapotranspiração de referência (ETo).

5) O modelo APSIM-Sugar simulou adequadamente o desenvolvimento e crescimento da variedade

RB867515 para as condições edafoclimáticas de Piracicaba-SP, cultivada sobre diferentes tipos de

manejo da palha, aliado a fertilização e irrigação para melhor descrição dos sistemas reais.

6) As simulações de desenvolvimento e crescimento da cana-de-açúcar para diferentes regiões brasileiras,

indicaram respostas entre 20 e 40 t ha-1 ano-1 para níveis de irrigação de 25% do ideal. Para a maioria

das regiões a manutenção de no mínimo 50% da palha sobre o solo aumentou a produtividade da cana-

de-açúcar no longo prazo.

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REFERÊNCIAS

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1111

ANEXO A.

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ANEXO B.

Tabela A. Valores totais e parciais sobre a capacidade de água disponível (CAD) em diferentes

profundidades e os respectivos valores de ponto de murcha permanente (PMP), capacidade de

campo (CC) e de saturação (SAT).

Profundidade PMP CC SAT CAD

(cm) (KPa)

(cm) 15000 330 0

0 - 5 0,21 0,28 0,40 0,35

5 - 15 0,25 0,30 0,36 0,54

15 - 30 0,24 0,32 0,38 1,23

30 - 60 0,32 0,40 0,43 2,30

60 - 100 0,26 0,40 0,45 5,48

Média (KPa) 0,25 0,34 0,40

Total CAD (cm) 9,90

Total CAD (mm) 99,0

OBS: Os valores foram determinados pelo Laboratório de Física do Solo do Centro de Energia Nuclear na Agricultura

(CENA) da Universidade de São Paulo, município de Piracicaba – SP.