universidade de sÃo paulo usp escola de engenharia de … · blanket cutting process.2018....

57
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO USP ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS RAUL GONÇALVES BRAZ NETO APLICAÇÃO DE CONCEITOS DE 5S E SEIS SIGMA EM UM PROCESSO DE CORTE DE MANTA POR PRENSA HIDRÁULICA. São Carlos SP/2019

Upload: others

Post on 15-Mar-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

RAUL GONÇALVES BRAZ NETO

APLICAÇÃO DE CONCEITOS DE 5S E SEIS SIGMA EM UM PROCESSO DE

CORTE DE MANTA POR PRENSA HIDRÁULICA.

São Carlos – SP/2019

RAUL GONÇALVES BRAZ NETO

APLICAÇÃO DE CONCEITOS DE 5S E SEIS SIGMA EM UM PROCESSO DE

CORTE DE MANTA POR PRENSA HIDRÁULICA.

Monografia apresentada ao curso de

Engenharia de Materiais e Manufatura, da

Escola de Engenharia de São Carlos, da

Universidade de São Paulo, como parte

dos requisitos para obtenção do título de

Engenheiro de Materiais e Manufatura.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Hideki

Tsunaki

São Carlos – SP/2019

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, acima de tudo, por estar sempre me abençoando e iluminando meu

caminho, e pela força para encarar meus desafios diários.

Agradeço aos meus pais, Alessandra e Edilson, e a toda minha família, por todo apoio

e incentivo, e por nunca medirem esforços para me ajudar a alcançar meus sonhos. Mais uma

vez, obrigado por estarem sempre presentes quando eu mais precisei.

Aos amigos conquistados na EESC/USP, que fizeram todos esses anos serem

possíveis. Em especial aos colegas: Bertoli, Enrico, Fazenda, Gaspar, Jão, Josias, Palma,

Rodolfo e Telosi. E aos amigos de longa data, pelo apoio. Obrigada por cada abraço, cada

palavra de carinho e cada momento juntos.

Agradeço a família GAPeria CAASO e aos amigos do Prédio 50 por todos os

momentos incríveis que passamos juntos.

Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Roberto Tsunaki, pelo suporte, dedicação e

atenção oferecidos durante o desenvolvimento deste projeto.

Agradeço a todos os professores do curso, pelos ensinamentos e por terem contribuído

para o meu crescimento acadêmico.

Agradeço à empresa 3M do Brasil, principalmente aos meus colegas de trabalho Hugo

Albertin, Patrícia Yonamine e ao meu gestor Eduardo Araújo, pela oportunidade de estágio,

pelos ensinamentos e pela experiência oferecida.

Agradeço a todos que de alguma forma fizeram parte desse trabalho e contribuíram

para que ele fosse possível. Muito obrigado.

AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINSDE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Prof. Dr. Sérgio Rodrigues Fontes daEESC/USP com os dados inseridos pelo(a) autor(a).

Gonçalves Braz Neto, Raul G239a APLICAÇÃO DE CONCEITOS DE 5S E SEIS SIGMA EM UM

PROCESSO DE CORTE DE MANTA POR PRENSA HIDRÁULICA / Raul Gonçalves Braz Neto; orientador Roberto HideakiTsunaki; coorientador Edson Cazarini. São Carlos, 2019.

Monografia (Graduação em Engenharia de Materiais e Manufatura) -- Escola de Engenharia de São Carlos daUniversidade de São Paulo, 2019.

1. Manta. 2. Fibra de Vidro. 3. COPQ. I. Título.

Eduardo Graziosi Silva - CRB - 8/8907

RESUMO

NETO, R. G. B. Aplicação de conceitos de 5S e Seis Sigma em um processo de corte

de manta por prensa hidráulica. 2019. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso)

– Departamento de Engenharia de Materiais, Escola de Engenharia de São Carlos,

Universidade de São Paulo, São Carlos, 2019.

No atual cenário competitivo, as organizações buscam por melhorias de produtividade e

redução de desperdícios para se manterem competitivas e garantirem sua sobrevivência

no mercado mundial. A manufatura enxuta tem se espalhada pelo mundo, o Seis Sigma

por exemplo, é um programa que permite uma empresa melhorar a qualidade de seus

processos. Porém apenas a aplicação de conceitos e ferramentas gera resultados a curto

prazo, para que haja ganhos a longo prazo é necessário mudar o pensamento e filosofia

da empresa, para isso pode-se utilizar das ferramentas do 5S. A motivação inicial deste

trabalho se deu após os índices de COPQ (Costs of poor quality) de um processo de corte

de manda por prensa hidráulica estarem se elevando cada vez mais. O principal objetivo

deste estudo é combater esse aumento através do uso de ferramentas do Seis Sigma como

a matriz FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) e dos conceitos do 5S (Seiri, Seiton,

Seiso, Seiketsu, Shitsuke). O primeiro passo da investigação foi estudar as variáveis do

processo, como por exemplo o tempo de execução das etapas, e o ambiente de trabalho.

Descobriu-se que uma falha de comunicação foi a causa raiz do problema, visto isso

montou-se uma matriz FMEA para estudar os modos de falha de uma forma mais

detalhada e sugerir futuras ações corretivas. Analisando o FMEA, percebeu-se que grande

parte dos problemas poderiam ser resolvidos utilizando os conceitos de 5S. Ao final, o

ambiente de trabalho foi limpo e remodelado, os equipamentos necessários no processo

foram adaptados e os valores de COPQ se apresentaram mais baixos do que antes.

Palavras-chave: Seis Sigma; 5s; FMEA; Processo; Desperdício.

ABSTRACT

NETO, R. G. B. Application of 5S and Six Sigma Concepts in a Hydraulic Press

Blanket Cutting Process.2018. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) –

Departamento de Engenharia de Materiais, Escola de Engenharia de São Carlos,

Universidade de São Paulo, São Carlos, 2019.

Nowadays in the competitive environment, organizations are looking for productivity

improvements and waste reduction to stay competitive and ensure their survival in the

global marketplace. Lean manufacturing has been spreading throughout the world for

example, Six Sigma is a program that enables a company to improve the quality of its

processes. But only the application of concepts and tools generates results in the short

period of time, so if a company wants to get are gains in the long period of time. it is

necessary to change the thinking and philosophy of the company, for that can be used of

the 5S tools. The initial motivation of this work came after the COPQ (Costs of Poor

Quality) indexes, of a hydraulic press cutting process, were increasing. The main

objective of this study is to deal with this increase through the use of Six Sigma tools such

as FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) and 5S concepts (Seiri, Seiton, Seiso,

Seiketsu, Shitsuke). The first step of the research was to study the process variables, such

as the execution time of the steps, and the work environment. It was found that a

communication failure was the root cause of the problem. A FMEA matrix was set up to

study failure modes in a more detailed way and to suggest future corrective actions.

Analyzing the FMEA, it was realized that most of the problems could be solved using the

concepts of 5S. In the end, the work environment was cleaned and refurbished, the

equipment needed in the process was adapted and COPQ values were lower than before.

Keywords: Six Sigma; 5s; FMEA; Industrial Process; Waste.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Exemplos de desempenhos na Escala Sigma (adaptado Werkema, 2004) ...........27

Figura 2 - Custos da má qualidade (adaptado Breyfogle, 2003) ...........................................29

Figura 3 - Elementos do FMEA (Carpinetti, 2010) ...............................................................30

Figura 4 - Conceito do 5S segundo Osada (Adaptado Randhawa e Ahuja, 2017) ................34

Figura 5 - Fluxograma do 5S em uma organização (Adaptado Randhawa e Hauja, 2017) ..40

Figura 6 - Custos da má qualidade do processo de corte por prensa hidráulica (Empresa) ..41

Figura 7 - Vista traseira da prensa hidráulica utilizada no processo (Empresa) ....................43

Figura 8 - Vista frontal da prensa hidráulica (Empresa) .......................................................44

Figura 9 - Exemplo de faca de corte utilizada no processo (Empresa) .................................44

Figura 10 - Jumbo de manta de fibra de vidro acoplado na máquina (Empresa) ..................45

Figura 11 - Manta de fibra de vidro pós corte (Empresa) .....................................................45

Figura 12 - Plataforma de apoio das peças finais (Empresa) ................................................46

Figura 13 - Gabarito de verificação dimensional (Empresa) .................................................46

Figura 14 - Layout do local de produção ...............................................................................49

Figura 15 – Sobras laterais durante o corte (Empresa) ..........................................................51

Figura 16 - Pallets de Sucata no local de produção (Empresa) .............................................53

Figura 17 - Sobra de manta na faca de 200mm (Empresa) ...................................................55

Figura 18 - Local para armazenamento de insumos (Empresa) ............................................57

Figura 19 - Armário para armazenar ferramentas (Empresa) ................................................58

Figura 20 - Novo armário de facas e gabaritos (Empresa) ....................................................58

Figura 21 - Armário de excedente (Empresa) .......................................................................59

Figura 22- Desenho do conjunto de facas 7 após mudança (Empresa) .................................59

Figura 23 - Local para resíduos demarcado (Empresa) .........................................................60

Figura 24 - Novo layout do local (Empresa) .........................................................................60

Figura 25 - Gráfico de COPQ após a realização do trabalho (Empresa) ...............................63

LISTA TABELAS

Tabela 1 - Planilha FMEA (Adaptado Stamatis, 2003) .........................................................32

Tabela 2 - Tabela mostrando os critérios de avaliação de Severidade, Ocorrência e Detecção

(Adaptado Palady, 1997) .......................................................................................................33

Tabela 3 - Significado dos 5S para a produção e administração (Adaptado Campos, 2014) 35

Tabela 4 - Fluxograma de processo (Empresa) .....................................................................47

Tabela 5 - Tempo para realizar cada ação do processo (Empresa) .......................................50

Tabela 6 - Relação entre facas e jumbos ...............................................................................50

Tabela 7 - Planilha FMEA do processo .................................................................................52

Tabela 8 - Relação entre conjuntos de facas e jumbos após padronização (Empresa) ..........61

Tabela 9 - Novo estudo de tempos de execução (Empresa) ..................................................61

Tabela 10 - Relação dos tempos antes e após as mudanças (Empresa) .................................62

LISTA DE ABREVIATURAS DE SIGLA

5S Seiri, Seiton, Seiso, Seiketsu, Shitsuke

CEO

Chief Executive Officer

COPQ Cost of poor quality

FMEA Failure Mode and Effect Analysis

GE

General Eletric

NPR Número prioridade de risco

P & L Profit and Loss

TQM Total Quality Management

LISTA SÍMBOLOS

σ Sigma

Q Quantidade jumbos

S Sobra de manta [mm]

L Largura do jumbo [mm]

l Largura da peça [mm]

T Tempo de trabalho diário [min]

𝑻𝒎 Tempo de trabalho mensal [min]

𝒕𝟏 Tempo para buscar insumos [min]

𝒕𝟐 Tempo para encaixar o jumbo na máquina [min]

𝒕𝟑 Tempo para passar a manta na prensa [min]

𝒕𝟒 Tempo de setup de facas [min]

𝒕𝟓 Tempo de converter 1 jumbo [min]

𝒕𝟔 Tempo para empacotar as peças produzidas de 1 jumbo [min]

𝒕𝟕 Tempo para trocar de jumbo [min]

Sumário

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................21

2. OBJETIVO ........................................................................................................................23

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..........................................................................................25

3.1 Seis Sigma ...................................................................................................................25

3.1.1 COPQ – Cost of Poor Quality (Custo da má qualidade) ......................................28

3.1.2 FMEA - Failure Mode and Effect Analysis (Análise dos modos de falha e seus

efeitos) ...........................................................................................................................30

3.2 5S .................................................................................................................................33

4. MOTIVAÇÃO ...................................................................................................................41

5. O PROCESSO ...................................................................................................................43

5.1 Prensa Hidráulica .........................................................................................................43

5.2 Faca de corte ................................................................................................................44

5.3 Manta de fibra de vidro ...............................................................................................45

5.4 Gabarito de verificação dimensional ...........................................................................46

5.5 Fluxograma do processo ..............................................................................................47

6. METODOLOGIA EXPERIMENTAL ..............................................................................49

7. RESULTADOS .................................................................................................................57

8. CONCLUSÕES .................................................................................................................65

9. REFERÊNCIAS ................................................................................................................67

10. ANEXO A .......................................................................................................................69

11. ANEXO B .......................................................................................................................70

12. ANEXO C .......................................................................................................................71

21

1. INTRODUÇÃO

Na atual complexidade do mercado global, instituições lutam a todo instante para

sobreviver à constante mudança nos meios de produção e consumo industrial. Nos

últimos tempos, os avanços tecnológicos geraram um progresso que alterou a dinâmica

do mercado, tendo empresas mais competitivas a cada dia, aptas a produzir cada vez mais

com menos recursos, elevando os limites de produtividade das instituições (PORTER,

1996). O Seis Sigma é uma estratégia que permite alcançar esses objetivos, pois propõe

foco simultâneo no aumento da lucratividade e na redução de defeitos (HARRY;

SCHROEDER, 2000).

Neste cenário, agilidade e respostas mais rápidas foram alguns dos pontos que

fizeram com que grande parte da indústria automobilística japonesa ficasse conhecida no

ocidente a partir da década de 70 com a difusão do conhecimento sobre o sistema de

produção enxuto japonês (SCHONBERGER, 2007).

A produção enxuta conquistou o mundo com suas ideias simples e eficazes.

Melhoria contínua e redução de desperdícios, são características desse sistema de gestão

que permite que a instituição entregue mais qualidade e com um tempo de resposta muito

inferior. No entanto, segundo Liker (2005), a produção enxuta vai além do que um

conjunto de ferramentas. Pelo contrário, a simples aplicação das ferramentas e técnicas

produz ganhos a curto-prazo, que não se estendem a longo do tempo. Então, para gerar

uma mudança real e contínua, a empresa deve mudar seu modo de pensar, criar e praticar

uma cultura de aprendizagem, em que todas os colaboradores busquem agregar valor ao

cliente e reduzir as fontes de desperdício através da produção enxuta (LIKER, 2005).

O programa Seis Sigma surgiu em 1987 e até o momento, empresas que o

utilizaram vem apresentando resultados significativos, como por exemplo, a ABB, gerou

um retorno de US$ 898 milhões/ano, redução 68% dos níveis de defeito e 30% redução

nos custos de produção em um período de dois anos; já a AlliedSignal, quando

implementou o programa em 1994 obteve ganho de 1,2 bilhões de dólares em quatro anos

(WERKEMA, 2004). A empresa nacional pioneira na aplicação do Seis Sigma foi o

Grupo Brasmotor (Multibras e Embraco) em 1999, que gerou um ganho financeiro de 20

milhões de reais com os primeiros projetos Seis Sigma realizados (WERKEMA, 2011).

23

2. OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo aplicar os métodos e ferramentas do programa

Seis Sigma em um processo de corte por prensa hidráulica para reduzir os desperdícios e

aplicar a metodologia 5S no local de trabalho a fim de obter um espaço mais organizado

e um processo mais produtivo e econômico.

25

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Seis Sigma

Em meados de 1980 alguns segmentos passaram por uma abertura de mercado,

em que houve um aumento na competitividade, e a fim de garantir bons lucros, surgiram

algumas iniciativas para um novo sistema da qualidade: Zero Defeito, na Ford Motors, e

TQM, na Boeing e Bell Telephone (RAISINGHANI, 2005). O Seis Sigma é uma marca

registrada da Motorola que se originou nos Estados Unidos em janeiro de 1987, o qual

surgiu com intuito de ganhar competividade em relação aos produtos eletrônicos

japoneses, os quais apresentavam maior qualidade e menor preço.

A Motorola, que encarava o mesmo desafio das empresas mencionadas acima,

percebeu que perdia mercado devido à baixa produtividade e ao custo da má qualidade.

Alguma ação deveria ser tomada para resolver seus problemas. Assim, o nível Seis Sigma

foi adotado como sendo seu novo padrão de qualidade, estruturou-se um programa para

alcançar esse objetivo e, por fim, registrado como marca comercial (RAISINGHANI,

2005). O Seis Sigma surgiu então, para reverter a situação da Motorola na década dos

anos oitenta. Segundo George (2002) a principal diferença do Seis Sigma é a cultura, esta

foi a primeira iniciativa que exigiu o engajamento dos gestores CEO e P&L, além de ter

sido a primeira iniciativa a definir ganhos financeiros específicos para a melhoria da

qualidade.

Em 1988, a Motorola recebeu o Prêmio Nacional da Qualidade Malcolm Baldrige,

o que proporcionou a disseminação do programa Seis Sigma em outras empresas, como

Asea Brown Boveri, Kodak, General Electric (GE) e Sony (WERKEMA, 2011). Apesar

da Motorola ter sido a criadora, segundo Pfeifer, Reissiger e Canales (2004) o sucesso do

Seis Sigma foi realmente conquistado quando o CEO da GE, Jack Welch, divulgou os

resultados financeiros alcançados com a implementação da metodologia. Com isso, mais

empresas passaram a ser motivadas a aplicarem o Seis Sigma, entre elas a Siemens,

Nokia, Caterpillar e Volvo. O estudo de Miguel (2010) sobre a prática do Seis Sigma no

Brasil alega que a maioria das empresas analisadas introduziram o programa a partir do

ano 2000, com um crescimento acentuado após esse ano. Provavelmente a explicação

para o crescimento nesta data é o resultado obtido pelo Grupo Brasmotor e General

Eletric.

26

A ferramenta Seis Sigma utilizada pelas empresas proporcionou uma melhoria na

qualidade de produtos e serviços, reduziu custos e gerou uma maior produtividade.

O programa Seis Sigma promove uma mudança na cultura da empresa, em que se

torna um ambiente apto à melhoria contínua (GALVANI, 2010). De acordo com Aguiar

(2002), o Seis Sigma pretende gerar várias mudanças na empresa, as principais delas são:

• O foco principal da empresa é direcionado ao atendimento das necessidades

dos clientes;

• Os projetos e metas visam um retorno financeiro, mesmo que muito baixo;

• Os problemas da empresa também são problemas de todos os seus funcionários;

• A solução de problemas deve ser padronizada para todos os setores da empresa;

• Fornecer treinamentos para implementação das técnicas e ferramentas do

programa.

De acordo com Mader (2008), Seis Sigma é um procedimento que busca melhoria

contínua na satisfação do consumidor e aumento na rentabilidade, em que engloba tanto

a redução de defeito como a melhoria de processos gerais de uma empresa. Segundo

Breyfogle (2003) o Seis Sigma não deve ser aplicado somente no departamento de

qualidade e sim em todas as áreas da empresa e em qualquer tipo de empresa. Já Werkema

(2004) estabelece Seis Sigma como “uma estratégia gerencial disciplinada e quantitativa,

que tem como objetivo aumentar drasticamente a lucratividade das empresas, por meio

de melhoria da qualidade de produtos e processos e do aumento da satisfação de clientes

e consumidores”. Além disso Werkema (2004) traz uma ideia mais apurada do programa

Seis Sigma:

• A escala: quantifica-se por um número na Escala Sigma, em que se mede o nível

da qualidade de um processo. Quanto maior o valor da Escala Sigma, maior o

nível de qualidade;

• O benchmark: forma de aferir o nível de qualidade de produtos, operações e

processos;

• A estatística: é utilizada para analisar o desempenho dos pontos críticos que

comprometem a qualidade, considerando às especificações;

• A filosofia: transmite a ideia da melhoria contínua dos processos, na redução de

variabilidade e também na busca por zero defeito;

• A estratégia: consiste em um levantamento entre projetos, fabricação, qualidade

final, entrega de um produto e a satisfação dos consumidores.

27

• A visão: tem por objetivo levar a empresa a ser a melhor em seu ramo.

O Seis Sigma apresenta diferentes interpretações. De acordo Eckes (2001), é um

procedimento formal e disciplinado que consiste em definir, medir, analisar, melhorar e

controlar um processo. Ainda assim a ideia fundamental da filosofia do Seis Sigma é a

busca constante pela redução da variação do processo e o foco em anular os defeitos e

falhas de todos os produtos e processos.

O termo Sigma (σ) é uma letra grega que representa o desvio padrão de uma

amostra, uma medida de variabilidade. A qualidade sigma define qual a probabilidade de

um defeito ocorrer em um processo (BREYFOGLE, 2003). Walter Shewhart em 1922,

apresentou o conceito de nível três sigma como uma maneira de avaliar a variabilidade,

afirmou que ações deveriam ser tomadas caso a variabilidade não atingisse este nível. O

limite três sigma foi considerado adequado para a maioria dos processos de manufatura

até o início dos anos oitenta (RAISINGHANI, 2005).

Na Figura 1, o nível sigma da qualidade se comporta de forma exponencial em

relação a quantidade de defeitos por milhão. Além disso, a Figura 1 mostra alguns

exemplos de serviços e suas posições em relação ao nível sigma. Nota-se que a maioria

dos serviços se encontra no nível Quatro Sigma, sendo que a melhor perspectiva

considerado é o nível Seis Sigma.

Figura 1 - Exemplos de desempenhos na Escala Sigma (adaptado Werkema, 2004)

28

3.1.1 COPQ – Cost of Poor Quality (Custo da má qualidade)

O Seis Sigma procura reduzir o custo da má qualidade. O custo da má qualidade

é o custo de processos que não acrescentam valor à qualidade final do produto ou serviço,

é o custo da produção de um produto que está fora das especificações e/ou não atende às

necessidades do cliente. Harrington (1999) afirma que a má qualidade custa para a

empresa, e a boa qualidade poupa dinheiro para a organização. A lista dos custos da má

qualidade pode ser dividida da seguinte forma de acordo com Harrington (1999):

-Custo da prevenção da má qualidade

Os custos de prevenção incluem ações tomadas para evitar má qualidade. A

maioria das empresas concentram-se na correção ao invés da prevenção. Exemplos de

custos de prevenção:

• Planos de controle de qualidade

• Estudos de capacidade

• Revisões de produtos

• Reuniões de melhoria de qualidade, projetos, eventos

• Análise de efeitos de modos de falha (FMEA)

-Custo da avaliação da má qualidade

Os custos de avaliação podem ser considerados como custos de inspeção e testes.

Eles se concentram nos custos necessários para garantir que o trabalho realizado até o

momento esteja de acordo com as normas de qualidade. Exemplos de custo de avaliação:

• Inspeção de origem

• Inspeção em processo ou teste final

• Auditoria Interna

• Calibração de equipamentos de medição e teste

-Custo de falhas internas da má qualidade

Os custos de falha interna ocorrem antes que o produto seja enviado ou o serviço

seja concluído para o cliente. Exemplos de falhas internas:

• Sucata e Retrabalho

• Falhas de processo, erros de entrada de dados, falta de informação

• Erro operacional

29

-Custo de falhas externas da má qualidade

Os custos de falha externa ocorrem a qualquer momento após o envio do produto

ou quando o serviço é concluído. É importante analisar as datas das falhas para encontrar

sua causa raiz. Exemplos externos incluem:

• Processar reclamações e devoluções de clientes

• Custos de garantia

• Vendas perdidas

A Figura 2, mostra os custos da má qualidade em formato de um iceberg, em que

a ponta superior representa os mais fáceis de serem notados. No entanto, a visão do Seis

Sigma vai além e considera aqueles custos que estão escondidos no iceberg. Uma empresa

pode não perceber os maiores problemas de procedimentos se focar somente nas questões

da ponta do iceberg (BREYFOGLE, 2003).

Figura 2 - Custos da má qualidade (adaptado Breyfogle, 2003)

30

3.1.2 FMEA - Failure Mode and Effect Analysis (Análise dos modos de falha e seus

efeitos)

De acordo com August (2002) o FMEA começou a ser utilizado pelo serviço

militar dos EUA devido à uma demanda por melhora da qualidade e segurança dos

equipamentos utilizados. Segundo Palady (1997) o FMEA é “um procedimento para

desenvolver e executar projetos, processos ou serviços” e “a rotina do projeto, processo

ou serviço”. O autor afirma que é uma das técnicas de baixo risco mais eficazes para

identificar a solução e prevenção de problemas, com baixo custo. Palady (1997) ainda diz

que o FMEA é um método organizado para avaliar o desenvolvimento de projetos e opera

como um diário no desenvolvimento e melhoria de produtos, processos e serviços.

De acordo com Stamatis (2003) o propósito do FMEA é identificar ações precisas,

que serão utilizadas na prevenção de falhas, evitando que estas cheguem aos clientes,

melhorando a confiabilidade, durabilidade e qualidade de um produto ou serviço. Para o

autor, o FMEA ideal é capaz de identificar modos de falha conhecidos e potenciais,

identificar as causas e efeitos dessas falhas, priorizar as falhas de acordo com o nível

crítico da mesma e resolvê-las de acordo com ações recomendadas. De acordo com Inoue

e Yamada (2010), o FMEA é capaz de identificar falhas reais antes que elas ocorram, e

auxilia na percepção coletiva das falhas potencial. É uma ferramenta capaz de eliminar

problemas ainda na fase de projeto de um produto ou serviço.

A figura 3 mostra um esquema de como os elementos do FMEA se relacionam.

Figura 3 - Elementos do FMEA (Carpinetti, 2010)

31

A tabela 1 mostra uma planilha FMEA em que os seguintes campos devem ser

preenchidos de acordo com Palady (1997) reforçado por Stamatis (2003):

Etapa do Processo: esse campo mostra a etapa do processo a ser analisada;

Modo de falha potencial: perante cada uma das etapas do processo, deve-se anotar todas

as ocorrências já obtidas em cada etapa, assim como também discutir todos os demais

potenciais modos de falha que ainda não ocorreram;

Efeito da falha: com base em cada modo de falha registrado no formulário, deve-se agora

inserir quais os efeitos gerados por meio destas falhas. Cada um destes efeitos deverá ser

pontuado no que se refere a Severidade desta ocorrência emergir. A tabela 2 mostra os

critérios de avaliação de severidade;

Causas da falha: também com base novamente em cada modo de falha registrado, este

campo é preenchido com as causas que provocam o surgimento de cada falha. Depois

disto, cada uma destas causas deverá também ser pontuada, agora no que se refere a sua

Ocorrência. A tabela 2 mostra os critérios de avaliação de ocorrência;

Controles atual do processo: cada causa que foi identificada na etapa anterior deverá

então ser analisada no que se refere ao seu nível de Detecção, ou seja, descobrir se existem

e quais são as medidas de controle já adotadas para eliminar ou ao menos conter cada

uma das causas anotadas. Depois disto, cada uma destas causas deverá também ser

pontuada, agora no que se refere a sua Detecção. A tabela 2 mostra os critérios de

avaliação de ocorrência;

NPR (Número prioridade de risco): a multiplicação das pontuações obtidas perante

Severidade, Ocorrência e Detecção irá gerar um resultado que informará a equipe quais

os principais problemas que devem ser tratados primeiro: quanto maior este risco

calculado, maior a necessidade de resolução imediata;

Ações Recomendadas: Por fim, neste campo são preenchidas as ações que deverão ser

realizadas para prevenir e/ou eliminar as falhas detectadas.

32

Tabela 1 - Planilha FMEA (Adaptado Stamatis, 2003)

Etapa do Processo

Modo de falha

potencial

Efeito da falha

Se

ve

ridad

e

Causa da falha

Oc

orrê

nc

ia

Controle atual do

processo D

ete

ão

NPR Ações

Recomendadas

33

Tabela 2 - Tabela mostrando os critérios de avaliação de Severidade, Ocorrência e Detecção

(Adaptado Palady, 1997)

Os anexos A, B e C mostram respectivamente os critérios de severidade,

ocorrência e detecção de uma forma mais detalhada e completa.

3.2 5S

O 5S, definido por Liker (2005) e Campos (2014) como um programa e por Patten

(2006) como uma filosofia, pode ser dito como um conjunto de boas práticas e padrões

que ajudam no gerenciamento do fluxo e ambiente de trabalho, auxiliando na melhoria

dos processos e redução de desperdícios. Esta ferramenta, desenvolvida inicialmente no

Japão em meados de 1960, é amplamente utilizada no mundo todo devido a sua potente

capacidade de contribuir para o crescimento sustentável das empresas, servindo de base

para outras ferramentas da qualidade e produção enxuta como o Kaizen (RANDHAWA;

AHUJA, 2017).

De acordo com Randhawa e Ahuja (2017), a filosofia 5S foi elaborada no Japão e

introduzida no final da década de 1960, enquanto que a estrutura para aplicação e

entendimento do 5S foi desenvolvida por Hiroyuki Hirano e Takashi Osada. De acordo

com os autores, alguns elementos do Budismo como limpeza, ordem e autodisciplina,

foram responsáveis pela divulgação do conceito filosófico do 5S na sociedade japonesa.

O termo 5S é a união das palavras japonesas Seiri (Utilização), Seiton (Organização),

34

Seiso (Limpeza), Seiketsu (Padronização) e Shitsuke (Disciplina), em que cada uma

representa um pilar. A figura 4 representa o conceito do 5S segundo Osada:

Figura 4 - Conceito do 5S segundo Osada (Adaptado Randhawa e Ahuja, 2017)

A utilização da ferramenta 5S gera: maior segurança no ambiente de trabalho,

maior nível de serviço de entrega, custos reduzidos, maior disponibilidade e qualidade

alta.

Atualmente o 5S é visto como um elemento base para a aplicação de ferramentas

da qualidade, sendo utilizado para mudar o modo de pensar das pessoas, transmitindo um

senso de organização e redução de desperdícios (CAMPOS, 2014). Além disso, hoje é

comum que os programas 5S do ocidente tenham um S a mais, referente à inclusão da

segurança como um pilar da ferramenta, apesar da grande importância que o programa

5S tradicional dá para as questões relacionadas com segurança no trabalho

(RANDHAWA; AHUJA, 2017).

35

Segundo Campos (2014), diferentemente do housekeeping, em que apenas os

conceitos dos três primeiros S´s são abordados, o programa 5S traz mudanças sustentáveis

no longo prazo devido ao fato de mudar o comportamento pessoal de forma efetiva,

gerando ganhos reais de produtividade. Ainda, o programa pode ser implementado em

organizações que oferecem produtos ou serviços, havendo a possibilidade de ser aplicado

em locais de atividades administrativas, como por exemplo escritórios. A tabela 3 mostra

o significado de cada pilar para os ambientes de fábrica e administração:

Tabela 3 - Significado dos 5S para a produção e administração (Adaptado Campos, 2014)

A seguir, os cinco pilares do 5S serão descritos e detalhados:

36

1. SEIRI (Separar)

O primeiro passo para a implementar o programa 5S, é diferenciar o que é

essencial e o que não é. Segundo Patten (2006), para que isso seja possível, deve-se reunir

a equipe do local de trabalho em que o programa está sendo implementado e levantar

questões como:

• O que é utilizado?

• Para que é utilizado?

• Quem utiliza? Como é utilizado?

• Com qual frequência?

O autor afirma que este exercício de discussão e envolvimento da equipe é crucial

para desenvolver melhorias no ambiente de trabalho e procedimentos. Como resultado,

obtêm-se uma lista de materiais, ferramentas, equipamentos classificados de acordo com

sua relevância e frequência de utilização, na qual pode-se descartar ou restituir aquilo que

não for considerado essencial para o ambiente analisado.

Ao fim do primeiro passo, espera-se um local de trabalho mais espaçoso, arejado

e seguro, e uma redução no tempo de realização das tarefas, pois os equipamentos serão

encontrados em muito menos tempo. Entre os benefícios provenientes da utilização do

primeiro senso tem-se um ambiente de trabalho mais confortável e seguro, com um

melhor controle dos estoques e processos (SOROOSHIAN et al., 2012).

2. SEITON (Organizar)

O segundo senso do 5S está relacionado a otimização e o posicionamento de cada

elemento de acordo com sua função. A principal ideia aqui é melhorar a organização dos

recursos disponíveis em seus locais de uso, ou seja, posicionar o material o mais próximo

possível do local onde ele vai ser utilizado, fazendo com que o fluxo do trabalho se torne

mais eficaz, podendo até envolver mudanças de layout (PATTEN, 2006).

Cada elemento no ambiente de trabalho deve ficar em seu local demarcado e ter

identificação, ao mesmo tempo que, a definição dos locais deve ser realizada através da

lista de priorização gerada na primeira etapa do programa 5S, no qual os elementos com

maior frequência de utilização devem ser posicionados em locais de fácil acesso.

37

Para melhorar a gestão visual do local de trabalho, é recomendado utilizar a

demarcação por faixas coloridas no chão, mesas e bancadas. Cada tipo de elemento de

trabalho pode ser representado por uma cor, por exemplo amarelo para insumos e azul

para resíduos.

Segundo Sorooshian et al. (2012), os ganhos gerados pela utilização deste pilar

são:

• Aumento na velocidade do trabalho;

• Diminuição na ocorrência de erros e falhas humana;

• Redução nos casos de perda de equipamento e ferramentas;

• Melhor entrosamento dos trabalhadores.

3. SEISO (Limpar)

Segundo Patten (2006) o maior desafio deste senso é identificar e eliminar as

fontes de desperdício, sujeira e deterioração. Muito além de limpar o ambiente, o objetivo

é encontrar e solucionar as causas raízes para que o ambiente se mantenha limpo. Para

que isto se concretize, deve-se limpar e consertar tudo que faz parte do local de trabalho

e acompanhar as ocorrências de desperdício e geração de sujeira para que um plano de

ação seja realizado a fim de eliminar suas causas raízes.

Vale ressaltar a importância de campanhas para a manutenção das condições

básicas de funcionamento das máquinas e equipamentos como base para a implantação

deste terceiro pilar. A manutenção autônoma e o programa TPM podem ser poderosas

armas para a redução das fontes de desperdício e sujeira. Por exemplo, se uma máquina

apresenta grandes vazamentos de óleo, o operador será obrigado a limpar este óleo todos

os dias para que seu ambiente de trabalho fique limpo, o que não gera ganhos sustentáveis.

Mas, se os vazamentos forem consertados, uma vez que o chão esteja limpo, não haverá

mais contaminação por óleo.

Para Hirano (1995), o ambiente de trabalho limpo facilita aos operadores

enxergarem defeitos e falhas ou até evitar possíveis fraturas. Máquinas muito poluídas e

cheias de material que dificultam a visualização dos processos não permitem que os

problemas sejam detectados, dificultando a tarefa de solução e mitigação de problemas.

Redução nas pausas por quebras, aumento da qualidade dos produtos e processos

e ambiente mais arejado e confortável são ganhos obtidos pela implementação do terceiro

pilar (SOROOSHIAN et al., 2012).

38

4. SEIKETSU (Padronizar)

O quarto pilar, a padronização, consiste em estabelecer novos padrões

desenvolvidos até então, pela implantação dos três primeiros pilares de forma a

maximizar os padrões visuais, tornando-os intuitivos. Este senso tem como principal

objetivo preparar uma organização na qual as tarefas relacionadas ao 5S sejam realizadas

de forma natural e rotineira, garantindo assim a sustentabilidade das melhorias

conquistadas até este ponto (REBELLO, 2005).

Segundo Patten (2006), o grande desafio desta etapa é tornar o acompanhamento

dos padrões criados até então o mais visual possível, de forma a evitar o uso de padrões

por escrito e checklists. O autor afirma que a equipe que atua no local de trabalho em

questão deve realizar uma discussão sobre os novos padrões para manter a organização,

limpeza e funcionalidade do ambiente. A ferramenta “5M” ou “diagrama de Ishikawa”

pode ser utilizada neste processo do seguinte modo de acordo com Patten (2006):

• Mão de obra: o que deveria mudar em relação ao modo em que as pessoas são

contratadas, treinadas e recompensadas?

• Método: o que deveria mudar em relação à quando e como o trabalho é feito?

• Material: o que deveria mudar em relação às especificações, quantidades, locais

de armazenamento e entrega de materiais e informações usadas no ambiente de

trabalho?

• Máquina: o que deveria mudar em relação ao design, instalação, layout, setup e

operação de maquinário e equipamentos?

• Medição: o que deveria mudar em relação à fonte, natureza e escopo da

informação coletada e reportada sobre o ambiente de trabalho?

De acordo o autor, uma empresa consegue um patamar elevado de padronização

apenas quando seus funcionários aprendam a trabalhar de acordo com um padrão em

comum, isto é, a padronização é um processo que deve abranger todas as partes

interessadas e ser desenvolvida de forma conjunta.

De acordo com Sorooshian et al. (2012), as melhorias da utilização deste senso

são:

• Redução no custo de manutenção;

• Aumento da eficiência do processo;

39

• Funcionários mais disciplinados e mais habilidosos;

• Melhoria visual da organização.

5. SHITSUKE (Disciplinar)

O quinto e último pilar, a disciplina, procura manter todos os outros pilares através

da autodisciplina individual, criando um caráter antecipador em relação ao cumprimento

das atividades e um comportamento a favor da manutenção do programa 5S

(RANDHAWA; AHUJA, 2017). A principal finalidade deste senso é assegurar que todos

exerçam a autodisciplina para cumprir os padrões criados no pilar Seiketsu, com o intuito

que cada pessoa contribua individualmente e coletivamente para a organização e limpeza

do ambiente de trabalho.

Além de tudo, é dever deste pilar o comprometimento com a qualidade total, em

que todos devem seguir rigorosamente os procedimentos e padrões, e a total

responsabilidade pelo local de trabalho e grau de serviço executado recai sobre cada

funcionário envolvido na atividade, independentemente do nível hierárquico (REBELLO,

2005). A prática de auditorias e retornos periódicos com a participação da gerência pode

auxiliar no engajamento das pessoas para a participação no programa (RANDHAWA;

AHUJA, 2017).

De outro modo, Patten (2006) afirma que este senso vai além de auditorias de

limpeza e organização, o grande desafio deste pilar é assegurar que cada contribuinte vai

cumprir sua parte mesmo que seja complexo. O autor afirma também, que a organização

é responsável por oferecer todo suporte necessário para que as equipes de cada local de

trabalho sintam-se favoráveis à mudança, onde as pessoas tenham o apoio, tempo e

reconhecimento para desenvolver a autodisciplina necessária para a manutenção do

programa 5S.

Segundo Sorooshian et al. (2012), a utilização deste pilar é capaz de trazer

melhorias como:

• Trabalhadores mais engajados e criativos;

• Desenvolvimento das habilidades dos trabalhadores;

• Mais lealdade em relação à organização por parte dos funcionários;

• Trabalho em equipe mais eficaz e organizado.

40

A figura 5 representa o fluxograma do funcionamento do 5S em uma organização de

acordo com Randhawa e Hauja (2017):

Para concluir, o 5S é um programa formado pela união de boas práticas com a

finalidade de trazer mudanças na cultura e no comportamento das pessoas, ocasionando

em um ambiente de economia, limpeza, organização, higiene e disciplina (CAMPOS,

2013). Esta ferramenta é de responsabilidade de todos os funcionários da organização,

independentemente do nível hierárquico ou departamento, em que eles devem ter apoio

da alta gerência para que haja uma mudança profunda e sustentável na cultura da

organização (CAMPOS, 2014; PATTEN, 2006).

Figura 5 - Fluxograma do 5S em uma organização (Adaptado Randhawa e Hauja, 2017)

41

4. MOTIVAÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso foi realizado em convênio com empresa 3M

do Brasil ltda, na qual tive a oportunidade de estagiar e realizar diversos projetos para o

meu crescimento profissional.

Em meados de fevereiro de 2018 durante uma reunião em que estavam presentes

eu, o gerente de manufatura, dois engenheiros de produção e alguns operadores, foi

verificado que o custo da má qualidade de um processo estava muito elevado em relação

ao ideal, de acordo com sua especificação, mostrado na figura 6. O processo analisado

em questão é um corte de manta por prensa hidráulica.

Figura 6 - Custos da má qualidade do processo de corte por prensa hidráulica (Empresa)

Analisando a figura 6 pode-se perceber que a partir de dezembro de 2017 a

porcentagem do custo da má qualidade começou a se elevar em relação ao valor ideal de

5%. Com isso, deu-se início à um trabalho de investigação para encontrar as causas raízes

do problema.

43

5. O PROCESSO

O processo analisado neste trabalho de conclusão de curso consiste em um

processo de corte de manta de fibra de vidro utilizando uma prensa hidráulica. A seguir

um breve resumo dos materiais e ferramentas utilizados no processo.

5.1 Prensa Hidráulica

A prensa hidráulica utilizada neste processo é responsável pelo corte da manta de

fibra de vidro e opera com uma força de 100 toneladas. A figura 7 mostra a parte traseira

da máquina em que é possível observar o canal de alimentação através de uma esteira,

pode-se observar também um cilindro em que os jumbos de matéria prima serão

acoplados.

Figura 7 - Vista traseira da prensa hidráulica utilizada no processo (Empresa)

A figura 8 mostra a vista frontal da máquina em que se pode observar o canal de

saída de matéria prima, já manufaturada.

44

Figura 8 - Vista frontal da prensa hidráulica (Empresa)

5.2 Faca de corte

A faca de corte é uma estrutura metálica acoplada em uma placa de madeira que

é encaixada na prensa, ela é utilizada para cortar a manta de fibra de vidro. As facas são

fixas e produzidas de acordo com o tamanho da peça final. A figura 9 mostra um exemplo

de faca de corte.

Figura 9 - Exemplo de faca de corte utilizada no processo (Empresa)

45

5.3 Manta de fibra de vidro

A matéria prima principal utilizada no processo é uma manta de fibra de vidro que

apresenta textura similar à um “colchonete”. Essa manta é armazenada em formato de

jumbo mostrado na figura 10.

Figura 10 - Jumbo de manta de fibra de vidro acoplado na máquina (Empresa)

A figura 11 mostra o formato das peças obtidos ao final do processo de corte.

Durante o funcionamento dos escapamentos veiculares há diversos gradientes de

temperatura, gerando expansões e contrações em seus catalisadores podendo ocorrer a

fratura do mesmo. Essas peças quando envolvidos nos catalisadores, absorvem as

dilatações protegendo-o de trincas e até mesmo a fratura.

Figura 11 - Manta de fibra de vidro pós corte (Empresa)

46

A figura 12 mostra a etapa final do corte em que as peças produzidas ficam sobre

uma plataforma que desce conforme o passo da esteira.

Figura 12 - Plataforma de apoio das peças finais (Empresa)

5.4 Gabarito de verificação dimensional

O gabarito de verificação é uma peça de alumínio utilizada para conferir se a peça

final está com as dimensões corretas de acordo com sua especificação. Após a produção, o

operador posiciona o produto sobre o gabarito e faz a análise dimensional. Para cada conjunto

de facas há um gabarito específico. A figura 13 mostra um gabarito de verificação, indicado

pelas setas vermelhas tem-se o contorno com a dimensão da peça produzida.

Figura 13 - Gabarito de verificação dimensional (Empresa)

47

5.5 Fluxograma do processo

A tabela 4 mostra o fluxograma completo do processo, desde a chegada da matéria

prima até a saída do produto final da empresa.

Tabela 4 - Fluxograma de processo (Empresa)

Nº Etapa processo Diagrama

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

Passagem da manta na prensa

Encaixe da faca na prensa

Inspeção de segurança

Empacotar e identificar caixa

Transportar material empacotado para o centro de distribuição

Expedir

Fim

Transportar o material para a área de estocagem

Armazenar material

Transportar material para a operação de conversão

Converter jumbo em peças

Desplacar peças do esqueleto

Inspecionar Peças

Descrição Atividade

Início

Recebimento dos jumbos

FLUXOGRAMA DE PROCESSO

Início/Fim OperaçãoOperação/Inspeção Conjugada

EstocagemInspeção Transporte

49

6. METODOLOGIA EXPERIMENTAL

Após tomar nota da existência do problema no processo, deu-se início à um

trabalho de investigação. O primeiro passo foi estudar e registrar as variáveis do processo

ao longo de duas semanas, acompanhando o operador em todas as etapas do processo.

Os jumbos são deixados na plataforma logo pela manhã e o operador através da

leitura da folha de processos, descobre a quantidade e tipos de peças que deverá produzir

ao longo do dia. Antes de iniciar o processo o operador se desloca até o armazém de

insumos com uma paleteira hidráulica e carrega-a com todos os insumos que serão

utilizados ao longo do dia. De volta ao local da produção o operador seleciona o conjunto

de facas que será utilizado e faz o seu encaixe na prensa. Para dar início ao corte, o

operador faz a passagem da manta pela prensa e inicia o processo. Por fim o operador

empacota as peças produzidas, e faz a troca de jumbo para iniciar uma nova produção.

Analisando o layout do local pode-se ver que o operador percorre uma distância

de 200m para chegar ao armazém de insumos. No ambiente de trabalho não há

demarcação no solo e as facas, gabaritos, insumos e ferramentas ficam dispersos pela

área. A figura 14 mostra um layout básico do local.

Figura 14 - Layout do local de produção

50

Foram realizadas diversas medições de tempo para cada ação, a tabela 5 mostra a

média dos valores registrados.

Tabela 5 - Tempo para realizar cada ação do processo (Empresa)

Variável Ação Tempo de Execução (min)

𝑡1 Buscar insumos 45

𝑡2 Encaixe do jumbo na máquina 10

𝑡3 Passagem da manta da prensa 5

𝑡4 Setup de facas 40

𝑡5 Converter 1 jumbo 60

𝑡6 Empacotar as peças produzidas de 1 jumbo 20

𝑡7 Troca de jumbo 10

De acordo com a especificação do processo, existem oito conjuntos de facas, cada

um com uma largura de peça diferente, porém de comprimentos iguais. Três larguras de

jumbo são utilizadas no processo, a tabela 6 mostra a relação entre as facas e os jumbos.

Tabela 6 - Relação entre facas e jumbos

Conjunto de

facas

Largura (l)

[mm]

Largura de jumbo (L)

utilizado [mm]

Quantidade de

peças por corte

1 50 1500 30

2 75 1200 16

3 100 1400 14

4 125 1500 12

5 150 1500 10

6 200 1400 7

7 250 1500 6

8 300 1500 5

Contudo, ao longo do estudo percebeu-se que todos os jumbos utilizados pelo

operador, independente da largura da faca, possuíam 𝐿 = 1500𝑚𝑚. Portanto os

conjuntos 2,3 e 6 que utilizavam jumbos de 𝐿 < 1500𝑚𝑚 estavam apresentando sobras

na lateral da manta durante o corte. Analisando o container de resíduos, pode-se observar

este fato, mostrado na figura 15.

51

Figura 15 – Sobras laterais durante o corte (Empresa)

Descobriu-se então que em dezembro de 2017 houve uma falha de comunicação

em que o departamento da logística padronizou o tamanho L dos jumbos da companhia

inteira para 1500mm, e não reportou para o departamento da manufatura. Então, os

operadores continuaram a produção utilizando os jumbos inadequados para determinados

conjuntos de faca. É por esse motivo que a porcentagem de COPQ, mostrado na figura 6,

estava se elevando gradativamente.

Identificada a causa raiz do problema o próximo passo é solucioná-la, para isso

deve-se observar cada etapa do processo detalhadamente e sugerir propostas de melhoria.

Para isso pode-se utilizar diversas ferramentas do Seis Sigma, neste trabalho utilizou-se

uma matriz FMEA de processo, identificada na tabela 7.

52

Tabela 7 - Planilha FMEA do processo

Etapa do Processo

Modo de falha

potencial

Efeito da falha

Se

ve

ridad

e

Causa da falha

Oc

orrê

nc

ia

Controle atual do

processo

De

tec

ção

NPR Ações

Recomendadas

1

Passagem da manta na

prensa

Manta desalinhada

Peças fora de

especificação 6

Erro operacional durante a passagem

2

Posicionar a manta

conforme o alinhador da

prensa

3 36 Verificar o

alinhador da prensa

2 Troca de jumbo

Sobra de manta na troca de jumbo

Perda de matéria prima

5

Cortes incorretos ao

longo do processo

3 Descarte de

matéria prima

2 30 Realizar todos os cortes com foco e

atenção

3

Encaixe da faca na prensa

Faca desalinhada

Peças mal cortadas

5

Erro operacional durante a

montagem

2 Inspeção

visual 3 30

Posicionar a faca conforme o alinhador da

prensa

4

Operador perde tempo procurando

as ferramentas

Atraso no processo

4

Ferramentas ficam

dispersas pelo local

5 Não há 7 140 Criar um armário com identificação

de ferramentas

5

Corte da manta

Manta quebrada

Peças perdem sua

utilidade 7

Facas de corte sujas e/ou mal afiadas

2 Afiação ou

limpeza momentânea

4 56

Verificar afiação e a higiene das

facas antes de iniciar o processo

de corte

6

Comprimento da peça fora

do especificado

Descarte de peças

durante a conversão

8 Passo da

esteira mal regulado

1 Manutenção

regular da máquina

4 32

Verificar o passo da máquina antes

de iniciar o processo de corte

7

Peças com dimensão

errada

Pausa na linha de

produção para

armazenar o produto errado

7 Conjunto de

faca incorreto

7 Troca do

conjunto de faca

2 98

Criar um local com identificação para armazenar os conjuntos de

facas

8

Sobra de manta

durante a conversão

Perda de matéria prima

5

Largura do conjunto de

facas não corresponde com a largura

da manta

9 Descarte de

matéria prima

4 180

Revisar as dimensões da manta e dos conjuntos de

facas

9 Empacotamento

das peças Embalagem

errada Produto

danificado 7

Não há um local para

armazenar as embalagens

corretamente

4 Descarte de

produto terminado

4 112

Criar um local para armazenar corretamente as

embalagens

53

Vale lembrar que o NPR, número de prioridade de risco, é calculado de acordo

com a equação abaixo. Ele indica os modos de falha de maior risco, que devem ser

tratados com maior prioridade. Os valores de severidade, ocorrência e detecção são

pontuados de acordo com os anexos A, B e C.

𝑁𝑃𝑅 = 𝑆𝐸𝑉𝐸𝑅𝐼𝐷𝐴𝐷𝐸 ∗ 𝑂𝐶𝑂𝑅𝑅Ê𝑁𝐶𝐼𝐴 ∗ 𝐷𝐸𝑇𝐸𝐶ÇÃ𝑂

Analisando a tabela pode-se perceber que as linhas com os menores NPR’s podem

ser resolvidas apenas com treinamentos para os operadores por exemplo a linha 3 em que

o operador deve encaixar corretamente a faca na prensa para que não haja

desalinhamento, ou a linha 6 em que o operador deve verificar o passo da prensa antes de

iniciar o processo.

As linhas que possuem NPR’s mais elevados necessitam ações mais específicas

para serem solucionadas. As linhas 4,7 e 9 por exemplo, exigem a criação de locais de

armazenamento e identificação, já a linha 8 necessita a revisão de todo o equipamento

utilizado no processo de corte. Para solucionar essas linhas, foram utilizados os conceitos

e pilares do 5S.

Começando pelo primeiro pilar, SEIRI, deve-se analisar tudo o que é utilizado e

retirar todos os componentes que não são utilizados. Durante o acompanhamento do

processo, percebeu-se que no local de produção haviam pallets armazenando sucatas,

mostrados na figura 16.

Figura 16 - Pallets de Sucata no local de produção (Empresa)

54

Como citado anteriormente, são utilizados apenas oito conjuntos de faca e seus

respectivos gabaritos. Na sala de produção haviam mais de vinte e cinco facas e dezenove

gabaritos, entre eles equipamentos inativos e/ou fora de especificação que deveriam ser

retirados do local. O mesmo raciocínio vale para as ferramentas, remover aquelas que não

estão mais em uso.

De acordo com o segundo pilar, SEITON, deve-se manter os itens necessários

separados, organizados e identificados para o uso imediato. As ações recomendadas das

linhas 4,7 e 9 condizem com a aplicação dos conceitos deste pilar. Viu-se necessário a

criação dos seguintes locais devidamente identificados:

• Armário de ferramentas

• Armário de facas e gabaritos

• Local para armazenar insumos

De acordo com o terceiro pilar, SEISO, é preciso manter o local de trabalho limpo

e organizado diariamente. Para isso, esvaziou-se o local de trabalho (com exceção da

prensa), realizou-se uma limpeza por completo e foram feitas diversas demarcações no

solo do local com diferentes cores, para facilitar o trabalho e melhorar o aspecto visual

do ambiente.

O quarto pilar, SEIKETSU, consiste em padronizar os três primeiros pilares para

que todas as suas atividades sejam realizadas de forma natural e rotineira. O primeiro

passo é instruir os operadores das ações que eles devem realizar diariamente, para isso os

seguintes treinamentos foram oferecidos:

• Alinhamento da prensa

• Manuseio da manta

• Afiação e limpeza dos conjuntos de facas

• Descarte de resíduos e matéria prima

• Limpeza do local de trabalho

Após a realização dos treinamentos, espalhou-se pelo local de trabalho diversas

instruções de trabalho contendo um passo a passo com todas as informações necessárias

caso surgissem eventuais dúvidas dos operadores.

55

Por fim, o quinto e último pilar SHITSUKE, procura manter os outros pilares

através da autodisciplina individual. Para isso, a empresa começou a realizar campanhas

de motivação de 5S mostrando os benefícios do programa em geral e, a realizar auditorias

internas para averiguar se todos estão cumprindo suas respectivas atividades.

A ação recomendada da linha 8 da tabela 7 diz a respeito da revisão dos conjuntos

de facas e dos jumbos de manta visto que a padronização do departamento da logística

prejudicou o departamento da manufatura. Viu-se necessário a confecção de novos

conjuntos de facas para as medidas 𝑙 = 75,100 e 200𝑚𝑚 pois esses utilizavam jumbos

inferiores à 𝐿 = 1500𝑚𝑚.

Para as medidas 𝑙 = 75 e 100𝑚𝑚 o problema é resolvido adicionando apenas

algumas cavidades extras nas facas pois ambos são múltiplos de 𝐿 = 1500𝑚𝑚. Para a

medida de 𝑙 = 200𝑚𝑚 não é possível adicionar mais cavidades pois há uma sobra de

𝑆 = 100𝑚𝑚, mostrada na figura 17.

Figura 17 - Sobra de manta na faca de 200mm (Empresa)

Analisando a figura 16, pode-se perceber que a sobra 𝑆 = 100𝑚𝑚 apresenta a

mesma largura do que uma peça 𝑙 = 100𝑚𝑚 portanto, surgiu a ideia de adicionar uma

cavidade de faca de 100𝑚𝑚 ao conjunto de 𝑙 = 200𝑚𝑚.

Com isso, ao longo da produção de peças de 𝑙 = 200𝑚𝑚, peças de 𝑙 = 100𝑚𝑚

também estarão sendo produzidas simultaneamente. Visto isso, viu-se necessário a

criação de um local para armazenar as peças de 𝑙 = 100𝑚𝑚 para que não houvesse

confusão entre os produtos de larguras diferentes.

57

7. RESULTADOS

A grande dificuldade na aplicação dos conceitos de 5S e seis Sigma foi o estado

precário do local de trabalho. Por se tratar de um processo muito antigo o local estava

muito sujo e com muitos itens como sucata e resíduos que foram se acumulando. Após a

limpeza geral, percebeu-se que havia espaço de sobra no ambiente.

O primeiro resultado foi a reserva de um espaço na área para armazenar insumos,

uma vez que o operador os buscava diariamente no armazém da companhia. Com criação

deste espaço, o operador abastece o armazém local apenas uma vez por semana. A figura

18 mostra o local com suas marcações no solo e devidamente identificado.

Figura 18 - Local para armazenamento de insumos (Empresa)

De acordo com a linha 4 da tabela 7, o operador estava perdendo muito tempo

procurando as ferramentas necessárias para realizar o encaixa do conjunto de facas na

prensa. Devido a este fato, montou-se um armário com identificação e localização fixa

das ferramentas, mostrado na figura 19.

58

Figura 19 - Armário para armazenar ferramentas (Empresa)

A linha 7 da tabela 7, diz que um modo de falha muito comum no processo era no

momento da seleção do conjunto de facas. O operador perdia muito tempo encontrando

o conjunto necessário e seu respectivo gabarito, pois eles ficavam dispersos pelo local de

trabalho, e muitas as vezes acabava selecionando o equipamento errado, atrasando o

processo e gerando produtos não desejados. Os conjuntos e gabaritos foram identificados

e confeccionou-se um armário, com suas respectivos numerações, mostrado na figura 20.

Figura 20 - Novo armário de facas e gabaritos (Empresa)

59

Mesmo com o armário de conjunto de facas corretamente identificado, erros

operacionais podem ocorrer por isso montou-se um armário para o excedente da produção

para que, quando o operador produzir peças a mais ou utilizar o conjunto de facas

incorreto, não haja descarte de produto final. A figura 21 mostra este armário de

excedente, com as caixas dos produtos devidamente identificadas.

Figura 21 - Armário de excedente (Empresa)

O armário da figura 21 serve também para armazenar as peças de 𝑙 = 100𝑚𝑚 que

são produzidas simultaneamente com as peças de 𝑙 = 200𝑚𝑚 após a mudança no

conjunto de facas. A figura 22 ilustra o conjunto de facas de número 6 após a mudança.

Figura 22- Desenho do conjunto de facas 7 após mudança (Empresa)

60

Foi separado um espaço apenas para resíduos. Com todas essas alterações no local

de trabalho, viu-se necessário uma demarcação de solo por completo, identificando todos

os elementos, melhorando o aspecto visual do ambiente. A figura 23 mostra um exemplo

disso.

Figura 23 - Local para resíduos demarcado (Empresa)

A figura 24 mostra o novo layout do local de trabalho após todas as mudanças

estruturais.

Figura 24 - Novo layout do local (Empresa)

61

A tabela 8 mostra a nova relação entre os conjuntos de facas e jumbos após a

padronização de 𝐿 = 1500𝑚𝑚.

Tabela 8 - Relação entre conjuntos de facas e jumbos após padronização (Empresa)

Conjunto de

facas

Largura (l)

[mm]

Largura de jumbo (L)

utilizado [mm]

Quantidade de

peças por corte

1 50 1500 30

2 75 1500 20

3 100 1500 15

4 125 1500 12

5 150 1500 10

6 200 1500 7 (200mm) + 1 (100mm)

7 250 1500 6

8 300 1500 5

Com as novas mudanças no local estruturado, um novo estudo para coleta de

dados, referentes aos tempos para realizar cada ação, foi feito. A tabela 9 mostra o

resultado deste estudo.

Tabela 9 - Novo estudo de tempos de execução (Empresa)

Variável Ação Tempo de

Execução (min)

Tempo de

execução (min)

após mudança

𝑡1 Buscar insumos 45 (diários) 45 (semanais)

𝑡2 Encaixe do jumbo na máquina 10 10

𝑡3 Passagem da manta da prensa 5 5

𝑡4 Setup de facas 40 30

𝑡5 Converter 1 jumbo 60 60

𝑡6 Empacotar as peças produzidas 20 18

𝑡7 Troca de jumbo 10 7

Analisando a tabela 9 pode-se perceber mudanças significativas nos tempos

registrados. Começando pelo setup de facas em que com a construção do armário de facas

e de ferramentas houve um ganhou de 10 minutos pois o operador não perde mais tempo

procurando os equipamentos necessários pelo local. O local reservado para insumos com

62

as suas devidas identificações gerou um ganho de 2 minutos pois o operador tem acesso

fácil e rápido aos itens. A limpeza e eliminação de sucata no local, gerou um ganho de 3

minutos na troca de jumbo pois o operador tem mais espaço para se locomover com o

maquinário necessário para a troca. Em relação ao abastecimento de insumos, o tempo de

execução se manteve, o que mudou foi a frequência em que o operador realiza a ação.

Os operadores devem cortar um total de 𝑄 = 3 jumbos por dia, tendo uma jornada

de trabalho de 6 dias por semana. O tempo total de trabalho diário T é calculado conforme

a equação abaixo:

𝑇 = 𝑡1 + 3 ∗ (𝑡2 + 𝑡3 + 𝑡4 + 𝑡5 + 𝑡6) + (2 ∗ 𝑡7)

Após as mudanças no local, o valor de 𝑡1 deve ser divido por 6 para calcular o

tempo total de trabalho diário T, pois agora o operador busca os insumos apenas uma vez

por semana ao invés de buscar diariamente.

𝑇 =𝑡1

6+ 3 ∗ (𝑡2 + 𝑡3 + 𝑡4 + 𝑡5 + 𝑡6) + (2 ∗ 𝑡7)

Considerando uma jornada de trabalho de 8 horas diárias e que operador trabalhe

aproximadamente 24 dias por mês, portanto o tempo total de trabalho mensal é calculado

por 𝑇𝑚 = 24 ∗ 𝑇. A tabela 10 mostra os valores de 𝑇 e 𝑇𝑚 obtidos utilizando as equações

citadas anteriormente.

Tabela 10 - Relação dos tempos antes e após as mudanças (Empresa)

Antes da

mudança

(min)

Após mudança

(min)

Antes da

mudança

(horas)

Após mudança

(horas)

𝑇 470 390,5 7,8 6,5

𝑇𝑚 11.280 9372 188 157

Analisando a tabela pode-se perceber que um trabalho que levava 188h, sofreu

uma redução de tempo de 17% levando apenas 157h. Isto é, o tempo necessário para

cortar 72 jumbos diminuiu em 31h.

Esse ganho representa quase 4 turnos de uma jornada de 8h de trabalho, com isso

a empresa pode adiantar sua produção mensal e no fim do mês designar o funcionário

para um outro serviço. Caso imprevistos venham a ocorrer, a empresa tem essas 31h para

entregar o prometido sem se comprometer ou ter que pagar horas extras para os

operadores. Esse tempo ganho pode ser utilizado também para realizar manutenções

63

preventivas no maquinário e no ferramental, além de ser utilizado para limpezas e

pequenos reparos no local.

O último resultado refere-se à porcentagem de COPQ do processo que

inicialmente estava se elevando muito como mostrado na figura 6. A figura 25 mostra os

novos valores da porcentagem de COPQ após a realização deste trabalho.

Analisando o gráfico pode-se perceber que antes da padronização dos jumbos em

novembro de 2017, a média da porcentagem de COPQ era de 7,9%. Após a confecção

deste trabalho, com a aplicação dos conceitos de 5S e Seis Sigma, reduziu-se esta

porcentagem para uma média de 5,9%. Essa diferença representa para a empresa uma

economia mensal de R$12.455,58. A redução na porcentagem de COPQ é reflexo do

programa 5S, pois seus pilares estão diretamente relacionados aos os itens citados na

figura 2. Um local de trabalho mais limpo ajuda a enxergar os desperdícios com maior

facilidade.

O trabalho teve início em fevereiro de 2018 e término em junho de 2018. Os

resultados não foram imediatos pois até encontrar a causa raiz do problema e aplicar os

conceitos de 5S e Seis Sigma levou-se muito tempo. A demora na adaptação dos

conjuntos de facas foi um agravante ao longo do processo também.

Figura 25 - Gráfico de COPQ após a realização do trabalho (Empresa)

65

8. CONCLUSÕES

O trabalho foi executado em uma linha de produção na empresa 3M do Brasil. O

projeto focou na redução de desperdício de materiais e na organização e limpeza do local

de trabalho.

Sabendo da existência de um problema no processo de corte por prensa hidráulica

a equipe responsável começou o trabalho de investigação. O departamento da logística

padronizou o tamanho dos jumbos e o departamento da manufatura não tinha os

equipamentos necessários para continuar o processo de maneira correta, com isso a

porcentagem de COPQ do processo estava se elevando.

Descoberta a causa raiz, o próximo passo foi solucionar o caso. Para isso utilizou-

se uma planilha FMEA, ela foi essencial durante o trabalho de investigação e no estímulo

de ideias para tratar as principais causas do problema. Através dela foi possível observar

cada etapa do processo detalhadamente, verificando os modos de falha que deveriam ser

tratados mais maior prioridade e as ações que deveriam ser tomadas.

Ao analisar a planilha percebeu-se que muitos dos modos falhas ocorriam por

conta da desorganização do local, por exemplo, durante a procura de ferramentas e dos

conjuntos de facas muito tempo era perdido até encontrar o equipamento necessário. Os

conceitos de 5S foram ideais para resolvê-los.

Os primeiros resultados foram em relação à parte visual e estrutural do ambiente.

Os itens como ferramentas, insumos, facas e gabaritos que antes ficavam dispersos pelo

local, passaram a ficar em locais fixos e devidamente identificados. Os conjuntos de facas

que estavam com 𝐿 < 1500𝑚𝑚 foram adaptados para atender as novas necessidades e

evitar as sobras laterais que apareciam durante o corte. Após as mudanças no espaço um

novo layout do local foi estruturado.

O corte de 72 jumbos que antes levava 188h para ser feito, passou a ser feito em

157h. Esse ganho de 31h permite à empresa utilizar esse tempo para realizar atividades

secundárias como manutenção preventiva ou designar o funcionário para um outro

serviço.

O objetivo principal do trabalho era fazer com que a porcentagem de COPQ que

estava 13% voltasse para o valor inicial de 7,9%, porém, após a aplicação dos conceitos

de 5S e seis Sigma, os valores de COPQ caíram para 5,9%. Esse ganho gera uma

economia mensal para a empresa de R$12.455,58.

66

67

9. REFERÊNCIAS

AGUIAR, S. Integração das ferramentas da qualidade ao PDCA e ao programa seis

sigma. Belo Horizonte: Editora de desenvolvimento gerencial, 2002.

AUGUST, J. Failure Mode and Effect Analysis. CQA, American Biltrite Inc., Tape

Products Division, Moorestown (USA), 2002.

BREYFOGLE III, Forrest W. Implementing six sigma: smarter solutions using

statistical methods. John Wiley & Sons, 2a Ed. New York, NY: John Wiley & Sons,

2003.

CAMPOS, V. F. Gerenciamento da Rotina do Trabalho do dia a dia. 9. ed. Nova

Lima: FALCONI Editora, 2013.

CAMPOS, V. F. TQC: Controle da Qualidade Total (no estilo japonês). 9°. ed. Nova

Lima: Editora FALCONI, 2014.

CARPINETTI, L. C. R. Gestão da Qualidade: Conceitos e Técnicas. 1ª edição, São

Paulo, Atlas. 2010.

ECKES, G. The Six Sigma Revolution: how General Electric and others turned

process into profits. New York: John Wiley & Sons, 2001.

GALVANI, L.R. Análise comparativa da aplicação do Programa Seis Sigma em

processos de Manufatura e Serviços, Dissertação EESC, 2010.

GEORGE, M. L. Lean Six Sigma: Combining Six Sigma Quality with Lean

Production Speed. 2002.

HARRINGTON, H. J. Performance Improvement: a total poor-quality cost system.

Volume 11. The TQM Magazine, 1999. p. 221 – 230. MCB University Press Ltda.

HARRY, M; SCHROEDER, R. Six Sigma: the breakthrough management strategy

Manufacturing. 2a Edição. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2000.

HIRANO, H. 5 Pillars of the Visual Workplace: The source book for 5S

implementation. New York: Productivity Press, 1995.

INOUE, H.; YAMADA, S. Failure mode and effects analysis in pharmaceutical research.

International Journal of Quality and Service Sciences. Tsukuba (Japan), v. 2, n. 3, p.

369-382, 2010.

LIKER, J. K. O Modelo Toyota: Os 14 Princípios de Gestão do Maior Fabricante do

Mundo. Porto Alegre: Bookman, 2005.

MADER, D. P. Lean six sigma´s evolution: integrated methods uses different

deployment models. Quality Progress, v.41, n.1, p. 40-48, 2008.

68

MIGUEL, P. A. C. Outcomes from a descriptive survey of Six Sigma management

practices in Brazil. International Jornal of Lean Six Sigma Volume 1, no 4. Emerald

Group Publishing Limited, 2010. p.358 - 377.

PALADY, P. FMEA: Análise dos Modos de Falhas e Efeitos: prevendo e prevenindo

problemas antes que ocorram. São Paulo: IMAM, 1997.

PATTEN, J. V. A second look at 5S. Quality Progress, v. 39, n. 10, p. 55-59, 2006.

PFEIFER, T.; REISSIGER, W., CANALES, C. (2004). Integrating six sigma with

quality management systems. Volume 16. The TQM Magazine, Emerald Group

Publishing Limited, 2004. p. 241 – 249.

PORTER, M. E. What is Strategy. Harvard Business Review, n. 6, p. 61-78, November-

December 1996.

RAISINGHANI, M. S. Six Sigma: concepts, tools, and applications. Industrial

Management & Data Systems, Volume105. Emerald Group Publishing Limited, 2005. p.

491– 505.

RANDHAWA, J. S.; AHUJA, I. S. Examining the role of 5S practices as a facilitator of

business excellence in manufacturing organizations. Measuring Business Excellence, v.

21, p. 191-206, 2017.

REBELLO, M. A. D. F. R. Implantação do programa 5S para a conquista de um ambiente

de qualidade na biblioteca do hospital universitário da universidade de São Paulo. Revista

Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v. 3, n. 1, p. 165-182,

2005.

SOROOSHIAN, S. et al. Experience of 5S Implementation. Journal of Applied Sciences

Research, v. 8, n. 7, p. 3855 - 3859, 2012.

STAMATIS, D. H. Failure Mode and Effect Analysis: FMEA from Theory to

Execution. Milwaukee, American Society for Quality, Quality Press. 2003.

SCHONBERGER, R. J. Japanese Production Management: An evolution - with mixed

success. Journal of Operational Management, v. 25, n. 2, p. 403-419, 2007.

WERKEMA, M.C.C. Criando a Cultura Seis Sigma. Volume 1. Nova Lima, MG:

Werkema Editora, 2004.

WERKEMA, M.C.C. Lean Seis Sigma: Introdução às Ferramentas do Lean

Manufacturing. 2a Edição. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2011.

69

10. ANEXO A

70

11. ANEXO B

71

12. ANEXO C