universidade de sÃo paulo instituto de quÍmica … · ao paulo, à débora e à fefa, agradeço...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE QUÍMICA Programa de Pós-Graduação em Ciências (Bioquímica) LAURA FARKUH ESTUDO E DESENVOLVIMENTO DE LIPOSSOMAS COM POTENCIAL PARA APLICAÇÃO EM BASE COSMÉTICA Versão corrigida da Dissertação conforme Resolução CoPGr 5890 O original se encontra disponível na Secretaria de Pós-Graduação do IQ-USP São Paulo Data do Depósito na SPG: 04/04/2016

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UNIVERSIDADE DE SO PAULO

INSTITUTO DE QUMICA

Programa de Ps-Graduao em Cincias (Bioqumica)

LAURA FARKUH

ESTUDO E DESENVOLVIMENTO DE LIPOSSOMAS COM

POTENCIAL PARA APLICAO EM BASE COSMTICA

Verso corrigida da Dissertao conforme Resoluo CoPGr 5890

O original se encontra disponvel na Secretaria de Ps-Graduao do IQ-USP

So Paulo

Data do Depsito na SPG:

04/04/2016

LAURA FARKUH

ESTUDO E DESENVOLVIMENTO DE LIPOSSOMAS COM

POTENCIAL PARA APLICAO EM BASE COSMTICA

Dissertao apresentada ao

Instituto de Qumica da

Universidade de So Paulo

para obteno do ttulo de

Mestre em Cincias

(Bioqumica)

Orientadora: Prof Dr Iolanda Midea Cuccovia

So Paulo

2016

Ficha Catalogrfica

Elaborada pela Diviso de Biblioteca e

Documentao do Conjunto das Qumicas da USP.

Farkuh, Laura

F229e Estudo e desenvolviment o d e l ipossomas com potencial para

aplicao em base cosmtica / Laura Farkuh. -- So Paulo, 2015.

88p.

Dissertao (mestrado) Instituto de Qumica da Universidade de

So Paulo. Departamento de Bioqumica.

Orientador : Cuccovia , Iolanda Midea

1 . Biomimetico I. T. II . Cuccovia, Iolanda Midea, orientador.

574.192 CDD

Aos meus grandes amigos Catarina e Filipe, que estiveram comigo todos os dias

ao longo dessa jornada. Amo vocs.

AGRADECIMENTOS

Profa Iolanda, muito obrigada por tudo! Por ter me recebido em seu laboratrio de

braos abertos, com pacincia e disposta a ensinar desde o primeiro dia em que cheguei. Io,

voc uma pessoa maravilhosa e me sinto muito honrada em ser sua aluna! Com certeza voc

a melhor orientadora que eu poderia ter escolhido.

Ao Prof. Hernan, obrigada pelos inmeros conselhos, abraos, incentivo e at mesmo

pelas palavras muitas vezes duras de serem escutadas, porm sinceras e cheias de cuidado.

Quero que guarde com voc minha eterna admirao pela pessoa que voc !

Aos meus pais Alinete e Rogrio, muito obrigada por sempre sustentarem meus sonhos

e fazerem o possvel para que eu possa alcana-los. Obrigada por sempre me dizerem que no

importam as escolhas que eu faa, vocs s querem que eu seja feliz... vocs me fazem muito

feliz apenas por existirem na minha vida!

Aos meus irmos Aline e Alberto, obrigada pelos timos momentos que passamos

juntos, muito bom saber que seremos amigos para a vida inteira. Obrigada tambm pelos

irmos que vocs me deram, meus cunhados Cleiton e Juliana, que s vieram para completar

nossa famlia. E no posso esquecer das minhas lindas sobrinhas, Jlia e Isabela, princesas do

meu corao.

Aos meus familiares agradeo pelo apoio, pela fora, pelo cuidado! Em especial

agradeo s minhas duas avs, Maria e Nely, por quem tenho enorme respeito e carinho.

Ao Renato, obrigada por ser meu melhor companheiro! Por estar comigo na minha

louca rotina, por me incluir na sua vida e por participar da minha. Nunca vou esquecer o quo

importante voc foi (e ainda tem sido) nessa fase, o quanto me deu foras para continuar

quando eu achei que no iria conseguir mais. Agradeo tambm aos seus pais, Lcia e Thales,

que sempre me recebem muito bem e que de alguma forma tambm contriburam durante a

escrita desse trabalho.

Catarina e ao Filipe gostaria de dizer que vocs so duas das pessoas mais

importantes em minha vida. No consigo pensar em nada para escrever aqui alm das coisas

que costumo dizer a vocs para expressar o que eu sinto. Todos os dias eu agradeo por ter

vocs como amigos. Vocs me do fora, inspirao e fazem meu corao transbordar de

bons sentimentos. Vocs estaro sempre vivos em meu corao, assim como todos os

momentos que partilhamos. Obrigada por sempre me aceitarem como sou.

Aos meus amigos Clauden, Bia, Mari, Pricles, Matheus, Monique e Roger agradeo

por sempre estarem presentes em minha vida de alguma forma, nunca me deixando esquecer

dos laos que criamos.

Aos meus amigos que considero famlia, Juju, Thiago e Renatinha, obrigada pela

convivncia, pelas risadas e choros, por todos os momentos que dividimos ao longo destes

ltimos anos. Vocs so muito especiais!

minha amiga Greice, muito obrigada, infinitamente obrigada. Nunca esquecerei que

voc me ensinou tudo quando cheguei ao laboratrio e que at hoje me ensina um milho de

coisas. muito bom sempre contar com voc! Espero que voc saiba que tambm pode contar

comigo. Quero ser sua amiga por todos os anos que ainda viro.

Marcela, agradeo por ter me dado suporte em diversos momentos ao longo do meu

mestrado, pela amizade e carinho, pelos conselhos e pela sinceridade sempre.

Aos meus amigos Lu, Ray e Joo, agradeo por estarem comigo no dia-a-dia, pelas

histrias divertidas que vocs me proporcionaram e at mesmo pelos momentos mais tensos e

srios em que dividimos as angstias. A amizade de vocs me d nimo e alegria ao longo dos

dias!

A todos os meus colegas de laboratrio quero agradecer pela convivncia e por toda a

compreenso e apoio com o meu trabalho. Obrigada por tornarem esse ambiente onde

passamos a maior parte de nossos dias nico e especial.

Mrcia, nossa tcnica de laboratrio, agradeo por toda a assistncia durante a minha

estadia no laboratrio e tambm pelas inmeras risadas, almoos e pela companhia dentro e

fora do nosso ambiente de trabalho.

Ao Gustavo Battesini, obrigada por me aguentar por muitos desses dias (no foi fcil,

eu sei), com todos os meus humores, me fazendo rir em todos os momentos. Obrigada pelo

empenho em me ajudar durante os experimentos, na escrita deste trabalho e pelas inmeras

dicas que voc me deu (desculpe, no pude usar as 5 pginas).

Profa Flvia, agradeo pelos abraos, pelo carinho, pelos conselhos, cuidados...e por

simplesmente estar na minha vida! Ter voc por perto torna os meus dias muito melhores!

Ao Paulo, Dbora e Fefa, agradeo pelo incentivo para a concluso deste trabalho e

pelo incentivo que me deram de diversas formas. Agradeo especialmente ao Paulo por ter

contribudo ativamente na idealizao e concretizao do meu projeto de mestrado.

Profa Salette Reis, obrigada por ter me recebido em seu laboratrio na Universidade

do Porto em Portugal e por ter contribudo com o meu trabalho. Cludia Nunes, que me

orientou, ajudou e partilhou comigo um pouco do muito o que sabe. Agradeo tambm

Profa. Marcela Segundo e Lusa Barreiros, que tanto se esforaram com a quantificao do

cido lurico.

Gostaria de agradecer a alguns professores que me inspiraram durante a minha estadia

no IQ e por quem tenho enorme admirao. So eles: Profa Cllia, Prof. Bayardo e Profa

Bianca. Tambm agradeo a Profa Shirley Schreier pela participao que teve durante o meu

trabalho e pela pessoa genial que !

Ao Prof. Cristiano Luis Pinto de Oliveira, do Instituto de Fsica da USP, agradeo pelo

auxlio para os experimentos de SAXS. Agradeo tambm ao Pedro Oseliero e a Brbara

Gerbelli, que muito contriburam me enviando materiais, discutindo resultados comigo e se

disponibilizando a me ajudar.

Ao Dr. Rodrigo Portugal e ao Dr. Alexandre Cassago do LNNano agradeo pelas

anlises de Crio-microscopia.

Ao CNPQ pela bolsa de mestrado concedida durante a realizao do meu trabalho no

IQ-USP.

RESUMO

Farkuh, L. Estudo e Desenvolvimento de Lipossomas com Potencial para Aplicao em

Base Cosmtica. 2016. 88 p. Dissertao- Programa de Ps-Graduao em Cincias

(Bioqumica). Instituto de Qumica, Universidade de So Paulo, So Paulo.

A acne vulgar uma das doenas cutneas mais comuns, apresentando como um de seus

fatores fisiopatolgicos primrios a colonizao pelo microrganismo Propionibacterium

acnes. Atualmente, tm-se buscado terapias alternativas para o combate ao P. acnes,

destacando-se alguns cidos graxos, como o cido larico (LA). O LA uma molcula pouco

solvel em gua, sendo possvel sua incorporao em lipossomas. Os lipossomas apresentam

capacidade de encapsulao/ liberao de ativos e impedem a desidratao da pele, tornando-

se ingredientes inovadores na rea de cosmticos. Foram preparados lipossomas de

dipalmitoilfosfatidilcolina (DPPC) contendo diferentes concentraes de LA, que variaram de

0 a 50% da concentrao total em mol, em quatro pHs: 9,0, 7,4, 5,0 e 3,0. Nestes pHs o estado

de protonao do LA muda variando de 0 a -1. Os lipossomas foram extrusados por filtros

com poros de 100 nm de dimetro visando obteno de vesculas unilamelares grandes

(LUV). As LUV foram caracterizadas quanto a sua estabilidade em condies de prateleira,

temperatura de transio de fase da bicamada, encapsulamento no interior aquoso, liberao

do LA, difuso das vesculas na pele e seus aspectos morfolgicos foram caracterizados por

espalhamento de raios-X a baixo ngulo (SAXS) e crio-microscopia eletrnica de

transmisso. Estudos de estabilidade mostraram que independentemente da concentrao de

LA, as formulaes so mais estveis em pHs mais altos, quando LA est em sua maioria na

forma de laurato. Os experimentos de DSC revelaram que em pHs 3,0 e 5,0 e concentraes

maiores de LA, a interao deste cido graxo com as bicamadas favorecida, havendo um

aumento da temperatura de transio de fase (Tm) e diminuio da cooperatividade. Anlises

de taxa de incorporao de sondas hidroflicas confirmaram a presena de um compartimento

aquoso interno para as vesculas de DPPC:LA. O LA conseguiu permear a pele no perodo

avaliado e pouco LA foi liberado das vesculas em condies de temperatura ambiente. A

morfologia das LUV se mostrou bem diferente da esperada e se observaram vesculas com

mais de uma bicamada e outros formatos que no o esfrico. Estes resultados podem auxiliar

na otimizao das condies para uma formulao que poder ser usada no tratamento da

acne, aumentando a eficcia do LA no stio alvo.

Palavras-chave: cido Lurico, Vesculas Unilamelares Grandes, Acne.

ABSTRACT

Farkuh, L. Study and Development of Liposomes with Potencial Cosmetic Application.

2016. 88 p. Master Thesis- Graduate Program in Biochemistry. Instituto de Qumica,

Universidade de So Paulo, So Paulo.

Acne vulgaris is one of the most common skin diseases, presenting as one of its causes the

microorganism Propionibacterium acnes colonization. Currently, it has been sought

alternatives therapies against P. acnes, especially some fatty acids, like the lauric acid (LA).

LA is a molecule with low water solubility, allowing its incorporation in liposomes.

Liposomes have encapsulation/release capacity of drugs and promote skin lipids regeneration,

becoming an innovative ingredient in cosmetics area. Dipalmitoylphosphatidylcholine

(DPPC) vesicles containing different LA concentrations were prepared at pHs: 9.0, 7.4, 5.0

and 3.0. At these pHs the LA protonation changes and its charge varies from 0 to -1. The

vesicles were extruded through filters containing pores of 100 nm to obtain large unilamellar

vesicles (LUV) that were characterized for stability in shelf conditions, bilayer phase

transition temperature, aqueous internal compartment encapsulation, LA release and in vitro

skin permeation. Its morphological features were characterized by small angle X-ray

scattering (SAXS) and cryo-electron transmission microscopy. Stability assays showed that,

regardless LA concentration, formulations were more long-term stable in higher pHs, when

LA is mostly in the form of laurate. The differential scanning calorimetry, DSC, experiments

showed that, at pHs 3.0 and 5.0 and higher LA concentrations, the interaction between the

bilayer and LA is favored, increasing phase transition temperature (Tm) and reducing

cooperativity. Incorporation of hydrophilic probes confirmed the presence of an internal

aqueous compartment in DPPC:LA vesicles. The LA managed to permeate the skin on the

period evaluated and, in ambient conditions, low LA concentration was released from the

vesicles. LUV containing more than one bilayer and non-spherical structures were observed.

The obtained results may help in the optimization of the conditions for a formulation that can

be used in the treatment of acne and improving the effectiveness of LA delivery to the target

site.

Keywords: Lauric acid, Large Unilamellar Vesicles, Acne.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Eventos desencadeados pela acne vulgar.................................................................. 14

Figura 2- Estgios de desenvolvimento da acne vulgar. .......................................................... 16

Figura 3- Propionibacterium acnes. ......................................................................................... 17

Figura 4- Imagem de microscopia de biofilme formado pelo microrganismo

Propionibacterium acnes. ......................................................................................................... 18

Figura 5- Perxido de Benzola. ............................................................................................... 20

Figura 6- Atividade do BPO comparado ao cido lurico (Nakatsuji et al., 2009). ................. 22

Figura 7- Representao de lipossoma e da bicamada lipdica. ............................................... 23

Figura 8- Diferentes tipos de estruturao das vesculas. ......................................................... 24

Figura 9-Agregados formados por molculas anfipticas de diferentes geometrias. ............... 25

Figura 10- Estruturas do (a) DPPC e do (b) cido lurico. ...................................................... 29

Figura 11- Esquema de preparo de vesculas pelo mtodo de hidratao do filme lipdico. ... 30

Figura 12- Extruso de MLV para se obter vesculas unilamelares grandes, LUV. ................ 30

Figura 13- Membrana na fase gel e depois na fase lquido-cristalina, acima da tem0peratura de

transio de fase........................................................................................................................ 32

Figura 14- Calormetro Diferencial de Varredura. ................................................................... 33

Figura 15- Equipamento Nanostar Bruker utilizado nas medidas de SAXS. ........................... 35

Figura 16- Modelo de deconvoluo de gaussianas. ................................................................ 36

Figura 17- Perfil de densidade eletrnica da bicamada, indicando em vermelho a espessura da

bicamada. .................................................................................................................................. 37

Figura 18- Exemplo de imagem 2-D para uma amostra vitrificada. ........................................ 38

Figura 19- Preparo das amostras para Crio-TEM pelo Dr. Alexandre Cassago no LNNano-

Campinas. ................................................................................................................................. 39

Figura 20- Estrutura da molcula de 5(6)-carboxifluorescena. ............................................... 40

Figura 21- Estrutura da molcula do Pireno Tetrasulfonato de Sdio. .................................... 41

Figura 22- Cromatografia de permeao em gel por excluso de tamanho. ............................ 41

Figura 23- Cromatograma obtido para o encapsulamento de sonda fluorescente. O primeiro e

menor pico corresponde s vesculas contendo fluorforo em seu interior e o pico maior, ao

fluorforo no encapsulado. No inserto mostrada a fluorescencia das amostras contendo as

LUV com CF. ........................................................................................................................... 42

Figura 24- Esquema mostrando o prncipio da tcnica de EPR com a transio entre os nveis

de energia do momento magntico de spin. ............................................................................. 43

Figura 25- Reduo da molcula de ascorbato. ........................................................................ 44

Figura 26- Reao entre o marcador de spin CAT1 e o ascorbato. .......................................... 44

Figura 27- Estrutura molecular do CAT1. ................................................................................ 45

Figura 28- Esquema do experimento de liberao do LA. ....................................................... 46

Figura 29- Dispositivo de dilise. ............................................................................................. 47

Figura 30- Sistema de difuso de Franz ................................................................................... 48

Figura 31- Variao nos valores de Dh e PdI em funo do tempo para LUV diferentes

concentraes de LA em tampo borato 10 mM, pH 9,0. ........................................................ 52

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Figura 32- Variao nos valores de Dh e PdI ao em funo do tempo para LUV com

diferentes concentraes de LA em tampo tris-HCl 10 mM pH 7,4. .................................... 53

Figura 33- Valores de Dh e PdI para LUV com diferentes %de LA em tampo acetato 10 mM,

pH 5,0. ...................................................................................................................................... 54

Figura 34- Efeito do tempo de incubao nos valores de Dh e PdI para LUV com diferentes

concentraes de LA em tampo acetato 10 mM pH 5,0. ........................................................ 55

Figura 35- Valores de Dh e PdI para LUV com diferentes % de LA em tampo formiato 10

mM, pH 3,0 ............................................................................................................................... 56

Figura 36- Efeito do tempo de incubao nos valores de Dh e PdI para LUV com diferentes

concentraes de LA em tampo formiato 10 mM, pH 3,0. .................................................... 56

Figura 37- Amostra de LUV com formao de precipitados em: a) Tampo acetato, 10 mM,

pH 5,0; b) Tampo formiato 10 mM, pH 3,0 . ......................................................................... 57

Figura 38- Termogramas das LUV de DPPC/LA nos tampes (a)borato 10mM pH 9,0, (b)

tris-HCl 10 mM pH 7,4, (c) acetato 10 mM pH 5,0 e (d) formiato 10 mM pH 3,0. ................ 58

Figura 39- Valores de Tm de LUV de DPPC:LA obtidos para cada concentrao de LA em

diferentes pHs. .......................................................................................................................... 59

Figura 40- Dados experimentais de SAXS (crculos abertos) e ajuste com o modelo (linha

cheia). Os ajustes so bastante satisfatrios em toda a regio de q considerada. As LUV de

DPPC:LA foram preparadas em tampo Tris-HCl, 10 mM, pH 7,4. A concentrao das LUV

era 10 mM. ................................................................................................................................ 61

Figura 41- A curva experimental de SAXS mostrando vesculas A) multilamelares e B)

unilamelares. ............................................................................................................................. 62

Figura 42- Perfil de contraste de densidade eletrnico da bicamada lipdica de LUV em pH

7,4 contendo diferentes razes DPPC:LA obtido a partir do ajuste dos dados experimentais de

SAXS. ....................................................................................................................................... 63

Figura 43- Comportamento da espessura da bicamada em funo da % de LA nas LUV em

vrios pHs; barras de erros com desvio padro esto representadas verticalmente. ................ 65

Figura 44- Comportamento da periodicidade lamelar em funo da % de LA das LUV; barras

de erros com desvio padro esto representadas verticalmente. .............................................. 66

Figura 45- Comportamento do Parmetro de Caill em funo da % LA de LUV de DPPC:LA

da amostra; barras de erros com desvio padro esto representadas verticalmente. ................ 67

Figura 46- Comportamento do nmero mdio de bicamadas correlatas, N, em funo %de LA

das LUV; barras de erros com desvio padro esto representadas verticalmente. ................... 68

Figura 47- Imagens de Crio-EM de LUV de DPPC em pH 7,4 (acima) e pH 5,0 (abaixo). .... 70

Figura 48- Imagens de Crio-EM de LUV de DPPC:LA 70:30 em pH 7,4 (acima) e pH 5,0

(abaixo). .................................................................................................................................... 71

Figura 49- Imagens de Crio-EM de LUV de DPPC:LA 50:50 em pH 7,4 (acima) e pH 5,0

(abaixo). .................................................................................................................................... 72

Figura 50- Comparao da porcentagem de encapsulamento de CF com o obtido usando

CAT1 em LUV de DPPC:LA, ambos em tampo Tris-HCl 50 mM, pH 7,4. .......................... 77

Figura 51- Comparao da porcentagem de encapsulamento de PTS com o obtido usando

CAT1 em LUV de DPPC:LA, ambos em tampo acetato 50 mM, pH 5,0. ............................. 77

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Figura 52- Concentrao de LA liberado com o tempo das LUV de (a) DPPC:LA 90:10; (b)

DPPC:LA 70:30 e (c) DPPC:LA 50:50 nos tampes acetato, 0.01 M pH 5,0 e tampo Tris-

HCl 0.01 M 7,4. A concentrao de LUV 0.5 mM................................................................ 79

Figura 53- Porcentagem de permeao de LA com o tempo de LUV de DPPC:LA em tampo

Tris-HCl 10 mM, pH 7,4. [LUV]= 0.5 mM. ............................................................................ 80

Figura 54- Porcentagem de permeao de LA com o tempo de LUV de DPPC:LA em tampo

acetato 10 mM, pH 5,0. [LUV]= 0.5 mM. ............................................................................... 81

file:///C:/Users/Laura/Downloads/Laura-%20Dissertao%20Laura_CORRIGIDA%20(2)%20(2).docx%23_Toc447450656file:///C:/Users/Laura/Downloads/Laura-%20Dissertao%20Laura_CORRIGIDA%20(2)%20(2).docx%23_Toc447450656file:///C:/Users/Laura/Downloads/Laura-%20Dissertao%20Laura_CORRIGIDA%20(2)%20(2).docx%23_Toc447450656

SUMRIO

1 INTRODUO ..... 14

1.1 ACNE VULGAR .... 14

1.1.2 Propionibacterium acnes .... 17

1.1.3 Terapias no tratamento da acne vulgar ....... 19

1.1.3.1 Retinides ... 19

1.1.3.2 Perxido de Benzola (BPO) ..... 19

1.1.3.3 Tratamento hormonal .. 20

1.1.3.4 Antibiticos .. 20

1.1.3.5 Outras estratgias no tratamento da acne ..... 21

1.2 CIDO LURICO .... 21

1.3 LIPOSSOMAS ... 23

1.4 LIPOSSOMAS E CIDOS GRAXOS ............... 25

2 OBJETIVOS ........ 28

3 MATERIAIS E MTODOS ..... 29

3.1 MATERIAIS . 29

3.2 PREPARO DOS LIPOSSOMAS .............. 29

3.3 ESTABILIDADE DAS VESCULAS COM CIDO LURICO .. 30

3.3.1 Medidas do Dimetro Hidrodinmico e do ndice de Polidispersidade .............. 32

3.4 CALORIMETRIA DIFERENCIAL DE VARREDURA ............................................. 32

3.4.1 Determinao da Tm e Cooperatividade por DSC ................................................ 34

3.5 ESPALHAMENTO DE RAIOS-X A BAIXO NGULO (SAXS) .............................. 34

3.5.1 Medidas de SAXS e Ajuste dos Dados Experimentais .......................................... 35

3.5.1.1 Ajuste das Curvas de Espalhamento........................................................................ 35

3.5.1.2 Fator de Estrutura ..................................................................................................... 36

3.5.1.3 Fator de Forma ......................................................................................................... 36

3.5.1.4 Espessura da Bicamada ............................................................................................ 37

3.6 CRIO-MICROSCOPIA ELETRNICA DE TRANSMISSO ................................... 37

3.6.1 Preparo das Amostras para Crio-TEM e Aquisio das Imagens ...................... 38

3.7 ENCAPSULAMENTO DE SONDAS NO COMPARTIMENTO AQUOSO

INTERNO DAS LUV ......................................................................................................... 39

3.7.1 Encapsulamento de Sondas Fluorescentes ............................................................. 39

3.7.1.1 Vesculas com CF/PTS e Medidas de Fluorescncia ............................................. 41

3.7.2 Encapsulamento de Marcador de Spin .................................................................. 43

3.7.2.1 Vesculas com CAT1 e Medidas de EPR ................................................................ 44

3.8 LIBERAO DO CIDO LURICO MEDIDA POR DILISE .............................. 46

3.9 DIFUSO DO CIDO LURICO POR CLULA DE FRANZ ................................ 47

3.10 QUANTIFICAO DOS FOSFOLIPDIOS ............................................................ 48

3.11 QUANTIFICAO DO CIDO LURICO ............................................................. 49

4 RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................................... 51

4.1 ESTABILIDADE DAS VESCULAS COM CIDO LURICO ................................ 51

4.2 CALORIMETRIA DIFERENCIAL DE VARREDURA .............................................. 57

4.3 ESPALHAMENTO DE RAIOS-X A BAIXO NGULO (SAXS) .............................. 61

4.3.1 Espessura da Bicamada ............................................................................................ 65

4.3.2 Periodicidade Lamelar ............................................................................................. 66

4.3.3 Parmetro de Caill .................................................................................................. 66

4.3.4 Nmero Mdio de Camadas Correlatas .................................................................. 68

4.4 CRIO-MICROSCOPIA ELETRNICA DE TRANSMISSO .................................... 69

4.5 ENCAPSULAMENTO DE SONDAS NO COMPARTIMENTO AQUOSO

INTERNO DAS LUV ........................................................................................................... 73

4.5.1 Encapsulamento de CF em pH 7,4 ........................................................................... 73

4.5.2 Encapsulamento de PTS em pH 5,0 ......................................................................... 74

4.5.3 Encapsulamento de CAT1 nas LUV ......................................................................... 75

4.6 LIBERAO DO CIDO LURICO MEDIDA POR DILISE ................................ 78

4.7 DIFUSO DO CIDO LURICO POR CLULA DE FRANZ .................................. 80

5 CONCLUSES ................................................................................................................ 83

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................ 85

14

1 INTRODUO

1.1 ACNE VULGAR

A acne vulgar uma das doenas de pele mais comuns que afeta cerca de 85% da

populao em algum momento de sua vida. A acne uma doena do folculo pilossebceo,

que possui como caractersticas a hiperproduo sebcea, a hiperqueratinizao folicular, o

aumento da colonizao pelo microrganismo Propionibacterium acnes e a inflamao

drmica (FIGURA 1). A sequncia exata dos eventos e como eles interagem ainda so

desconhecidos.

Figura 1- Eventos desencadeados pela acne vulgar.

As caractersticas clnicas da acne incluem excesso de oleosidade da pele, leses no

inflamatrias (comedes abertos e fechados) e leses inflamatrias (ppulas e pstulas) que

podem deixar cicatrizes na pele. Geralmente a acne ocorre nos locais do corpo com maior

concentrao de unidades pilosebceas como a face, o pescoo e a parte superior do tronco.

15

As unidades pilosebceas so caracterizadas como canais foliculares dilatados, preenchidos

com queratina, lipdios e microrganismos (STRAUSS; KLIGMAN, 1960).

Apesar de se manifestar com menor intensidade em orientais e em pessoas de pele negra,

a acne ocorre em todas as raas, sendo que os casos mais graves tendem a se manifestar em

indivduos do sexo masculino (afetando 95% de indivduos do sexo masculino contra 83% do

sexo feminino) devido influncia dos hormnios andrgenos. Aps os 20 anos de idade a

doena tende a regredir espontaneamente mas, em alguns casos, pode persistir tambm na fase

adulta (GOLDBLUM, 2003).

A influncia gentica na acne muito importante, acreditando-se que ela seja proporcional

ao grau de dermatose; essa influncia ocorre sobre o controle hormonal, hiperqueratinizao

folicular e secreo sebcea, mas no na infeco bacteriana.

A hiperqueratinizao folicular o primeiro fator para o desenvolvimento da acne vulgar.

Com ela se forma um tampo crneo que retm o contedo sebceo no interior da glndula.

No interior dessa leso, as proteases produzidas pelo P. acnes agem sobre o epitlio glandular

rompendo-o, o que facilita a expulso do contedo sebceo para a derme (BOJAR;

HOLLAND, 2004).

Referindo-se aos fatores etiopatognicos da acne, h alterao nos componentes do sebo

dos portadores da doena em comparao com os indivduos sos. Em ambos os grupos, a

proporo de cidos graxos livres (11%- 18%), esqualeno (10%-12%), colesterol e seus

steres (juntos, menor que 5%) similar. No entanto, a proporo de triglicrides no primeiro

de 46%-52%, contra 60%-68% no segundo, e a de steres de cidos graxos maior entre os

acnicos (20%-26%) em relao aos no acnicos (9%-12%) (MCGINLEY et al., 1980).

Ultimamente, discute-se a participao dos cidos graxos livres, obtidos pela hidrlise de

triglicrides atravs das lipases do P. acnes, na etipatognese da acne vulgar. Acredita-se que

estes cidos graxos acumulam-se no infundbulo glandular por um longo perodo de tempo e

que teriam a capacidade de irritar o epitlio acarretando, assim, a hiperqueratinizao (estgio

inicial da comedognese) e, por fim, a inflamao (BOJAR; HOLLAND, 2004).

De todos os componentes do sebo alterados em portadores da acne, o cido linoleico um

dos principais. O cido linoleico, que est reduzido nos comedes, um cido graxo

essencial, com importante papel na manuteno da funo de barreira epidrmica. A alterao

na barreira epidrmica facilita a penetrao na derme de microrganismos e cidos graxos pr-

inflamatrios presentes no sebo, promovendo infeco e inflamao. Weeks et al. mostrou

que os inibidores de lipase levaram a uma reduo da quantidade de cidos graxos na pele,

16

mas no foram capazes de tratar completamente a acne. Fraes lipdicas no sebo, geradas por

outro mecanismo alm do bacteriano, tambm parecem ser responsveis pelo

desenvolvimento da inflamao na acne (JAPPE, 2003).

Os andrgenos, por si, estimulam as glndulas sebceas a produzirem sebo atravs de suas

aes sobre receptores celulares (WEBSTER, 1995).

Historicamente, discute-se a possvel relao entre a ingesto oral de algumas substncias

e a acne vulgar, mas os estudos ainda no conseguiram estabelec-la. As crticas que se fazem

a tais estudos com seres humanos so, muitas vezes, em funo de limitaes metodolgicas

no s na avaliao subjetiva, mas, tambm, na interpretao e confirmao dos resultados

obtidos.

A acne pode ser classificada clinicamente em quatro nveis (FIGURA 2), de acordo com o

seu grau de desenvolvimento:

Grau I: forma mais leve, no inflamatria, caracterizada pela presena de comedes

abertos e fechados;

Grau II: acne inflamatria, presena de ppulas e pstulas, de contedo purulento;

Grau III: acne ndulo cstica, com ndulos mais salientes;

Grau IV: acne conglobata, com a formao de abcessos.

Figura 2- Estgios de desenvolvimento da acne vulgar.

17

As complicaes mais relevantes da acne vulgar so cicatrizes fsicas e sequelas

psicossociais, que podem persistir aps o desaparecimento das leses ativas. Os sintomas da

acne afetam principalmente a qualidade de vida, sendo a segunda maior causa de suicdio

entre as doenas de pele. A acne afeta a aparncia da pele, um importante rgo relacionado

autoestima das pessoas e suas relaes sociais (GOLDBLUM, 2003).

1.1.2 Propionibacterium acnes

O folculo pilosebceo um ambiente anaerbico e rico em lipdios, propcio ao

desenvolvimento de microrganismos (P. acnes, P. avidum, P. granulosum, P. propionicum,

and P. lymphophilum) comensais na pele. Estas bactrias so gram positivas e anaerbias,

geralmente com condio ideal de desenvolvimento a 35C (STRAUSS; KLIGMAN, 1960).

A pele normal capaz de tolerar um nmero limitado de microrganismos. Geralmente

as espcies gram positivas conseguem se estabelecer melhor nas condies desta regio (pH,

disponibilidade de oxignio e gua, radiao ultravioleta, concentrao de ons, etc), devido a

sua parede celular que lhe confere alta estabilidade estrutural.

As populaes de propionibacteria que se estabelecem na pele geralmente tm um

efeito positivo sobre ela, criando um ambiente protegido contra a colonizao de outros

microrganismos patognicos. Entretanto, quando o hospedeiro submetido a algumas

condies como trauma, baixa imunidade, entre outras, a propionibacteria pode desenvolver

patogenicidade (MCDOWELL et al., 2005). A maioria dos trabalhos publicados sobre a

microflora da pele diz respeito ao microrganismo P. acnes (FIGURA 3), um dos maiores

desafios a ser superado para o tratamento da acne vulgar (NEWTON et al., 1997).

Figura 3- Propionibacterium acnes.

18

A populao de P. acnes costuma ser maior na face e no tronco superior do corpo,

locais com maior concentrao lipdica, indicando uma relao direta entre populao

bacteriana e seborria local. Pressupe-se que o aumento da populao de P. acnes na

superfcie cutnea esteja relacionado com o aumento da produo de triglicrides e, talvez, de

colesterol. Alteraes na composio lipdica podem determinar a sobrevida da P. acnes.

Apesar dos demais fatores que contribuem para o desenvolvimento da acne, a hiptese

de que o papel do microrganismo P. acnes fundamental sustentada pelo sucesso obtido em

terapias que fazem uso de antibiticos e pela reduo de sua eficcia demonstrada em

tratamentos contra cepas de P. acnes resistentes a estes mesmos antibiticos. Ainda que

diversos antibiticos possuam ao contra o P. acnes in vitro, seu uso no combate a acne

geralmente limitado devido sua solubilidade, que desfavorece sua permeao na pele

(BOJAR; HOLLAND, 2004).

Leyden et al. (1983) mostraram que a resistncia da P. acnes frequentemente

desenvolvida em pacientes que fazem uso a longo prazo de antibiticos por via sistmica.

Porm, nas ltimas dcadas, tem sido discutida tambm uma possvel relao entre o aumento

de cepas resistentes de P. acnes e o uso de antibiticos tpicos (LEYDEN et al., 1983). Alm

do fator de resistncia, ensaios in vitro mostraram que o P. acnes pode formar um biofilme no

folculo (FIGURA 4), levando a uma diminuio da resposta aos agentes antimicrobianos.

O importante papel do P. acnes na inflamao da acne se d por sua fagocitose por

leuccitos polimorfonucleares no lmen glandular, acarretando liberao de enzimas

hidrolticas intracelulares e mantendo sua integridade. Alm disso, os anticorpos especficos

contra a P. acnes, presentes nos microcomedes, interagem com essas bactrias, liberando as

Figura 4- Imagem de microscopia de biofilme formado pelo microrganismo Propionibacterium acnes.

19

proteases hidrolticas na parede epitelial infundibular fragilizando-a e levando sada de

substncias irritantes para a derme subjacente, desencadeando o processo inflamatrio local

(WEBSTER, 1995).

1.1.3 Terapias no tratamento da acne vulgar

As terapias atuais utilizadas para o tratamento da acne consistem em ativos que

previnem a formao dos comedes e tenham ao anti-inflamatria e antimicrobiana. Na

maioria das vezes esses ativos so retinides de uso tpico (tetinona, adapaleno, entre outros)

e isotretinona por via oral.

1.1.3.1 Retinides

Os retinides possuem ao queratoltica e anti-inflamatria, alm de impedirem a

proliferao e diferenciao celular.

A isotretinona, administrada via oral, induz a glndula sebcea a reduzir seu tamanho

atravs da diminuio da proliferao dos sebcitos, suprimindo assim a produo do sebo.

Recentemente, tm sido relatados casos de depresso em pacientes tratados com isotretinona,

mas at o momento no foi estabelecida claramente a relao entre a terapia e a depresso. A

isotretinona recomendada na maioria das vezes para casos de acne severa, com ndulos e

que no respondem ao tratamento tpico (GOLLNICK; SCHRAMM, 1998).

O adapaleno, retinide administrado via tpica, vantajoso comparado aos demais

retinides, pois altamente lipoflico e causa pouca irritao pele. Apesar destas vantagens,

o adapaleno no possui atividade contra o microrganismo P. acnes (JAPPE, 2003).

Os retinides so contraindicados durante a gravidez e os efeitos adversos incluem

ressecamento da pele, irritao, coceira e formigamento, principalmente nas fases iniciais do

tratamento.

1.1.3.2 Perxido de Benzola (BPO)

O Perxido de Benzola (FIGURA 5) efetivo na reduo de colnias de P. acnes,

inibindo o seu crescimento e sem risco de resistncia relatada at o momento. So

20

recomendadas concentraes de BPO de at 5%, por ser menos irritante pele (EADY et al.,

1996).

Figura 5- Perxido de Benzola.

A atividade do BPO no tratamento da acne e os baixos riscos que ele apresenta para a

pele o tornam um dos ativos principais para pacientes com acne de grau leve a moderado

(WEISS, 1997).

Estudos mostraram que a atividade do BPO pode ser ainda melhor quando combinado a

outras terapias como retinides de uso tpico e antibiticos.

1.1.3.3 Tratamento hormonal

Os tratamentos hormonais consistem na supresso da produo de andrgenos pelo

ovrio, atravs de contraceptivos de uso oral, bloqueadores dos receptores andrognicos.

Este tipo de terapia no sempre a primeira opo, sendo indicado na maioria das vezes

apenas para mulheres com acne leve ou sinais de produo em excesso de hormnios

andrognicos e que pedem por contraceptivo (KATSAMBAS; PAPAKONSTANTINOU,

2004).

1.1.3.4 Antibiticos

Os antibiticos so capazes de reduzir a colonizao bacteriana pela P. acnes no

folculo piloso, porm apenas ativos lipoflicos so eficazes, tais como: clindamicina,

tetraciclina, minociclina, eritromicina e gentamicina. Estes antibiticos em especial tambm

possuem propriedades anti-inflamatrias, principalmente a minociclina (TOYODA;

MOROHASHI, 1998).

21

Os antibiticos de uso tpico atuam diminuindo a quantidade de cidos graxos livres

que contribuem para a inflamao, regulando o metabolismo da P. acnes e a produo

extracelular de lipases. Entretanto, no recomendado o uso desses antibiticos tpicos

devido ao risco do microrganismo desenvolver resistncia (KATSAMBAS;

PAPAKONSTANTINOU, 2004).

Geralmente, os antibiticos so utilizados por via oral e combinados com outras terapias

de uso tpico, como aquelas contendo BPO, que tambm possuem atividade antimicrobiana.

1.1.3.5 Outras estratgias no tratamento da acne

A maioria dos retinides no tem efeito direto contra o P. acnes e, desta forma, no

possuem eficincia no combate a todos os eventos relacionados acne vulgar.

Alternativa bastante utilizada em produtos para a acne o cido saliclico, um

componente esfoliante adicionado a produtos de uso tpico, que auxilia na atividade de outros

ativos que podem ser usados em conjunto.

O desenvolvimento de novos ativos e terapias tm sido bastante abordados, de forma a

superar as dificuldades encontradas para o tratamento da acne, que obteve pouco progresso

nos ltimos 50 anos (ELMAN; LEBZELTER, 2004).

1.2 CIDO LURICO

Os cidos graxos livres (FFAs, do ingls Free Fatty Acids) desempenham diferentes

papis na defesa do organismo, impedindo a entrada de patgenos ou microrganismos

oportunistas. Eles criam um ambiente de pH cido, com condies desfavorveis para o

desenvolvimento de determinadas bactrias e podem impedir seu crescimento ou lev-las

morte. Alm disso, os cidos graxos, saturados ou insaturados, impedem a adeso bacteriana e

subsequente formao de biofilme. A ao dos cidos graxos tipicamente comparvel de

peptdeos antimicrobianos naturais in vitro (NAKATSUJI et al., 2009).

Os cidos graxos so os agentes antimicrobianos mais efetivos presentes na pele humana.

Eles so produzidos por clivagem de lipdios secretados das glndulas sebceas e a sua

presena na pele suficiente para controlar a microbiota bacteriana.

A atividade antibacteriana de cada cido graxo influenciada pelo comprimento da cadeia

alqulica e estrutura. O grupo OH da carboxila parece ser importante para a atividade

22

antibacteriana uma vez que cidos graxos metilados geralmente apresentam pouca ou

nenhuma atividade antibacteriana. Para cidos graxos saturados, os mais ativos possuem entre

10 e 12 carbonos em sua cadeia (FISCHER et al., 2012).

O amplo espectro de atividades e modo de ao no especfico de pelo menos alguns

cidos graxos os tornam atrativos agentes antibacterianos para vrias aplicaes na medicina,

agricultura, preservao de alimentos e formulaes cosmticas, especialmente aquelas em

que a presena de antibiticos indesejvel ou proibida (DESBOIS; SMITH, 2010).

Vrios FFAs possuem atividade contra bactrias Gram-positivas, mas no Gram-

negativas. O cido lurico (LA), presente em pequena quantidade no sebo, o cido graxo

saturado com maior potencial antimicrobiano. Ele comumente encontrado em produtos

naturais como leo de coco e leite. Alm de o LA apresentar boa atividade contra diversas

bactrias Gram-positivas ele possui ao in vivo contra o microrganismo P. acnes, podendo

ser utilizado como agente antibacteriano natural no tratamento da acne (YANG et al., 2009).

Nakatsuji et al. demonstrou que a concentrao inibitria mnima (MIC) do LA, a menor

concentrao para inibir o crescimento bacteriano, at 15 vezes menor do que a do BPO

(FIGURA 6).

Figura 6- Atividade do BPO comparado ao cido lurico (Nakatsuji et al., 2009).

Os resultados de Nakatsuji et al. mostraram que o LA possui atividade superior a do BPO,

um agente antioxidante utilizado frequentemente no tratamento da acne contra as bactrias da

pele P. acnes, S. aureus, e S. epidermidis. Alm disso, os resultados mostraram que o P. acnes

a bactria mais sensvel ao LA entre outros microrganismos testados.

Em uma avaliao da atividade antimicrobiana dos cidos lurico, oleico e palmtico

contra a P. acnes in vitro o cido graxo com maior ao bactericida foi o LA.

23

O mecanismo de ao do cido lurico contra o P. acnes envolve a separao das

monocamadas de sua membrana, matando assim o microrganismo. Os FFAs antimicrobianos

tendem a um menor desenvolvimento de resistncia comparado a outros tratamentos com os

antibiticos frequentemente utilizados (NAKATSUJI et al., 2009).

O grande desafio no uso do LA em uma formulao para o tratamento da acne est

relacionado sua solubilidade. O LA pouco solvel em gua e solventes como dimetil

sufxido (DMSO), que podem ser txicos a pele, so necessrios para solubiliz-lo.

Os lipossomas tm sido amplamente estudados como carreadores de frmacos,

apresentando grande potencial para veiculao de drogas (drug delivery) de aplicao

tpica, levando o princpio ativo ao stio de interesse em maiores concentraes do que as

formulaes convencionais.

Os resultados de Yang et al. mostraram que o uso de lipossomas favoreceu a ao do LA,

que foi eficaz at em baixas concentraes. O LipoLA ( nome dado por Yang para lipossoma

com cido lurico) foi capaz de se fundir com a membrana do P. acnes e liberar o LA na

membrana da bactria (YANG et al., 2009).

1.3 LIPOSSOMAS

Os lipossomas so vesculas formadas por fosfolipdios, constitudas de uma ou mais

bicamadas orientadas em torno de um compartimento interno aquoso (FIGURA 7). Usaremos

aqui as palavras lipossoma e vescula como sendo equivalentes. Os lipossomas, ou vesculas,

podem ser classificados de acordo com o seu tamanho, nmero de lamelas (bicamadas),

constituio lipdica e mtodo de preparo.

Figura 7- Representao de lipossoma e da bicamada lipdica.

24

As vesculas podem ser preparadas por extruso, sonicao, agitao, liofilizao,

congelamento e descongelamento, evaporao em fase reversa, entre outros. O dimetro das

vesculas determinado pelo mtodo de preparao e pode variar de 20 a 5000 nm.

A nomenclatura dos lipossomas baseada em seu nmero de lamelas e tamanho

(FIGURA 8), podendo ser divididas nas seguintes categorias:

a) Vesculas unilamelares pequenas (Small Unilamellar Vesicles SUV): formadas

por uma nica bicamada, so as menores, com dimetro variando de 20 a 80 nm;

b) Vesculas unilamelares grandes (Large Unilamellar Vesicles LUV): formadas

por uma nica bicamada lipdica, com tamanho intermedirio e dimetro entre 80 e

1m;

c) Vesculas multilamelares (Multilamellar Vesicles MLV): formadas por vrias

bicamadas lipdicas, com tamanho mdio e dimetro que varia de 400 nm a alguns

micrometros;

d) Vesculas gigantes (Giants Unillamelars Vesicles GUV): normalmente formadas

por uma nica bicamada lipdica, apresentam dimetro superior a 1 m.

A princpio os lipossomas eram utilizados como modelos biomimticos de membranas

biolgicas. A partir da dcada de 70, outras aplicaes prticas dos lipossomas obtiveram

destaque, como seu uso em drug delivery (LASIC, 1998).

Os lipossomas apresentam diversas propriedades que os tornam atraentes para seu uso e

aplicao, tais como:

Figura 8- Diferentes tipos de estruturao das vesculas.

25

Biocompatibilidade;

So capazes de encapsular ativos em seu interior aquoso, quando hidroflicos, ou

na membrana, caso este ativo seja hidrofbico;

O ativo de interesse se torna protegido das condies externas do organismo,

evitando tambm reaes adversas indesejveis;

O tamanho, a carga e as propriedades dos lipossomas podem ser controlados

facilmente, selecionando-se os lipdios e mtodo de preparo adequado.

Estratgias tm sido traadas para prolongar o tempo de permanncia dos lipossomas

no organismo, garantindo sua estabilidade e eficcia (BLUME; CEVC, 1990).

Entre as vias de administrao de lipossomas, que tem se mostrado cada vez mais

promissora com o passar dos anos, est a sua aplicao tpica (TORCHILIN, 2005). Um dos

maiores desafios no desenvolvimento de sistemas de drug delivery para serem ministrados via

tpica est a baixa permeao de substncias na pele. A maior barreira para a difuso de

ativos o estrato crneo, camada mais superficial da pele, constituda por clulas agrupadas

de forma bastante coesa. O uso de vesculas lipdicas facilita o transporte de ativos sobre a

pele (MEZEI; GULASEKHARAM, 1980).

1.4 LIPOSSOMAS E CIDOS GRAXOS

cidos graxos so molculas anfipticas, capazes de se incorporar nas membranas

lipdicas e alterar suas propriedades fsico-qumicas. Quando em gua, os sais dos cidos

graxos tendem a formar micelas e no bicamadas, dada a sua geometria cnica (FIGURA 9).

A forma protonada do cido graxo pouco solvel e em gua no forma micelas.

Dependendo da composio lipdica e de seu estado fsico (fase lquido-cristalina, fase

gel), a bicamada pode incorporar at 60% (em mol) de cidos graxos. A incorporao de at

Figura 9-Agregados formados por molculas anfipticas de diferentes geometrias.

26

mesmo uma pequena quantidade (1% em mol) nas membranas pode levar a alteraes na

permeabilidade transmembranar (CROWE; MCKERSIE; CROWE, 1989).

Os cidos graxos, devido a sua geometria molecular, induzem um maior grau de

curvatura das membranas, aumentando a sua propenso de formar poros. Eles tambm afetam

a espessura da bicamada, podendo lev-la ao rompimento. Todos esses efeitos tendem a

aumentar a permeabilidade das membranas. Essas alteraes na permeabilidade podem ser

usadas como vantagem no desenvolvimento de sistemas drug delivery, favorecendo a

liberao do ativo. (JESPERSEN et al., 2012)

Os efeitos que os cidos graxos exercem sobre a membrana, apesar de serem

frequentemente descritos na literatura, ainda no so bem compreendidos. Acredita-se que

dependem do tipo de cido graxo, em especial, do seu grau de insaturao e comprimento da

cadeia carbnica. Alm disso, sabe-se que esses efeitos observados dependem se o cido

graxo misturado previamente com os outros componentes que iro formar as bicamadas ou

se so adicionados a elas posteriormente, j prontas. No caso de serem adicionados

previamente o seu efeito menor, pois eles conseguem se arranjar e se adaptar espacialmente

com todos os demais lipdios da membrana durante sua formao. No caso de serem

adicionados posteriormente, os cidos graxos induzem um efeito maior de rompimento das

membranas, dificultando um possvel rearranjo dos demais lipdios da bicamada para

compensar as alteraes na sua curvatura (AROURI; MOURITSEN, 2013).

Os sais dos cidos graxos so capazes de formar agregados micelares em

concentraes acima de sua concentrao micelar crtica (CMC) e so incorporados nas

bicamadas tanto na sua forma protonada quanto na forma dissociada. A incorporao de

cidos graxos pode levar a formao de diferentes estruturas de agregados, com regies

heterogneas na membrana em funo da composio lipdica (DAVIDSEN; MOURITSEN;

JRGENSEN, 2002).

Uma das principais caractersticas das vesculas contendo cidos graxos a sua

dinmica, induzida por mudanas nas condies do meio. O fato de que diferentes agregados

com cidos graxos podem ser formados apenas se alterando seu estado de protonao e

concentrao uma excelente oportunidade para estudar as propriedades fsico-qumicas das

diferentes estruturas (MORIGAKI; WALDE, 2007).

Os benefcios dos lipossomas relacionados sua capacidade de encapsulao/

liberao de ativos, de impedir a desidratao e promover a regenerao de lipdios da

27

pele, os tornam ingredientes inovadores e efetivos na rea de cosmticos. Em geral, os

lipossomas so mais compatveis com a estrutura da pele do que as emulses

convencionais.

O estudo de lipossomas contendo LA, com potencial para aplicao dermatolgica

na preveno e tratamento da acne, pode auxiliar na elucidao do papel do LA na

estrutura dos lipossomas, modulao de suas propriedades de reteno de ativos e

contribuir com uma alternativa ao combate acne.

28

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVOS GERAIS

Desenvolver e caracterizar lipossomas contendo cido lurico, que possuam potencial

para uso na rea de cosmticos.

2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

Produzir lipossomas de diferentes composies, contendo cido lurico;

Realizar caracterizao fsico-qumica dos lipossomas por mtodos como: medida do

tamanho mdio de partculas/ distribuio de tamanhos, eficincia de encapsulao e

determinao de temperatura de transio de fase (Tm);

Verificar o efeito do pH sobre as caractersticas fsico-qumicas dos lipossomas

contendo cido lurico.

29

3 MATERIAIS E MTODOS

3.1 MATERIAIS

O fosfolipdeo 1,2-dipalmitoil-sn-glicero-3-fosfocolina (DPPC) (FIGURA 10a) foi

obtido da Avanti Polar Lipids e o cido lurico (LA) (FIGURA 10b) da Sigma Aldrich. As

membranas de policarbonato com dimetro de poro de 100 nm, utilizadas para a extruso,

eram da Whatman (Nucleopore Track-Etch Membrane). O Tris Base (Trizma Hydrochloride),

a 5(6)-Carboxifluorescena (CF), a resina Sephadex G-25 e o cido perclrico 70% eram da

Sigma Aldrich. Os cidos clordrico, ascrbico, actico, brico e frmico e o hidrxido de

sdio eram da Merck. O 4-trimetilamnio-2,2,6,6-tetrametilpiperidina-1oxiliodeto, CAT1, e o

pireno tetrasulfonato de sdio, PTS, eram da Molecular Probes. Os solventes clorofrmio e

metanol eram reagentes de grau analtico da J. T. Baker Chemicals. A CF foi purificada

segundo o mtodo de Weinstein et al., 1977.

Figura 10- Estruturas do (a) DPPC e do (b) cido lurico.

3.2 PREPARO DOS LIPOSSOMAS

Os lipossomas foram preparados pelo mtodo de hidratao do filme lipdico (FIGURA

11). A frao de LA nas amostras variou de 0 a 50% em moles da concentrao total. Desta

forma, obtivemos as seguintes preparaes: DPPC, DPPC:LA 90:10, DPPC:LA 80:20,

DPPC:LA 70:30, DPPC:LA 60:40 e DPPC:LA 50:50.

O DPPC e o LA foram pesados nas quantidades desejadas em um tubo de ensaio de

fundo largo e solubilizados com uma mistura clorofrmio:metanol 3:2. Em seguida, o tubo de

(a) (b)

30

ensaio com os lipdios foi submetido a um fluxo de N2 juntamente com rotao manual,

volatilizando a mistura de solventes orgnicos e formando um filme fino seco, aderido

parede do tudo. Os filmes foram colocados em um dessecador sob vcuo por cerca de 1 hora

para garantir a retirada completa dos solventes.

Para ressuspender o filme e formar os lipossomas, adiciona-se o volume desejado da

soluo tampo com pH de interesse ou soluo contendo CF, PTS ou CAT1 e agita-se a

suspenso em vrtex. Desta forma obtemos as chamadas MLV, que so vesculas

multilamelares, com dimetros variados.

Figura 11- Esquema de preparo de vesculas pelo mtodo de hidratao do filme lipdico.

Para formar vesculas unilamelares grandes, LUV, a suspenso de MLV foi submetida a

um processo chamado de extruso (FIGURA 12). Na extruso, as vesculas so foradas a

passarem por uma membrana, neste caso com tamanho de poro de 100 nm, repetidas vezes

(11 passagens quando utilizadas duas membranas). Este processo foi realizado a 60C,

temperatura acima da temperatura de transio de fase do DPPC.

Figura 12- Extruso de MLV para se obter vesculas unilamelares grandes, LUV.

3.3 ESTABILIDADE DAS VESCULAS COM CIDO LURICO

O dimetro hidrodinmico define o dimetro de uma esfera rgida que difunde com a

mesma velocidade da partcula que est sendo examinada pelo espalhamento de luz dinmico.

Ativo hidrofbico

31

Desta forma, o Dh representa o dimetro mdio de uma partcula dentro da sua dinmica de

difuso, considerando a camada de solvatao (ZAMARION, [s.d.]).

O ndice de polidispersidade (PdI) a razo que correlaciona a varincia amostral com

o quadrado do dimetro hidrodinmico mdio das partculas em uma curva de distribuio

(EQUAO 1).

= (

)

2

onde =varincia d=dimetro hidrodinmico mdio

Partculas suspensas em um meio lquido nunca esto em estado estacionrio,

movimentando-se constantemente. Esse movimento, denominado movimento Browniano,

ocorre devido coliso das molculas do lquido que circundam a partcula. Partculas

maiores se movimentam mais lentamente que as menores em uma mesma temperatura

(ZAMARION, [s.d.]).

A relao entre o tamanho e a velocidade do movimento Browniano da partcula

definida pela Equao de Stokes-Einstein. Essa medida feita com a iluminao das

partculas com um laser e analisa a intensidade de flutuao do espalhamento de luz. O

aparelho possui um correlator que mede o grau de similaridade entre dois sinais em um

perodo de tempo. A funo de correlao varia conforme o tamanho da partcula e assim que

a funo de correlao medida, essa informao utilizada para calcular a distribuio de

tamanhos (JIN et al., 1999).

As partculas, quando iluminadas, possuem a caracterstica de espalharem luz,

caracterizando o movimento Browniano (MANZINI, 2011). Assim, o espectro de luz que

atravessa uma amostra ser composto de reas claras e escuras, onde no h luz detectada. As

reas claras ocorrem onde o espalhamento de luz causado pelas partculas possui a mesma

fase de onda, resultando em uma interferncia construtiva. As reas escuras ocorrem onde as

ondas de luz, causadas pelo espalhamento, so destrutivas e cancelam umas s outras (JIN et

al., 1999). O pontilhado resultante das reas claras e escuras causadas pelo espalhamento de

luz que atravessa uma suspenso se mover devido ao movimento das partculas variando

com certa intensidade e ir caracterizar esse movimento com uma flutuao da intensidade

(MANZINI, 2011).

(Equao1)

32

3.3.1 Medidas do Dimetro Hidrodinmico e do ndice de Polidispersidade

As medidas foram realizadas em um aparelho Zetasizer Nano ZS, Malvern Instruments

Ltd.

Para estes ensaios foram utilizadas amostras de LUV com concentrao total final de

0,5 mM de lipdios em solues de tampo Borato pH 9,0, Tris-HCl pH 7,4, Acetato pH 5,0 e

Formiato pH 3,0, todas na concentrao 10 mM.

O Dh e o PdI dos lipossomas foi verificado por 30 dias, perodo no qual as amostras

ficaram incubadas a 25 C para mimetizar as condies ambientes de um produto em

prateleira.

3.4 CALORIMETRIA DIFERENCIAL DE VARREDURA

Os fosfolipdios constituintes de uma determinada membrana so caracterizados por

uma temperatura de transio da bicamada (Tm), na qual a membrana passa de uma fase gel

(L), para a fase lquido-cristalina (L). Ou seja, as cadeias hidrocarbnicas dos lipdios que

antes estavam ordenadas passam para um estado de movimentos mais livres e os radicais

hidroflicos tornam-se mais hidratados, resultando em um modelo mais fludo (FIGURA

13)(LEWIS et al., 2008).

Figura 13- Membrana na fase gel e depois na fase lquido-cristalina, acima da tem0peratura de transio de fase.

A presena do cido lurico na bicamada dos lipossomas pode causar perturbaes e

alterar a sua fluidez, modificando a temperatura de transio de fase do DPPC. Uma das

tcnicas mais utilizadas para verificar estas propriedades a Calorimetria Diferencial de

Varredura (DSC). Alm da Tm, o DSC tambm permite obter valores de entalpia e da

cooperatividade da transio de fase, que proporcional medida da largura a meia altura

33

() dos picos em curvas DSC. Uma perda na cooperatividade de um sistema, ou seja,

alargamento do pico corresponde a um decrscimo na quantidade mdia de lipdios que

transitam uniformemente de um estado a outro para um dado valor ou intervalo de

temperatura (VAN EKEREN, 2003).

Um equipamento de DSC (FIGURA 14) consiste em dois pequenos compartimentos

(celas) idnticos que so aquecidos eletricamente a uma taxa constante. Uma das celas

preenchida com a soluo que contm a amostra de interesse (protena, lipossoma, etc) e a

outra cela preenchida geralmente com gua ou com o tampo utilizado para preparar a

amostra. As celas so mantidas presso atmosfrica ou, em alguns casos, sob presso de gs

inerte para inibir a formao de bolhas durante o processo de aquecimento. Durante o

experimento, potncia fornecida pelo aquecedor principal para aumentar a temperatura das

celas a uma taxa estacionria, enquanto que diferenas de temperatura entre as celas de

referncia e de amostra (T1), e entre as clulas e a cmara adiabtica (T2) so monitoradas.

Atravs de circuitos de resposta, um aquecedor/resfriador localizado na cmara adiabtica

permite a esta atingir a mesma temperatura das celas e aquecedores de resposta localizados

nas celas compensam qualquer diferena de temperatura entre elas durante a varredura. Um

computador controla a potncia trmica dissipada nas celas e cmara adiabtica e faz a

aquisio dos dados (MELO, 2010).

Ao longo da varredura, em um intervalo que no contm nenhuma transio de fase, as

temperaturas das celas variam linearmente com o tempo na mesma taxa de aquecimento e a

Figura 14- Calormetro Diferencial de Varredura.

34

diferena de temperatura entre as celas zero. Isso se reflete de maneira ideal em uma linha

de base horizontal reta. Se ocorrer alguma mudana no sistema, a temperatura da cela com a

amostra muda significativamente em relao cela de referncia e, para manter a temperatura

de ambas as celas, o excesso de energia em forma de fluxo de calor deve ser compensado

pelos aquecedores (LEWIS et al., 2008).

3.4.1 Determinao da Tm e Cooperatividade por DSC

As determinaes de Tm foram realizadas em um calormetro MicroCal VP-DSC

Microcalorimeter, Malvern Instruments Ltd. As amostras de LUV tinham concentrao total

de 1 mM em solues tampo 10 mM, nos pHs 9,0 (tampo borato), 7,4 (tampo Tris-HCl),

5,0 (tampo acetato) e 3,0 (tampo formiato). As suspenses lipossomais (0,5173 mL) foram

colocadas no calormetro com auxlio de uma seringa e submetidas variao de temperatura

de 15 a 60C, com uma velocidade de varredura de 30 C/hora. Como referncia foi utilizada

gua desmineralizada. Para o tratamento dos dados foi utilizado o programa Origin 8.5.

3.5 ESPALHAMENTO DE RAIOS-X A BAIXO NGULO (SAXS)

O SAXS consiste num processo de espalhamento elstico que ocorre quando os raios-X

de alta energia (de comprimento de onda de 1,5 ) atingem um material e interagem com os

eltrons do mesmo. Quando existe alta organizao a nvel atmico, com todas as unidades

espalhantes em fase, ocorre um espalhamento cooperativo, que produz um perfil de difrao

onde as chamadas reflexes de Bragg apresentam uma alta definio. Em um material que

apresenta desorganizao a nvel atmico, as unidades espalhantes estaro fora de fase, o que

resulta num espalhamento difuso, ou no-cooperativo, e de baixa intensidade, ocorrendo

numa ampla faixa angular (GERBELLI, 2012).

Supondo os centros espalhantes no vcuo, a amplitude de espalhamento proporcional

ao nmero de moles de eltrons por unidade de volume, ou seja, densidade eletrnica. Com

os centros espalhadores imersos em outro meio, apenas a diferena de densidade eletrnica

entre os meios ser considerada. No caso de anlise de partculas em suspenso ou solvente, o

espalhamento resultante do contraste de densidade eletrnica entre a partcula e o solvente

(GONALVES, 2008).

35

3.5.1 Medidas de SAXS e Ajuste dos Dados Experimentais

Para a tcnica de Espalhamento de Raios X a Baixo ngulo (SAXS) foi utilizada uma

mquina convencional Nanostar Bruker (com tica otimizada pela empresa Xenocs)

(FIGURA 15) instalada no Laboratrio de Cristalografia do Instituto de Fsica, sob orientao

do Prof. Dr. Cristiano Luis Pinto de Oliveira. As medidas foram realizadas pelo aluno Pedro

Oseliero.

Figura 15- Equipamento Nanostar Bruker utilizado nas medidas de SAXS.

Nestes experimentos foram utilizados capilares de vidro de 1,5 mm de dimetro onde

foram colocadas amostras de lipossomas de DPPC:LA na concentrao total de 10 mM,

preparadas nos tampes borato 50 mM pH 9,0, Tris-HCl 50 mM pH 7,4, acetato 50 mM pH

5,0 e formiato 50 mM pH 3,0.

Na realizao de experimentos de SAXS utilizou-se um porta amostra que acomodava

at 3 capilares de vidro temperatura ambiente, cerca de 25 C. O controle das aquisies foi

realizado pelo programa interno da mquina onde a cada aquisio so geradas imagens

bidimensionais de formato ".gfrm". Para anlise desses arquivos foi utilizado o programa

SUPERSAXS que permite desde a subtrao de fundo at a reduo dessas imagens em

curvas unidimensionais (I(q)) com as respectivas incertezas dos dados experimentais.

3.5.1.1 Ajuste das curvas de espalhamento

A intensidade espalhada para uma fase lamelar pode ser descrita pela Equao 2:

Fonte de raios X

Amostrasem vcuoX Detector

36

() = ()|()2|

2

onde q o mdulo do vetor de espalhamento de raios X, S(q) refere-se funo do fator de

estrutura e P(q) ao fator de forma.

O fator de forma depende apenas do espalhamento produzido por uma nica bicamada,

enquanto o fator de estrutura corresponde ao espalhamento gerado por um conjunto de

bicamadas, espaadas periodicamente com orientao aleatria. Para descrever o fator de

forma foi utilizado o modelo de deconvoluo de gaussianas (4 gaussianas).

3.5.1.2 Fator de Estrutura

Os parmetros que descrevem a estrutura e flexibilidade da bicamada lipdica podem ser

determinados pelos parmetros estabelecidos no ajuste das curvas experimentais, sendo os

principais: periodicidade lamelar (repetio de um padro que formado pela bicamada +

camada aquosa), nmero de camadas correlatas e parmetro de Caill.

3.5.1.3 Fator de Forma

A densidade do contraste eletrnico da bicamada descrita pelo fator de forma. Atravs

do modelo de deconvoluo de gaussianas, pode-se descrever a variao do contraste

eletrnico de maneira mais suave, como observado na Figura 16.

Figura 16- Modelo de deconvoluo de gaussianas.

(Equao2)

37

3.5.1.4 Espessura da Bicamada

Atravs do ajuste dos dados experimentais de espalhamento, obtemos a periodicidade

lamelar e o perfil de densidade eletrnica da bicamada. O pico representa a posio das

cabeas polares e o centro corresponde ao meio da bicamada (FIGURA 17). Uma funo

gaussiana descreve o contraste de densidade eletrnica da regio e, tomando-se a distncia do

centro da bicamada at o ponto que corresponde largura a meia altura da gaussiana, obtm-

se a metade da espessura da bicamada (GERBELLI, 2012).

Figura 17- Perfil de densidade eletrnica da bicamada, indicando em vermelho a espessura da bicamada.

3.6 CRIO-MICROSCOPIA ELETRNICA DE TRANSMISSO

O microscpio eletrnico de transmisso um microscpio de luz invertido, no qual

um feixe de eltrons incide sobre a amostra. Apenas amostras em sees finas podem ser

estudadas, uma vez que os eltrons no penetram profundamente na matria (BIBI et al.,

2011).

O contraste entre as vesculas e o fundo ocorre por espalhamento de eltrons pela

matria e diretamente proporcional ao nmero atmico. Sendo assim, no existe emprego de

agente contrastante nesta tcnica. A imagem observada a projeo em duas dimenses de

um objeto de trs dimenses (FIGURA 18). A mesma obtida quando um feixe de eltrons

atravessa uma vescula tangencialmente ao seu volume (KUNTSCHE; HORST; BUNJES,

2011).

38

Os eltrons interagem com as molculas que constituem a vescula produzindo um

contraste mais elevado nas suas bordas que, consequentemente, visualizada como um anel

cinza.

3.6.1 Preparo das Amostras para Crio-TEM e Aquisio das Imagens

Os estudos de Crio-Microscopia Eletrnica de Transmisso foram efetuados para a

caracterizao estrutural das vesculas com cido lurico. Para a anlise Crio-TEM foram

utilizadas amostras de vesculas de DPPC, DPPC:LA 70:30 e DPPC:LA 50:50 com

concentrao total de lipdio de 2,5 mM nos tampes acetato 0,01M pH 5,0 e tris-HCl 0,01M

pH 7,4. Foi depositada uma gota de 3 L da amostra em grade Lacey de cobre (300 mesh)

revestida por carbono (TED Pella) previamente submetida a um tratamento de descarga

luminescente utilizando um sistema easiGlow (Pelco) com 15 mA de corrente negativa por 10

s. As amostras foram preparadas em ambiente controlado, com temperatura e umidade

ajustado para 22 C e 100%, respectivamente, num sistema de vitrificao automatizado

(Vitrobot Mark IV, FEI). Os parmetros do Vitrobot seguiram um tempo de blot de 3s, fora

de blot de 0 e 20 segundos de tempo de espera antes do incio do blot. As amostras foram

analisadas em condio de baixa dosagem, com uma gama de desfocagem de -2 a -4 m,

utilizando um equipamento Jeol JEM-2100 operando a 200 kV. As imagens foram adquiridas

usando uma cmera F-416 CMOS (TVIPS, Alemanha). A preparao das amostras e

aquisio de dados foram realizados no Laboratrio de Microscopia Eletrnica

Figura 18- Exemplo de imagem 2-D para uma amostra vitrificada.

39

(LME)/Laboratrio Nacional de Nanotecnologia (LNNano) pelo Dr. Alexandre Cassago

(FIGURA 19).

Figura 19- Preparo das amostras para Crio-TEM pelo Dr. Alexandre Cassago no LNNano- Campinas.

3.7 ENCAPSULAMENTO DE SONDAS NO COMPARTIMENTO AQUOSO INTERNO

DAS LUV

3.7.1 Encapsulamento de Sondas Fluorescentes

A luminescncia caracterizada pela emisso de ftons com energia na regio do UV,

visvel ou infravermelho de uma espcie eletronicamente excitada. Como casos particulares

da luminescncia, temos a fluorescncia e a fosforescncia. Para estes casos, a absoro de

um fton o modo de excitao que leva a espcie que absorveu para um estado eletrnico

excitado.

Na fluorescncia o estado excitado singlete, assim, o eltron no orbital excitado est

pareado com o eltron que se encontra no orbital do estado fundamental. O retorno para o

estado fundamental uma transio permitida e a emisso ocorre com velocidade na ordem

de 108 s-1 (MANZINI, 2011).

40

Os espectros de fluorescncia so apresentados como espectro de emisso, que uma

curva de intensidade de fluorescncia versus comprimento de onda (). O espectro de emisso

sensvel estrutura qumica do fluorforo e polaridade do solvente no qual ele est

dissolvido (PUC-RIO, 2006).

A CF (5(6)- carboxifluorescena) (FIGURA 20) sofre um processo de auto-supresso da

fluorescncia em altas concentraes e muito utilizada em estudos de atividade de molculas

sobre os lipossomas. Em concentraes baixas, utilizando-se um mximo de excitao em 490

nm, a CF tem um mximo de emisso em 520 nm. Utilizamos a CF tambm em experimentos

nos quais pretendemos verificar a porcentagem de incorporao da sonda no compartimento

aquoso interno dos lipossomas. A vantagem de se utilizar a CF que esta sonda carregada

negativamente, dependendo do pH (pka1= 4,20,2; pka2= 4,90,1 e pka3= 6,70,1). Isto

permite a incorporao em lipossomas sem que haja vazamento da sonda fluorescente

encapsulada no espao aquoso interno para o compartimento aquoso externo (ASCHI et al.,

2008).

Figura 20- Estrutura da molcula de 5(6)-carboxifluorescena.

Com a CF, para que ocorra a auto-supresso, h transferncia de energia entre os

monmeros de CF no estado excitado atravs de colises com outros monmeros ou dmeros

no estado fundamental. A concentrao de CF utilizada neste trabalho foi de 2 mM para a

qual no h auto-supresso e a CF j est bastante diluda.

O PTS (Figura 21) uma sonda fluorescente contendo quatro grupos carregados

negativamente e que pode ser utilizada em vrios pHs porque o pKa dos grupos sulfonatos

so muito baixos (pka 1) e o PTS mantm 4 cargas negativas numa faixa de pH bastante

ampla (SANTOS et al., 2007).

41

Figura 21- Estrutura da molcula do Pireno Tetrasulfonato de Sdio.

3.7.1.1 Vesculas com CF/PTS e Medidas de Fluorescncia

Para estes experimentos foi preparada uma soluo 2 mM de CF em tampo Tris-HCl

50 mM pH 7,4 ou 1 mM de PTS em tampo acetato 50 mM pH 5,0, dependendo do pH que se

pretendia estudar. Filmes lipdicos DPPC:LA 10 mM foram ressuspendidos em 500 L destas

solues contendo CF ou PTS e as vesculas multilamelares formadas foram extrusadas. Com

isso, foram obtidas LUV contendo fluorforo em seu interior e exterior. Uma coluna de

Sephadex G25 mdio, com volume de aproximadamente 79,5 cm3 (dimetro: 1,5 cm, altura:

45 cm), foi utilizada para separar os lipossomas contendo CF ou PTS do fluorforo livre, no

encapsulado. O volume de amostra colocada na coluna foi de 300 L. Nesta cromatografia de

excluso as LUV, por serem maiores que a CF ou PTS livre, so eludas primeiro, no volume

morto da coluna (V0). O fluorforo livre por sua vez, por ser pequeno, percorre um caminho

maior, pois permeia os poros do Sephadex (FIGURA 22) sendo eludo no volume interno da

coluna (Vi).

Figura 22- Cromatografia de permeao em gel por excluso de tamanho.

42

Foram coletadas todas as fraes eludas da coluna, de 1 em 1 mL, e a fluorescncia de

cada frao foi detectada em um Fluormetro Shimadzu RF-5301PC, com exc: 490 nm

e em: 520 nm para a CF e exc: 355 nm e em: 405 nm para o PTS. Para as fraes

coletadas contendo LUV as medidas de fluorescncia foram feitas aps a adio de 25

L de uma soluo 10% de Polidocanol amostra para evitar disperso da luz.

Foram feitos grficos de Fluorescncia vs. Volume (mL) eludo para identificar os

tubos contendo vesculas (eludas no Vo) e aqueles com CF ou PTS livre e determinar a

porcentagem de encapsulamento nos lipossomas com relao ao total de CF ou PTS

(FIGURA 23).

Figura 23- Cromatograma obtido para o encapsulamento de sonda fluorescente. O primeiro e menor pico

corresponde s vesculas contendo fluorforo em seu interior e o pico maior, ao fluorforo no encapsulado. No

inserto mostrada a fluorescencia das amostras contendo as LUV com CF.

No cromatograma acima so observados dois picos, o primeiro contendo LUV com

CF ou PTS (as amostras so turvas) e um segundo pico contendo apenas o fluorforo livre.

Calculamos o nmero de mols de CF ou PTS em todos os tubos. A porcentagem de

encapsulamento (%) a razo entre o nmero de mols do primeiro pico (Vo) dividido pelo

nmero total de mols de CF ou PTS (moles no Vo + moles Vi) multiplicado por 100 (Equao

3).

% = 0

0+ 100

(Equao3)

43

Para cada uma das formulaes foi determinada a % CF (pH 7,4) ou % PTS (pH 5,0) no

interior aquoso das vesculas.

3.7.2 Encapsulamento de Marcador de Spin

A tcnica de EPR muito especfica em suas aplicaes, pois depende da presena de

centros paramagnticos (eltron desemparelhados) nos sistemas estudados. Somente

molculas que possuem ao menos um eltron desemparelhado podem ser detectadas por EPR.

A tcnica se baseia na aplicao de um campo magntico (H), sob a ao do qual os nveis de

energia do momento magntico de spin do eltron (mS= ) se tornam divergentes.

Aplicando na amostra contendo uma sonda com eltron desemparelhado, e sob a ao de um

campo magntico, uma energia adequada na forma de radiao eletromagntica (h),

possvel induzir a transio entre os nveis de energia do momento magntico de spin, que

nessa condio no so degenerados (mS= + e mS= -) (FIGURA 24) (SCHREIER, 1979).

A quantidade de absoro da microonda proporcional concentrao do marcador na

amostra.

Figura 24- Esquema mostrando o prncipio da tcnica de EPR com a transio entre os nveis de energia do

momento magntico de spin.

44

Os radicais livres mais utilizados como marcadores de spin so os radicais nitrxido. O

uso dessas espcies deve-se ao fato de serem estveis em solventes com diferentes

propriedades fsico-qumicas, em uma ampla faixa de pH e de temperatura. A estabilizao

desses radicais deve-se presena de grupos metila, ligados aos tomos de carbonos vizinhos

ao tomo de nitrognio que estabilizam o radical (SCHREIER, 1979).

Quando um marcador de spin com grupamento N-O est em meio aquoso juntamente

com ascorbato (FIGURA 25), ocorre uma rpida reduo da espcie paramagntica (FIGURA

26) e o sinal da sonda desaparece.

Figura 25- Reduo da molcula de ascorbato.

Figura 26- Reao entre o marcador de spin CAT1 e o ascorbato.

3.7.2.1 Vesculas com CAT1 e Medidas de EPR

Para confirmar os resultados obtidos por fluorescncia, os experimentos de % de

encapsulamento foram repetidos, por EPR, sob orientao da Profa Dra Shirley Schreier e

auxlio do aluno de doutorado Gustavo Battesini, usando como sonda o CAT1 (FIGURA 27)

nos pHs 7,4 e 5,0.

45

Figura 27- Estrutura molecular do CAT1.

Foram preparadas solues de CAT1 3,75 mM nos tampes Tris-HCl 50 mM pH 7,4 e

Acetato 50 mM pH 5,0. As concentraes de CAT1 em soluo foram determinadas usando

Tempol como padro. Tambm foram preparadas solues de cido ascrbico 0,04 M, nestes

mesmos tampes, para suprimir o sinal do CAT1 atravs de uma reao de xido-reduo

(Figura 25). Filmes lipdicos de DPPC:LA 10 mM foram preparados, ressuspendidos nas

solues de CAT1, vortexados e extrusados.

Os espectros de EPR foram adquiridos a temperatura ambiente em um espectrmetro

Bruker EMX-200 com potncia de 5 mW, amplitude de modulao de 1 G, varrendo o campo

de 16 G centrado em 3455 G. O ganho foi ajustado de acordo com a concentrao do

marcador na amostra. Para as amostras sem adio de ascorbato, o ganho foi de 2,83x102 e

aps adio de ascorbato, 2,83x103.

As amostras de lipossomas contendo CAT1 (170 L) foram colocadas em celas de

quartzo planos (Wilmad, EUA) e os espectros de EPR foram registrados; em seguida,

adicionou-se 10 L do cido ascrbico, para reagir com o CAT1 no encapsulado, como

mostrado na Figura 26. O ascorbato no deve atravessar a bicamada dos lipossomas por ser

muito hidroflico.

Os espectros foram posteriormente analisados com o software WINEPR (Bruker). A

linha obtida foi integrada duas vezes para obteno do valor de absoro da microonda,

proporcional concentrao de CAT1 na amostra, e os valores obtidos normalizados pelo

ganho. O volume interno foi calculado pela Equao 4, onde, o sinal total refere-se ao valor

normalizado obtido sem a adio do ascorbato, e o sinal final aps a adio de ascorbato, com

seu valor corrigido de acordo com a diluio.

() = 170

Conhecendo-se o volume de CAT1 encapsulado foi calculada a porcentagem de

encapsulamento (Equao 5):

(Equao4)

(5)

46

% = 100 ()

170

Os experimentos a seguir, descritos nos itens 3.8 e 3.9 foram realizados durante um

estgio realizado na Faculdade de Farmcia da Universidade do Porto em Portugal,

juntamente ao grupo de Biotecnologia e Biofsica Molecular, sob a superviso da Profa.

Dra. Salette Reis e da Dra. Cludia Nunes.

3.8 LIBERAO DO CIDO LURICO MEDIDA POR DILISE

Para verificar a cintica de liberao do LA incorporado nas vesculas de DPPC (T

25C, condies de prateleira) foram feitos experimentos de dilise. Neste experimento

esperado que apenas o cido lurico passe pela membrana de dilise e os lipossomas, que so

maiores (100 nm) fiquem em seu interior (FIGURA 28).

Figura 28- Esquema do experimento de liberao do LA.

Foram preparadas LUV DPPC:LA 0,5 mM nos tampes Tris-HCl 10 mM pH 7,4 e

Acetato 10 mM pH 5,0. Foi colocado 1 mL de amostra no interior de dispositivos de dilise

(Spectra/Por Float-A Lyzer G2 (Spectrum)) (FIGURA 29) com tamanho de poro 3,5 kD e, na

parte externa do dispositivo, 6 mL da mesma soluo tampo em que foi preparada a amostra,

sob agitao. Para calcular o volume de soluo tampo que se deve adicionar na parte

externa do dispositivo, foi considerada a solubilidade do LA em gua (0,0183 mg/L), uma vez

que deve-se garantir que a concentrao de LA no sistema seja pelo menos 3 vezes menor ou

Membrana de Dilise

Soluo Tampo

25 C

47

igual (0,0183 mg/mL) ao seu mximo de solubilidade em gua para evitar sua precipitao na

fase aquosa.

Figura 29- Dispositivo de dilise.

A cada 1 hora, 1 mL da frao externa foi coletada e colocada em um eppendorf. Para

manter as condies de sink, o mesmo volume retirado foi reposto com soluo tampo. A

coleta foi feita por um perodo de 3 dias e a quantificao do LA liberado foi feita por

espectrometria de massas.

3.9 DIFUSO DO CIDO LURICO POR CLULA DE FRANZ

A clula de difuso de Franz (FIGURA 30) uma clula de difuso esttica, de dose

finita, onde a pele montada e a derme fica em contato com uma soluo doadora,

mimetizando as condies in vivo. A temperatura do sistema deve ser controlada e mantida

por um banho termostatizado que envolve a cmara receptora; a distribuio homognea da

temperatura na soluo alcanada pelo emprego de barras magnticas controladas por

agitadores magnticos externos.

Como membrana para difuso das LUV com LA foi utilizada a pele de orelha de porco,

que foi limpa e armazenada em freezer at seu uso.

Antes de realizar os experimentos com as LUV, foi realizado um ensaio piloto, apenas

com soluo tampo, para verificar a quantidade de LA presente na pele de orelha de porco.

48

Os experimentos foram realizados nos pHs 7,4 e 5,0, usando os tampes Tris-HCl e Acetato,

respectivamente, ambos na concentrao de 10 mM.

Foram colocados 5 mL da soluo tampo na cmara receptora e 500 L de amostra ou

soluo tampo na cmara doadora. A clula de Franz foi colocada dentro de um bquer com

gua a 37 C. A temperatura se estabilizou em 15 minutos e o tempo de incubao foi de 8

horas, que considerado o tempo mximo de permanncia de um produto na pele. A cada 1

hora foi retirada uma alquota de 500 L de soluo da cmara receptora para quantificar o

LA e verificar sua permeao sobre a pele. Para manter as condies de sink, estes mesmos

500 L foram repostos, utilizando as solues tampo.

Figura 30- Sistema de difuso de Franz

3.10 QUANTIFICAO DOS FOSFOLIPDIOS

Alquotas das amostras de LUV de DPPC:LA foram adicionadas a tubos de ensaio

previamente tratados com HCl concentrado e foram secas em estufa a 120C. Aps secagem

adicionou-se 0,4 mL de cido perclrico 70 % a cada alquota. Os tubos foram mantidos por 1

hora em um digestor a 180 C, tempo necessrio para mineralizar os lipdios. Aps

resfriamento temperatura ambiente, adicionou-se 1 mL de gua e 0,4 mL de molibdato de

amnio 1,25 % (p/v) s amostras. Os tubos foram agitados num vrtex imediatamente aps

cada adio. Em seguida, adicionou-se s amostras 0,4 mL de uma soluo de cido ascrbico

3 % (p/v), agitaram-se os tubos em um vrtex novamente e as amostras foram mantidas em

banho fervente por cerca de 10 minutos. Aps esse perodo os tubos foram resfriados em gua

49

corrente e a absorbncia foi lida em 797 nm. A curva padro foi feita utilizando como padro

uma soluo de KH2PO4 0,001 M.

3.11 QUANTIFICAO DO CIDO LURICO

Para a quantificao do LA referente aos experimentos de liberao de LA e difuso por

clula de Franz foi utilizada a tcnica de cromatografia lquida acoplada ao espectrmetro de

massas (LC-MS). A anlise foi realizada em um sistema Nexera X2 UPLC, consistindo de

duas bombas LC-30AD, um degassificador DGU-20A5R, coletor de amostras SIL-30AC e

forno CTO-20AC (Shimadzu Corporation, Kyoto, Japo). O sistema de MS era um LCMS-

8040 triplo quadripolo equipado com fonte de ionizao eletrospray (ESI) (Shimadzu

Corporation, Kyoto, Japo).

Antes da quantificao, foi necessria extrao do LA das amostras de lipossomas. As

amostras estavam armazenadas em eppendorfs de 1,5 mL, nos quais foram colocados 200 L

de clorofrmio com uma seringa de vidro. Agitaram-se os eppendorfs e a fase orgnica foi

retirada e transferida para tubos limpos. A extrao foi feita 3 vezes para cada uma das

amostras. Em seguida os tubos foram levados a um banho seco a 45 C com nitrognio para

que o clorofrmio fosse evaporado e restasse apenas a fase orgnica seca para ser

ressuspendida em 500 L de uma mistura acetonitrila:gua 80:20 (v/v).

A separao por cromatografia foi realizada utilizando uma coluna C8 de fase reversa

Kinetex core-shell (150 x 2.1 mm; 2.6 m particle size; 100 ) (Phenomenex, Torrance, CA,

USA). A temperatura da coluna foi mantida a 30C. A eluio foi realizada no modo

isocrtico, usando-se acetonitrila:gua 80:20 (v/v) em um fluxo de 0.2 mL min-1. O volume de

injeo foi de 2 L e o tempo total da anlise foi de 12 minutos. Como padro interno, foi

utilizado o cido mirstico, um C14.

O espectrmetro de massas foi operado no modo de ionizao negativa (ESI-) e o