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Universidade de S ˜ ao Paulo Ffclrp - Departamento de Biologia Programa de P ´ os-Gradua¸ c ˜ ao em Entomologia Mecanismos de adapta¸c˜ ao e ecologia evolutiva das abelhas das orqu´ ıdeas (Hymenoptera: Apidae: Euglossini). Alejandro Parra-H Tese apresentada ` a Faculdade de Filosofia, Ciˆ encias e Letras de Ribeir˜ ao Preto da USP, como parte das exigˆ encias para a obten¸ c˜aodot´ ıtulo de Doutor em Ciˆ encias, ´ Area: ENTOMOLOGIA Ribeir ˜ ao Preto - SP 2014

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  • Universidade de São Paulo

    Ffclrp - Departamento de Biologia

    Programa de Pós-Graduação em Entomologia

    Mecanismos de adaptação e ecologia evolutiva das abelhas das orqúıdeas

    (Hymenoptera: Apidae: Euglossini).

    Alejandro Parra-H

    Tese apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências

    e Letras de Ribeirão Preto da USP, como parte das

    exigências para a obtenção do t́ıtulo de Doutor em

    Ciências, Área: ENTOMOLOGIA

    Ribeirão Preto - SP

    2014

  • Alejandro Parra-H

    Mecanismos de adaptação e ecologia evolutiva das abelhas das orqúıdeas

    (Hymenoptera: Apidae: Euglossini).

    Tese apresentada à Faculdade de Filosofia,

    Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP,

    como parte das exigências para a obtenção do

    t́ıtulo de Doutor em Ciências.

    Área: ENTOMOLOGIA

    Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Garófalo

    Ribeirão Preto - SP

    2014

  • Λπδ

    LATEX.

  • Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

    convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

    Parra-H, Alejandro

    Mecanismos de adaptação e ecologia

    evolutiva das abelhas das orqúıdeas (Hymenoptera:

    Apidae: Euglossini). 118 p. f. : il.

    Tese de Doutorado. Departamento de Bi-

    ologia. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ri-

    beirão Preto - USP.

    Orientador: Garófalo, Carlos Alberto

    1. Abelhas das orqúıdeas. 2. Adaptação. 3. Ecologia

    de comunidades. 4. Evolução. 5. Seleção.

    I. Departamento de Biologia. Faculdade de Filosofia,

    Ciências e Letras de Ribeirão Preto

  • Nome: Alejandro Parra-H

    Titulo: Mecanismos de adaptação e ecologia evolutiva das abelhas das orqúıdeas (Hyme-

    noptera: Apidae: Euglossini).

    Tese apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Le-

    tras de Ribeirão Preto da USP, como parte das exigências

    para a obtenção do t́ıtulo de Doutor em Ciências, Área:

    ENTOMOLOGIA

    Aprovado em:

    Banca examinadora:

    Prof. Dr. Prof. Dr.

    Nome Nome

    Prof. Dr. Prof. Dr.

    Nome Nome

    Prof. Dr.

    Nome

  • A Rita, Federico, Daniel, Carmen Agustina...

    e às sensacionais abelhas

  • Agradecimentos

    Ao Prof. Dr. Carlos Alberto Garófalo pela orientação e paciência durante o transcurso

    do projeto, à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nı́vel Superior (CAPES) e

    o Ministério das Relações Exteriores (MRE) pela bolsa de estudo outorgada (Programa

    de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC − PG)), às embaixadas do Brasil emPanamá e Bogotá pela colaboração com o pedido da bolsa, ao Conselho Nacional de

    Desenvolvimento Cient́ıfico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento da pesquisa, a Re-

    nata e Vera das secretarias dos programas de Pós-Graduação em Entomologia e Biologia

    Comparada respetivamente do Departamento de Biologia (FFCLRP−USP ) pelo apoio eoportunas indicações oferecidas, ao Centro de Apoio ao Professor e Estudante Estrangeiro

    (CAPEE) pelo sobressalente acompanhamento da situação migratória, ao serviço social

    da Prefeitura do Campus USP de Ribeirão Preto (PUSP −RP ) pelo auxilio de moradia,a Elisa Pereira Queiroz, Let́ıcia Biral de Faria e Katia Paula Aleixo pelo acompanha-

    mento no processo de acetólise e pela instrução no uso dos equipamentos do Laboratório

    de Palinologia do Setor de Ecologia do Departamento de Biologia, Faculdade de Filosofia

    Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP, a José Carlos Serrano e à Dra. Cláudia Inês da

    Silva pela identificação do material correspondente a abelhas e tipos poĺınicos respetiva-

    mente, a Edilson Simão Ribeiro da Silva pela colaboração com a loǵıstica das coletas, ao

    Instituto Florestal da Secretaria do Meio Ambiento do Estado de São Paulo e a Secretaria

    Municipal de Planejamento e Meio Ambiente da Prefeitura do Munićıpio de Jundiáı pela

    autorização de coleta no PEV e na ReBio respetivamente, à equipe do Parque Estadual

    de Vassununga especialmente a Patŕıcia, Bruna, Valdonesio, Sr. Antônio Crema, Priscila,

    Heverton e Eloisa pela ajuda e acompanhamento durante a pesquisa, ao Ronaldo e Sr.

    Lauro pela assistência na Base Ecológica durante as coletas na Serra do Japi, a Luciano

    pela sempre oportuna ajuda informática, a Juan Manuel e Natalia pela amizade e apoio,

    a Daniel, Guiomar, Natalia e Rodulfo pelos permanentes comentários, aos meus colegas

    de escalada particularmente a Zoro, Carol, Ram, Thiago, Daniela, Omar, Júlio, Leo, Mar-

    celo, Guilherme e Soraia pela segurança e ensinamentos, a Ana pelo carinho e amizade, a

    Dora, Andrés, Lina, Andréa, Morgana, Mauricio, Let́ıcia, Elisa, Katia, Sebastian, Ayrton

    e Danielle pela amizade, aos colegas do(s) laboratório(s), a Edigildo e familia pela sua

    hospitalidade, “a la gente de bien” e ao Sr. José Néstor “y sus estrellas” eu agradeço.

  • All animals are equal, but some animals are more equal than others.

    Eric Arthur Blair (George Orwell). 1945.

    The data may not contain the answer. The combination of some data and an aching

    desire for an answer does not ensure that a reasonable answer can be extracted from a

    given body of data.

    John Tukey. 1979.

    Es chévere ser grande, pero más grande es ser chévere.

    Hector Juan “Lavoe” Pérez. 1986.

    Beauty and seduction, I believe, is the nature’s tool for survivor.

    Louie Schwartzberg. 2011.

  • Resumo

    Parra-H. A. Mecanismos de adaptação e ecologia evolutiva das abelhas das

    orqúıdeas (Hymenoptera: Apidae: Euglossini). 2014. 118 pp. Tese (Doutorado).

    Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo.

    Os insetos apresentam uma importante variedade de formas, tamanhos e comportamentos

    que são reflexo da alt́ıssima capacidade adaptativa que possuem. Isso é resultado de

    mudanças ao longo do tempo que, dependendo se permanecem ou não de uma geração

    para outra, afetarão a sobrevivência, aptidão, reprodução e, em geral, capacidade das

    populações de se ajustar em um ambiente. Esse fenômeno de mudança é conhecido na

    área de ciências naturais como teoria da evolução e explica a grande diversidade que

    compreende o bioma. Entre os insetos, um exemplo de diversidade e adaptação são as

    abelhas. O principal agente polinizador do planeta tem carateŕısticas únicas que evolúıram

    da adaptação à predação de pólen, o que lhes permitiu se diversificar junto com seus

    hospedeiros: as plantas com flor. Entre as abelhas, a tribo Euglossini ou abelhas das

    orqúıdeas, são um caso particular devido ao comprimento das suas ĺınguas, muitas vezes

    desproporcional que, em conjunto com outras habilidades intŕınsecas dos insetos (voar e

    termorregular), fazem deles polinizadores muito espećıficos. Através da análise da variação

    e frequência desses traços foram estudadas duas gerações de várias populações simpátricas

    de abelhas das orqúıdeas no estado de São Paulo. Usando regressões lineares múltiplas e

    vários modelos lineares determinou-se que medidas que expressam a massa corporal em

    relação ao comprimento da ĺıngua apresentavam uma mudança no valor da média e da

    variância de uma geração para outra. De maneira similar, observou-se que esta variação

    ocorre junto com uma mudança importante na tipologia das interações com recursos

    vegetais por parte da comunidade. Este tipo de variação corresponde aos três processos de

    seleção natural conhecidos: disruptivo, estabilizador e direcional. A mudança destes traços

    fenot́ıpicos de maneira drástica e rápida é provavelmente resultado de repetidos processos

    de transformação, trazendo como principal consequência a diminuição na estabilidade da

    interação abelha-planta e uma rápida divergência da aptidão entre gerações.

    Palavras-chave: Abelhas das orqúıdeas, Adaptação, Ecologia de comunidades, Evolu-

    ção, Seleção.

  • Abstract

    Insects show a variety of shapes, sizes and behaviour that reflect their high adaptive

    capacity. Their diversity is the result of changes over time that, depending on whether

    or not they are fixed between generations, affects survival, fitness, and in a general sense,

    the ability of the population to engage in an environment. This phenomenon —known as

    the theory of evolution— explains the great diversity that comprises the biome. Among

    insects, bees are an example of diversity and adaptability. The main pollinator agent on

    the planet has unique features that probably evolved from the adaptation to predation

    of pollen, which allowed them to diversify together with their hosts: the flowering plants.

    Among bees, the orchid bee tribe Euglossini, are particular due to the length of their

    tongues, often disproportionate, which together with other intrinsic abilities of insects

    (flying and thermoregulation), make them very specific pollinators. We analysed the

    frequency and variation these features in two generations of several sympatric populations

    of orchid bees from São Paulo State (Brazil). Using multiple linear regression and linear

    models we determined that mean and variance of body weight changes in relation to

    the length of the tongue from one generation to another. Similarly, we found that this

    variation is correlated with the interactions between the euglossine community and its

    plant resources. The phenotypical variation detected comprises the three processes in

    natural selection: disruptive, stabilizing and directional. Rapid and drastic changes in

    quantitative phenotypic traits are probably due repeated processes of transformation.

    This overall variation decreases the stability of the bee-plant interaction and could lead

    to rapid fitness divergences between generations.

    Keywords: Adaptation, Community ecology, Evolution, Orchid bees.

  • Resumen

    La importante diversidad de formas, tamaños y comportamientos de los insectos son un

    reflejo de su enorme capacidad adaptativa. Este es el resultado de cambios a través de

    las generaciones que afectan su supervivencia, capacidad reproductiva y en general, su

    capacidad de ”encajar”en un ambiente. Dentro de los insectos, un ejemplo de diversidad

    y adaptación son las abejas. El principal agente polinizador del planeta tiene caracte-

    ŕısticas únicas que surgieron de la adaptación a la depredación de polen. Esto permitió

    su diversificación y la de sus hospederos: las plantas con flor. Dentro de las abejas, la

    tribu Euglossini o abejas de las orqúıdeas, son un caso especial debido a la longitud de sus

    lenguas, a veces desproporcionada, y que en conjunto con otras capacidades intŕınsecas

    de los insectos (volar y termorregular) los convierten en polinizadores muy espećıficos. Se

    analizó la variación de la frecuencia de estos rasgos, en distintas poblaciones simpátricas

    de machos abejas de las orqúıdeas en el estado de São Paulo (Brasil), durante dos gene-

    raciones. Mediante el uso de modelos y regresiones lineales múltiples se determinó que

    la frecuencia de diferentes proporciones de masa corporal y longitud de la lengua de la

    comunidad de estos machos, presentaban un cambio en el valor de su media y varianza de

    una generación para otra. Los patrones de cambio en la frecuencia de estas caracteŕısticas

    multialélicas corresponden a lo que en teoŕıa evolutiva se conoce como selección disrup-

    tiva, estabilizante y direccional. El hecho de detectar los tres tipos posibles de selección,

    sumado a la fuerte variación de las interacciones entre la comunidad de euglosinos y sus

    recursos vegetales, sugiere que ésta se encuentra bajo un proceso de selección rápida. Este

    tipo de selección en insectos se conoce principalmente a nivel molecular, por lo que para

    el caso de la comunidad estudiada, la explicación de tal variación en caracteŕısticas fe-

    not́ıpicas seria el intenso nivel de perturbación en el cual se encuentra el ecosistema que

    los alberga. Tal perturbación estaŕıa seleccionando las poblaciones de estos polinizado-

    res de manera artificial y la consecuencia más evidente seria la desestabilización de las

    interacciones que la tribu Euglossini mantiene con distintas especies vegetales.

    Palavras-clave: Abejas de las orqúıdeas, Adaptación, Ecoloǵıa de comunidades, Evolu-

    ción, Selección.

  • Lista de abreviaturas e siglas

    AC: Altura da Cabeça

    APA: Área de Proteção Ambiental de Jundiáı

    BLUP: Melhor Predição Linear não Enviesada (Best Linear

    Unbiased Prediction)

    CoL: Comprimento da Glossa

    CONDEPHAAT: Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,

    Art́ıstico, Arqueológico e Tuŕıstico do Estado de São Paulo

    CR: Comprimento da célula radial

    CT: Comprimento do Tórax

    DCA: Análise de Correspondência Retificada (Detrended Cor-

    respondence Analysis)

    LiO: Largura inter-ocular

    LT: Largura do Tórax

    NODF: Métrica de Aninhamento Baseada na Sobreposição e

    Diminuição da Ocupação (Nestedness Metric Based on Over-

    lap and Decreasing Fill)

  • PDI: Índice de Diferença Pareada (Paired Difference Index)

    PEV: Parque Estadual de Vassununga.

    ReBio: Reserva Biológica da Serra do Japi

    SbC: Somatório do Comprimento das Veias Posteriores das

    Células Submarignais da Asa Anterior

    13

  • Lista de Figuras

    1 Alguns exemplos pelos quais são reconhecidas as

    abelhas das orqúıdeas: A. machos de Euglossa sp.

    vistando flores de Mormodes sp. na t́ıpica śındrome

    de polinização por machos de Euglossini, B. Duas fê-

    meas de Euglossa imperialis trabalhando juntas no

    desenvolvimento de um ninho e C. fêmea de Exae-

    rete frontalis atacando células de cria de Eulaema

    meriana. Estes últimos exemplos fazem referência

    à diversidade comportamental da tribo. . . . . . . . 35

    2 Pontos de coleta nas glebas Capetinga leste (várzea

    – B 1 Vass, B 2 Vass e B 3 Vass) e Capetinga oeste

    (floresta semidećıdua – Vass Cap JeqB1, Vass Cap

    JeqB2 e Vass Cap JeqB3) do Parque Estadual de

    Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro, SP. . . . 39

    3 Pontos de coleta na gleba Pé-de-Gigante (cerrado -

    Pe Gig B1, Pe Gig B2 e Pe Gig B3) do Parque Es-

    tadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro,

    SP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

    14

  • 4 Pontos de coleta na Reserva Biológica d Serra do

    Jaṕı, Jundiáı, Sp: Base (Banco, Japi Trilh 2 e Japi

    Trilh 3), Setor Cidinho (Japi Cidh 1, Japi Cidh 2 e

    Japi Cidh 3) e sitio Cururu (Japi Cur 1, Japi Cur 2 e

    Japi Cur 3). Nesta reserva não há distinção no tipo

    de vegetação, mas foi considerado para os pontos a

    influencia de floresta semidećıdua e floresta atlântica 43

    5 A. Elementos para transporte e montagem da isca

    em campo. B e C. Machos de Euglossa spp. no

    momento da coleta. . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

    6 Medidas tomadas dos machos. A. altura da cabeça

    (AC) e largura inter-ocular (LiO), B. comprimento

    (CT) e largura do tórax (LT), C. comprimento da

    célula radial (RC) e comprimento das veias posteri-

    ores das células submarignais da asa anterior (SbC)

    e D. comprimento da glossa (CoL). . . . . . . . . . 50

    7 Curva de acumulação de espécies com a variação por

    śıtios de coleta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

    15

  • 8 Estimativa da diversidade da comunidade amostrada:

    Shannon (H), Simpson, inverso do Simpson (inv-

    simpson), Simpson não enviesado (simp.n.e) e di-

    versidade Alfa de Fisher (alpha). . . . . . . . . . . 62

    9 Diagrama de caixa para o número de espécies de

    Euglossini para os pontos de coleta por bioma do A:

    primeiro ano (pais) e B: segundo ano (filhos). . . . . 63

    10 Dendrograma de dissimilaridade para o pontos de

    coleta de A: primeiro ano e B: segundo ano. . . . . 64

    11 Ordenação dos quadrantes para o 1° e 2° eixo da

    Análises de Correspondência Retificada para as es-

    pécies de machos coletadas por ponto de coleta. . . 65

    16

  • 12 Estimativa das interações das proporções A: Altura

    da cabeça/Comprimento da Lingua (AC/CoL), B:

    Comprimento do tórax/Comprimento da ĺıngua (CT/CoL)

    e C: Comprimento da célula radial/Comprimento do

    tórax (CR/CR) com a estação do ano. Dados obti-

    dos a partir dos machos de Euglossini coletados no

    Parque Estadual de Vassununga (PEV), Santa Rita

    do Passa Quatro e na Reserva Biológica da Serra

    do Japi (ReBio), Jundiai, SP, no peŕıodo de abril

    de 2011 a fevereiro de 2013. A largura da linha re-

    presenta o intervalo de confiança e aquelas linhas se

    sobrepondo ao intercepto (0) denotam interação . . 68

    17

  • 13 Histograma de frequências com as suas densidades

    dos valores das proporções Altura da cabeça/Comprimento

    da Lingua (AC/CoL), Comprimento do tórax/Comprimento

    da ĺıngua (CT/CoL) e Comprimento da célula ra-

    dial/Comprimento do tórax (CR/CR) dos machos

    de Euglossini coletados no Parque Estadual de Vas-

    sununga (PEV), Santa Rita do Passa Quatro e na

    Reserva Biológica da Serra do Japi (ReBio), Jun-

    diai, SP, no peŕıodo de abril de 2011 a fevereiro de

    2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

    14 Gráfico de interações dos machos de Euglossini cole-

    tados e os recursos vegetais utilizados no Parque Es-

    tadual de Vassununga (PEV), Santa Rita do Passa

    Quatro e na Reserva Biológica da Serra do Japi (Re-

    Bio), Jundiai, SP. Correspondem as redes de A: pri-

    meira geração (O nome dos tipos poĺınicos foi omi-

    tido para evitar rúıdo) e B: segunda geração. . . . 75

    18

  • 15 Gráfico dos quartis da amostra (pontos) e quartis

    teóricos de uma distribuição normal (linha) para as

    proporções Altura da cabeça/Comprimento da Lin-

    gua (AC/CoL) (acima), Comprimento do tórax/Comprimento

    da ĺıngua (CT/CoL) (meio) e Comprimento da cé-

    lula radial/Comprimento do tórax (CR/CR) (abaixo)

    dos machos de Euglossini coletados no Parque Es-

    tadual de Vassununga (PEV), Santa Rita do Passa

    Quatro e na Reserva Biológica da Serra do Japi (Re-

    Bio), Jundiai, SP, no peŕıodo de abril de 2011 a fe-

    vereiro de 2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

    16 Histograma de frequências com as suas densidade

    das medidas e peso do corpo dos machos de Eu-

    glossa coletados no Parque Estadual de Vassununga

    (PEV), Santa Rita do Passa Quatro e na Reserva

    Biológica da Serra do Japi (ReBio), Jundiai, SP, no

    peŕıodo de abril de 2011 a fevereiro de 2013. . . . . 93

    19

  • 17 Histograma de frequências com as suas densidade

    das medidas e peso do corpo dos machos de Eufri-

    esea, Eulaema e Exaerete coletados no Parque Es-

    tadual de Vassununga (PEV), Santa Rita do Passa

    Quatro e na Reserva Biológica da Serra do Japi (Re-

    Bio), Jundiai, SP, no peŕıodo de abril de 2011 a fe-

    vereiro de 2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

    18 Diagrama de caixa para as medidas e peso corporal

    dos machos de Euglossini coletados no Parque Es-

    tadual de Vassununga (PEV), Santa Rita do Passa

    Quatro e na Reserva Biológica da Serra do Japi (Re-

    Bio), Jundiai, SP, no peŕıodo de abril de 2011 a fe-

    vereiro de 2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

    19 Diagrama Cleveland de pontos para as medidas e

    peso corporal dos machos de Euglossini coletados no

    Parque Estadual de Vassununga (PEV), Santa Rita

    do Passa Quatro e na Reserva Biológica da Serra do

    Japi (ReBio), Jundiai, SP, no peŕıodo de abril de

    2011 a fevereiro de 2013. . . . . . . . . . . . . . . . 96

    20

  • 20 Gráfico bivariável (xyplot) para as medidas e peso

    corporal dos machos de Euglossini coletados no Par-

    que Estadual de Vassununga (PEV), Santa Rita do

    Passa Quatro e na Reserva Biológica da Serra do

    Japi (ReBio), Jundiai, SP, no peŕıodo de abril de

    2011 a fevereiro de 2013. . . . . . . . . . . . . . . . 97

    21 Gráfico dos quartis das medidas e peso corporal dos

    machos de Euglossini e quartis teóricos de uma dis-

    tribuição normal. Os dados são provenientes das co-

    letas realizadas no Parque Estadual de Vassununga

    (PEV), Santa Rita do Passa Quatro e na Reserva

    Biológica da Serra do Japi (ReBio), Jundiai, SP, no

    peŕıodo de abril de 2011 a fevereiro de 2013. . . . . 98

  • Lista de Tabelas

    1 Frequência de ocorrência de machos de Euglossini

    por ano de coleta para os biomas e reservas amos-

    trados no Parque Estadual de Vassununga (PEV),

    Santa Rita do Passa Quatro, e na Reserva Biológica

    da Serra do Japi, Jundiai, SP, no peŕıodo de abril

    de 2011 a fevereiro de 2013. . . . . . . . . . . . . . 61

    2 Tipos poĺınicos mais frequentes presentes no corpo

    dos machos de Euglossini para os quais se obteve

    uma aproximação na identificação. As informações

    são provenientes dos machos coletados no Parque

    Estadual de Vassununga (PEV), Santa Rita do Passa

    Quatro e na Reserva Biológica da Serra do Japi (Re-

    Bio), Jundiai, SP, no peŕıodo de abril de 2011 a fe-

    vereiro de 2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

    22

  • 3 Média e desvio padrão (dp) das medidas de massa

    e tamanho corporal das espécies dos machos de Eu-

    glossini amostrados no Parque Estadual de Vassu-

    nunga (PEV), Santa Rita do Passa Quatro e na Re-

    serva Biológica da Serra do Japi (ReBio), Jundiai,

    SP, no peŕıodo de abril de 2011 a fevereiro de 2013. 70

    4 Valor de p do teste t das regressões múltiplas e fator

    de inflação da variância (FIV) para os modelos com-

    pleto e reduzido das medidas do corpo em função da

    massa corporal dos machos de Euglossini coletados

    no Parque Estadual de Vassununga (PEV), Santa

    Rita do Passa Quatro, e na Reserva Biológica da

    Serra do Japi (ReBio), Jundiai, SP, no peŕıodo de

    abril de 2011 a fevereiro de 2013. . . . . . . . . . . 71

    5 Valores de variância, média e desvio padrão (dp)

    da frequência das proporções de tamanho corporal,

    para cada geração, dos machos de Euglossini amos-

    trados no Parque Estadual de Vassununga (PEV),

    Santa Rita do Passa Quatro, e na Reserva Biológica

    da Serra do Japi (ReBio), Jundiai, SP, no peŕıodo

    de abril de 2011 a fevereiro de 2013. . . . . . . . . . 73

    23

  • 6 Valores resultantes da analise de variância das pro-

    porções do tamanho corporal, entre gerações, dos

    machos de Euglossini amostrados no Parque Esta-

    dual de Vassununga (PEV), Santa Rita do Passa

    Quatro, e na Reserva Biológica da Serra do Japi

    (ReBio), Jundiai, SP, no peŕıodo de abril de 2011 a

    fevereiro de 2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

    7 Valores da interação entre as comunidades de Eu-

    glossini e os recursos vegetais utilizados por gerações

    no Parque Estadual de Vassununga (PEV), Santa

    Rita do Passa Quatro, e na Reserva Biológica da

    Serra do Japi (ReBio), Jundiai, SP, no peŕıodo de

    abril de 2011 a fevereiro de 2013. . . . . . . . . . . 74

  • Conteúdo

    1 Introdução. 27

    2 Metodologia. 37

    2.1 Local de estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

    2.2 Clima. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

    2.3 As coletas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

    2.4 Caracterização morfológica. . . . . . . . . . . . . . 47

    2.5 Recursos vegetais (fontes de néctar) utilizados pelas

    espécies. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

    2.6 Abordagem estat́ıstica. . . . . . . . . . . . . . . . . 52

    2.7 Modelagem e predição da aptidão . . . . . . . . . . 56

    3 Resultados 60

    4 Discussão 76

    4.1 Identificando os processos e as causas da seleção. . . 76

    4.2 A questão dos recursos. . . . . . . . . . . . . . . . 80

    25

  • 4.3 Os processos evolutivos e seus mecanismos. . . . . 83

    5 Apêndices 90

    5.1 Processo de acetólise de pólen utilizado adaptado de

    Erdtman 1960 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

    5.2 Descrição das medidas e peso do corpo dos machos

    de Euglossini . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

    6 Referências 99

  • 1 Introdução.

    A consolidação da ideia de que as caracteŕısticas dos organismos,

    implicadas na sua sobrevivência e perpetuação, mudam de uma

    geração para outra e que essa variação pode ser adquirida ou her-

    dada diferencialmente pelas populações é provavelmente o evento

    mais marcante na história do pensamento cient́ıfico contemporâneo

    ([1],[2]). Esta ideia, conhecida como a teoria da evolução ([4], [3]),

    tem permitido desde então, propor novos mecanismos e processos

    pelos quais a grande diversidade que nos rodeia teria surgido ([5],

    [6]).

    A evolução precisa de condições espećıficas que permitam herda-

    bilidade das mudanças per se. Herdabilidade pode ser entendida

    como a proporção da variância fenot́ıpica que é devida a fatores

    genéticos. Temos que considerar que fatores ambientais são de al-

    guma maneira uma importante fonte de variação do fenótipo já

    que o ambiente também condiciona o genótipo ([7], [8]).

    O estudo da herdabilidade permite explicar vários aspectos ne-

    cessários para a evolução acontecer, como por exemplo: quanto

    27

  • do genótipo define o fenótipo dos indiv́ıduos e em contrapartida

    quanto dessa variação fenot́ıpica é produzida pelo entorno (habi-

    tat), quanto daquele fenótipo contribui à próxima geração e como a

    variação naqueles traços poderia influenciar a capacidade dos indi-

    v́ıduos de adquirir recursos e evitar predação entre outros aspectos

    ([7]).

    Essa relação entre a capacidade do indiv́ıduo (devido ao desem-

    penho das suas carateŕısticas) para subsistir e o sucesso de produzir

    descendência é conhecida como aptidão ([9]). A contribuição dos

    parentais à sua progênie é então uma função da aptidão e do fenó-

    tipo ([10]).

    Os traços dos indiv́ıduos envolvidos na aptidão têm um ńıvel de

    determinação genética pela qual serão subsequentemente transfe-

    ridos entre gerações; assim, variações dos traços favoreceriam ou

    não a população dependendo da resposta das carateŕısticas às fon-

    tes responsáveis pela variação. Essa condição ou causa pela qual

    podem ser fixadas (ou eliminadas) aquelas carateŕısticas é uma

    das explicações do processo evolutivo e se conhece como “seleção”

    ([10]). Esta é justamente a contribuição de Darwin e Wallace na

    28

  • consolidação à teoria da evolução ([11], [2]).

    A seleção como determinante da evolução junto com a redesco-

    berta dos prinćıpios pelos quais os organismos herdam suas carate-

    ŕısticas não poderiam ter se constitúıdo como uma ideia conjuntural

    sem a identificação de um elemento que permitisse essa variação

    acontecer: é devido à natureza mutável e recombinante do DNA1

    que todas as mudanças podem se expressar e transmitir inter e

    intra gerações ([12], [13]).

    Variação seria então a condição sem a qual não ocorreriam pro-

    cessos evolutivos, e como mencionado anteriormente, além dos me-

    canismos de herdabilidade intŕınsecos à natureza genot́ıpica que

    definem o fenótipo, a variação e seus processos estariam estreita-

    mente relacionados com o entorno no qual os organismos vêm se

    desenvolvendo e se adaptando ao longo do tempo ([14], [7]). Mu-

    danças acontecem também devido a que no habitat surgem intera-

    ções entre os organismos e vários dos elementos do entorno. Isso

    traz como resultado que na historia de vida desses indiv́ıduos se

    estabeleçam distintos processos evolutivos que relacionam ecossis-1Acido desoxirribonucleico pelas suas siglas em inglês.

    29

  • tema e fenótipo ([15], [16], [14], [17]).

    O fenótipo então pode ser entendido como a interface entre o

    DNA e o meio ambiente, sendo que, a totalidade dessas interações

    define o organismo. Essas interações são precisamente o objeto de

    estudo da ecologia ([18], [19], [20]).

    Considerando a influência determinante dos fatores ambientais

    e ecossistêmicos na evolução, abordagens ecológicas sobre as posśı-

    veis fontes de variação sob os traços ou carateŕısticas dos organis-

    mos, permitiria detectar tendências em processos de adaptação e

    seleção. Esse tipo de abordagem permite reconhecer elementos e o

    contexto que leva aos organismos a evolúırem. Em outras palavras,

    os estudos sobre como diferentes fenótipos entram em conformidade

    ou “harmonia” com o ambiente e como estão representados no ha-

    bitat através de gradientes constituem um caminho para detectar

    processos evolutivos ([12], [79], [14], [7]).

    As abelhas (Hymenoptera: Apoidea) - o mais diversificado e

    importante grupo de polinizadores - constituem um exemplo de

    adaptação, como forma de seleção, muito interessante e referen-

    30

  • ciado quando se discute sobre evolução ([22]). Se adaptabilidade

    é o grau ou ńıvel das capacidades que um organismo conseguiu

    adquirir para viver num contexto espećıfico ([23], [24], [2], [6]) as

    abelhas apresentam na sua biologia uma miŕıade de carateŕısticas

    que refletem essa propriedade evolutiva por sua vez determinante

    na diversificação do ecossistema ([25]).

    O grupo teria evolúıdo de um ancestral vespiforme que predava

    outros animais para alimentar sua prole ([25]). Aproximadamente

    há uns 100 milhões de anos, aquelas vespas teriam começado a tro-

    car de substrato de alimentação, tornando-se predadoras de pólen,

    que era uma “inovadora” fonte de protéına e energia oferecida pe-

    las emergentes plantas com flor ([26], [27], [25]). Como resultado

    do ińıcio dessa interação as abelhas desenvolveram desde aparelhos

    bucais sugadores até estruturas transportadoras de pólen; adapta-

    ções que geraram uma incŕıvel diversificação tanto deste grupo de

    insetos como do hospedeiro: as Angiospermas ([27], [28]).

    Estas relações entre abelhas e plantas com flor constituem uma

    interação (rede) que serve para descrever a estrutura do ecossis-

    tema e que reflete ao mesmo tempo mecanismos de adaptação

    31

  • sensu stricto ([29]), neste caso, à predação de pólen. Pela na-

    tureza adaptativa, dita interação pode representar um padrão com

    implicações evolutivas se considerarmos que a variação de um dos

    componentes do sistema está influenciando ou exercendo variação

    no outro e vice-versa ([30], [29], [31]).

    Outro episódio evolutivo que teria outorgado alta adaptabilidade

    às abelhas está relacionado ao surgimento das asas nos insetos ([32])

    junto com o desenvolvimento de tolerância as mudanças térmicas

    do ambiente por meio da regulação do fluxo de hemolinfa do tórax

    ao abdômen ([33], [34]). Essas duas carateŕısticas presentes nas

    abelhas fazem delas muito eficientes na sua dispersão e colonização

    ao longo de gradientes ([35]).

    Dentro da importante diversidade de abelhas existe um grupo

    que apresenta modificações na sua morfologia que poderiam estar

    relacionadas com adaptações muito espećıficas. Este grupo, as abe-

    lhas das orqúıdeas (Apidae: Euglossini), possuem ĺınguas com um

    comprimento muito proeminente em comparação aos seus parentes

    mais próximos (filogeneticamente2 falando) junto com uma viśıvel2A filogenética estuda como os diversos grupos de organismos poderiam estar relacionados justamente

    em relação a sua evolução ([36]).

    32

  • variação nas dimensões corporais entre as espécies que compõem a

    tribo ([37]).

    Apresentando uma distribuição neotropical, os Euglossini La-

    treille, representados por cinco gêneros: Eufriesea Cockerell, Eu-

    laema Lepeletier, Euglossa Latreille (de vida livre), Exaerete Hoff-

    mannsegg e Aglae Lepeletier & Serville (cleptoparasitas de outras

    abelhas das orqúıdeas) habitam principalmente florestas úmidas

    de baixas altitudes ([37]). São um grupo diversificado recente-

    mente ([38], [39]) constitúıdo por aproximadamente 200 espécies

    ([40]). Os Euglossini são parentes próximos das abelhas sem fer-

    rão (Tribo Meliponini Lepeletier), as mamangavas sociais (Tribo

    Bombini Latreille) e as abelhas meĺıferas (Tribo Apini Latreille)

    compartilhando uma carateŕıstica t́ıpica: a corb́ıcula3 , porém di-

    vergindo em formas e comportamentos ([41]).

    A tribo Euglossini é conhecida e frequentemente referenciada na

    literatura pela sua estética e ao mesmo tempo pelas posśıveis coa-

    daptações e mutualismo com Orchidaceae (Fig. 1) devido à coleta

    de óleos voláteis que os machos realizam nas flores de algumas es-3A corb́ıcula é uma modificação na t́ıbia posterior das fêmeas a maneira de cesto para o transporte de

    pólen e constitui uma sinapomorfia para essas quatro tribos ([25]).

    33

  • pécies dessa famı́lia de plantas ([37], [42], [43]).

    O comprimento da ĺıngua nos Euglossini seria resultado da adap-

    tação a sugar néctares fluidos o que permite à abelha uma aquisição

    do recurso de maneira ótima ([44], [45]). Esta condição na dimen-

    são das ĺınguas dos Euglossini associa tais abelhas com algumas

    famı́lias vegetais (tipo Apocynaceae Juss) das quais são os princi-

    pais polinizadores, havendo também, uma especificidade morfoló-

    gica por parte da planta ([46], [47], [37], [48]).

    Os Euglossini seriam também extremamente capazes de se des-

    locar por apresentarem uma alt́ıssima capacidade de voo ([49]) e,

    reiterando, de maneira similar a outros insetos estes polinizadores

    conseguem resolver eficientemente (dependendo do tamanho corpo-

    ral) as mudanças térmicas ([50], [51], [52]). Eficientes na dispersão

    do pólen através de longas distâncias ([53]), os Euglossini teriam

    na variação destes traços a determinação de processos evolutivos

    como a sua diversificação ([38]) ao mesmo tempo que, desde uma

    perspectiva ecológica, podemos ver a influência da variação des-

    tas caracteŕısticas na distribuição das espécies através dos habitats

    ([54]).

    34

  • Figura 1: Alguns exemplos pelos quais são reconhecidas as abelhas das orqúıdeas: A.

    machos de Euglossa sp. vistando flores de Mormodes sp. na t́ıpica śındrome de polinização

    por machos de Euglossini, B. Duas fêmeas de Euglossa imperialis trabalhando juntas no

    desenvolvimento de um ninho e C. fêmea de Exaerete frontalis atacando células de cria de

    Eulaema meriana. Estes últimos exemplos fazem referência à diversidade comportamental

    da tribo.

    35

  • Considerando o que foi exposto o objetivo geral desta Tese é

    estimar a variação dessas carateŕısticas de importância adaptativa

    dos Euglossini com relação a um contexto ecológico heterogêneo,

    para assim determinar se estão sobre algum processo de seleção.

    Como objetivos espećıficos e para detectar processos de seleção

    pretendemos determinar:

    A informatividade daqueles traços com potencial de afetar a

    chance de sobrevivência (ou reprodução).

    Qual é a mudança da variância e média dos traços entre gera-

    ções.

    Quais seriam, no nicho, as posśıveis fontes ambientais de vari-

    ação para essas carateŕısticas.

    Ajustar as medidas num modelo que permita predizer a sele-

    ção.

    36

  • 2 Metodologia.

    2.1 Local de estudo.

    O Brasil pelo seu posicionamento geográfico e extensão é um páıs

    que abrange uma importante biodiversidade sendo São Paulo um

    dos estados que possuem alguns dos tipos de vegetação exclusivos

    do neotrópico ([55]). No entanto, também é um dos estados que

    exemplifica décadas de deterioração ecossistêmica devido à práticas

    agŕıcolas tanto intensivas como extensivas ([56]). Este desafortu-

    nado panorama faz dos remanescentes de vegetação paulista um

    cenário apropriado para o estudo de fontes de variação sobre a ap-

    tidão de caracteŕısticas com valor adaptativo dos organismos que

    o habitam.

    Sendo assim, foram escolhidas duas áreas de Reservas no estado

    de São Paulo onde as comunidades de Euglossini foram amostradas

    sistematicamente. Uma das áreas compreende o Parque Estadual

    de Vassununga (PEV), localizado no munićıpio de Santa Rita de

    Passa Quatro, e que foi escolhido já que a diversa composição vege-

    tal que abriga encontra-se influenciada pela transformação agŕıcola.

    O PEV, criado a partir da incorporação de terras da falida Usina

    37

  • de Vassununga como forma de pagamento ao governo do estado,

    é uma área onde a vegetação nativa encontra-se fragmentada em

    cinco glebas imersas em cultivos de cana de açúcar e eucalipto

    ([57]). A área do Parque encontra-se entre os 500 e 700 metros

    acima do ńıvel do mar e consta de 20.710 m2 ([58]).

    Um dos fragmentos do Parque é a Gleba Pé-de-Gigante onde

    predominam as fisionomias de cerrado, desde campo sujo, pas-

    sando pelo campo cerrado e cerrado sensu stricto, até o cerradão

    ([59]). Além do cerrado, existem outros tipos de vegetação no Pé-

    de-Gigante, como a floresta estacional semidećıdua (1,2% da área),

    campo úmido (0,6% da área) e floresta riṕıcola, de tamanho inex-

    pressivo em relação à área total do fragmento ([60]). As demais

    glebas do Parque estão cobertas também por floresta estacional se-

    midećıdua e campo de várzea onde a vegetação está representada

    por espécies das famı́lias Rutaceae Juss, Lecythidaceae A.Rich.,

    Moraceae Gaudich, Apocynaceae, Vochysiaceae A.St.-Hil., Phyto-

    laccaceae R.Br. e Fabaceae Lindl. em ordem de importância ([57]).

    Machos de Euglossini foram coletados nas glebas Capetinga Leste,

    Capetinga Oeste (Fig. 2) e Pé-de-Gigante (Fig. 3).

    38

  • Figura 2: Pontos de coleta nas glebas Capetinga leste (várzea – B 1 Vass, B 2 Vass e B 3

    Vass) e Capetinga oeste (floresta semidećıdua – Vass Cap JeqB1, Vass Cap JeqB2 e Vass

    Cap JeqB3) do Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro, SP.

    A Reserva Biológica da Serra do Japi (ReBio), a outra área

    amostrada nesse trabalho, situa-se na Serra do Japi, munićıpio de

    Jundiáı, dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental (APA)

    de Jundiáı, do Território de Gestão da Serra do Japi e da área

    tombada pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimô-

    39

  • nio Histórico, Art́ıstico, Arqueológico e Tuŕıstico do Estado de São

    Paulo) em 1981. A ReBio possui uma área de 20.712 km2 a qual

    abarca altitudes entre os 700 e 1300 m.

    Figura 3: Pontos de coleta na gleba Pé-de-Gigante (cerrado - Pe Gig B1, Pe Gig B2 e Pe

    Gig B3) do Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro, SP.

    Na Serra do Japi pode-se encontrar floresta semidećıdua, que

    ocupa a maior parte da área, até em altitudes em torno de 1000

    40

  • m. Nessa cobertura vegetal as famı́lias mais bem representadas

    tanto em número de espécies quanto em número de indiv́ıduos

    (número de árvores de cada espécie) são Caesalpiniaceae R.Br., Fa-

    baceae, Mimosaceae R.Br., Rutaceae, Meliaceae Juss., Euphorbia-

    ceae Juss., Myrtaceae Juss., Rubiaceae Juss. e Lauraceae Juss. Há

    ainda famı́lias com poucas espécies, mas muitos indiv́ıduos, como

    Anacardiaceae R.Br., Lecythidaceae e Myrsinaceae R.Br. ([61]).

    A floresta semidećıdua de altitude está restrita às porções mais

    altas da Serra, acima de 1000 m, onde são registradas tempera-

    turas menores e maior umidade devido à presença de nevoeiros

    em relação às áreas mais baixas. Nela há uma maior presença

    de espécies t́ıpicas da floresta de encosta da Serra do Mar, outro

    tipo de vegetação da Mata Atlântica, provavelmente em função da

    maior umidade. Nas florestas semidećıduas de altitude, as famı́lias

    mais bem representadas em número de espécies e de indiv́ıduos

    são Fabaceae, Myrtaceae e Asteraceae Bercht. & J.Presl, sendo

    Fabaceae a mais t́ıpica desse tipo de floresta. Há ainda famı́lias

    representadas por poucas espécies, mas com muitos indiv́ıduos de

    cada espécie, como Anacardiaceae, Clethraceae Klotzsch, Cunoni-

    aceae R.Br., Euphorbiaceae e Vochysiaceae ([61]).

    41

  • Os lajedos rochosos é uma paisagem também encontrada na Re-

    Bio e se constituem por afloramentos rochosos com predominância

    de plantas herbáceas, principalmente bromélias e cactos, e com

    presença eventual de arbustos e árvores de pequeno porte. É uma

    vegetação que contém elementos t́ıpicos do cerrado e de áreas se-

    cas, totalmente estranhas à vegetação predominante atualmente.

    Nos lajedos rochosos, encontramos plantas herbáceas das famı́lias

    Bromeliaceae Juss., Cyperaceae Juss., Eriocaulaceae Martinov, Pi-

    peraceae Giseke e várias Cactaceae Juss. Além disso, podem ser

    encontrados arbustos e árvores pequenas, às vezes com caule retor-

    cido, das famı́lias Ericaceae Juss., Celastraceae R.Br., Myrtaceae,

    Asteraceae e Melastomataceae Juss. ([62]).

    Essa importante diversidade florestal e, em geral, ecológica da

    Serra oferece uma área ideal de estudo pelo fato de ser uma região

    natural relativamente extensa e cont́ıgua ([63], [64]). As três áreas

    de amostragens na ReBio são identificadas como “Base”, “Setor Ci-

    dinho” e “Śıtio Cururu” (Fig. 4).

    42

  • Figura 4: Pontos de coleta na Reserva Biológica d Serra do Jaṕı, Jundiáı, Sp: Base

    (Banco, Japi Trilh 2 e Japi Trilh 3), Setor Cidinho (Japi Cidh 1, Japi Cidh 2 e Japi Cidh

    3) e sitio Cururu (Japi Cur 1, Japi Cur 2 e Japi Cur 3). Nesta reserva não há distinção no

    tipo de vegetação, mas foi considerado para os pontos a influencia de floresta semidećıdua

    e floresta atlântica

    2.2 Clima.

    Nas áreas de estudo o clima corresponde ao tipo subtropical úmido,

    Cwa para o PEV, e Cfa na ReBio ([65], [66]). Isso significa que

    43

  • no PEV a temperatura é predominantemente alta sendo a média

    maior que 22°C no mês mais quente e menor que 17°C no mês mais

    frio. O inverno é seco com uma pluviosidade menor que 30 mm

    ([58]).

    No caso da ReBio, temperaturas médias anuais oscilam entre

    os 15.7°C (partes altas) e os 19.2°C (partes baixas). O mês mais

    frio é julho, apresentando médias entre 11.8°C e 15.3°C e no verão

    variam entre 18.4°C e 22.2°C. Cabe ressaltar que pela topografia

    da ReBio as temperaturas variam em função da altitude afetando

    também a incidência das chuvas. A média é de 1900 mm na face

    sul enquanto na face noroeste atinge 1367 mm, correspondendo a

    226 dias de chuva ao sul versus 95 a noroeste ([67], [68]).

    2.3 As coletas.

    No PEV, os pontos de amostragem dos machos de Euglossini foram

    escolhidos arbitrariamente dependendo da acessibilidade na área ao

    interior da floresta, procurando respeitar as normas do Parque de

    não abrir novas trilhas e visando manter uma distância prudencial

    entre cada ponto. Neste caso devido ao formato e tamanho das

    44

  • glebas as distâncias entre pontos oscilaram entre os 200 e 1.200 m.

    Já na ReBio foi mais fácil manter distâncias de mais de 1 km

    entre a maioria dos pontos (variou de 400 a 1700 m) sendo que o

    objetivo nesta área de amostragem foi coletar através do gradiente

    altitudinal oferecido pela Serra.

    Cada ponto de amostragem (nove por Reserva) foi georreferen-

    ciado usando um GPS Garmin® eTrex Vista e no momento de

    cada coleta foi sorteada a ordem de amostragem. Para atrair os

    machos de Euglossini, um chumaço de aproximadamente 0.5 gr de

    algodão foi preso em um arame de metal inoxidável, pendurado em

    ramos da vegetação e impregnado, quando necessário, com distin-

    tas sustâncias aromáticas atrativas aos machos.

    As coletas foram efetuadas durante dois anos, uma vez por es-

    tação (coletas trimestrais), um dia de coleta por ponto, das 08:00h

    às 15:00h perfazendo um esforço amostral próximo de 1100 horas

    nos seguintes peŕıodos: no PEV as coletas foram realizadas de 8 a

    18 de abril de 2011 (1º ano) e de 17 a 26 de abril de 2012 (2º ano)

    para a estação de outono, de 13 a 21 de julho de 2011 (1º ano) e

    45

  • de 11 a 19 de julho de 2012 (2º ano) para a estação de inverno, de

    18 a 26 de outubro de 2011 (1º ano) e de 11 a 20 de novembro de

    2012 (2º ano) para a estação de primavera e, de 18 a 26 de janeiro

    do (1º ano) de 2012 e de 29 de janeiro a 05 de fevereiro de 2013

    (2º ano) para a estação de verão; na ReBio os peŕıodos de coleta

    corresponderam de 19 a 27 de abril de 2011 (1º ano) e de 28 de

    abril a 8 de maio de 2012 (2º ano) para a estação de outono, de 22

    a 30 de julho de 2011 (1º ano) e de 22 a 30 de julho de 2012 (2º

    ano) para a estação de inverno, de 2 a 10 de novembro de 2011 (1º

    ano) e de 02 a 10 de novembro de 2012 (2º ano) para a estação de

    primavera e, de 31 de janeiro a 11 de fevereiro de 2012 (1º ano) e

    de 09 a 18 de fevereiro de 2013 (2º ano) para a estação de verão.

    Com a finalidade de obter uma amostra representativa (etária e

    taxonômica4) foram utilizados como iscas os seguintes compostos

    qúımicos (grau reagente anaĺıtico sem misturar): cineol, vanilina,

    eugenol, butirato de etila, beta-ionona, salicilato de metila, 2-fenil-

    etanol, benzoato de benzila, mirceno, acetato de benzila, benzoato

    de metila e cinamato de metila. Aqueles em formato cristalino (va-

    nilina e cinamato de metila) foram dissolvidos em álcool absoluto4Os machos de Euglossini parecem coletar fragrâncias diferencialmente dependendo da idade, aliás, a

    preferência pelas fragrâncias muda de uma espécie para outra ([37]).

    46

  • para disponibilizá-los no algodão.

    Cada isca foi pendurada formando um ćırculo, mantendo uma

    distância de 2 m entre cada uma, à aproximadamente um metro do

    solo e recarregada submergindo o algodão cada hora no reagente

    transportado no mesmo tubo de ensaio utilizado para transporte

    (Fig. 5).

    2.4 Caracterização morfológica.

    Consideramos somente medidas lineares para realizar a avaliação

    morfológica numa única dimensão. Para avaliar as dimensões cor-

    porais, foram obtidas imagens de cada indiv́ıduo, fotografando-os

    com aux́ılio de um microscópio estereoscópico Leica®MZ16, com

    uma câmara acoplada Leica®DFC500. Com o diafragma da lupa

    na abertura máxima enfocamos pelo menos três pontos da estru-

    tura a ser analisada para garantir sempre o mesmo posicionamento

    da estrutura. Desse modo, com uma profundidade de campo mı́-

    nima se garante que os pontos focados estarão consequentemente à

    mesma distância e sob o mesmo plano (Leica M16 e M16A informa-

    ção técnica). No caso de estruturas projetadas nas três dimensões

    47

  • de maneira mais proeminente, como é o caso da cabeça, os pon-

    tos escolhidos foram as áreas paraoculares (sensu Michener [25])

    junto com os ocelos na mesma altura. No caso do tórax, esco-

    lhemos como ponto de referência a margem anterior do escuto e

    os extremos do escutelo onde estes formam uma sutura. Para a

    cabeça e o tórax foram geradas imagens multifocais para permitir

    uma maior precisão no momento de medir as estruturas escolhidas.

    Figura 5: A. Elementos para transporte e montagem da isca em campo. B e C. Machos

    de Euglossa spp. no momento da coleta.

    Os machos, individualmente transportados em tubos de centŕı-

    48

  • fuga Falcon® de 15 ml, foram posteriormente anestesiados na

    geladeira e depois sacrificados em etanol 70% para a retirada do

    pólen presente no corpo. Despois de terem o pólen removido, eles

    foram retirados do álcool, alfinetados para identificação e poste-

    rior preservação como testemunha em seco, sendo depositados na

    Coleção de Abelhas e Vespas Solitárias do Setor de Ecologia do De-

    partamento de Biologia da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras

    de Ribeirão Preto-USP.

    As asas, embora sejam estruturas laminares, apresentam dobras

    transversalmente, o que faz das veias longitudinais estruturas me-

    nos variáveis para avaliar tamanho. Por isso é necessário que no

    momento da preparação do exemplar seja tomado o cuidado da asa

    não ficar aderida ao abdômen e assim conseguir manter a lâmina

    da asa sobre um plano. A ĺıngua por ser uma estrutura filamen-

    tosa precisou ser fotografada lateralmente, quando esta ultrapassa

    as coxas da abelha.

    Usando o programa LAS v8.0, foram realizadas as seguintes me-

    didas a partir das imagens obtidas: altura da cabeça – AC, sensu

    Michener ([25]) junto com o que chamaremos de largura inter-

    49

  • ocular – LiO, (que corresponde à largura da cabeça, na altura

    das fossas antenais), comprimento (CT) e largura do tórax entre

    os extremos do escutelo (LT), comprimento da célula radial (CR)

    junto com o somatório do comprimento das veias posteriores das

    células submarignais da asa anterior (SbC) e o comprimento da

    glossa a partir da base superior da mand́ıbula até os palpos labiais

    (CoL) (Fig. 6).

    Figura 6: Medidas tomadas dos machos. A. altura da cabeça (AC) e largura inter-ocular

    (LiO), B. comprimento (CT) e largura do tórax (LT), C. comprimento da célula radial

    (RC) e comprimento das veias posteriores das células submarignais da asa anterior (SbC)

    e D. comprimento da glossa (CoL).

    50

  • Para a avaliação da informatividade das medidas tomadas é pre-

    ciso também obter uma medida da massa corporal. Para isso cada

    indiv́ıduo desidratado (alfinetado e mantido em gaveta de coleção

    entomológica com śılica gel durante dois anos) foi pesado usando

    uma balança Shimadzu® Ayzzo, com precisão de 0.01 mg e erro

    de 0.1 mg.

    2.5 Recursos vegetais (fontes de néctar) utilizados pelas espé-

    cies.

    Como mencionado anteriormente, com o etanol utilizado para sa-

    crificar os machos, se procedeu à concentração por centrifugação

    do posśıvel pólen nele suspenso (Roubik & Moreno, dados não

    publicados). Este material foi tratado seguindo a adaptação da

    acetólise de Erdtman ([69]) realizada pelo Laboratório de Palinolo-

    gia do Setor de Ecologia do Departamento de Biologia, Faculdade

    de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP que consiste

    basicamente num processo de abrasão quente com ácido acético -

    anidrido e ácido sulfúrico (Apêndice 1).

    Após acetólise o material foi montado em lâminas porta objetos

    51

  • e cada tipo poĺınico achado foi fotografado usando um microscó-

    pio Leica®DM4000B com câmara acoplada Leica®DFC500 para

    identificação por especialista. Usou-se a palinoteca do mesmo la-

    boratório como referência na identificação dos grãos. A referida

    coleção possui material de recursos utilizados por abelhas da re-

    gião onde foram feitas as coletas.

    2.6 Abordagem estat́ıstica.

    Inicialmente foi analisada a eficiência de amostragem para as re-

    servas estudadas utilizando um ı́ndice de rarefação ([70]). As aná-

    lises ecológicas e do uso de recursos vegetais inclúıram o total da

    comunidade já que o total da interação é determinante. Para a

    descrição do nicho comparamos distribuições da riqueza em função

    do bioma. Para isso utilizamos o teste Kruskall-Wallis e posteri-

    ormente analizamos a composição dos śıtios em função da riqueza.

    Esta estimativa foi realizada mediante o ı́ndice de dissimilaridade

    Bray-Curtis. Para identificar os fatores mais determinantes nesse

    gradiente do numero de espécies e os tipos de bioma, aplicamos

    uma analise de correspondência retificada (DCA pelas siglas em

    inglês) aos dados de número de espécie em relação ao sitio de co-

    52

  • leta.

    Já com relação às medidas, pode-se esperar que as carateŕısti-

    cas quantificadas sejam resultantes da expressão de múltiplos loci

    (traços quantitativos), o que significa que a frequência dos traços

    nas populações está probabilisticamente distribúıda ([71], [7]).

    Seguindo o protocolo para exploração de dados proposto por

    Zuur et al. ([72]) analisamos a tendência das medidas lineares

    através da sua frequência e densidade. Validamos prinćıpios de

    normalidade e, usando regressões múltiplas, descartamos aquelas

    medidas que por colinearidade estivessem gerando um fator de in-

    flação da variância e/ou não fossem estatisticamente informativas

    da massa corporal.

    As medidas apresentaram uma clara distribuição enviesada que

    pode ser devido à influencia de vários fatores (Apêndice 2). Para

    testar hipóteses sobre seleção, é mais prudente utilizar frequên-

    cias que apresentem um padrão, razão pela qual consideramos as

    seguintes proporções entre aquelas medidas que resultaram ser in-

    formativas (ver resultados): AC/CoL, CT/CoL e CR/CT. Com os

    53

  • novos valores foi determinado o posśıvel efeito de interações com

    temperatura no momento da coleta em função da época do ano.

    É importante esclarecer que dada a distorção na frequência dos

    nossos dados o mais recomendável seria transformá-los ([73]), po-

    rém evitamos a mudança de escala considerando que na ausência

    de outliers5, dita mudança poderia dificultar a detecção de peque-

    nas, porém importantes diferenças ([72]).

    Outra premissa na análise de processos evolutivos é que as po-

    pulações estudadas não estejam estruturadas, de outra maneira a

    variação estimada representaria processos isolados ou de muitas

    outras fontes e talvez nem todos os indiv́ıduos da população esti-

    vessem interagindo e contribuindo para a próxima geração ([74]).

    No caso dos Euglossini, para a região de estudo, a ausência de

    estrutura em sequências nucleares sugere que devido ao compor-

    tamento de forrageio, tipo de organização social predominante e

    capacidade de deslocamento, é de se esperar uma ocupação cont́ı-

    nua sem subdivisões por parte dos machos ([75]). Para corroborar

    este pré-requisito testamos a independência espacial das propor-5Valores at́ıpicos que se registram fora do intervalo compreendido entre 25 e o 75 % da distribuição

    observada.

    54

  • ções aplicando a auto-correlação de Moran I a qual oscila entre -1

    e 1. Valores negativos demostram uma distribuição perfeitamente

    arranjada, valores próximos de 1 denotam agrupamento e o zero

    significa total aleatoriedade espacial ([76]). Subsequentemente foi

    estimado para os valores resultantes das proporções, a variância e

    valores de tendência central entre gerações como indicação de sele-

    ção.

    Se existe uma variação nos traços, estes não podem estar sobre-

    postos. Isso significa que não deve existir coincidência de gerações

    na comunidade, condição que pode assumir-se como existente no

    local de estudo devido a que espécies de abelhas das orqúıdeas di-

    ficilmente atingem uma longevidade maior aos 90 dias ([77]) e o

    inverno é uma época onde atividade dos machos é mı́nima. Aquilo

    possivelmente representa um estacionamento no ciclo de vida da

    maioria das espécies pelo qual assumiremos que depois dessa pa-

    rada aparecerão os descendentes dos indiv́ıduos antes ativos. As

    amostragens então do primeiro ano de coleta corresponderam a

    uma primeira geração ou “pais” e seus “filhos” serão os indiv́ıduos

    coletados na replica temporal, ou seja, o segundo ano de coleta.

    55

  • 2.7 Modelagem e predição da aptidão

    Embora pareça uma premissa que a análise das causas dos fenô-

    menos naturais devam ser realizadas uma por vez (referimo-nos a

    análise de variância, e.g. Fisher ([78]), a variação no caso deste

    estudo está sujeita a múltiplos fatores. Para testar hipóteses sobre

    as posśıveis fontes que geram variação dos traços foi modelada sua

    distribuição em relação às outras variáveis ou elementos estima-

    dos. Os fatores que foram avaliados como posśıveis determinantes

    no processo de seleção foram considerados de efeito aleatório. Isso

    devido a que o nosso conhecimento da biologia dos Euglossini em

    relação com seu entorno não é necessariamente suficiente para re-

    alizar uma generalização.

    O primeiro elemento considerado como preditivo é a distribuição

    de abundância das espécies a qual foi estimada através da sucessão

    logaŕıtmica de Fischer para cada uma das unidades vegetais por ge-

    ração amostrada. Utilizamos esta medida da diversidade porque,

    embora se assuma continuidade na distribuição das populações, es-

    tas poderiam estar ocupando o habitat heterogeneamente ao longo

    do peŕıodo de coleta, o que faz desta diversidade alfa uma expressão

    razoável da composição total das abundâncias quando essa é ale-

    56

  • atória (probabilisticamente falando) e quando existe um efeito de

    subunidades, neste caso devido à sazonalidade ([79], [80], [81], [82]).

    Outros elementos preditivos foram o grau de aninhamento no

    uso dos recursos em cada estação e a especificidade do polinizador

    na rede. O ńıvel de grau de aninhamento ou grau de nidação no

    uso dos recursos vegetais foi considerado como estimador da ex-

    pressão adaptativa porque através de gradientes o uso de recursos

    por parte das comunidades gera competição que, quando são limi-

    tados podem determinar processos de ajuste dos indiv́ıduos destas

    comunidades ao nicho ao longo do tempo evolutivo ([80]). Para

    isso foi estimada a métrica de aninhamento baseada na sobreposi-

    ção e diminuição da ocupação, NODF pelas suas siglas em inglês

    ([84]), cujos valores variam de zero (nenhum aninhamento) a 100

    (aninhamento perfeito). A especificidade é o processo pelo qual

    os elementos da rede podem mudar de recursos no nicho o que

    evolutivamente pode resultar no surgimento de grupos com uma

    aptidão sobressalente, mas para uma variedade pequena de opções

    ambientais e bióticas ([83]). A especificidade foi estimada usando

    a proporção do Índice de Diferença Pareada (PDI, pelas suas siglas

    em inglês) considerado de robusto quando os dados são quantita-

    57

  • tivos ([83]).

    Os demais fatores inclúıdos no modelo foram: a variável com

    a qual houve interação (sazonalidade), a relação das medias por

    espécies para determinar quais populações poderiam estar sendo

    influenciadas pelo(s) processo(s) de seleção, o śıtio de coleta em

    relação ao tipo de vegetação e finalmente consideramos a tempera-

    tura no momento de coleta. O modelo utilizado para determinar

    a significância de cada elemento é da Melhor Predição Linear não

    Enviesada ou BLUP, pelas suas siglas em inglês.

    Como mencionado, a resposta evolutiva entre gerações depende

    em parte da variação genética que definem os traços ([85]), o que

    no caso deste estudo não seria plauśıvel de medir. Pesquisadores

    interessados na cria e reprodução, tanto de animais como plantas,

    oferecem uma solução a este problema, sendo a estimativa sobre

    a variância, utilizada na predição, uma posśıvel resposta. Ela ex-

    plicaria a herdabilidade de cada traço já que os componentes da

    variância corresponderiam à contribuição de cada carateŕıstica à

    inercia do sistema, ou em outras palavras, a herdabilidade do traço

    explicar-se-ia por quanto a variação de cada um dos traços está re-

    58

  • presentada nas populações depois da seleção. Assim, herdabilidade

    pode ser assumida como o somatório das proporções da variância

    de cada uma das variáveis inclúıdas na predição BLUP ([86], [87]).

    É importante esclarecer que as análises evolutivas foram reali-

    zadas ao ńıvel de comunidade, já que as carateŕısticas medidas são

    homologas para a tribo ([88]) e devido a essa condição estariam

    sujeita a serem selecionadas pelos mesmos fatores ([11]). Estas in-

    clúıram somente aquelas espécies que foram coletadas nos dois anos

    de amostragem.

    Para realizar as analises utilizamos os pacotes estat́ısticos “ape”,

    “bipartite”, “language R”, “vegan”, “psych”, “pastecs”, “lme4” e

    “sjP lot” ([89], [90], [91], [92], [93], [94] [95],[96]) da linguagem de

    programação R ([97]).

    59

  • 3 Resultados

    Trezentos e sessenta indiv́ıduos da tribo pertencentes a quatro gê-

    neros foram utilizados neste estudo: Eulaema (El.), duas spp e

    115 indiv́ıduos, Euglossa (Eg.), 10 spp e 207 indiv́ıduos, Eufrie-

    sea (Ef.) uma sp. e 33 indiv́ıduos, e Exaerete (Ex.) uma sp. e

    quatro indiv́ıduos (Tabela 1).

    5 10 15

    24

    68

    1012

    14

    Sitios

    Val

    or e

    xato

    +++++++

    +

    +++++

    ++

    +++

    +

    + ++++

    +

    +++ +

    +

    ++++++++++++++++++++ +++++++++++++

    Figura 7: Curva de acumulação de espécies com a

    variação por śıtios de coleta.

    A análise de rarefacção

    sugere uma amostragem

    eficiente para a quanti-

    dade de pontos de co-

    leta utilizados (Fig. 7).

    Isto se corrobora tam-

    bém com registros novos

    para uma das localidades

    (El. cingulata Fabricius

    na ReBio). Observou-se

    através de vários estima-

    dores de diversidade um

    alto ńıvel de

    60

  • Tab

    ela

    1:F

    requên

    cia

    de

    oco

    rrên

    cia

    de

    mac

    hos

    de

    Eugl

    ossi

    ni

    por

    ano

    de

    cole

    tapar

    aos

    bio

    mas

    ere

    serv

    as

    amos

    trad

    osno

    Par

    que

    Est

    adual

    de

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    sununga

    (PE

    V),

    San

    taR

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    uat

    ro,

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    Res

    erva

    Bio

    lógi

    cada

    Ser

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    Jap

    i,Jundia

    i,SP

    ,no

    peŕ

    ıodo

    de

    abri

    lde

    2011

    afe

    vere

    iro

    de

    2013

    .

    Esp

    écie

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    iom

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    ReB

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    ota

    ld

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    ach

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    por

    esp

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    do

    Flo

    rest

    ase

    mid

    ećıd

    ua

    Vár

    zea

    Flo

    rest

    ase

    mid

    ećıd

    ua

    Atl

    ánti

    ca

    1ºan

    o2º

    ano

    1ºan

    o2º

    ano

    1ºan

    o2º

    ano

    1ºan

    o2º

    ano

    Ef.

    viol

    acea

    22

    1515

    34

    Eg.

    aff.

    tow

    nse

    ndi

    72

    9

    Eg.

    ann

    ecta

    ns

    56

    314

    Eg.

    cord

    ata

    12

    21

    22

    10

    Eg.

    fim

    bria

    ta4

    32

    110

    Eg.

    impe

    rial

    is3

    3

    Eg.

    leu

    cotr

    icha

    11

    Eg.

    pleo

    stic

    ta9

    1039

    333

    483

    2147

    Eg.

    secu

    rige

    ra1

    1

    Eg.

    tow

    nse

    ndi

    11

    2

    Eg.

    tru

    nca

    ta1

    11

    710

    El.

    cin

    gula

    ta1

    1

    El.

    nig

    rita

    57

    84

    22

    7313

    114

    Ex.

    smar

    agdi

    na

    11

    11

    1

    Tota

    lp

    or

    Bio

    ma

    29

    35

    52

    39

    11

    54

    103

    39

    360

    61

  • heterogeneidade através das áreas amostradas, já que tais es-

    timadores oscilaram de abundâncias equiparáveis para alguns dos

    locais estudados até locais com abundâncias desproporcionais (Fig.

    8).

    H

    0.0 0.4 0.8

    + +++

    +

    +

    +

    +++

    ++

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    ++++

    +

    +

    +

    +++

    ++

    +

    +

    +

    +

    +

    −1.0 0.0 0.5

    + +++

    +

    +

    +

    +++

    ++

    +

    +

    +

    +

    +

    + 0.0

    1.0

    2.0

    + ++++

    +

    +

    ++ +

    ++

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    0.0

    0.4

    0.8

    ++

    +

    +

    +

    +

    +++++

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    simpson +++

    +

    +

    +

    +++

    ++

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    ++

    +

    +

    +

    +

    +++

    ++

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    ++

    +

    +

    +

    +

    + ++

    ++

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +

    +++

    ++

    +

    +

    +

    +++

    ++

    +

    +

    +

    +

    + ++

    ++

    +

    +

    +

    +++

    ++

    +

    +

    +

    + invsimp

    + ++

    ++

    +

    +

    +

    +++

    ++

    +

    +

    +

    +

    12

    34

    56

    7

    + ++++

    +

    +

    +

    +++

    +++

    +

    +

    +

    −1.

    00.

    00.

    5 ++

    ++

    ++

    +++++

    +

    +

    ++

    +

    +

    +

    ++

    ++

    ++

    +++

    +++

    +

    ++

    +

    +

    +

    ++

    ++

    ++

    +++

    +++

    +

    ++

    +

    +

    simp.n.e

    ++

    +++

    +

    + ++

    +++

    +

    ++

    +

    +

    +

    0.0 1.0 2.0

    +

    +

    + +++

    +

    +

    ++

    ++

    + ++

    +

    +

    + +

    +

    + +++

    +

    +

    ++

    ++

    + ++

    +

    +

    +

    1 2 3 4 5 6 7

    +

    +

    + +++

    +

    +

    ++

    ++

    + ++

    +

    +

    +

    +

    + +++

    +

    +

    ++

    ++

    + ++

    +

    +

    +

    0 2 4 6 80

    24

    68

    alpha

    Figura 8: Estimativa da diversidade da comunidade

    amostrada: Shannon (H), Simpson, inverso do

    Simpson (invsimpson), Simpson não enviesado

    (simp.n.e) e diversidade Alfa de Fisher (alpha).

    A heterogeneidade ao

    longo do gradiente foi

    também evidente na pro-

    babilidade de observar

    espécies por bioma e en-

    tre gerações. Para a

    primeira geração houve

    pouca diferencia (Kruskal-

    Wallis (chi-

    quadrado) = 0.7806, valor-

    p = 0.8541) enquanto

    a descendência mostrou

    distribuições diferentes da

    riqueza (Kruskal-Wallis

    (chi-quadrado) = 6.3302, valor-p = 0.09661) (Fig. 9). Já em

    relação ao arranjo das espécies, observou-se que depois dos posśı-

    62

  • veis eventos de seleção, a comunidade mostrou uma composição de

    espécies mais homogênea por sitio de coleta (Fig. 10).

    Cerrado Semi Semi.Atlant Varzea

    12

    34

    56

    7

    Cerrado Semi Semi.Atlant Varzea

    12

    34

    56

    A BFigura 9: Diagrama de caixa para o número de espécies de Euglossini para os pontos de

    coleta por bioma do A: primeiro ano (pais) e B: segundo ano (filhos).

    De maneira similar, a análise ordenativa mostrou uma comuni-

    dade com poucas diferencias para a primeira geração ao longo do

    gradiente riqueza-bioma, sendo que, a descendência mostrou um

    comportamento oposto, porem com menos espécies e śıtios apor-

    tando à inercia do sistema (Fig. 11).

    63

  • A B

    VPGB2

    VB2

    VB3

    JC2

    JT1

    JT2

    VCJB2

    VPGB1

    VPGB3

    VCJB1

    VCJB3

    JR1

    JC1

    JC3

    JR2

    VB1

    JT3

    0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

    Pais

    Altura

    JC2

    JC3

    JC1

    JR1

    JT2

    JR2

    VB2

    VCJB1

    VB3

    VCJB2

    VB1

    VCJB3

    VPGB2

    VPGB3

    VPGB1

    JT1

    0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

    Filhos

    Altura

    Figura 10: Dendrograma de dissimilaridade para o pontos de coleta de A: primeiro ano e

    B: segundo ano.

    Dos 360 machos foi posśıvel obter pólen do corpo de 257 indiv́ı-

    duos que corresponderam a 115 tipos poĺınicos diferentes. Desses

    115 tipos, 41 tipos foram identificados ao ńıvel de gênero, um tipo

    poĺınico foi identificado ao ńıvel de subfamı́lia, 17 foram identifica-

    dos até o ńıvel de famı́lia e, os restantes 56 tipos permaneceram na

    categoria de palinomorfo.

    A maioria dos tipos poĺınicos corresponde a famı́lias vegetais

    frequentemente referenciadas como fontes de néctar tipicamente

    visitadas por membros da tribo, porém alguns tipos poĺınicos cor-

    64

  • respondem a plantas com śındrome anemófila ou plantas com deis-

    cência poricida (Tabela 2).

    A

    B

    −2 −1 0 1 2 3 4

    −2−1

    01

    23

    DCA1

    DCA2

    VB1

    VB2

    VB3

    VCJB1

    VCJB2VCJB3

    VPGB1 VPGB2

    VPGB3JT1JT2

    JT3JC1JC2JC3JR1

    JR2

    Ef.violaceae

    Eg.aff.townsendi

    Eg.annectans

    Eg.cordata

    Eg.fimbriata

    Eg.imperialisEg.leucotricha.cf

    Eg.pleosticta

    Eg.securigera

    Eg.townsendi

    Eg.truncataEl.cingulata

    El.nigrita

    Ex.smaragdina

    −1 0 1 2

    −2−1

    01

    DCA1

    DCA2

    VB1

    VB2

    VB3

    VCJB1

    VCJB2VCJB3

    VPGB1

    VPGB2

    VPGB3

    JT1JT2JC1 JC2

    JC3

    JR1

    JR2

    Ef.violaceaeEg.aff.townsendi

    Eg.annectans

    Eg.cordata

    Eg.fimbriata

    Eg.imperialis

    Eg.leucotricha.cf

    Eg.pleosticta

    Eg.securigeraEg.townsendi

    Eg.truncata

    El.cingulata

    El.nigrita

    Ex.smaragdina

    Figura 11: Ordenação dos quadrantes para o 1° e 2°

    eixo da Análises de Correspondência Retificada para as

    espécies de machos coletadas por ponto de coleta.

    Como mencionado na

    abordagem estat́ıstica,

    a diversidade de tama-

    nhos das espécies re-

    presentadas na amos-

    tra e a diferença na

    quantidade de indiv́ı-

    duos coletados fizeram

    com que a distribui-

    ção dos dados tivesse

    frequências enviesadas

    (Tabela 3, Apêndice

    2).

    Além disso, após

    analisar por meio do

    modelo linear a cova-

    riância do conjunto de

    dados, foram informa-

    65

  • tivas as medidas correspondentes à altura da cabeça (AC), o com-

    primento do tórax (CT) e o comprimento da célula radial (CR)

    (Tabela 4).

    Em relação à interação dos estimadores de massa corporal com a

    sazonalidade esta tendência foi estatisticamente significativa para a

    proporção de comprimento de tórax/comprimento da ĺıngua (CT/CoL)

    dos espécimens coletados durante as estações do verão e outono

    (Fig. 12) e para proporção do comprimento da célula radial com

    comprimento de tórax (CR/CT) nas três estações de maior abun-

    dância. Não foi observado efeito significativo de interações para a

    proporção cabeça/ĺıngua (AC/CoL) com a estação do ano. A pre-

    ponderância ou importância das proporções por estação foi: Ef.

    violaceae Blanchard: 91% na primavera, 9% no verão, Eg. an-

    nectans Dressler: 29% no outono, 14% na primavera e 57% no

    verão, Eg. cordata Linnaeus: 17% na primavera e 83% no verão.

    66

  • Tab

    ela

    2:T

    ipos

    poĺ

    ınic

    osm

    ais

    freq

    uen

    tes

    pre

    sente

    sno

    corp

    odos

    mac

    hos

    de

    Eugl

    ossi

    ni

    par

    aos

    quai

    sse

    obte

    ve

    um

    aap

    roxim

    ação

    na

    iden

    tifica

    ção.

    As

    info

    rmaç

    ões

    são

    pro

    venie

    nte

    sdos

    mac

    hos

    cole

    tados

    no

    Par

    que

    Est

    adual

    de

    Vas

    sununga

    (PE

    V),

    San

    taR

    ita

    do

    Pas

    saQ

    uat

    roe

    na

    Res

    erva

    Bio

    lógi

    cada

    Ser

    rado

    Jap

    i(R

    eBio

    ),Jundia

    i,

    SP

    ,no

    peŕ

    ıodo

    de

    abri

    lde

    2011

    afe

    vere

    iro

    de

    2013

    .

    Fam

    ilia

    (Fre

    quên

    cia)

    Tip

    op

    oĺın

    ico

    (Fre

    quên

    cia)

    Ap

    ocy

    nac

    eae

    (8)

    Tip

    oM

    ande

    vill

    asp

    .(8

    ).

    Ast

    erac

    eae

    (6)

    Tip

    oA

    ster

    acea

    esp

    .1(1

    ),T

    ipo

    Ast

    erac

    eae

    sp.2

    (1),

    Tip

    o

    Ast

    erac

    eae

    sp.3

    (1),

    Tip

    oV

    ern

    onia

    sp.

    (3).

    Big

    non

    iace

    ae(3

    0)

    Tip

    oA

    mph

    ilop

    hiu

    mel

    onga

    tum

    (1),

    Tip

    oC

    usp

    idar

    iapu

    lchr

    a(1

    ),

    Tip

    oJ

    acar

    anda

    sp.

    (1),

    Tip

    oZ

    eyhe

    ria

    mon

    tan

    a(1

    ),T

    ipo,

    Big

    non

    iace

    aesp

    .1(2

    ),

    Tip

    o,B

    ignon

    iace

    aesp

    .2(2

    ),T

    ipo,

    Big

    non

    iace

    aesp

    .3(2

    ),T

    ipo

    Tab

    ebu

    iaoc

    hrac

    ea(2

    ),T

    ipo

    Tab

    ebu

    iasp

    .(2

    ),T

    ipo

    Ade

    noc

    alym

    ma

    cam

    pico

    la(4

    ),T

    ipo

    Fri

    deri

    cia

    flor

    ida

    (5),

    Tip

    oF

    ride

    rici

    apl

    athy

    phyl

    la(7

    ).

    Bro

    mel

    iace

    ae(3

    )T

    ipo

    Bil

    lber

    gia

    sp.

    (1),

    Tip

    oB

    rom

    elia

    ceae

    (2).

    Cos

    tace

    ae(3

    )T

    ipo

    Cos

    tus

    sp.

    (3).

    Fab

    acea

    e(1

    1)

    Tip

    oA

    nad

    enan

    ther

    asp

    .(1

    ),T

    ipo

    Cen

    tros

    ema

    sp.

    (1),

    Tip

    oIn

    gasp

    .(1

    ),T

    ipo

    Sen

    na

    velu

    tin

    a(2

    ),T

    ipo

    Mac

    haer

    ium

    sp.

    (2),

    Tip

    oM

    imos

    aca

    esal

    pin

    iifo

    lia

    (2),

    Tip

    oM

    imos

    oidae

    (3).

    Mal

    pig

    iace

    ae(6

    )T

    ipo

    Mal

    pig

    iace

    aesp

    .1(1

    ),T

    ipo

    Mal

    pig

    iace

    aesp

    .2(5

    ).

    Mar

    tynia

    ceae

    (21)

    Tip

    oIb

    icel

    lalu

    tea

    (21)

    .

    Mel

    asto

    mat

    acea

    e(6

    )T

    ipo

    Mel

    asto

    mat

    acea

    esp

    .2(1

    ),T

    ipo

    Mel

    asto

    mat

    acea

    e

    sp.3

    (2),

    Tip

    oM

    elas

    tom

    atac

    eae

    sp.1

    (3).

    Myrt

    acea

    e(6

    )T

    ipo

    Cam

    pom

    anes

    iasp

    .(1)

    ,T

    ipo,

    Eu

    caly

    ptu

    ssp

    .(1

    ),T

    ipo

    Myrt

    acea

    e(1

    ),T

    ipo

    Eu

    gen

    iasp

    .(3

    ).

    Pas

    siflor

    acea

    e(3

    )T

    ipo

    Pas

    siflor

    asp

    .1(1

    ),T

    ipo

    Pas

    siflor

    asp

    .2(2

    ).

    Pin

    acea

    e(6

    )T

    ipo

    Pin

    us

    sp.

    (6).

    Sol

    anac

    eae

    (18)

    Tip

    oS

    olan

    um

    sp.2

    (1),

    Tip

    oS

    olan

    um

    sp.3

    (1),

    Tip

    o

    Sol

    anu

    msp

    .1(1

    6).

    67

  • Eg. fimbriata Moure: 8% no inverno, 54% na primavera e 38%

    no verão (5, 38%), Eg. pleosticta Dressler: 10% no inverno, 31% no

    outono 16% na primavera e 44% no verão, Eg securigera Dressler:

    20% no outono, 60% na primavera e 20% no verão, Eg. truncata

    Rebêlo & Moure: 20% no outono 60% na primavera e 20% no ve-

    rão, El. nigrita Lepeletier: 1% no inverno, 14% no outono, 15%

    na primavera e 70% no verão e, finalmente Ex smaragdina Guérin

    um 25% na primavera e 75% no verão.

    q

    q

    q

    −0.02

    −0.01

    0.01

    b0 = 0.349, R2 = 0.0564, F = 7.19***, AIC = −1102.13

    outono

    verão

    primavera

    −0.1 −0.05 0 0.05 0.1Estimates

    A

    q

    q

    q

    −0.116***

    −0.096**

    −0.04

    b0 = 0.678, R2 = 0.061, F = 7.82***, AIC = −481.08

    outono

    verão

    primavera

    −0.2 −0.15 −0.1 −0.05 0 0.05 0.1Estimates

    B

    q

    q

    q

    0.056*

    0.066**

    0.076***

    b0 = 0.56, R2 = 0.0551, F = 7.02***, AIC = −868.35

    outono

    primavera

    verão

    0 0.05 0.1 0.15 0.2Estimates

    C

    Estimativa Estimativa Estimativa

    Figura 12: Estimativa das interações das proporções A: Altura da cabeça/Comprimento

    da Lingua (AC/CoL), B: Comprimento do tórax/Comprimento da ĺıngua (CT/CoL) e

    C: Comprimento da célula radial/Comprimento do tórax (CR/CR) com a estação do

    ano. Dados obtidos a partir dos machos de Euglossini coletados no Parque Estadual de

    Vassununga (PEV), Santa Rita do Passa Quatro e na Reserva Biológica da Serra do Japi

    (ReBio), Jundiai, SP, no peŕıodo de abril de 2011 a fevereiro de 2013.

    A largura da linha representa o intervalo de confiança e aquelas linhas se sobrepondo ao

    intercepto (0) denotam interação

    68

  • De modo geral os valores das proporções mostraram estar aleato-

    riamente distribúıdos na região de estudo (valor observado: -0.252,

    valor esperado: -0.0027, desvio padrão: 0.0035, valor p: < 0.001).

    A frequência com que as proporções se distribuem foi diferente de

    uma geração para outra apresentando valores diferentes tanto da

    variância como da média (Tabela 5, Fig. 13). Igualmente foi obser-

    vado, mediante uma análise dessa variância, que essas diferenças

    apresentam significância estat́ıstica (Tabela 6).

    Houve diferenças no uso dos recursos de uma geração para outra

    sendo que, no primeiro ano de coleta a comunidade de Euglossini

    mostrou um padrão de aninhamento maior com um numero de in-

    terações mais altas por parte daquelas espécies generalistas do que

    no segundo ano (Tabela 7, Fig. 14).

    Os distintos ńıveis das variáveis que no modelo preditivo resul-

    taram ser menores de -0.001 foram considerados sob processo de

    seleção. Deste modo a proporção AC/CoL é suscept́ıvel à seleção

    em temperaturas dos 19 aos 26°C, 28°C e 34°C.

    69

  • Tab

    ela

    3:M

    édia

    edes

    vio

    pad

    rão

    (dp)

    das

    med

    idas

    de

    mas

    sae

    tam

    anho

    corp

    oral

    das

    espéc

    ies

    dos

    mac

    hos

    de

    Eugl

    ossi

    ni

    amos

    trad

    osno

    Par

    que

    Est

    adual

    de

    Vas

    sununga

    (PE

    V),

    San

    taR

    ita

    do

    Pas

    saQ

    uat

    roe

    na

    Res

    erva

    Bio

    lógi

    cada

    Ser

    rado

    Jap

    i(R

    eBio

    ),Jundia

    i,SP

    ,no

    peŕ

    ıodo

    de

    abri

    lde

    2011

    afe

    vere

    iro

    de

    2013

    .

    Esp

    écie

    Pes

    o(mg)

    AC

    (mm

    )L

    iO(mm

    )C

    T(mm

    )LT

    (mm

    )C

    oL(mm

    )C

    R(mm

    )SbC

    (mm

    )

    Ef.

    viol

    acea

    74.0

    4;8.

    052.

    74;

    0.19

    3.02

    ;0.

    074.

    87;

    0.24

    3.62

    ;0.

    146.

    47;

    0.26

    3.01

    ;0.

    113.

    04;

    0.11

    Eg.

    ann

    ecta

    ns

    35.3

    2;5.

    582.

    49;

    0.12

    2.60

    ;0.

    083.

    94;

    0.11

    2.93

    ;0.

    078.

    78;

    0.36

    2.38

    ;0.

    092.

    56;

    0.10

    Eg.

    cord

    ata

    33.7

    4;5.

    252.

    60;

    0.54

    2.61

    ;0.

    403.

    80;

    0.14

    2.72

    ;0.

    116.

    97;

    0.42

    2.13

    ;0.

    062.

    34;

    0.07

    Eg.

    fim

    bria

    ta30

    .64;

    4.60

    2.24

    ;0.

    162.

    43;

    0.08

    3.74

    ;0.

    122.

    68;

    0.11

    6.23

    ;0.

    362.

    17;

    0.10

    2.35

    ;0.

    10

    Eg.

    pleo

    stic

    ta33

    .82;

    5.42

    2.28

    ;0.

    152.

    54;

    0.09

    3.99

    ;0.

    302.

    90;

    0.13

    7.04

    ;0.

    562.

    26;

    0.11

    2.58

    ;0.

    12

    Eg.

    secu

    rige

    ra27

    .92;

    6.32

    2.21

    ;0.

    142.

    38;

    0.12

    3.72

    ;0.

    202.

    72;

    0.18

    6.94

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