universidade de sÃo paulo faculdade de saÚde … · rio grande do sul, mato grosso e...
TRANSCRIPT
1
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA
Gestão Participativa no Distrito Sanitário Especial Indígena
Cuiabá: análise de sua viabilidade política
Projeto de Tese apresentado ao Programa de
Pós-Graduação em Saúde Pública para
obtenção do título de Doutor em Saúde
Pública.
Área de Concentração: Serviços de Saúde
Pública
Linha de Pesquisa: Política e Gestão em
Saúde
Orientadora: Profa.Dra.Fabíola Zioni
São Paulo
2012
2
Gestão Participativa no Distrito Sanitário Especial Indígena
Cuiabá: análise de sua viabilidade política
Karem Dall”Acqua Vargas
Projeto de Tese apresentado ao Programa de
Pós-Graduação em Saúde Pública para
obtenção do título de Doutor em Saúde
Pública.
Área de Concentração: Serviços de Saúde
Pública
Linha de Pesquisa: Política e Gestão em
Saúde
Orientadora: Profa.Dra.Fabíola Zioni
São Paulo
2012
3
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 06
1 O PENSAMENTO ESTRATÉGICO E A SOCIOLOGIA DA
EXPERIÊNCIA
12
1.1 O PENSAMENTO ESTRATÉGICO 12
1.2 O CONCEITO DE ESTRATÉGIA 14
1.3 A EXPERIÊNCIA SOCIAL E A AÇÃO 17
1.4 AS LÓGICAS DA AÇÃO 18
1.4.1 A Lógica e o Sistema de Integração 19
1.4.2 A Lógica da Estratégia e o Sistema de Competição (ou
Interdependência)
20
1.4.3 A Lógica da Subjetivação e o Sistema de Ação Histórico
22
2 OBJETIVOS 23
2.1 OBJETIVO GERAL 23
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
24
3 RESULTADOS ESPERADOS
24
4 METODOLOGIA 25
4.1 OBJETO DE ESTUDO 25
4.2 LOCAL DO ESTUDO 25
4.3 ABORDAGENS METODOLÓGICAS: CAMINHOS PARA O
EXERCÍCIO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO PENSAMENTO
ESTRATÉGICO
26
4.4 FASE I: A FORMAÇÃO DO COMITÊ DE MONITORAMENTO 30
4.5 FASE II: O PENSAMENTO ESTRATÉGICO COMO INSTRUMENTO DE
MUDANÇA 31
4.5.1 Subfase Quantitativa 31
4.5.2 Subfase Qualitativa 31
4.6 A ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES 32
4.7 AS OFICINAS E A DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS
33
5 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
34
6 CONTRIBUIÇÕES CIENTÍFICAS
35
7 ORÇAMENTO 35
7.1 CUSTEIO 35
7.2 CAPITAL
35
8 CRONOGRAMA FÍSICO-FINANCEIRO
36
9 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES 38
6
INTRODUÇÃO
Nosso marco histórico neste estudo será a década de 1980, no contexto da
redemocratização do país, quando a VIII Conferência Nacional de Saúde (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 1986a) traçou as novas bases da Política Nacional de Saúde e recomendou a I
Conferência Nacional de Proteção à Saúde do Índio (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1986b).
Esta Conferência e a seguinte, realizada no ano de 1993 (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
1993a), após a IX Conferência Nacional de Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1993b),
defenderam a elaboração de um modelo diferenciado e baseado na proposta de Distrito
Sanitário (MENDES, 1995), denominando-o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI).
Voltados para as necessidades percebidas pelas comunidades os DSEI deveriam garantir a
participação dos usuários desde o planejamento até a execução da política de saúde
indígena ainda a ser elaborada.
Em 1999, o Decreto 3.156 (BRASIL, 1999a) dispôs sobre as condições para a
prestação de assistência à saúde dos povos indígenas no âmbito do SUS, alterando os
dispositivos do Decreto 564 (BRASIL, 1992) e do Decreto 1.141 (BRASIL, 1994). De
acordo com este último, até então, as atividades de prevenção à saúde eram de
responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e as de assistência, da
Fundação Nacional do Índio (FUNAI), conhecido ironicamente entre os profissionais de
saúde como o Decreto da atenção à saúde do “índio em pé” e do “índio deitado”.
Na sequência, foi publicada a Lei 9.836 (BRASIL, 1999b)alterando a Lei 8.080
(BRASIL, 1990), criando no âmbito do SUS o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena e
reafirmando, na forma da lei, os DSEI. Essa lei estabeleceu o relacionamento entre o
subsistema de saúde e os órgãos responsáveis pela política indigenista; reiterou a atuação
complementar por parte de estados, municípios e organizações não-governamentais para a
da execução da política; determinou a necessidade de diferenciação na organização do SUS
para atender às especificidades da atenção intercultural em saúde, recuperando o princípio
de eqüidade das ações de saúde; possibilitou, também, a representação indígena no
Conselho Nacional de Saúde, nos conselhos estaduais e municipais; estabeleceu o
financiamento no âmbito da União para os DSEI; adotou uma concepção de saúde integral
7
e diferenciada; e aplicou os princípios do SUS de descentralização, hierarquização e
regionalização ao subsistema de atenção à saúde indígena.
No mesmo ano, a Portaria 852 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999b) criou
efetivamente os 34 DSEI e confirmou suas atribuições. Em 2002, a Política Nacional de
Atenção à Saúde dos Povos Indígenas foi aprovada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002)
considerando as disposições publicadas e descritas em outros dispositivos legais que a
antecederam. No seu texto encontramos questões sobre a preparação de recursos humanos
para atuação em contexto intercultural, incluindo o Programa de Formação de Agentes
Indígenas de Saúde; monitoramento das ações em saúde desenvolvidas no âmbito do DSEI
dentro da perspectiva do Sistema de Vigilância da Saúde, identificando os seus fatores
condicionantes e determinantes, estabelecendo prioridades na alocação de recursos e
orientações que facilitem a participação da comunidade; articulação dos sistemas
tradicionais indígenas de saúde com as práticas modernas de atenção; promoção e uso
adequado de medicamentos, etc.
Em 2006 a IV Conferência Nacional de Saúde Indígena (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2006a) recomendou a autonomia gestora dos DSEIs o que gerou uma série de
manifestações reivindicatórias nos anos que se seguiram. Em tempos de Pacto pela Saúde
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006b) o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena tomou
novos rumos, parte deles demandados pela conferência citada anteriormente. Os novos
rumos dados à Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas exigem intenso
preparo dos DSEIs para conduzir o processo de autonomia que deve se voltar para uma
gestão democrática e articulada com os sistemas regionais de saúde desenvolvidos pelos
estados e municípios. Outra questão de igual importância é a participação destes novos
gestores nas instâncias de decisões locais, a exemplo dos Colegiados de Gestão Regionais
e Comissão Intergestores Bipartite.
A IV Conferência Nacional de Saúde Indígena (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006a)
recomendou e o Decreto 6.878 (Brasil, 2009) atendeu. Por fim, a Medida Provisória 12.314
(Brasil, 2010) criou a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) no âmbito do
Ministério da Saúde, afastando a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) do processo de
implementação da política de saúde indígena.
No Estado de Mato Grosso estão localizados seis DSEI: o DSEI Kayapó,o DSEI
Parque do Xingu, o DSEI Xavante, o DSEI Araguaia, o DSEI Vilhena e DSEI Cuiabá, este
8
último consistirá no local de realização deste trabalho. Ainda que a população indígena
estimada em todo território mato-grossense não ultrapasse a 31.000 índios, as condições de
saúde apresentadas, bem como as relações de contato com a população envolvente são
assuntos persistentes nas investigações a respeito e divulgados intensamente pelos veículos
de comunicação. Elevadas taxas de mortalidade infantil (RIBAS e PHILIPPI, 2003)
seguidas de prevalências significativas de doenças crônico-degenerativas, em especial o
diabetes mellitus e a hipertensão arterial (GUERRERO et al, 2003), precária saúde bucal
(ARANTES, 2003; ARANTES et al., 2010) e o uso abusivo de álcool e outras drogas,
incrementam os debates internos nas organizações de saúde envolvidas (SANTOS e
COIMBRA JR, 2003; LEITE et al, 2003; WEISS, 2003).
O instrumento de gestão adotado pelos DSEI é o Plano Distrital de Saúde Indígena
(PDSI) que pressupõe ampla participação dos profissionais e usuários na sua configuração.
Segundo este instrumento o DSEI Cuiabá conta com cinco Pólos-Base: o Pólo-Base
Cuiabá, o Pólo-Base Chiquitano, o Pólo-Base Tangará da Serra, o Pólo-Base Rondonópolis
e o Pólo-Base Brasnorte. Ressaltamos que, embora o PDSI não reconheça oficialmente a
existência do sexto Pólo-Base, o Pólo-Base Sapezal, este se faz presente nos depoimentos
dos índios e no sentimento de pertencimento dos mesmos a um território cultural e
geográfico particular. O mesmo instrumento de gestão aponta para a cobertura de 10 etnias
cujos territórios estão distribuídos em aproximadamente 14 municípios mato-grossenses
com diferentes histórias de contato e distintas relações estabelecidas. O número total de
índios sob a responsabilidade deste DSEI é de aproximadamente 6.000 (seis mil) pessoas
(FUNASA, 2007), dos quais 117 vivem na Terra Indígena Tirecatinga (ISA, 2012). O
instrumento de gestão apresentado indica que cada Pólo-Base contém uma equipe
multidisciplinar de saúde indígena composta por médico, enfermeiro, odontólogo, técnicos
de enfermagem e agentes indígenas de saúde e de saneamento responsáveis pelas ações de
saúde a serem desenvolvidas nas aldeias.
Supomos que o planejamento das ações de saúde em todo o território do DSEI
Cuiabá apresenta características de planejamento estratégico, normativo e prescritivo, com
reduzida participação social. O seu foco está na eficiência em detrimento da efetividade
das ações e da valorização das estratégias desenvolvidas nos contextos locorregionais pelos
profissionais de saúde e pelas populações indígenas. Essa suposição tem origem nos
9
resultados dos estudos anteriormente citados, os quais foram desenvolvidos no período de
2006 a 20111.
Em 2006, um amplo estudo foi desenvolvido simultaneamente em três unidades
federativas, dentre elas o Mato Grosso2. O objetivo deste estudo foi avaliar a articulação da
atenção básica com os demais níveis de atenção à saúde em contextos sociais diferentes.
No Mato Grosso, foram desenvolvidos dois estudos de caso, ambos no DSEI Cuiabá com
ampla participação das comunidades indígenas.
Vargas et al. (2010c) investigaram o Pólo-Base Rondonópolis e a reduzida
participação dos conselheiros e usuários indígenas na elaboração do Plano Distrital de
Saúde Indígena, bem como a emergência de estratégias de articulação locorregionais com
objetivo de garantir o acesso dos usuários indígenas aos serviços de saúde municipais. Da
mesma forma, Cintra (2009) indica articulação semelhante entre o gestor municipal de
Tangará da Serra/MT e a Associação Halitinã, dos índios Paresi.
Estas investigações serviram de base para a elaboração do PDSI do biênio 2008 –
2010 do DSEI Cuiabá, de modo que grande parte das sugestões relacionadas ao melhor
desempenho das ações nos Pólos-Base investigados foram incorporadas pelos gestores
naquela ocasião.
Outras investigações foram realizadas no período de 2009 a 2011 e outros Pólos-
Base do DSEI Cuiabá foram investigados apontando para diferentes realidades,
experiências e níveis de satisfação.Vargas et al. (2010a; 2010b) investigaram o Pólo-Base
Brasnorte e o Pólo-Base Sapezal. Em ambos foram evidenciadas intensas articulações entre
os profissionais de saúde do DSEI Cuiabá e os profissionais da rede municipal de saúde;
não raro, encontraram relatos em torno da articulação local entre as comunidades indígenas
e os gestores municipais nos conselhos municipais de saúde, sobretudo no Pólo-Base
Sapezal. Além disso, ficou claro o desencontro destas estratégias locais, emergentes, com
aquelas oficializadas nos planos distritais.
1 No período de 2006 a 2008, os estudos de Vargas (2008) e Cintra (2009) integraram o projeto “Avaliação
das estratégias locorregionais de articulação entre os níveis de atenção à saúde: estudo de múltiplos casos no
Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pernambuco”,coordenado pela Profa. Dra. MariaCeci Misoczky, Escola
de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No período de 2009 a 2010, os estudos de Vargas et al. (2010a; 2010b) integraram o mesmo projeto
estendido aos demais Pólos-Base do DSEI Cuiabá.
2 Idem.
10
Recentemente, o Decreto 7.508 (BRASIL, 2011) publicado com o objetivo de
regulamentar a Lei 8.080 (BRASIL, 1990) – no que se relaciona entre outros aspectos o
planejamento da saúde e a articulação inter-federativa para efetivar o direito à saúde - criou
a Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde (RENASES) e o Contrato Organizativo
da Ação Pública da Saúde (COAP). Esse dispositivo legal reforçou conceitos e estratégias
constantes em outros instrumentos legais criados para a efetivação da descentralização.
Merecem destaque as regulamentações relacionadas ao planejamento da saúde, uma vez
que nos remetem ao planejamento estratégico, conforme artigo a seguir:
Art. 15. O processo do planejamento da saúde será ascendente e integrado, do
nível local até o federal, ouvidos os respectivos Conselhos de Saúde,
compatibilizando-se as necessidades das políticas de saúde com a
disponibilidade de recursos financeiros (BRASIL, 2011).
Já na perspectiva de atender às regulamentações deste Decreto, a Secretaria
Especial de Saúde Indígena (SESAI) discutiu em oficina específica (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2012) a elaboração e execução do Planejamento Estratégico, assim como o
fortalecimento do controle social por meio da participação dos seus Presidentes na
elaboração dos Planos Distritais de Saúde. Segundo seus organizadores realizar um
planejamento participativo é uma das principais metas dessa secretaria.
Misoczky (2003) afirma que fortalecer a participação social representa distribuir o
poder na sociedade podendo ocorrer de diversas formas, a saber: participação nas tomadas
de decisão em torno das políticas públicas, controle da administração pública, parcerias
efetivas entre o Estado e as organizações da sociedade civil, práticas de autogestão e
intervenção direta nas ações. No entanto, o controle social tal qual vem sendo conduzido
assume um enfoque estruturalista e normativo, contrário a perspectiva da gestão
participativa voltada para a construção das políticas juntamente com a sociedade.
Misoczky (2003) esclarece, ainda, que a gestão participativa deve buscar a
eficiência, a eficácia e a efetividade através da construção coletiva das ações. Estas devem
ser planejadas e executadas pelos sujeitos proporcionando o aprendizado e atribuindo a
corresponsabilização solidária de todos. Romper com a concepção de hierarquia,
neutralidade e centralização da eficiência, bem como propiciar o surgimento de uma nova
estrutura e organização das práticas de trabalho são condições necessárias para a efetiva
gestão participativa.
11
Costa e Noronha (2003) contribuem ao afirmar que o avanço legal da política
nacional de saúde não se fez acompanhar do mesmo nas práticas e instituições. Ressaltam
que é importante mudar a cultura das organizações o que, necessariamente, implica
mudanças nos valores dos trabalhadores e usuários. Aqui, as transformações relacionam-se
com a prática e o aperfeiçoamento das organizações para a gestão participativa.
Entendemos que, embora, os discursos governamentais assumam a participação
social como princípio que permeia as tomadas de decisão, as organizações públicas ainda
escolhem caminhos já apontados por Mintzberg e Jorgensen (1995) nos quais o objetivo
está em dizer o que se pretende fazer e, não, reconhecer o que de fato a organização faz.
Nesta perspectiva os órgãos públicos consideram a participação uma estratégia voltada
para a legitimação das ações governamentais, ao contrário de adotá-la como estratégia de
empoderamento e autodeterminação.
Este estudo considera a ação conjunta dos gestores, trabalhadores e usuários um
meio para a emancipação dos atores sociais. Consideramos os conselhos, e neste contexto,
os Conselhos Locais e Distrital de Saúde Indígena, espaços em que a participação social
deve ser legitimada contrariando a dominação e a exclusão. Acreditamos que o exercício
do planejamento enquanto programação das estratégias já existentes, e que acumulam
sucessos, deve ser opção adotada pelo DSEI Cuiabá a fim de garantir qualidade de vida aos
usuários indígenas.
Sendo assim, as seguintes questões nortearão este estudo: Que lógicas de ação os
sujeitos mobilizam para garantir o direito da participação social no planejamento? Como
se dá a participação dos sujeitos no planejamento destas ações? Qual a viabilidade
política para a efetiva participação dos Conselhos Locais e Conselho Distrital de Saúde
Indígena na gestão da política distrital de saúde?
Em busca de respostas para estas questões, e outras que poderão surgir ao longo do
caminho, propomos a análise da viabilidade política de uma gestão democrática através do
exercício da participação social no planejamento e deliberação da política local de saúde
indígena do Pólo-Base Sapezal, DSEI Cuiabá, a fim de que sirva como instrumento de
reflexão, aprendizado e inovação desta organização.
12
1 O PENSAMENTO ESTRATÉGICO E A SOCIOLOGIA DA
EXPERIÊNCIA
Este trabalho se inscreve no campo da saúde pública em sua perspectiva
interdisciplinar, pois mobiliza três outros campos do conhecimento: o campo das ciências
humanas, do qual buscamos referencial em torno do pensamento estratégico para o
planejamento e da definição de estratégia (Testa, 1989; Mintzberg, 2006), o campo das
ciências sociais, com a noção de experiência e ação social (Dubet (1994) e o campo da
lingüística com o dispositivo teórico-metodológico de Maingueneau (1997, 2007a; 2007b)
para a análise do discurso.
1.1 O PENSAMENTO ESTRATÉGICO
De acordo com Testa (1989) o conceito de pensamento estratégico está
intimamente relacionado com a definição de estratégia. Em geral, essa definição está
associada a comportamentos organizacionais voltados para objetivos específicos e
superação de obstáculos. A estratégia, para Testa (1989), configura uma forma da
organização se colocar em situação para o alcance de suas metas. Além disso,
circunstâncias que integram dois ou mais competidores compreendem situações em que os
mesmos colocam suas estratégias em ação e para isto é preciso que disponham de alguma
forma de poder. Eis a essência do pensamento estratégico cunhada por Testa (1989): os
interesses em jogo e as formas de poder dos atores envolvidos.
Ressaltamos que a estratégia enquanto “guerra de trincheiras”, desenvolvida no
pensamento de Testa (1989), representa uma forma de luta entre as posições contrárias e as
posições dominantes propondo a ocupação gradativa de espaços que, também, são
paulatinamente transformados. Esta definição converge com a definição de Franzese
(2011) acerca de janela política ao considerá-la momento oportuno para um grupo que
busca incluir determinado problema na agenda política e, também, com Tavolaro (2008) e
suas concepções de conjunturas favoráveis e oportunidade política.
13
O termo política e o termo estratégia, na concepção deste autor, compreendem uma
relação dialética entre o técnico e o político. O autor também considera que na definição de
política está implícita a proposta de distribuição do poder e na definição de estratégia a
forma pela qual a política será implementada. Testa (1989) defende que o planejamento
deve ser colocado no contexto a que corresponde a sua necessidade.
No pensamento estratégico de Testa (1989) o poder ocupa lugar central, “o
pensamento estratégico é um pensamento sobre o poder (p.35)”. Para o autor sendo o poder
uma abstração da realidade observável no cotidiano, é também, uma característica das
sociedades opacas, gerado e sustentado por elas. Sob este ponto de vista o poder consiste
em uma ideologia cujo saber e prática constrói sujeitos que a consolidam. Além disso,
como categoria que contém uma ação, o poder pode ser desenvolvido em diversos âmbitos.
Rivera (1989) define de forma objetiva os três tipos de poder criados por Testa (1989): o
poder administrativo (administrar recursos), o poder técnico (conhecer problemas,
paradigmas e técnicas) e o poder político (mobilizar os grupos). As categoriais centrais
para esta tipologia são os âmbitos e os recursos utilizados para o exercício de cada um.
Testa (1989) destaca que analisar o impacto que cada uma das formas de exercício
do poder tem sobre a sociedade é o mesmo que analisar o significado social destas formas
de poder. Estudá-los requer esclarecer se existem impactos diferentes, quais espaços
sociais incidem e como se tornam efetivos. O autor aponta que existem vários tipos de
impactos sejam eles econômicos, sociais, políticos ou culturais; esses incidem nos
indivíduos, nos grupos e nas instituições e seu principal mecanismo de efetivação é a
ideologia.
Mas, quem põe em movimento o poder em seus diversos tipos ou formas? Os
responsáveis pelo movimento das forças envolvidas nos jogos de poder são os atores.
Sendo assim, o cenário é o último elemento do pensamento estratégico desenvolvido por
Testa (1989). Para ele, o cenário implica o espaço onde a ação é desenvolvida, porém não
podemos pensar em um espaço desconectado do ator e da ação social. Portanto, o espaço
social é mais que um espaço físico, compreende a relação entre os atores gerada ao longo
do desenvolvimento da ação.
14
1.2 O CONCEITO DE ESTRATÉGIA
Na concepção de Mintzberg e Jorgensen (1995) as estratégias surgem das mais
diversas formas, umas de processos graduais, outras de processos coletivos, outras
espontaneamente e outras sem a mínima intenção de ser. Mintzberg (2006) propõecinco
definições para a palavra estratégia. Para ele estratégia pode ser um plano, pode ser um
padrão, pode ser uma posição, pode ser uma perspectiva e pode ser uma manobra para
enganar o oponente. Destas destacamos a estratégia como plano e como padrão dada a
especificidade do objeto deste estudo.
A estratégia como plano representa um conjunto de diretrizes criadas para conduzir
uma situação ou uma sequência de ações pretendidas de forma consciente. Este tipo de
estratégia apresenta duas características: a primeira, é que ela deve ser formulada antes das
ações que vão implementá-la e, a segunda, é que deve ser consciente e proposital. Segundo
Mintzberg e Jorgensen (1995) no setor público a política pública é primeiramente
formulada através de leis e regulamentos pelo poder legislativo e, depois, deve ser
implementada pelos servidores administrativos; aqui é possível observar a premissa de que
primeiro se concebe e depois se aplica. Os autores destacam que a ineficácia deste modelo
tradicional de elaboração de políticas públicas tem sido ignorado pelo setor público e
ressaltam que o planejamento estratégico é muito mais eficaz no controle de custos do que
na criação de políticas públicas diferenciadas, ou seja, de novas estratégias.
A estratégia como padrão relaciona-se com o comportamento dos envolvidos,
porém este comportamento pode ser pretendido, ou não. Com esta definição, Mintzberg
(2006) deixa claro que definir estratégias como um plano não basta para garantir a sua
implementação e para isso é necessário encontrar uma definição que englobe o
comportamento da organização, seja ele planejado ou não.
No sentido oposto à forma tradicional de formulação de políticas públicas assume
destaque um novo modelo chamado de “emergente” ou “popular”, do qual surgem as
estratégias mais profundas do sistema. Uma estratégia pode surgir através de atos de um
indivíduo ou do comportamento coletivo podendo ser intencional ou não. Em algumas
situações as estratégias emergentes surgem quando os formuladores conhecem muito
15
pouco sobre o assunto para que seja possível estabelecer uma estratégia intencional viável,
pois há algumas informações que estão mais próximas dos atores situados no núcleo
operacional do que aqueles que se encontram no ápice estratégico ou na linha intermediária
da organização. A flexibilidade permite que os profissionais do núcleo operacional sejam,
também, formuladores de estratégias estimulando a aprendizagem ao longo do processo
(MINTZBERG e JORGENSEN, 1995).
Mintzberg (2006) afirma que não há como garantir que uma estratégia deliberada
seja exatamente implementadatal como foi pretendida. E neste caso, o plano não se
transforma em padrão. Para que o plano se torne padrão é necessário que as intenções
declaradas sejam aceitas em toda a sua magnitude pelos integrantes da organização, sem
questionamentos. Além disso, o ambiente deve ser estático e sem poder de influenciá-la, o
que definitivamente é algo impossível tendo em vista as contingências ambientais.
Contudo, também seria exagero considerar que a estratégia emergente poderia assumir um
padrão consistente sem que houvesse qualquer intenção. Sendo assim, observamos que
algumas estratégias realizadas se aproximam da estratégia deliberada, outras da estratégia
emergente, por isso que a maioria das estratégias do tipo padrão reflete aspectos
deliberados e aspectos emergentes.
Mintzberg (2006) interliga as definições anteriormente descritas destacando que,
como plano, a estratégia reflete o conhecimento e o curso estabelecido pelos líderes para a
organização. Ao estudar o plano objetivamos descobrir o que de fato ele pretende. Como
padrão ela está ligada ao comportamento, pois o plano está no campo das idéias. Em outros
termos, o plano é um campo vazio se não existir ações que materializam as intenções. A
estratégia como padrão visa dar consistência ao comportamento da organização e lança a
conclusão de que as estratégias podem surgir e serem percebidas, ou podem ser
deliberadamente impostas.
Na Figura 1 demonstramos de forma esquemática as definições de estratégias
adotadas por Mintzberg (2000, 2004, 2006).
16
Figura 1 – As cinco definições de estratégias
Fonte: Mintzberg (2000, 2004, 2006)
Considerando a distinção das estratégias – deliberada e emergente – Mintzberg et
al. (2000) destacam que a primeira focaliza o controle e busca certificar-se de que as
intenções gerenciais estão sendo realizadas, enquanto a segunda volta-se para o
aprendizado, para a compreensão daquelas ações que foram realizadas intencionalmente ou
não e para o reconhecimento da capacidade da organização em experimentar.
Porém,
[...] poucas estratégias podem ser puramente deliberadas (se é que alguma pode) e
poucas, puramente emergentes. Uma sugere aprendizado zero, a outra, controle
zero. Todas as estratégias do mundo real precisam misturar as duas de alguma
forma – tentar controlar sem interromper o processo de aprendizado
(MINTZBERG, 2004, p. 35).
Mintzberg et al. (2000) destacam que mesmo diante de um modelo de formação
estratégica essencialmente emergente, todo o comportamento estratégico real precisa
apresentar um controle deliberado associado a um aprendizado emergente. O aprendizado
estratégico deve combinar reflexão com resultado.
17
1.3 A EXPERIÊNCIA SOCIAL E A AÇÃO
Dubet (1994) utiliza a noção de experiência para desenvolver a sua abordagem
teórica em torno das condutas sociais. Para ele estas condutas não estão diluídas num fluxo
contínuo da vida cotidiana, pois são organizadas de forma heterogênea.
A heterogeneidade dos princípios implica a noção de experiência social, porque
esta é definida pela combinação de várias lógicas de ação. Segundo Dubet (1994), a
experiência social forma-se nos casos em que a representação clássica da sociedade não se
adéqua às situações vividas pelo ator. Aqui, a formação social já não é um sistema, mas é a
co-presença de três sistemas autônomos e não hierárquicos.
É a combinação das lógicas de ação realizada pelo ator no distanciamento de si e do
sistema que gera a experiência social. Dubet (1994) reconhece que o termo
experiência é ambivalente reclamando pelos menos dois fenômenos contraditórios: a
experiência como maneira de sentir que expõe a subjetividade pessoal e a experiência
como atividade cognitiva. É este segundo fenômeno que lhe interessa, pois trata-se da
forma pela qual o real é construído e experimentado pelo ator.
Assim, a experiência como atividade cognitiva não se refere à incorporação do
mundo através das emoções ou sensações, mas é uma forma de construí-lo.Dubet (1994)
assegura que sempre há algo inacabado na experiência social, porque a subjetividade do
ator não está totalmente adequada à objetividade do sistema. Em algumas situações não
ocorre a socialização total porque a experiência se inscreve em múltiplos registros não
coincidentes e é nisso que a autonomia do indivíduo se assenta.
A subjetividade do ator não é totalmente individual, podendo surgir nos
movimentos sociais sustentados por um sentimento comum, por uma experiência coletiva
que se opõe à dominação. Neste caso, a experiência social é construída pela classe social
dando vida à subjetividade coletiva.
A subjetividade dos atores é a consciência que os mesmos têm do mundo e de si.
Ela é a matéria essencial da sociologia da ação, pois não há conduta social que não seja
interpretada pelos próprios atores. Segundo Dubet (1994), ela está associada ao sentimento
de liberdade; é antes sentida como uma inquietação, uma angústia, uma incapacidade de
18
escolha ou, ainda, uma necessidade de vencer obstáculos que impedem a realização dos
projetos dos atores. A subjetividade é entendida, então, como uma atividade social cuja
origem está na recusa da ordem do mundo.
Outra característica importante da subjetividade na sociologia da experiência é o
seu caráter socialmente construído. Mesmo que a subjetividade seja individual precisa ser
reconhecida pelos atores; ela é crítica porque implica reflexividade por parte do ator
quando este se vê diante de situações parcialmente codificadas e previsíveis.
Dubet (1994) enfatiza que quanto mais distante da ação como papel, mais próximo
o ator está da ação como experiência social e a reflexividade em torno do objeto em
questão é ainda maior.
Os princípios da sociologia da experiência foram recolhidos da sociologia
compreensiva weberiana, são eles: a não unidade da ação social, a definição da ação pelas
relações sociais e a combinação de operações intelectuais pelo ator na experiência social. A
ação social não tem unidade porque não há um sistema e uma lógica de ação, mas uma
pluralidade de lógicas e de sistemas. A ação social é tanto subjetiva quanto objetiva e só se
desenvolve no tipo de relação que a corresponde. Esse princípio mobiliza duas categorias
weberianas: a atividade e a atividade social. E, por fim, nas operações intelectuais
combinadas pela experiência social o analista deve isolar e descrever as lógicas de ação
presentes em cada experiência concreta, compreender como o ator combina tais lógicas e
sair da experiência em direção ao sistema a fim de compreender os fenômenos sociais.
1.4 AS LÓGICAS DA AÇÃO
Com a fragmentação da perspectiva clássica da formação social o conjunto social
não está mais estruturado por um princípio de coerência, mas por uma justaposição de três
grandes sistemas, os quais, por sua vez, são sustentados por lógicas próprias e definidos
num campo e espaço particulares.
19
Os sistemas consistem num modo de explicação que resulta da natureza dos
mecanismos sociais mobilizados na experiência do ator. A lógica da integração estrutura o
sistema de integração no espaço da comunidade. A lógica da estratégia, por sua vez,
estrutura o sistema de competição (ou interdependência) num campo concorrencial, a
exemplo do mercado. E a lógica da subjetivação estrutura o sistema cultural tendo o
trabalho do ator como expressão da criatividade, do estranhamento e do distanciamento de
si e do sistema.
1.4.1 A Lógica e o Sistema de Integração
A lógica da integração é a lógica da sociologia clássica que condiz com a
sociologia da socialização, da aprendizagem e da reprodução dos códigos culturais comuns
que permitem o convívio social e a continuidade das sociedades.
Na ação, a identidade do ator é a parte subjetiva da integração do sistema e a
personalidade se aproxima do personagem social. Para explicar as condutas sociais,
mobilizando essa lógica, é preciso descobrir os modelos culturais aos quais elas
correspondem, como foram adquiridos e conservados pelos atores.
A socialização é a variável intermediária entre as condutas e as condições objetivas.
É ela, juntamente com as expectativas, as ambições e os códigos que explicam as condutas
dos indivíduos.
A lógica da integração é determinada por uma via indireta em que o indivíduo
recebe de herança da sociedade a língua, a cultura e os esquemas corporais que passam a
ser seus sem que tenham sido produzidos por ele. Então, a identidade do ator é a sua
maneira de interiorizar os valores através dos papeis. Ela é vivida como uma atribuição
social que torna o ator um ser social; é vivida como uma história, pois ninguém escapa da
filiação, do nome, da tradição familiar.
Os ritos, embora nem sempre tão evidentes, permanecem porque reativam a
identidade integradora do ator. Esta se mantém na tensa relação entre “eles” e “nós”; na
lógica da integração o”outro” é definido pela diferença. Dubet (1994) assegura que nem
sempre as relações são hostis, mas sempre implicam a diferença; o conflito reforça o
sentimento de pertencimento.
20
As diferenças estão hierarquizadas e na lógica da integração elas são sempre
barreiras que isolam “eles” de “nós”. Na lógica da integração, a cultura é definida por
valores, os quais são a base sólida da sociedade. A cultura sustenta a identidade e a moral.
Qualquer ameaça a esses valores representa uma ameaça à identidade dos indivíduos.
O sistema correlato da lógica da integração é o sistema da integração. Esta lógica
permite uma análise causal das condutas sociais correlacionando-as com as posições
sociais dos indivíduos.
1.4.2 A Lógica da Estratégia e o Sistema de Competição (ou Interdependência)
Nesta lógica, a identidade do ator, as relações sociais e o que nelas está em jogo são
definidos de forma diferente tanto pela sociologia, quanto pelos atores. A identidade do
ator é construída como um recurso a ser mobilizado na sociedade, pois esta não é mais um
sistema integrado, mas um campo concorrencial.
A lógica da estratégia envolve todas as atividades sociais, não só aquelas
desenvolvidas no mercado. Para o ator, sua identidade é definida como uma posição num
campo concorrencial que lhe possibilita influenciar os demais graças aos meios que possui
tendo em vista a posição ocupada.
Entretanto, para além de uma posição relativa num campo concorrencial a
identidade deve ser entendida como a realização da herança do indivíduo. Logo, a
identidade do ator não está só relacionada à sua posição, mas consiste na realização da
lógica da integração. Quanto mais fortalecida estiver a lógica da integração, maior será sua
utilidade no campo concorrencial proposto pela lógica da estratégia.
Porém, o indivíduo não é aquele que age puramente de forma calculada, mas sim
aquele que se coloca na situação de interpretar a situação a partir da perspectiva dos custos
e dos ganhos esperados. Na lógica da estratégia, a integração do sistema é substituída pela
sua regulação, pela necessária manutenção das regras do jogo para que ele mesmo
permaneça existindo.
Se na lógica da estratégia a sociedade é um sistema de trocas cujo fim é a obtenção
de dinheiro, poder, prestígio, reconhecimento etc., as relações sociais só podem ser de
21
concorrência, de competição. Das categorias citadas o poder é central na lógica da
estratégia. Portanto, o que está em jogo pode surgir como valores, recursos ou ideologias e,
enquanto ideologias, o discurso dos valores visa dissimular a realidade e os verdadeiros
interesses.
Segundo Dubet (1994), a metáfora mais adequada à lógica da estratégia é a do jogo.
A situação é interpretada pelo ator em termos de concorrência e, uma vez que as regras
desse jogo e as coações já são dadas pelo sistema, grande parte das relações visa a sua
manutenção ou a sua transformação.
Dubet (1994) ressalta que o ator não tem muita opção, precisa entrar nesse jogo.
Embora isto não seja uma lei, resulta de uma estratégia individual e racional para que o
jogo não desapareça. Só saem do jogo aqueles que perdem, ainda que as capacidades para
jogar sejam distribuídas de forma desigual.
Para o autor,
O sucesso de um movimento depende da estrutura das oportunidades que lhe são
oferecidas, da sua capacidade de mobilizar recursos ou, mais precisamente, de
utilizar as ligações comunitárias, as ideologias, por vezes os próprios
adversários, como recursos (DUBET, 1994, p.129).
Logo, essa lógica está ligada ao sistema pela competição ou, como denomina Dubet
(1994), pelos constrangimentos de situação, entre os atores. O sistema correlato é o sistema
de interdependência (ou de competição) cuja explicação para o conjunto social está
pautada na interdependência das ações individuais. Desta forma, na perspectiva da lógica
da estratégia, o sistema social deriva das ações e não do universo.
Segundo Dubet (1994), na formação social, vista sob a ótica da lógica da estratégia,
as estruturas existem, embora derivem da composição das condutas dos indivíduos, que por
sua vez, dão origem às situações. A correlação entre as ações e as situações resulta das
escolhas dos indivíduos e não da socialização. Dubet (1994) sinaliza, entretanto, que o ator
não age tão livremente assim, pois está sujeito a constrangimentos que limitam a sua
liberdade; regras e coações impostas pelo sistema.
22
1.4.3 A Lógica da Subjetivação e o Sistema de Ação Histórico
A lógica da subjetivação se define pela tensão entre a representação cultural do
sujeito e as relações sociais, ou entre estas e a cultura. O sistema em questão é o sistema de
ação histórico. A lógica da subjetivação resulta do fato do ator se afirmar como sujeito
através da crítica, seja pela distância ou pelo empenho. Certamente para efetuar a atividade
crítica o ator utiliza princípios generalizados evidenciando que de alguma forma a
sociedade participa desta subjetivação.
A lógica da subjetividade vê o sujeito para além dos papeis e dos interesses, pois
para ela o sujeito está distante do mundo explicado segundo as lógicas anteriores. O
melhor termo para definir a identidade do sujeito é o empenho. Este assume o significado
de representação cultural inacabada e se manifesta na crítica. Além dele, a subjetivação da
identidade é percebida no desprendimento do ator, no seu distanciamento de si e do
mundo. O sentimento de distanciamento em relação a si manifesta-se pelo sentimento de
estranheza em relação ao sistema.
A cultura, por sua vez, é aquela que permite a crítica social realizada pelo sujeito. É
ela que possibilita o distanciamento e é a partir dela que os atores interpretam os valores. A
atividade crítica é o que diferencia o ator, porque opõe as relações sociais aos valores,
distancia o ator da autoridade e da dominação apelando para a moral comum.
De acordo com Dubet (1994), a melhor definição da identidade do sujeito se dá
pela criatividade humana, base para o homem que quer construir sua vida. Enquanto o ator
da lógica da integração é um indivíduo moral, o sujeito da lógica da subjetivação é um ator
ético uma vez que não se identifica com o papel lhe atribuído pelo sistema. As relações
sociais passam a ser percebidas como obstáculos ao reconhecimento e à expressão da
subjetivação.
No conflito social o que está em jogo é a capacidade dos atores de se identificar
com a criatividade social; a luta é pelo controle da historicidade e não pela defesa da
identidade e nem pelo controle do jogo. A lógica da experiência é definida pelos conflitos.
Aqui o indivíduo se empenha e percebe a ameaça à sua autonomia.
A alienação, na lógica da subjetivação, é a falta de sentido na ação; é a privação da
autonomia pela dominação. Segundo Dubet (1994),
23
Seria certamente difícil tornar a alienação em categoria positiva de análise, mas
há que reconhecer que a expressão, entre os actores, de uma experiência
alienada, é relativamente constante: sentimento de viver uma vida desprovida de
sentido, sentimento de a pessoa jamais ser ela própria, impressão de
“impotência”, sentimento de se ser apenas espectador da sua própria vida, receio
de ser “invisível” por se estar reduzido a um estereótipo (p.134).
A saída da atividade crítica do ator pela lógica da subjetivação e a chegada até o
sistema pela via indireta dos tipos de causalidade implica concluir que a sociedade não é
unívoca, mas composta por diferentes sistemas autônomos que por sua vez integram o
conjunto social. Esses sistemas não se colocam de forma hierárquica, mas convivem de
forma tensa na sociedade.
No entanto, se existem três lógicas “puras” de ação que nos remetem a processos e
mecanismos sociais autônomos, como se dá a atividade do indivíduo envolvido e
confrontado por elas? Dubet (1994) esclarece que a atividade do indivíduo põe em
evidência uma identidade social e a noção de experiência evoca a heterogeneidade do
vivido opondo-se à coerência e à ordem que a noção de papel traz. As lógicas da ação que
estruturam a experiência social não correspondem à organização dos papeis, pois mantém
entre si relações de tensões. É a mobilização dessas lógicas pelo ator numa experiência
individual que dá materialidade à experiência social.
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Analisar a viabilidade política do planejamento participativo no Pólo-Base Sapezal,
do DSEI Cuiabá - MT.
24
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Caracterizar a situação de saúde (serviços, instâncias de controle, prevalência e
incidência de agravos) das aldeias da Terra Indígena Tirecatinga adstritas ao Pólo-
Base Sapezal do DSEI Cuiabá;
Identificar as ações de saúde planejadas e oficializadas pelo Plano Distrital de
Saúde Indígena do DSEI Cuiabá para o Pólo-Base Sapezal;
Identificar as estratégias criativas e tradicionais de cuidado desenvolvidas pelos
sujeitos;
Compreender as lógicas de ação mobilizadas pelos sujeitos (usuários, profissionais
e gestores) nos espaços sociais que atuam;
Analisar os achados tendo como referência as experiências vividas pelos sujeitos
durante o exercício do planejamento participativo no Pólo-Base Sapezal.
3 RESULTADOS ESPERADOS
Ampliar a compreensão da situação de saúde dos usuários indígenas adstritos ao
Pólo-Base do DSEI Cuiabá;
Estender a compreensão sobre as lógicas de ação que permeiam as práticas dos
sujeitos nos espaços sociais ligados à gestão do DSEI Cuiabá, tais como o Conselho
Local, o CONDISI e o Conselho Municipal de Saúde do município de Sapezal;
Tornar a gestão participativa um instrumento de reflexão e mudança no âmbito do
DSEI Cuiabá;
Fornecer subsídios para a institucionalização da gestão participativa a partir do
processo de monitoramento da situação de saúde dos índios.
25
Fomentar a reflexividade e a atividade crítica na comunidade indígena da Terra
Indígena Tirecatinga.
4 METODOLOGIA
4.1 OBJETO DE ESTUDO
O objeto de estudo deste trabalho será a viabilidade política do planejamento
participativo no contexto atual da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos
Indígenas no DSEI Cuiabá.
4.2 LOCAL DE ESTUDO
Este trabalho será desenvolvido no Pólo-Base Sapezal, localizado na Terra Indígena
Tirecatinga, dos índios Nambikwara, a oeste do Estado de Mato Grosso.
26
4.3 ABORDAGENS METODOLÓGICAS: CAMINHOS PARA O EXERCÍCIO
DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO PENSAMENTO ESTRATÉGICO
O trabalho ora proposto compreende um estudo com duas abordagens
metodológicas - quantitativa e qualitativa, embora com predominância desta última. A
abordagem quantitativa se expressa pela importância das informações secundárias contidas
nos sistemas de informação (SOUZA et al., 2007) e registros diários dos profissionais os
quais servirão para o cálculo das prevalências e incidências relativas aos principais agravos
apresentados pelos usuários do Pólo-Base Sapezal. Estas informações serão de grande
importância para a construção da situação de saúde dos usuários adstritos e serão
relacionadas às informações obtidas com a abordagem qualitativa caracterizada nos
parágrafos seguintes.
A articulação entre estas duas abordagens, sobretudo entre a epidemiologia e a
antropologia, é ressaltada por Uchôa (1997) como uma relação que implica rupturas,
contradições, tensões e descontinuidades disciplinares. É nesta perspectiva conflituosa que
a autora ressalta a importância de ambas para uma intervenção efetiva das políticas de
saúde. A sua reflexão parte de uma breve explanação sobre cada uma das abordagens
considerando seus conceitos e metodologias. Para a epidemiologia Uchôa (1997) enfatiza
que a sua função é de investigar, documentar e explicar sistematicamente as diferentes
distribuições dos agravos nas populações. O paradigma que a fundamenta é o mesmo que
caracteriza as definições biomédicas das doenças determinando as prevalências e as
incidências de uma doença específica. Nele são de extrema importância os sintomas, a
etiologia e os comportamentos dos indivíduos. Os métodos utilizados são quantitativos e
seus objetivos almejam encontrar as causas entre os fatores específicos e o
desenvolvimento das patologias.
Já a antropologia tem como objetivo central investigar a influência que os
diferentes fatores do contexto – vida, rede social, estrutura familiar, organização social,
sistema de normas e valores da comunidade – exercem sobre as percepções, interpretações
e ações no campo da saúde por meio de métodos qualitativos que preconizam as definições
das populações em torno do processo saúde-doença. O que importa para esta disciplina
27
integrante das ciências sociais são as concepções culturalmente construídas as quais dão
significados diferentes para os eventos e situações da vida cotidiana.
As divergências são tão claras que num primeiro momento muitos pesquisadores
não conseguem perceber a riqueza que existe em utilizá-las de forma complementar, em
substituição ao antagonismo que as tem acompanhado no campo das investigações.
Minayo (2005; 2006) também discute as contradições e os consensos pertinentes à
combinação de métodos quantitativos e qualitativos. Em sua opinião, o conhecimento
científico se dá pela busca incansável dos pesquisadores pela articulação entre a teoria e a
realidade empírica, e cabe ao método tornar esta abordagem plausível. Todos os
fenômenos trazem atributos numéricos e qualidades intrínsecas o que não justifica seu
antagonismo, mas demonstra a complexidade com que se apresentam.
As restrições ao método quantitativo não se referem às técnicas por ele utilizadas,
mas ao aspecto reducionista que fundamenta a sua abordagem em torno do fenômeno
social. Minayo (2006) acrescenta que a reprodução deste método está marcada pelas
seguintes concepções específicas: causalidade, observação, identificação das estruturas e
instituições que caracterizam a realidade por meio de dados brutos, generalização dos
resultados e hegemonia das ciências exatas. Enquanto isto, o método qualitativo é aquele
que se aplica “ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das
percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de
como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2006,
p. 57)”. A autora finaliza esclarecendo que ambos têm seu lugar e são adequados à
investigação, pois podem conduzir a resultados diferentes e complementares sobre a
realidade social não fazendo sentido um sobrepor-se ao outro.
Para melhor expressarmos nossas escolhas metodológicas retomamos as
considerações em torno dos paradigmas que fundamentam as pesquisas qualitativas. Neste
trabalho, o termo paradigma consiste num conjunto de crenças que fundamentam as ações
do pesquisador refletindo a maneira como ele entende o mundo a ser investigado.
Esclarecemos que de acordo com Denzin e Lincoln (2006) na pesquisa qualitativa os
paradigmas interpretativos podem ser classificados em quatro tipos: positivista e pós-
positivista, construtivista-interpretativo, crítico (marxista, emancipatório) e feminista-pós-
estrutural. Afirmamos que este trabalho está fundamentado no paradigma construtivista o
qual por sua vez tem balizado propostas investigativas que envolvem a participação efetiva
28
de diversos atores em todas as etapas do processo objetivando, entre outros, o aprendizado
(VARGAS et al., 2010c; FREITAS e TEÓFILO, 2010).
No paradigma construtivista são admitidas diversas realidades que nos remetem às
experiências vividas dos sujeitos os quais podem entender o ser humano e a sua realidade
de forma diferente do seu semelhante. Este paradigma também expressa uma
epistemologia subjetivista onde o pesquisador e o entrevistado trabalham juntos para
compreender a realidade observada e vivida conhecendo e refletindo sobre as diversas
práticas do cotidiano. Ainda para Denzin e Lincoln (2006) o objetivo investigativo do
paradigma construtivista é a reconstrução dos fatos vividos por cada um dos envolvidos,
sujeitos e pesquisador, tendo em vista as informações encontradas. O processo
investigativo construtivista está inclinado para a revelação de problemas especiais onde o
próprio pesquisador é um participante apaixonado e que se torna um facilitador da
reconstrução das diversas vozes que surgem ao longo da pesquisa.
Por isso, é importante termos em mente que os enfoques emergentes em torno da
pesquisa qualitativa, entre eles o construtivista, admitem quatro características que
contribuem para uma boa prática investigativa: a participação, a aprendizagem, a
negociação e a flexibilidade. Convém ressaltarmos que a sua característica mais marcante é
a urgência em envolver os principais atores nas políticas e programas objetivando,
sobretudo, avançar para ações inter ou transdisciplinares ultrapassando aquelas abordagens
disciplinares isoladas umas das outras e desconectadas da realidade a que se destinam.
De acordo com Flick (2004) a pesquisa qualitativa vem sendo utilizada com muita
freqüência dada a sua relevância em situações onde os pesquisadores se deparam com
novos contextos, sobretudo aquelas nas quais as abordagens puramente quantitativas
fracassaram na diferenciação de objetos. Deslandes e Gomes (2004) ressaltam que embora
o foco da abordagem qualitativa compreenda o significado das ações sociais, ela também
está ancorada em diferentes bases disciplinares, metodológicas e paradigmáticas as quais
contribuem significativamente para os estudos sobre instituições, grupos, movimentos
sociais e conjunto de interações pessoais. Sobre a abordagem qualitativa aplicada à gestão
de programas, Minayo et al. (2005) lembram que em uma investigação qualitativa trabalha-
se com atitudes, crenças, comportamentos e ações, buscando entender a maneira com que
as pessoas interpretam e conferem sentido às suas experiências e ao mundo em que vivem.
29
Compreendendo que a inclusão dos usuários indígenas no SUS depende de uma
abordagem diferenciada levando em conta a sua diversidade étnica e cultural acreditamos
ser fundamental conhecer e programar as estratégias que garantem a estes usuários o
acesso aos serviços de saúde, bem como a sua satisfação em torno dos serviços utilizados.
Assim, a busca por dados primários ou secundários nos proporcionará um aprendizado
mútuo o qual fortalecerão exercício da cidadania e o empoderamento dos atores
envolvidos.
A estratégia metodológica escolhida é o Estudo de Caso indicado quando se
colocam questões do tipo como e por quê em situações onde o pesquisador tem pouco
controle sobre os acontecimentos e quando o objeto de estudo se encontra nos fenômenos
contemporâneos inseridos num contexto de vida real (YIN, 2005).
Yin (2005) ainda acrescenta que os estudos de caso podem contribuir com o
conhecimento que se tem dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos e
de grupo constituindo-se numa importante estratégia de pesquisa em diversas áreas, tais
como a psicologia, a sociologia, a ciência política, o trabalho social, a administração e o
planejamento social.
Stake (1995) e Yin (2005) propõem algumas tipologias para os estudos de caso.
Stake (1995) apresenta três tipos de estudos de caso: intrínseco, instrumental e coletivo. No
intrínseco o investigador busca o melhor entendimento de um caso particular. No
instrumental o caso particular é examinado principalmente em busca de informações sobre
o tema; deste modo o caso é de interesse secundário e tem um papel de suporte; e no modo
coletivo o estudo de característica instrumental é ampliado para múltiplos casos.
Por sua vez, Yin (2005) identifica diferentes possibilidades de aplicar os estudos de
caso, a saber: para explicar os vínculos causais em intervenções que são complexas demais
para as estratégias experimentais ou de levantamentos; para descrever uma intervenção e o
contexto em que ocorre; para ilustrar certos tópicos dentro da avaliação; e, para explorar
situações nas quais a intervenção que está sendo avaliada não apresenta um conjunto
simples e claro de resultados.
A partir destas tipologias e possibilidades de aplicação afirmamos que este trabalho
consiste em um estudo de caso instrumental e descritivo de intervenção e contexto. A
intervenção de que se trata é apresentada como uma proposta de gestão participativa,cujo
processo servirá de subsídio para a análise da sua viabilidade política no contexto atual da
30
Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Seu aspecto operacional
consiste numa adaptação da proposta de avaliação participativa da OPAS (2005), dividida
em duas fases, com contribuições dos trabalhos de Becker et al. (2004) e Bodstein et al.
(2004).
Pelo exposto até o momento acreditamos na necessidade da Triangulação de
Métodos dada à combinação das abordagens metodológicas. A triangulação de métodos
consiste, na opinião de Minayo (2006), uma dinâmica investigativa que integra a análise de
estruturas, processos e resultados à compreensão das relações ocorridas durante o
desenvolvimento da investigação e à visão dos diferentes atores sobre o projeto.
Esta combinação de abordagens metodológicas integra os aspectos objetivos e
subjetivos do processo de pesquisa incluindo os atores não como objetos de análise, mas
como auto-avaliadores pertencentes à construção do objeto de pesquisa. Deste modo a
triangulação de métodos permite que ao longo do desenvolvimento da investigação e da
análise os sujeitos que vivenciam este processo se apropriem dos dados gerados pelo
trabalho comum e recolham subsídios necessários para promover as mudanças necessárias
(MINAYO, 2006). É por meio da triangulação de métodos que os investigadores tentam
superar a dicotomia quantitativo vcs qualitativo, reconhecendo as fragilidades e limitações
de cada abordagem e a riqueza de sua complementaridade.
4.4 FASE I: A FORMAÇÃO DO COMITÊ DE MONITORAMENTO
Na primeira fase criar-se-á o comitê de monitoramento a partir da identificação dos
colaboradores os quais deverão participar de oficinas. A primeira oficina será realizada
juntamente com a criação do comitê e a finalidade deste momento será a discussão sobre as
áreas-chave sugeridas pelo modelo adaptado da OPAS (2005), tais como participação
social e planejamento participativo. Além disso, é nesta fase que as responsabilidades serão
definidas, coordenação dos grupos, recursos, viagens etc.
31
4.5 FASE II: O PENSAMENTO ESTRATÉGICO COMO INSTRUMENTO DE
MUDANÇA
A segunda fase do processo avaliativo proposto pela OPAS (2005) também foi
redimensionada associando experiências igualmente inovadoras encontradas em outros
estudos (AKERMAN et al., 2000, 2004; BECKER et al., 2004; BODSTEIN et al., 2004) e
deverá apresentar-se em duas subfases conforme descrição a seguir.
4.5.1 Subfase quantitativa
A primeira subfase deverá facilitar a exposição dos problemas considerados
importantes pelo grupo e que exijam monitoramento sob o olhar dos participantes. A
escolha dos problemas deverá remeter os integrantes do comitê aos temas e questões que
nortearão o processo servindo de ponto de partida e retorno sempre que os impasses forem
identificados. Para a abordagem quantitativa propomos a utilização dos dados secundários
fornecidos pelo sistema de informação oficial do DSEI Cuiabá e registros diários dos
profissionais nos postos de saúde das aldeias da Terra Indígena Tirecatinga. Todos devem
servir como subsídios para a identificação dos agravos mais prevalentes na população do
Pólo-Base Sapezal. Este momento deverá iniciar na sede do DSEI e se estender às
unidades de saúde se necessário.
4.5.2 Subfase qualitativa
A segunda subfase caracteriza-se pela abordagem qualitativa e para contemplá-la
adotaremos a análise documental, reuniões de grupo, diário de campo, observações
participantes, filmagens das reuniões e registros fotográficos destes momentos.
Especialmente durante a realização das reuniões serão buscadas informações que envolvam
as condições sanitárias das aldeias, as dificuldades para o acesso aos serviços de saúde, a
32
satisfação dos integrantes do comitê com os serviços prestados, as percepções dos
conselheiros em torno das experiências vividas e a sua percepção em torno da gestão
participativa no DSEI Cuiabá. A abordagem qualitativa será realizada nas aldeias.
4.6 A ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
Para a análise dos achados adotaremos a Análise de Discurso (AD) segundo a
proposta de Maingueneau3 (2007a; 2007b). No caso específico desse estudo, acreditamos
que é na tensão entre os diversos discursos (gestores, profissionais e usuários) existentes no
território do Pólo-Base Sapezal que residem os achados acerca da viabilidade política do
planejamento participativo. Retomando Dubet (1994) enfatizamos que cada sujeito, seja
ele gestor, profissional ou usuário, mobiliza de diferentes maneiras as lógicas de ação do
conjunto social se distanciando e estranhando a si e ao sistema. Estas experiências sociais
se materializam na linguagem, seja esta escrita ou não. Eis a razão pela qual optamos pela
AD para analisar a materialidade lingüística das informações obtidas ao longo do processo
investigativo.
Segundo Maingueneau (2007a) a AD é um espaço multidisciplinar que privilegia o
encontro de diversas ciências, sobretudo as ciências humanas e sociais. Este autor se
inscreve na corrente pragmática dos estudos da linguagem em que a interpretação do
enunciado não se dá apenas pelo conhecimento do léxico e da gramática, mas da língua em
relação ao contexto em que o enunciado é desenvolvido.
Diversas acepções são encontradas sobre a noção de discurso, mas para o autor, o
termo discurso consiste num conjunto de textos dispersos e inscritos na história, cujos
enunciados apresentam regularidades enunciativas. De acordo com esta perspectiva, os
discursos seriam, simultaneamente, objetos lingüísticos e históricos. Além disso, é a partir
3 Sabemos das outras correntes da AD utilizadas por importantes núcleos brasileiros de investigação
científica, sobretudo no campo lingüístico: a corrente de Michel Pechêux (GADET e HAK, 2010;
ORLANDI, 2007) e de Michel Foucault (SARGENTINI e NAVARRO-BARBOSA, 2004). No entanto,
optamos pela proposta de Dominique Maingueneau (2007b) tendo em vista a comensuralidade com o
arcabouço teórico de François Dubet (1994).
33
da articulação entre ambos que podemos questionar a suposta autonomia dos discursos
considerando sua gênese e sua relação com o interdiscurso.
Para Maingueneau (2007b), o discurso une a formação discursiva e a superfície
discursiva. A formação discursiva, por sua vez, é o sistema que restringe o que pode e deve
ser dito e a superfície discursiva é o conjunto de enunciados produzidos a partir da
formação discursiva.
A análise do discurso defendida por Maingueneau (2007b; 1997) está inserida
numa abordagem pragmática em que a linguagem é uma forma de ação. Para ele,
[...] a pragmática tende a enfatizar que “a tomada da palavra” constitui um ato
virtualmente violento que coloca outrem diante de um fato realizado e exige que
este o reconheça como tal. Ao enunciar, eu me concedo um certo lugar e “atribuo
um lugar complementar ao outro”, peço-lhe que se mantenha nele e que
“reconheça que sou exatamente aquele que fala de meu lugar”
(MAINGUENEAU, 1997, p.30-32 – grifos do autor).
A pragmática se opõe a idéia de que a língua só serve para transmitir informações,
pois defende o aspecto interativo da linguagem. Ao admitir a linguagem como ação
institucionalizada a pragmática se opõe a visão passiva da discursividade. Para
Maingueneau (1997) todo o discurso é constituído como experiência social uma vez que a
própria relação social é desde o início linguagem.
A dimensão teórico-metodológica da AD proposta por Maingueneau (2007b) se dá
por meio da descrição e interpretação do corpus sob análise. Das hipóteses nomeadas pelo
autor destacamos: o primado do interdiscurso, a incompreensão regrada, a semântica
global, a competência discursiva, as práticas discursivas e as práticas intersemióticas.
4.7 AS OFICINAS E A DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS
Estão previstas duas oficinas com o intuito de fomentar a discussão em grupo e a
troca de experiências entre os integrantes do comitê de monitoramento e a comunidade das
cinco aldeias da Terra Indígena Tirecatinga. A primeira deverá ser realizada na Fase I
34
juntamente com a formação do comitê de monitoramento; os participantes serão os
integrantes desse comitê e a segunda será realizada após a coleta e análise das informações
qualitativas. Nesta, todos serão convidados a participar. Convém salientar que o objetivo
central desta parte do estudo é fomentar a reflexão e a crítica sobre os problemas
identificados.
A divulgação dos resultados deverá fazer uso das Assembleias do Conselho Local
de Saúde e do CONDISI. Destacamos que o DSEI Cuiabá realiza cerca de três
Assembleias Ordinárias do Conselho Distrital de Saúde Indígena e que faremos uso destas
oportunidades para tornar público o andamento da pesquisa, assim como dar oportunidade
à participação dos demais líderes indígenas na construção do planejamento.
A reflexão final em torno dos sucessos e limitações vivenciadas durante o exercício
do planejamento participativo deverá envolver cada integrante do comitê de modo que
possam colocar para os demais suas percepções em torno da experiência vivida tendo
como parâmetros norteadores as discussões desenvolvidas ao longo do processo. Neste
momento também deverão ser traçadas as novas etapas para o monitoramento das ações
programadas, assim como a escolha dos responsáveis pelo novo ciclo.
5 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Este projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo (COEP/FSP)/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(CONEP) sob o registro CAAE 01375212.9.0000.5421 recebendo aprovação final pelo
COEP/FSP em 04/01/2013 (anexo).
35
6 CONTRIBUIÇÕES CIENTÍFICAS
1. Defesa pública de tese de doutorado;
2. Publicação de artigos científicos:
2.1 Um artigo sobre a situação de saúde dos índios da Terra Indígena Tirecatinga
(abordagem quantitativa);
2.2 Um artigo de caráter metodológico sobre a contribuição da sociologia da
experiência para a compreensão das condutas dos grupos indígenas.
7 ORÇAMENTO
7.1 CUSTEIO
7.1.1 Material de Consumo: R$ 300,00
7.1.2 Serviços de Terceiros:R$ 700,00
7.1.3 Diárias: R$ 25.920,64
7.1.4 Passagens: Aérea São Paulo/Cuiabá/São Paulo R$ 1.000,00
Terrestre Cuiabá/Sapezal/Cuiabá R$ 2.000,00
7.2 CAPITAL
7.2.1 Material Bibliográfico: (Contrapartida)
36
8 CRONOGRAMA FÍSICO-FINANCEIRO
Atividade Pesquisadores/
Colaboradores
Mat.Consum
o/Serv.Terc.
Diárias* Passagens Equipamentos Local
Formação do
Comitê de
Monitorame
nto e 1ª
Oficina
Fabíola Zioni
Karem Vargas
01 técnico do
DSEI
01 assessor
indígena
R$ 250,00
04 x 187,83 x
7,5 =
5.634,90
2 passagens terrestres
trecho
Cuiabá/Sapezal/Cuiabá
1 passagem aérea trecho
São Paulo/Cuiabá/São
Paulo
Datashow:
Filmadora:
Máquina
fotográfica:
Escola de Ensino
Fundamental da Aldeia
Caititu
I Ãssembleia
Ordinária do
Conselho
Distrital de
Saúde
Indígena**
Karem Vargas
Não se
aplica.
01 x 187,83 x
2,5 = 469,57
DSEI Cuiabá
Não se aplica.
A definir.
Subfase
quantitativa
(Fase II):
treinamento
para uso do
instrumento
e coleta de
dados
Karem Vargas
01 técnico do
DSEI
01 assessor
indígena
R$ 250,00
03 x 187,83 x
14,5 =
8.170,60
2 passagens terrestres
trecho
Cuiabá/Sapezal/Cuiabá
Datashow:
Filmadora:
Máquina
fotográfica:
Escola de Ensino
Fundamental da Aldeia
Caititu
II
Assembleia
Ordinária do
Conselho
Distrital de
Saúde
Karem Vargas
Não se
aplica.
01 x 187,83 x
2,5 = 469,57
DSEI Cuiabá
Não se aplica.
A definir.
37
Indígena
Subfase
qualitativa
(Fase II): da
coleta à
discussão
Karem Vargas
01 técnicos do
DSEI
01 assessor
indígena
R$ 250,00
03 x 187.83 x
14,5 =
8.170,60
2 passagens terrestres
trecho
Cuiabá/Sapezal/Cuiabá
Datashow:
Filmadora:
Máquina
fotográfica:
Escola de Ensino
Fundamental da Aldeia
Caititu
2ª
Oficina***
Fabíola Zioni
Karem Vargas
01 técnicos do
DSEI
01 assessor
indígena
R$ 250,00
03 x 187,83 x
4,5 =
2.535,70
01 passagem aérea trecho
São Paulo/Cuiabá/São
Paulo
2 passagens terrestres
trecho
Cuiabá/Sapezal/Cuiabá
Datashow:
Filmadora:
Máquina
fotográfica
Escola de Ensino
Fundamental da Aldeia
Caititu
III
Assembleia
Ordinária do
Conselho
Distrital de
Saúde
Indígena
Karem Vargas
Não se
aplica.
01 x 187,83 x
2,5 = 469,57
DSEI Cuiabá
Não se aplica.
A definir.
* A fórmula para o cálculo é: nº pesquisadores x 187,83 x quantidade de diárias = valor total de diárias para o período.
** As Assembleias do Conselho Distrital de Saúde Indígena do DSEI Cuiabá são realizadas em pousadas localizadas nas imediações do
município de Cuiabá. Daí a dispensa do deslocamento, uma vez que o DSEI disponibiliza transporte para todos os participantes.
*** As duas oficinas serão realizadas na escola de ensino fundamental localizada na Terra Indígena Tirecatinga.
38
9 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
2013
Atividade Mês
1
Mês
2
Mês
3
Mês
4
Mês
5
Mês
6
Mês
7
Mês
8
Mês
9
Mês
10
Mês
11
Mês
12
1 Desenvolvimento da fase I do projeto
2 Início da fase II, subfase quantitativa, do
projeto *
3 Coleta de dados quantitativos
4 Análise e discussão com a comunidade
indígena dos dados quantitativos
5 Elaboração do relatório parcial
quantitativo
6 Submissão 1º artigo científico
7 Início subfase qualitativa
8 Coleta de dados qualitativos
39
2014
Atividade Mês
1
Mês
2
Mês
3
Mês
4
Mês
5
Mês
6
Mês
7
Mês
8
Mês
9
Mês
10
Mês
11
Mês 12
1 Análise e discussão dos dados
qualitativos com a comunidade
indígena
2 Elaboração do relatório parcial
qualitativo
3 Elaboração do relatório final
4 Submissão do 2º artigo
5 Submissão da tese à banca
examinadora
6
Elaboração da cartilha e
encaminhamento para a edição
gráfica
40
REFERÊNCIAS
Akerman M, Mendes R, Bógus CM, Westphal MF, Bichir A, Pedroso ML. Avaliação em
promoção da saúde: foco no “município saudável”. Rev Saúde Pública. 2002;36(5):638 –
646.
Arantes R. Saúde bucal dos Povos Indígenas no Brasil: panorama atual e perspectivas. In:
Coimbra Jr CEA, Santos RV, Escobar AL (orgs). Epidemiologia e Saúde dos Povos
Indígenas no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. FIOCRUZ/ABRASCO; 2003. p. 49 – 72.
Arantes R, Santos RV, Frazão P. Diferenciais de cárie dentária entre os índios Xavante de
MT, Brasil. RevBrasEpidemiol. 2010; 13(2):223 – 236.
Baronas RL, Ponsoni S. Citação, destacabilidade e aforização no texto imagético.
Polifonia. 2011; 18(23): 5-21.
Becker D, Edmundo K, Nunes NR, Bonatto D, Souza R. Empowerment e avaliação
participativa em um programa de desenvolvimento local e promoção da saúde. Ciênc.
Saúde Coletiva. 2004;9(3):655 – 667.
Bodstein R, Zancan L, Ramos CL, Marcondes WB. Avaliação da implantação do programa
de desenvolvimento integrado em Manguinhos: impasses na formulação de uma agenda
local. Ciênc. Saúde Coletiva. 2004; 9(3):593 – 604.
Brasil. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado; 1988.
________ Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União. 20 set 1990; Seção
1:018055.
________ Decreto 564, de 8 de junho de 1992. Aprova estatuto da Fundação Nacional do
Índio – FUNAI e dá outras providências. Diário Oficial da União. 9jun 1992; Seção 1:
007237.
________ Decreto 1.141, de 19 de maio de 1994. Dispõe sobre as ações de proteção
ambiental, saúde e apoio às atividades produtivas para as comunidades indígenas. Diário
Oficial da União. 20 maio 1994; Seção 1: 007443.
________ Decreto 3.156, de de 27 de agosto de 1999a. Dispõe sobre as condições para a
prestação de assistência à saúde dos povos indígenas no âmbito do Sistema Único de Saúde
pelo ministério da Saúde, altera os dispositivos dos Decretos 564, de 8 de junho de 1992, e
1.141, de 19 de amio de 1994, e dá outras providências. Diário Oficial da União. 28 ago
1999; Seção 1: 37.
________Lei 9.836, de 23 de setembro de 1999b. Acrescenta dispositivos à Lei 8.080, de
19 setembro de 1990, que “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá
outras providências”, instituindo o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. Diário Oficial
da União. 24 set 1999; Seção 1:1.
________ Decreto n0
6.878, de 18 de junho de 2009. Altera e acresce artigo no Anexo I do
Decreto n0 4.727, de 09 de junho de 2003, que aprova o Estatuto e o Quadro
41
Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas da Fundação Nacional
de Saúde – FUNASA e dá outras providências. Diário Oficial da União. 19 jun 2009;
Seção 1:5.
________ Lei n0 12.314, de 19 de agosto de 2010. Altera as Leis nos 10.683, de 28 de
maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos
Ministérios, 8.745, de 9 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, e
8.029, de 12 de abril de 1990, que dispõe sobre a extinção e dissolução de entidades da
administração pública federal; revoga dispositivos da Lei no 10.678, de 23 de maio de
2003; e dá outras providências. Diário Oficial da União. 20 ago 2010; Seção 1:2.
________ Decreto n° 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei n° 8.080, de 19 de
setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde – SUS, o
planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa e dá outras
providências. Diário Oficial da União. 29 jun 2010; Seção 1: 1 – 3.
Brunelli AF. Notas sobre a abordagem interdiscursiva de Maingueneau In: Possenti S,
Baronas RL (Orgs.). Contribuições de Dominique Maingueneau para a Análise do
Discurso do Brasil. São Carlos: Pedro & João Editores; 2008. p. 13-26.
Cintra EVCS. Fluxo dos Paresi entre os níveis de atenção à saúde no DSEI Cuiabá, Mato
Grosso. [Dissertação de Mestrado]. Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva da UFMT; 2009.
Costa AM, Noronha JC. Controle Social na Saúde: construindo a Gestão Participativa.
Saúde em Debate. 2003; 27(65): 358 – 363.
Denzin NK, Lincoln YS. O Planejamento da Pesquisa Qualitativa: Teorias e Abordagens.
2.ed. Porto Alegre: Artmed; 2006.
Deslandes SF, Gomes R. A pesquisa qualitativa nos serviços de saúde: notas teóricas. In:
Bosi MLM, Mercado FJ, organizadores. Pesquisa Qualitativa de Serviços de Saúde.
Petrópolis: Editora Vozes; 2004.
Dubet F. Sociologia da Experiência. Lisboa: Instituto Piaget; 1994.
Flick U. Uma introdução à Pesquisa Qualitativa. 2.ed. Porto Alegre: Bookman; 2004.
Franzese C. Administração Pública em contexto de mudança: desafios para o gestor de
políticas públicas. In: Ibañez N, Elias PEM, Seixas PHD (organizadores). Política e Gestão
Pública em Saúde. São Paulo: HUCITEC Editora: Cealag; 2011. p. 19 – 53.
Freitas EC, Facin D. Semântica global e os planos constitutivos do discurso: a voz
feminina na literatura de Rubem Fonseca. Revista do Programa de Pós-Graduação em
Letras da Universidade de Passo Fundo. 2011; 7(2):198-218.
Freitas CASL, Teófilo TJS. Avaliação Construtivista sob uma abordagem integradora e
instersetorial, das ações do Projeto Disque Idoso em Sobral (CE, Brasil). Ciênc. Saúde
Coletiva. 2010; 15(6): 2825-2833.
FUNAI – FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO. Instrução Normativa 01, de 29 de
novembro de 1995. Aprova as normas que disciplinam o ingresso em Terras Indígenas com
finalidade de desenvolver Pesquisa Científica [Acesso em 04 mar 2012]. Disponível em
http://www.bioetica.ufrgs.br/funai.htm
42
FUNASA - Fundação Nacional de Saúde. Plano Distrital de Saúde Indígena 2008 - 2010,
DSEI Cuiabá. Cuiabá; 2007.
Gadet F, Hak T. Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel
Pêcheux. 4 ed. Campinas: Editora Unicamp; 2010.
Guerrero AFH, Mainbourg EMT, Guerrero JCH. Condição nutricional de um grupo de
idosos indígenas no Distrito Sanitário Leste de Roraima. In: Coimbra Jr CEA, Santos RV,
Escobar AL (orgs). Epidemiologia e Saúde dos Povos Indígenas no Brasil. Rio de Janeiro:
Ed. FIOCRUZ/ABRASCO; 2003. p. 89 – 103.
ISA – Instituto Socioambiental. Povos Indígenas do Brasil. [acesso em 12 nov 2012].
Disponível em: www.socioambiental.org
Leite MS, Gugelmin SA, Santos RV, Coimbra Jr CEA. Perfis de Saúde Indígena:
tendências nacionais e contextos locais: reflexões a partir do caso Xavante, MT. In:
Coimbra Jr CEA, Santos RV, Escobar AL (orgs). Epidemiologia e Saúde dos Povos
Indígenas no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. FIOCRUZ/ABRASCO; 2003. p. 105 – 125.
Maingueneau D. A análise do discurso e suas fronteiras. Matraga. 2007a; 14(20):13-37.
________ Gênese dos Discursos.Curitiba: Criar Edições Ltda; 2007b.
________ . Novas Tendências em Análise do Discurso. 3 ed. Campinas: Editora da
UNICAMP; 1997.
Mendes EV (organizador). Distrito Sanitário: O processo social de mudança das práticas
sanitárias do Sistema Único de Saúde. 3 ed. São Paulo/Rio de
Janeiro:HUCITEC/ABRASCO; 1995.
Minayo MCS, Assis SG, Souza ER (organizadores). Avaliação por Triangulação de
Métodos: Abordagem de Programas Sociais. Rio de Janeiro: FIOCRUZ; 2005.
Minayo MCS. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 9 ed. São
Paulo: Ed. HUCITEC; 2006.
Ministério da Saúde. VIII Conferência Nacional de Saúde: relatório final. Brasília, DF;
1986a.
________ I Conferência Nacional de Proteção à Saúde do Índio: relatório final. Brasília,
DF; 1986b.
________ II Conferência Nacional de Saúde dos Povos Indígenas: relatório final. Brasília,
DF; 1993a.
________ IX Conferência Nacional de Saúde: relatório final. Brasília, DF; 1993b.
________ Portaria 852, de 30 de setembro de 1999b. Cria os Distritos Sanitários Especiais
Indígenas – DSEI [portaria na internet].[acesso 19 out 2007]. Disponível em:
http://www.funasa.org.br
________ Portaria 254, de 31 de janeiro de 2002. Aprova a política Nacional de Atenção
aos Povos Indígenas e dá outras providências. Diário Oficial da União. 6fev 2002; Seção 1:
46-49.
________ Portaria 70, de 20 de janeiro de 2004. Aprova as Diretrizes da Gestão da Política
Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas [portaria na internet].[acesso em 20 jul
2007]. Disponível em: http://www.funasa.org.br
43
________ Relatório Final da IV Conferência Nacional de Saúde Indígena. Rio Quente,
GO; 2006a.
________ Departamento de Apoio à Descentralização. Diretrizes operacionais dos Pactos
pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão. Brasília, DF; 2006b.
________ Boletim Informativo. Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI). n° 06;
2012. {acesso em 15 fev 2012]. Disponível em: http://www.saude.gov.br
Mintzberg H, Jorgensen J. Uma estratégia emergente para la política pública. Gestión y
Política Pública. 1995; IV (1): 25-46.
Mintzberg H, Ahlstrand B, Lampel J. Safári de Estratégia: um roteiro pela selava do
planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman; 2000.
Mintzberg H. Ascensão e Queda do Planejamento Estratégico. Porto Alegre: Bookman;
2004.
Mintzberg H. Cinco Ps para a Estratégia. In: Mintzberg H, Lampel J, Quinn JB, Ghoshal S.
O processo da estratégia: conceitos, contextos e casos selecionados. 4. ed. Porto Alegre:
Bookman; 2006. p. 24-29.
Misoczky MC. Gestão participativa em saúde: potencialidades e desafios para o
aprofundamento da democracia. Saúde em Debate. 2003; 27(65): 336 – 347.
Orlandi E. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 7 ed. Campinas: Pontes; 2007.
OPAS – OrganizaciónPanamericana de La Salud/Organización Mundial de La Salud. Guía
de Evaluación Participativa para Municípios y Comunidades Saludables. Lima/Perú; 2005.
Ribas DLB, Philippi ST. Aspectos Alimentares e nutricionais de mães e crianças indígenas
Teréna, Mato Grosso do Sul. In: Coimbra Jr CEA, Santos RV, Escobar AL (orgs).
Epidemiologia e Saúde dos Povos Indígenas no Brasil. Rio de Janeiro: Ed.
FIOCRUZ/ABRASCO; 2003. p.73 – 88.
Rivera FJU (org). Planejamento e Programação em Saúde: um enfoque estratégico. São
Paulo: Cortez; 1989.
Santos RV, Coimbra Jr CEA. Cenários e Tendências da Saúde e da Epidemiologia dos
Povos Indígenas do Brasil. In: Coimbra Jr CEA, Santos RV, Escobar AL (orgs).
Epidemiologia e Saúde dos Povos Indígenas no Brasil. Rio de Janeiro: Ed.
FIOCRUZ/ABRASCO, 2003. p. 13 – 47.
Sargentini V, Navarro-Barbosa P (orgs). M.Foucault e os domínios da linguagem:
discurso, poder, subjetividade. São Carlos:Claraluz; 2004.
Souza MC, Scatena JHG, Santos RV. O Sistema de Informação da Atenção à Saúde
Indígena (SIASI): criação, estrutura e funcionamento. Cad SaúdePública.2007; 23(4):853 –
861.
Stake RE. Case studies. In: Denzin NK, Lincoln YS (editors). Collecting and interpreting
qualitative materials. London: Sage; 1998. p. 134-164.
Tavolaro SBF. Quando Discursos e Oportunidades Políticas se encontram: para repensar a
sociologia política da cidadania moderna. Novos Estudos. 2008; 81: 117 - 136.
Testa M. Pensamento Estratégico e Lógica de Programação: o caso da saúde. São Paulo:
Editora HUCITEC; 1989.
44
Uchôa E. Epidemiologia e Antropologia: contribuições para uma abordagem dos aspectos
transculturais da depressão. In: Canesqui AM. Ciências Sociais e Saúde. São Paulo: Ed.
HUCITEC/ABRASCO; 1997.
Vargas KDA. Avaliação das estratégias locorregionais de articulação entre os níveis de
atenção à saúde: o caso Pólo-Base Rondonópolis, DSEI Cuiabá, Mato Grosso [Dissertação
de Mestrado]. Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva da UFMT; 2008.
Vargas KDA, Vargas DCV, WEISS MCV. Avaliação das estratégias locorregionais de
articulação entre os níveis de atenção à saúde: o caso Pólo-Base Sapezal – Relatório
Parcial. Cuiabá:UFMT, 2010a.
Vargas KDA, Vargas DCV, WEISS MCV. Avaliação das estratégias locorregionais de
articulação entre os níveis de atenção à saúde: o caso Pólo-Base Brasnorte – Relatório
Parcial. Cuiabá:UFMT, 2010b.
Vargas KDA, Misoczky MC, Weiss MCV, Costa WGA. A (des) articulação entre os níveis
de atenção à saúde dos Bororo no Pólo-Base Rondonópolis do Distrito Sanitário Especial
Indígena de Cuiabá-MT. Physis. 2010c; 20(4): 1399 – 1418.
Weiss MC. Contato interétnico, perfil saúde-doença e modelos de intervenção em saúde
indígena: o caso Enawenê-nawê, MT. In: Coimbra Jr CEA, Santos RV, Escobar AL (orgs).
Epidemiologia e Saúde dos Povos Indígenas no Brasil. Rio de Janeiro: Ed.
FIOCRUZ/ABRASCO; 2003. p. 187 – 196.
Yin RK. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman; 2005.
46
Anexo 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Título da Pesquisa: Gestão Participativa no Distrito Sanitário Especial Indígena Cuiabá: uma
análise de sua viabilidade política
Pesquisadores Responsáveis: Profa. Dra. Fabíola Zioni e Doutoranda Ms. Karem Dall”Acqua
Vargas
Esclarecimentos sobre a pesquisa: Este estudo tem por objetivo analisar a viabilidade política
do planejamento participativo no Pólo-Base Sapezal, Terra Indígena Tirecatinga, Estado de Mato
Grosso, Brasil.
As informações serão obtidas através de documentação registrada oficialmente no Sistema
de Informação de Atenção à Saúde Indígena e em registros oficiais das unidades de serviço em
saúde utilizadas pelos usuários indígenas da comunidade residente em TI Nambikwara
referenciados ao Pólo-Base Sapezal, inclusive as Casas de Saúde Indígena - CASAI, observação
direta e participante das práticas de cuidado aos pacientes, realização de grupos focais para
apreender o sentido que os agentes atribuem a estas práticas e ao planejamento das mesmas, assim
como para identificar as estratégias emergentes criadas para garantir o cuidado e o acesso aos
serviços de saúde locais. Destacamos que todo o processo investigativo será conduzido de modo
que ocorra ampla participação da comunidade tanto na construção da situação de saúde, quanto na
identificação e programação das estratégias de cuidado e acesso aos serviços de saúde. Esta é a
essência deste estudo, ou seja, promover a participação social no planejamento da política local de
saúde com vistas para a autodeterminação dos povos indígenas.
Esclarecemos que a pesquisa não faz parte de nenhum programa de governo e oferece
riscos mínimos aos participantes. Sendo assim, se por ventura, as técnicas de coleta de
informações causarem algum constrangimento asseguraremos que as mesmas serão interrompidas;
da mesma forma se a comunidade desejar interromper o estudo sua vontade será respeitada. A
pesquisa contribuirá na qualificação dos trabalhadores de saúde, da comunidade e dos conselhos
local e distrital de saúde com os quais a equipe de pesquisa estará interagindo, considerando tanto a
construção coletiva dos conhecimentos obtida com a prática do dia-a-dia quanto a experiência em
procedimentos já estabelecidos de pesquisa.
Qualquer informação adicional sobre o estudo pode ser solicitada a qualquer momento para
a Prof. Drª Fabíola Zioni (FSP/USP), Avenida Dr. Arnaldo, 715
Cerqueira César, CEP 01246-904, São Paulo, SP/Brasil, Fone/Fax: (11) 3061 7757, e-mail:
[email protected] e/ou Ms. Karem Dall”Acqua Vargas, Rua da Guarita, s/n, Condomínio Terra
Nova Várzea Grande, casa 472, Bairro Figueirinha, Várzea Grande/MT, Fone: (65) 9606 4421, e-
mail: [email protected] .
47
Em caso de dúvidas relativas aos aspectos éticos dessa pesquisa o interessado poderá entrar
em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública/USP no endereço
Avenida Dr. Arrnaldo, 715,
Cerqueira César, CEP 01246-904, São Paulo, SP/Brasil, Fone: (11) 3061 7779, e-mail:
[email protected] , horário de funcionamento 09:00 – 11:00 e 14:00 – 18:00 horas.
Participante da Pesquisa
Eu, ................................................................................................................. estou
informado(a) dos objetivos, procedimentos, riscos e benefícios desta pesquisa, descritos acima.
Entendo que terei garantia de confidencialidade, ou seja, que apenas dados consolidados serão
divulgados e ninguém além dos pesquisadores terá acesso aos nomes dos participantes desta
pesquisa. Entendo também, que tenho direito a receber informações adicionais sobre o estudo a
qualquer momento, mantendo contato com os pesquisadores principais. Fui informado ainda, que a
minha participação é voluntária e que se eu preferir não participar ou deixar de participar deste
estudo em qualquer momento, isso NÃO me acarretará qualquer penalidade.
Compreendo tudo o que me foi explicado sobre o estudo a que se refere este documento e
concordo em participar do mesmo.
PARTICIPANTE: ...............................................................................................
PESQUISADOR: ................................................................................................
LOCAL: .............................................................. DATA: ......./ ......../ .......
OBS.: Autorização solicitada antes das entrevistas