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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM ALESSANDRA CRISTINA SARTORE BALSANELLI FATORES PREDITORES DA ESPERANÇA EM PACIENTES COM CÂNCER DE MAMA EM TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO SÃO PAULO 2012

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UNIVERSIDADE DE SO PAULO

ESCOLA DE ENFERMAGEM

ALESSANDRA CRISTINA SARTORE BALSANELLI

FATORES PREDITORES DA ESPERANA EM PACIENTES COM

CNCER DE MAMA EM TRATAMENTO QUIMIOTERPICO

SO PAULO

2012

ALESSANDRA CRISTINA SARTORE BALSANELLI

FATORES PREDITORES DA ESPERANA EM PACIENTES COM

CNCER DE MAMA EM TRATAMENTO QUIMIOTERPICO

Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem na Sade do Adulto PROESA, da Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo, para obteno do ttulo de Doutor em Enfermagem

Orientadora: Profa.Dra. Sonia Aurora Alves Grossi

SO PAULO

2012

AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Assinatura: _________________________________

Data:___/____/___

Catalogao na Publicao (CIP)

Biblioteca Wanda de Aguiar Horta

Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo

Balsanelli, Alessandra Cristina Sartore

Fatores preditores da esperana em pacientes com cncer

de mama em tratamento quimioterpico / Alessandra Cristina

Sartore Balsanelli. -- So Paulo, 2012.

105 p.

Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da Universidade

de So Paulo.

Orientadora: Prof Dr Sonia Aurora Alves Grossi

rea de concentrao: Enfermagem na Sade do Adulto

1. Esperana 2. Depresso 3. Neoplasias mamrias 4. Dor 5. Auto-estima I. Ttulo.

Folha de aprovao

Tese apresentada ao Programa de Ps Graduao em Enfermagem na Sade do Adulto- PROESA, da Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo, pela candidata Alessandra Cristina Sartore Balsanelli, para obteno do ttulo de Doutor em Enfermagem. Tese defendida em __/___/2012.

A aluna foi considerada ( ) Aprovada ( ) Reprovada

Membros da Banca Examinadora

Assinatura

Prof. Dr. Sonia Aurora Alves Grossi (orientadora) ______________________

Prof. Dr. Cibele Andruciolli de Mattos Pimenta ______________________

Prof. Dr. Miako Kimura ______________________

Prof. Dr. Maria Gaby Rivero de Gutierrez ______________________

Prof. Dr. Tatiana de S Novato ______________________

Dedicatria

Ao meu esposo Alexandre, Sua preciosa companhia foi imprescindvel

para a realizao desta pesquisa!

minha filha Laura, Sua chegada encheu nossa vida de alegria!

Aos meus pais Luiz e Clia,

Que foram meu apoio em todas as fases dessa conquista. um privilgio t-los

como meus pais!

minha irm Cssia, meu cunhado Nei, sobrinhos Joo Pedro e Ana Luiza,

incentivo e companhia em minhas necessidades!

Agradecimentos

A Deus, pela Sua infinita Misericrdia e bondade presentes em minha vida!

Professora Doutora Sonia Aurora Alves Grossi, pela orientao, compreenso e companheirismo. Pelo exemplo de tica profissional e na pesquisa!

toda a minha linda famlia, pelo apoio e pela alegria de poder contar com vocs!

Enfermeira Kaye Herth, que sempre esteve disposio frente s nossas solicitaes!

A todas as pacientes, que no mediram esforos para participarem desta pesquisa. Verdadeiros exemplos de esperana!

equipe de enfermagem do Hospital Prola Byington que carinhosamente me acolheu durante o perodo da coleta de dados. Mais que profissionais, tornamo-nos amigas!

s enfermeiras Suellen Cristina de Sena, Ana Paula Shinkawa, Carla Uehara e ao enfermeiro Renato Ozeki, pela importante colaborao na coleta de dados!

Professora Doutora Cibele Andruciolli de Mattos Pimenta, pelas ricas contribuies no desenho desta pesquisa.

Doutora Dlete Mota, pela colaborao desde a qualificao deste estudo.

A todos os amigos que, direta ou indiretamente contriburam para a realizao desta pesquisa.

Sede alegres na esperana, pacientes na tribulao e perseverantes na orao Rom 12, 12

Balsanelli, ACS. Fatores preditores da esperana em pacientes com

cncer de mama em tratamento quimioterpico tese. So Paulo (SP): Escola de Enfermagem da USP; 2012.

RESUMO

Esperana definida como uma fora dinmica multidimensional da vida caracterizada por uma expectativa confivel, contudo incerta, de conseguir um bom futuro que, pessoa que espera, realmente possvel e significativo. O presente trabalho teve por objetivos caracterizar a esperana em pacientes com cncer de mama no incio e trmino do tratamento quimioterpico e identificar os fatores associados e preditores para a variao da esperana. Trata-se de um estudo quantitativo, exploratrio e prospectivo de corte longitudinal. Foi realizado em um Hospital Pblico de Grande Porte, Centro de Referncia da Sade da Mulher. Foram includos no estudo portadores de cncer de mama com estadiamento clnico I, II e III; com mais de 18 anos de idade; conscientes de seu diagnstico; no primeiro tratamento quimioterpico e com capacidade de ler e responder aos questionrios necessrios. A amostra foi composta por 122 mulheres, com mdia de idade de 50 (10) anos e que responderam os instrumentos no incio e no final do tratamento quimioterpico. Os instrumentos foram: Escala de Esperana de Herth; Questionrio de Investigao do conhecimento do diagnstico; Instrumento de coleta de dados scio demogrficos e clnicos; Karnofsky Performace Status, Escala Numrica de Dor, Inventrio sobre Coping-Jalowiec, Escala Hospitalar de Ansiedade e Depresso, Escala de Auto Estima de Rosenberg, ndice de Religiosidade da Universidade de Duke e o Pictograma de Fadiga. As anlises foram realizadas por meio de estatstica univariada para identificao dos fatores associados esperana, e multivariada (regresso logstica) para a identificao dos fatores preditores. Os resultados mostraram que a amostra estudada apresentou alto nvel de esperana e que houve um aumento significante nos escores de esperana ao final do tratamento (p=0,0012). Os fatores associados esperana foram tempo decorrido entre o aparecimento dos sintomas e inicio do tratamento (p=0,013), Karnofsky Performace Status (p=0,02), depresso (p=0,004), autoestima (p=0,001) e dor (p=0,034). Dentre as variveis analisadas a dor apresentou-se com o nico fator preditor para a esperana. A presena da dor tem a chance de diminuir a esperana em 2,199 vezes mais do que em pacientes que no apresentam dor. Os achados deste estudo permitem concluir que apesar do cncer e do tratamento quimioterpico as pacientes evoluram no decorrer do tratamento com muita esperana, melhora da autoestima e do performace status e diminuio da depresso. As pacientes sem dor tiveram escores mais altos de esperana.

Palavras chaves: Esperana, valor preditivo dos testes, cncer de mama, dor, autoestima, depresso, Karnofsky Performance Status.

Balsanelli, ACS. Predictor factors of hope in patients with breast cancer

undergoing chemotherapy Thesis. So Paulo (SP): School of Nursing, So Paulo University; 2012.

ABSTRACT

Hope is defined as a multidimensional dynamic force of life characterized by a reliable expectation, however uncertain, of getting a good future, to the person who waiting, it really is possible and meaningful. This study aimed to characterize the hope in patients with breast cancer at the beginning and end of chemotherapy treatment and identify associated factors and predictors for variation of hope. This is a quantitative study, exploratory and prospective longitudinal cutting. It was performed in a Large Public Hospital, Reference Center for Womens Health. The study included breast cancer patients with clinical stage I, II e III; over 18 years of age; aware of their diagnosis. In the first chemotherapy treatment and able to read and answer the questionnaires needed. The sample consisted of 122 women with a mean age of 50 (10) years and who answered the instruments at the beginning and end of chemotherapy treatment. The instruments were: Herth Hope Index, Questionnaire for Research on knowledge of diagnosis; collection instrument socio-demographic and clinical data; Karnofsky Performace Status, Numerical Pain Scale, Inventory about Coping-Jalowiec, Hospital Scale of Anxiety and Depression, Scale of Rosenberg's Self Esteem, Religiosity Index of Duke University and the Fatigue Pictogram. The analyses were performed by univariate statistics to identify factors associated with hope, and multivariate (logistic regression) to identify analysis predictors. The results has shown that the sample had a high level of hope and that there was a significant increase in the scores of hope at the end of treatment (p=0,0012). The Factors associated with hope has been time elapsed between the onset of symptoms and treatment initiation (p=0,013), Karnofsky Performace Status (p=0,02), depression (p=0,004), self-esteem (p=0,001) and pain (p=0,034). Among the variables analyzed the pain has appeared with the only significant predictor for hope. The presence of pain has a chance to decrease the hope of 2,199 times higher than in patients without pain. The findings of this study allow concluding that despite the cancer and the chemotherapy treatment, the patients progressed during treatment with high hopes, improves self-esteem and performance status and decreased depression. The patients without pain had higher scores on hope.

Key-words: Hope, predictive value of tests , breast neoplasms , pain, self concept , depression, Karnofsky Performance Status.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Categorizao da Esperana. So Paulo, 2012. ................................................ 43

Quadro 2 - Categorizao das Variveis Sociodemogrficas. So Paulo, 2012. ................. 44

Quadro 3 - Categorizao das Variveis Clnicas e Psicosocioespirituais. So Paulo, 2012. ................................................................................................................... 44

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Box-plot da variao do escore de EEH entre T0 e T1, So Paulo- 2012. ........... 50

Figura 2 - Box-plot da variao do KPS entre T0 e T1, So Paulo- 2012. ............................ 51

Figura 3 - Box Plot da ansiedade na amostra. So Paulo, 2012 ........................................... 53

Figura 4 - Box Plot da autoestima na amostra. So Paulo, 2012 .......................................... 54

Figura 5 - Box plot do tempo de incio dos sintomas com variao do escore de esperana. So Paulo, 2012. ................................................................................ 57

Figura 6 - Box plot do KPS com variao do escore de esperana. So Paulo, 2012.......... 58

Figura 7 - Box plot da autoestima com variao do escore de esperana. So Paulo, 2012. ...................................................................................................................... 60

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 - Variao do escore de esperana entre incio e trmino do tratamento quimioterpico, So Paulo-2012 ......................................................................... 56

Grfico 2 - Variao da dor entre T0 e T1 com variao do escore da EEH, So Paulo-2012 .................................................................................................................... 61

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Caracterizao sciodemogrfica na amostra, So Paulo-2012 ......................... 47

Tabela 2 - Caracterizao da esperana na amostra. So Paulo-2012 ............................... 49

Tabela 3 - Avaliao do Karnofsky Performace Status na amostra, So Paulo-2012 .......... 51

Tabela 4 - Anlise descritiva do coping na amostra, So Paulo-2012 .................................. 51

Tabela 5 - Avaliao da Ansiedade na amostra, So Paulo-2012 ........................................ 52

Tabela 6 - Avaliao da Depresso na amostra, So Paulo-2012 ....................................... 53

Tabela 7 - Avaliao Autoestima na amostra, So Paulo-2012 ............................................ 54

Tabela 8 - Consistncia interna da escala de Religiosidade da Duke - Durel, So Paulo-2012 ........................................................................................................... 54

Tabela 9 - Intensidade de Fadiga na amostra, So Paulo-2012 ........................................... 55

Tabela 10 - Associao do intervalo de tempo entre incio dos sintomas e tratamento e a Esperana, So Paulo-2012 ........................................................................... 57

Tabela 11 - Associao entre a variao da Esperana e KPS, So Paulo-2012 ................ 58

Tabela 12 - Associao entre a variao da Esperana e Ansiedade e Depresso, So Paulo-2012 ......................................................................................................... 58

Tabela 13 - Associao entre a variao da Esperana e Autoestima, So Paulo-2012 ..... 59

Tabela 14 - Associao entre a variao da Esperana e Dor, So Paulo-2012 ................. 60

Tabela 15 - Odds ratio da dor e a variao da esperana, So Paulo-2012 ........................ 62

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

T0 Primeira quimioterapia

T1 ltima quimioterapia

EEH Escala de Esperana de Herth

HHI Herth Hope Index

KPS Karnofsky Performance Status

HADS Hospital Anxiety and Depression Scale Escala Hospitar de Ansiedade e Depresso

EAER Escala de Autoestima de Rosenberg

AC/T Adriamicina e Ciclofosfamida/ Taxol

FAC 5 Fluoracil, Adriamicina e Ciclofosfamida

SUMRIO

1 INTRODUO ..................................................................................................................... 14

1.1 MODELO TERICO DA ESPERANA ....................................................................... 16

1.2 FATORES ASSOCIADOS DA ESPERANA E CNCER DE MAMA REVISO DE LITERATURA ......................................................................................................... 27

2 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 33

3 MTODO.............................................................................................................................. 35

3.1 LOCAL DO ESTUDO .................................................................................................... 35

3.2 POPULAO E AMOSTRA ......................................................................................... 36

3.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS ............................................................... 37

3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ................................................................ 38 3.4.1 Questionrio de Investigao do conhecimento do diagnstico ........................... 38 3.4.2 Instrumento de coleta de dados sociodemogrficos e clnicos ............................. 38 3.4.3 Esperana de Herth EEH ................................................................................... 38 3.4.4 Instrumentos de avaliao de fatores relacionados com a esperana ................. 40

3.5 CATEGORIZAO DAS VARIVEIS .......................................................................... 43 3.5.1 Varivel dependente ............................................................................................. 43 3.5.2 Variveis Independentes ....................................................................................... 43

3.6 TRATAMENTO ESTATSTICO DOS DADOS .............................................................. 44

3.7 ASPECTOS TICOS .................................................................................................... 45

4 RESULTADOS .................................................................................................................... 47

4.1 CARACTERIZAO DA AMOSTRA ............................................................................ 47

4.2 AVALIAO DA ESPERANA .................................................................................... 49

4.3 AVALIAO DE FATORES RELACIONADOS COM A ESPERANA ....................... 50

4.4 FATORES ASSOCIADOS E PREDITORES DA ESPERANA ................................... 55

5 DISCUSSO ........................................................................................................................ 64

6 CONCLUSES .................................................................................................................... 79

REFERNCIAS ...................................................................................................................... 82

APNDICES ........................................................................................................................... 90

ANEXOS ................................................................................................................................. 93

1. Introduo

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

14

1 INTRODUO

O diagnstico de cncer desperta inmeros sentimentos e emoes,

e entre eles, a esperana. Esse sentimento pode ser visto como um recurso

que auxilia os pacientes no enfrentamento do sofrimento psicolgico

associado doena (Rustoen, Cooper, Miaskowski, 2010). Ter esperana

essencial depois que o diagnstico de cncer dado, pois a notcia causa

sofrimento e usualmente recebida como uma ameaa. frequente o

paciente acreditar que o diagnstico de cncer uma sentena de morte, o

que provavelmente resultar em uma profunda perda de esperana

acarretando consequncias deletrias ao seu prognstico (Sardell,

Trierweiler, 1993; Rustoen, Wiklund, 2000).

Esperana um estado relacionado a uma perspectiva positiva

quanto ao futuro (Jakobsson et al., 1993); uma efetiva estratgia de

enfrentamento (Herth, 1989; Aylott, 1998); expectativa de alcanar um

objetivo, algo necessrio para a vida (Stotland, 1969);uma fantstica

dimenso da vida (Hickey, 1986); um poder interior que enriquece o ser

(Herth, 1990); permite a transcendncia da situao atual possibilitando uma

nova conscincia do ser (Herth, 1993); origina-se da f em Deus, d

significado e alegria vida (Holt, 2000); imprescindvel para o bem-estar

espiritual (Wilkinson, 1996); uma palavra abstrata, conceito que significa

coisas diferentes para cada pessoa durante pocas diferentes de sua vida

(Nuland, 1995); est relacionada ao bem-estar, qualidade de vida, sobrevida

e prov fora para resolver problemas e enfrentamentos como perda,

tragdia, solido e sofrimento (Rustoen et al., 1998) A esperana no cura,

mas d nimo ao paciente para que ele continue a lutar pela sua

recuperao. Faz com que o paciente seja rbitro final de seu destino, pois

a fonte de energia para continuar tentando, mesmo quando se sabe que so

poucas as possibilidades de sobrevivncia (Groopman, 2004).

A esperana impulsiona o indivduo a agir, se mover e alcanar. A

falta de esperana o torna opaco, sem objetivos, aguardando a morte

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

15

(Stotland, 1969). O oposto da esperana, a desesperana, ocorre quando

uma situao insupervel e quando no so esperadas mudanas em

relao doena ou ao ambiente. O sentimento de desespero pode surgir

em resposta a perdas e experincias dolorosas, bem como a grandes

mudanas na vida, como uma doena. A partir da ativao de recursos

internos e externos, com o passar do tempo, a desesperana tende a

retroceder (Farran, Herth, Popovich, 1995). A desesperana e a depresso

esto associadas ao desejo de acelerar a morte em pacientes com cncer

em fase terminal (Breitbart et al, 2000).

O medo, a frustrao e a raiva ameaam a esperana (Forbes, 1999).

A fadiga tambm pode ser um empecilho a ela, pois afeta o aspecto fsico,

psicolgico, social e espiritual do indivduo (Benzein; Berg, 2005; Potter,

2004; Mota, 2003).

O interesse pelo estudo da esperana relacionada oncologia advm

da dcada de 80 at os dias atuais (Nowotny, 1989; Herth, 1991; Poncar,

1994; Sartore; Grossi, 2008; Balsanelli; Grossi; Herth, 2010, 2011; Galvo et

al, 2012). Tem sido mais estudada na populao com cncer que em outras

patologias, com exceo das doenas mentais (Herth, 2000). A esperana

tem papel fundamental no paciente com cncer (Nowotny, 1989; Ballard et

al, 1997). Ela est presente na descoberta do diagnstico de cncer

(Radziewicz; Baile, 2001), na primeira recorrncia da doena (Herth, 2000;

Ballard et al, 1997) e no paciente sob cuidados paliativos (Duggleby et al,

2007).

O enfermeiro destaca-se na funo de estimular o sentimento de

esperana em pacientes com cncer e seus familiares, pois mantm um

contato prximo em virtude de cumulativas internaes. Enfermeiros

oncolgicos podem estimular o aumento da esperana e o desejo pela vida,

pois oferecem suporte emocional, informaes sobre a doena e apiam o

tratamento (Hickey, 1986). Inspirar esperana uma das contribuies da

enfermagem ao paciente oncolgico, j que o cncer visto, geralmente,

como uma doena ameaadora e que apresenta um futuro sombrio (Poncar,

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

16

1994). A esperana e o desejo de viver so ingredientes necessrios para o

estabelecimento da confiana no tratamento (Hickey, 1986).

A esperana da cura e do controle dos sintomas do cncer est muito

presente no paciente que se sujeita a tratamentos agressivos, mutilantes,

longos e incertos. O desejo pelo restabelecimento da sade, da integridade

fsica e psquica, frequentemente revelado no comportamento de tais

pacientes. O estudo do construto esperana tem despertado o interesse da

comunidade cientfica na atualidade, pois parece estar diretamente

relacionado ao sucesso dos tratamentos e ao manejo de sinais e sintomas

do cncer.

1.1 MODELO TERICO DA ESPERANA

O presente estudo define esperana segundo o modelo de Dufault e

Martocchio (1985) que descreve a esperana em suas esferas e dimenses.

As descries so baseadas em dados clnicos coletados em um perodo de

dois anos em 35 idosos com cncer. Esses dados poderiam ser

generalizados a outros adultos e foram confirmados em um estudo

longitudinal com 47 pacientes em estado terminal com diagnsticos

variados. Os dados foram coletados atravs da observao dos participantes

em mltiplos ambientes, incluindo o hospital e a residncia dos sujeitos

(Dufault;, Martocchio, 1985).

Este modelo terico foi eleito pela enfermeira Kaye Herth, autora de

Herth Hope Scale e Herth Hope Index, escalas que mensuram a esperana.

As duas esferas e as seis dimenses da esperana, descritas a

seguir, so pautadas no modelo terico de Dufault e Martocchio (1985) e

auxiliam na compreenso da complexa natureza da esperana (Dufault;

Martocchio, 1985).

O modelo define esperana como uma fora dinmica

multidimensional da vida caracterizada por uma expectativa confivel,

contudo incerta, de conseguir um bom futuro que, pessoa que espera,

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

17

realmente possvel e significativo (Dufault, Martocchio, 1985). A esperana

tem implicaes para a ao e para o relacionamento interpessoal. Esperar

no um ato nico, mas um complexo de muitos pensamentos, sentimentos

e aes que mudam com o tempo.

Esferas da esperana

As duas esferas da esperana, geral e particular, embora distintas,

esto relacionadas. Ambas atendem a funes similares que variam em

graus de abstrao.

A esperana geral uma sensao de algum benefcio futuro, porm

de desenvolvimento indeterminado. ampla no espao e no est vinculada

a qualquer objeto abstrato ou concreto da esperana. Ela concede

motivao para manter as responsabilidades e uma ampla perspectiva para

a vida. Possibilita pensamentos que incluem flexibilidade e abertura a novos

eventos. Apresenta-se como um guarda-chuva intangvel que protege aquele

que espera, pois lana uma irradiao positiva sobre a vida. Estende-se

alm das limitaes do tempo e da matria.

Diferente da esperana geral, a esperana particular est relacionada

ao objeto da esperana, que pode ser concreto ou abstrato, explcito ou

implcito. A esfera da esperana particular caracterizada por tais

expectativas:

O que existe no presente pode ser melhorado;

O que uma pessoa no tem agora pode ser alcanado ou

recebido;

As circunstncias desejadas ocorrero;

O que valorizado no presente pode ser parte do futuro

daquele que espera;

Possibilidades desfavorveis no ocorrero.

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

18

A esperana particular esclarece, prioriza e afirma o que a pessoa

percebe ser de maior importncia em sua vida. Preserva e restitui o

significado da vida.

Durante o processo da esfera particular, outras potenciais esperanas

so identificadas. Estas auxiliam no abandono de esperanas irreais e na

focalizao em novas esperanas.

Em algumas circunstncias, as manifestaes da esfera geral da

esperana tornam-se mais evidentes. Essas circunstncias incluem:

Esperanas particulares so seriamente ameaadas ou

abandonadas;

Esperanas particulares so de pouco interesse em virtude das

incertezas;

Esperanas particulares tornam-se mais abstratas e gerais.

Dimenses da Esperana

As dimenses so aspectos conceituais da esperana que, quando

consideradas juntas, do a forma da esperana. As seis dimenses da

esperana so afetiva, cognitiva, comportamental, associativa, temporal e

contextual. Cada dimenso representada por um conjunto de componentes

que estruturam a experincia da esperana. O processo da esperana

caracterizado por mudanas na nfase entre as suas dimenses e seus

componentes. Mltiplos processos da esperana relacionados a diferentes

objetos podem estar ativos simultaneamente na mesma pessoa.

Dimenso Afetiva

A dimenso afetiva tem o foco sobre as sensaes e emoes que

fazem parte do processo da esperana. Componentes da dimenso afetiva

incluem:

Uma atrao ao resultado desejvel;

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

19

Significado pessoal do resultado para o bem-estar daquele que

espera;

Sentimentos de confiana no resultado;

Sentimentos de incertezas sobre o resultado;

Um amplo espectro de sentimentos que podem acompanhar a

esperana.

Os componentes so expressos de vrias maneiras. Expresses

dramticas da dimenso afetiva referentes ao resultado incluem termos

como desejo, anseio e dor. A pessoa experimenta no somente uma

atrao ao que bom, mas tambm dependncia e confiana ao que bom,

acreditando que isso seja importante para o seu bem-estar. Em alguns

casos, o objeto da esperana envolve algo bom para outra pessoa, mas

significante para o bem-estar prprio em virtude do seu relacionamento com

essa outra pessoa.

Os sentimentos de confiana no resultado so expressos por

sentimentos de confiana, otimismo, felicidade, entre outros. A confiana no

resultado no absoluta desde que haja uma incerteza. A incerteza est

relacionada possibilidade do desconhecido ou quando possveis variveis

conhecidas podem alterar negativamente os resultados esperados.

Sentimentos associados confiana e incerteza sobre um resultado

no so necessariamente experimentados ou descritos simultaneamente.

Descrevem-se diferentes sentimentos como medo, desamparo,

fraqueza, desnimo, derrota, associados a circunstncias difceis ou

situaes de ameaa onde futuramente emerge a esperana.

O processo de esperana estimulado enquanto os indivduos

tentam mudar as situaes ou estar acima de suas influncias. Quando a

obteno do objeto da esperana pouco real, sentimentos de dor e

sofrimento estimulam a mudana do objeto da esperana. A espera est

intimamente relacionada incerteza e traz consigo sentimentos como

tenso, ansiedade, excitao, pacincia, impacincia e inquietao.

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

20

A dimenso afetiva permeia todo o processo da esperana. Ela

abrange mltiplos sentimentos, confortveis e dolorosos. Portanto, no h

um sentimento ou grupo de sentimentos que caracterizam o processo da

esperana. Todos os sentimentos e respostas emocionais descritas na

dimenso afetiva poderiam ser experimentados durante este processo,

embora existam diferenas as quais so dominantes ou presentes em um

momento especfico. A confiana e a incerteza individuais sobre os

resultados da esperana variam, bem como seus sentimentos de atrao e

significado pessoal do objeto da esperana.

Dimenso Cognitiva

A dimenso cognitiva foca o processo pelo qual o indivduo anseia,

imagina, admira, percebe, pensa, lembra, aprende, generaliza, interpreta e

julga em relao esperana. Os componentes da dimenso cognitiva

incluem:

Identificao dos objetos da esperana, como um bem

desejado, objetivo;

Avaliao da realidade em relao esperana;

Diferenciao dos fatores promotores e inibidores da

esperana;

Percepo do resultado desejado como realmente provvel ou

possvel, embora incerto;

Uso imaginrio dos fatos do passado e presente que permitem

crer que as possibilidades favorveis so mais amplas do que

pareciam e as possibilidades desfavorveis so mais estreitas

do que pareciam ser.

A esperana baseada na perspectiva da pessoa. Depende da

percepo da situao, das consideraes da realidade e da extenso na

qual as pessoas examinam e avaliam a realidade em relao ao objeto

desejado.

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

21

Atravs do processo de exame da realidade em relao esperana,

a pessoa examina seus prprios recursos, limitaes e fatores externos

como ela e os outros os percebem. Os fatores externos incluem o ambiente

fsico e o social.

Dimenso comportamental

A dimenso comportamental tem seu foco sobre a orientao de ao

da pessoa que espera em relao esperana. Pode-se ter uma ao que

afete diretamente o resultado desejado. H tambm aes que so

motivadas por suas esperanas, mas no afetam o resultado desejado.

Essas aes podem falhar em um dos quatro campos: psicolgico,

fsico, social ou religioso. Aes do campo psicolgico so atividades

mentais, como a organizao de ideias, planejamento de estratgias,

tomada de decises e pensamentos sobre como uma situao pode ser

resolvida ou como pode ser criado um clima que satisfaa a esperana.

Essas aes incluem aes para si mesmo e para os outros que ajudaram

na realizao da esperana. Outra ao do campo psicolgico a espera

ativa por circunstncias favorveis.

Esforos para mudar uma perspectiva, ou aceitar o que no pode ser

mudado em uma realidade sem perder a esperana, so aes do campo

psicolgico da dimenso comportamental, mas tambm envolvem a

dimenso cognitiva e a afetiva.

Aes no campo fsico so especficas, visveis, so atos pessoais

realizados pelo indivduo para alcanar a esperana. Esses atos incluem

atividades fsicas e a performance para funes especiais. Por exemplo,

alimentar-se com uma dieta balanceada, tomar vitaminas e outros

medicamentos prescritos, exercitar-se ou descansar so aes para obter a

esperana para um alvio de sintoma. Aes no campo social so atos que

envolvem os outros. Uma ao procurar ajuda dos outros para obter

esperanas que no se alcanam sozinho.

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

22

Os campos sociais e religiosos da dimenso comportamental se

sobrepem dimenso associativa. Aes do campo religioso so aquelas

relacionadas crena em um Poder Superior ou Deus. Alguns exemplos de

aes so orao, meditao, jejum, seguimento de costumes religiosos,

leitura de literatura espiritual, ouvir ou assistir a programas religiosos, pedir

oraes a um indivduo ou a um grupo e contribuir com caridades. Para

alcanar a esperana, os indivduos podem clamar o auxlio de Deus para

suplementar seus prprios esforos e os das outras pessoas para realizar o

que eles mesmos ou os outros no podem realizar.

Sentimentos e atitudes pessoais auxiliam as aes que tm efeito

sobre o resultado esperado. A esperana serve como um anestsico ou um

isolamento em meio a uma dificuldade. A esperana predispe o indivduo a

tomar sua prpria forma de terapia ocupacional ou interpessoal.

Dimenso associativa (Affiliative Dimension)

A dimenso associativa tem o foco sobre o senso de relacionamento

consigo mesmo, bem como sobre a sustentao da esperana. Esta

dimenso inclui componentes da interao social, mutualidade, pessoas

prximas e ntimas e autotranscendncia. A dimenso associativa

caracterizada no somente pelo relacionamento com as pessoas, mas

tambm pelo relacionamento com Deus (Ser Superior, Fora Criadora) e

com outros seres viventes.

Outras expresses de esperana que esto inclusas nessa dimenso

so aquelas que explicitam confiana especfica sobre ao ou resposta de

outro para alcanar uma esperana particular. Entre elas esto a espera de

que os mdicos sejam capazes de fazer algo para o controle de sintomas; a

de que os membros da famlia sejam capazes de prover os cuidados

necessrios em casa; a de que as pessoas possam trat-lo como uma

pessoa inteligente, de valor e de sentimentos; e a de que Deus d Sua fora

ou oua suas preces.

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

23

A dimenso associativa envolve, tambm, como os indivduos

procuram ajudar os outros ou como so receptivos ajuda. Os outros

servem como fontes de esperana de variadas formas. Atravs de sinais e

informaes adicionais, eles contribuem na compreenso da situao real da

pessoa. Outras pessoas influenciam a continuao da esperana por sua

afirmao, sustentao e encorajamento, bem como por sua escuta

voluntria, partilha das esperanas, pensamentos e sentimentos associados.

Outra expresso da dimenso associativa ouvir como o indivduo fala de

seu sentido de pertena, interdependncia e continuidade nos vrios nveis,

incluindo famlia, organizaes, sociedade, universo e reino de Deus.

Dimenso Temporal

A dimenso temporal tem o foco sobre o tempo passado, presente e

futuro. A esperana direcionada a um bom futuro, porm o passado e o

presente tambm esto envolvidos no processo da esperana.

O futuro. As esperanas individuais so relacionadas ao futuro em

diferentes caminhos. A extenso pela qual os indivduos projetam sua

esperana atravs do momento presente para o futuro depende de

exemplos particulares de esperana. Algumas esperanas so especficas

ao tempo e outras no; algumas so de curto prazo e outras de longo prazo.

Algumas esperanas envolvem o imediato momento, prximo dia, semana,

ms, ano ou dcada; outras so projetadas para um futuro indiferenciado,

um futuro longnquo, ou para a eternidade. Ter esperana no especfica

ao tempo serve como um mecanismo de proteo; indivduos so protegidos

da decepo quando a esperana no realizada em um tempo

determinado. Esperanas no especficas ao tempo estendem

oportunidades para afetar positivamente a esperana. Inversamente, em

virtude da precariedade do tempo com antecipao limitada da durao da

vida pela idade ou pela doena, indivduos so conscientes de que, se suas

esperanas so no especficas ao tempo, elas no sero realizadas. Ento,

os indivduos usualmente tm um misto de esperanas, especficas ao

tempo e no especficas.

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

24

O passado. O passado influencia a esperana de vrias maneiras.

Quando as pessoas experimentaram uma coisa boa que foi esperada no

passado, elas desejam-na para o futuro. Quando as pessoas relembram um

evento, uma atividade ou um relacionamento associado esperana no

passado, elas tm a oportunidade de experiment-lo novamente. Por outro

lado, quando as pessoas relembram situaes do passado que foram

dolorosas, tristes e insatisfatrias de alguma maneira, elas no faro parte

do seu futuro. s vezes, memrias de esperanas no realizadas renovam o

sentido de desapontamento que acompanham o abandono da esperana.

Por outro lado, memrias renovam o processo da esperana para alguns

objetos ou para uma esperana substituta. Na discusso de esperanas

anteriores no realizadas, os indivduos descrevem como enfrentaram suas

perdas e desapontamentos.

O presente. O presente o agora que d ao futuro uma

oportunidade de emergir. A esperana estende o presente ao futuro. Os

indivduos esperam que o presente bom seja parte de seu futuro e que uma

ameaa potencial no negue ou mude o bom para algo pior; esperam que o

presente se torne melhor, que os dficits sejam eliminados ou que algo bom

se torne ainda melhor. Em outras palavras, usa-se o presente como ponto

de referncia para o campo das realidades; eles no tentam estender alm

do presente, ou mudar o presente, mas esperam pr algum grau de

liberdade pessoal, autocontrole e perspectivas relacionadas a eventos

ocorridos no presente.

Dimenso Contextual

A esperana trazida ao peloto da frente da conscincia e da

experincia dentro do contexto da vida, da maneira como interpretada pela

pessoa. A dimenso contextual tem o foco sobre aquelas situaes da vida

que permeiam, influenciam e fazem parte da esperana. De certo modo, os

contextos servem como as circunstncias que ocasionam a esperana, a

oportunidade para que o processo da esperana seja ativado, ou uma

situao para testar a esperana.

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

25

Um contexto frequente na qual a esperana experimentada a

situao de perda atual ou potencial. Os tipos de perdas so os seguintes:

Bem-estar fsico e vida humana;

Habilidades funcionais e independncia;

Habilidade para ser criativo e apreciar ou participar de

atividades estticas, intelectuais e de recreao;

Habilidade para cumprir papis;

Relacionamentos significativos;

Segurana nas finanas;

Uma situao familiar vivida;

Posses valiosas.

Um contexto no qual a esperana experimentada a oportunidade

de trocas com os outros. As trocas podem ser partilhadas no sofrimento

fsico, emocional, dor ou alegria, e na troca de pensamentos e sentimentos

com outros sobre suas prprias esperanas. Outras situaes contextuais

que contribuem para a esperana so aquelas que permeiam ou do

ascenso aos objetivos, ou os reajustam, renovando a vida, considerando os

valores e o significado da vida, e antecipando e preparando para a morte.

A mesma situao da vida pode ser ocasio de esperana ou de

desespero ou ambos, dependendo da interpretao e da resposta individual.

Esperana e desespero no so opostos, nem o desespero a ausncia de

esperana. Usando este conceito, algumas esferas ou dimenses da

esperana esto sempre presentes. Somente quando a esperana mal

conceituada como unidimensional e orientada personalidade, em vez de

multidimensional e orientada aos processos, pode-se dizer que no h

esperana.

Implicaes para a Enfermagem

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

26

A compreenso das esferas e dimenses da esperana pode ajudar

os enfermeiros a serem fontes de esperana para pacientes nas ltimas

fases da vida e para seus familiares. A distino entre as esferas da

esperana precisa ser considerada na sua avaliao. A mesma terminologia

pode ser utilizada para expressar ambas as esferas. Quando o paciente diz

Eu tenho esperana, poderia se referir a um sentido geral de um futuro

bom, ou poderia se referir a uma esperana de natureza especfica, como

viver at depois do Natal ou morrer sem dor. O contexto da conversa dar

sinais que ajudaro o enfermeiro na interpretao do significado. A

implicao para a interveno de enfermagem pode ser bastante diferente

para as duas esferas.

A conscincia da esperana como multidimensional pode orientar a

escuta, a observao e a interao para detectar a presena de cada

dimenso. A informao sobre as dimenses prov a percepo de como

o funcionamento da esperana e como o enfermeiro pode facilitar ou

sustentar a esperana do paciente.

Estratgias relacionadas, que identificam a enfermagem como fonte

de esperana, incluem comunicao e empatia; compreenso das

preocupaes, medos e dvidas do paciente e dos familiares; auxlio s

pessoas para que evitem que sejam imobilizadas pelos sentimentos;

encorajamento ao paciente e famlia. As estratgias da enfermagem

podem ser direcionadas para a sustentao da esperana ou para a

substituio de objetos da esperana.

Estimular a autoestima e as capacidades e diminuir sentimentos de

incapacidade so estratgias que capacitam o paciente para a ao. A

enfermagem pode explorar os caminhos para manter, fortalecer ou estimular

relacionamentos consistentes com as pessoas, condies e esperanas. A

enfermagem pode prover oportunidades para que as pessoas reconheam

que so amadas, cuidadas e importantes na vida dos outros, independente

de sua doena.

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

27

1.2 FATORES ASSOCIADOS DA ESPERANA E CNCER DE MAMA REVISO DE LITERATURA

A reviso da literatura aqui apresentada teve o intuito de fazer o

levantamento de variveis capazes de representar potenciais fatores

preditores da esperana.

Para a presente reviso foi utilizada a estratgia de busca PICO,

ferramenta utilizada para responder a pergunta da pesquisa, primordial para

uma busca bibliogrfica correta. A letra P do acrnimo PICO refere-se a

patient, paciente ou populao, a I refere-se a intervention, interveno ou

indicador, a C comparison, comparao ou controle, e a O outcome,

resultado ou desfecho clnico (Nobre; Bernardo; Jatene, 2003; Santos;

Pimenta; Nobre, 2007).

A partir dessa estratgia foram eleitos os descritores para a questo

do estudo: que fatores podem ser preditores da esperana no paciente com

cncer de mama?

Foi realizada a reviso de literatura nos meses de julho a setembro de

2010 nas bases de dados Pubmed e Bireme. No foram consultadas outras

bases de dados, neste momento do estudo, em virtude da coincidncia de

vrios artigos nas duas primeiras bases de dados.

Na base de dados Pubmed, aps consulta aos descritores Mesh e

acrescidos os termos livres, o acrnimo P correspondeu (breast

neoplasms OR breast cancer). Para o acrnimo I os termos

correspondentes foram (depression OR (psychological stress) OR anxiety

OR religion OR (self esteem) OR (self concept) OR fatigue OR coping OR

(psychological adaptation) OR coping behavior) OR (self efficacy) OR

spirituality OR (social support) OR pain OR (cancer pain) OR (karnofsky

performance status)). O termo livre hope foi o termo correspondente ao

acrnimo O. As palavras-chave ou descritores utilizados so a segunda

ferramenta de maior importncia aps a formulao da pergunta atravs da

estratgia PICO (Nobre; Bernardo; Jatene, 2003).

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

28

No mnimo dois desses componentes so obrigatrios na

sistematizao da pergunta (Richardson et al, 1995). A ferramenta

comparison C no foi includa na busca principal, pois dispensvel para o

estudo em questo. No foram utilizados quaisquer limites nesta base de

dados.

A busca na base de dados Pubmed resultou em 140 artigos, dos

quais 25 foram selecionados. Desses artigos selecionados, alguns foram

excludos por no terem o foco do estudo na esperana.

Foi tambm realizada uma busca por artigos na base de dados

BIREME utilizando-se os mesmos descritores j citados. Previamente houve

consulta no DeCS, descritores em cincias da sade. No foram utilizados

quaisquer limites nesta base de dados. Essa busca identificou 94 artigos,

dos quais 25 foram selecionados aps a leitura dos resumos, sendo que 21

foram artigos idnticos da busca na base de dados Pubmed.

A leitura dos textos que descreviam fatores preditores da esperana

possibilitou a reviso apresentada a seguir.

A esperana em pacientes com cncer de mama avanado tem sido

associada religiosidade como um caminho para o enfrentamento, como

mediadora entre religiosidade e estilos de coping. Especial ateno deveria

ser dada esperana enquanto se trabalha com a religiosidade. A

experincia da esperana na religiosidade pessoal essencial para o

enfrentamento do cncer e para permitir-lhe a confiana em suas crenas

religiosas (Hasson-Ohayon et al, 2009).

Estudo com 100 idosos com cncer demonstrou que houve correlao

positiva entre religiosidade intrnseca, bem-estar espiritual, esperana e

outros estados positivos de humor. Correlao negativa foi encontrada entre

religiosidade intrnseca, depresso e outros estados negativos de humor

(Fehring; Miller; Shaw, 1997).

A esperana tem sido frequentemente associada fadiga. Estudo em

mulheres turcas com cncer de mama revela o aumento da fadiga, nusea,

anorexia, vmito, constipao, depresso, perda de esperana para o futuro

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

29

e medo quando foram comparados os sintomas fsicos e psicolgicos no

pr- tratamento e ps-tratamento (Can; Durna; Aydiner, 2004).

Estudo realizado com 183 pacientes com cncer teve o objetivo de

explorar os nveis de esperana e de coping e se estes nveis estavam

relacionados com o tipo de cncer. O resultado revelou que o nvel de

esperana foi relativamente alto, mesmo em pacientes com cncer

avanado. Encontrou-se uma correlao positiva entre esperana e estilo

de coping utilizado e eficcia do coping (Felder, 2004).

As reaes de enfrentamento ao receber o diagnstico de cncer de

mama foram investigadas em um estudo qualitativo nacional. O sentimento

de desespero foi o mais relatado. A f em Deus foi a principal alternativa

que as mulheres buscaram para enfrentarem o tratamento. Posturas

diferentes s adotadas antes da doena foram relatadas, como serem

menos rancorosas, valorizarem as coisas simples da vida e as pessoas que

esto ao seu lado (Caetano; Gradim; Santos, 2009).

Na avaliao da qualidade de vida em pacientes com cncer, a

esperana um mediador parcial entre sofrimento psicolgico e satisfao

da vida. A esperana pode ser vista como um recurso que auxilia os

pacientes no enfrentamento do sofrimento psicolgico associado ao cncer.

Os pacientes podem experimentar uma variedade de estressores fsicos,

psquicos e sociais que podem ter um efeito diferencial em sua qualidade de

vida considerando quo esperanosos eles so. Quanto pior o estado de

sade, menor o nvel de esperana. Altos nveis de sofrimento psicolgico

predizem baixos nveis de satisfao da vida (Rustoen; Cooper; Miaskowski,

2010).

A maneira como o diagnstico revelado tem impacto na

esperana. O diagnstico de cncer deveria ser revelado individualmente, de

maneira privativa, em um encontro face a face. Um tero das aes mdicas

realizadas ao dar o diagnstico para o paciente causa para a diminuio

da esperana (Sardell; Trierweiler, 1993). H uma relao inversa entre

esperana e verdade: quanto maior a revelao da verdade, maior o

declnio da esperana (Sonnenberg, 2004).

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

30

Os pacientes valorizam a esperana e o otimismo, querem que os

mdicos mantenham uma atitude de esperana e que as informaes

partilhadas sejam honestas, porm no to bruscas para facilitar alguma

esperana ou uma luz no fim do tnel (Hagerty et al, 2005).

Os pacientes com cncer de mama sofrem vrias tenses em

diferentes momentos. Antes da cirurgia existem medos e apreenses

diretamente relacionados anestesia e cirurgia. Alm disso, o medo da

dor e de resultados no estticos so relatados. No ps-operatrio seus

movimentos so limitados por curativos e drenos. Usualmente, aguardam-se

vrios dias pelo resultado histolgico para se determinar qual o tratamento

necessrio e novos medos aparecem quando futuras cirurgias ou provvel

quimioterapia so interrogadas. Apesar da realidade de um bom prognstico,

essas mulheres so afetadas pelo medo de morrer em um futuro prximo.

Suas incertezas relacionadas ao futuro vo alm das reaes da doena e

das alteraes das condies de vida, temem que suas prprias habilidades

de enfrentamento sejam insuficientes. Esto em grande desespero e querem

que suas vidas voltem ao que era anteriormente (Remmers; Holtgrawe;

Pinkert, 2010).

Algumas mulheres preocupam-se mais com seus familiares do que

consigo mesmas, tm medo de tornarem-se fardos para suas famlias em

virtude dos efeitos de sua doena (Remmers; Holtgrawe; Pinkert, 2010).

As pacientes com cncer de mama ps-cirurgia esperam que o

enfermeiro esteja ao seu lado em situaes difceis. Desejam simpatia e que

ao mesmo tempo no lhes negue a esperana de um bom resultado para

sua doena (Remmers; Holtgrawe; Pinkert, 2010).

O enfermeiro pode assegurar ao paciente que ele sobreviver crise,

com a presena de encorajamento, mostrando-lhe suas prprias foras.

crucial para o bem-estar do paciente que um relacionamento verdadeiro seja

desenvolvido entre ele e o enfermeiro durante a hospitalizao. As pacientes

valorizam o contato pessoal. Sentem-se seguras ao saber que o enfermeiro

ter um tempo para ouvi-la quando requisitado. Os desejos expressos com

relao competncia dos enfermeiros esto relacionados a serem dignos

Introduo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

31

de confiana bem como ao profissionalismo nos cuidados. Aos olhos das

pacientes, a qualidade do cuidado aumenta se os profissionais evitam dar

informaes contraditrias e se os pacientes no tm que responder s

mesmas questes repetidamente a todos os profissionais do grupo

(Remmers; Holtgrawe; Pinkert, 2010).

Com o objetivo de atualizar a reviso de literatura, uma nova busca na

base de dados Pubmed foi feita em agosto de 2012, utilizando-se os

mesmos descritores. Foram identificados 177 artigos, dos quais 22 foram

selecionados a partir da leitura dos resumos. A leitura dos artigos no

revelou novos fatores associados esperana, o que reafirma a busca

inicial.

A avaliao da esperana em pacientes com cncer de mama revela

sua importncia nos estudos citados. H tambm o interesse em se

conhecer o que fatores podem estar associados ou serem preditores da

esperana nesses pacientes e, assim, aprimorar a assistncia de

enfermagem. No h estudos nacionais que investiguem o tema, o que

instiga o interesse no desenvolvimento desta pesquisa.

Descreve-se aqui fator preditor como o fator que exerce influncia

positiva ou negativa em predizer um aumento ou uma diminuio no nvel de

esperana no paciente participante do presente estudo.

2. Objetivos

Objetivos

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

33

2 OBJETIVOS

Caracterizar a esperana em pacientes com cncer de mama no

incio e ao trmino do tratamento quimioterpico.

Identificar os fatores associados e preditores para a variao da

esperana no paciente com cncer de mama ao trmino do tratamento

quimioterpico.

3. Mtodo

Mtodo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

35

3 MTODO

Trata-se de um estudo quantitativo, exploratrio e prospectivo de

corte longitudinal.

3.1 LOCAL DO ESTUDO

O estudo foi realizado no Hospital Prola Byington, Centro de

Referncia da Sade da Mulher, que atende pacientes exclusivamente

atravs do Sistema nico de Sade (SUS).

O Hospital Prola Byington presta assistncia hospitalar e

ambulatorial, sendo referncia de excelncia nas reas de ginecologia e

oncologia genital e mamria para a Regio Metropolitana da Grande So

Paulo. Destaca-se seu papel no tratamento do cncer ginecolgico e

mamrio, reproduo humana, planejamento familiar, esterilidade,

sexualidade, violncia sexual e uroginecologia. Presta atividades de ensino,

pesquisa e treinamento para mdicos e profissionais de sade, prprios ou

de outras instituies (Hospital Prola Byington, 2012).

A mastologia desenvolveu um programa que oferece condies para

atendimento em rea fsica especfica. Possui mamgrafos, ultrassom,

patologista e condies para dar continuidade ao atendimento (cirurgias,

radio e quimioterapia). O hospital garante o acesso e resolutividade

populao carente do servio pblico, humaniza, aprimora a qualidade do

servio prestado comunidade e reduz de imediato o nmero de casos

avanados e a mortalidade, sem necessidade de investimentos

suplementares (Hospital Prola Byington, 2012).

No ambulatrio de quimioterapia so atendidos, em mdia, 1000 (mil)

pacientes por ms para procedimentos como quimioterapia, terapia com

cido zoledrnico e heparinizao de catter venoso central (Fonte:

Superviso de Enfermagem do Ambulatrio de Quimioterapia do Hospital

Prola Byington).

Mtodo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

36

3.2 POPULAO E AMOSTRA

A populao do estudo foi composta por pacientes com cncer de

mama atendidos no Hospital Prola Byington, localizado em So Paulo, SP.

Para a composio da amostra, os critrios de incluso foram:

portadores de cncer de mama com estadiamento clnico I, II e III; com mais

de 18 anos de idade; conscientes de seu diagnstico; no primeiro tratamento

quimioterpico e com capacidade de ler e responder aos questionrios.

A equao para o clculo do tamanho da amostra necessrio para

comparar o escore mdio da escala de esperana com um valor de

referncia (populacional), supondo distribuio normal, dada por:

2

2

12

1

2

zzn

onde:

: varincia conhecida

: diferena entre as mdias

: escore-z para significncia

: escore-z para o erro do tipo II

O clculo da amostra foi estabelecido a partir do nvel de confiana de

95%, poder de 80% e 20% do desvio padro (Rosner, 2006).

A amostra de convenincia, a partir do agendamento da

quimioterapia, foi inicialmente composta por 165 indivduos que

corresponderam aos critrios de incluso. No incio do estudo, na primeira

quimioterapia, todos foram entrevistados e responderam aos instrumentos

previstos. Ao final do tratamento, 122 pacientes concluram o estudo,

respondendo novamente aos questionrios.

Mtodo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

37

As perdas ocorreram em virtude de doena metasttica confirmada

em pronturio aps a nossa primeira entrevista, 18 (11%), bitos, 2 (1%), e

alteraes nos agendamentos, 23 (14%).

3.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

Os participantes do estudo foram previamente selecionados a partir

do agendamento e da consulta ao pronturio no Ambulatrio de

Quimioterapia do Hospital Prola Byington.

Os pacientes foram abordados pela pesquisadora no primeiro ciclo de

quimioterapia e esclarecidos quanto aos objetivos e benefcios do estudo em

questo, permitindo-se que manifestassem seu desejo de participar. Os

interessados em fazer parte assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Anexo 1).

No mesmo dia, foram orientados quanto necessidade de responder

a todos os questionrios necessrios consecuo dos objetivos do estudo

no primeiro e no ltimo ciclo de quimioterapia. Assim, a caracterizao da

participao de cada um foi feita em dois tempos: tempo zero T0 e tempo

final T1.

A seguir, tomaram conhecimento dos instrumentos, que foram lidos e

respondidos por eles prprios. Houve pacientes que, por indisposio fsica,

tiveram auxlio da pesquisadora e/ou dos profissionais devidamente

treinados para a leitura dos instrumentos. A pesquisadora esteve

disposio no mesmo ambiente do paciente para esclarecer quaisquer

dvidas.

As informaes relativas aos aspectos clnicos como o estadiamento

da doena, outros tratamentos e protocolo quimioterpico foram obtidas por

meio da consulta ativa ao pronturio.

A coleta de dados foi realizada nos meses de maro de 2011 a maro

de 2012.

Mtodo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

38

3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

3.4.1 Questionrio de Investigao do conhecimento do diagnstico

Para saber se o paciente tinha conscincia do seu problema de

sade, criou-se um questionrio denominado Investigao do

conhecimento do diagnstico para a abordagem desse item, que foi um

critrio de incluso. Nesse instrumento tambm havia um pequeno texto

para que o participante do estudo demonstrasse sua capacidade de leitura

(Anexo 2).

3.4.2 Instrumento de coleta de dados sociodemogrficos e clnicos

Um instrumento idealizado por Mota (2008) e adaptado para este

estudo (Anexo 3) foi utilizado para a obteno de dados sociodemogrficos e

clnicos. Ele contm informaes como sexo, idade, estado civil, religio,

escolaridade, profisso, situao atual de trabalho, renda mensal familiar e

informaes sobre a doena e o tratamento. Nesse instrumento, incluiu-se

uma questo sobre indicativos pessoais de esperana.

3.4.3 Esperana de Herth EEH

A avaliao da esperana, varivel dependente neste estudo, foi

realizada por meio da Escala de Esperana de Herth EEH (Anexo 4).

A Escala de Esperana de Herth, originalmente denominada Herth

Hope Index (HHI), foi validada por ns, para a lngua portuguesa, no ano de

2007, por ser uma escala amplamente validada em diversas culturas (Herth,

1991, 1992; Sartore; Grossi, 2008; Benzein; Berg, 2003; Hsu; Lu; Tsou; Lin,

2003; Wahl et al, 2004; RipamontI et al, 2012). Trata-se de uma escala de

autorrelato, de fcil e rpida aplicao, com itens que quantificam a

Mtodo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

39

esperana (Herth, 1992). composta por 12 itens escritos de forma

afirmativa e a sua graduao ocorre por escala tipo Likert de 4 pontos,

variando de discordo completamente a concordo completamente, onde 1

indica discordo completamente e 4 indica concordo completamente. O

escore total varia de 12 a 48, sendo que quanto maior o escore, mais alto o

nvel de esperana. As afirmaes de nmero 3 e a de nmero 6

apresentam escores invertidos, isto , discordo completamente tem escore 4

e concordo completamente tem escore 1.

No Brasil, o instrumento foi validado em uma amostra de 131

pacientes, sendo 47 pacientes oncolgicos, 40 pacientes diabticos e 44

acompanhantes, cuidadores ou familiares, destes pacientes. Obteve

consistncia interna representada pelo coeficiente Alpha de Cronbach de

0,834 (Sartore; Grossi, 2008).

Herth Hope Index (HHI) uma adaptao de Herth Hope Scale

(HHS), ambos desenvolvidos pela enfermeira Kaye Herth. O objetivo desta

adaptao feita pela prpria autora foi capturar a multidimensionalidade da

esperana como representada por HHS, refletir claramente as dimenses

originais da esperana em populaes clnicas, reduzir o nmero e a

complexidade dos itens e, ento, apresentar uma ferramenta mais til

clinicamente. O Herth Hope Index foi designado para facilitar a avaliao da

esperana em vrios intervalos, onde as variaes nos nveis de esperana

podem ser identificadas. Com adequada validade e confiabilidade, auxilia

pesquisadores na avaliao dos estados de esperana entre os pacientes e

na avaliao da efetividade das estratgias de aumento da esperana. Foi

validada nos Estados Unidos em 1992 em uma populao de 172 adultos,

dos quais 70 possuam doena aguda, 71 eram doentes crnicos e 31 eram

doentes terminais, e obteve consistncia interna representada pelo

coeficiente Alfa de Cronbach de 0,97 (Herth, 1992).

Mtodo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

40

3.4.4 Instrumentos de avaliao de fatores relacionados com a esperana

Os outros instrumentos utilizados neste estudo serviram para

possibilitar a avaliao de fatores que pudessem estar relacionados com a

esperana no paciente com cncer de mama. Eles foram selecionados por

serem capazes de mensurar as variveis relacionadas com o tema

esperana, variveis essas identificadas aps extensa reviso de literatura

utilizando-se a estratgia PICO, j descrita anteriormente. Alm disso, j

estavam validados de forma confivel na literatura cientfica brasileira .

Assim, os instrumentos utilizados, alm da Escala de Esperana de

Herth, foram: Karnofsky Performance Status, Escala Numrica de Dor,

Inventrio sobre Coping-Jalowiec, Escala Hospitalar de Ansiedade e

Depresso Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS), Escala de

Autoestima de Rosenberg (EAER), ndice de Religiosidade da

Universidade de Duke e o Pictograma de Fadiga.

A avaliao do estado de sade dos pacientes foi realizada por meio

do instrumento Karnofsky Performance Status (Anexo 5), que foi

preenchido pelo investigador aps a avaliao clnica do paciente. O

Karnofsky Performance Status um instrumento amplamente utilizado na

oncologia clnica para a avaliao do estado geral do paciente e auxilia na

determinao de provveis tratamentos a serem realizados. Embora no

haja estudos de validao para a lngua portuguesa, sua utilizao na clnica

e na pesquisa o tornou bastante confivel. O escore varia de 0 a 100% onde

0 indica morte e 100% indica sade plena (Karnofsky; Burchenal, 1949).

Para a avaliao da dor foi aplicada a Escala Numrica de Dor

(Huskisson, 1974) que permite que o paciente caracterize a intensidade da

dor por meio de valor numrico de 0 a 10 (0 = ausncia de dor e 10 = pior

dor imaginvel), sendo 0 sem dor; 1 dor leve (1-4); 2 dor moderada (5-

7); 3 dor intensa (8-10) (Cleeland et al, 1994; Ferreira et al, 2008).

O coping foi avaliado atravs do Inventrio sobre Coping-Jalowiec

(Anexo 6), um instrumento que tem por objetivo identificar as caractersticas

Mtodo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

41

individuais de estratgias para enfrentamento de estressores. composto

por 60 afirmaes divididas em oito estilos de coping baseados em

elaborao cognitiva e comportamentos, sendo eles: confrontivo (quando h

confrontao da situao e resoluo do problema de forma combativa),

evasivo (quando se utilizam atividades evitativas na tentativa de afastar-se

do problema), otimista (uso de pensamentos otimistas e comparaes

positivas sobre o problema), fatalista (sentimentos de falta de controle da

situao, desesperana em relao ao problema), emotivo (expresso de

emoes na linguagem relacionada ao problema), paliativo (tentativa de

minimizar a importncia do problema), sustentativo (uso de suporte pessoal,

profissional e espiritual para enfrentar o problema) e autoconfiante (utiliza

mais seus prprios recursos e faz pouco uso de estratgias que envolvam

outras pessoas). O Inventrio sobre Coping-Jalowiec foi validado para a

cultura brasileira em idosos com comprometimento cognitivo, observando-se

boa confiabilidade (Souza-Talarico, 2009). Para o escore final, encontra-se a

pontuao de meio (nmero de afirmaes de um determinado estilo de

coping dividido pelo total de afirmaes deste mesmo estilo). Com a

pontuao de meio de um determinado estilo encontra-se a pontuao

relativa referente a este estilo dividindo-se sua pontuao de meio pela

soma de todas as pontuaes de meio. A pontuao relativa mais alta

representa o estilo de coping predominante (Vitaliano; Maiuro; Russo;

Becker, 1987).

Ansiedade e depresso foram avaliadas atravs da Escala

Hospitalar de Ansiedade e Depresso Hospital Anxiety and

Depression Scale (HADS) (Anexo 7). A validao da verso em portugus

foi realizada em pacientes de uma enfermaria da clnica mdica (Botega et

al, 1995) e mantm seu uso na clnica (Marcolino et al, 2007). Um diferencial

entre HADS e as demais escalas que para prevenir a interferncia dos

distrbios somticos na pontuao da escala foram excludos todos os

sintomas de ansiedade ou de depresso relacionados com doenas fsicas

(Marcolino et al, 2007). A escala HADS contm 14 questes do tipo mltipla

escolha. Compe-se de duas subscalas, para ansiedade e depresso, com

sete itens cada. A pontuao geral para cada subscala varia de zero a

Mtodo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

42

21(Botega et al, 1995). Os pontos de corte recomendados para ambas as

subscalas so: HAD ansiedade: sem ansiedade de 0 a 8, com ansiedade

9; HAD depresso: sem depresso de 0 a 8, com depresso 9 (Zigmond;

Snaith, 1983). uma escala de fcil aplicao e compreenso com o tempo

de preenchimento de aproximadamente 4 minutos (Botega et al, 1995).

A autoestima foi avaliada atravs da Escala de Autoestima de

Rosenberg (EAER) (Anexo 8). uma escala composta por 10 afirmaes

com escore de 0 a 3 onde quanto maior o escore, menor a autoestima. A

verso para a lngua portuguesa dessa escala apresentou bons ndices de

reprodutibilidade e validade com pacientes que iriam se submeter cirurgia

plstica (Dini, 2000). Foi utilizada tambm para a avaliao da autoestima

em pacientes oncolgicos, diabticos e seus acompanhantes ou cuidadores

(Sartore; Grossi, 2008).

A prtica de religiosidade foi avaliada pela Escala de Religiosidade

da Duke DUREL (Anexo 9). A DUREL possui cinco itens que captam trs

das dimenses de religiosidade que mais se relacionam com desfechos em

sade: organizacional (RO) primeira questo; no organizacional (RNO)

segunda questo; religiosidade intrnseca (RI) grupo das trs ltimas

questes. A verso adaptada para o portugus est disponvel para o uso,

porm os autores sugerem que sejam feitos estudos de validade e

confiabilidade dessa verso na populao brasileira (Moreira-Almeida et al,

2008). Para a obteno do escore final, associa-se o nmero

correspondente resposta para o resultado naquela dimenso, porm com

escore invertido, ou seja, maiores escores significam menor religiosidade.

A fadiga nos pacientes com cncer de mama em tratamento

quimioterpico foi avaliada pelo Pictograma de Fadiga (Anexo 10), validado

para a cultura brasileira. O pictograma uma escala composta por duas

questes graduadas em cinco ilustraes legendadas que avaliam a

intensidade e o impacto da fadiga. No h ponto de corte para diagnstico

ou classificao da intensidade da fadiga. Para o teste das propriedades

psicomtricas, cada item foi avaliado separadamente (Mota; Pimenta; Fitch,

2009).

Mtodo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

43

3.5 CATEGORIZAO DAS VARIVEIS

Para esse estudo, foi considerada como varivel dependente a

Esperana.

As variveis independentes foram selecionadas a partir da estratgia

de reviso de literatura, pelo mtodo PICO, e esto apresentadas nos

quadros a seguir.

3.5.1 Varivel dependente

O tratamento adotado para a varivel Esperana neste estudo

apresenta-se no Quadro 1.

Quadro 1 - Categorizao da Esperana. So Paulo, 2012.

Varivel Dependente Categorias Tipo de Varivel

Esperana Escore de 12 a 48 Discreta

A varivel foi considerada discreta e, como no h ponto de corte

para a Escala de Esperana de Herth, define-se como sendo alta ou baixa

esperana a partir do escore final apresentado pela paciente e quanto maior

o escore, maior a esperana.

3.5.2 Variveis Independentes

Os Quadros 2 e 3 descrevem como as variveis independentes foram

categorizadas.

Mtodo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

44

Quadro 2 - Categorizao das Variveis Sociodemogrficas. So Paulo, 2012.

Varivel Categorias Tipo de Varivel

Idade Idade do paciente Contnua

Sexo Feminino ou Masculino Nominal

Estado civil Estado civil do paciente Nominal

Escolaridade Escolaridade do paciente (4 a 15 anos) Discreta

Religio Religio do paciente Nominal

Emprego Sim ou No Nominal

Nmero de pessoas na casa Nmero de moradores Discreta

Renda familiar mensal (em salrios-mnimos)

Nmero de salrios Contnua

Quadro 3 - Categorizao das Variveis Clnicas e Psicosocioespirituais. So Paulo, 2012.

Varivel Categoria Tipo de varivel

KPS 0 a 100% Discreta

Incio dos Sintomas Em meses Contnua

Data do diagnstico Em meses Contnua

Tratamento atual (QT; QT + RT) Nominal

Protocolo de QT Protocolo de tratamento utilizado Nominal

Tratamento anterior Cirurgia, RT, HT Nominal

Comorbidades Comorbidades do paciente Nominal

Dor Sim ou No Nominal

Dor 0 a 10 Contnua

Coping Pontuao de meio e pontuao relativa Contnua

Ansiedade e Depresso 0 a 21(A); 0 a 21 (D) Discreta

Autoestima 0 a 30 Discreta

Religiosidade 5 a 27 Discreta

Fadiga Sim e No Nominal

3.6 TRATAMENTO ESTATSTICO DOS DADOS

Aps as entrevistas com as pacientes, os dados foram inseridos em

um banco de dados do Excell. Sob a orientao de um profissional

estatstico, os dados foram analisados e submetidos aos testes pertinentes

consecuo dos objetivos deste estudo.

Mtodo

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

45

As variveis que no seguem distribuio normal, avaliadas no

momento pr e ps tratamento, foram comparadas com o teste dos sinais

Wilcoxon.

A distribuio das variveis quantitativas foi avaliada com o teste de

Kolmogorov-Smirnov e foi descrita com mdia e desvio padro ou mediana e

intervalo interquartlico.

As variveis categricas foram descritas pelas estatsticas de

frequncia absoluta (n) e relativa (%).

A confiabilidade interna das questes da Escala de Religiosidade da

Duke DUREL foi avaliada pelo Alfa de Cronbach.

A associao entre as variveis categricas e a esperana foi

avaliada com o teste qui-quadrado ou teste da razo de verossimilhana ou

teste exato de Fisher.

As mdias das variveis com distribuio normal, em relao

esperana, foram avaliadas com o teste t-Student. As demais com o teste de

Mann-Whitney.

As variveis que apresentaram significncia estatstica na anlise

univariada foram utilizadas no ajuste do modelo de regresso logstica.

Os valores de p

4. Resultados

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

47

4 RESULTADOS

Os resultados deste estudo sero apresentados em quatro partes. A

primeira refere-se caracterizao da amostra incluindo dados

sociodemogrficos e clnicos. A segunda parte apresenta a avaliao da

esperana. Na terceira parte ser apresentada a avaliao de fatores

relacionados esperana no incio e no fim do tratamento quimioterpico.

Na quarta parte sero apresentados os resultados da anlise univariada, que

determinou as variveis associadas esperana, e da anlise multivariada,

em que o fator preditor da esperana foi identificado por meio da regresso

logstica.

4.1 CARACTERIZAO DA AMOSTRA

A caracterizao sociodemogrfica da amostra est apresentada na

Tabela 1.

Tabela 1 - Caracterizao sociodemogrfica na amostra, So Paulo-2012

Varivel n %

Sexo (Feminino) 122 100%

Idade(anos), mdia e desvio padro 50 10

Estado civil

Casada 67 54,9%

Solteira 36 29,5%

Divorciada 14 11,5%

Viva 5 4,1%

Nmero de pessoas que moram na residncia

Mediana (intervalo interquartlico) 3 (2-4)

Escolaridade (anos)

Mediana (intervalo interquartlico) 8,5 (4-11)

Religio

No tem 2 1,6%

Catlica 66 54,1%

Evanglica 39 32,0%

Esprita 7 5,7%

Congregao Crist 2 1,6%

Testemunha de Jeov 4 3,3%

Outra 2 1,6%

Emprego

Sim 37 30,3%

No 85 69,7%

Renda familiar mensal (R$)

Mediana (intervalo interquartlico) 1200 (800-2000)

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

48

A amostra foi composta por 122 mulheres com cncer de mama, em

tratamento quimioterpico, com mdia de idade de 50 (DP=10,6) anos. A

maioria era casada e de religio catlica. As participantes do estudo tinham

mediana de escolaridade de 8,5 anos e intervalo interquartlico de (4-11).

Quando questionadas se exerciam atividade remunerada no incio do

tratamento, a maioria relatou estar desempregada.

Oito pacientes moravam sozinhas e, para toda a amostra, a mediana

de moradores na residncia foi de 3 e intervalo interquartlico de (2-4)

pessoas. Quanto renda familiar mensal, a amostra obteve uma mediana de

R$1.200,00 com itervalo interquartlico de (R$ 800,00 R$ 2.000,00).

A caracterizao dos aspectos clnicos da amostra est apresentada

a seguir.

Interrogadas quanto ao tratamento que realizavam naquele

ambulatrio, 97,55% das pacientes responderam quimioterapia. Apenas trs

pacientes responderam sem utilizar o termo quimioterapia e disseram:

tratamento porque tirou a mama; tomar medicao e do cncer de

mama. Nenhuma paciente havia realizado tratamento quimioterpico

anterior.

Ao serem questionadas sobre qual seu diagnstico, 90% das

pacientes responderam cncer de mama. Doze pacientes responderam

utilizando termos como cancinho, ndulo no seio, o exame deu positivo,

maligno, 2 cm, no foi um dos piores.

O incio dos sintomas do cncer de mama apresentou uma mediana

de 8 e intervalo interquartlico de (6-13) meses com o mnimo de 3 meses e

o mximo de 46 meses. O tempo entre o diagnstico e o incio do tratamento

obteve uma mediana de 4 meses e intervalo interquartlico de (3-5), sendo o

mnimo de um ms e o mximo de 13 meses.

Apenas uma paciente (0,8%) realizou tratamento radioterpico

concomitante ao incio da quimioterapia.

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

49

Os principais protocolos quimioterpicos utilizados nessa amostra

foram: AC/T (39,5%) na adjuvncia ps-cirurgia da mama, 4 ciclos de

Adriamicina (60mg/m2) e Ciclofosfamida (600mg/m2), seguido de 4 ciclos de

Taxol (175mg/m2) a cada 21 dias; FAC (16,5%), 6 ciclos de 5-FU

(500mg/m2), Adriamicina (50mg/m2) e Ciclofosfamida (600mg/m2) a cada

21 dias e o Protocolo de Pesquisa Multicntrico (12%) onde se utilizavam

as drogas Docetaxel (75mg/m2), Adriamicina (50mg/m2) e Ciclofosfamida

(500mg/m2) por 6 ciclos a cada 21 dias. A mdia da durao do tratamento

quimioterpico entre T0 e T1 foi de 4,2 meses.

O tratamento cirrgico (mastectomia ou quadrantectomia) foi realizado

em 77 pacientes (63%) previamente quimioterapia.

Duas pacientes (1,6%) realizaram tratamento hormonioterpico e trs

pacientes (2,5%) realizaram radioterapia previamente quimioterapia.

Hipertenso arterial e diabetes mellitus foram as comorbidades mais

frequentes, 43 (35%) e 11(9%) pacientes respectivamente.

4.2 AVALIAO DA ESPERANA

A variao dos escores obtidos atravs da aplicao da Escala de

Esperana de Herth (EEH) na amostra estudada est apresentada na

Tabela 2 e na Figura 1.

Tabela 2 - Caracterizao da esperana na amostra. So Paulo-2012

EEH ESCORE N Mediana Intervalo

interquartlico (1 - 3 quartil)

T0 122 43 39 46

T1 122 45 39 46

p= 0,012 Teste dos sinais de Wilcoxon

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

50

Figura 1 - Box-plot da variao do escore de EEH entre T0 e T1, So Paulo- 2012.

O aumento da esperana ao final do tratamento quimioterpico foi

estatisticamente significante (p=0,0012).

As pacientes responderam uma questo aberta sobre esperana: O

que lhe d mais esperana?. As respostas mais frequentes foram: Deus/ F

em Deus (34,5%), Desejo de viver/ Cura (29,5%) e Famlia (25,5%). No

houve associao entre as respostas e a variao do escore de esperana

entre T0 e T1.

4.3 AVALIAO DE FATORES RELACIONADOS COM A ESPERANA

A avaliao do Karnofsky Performance Status est apresentada na

Tabela 3 e Figura 2.

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

51

Tabela 3 - Avaliao do Karnofsky Performance Status na amostra, So Paulo-2012

KPS N Mediana Intervalo interquartlico

(1 - 3 quartil)

T0 122 90 90 90

T1 122 90 90 100

p= 0,007 Teste dos sinais de Wilcoxon

Figura 2 - Box-plot da variao do KPS entre T0 e T1, So Paulo- 2012.

Os valores de KPS aumentaram no momento T1 em relao ao T0 e

esse aumento foi estatisticamente significante (p= 0,007).

A presena e a intensidade da dor foram investigadas nos momentos

T0 e T1. No incio da quimioterapia 54 pacientes (44%) referiram sentir dor

na mama. Ao trmino do tratamento 47 pacientes (38,5%) queixaram-se de

dor. A intensidade da dor foi moderada no incio e no trmino do tratamento.

A mdia do escore em T0 foi de 6,4 e em T1 foi de 5.

A avaliao por meio do Inventrio sobre Coping-Jalowiec nos

momentos T0 e T1 identificou o estilo de coping predominante. A anlise

descritiva est apresentada na Tabela 4.

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

52

Tabela 4 - Anlise descritiva do coping na amostra, So Paulo-2012

Coping T0 T1

n % N %

Fatalista 3 2,5 1 0,8

Confrontivo 47 39,2 45 37,5

Sustentativo 49 40,8 48 40,0

Otimista 46 38,3 58 48,3

Autoconfiante 22 18,3 18 15,0

Emotivo 0 0,0 3 2,5

No incio do tratamento quimioterpico, as pacientes apresentaram o

estilo sustentativo predominante. No trmino do tratamento, o estilo otimista

prevaleceu.

As variveis ansiedade e depresso foram avaliadas atravs da

aplicao do HADS, Escala Hospitalar de Ansiedade e Depresso. As

Tabelas 5 e 6 e a Figura 3 revelam o resultado da alterao da ansiedade e

da depresso nas pacientes do estudo.

Tabela 5 - Avaliao da Ansiedade na amostra, So Paulo-2012

HADS A N Mediana Intervalo interquartlico

(1 - 3 quartil)

T0 122 6 3 9

T1 122 4 2 8

p = 0,001 Teste dos sinais de Wilcoxon

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

53

Figura 3 Box-plot da ansiedade na amostra. So Paulo, 2012

A ansiedade (HADS-A) diminuiu no T1 e essa diminuio foi

estatisticamente significante (p=0,001).

Tabela 6 - Avaliao da Depresso na amostra, So Paulo-2012

HADS D N Mediana Intervalo interquartlico

(1 - 3 quartil)

T0 122 4 2 6

T1 122 3 2 6

p = 0,633 Teste dos sinais de Wilcoxon

A varivel depresso (HADS-D) manteve-se inalterada entre T0 e T1

(0,633).

A Tabela 7 e a Figura 4 apresentam a varivel auto-estima que foi

avaliada por meio da Escala de Auto Estima de Rosenberg (EAER).

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

54

Tabela 7 - Avaliao Autoestima na amostra, So Paulo-2012

EAER N Mediana Intervalo interquartlico

(1 - 3 quartil)

T0 122 7 3 11

T1 122 4 2 8

p = 0,001 Teste dos sinais de Wilcoxon

Figura 4 Box-plot da autoestima na amostra. So Paulo, 2012

O escore da autoestima apresentou uma diminuio significante no

trmino do tratamento em relao ao incio (p=0,001). O escore da EAER

tem valor invertido, portanto, para escore 0 (zero) h maior autoestima. A

autoestima aumentou durante o tratamento quimioterpico para as pacientes

que trataram o cncer de mama.

A Escala de Religiosidade da Duke DUREL teve a sua consistncia

interna analisada neste estudo conforme sugerido pelos autores que a

validaram, como pode ser vista na Tabela 8.

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

55

Tabela 8 - Consistncia interna da escala de Religiosidade da Duke - Durel, So Paulo-2012

T0 T1

Religiosidade Alpha se item retirado Alpha se item retirado

Q1 0,586 0,732

Q2 0,659 0,703

Q3 0,650 0,729

Q4 0,629 0,677

Q5 0,524 0,595

Alpha de Cronbach 0,666 0,736

No T0 as questes Q2, Q3 e Q4 poderiam ser excludas sem alterar o

valor de Alpha. J no T1, as questes Q1, Q2 e Q3 poderiam ser excludas

sem alterar o valor de Alpha. A consistncia interna aumenta em T1.

A Escala de Religiosidade da Duke DUREL avaliou as trs

dimenses da religiosidade nos momentos T0 e T1: a dimenso

organizacional, no organizacional e intrnseca. A varivel religiosidade no

apresentou alterao significante entre T0 e T1 (p=0,110).

A fadiga foi avaliada pelo Pictograma de Fadiga, que composto por

duas questes, uma sobre intensidade e outra sobre o impacto da fadiga.

Ambas foram avaliadas separadamente.

Tabela 9 - Intensidade de Fadiga na amostra, So Paulo-2012

Fadiga A N Mediana Intervalo interquartlico

(1 - 3 quartil)

T0 122 2 2 3

T1 122 2 2 3

p = 0,050 Teste dos sinais de Wilcoxon

A questo 1 do Pictograma de Fadiga quanto cansado voc se

sentiu na ltima semana revelou-se inalterada entre T0 e T1, porm no foi

estatisticamente significante. A questo 2 quanto a sensao de cansao

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

56

te impede de fazer o que voc quer fazer no apresentou significncia

estatstica entre T0 e T1.

4.4 FATORES ASSOCIADOS E PREDITORES DA ESPERANA

A associao entre todas as variveis (quantitativas e categricas) e a

variao da esperana foi avaliada neste estudo. Sero aqui apresentadas

apenas as que apresentaram associao significativa.

Como a Escala de Esperana de Herth no possui ponto de corte,

houve necessidade de dividir a amostra em dois grupos, sendo um que

manteve ou aumentou o escore da esperana durante o tratamento e outro

grupo que diminuiu, como demonstra o Grfico 1.

Diminuiu

35%Manteve /

Aumentou

65%

Grfico 1 - Variao do escore de esperana entre incio e trmino do tratamento quimioterpico, So Paulo-2012

A maioria das pacientes apresentou um aumento da esperana ao

trmino do tratamento. Em 35% da amostra houve uma diminuio do

escore da EEH. O aumento da esperana foi significante (p=0,012).

Todas as anlises para a identificao dos fatores associados e

preditores foram feitas considerando a variao da esperana categorizada

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

57

(diminuiu ou manteve/aumentou) nos momentos T0 e T1. Estas anlises

caracterizaram a estatstica univariada que permitiu o levantamento das

variveis associadas esperana.

A demora na busca de tratamento pelas pacientes desde o incio dos

sintomas do cncer de mama apresentou uma mediana de tempo de 8 e

intervalo interquartlico de (6-13) meses. A Tabela 11 e a Figura 5

demonstram a associao entre a esperana e o intervalo de tempo entre o

aparecimento dos sintomas e incio do tratamento.

Tabela 10 - Associao do intervalo de tempo entre incio dos sintomas e tratamento e a Esperana, So Paulo-2012

Varivel Escore EEH (T1-T0) Mediana Intervalo

interquartlico (1 e 3 quartil)

P

Incio dos sint (meses) Manteve / Aumentou 8 6 12

0,013 Diminuiu 11 7 17

Figura 5 Box-plot do tempo de incio dos sintomas com variao do escore de esperana.

So Paulo, 2012.

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

58

As pacientes que mais demoraram a iniciar o tratamento

quimioterpico apresentaram diminuio significante nos escores de

esperana ao longo do tratamento (p=0,013). A anlise univariada

caracteriza essa varivel como um fator associado esperana.

A Tabela 11 e a Figura 6 apresentam a relao do KPS, avaliao do

estado de sade da paciente, com a variao da esperana.

Tabela 11 - Associao entre a variao da Esperana e KPS, So Paulo-2012

Varivel Escore EEH (T1-T0) Mediana Intervalo interquartlico

(1 e 3 quartil) P

KPS T0 Manteve / Aumentou 90 90 90

0,226 Diminuiu 90 80 90

KPS T1 Manteve / Aumentou 90 90 100

0,020 Diminuiu 90 90 90

Figura 6 Box-plot do KPS com variao do escore de esperana. So Paulo, 2012.

O grupo que diminuiu os escores de esperana apresentou valores

menores de KPS no momento T1. Essa diminuio foi estatisticamente

significante (p=0,02). A anlise univariada caracteriza essa varivel como

um fator associado esperana.

Resultados

Alessandra Cristina Sartore Balsanelli

59

A avaliao da ansiedade e depresso foi realizada e associada com

a variao da esperana entre T0 e T1. A associao pode ser vista na

Tabela 12.

Tabela 12 - Associao entre a variao da Esperana e Ansiedade e Depresso, So Paulo-2012

Varivel Escore EEH (T1-T0) Mediana Intervalo interquartlico

(1 e 3 quartil) P

HADS Escore A T0 Manteve / Aumentou 6 3 10

0,721 Diminuiu 6 4 8

HADS Escore A T1 Manteve / Aumentou 4 2 7

0,087 Diminuiu 5 3 9

HADS Escore D T0 Manteve / Aumentou 4 2 6

0,645 Diminuiu 5 3 6

HADS Escore D T1 Manteve / Aumentou 3 1 5

0,004 Diminuiu 5 3 8

O grupo que diminuiu a esperana durante o tratamento apresentou

um aumento significante nos escores de depresso (p=0,004). A anlise

univariada caracteriza essa varivel como um fator associado esperana.

Os resultados da associao entre a variao da esperana durante o

tratamento e a autoestima esto demonstrados na Tabela 14 e na Figura 7.

Tabela 13 - Associao entre a variao da Esperana e Autoestima, So Pa