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Universidade de São Paulo
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Artes Visuais
Relatório Final
Desenvolvimento de Bases e Paleta Vítrea, para superfícies cerâmicas, pelo método da
mescla ternária
Por
Tomás Foch Nalle
Orientadora:
Profª Drª Norma Tenenholz Grinberg
São Paulo, 30 de agosto de 2011.
2
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 3
Metodologia ...................................................................................................................... 5
Progresso do Trabalho ...................................................................................................... 7
Resultados Finais .............................................................................................................. 9
Experimentos Iniciais ................................................................................................... 9
Experimento I ............................................................................................................... 9
Experimento II ............................................................................................................ 10
Experimento III ........................................................................................................... 11
Potencializações.............................................................................................................. 12
Potencializações I e II ................................................................................................. 13
Potencializações III e IV ............................................................................................. 15
Potencialização V ....................................................................................................... 17
Receitas ........................................................................................................................... 19
Potencialização I – cone 04 (1050˚C a 60˚C/h) .......................................................... 19
Potencialização II – cone 04 (1050˚C a 60˚C/h) ......................................................... 20
Potencializações III e IV – cone 04 (1050˚C a 60˚C/h) .............................................. 21
Potencialização V – cone 04 (1050˚C a 60˚C/h) ........................................................ 22
Conclusão ....................................................................................................................... 23
Figuras ............................................................................................................................ 25
Glossário ......................................................................................................................... 45
Bibliografia ..................................................................................................................... 47
Apoio .............................................................................................................................. 49
3
Introdução
O objetivo dessa pesquisa é fazer-se uma introdução aos esmaltes cerâmicos
através de experimentações com materiais apropriados. Por esmalte cerâmico entende-
se uma combinação de minerais que é dissolvida em algum veículo líquido, aplicada
sobre um corpo cerâmico e então cozida e resfriada lentamente em fornos especiais,
para que se torne uma capa vítrea1. A função dessa capa é impermeabilizar e modificar a
cor e a textura de uma superfície cerâmica, abrangendo uma grande variedade de
possibilidades. Os esmaltes podem ser transparentes ou opacos, brilhantes ou foscos,
lisos ou ásperos, contínuos ou fragmentados, entre outras sutilezas.
Antes de ingressar na universidade, eu já havia entrado em contato com a
cerâmica em ambiente familiar na região de Araras-SP. Como trabalho pessoal, me
aproximei da pintura e do desenho, mas sempre estou em contato com o trabalho em
cerâmica. No universo cerâmico, os esmaltes são análogos a tintas para o pintor, mas
não é simples controlar as características de um esmalte, pois sua aparência durante a
aplicação e depois da queima é muito diferente. Por isso, senti a necessidade de
conhecer melhor sobre seu funcionamento de maneira prática, para que pudesse obter
mais controle sobre o processo, além de não ficar limitado a esmaltes comerciais, que
apresentam um custo elevado, e que nem sempre correspondem às expectativas, pois
são produzidos para agradar a média dos consumidores.
O principal constituinte de um esmalte é alguma substância vítrea, conhecido
também como o componente ácido, geralmente a sílica. A este material são adicionados
fluxos e anfóteros. Os fluxos, conhecidos também como bases ou alcalinos, têm a
função de facilitar a fusão da sílica; os anfóteros ou neutros ajudam na aderência entre o
esmalte e o corpo cerâmico, e são introduzidos normalmente sob a forma de alumina ou
argila2. Esses materiais também modificam as características físicas dos esmaltes, como
cor, brilho, opacidade e textura.
Esses três componentes, o ácido, a base e o neutro são os elementos básicos de um
esmalte. É importante ressaltar que um mesmo material pode desempenhar mais de uma
função como componente de um esmalte, como os feldspatos, que são considerados
esmaltes ou fritas naturais, contendo os três elementos principais de um esmalte3. Para
cada fórmula de esmalte corresponde uma determinada faixa de temperatura dentro da
qual ele é considerado utilizável, ou seja, quando ocorre a fusão dos minerais sem que
os mesmos escorram, permanecendo sobre a superfície do objeto cerâmico4.
1 HAMER, Frank and Janet, The Potter’s Dictionary, p.163.
2 HOPPER, Robin, The Ceramic Spectrum, p.59
3 HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p.135
4 Ibidem, p. 165.
4
Além da composição do esmalte, o processo de transformação físico-química em
fornos cerâmicos, denominado queima, influi bastante no resultado5. Existem diferente
tipos de fornos, os mais comuns sendo a lenha, a gás e elétricos, que podem ser
operados a diferentes ritmos de aquecimento e resfriamento, bem como controlados para
permanecer em certa temperatura por um tempo estipulado, processo conhecido como
patamar. Ainda dentro da queima, é possível controlar a atmosfera do forno, em termos
de presença de oxigênio, para que esta se torne oxidante (abundante em oxigênio) ou
redutora (carente de oxigênio).
Para definir os componentes de um esmalte, existe a possibilidade de utilizar o
cálculo de esmaltes, que possibilita prever sua temperatura de fusão, comparar fórmulas
e substituir materiais que não estão mais disponíveis, entre outros usos, mas o problema
é que este método não é capaz de prever a aparência do esmalte e nem as diferenças que
este apresentará em diferentes condições de queima e aplicação6.
Por isso, optou-se por um método experimental, que consiste na combinação
sistemática de minerais cerâmicos e a posterior seleção dos bons resultados. A ideia é, a
partir desse processo de experimentação, obter algumas receitas de esmaltes para baixa
temperatura, aproximadamente entre 1000ºC e 1100ºC, e fornecer também descrição e
documentação fotográfica dos resultados obtidos.
5 HOPPER, Robin, Op. Cit., p.48.
6 Ibidem, Op. Cit., p.59.
5
Metodologia
A intenção desse processo de experimentação é permitir a familiarização com a
produção de esmaltes para pequena e média escala. Os experimentos consistem em
obter diferentes combinações entre alguns minerais cerâmicos, aplicá-los sobre corpos
de prova, e queimá-los, mantendo um registro sobre as diferentes formulações e
temperaturas de queima, que servirão para posterior seleção e potencialização dos
resultados, com a adição de outros minerais fundentes ou refratários.
Os corpos de prova utilizados para testar os esmaltes foram feitos em dois tipos de
massa. Uma delas é uma argila vermelha chamotada oriunda da região de Araras/SP e a
outra é uma barbotina grés branca comercializada pela Tecno Arte Cerâmica, empresa
de São Caetano do Sul/SP. O primeiro tipo corresponde à massa com a qual tive os
primeiros contatos com técnicas cerâmicas através de meu pai, antes de ingressar na
universidade. Continuamos a utilizar essas massas em estúdio particular na mesma
localização. Já a segunda variedade é uma massa líquida, para queima até 1180˚C,
utilizada para conformação em moldes de gesso, processo que conheci durante a
graduação.
Na região de Araras/SP existem importantes polos cerâmicos, como as cidades de
Porto Ferreira/SP e Santa Gertrudes/SP. A argila com que trabalho provém de fontes
locais, e geralmente é adquirida através do contato com pequenos produtores de
utensílios cerâmicos, que utilizam o material em maior quantidade e eventualmente
repassam para ceramistas que trabalham em menor escala.
Para auxiliar na combinação dos minerais optou-se por um método conhecido
como mescla ternária7, que utiliza um diagrama triangular, cujos vértices representam
três grandezas diferentes, onde são representados os minerais em estado puro. Nas
arestas do triângulo, ocorrem mesclas entre dois minerais, e no interior do triângulo,
mesclas entre os três materiais, sempre de acordo com a distância de um dado ponto
interno em relação aos vértices do triângulo. Para exemplificar, dado um triângulo
ABC, no meio da aresta AB teremos 50% de A e 50% B. No ponto interno equidistante
dos três vértices, teremos um terço de cada substância. Ver Figura 1.
O objetivo dos experimentos realizados é conseguir obter algumas receitas de
esmaltes para a faixa de temperatura entre o cone 04 (1050º C a 60˚/C) e o cone 1
(1136º C a 60˚C/h), de fabricação da Orton Ceramic, e que corresponde à faixa de
temperatura em que trabalho em meu estúdio. A receita de um esmalte mostra como
chegar à sua formulação indicando a proporção em massa de seus ingredientes,
diferente da fórmula química, que indica a proporção entre os elementos químicos ou
óxidos que devem estar presente no esmalte.
A vantagem da receita é que indica de forma mais direta como produzir um
esmalte. A fórmula química precisa ser convertida em uma receita para a produção do
7 Idem, p. 96.
6
esmalte, e necessita de conhecimento específico na área de química ou de utilização de
softwares para cálculo de esmaltes. A fórmula química é muito útil para chegar à
mesma formulação de um esmalte através de diferentes ingredientes, para que algum
material que não esteja mais disponível seja substituído por outro com propriedades
semelhantes, gerando uma receita alternativa o esmalte.
Como materiais para o experimento inicial foram utilizados o Quartzo (sílica), a
Calcita (carbonato de cálcio) e a Albita (feldspato sódico). O Quartzo, fonte comum de
sílica para massas cerâmicas e esmaltes, é a substância vítrea, que funde a
aproximadamente a 1710ºC8. A Calcita
9 ou Carbonato de Cálcio é um fluxo muito
utilizado para altas temperaturas, e que produz um vidro duro e resistente. A Albita10
ou
Feldspato Sódico é a segunda variação mais comum de feldspato, usado para introduzir
o fluxo sódio, e fundindo a uma temperatura um pouco mais baixa que o tipo mais
comum, o Feldspato Potássico, e que por si só representa um esmalte para temperaturas
a partir do cone 5 (1177˚C a 60˚C/h)11
.
Existe um fenômeno, chamado eutexia12
, que é de grande importância para o
ceramista. Ele diz respeito a uma propriedade que certas ligas têm de ser mais fusíveis
que seus componentes isolados. O óxido de chumbo, por exemplo, funde a 880ºC e a
sílica a 1710ºC, e quando uma massa igual desses minerais é combinada, fundem a
aproximadamente 800ºC, ao invés de 1295ºC, o ponto intermediário entre as duas
temperaturas. O ponto eutético entre essas duas substâncias seria uma mistura de 90%
de óxido de chumbo e 10% de sílica, fundindo a cerca de 510º C.
É possível obter formulações de esmaltes utilizando-se apenas dois ingredientes13
,
mas no caso optou-se por utilizar três materiais iniciais, para obter uma maior gama de
resultados. Posteriormente, para reduzir a temperatura de fusão das bases do
experimento inicial foram utilizados os seguintes materiais:
Fritas comerciais CMF 001 e CMF 096;
Nefeline Sienita (nacional);
Borato de Cálcio (Colemanita);
Óxido de estanho.
Uma descrição mais detalhada das propriedades e da intenção do uso desses
materiais será fornecida na parte sobre os Resultados.
O diagrama ternário escolhido para o experimento inicial foi o de 66 (sessenta e
seis) bases, escolhido por propiciar resultados com muitas nuances, já que a variação de
8 HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 323.
9 HOPPER, Robin, Op. Cit., p.73.
10 HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p.4.
11 HOPPER, Robin, Op. Cit., p. 74.
12 Ibidem, p.91.
13 Idem., p.92.
7
cada grandeza de um ponto para outro se dá em décimos (ver Figura. 1b ). Para a
potencialização dos resultados dos primeiros experimentos através da adição de outros
minerais, foi utilizado o diagrama ternário de 15 (quinze) bases e a mescla binária com
variação em décimos, de 11 (onze) bases, que corresponde a uma aresta do diagrama de
66 bases.
Progresso do Trabalho
Para a realização dos experimentos, foi necessário comprar uma série de
materiais, entre minerais cerâmicos e outros itens necessários, que estão abaixo
relacionados. Depois foram feitos uma quantidade de corpos de prova suficientes para
os primeiros experimentos. Logo após essa fase, foram pesados e moídos os primeiros
esmaltes, de acordo com o diagrama de 66 bases. A partir dessa fase foram realizadas
várias queimas com os testes das diferentes combinações de minerais, paralelamente
com a manutenção constante da quantidade de corpos de prova e aquisição de novos
materiais para os próximos experimentos.
Para fazer os corpos de prova, foi adquirida uma quantia de barbotina branca e
gesso para confecção de moldes. A argila vermelha foi trazida de Araras/SP, e foi
adquirida por intermédio de um pequeno produtor de vasos e utensílios cerâmicos de
Cordeirópolis/SP. No começo eu estava fazendo simples placas de aproximadamente 4
x 4 cm de área e 3mm de espessura, mas em reunião com a orientadora resolvemos que
seria melhor refazer esses primeiros corpos de prova para incluir uma pequena
cavidade, onde se acumula uma maior quantidade do esmalte, servindo como
contraponto à aplicação no restante da superfície da placa. Fazer os corpos de prova e
organizar os outros materiais imprescindíveis aos experimentos ocupou todo o tempo
até o final do ano letivo de 2010. Em janeiro e parte de fevereiro de 2011 me ocupei da
produção do relatório parcial.
Nessa época também adquiri, segundo conselho de minha orientadora, dois livros,
que foram bastante importantes como referência: um deles foi o The Ceramic Spectrum
– A Simplified Approach to Glaze & Color Development, de Robin Hopper, um livro
cujo principal objetivo é estimular a experimentação com esmaltes. O outro foi o The
Potter’s Dictionary – of Materials and Techniques, de Frank Hamer e Janet Hamer, um
dicionário de termos cerâmicos. É notável como é praticamente inexistente a
bibliografia sobre técnicas para cerâmica artística em português. A maioria das
publicações disponíveis está em inglês ou espanhol.
Uma vez entregue o relatório parcial, dei procedimento às primeiras combinações
de esmaltes. Em setembro de 2010 entrei em contato com a empresa Brasilminas14
, que
me forneceu a quantia mínima de cada um dos minerais: 25 kg de Quartzo, 25 kg de
Calcita e 50 kg de Albita. A quantidade necessária para o experimento era menor, mas
achamos interessante que eu pudesse ter uma quantidade maior dos minerais para poder
14
Disponível em http://www.brasilminas.net/ acesso em 10/08/2011
8
continuar a usá-los após o término da bolsa. Os três materiais estão sob a forma de um
pó branco, cada um com uma nuance diferente, e foram adquiridos na menor granulação
disponível15
, pois isso aumenta a área de contato e consequentemente a interação entre
os minerais, que fundem mais rapidamente16
.
Para conter os minerais durante a pesagem e após a moagem dos esmaltes adquiri
potes pequenos (250 ml), para as diferentes combinações entre os minerais, e potes
grandes (1 litro), para o armazenamento dos minerais puros; um almofariz e um pistilo
para moagem dos minerais; CMC17
, uma cola orgânica que faz com que o esmalte tenha
uma melhor aderência ao corpo cerâmico antes da queima, além de inibir a floculação
do esmalte, permitindo que os minerais permaneçam em suspensão, diminuindo assim a
quantidade necessária de água para deixar o esmalte num ponto adequado para sua
aplicação.
Cada um dos potes recebeu uma numeração de acordo com o experimento. No
diagrama de 66 bases, por exemplo, são necessários 63 potes para as combinações entre
os minerais, excetuando-se as bases de número 1, 56 e 66, que correspondem aos
minerais puros e são moídos pouco antes da aplicação sobre o corpo de prova. A massa
total estipulada para a mistura a seco dos minerais foi de 20 g (vinte gramas).
Para organizar a medição dos esmaltes, utilizei uma tabela que corresponde à
distribuição de valores segundo o diagrama ternário18
, na qual ia assinalando cada um
dos ingredientes adicionados na quantidade correta no recipiente de número
correspondente, e passava-se para o seguinte. Os esmaltes foram medidos através de
uma balança digital da Marte Balanças e Aparelhos de Precisão LTDA, modelo
AS100019
, com precisão de duas casas decimais, disponível para uso dos alunos de
cerâmica no Departamento de Artes Visuais da ECA-USP.
Após a medição dos ingredientes, cada esmalte é moído manualmente no
almofariz de porcelana junto com a quantia adequada de CMC, por um tempo mínimo
de cinco minutos, para que a mistura se torne homogênea. Essa é sem dúvida a parte
mais trabalhosa da preparação dos experimentos e exige bastante do físico do
pesquisador. A aplicação dos esmaltes foi feita com pincel, e para tal o esmalte foi
diluído até ficar no ponto de um iogurte líquido. Como uma pequena quantidade (20
gramas) de cada esmalte foi feita, não houve um ajuste preciso da viscosidade do
esmalte. O controle da densidade específica e da viscosidade é necessário quando se
prepara uma quantidade maior de esmalte, para que os minerais fiquem num ponto
adequado para sua aplicação sem decantar.
Uma vez finda essa parte laboriosa, passa-se à rotulação dos corpos de prova e
aplicação dos esmaltes. Para marcar os diferentes corpos de prova utilizei um engobe
15
Quartzo (rocha): micronizado; Calcita: micronizado; Albita: malha 200. 16
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p.168. 17
Ibidem, p. 317. Também conhecido como SCMC. 18
HOPPER, Robin, Op. Cit., p. 98. 19
Disponível em http://www.martebal.com.br/catalogo.pdf. Acesso em 24/08/2011.
9
comercial para biscoito de cor preta, aplicado com pincel fino na parte de trás dos
corpos de prova. Ali foram anotados o número da base e o número total de bases do
diagrama em questão, uma sigla para identificar o experimento e o número do cone em
que será feita a queima. Ver Figura 3.
Optou-se por aplicar duas demãos de esmalte sobre o lado da cavidade dos corpos
de prova e uma demão no restante da superfície. Inicialmente eu vinha aplicando uma
camada fina de esmalte, e a maior parte dos testes foram feitos dessa forma. Somente na
última queima foi feita uma aplicação mais generosa do material; observações sobre a
aplicação dos esmaltes serão feitas mais adiante, na parte sobre os Resultados.
Depois da aplicação dos esmaltes e secagem dos corpos de prova de um dia para o
outro, o forno é montado para dar início à queima. Todos os experimentos foram feitos
num mesmo forno elétrico, da Shimpo Ceramics, modelo BX1813D20
. Foi utilizada a
opção Fast Glaze (esmalte rápido), na qual a temperatura é indicada através da
numeração do cone de cada experimento, com um patamar de dez minutos. O patamar é
um tempo em que o forno permanece na mesma temperatura para que os componentes
do esmalte possam reagir naquelas condições21
.
As primeiras queimas foram referentes ao diagrama ternário de 66 pontos com
Albita, Quartzo e Calcita, testados no cone 04 (1050˚C a 60˚C/h), no cone 1 (1136˚C a
60˚C/h) e no cone 6 (1201 a 60˚C/h). A partir desses primeiros resultados, foi
selecionada uma das bases e a ela foram adicionados outros materiais com menor ponto
de fusão, com o intuito de conseguir obter receitas de esmaltes para o cone 04.
Resultados Finais
Para facilitar a compreensão do processo de trabalho, cada experimento será
analisado individualmente, levando em consideração a ordem em que foram realizados,
já que os experimentos seguintes dependem dos resultados dos anteriores.
Experimentos Iniciais
Experimento I
O primeiro experimento foi uma mescla ternária de 66 bases com Albita, Quartzo
e Calcita, testado no cone 04 (1050˚C a 60˚C/h) com patamar de 10 minutos, em argila
vermelha e barbotina branca. No forno foi utilizada a opção Fast Glaze, queima
específica para esmaltes com subida rápida de temperatura, na qual a temperatura é
automaticamente ajustada para 1063˚C. Ver Figuras 4 e 5. O experimento se deu em
duas queimas, realizadas no dia 14/04/2011 e no dia 19/04/2011.
20
Disponível em http://www.shimpoceramics.com/round.php. Acesso em 24/08/2011. 21
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 339.
10
Esse experimento não produziu nenhuma base fusível, mas em vários testes
ocorreu a sinterização22
dos minerais, ou seja, um estágio anterior à fusão, quando os
minerais em pó e a área do corpo de prova onde estão em contato aderem uns aos
outros, permanecendo quase que inalterada a aparência dos minerais antes e depois da
queima. A sinterização ocorreu nas formulações cuja presença de Albita era grande,
uma vez que esse é o mais fusível dos três materiais, iniciando seu derretimento a
aproximadamente 1170˚C23
.
Os testes com alto conteúdo de Quartzo e Calcita não chegaram ao ponto de
sinterização, e depois da queima minerais se desprenderam da superfície, e
correspondem aos corpos de prova que estão vazios ou com apenas alguns resquícios
dos minerais. Para facilitar a visualização de onde não ocorreu a fixação dos minerais,
todos os corpos de prova, deste e de todos os experimentos, foram limpos com uma
escova para limpeza antes de serem fotografados, de modo a remover a maior parte dos
materiais que não aderiram ao corpo cerâmico.
Notou-se que, nos corpos de prova de barbotina branca, houve casos onde a
segunda camada de esmalte se descolou da camada inferior, quebrando durante o
manuseio e remoção dos minerais que não aderiram ao corpo. Nas fotografias dos
experimentos elas estão localizadas do lado esquerdo, na sétima e oitava fileiras de
corpos de prova. Ver Figura 5.
Como os minerais não fundiram, as bases apresentam praticamente a mesma
aparência e textura, sob a forma de uma substância branca e áspera nos casos onde
houve a sinterização e sob a forma de um pó de mesma cor que se desprende ao toque
das mãos, nos casos onde não ocorreu a sinterização.
Diante desses resultados, prossegui para a próxima experimentação, com as
mesmas formulações, mas desta vez em uma temperatura mais elevada.
Experimento II
O segundo experimento foi bastante similar ao Experimento I, pois foram as
mesmas combinações de minerais aplicadas, porém alterando a temperatura de queima
do cone 04 (1050˚C a 60˚C/h) para o cone 1 (1136˚C a 60˚C/h), que chegou a 1138˚C
na opção para esmaltes rápidos do forno. Os testes também feitos em argila vermelha
(figura 6) e barbotina branca (figura 7). Esse aumento de temperatura já foi suficiente
para escurecer um pouco a coloração das massas cerâmicas em relação à temperatura de
queima do Experimento I. Foram necessárias duas queimas, realizadas nos dias
02/05/2011 e 09/05/2011.
Apesar do aumento na temperatura, esse experimento também não conseguiu
fundir nenhuma das bases, caracterizando-se por um aparente aumento nas áreas onde
houve a sinterização dos minerais em relação ao Experimento I, já que uma maior parte
22
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., pp. 331-332. 23
Ibidem, p. 5.
11
da área dos corpos de prova está coberta pelos minerais, mais visível na região próxima
ao Quartzo, tanto nos testes em argila vermelha como nos testes com barbotina branca.
Como no experimento anterior, nas bases com alto conteúdo de Quartzo e Carbonato de
Cálcio houve o desprendimento da maior parte do esmalte. Além disso, novamente
houve o desprendimento e quebra da segunda camada de argila em alguns corpos de
prova de barbotina branca, como no Experimento I. Em ambas as temperaturas, eram
esmaltes com conteúdo alto de Quartzo.
A partir desses resultados já era possível verificar que a Albita era o mais
fundente dos minerais. Para possibilitar que se visualize melhor a função dos outros
dois minerais, decidi junto com minha orientadora produzir mais um experimento nos
mesmos moldes dos dois primeiros, agora numa temperatura mais elevada, onde seria
possível ver a fusão de algumas bases. Assim teríamos mais critérios para escolher uma
base à qual outros ingredientes seriam introduzidos, com o intuito de ajudar a reduzir a
temperatura de fusão dos esmaltes.
Experimento III
O terceiro experimento também foi semelhante ao Experimento I, porém foi feito
apenas em barbotina branca, já que a temperatura era mais alta do que a temperatura em
que geralmente se trabalha com massas cerâmicas vermelhas ou terracotas,
caracterizadas pela presença de óxido de ferro vermelho, e que são utilizadas em
temperaturas próximas a 1000˚C24
. A temperatura escolhida foi o cone 6 (1201˚C a
60˚C/h), superior à temperatura de fusão da Albita (1170˚C). O forno chegou a 1223˚C
na opção para esmaltes rápidos. Ver figura 9. O experimento foi feito em uma única
queima, no dia 12/05/2011.
Esse experimento conseguiu fundir várias das bases com conteúdo majoritário de
Albita, produzindo uma variedade de texturas. Os corpos de prova de barbotina branca
adquiriram uma tonalidade bem diferente daquelas dos experimentos anteriores, além de
haver um pouco de empenamento dos mesmos.
De imediato notei que esse experimento parece uma versão negativa dos
experimentos anteriores: nas bases ricas em Albita ocorreu a fusão dos minerais,
tornando possível que se veja a cor do corpo cerâmico através da capa vítrea. Essa
translucidez, e em alguns casos, transparência, apareceu na maior parte dos esmaltes
testados, que correspondem aproximadamente às mesmas bases que nos experimentos
anteriores havia ocorrido apenas a aderência dos minerais ao corpo cerâmico e cujos
minerais apresentavam a coloração branca.
Nas bases com alto conteúdo de Quartzo não houve a fusão dos minerais, mas
apenas sua sinterização, e os corpos de prova permaneceram com a coloração branca, no
mesmo lugar onde, nos Experimentos I e II, os minerais mal haviam aderido ao corpo.
As bases com alto conteúdo de Calcita aparentam ter chegado mais próximas ao estado
24
Idem, p. 299.
12
de fusão do que as bases ricas em Quartzo, pois estas bases só apresentam a coloração
branca nas cavidades do lado esquerdo dos corpos de prova, onde o esmalte acumulou
em maior quantidade.
Fato notável é que a Albita em estado puro apresentou uma superfície áspera e
brilhante e a adição de um pouco de Calcita resultou numa superfície lisa, brilhante e
transparente, como na base 3 (90% Albita / 10% Calcita). À medida que quantidade de
Calcita aumenta, como na base 15 (60% Albita / 40% Calcita), o esmalte permanece
liso, mas apresenta superfície fosca, de um esbranquiçado translúcido. Nos testes onde a
Calcita prevalece também não ocorreu a fusão dos minerais.
A adição de Quartzo à Albita na menor proporção do experimento, na base 2
(90% Albita – 10% Quartzo), produziu uma base transparente e áspera, mas ainda
brilhante. A base 7 (70% Albita / 30% Quartzo) é bastante áspera e sem brilho. Na base
11 (60% Albita / 40% Quartzo) a segunda camada de esmalte, do lado esquerdo do
corpo de prova, se desprendeu e quebrou, como ocorreu em alguns corpos de prova de
barbotina branca nos experimentos I e II.
Desse experimento selecionei a base 9, constituída por 70% Albita, 20% Calcita e
10% Quartzo, cuja superfície é lisa e translúcida, apresentando uma coloração
esbranquiçada quando há um maior acúmulo do esmalte. Nos experimentos seguintes
procedi à adição de outros minerais a essa base de Albita, Quartzo e Calcita, com a
intenção de reduzir a temperatura de fusão do esmalte para o cone 04.
Potencializações
Para conseguir obter uma mistura entre minerais que funde no cone 04, decidi
produzir uma quantidade maior da base 9 do Experimento Inicial, constituída por 70%
Albita, 20% Calcita e 10% Quartzo, para ser testada em diferentes proporções com
materiais mais fundentes. Enquanto pesquisava sobre como proceder no experimento,
me deparei com um material bastante interessante, chamado Nefeline Sienita.
Nefeline é um mineral feldspático que varia sua cor de branco a marrom
esverdeado, e que funde entre 1100˚C e 1200˚C. A Nefeline Sienita é uma variação
transparente, muito utilizada em esmaltes devido ao seu ponto de fusão mais baixo,
indicado para a introdução de óxido de sódio25. A Albita também é conhecida por
Feldspato Sódico, por isso achei interessante comparar os dois materiais.
Decidi então produzir uma base alternativa, substituindo a Albita por Nefeline
Sienita, obtendo uma segunda fórmula, constituída por 70% Nefeline Sienita, 20%
Calcita e 10% Quartzo, para que pudesse comparar com a base original e enriquecer os
resultados da pesquisa. Para conseguir quantidade suficiente para os testes, preparei
através de um moinho de bolas com jarro de porcelana cerca de 700g de cada um das
25
Idem, p. 238.
13
bases. O tempo de moagem de cada esmalte foi de 2h. A partir dessas duas combinações
de minerais desenvolvi os experimentos de Potencialização I, II, III, IV e V.
Potencializações I e II
O primeiro material utilizado para reduzir a temperatura de fusão das duas bases
selecionadas foram fritas comerciais. Fritas26 são materiais cerâmicos que foram
previamente fundidos e então submetidos a um choque térmico que estilhaça os
materiais, que então são triturados até resultar em um pó, utilizado como material
cerâmico. As fritas são utilizadas para produzir esmaltes industriais, e este processo
reduz problemas de solubilidade e toxicidade de vários dos materiais cerâmicos crus,
particularmente os de baixa temperatura, além de reduzir significativamente a emissão
de gases tóxicos de alguns materiais.
Fritas podem ser consideradas como fluxos para qualquer temperatura, e pode-se
dizer que têm em baixas temperaturas um papel análogo ao que os feldspatos têm em
altas temperaturas. Além disso, sob a forma de frita os ingredientes de um esmalte
fundem a uma temperatura mais baixa e de maneira mais previsível, permitindo maior
controle sobre a fusão do esmalte. Sua produção é geralmente inviável para o ceramista
de estúdio, e sua origem geralmente é industrial, e por isso são considerados materiais
com pouca variação em sua formulação química.
As fritas são divididas em duas categorias: plúmbicas, contendo chumbo, e
alcalinas, livres de chumbo. São conhecidos processos, denominados Double-fritting27,
em que duas fritas, geralmente uma constituída de chumbo e sílica e outra de boro e
sílica, são utilizadas num mesmo esmalte, de modo a diminuir ainda mais a solubilidade
e a toxicidade do chumbo. Além disso, esmaltes com essa composição produzem
resultados mais estáveis, pois fundem numa faixa de temperatura mais abrangente.
Para realizar os experimentos, optei por utilizar uma frita plúmbica e uma frita
alcalina, e escolhi empregar as mais comuns e mais baratas de cada tipo disponíveis na
Hobby Cerâmica28 sob o nome de CMF 001 para frita plúmbica e CMF 096 para a frita
alcalina. Ambas são comercializadas como esmalte transparente para 980˚C.
Esses materiais foram adquiridor numa escala bem menor, em pacotes de 1 kg, e a
aparência de ambas as fritas é a de um pó branco-amarelado. Na mesma ocasião
também adquiri 2 kg de Nefeline Sienita para fazer a segunda base, um pó de cor cinza,
e também 1 kg de Borato de Cálcio, sob a forma de um pó branco e grosso.
O método escolhido para testar as duas fritas foi um diagrama ternário de 15
bases, com variações de 25 % entre os ingredientes de uma base para outra. As duas
fritas foram mescladas com as duas bases escolhidas para potencialização, e foram
queimados no cone 04, em argila vermelha e barbotina branca. A Potencialização I, da
26
HOPPER, Robin, Op. Cit., p.88. 27
HAMER, Frank and Janet. Op. Cit., p.113. 28
Disponível em http://www.hobbyceramica.com.br/. Acesso em 24/08/2011.
14
base original, com Albita, foi designada pela sigla DI, e a Potencialização II, com
Nefeline Sienita substituindo a Albita, pela sigla DII (D = desenvolvimento).
Observei durante a aplicação dos esmaltes que os corpos de prova de argila
vermelha que haviam sido produzidos pouco tempo antes do experimento haviam sido
queimados a uma temperatura superior por engano, já que em comparação com os
outros corpos de prova queimados a 1000˚C estavam mais escuros, menores e bastante
deformados, devido a sua característica de fusibilidade. Quando fui tentar aplicar os
esmaltes, eles flutuavam sobre a superfície do corpo de prova, demorando um longo
tempo para absorver a água do esmalte. Como não havia preparado mais corpos de
prova de argila vermelha, resolvi testar os corpos de prova mesmo assim, e depois
refaria os experimentos com corpos de prova queimados na temperatura adequada.
Essa foi a sexta queima, feita no dia 06/07/2011 no cone 04. O resultado com os
corpos de prova de argila vermelha (ver figuras 10 e 12) não foi bom, pois realmente
muito pouco esmalte foi depositado sobre os corpos de prova, apesar de ainda ser
possível observar a fusão das bases com bastante frita em sua composição. Nos testes
em barbotina branca (ver figuras 9 e 11) a quantia de esmalte depositado foi mais
generosa, mas, como já apontei, a maioria dos testes realizados foi feito com uma
camada relativamente fina, mesmo tendo aplicado duas camadas sobre a cavidade dos
corpos de prova.
Pelos resultados dos testes em barbotina branca foi possível observar que os
corpos de prova com Albita apresentaram mais resistência à fusão do que aqueles com
Nefeline Sienita. A base 6, com 50% de base e 50% de CMF 096, por exemplo, no caso
de DI, apresenta uma superfície áspera em relação à mesma base em DII, que apresenta
uma superfície lisa. Resolvi também incluir um corpo de prova extra nos diagramas de
15 bases, localizados do lado direto nas fotografias dos experimentos, sob a sigla EX no
lugar da numeração, e cuja composição é igual a um terço de cada substância. Essa base
extra também confirmou que Nefeline Sienita é mais fusível que a Albita, pois em DI
ela é translucida e áspera, enquanto que em DII a superfície tem a textura típica de um
vidro transparente e liso.
Ambas as fritas, quando puras ou mescladas entre si, fundem como um vidro
transparente e liso. Quando há a presença de 25% da base em DII, os esmaltes
resultantes são mais lisos do que as os esmaltes que contém 25% da base em DI. Nos
corpos de prova com presença de 50% de base, apenas em DII o esmalte apresentou
superfície lisa. Esmaltes com 75% de base não fundiram e apresentam superfície
abrasiva. Nos dois testes das bases em estado puro, não houve a sinterização e os
minerais se desprendem ao toque dos dedos, como esperado.
Para concluir o experimento, na próxima vez que utilizei o forno, para realização
das potencializações DIII e DIV, incluí novas versões dos experimentos DI e DII em
corpos de prova de argila vermelha queimados na temperatura adequada (1000˚C). Essa
segunda versão dos experimentos foi mais bem sucedida que a primeira. Ver figuras 13
15
e 14. De forma geral os resultados foram semelhantes, resultando em esmaltes mais
abrasivos no experimento DI e esmaltes mais lisos em DII.
Uma diferença que notei nos experimentos com argila vermelha foi que nos
corpos de prova com alto conteúdo de fritas (de 75% a 100%) o esmalte apresentou
coloração lilás em alguns pontos de maior concentração de material. Esse fato também
pode ser observado na primeira versão dos experimentos (figuras 10 e 12).
Potencializações III e IV
Para testar uma alternativa às fritas, recorri à introdução de borato de cálcio29,
substância com alto poder de fluxo, principalmente acima de 1100˚C, além de conter
propriedades vítreas. Ocorre na natureza em alguns minerais, como a Colemanita e a
Pandermita, chamados de borato de cálcio hidratado. Esses minerais são a única
ocorrência natural de óxido de boro em forma insolúvel; os outros minerais que contém
óxido de boro são solúveis e tem que ser usados sob a forma de frita.
Um inconveniente de seu uso é que, devido ao alto conteúdo de água na fórmula,
que é liberado durante a queima entre 700˚C e 800˚C, pode haver descolamento de
esmalte nessa faixa de temperatura, deixando algumas áreas do corpo cerâmico
descobertas. Além disso, pode dar alguma opacidade ao esmalte entre 1000˚ e 1100˚C,
principalmente quando presente em grande proporção. Apesar disso, em pequenas
quantidades é útil para evitar que o esmalte apresente rachaduras, devido a seu baixo
coeficiente de expansão.
Nesse experimento foi feita uma mescla binária, com variação de 10% na
quantidade dos minerais de uma base para outra, totalizando nove testes de
combinações em diferentes proporções entre cada uma das duas bases e o borato de
cálcio, além de testes dos ingredientes em estado puro, resultando no experimento DIII,
mescla binária entre a base 9 original, contendo Albita, e o borato de cálcio, e no
experimento DIV, mescla binária entre a base 9 alterada com Nefeline Sienita, e o
borato de cálcio. Ver figuras 15 e 16.
Os esmaltes com bastante borato de cálcio em sua composição apresentaram
dificuldade de manuseio, principalmente durante a aplicação de uma segunda camada de
esmalte, resultando numa superfície bastante irregular em muitos casos, com
concentrações de esmaltes em alguma das extremidades do corpo de prova, geralmente
próximo à cavidade.
A queima foi feita no dia 29/07/2011, no cone 04 (1050˚C a 60˚C/h), juntamente
com a segunda versão dos experimentos DI e DII em argila vermelha. O borato de
cálcio se mostrou um fluxo bastante ativo, produzindo uma superfície lisa e brilhante
em estado puro. Misturado com a base original, em DIII, produziu uma base translúcida
esbranquiçada, fundindo na base 3 (80% base original, com Albita / 20% Borato de
29
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 73.
16
Cálcio). Quando adicionado à base alterada com Nefeline Sienita, em DIV, produziu um
esmalte transparente, também fundindo na base 3.
17
Potencialização V
O experimento DIII apresentou algumas bases com sinais de opacidade e achei
interessante desenvolver um esmalte branco e opaco, já que a maioria dos resultados
vinha produzindo bases transparentes ou translúcidas. Para tal escolhi a base 9 original,
com Albita e o Borato de Cálcio, que por si só produziram esmaltes esbranquiçados. Os
feldspatos são conhecidos por causar aumento de opacidade em temperaturas baixas30
.
Para acentuar a característica opaca do esmalte, utilizei o Dióxido de Estanho31
,
conhecido como óxido de estanho branco. Esse mineral tem sido usado para conseguir
esmaltes brancos opacos por séculos, e é considerado o melhor material para tal fim,
apesar de seu preço elevado. Deve ser utilizado em pequenas quantidades, pois é inerte
até 1150˚C, diminuindo a fusibilidade do esmalte quando em grandes quantidades. Esse
mineral é bastante caro, e foram adquiridas apenas 200g do material, na Hobby
Cerâmica, sob a forma de um pó branco.
Antes de fazer esse experimento, quando analisava os experimentos anteriores
com ajuda de minha orientadora, chegamos à conclusão de que era necessário melhorar
a forma como eu vinha aplicando os esmaltes, aumentando a quantidade de material
depositado, além de posicionar os corpos de prova com certa inclinação, para que fosse
possível observar o escorrimento do material.
Para testar os ingredientes utilizei um diagrama ternário de 15 bases. A
quantidade de esmalte aplicada sobre esses testes foi significativamente maior em
relação aos experimentos anteriores. Para inclinar as placas de cerâmica, utilizei um
corpo de prova sem esmalte como apoio. Além disso, deixei de aplicar esmalte na área
inferior do corpo prova, por onde o esmalte escorreria se fosse muito fluido para a
temperatura em questão. Para delimitar a área esmaltada fiz uma marcação com grafite.
Ver figura 19a.
A queima foi feita dia 12/08/2011, com testes em Argila Vermelha (figura 17) e
Barbotina Branca (figura 18). O resultado dessa última queima foi o mais satisfatório,
pois a aplicação de uma camada mais espessa de esmalte e a inclinação dos corpos de
prova enriqueceu bastante os experimentos.
O óxido de estanho provou ser um material bastante refratário para cone 04,
dificultando a fusão do esmalte. A base em que ocorreu o melhor resultado com esse
material foi a de número 5, composta por 50% da base 9 do Experimento Inicial, 25%
de Borato de Cálcio e 25% de Óxido de Chumbo, apresentando coloração branca opaca,
com superfície lisa, porém bastante irregular. Particularmente esperava que o melhor
resultado ocorresse na base 8, composta por 25% da base 9, 50% Borato de Cálcio e
25% de Óxido de Estanho, devido à maior presença do mais fundente dos ingredientes
do experimento, o Borato de Cálcio, mas nessa base não ocorreu a fusão do esmalte.
30
HOPPER, Robin, Op. Cit., p.207. 31
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p.366.
18
Houve escorrimento de esmalte nas bases com alto conteúdo de Borato de Cálcio,
como nas bases 4, 7 e 11 do experimento em Argila Vermelha. Na versão em Barbotina
Branca, as bases 7 e 11 também escorreram. A base 4 não escorreu, mas o esmalte se
acumulou na parte de baixo da área de aplicação, que ficou mais espessa e opaca. Ver
figura 19b. A base 2, constituída de 75% da base 9 e 25% de Borato de Cálcio, produziu
o esmalte mais interessante, que não escorreu em nenhum dos tipos de corpo de prova.
Esse esmalte apresentou uma coloração azulada interessante na versão em argila
vermelha.
19
Receitas
As receitas obtidas para o cone 04 (1050˚C a 60˚C/h) serão listadas a seguir, junto
com uma breve descrição da aparência do esmalte, sob o nome do experimento onde foi
testada. Foram selecionados apenas os esmaltes que apresentam superfície lisa, mas não
necessariamente brilhante. Foram descartados os esmaltes que apresentam uma
superfície seca e áspera, assim como esmaltes muito fluídos para o cone 04.
Do lado esquerdo estão listados os ingredientes em ordem decrescente de sua
proporção em massa nos esmaltes, e, do lado direito, a respectiva porcentagem em
massa de cada ingrediente.
Potencialização I – cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
1. Base 7 – lisa, brilhante e transparente CMF 001 Albita Calcita Quartzo
75 17,5 5 2,5
2. Base 8 – lisa, brilhante e transparente
CMF 001 CMF 096 Albita Calcita Quartzo
50 25 17,5 5 2,5
3. Base 9 – lisa, brilhante e transparente
CMF 096 CMF 001 Albita Calcita Quartzo
50 25 17,5 5 2,5
4. Base 10 – lisa, brilhante e transparente
CMF 096 Albita Calcita Quartzo
75 17,5 5 2,5
5. Base 11 – lisa, brilhante e transparente
CMF 001 100
6. Base 12 – lisa, brilhante e transparente
CMF 001 CMF 096
75 25
20
7. Base 13 – lisa, brilhante e transparente
CMF 001 CMF 096
50 50
8. Base 14 – lisa, brilhante e transparente
CMF 096 CMF 001
75 25
9. Base 15 – lisa, brilhante e transparente
CMF 001 100
Potencialização II – cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
10. Base 4 – pouco lisa, fosca e translúcida
CMF 001 Nefeline Sienita Calcita Quartzo
50 35 10 5
11. Base 6 – lisa, brilhante e transparente
CMF 096 Nefeline Sienita Calcita Quartzo
50 35 10 5
12. Base 7 – lisa, brilhante e transparente
CMF 001 Nefeline Sienita Calcita Quartzo
75 17,5 5 2,5
13. Base 8 – lisa, brilhante e transparente CMF 001 CMF 096 Nefeline Sienita Calcita Quartzo
50 25 17,5 5 2,5
14. Base 9 – lisa, brilhante e transparente CMF 096 CMF 001 Nefeline Sienita 001 Calcita Quartzo
50 25 17,5 5 2,5
21
15. Base 10 – lisa, brilhante e transparente
CMF 096 Nefeline Sienita Calcita Quartzo
75 17,5 5 2,5
16. Base Extra – lisa, brilhante e transparente
CMF 001 CMF 096 Nefeline Sienita Calcita Quartzo
33,33 33,33 23,33 6,66 3,33
As bases de número 12 a 15 correspondem às receitas de número 5 a 10, obtidas
da Potencialização I.
Potencializações III e IV – cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
É conhecido que o Borato de Cálcio é um fluxo muito ativo, por isso seu uso é
recomendado em pequenas proporções, geralmente limitando-se a 10% da receita. Nas
potencializações III e IV, na base 2 (10% Borato de Cálcio) não houve a fusão do
esmalte. Esta só ocorreu na base 3 (20% Borato de Cálcio), em ambos os experimentos.
Pelos motivos acima citados só será considerada a base onde ocorreu a fusão com o
mínimo de Borato de Cálcio.
17. Potencialização III - Base 3 – lisa, brilhante e translúcida
Albita Borato de Cálcio Calcita Quartzo
56 20 16 8
18. Potencialização IV - Base 3 – lisa, brilhante e transparente
Nefeline Sienita Borato de Cálcio Calcita Quartzo
56 20 16 8
22
Potencialização V – cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
19. Base 2 – lisa, brilhante e translúcida
Albita Borato de Cálcio Calcita Quartzo
52,5 25 15 7,5
20. Base 5 – lisa, brilhante e opaca
Albita Óxido de Estanho Borato de Cálcio Calcita Quartzo
35 25 25 10 5
23
Conclusão
Minha intenção ao desenvolver esse trabalho era compreender melhor o
funcionamento dos esmaltes. Durante a graduação tive alguns contatos muito
enriquecedores relacionados à produção de esmaltes, mas em minhas experiências com
cerâmica passei muito mais tempo construindo objetos cerâmicos do que propriamente
na seleção e aplicação de esmaltes. Ao tomar a iniciativa de compreender melhor os
esmaltes, escolhi focalizar meus esforços sobre essa parte específica do trabalho em
cerâmica.
Decidi utilizar o método da mescla ternária ao invés de métodos de cálculo de
esmalte e achei muito interessante como se aprende sobre os materiais dessa forma. O
fato é que nenhum método de se chegar à formulação de um esmalte exclui a fase de
testes, e o método da mescla ternária é centrado na experimentação. Por isso é vantajoso
para aqueles que não têm conhecimento sobre a química dos esmaltes ou preferem uma
aproximação mais intuitiva.
Se tivesse utilizado softwares de cálculo de esmalte32
, por exemplo, eu poderia ter
obtido receitas mais rapidamente, sem a necessidade de conhecer todo o processo de
cálculo envolvido. Mas, ao combinar os mesmos minerais em diferentes proporções e
testá-los sob as condições de queima desejadas, é possível observar como cada
ingrediente influi nas propriedades do esmalte. Os experimentos resultaram em
amostras em que os minerais atingiram uma grande variedade de estágios de fusão, com
exemplos diametralmente opostos.
Em alguns experimentos houve o desprendimento total do esmalte, pois a
temperatura não foi suficiente para fundir os minerais. Foi possível observar
progressivamente como o material agarra-se ao corpo cerâmico primeiramente, depois a
superfície vai ser tornando cada vez mais abrasiva e sua coloração original vai sendo
alterada, até chegar ao ponto em que a superfície torna-se lisa e brilhante.
Em outros casos, aconteceu o escorrimento do esmalte, quando a temperatura
necessária para o esmalte fundir foi excedida. Foi possível observar no último
experimento diferentes níveis de escorrimento, desde o simples acúmulo de material na
parte inferior do esmalte até o ponto onde o esmalte escorre e adere à parte de trás dos
corpos de prova.
Outro fato importante que notei é que, dependendo da escala em que vão ser
usados, é vantajoso comprar os minerais em maiores quantidades diretamente de um
distribuidor de minerais, ao invés de lojas especializadas para ceramistas de estúdio, que
geralmente trabalham com quantidades mais acessíveis para o consumidor individual.
Os minerais utilizados nas Potencializações apresentam um custo mais elevado
que os minerais utilizados no Experimento Inicial. O borato de cálcio e o óxido de
estanho foram os materiais mais caros. Através dos resultados dos experimentos é
32
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 76.
24
possível descobrir que quantidade desses materiais mais caros deve ser introduzida para
se obter o resultado desejado, evitando que sejam utilizados em uma quantidade
desnecessária, diminuindo assim o custo do esmalte. Além disso, testar os materiais em
pequenas quantidades ajuda a prevenir acidentes indesejados, como o escorrimento de
esmalte, que pode danificar tanto o forno como outras peças adjacentes.
Como desdobramento dos resultados obtidos, pretendo escolher algumas receitas
e produzir uma quantidade suficiente de esmalte para que possa testá-los em minhas
condições de trabalho. Entre os esmaltes obtidos, me agradou particularmente a base 2
da Potencialização V, composta por 52,5% de Albita, 25% de Borato de Cálcio, 15%
Calcita e 7,5% de Quartzo, especialmente pela coloração azulada desprendida nos
corpos de prova de argila vermelha. Ver figura 20.
A partir dessa e de outras receitas de esmalte pretendo experimentar com a adição
de diversos pigmentos cerâmicos para obtenção de uma paleta de cores. Um passo
importante na consolidação desse processo é pesquisar sobre as opções de fornecedores
de minerais cerâmicos próximos à região de Araras/SP, para ver como se comportam os
esmaltes quando feitos com materiais provenientes de outra fonte. Caso seja necessário,
alguns ajustes podem ser feitos nas receitas.
Conforme os esmaltes forem sendo utilizados e os resultados forem se
concretizando, torna-se possível a troca de informações com os ceramistas locais com
os quais temos contato. Muitos trabalham somente com argila e não utilizam esmaltes, e
acho que poderiam ampliar muito a qualidade de seus produtos com o acesso a esses
recursos, trazendo um diferencial a sua produção e contribuindo para o desenvolvimento
da produção cerâmica da região.
25
A
C B
2 3
1
4 5 6
7 8 9 10
11
12 13 14 15
16 17 18 19 20 21
22 23 24
30
25 26 27 28
29 32
31
41
33
34
35
36
37
38
39
40
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51 52 53 54 55
56 57 59 58 60 61 62 63 64 65 66
As bases enumeradas
correspondem aos pontos do
diagrama ternário, através do
qual se encontra a quantia de
cada mineral para cada base.
Depois da queima, as peças
voltam a essa posição, para
que se visualize a função de
cada material no resultado
dos esmaltes.
Figura 1a
Figura 1b
Figuras
Figura 1 – a) Disposição dos corpos de prova enumerados / b) Diagrama Ternário de 66
pontos.
B - 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%
C - 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
A – 30 %
B – 50 %
C – 20 %
A – 40 %
B – 30 %
C – 30 %
A
C B
A – 80 %
B – 10 %
C – 10 %
26
Figura 2 – Corpos de prova
Em cima, corpos de prova de argila vermelha; em baixo, corpos de prova de barbotina
branca. À esquerda, corpos sem cavidade; à direita, corpos com cavidade. Dimensões
aproximadas de cada corpo de prova: 40x40x3mm.
27
Figura 3 – Corpos de prova em Barbotina Branca com rótulos das bases 5 a 7 da
Potencialização II (DII). Ver figura 11 (p. 34).
28
Figura 4 – Experimento I - Diagrama de 66 bases –Albita / Quartzo / Calcita
Argila Vermelha
Albita
Quartzo Calcita Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
29
Figura 5 – Experimento I - Diagrama de 66 bases –Albita / Quartzo / Calcita
Barbotina Branca
Albita
Quartzo Calcita Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
30
Figura 6 – Experimento II - Diagrama de 66 bases – Albita / Quartzo / Calcita
Argila Vermelha
Albita
Quartzo Calcita Cone 1 (1136˚C a 60˚C/h)
31
Figura 7 – Experimento II - Diagrama de 66 bases –Albita / Quartzo / Calcita
Barbotina Branca
Albita
Quartzo Calcita Cone 1 (1136˚C a 60˚C/h)
32
Figura 8 – Experimento III - Diagrama de 66 bases – Albita / Quartzo / Calcita
Barbotina Branca
Albita
Quartzo Calcita Cone 6 (1201˚C a 60˚C/h)
33
Figura 9 – DI - Potencialização da base 9 do diagrama de 66 bases com CMF 001 /
CMF 096, através de diagrama de 15 bases
Barbotina Branca
Base 9 do Diagrama de 66 bases
CMF 001 CMF 096 Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
34
Figura 10 – DI - Potencialização da base 9 do diagrama de 66 bases com CMF 001 /
CMF 096, através de diagrama de 15 bases
Argila Vermelha – versão 1
Base 9 do Diagrama de 66 bases
CMF 001 CMF 096 Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
35
Figura 11 – DII - Potencialização da base 9 do diagrama de 66 bases alterada com
Nefeline Sienita com CMF 001 / CMF 096, através de diagrama de 15 bases
Barbotina Branca
Base 9 do Diagrama de 66 bases com Nefeline Sienita
CMF 001 CMF 096 Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
36
Figura 12 – DII - Potencialização da base 9 do diagrama de 66 bases alterada com
Nefeline Sienita com CMF 001/CMF 096 através de diagrama de 15 bases
Argila Vermelha – versão 1
Base 9 do Diagrama de 66 bases com Nefeline Sienita
CMF 001 CMF 096 Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
37
Figura 13 – DI - Potencialização da base 9 do diagrama de 66 bases com CMF 001 /
CMF 096, através de diagrama de 15 bases
Argila Vermelha – versão 2
Base 9 do Diagrama de 66 bases
CMF 001 CMF 096 Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
38
Figura 14– DII - Potencialização da base 9 do diagrama de 66 bases alterada com
Nefeline Sienita com CMF 001/CMF 096, através de diagrama de 15 bases
Argila Vermelha – versão 2
Base 9 do Diagrama de 66 bases com Nefeline Sienita
CMF 001 CMF 096 Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
39
Figura 15 – DIII - Mescla Binária – Base 9 do diagrama de 66 bases / Borato de Cálcio
– Argila Vermelha e Barbotina Branca
Base 9 do Diagrama de 66 bases
Borato de Cálcio
Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
40
Figura 16 – DIV - Mescla Binária – Base 9 do diagrama de 66 bases com Nefeline
Sienita / Borato de Cálcio – Argila Vermelha e Barbotina Branca
Base 9 do Diagrama de 66 bases com Nefeline Sienita
Borato de Cálcio
Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
41
Figura 17 – DV - Potencialização da base 9 do diagrama de 66 bases com Borato de
Cálcio / Óxido de Estanho, através de diagrama de 15 bases
Barbotina Branca
Base 9 do Diagrama de 66 bases
Borato de Cálcio Óxido de Estanho Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
42
Figura 18 – DV – Potencialização da base 9 do diagrama de 66 bases com Borato de
Cálcio / Óxido de Estanho, através de diagrama de 15 bases – Argila Vermelha
Base 9 do Diagrama de 66 bases
Borato de Cálcio Óxido de Estanho Cone 04 (1050˚C a 60˚C/h)
43
Figura 19a
Figura 19b
Figura 19 – a) delimitação em grafite e posicionamento dos corpos de prova no forno -
Vista Superior (esquerda) e Vista Lateral (direita) / b) Base 4 da Potencialização V
apoiadas sobre corpo de prova, em Argila Vermelha (em cima) e Barbotina Branca (em
baixo).
44
Figura 20 – Base 2 da Potencialização V – Argila Vermelha (em cima) / Barbotina
Branca (em baixo)
45
Glossário
Argila33
– Silicato de alumínio hidratado. Um material pesado, úmido e plástico,
que solidifica durante a secagem, e pode ser convertido em um material duro e a prova
d’água através do calor. O mineral caulinita é considerado o mineral argiloso ideal,
porém para o ceramista as argilas são os materiais básicos de seu trabalho ocorrendo em
grande variedade de composição, com pouca relação com o mineral ideal.
Cerâmica34
– Produtos derivados de argila feitos permanentes através do calor.
Argilas podem ser secas e reconstruídas a um estado plástico ad infinitum, mas, quando
aquecidas a 600˚C, tornam-se um material duro, que não pode ser mais desintegrado
pela água.
Chamote35
– Corpo cerâmico em forma de pó adicionado a argilas para introduzir
uma proporção de material já queimado. Utilizado para reduzir problemas como
rachaduras e empenamento, e também para proporcionar uma secagem mais rápida do
corpo cerâmico. Além disso, a presença de chamote modifica a textura visual e tátil da
massa cerâmica.
Cone pirométrico36
– Pequenos objetos cerâmicos que são utilizados para medir
a temperatura em diversos tipos de fornos. No caso dos fornos cerâmicos, os cones são
posicionados dentro da câmara de queima de modo a serem visíveis pelo operador
através de um orifício, para que este observe o seu envergamento.
São semelhantes a esmaltes em sua composição e seu colapso ocorre a uma
temperatura indicada caso seja obedecido o ciclo de queima especificado pelo
fabricante. A temperatura em que ocorre o envergamento do cone aumenta ou diminui
se este receber calor em um ritmo mais rápido ou mais lento que o indicado, também
variando de acordo com o tipo de cone37
. Por isso é comum utilizar os cones como
referência, pois são mais precisos que pirômetros elétricos, que medem a temperatura
sem uma relação com o tempo.
Corpo de prova – Objeto cerâmico utilizado para servir como teste de um tipo
específico de massa cerâmica, esmalte ou engobe. Seu formato depende de sua
finalidade, que pode variar de uma placa até uma forma mais volumosa ou cadinho.
Feldspato38
– Minerais que contém uma base mais sílica e óxido de alumínio, e,
portanto, são considerados como esmaltes ou fritas naturais. As principais bases que os
feldspatos contêm são o potássio e o sódio, que em estado puro são tóxicas, mas
associadas com óxido de alumínio e sílica são razoavelmente insolúveis. Por isso os
33
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 61 34
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 55. 35
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 170. 36
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 77. 37
Disponível em <http://www.ortonceramic.com/resources/reference/cone.chart.C.html> acesso em 09/08/2011. 38
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 135.
46
feldspatos são vistos como uma oportunidade para introduzir bases sem a utilização de
fritas.
Fundente39
– Fluxo. Um óxido que promove a fusão cerâmica pela interação com
outros óxidos. Fluxos geralmente são chamados de bases, pois interagem com a sílica, o
ácido formador de vidro.
Mineral40
– Material natural com uma fórmula química definível em números
inteiros e com uma estrutura molecular definível. Geralmente são inorgânicos e obtidos
através de mineração; o carvão, o óleo e o gás são exceções.
Moinho de Bolas41
– Moinho de seixos. Moinho utilizado para triturar esmaltes e
minerais colorantes. As bolas são seixos naturais ou fabricados. Elas são introduzidas
dentro de um recipiente cilíndrico, geralmente de aço ou porcelana, que gira em um eixo
horizontal. As bolas caem umas sobre as outras, triturando os minerais que estão dentro
do recipiente, geralmente com água ou outro veículo líquido. Para que as bolas possam
se movimentar, algum espaço vazio deve ser deixado no recipiente.
Óxido42
– Uma combinação química de oxigênio e outro elemento. A grande
maioria dos componentes cerâmicos está sob a forma de óxido. Na cerâmica existem
dois tipos de óxidos, os metálicos e os não-metálicos. Os metálicos são numerosos e
compreendem os fluxos, opacificantes e colorantes. Os não-metálicos são poucos e são
os formadores de vidros e os voláteis.
Refratário43
- Material que resiste a altas temperaturas. São usados para a
construção de fornos cerâmicos, por isso precisam aguentar constantes mudanças de
temperatura. Para a indústria, materiais refratários são aqueles que aguentam sem
deformar até 1700˚C; para o ceramista, materiais e argilas que aguentem até 1300˚C são
considerados refratários. São adicionados a massas, para que esta aguente uma
temperatura maior sem deformar, e em esmaltes, para aumentar sua temperatura de
fusão.
39
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 350. 40
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 233. 41
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 19. 42
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 248. 43
HAMER, Frank and Janet, Op. Cit., p. 301.
47
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