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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA EEL/USP THAÍS DE ALBUQUERQUE RODRIGUES Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle (APPCC) na Indústria Cervejeira Lorena, 2015

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA – EEL/USP

THAÍS DE ALBUQUERQUE RODRIGUES

Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle (APPCC) na

Indústria Cervejeira

Lorena, 2015

2

THAÍS DE ALBUQUERQUE RODRIGUES

Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle (APPCC) na

Indústria Cervejeira

Monografia apresentada à Escola

de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo como

requisito parcial à obtenção do grau

de Engenharia Bioquímica.

Orientador: Prof. Ismael Maciel de Mancilha

Lorena, 2015

3

4

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu avô Salvador Custódio, por todo amor,

carinho e preocupação. Existem pessoas que são exemplos em nossas vidas e o

senhor definitivamente é o maior deles para mim.

Agradeço aos meus pais Rosane e Marcelo, pelo amor incondicional e esforço

para que todos os meus sonhos se tornassem realidade. Mesmo de longe (ou muito

longe), nossos corações estão sempre em sintonia.

Agradeço a minha irmã Marcela, minha parceira e amiga de todas as horas. E

desejo boas-vindas ao mundo das ciências exatas.

Agradeço a minha madrinha Maria Auxiliadora por estar sempre ao meu lado,

por tantos momentos especiais, pelo carinho de mãe, conselhos e conversas.

Agradeço ao meu professor e orientador neste trabalho Ismael Maciel de

Mancilha, por compartilhar uma pequena parte do seu conhecimento, pela paciência e

atenção.

Agradeço ao meu orientador, professor e amigo Arnaldo Márcio pelas

palavras de incentivo, confiança e amizade sempre. Minha formação não teria sido a

mesma sem seu exemplo e seus ensinamentos.

Agradeço as amigas Maria Clara e Carolina, pela amizade que já dura mais de

uma década. Com vocês ao meu lado, vi que sempre há um riso mesmo nos

momentos mais difíceis.

Agradeço ao meu amigo Felipe Silva, por quem muitas vezes eu fui desafiada

a ser uma engenheira melhor. Sua amizade e compreensão são únicas e permanentes

para mim.

Agradeço a minha amiga Aline Tirelli, que reapareceu em minha vida e foi

muito especial durante todo o período da faculdade. Que nossos caminhos continuem

se cruzando sempre que possível.

Agradeço ao meu amigo Rhyan Lellis, com quem eu sempre pude contar

desde a época da escola e onde sei que posso sempre encontrar e risos e momentos

bons.

Por fim, agradeço a todos os familiares que sempre me apoiaram nessa difícil

e gratificante jornada da Engenharia e a todos os amigos e colegas que fizeram parte

desta etapa da minha vida.

6

“Voar num limite improvável

Tocar o inacessível ao chão

É a minha lei, minha questão

Virar esse mundo, cravar esse chão

Não me importa saber

Se é terrível demais

Quantas guerras terei que vencer

Por um pouco de paz (...)

E assim, seja lá como for

Vai ter fim a infinita aflição

E o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão”

Chico Buarque

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Resumo

Rodrigues, T.A. Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle

(APPCC) na Indústria Cervejeira. Monografia (Trabalho de Conclusão de

Curso de Engenharia Bioquímica) – Escola de Engenharia de Lorena,

Universidade de São Paulo, Lorena. 2015.

O presente trabalho tem por objetivo discutir sobre a aplicação do

sistema de Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle (APPCC) em

uma cervejaria, visando a identificação de potenciais pontos de perigos

na indústria cervejeira. Buscou-se também sugerir medidas de controle

para os pontos críticos observados, visando à garantia de oferecimento de

um produto seguro ao consumidor. Assim, considerando as diferentes

etapas do processo cervejeiro, verificou-se que os principais pontos de

perigo estão relacionados à contaminação microbiológica durante a

fabricação da cerveja e presença de corpos estranhos na cerveja

envasada. Além disso, verificou-se que a maioria das medidas de

controle é dependente do treinamento da equipe de operação e

supervisores nos padrões operacionais e inspeção de processos, além da

participação efetiva dos colaboradores nos programas relacionados às

boas práticas de fabricação.

Palavras-chave: APPCC, Indústria Cervejeira, Cerveja

8

Abstract

Rodrigues, T.A. Hazard Analysis and Critical Control Point (HACCP)

applied to Brewing Industry. Monograph paper in Biochemical

Engeneering – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São

Paulo, Lorena. 2015.

The current paper has the goal of discussing about the application of

HACCP’s system in a brew industry, aiming the identification of

potencial hazard points. Another goal was suggest control tools applied

to the obseverd crictical point aiming the guarantee of offering a safe

product to the consumers. Therefore, considering the different steps of

the brew process, it was verified that the main hazard points are related to

microbiological contamination during the brew and the presence of

physical contaminants on the packaged beer. Moreover, it was noticed

that most of the control tools are dependent of training the team of

operation and the supervisors in the operational patterns, besides the

participation of everyone in the programs related to good practices of

fabrication.

Key words: HACCP, Brewing Industry, Beer

9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tabela de íons e seus efeitos sobre o metabolismo da

levedura. Fonte: KUNZE, 1999 .......................................................,....19

Tabela 2 – Tabela contendo as enzimas atuantes na mostura, bem como

suas temperaturas de ativação, temperaturas ótima e funções. Fonte:

PALMER, 2006 ......................................................................................23

Tabela 3 – Tabela contendo possíveis pontos de perigo e medidas de

controle sugeridas aplicadas ao processo de fabricação de cerveja......43

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Planta de uma indústria cervejeira. Fonte: MEDEIROS, 2010

..................................................................................................................18

Figura 2– Fluxograma de uma árvore decisória para identificação de um

PCC. Fonte: WHO, 1997........................................................................ 42

11

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................12

2. OBJETIVOS ....................................................................................... 12

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................ 12

3.1. A história da produção de cerveja ................................................12

3.2. A produção de cerveja no Brasil ................................................. .13

3.3. Tipos de Cerveja ...........................................................................15

3.4. O processo de fabricação de cerveja ............................................17

3.4.1. Matérias Primas ............................................................ 18

3.4.2. Elaboração do Mosto (Brassagem) ................................21

3.4.3. Fermentação ..................................................................25

3.4.4. Filtração ....................................................................... 29

3.4.5. Envase .......................................................................... 30

3.4.6. Pasteurização ................................................................30

3.5. O Sistema de Análise de Pontos Críticos de Controle (APPCC)

............................................................................................................. 31

3.5.1. Histórico ....................................................................... 31

3.5.2. Conceito ....................................................................... 32

3.5.3. Princípios Gerais de Higiene dos Alimentos ............... 33

3.5.4. A sequência de implantação do sistema APPCC ........ 39

4. METODOLOGIA ..............................................................................42

5. RESULTADOS ................................................................................. 43

6. CONCLUSSÕES ............................................................................... 47

7. REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS .............................................. 48

8. ANEXOS

8.1. Anexo A: Legislação Brasileira ...................................... 53

8.2. Anexo B: Fluxograma de processos de uma cervejaria ...58

12

1. INTRODUÇÃO

O sistema de Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle (APPCC) tem

como objetivo identificar, avaliar e controlar os perigos relacionados à segurança

alimentar, sendo assim uma ferramenta de extrema importância no controle de

qualidade da indústria alimentícia. No presente trabalho, utilizou-se os conceitos da

ferramenta de qualidade APPCC aplicado em uma indústria cervejeira, que apresenta

diversas etapas de fabricação, com diversos pontos susceptíveis às contaminações

químicas e microbiológicas. A descrição do processo cervejeiro é apresentada

inicialmente para compreensão das características do processo; em seguida,

apresenta-se o conceito do sistema de APPCC, suas características e sistemática de

aplicação. O estudo do plano de implantação do sistema APPCC permite identificar

possíveis pontos de perigo na cervejaria e propor medidas de controle para cada um

deles.

2. OBJETIVO

Estudar os conceitos do Sistema de Análise de Perigo e Pontos Críticos de

Controle (APPCC) e sua aplicação no processo de fabricação de cerveja visando

identificar os pontos de controle.

3. REVISÃO BILBIOGRÁFICA

3.1. A história da produção de cerveja

De acordo com Aquarone et al. (2001), a cerveja é uma bebida de amplo

consumo e fabricação, tendo sido encontrada desde o início da civilização em

diferentes partes do mundo, como Suméria, Babilônia e Egito, Grécia e Roma no

13

apogeu de suas civilizações. Estima-se que a produção de bebidas fermentadas se

iniciou há 30 mil anos sendo a cerveja encontrada por volta de 8000 a.C.,

paralelamente as culturas de milho, centeio e cevada.

Os sumérios e assírios foram os primeiros povos que, pelo processo de

malteação de grãos, desenvolveram a técnica da fabricação de bebida, que chegou aos

egípcios anos mais tarde e por eles foi difundida no Oriente, na bacia do

Mediterrâneo e toda Europa (SINDICERV, 2015).

Segundo Aquarone et al (2001), durante o Império Romano, os povos

bárbaros de origem germânica que ocuparam a Europa destacaram-se na prática de

produzir cerveja segundo Sindicerv (2015) foi durante a Idade Média (Século XII)

que as cervejas produzidas nos mosteiros recebiam a adição de ervas como mírica,

louro, sálvia, gengibre e lúpulo, sendo o último utilizado até hoje e responsável pelas

características básicas da cerveja.

Aquarone et al (2001) afirma que durante a Revolução Industrial, cervejarias

cada vez maiores se estabeleceram na Inglaterra, Alemanha e Império Austro-

Húngaro, locais até hoje tradicionais na produção da bebida.

3.2. A produção de cerveja no Brasil

De acordo com Santos (2004), a cerveja apenas chegou ao Brasil no século

XVII com a vinda dos colonizadores holandeses pela Companhia das Índias

Ocidentais, pois os portugueses não eram tradicionalmente conhecidos pelo consumo

da bebida. Com a saída dos holandeses do território brasileiro, em 1654, a cerveja

deixou de ser consumida no país, reaparecendo apenas no século XVIII. Porém não

se pode afirmar precisamente quando a produção de cerveja no Brasil teve início,

apenas sabe-se que no século XIX, um oficial alemão chamado Carl Seidler

encontrou no estado do Rio Grande do Sul um grupo de imigrantes alemães com

14

conhecimento e interesse em fabricar cerveja e comercializá-la visando o lucro.

Assim, no dia 27 de outubro de 1836, pela primeira vez foi anunciada, em um jornal

do Rio de Janeiro, a venda de cerveja brasileira:

“Na rua de Matacavalos, n°90 e na rua Direita n° 86, da

Cervejaria Brasileira, vende-se cerveja, bebida acolhida

favoravelmente e muito procurada. Essa saudável bebida reúne

a barateza a um sabor agradável e à propriedade de conservar-

se por muito tempo.” (SANTOS, 2004).

Segundo Santos (2004), cervejarias pequenas e artesanais foram encontradas

nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul até meados de 1870.

No Rio Grande do Sul, os imigrantes de origem alemã e italiana produziam cerveja

doméstica, assim como vinho, e comercializavam estes produtos em pequenos

comércios, como uma atividade paralela. Vale ressaltar, que o processo apresentava

precário controle de fermentação, resultando na falta de padrão e qualidade.

A partir da década de 1870 houve um grande aumento na produção de cerveja,

favorecendo a abertura das primeiras cervejarias industrializadas no Brasil

(SANTOS, 2004) e em 1888 foi fundada pelo suíço Joseph Villiger na cidade do Rio

de Janeiro, a cervejaria Brahma, com produção de 120 hectolitros/dia e 32

funcionários (HIGUTHI, 2002). De acordo com Ferrari (2008), no início dos anos 30

do século XX, a Brahma se consolidou no mercado com uma boa estrutura e,

apostando em novas tecnologias e publicidade, criou uma grande afinidade com o

público consumidor. No ano de 1934, a Brahma Chopp era a cerveja mais consumida

no país, com uma produção de 300 mil hectolitros de cerveja.

Ainda segundo Ferrari (2008), a Antarctica, fundada em 1885 para produção

de gelo e produtos alimentícios, passou a produzir cerveja também no ano de 1888 e

nos anos 1960 possuía capacidade produtiva de 3,9 milhões de hectolitros/ano

englobando cervejas e refrigerante.

15

No ano de 1999 a Companhia de Bebidas das Américas (AmBev) resultou da

fusão das históricas Companhia Antarctica Paulista e Cervejaria Brahma e atualmente

é parte da Anheuser-Busch Inbev, o maior grupo cervejeiro do mundo (AMBEV,

2015).

3.3. Tipos de Cerveja

De acordo com Brasil (2009), a cerveja é a bebida obtida pela ação de

leveduras que realizam fermentação alcoólica do mosto cervejeiro contendo malte de

cevada, água potável e lúpulo. Se aceita que parte do malte de cevada seja substituído

por adjuntos cervejeiros em quantidade menor de quarenta e cinco por cento do

extrato primitivo.

A Legislação (Anexo A) classifica a cerveja em relação a diferentes

parâmetros:

I – Quanto ao extrato primitivo

a) Cerveja leve

Cerveja cujo extrato primitivo em concentração mássica é maior ou igual que

5,0% e menor que 10,5%.

b) Cerveja ou cerveja comum

Cerveja cujo extrato primitivo em concentração mássica é maior ou igual a

10,5% e menor que 12,0%.

c) Cerveja extra

Cerveja cujo extrato primitivo em concentração mássica é maior ou igual a

12,0% e menor ou igual a 14,0%.

d) Cerveja forte

16

Cerveja cujo extrato primitivo em concentração mássica é maior que 14,0%.

II – Quanto à cor

a) Cerveja clara:

Cor correspondente a menos de 20 unidades EBC (European Brewery

Convention).

b) Cerveja escura:

Cor correspondente a 20 ou mais unidades EBC.

c) Cerveja colorida:

Aquela que, por adição de corantes naturais, apresentar coloração diferente

das definidas no padrão EBC.

III – Quanto ao teor alcoólico

a) Cerveja sem álcool:

Cerveja com conteúdo em álcool menor ou igual a 0,5% em volume.

b) Cerveja com álcool:

Cerveja com conteúdo em álcool superior a 0,5% em volume.

IV – Quanto à proporção de malte de cevada

a) Cerveja puro malte:

Aquela que possui 100% de malte de cevada, em peso, em relação ao extrato

primitivo, como fonte de açucares.

b) Cerveja:

Aquela que possui proporção de malte de cevada maior ou igual a 55% em

peso em relação ao extrato primitivo, como fonte de açucares.

17

c) “Cerveja de ...” seguida do nome do vegetal predominante:

Aquela que apresenta proporção de malte de cevada maior que 20% e menor

que 55% em peso em relação ao extrato primitivo, como fonte de açucares.

V – Quanto à fermentação

a) Baixa fermentação:

São as chamadas cervejas Lager, fermentadas a temperaturas entre 9°C e

14°C, com tempo de fermentação maior em relação as cervejas de alta fermentação

(SINDCERV, 2015).

b) Alta fermentação:

São as cervejas conhecidas como Ale, fermentadas a temperaturas entre 20°C

e 25°C, de fermentação rápida (SINDCERV,2015).

A Legislação estabelece ainda que as cervejas podem ser definidas como

Pilsen, Export, Lager, Dortmunder, Munchen, Bock, Malzbier, Ale, Stout, Porter,

Weissbier, Alt, entre outras denominações que podem ser criadas, de acordo com as

variações na composição do produto (BRASIL, 2009).

3.4.O processo de fabricação de cerveja

O processo de produção de cerveja é composto por três etapas distintas: sala

de brassagem, adega de fermentação/maturação e filtração da cerveja.

Como exemplificado por Medeiros (2010) no esquema abaixo (Figura 1),

usualmente uma cervejaria apresenta uma sala de brassagem, onde existem tinas para

mosturação do malte e cozimento do mosto; adegas contendo tanques de

fermentação, maturação e tanques de armazenamento de fermento e por fim, uma

18

área de filtração para localização dos filtros, sistemas de carbonatação e tanques de

pressão para armazenamento.

Figura 1 – Planta de uma indústria cervejeira. (MEDEIROS, 2010).

3.4.1. Matérias Primas

A elaboração do mosto é o primeiro passo da fabricação de cerveja,

utilizando-se para essa produção as matérias primas: água, malte de cevada, adjuntos

não malteados e lúpulo.

a) Água cervejeira

Segundo Medeiros (2010), a água cervejeira é utilizada não somente para

composição do mosto cervejeiro, mas também na pré-umidificação do malte antes da

moagem, diluição de matérias primas sólidas, lavagem do bagaço do malte originado

na filtração do mosto primário, na trasfega do mosto em elaboração, na rinsagem

final e na lavagem de garrafas e latas.

Para atender as necessidades especificas da cervejaria, a água deve possuir

qualidades de uma água potável e apresentar a concentração ideal de sais minerais

dissolvidos (BANFORTH, 2003). Na tabela abaixo (Figura 2), são apresentados

19

alguns íons e os efeitos causados por eles no metabolismo da levedura durante a

fermentação:

Tabela 1 - Tabela de íons e seus efeitos sobre o metabolismo da levedura. (KUNZE,

1999)

Íon Efeito

Ca2+

O cálcio estimula o metabolismo da levedura

Mg2+

O magnésio é o cofator de diversas enzimas atuantes na fermentação

K+ O potássio está relacionado à fonte de energia no crescimento da

levedura e na velocidade da fermentação

Na+ O sódio está relacionado à manutenção do transporte de potássio para o

interior da célula

Mn2+

Em concentrações abaixo de 0,2 mg/L atuam como cofatores enzimáticos

para o metabolismo da levedura, estimulando a propagação celular

Zn2+

O zinco em concentrações acima de 0,15 mg/L no mosto final

contribuem positivamente na propagação de leveduras como cofator de

enzimas de respiração, fermentação e síntese de ácidos graxos. Porém,

em excesso, pode causar intoxicação da levedura.

NO3- O nitrito em concentrações entre 50 e 100 mg/L provocam inibição da

propagação de leveduras e diminuem a taxa de atividade fermentativa,

b) Malte

De acordo com Banforth (2003), a cevada é a matéria prima principal na

fabricação de cerveja devido a características como: alto teor de amido, presença de

proteínas na proporção ideal em relação ao amido e presença de enzimas que podem

estar ativas ou ser ativadas para a quebra de moléculas de interesse. Além disso, outra

característica vantajosa é a permanência da parte externa da casca da cevada no grão

após a moagem, formando uma camada filtrante no processo de clarificação.

20

O produto utilizado na indústria cervejeira é o malte, que de acordo com a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é o produto da germinação e

posterior dessecação do grão de cevada da espécie Hodeum sativum (BRASIL, 1978)

e o processo de malteação, segundo Aquarone et al (1983) é realizado a fim de

produzir e ativar enzimas tais como α e β – amilase e a maltase, responsáveis pela

quebra do amido em açúcares fermentescíveis. As três principais etapas da malteação

são (Figura 3):

Maceração dos grãos: De acordo com Gouvêa e Maia (2013), o início

da germinação só ocorre a partir de um teor de umidade determinado,

que é atingido pela adição de água aos grãos de cevada.

Germinação: Segundo Aquarone et al (1983) a germinação é um

processo que ocorre a temperaturas entre 14 e 18°C, umidade entre 44

e 48% e presença de oxigênio. Neste processo, as enzimas são

produzidas e ativadas para a germinação do grão de cevada, processo

que envolve a quebra do carboidrato de reserva – amido – para

fornecimento de energia para o grão.

Secagem: o malte com alto teor de umidade é susceptível a rápida

deterioração e contaminação. Além disso, é necessário que as

alterações bioquímicas no grão parem de ocorrer para fixar a

composição requerida do malte. A secagem então se torna a melhor

solução para ambos os problemas.

De acordo com Priest e Stewart (2006), posteriormente a secagem,

realiza-se a remoção de radículas já que esta parte do grão possui

sabor amargo e adstringente para a cerveja, além de ser higroscópica.

c) Adjuntos não malteados

Medeiros (2010) afirma que os adjuntos são materiais ricos em carboidratos e

possuem composição e propriedades adequadas para complementar o fornecimento

21

de açúcares ao mosto cervejeiro. Podem ser sólidos, necessitando de tratamento

térmico na sala de brassagem para degradação do amido, ou líquidos, que não

necessitam de degradação por já apresentarem açúcares fermentescíveis (com no

máximo três unidades de glicose). Adicionam-se os adjuntos na etapa de fervura do

mosto, para sua completa solubilização.

d) Lúpulo

De acordo com Briggs et al (2000), o lúpulo é uma planta do tipo trepadeira

que confere sabor característico a cerveja e é essencial para o impacto organoléptico

total, estabilidade do sabor e retenção da espuma no produto final.

Ainda segundo Briggs et al (2000), no momento de sua colheita, o lúpulo

apresenta um teor de água de 80%, sendo inviável seu armazenamento imediato.

Sendo assim, o lúpulo deve ser secado em estufa para redução do teor de umidade

(para aproximadamente 10%) e passa por um processo posterior de beneficiamento,

onde será transformado em pó ou pelletes para comercialização.

Kunze (1999) afirma que a planta possui como principais componentes óleos

essenciais, substâncias tânicas, substâncias amargas e proteínas. Tais compostos são

responsáveis pela inserção de aroma e amargor característicos, oriundos dos óleos

essenciais e substâncias amargas, e também pela estabilidade da espuma, relacionada

às proteínas.

3.4.2. Elaboração do mosto (Brassagem)

a) Cozimento de adjuntos

De acordo com Medeiros (2010), o cozimento de adjuntos é realizado para

solubilização do amido dos adjuntos sólidos. Normalmente se adiciona no máximo

cerca de 35% de adjuntos, pois uma quantidade excessiva destes cereais ocasionaria a

diminuição da concentração de aminoácidos no meio (fornecidos somente pela

22

cevada), podendo levar a dificuldade de assimilação destas moléculas pelas

leveduras.

b) Mostura

Segundo Kunze (1999), o objetivo da etapa de mostura é, através de

patamares de temperatura, possibilitar que as enzimas atuem em sua atividade

máxima para quebra do amido em açúcares fermentescíveis (glicose, maltose,

maltotriose) e não fermentescíveis (dextrina) e para degradação de proteínas em

cadeias menores, necessárias para formação de espuma, e aminoácidos, fundamentais

para o metabolismo da levedura. Nesta etapa, o meio consiste em uma mistura de

água e malte apenas, sendo a adição de adjuntos e lúpulo feita apenas na fervura.

Ainda segundo Kunze (1999), o amido é formado por moléculas de glicose

que se organizam na forma de amilose – linear, com ligações do tipo α 1,4 - e

amilopectina – ramificada, com ligações do tipo α 1,3, α 1,4, α 1,6, sendo a última

responsável pelas ramificações. Palmer (2006) afirma que as α amilases atuam

rompendo as ligações α 1,4 da amilose e amilopectina, produzindo dextrinas

enquanto as β amilases quebram a extremidade das cadeias liberando moléculas de

glicose e maltose. Dessa forma, os açúcares são disponibilizados para as leveduras

realizarem a multiplicação celular e fermentação.

Na tabela abaixo (Figura 4) estão relacionadas as enzimas envolvidas no

processo de mostura e suas respectivas temperaturas de ativação e de atividade

máxima (temperatura ótima). De acordo com estas características, se estabelecem as

temperaturas de repouso do mosto bem como o tempo que este ficará exposto a cada

temperatura. O mosto resultante terá características diferentes para cada combinação

de tempo e temperatura.

23

Tabela 2 – Tabela contendo as enzimas atuantes na mostura, bem como suas

temperaturas de ativação, temperaturas ótima e funções. (PALMER, 2006)

Enzima Temperatura de

ativação (°C)

Temperatura

ótima (°C)

Função

β glucanase 20 a 50 35 a 45 Melhor repouso para quebra

de goma de adjuntos não

maltados

Protease 20 a 65 45 a 55 Solubilização de proteínas

insolúveis do estoque da

cevada

Peptidase 20 a 67 45 a 55 Produção de FAN (Free

amino nitrogen) de proteínas

solúveis

Dextrinase 60 a 67 60 a 65 Clivagem de dextrinas das

extremidades

β amilase 60 a 65 60 Produção de maltose

α amilase 60 a 75 60 a 70 Produção de uma variedade

de açúcares (incluindo

maltose) e dextrinas

Em relação às proteínas, Yamauchi et al (1995) afirma que tais moléculas

presentes na cevada possuem grande importância para o metabolismo das leveduras,

pois as células necessitam dos aminoácidos para sua nutrição. Sendo as proteínas as

precursoras dos aminoácidos, a carência destas moléculas no mosto cervejeiro

acarretará a necessidade da levedura sintetizar os aminoácidos de interesse, em

especial a valina, excretando para o meio como resultantes desta via metabólica,

maiores concentrações de substâncias indesejáveis como o diacetil. Em contrapartida,

24

o excesso de proteínas no meio não é interessante pois grande parte não é solubilizada

durante a malteação ou mosturação.

c) Filtração

A filtração do mosto também pode ser chamada de clarificação, pois consiste

na separação de substâncias que mesmo após a mostura permaneceram insolúveis no

meio. Eliminando estes compostos, dá-se origem a um mosto mais límpido e menos

denso e concentrado.

De acordo com Medeiros (2010), o processo é dividido em duas etapas

subsequentes: Filtração do mosto primário e retirada do extrato residual do bagaço,

utilizando água de lavagem. A água utilizada para a lavagem do bagaço é incorporada

ao mosto primário para evitar a perda de parte do extrato obtido na mostura.

d) Cozimento do mosto (Fervura)

Segundo Tschope (2001), o mosto filtrado, agora adicionado de lúpulo e

adjuntos, é submetido à fervura por tempo e temperatura determinados, com o

objetivo de evaporar a água excedente, coagular proteínas, transferir componentes

amargos do lúpulo, esterilizar o mosto, inativar enzimas e eliminar substâncias

voláteis indesejáveis para o produto final.

Segundo Tostes (2015), a coagulação de proteínas visa a eliminação de

moléculas de alto peso molecular que não foram eliminadas durante a filtração por

permanecerem solúveis no meio e que irão gerar opacidade no produto final. As

proteínas e outros compostos sedimentam na parte inferior do cozinhador, recebendo

o nome de trub quente.

Em relação aos componentes do lúpulo, Tostes (2015) afirma que temos não

só a transferência destes para o meio, mas também volatilização e isomerização de α-

ácidos que irão conferir amargor e aroma ao mosto de acordo com o momento em

que são adicionados.

25

Lúpulos de amargor: Lúpulos adicionados no início da fervura são

responsáveis pelo amargor da cerveja (TOSTES, 2015).

Lúpulo de aroma: Quando adicionados mais ao final da fervura, temos

a produção de sabores e aromas característicos, gerados pelos óleos

presentes no lúpulo que são voláteis e devem permanecer pouco tempo

em contato com a fervura (TOSTES, 2015).

A fervura do mosto também possibilita a eliminação de microrganismos e a

inativação de enzimas, que é desejável pois espera-se que parte dos açucares não

fermentescíveis esteja presente no mosto, para composição do corpo da cerveja.

e) Resfriamento e Retirada de trub frio

De acordo com Brites et al (2000), o início resfriamento do mosto causa a

precipitação de compostos, principalmente abaixo de 70°C, formando o trub frio. A

composição do trub frio apresenta polifenóis, lipídios, resina de lúpulo e metais, e sua

retirada do mosto, de acordo com Medeiros (2010), somente acontece no tanque de

fermentação, após a passagem do mosto pelo trocador de calor e tempo suficiente

para decantação deste precipitado.

f) Aeração

Segundo Stwart e Russel (2005), o oxigênio é dosado no mosto logo após a

passagem deste pelo resfriador, pois a levedura precisará de O2 para sua propagação.

São necessárias concentrações entre 6 e 8 mgO2/L.

3.4.3. Fermentação

a) Leveduras

De acordo com Medeiros (2010), a levedura é um microrganismo unicelular

que possui duas maneiras de obtenção de energia: na presença de oxigênio, através da

cadeia respiratória ou na ausência de oxigênio, através da fermentação alcoólica.

26

Sendo assim, na cervejaria as leveduras são inoculadas num meio inicialmente aerado

e portanto realizam a respiração e multiplicação celular, visto que a respiração

fornece uma maior quantidade de energia para célula, possibilitando sua reprodução

(desejável no início do processo). Após o consumo de todo oxigênio disponível, as

células passam a realizar a fermentação, caracterizada pela queda intensa de açúcares,

liberação de calor, CO2 e formação de espuma.

As diferentes formas de açúcar presentes no mosto são o substrato principal

para a formação de etanol e gás carbônico (MEDEIROS, 2010), enquanto os lipídios

são fundamentais durante a multiplicação celular pois constituem a membrana celular

e os aminoácidos, também chamados de FAN – Amino Nitrogênio Livre – em

especial a valina, tem papel de destaque pois estão relacionados a formação de

subprodutos que irão caracterizar a cerveja final (BRITES ET AL, 2000).

Em relação aos sais minerais, Brites et al (2000) afirma que podemos destacar

o cálcio, que tem influência no paladar e participação fundamental no processo de

floculação do fermento, e o zinco, que está fortemente relacionado a multiplicação

celular.

Medeiros (2010) conclui que o excesso ou falta de nutrientes no mosto pode

interferir em todas as reações bioquímicas e químicas do processo, impactando no

paladar e aroma da cerveja.

b) Inoculação do fermento

De acordo com Medeiros (2010), como o mosto é um meio totalmente

propício para proliferação de bactérias e leveduras selvagens, é de extrema

importância que o momento de inoculação e a aeração do mosto sejam feitas da

maneira mais asséptica possível.

c) Início da Fermentação: Adaptação ao meio

27

Vogel e Todaro (1997) estabelecem que após a inoculação das leveduras

ocorre a fase de adaptação do fermento. Geralmente essa fase ocorre nas primeiras 12

a 18 horas e não apresenta formação de etanol, gás carbônico ou espuma, pois o meio

ainda rico em oxigênio, favorece o metabolismo aeróbio e a multiplicação celular.

Após 24 horas observa-se um leve aumento na temperatura do mosto devido a

atividade celular, sendo a atenuação do extrato de apenas 0,4 a 0,8% e o pH é

reduzido em torno de 0,25 a 0,30 unidades.

d) Primeira fase da fermentação

De acordo com Medeiros (2010), após a adaptação das células ao meio ainda

há oxigênio para ser consumido e a concentração de leveduras triplica. É após a

multiplicação celular que se inicia a fermentação propriamente dita, com grande

formação de gás carbônico, baixa formação de espuma.

Segundo Stanbury, Whitaker e Hall (1995), essa fase dura aproximadamente

dois dias e a atenuação de extrato é de aproximadamente 0,8 a 1 °P a cada 24h. A

temperatura pode aumentar na faixa de 1,5 a 2,0 °C e o pH cai cerca de 0,6 a 0,8

unidades. Além disso, levedura excreta para o meio precursores de diacetil,

resultantes do metabolismo dos aminoácidos valina e isoleucina (BOULTON ET AL,

2001) e ocorre a precipitação das resinas de lúpulo e componentes proteicos,

integrantes do trub (MEDEIROS, 2010).

Yamauchi et al (1995) afirma que a temperatura nesta fase deve ser de

aproximadamente 11°C a fim de manter a solubilidade do oxigênio no líquido, evitar

a formação excessiva de espuma no tanque fermentador e reduzir ligeiramente o

metabolismo da levedura para que a produção de diacetil e pentanodiona (conhecidos

como dicetonas) não ocorra em sua velocidade máxima.

e) Segunda fase da fermentação

28

Segundo Vesely et al (2004), a segunda fase tem início no terceiro ou quarto

dia de processo e dura aproximadamente mais três dias, de acordo com a temperatura

que se está conduzindo a fermentação. A fermentação está no auge de sua

intensidade, com atenuação de extrato de 1 a 2% a cada 24h e aumento de

temperatura de 3 a 5 °C. O pH atinge o limite mínimo de 4,0 a 4,4, o gás carbônico e

espuma estão em formação máxima.

Nesta etapa, o diacetil formado na primeira fase é reabsorvido pelas células

ativas de levedura e convertido em moléculas de acetoína e 2,3-butanodiol, que não

interferem nas propriedades organolépticas da cerveja (BOULTON ET AL, 2001).

Também ocorre nesta fase a precipitação de partículas insolúveis – formadas pela

reação entre taninos e proteínas – além de resinas de lúpulo novamente

(STANBURY, WHITAKER, HALL, 1995).

De acordo com Yamauchi et al (1995), a temperatura da segunda fase de

fermentação é mais elevada em relação à primeira etapa, com a finalidade de

estimular a formação dos precursores de diacetil e pentanodiona e sua redução e

reabsorção em seguida, formando finalmente a acetoína e o 2,3-butanodiol. Além

disso, estimula-se o consumo e consequente redução do extrato pelo consumo da

levedura.

f) Retirada de fermento

Momento em que a camada de espuma começa a diminuir, a atenuação do

extrato é reduzida para 0,2 a 0,3% a cada 24h e o pH está constante (EMEST ET AL,

1980).

Segundo Eβlinger (2009), a levedura sedimentada após a fermentação

metabolizou todos os nutrientes do mosto e fica exposta ao gás carbônico e ao etanol

formados na fermentação, assim como a pressão hidrostática e temperaturas mais

elevadas na parte cônica do tanque de fermentação. Assim, a separação destas células

29

da cerveja é necessária. As leveduras são retiradas no momento em que se atinge a

atenuação desejada, anteriormente ao resfriamento da cerveja para maturação.

g) Maturação

De acordo com Speers (1999), para iniciar a maturação a temperatura deve ser

reduzida para valores muito abaixo daqueles em que a fermentação é conduzida: ente

-2 e 0 °C. Esta etapa também é conhecida como clarificação da cerveja pois é durante

este processo que se depositam as substâncias responsáveis pela turvação da cerveja,

como células de levedura ainda suspensas, subprodutos da decomposição de

proteínas, polifenóis/taninos, trub e outros. Esta fase é essencial para que os sabores e

aromas da cerveja se equilibrem (TOSTES, 2015).

A efetividade da clarificação depende de alguns fatores como tamanho, tipo e

quantidade das substâncias causadoras da turvação, temperatura da maturação

(quanto mais baixa, melhor) e tempo de maturação (quanto maior, melhor; no mínimo

3 dias) (SPEERS, 1999).

3.4.4. Filtração

De acordo com Medeiros (2010), ao longo da maturação, são feitas retiradas

de material sedimentado por escoamento pela parte inferior do tanque, porém ainda

existem células suspensas e outros compostos que irão causar turvação da cerveja.

Sendo assim, o objetivo da filtração é garantir que o produto esteja dentro das

especificações de cor (agradável e equivalente ao padrão aceito para o tipo de cerveja

produzido), paladar (uniforme e refinado), aspecto límpido no copo, apresentação de

alto brilho e alta durabilidade.

Tostes (2015) afirma que além destes objetivos, uma das operações

empregadas no processo de filtração é a carbonatação, que confere o último ajuste da

cerveja para o produto final. A levedura além de produzir etanol, também libera gás

carbônico para o meio, o mesmo gás utilizado para carbonatar a cerveja. Sendo assim,

30

um dos principais métodos utilizados industrialmente para correção do teor de gás

carbônico na cerveja é aproveitar o gás liberado da fermentação.

Ainda segundo Tostes (2015), os tanques fermentadores possuem válvulas de

controle de pressão, que são reguladas de forma que a pressão total do tanque

corresponda a pressão de solubilização do gás carbônico no líquido. Os cálculos

envolvidos para a determinação desta pressão também consideram a temperatura e o

tempo de fermentação.

3.4.5. Envase

Segundo Medeiros (2010), o envase da cerveja é um processo que conta com

uma série de equipamentos, responsáveis pelo acondicionamento do produto em

determinada embalagem, com incorporação mínima de oxigênio e perda mínima de

gás carbônico durante o processo. Galatto (2008) afirma que este cuidado é tomado

pois o gás oxigênio causa a oxidação da cerveja, gerando alterações no paladar,

turvações, modificação na coloração e favorece o crescimento de contaminantes. O

autor conclui ainda que o gás carbônico deve ser mantido durante o processo uma vez

que garante a conservação da espuma e do paladar. Quanto menor for a temperatura

de envase, maior a facilidade do gás se manter solúvel.

3.4.6. Pasteurização

Segundo Fontana (2009), a pasteurização é utilizada em muitas indústrias

alimentícias, sendo aplicada pela primeira vez na cerveja em 1870 por Louis Pasteur.

Pouco tempo depois, as cervejarias europeias passaram a utilizar a pasteurização

como um procedimento padrão.

Gava (1998) afirma que o objetivo da pasteurização não é a eliminação

completa de micro-organismos, mas apenas os patógenos. Sendo assim, deve-se

realizar a pasteurização de maneira que o processo seja o menos prejudicial possível

para a cerveja, levando-se em consideração a população inicial de micro-organismos

31

a destruir, o pH, a velocidade de transferência de calor da parte externa até o interior

do vasilhame e a temperatura inicial do produto.

De acordo com Clerk (1958), é inevitável que ocorram variações de sabor,

aroma, cor e estabilidade coloidal na cerveja, sendo a temperatura de 60°C por 20

minutos suficiente para eliminação de patógenos e sem efeito negativo excessivo

sobre as características físico-químicas da cerveja.

3.5. O Sistema de Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle

(APPCC)

De acordo com Ribeiro-Furtini e Abreu (2006), a qualidade dos alimentos é

uma preocupação crescente no cenário mundial e por este motivo diferentes

ferramentas de gestão são criadas e utilizadas visando garantir o oferecimento de um

produto seguro à saúde humana e compatível as exigências de comercialização. Além

disso, outros benefícios podem ser alcançados com a implantação de ferramentas de

controle e análise, como a redução de perdas, o aumento de produtividade e a

otimização da produção. Os autores citam como ferramentas mais conhecidas as Boas

Práticas de Fabricação (BPF), os Procedimentos Padrão de Higiene Operacional

(PPHO), a Avaliação de Riscos Microbiológicos (MRA), Gerenciamento da

Qualidade (Série ISO) e o Sistema de Análise dos Perigos e Pontos Críticos de

Controle (APPCC).

3.5.1. Histórico

Segundo Bennet e Steed (1999), o termo alimento seguro foi usado pela

primeira vez nos anos 60, pela Pillsburg Company, em parceria com a NASA e o US

Army Laboratories durante a criação de um sistema de qualidade que possibilitasse o

desenvolvimento de alimentos que pudessem ser consumidos por astronautas sem

danos à saúde. Neste contexto, afirma Jouve (1999), a ferramenta APPCC (ou na

sigla em inglês HACCP – Hazard Analysis and Critical Control Points) foi

32

desenvolvida, originalmente pelo setor privado, mas rapidamente foi introduzida na

legislação de vários países.

Inicialmente, o sistema de APPCC criado pela Pillsbury Company consistia

em três princípios (JOUVE, 1998):

Análise de perigo e avaliação do risco: a avaliação de risco considera

as perguntas-chave:

o O produto contém ingredientes sensíveis?

o Há uma etapa que destrói micro-organismos patogênicos?

o Há possibilidade de recontaminação do produto após a

eliminação de patógenos?

o Há possibilidade do produto estragar durante a distribuição ou

consumo?

o Há tratamento térmico final?

Determinação dos pontos críticos de controle

Monitoramento dos pontos críticos de controle

3.5.2. Conceito

A aplicação do sistema de APPCC possibilita a identificação dos perigos, a

avaliação da probabilidade de ocorrência de perigos durante o processo e a definição

de meios de controle para garantir a segurança alimentar (ILSI, 1997).

Em 1993, a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) e

a World Health Organization (WHO) estabeleceram em assembleia a adoção do

Codex Alimentarius como uma coletânea de normas que visa a aplicação das boas

práticas de fabricação dos alimentos, incluindo o sistema APPCC. De acordo com

este documento, o sistema pode ser empregado em todas as etapas de um processo

produtivo, desde a produção primária até o consumo final, sendo sua aplicação

baseada em evidências científicas de riscos à saúde humana.

33

De acordo com Figueiredo e Neto (2001), o sistema de APPCC define o termo

perigo como um agente nocivo ou condição inaceitável para o alimento, podendo

causar algum efeito adverso à saúde.

Desta forma, ILSI (1997), afirma que os perigos são causados por:

Presença inaceitável de uma contaminação química, física ou

microbiológica na matéria prima, no produto intermediário ou final;

Potencial de crescimento/sobrevivência de microrganismos ou

produção de compostos químicos no produto intermediário ou final;

Recontaminação do produto após tratamento contra patógenos, seja

por produtos químicos, microrganismos ou corpos estranhos

3.5.3. Princípios Gerais de Higiene dos Alimentos

Segundo a FAO/WHO (1963), antes da aplicação do sistema APPCC em

qualquer setor produtivo, é necessário que programas considerados pré requisitos já

tenham sido implantados, como por exemplo as Boas Práticas de Fabricação (BPF),

que estão de acordo com os Princípios Gerais da Higiene dos Alimentos.

De acordo com Carballido et al (1994), as Boas Práticas de Fabricação (BPF)

são regras que definem a maneira ideal de se conduzir um processo fabril no que diz

respeito aos métodos de limpeza, comportamento das pessoas envolvidas e adequação

de equipamentos e edifícios. Espera-se eliminar fontes genéricas de possíveis

contaminações de produto aplicando as BPF.

Figueiredo e Neto (2001) afirmam que é necessário destacar as Boas Práticas

de Fabricação anteriormente a implementação do sistema de APPCC, pois deve haver

inicialmente uma mobilização dos envolvidos para redução da ocorrência de

contaminação do produto, visto que grande parte delas é possível de ser evitada a

partir da aplicação correta das BPF. Contudo, é possível que o sistema de APPCC

34

seja aplicado em conjunto as BPF, desde que sejam muito bem definidas as

diferenças entre os riscos que podem ser controlados pelas BPF e os perigos que

exigem modificação no processo ou um controle específico.

Os Princípios Gerais de Higiene dos Alimentos estabelecidos pela FAO/WHO

também fazem parte do Codex Alimentarius e seus principais pontos encontram-se

destacados abaixo (FAO, WHO, 1963):

a) Produção Primária

A produção primária deve ocorrer de maneira a garantir que o alimento seja

seguro e adequado para consumo. O objetivo nesta etapa é reduzir a probabilidade de

introdução de um perigo que possa afetar a segurança do alimento.

Higiene Ambiental

As possíveis fontes de contaminação do ambiente devem ser consideradas,

tais como a presença de substâncias potencialmente perigosas.

Produção higiênica de insumos alimentares

Os produtores e indústrias de alimentos devem implementar medidas para o

controle de contaminação procedente do ar, solo, água, dieta dos animais,

fertilizantes, pesticidas, entre outros.

Manipulação, armazenamento e transporte

Procedimentos devem ser estabelecidos para selecionar os alimentos e

ingredientes alimentícios com a finalidade de separar todo material que não seja apto

ao consumo humano. Em seguida, deve-se eliminar de maneira higiênica todo o

material rejeitado e proteger os alimentos e ingredientes da contaminação de pragas,

agentes químicos, físicos e/ou microbiológicos.

É importante também que se evite ao máximo a deterioração e decomposição

de insumos por meio de controle de temperatura e umidade, por exemplo.

35

b) Projetos e Instalações

Devido à natureza das operações e dos riscos associados, as áreas produtivas,

os equipamentos e as instalações devem ser localizados e projetados de modo a

garantir que a contaminação seja minimizada, que o projeto permita a manutenção,

limpeza e desinfecção adequada (minimizando a contaminação pelo ar), que

superfícies e materiais não sejam tóxicos ao uso que se destinam e sejam de fácil

manutenção e limpeza, e por fim que as instalações sejam adequadas para controle de

temperatura e umidade, dentre outros parâmetros.

Equipamentos

Os equipamentos e recipientes envolvidos na produção e que entram em

contato com o alimento devem ser projetados de modo a possibilitar a adequada

limpeza, desinfecção e manutenção quando necessário.

Os equipamentos utilizados para cozimento, aplicação de tratamento térmico,

resfriamento, armazenagem ou congelamento de alimentos deve ser projetado de

forma a alcançar rápido e manter a temperatura desejada e necessária para a

segurança do alimento. Além disso, outra característica desejável é que tais

equipamentos possuam meios de controle de umidade ou fluxo de ar. Desta forma,

temos a garantia de que microrganismos prejudiciais ou indesejáveis sejam

eliminados ou reduzidos.

Os recipientes para resíduos, subprodutos e substâncias perigosas devem ser

identificados, propriamente fabricados, e quando possível, feitos de material

impermeável. Após o uso, os recipientes devem ser lacrados para evitar contaminação

intencional ou acidental.

Instalações

Para definição de um local de instalação, deve-se observar se há

abastecimento de água potável suficiente e sistemas de drenagem e disposição de

36

resíduos de forma a evitar o risco de contaminação dos alimentos ou abastecimento

de água potável.

c) Controle de Operações

O controle de operações visa reduzir o risco de que os alimentos não sejam

seguros por meio de medidas preventivas que garantam a adequação do alimento em

etapas apropriadas da operação.

As empresas que produzem alimentos devem controlar os pontos de perigo

seguindo as seguintes diretrizes:

Identificar todas as etapas críticas do processo

Implementar procedimentos efetivos de controle nestas etapas

Monitorar os procedimentos para garantir sua eficácia

Revisar procedimentos periodicamente e sempre que houver mudança na

operação.

Controle de Tempo e Temperatura

A falta de controle de temperatura, conforme mencionado anteriormente, é

uma das causas mais frequentes de ocorrência de doenças transmitidas por alimentos

ou deterioração dos mesmos. Os controles eficazes envolvem tempo e temperatura e

devem considerar as características do alimento, tais como atividade de água, pH e

possível carga microbiana inicial do produto.

Etapas específicas do processo

Alguns processos contribuem para a conservação de alimentos e sua

consequente segurança; dentre eles estão o resfriamento, irradiação, dessecação,

conservação química e embalagem a vácuo ou atmosfera modificada.

37

Contaminação microbiológica cruzada

Os patógenos podem ser transferidos de um alimento para outro diretamente,

pelas pessoas que manipulam o produto, pela superfície de contato ou ar. Em razão

disso, pode ser necessário restringir ou controlar o acesso as áreas de processamento.

Contaminação física e química

Devem ser adotados sistemas que evitem a contaminação do produto por

corpos estranhos, como vidro, pedaços de metal de maquinário, poeira, fumaça tóxica

ou produtos químicos indesejáveis, tais como dispositivos de detecção apropriados ou

sistemas de filtração para controle deste risco.

d) Recepção de Materiais

Nenhuma matéria-prima deve ser aceita por uma indústria se contiver

parasitas, microrganismos indesejáveis, pesticidas ou outras substâncias tóxicas.

Quando for apropriado, pode-se estabelecer especificações para recebimento de

matérias-primas, além de sua inspeção e seleção antes do processamento.

e) Gestão e Supervisão

O tipo de controle e a supervisão necessária dependem do porte da indústria

em questão, da natureza de suas atividades e dos tipos de alimentos produzidos. Mas

em qualquer caso, os gerentes e supervisores devem ter conhecimento sobre as

práticas de higiene dos alimentos para avaliar possíveis riscos e adotar medidas

preventivas e corretivas apropriadas.

f) Documentação e registro

Quando necessário, devem ser mantidos registros do processamento, produção

e distribuição, que devem ser conservados por período maior do que a vida útil do

produto.

38

g) Manutenção e Higiene

Os estabelecimentos e equipamentos devem ser mantidos em estado de

conservação adequado e em condições de facilitar todo o processo de higienização.

Além disso, devem funcionar conforme previsto e prevenir a contaminação dos

alimentos com fragmentos de metal, desprendimento de peças ou produtos químicos.

Programas de limpeza

Os programas de limpeza e desinfecção devem garantir que toda área esteja

higienizada; portanto, sistemas de monitoramento são necessários para garantir a

frequência correta de limpeza e a maneira correta de realiza-la.

Sistema de Controle de Pragas

As pragas representam uma grande ameaça à segurança e adequação dos

alimentos. As infestações podem ocorrer em locais que favoreçam a infestação,

principalmente pela disponibilidade de água e alimento. Sendo assim as boas práticas

de higiene devem ser empregadas para diminuir a chance de infestação.

h) Higiene Pessoal

É necessário garantir que as pessoas que entram em contato direto com os

alimentos não os contaminem; este controle é feito mediante manutenção de um grau

apropriado de higiene pessoa e comportamento e atuação de forma adequada.

i) Capacitação

Os envolvidos com atividades relacionadas aos alimentos, que entram em

contato direto ou indireto com os mesmos devem ser capacitados quanto à higiene

dos alimentos em um nível compatível à atividade que irão realizar.

39

3.5.4. Aplicação do sistema APPCC

De acordo com FAO/WHO (1963), para que a aplicação do sistema APPCC

seja bem sucedida em uma indústria, seja ela de grande ou pequeno porte, é

necessário que a gerência e o pessoal envolvido no processo estejam envolvidos,

comprometidos e participem ativamente da implantação do sistema.

Os passos abaixo foram propostos pela World Health Organization (1997) e pela

International Life Science Institute (1997) para implementação do sistema de

APPCC:

a) Formação da equipe de APPCC

Os membros da equipe devem apresentar multidisciplinaridade; além disso devem

ter conhecimento sobre o produto e seus processos de manufatura. O líder da equipe

deve ter treinamento e habilidade suficiente em APPCC, porém todos os membros

devem ter habilidade de multiplicar os conceitos do sistema em todos os grupos

envolvidos no processo.

b) Descrição do produto

Uma descrição detalhada do produto deve ser feita, contendo a composição

química, física, tipo de embalagem, condições de armazenamento e a vida útil do

produto.

c) Identificação do uso

Deve-se identificar o público alvo do produto, especialmente se será consumido

por um segmento particular da população, tais como bebês, idosos, enfermos, entre

outros.

d) Construção do diagrama de fluxo

Deve-se esquematizar o fluxo do processo em um diagrama simplificado, que

destaque os pontos de perigo potenciais.

40

e) Confirmação no local das etapas descritas no fluxograma

Após a elaboração do diagrama do item d), deve-se inspecionar in loco, se as

operações descritas estão de acordo com o esquematizado ou ainda se existem pontos

que não foram incluídos no diagrama.

f) Listar todos os perigos, analisar riscos e considerar os controles necessários

Todos os perigos relacionados a cada etapa do processo devem ser identificados

pelos membros da equipe e nas informações de saúde pública relacionadas ao

produto. A partir desses dados, a análise de risco pode ser feita considerando os

fatores:

Probabilidade de ocorrência do perigo e sua severidade em relação aos

efeitos nocivos à saúde;

Evolução qualitativa e quantitativa do perigo;

Capacidade de crescimento de microrganismos;

Produção ou permanência de toxinas, agentes químicos ou físicos nos

alimentos.

As medidas de controle existentes ou que podem no futuro ser aplicadas

devem ser listadas e mais de uma forma de controle de um perigo pode ser

considerada.

g) Determinar os pontos críticos de controle

Um ponto crítico de controle (PCC) representa uma etapa do processo na qual um

controle pode ser aplicado para prevenir ou eliminar um perigo relativo a segurança

alimentar, reduzir o perigo ou mantê-lo em nível estável.

A identificação de um PCC pode ser facilitada por meio de uma árvore decisória

que contém uma série de perguntas para cada etapa do processo (Figura 2).

41

h) Estabelecer limites críticos para cada PCC

Os limites críticos determinam quais produtos são aceitáveis e quais não são,

podendo ser parâmetros qualitativos ou quantitativos. Cada ponto crítico deve ser seu

limite crítico, de forma a manter uma visão clara e objetiva das medidas de controle

daquele PCC.

O estabelecimento do ponto crítico pode ser baseado na legislação, literatura,

dados ou pesquisas reconhecidas, normas da empresa, entre outros.

i) Estabelecer um sistema de monitoramento para cada PCC

É necessária a implantação de um sistema de monitoramento dos limites críticos

nos PCC, para assegurar primeiramente, que as medidas sejam realizadas

corretamente e se possível, de maneira automatizada; também é necessário que o

monitoramento detecte qualquer perda de controle do processo, associando qual

procedimento deve ser tomado para retomar a normalidade do processo.

Os métodos devem ser rápidos, para tornarem a correção do problema a mais

rápida possível.

j) Estabelecer ações corretivas

Ações corretivas específicas devem ser definidas para cada PCC, para fazer com

que os produtos fora de especificação recebam o tratamento devido, para determinar a

razão do PCC estar fora de controle e trazer o PCC novamente à operação normal

desejada.

k) Estabelecer procedimento de verificação

Os métodos de verificação, auditoria, testes e amostragens aleatórias são maneiras

de se verificar se o sistema de controle está funcionando corretamente.

42

l) Estabelecer documentação e manter registros

Todos os diagramas, árvores decisórias de PCC, limites críticos e dados obtidos

pelo monitoramento do PCC devem ser documentados e as atividades de

monitoramento, correção de desvios e modificações no sistema APPCC devem ser

registradas para acompanhamento e revisões subsequentes.

Figura 2 – Fluxograma de uma árvore decisória para identificação de um PCC

(WHO, 1997).

4. METODOLOGIA

Por meio de consultas a literatura pertinente elaborou-se uma revisão sobre os

”Princípios Gerais de Higiene dos Alimentos” (item 3.5.3) e “Aplicação do Sistema

APPCC” (item 3.5.4). Assim, foram abordados os princípios do sistema de Análise de

Perigo e Pontos Críticos de Controle e orientações gerais para a implantação do

sistema. A partir destas informações, buscou-se identificar os possíveis perigos

existem no processo produtivo de cerveja, bem como possíveis métodos de controle,

visando a garantia da segurança alimentar.

43

5. RESULTADOS

De acordo com as etapas envolvidas na aplicação do Sistema de APPCC foi

elaborado um fluxograma de produção de uma cervejaria (Anexo B); seguido da

descrição de cada etapa do processo ressaltando os possíveis pontos de perigos e

medidas de controle.

Tabela 3 – Possíveis pontos de perigo e medidas de controle em um processo de

fabricação de cerveja

Etapa do Processo Perigos Controle

Mostura

Presença de corpos

estranhos no malte

Processo de limpeza e

seleção eficiente e inspeção

prévia do malte

Utilização de água

contaminada

Purificação e análises

periódicas da água

Tanque de mostura com

resíduos e sujidades

Cronogramas de limpeza

periódica

Filtração

Meio filtrante com

resíduos de filtrações

anteriores

Cronogramas de limpeza

periódica

Fervura

Entrada de corpos

estranhos no momento da

adição de lúpulo e

adjuntos

Criação de um padrão de

operação que contenha a

maneira correta de dosar os

aditivos

Resfriamento

(Trocador de Placas)

Presença de trub quente

que não foi sedimentado

durante a fervura

acumulado nas placas

Cronograma de limpeza

periódica

44

Tabela 3 – Continuação - Possíveis pontos de perigo e medidas de controle em um

processo de fabricação de cerveja

Etapa do Processo Perigos Controle

Inoculação do fermento

Armazenamento do

fermento em recipiente

inadequado,

possibilitando a

contaminação por outros

micro-organismos ou

compostos químicos

Realizar a armazenagem

em recipientes e locais

adequados, de acordo

com o especificado pelo

fornecedor

Entrada de corpos

estranhos no momento

da inoculação

Criação de um padrão de

operação que contenha a

maneira correta de

realizar a inoculação

Contaminação do

fermento devido à falta

de assepsia de

tubulações, bombas e

qualquer outro

equipamento utilizado

para esta operação

Cronograma rigoroso de

limpeza e assepsia

periódica

Fermentação

Contaminação do ar

utilizado para a aeração

do mosto após o

resfriamento

(anterior ao início da

fermentação)

Realizar a esterilização

do ar e inspeção

periódica da qualidade

desta esterilização, bem

como troca dos filtros

com a frequência

indicada pelo fabricante.

Presença de resíduos de

fermento de outras

fermentações ou

presença de sujidades

nos tanques

Cronograma rigoroso de

limpeza e assepsia

periódica

Contaminação no

momento de retirada de

trub frio

Criação de um padrão de

operação para correta de

retirada de trub.

Entrada de

contaminantes durante a

retirada de amostras para

análise

Criação de um padrão de

operação que contenha a

maneira correta de

realizar a retirada de

amostra

45

Tabela 3 – Continuação - Possíveis pontos de perigo e medidas de controle em um

processo de fabricação de cerveja

Etapa do Processo Perigos Controle

Maturação

Presença de resíduos e

sujidades nos tanques

Cronograma de limpeza

e assepsia periódica

Filtração

Presença de resíduos de

fermento e sujidades nos

filtros

Cronograma rigoroso de

limpeza e assepsia

periódica, pois está é a

etapa final de fabricação

da cerveja e se houver

algum corpo estranho este

não será retirado por

alguma operação posterior

Carbonatação

Contaminação do gás

carbônico utilizado

Realizar a esterilização do

ar e inspeção periódica da

qualidade desta

esterilização, bem como

troca dos filtros com a

frequência indicada pelo

fabricante.

Envase

Contaminação por

fragmentos de metal,

desprendimento de peças

ou produtos químicos

Durante o envase, os

equipamentos envolvidos

podem desprender

fragmentos ou peças e por

esta razão deve-se realizar

a manutenção e inspeção

periódica dos mesmos.

Os produtos químicos

utilizados para limpeza

podem não ser eliminados

de maneira eficiente,

portanto deve-se realizar a

lavagem com água após a

limpeza e o teste de

presença de resíduos pode

ser feito por condutimetria.

46

Tabela 3 – Continuação - Possíveis pontos de perigo e medidas de controle em um

processo de fabricação de cerveja

Etapa do Processo Perigos Controle

Envase

Contaminação do gás

carbônico utilizado

durante o enchimento do

vasilhame

Realizar a esterilização do

ar e inspeção periódica da

qualidade desta

esterilização, bem como

troca dos filtros com a

frequência indicada pelo

fabricante.

Contaminação do

vasilhame por corpos

estranhos (insetos,

fragmentos de materiais)

Realizar a limpeza de

vasilhames (etapa que

deve ser parte do processo

de envase) e inspeção das

latas através de inspetores

eletrônicos e check

periódico da equipe de

operação

Pasteurização

Ocorrência de

subpasteurização, ou seja,

pasteurização abaixo da

temperatura e tempo

adequados, fazendo com

que os microrganismos

patogênicos não sejam

destruídos

Manutenção do

equipamento de

pasteurização e supervisão

de operação, para garantir

que o pasteurizador esteja

operando dentro de suas

especificações

Além dos controles citados, vale ressaltar que todas as tubulações, bombas e

outros equipamentos utilizados nas operações de trasfega devem ser submetidas a

assepsia adequada e com frequência em conformidade com o estabelecido nas BPFs,

sendo assim não são consideradas como um item de controle.

47

6. CONCLUSÕES

O sistema de APPCC é uma ferramenta facilitadora e de grande valia

para a indústria cervejeira, considerando que a equipe técnica

apresenta conhecimentos e experiências compatíveis o que permita a

identificação dos pontos de perigo, bem como a orientação para a

tomada de decisão mais adequada.

As etapas de preparo do mosto e fermentação os pontos de perigo

estão focados na contaminação microbiológica devido a presença de

bactérias láticas e leveduras selvagens na maioria dos casos. A

presença destas espécies pode interferir negativamente nas

características e qualidade do produto.

No processo de envase, existe a possibilidade da presença de corpos

estranhos e produtos químicos, que podem ser evitados por meio da

manutenção adequada dos equipamentos e inspeção rigorosa da

operação e supervisão deste processo.

Considerando os pontos de perigo apontados, bem como as medidas

de controle sugeridas, pode-se concluir que a maioria destes é

fortemente dependente das equipes técnica e de supervisão, que devem

estar atentas para a observação das normas descritas no manual de

Boas Práticas de Fabricação. Neste contexto, o sistema APPCC é uma

alternativa relevante para garantir a qualidade do produto final.

48

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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53

ANEXO A: LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

DECRETO Nº 6.871, DE 4 DE JUNHO DE

2009

Regulamenta a Lei nº 8.918, de 14 de julho

de 1994, que dispõe sobre a padronização, a

classificação, o registro, a inspeção, a

produção e a fiscalização de bebidas.

CAPÍTULO VII: DA PADRONIZAÇÃO DAS BEBIDAS

Seção III: Das Bebidas Alcoólicas Fermentadas

Art. 36. Cerveja é a bebida obtida pela fermentação alcoólica do mosto cervejeiro

oriundo do malte de cevada e água potável, por ação da levedura, com adição de

lúpulo.

§ 1º O malte de cevada usado na elaboração de cerveja e o lúpulo poderão ser

substituídos por seus respectivos extratos.

§ 2º Malte é o produto obtido pela germinação e secagem da cevada, devendo o

malte de outros cereais ter a designação acrescida do nome do cereal de sua origem.

§ 3º Extrato de malte é o resultante da desidratação do mosto de malte até o estado

sólido, ou pastoso, devendo, quando reconstituído, apresentar as propriedades do

mosto de malte.

§ 4º Parte do malte de cevada poderá ser substituído por adjuntos cervejeiros, cujo

emprego não poderá ser superior a quarenta e cinco por cento em relação ao extrato

primitivo.

54

§ 5º Consideram-se adjuntos cervejeiros a cevada cervejeira e os demais cereais

aptos para o consumo humano, malteados ou não malteados, bem como os amidos e

açúcares de origem vegetal.

§ 6º Quando se tratarem de açúcares vegetais diferentes dos provenientes de cereais,

a quantidade máxima de açúcar empregada em relação ao seu extrato primitivo será:

I - na cerveja clara, menor ou igual a dez por cento em peso;

II - na cerveja escura, menor ou igual a cinqüenta por cento em peso, podendo

conferir ao produto acabado as características de adoçante; e

III - na cerveja extra, menor ou igual a dez por cento do extrato primitivo.

§ 7º Carboidratos transformados são os derivados da parte amilácea dos cereais

obtidos por meio de transformações enzimáticas.

§ 8º Mosto cervejeiro é a solução, em água potável, de carboidratos, proteínas,

glicídios e sais minerais, resultantes da degradação enzimática dos componentes da

matéria-prima que compõem o mosto.

§ 9º Mosto lupulado é o mosto fervido com lúpulo ou seu extrato, e dele

apresentando os princípios aromáticos e amargos, ficando estabelecido que:

I - lúpulo são os cones da inflorescência do Humulus lupulus, em sua forma natural

ou industrializada, aptos para o consumo humano; e

II - extrato de lúpulo é o resultante da extração, por solvente adequado, dos

princípios aromáticos ou amargos do lúpulo, isomerizados ou não, reduzidos ou não,

devendo o produto final estar isento de solvente.

§ 10. Extrato primitivo ou original é o extrato do mosto de malte de origem da

cerveja.

Art. 37. Das características de identidade da cerveja deverá ser observado o seguinte:

I - a cor da cerveja deverá ser proveniente das substâncias corantes do malte da

cevada, sendo que:

a) para corrigir ou intensificar a cor da cerveja, é permitido o uso do corante

caramelo, e de corantes naturais previstos em legislação específica;

55

b) na cerveja escura será permitido somente o uso de corante caramelo; e

c) admite-se a utilização de corante natural, autorizados pela legislação própria, com

a finalidade de padronizar a cor das cervejas definidas nos arts. 40, 41 e 42;

II - para fermentação do mosto, será usada a levedura cervejeira;

III - a cerveja deverá ser estabilizada biologicamente por processo físico apropriado,

podendo ser denominada de Chope ou Chopp a cerveja não submetida a processo de

pasteurização para o envase;

IV - a água potável empregada na elaboração da cerveja poderá ser tratada com

substâncias químicas, por processo físico ou outro que lhe assegure as características

desejadas para boa qualidade do produto, em conjunto ou separadamente; e

V - a cerveja deverá apresentar, a vinte graus Celsius, pressão mínima de atmosfera

de gás carbônico proveniente da fermentação, sendo permitida a correção por

dióxido de carbono ou nitrogênio, industrialmente puros.

Art. 38. As cervejas são classificadas:

I - quanto ao extrato primitivo, em:

a) cerveja leve, definida como sendo a cerveja cujo extrato primitivo é maior ou

igual a cinco por cento em peso e menor que dez e meio por cento em peso, podendo

denominar-se cerveja light a cerveja leve que cumpra também, cumulativamente, os

requisitos constantes dos itens 1 e 2, seguintes:

1. redução de vinte e cinco por cento do conteúdo de nutrientes ou do valor

energético com relação a uma cerveja similar do mesmo fabricante (mesma marca

comercial), ou do valor médio do conteúdo de três cervejas similares conhecidas e

que sejam produzidas na região; e

2. valor energético da cerveja pronta para o consumo deve ser no máximo de trinta e

cinco quilocalorias por cem mililitros;

b) cerveja ou cerveja comum, definida como sendo a cerveja cujo extrato primitivo é

maior ou igual a dez e meio por cento em peso e menor que doze por cento em peso;

56

c) cerveja extra, definida como sendo a cerveja cujo extrato primitivo é maior ou

igual a doze por cento em peso e menor ou igual a quatorze por cento em peso; ou

d) cerveja forte, definida como sendo a cerveja cujo extrato primitivo é maior que

quatorze por cento em peso;

II - quanto à cor, em:

a) cerveja clara, a que tiver cor correspondente a menos de vinte unidades EBC

(European Brewery Convention);

b) cerveja escura, a que tiver cor correspondente a vinte ou mais unidades EBC

(European Brewery Convention); ou

c) cerveja colorida, a que, pela ação de corantes naturais, apresentar coloração

diferente das definidas no padrão EBC (European Brewery Convention);

III - quanto ao teor alcoólico, em:

a) cerveja sem álcool, quando seu conteúdo em álcool for menor ou igual a meio por

cento em volume, não sendo obrigatória a declaração no rótulo do conteúdo

alcoólico; ou

b) cerveja com álcool, quando seu conteúdo em álcool for superior a meio por cento

em volume, devendo obrigatoriamente constar no rótulo o percentual de álcool em

volume;

IV - quanto à proporção de malte de cevada, em:

a) cerveja de puro malte, aquela que possuir cem por cento de malte de cevada, em

peso, sobre o extrato primitivo, como fonte de açúcares;

b) cerveja, aquela que possuir proporção de malte de cevada maior ou igual a

cinqüenta e cinco por cento em peso, sobre o extrato primitivo, como fonte de

açúcares; ou

c) "cerveja de ...", seguida do nome do vegetal predominante, aquela que possuir

proporção de malte de cevada maior que vinte por cento e menor que cinqüenta e

cinco por cento, em peso, sobre o extrato primitivo, como fonte de açúcares;

V - quanto à fermentação, em:

57

a) de baixa fermentação; ou

b) de alta fermentação.

Art. 39. De acordo com o seu tipo, a cerveja poderá ser denominada: Pilsen, Export,

Lager, Dortmunder, Munchen, Bock, Malzbier, Ale, Stout, Porter, Weissbier, Alt e

outras denominações internacionalmente reconhecidas que vierem a ser criadas,

observadas as características do produto original.

Art. 40. A cerveja poderá ser adicionada de suco ou extrato de vegetal, ou ambos,

que poderão ser substituídos, total ou parcialmente, por óleo essencial, essência

natural ou destilado vegetal de sua origem.

Art. 41. A cerveja adicionada de suco de vegetal deverá ser denominada "cerveja

com ...", acrescida do nome do vegetal.

Art. 42. Quando o suco natural for substituído total ou parcialmente pelo óleo

essencial, essência natural ou destilado do vegetal de sua origem, será denominada

"cerveja sabor de ...", acrescida do nome do vegetal.

Art. 43. Ficam proibidas as seguintes práticas no processo de produção de cerveja:

I - adicionar qualquer tipo de álcool, qualquer que seja sua procedência;

II - utilizar saponinas ou outras substâncias espumíferas, não autorizadas

expressamente;

III - substituir o lúpulo ou seus derivados por outros princípios amargos;

IV - adicionar água fora das fábricas ou plantas engarrafadoras habilitadas;

V - utilizar aromatizantes, flavorizantes e corantes artificiais na elaboração da

cerveja;

VI - efetuar a estabilização ou a conservação biológica por meio de processos

químicos;

VII - utilizar edulcorantes artificiais; e

VIII - utilizar estabilizantes químicos não autorizados expressamente.

58

ANEXO B: FLUXOGRAMA DE PROCESSOS DE UMA CERVEJARIA