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UNIVERSIDADE DE MARÍLIA
Arlete Aparecida Marçal
Se beber, não dirija: o efeito da frase na decisão do estudante de medicina da Universidade de Marília, em não dirigir após
ingerir bebida alcoólica
Marília 2012
UNIVERSIDADE DE MARÍLIA
Arlete Aparecida Marçal
“Se beber, não dirija”: o efeito da frase na decisão do estudante de medicina da Universidade de Marília, em não dirigir após
ingerir bebida alcoólica.
Marília 2012
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade de Marília (Unimar), como requisito para a obtenção do título de Mestre em comunicação, área de concentração Mídia e Cultura, sob a orientação do Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira.
Marçal, Arlete Aparecida
“Se beber, não dirija”: o efeito da frase na decisão do estudante de medicina da Universidade de Marília em não dirigir após ingerir bebida
alcoólica/ Arlete Aparecida Marçal -- Marília: UNIMAR, 2012.
p.81
Dissertação (Mestrado em Comunicação) -- Curso de Comunicação da Universidade de Marília, Marília, 2012.
1. Comunicação e Saúde 2.“Se beber não dirija 3. Acidente de trânsito I. Marçal, Arlete Aparecida.
CDD -- 302.2
UNIVERSIDADE DE MARÍLIA Márcio Mesquita Serva
Reitor
Profa. Dra. Suely Fadul Villibor Flory
Reitoria de Pesquisa e Pós Graduação
Orientador: Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira
Banca Examinadora da Defesa de Mestrado
Arlete Aparecida Marçal
Se beber, não dirija: o efeito da frase na decisão do estudante de medicina da Universidade de Marília, em não dirigir após
ingerir bebida alcoólica
Data da Defesa: ____ / _____ / 2012
Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira
Avaliação: ___________________ Assinatura: __________________________________
Profa. Dra. Andréia C. F. B. Labegalini
Avaliação: ___________________ Assinatura: __________________________________
Profa. Dra. Shirlene Pavelqueires
Avaliação: _____________________ Assinatura: ________________________________
Dedicatória
Dedico
Aos meus pais Antônio Marçal Filho e Ana Maria R. Marçal:
Espiritos Iluminados que vieram com a missão de me mostrar um caminho correto
e ético, me mostram também a notável força, coragem e sabedoria de enfrentar a vida,
mostrando que sobretudo a vida faz sentido.
A minha irmã JaneteAparecida Marçal (in memoriam):
Que se esforçava para melhorar um pouco a cada dia, mesmo que muitas vezes
falhando sob o peso das próprias imperfeições, mesmo sem conseguir fazer muita coisa
acendeu no seu íntimo a certeza de que a vida como um todo fazia sentido, e fez sua
viagem acreditando que, sobretudo viver faz sentido.
Meus irmãos Solange Ap. Marçal Ortolani e Nilton Rogério Marçal, que continuam
esta viagem comigo:
Amigos para sempre é o que nós iremos ser, na primevera ou em qulaquer das
estações.....amigos para sempre….
Meus sobrinhos Fabrício, Camila, Neto, Bruna e a pequena Maria Eduarda:
Luz da minha vida.
Shirlene Pavelqueires; minha amiga:
“Se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da
vida. Se for para semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, de
solidariedade e amizade”.
Cora Coralina
Agradecimentos
DEUS - Obrigada por: Dentro de Si existir EU
Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira:
Pela paciência e compreensão. “A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao
seu tamanho original.”
Albert Einstein
Prof. Dra Maria Elizabeth S. H. Corrêa - Mestra:
“Os Grandes ensinam a rota, mas é preciso percorrê-la.”
Buda
Estudantes Curso Medicina Da Universidade de Marília:
Não seria possível este trabalho sem a colaboração e honestidade de vocês, meu muito
obrigado.
Prof. Wandercy Bergamo e Profa. Patricia Oishi.
Meus eternos amigos “A grandeza de um homem é ser uma ponte não uma meta…”
Nietzsche.
Suellen e Luan:
Muito obrigado, pela ajuda, colaboração e carinho que tiveram comigo.
Profa Sandra Pozzoli, Profa Márcia Cardin, Carlos Lazarini:
“ Uma pilha de pedras, deixa de ser uma pilha de pedras no momento em que um homem
a contempla, trazendo dentro de si, a imagem de uma catedral”
Antoine de Saint-Exupéry
Meu cunhado Nelson e minha Cunhada Silvana:
Pela compreensão e carinho.
A Universidade de Marília UNIMAR:
Pelo espaço concedido e pela colaboração com a pesquisa.
RESUMO
Dados epidemiológicos apontam para o caos na saúde pública e na sociedade como
um todo, causado, sobretudo, pelos acidentes de trânsito, vitimando principalmente os
jovens. Este estudo busca identificar o efeito da frase “se beber não dirija” nos jovens
universitários do curso de Medicina da Universidade de Marília na decisão de beber e não
dirigir um veículo a motor. Pesquisa quantitativa na área de comunicação, delineada como
estudo descritivo, com dados coletados no ano de 2011, por meio de questionário aplicado
aos estudantes do curso de medicina totalizando 456 sujeitos. Os dados foram coletados,
objetivando conhecer as características da população investigada; identificar se estes
jovens tiveram acesso à frase “se beber não dirija”; o efeito da frase na decisão de não
dirigir após ingerir bebida alcoólica e conhecer, sob a ótica dos sujeitos, estratégias que
causariam tal efeito. A pesquisa buscou suporte literário na área da comunicação, sua
interface com a saúde, nos dados sobre acidentes de trânsito e estudos semelhantes na
temática. Os resultados apontaram que a frase “se beber não dirija”, não produz nos
jovens o efeito desejado, isto é: não dirigir se beber, e que a principal estratégia capaz de
causar tal ação, sob a óptica dos sujeitos, seria mostrar, em depoimentos contundentes, as
consequências dos acidentes de trânsito envolvendo bebida alcoólica na vida das vítimas, e
a exposição de acidentes impactantes (trágicos).
Palavras chave: Comunicação e saúde. “Se beber não dirija”. Acidentes de trânsito
ABSTRACT
Epidemiological data demonstrate the chaotic situation both in the public health
system and the society as a whole; caused mainly by car accidents, which kill, in most
cases, young people. This study aims to identify the effect of the slogan “don’t drink and
drive” on undergraduate students of the School of Medicine from the University of Marília
when making the decision of not drinking and driving an automobile. A quantitative
research on the communication field of study has been carried out and outlined as a
descriptive study, with data collected in 2011 through a questionnaire applied to 456
undergraduate students of the School of Medicine. The data have been collected in order to
analyze the profile of that category of people: if they have ever been aware of the “don’t
drink and drive” slogan; the level of suggestion that it provokes on those youths when
choosing not to drive after drinking; as well as, in their point of view, what strategies could
cause that effect. The research was based on literature concerned to communication, on its
interaction with health, not to mention statistics of car crashes and other researches which
have been already made. The results showed that the catchphrase “don’t drink and drive”
do not suscitate the expected result, that is, if someone drinks, this individual cannot drive,
and also that the main strategy capable of causing that effect, according to the students’
opinion, would be to show, through incisive testimonies, the repercussion of car wrecks
involving alcoholic drinks in victim’s lives, along with the advertising of brutal and
shocking car accidents.
Keywords: health and communication; “Don’t drink and drive”; car accidents.
Listas de Figuras
Figura 01: Veículo a vapor inventado e dirigido por Cugnot ................................. 16
Figura 02: Primeiro Automóvel da cidade do Rio de Janeiro.................................. 17
Figura 03: Panorama da Influência do Álcool em Acidentes com Vítimas Fatais
em um Grupo de Países ...........................................................................................
29
Figura 04: A Mudança do Comportamento dos Jovens que concordam com a Lei
Seca, Investigados em Lojas de Conveniências de Porto Alegre-RS .......................
30
Lista de Gráficos, Quadros e Tabelas
Quadro 1: Mortalidade por Acidentes de Trânsito no Brasil – Comparativo entre os
Anos de 2000, 2007 e 2008 ...........................................................................................
20
Quadro 2: Número de Óbitos em Acidentes de Trânsito, por Categorias de
Transporte: Comparativo no Período de Dez Anos (de 1998 a 2008) ..........................
23
Quadro 3: Número de Óbitos de Jovens (de 15 a 25 anos de idade) em Acidentes de
Trânsito por Categoria de Transportes: Comparativo entre o Ano de 1998 e
2008.................................................................................................................................
24
Quadro 4: Efeitos do Etanol no Organismo Segundo a Alcoolemia ............................ 28
Quadro 5: Possibilidade de sofrer Acidentes de Trânsito em Relação à Alcoolemia ... 31
Quadro 6: Prejuízos provocados pelo uso de bebida alcoólica nos adolescentes ......... 43
Quadro 7: Problemas causados pelo uso de bebidas alcoólicas e suas conseqüências.. 45
Quadro 8: Estratégias específicas, como restrições ao consumo de álcool por
menores, ou a alocação de recursos que refletem prioridades de ações preventivas ou
de tratamento ................................................................................................................
49
Tabela 1: Distribuição dos estudantes de medicina da Universidade de Marília
participantes da pesquisa, segundo o gênero no ano de 2011. .......................................
58
Tabela 2: Distribuição dos estudantes de medicina da Universidade de Marília
participantes da pesquisa, segundo a idade no ano de 2011. ..........................................
58
Tabela 3: Distribuição dos estudantes de medicina da Universidade de Marília
participantes da pesquisa, segundo a religião no ano de 2011 .......................................
59
Tabela 4: Distribuição dos estudantes de medicina da Universidade de Marília
participantes da pesquisa, segundo a renda familiar no ano de 2011..............................
59
Tabela 5: Tipo de bebida alcoólica consumida pelos estudantes de medicina da
Universidade de Marília participantes da pesquisa, no ano de 2011. .............................
60
Tabela 6: Tipo de bebida alcoólica consumida pelos estudantes de medicina da
Universidade de Marília, segundo o gênero, no ano de 2011. .......................................
61
Tabela 7: Tipo de bebida alcoólica consumida pelos estudantes de medicina da
Universidade de Marília, segundo a faixa etária, no ano de 2011. .................................
61
Tabela 8: Modo como bebem os estudantes de medicina da Universidade de Marília
participantes da pesquisa, no ano de 2011. .....................................................................
62
Tabela 9: Misturas de bebida alcoólica consumidas pelos estudantes de medicina da
Universidade de Marília participantes da pesquisa, no ano de 2011. ...........................
62
Tabela 10: Estudantes de medicina da Universidade de Marília que beberam e
dirigiram um veículo a motor, pesquisados no ano de 2011. ........................................
63
Tabela 11: Estudantes de medicina da Universidade de Marília que beberam e
dirigiram um veículo a motor, segundo o gênero, pesquisados no ano de 2011. .........
63
Tabela 12: Estudantes de medicina da Universidade de Marília que beberam e
dirigiram um veículo a motor, segundo a faixa etária, pesquisados no ano de 2011. ....
64
Tabela 13: Efeito da frase “se beber não dirija” nos estudantes de medicina da
Universidade de Marília, pesquisados no ano de 2011 ..................................................
65
Tabela 14: A influência dos amigos na decisão de dirigir um veículo a motor após
ingerir bebida alcoólica entre os estudantes de medicina da Universidade de Marília
pesquisados no ano de 2011 ...........................................................................................
66
Tabela 15: A influência dos amigos na decisão de dirigir um veículo a motor após
ingerir bebida alcoólica entre os estudantes de medicina da Universidade de Marília,
segundo o gênero, pesquisados no ano de 2011 .............................................................
66
Tabela 16: A influência dos amigos na decisão de dirigir um veículo a motor após
ingerir bebida alcoólica entre os estudantes de medicina da Universidade de Marília,
considerando a faixa etária, pesquisados no ano de 2011 ..............................................
67
Tabela 17: Tipo de estratégia capaz de causar a ação de não dirigir após ingerir
bebida alcoólica sob a óptica dos estudantes de medicina da Universidade de Marília,
pesquisados no ano de 2011............................................................................................
68
Lista de Abreviaturas e Siglas
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas
ANP: Agência Nacional de Petróleo
AT: Acidente de Trânsito
BVS: Biblioteca Virtual em Saúde
CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CESVI: Centro de Experimentação e Segurança Viária
CID: Código Internacional de Doenças
CONAR: Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária
CONEP: Comite de Ètica em Pesquisa
CNS: Conselho Nacional de Saúde
DATASUS: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
DETRAN: Departamento Estadual de Trânsito
DIP: Departamento de Imprensa e Comunicação
DPVAT: Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores
EESC: Escola de Engenharia de São Paulo.
FAEF: Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal
FAIP: Faculdade de Ensino Superior do Interior Paulista
FAJOPA: Faculdade João Paulo II
FAMEMA: Faculdade de Medicina de Marília
FATEC: Faculdade de Tecnologia
FIES: Financiamento Estudantil
PROUNI: Programa de Universidade para Todos
FGV: Fundação Getúlio Vargas
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LILACS: Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
MEDLINE: Literatura Internacional em Ciências da Saúde
OMS: Organização Mundial de Saúde
ONG: Organização Não Governamental
OPS: Organização Panamericana de Saúde
PNB: Produto Nacional Bruto
SCIELO: Scientific Eletronic Library On Line
SENAD: Secretaria Nacional Antidrogas
SESP: Serviço Especial de Saúde Pública
SIM: Sistema de Informações de Mortalidade
SUS: Sistema Único de Saúde
TM: Taxa de Mortalidade
UNESP: Universidade Estadual Paulista
UNIMAR: Universidade de Marília
UNIVEM: Fundação de Ensino Euripedes Soares da Rocha
USP: Universidade de São Paulo
Sumário
Introdução ................................................................................................ 13
1. Descrevendo o suporte literário............................................................
1.1 Os Acidentes de Trânsito: do início à atualidade .............................................
1.2 Interrelação entre Acidente de Trânsito e Uso de Bebida Alcoólica .............
1.3 Comunicação e Saúde .....................................................................................
1.4 Outras pesquisas semelhantes ........................................................
16
16
25
34
41
2. Percurso Metodológico ........................................................................
2.1 Trabalho de Campo ..........................................................................................
2.2 Cenário de Investigação ...................................................................................
2.3 População Estudo ............................................................................................
50
55
55
56
3. Resultados e Discussões ......................................................................
3.1 Categoria 1 : Identificação de População Estudo .............................................
3.2 Categoria 2: Beber e Dirigir ............................................................................
3.3 Categoria 3: A Frase: “se beber não dirija” ......................................
3.4 Categoria 4: Influência dos amigos na decisão de dirigir após ingerir bebida
alcoólica ..........................................................................................................
3.5 Categoria 5: Tipo de estratégia capaz de causar a ação de não dirigir após
ingerir bebida alcoólica sob a óptica dos sujeitos ...........................................
57
57
60
64
65
68
Considerações finais .................................................................................................. 69
Referências ............................................................................................... 71
Anexo A: Aprovação do Comitê de Ética e, Pesquisa da Universidade de Marília-
SP .................................................................................................................................
Apêndice A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................
Apêndice B: Instrumento de Coleta de Dados ............................................................
78
79
80
Introdução
Nos últimos 20 anos esta pesquisadora testemunhou, não passivamente, mas
questionando o porquê de tantas mortes, de famílias aflitas pela perda de filhos jovens
embriagados, corajosos e vitimados pelas próprias ousadias. A comunicação fazia-se
presente a todo instante, pelos sons, gestos, sentimentos, pelas emoções, e, até mesmo, pelo
silêncio.
Era preciso conhecer a história daqueles jovens tão fortes, morrendo e levando
consigo os sonhos de seus pais em vê-los adultos e felizes. Há vários anos, pode-se
constatar a instituição de leis e normas que buscam coibir o uso de bebida alcoólica antes
de dirigir um veículo a motor, a proibição da venda de bebidas alcoólicas para menores de
18 anos e muitas outras estratégias para impedir que as estatísticas continuem a avançar.
Dados epidemiológicos apontam para o caos na saúde pública, causado, entre outros
problemas, pelos acidentes de trânsito, vitimando, acima de tudo, os jovens. As baladas, os
grandiosos shows musicais, as músicas e o convívio social do momento, nessa etapa da
vida, convidam para o consumo excessivo do álcool e, muitos, após ingeri-lo em excesso,
conduzem veículos a motor. A imaturidade, o status social e o falso sentido de poder
acabam por vitimá-los nos acidentes de trânsito.
Uma contrastante realidade expõe-se na atualidade: de um lado, os prazeres
financiados pelos pais destes jovens e, de outro, a luta para reduzir esse comportamento
por campanhas governamentais com frases de impacto, como:
- “evite o consumo excessivo de álcool”
- “beba com moderação”
- “aprecie com moderação”
- “se beber não dirija”
- “este produto é destinado a adultos”
- “beba sem exageros”
- “beba com responsabilidade”
Nada tem modificado esse panorama, pois a cada ano 1,2 milhão de pessoas
morrem e milhões sofrem lesões ou tornam-se deficientes em decorrência dos acidentes de
trânsito, sendo que, em grande parte deles, o álcool é determinante para sua ocorrência.
Além das perdas para os indivíduos e paraz suas famílias, os acidentes impõem um pesado
ônus para a sociedade, para os serviços de saúde e para a nação (BEBER, 2007, p. vii).
Há muito tempo a busca por soluções de múltiplos problemas da saúde explora
técnicas de comunicação para minimizá-los. Assim tem sido com o uso abusivo de bebida
alcoólica, determinando os acidentes de trânsito. Buscaram-se, na comunicação,
possibilidades de desagregar as ações de beber e dirigir. Instituiu-se a frase “se beber não
dirija” como uma das estratégias para minimizar o problema, porém não houve, desde seu
lançamento, redução significativa dos acidentes de trânsito envolvendo bebida alcoólica
(BEBER, 2007, p. viii). Partindo da hipótese de que a frase não exerce um efeito na
decisão do jovem de não dirigir após ingerir bebida alcoólica, os objetivos desta
investigação são identificar se estes jovens tiveram acesso à frase “se beber não dirija”;
qual o efeito da frase na decisão de beber e dirigir um veículo a motor e conhecer, sob a
óptica desta população, as estratégias que causariam efeito na decisão de beber e não
dirigir um veículo a motor.
O método de escolha para responder ao questionamento deste estudo foi a pesquisa
quantitativa na área de comunicação, delineada como estudo descritivo que, por meio de
um questionário, coletou os dados. O questionário foi aplicado aos estudantes do primeiro
ao sexto ano do curso de Medicina da Universidade de Marília, no ano de 2011,
totalizando 456 sujeitos, isto é, 82,31% do total de estudantes matriculados no curso
naquele momento. Os dados foram digitados no programa IBM SPSS Statistics e sua
análise permitiu a elaboração de cinco categorias: identificação dos sujeitos do estudo;
beber e dirigir; a frase “se beber não dirija”, a influência dos amigos na decisão de dirigir
após ingerir bebida alcoólica e o tipo de estratégia capaz de causar a ação de não dirigir
após ingerir bebida alcoólica sob a óptica dos sujeitos.
No primeiro capítulo desta pesquisa - “descrevendo o suporte literário”, expõem-se
os referenciais teóricos que nortearam a interpretação dos problemas dos acidentes de
trânsito, do início à atualidade, perpassando as estatísticas de morbimortalidade e sua inter-
relação com o uso abusivo de substância alcoólica. Como a área da comunicação
possibilita o encontro de estratégias de soluções para minimizar o problema das mortes
desses jovens, fez-se uma revisão sistemática da comunicação e sua interface com a saúde.
A revisão da literatura permitiu outros estudos semelhantes a esta investigação, o que
subsidiou a análise dos dados para sua descrição.
O segundo capítulo expõe o percurso metodológico, como se realizou o trabalho de
campo, descreve o cenário de investigação, a população de estudo, a aplicação do
questionário e o registro dos dados.
No terceiro capítulo conhecem-se as características da população do estudo, seu
envolvimento com substâncias alcoólicas e a associação com o ato de dirigir sob efeito do
álcool. Discute-se, ainda, a representação da frase “se beber não dirija” e a influência dos
amigos na ação de dirigir após ingerir bebida alcoólica. Apresentam-se, também, as
estratégias capazes de causar a ação de não dirigir após ingerir bebida alcoólica sob a
óptica dos sujeitos.
As considerações finais permitiram uma reflexão acerca dos resultados e da
necessidade de considerar e analisar os reais motivos que levam jovens ao comportamento
desafiador de beber e dirigir.
Na sequência apresentam-se as referências utilizadas neste estudo em ordem
alfabética descritas segundo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT, 2012) e as orientações da Universidade de Marília para sua realização. O anexo A
expõe uma cópia do documento de Aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da
Universidade de Marília. Os apêndices destacam no item A, o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido apresentado a cada participante e, no item B, o Instrumento de Coleta
de dados.
1. Descrevendo o suporte literário
1.1. Os Acidentes de Trânsito: do início à atualidade
Trânsito é “o ato ou efeito de caminhar; marchar; de passar; mudar e movimentar,
circular; afluência de pessoas ou de veículos.” Sendo assim, o ato de transitar é tão antigo
quanto a vida na Terra (TRÂNSITO, 1986, p. 1702).
A descoberta do vapor como fonte de energia, com funcionamento semelhante ao
de uma panela de pressão, representou a revolução para o desenvolvimento das máquinas e
aparelhos. As primeiras máquinas surgiram no final do século XVIII e foram submetidas a
adaptações e expansão no início do século XIX, com a produção de navios, trens,
máquinas de fiação e carruagens (MURRIE, 2006, p. 144).
Em 1771, Brezin, mecânico do arsenal de Paris, executou todas as instruções do
engenheiro da artilharia francesa, Nicholas Joseph Cugnot, culminando na criação do
primeiro veículo a vapor, destinado a transportar cargas bélicas (Figura 1). O veículo foi
usado pelo exército francês para puxar canhões a uma velocidade de 4 km/h (DE LA
MÁQUINA..., 2009).
Figura 1: Veículo a vapor inventado e dirigido por Cugnot em 1771.
Fonte: DE LA MÁQUINA.... 2009
O irmão de Santos Dumont, Henrique, importou, da Alemanha para o Brasil, o
primeiro carro movido a vapor em 1893. Mais tarde, em 1897, o jornalista, orador e
abolicionista José do Patrocínio importou um veículo da França, movido a vapor de água,
equipado com fornalha, caldeira e chaminé - o primeiro automóvel da cidade do Rio de
Janeiro, representado abaixo na (Figura 2). Sua vida útil foi, porém, curta. O dono resolveu
emprestá-lo a seu amigo, e também importante personalidade da história brasileira, o poeta
Olavo Bilac, que após uma escala pelos bares, decidiu aprender a dirigir. Demoliu o carro a
4 km/hora, colidindo contra uma árvore. Registrou-se, assim, no Brasil, o primeiro
acidente de trânsito (COPSTEIN, 2001, p. 29).
O que chama a atenção nesse registro é a escalada de Olavo Bilac pelos bares, o
que já sugeria o envolvimento da bebida alcoólica nesse primeiro acidente de trânsito da
história brasileira.
Figura 2: Primeiro automóvel da cidade do Rio de Janeiro.
Fonte: PRIMEIRO..., c2012
Muitas áreas do conhecimento exploram a temática dos acidentes de trânsito, desde
a produção de dados estatísticos de morbimortalidade até a análise do comportamento
humano, traçando o perfil de uma comunidade ou de uma população. Há muito tempo
possuir um carro é sinônimo de status social. Logo após a Segunda Guerra mundial, a
propriedade particular de um automóvel torna-se um fenômeno de massa, acompanhado do
investimento das economias capitalistas na propaganda que valorizava a prosperidade
material. A produção mundial de automóveis, em 1950, era de 11 milhões de unidades e
passa para 53 milhões em 1995 (TAPIAS-GRANADOS, 1998, p.140).
Bessa (2010) publicou dados divulgados pelo Jornal Folha de São Paulo em 1 de
junho de 2010, segundo os quais as indústrias automobilísticas atingiriam a taxa de 70
milhões de unidades naquele ano. Isso revela o aumento da frota em todos os locais do
mundo, como nos Estados Unidos, que, entre os anos de 1970 e 1988, elevou a taxa de
1,78 trilhões de Km percorridos para 3,24 trilhões.
O sistema viário e o planejamento urbano, porém, não acompanharam esta lógica
de crescimento, resultando no desconforto e na intolerância dos motoristas presos em
congestionamentos intermináveis, o que contribui para a decrescente qualidade de vida das
pessoas. Bessa (2010) acrescenta, ainda, que os motoristas aumentaram, na mesma
proporção, sua impaciência e os conflitos no ambiente urbano, possibilitando o
crescimento das taxas de acidentes de trânsito. Paralelos aos acidentes ficam evidentes a
diminuição da qualidade de vida; o aumento significativo da poluição do ar, proporcional
aos atendimentos médicos por doenças respiratórias; o crescimento da poluição sonora
pelos ruídos produzidos pela frota de veículos circulantes e, por fim, a diminuição de
espaços saudáveis de convivência social, com a construção de vias para circulação de
veículos.
O Brasil é considerado o país com um dos mais perigosos trânsitos do mundo,
fundamentado no índice de acidentes por frota de veículos, ou seja, enquanto na Suécia a
relação é de um acidente para cada 21.400 veículos, no Brasil é de um para 410 veículos
em circulação (MARIN; QUEIROZ, 2000, p. 8). Mais que um problema de saúde pública
de difícil controle - pois sua prevenção percorre os caminhos da convivência saudável, da
cidadania e, portanto da educação de um povo -, os acidentes de trânsito representam um
custo de 1% a 2% do produto interno bruto (SODERLUND; ZWI, 1995, p. 471).
Leyton, Ponce e Andreuccetti (2009, p. 166) apontam que, no Brasil, considerando
apenas a área urbana, os acidentes de trânsito ocasionaram à sociedade um custo de 5,3
bilhões de reais em 2001. Como não existem estudos mais recentes, para os autores, mais
24,6 bilhões devem ser acrescentados, quando se pensa nas rodovias estaduais e federais.
Os acidentes de trânsito totalizaram 114.189 internações hospitalares no Brasil, no
ano de 2003, significando 15,56% das hospitalizações por causas externas (SOUZA;
MINAYO; FRANCO, 2007, p. 24). Também não há registros mais recentes para essas
internações. A Organização Mundial da Saúde denominou como causas externas a reunião
dos problemas de saúde causados por acidentes e por violência, os quais, considerando
suas particularidades, devem ser estudados em conjunto (MELLO JORGE, 2002, p. 52).
Em outro artigo, Mello Jorge et. al. (2012) definem causas externas:
Acidentes e violências estão presentes na Classificação Internacional de Doenças (CID)1 desde a sua criação, sendo, seus tipos, repetidos e/ou aprimorados em cada uma de suas revisões. Hoje, em vigor no Brasil desde 1996, a décima revisão da CID5 trata do assunto em dois de seus capítulos. O capítulo XIX (Lesões, envenenamentos e algumas outras conseqüências de causas externas) refere traumatismos, queimaduras, envenenamentos ocasionados nas pessoas, por quaisquer tipos de acidentes, homicídios e suicídios, que são, por sua vez, tratados no capítulo XX (Causas externas de morbidade e mortalidade).
Souza, Minayo e Franco (2007, p. 24) apontam que o custo anual estimado para as
consequências dos acidentes de trânsito ultrapassa três bilhões de dólares, que agregam
desde as campanhas para sua prevenção, passando por atendimento pré e intra hospitalar,
tratamento definitivo, reabilitação até a reintegração social.
No Brasil, em torno de dois terços dos leitos hospitalares de especialidade
ortopédica são ocupados com vítimas dos acidentes de trânsito, com média de internação
de vinte dias e uma média anual de vinte mil dólares por ferido grave (PIRES, 1997 apud
MARIN; QUEIROZ, 2000, p.8)2.
No ano de 1997, o Brasil testemunhou 38 mil mortos e 420 mil feridos, num
universo de 2,1 milhões de acidentes de trânsito. A Organização Panamericana de Saúde
(OPS, 1994, p. 118) estima que, para cada adolescente que morre no trânsito, 10 a 15
apresentam sequelas graves e 30 a 40 sofrem ferimentos graves, necessitando de serviços
de urgência e de reabilitação, bastante deficitários no Brasil. Apesar de os dados serem
referentes a 1997 e 1994, pode-se perceber que representam a dimensão do problema dos
acidentes de trânsito na população jovem. Dados do Centro de Experimentação e
1 CID: Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde.
A CID-10 foi conceituada para padronizar e catalogar as doenças e problemas relacionados à saúde, tendo como referência a Nomenclatura Internacional de Doenças, estabelecida pela Organização Mundial de Saúde. Com base no compromisso assumido pelo Governo Brasileiro, a organização dos arquivos em meio magnético e sua implementação para disseminação eletrônica foram efetuadas pelo DATASUS, possibilitando, assim, a implantação em todo o território nacional, nos registros de Morbidade Hospitalar e Ambulatorial, compatibilizando os registros entre todos os sistemas que lidam com morbidade. 2 PIRES, A. B.; VASCONCELLOS, E. A. & SILVA, A. C., 1997. Transporte Humano: Cidades com Qualidade de Vida. São
Paulo: Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP.
Segurança Viária - CESVI Brasil (2012) indicam estatísticas anuais estarrecedoras, como
37 mil mortes, 180 mil internações e 34 bilhões de reais gastos com os acidentes de
trânsito. O quadro 1, a seguir, mostra a evolução das mortes produzidas pelos acidentes de
trânsito por tipos de transporte. O CESVI chama a atenção para a possibilidade de os dados
de 2008 não serem exatos, já que estão sendo compilados ainda.
Quadro 1: Mortalidade por acidentes de trânsito no Brasil – comparativo entre os anos de
2000, 2007 e 2008.
Classificação Fatalidade em 2000
Fatalidade em 2007
Fatalidade em 2008
Pedestre 8.696 9.657 8.885 Ocupantes de
Veículo 5.442 8.273 8.093
Motociclista ou ocupante de triciclo
2.492 8.118 8.567
Ciclista 789 1.649 1.556 Outros 11.576 9.710 9.565 Total 28.995 37.407 36.666
Fonte: CESVI Brasil, DPVAT; DETRAN; Ministério da Saúde/Brasil, 2002.
Importante observar que, se a morte dos ocupantes dos veículos aumentou
drasticamente, muito mais expressivas foram as mortes por motocicletas.
No Brasil, um novo método avaliado pelo engenheiro civil Jorge Bastos para o
cálculo do risco no trânsito, com base no número de mortes por quilômetro, acaba de ser
testado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da USP. O índice de mortes por
quilômetro percorrido por transporte rodoviário em todo o Brasil e em cada Estado
considera a distância efetivamente percorrida pela frota de veículos. O índice permite
direcionar de forma mais precisa os investimentos em segurança no trânsito. O cálculo do
número de mortes por bilhão de quilômetros percorridos não era realizado no Brasil por
não existir um controle preciso do fluxo de veículos, como nos Estados Unidos e Europa.
O engenheiro Bastos afirma que, no Brasil, os índices mais usados tradicionalmente são o
do número de mortes por 100 mil habitantes e de mortes por 100 mil veículos. Considera,
ainda, que essas estatísticas geram distorções, pois não indicam qual parcela da população
é motorizada e nem a intensidade de uso da frota (BASTOS, 2011, p.67).
Para fazer uma estimativa da quilometragem total percorrida no Brasil, Bastos
(2011, p. 75) utilizou os dados sobre consumo de combustíveis (álcool, gasolina, óleo
diesel, gás natural) fornecidos pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), de acordo
com as características da frota (carros, motos, caminhões e ônibus), e dividiu o número
total de mortes pelo número de quilômetros. A pesquisa calculou as médias nacionais e em
cada Estado entre os anos de 2004 e 2008. Em todo o Brasil houve uma redução do número
de mortes por bilhão de quilômetros percorridos (de 68,26 para 55,87). No entanto esta
diminuição é explicada pelo aumento da frota e do consumo de combustível, pois, em
termos absolutos, houve aumento do número de mortes de aproximadamente 34 mil em
2004 para cerca de 38 mil em 2008 (BASTOS, 2011, p. 81).
O estudo aponta que, em 2008, o Estado de São Paulo apresentou o menor índice de
mortes (35,81 por bilhão de quilômetros). Bastos (2011, p. 105) considera que há uma
relação entre o nível de desenvolvimento dos Estados e os investimentos em segurança no
trânsito. Os índices mais elevados foram registrados no Nordeste, com destaque para o
Piauí, com 146 mortes por bilhão de quilômetros em 2008, número que equivale ao dos
Estados Unidos no início do processo de motorização em 1926. O autor esclarece que a
média brasileira é muito superior à dos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, é de
7,10 mortes; no Japão, 7,7; na Alemanha 6,0 e, na Suécia, que tem os menores níveis
mundiais, é de 4,4 (BASTOS, 2011, p. 110).
Mascarenhas et al (2009, p. 1790) estudaram as taxas de mortalidade (TM) por
acidentes e violência, no Brasil, e relatam que, somente no ano de 2006, morreram 128 mil
brasileiros por esses infortúnios. Desses, 38% foram vítimas de homicídios, com uma TM
de 26.3/100.000 habitantes e 29% foram vitimados por acidentes de trânsito (TM de
19.9/100.000 habitantes). Ao investigar as causas dos acidentes de trânsito, os autores
constataram que o uso de bebida alcoólica se destaca como fator mais frequentemente
apontado como determinante.
Soderlund e Zwi (1995, p. 473) estudaram mortes por acidentes de trânsito em 83
países em 1990 e concluíram que, quanto maior o Produto Nacional Bruto (PNB), menores
serão as taxas de mortalidade, já que maior é o orçamento destinado ao atendimento de
saúde. Portanto, isso corrobora a afirmação da Organização Mundial da Saúde (1976) de
que quanto mais qualificado for o atendimento, maior será a taxa de sobrevida. Os números
mostram apenas a ponta de um iceberg no caos da saúde e nos danos sociais causados
pelos acidentes de trânsito no Brasil. A subnotificação3 dos acidentes de trânsito e das
3 Notificar, segundo Ferreira (1986, p. 1201) significa dar ciência, conhecimento, comunicar, participar. A notificação de acidentes de trânsito e de suas vítimas permite planejar medidas de prevenção, de atendimento,
mortes por eles produzidas representa um problema de saúde pública, já que dificulta o
planejamento de ações de segurança e de prevenção desses agravos. Alguns países
notificam mortes por acidentes de trânsito somente até sete dias após a ocorrência, ainda
que a Organização Mundial de Saúde (OMS) oriente que sejam incluídas nestas estatísticas
aquelas mortes ocorridas até 30 dias após o acidente, o que compromete a análise dos
dados. No Brasil este descompasso é ainda mais agravante, pois a Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) considera a morte até três dias após o infortúnio. Assim, muitas
vítimas de acidentes de trânsito vão a óbito sem que sejam registradas como consequência
deste (SANTOS; GOBBI; FERREIRA, 2005, p. 264). Há que se considerar, ainda, que
muitas vítimas de acidentes de trânsito sejam admitidas nos hospitais como vítimas de
acidentes em geral, comprometendo ainda mais os dados (MARIN; QUEIROZ, 2000, p.
10).
No Brasil, a mortalidade por acidentes de trânsito tem flutuado entre 16.1/100.000 e
18.9/100.000 em 1994, porém algumas localidades apresentam taxas até duas vezes mais
elevadas, como é o caso de Goiânia, Campo Grande, Vitória, Curitiba, Florianópolis e
Distrito Federal (MELO JORGE; LATORRE, 1994, p. 22).
Perdas ocultas foram relatadas por Pavelqueires4 (2002, p. 153-154), que estudou os
danos familiares em função dos acidentes de trânsito, concluindo que as famílias
entrevistadas concordaram em atribuir aos acidentes de trânsito as perdas e a estagnação de
seu desenvolvimento, trazendo marcas definitivas para elas. A rotina familiar sofre
alterações, consideradas negativas pelos seus membros, pelo fato de necessitarem de
reorganização para receber de volta ao lar uma pessoa com demandas de cuidados de saúde
e, na maioria das vezes, muito jovens, com dificuldades de compreensão de seus limites
após o acidente. Enfim, concluiu que os traumatismos causam efeitos catastróficos, tantos
nos indivíduos vitimados por ele, como na sociedade como um todo. No Brasil os
acidentes de trânsito representam a segunda causa de mortes entre os jovens, sendo que
foram registradas, nos anos de 1997 e 1998, 351.151 e 340.750 ocorrências de acidentes
sem óbito, respectivamente, e mais de 20.000 acidentes com vítimas fatais por ano. Em
1999 esse número manteve-se praticamente estável, sendo verificadas 325.729 ocorrências
sem óbito e 20.178 acidentes com vítimas fatais. O mesmo índice foi evidenciado em de recuperação, de reabilitação e de reintegração social. Portanto, a subnotificação (notificação aquém do real) compromete as ações de saúde.
4 Pavelqueires referiu-se a perdas ocultas para descrever as perdas que não são computadas ou aferidas, mas são descritas pelas suas vítimas, como: perdas financeiras, emocionais, os desajustes familiares quando um membro da família é vitimado pelos acidentes de trânsito
2001, com 394.596 acidentes sem óbito e 20.039 com registro de vítimas. Por sua vez, em
2002 houve 318.313 acidentes sem vítimas fatais e 18.877 com vítimas (RUEDA;
GURGEL, 2008, p. 167).
Waiselfisz (2011, p. 1-32) traçou o mapa da violência no Brasil no ano de 2011, a
partir do qual foi estruturado um caderno enfocando os acidentes de trânsito e talvez seja
esse o relatório mais atual da mortalidade no trânsito brasileiro. Os dados são
preocupantes, já que morrem anualmente cerca de 400.000 jovens com menos de 25 anos
no mundo, vitimados por esse infortúnio, e outros milhões são feridos ou sofrem
incapacidades permanentes. Os dados que compreendem este caderno foram obtidos a
partir das Declarações de Óbito, compiladas pelo Ministério da Saúde em uma estrutura
denominada Sistema de Informações de Mortalidade – SIM. Esse sistema adota a
classificação da OMS – CID10 – para as causas de morte. O autor demonstra por meio do
quadro a seguir, o registro das mortes por acidentes de trânsito no período de dez anos
(1998 a 2008) no Brasil, por categoria do tipo de transporte.
Quadro 2: Número de óbitos em acidentes de trânsito, por categoria de transporte:
comparativo no período de dez anos (de 1998 a 2008).
Categoria 1998 2008 %
Pedestre 11.227 9.474 -15,6
Ciclista 396 1.615 307,8
Motociclista 1.047 8.939 753,8
Automóvel 3.663 8.120 121,7
Caminhão 348 985 183,0
Ônibus 103 179 73,8
Outros 288 514 78,5
Não Especificado 13.818 8.447 -38,9
Total 30.890 38.273 23,9
Fonte: WAISELFISZ, 2011.
O quadro 2 mostra dados que permitem afirmar que a mortalidade por acidentes de
trânsito, na década de 1998 a 2008, teve seu pólo dinâmico de crescimento nas mortes de
motociclistas. O quadro 3 explicitará as mortes de jovens nas diferentes modalidades de
transportes:
Quadro 3: Número de óbitos de jovens (de 15 a 25 anos de idade) em acidentes de
trânsito, por categoria de transporte: comparativo entre o ano de 1998 e 2008.
Categoria 1998 2008 %
Pedestre 1.581 999 -36,8
Ciclista 99 280 182,8
Motociclista 435 3.432 689,0
Automóvel 905 1.751 93,5
Caminhão 78 151 93,6
Ônibus 07 24 242,9
Outros 61 54 -11,5
Não Especificado 3.535 1.978 -44,0
Total 6.701 8.669 29,4
Fonte: WAISELFISZ, 2011.
Entre os jovens, a mortalidade no trânsito teve evolução similar, mas com algumas
características mais acentuadas. As mortes de jovens que trafegavam em motocicletas
foram relevantes e, para Vasconcelos (2008, p. 137), o motivo principal é a idéia da
industrialização como um bem em si e da motorização da sociedade como um progresso,
idéias vistas como a irresponsabilidade ilusória de status social por ter uma sociedade
motorizada.
As consequências dos acidentes de trânsito (AT), medidas em mortes, em demanda
à atenção pré-hospitalar, hospitalar e de reabilitação, assim como as incapacidades geradas,
os anos potenciais de vida perdidos, mais o impacto nas famílias das vítimas e na
sociedade em geral, têm levado instituições internacionais e nacionais a reconhecer a
sobrecarga que esses acidentes produzem nos sistemas de saúde e o significativo custo
social e econômico que representam (SOARES; BARROS, 2006, p. 194).
O comportamento dos condutores de veículos foi outro alvo de muitos estudos pelo
mundo, e a relação entre acidentes de trânsito e o uso de bebida alcoólica é relevante
nessas investigações.
1.2 Inter relação entre Acidentes de Trânsito e Uso de Bebida Alcoólica
Anthony (2009, p. 3) afirma que os primeiros indícios do consumo de bebidas
alcoólicas por seres humanos foram encontrados em vasos paleolíticos há cerca de quatro
milênios. Leis antigas da Mesopotâmia restringiram a venda de álcool após documentar, há
3.000 anos, suas consequências nocivas.
O uso de bebida alcoólica despertou pesquisas no mundo inteiro e, segundo
Duailibi e Laranjeiras (2007, p. 840), o consumo abusivo de bebidas foi responsável por
4% da carga global de doenças e 3,2% de todas as mortes prematuras mundiais. Isto se
traduz em 58.3 milhões de anos perdidos por razão de inaptidão e 1.8 milhão de mortes, ou
3,2% da mortalidade global, por doenças atribuíveis à ingestão alcoólica.
Pechansky, Szobot e Scivoletto (2004, p. 15) esclarecem que, de acordo com o I
Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil em 2001, a
prevalência foi de 48,3% entre jovens de 12 a 17 anos, em 107 grandes cidades brasileiras.
No estudo, ainda na análise das 107 cidades em conjunto e para esta mesma faixa etária, a
prevalência de dependência de álcool foi de 5,2%. Para os autores, o uso de álcool entre
adolescentes é controverso, isto é, ao mesmo tempo em que a sociedade estimula seu uso
nos meios sociais, acaba por proibir seu comércio e consumo para menores de 18 anos (Lei
nº 9.294, de 15 de julho de 1996). A sociedade como um todo tem adotado atitudes
paradoxais frente ao tema: por um lado, condena o abuso de álcool pelos jovens, mas é
tipicamente permissiva ao estímulo do consumo por meio da propaganda.
O álcool é a substância mais precocemente consumida pelos jovens. Nos Estados
Unidos, estudos epidemiológicos sugerem que 19% deles usam de forma abusiva o álcool.
No Brasil, porém, estes dados são mais escassos e diferem por regiões, como no sul do
país, onde a prevalência do uso de álcool por adolescentes entre 12 e 17 anos de idade é de
54,5%, enquanto a maior prevalência de dependência está na região Norte (9,2%) e
Nordeste (9,3%) (PECHANSKY; SZOBOT; SCIVOLETTO, 2004, p. 15).
Laranjeira (2007, p. 6) coordenou o I Levantamento Nacional sobre os padrões de
consumo de álcool na população brasileira, publicado pela Secretaria Nacional Antidrogas
(Senad). A pesquisa revelou que o consumo de álcool entre adolescentes acontece cada vez
mais cedo, isto é, 65% em qualquer faixa etária entre todos os estudantes de ensino médio
e 41% das crianças da faixa etária de 10-12 experimentaram bebidas alcoólica pelo menos
uma vez na vida. O jovem brasileiro experimenta a bebida alcoólica pela primeira vez em
média com 13,9 anos e, com 14,6 anos, esse consumo se torna frequente (LARANJEIRA,
2007, p. 44).
Compreender os motivos que levam a essas estatísticas ultrapassa a compreensão
dos problemas relacionados diretamente aos efeitos do álcool, mas deve ser ampliado para
o padrão e o comportamento daqueles que o consomem. Vários fatores têm influência
sobre o comportamento do beber, como contexto social e familiar, expectativas e crenças,
preço, disponibilidade comercial e facilidade de acesso.
Oliveira, Werlang e Wagner (2007, p. 207) relatam que os filhos de pais alcoolistas
são mais vulneráveis ao risco de desenvolverem alcoolismo. Esclarecem que a cultura
familiar é um importante determinante do comportamento de beber. Fala-se muito da
probabilidade que os filhos têm de herdar dos pais padrões de beber excessivo, assimilando
tal comportamento, mas é imprescindível considerar também os valores e crenças nele
envolvidos.
Pode-se atribuir à facilidade de acesso uma importante causa do consumo de álcool
cada vez mais cedo. A venda de bebidas alcoólicas para menores de idade é crime, mas
jovens compram o produto em bares, supermercados e lojas de conveniência de postos de
gasolina a qualquer hora do dia. O consumo de álcool entre os jovens é apontado como um
dos principais responsáveis por acidentes de trânsito, vandalismo, brigas e sexo sem
camisinha nessa faixa etária. Pensando em estratégias para coibir (ou minimizar pelo
menos) esta problemática, o Governo do Estado de São Paulo decretou em 19 de outubro
de 2011, a Lei 14.592, que proíbe vender, ofertar, fornecer, entregar e permitir o consumo
de bebida alcoólica, ainda que gratuitamente, aos menores de 18 (dezoito) anos de idade,
e dá providências correlatas. O mais interessante da iniciativa é que os donos dos
estabelecimentos são os fiscais da Lei, isto é, se os fiscais que trabalham pelo Estado
flagrarem menores de 18 anos de idade infringindo esta Lei, o dono do estabelecimento
será autuado. Não existem estudos, até o momento, sobre os resultados desta Lei na
redução dos acidentes de trânsito.
Pechansky, Szobot e Scivoletto (2004, p. 16) numeram três principais fatores que
influenciam a iniciação ou manutenção do uso de álcool ou de outras substâncias pelos
adolescentes, como:
1. O grupo social ao qual o adolescente pertence pressiona para que inicie o uso e, ainda,
adolescentes que usam drogas, associam-se mais facilmente a outros que também usam
drogas. Trata-se do efeito retroalimentação, aumentando a chance de incrementarem o
envolvimento neste hábito;
2. A estrutura de vida familiar do adolescente influencia fortemente a gênese da
dependência de drogas. Neste âmbito, conflitos familiares e a relação dos pais com o álcool
também desencadeiam este tipo de dependência. Atitudes permissivas dos pais e
incapacidade de controle dos filhos perante o uso de álcool e drogas predispõem os
adolescentes ao uso dessas substâncias;
3. A existência de comorbidades psiquiátricas. Segundo os autores, estima-se que, entre 30
a 80% dos adolescentes dependentes químicos, existem doenças psiquiátricas associadas,
sendo as mais frequentes o Transtorno de Conduta, Depressão, Déficit de Atenção com
Hiperatividade e Ansiedade. E, ainda, há variáveis relacionadas a um estilo de vida não
convencional, dentre elas a busca de sensações, rebeldia, tolerância a comportamentos
desviantes e baixa escolaridade.
Pechansky, Szobot e Scivoletto (2004, p. 17) descrevem as consequências do uso
de álcool ao longo do tempo, quando iniciado na adolescência, podendo ser assim
sintetizadas:
1. Há maior risco de dependência química na idade adulta, quando seu uso teve início na
adolescência;
2. Prejuízos neuropsicológicos podem ser detectados na fase adulta ou, ainda, adolescente,
como déficit de memória, modificações no sistema dopaminérgico, como nas vias do
córtex pré-frontal e do sistema límbico, produzindo efeitos significativos no
comportamento e emoções. Na fase da adolescência, ainda acontece o desenvolvimento do
córtex pré-frontal, que, se for afetado pelo álcool, pode influenciar o aprendizado de regras
e tarefas. A identidade do ser humano está em construção na adolescência e associar o
lazer ou a possibilidade de tomada de decisão em experiências afetivas e sexuais ao
consumo de álcool pode prejudicá-lo quando a substância não estiver presente. Nesses
casos, sentem-se incapazes de desempenhar estas atividades e buscam outras formas de
dependência.
Outros efeitos podem ser descritos, considerando a dose ingerida e a concentração
de etanol no sangue. Leyton, Ponce e Andreuccetti (2009, p. 163) definem dose de bebida
alcoólica o equivalente a 14g de etanol, o que pode ser encontrado em uma lata de cerveja
(350 mL), uma taça de vinho (140 mL) ou uma dose de bebida destilada (35 mL). Uma
dose ingerida por um homem de 70 kg resulta em uma alcoolemia de 0,2g/L em média e,
em uma mulher de 60 kg, em alcoolemia de 0,3 g/L.
O quadro 4 demonstra os efeitos do etanol no organismo, segundo a alcoolemia
(BEBER, 2007, p. 8).
Quadro 4: Efeitos do etanol no organismo segundo a alcoolemia.
Alcoolemia Efeitos no Organismo
0,1 a 0,5g/L
- Aumento do ritmo cardíaco e respiratório
- Diminuição das funções de vários centros nervosos
- Comportamento incoerente ao executar tarefas
- Diminuição da capacidade de discernimento e perda da inibição
- Leve sensação de euforia, relaxamento e prazer
0,6 a 1g/L
- Entorpecimento fisiológico de quase todos os sistemas
- Diminuição da atenção e da vigilância, reflexos mais lentos, dificuldade de coordenação e redução da força muscular
- Redução da capacidade de tomar decisões racionais ou de discernimento
- Sensação crescente de ansiedade e depressão
- Diminuição da paciência
1 a 1,5g/L
- Reflexos consideravelmente mais lentos
- Problemas de equilíbrio e de movimento
- Alteração de algumas funções visuais
- Fala arrastada
- Vômito, sobretudo se esta alcoolemia for atingida rapidamente
1,6 a 2,9g/L
- Transtornos graves dos sentidos, inclusive consciência reduzida dos estímulos externos
- Alterações graves da coordenação motora, com tendência a cambalear e a cair frequentemente
3 a 3,9g/L
- Letargia profunda
- Perda de consciência
- Estado de sedação comparável ao de uma anestesia cirúrgica
- Morte (em muitos casos)
> 4,0
- Inconsciência
- Parada respiratória
- Morte, em geral provocada por insuficiência respiratória
Fonte: BEBER, 2007.
A renda per capita é um importante indicador da relação entre acidentes de trânsito
e uso de bebida alcoólica, pois cerca de 20% dos motoristas mortos nesses infortúnios
apresentam alcoolemia acima da permitida pela lei. Contrastando com esta afirmação, nos
países com baixa e média renda, 33% a 69% de condutores mortos e 8% a 29% de
condutores feridos estavam sob o efeito do álcool ao sofrerem um acidente (BEBER...,
2007, p. 4). A figura 3 mostra um panorama da influência do álcool em acidentes com
vítimas fatais em um grupo de países.
Figura 3: Panorama da influência do álcool em acidentes com vítimas fatais em um grupo
de países.
Fonte: BEBER..., 2007.
Mascarenhas et al (2009, p. 1791) relatam que, apenas no ano de 2006, cerca de
128 mil brasileiros morreram no Brasil, vítimas de acidentes e violências, dos quais 29%
foram em decorrência dos acidentes de transporte. Os autores investigaram, no período de
2006 e 2007, o Distrito Federal e os municípios com alta taxa de mortalidade por causas
externas e encontraram a suspeita de uso de bebida alcoólica nos acidentes de trânsito, em
cerca de 8%, variando de 3,5% a 10,5% entre mulheres e homens, respectivamente. Essa
suspeita foi observada principalmente nos indivíduos entre 20 a 39 anos de idade (13%) e
de 40 a 59 anos (11%).
Soibelman et al (2010, p. 75) analisaram o sangue dos acidentados de trânsito nos
dois principais hospitais de pronto socorro de Porto Alegre, buscando o abuso ou
dependência de álcool das vítimas, concluindo que os dados indicaram altas prevalências
de consumo de álcool. Embora a prevalência de alcoolemia positiva, aferida por
bafômetro, tenha sido 8,3%, 28,5% dos indivíduos referiram consumo nas 24 horas
anteriores ao acidente de trânsito.
Sobre a intenção de dirigir após beber, De Boni et al (2010, p. 94) obtiveram em
sua pesquisa que 30% dos jovens investigados que bebiam em lojas de conveniência
relataram que iriam dirigir na hora subsequente. Quando investigados sobre a aceitação da
Lei e concordância com ela, a maioria (63%), referiu ser a favor da lei, enquanto 43,8%
referiram ter mudado o comportamento sobre beber e dirigir. A mudança de
comportamento está representada na Figura 4, a seguir:
Figura 4: A mudança de comportamento dos jovens que concordam com a Lei Seca,
investigados em lojas de conveniência de Porto Alegre-RS.
Fonte: DE BONI et al., 2010.
Uma significativa parcela (56,7%) dos investigados diminuiu o consumo de bebida
alcoólica; 21,8% passaram a utilizar transportes coletivos ou taxi após ingerir bebida
alcoólica; 17% decidiram eleger uma pessoa no grupo para não ingerir bebida alcoólica
antes de dirigir; 16,3% relataram beber apenas quando não vão dirigir e 11,1% diminuíram
a frequência a bares e restaurantes.
De Boni et. al. (2008, p. 67) realizaram uma investigação para conferir a
alcoolemia de jovens em um posto de gasolina em Porto Alegre-RS, com o auxílio do
bafômetro e encontraram alcoolemia acima de 0,6% em 35,5% da amostra e,
aproximadamente 10% destes indivíduos (18% dos homens) relatavam intenção de dirigir
nas duas horas subsequentes à coleta. Para os autores, o uso de álcool é um forte preditor
de acidentes de trânsito.
Segatto et. al. (2008, p. 142) concluiram que é elevado o consumo de bebidas
alcoólicas entre os pacientes atendidos no serviço de pronto socorro da Universidade
Federal de Uberlândia em decorrência de acidentes de transporte, especialmente no que diz
respeito aos atropelamentos.
Leyton, Ponce e Andreuccetti (2009, p. 167) relatam que as vítimas de acidentes de
trânsito, na sua maioria, são homens, jovens e economicamente ativos. Os autores
discorrem sobre a possibilidade de pessoas que consomem bebida alcoólica sofrerem
acidentes como mostra o quadro a seguir:
Quadro 5: Possibilidades de sofrer acidentes de trânsito em relação à alcoolemia.
Alcoolemia Possibilidade de Sofrer
Acidente
0,2 a 0,5g/L 2,5 a 4,6 vezes maior
0,5 a 0,8g/L 6 a 17 vezes maior
A partir de 0,8g/L Variam de 11 a 15.560 vezes
maior
Fonte: Leyton, Ponce e Andreuccetti, 2009.
Os autores concluem que o consumo abusivo de álcool acarreta risco muito
acentuado de envolvimento em acidentes fatais.
Certamente, o comércio de bebida alcoólica representa emprego e lucros para
muitos, desde sua produção até seu consumo. Duailibi e Laranjeira (2007, p. 840)
esclarecem que o custo social do álcool é muito significativo na sociedade, pois estudos
mostraram que o álcool ultrapassa, com facilidade, o montante arrecadado por impostos
sobre sua produção e comercialização. Uma estimativa aponta o custo econômico anual,
em torno de 48 bilhões de dólares, do abuso de álcool nos Estados Unidos, incluindo
US$19 bilhões de gastos com cuidados médicos. Na Austrália, o custo de problemas
relacionados ao álcool é calculado em 1% do seu produto interno bruto.
A preocupação com o uso abusivo do álcool tem atingido vários setores da
sociedade e Políticas Públicas são traçadas como estratégias para o controle deste problema
social. Para Duailibi e Laranjeira (2007, p. 841), Políticas do Álcool são esforços de
autoridades governamentais e não governamentais (ONG) relacionando álcool, segurança,
saúde e bem estar, com a finalidade de prevenir problemas relacionados à sua ingestão.
Duas categorias deste tipo de ação podem ser descritas: políticas alocatórias e regulatórias.
As políticas de alocação promovem recursos para ações de prevenção e tratamento,
financiando campanhas educativas e tratamento de dependentes do álcool. As políticas de
regulação impõem ações diretas para restringir o acesso à bebida alcoólica, regulando
preço, impostos, idade mínima para consumo, horário de funcionamento dos bares e
propagandas.
Algumas estratégias políticas são bastante populares, porém sua eficácia é reduzida e
de alto custo:
- promoção de atividades alternativas de lazer e diversão "livres de álcool";
- prevenção nas escolas com o objetivo de modificar crenças, atitudes e comportamentos
dos adolescentes em relação ao álcool;
- instituir serviços de transporte ou "designação do motorista da vez";
- advertências nos rótulos das bebidas e
- mensagens publicitárias.
O uso de álcool envolve contexto social, cultural e comunitário. Portanto, o
consumo pesado pode ser modificado e os problemas reduzidos por meio de estratégias
que alterem esse contexto e que sejam direcionadas para o ambiente onde o álcool é
vendido e consumido. Desta forma, sua efetividade não vai depender do apoio e/ou adesão
dos bebedores, embora possam aumentar seus efeitos. Considerando o uso abusivo de
álcool como um determinante de danos para a saúde e para a segurança pública, Duailibi e
Laranjeira (2007, p.839) realizaram uma revisão da literatura com o objetivo de descrever
os recentes avanços relacionados às pesquisas sobre os problemas do álcool e às estratégias
políticas mais eficientes para atenuá-los. Concluíram que há evidências científicas
suficientes para mostrar que o estabelecimento de Políticas Públicas de controle de acesso
e de disponibilidade do álcool são efetivas para reduzir o consumo de bebida alcoólica,
diminuindo consequências negativas à saúde pública. Relataram estudos comparando 17
países que proibiram totalmente a publicidade e propaganda de bebida alcoólica e
concluíram que países que proíbem a publicidade de destilados têm níveis de consumo
reduzidos em 16% e 10% menos acidentes automobilísticos fatais, quando comparados aos
países sem qualquer proibição. As nações que proíbem a propaganda de cerveja, vinhos e
destilados têm níveis de consumo 11% menores e 23% menos acidentes automobilísticos
fatais, comparados aos que proíbem apenas a propaganda de destilados (DUAILIBI;
LARANJEIRA, 2007, p. 839-846).
O Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária – Conar – (2007, p. 26)
complementa o Anexo A do Código Brasileiro de Auto Regulamentação Publicitária de 12
de setembro de 2003, estabelecendo as seguintes regras para as frases a serem divulgadas:
- “EVITE O CONSUMO EXCESSIVO DE ÁLCOOL”
- “BEBA COM MODERAÇÃO”
- “APRECIE COM MODERAÇÃO”
- “SE BEBER NÃO DIRIJA”
- “ESTE PRODUTO É DESTINADO A ADULTOS”
- “BEBA SEM EXAGEROS”
- “BEBA COM RESPONSABILIDADE”
Duailibi e Laranjeira (2007, p. 844) esclarecem que o envolvimento da comunidade
nessas estratégias torna-as mais eficientes, pois elas aumentam a conscientização sobre o
problema, acima de tudo, sobre o uso abusivo destas substâncias em bares e casas
noturnas, pressionando os proprietários a assumirem sua responsabilidade com o problema.
Leyton, Ponce e Andreuccetti (2009, p. 171) acreditam que uma lei causa impacto
quando acompanhada de alguns passos: publicidade, com divulgação da lei em diversos
veículos de comunicação; educação, conscientizando e explicando as novas regras,
punições e fiscalização.
Alguns fatores devem ser identificados antes que se proponha um programa de
prevenção de acidentes relacionado ao uso de bebida alcoólica, isto é, a) identificar a
magnitude do problema; b) compreender as fortalezas e fragilidades das estratégias
existentes, particularmente a legislação e fiscalização das políticas públicas estabelecidas e
c) fornecer dados de base que possam ser usados para monitorar os progressos a partir do
momento em que o programa começar a ser implantado (BEBER, 2007, p. 26).
Pensando na identificação e na compreensão das fortalezas e das fragilidades da
estratégia de uso das frases veiculadas na mídia televisiva, junto as propagandas de bebidas
alcoólicas, jornais, revistas, entre outras, e na possibilidade de mudança de comportamento
dos jovens é que este estudo investigou estudantes do curso de Medicina da Universidade
de Marília, instituição privada no interior do Estado de São Paulo. O foco desta
investigação é conhecer o efeito da frase – “se beber não dirija” – na decisão dos jovens
universitários em não dirigir após usar bebida alcoólica.
1.3 Comunicação e Saúde
Conforme Oliveira (2006, p. 8), a palavra comunicação é resultante da palavra
latina communis, que exprime algo que seja pertencente a todos ou a muitos. Do mesmo
princípio latino, surge a palavra comunicare, origem de comungar e comunicar. Em outro
desdobramento, ainda no latim, chega-se a communicationis que indica a idéia de tornar
comum. Desdobrando um pouco mais a palavra comunicação, pode-se chegar à idéia de
tornar comum, que deriva de communis, o radical latino que indica estar em relação e o
sufixo ção que indica ação de. Tem-se então um núcleo de idéias que se associam
formando um conceito: pertencente a muitos, comungar, tornar comum, estar em relação e
ação de, associam-se no macroconceito chamado comunicação. Pode-se, ainda, seguir a
proposição de Martino (2003, p. 17), que, diferenciando comunicação e informação,
esclarece que a segunda “exprime a totalidade do processo que coloca em relação duas (ou
mais) consciências.”
Para Araujo e Cardoso (2007, p. 36), comunicar é conversar com o mundo,
partilhar e transmitir idéias, estar inserido em uma sociedade, é estar vivo e interagindo
com o planeta, acreditando que a comunicação está presente em todos os segmentos da
existência. Sabe-se que comunicação é relação entre idéias, conceitos, fatos, teorias,
campos e pessoas, portanto é uma condição da existência e persistência da vida. Nesse
contexto, as autoras esclarecem:
A realidade se oferece aos nossos olhos, mediada por alguma teoria, no seu sentido lato. Mesmo a observação da realidade física é mediada por alguma construção anterior, que corresponde ao meio e à cultura em que vivemos. Daí a importância de conhecermos a história das idéias (ARAUJO e CARDOSO, 2007, p. 36).
A partir do conhecimento do princípio das idéias, isto é, quanto mais se conhece
sobre a origem dos modos de ver a realidade, mais subsídios há para se optar pelo que se
deseja ver de tal realidade, nascendo, assim, a capacidade de transformá-la (ARAUJO;
CARDOSO, 2007, p. 36).
Nesta perspectiva, segundo Freire (1983, p. 44), o mundo humano é um mundo de
comunicação e todo ato de pensar exige um sujeito que pensa e um segundo para o qual se
dirige tal pensamento e o objeto pensado é o elemento mediador entre ambos. Dessa forma,
o homem pensa, fala e atua sobre sua realidade, o que pode ser entendido como a mediação
entre ele e os outros homens que, por sua vez, pensam, falam e atuam sobre suas
realidades. Assim, além do sujeito pensante e do objeto pensado há a exigência da
existência de outro sujeito para o qual se dirige o objeto. Esta existência traz a idéia de
companhia, isto é, este novo sujeito é coparticipante do processo de comunicação. Freire
esclarece que comunicação implica reciprocidade que não pode ser rompida. Sendo assim,
um sujeito não pode ter no objeto a expressão de seu pensamento, já que este objeto é o
elemento mediador entre ele e o outro sujeito. Quando isso ocorre, não existe
comunicação, mas um sujeito transformando o outro em depositário de seus comunicados.
Araujo (2007, p. 102) ressalta que a comunicação é a mais importante ferramenta
para a convivência, especialmente no campo da saúde, em que ela se afirma como
elemento essencial para sua promoção. Neste contexto, porém, a visão do poder da
comunicação ainda é muito restrita, resumindo-se apenas na transmissão de informações,
desconsiderando o processo de circulação das mensagens e sua apropriação pelos
diferentes atores envolvidos. Explica também que modelos de comunicação e de saúde
deveriam caminhar juntos, isto é, enquanto o primeiro permite a compreensão das
diferentes formas de apresentação da realidade, os modelos de saúde deveriam permitir a
compreensão do binômio saúde/doença, havendo cumplicidade entre eles. O fato é que a
evolução dos processos de comunicação foi muito mais rápida que os modelos de saúde. A
busca por conexão é contínua e tem envolvido pesquisadores, profissionais da saúde e da
comunicação, que levam informações relacionadas às novas pesquisas e descobertas.
Pessoni (2002, p. 174) afirma que muitas são as informações que se veiculam sobre
saúde, sendo, na sua maioria, usadas com o intento de colaborar com a melhoria da
qualidade de vida da população. Valoriza, ainda, o papel educativo dos meios de
comunicação, conscientizando as pessoas sobre a temática da saúde, formando e
influenciando opiniões e modificando o comportamento das pessoas.
Para Caldas (2010, p. 251), a saúde na comunicação não deve ser entendida como
um espetáculo midiático, mas um processo educativo, não se podendo permitir
ambiguidades de compreensão. A comunicação, no contexto das ações de saúde, deve
levar à adoção de políticas públicas, capacitando a população para ações que possam
produzir saúde.
Burkett (1990, p. 8) acredita que, quando a temática da saúde é abordada com
pouca fidedignidade, com superficialidade e distorções, as informações podem gerar
polêmicas, confusões e até mesmo conflitos entre os leitores. Outro problema ressaltado
por Burkett (1990, p. 174) é que o divulgador de uma matéria científica procura
popularizar seu conteúdo e, na tentativa de simplificá-lo e torná-lo mais compreensível a
um maior número de pessoas, correm o risco de empobrecer e, até mesmo, deformar a
informação.
Continuando neste contexto, Epstein (1998, p. 60) afirma que a população, em sua
maioria, conhece os produtos das pesquisas científicas por meio da comunicação de massa.
Porém reconhece que há uma grande dificuldade nesta tarefa, pois a informação é gerada
por leigos na temática. Esses autores utilizam recursos linguísticos, retóricos e de imagem
para superar os obstáculos, e isso pode levar ao sucesso ou ao fracasso da campanha a ser
veiculada, dependendo do conhecimento científico a ser popularizado e da habilidade do
comunicador.
Buscar na comunicação uma aliada para solucionar os problemas de saúde é uma
estratégia antiga em nosso meio. O sanitarista Oswaldo Cruz - Diretor do Departamento
Federal de Saúde Pública – propôs-se a erradicar a epidemia de febre amarela na cidade do
Rio de Janeiro no início do século XX, usando um modelo de intervenção conhecido como
campanhista. Em uma ação semelhante à da polícia, o sanitarista convocou 1.500 pessoas
para procedimentos marcados por invasão dos domicílios, queima roupas e colchões,
porém sem conferir a esse propósito educativo, o que produziu indignação na população. O
auge do conflito se deu com a instituição da vacinação obrigatória contra a varíola,
culminando na “Revolta da Vacina”. O sanitarista Carlos Chagas, sucessor de Oswaldo
Cruz, em 1920, reestruturou o Departamento Nacional de Saúde Pública com o propósito
de controlar a disseminação das doenças infectocontagiosas nos aglomerados
desorganizados em que se constituíram as cidades. Para o êxito dessa ação, uniu técnicas
de propaganda à educação sanitária, inovando o modelo campanhista de Oswaldo Cruz
(TEIXEIRA, 2007, p. 18).
Independente das intercorrências obtidas pelo modelo campanhista, vitórias foram
alcançadas como o fim da febre amarela e o controle de doenças epidêmicas, fortalecendo
o modelo e tornando-o hegemônico como proposta de intervenção na área da Saúde
Coletiva durante décadas (POLIGNANO, 2001, p. 5).
Figueiredo Neto (2010, p. 146) define campanha como um conjunto de ações da
área de comunicação que tem como finalidade oferecer ou persuadir pessoas ou grupos
acerca de um produto, serviço ou marca. Quando Oswaldo Cruz criou a campanha
referenciada acima, respeitou o princípio dessa estratégia de comunicação, que é a
definição dos objetivos, isto é, deixou clara a finalidade de ação - a erradicação da febre
amarela.
Com a revolução de 1930, Getúlio Vargas assumiu a presidência do país, num
governo autoritário, que permaneceu por 15 anos. Iniciou um ciclo de desenvolvimento
industrial, como proposta de reestruturação econômica para o país, utilizando o rádio como
meio de comunicação na construção da própria idéia do Brasil como nação. Getúlio exercia
o controle dos meios de comunicação, fechando jornais, censurando os conteúdos, cassava
a permissão de atuação das emissoras de rádio, controlando o Departamento de Imprensa e
Propaganda - DIP (NATANSOHN, 2004, p. 38).
Naquela época, o modelo de saúde predominante no Brasil buscava, na propaganda
e na educação, estratégias de enfrentamento para seus problemas. Entendia-se que os
fatores do meio ambiente funcionavam como vetores para a transmissão de doenças.
Assim, a mudança de hábitos considerados nocivos à saúde mudaria a vida das pessoas.
Então, o binômio comunicação/educação passou a ser uma referência de sucesso das
políticas públicas, consolidado na década de 1940, quando Getúlio Vargas criou o Serviço
Especial de Saúde Pública (SESP), um importante veículo de disseminação de materiais
informativos e educativos, sobretudo impressos, enfocando informações sobre as doenças e
procedimentos de prevenção. Nesse período, a comunicação foi uma estratégia que
sustentou as reformas pretendidas por Vargas, utilizando-se de medidas autoritárias e de
coerção social (ARAÚJO, 2007, p. 106).
No campo midiático, Barbosa (2006, p. 3) esclarece que o período foi marcado por
contradições, representadas pela censura à liberdade dos jornais, constatadas nos
depoimentos dos profissionais da imprensa e do Departamento de Imprensa e Propaganda
(DIP). Pode-se considerar, de forma unânime, que toda imprensa sofreu negativamente
com a ação política ditatorial de Getúlio Vargas. Barbosa conta ainda que, mesmo com a
encampação de alguns periódicos e perseguições de outros, foi uma época em que ocorreu
maior aproximação, acordos e relações conjuntas entre o governo e a imprensa do que
discordâncias, pois havia a preocupação de envolver um novo personagem, isto é, o
público, considerado como massa.
A palavra massa expressa onde se dá a comunicação, não qualificando as pessoas
que receberão as informações. Opõe-se à idéia de minoria, pela qual os indivíduos ou
grupos são perfeitamente identificados, qualificados e facilmente diferenciados dos
demais. Neste cenário de comunicação de massa, a mensagem processa-se de forma
impessoal e muito ampla e são de caráter público e aberto, permitindo ao autor dirigir-se
simultaneamente a inúmeros destinatários, por meio de cinema, jornais, revistas, cartazes,
imprensa, rádio e televisão (STRELOW, 2010, p. 792).
Pode se perceber que, desde o início do século XX, a saúde sempre esteve
intimamente ligada à educação, à comunicação e à informação (ARAÚJO, 2007, p. 103).
Segundo a autora, nos primeiros anos do século XX, a ciência da comunicação
fundamentava-se na possibilidade de manipular o comportamento humano, por meio de
uma série de estímulos, isto é, as pessoas eram vistas como inertes e indefesas diante dos
meios de comunicação. Trata-se do modelo de comunicação compreendido na teoria
hipodérmica. Segundo esta teoria, “cada indivíduo é um átomo isolado que reage
isoladamente às ordens e às sugestões dos meios de comunicação de massa
monopolizados” (WRIGHT MILLS, 1963 apud WOLF, 1995, p. 24)5. A persuasão
5 WRIGHT MILLS, C. Power politics and people 1963, New York: Oxford University, 1971.
acontece à medida que a mensagem da propaganda consegue alcançar os indivíduos que
formam a massa, obtendo o êxito do objetivo proposto.
Retomando a história da saúde no Brasil, houve, na primeira metade da década de
70, uma crise social que se instalou com o golpe militar, e tornou-se manifesta pelo
aumento significativo das doenças infectocontagiosas e uma epidemia de meningite. O
governo perde o apoio da classe média e da classe dominante, o que se agrava com a crise
de petróleo instalada internacionalmente. Surge, então, uma série de movimentos sociais,
levando à transformação do modelo de saúde existente e dando início ao processo de
Reforma Sanitária no Brasil.
Em 1986, aconteceu em Brasília a VIII Conferência Nacional de Saúde, evento
político-sanitário de grande importância histórica, visto que nelas se iniciaram as
discussões para a instituição de um Sistema Único de Saúde (SUS), definindo claramente
as diretrizes a serem seguidas (universalidade, equidade, integralidade, descentralização,
hierarquização, participação). Esse evento trouxe a confirmação da necessidade de
fortalecer a comunicação, com o intuito de oferecer informações à população para que ela
pudesse participar, de forma efetiva do planejamento e da fiscalização das políticas
públicas, contribuindo para o exercício do controle social (LÉLIS, et al 2006 p. 8).
Oliveira (2000, p.74-75) explica que o país necessitava de um sistema político
democrático e a proposta de um sistema de saúde de caráter universal, gratuito e
descentralizado levaria ao abandono do modelo antigo. Afirma também que um dos
grandes desafios do SUS seria a conformação de sistema público de saúde de caráter
universal em um país repleto de desigualdades e saúde precária. Esse sistema, porém,
pouco foi visto em relação à variação de recursos destinados à saúde, o que era crucial para
seu desenvolvimento. Mais uma vez, graças à comunicação midiática, a população
incorpora o termo SUS e o identifica como uma referência de solução de seus problemas
de saúde. Esse novo modo de pensar em saúde admite que as pessoas pertençam a grupos
sociais com dinâmicas próprias, com vontades, desejos e afetos. Nesse caso o modelo de
comunicação informacional de transmissão já não garante mais o atendimento das
necessidades identificadas. O autor diz ser crucial considerar a mídia como uma estratégia
mais articulada com a realidade atual, garantindo maior visibilidade das forças atuantes na
sociedade. Mas, na contramão, percebe-se que ela tem estado mais preocupada com
notícias sensacionalistas, como mortes em filas de espera determinando agenda pública. É
essencial estabelecer modelos que convidem a população alvo, que se utiliza desse sistema
de saúde, a refletir sobre a maior qualidade de atenção a seus problemas de saúde. O que se
assiste no cotidiano é ao fortalecimento da dicotomia entre o público e o privado: de um
lado estão aqueles que não têm outros recursos se não o público; de outro aqueles que, com
o enriquecimento da população brasileira, acabam buscando o sistema privado e as
cooperativas.
Considerando os conceitos aqui estabelecidos sobre comunicação, seu poder de dar
visibilidade à realidade, bem como transformá-la; a força do modelo campanhista para
solucionar problemas coletivos de saúde; a propaganda como estratégia para atingir a
população com novos conceitos em saúde e a massa como foco de todo esse processo, este
texto convida a uma reflexão sobre a temática dos acidentes de trânsito e sua estreita
relação com o uso abusivo de álcool, representando, atualmente, uma epidemia na saúde.
Sobre epidemia, Teixeira e Ciryno (2003, p. 159) ressaltam a estreita relação
existente entre o exercício da comunicação e as práticas sanitárias, chegando-se à
homologia entre fenômenos de comunicação e epidemias e entre fenômenos epidêmicos e
comunicação. Os autores propõem a descrição de dois tipos de epidemias:
- epidemias do contágio: em que há prevalência do contágio para a transmissão, isto é, há a
necessidade do vínculo social direto;
- epidemia irradiada: em que prevalece o contato social indireto para a contaminação,
representado pelo risco a que as pessoas estão expostas em função da posição que ocupam.
Partindo dessa conceituação, pode-se considerar que toda a população está exposta
ao risco de sofrer acidente de trânsito envolvendo o uso abusivo de bebida alcoólica,
tratando-se de uma epidemia do tipo irradiada. Ainda que alguns não tenham o hábito de
ingerir bebida alcoólica, podem ser consideradas vítimas desse infortúnio, seja na condição
de pedestre, de passageiro ou ocupante de outro veículo atingido por um motorista
alcoolizado. Por ser um problema de difícil controle e produzir um grande número de
vítimas fatais ao ano, pode ser considerado uma epidemia. Com o objetivo de controlar o
problema, campanhas são lançadas todos os anos, abordando o número de mortes e de
feridos resultantes dos acidentes de trânsito devido ao uso abusivo de álcool.
Além de considerar aonde se pretende chegar com a campanha, é preciso definir
muito claramente o público alvo, isto é, quem deverá ser atingido por ela. Refletindo sobre
o problema da alta taxa de morbimortalidade por acidentes de trânsito envolvendo o uso de
bebida alcoólica, ao se planejar uma campanha deve-se definir, primeiramente, o público
alvo desse infortúnio, delineando, a partir daí, a modalidade de sociometria (idade, sexo,
moradia, meios de informação, nível educacional, classe social e renda); a modalidade de
critérios psicográficos (atitudes, motivações e valores) e os critérios geográficos (costumes,
culturas e regras de cidadania). Conhecer essas modalidades permite planejar a mídia mais
adequada para a abrangência das características do público alvo, assegurando maior
credibilidade e eficácia. Para a Lima Filho (2010, p. 985-987), se a mensagem de uma
comunicação planejada não definir sua destinação (público alvo), será uma mensagem
amórfica, sem foco e desinteressante.
Refletindo ainda sobre o público alvo, Moreira Junior (2005, p. 7) mostra, em seu
texto de discussões em Consultoria do Senado Federal, que, em um estudo (envolvendo
107 cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes e entrevistadas 8.589 pessoas),
encontrou-se o consumo de álcool de 77,3% entre homens e 60,6% na população feminina.
Na faixa etária de 12 a 17 anos, esses percentuais foram de 52,2% e 44,7%,
respectivamente. Relata ainda que o tipo de bebida mais consumida foi a cerveja e que esse
consumo cresce de 3 a 5% ao ano. Portanto planejar uma campanha que tem como objetivo
a diminuição do uso de bebida alcoólica deve levar em consideração tais dados, isto é,
identificar a população que faz uso de bebida alcoólica.
Outro elemento de grande importância para o planejamento de campanhas que se
utilizam da propaganda para modificar o comportamento, hábitos e costumes das pessoas é
desvendar a complexidade da competição existente entre os produtos a serem consumidos.
Quanto mais competitivo e complexo for um sistema de consumo, mais se deve,
além de identificar a identidade do público-alvo, criar uma comunicação original, eficiente
e atingível (LIMA FILHO, 2010, p. 985-987). A complexidade da competição está muito
presente no contexto em que se pensa no uso da propaganda como estratégia de diminuir
ou coibir o comportamento de beber e dirigir.
Quando se planeja uma propaganda que visa à venda de bebida alcoólica, a
preocupação é informar ao público o tipo de produto disponível no mercado, marcas e
apresentações, beneficiando a indústria. As propagandas sobre as bebidas alcoólicas são
atraentes, nunca associam aspectos negativos da bebida, pelo contrário, estão sempre
agregadas às atividades muito valorizadas pela sociedade, como sociabilidade, relaxamento
e romance. A imagem dos bebedores está associada a indivíduos atraentes, atléticos e de
sucesso. As propagandas focam o estilo de vida do usuário sempre numa situação de
sucesso, de boa qualidade de vida e as imagens ostentam carros luxuosos, estilos jovens
com ambientes esportivos, shows musicais, praias e imagens associadas à sexualidade
(MOREIRA JUNIOR, 2005, p. 17). As propagandas de bebida alcoólica nunca associam
os problemas consequentes ao uso de álcool, isto é, doenças, falência, acidentes, solidão,
abandono e morte. Isso é compreensível, afinal quem compraria um produto que apresenta
risco de desenvolver dependência e causaria fracassos pessoais?
A sociedade está assistindo a um duelo entre a propaganda comercial e a
propaganda em saúde. Araújo (2007, p. 113) diferencia estas duas formas: a primeira tem o
objetivo de vender um produto, persuadindo as pessoas a comprar um objeto ou serviço e a
propaganda na saúde tem a finalidade de oferecer informações para que as pessoas possam
tomar decisões, participando das políticas públicas de saúde. O foco principal desse tipo de
comunicação são as ações coletivas em saúde, bem como o bem estar social, portanto deve
estar pautada nos princípios que fundamentam o sistema vigente, ou seja é, o SUS:
universalização, equidade e integralidade.
1.4 Outras Pesquisas Semelhantes
Há muito tempo a preocupação com o uso abusivo de substâncias alcoólicas tem
sido alvo de investigações em nosso meio e extrapolando-o. O consumo acontece na
adolescência e, em alguns casos, na infância, talvez justificado pelas lições apreendidas
dentro de casa e fora dela. O ambiente universitário estimula comemorações regadas a
bebidas alcoólicas que, por ser um ambiente protegido, favorece o desenvolvimento desta
prática. Associado a isso, pais presenteiam seus filhos com o objeto de consumo mais
cobiçado pelos adolescentes / jovens: o carro. A combinação perfeita para a infeliz idéia de
beber e dirigir.
Esses fatores despertaram o interesse de muitos pesquisadores a desenvolverem
estudos nessa área, seja investigando o uso de substância lícita e ilícita nesta população, a
associação entre bebida e direção, seja na descrição da adesão às estratégias de coibição
desta prática ou no conhecimento da estratégia da frase “se beber não dirija”. Este item
tem o propósito de apresentar os resultados de pesquisas semelhantes a essa, no sentido de
subsidiar as discussões dos dados à frente. A sequência escolhida foi: dados da
identificação dos sujeitos das pesquisas realizadas por outros autores, a combinada ação de
beber e dirigir, a frase “se beber não dirija”, a influência dos amigos nesta decisão e os
tipos de estratégia capazes de causar a ação de não dirigir após ingerir bebida alcoólica sob
a óptica dos sujeitos.
Iniciando esta apresentação pelo gênero dos jovens universitários, Rezende (2008,
p. 318) percebeu um aumento da participação de mulheres no meio acadêmico e a
tendência crescente desse fenômeno, explicado pelo aumento expressivo da busca da
mulher pelo mercado de trabalho há algumas décadas.
Com relação à idade, estudos de Kerr-Corrêa et al. (1999, p. 97) encontraram uma
média de 21,2 a 22,3 anos entre os estudantes de medicina na Unesp de Botucatu, quando
pesquisaram o uso de álcool e drogas entre eles. Paduani et al. (2008, p.68) questionaram
303 estudantes de medicina da Universidade Federal de Uberlândia para conhecer o
consumo de álcool e fumo entre eles e, na identificação, encontraram a faixa etária entre
18 e 25 anos.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) investigou a religião da
população brasileira e os dados foram divulgados em 2012. O Instituto encontrou 64,71%
de católicos, 22,19% de evangélicos, 2,02% espíritas, 3,03% declararam que eram
seguidores de outras religiões e 8,05% não professavam nenhuma religião. Em sua análise,
o IBGE fez uma aproximação entre grau de instrução e tipo de religião e encontrou neste
grupo, a maior concentração de pessoas com nível superior completo (31,5%) e as menores
percentagens de indivíduos sem instrução em comparação com as outras religiões. Já as
pessoas sem religião e evangélicos foram os grupos com maiores índices de ensino
fundamental incompleto, representando 39,2 e 42,3% respectivamente. A falta de
alfabetização foi registrada em 10,6% dos católicos e 9,4% daqueles sem religião. Por
outro lado, apenas 1,4% dos espíritas declararam-se analfabetos (NÚMERO, 2012). A
religião professada pelos estudantes universitários foi investigada neste estudo e os
resultados serão apresentados no capítulo 3.
Ainda na identificação, Ramos Dias (2010, p. 121), investigando a qualidade de
vida de alunos de medicina na Pontifícia Universidade Católica de Sorocaba-SP, encontrou
que a maioria dos estudantes da primeira e sexta série têm renda familiar acima de 12
salários mínimos.
Na sequência será apresentada a inter-relação entre beber e dirigir. Nesta
perspectiva, Vieira et al. (2007, p. 396) relatam que as pessoas estão consumindo bebida
alcoólica cada vez mais jovens e mostram, no estudo que realizaram com estudantes
adolescente entre 12 e 15 anos de idade, que 62,5% já haviam tomado bebida alcoólica,
44,3% usaram estas substâncias nos últimos 30 dias, 11,7% bebem com frequência em
torno de seis vezes na semana e 6,7% ingerem bebida alcoólica mais de 20 vezes por
semana.
Pechanski (2004, p. 16) descreve que o uso do álcool entre adolescentes, feito de
forma problemática, está associado a uma série de prejuízos, que são certamente diferentes
dos prejuízos causados pelo seu uso entre os adultos e podem ser demonstrados no quadro
6 a seguir:
Quadro 6: Prejuízos provocados pelo uso de bebida alcoólica nos adolescentes
Variáveis Prejuízos causados pelo álcool em adolescentes
Associação com Morte
O uso de álcool por menores de idade está mais associado à morte do que a todas as substâncias psicoativas ilícitas em conjunto. Acidentes automobilísticos são a principal causa de morte entre jovens dos 16 aos 20 anos. Estima-se que 18% dos adolescentes norte-americanos com idade entre 16 e 20 anos dirijam alcoolizados, dado de extrema importância ao sabermos que os comportamentos de risco, como os que resultam em acidentes automobilísticos, respondem por 29% das mortes de adolescentes. Este comportamento é mais característico em adolescentes do que em adultos, pois a prevalência de acidentes automobilísticos fatais associados com álcool, entre jovens de 16 a 20 anos, é mais do que o dobro da prevalência encontrada nos maiores de 21 anos.
Violência Sexual
Estar alcoolizado aumenta a chance de violência sexual, tanto para o agressor quando para a vítima. Da mesma forma, estando intoxicado, o adolescente envolve-se mais em atividades sexuais sem proteção, com maior exposição às doenças sexualmente transmissíveis, como ao vírus HIV, e maior exposição à gravidez. A ligação entre sexo desprotegido e uso de álcool parece ser afetada pela quantidade de álcool consumida, interferindo na elaboração do juízo crítico. Dados nacionais apontam para uma associação entre uso de álcool, maconha e comportamentos sexuais de risco, como início precoce de atividade sexual, não uso de preservativos, pagamento por sexo e prostituição.
Prejuízos Acadêmicos
Podem decorrer do déficit de memória: adolescentes com dependência de álcool apresentam mais dificuldade em recordar palavras e desenhos geométricos simples após um intervalo de 10 minutos, em comparação a adolescentes sem dependência alcoólica. Sabendo-se que a memória é função fundamental no processo de aprendizagem e que esta se altera com o consumo de álcool, é natural que este também comprometa o processo de aprendizagem. A queda no rendimento escolar, por sua vez, pode diminuir a autoestima do jovem, o que representa um conhecido fator de risco para maior envolvimento com experimentação, consumo e abuso de substâncias psicoativas. Assim, a consequência do uso abusivo de álcool para o adolescente poderia levá-lo a aumentar o consumo em uma cadeia de retroalimentação, ao invés de motivá-lo a diminuir ou interromper o uso.
Prejuízos Sociais
Problemas familiares, perda de emprego, prejuízo financeiro, que muitas vezes são vistos como alerta para a diminuição do consumo, estão ausentes entre os adolescentes. Esta seria uma possível explicação para jovens evoluírem mais rapidamente do abuso para a dependência, quando comparados com os adultos.
Fonte: Pechansky et al, 2004.
Paduani et al. (2008, p. 68) constataram, em seus estudos com jovens universitários
do curso de medicina, que 66,34% dos entrevistados consumiam bebida alcoólica, num
universo de 303 estudantes. O tipo de bebida mais consumida foi cerveja (68,65%),
seguido por destilados (46,26%), vinho (45,77%) e chope (33,33%). Declararam, ainda,
que 61,4% eram consumidoras do gênero feminino e 72,72%, do masculino, num universo
de 303 estudantes pesquisados. Porém, para os autores, homens bebem mais cerveja e
chope, enquanto mulheres bebem mais vinho e destilados, porém, no consumo global, a
cerveja é a bebida mais consumida e, em seguida, os destilados.
Diferentes foram os dados obtidos por Pereira et al. (2008, p. 190) quando
pesquisaram os estudantes de medicina da Universidade Federal do Espírito Santo, onde
não houve diferença significativa desse uso entre homens e mulheres.
Estudo realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
buscando as crenças e expectativas em relação aos efeitos das bebidas alcoólicas em
estudantes universitários, investigou uma amostra aleatória do primeiro ao oitavo nível dos
diferentes cursos. A amostra representava 8% daquele universo, totalizando 1.345 alunos
com idades entre 16 e 54 anos, sendo 54,80% do gênero feminino e 45,20% do gênero
masculino. Das bebidas consumidas, a mais citada foi a cerveja, seguida pelo vinho e pelos
destilados (OLIVEIRA; SOIBELMANN; RIGONI, 2007, p. 427). Os autores
investigaram os efeitos das bebidas alcoólicas, com o propósito de estimar o risco do
desenvolvimento da dependência em estudantes universitários: 73,60% afirmaram já ter
vivenciado um episódio de intoxicação aguda - “tomado um porre” - pelo menos uma vez
na vida. Este fato possibilita a multiplicação por 4,721 as oportunidades de pertencer ao
grupo de alto risco para o desenvolvimento de alcoolismo na vida, o que cresce quanto
mais jovem ocorre este “porre”.
Pinton (2005, p. 93), ao estudar o uso de drogas entre os estudantes de medicina da
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP, no ano de 2002, constatou que 68,7%
dos alunos já haviam tomado bebida alcoólica até se embriagar no mês anterior à pesquisa
e, em relação ao gênero, cerca de 75,2% dos homens já haviam bebido até se embriagar,
contra 62,4% das mulheres, sendo que 42,3% dos homens já se haviam embriagado no mês
anterior contra 20,8% das mulheres.
Wagner e Andrade (2008, p. 51), na busca de traçar um novo perfil para a
população jovem de universitários, realizaram uma pesquisa bibliográfica em publicações
no período de 1997 a 2007. Encontraram que o uso de bebida alcoólica aumentou de
88,5% para 91,5% na Universidade Federal do Ceará e o consumo, nos últimos 30 dias,
havia aumentado de 57,7% para 80,3%. As autoras referem, ainda, que na Universidade
Federal do Amazonas o uso de álcool foi maior entre os estudantes do gênero masculino.
Esta investigação buscou também conhecer a estreita relação entre beber e dirigir
um veículo a motor em seguida. Conforme Pinton (2005, p. 93), 44,7% já haviam dirigido
após beber, dos quais 12,8% sofreram acidentes de trânsito.
Pillon et al. (2005, p. 1169) descreveram a relação existente entre uso de drogas e
comportamentos de risco entre universitários do primeiro ano de graduação da
Universidade de São Paulo, de Ribeirão Preto, dos quais, 50% eram homens e 50%
mulheres, com idade entre 18 e 26 anos. Os autores mostraram a presença do uso
recreacional de substâncias psicoativas, com as mulheres bebendo dentro dos limites de
baixo risco e os homens, mais pesadamente. Concluíram ainda que os homens dirigem
mais sob efeito do álcool, estão mais envolvidos em brigas com amigos e com a polícia do
que as mulheres.
Laranjeira et. al. (2007, p. 58) publicaram, no I Levantamento Nacional sobre
Padrões de Consumo de Álcool, que 38,4% da população investigada, isto é, 1.152 adultos,
sendo 52% mulheres e 48% homens, já dirigiram alcoolizados. Destes, 8,6% referiram ter
conduzido um veículo a motor em mais da metade das vezes em que estiveram
alcoolizados.
O álcool, em função da quantidade absorvida, produz efeitos de caráter depressor
ou estimulante imediatos no cérebro, aumentando o risco de acidentes de trânsito, pois
altera a capacidade de discernimento, causa lentidão dos reflexos, diminui a vigilância e
acuidade visual. O quadro 7, a seguir, está descrito no Manual de Segurança de Trânsito
para Profissionais de Trânsito e de Saúde de 2007, publicado pela Organização Mundial da
Saúde. Este manual demonstra que o problema do álcool supera a direção perigosa, pois
pode trazer consequências na elucidação diagnóstica, agrava as doenças pré existentes e
dificulta a resposta à terapia adotada (BEBER, 2007, p. 10)
Quadro 7: Problemas causados pelo uso de bebidas alcoólicas e suas consequências.
Problemas causados pelo
álcool Consequências
Dificulta elucidação diagnóstica
- Os efeitos do álcool podem mascarar um traumatismo craniano;
- A intoxicação por álcool predispõe o paciente a lesões mais graves;
- Pacientes alcoolizados podem não ser capazes de verbalizar uma dor ou indicar uma região sensível.
- O álcool pode interagir com medicamentos, em particular, com substâncias para aliviar a dor e sedativos.
- A intoxicação por álcool pode dificultar ou influenciar a escolha do anestésico numa situação cirúrgica.
Agrava doenças pré existentes
- Os pacientes alcoolizados podem ser portadores de doenças psiquiátricas, difíceis de serem percebidas no atendimento inicial.
- A intoxicação por álcool pode exacerbar um distúrbio preexistente, como afecção cardíaca, deficiência de coagulação ou
doença infecciosa.
Dificulta a resposta à terapia adotada.
- Os pacientes com intoxicação alcoólica estão mais frequentemente sujeitos a algum tipo de complicação durante a fase de recuperação, em particular a infecções, como pneumonia.
Fonte: (BEBER, 2007).
Outro importante apontamento foi feito por Pechanski (2004, p. 16), mostrando a
percepção que o adolescente que bebe regularmente tem sobre os problemas relacionados
ao consumo de álcool, enumerando-os: 1) 50% dos jovens apontam como a principal
consequência negativa o fato de terem-se comportado de uma forma imprópria durante ou
após o consumo; 2) 33% destes adolescentes queixam-se de prejuízo no pensamento e 3)
20% descrevem o ato de dirigir alcoolizado como um problema, associando-o ao fato de os
acidentes automobilísticos com motorista alcoolizado serem a principal causa de mortes
nesta faixa etária.
Pinton (2005, p. 93) descobriu que, depois de beber, 60,9% dos alunos já faltaram
às aulas, 44,7% já dirigiram, 15,1% brigaram e 12,8% já sofreram acidentes. Dentre os
alunos que brigaram e dirigiram após beber, 77,8% e 73,8%, respectivamente, eram do
gênero masculino.
Uma das estratégias utilizadas para controlar a escalada das mortes produzidas
pelos acidentes de trânsito e sua estreita relação com o uso abusivo de bebidas alcoólicas
foi a divulgação da frase “se beber não dirija”.
Em 1° de outubro de 2003 foi aprovada a resolução de 12 de setembro que
regulamenta as propagandas de bebidas alcoólicas. Dentre outros itens, como a
reafirmação da proibição de venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos e o horário
de veiculação das propagandas na televisão, foram aprovadas algumas frases para prevenir
o uso abusivo do álcool. A “cláusula de advertência” conterá uma das seguintes frases
(CONAR, 2007):
- Evite o consumo excessivo de álcool
- Beba com moderação
- Aprecie com moderação
- Se beber não dirija
- Este produto é destinado a adultos
- Beba sem exageros
- Beba com responsabilidade
Destas frases, as mais comuns de serem encontradas em propagandas televisivas de
cerveja são “Se beber não dirija” ou “Beba com moderação”.
Luci Mara Bertoni, em 2007, para obtenção do título de doutora em Educação pela
Universidade Estadual Paulista, investigou 76 estudantes universitários sobre a
representação da frase “se beber não dirija” a partir de três propagandas televisivas de
divulgação de bebida alcoólica. Ao final da exibição da primeira propaganda, apenas cinco
estudantes identificaram a frase; na segunda propaganda, apenas três de 76 universitários e
na propaganda três, apenas nove. Quando lhes perguntado se as propagandas sugeriam o
consumo de bebida alcoólica, 49 estudantes responderam que sim e 73 pessoas disseram
ser importante a existência de campanhas para a prevenção dos problemas causados pelo
álcool, entre eles os acidentes de trânsito (BERTONI, 2007, p. 64-73).
Por muito tempo o consumo de bebida alcoólica foi amplamente divulgado por
meio da mídia de todos os tipos, sempre relacionado ao prazer e ao sucesso. Como fazer
oposição às duas facetas mais marcantes no comportamento humano: a coragem de tomar
atitudes e o prazer?
Diariamente todos são alvos de propagandas de bebida alcoólica, enfocando
principalmente a cerveja. Com o objetivo de vencer a concorrência e aumentar o consumo,
as agências superam-se na criação das campanhas e, principalmente, nas estratégias de
persuasão, pois o que interessa é atingir a população (SANT´ANA, 2008, p. 1). Para a
autora uma campanha é criada sobre dois pilares: o pilar do conteúdo do texto e o da
expressão, em que se manifestam os sentidos, fazendo com que o público alvo compre a
cerveja. Assim, a persuasão do enunciador e a interpretação do enunciatário (o alvo)
encontrem-se no discurso publicitário.
Segundo Melo et. al. (2008, p. 97), “para ser eficaz, a mensagem publicitária deve
capitalizar a relação que existe entre a organização das sociedades e a questão de
identidade”. É necessário conhecer o público que se deseja atingir, reproduzindo sua
realidade. Assim, o discurso deve investir na verdade, fazendo com que a cerveja passe a
ser o objeto de desejo, além de oferecer ao enunciatário a imagem positiva de si mesmo.
Amaral (2010, p. 18), ao investigar a prevenção do dirigir sob efeito de álcool entre
estudantes de medicina, descreve que, entre os efeitos iniciais da intoxicação pelo álcool,
pode ser observado prejuízo na capacidade de julgamento e atenção, falseamento na
percepção da velocidade, euforia ainda em doses equivalentes a 0,3g/l ou o correspondente
a uma ou duas doses de álcool. Portanto, como compreender a capacidade de maior cautela
na ação de dirigir entre os jovens com menos capacidade de discernimento?
Andrade et al. (2003, p. 439) investigaram os comportamentos de risco para
acidentes de trânsito entre os jovens estudantes de medicina no sul do Brasil. Encontraram
o fato de que, na percepção deles, os fatores que mais contribuíram para a ocorrência de
seu último acidente de trânsito foram desrespeito à sinalização, excesso de velocidade e
motorista alcoolizado.
Lorentz (1997, p. 1) estimula uma reflexão acerca da palavra não, dizendo que esta
é uma abstração, isto é, o não, por si só, não lhes diz nada. Assim, o cérebro fixa o que
vem após o não. A autora exemplifica com a frase não pense em um balão azul. Então o
que se pensa inicialmente é exatamente em um balão azul. O uso de uma linguagem
negativa provoca o comportamento que se deseja evitar. Com relação à frase “se beber não
dirija”, Lorentz sugere que seria mais adequada se formulada da seguinte forma: “se beber
álcool, chame um táxi ou peça uma carona. Segundo a autora, o foco de uma campanha
deve estar no objetivo a ser alcançado e colocado na linguagem afirmativa.
Alguns desafios podem ser citados quando se pensa na elaboração de programas de
prevenção. São eles: a maioria dos estudantes não considera o seu consumo dessas
substâncias como problemático; a crescente autonomia dos jovens pode dificultar a
aceitação de mensagens de prevenção e, nessa faixa etária, a influência dos parceiros e
colegas pode ser decisiva (AMARAL, 2010, p. 35).
Considerando esta abordagem de Amaral sobre a influência dos amigos na decisão
de não dirigir após ingerir bebida alcoólica, Pinton (2005, p. 93) investigou jovens quanto
aos locais onde costumam beber com mais frequência e descobriu que são as festas da
faculdade (45,9%), bares/danceterias (35,9%) e em casa (13%). Quanto às companhias, o
autor encontrou que cerca de 73,9% costumam beber com mais frequência com os amigos,
28,8% com colegas de turma e 12,6% com familiares.
Amaral (2010, p. 30) observou que a desaprovação dos amigos é um elemento
preditivo para a decisão de dirigir sob o efeito de substância alcoólica.
Vieira et al. (2007, p. 400) investigaram 1.990 estudantes com idades entre 11 e 21
anos matriculados em escolas públicas e privadas de Paulínia-SP, no ano de 2004.
Analisou-se a percepção da disponibilidade e da facilidade de acesso às bebidas alcoólicas,
o contexto de beber e as consequências do consumo. A prevalência do uso de álcool na
vida foi de 62,2%; adquirindo-o com facilidade nos estabelecimentos comerciais, com
parentes e amigos; relataram episódios negativos, como arrependimento por ter feito algo
sob o efeito do álcool, ter passado mal, ter brigado após beber e mais da metade relatou ter
sido vítima de acidente de trânsito provocado por motorista embriagado. Com relação ao
contexto do primeiro uso de substância alcoólica, 40,4% relataram que familiares foram os
primeiros a lhes oferecer, em seguida, os amigos (35,5%) e, quanto ao ambiente onde
costumam beber, 42,6% disseram que na própria residência e 26% na casa dos amigos.
Estes estudiosos atentam para a importância dos amigos na ação de ingerir bebida
alcoólica.
Laranjeira et. al. (2007, p. 68), ao coordenarem o I Levantamento Nacional sobre os
Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, apresentaram aos sujeitos de seu
estudo estratégias específicas, como restrições ao consumo de álcool a menores, ou a
alocação de recursos que refletem prioridades de ações preventivas ou de tratamento. O
quadro 8 demonstra estas estratégias e a quantidade de apoiadores.
Quadro 8: Estratégias específicas, como restrições ao consumo de álcool a menores, ou a
alocação de recursos que refletem prioridades de ações preventivas ou de tratamento
Estratégias Quantidade de
Apoiadores
Aumento de programas preventivos nas escolas 92%
Programas gratuitos para tratamento de alcoolismo 91%
Campanha de alerta sobre os riscos do alcoolismo 86%
Aumento de impostos sobre bebida alcoólica 56%
Idade mínima de 18 anos para comprar bebida alcoólica 54%
Horário restrito para comercializar bebida alcoólica 76%
As propagandas de bebida alcoólica devem reservar um local para
mensagens de alerta dos riscos causados pela bebida alcoólica
94%
Mensagem de alerta sobre riscos de problemas causados pela
bebida alcoólica nos rótulos das embalagens dos produtos 89%
Proibir a propaganda de bebida alcoólica na televisão 68%
Empresas produtoras de bebida alcoólica não podem patrocinar
esportes 55%
Fonte: LARANJEIRA et al. 2007.
É imprescindível perguntar aos jovens que tipo de estratégia causaria o impacto de
não dirigir após o uso de bebida alcoólica e, então, investir nestas estratégias apontadas por
eles, já que representam o alvo destas ações.
2. Percurso Metodológico
A preocupação, nas diferentes áreas da sociedade como saúde, segurança pública e
educação, entre outras, com o elevado índice de morbimortalidade entre os jovens,
produzido pelos acidentes de trânsito e a estreita relação entre os acidentes e o uso de
bebida alcoólica feziram com que se buscasse na frase - “se beber não dirija” - uma das
estratégias de controle desse problema.
Antes da década de 1920 não há registros de vínculo entre as estratégias de meios
de comunicação e a saúde. Nessa década, o sanitarista Carlos Chagas criou o
Departamento Nacional de Saúde Pública com o intuito de associar técnicas de propaganda
à educação sanitária (NATANSOHN, 2004, p.38). Araujo e Cardoso (2007, p.23)
comentam que, naquela época, havia um grande avanço da microbiologia, bacteriologia e
parasitologia, possibilitando a identificação dos agentes causadores da doença e seu meio
de transmissão. Foi, então, a inclusão da propaganda e da educação sanitária a estratégia
utilizada para o controle de epidemias e adoção de medidas higiênicas.
O então Presidente da República Getúlio Vargas, apesar de controlar os meios de
comunicação, cassando concessões de emissoras de rádio, televisão e jornais, censurando
seus conteúdos, reconheceu o papel destes meios na construção de sua imagem pública e
na construção da idéia de nação brasileira. Percebeu-se, então que a mídia era uma
estratégia possível de ação contínua e permanente de apontar para o controle de doenças,
naquela época conhecidas como doenças da pobreza, pois estavam vinculadas aos
péssimos hábitos de higiene da população (NATANSOHN, 2004, p.39-40). Considerando
a preocupação de controle do problema, a alta taxa de morbimortalidade por acidentes de
trânsito entre jovens e sua associação ao uso abusivo de bebidas alcoólicas, buscaram-se,
nos meios de comunicação, estratégias de controle, embora se observem os limites de seus
efeitos a curto prazo, pois há que se considerarem complexas associações, como as
características de personalidade e as relações sociais dos receptores da comunicação.
Segundo Barrios (2005, p. 76) no final da década de 70, o Governo Federal decidiu
criar uma censura prévia, pela qual nenhum anúncio de bebida alcoólica poderia veicular
sem a sua permissão. Logo após o III Congresso Brasileiro de Propaganda, em 1978, foi
fundado o Conar – Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária, organização
não governamental, com o propósito de fazer valer o Código Brasileiro de Auto
Regulamentação Publicitária, sem poder coercitivo, já que este poder é de responsabilidade
do Estado. A publicidade de bebida alcoólica no Brasil passa a ser regulada pela lei nº
9.294 de 1996, conforme o que prevê a Constituição Federal. Essa lei define que bebida
alcoólica é somente aquela com mais de 13 graus Gay Lussac, excluindo assim, cervejas e
vinhos e determina ainda o horário de divulgação deste produto, entre 21 e seis horas.
Dispõe ainda, sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas
alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas. Seguindo essas recomendações,
o Conar (instituição que fiscaliza a ética da propaganda comercial veiculada no Brasil,
norteando-se pelas disposições contidas no Código Brasileiro de Auto Regulamentação
Publicitária), destaca os seguintes itens:
- a publicidade de bebida alcoólica não será dirigida a crianças e adolescentes e as pessoas
que figurarem nos anúncios deverão ter idades superiores a 25 anos;
- os anúncios devem evitar erotismo e linguagens, recursos gráficos ou audiovisuais
pertencentes ao universo infantil;
- não terão cena, áudio ou vídeo que apresentem ingestão imoderada do produto;
- a publicidade não deverá induzir ao consumo abusivo e irresponsável do produto, não
deverá associá-lo ao esporte, à condução de veículo, não deve sugerir agressividade ou
êxito sexual das pessoas;
- os rótulos das embalagens deverão conter advertências do tipo: “evite o consumo
excessivo de álcool”;
- propagandas estáticas, como em estádios e veículos de competição, não deverão
recomendar seu consumo;
- não utilizar trajes esportivos para veiculação da propaganda;
- todo anúncio deverá conter a cláusula de advertência, como uma das seguintes frases:
- “Evite o consumo excessivo de álcool”
- “Beba com moderação”
- “Aprecie com moderação”
- “Se beber não dirija”
- “Este produto é destinado a adultos”
- “Beba sem exageros”
- “Beba com responsabilidade”
Entre essas frases sugeridas, as mais encontradas em propagandas televisivas de
cerveja são “Se beber não dirija” e “Beba com moderação” (BERTONI, 2007, p. 65)
Já que as estatísticas de acidentes de trânsito e sua estreita relação com o uso
abusivo de álcool não foram alteradas como se desejava, este estudo busca, então, conhecer
o efeito da frase “se beber não dirija” na decisão dos jovens universitários em beber e não
dirigir um veículo a motor, identificar se esses jovens têm acesso à frase, e ainda, mostrar
sob a óptica desta população, estratégias que causariam impacto na decisão de beber e não
dirigir um veículo a motor.
Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica, sobre os temas que
fundamentam este estudo. Buscou-se a história e a atualidade da epidemiologia dos
acidentes de trânsito no mundo e no Brasil; a realidade do uso de bebida alcoólica entre os
jovens; a inter-relação entre os acidentes de trânsito e o uso de bebida alcoólica; a evolução
da comunicação e da saúde no contexto brasileiro, a inter-relação entre elas considerando
os momentos históricos e as pesquisas semelhantes realizadas abordando esta temática.
A pesquisa bibliográfica é a etapa fundamental para construir o referencial teórico
do estudo. É necessário que seja realizada para reconhecer o que já foi produzido e
publicado, considerando as soluções dos problemas já encontradas, minimizando a
multiplicação de um determinado estudo sobre o mesmo tema (STUMPF, 2005, p.52).
Quanto à periodicidade da realização da revisão da literatura na construção de um trabalho
científico, o autor esclarece que se deve considerar um trabalho contínuo, desde a definição
do problema até a sua conclusão.
De modo geral, a definição dos temas parte do desejo do pesquisador, escolhendo o
assunto que o instiga ou que faça parte de seu contexto de atuação. Neste estudo,
especificamente, o tema escolhido foi o efeito da frase “se beber não dirija” na decisão de
o indivíduo não dirigir após ingerir bebida alcoólica. Em seguida, um rol de expressões
chave foi utilizado como guia para busca na literatura, a saber:
- a própria frase – “se beber não dirija”;
- álcool e acidentes de trânsito;
- uso de bebida alcoólica e acidentes de trânsito;
- efeito do álcool no organismo;
- efeito do álcool na ação de dirigir logo após ingeri-lo;
- epidemiologia dos acidentes de trânsito;
- a história dos acidentes de trânsito no mundo e no Brasil;
- comunicação e sua interface com a saúde;
- comunicação e saúde.
Os temas foram traduzidos para o inglês e espanhol e o período definido para a
busca de material bibliográfico foi a partir do ano de 2000. Dados históricos, porém,
admitiram datas mais remotas. O material arrolado foi pesquisado em fontes bibliográficas
secundárias, citadas a seguir:
- bibliografia especializada sobre comunicação;
- estatísticas de acidentes de trânsito (DATASUS - nome do departamento de informática
do Sistema Único de Saúde do Brasil);
- literatura de temas sobre saúde mental que discute o efeito do álcool no sistema nervoso e
sua relação com os acidentes de trânsito;
- portal do Ministério da Saúde e de Educação;
- portal sobre CONAR (instituição que fiscaliza a ética da propaganda comercial veiculada
no Brasil, norteando-se pelas disposições contidas no Código Brasileiro de Auto
Regulamentação Publicitária);
- portal da saúde, incluindo a saúde mental;
- teses e dissertações na íntegra e alguns resumos;
- material contido na biblioteca da Universidade de Marília, Faculdade de Medicina de
Marília e Universidade do Estado de São Paulo;
- livros editados.
O meio mais utilizado para a obtenção do material bibliográfico foi a internet,
utilizando portais e diretórios como:
- BVS – Biblioteca Virtual em Saúde América Latina e Caribe;
- SciELO – Scientific Eletronic Library Online;
- LILACS – Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde;
- MEDLINE - Literatura Internacional em Ciências da Saúde;
- Google Acadêmico; e
- Portal Capes.
Trata-se de uma pesquisa quantitativa na área da comunicação, delineada, quanto
aos objetivos, como um estudo descritivo, investigando o efeito da frase “se beber não
dirija”, na decisão de não dirigir após ingerir substância alcoólica entre jovens
universitários de um curso de Medicina de uma Universidade privada do interior do Estado
de São Paulo.
A pesquisa descritiva tem como objetivo principal descrever características de
determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis.
Sua principal característica é a utilização de técnicas padronizadas para coleta de dados,
isto é, questionário ou observação sistemática. Considerado um método intermediário entre
a pesquisa exploratória e a explicativa, assim ela descreve, relata, identifica e compara. O
pesquisador, não interferindo nos fatos, preocupa-se em relatá-los, analisá-los e interpretá-
los (RAUPP; BEUREN, 2003, p. 77)
A universidade é um espaço privilegiado para encontrar pessoas jovens que
frequentam festas ou ambientes de encontro (“baladas”), onde bebidas alcoólicas regam as
rodas de conversas. O local de escolha foi, então, a Universidade de Marília, mais
especificamente os alunos do curso de Medicina, em que se encontram estudantes com
médio e alto poder aquisitivo, com exceção daqueles que possuem bolsas de estudo.
Grande parte desses jovens possui carros e refere participar de festas e shows musicais em
média três vezes por semana, segundo uma investigação informal realizada pela
pesquisadora antes de iniciar este estudo.
Os sujeitos desta investigação têm a oportunidade de vivenciar duas situações
particulares no cenário onde desenvolvem seu processo de ensino aprendizagem.
Primeiramente são estudantes do curso médico e, desde a primeira série, atuam nos
cenários da atenção básica, são consultores dos processos saúde e doença, comunicam-se
com pessoas com problemas de saúde ou com riscos para desenvolverem doenças.
Portanto, são jovens que, embora ainda não profissionais, são formadores de opiniões.
Outra questão é que estes jovens estão experienciando a mudança no processo de ensino
aprendizagem em sua metodologia, isto é, a substituição do método tradicional para uma
metodologia ativa.
As instituições de ensino superior na área da saúde estão sendo desafiadas a
repensar e propor novas estratégias na formação de profissionais de saúde que possam
desenvolver autonomia na perspectiva de uma nova estratégia de trabalho que considere os
determinantes sociais, culturais, econômicos e psicobiológicos no processo de adoecer de
uma determinada população. A metodologia que estes estudantes estão utilizando na sua
formação pressupõe um estudante capaz de autogerenciar seu aprendizado, de maneira tal
que acabe por aprender a buscar soluções diante de problemas mesmo quando sair da
escola. Tem como base a formação de profissionais críticos e capazes de refletir sobre o
espaço real do trabalho (MARÇAL, 2009, p. 93-106).
Portanto esse espaço parece ser favorável para investigar o efeito da frase “se beber
não dirija” na decisão de não dirigir um veículo a motor após ingerir bebida alcoólica:
população jovem; formadores de opiniões, vivenciando uma metodologia de ensino
aprendizagem capaz de formar profissionais críticos e reflexivos e expostos ao risco de
beber e dirigir.
Foi elaborado um instrumento para coleta de dados - questionário, apêndice B –
que, após uma prévia aplicação com população semelhante àquela que faria parte deste
estudo, foi reelaborado. O instrumento continha uma primeira parte de identificação, as
perguntas específicas em relação ao uso de bebida alcoólica e a ação de dirigir, o
conhecimento sobre a frase “se beber não dirija”, o efeito da frase na decisão de não
dirigir um veículo após a ingestão de bebida alcoólica, a influência dos amigos nesta
decisão e a melhor estratégia para mobilizar o comportamento de não dirigir após beber
substância alcoólica, sob a óptica dos sujeitos. As questões fechadas foram aplicadas a
partir de questionário estruturado, com perguntas iguais para todos, de modo a permitir
estabelecer comparações entre as respostas mais utilizadas em pesquisas quantitativas,
quando se pretende obter informações acerca de um conjunto de uma população.
2.1 Trabalho de Campo:
Aos sujeitos, foi-lhes explicado o objetivo da pesquisa e consultado o interesse de
participação, obtendo a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A
proposta de pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres
Humanos da Universidade de Marília, reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (CONEP/CNS/MS) sob o registro 25000.007064/2007-47 de 18/01/2007,
revalidado sob o registro de nº 25000.113733/2010-14 de 05/07/2010, que analisou o
projeto com protocolo nº 320. Os princípios éticos foram respeitados conforme a
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Os questionários foram preenchidos no ambiente universitário, em intervalos entre
as atividades acadêmicas, pelos estudantes que aceitaram participar do estudo pelos
próprios jovens investigados, num período médio de 15 minutos.
2.2 Cenário da Investigação:
A pesquisa, de caráter descritivo e quantitativo, foi realizada na cidade de Marília,
com estudantes do curso de Medicina de uma instituição privada no período de abril e
maio de 2011.
De acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), divulgado em 1º de dezembro de 2010, Marília-SP tem 216.684
habitantes, sendo 95,87% da população localizada na zona urbana e 4.13% na zona rural.
Na área do ensino, o município conta com três instituições públicas (Faculdade de
Medicina de Marília – FAMEMA; Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho – UNESP e Faculdade de Tecnologia - FATEC) e universidades e faculdades
particulares (Universidade de Marília – UNIMAR; Fundação de Ensino Eurípedes Soares
da Rocha – UNIVEM; Faculdade João Paulo II - FAJOPA; Faculdade de Ensino Superior
do Interior Paulista – FAIP; Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal – FAEF e
Fundação Getúlio Vargas - FGV). Portanto, a população flutuante jovem é significativa,
atuando na cidade para estudo e lazer.
2.3 População do estudo
Para Duarte e Barros (2010, p. 68), uma pesquisa de qualidade exige fontes de
dados que sejam capazes de responder ao problema proposto, com disponibilidade,
envolvimento com o tema e disposição em responder. Considerando a disponibilidade de
acesso à população de estudo, decidiu-se por incluir todos os estudantes do curso de
Medicina da Universidade de Marília. Assim, dos 554 estudantes, 456 (82,31%)
responderam ao questionário, sendo 289 (63.37%) do gênero feminino e 167 (36.62%)
masculino. O sigilo e o anonimato foram garantidos, mediante a apresentação de um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, fornecido no ato da coleta de dados.
A própria pesquisadora aplicou o questionário aos estudantes em pequenos grupos
de, no máximo, 20 pessoas, obtendo, então, um N = 456 participantes.
3. Resultados e Discussões
Este estudo investigou jovens universitários do curso de medicina da Universidade
de Marília no período de abril e maio de 2011, com o objetivo de conhecer as
características da população investigada; identificar se esses jovens tiveram acesso à frase
“se beber não dirija”; o efeito da frase na decisão de beber e não dirigir um veículo a
motor e mostrar, sob a óptica dessa população, estratégias que causariam impacto na
decisão de beber e não dirigir um veículo a motor.
O questionário foi aplicado aos 456 estudantes do curso de Medicina que aceitaram
participar do estudo, isto é, 82,31% de um total de 554 matriculados regularmente. Os
dados foram digitados no programa IBM SPSS Statistics que permite um rápido olhar para
os dados, formulação de hipóteses e procedimentos estatísticos e de análise que auxiliam a
esclarecer as relações entre as variáveis, identificar tendências e fazer previsões.
A análise dos dados permitiu a elaboração de categorias que, segundo Duarte
(2010, p. 79), é a organização dos dados fracionados e classificados em temas autônomos e
inter-relacionados ao mesmo tempo, porém é necessário que haja coerência interna. Para o
autor a criação de categorias deve seguir os seguintes princípios:
- partir de um mesmo princípio de classificação;
- ser exaustivo e
- não poder incluir uma mesma resposta em mais de uma categoria.
Em pesquisas que utilizam instrumentos de coleta de dados estruturados, as
categorias têm origem no marco teórico e são consolidadas nos roteiros. Na redação, tanto
é possível agrupar em uma categoria dados obtidos em duas perguntas, quanto separar em
duas categorias os resultados de uma só pergunta. A partir dos dados coletados, foram
definidas cinco categorias para as respostas obtidas na aplicação dos questionários,
descritas e discutidas a seguir.
Categoria 1: Identificação da população de estudo
Esta categoria propõe-se a esclarecer quem são os 456 estudantes de medicina da
Universidade de Marília, no interior do Estado de São Paulo, investigados em relação ao
gênero, idade, religião e renda familiar, como exposto a seguir.
Dos 456 participantes, 289 (63,37%) eram do gênero feminino e 167 (36,62%), do
masculino, como mostra a tabela 1 a seguir.
Tabela 1: Distribuição dos estudantes de medicina da Universidade de Marília,
participantes da pesquisa, segundo o gênero no ano de 2011.
Gênero Frequência Percentual
(%)
Masculino 167 36,62
Feminino 289 63,37
Total 456 100,00
Percebe-se que há predomínio do gênero feminino entre os estudantes que
responderam ao questionário, bem como entre toda a população de estudantes do curso de
Medicina da Universidade de Marília, corroborando os estudos de Rezende (2008, p. 318).
A idade dos estudantes de medicina, investigados na Universidade de Marília,
variou entre 17 e 41 anos, sendo que 50,22% ficaram entre 21 e 24 anos de idade, como
mostra a tabela 2:
Tabela 2: Distribuição dos estudantes de medicina da Universidade de Marília,
participantes da pesquisa, segundo a idade no ano de 2011.
Idade Frequência Percentual
(%)
17 a 20 anos 108 23,68
21 a 24 anos 229 50,22
25 a 28 anos 86 18,86
29 a 32 anos 26 5,70
33 a 41 anos 07 1,54
Total 456 100,00
A realidade encontrada, neste cenário específico de investigação, apresenta uma
concordância com os estudos de Kerr-Corrêa et al. (1999, p. 97), na Unesp de Botucatu, e
de Paduani et al. (2008, p.68) em Uberlândia, conforme aspectos apresentados no item 4
do capítulo 1.
A tabela 3 demonstra a distribuição dos estudantes investigados segundo a religião.
Tabela 3: Distribuição dos estudantes de medicina da Universidade de Marília,
participantes da pesquisa, segundo a religião no ano de 2011.
Religião Frequência Percentual
(%)
Católico 292 64
Evangélico 62 13,6
Espírita 48 10,5
Outros 4 0,9
Sem Religião 50 10,96
Total 456 100,00
Quanto à religião, a população investigada comportou-se de forma compatível com
os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentados no
capítulo 1. Este estudo encontrou 292 estudantes (64%) católicos, 62 (13,6%) evangélicos,
48 (10,5%) espíritas, 50 (10,96%) pessoas declararam não ter religião e quatro (0,9%)
disseram ser ateus ou ter outra religião.
Quanto à renda familiar, 189 (41,4%) estudantes responderam que essa renda
supera 16 salários mínimos, como mostra a tabela 4.
Tabela 4: Distribuição dos estudantes de medicina da Universidade de Marília,
participantes da pesquisa, segundo a renda familiar no ano de 2011.
Renda Familiar
Frequência Percentual
(%)
1 a 5 salários 24 5,3
6 a 10 salários
39 8,6
11 a 15 salários
33 7,2
16 ou mais salários
189 41,4
Desconhece 171 37,5
Total 456 100,00
Trata-se de estudantes de uma universidade privada, cuja mensalidade fica em torno
de sete salários mínimos, portanto a manutenção desses estudantes na academia exige
situação econômica mais elevada, havendo, porém, de se considerar que existem outras
possibilidades de financiamento, como o Fies (Financiamento Estudantil), ProUni
(Programa de Universidade para Todos) e outros. Um significativo número de estudantes,
isto é, 37,5%, responderam que desconhecem a renda familiar. Apesar de não ter sido parte
do questionário, cerca de 30% destes relataram espontaneamente à pesquisadora que não
mencionariam a renda familiar por receio do aumento da mensalidade do curso. Resultados
semelhantes foram encontrados por Ramos Dias et al. (2010, p. 121), apresentados no
capítulo 1 - item 1.4
Categoria 2: Beber e Dirigir
Beber e dirigir é considerada uma associação perigosa e desafiadora ao mesmo
tempo, pois demanda a criação de programas eficazes com o objetivo de reduzir o número
de óbitos e lesões, em vias públicas, causados por ela. Pechanski (2004, p. 16) descreveu
os prejuízos do uso de substância alcoólica realizado de forma problemática entre os
adolescentes, como já foi discutido no item 4 do capítulo 1.
Ao perguntar sobre o uso de bebida alcoólica aos estudantes de medicina
investigados, este estudo obteve 100% de respostas positivas. A tabela 5 mostra o tipo de
bebida mais ingerida por eles.
Tabela 5: Tipo de bebida alcoólica consumida pelos estudantes de medicina da
Universidade de Marília participantes da pesquisa, no ano de 2011.
Tipo de Bebida
Alcoólica Consumida
Frequência Percentual
(%)
Cerveja 252 55,26
Destilados 157 34,43
Vinho 32 7,01
Ices 15 3,30
Total 456 100,00
A categoria “cerveja” incluía cerveja e chope. Bebidas “ice” são destilados
misturados com refrigerantes ou sucos industrializados. “Destilados” incluem cachaça,
uísque, vodka, conhaque, rum. Neste estudo a cerveja foi o tipo de bebida alcoólica mais
consumida (55,26%), seguida das bebidas destiladas, uísque e vodka, isto é, 34,43%.
A tabela 6 mostra os dados encontrados nesta pesquisa, quanto à distribuição do
tipo de bebida consumida segundo, o gênero.
Tabela 6: Tipo de bebida alcoólica consumida pelos estudantes de medicina da
Universidade de Marília, segundo o gênero, no ano de 2011.
Feminino Masculino
Tipo de Bebida
Alcoólica Consumida
Frequência Percentual Frequência Percentual Total
Cerveja 163 64,68% 89 35,32% 252
Vodka 73 65,17% 39 34,83% 112
Vinho 23 71,87% 09 28,13% 32
Ices 12 80,00% 03 20,00% 15
Uísque 34 75,55% 11 24,45% 45
Total 305 66,88% 151 33,12% 456
As mulheres são as maiores consumidoras de todos os tipos de bebida alcoólica,
conforme pode ser observado nesta investigação na Universidade de Marília. Este estudo
contrapôs os achados de Paduani et. al. (2008, p. 68) e de Wagner e Andrade (2008, p. 51),
em que o consumo é maior entre os homens, enquanto os resultados encontrados por
Pereira et.al. (2008, p. 190) não mostraram diferenças entre os gêneros para o consumo de
substância alcoólica, dados também discutidos no item 4 do capítulo 1.
A tabela 7 apresenta o tipo de bebida alcoólica mais utilizada em relação à faixa
etária.
Tabela 7: Tipo de bebida alcoólica consumida pelos estudantes de medicina da
Universidade de Marília, segundo a faixa etária, no ano de 2011.
Tipo de Bebida
Alcoólica Consumida
Cerveja Vodka Vinho Ices Uísque Total
Faixa Etária
N % N % N % N % N % N %
17 a 20 anos
57 45,23 46 30,50 07 5,55 0 0 16 12,70 126 27,63
21 a 24 anos
128 52,90 50 20,66 22 9,10 15 6,20 27 11,15 242 53,07
25 a 28 anos
49 80,32 08 13,11 02 3,27 0 0 02 3,27 61 13,37
29 a 32 anos
12 66,66 05 27,77 01 5,55 0 0 0 0 18 3,94
33 a 41 anos
06 66,66 03 33,33 0 0 0 0 0 0 09 1,98
Total 252 55,26 112 24,56 32 7,01 15 3,29 45 9,86 456 100
A faixa etária entre 21 e 24 anos de idade incluiu o maior número de sujeitos desta
investigação (53,07%) e a cerveja continuou sendo o produto mais ingerido.
Durante a coleta de dados, 312 (68,43%) estudantes investigados mencionaram que
era frequente a mistura de substâncias com o objetivo de embriagar-se ou atingir as
sensações “positivas” provocadas pelo álcool com maior rapidez. Dos 456 jovens, 144
(31,57%) relataram que bebiam apenas um tipo de substância, como mostra a tabela 8.
Tabela 8: Modo como bebem os estudantes de medicina da Universidade de Marília,
participantes da pesquisa, no ano de 2011.
Modo como bebem Frequência Percentual
(%)
Apenas um tipo de bebida 144 31,57
Mistura de Substâncias 312 68,43
Total 456 100,00
Dos 144 jovens estudantes que relataram beber apenas um tipo de substância
alcoólica, 90 (62,50%) bebiam apenas cerveja, 37 (25,70%) vodka, nove (6,25) ices, cinco
(3,47%) uísque e três (2,08%) usavam o vinho como única substância alcoólica. A tabela 9
mostra os tipos de substâncias misturadas pelos jovens universitários pesquisados.
Tabela 9: Misturas de bebidas alcoólicas consumida pelos estudantes de medicina da
Universidade de Marília participantes da pesquisa, no ano de 2011.
Misturas de bebidas alcoólicas Consumida
Frequência Percentual
(%)
Cerveja + Vodka 200 64,10
Cerveja + Vodka + uísque 51 16,34
Cerveja + Vodka + Vinho + uísque 26 8,34
Cerveja + Vinho + uísque 26 8,34
Outras misturas 9 2,88
Total 312 100,00
A tabela mostra que, dos 456 investigados, 312 (68,42%) tinham o hábito de ingerir
substâncias alcoólicas misturadas com, pelo menos, dois tipos distintos. Não há
potencialização das substâncias destiladas associadas às fermentadas; o que conduz a uma
maior ou menor consequência é a quantidade ingerida e as particularidades do organismo
das pessoas, isto é, o peso, a idade, a rapidez com que consome e o fato de ter-se
alimentado ou não.
O desejo de embriagar-se rapidamente detectado nesta investigação, corrobora os
estudos de Oliveira, Soibelmann e Rigoni (2007, p. 429) e de Pinton (2005, p. 93), quando
descrevem a quantidade de estudantes que já “tomaram um porre”, pelo menos uma vez na
vida, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e na Faculdade de
Medicina de São José do Rio Preto/SP, respectivamente. Esses estudos estão descritos mais
detalhadamente no item 4 do capítulo 1.
Buscando conhecer o efeito da frase “se beber não dirija” na decisão dos
estudantes de medicina da Universidade de Marília em beber e não dirigir, foi
imprescindível perguntar a eles se beberam e dirigiram. Os dados estão expostos na tabela
10.
Tabela 10: Estudantes de medicina da Universidade de Marília que beberam e dirigiram
um veículo a motor, pesquisados no ano de 2011.
Bebeu e Dirigiu
Frequência Percentual
(%)
Sim 347 76,10
Não 109 23,90
Total 456 100,00
Num total de 456 entrevistados, encontraram-se 347 estudantes (76,1%) com
respostas positivas para beber e dirigir em seguida.
Outro ponto importante era conhecer quantos eram os estudantes que dirigem após
beber de acordo com o ao gênero e a idade. As tabelas 11 e 12 demonstram esses dados.
Tabela 11: Estudantes de medicina da Universidade de Marília que beberam e dirigiram
um veículo a motor, segundo o gênero, pesquisados no ano de 2011.
Feminino Masculino
Bebeu e Dirigiu
Frequência Percentual Frequência Percentual Total
Sim 203 58,50% 144 41,50% 347
Não 86 78,90% 23 21,10% 109
Total 289 63,37% 167 36,63% 456
Tabela 12: Estudantes de medicina da Universidade de Marília que beberam e dirigiram
um veículo a motor, segundo a faixa etária, pesquisados no ano de 2011.
Faixa Etária
17 a 20 anos
21 a 24 anos
25 a 28 anos
29 a 32 anos
33 a 41 anos
Bebeu e Dirigiu
N % N % N % N % N % N
Sim 70 20,17 184 53,02 67 19,30 21 6,05 05 1,46 347
Não 38 34,86 45 41,28 19 17,43 05 4,58 02 1,85 109
Total 108 23,64 229 50,22 86 18,86 26 5,70 07 1,53 456
Dos 456 estudantes investigados, 347 (76,10%) disseram que dirigiram um veículo
a motor depois de ingerir bebida alcoólica. Daqueles que declararam ter bebido e dirigido,
58,50% eram do gênero feminino e 41,50% masculino. Estes dados superam aqueles
encontrados por Pinton (2005, p. 93) em São José do Rio Preto/SP. Estes dados também
contrariam o estudo de Pillon et al. (2005, p. 1169), que descreveram a relação existente
entre uso de drogas e comportamentos de risco na Universidade de São Paulo de Ribeirão
Preto, detalhados no item 4 do capitulo 1, em que se encontram também os resultados do I
Levantamento Nacional sobre Padrões de Consumo de Álcool, coordenado por Laranjeira
et. al. (2007, p. 58).
Enfim, beber e dirigir é uma associação mais comum do que se pode imaginar e
mais perigosa do que se pode considerar. Neste contexto, autores como Beber (2007, p.
10), Pechanski (2004, p. 16) e Pinton (2005, p. 93) descreveram em seus trabalhos as
consequências do álcool, que superam a direção perigosa, interferindo na elucidação
diagnóstica, agravando as doenças pré existentes e dificultando a resposta à terapia
adotada, com maior detalhamento no capítulo 1 deste trabalho.
Diante dos resultados acima descritos, será aberta a discussão, na próxima
categoria, em torno da frase “se beber não dirija” e sua relação com os jovens
universitários do curso de Medicina pesquisados.
Categoria 3: A frase “se beber não dirija”.
Perguntou-se aos estudantes de medicina da Universidade de Marília se conheciam
a frase “se beber não dirija” e dos 456 investigados, todos disseram conhecê-la, por meio
das mais variadas formas de mídia, sendo a maioria, pela televisão, rádio e outdoor. É lei e
está por todas as partes, divulgadas em todas as formas de mídia: televisiva, visual,
auditiva, escrita, internet, outdoor, cardápios dos restaurantes, entre outros.
Neste estudo, perguntou-se aos estudantes de medicina que responderam ao
questionário que efeito a frase “se beber não dirija” produziu. Os sujeitos investigados
responderam conforme sua percepção e as respostas foram representadas na tabela 13.
Tabela 13: O efeito da frase “se beber não dirija” nos estudantes de medicina da
Universidade de Marília, pesquisados no ano de 2011.
Tipo de interpretação e comportamento
Frequência Percentual
(%)
“Não dirigir após beber” 81 17,76
“Se beber evite dirigir” 197 43,20
“Se beber dirija com mais cuidado” 78 17,10
Não sabe 91 19,96
Não produz impacto 09 1,98
Total 456 100,00
Nota-se que em apenas 17,76% dos investigados a frase “se beber não dirija”
causa o efeito desejado, isto é, não dirigir após ingerir bebida alcoólica. O fato de
mencionarem a necessidade de evitar dirigir ou dirigir com maior cautela após beber
significa que, no entendimento dos investigados, é permitido dirigir após a ingestão de
bebida alcoólica, o que foi respondido por 275 (60,30%) estudantes. Nota-se que apenas
17,76% dos estudantes investigados percebem o real sentido da frase “se beber não
dirija”, isto é, a proibição da ação de dirigir alcoolizado, corroborando as respostas de
76,10% dos estudantes que responderam ter conduzido um veículo sob efeito de substância
alcoólica.
Essa reflexão sugere a próxima categoria que trata sobre a influência dos colegas
na decisão de dirigir um veículo após a ingestão de bebida alcoólica.
Categoria 4: Influência dos amigos na decisão de dirigir após ingerir bebida alcoólica
Sobre a decisão de beber e dirigir em seguida, perguntou-se aos sujeitos desta
pesquisa se os amigos os influenciavam nesta atitude. A tabela 14 mostra os resultados
obtidos, a partir da aplicação da Escala de Likert, que é uma escala psicométrica das mais
conhecidas e utilizadas em pesquisa quantitativa, já que se pretende registrar o nível de
concordância ou de discordância com uma declaração dada.
Primeiramente, ao se perguntar se os amigos influenciavam a decisão de dirigir
após beber substância alcoólica, obtiveram-se as seguintes respostas:
Tabela 14: A influência dos amigos na decisão de dirigir um veículo a motor após ingerir
bebida alcoólica entre os estudantes de medicina da Universidade de Marília, pesquisados
no ano de 2011.
Influência dos amigos Frequência Percentual
Nunca 175 38,37
Raramente 79 17,32
Algumas Vezes 132 28,95
Frequentemente 44 9,65
Sempre 26 5,71
Total 456 63,37%
Não se trata de focar a atenção nas frequências, mas na importância da influência
dos amigos nas decisões dos estudantes investigados, pois, se somados forem os dados que
admitem, ainda que raramente, esta possibilidade, tem-se que 281 (61,62%) destes jovens
admitem sofrer algum tipo de influência na decisão de dirigir após ingerir bebida alcoólica.
A tabela 15 demonstra a distribuição por gênero da influência dos amigos na
decisão de dirigir após ingerir bebida alcoólica.
Tabela 15: A influência dos amigos na decisão de dirigir um veículo a motor após ingerir
bebida alcoólica entre os estudantes de medicina da Universidade de Marília, segundo o
gênero, pesquisados no ano de 2011.
Feminino Masculino
Influência dos amigos
Frequência Percentual Frequência Percentual Total
Nunca 104 59,42 71 40,58 175
Raramente 37 46,83 42 53,17 79
Algumas vezes 101 76,51 31 23,49 132
Frequentemente 30 68,18 14 31,82 44
Sempre 17 65,38 09 34,62 26
Total 289 63,37 167 36,63 456
Neste caso, admitindo que, ainda que raramente, os estudantes universitários
entrevistados expressem a influência dos amigos na decisão de dirigir após ingerir bebida
alcoólica, obteve-se o resultado de 64,01% para a resposta positiva entre as mulheres e
57,48% entre os homens. Portanto, pode-se concluir que o gênero feminino é mais
influenciável nesta decisão que pode ser fatal.
Pinton (2005, p. 93) investigou onde e com quem os jovens usam a bebida
alcoólica, Amaral (2010, p. 30) observou a influência dos amigos e Vieira et al. (2007, p.
400) analisaram a percepção da disponibilidade e da facilidade de acesso às bebidas
alcoólicas, e seus resultados estão descritos detalhadamente no item 4 do capítulo 1.
Investigou-se ainda a faixa etária mais susceptível à influência dos amigos na ação
de dirigir após ingerir substâncias alcoólicas, como mostra a tabela 16.
Tabela 16: A influência dos amigos na decisão de dirigir um veículo a motor após ingerir
bebida alcoólica entre os estudantes de medicina da Universidade de Marília, considerando
a faixa etária, no ano de 2011.
Faixa Etária 17 a 20
anos 21 a 24
anos 25 a 28
anos 29 a 32
anos 33 a 41
anos
Influência dos amigos
N % N % N % N % N % N
Nunca 57 50,44 83 37,05 24 27,90 08 30,76 03 42,85 175
Raramente 16 14,16 43 19,20 20 23,25 03 11,53 02 28,57 84
Algumas Vezes 28 24,77 74 33,03 24 27,90 10 38,46 01 14,28 137
Frequentemente 09 7,96 23 10,26 10 11,62 02 7,70 00 - 44
Sempre 03 2,65 01 0,44 08 9,30 03 11,53 01 14,28 16
Total 113 23,68 224 50,22 86 18,86 26 5,70 07 1,53 456
Do total de 456 investigados, 175 (38,37%) disseram nunca serem influenciados
pelos amigos na decisão de beber e dirigir em seguida, porém é instigante observar que,
com a evolução da idade, maior é a possibilidade de influência. Considerando a influência
recebida entre raramente e sempre, encontraram-se 281 estudantes com este relato, isto é,
61,62%, com maior frequência na faixa etária entre 21 a 24 anos.
Categoria 5: Tipo de estratégia capaz de causar a ação de não dirigir após ingerir
bebida alcoólica sob a óptica dos sujeitos
Esta investigação questionou aos sujeitos que tipo de estratégia causaria a ação de
não dirigir após ingerir bebida alcoólica. A tabela 17 mostra estas respostas.
Tabela 17: Tipo de estratégia capaz de causar a ação de não dirigir após ingerir bebida
alcoólica sob a óptica dos estudantes de medicina da Universidade de Marília, pesquisados
no ano de 2011.
Estratégia Frequência Percentual
A propaganda na TV não é estratégia adequada
36 7,89
Mostrar acidentes impactantes (trágicos)
148 32,45
Mostrar depoimentos de consequências na vida das pessoas acidentadas
206 45,17
Mostrar consequências na vida das famílias
63 13,82
Outros 03 0,67
Total 456 100%
Os estudantes investigados nesta pesquisa apontam como principal estratégia da
mídia para mobilizá-los na decisão de não dirigir após beber substância alcoólica a
veiculação de depoimentos das consequências dos acidentes de trânsito envolvendo bebida
alcoólica na vida das vítimas, opinião apoiada por 45,17%. Outra estratégia mencionada
pelos jovens questionados foi a exposição de acidentes impactantes (trágicos), medida
apoiada por 32,45%. No item 4 do capítulo 1, estão expostos os resultados de estratégias
elencadas por Laranjeira et. al. (2007, p. 68) ao coordenar o I Levantamento Nacional
sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira.
Considerações finais
Muitos são os setores da sociedade que estão mobilizados para controlar as doenças
e as mortes causadas pelo uso abusivo de substâncias alcoólicas. Investigações produzem
publicações a todo o momento, atualizando os dados sobre mortes no trânsito envolvendo
jovens alcoolizados. O que se conhece é a ponta de um iceberg, pois o Brasil é um dos
países mais perigosos do mundo no tocante aos acidentes de trânsito.
A frota de veículos cresceu de forma descompassada à infraestrutura das vias
públicas e à educação dos condutores de veículos, no sentido de dirigir com
comportamento responsável, cidadão e solidário.
Os efeitos do álcool e sua inter-relação com os acidentes de trânsito foram
amplamente apresentados, denunciando a catástrofe social que explicitam. A busca por
estratégias de controle desse processo desencadeado pelo uso de bebida alcoólica e a ação
de dirigir em seguida encontrou na comunicação uma grande aliada. Esta é uma prática
antiga em nossos meios, pois já no início do século XX buscaram-se na comunicação
ferramentas para o controle da febre amarela no Rio de Janeiro.
Com o objetivo de controlar a escalada das mortes produzidas pelos acidentes de
trânsito e sua estreita relação com o uso abusivo de bebidas alcoólicas, introduziu-se a
frase “se beber não dirija” como uma “cláusula de advertência”.
A sociedade passou então a assistir a um duelo entre a propaganda
comercial e a propaganda em saúde. De um lado, as mensagens apelativas
objetivando o maior consumo de bebidas alcoólicas, principalmente o da
cerveja. Do outro lado, os tímidos incentivos ao controle do uso do álcool, no
caso de dirigir em seguida. Se por um lado o consumo e os lucros estão em plena
ascensão, por outro lado o controle dos acidentes de trânsito envolvendo bebida
alcoólica tem falhado, pois o número de acidentes fatais não para de crescer,
denunciando o mau êxito da estratégia da frase “se beber não dirija” na mídia.
Esta pesquisa descritiva e quantitativa que investigou 456 estudantes do
curso de medicina da Universidade de Marília, constatou-se que que 100% dos
investigados usam bebida alcoólica e que a substância mais ingerida é cerveja,
seguida da vodka. As mulheres foram maioria na população estudada e também
as principais consumidoras de substância alcoólica, isto é, 66,88%, contra
33,12% de homens. A faixa etária predominante foi de 21 a 24 anos,
representando 53,07% dos estudantes, numa variação de 17 a 41 anos de idade.
Encontrou-se ainda, o relato de beber e dirigir entre 76,10%, dos estudantes, dos
quais 53,01% tinham idades entre 21 a 24 anos.
Os estudantes, sujeitos desta investigação, apresentaram um comportamento
honesto ao responder ao questionário, quando 76,10% declaram que dirigiram após beber e
consonância com aqueles apenas 17,76% que entendem o valor proibitivo da frase “se
beber não dirija”, isto é, não dirigir após beber.
Este estudo mostrou ainda outro fato a ser considerado: a influência dos amigos na
decisão de beber e dirigir em seguida, que foi de 61,62%.
As evidências científicas das últimas décadas permitem concluir a extensão dos
danos provocados pelo uso de bebida alcoólica e o ato de dirigir em seguida. São
consequências destrutivas para os indivíduos, na sua maioria jovens, para as famílias,além
de provocar atraso no desenvolvimento sociocultural e econômico do país.
Este estudo oferece um conjunto de conhecimento produzido a partir da visão dos
jovens investigados sobre a associação do álcool com a ação de dirigir em seguida e o
pouco efeito da frase “se beber não dirija”, na decisão de não dirigir após ingerir bebida
alcoólica.
Os cenários responsáveis pela elaboração, implementação e fiscalização de políticas
públicas que contribuam para reduzir os danos provocados pela bebida devem levar em
consideração a maior articulação com a realidade aqui revelada, em que se expressa a
realidade de uma população de jovens que, na sua maioria, dirige após ingerir bebida
alcoólica.
Pesquisas instantâneas são realizadas na mídia televisiva com o objetivo de
conhecer a opinião da população sobre estratégias que poderiam minimizar estes danos
aqui discutidos. As respostas variam desde processos de educação com início na infância e
com base nos princípios de cidadania, até a instalação de regras e normas mais rígidas e
punitivas. Não é possível optar por nenhuma estratégia sem antes conhecer e analisar os
reais motivos que levam jovens ao comportamento desafiador de beber e dirigir em
seguida.
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WOLF, M. Teorias da comunicação: mass media: contextos e paradigmas, novas tendências,
efeitos a longo prazo, o newsmaking. 5. ed. Lisboa: Editorial Presença. 1999. p. 24.
Apêndice A:
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Título: “Se beber, não dirija”: o efeito da frase na decisão do estudante de medicina da
Universidade de Marília, em não dirigir após ingerir bebida alcoólica.
Você está sendo convidado/a para participar como voluntário desta pesquisa que tem como título
“Se beber, não dirija”: o efeito da frase na decisão do estudante de medicina da Universidade
de Marília, em não dirigir após ingerir bebida alcoólica, onde o objetivo é identificar o efeito da
frase - “se beber não dirija” – na decisão de não dirigir após ingerir bebida alcoólica. Trata-se de
um estudo quantitativo descritivo, cujo método de coleta de dados será a aplicação de um
questionário. Terá o direito de receber esclarecimento de qualquer dúvida relacionada à
pesquisa; terá a liberdade de participar ou não do estudo e de retirar-se a qualquer momento;
sem que isso implique no atendimento atual e futuro na Instituição, a segurança de não ser
identificado e ser mantido o caráter confidencial da informação, poder conhecer os resultados do
estudo quando solicitado e, também, que os dados poderão ser divulgados em eventos de
comunicação e saúde ou publicações garantindo sempre seu anonimato.
Marília, ____ de ________________ de 2011.
____________________________ __________________________
__________________________________
Assinatura do Participante
Prof. Dr. Roberto Reis Oliveira
Docente do curso de Pós Graduação em
Comunicação da Universidade de Marília
Orientador da Pesquisa
Arlete Aparecida Marçal
RG: 17.662.461 SSP- SP
Rua João Bonadio, 401 Vera Cruz-SP
Fone: (14) 8146.7760
E-mail: [email protected]
Mestranda em Comunicação - Unimar
Apêndice B:
Instrumento de Coleta de Dados
Identificação:
Idade:____anos Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino
Religião: ( ) Católica ( ) Espírita ( ) Evangélico ( ) Ateu ( ) Acredita em Deus, mas não
professa nenhuma religião ( ) Outros
Renda Familiar em Reais: R$______________
- Já bebeu e dirigiu um veículo a motor em seguida? ( ) Sim ( ) Não
- Se sim, que tipo de bebida havia ingerido? ( ) Cerveja ( ) Vinho ( ) Whisky ( )
Vodka ( ) Ices ( ) Outros: _________________
- Conhece a frase: “se beber não dirija”?
( ) Sim ( ) Não
- Onde você viu ou ouviu esta frase?
( ) TV ( ) Rádio ( ) Internet ( ) Rótulo da garrafa ( ) Outdoor
Outros: __________________________________________________________________
- Esta frase produz em você algum efeito? ( ) Sim ( ) Não
- Se sim, qual?
( ) Não dirigir em hipótese alguma após beber
( ) Se beber evite dirigir
( ) Se beber, dirija com mais cuidado
( ) Não produz nenhum tipo de impacto
( ) Não sei
( ) Recuso-me a responder
- Seus amigos têm influência na sua decisão de dirigir após ingerir bebida alcoólica?
( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Algumas Vezes ( ) Freqüentemente ( ) Sempre
- Em sua opinião, que tipo de estratégia seria capaz de produzir em você a ação de não dirigir
após ingerir bebida alcoólica?
( ) A propaganda na mídia televisiva não é uma estratégia
( ) Deveria mostrar acidentes impactantes (trágicos)
( ) Deveria mostrar (com depoimentos) as conseqüências nas vidas das vítimas
( ) Deveria mostrar as conseqüências nas vidas das famílias
( ) Outros: _______________________________________________________________.
Obrigada