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1 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL Aplicação do método de captura-recaptura de larvas fotoidentificadas para avaliação de parâmetros demográficos: comparação entre anura e caudata Joana Cristina Cardoso Teixeira Ribeiro MESTRADO EM BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO 2009

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Aplicação do método de captura-recaptura de larvas fotoidentificadas para avaliação de parâmetros demográficos:

comparação entre anura e caudata

Joana Cristina Cardoso Teixeira Ribeiro

MESTRADO EM BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO

2009

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Aplicação do método de captura-recaptura de larvas fotoidentificadas para avaliação de parâmetros demográficos:

comparação entre anura e caudata

Joana Cristina Cardoso Teixeira Ribeiro

Dissertação orientada por:

Professor Doutor Rui Rebelo

Mestrado em Biologia da Conservação

2009

3

RESUMO

A conservação dos anfíbios passa impreterivelmente pela melhor

compreensão da sua biologia, demografia e ecologia. Frequentemente o estudo da

distribuição e dinâmica das populações de anfíbios envolve a utilização de métodos

de marcação individual artificial tanto em adultos como nas formas larvares.

Contudo, as técnicas mais utilizadas podem ter consequências negativas sobre os

indivíduos e, por conseguinte, sobre as populações - razão que leva à crescente

popularização de técnicas não-invasivas, como a fotoidentificação.

Neste trabalho recorreu-se pela primeira vez à fotoidentificação de larvas de

anura (Alytes cisternasii) e caudata (Salamandra salamandra) distribuídas ao longo

de um sistema de pegos de ribeira estimando-se com sucesso vários parâmetros

demográficos. De acordo com os dados obtidos, a probabilidade de sobrevivência

depende da quantidade de manta morta e da profundidade média do pego, atingindo

valores inesperadamente elevados. A probabilidade de sobrevivência das larvas de S.

salamandra variou mais entre pegos e mostrou-se dependente do grau de

ensombramento e da vegetação aquática do pego. Adicionalmente verificou-se que as

elevadas densidades não afectaram a probabilidade de sobrevivência e que as larvas

conseguem desenvolver-se em habitats lotados. Os resultados obtidos sugerem que as

larvas de A. cisternasii são muito resistentes a ataques predatórios, ao contrário das

larvas de S. salamandra, cuja morfologia as torna mais susceptível a sofrer ataques

letais.

A captura-recaptura de larvas de anfíbios fotoidentificadas assume-se como

um método viável e preferível para obter estimativas fiáveis de parâmetros

demográficos quando os indivíduos apresentam padrões distintos.

Palavras-chave: Alytes cisternasii, captura-recaptura, fotoidentificação, probabilidade

de sobrevivência, Salamandra salamandra, taxa de crescimento.

4

SUMMARY

Amphibian conservation is highly dependent on a better understanding of

these animals’ biology, demography and ecology. Often, studies on distribution and

population dynamics of amphibians require the use of artificial marking methods on

individuals. However, even the most popular marking techniques are nowadays

known for having negative effects on individuals and, consequently, on amphibian

populations – leading to the increasing search for non-invasive marking techniques,

such as photoidentification.

We successfully applied a mark-recapture method on Alytes cisternasii and

Salamandra salamandra larvae living along a system of stream pools and obtained

reliable estimates of various demographic parameters. Our results suggest that A.

cisternasii larvae’s survival is unexpectedly high and influenced by the pond’s

amount of leaf litter and average depth. S. salamandra larvae’s survival is less stable

and influenced by the pond’s shading and amount of aquatic vegetation. We also

proved that high densities do not seem to influence survival for either species,

showing that larvae can develop on crowded ponds. In addition, A. cisternasii larvae

are highly resilient to predator attacks, unlike S. salamandra larvae that, as a result of

their morphology, are more likely to die if preyed upon.

Mark-recapture of photoidentified amphibian larvae should be the chosen

method to obtain reliable estimates of demographic parameters when the individuals

display distinctive, unique patterns.

Keywords: Alytes cisternasii, growth rate, larvae, mark-recapture,

photoidentification, Salamandra salamandra, survival.

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família sem a qual não seria ninguém, em especial à minha mãe e à minha avó que são as mulheres mais incríveis deste planeta.

Claro, ao Prof. Rui Rebelo, mastermind da ideia central deste trabalho.

Aos amigos do costume, ao Jójó, que tanto me ajudou e ajuda, ao Daniel, que está sempre lá para o melhor e para o pior, ao Porquinho, à Silvie e ao resto da “galera do mal”, pelo companheirismo, pela galhofa e toda a alegria!

6

ÍNDICE 1. Introdução

1.1. Importância ecológica dos anfíbios……………………………………….7 1.2. Estudos de captura-recaptura e a conservação de populações selvagens....7 1.2.1. O modelo Cormack-Jolly-Seber……….………………………..............9 1.2.2. O modelo Jolly-Seber.............................................................................10

1.3. O Programa MARK..............................................................................................................12

1.4. Marcação individual através de fotoidentificação...............................................................................................13 1.5. Factores……………………………………..…....……....…..…..............14

2. Materiais e métodos 2.1. Espécies em estudo……………………………………………......…......17 2.1.1. O Sapo-parteiro-ibérico……………………………….........….............17 2.1.2. A Salamandra-comum………………………………………................18 2.2. Área de estudo…….......……………………………………………........19 2.3. Datas e métodos de amostragem………………………………….….......20 2.4. Caracterização dos pegos……………………………………..…….........20 2.5. Fotoidentificação das larvas………………………………………….......21 2.6. Validação do método de identificação com o I3S……………………......22 2.7. Determinação das taxas de crescimento das larvas…………………........23 2.8. Avaliação dos indícios de predação……….…………………………......23

2.9. Determinação dos estádios de desenvolvimento larvar….……………......23 2.10. Modelação CR………..……………………………….………………....23 2.11. Outras análises estatísticas…..………………………….……………......26

3. Resultados 3.1. Caracterização dos pegos………………………………………….…......27 3.2. Capturas…………………………………………………………….........29 3.3. Validação do método de identificação com o I3S…………………..........30 3.4. Recapturas……………………………………………………………......32 3.5. Modelação CR…………………………………………………………....33

3.5.1. Alytes cisternasii………………………………………...…….…...33 3.5.1.1. Validação dos pressupostos dos modelos CR…………...…34 3.5.1.2. Modelos………………………………………………...…..34 3.5.1.3. Estimativas dos parâmetros demográficos……………...…..35

3.5.1.3.1. Probabilidades de sobrevivência………………….......35 3.5.1.3.2. Probabilidade de captura………………………….......38 3.5.1.3.3. Probabilidades de entrada e “nascimentos”……….......39 3.5.1.3.4. Abundâncias e densidades (total e por ocasião)…....…41

3.5.1.4. Indícios de predação…………………………………...…....44 3.5.1.5. Taxas de crescimento…………………………………..........46 3.5.1.6. Estádios de desenvolvimento…………………………..........46

3.5.2. Salamandra salamandra……………………………………….....49 3.5.2.1. Validação dos pressupostos dos modelos CR……………49 3.5.2.2. Modelos………………………………………………….50

3.5.2.3. Estimativas dos parâmetros demográficos……………………….51 3.5.2.3.1. Probabilidades de sobrevivência…………………………..51 3.5.2.3.2. Probabilidade de captura…………………………………..53 3.5.2.3.3. Probabilidades de entrada e “nascimentos”………………..54

7

3.5.2.3.4. Abundâncias e densidades (total e por ocasião)…………...55 3.5.2.4. Indícios de predação……………………………………………...57 3.5.2.5. Taxas de crescimento…………………………………………….58

3.6. Movimentos entre pegos……………………………………………………58 4. Discussão….……………………………………………………………………..60 5. Referências Bibliográficas……………………………………………………….60

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1. NTRODUÇÃO

1.1. Importância ecológica dos anfíbios

Foi em 1989, no I Congresso Mundial de Herpetologia, que a comunidade

científica reconheceu que as populações de anfíbios estavam em declínio, a nível

global [1]. Desde então, têm sido avançadas várias causas para este fenómeno,

nomeadamente o aumento da radiação ultravioleta [2], as alterações climáticas [3], a

degradação de habitats [4], as epidemias, a poluição [4], e mais frequentemente, a

interacção entre alguns destes factores [1].

A importância do declínio dos anfíbios não se prende apenas com questões

éticas relacionadas com o valor intrínseco deste grupo taxonómico; prende-se

sobretudo com o papel importantíssimo que desempenham na dinâmica trófica dos

ecossistemas e com o seu valor como bioindicadores de stress ambiental [1]. Assim,

a urgência da conservação destes vertebrados passa pela promoção de estudos que

esclareçam a importância das variáveis bióticas e abióticas na dinâmica das

populações naturais [5].

Uma vez que estes estudos envolvem frequentemente a marcação de formas

larvares e que esta pode ser particularmente complexa, as investigações nesta área

são geralmente limitadas a ambientes laboratoriais cuja simplicidade intrínseca não

permite que reproduzam fielmente as tendências das populações nos meios naturais

[6].

Para travar o declínio dos anfíbios há que procurar estudar as populações in

situ, desenvolvendo e aperfeiçoando os métodos e delineamentos experimentais

necessários.

1.2. Estudos de captura-recaptura (CR) e a conservação de populações

selvagens

A monitorização de populações biológicas tem recebido cada vez mais atenção

em muitos países [7]. O recurso a indivíduos marcados e o desenvolvimento dos

métodos de delineamento e modelação de dados provenientes de estudos de captura-

recaptura (CR) constituem ferramentas muito importantes neste processo. A

obtenção de estimativas de abundância fiáveis é de extrema relevância para o estudo,

9

monitorização e conservação de populações selvagens em geral e de populações de

anfíbios em particular [8].

Apesar da compreensão da dinâmica de populações animais depender

frequentemente da análise de parâmetros biológicos, é virtualmente impossível obter

estimativas para a sobrevivência ou abundância directamente através do seguimento

de indivíduos até à sua morte [9]. Assim, a análise quantitativa de parâmetros

populacionais passa pelo delineamento de estudos CR, instrumentos-chave na

estimação de abundâncias e de diversos parâmetros demográficos como a

sobrevivência, recrutamento e dispersão [10; 11].

Durante a última década, o principal objectivo da análise de dados CR passou

da estimação da dimensão da população para a estimação da sobrevivência, por duas

razões: (1) a sobrevivência varia com características individuais (idade, sexo, massa

corporal, etc) e em função de variáveis bióticas e abióticas, logo, os testes de

hipóteses relacionados com a estimação de taxas de sobrevivência revelaram-se mais

importantes para o conhecimento da dinâmica das populações do que a estimação da

abundância [11]; e (2) os estimadores da sobrevivência são substancialmente mais

robustos a pequenos desvios ao cumprimento dos pressupostos do que os estimadores

da abundância [11].

A maior diferença entre as técnicas de CR e as técnicas tradicionais de

amostragem reside no facto dos animais serem amostrados diversas vezes, sendo

inicialmente capturados e marcados para posterior identificação em eventos de

amostragem subsequentes (recapturas) [9; 10].

Os modelos CR são frequentemente classificados em dois grupos: modelos

para populações “abertas” e modelos para populações “fechadas” [10; 11]. Os

modelos para populações fechadas consideram a não ocorrência de nascimentos,

mortes, emigração ou imigração [12; 13]. O principal objectivo da utilização destes

modelos é a estimação da dimensão da população. Os pressupostos associados a estes

modelos incluem a presunção de que durante todo o período de amostragem a

população se encontra demográfica e geograficamente fechada [10]. Assim, não é

permitida a inclusão (nascimentos ou emigração) ou remoção (morte ou imigração)

10

de qualquer indivíduo da população em estudo. Estes modelos admitem que a

probabilidade de sobrevivência é máxima e constante ao longo dos curtos intervalos

definidos no estudo [13; 14].

Os modelos para populações “abertas” admitem a ocorrência de nascimentos, mortes,

emigrações ou imigrações [12; 13]. Os animais são capturados em k ocasiões e

marcados de forma única. Após a ocasião inicial, tanto animais marcados como não

marcados são capturados. Nas sessões subsequentes, os indivíduos não marcados

capturados são nesse momento marcados e posteriormente libertados.

Os primeiros métodos de análise de dados CR baseavam-se em modelos ad hoc

para a sua interpretação. No entanto, no final da década de 1960 o método da

máxima verosimilhança (Maximum Likelihood), conhecido por produzir estimativas

com boas propriedades para uma vasta gama de condições [15], serviu como base

para o cálculo de estimadores de parâmetros e da variância e covariância de

delineamentos CR [16]. Este método tem duas etapas: (1) construção do modelo que

dá a probabilidade de observar os dados considerados em função dos parâmetros

desconhecidos de interesse - função da máxima verosimilhança; e (2) obtenção das

estimativas dos parâmetros desconhecidos que maximizam a função verosimilhança

[13].

Neste trabalho optou-se por recorrer a modelos CR “abertos”, nomeadamente

ao modelo Cormack-Jolly-Seber (CJS) e ao modelo Jolly–Seber (JS) por se

adaptarem à biologia das espécies em estudo e facultarem estimativas dos parâmetros

demográficos pretendidos.

1.2.1. O Modelo Cormack-Jolly-Seber

O modelo Cormack-Jolly-Seber (CJS), inicialmente desenvolvido por Cormack

[17] e posteriormente por Jolly [18] e Seber [19], constitui um dos modelos mais

usados em estudos CR [20]. Este modelo permite o cálculo das probabilidades de

captura (pi) e sobrevivência aparente (Φi) condicionais às libertações feitas ao longo

das ocasiões de marcação [13]

Como em todos os modelos CR “abertos”, o modelo CJS estima apenas a

sobrevivência aparente, i.e., 1- Φi representa quer animais que morreram quer

11

animais que deixaram a população (emigração) e em geral, Φi ≤ S, sendo S a

verdadeira probabilidade de sobrevivência [11; 14].

Tal como qualquer modelo CR, o modelo CJS exige o cumprimento de

alguns pressupostos para assegurar a validade das suas estimativas – muitos dos

quais são comuns a todos os modelos CR [13; 14; 16]:

1. Qualquer animal marcado presente na população no tempo de amostragem i

tem a mesma probabilidade pi de ser recapturado ou re-identificado;

2. Qualquer animal marcado presente na população imediatamente a seguir à

ocasião de amostragem i tem a mesma probabilidade Φi de sobreviver até à

ocasião de amostragem i+1;

3. As marcas não são perdidas nem se tornam indetectáveis e não afectam o

comportamento ou o destino dos animais marcados;

4. Os períodos de amostragem são instantâneos, ou seja, durante o processo de

amostragem não ocorrem nascimentos, mortes, imigração ou emigração, e os

animais recapturados são libertados imediatamente;

5. Toda a emigração da área é permanente;

6. O destino de cada animal no que diz respeito às probabilidades de captura e

sobrevivência é independente do destino de qualquer outro animal; e

7. Os parâmetros estimados para a população marcada podem ser aplicados à

população não marcada no estudo.

A realização de testes de ajustamento do modelo geral é de grande utilidade

na verificação do cumprimento de alguns destes pressupostos.

De todos os modelos para populações “abertas”, este é considerado o mais

robusto à presença de heterogeneidade nos dados [10].

1.2.2. O Modelo Jolly-Seber

Ao contrário do modelo CJS, no modelo JS [18; 19] os animais não marcados

capturados na ocasião i são considerados para o cálculo dos parâmetros. Os

parâmetros estimados incluem para além da sobrevivência aparente (Φi) e da

probabilidade de captura (pi), a dimensão da população (N) e o número de entradas

em cada ocasião (B) [14] Apesar de se tratar de um modelo biologicamente mais

12

apelativo, o facto de ter muitos a parâmetros a estimar, pode resultar em estimativas

pouco satisfatórias se os dados forem escassos [14].

À semelhança do modelo CJS, o modelo JS também exige o cumprimento de

alguns pressupostos para assegurar a validade da sua aplicação. Estes pressupostos

são semelhantes aos do modelo CJS à excepção do 2º - no modelo JS a assumpção da

homogeneidade de probabilidade de sobrevivência estende-se aos indivíduos não

marcados, possibilitando assim a estimação do parâmetro para todos os indivíduos

pertencentes à população [10; 14].

Todos os estimadores do modelo JS se baseiam na estimação da dimensão da

população marcada, Mi. Como estes modelos consideram a ocorrência de saídas da

população (morte e emigração), Mi tem obrigatoriamente de ser estimado. Assim,

equacionam-se as probabilidades de captura futuras de dois grupos distintos de

animais presentes na população na ocasião i: (1) os que já foram marcados mas não

foram capturados em i (Mj - mj); e (2) os que são capturados e libertados em i+1 (Ri).

Assumindo a homogeneidade de captura, as probabilidades de captura futuras destes

dois grupos devem ser equivalentes. Assim, sendo zi e ri os membros de Mi - mi e Ri

que são recapturados posteriormente, então

���� − �� ≈ ����

e

�� = �� + ������

para i = 2,…,k-1.

A estimativa para Φi obtém-se a partir da razão entre o número de indivíduos

marcados presentes em i+1 e os presentes em i,

�� = ������ + �� − ��

em que i = 1,…,k-2 e o termo Ri-mi representa o número de indivíduos recém-

marcados libertados em i. Assim, os indivíduos que eventualmente entrem na

13

população no intervalo referido e morram antes da sessão de captura i+1 são

excluídos. No entanto, este estimador não consegue discernir as origens das entradas;

considera conjuntamente entradas por nascimentos in-situ e por imigração.

A probabilidade de captura, pi, é estimada através da razão entre o número de

animais marcados capturados em i (mi) e o número de indivíduos marcados presentes

na população em i (Mi),

�̂� = ����

para i = 2,3,…,k-1.

A dimensão populacional na ocasião i pode-se determinar através das

proporções entre indivíduos marcados e não marcados e a totalidade de animais,

���� ≈ ����

ou seja,

�� = ������

ou

�� = ���̂�

em que ni representa o número de animais capturados em cada sessão de

amostragem, mi dos quais já se encontravam marcados.

A estimação dos nascimentos, Bi, é obtida através da diferença entre a

dimensão da população em i + 1 e i, considerando as perdas por morte natural (1-Φi)

e a probabilidade de captura (ni - Ri). Assim,

��� = ���� − ��[�� − (�� − ��)]

14

para i = 2,…,k-2. Os valores de Bi traduzem o valor líquido de entradas para a

população entre as sessões de amostragem i e i+1.

1.2.3. Programa MARK

O desenvolvimento e acessibilidade a software eficaz na análise de dados de

CR permitiram a proliferação de estudos que exploram esta metodologia [21].

Para a estimação das taxas de sobrevivência, a utilização dos modelos

lineares generalizados (GLM) como suporte ao estudo de modelos de CR para

populações abertas e a disponibilização de software flexível como os programas

SURGE [22] e MARK [13] popularizou esta poderosa metodologia [21]. O programa

MARK oferece ao utilizador um software para Windows de fácil compreensão,

permitindo a análise de uma vasta gama de modelos [12]. Actualmente, este

programa oferece 47 modelos CR, permitindo, através de um grande número de

análises, a obtenção das estimativas dos parâmetros e da sua precisão [23]. A análise

destes modelos inclui a construção de gráficos das estimativas dos parâmetros, a

construção de modelos a partir de matrizes de delineamento para estimar o conjunto

dos parâmetros de interesse biológico, a aplicação de medidas de correcção para a

dispersão dos dados, o uso de metodologias para avaliar o ajustamento do modelo e

as ferramentas necessárias para a selecção do melhor modelo [13].

Pelas razões supramencionadas optou-se por utilizar o programa MARK para

a análise dos dados de CR relativos às formas larvares de anfíbios.

1.3. Marcação individual através de fotoidentificação

Nos modelos CR as estimativas da probabilidade de sobrevivência são

relativamente robustas à heterogeneidade de captura. No entanto, se a forma de

marcação influenciar a sobrevivência ou se as marcas desaparecerem ou forem

difíceis de detectar, as estimativas de Φi podem ficar severamente subestimadas e a

abundância sobrestimada [24]. Assim, a escolha do método de marcação utilizado no

estudo CR assume-se como uma etapa muito importante, determinando

frequentemente a validade das estimativas produzidas [10; 13].

15

A utilização bem sucedida de características corporais naturais na

identificação de animais em ambientes terrestres e aquáticos para uma série de

espécies tornou a fotoidentificação uma técnica relativamente popular,

principalmente com o advento da fotografia digital [25]. Esta técnica envolve o

recurso a marcas físicas, padrões ou colorações para distinguir indivíduos

conspecíficos de forma não invasiva, duradoura, prática e económica [26]. As

principais condições para que este método seja fiável prendem-se com a qualidade,

resolução, nitidez, estabilidade do ângulo e luminosidade da fotografia [27].

Apesar de ser muito utilizado em várias espécies animais [26], a

fotoidentificação não é um método comummente usado em anfíbios. Os poucos

estudos CR com indivíduos fotoidentificados concentraram-se na fase juvenil/adulta

[28; 29] e não existe qualquer estudo que tenha aplicado a fotoidentificação a formas

larvares. A marcação de girinos passa tradicionalmente pela aplicação de técnicas de

marcação individual artificial como o fin clipping (Turner, 1960 in [9]), a imersão em

soluções corantes (Guttman & Creasey, 1973 in [9]) e a injecção de corantes

orgânicos nos girinos [30]. Infelizmente estes métodos de marcação são

frequentemente pouco praticáveis por razões económicas, logísticas, éticas ou ainda

por poderem afectar a probabilidade de recaptura ou sobrevivência dos indivíduos,

violando os pressupostos dos métodos CR [27]. Não existem estudos bem sucedidos

da ecologia das formas larvares de anfíbios que recorram à fotoidentificação porque

o tamanho das larvas, associado à ocorrência de alterações nos padrões

identificativos, reduz a aplicabilidade do método. No entanto, esta técnica pode vir a

assumir-se como uma alternativa viável e preferível para espécies cujos girinos

possuam marcas individuais e de fácil identificação.

A identificação manual de fotografias pode ser difícil, morosa e propensa a

erros de identificação [27], pelo que as metodologias mais fiáveis até ao momento

recorrem a programas de análise de imagem como o I3S. Este programa foi

desenvolvido inicialmente para identificar indivíduos de Carcharias taurus (tubarão-

touro) [31], recorrendo ao padrão de manchas que esta espécie apresenta e baseia-se

na análise de padrões de pontos. O I3S depende do utilizador para construir as bases a

partir das quais faz as comparações. No início, o utilizador aponta as características

mais distintas na foto do indivíduo desconhecido, procurando distinguir as marcas de

outro “ruído” que exista na fotografia (reflexos, sombras, partículas em suspensão).

16

De seguida, o software compara automaticamente a imagem em questão com todas

as outras imagens que se encontram na base de dados e faculta uma lista ordenada de

imagens. Por fim, o utilizador é responsável por verificar a validade das

correspondências entre a imagem desconhecida e uma imagem da base de dados,

inspeccionando visualmente as potenciais correspondências [32]. Esta abordagem

aumenta a precisão, reduz o tempo de processamento e permite analisar bases de

dados de dimensões consideráveis [31].

1.4. Factores que influenciam a sobrevivência e robustez das larvas de

anfíbios

A dinâmica das populações larvares de anfíbios é influenciada por variáveis

abióticas e bióticas que actuam em sinergia, produzindo as condições a que os

animais se encontram expostos [33]. A performance das formas larvares pode

influenciar os efectivos da espécie, pelo que a gestão e conservação dos anfíbios tem

de passar pelo estudo das fases iniciais do seu complexo desenvolvimento [34; 35;

36].

O hidroperíodo determina o tempo que as larvas dispõem para se desenvolver

até poderem subsistir em meio terrestre, bem como a densidade e natureza dos

competidores e predadores a que estão expostas [34; 37]. Peixes, insectos aquáticos e

tritões são os predadores de larvas e ovos de anfíbios mais importantes [38]. De uma

forma geral, o número de espécies predadoras e a abundância total de predadores

aumenta com o hidroperíodo porque, à excepção dos insectos aquáticos, que são

ubíquos, os predadores evitam meios aquáticos efémeros [33; 38].

Em zonas húmidas florestadas, a distribuição de vários invertebrados [39] e

anfíbios [35] está em geral relacionada com o coberto vegetal. A vegetação ripícola

influencia a disponibilidade alimentar, a quantidade de oxigénio dissolvido na água,

a incidência de luz solar e a temperatura da água [40]. De uma forma geral, zonas

húmidas ensombradas apresentam temperaturas baixas, baixas concentrações de

oxigénio dissolvido e menor produtividade primária do que zonas com menor grau

de ensombramento [41]. O coberto vegetal influencia também a entrada de material

vegetal no corpo de água, podendo alterar dramaticamente as cadeias tróficas

17

aquáticas. De uma forma geral, as zonas húmidas ensombradas recebem material

alóctone principalmente sob a forma de matéria vegetal senescente. Em zonas

húmidas menos ensombradas, os maiores níveis de energia solar permitem o

crescimento de vegetação herbácea, incluindo macrófitos submersos e emergentes

que dominam os substratos bênticos [41]. A natureza do material vegetal senescente

que entra no corpo de água pode igualmente influenciar as cadeias tróficas aquáticas

[42]. Pegos com manta morta de origem herbácea podem poduzir uma produtividade

primária mais elevada e metamórficos mais precoces e robustos do que pegos com

manta morta lenhosa, tendência que resulta da maior quantidade e/ou qualidade de

recursos alimentares para as larvas, tendência que resulta da maior quantidade e/ou

qualidade de recursos alimentares para as larvas [40; 41]. Material herbáceo

decompõe-se a um ritmo mais rápido do que material lenhoso em sistemas aquáticos

[43], aumentando a disponibilidade de nutrientes e facilitando o crescimento

microbiano. Por outro lado, os ácidos húmicos e taninos libertados na água por

matéria lenhosa senescente atenuam a radiação fotossinteticamente activa e afectam

a produtividade do sistema e consequentemente da performance larvar [40; 41]. A

vegetação aquática aumenta a complexidade estrutural do habitat e reduz a

frequência de contactos entre predadores e presas, podendo fornecer alguma

protecção aos girinos (Luckinbill, 1973 in [44]).

As dimensões e forma da massa de água são também importantes para o

sucesso reprodutor dos anfíbios porque influenciam o hidroperíodo, os micro-

habitats disponíveis para as larvas e ainda a complexidade do habitat [38; 45].

A densidade larvar pode ter uma influência indirecta na sobrevivência das

larvas através da diminuição da disponibilidade de recursos alimentares do aumento

da pressão canibalista em algumas espécies, podendo resultar na diminuição da taxa

de desenvolvimento larvar, diminuindo também a probabilidade de completarem a

metamorfose [37; 46; 47].

A sobrevivência e robustez dos indivíduos recém-metamorfoseados pode ter

consequências para a população adulta. Vários estudos [36; 48; 49] indicam que a

sobrevivência dos juvenis é maior para indivíduos que metamorfoseiam mais cedo ou

maiores. Este efeito pode simultaneamente reduzir directamente a mortalidade no

primeiro ano de vida e antecipar a idade da primeira reprodução [48].

18

As alterações na sobrevivência e performance de larvas de anfíbios têm

potencial para induzir cascadas de alterações nas comunidades das zonas húmidas.

Os anfíbios são consumidores abundantes nestes ecossistemas e, no caso das

salamandras, são predadores de topo [50]. Os recursos consumidos pelas larvas dos

anfíbios em zonas húmidas são transferidos para os habitats terrestres depois da

metamorfose [51]. Assim, diferenças na sobrevivência e robustez das larvas afectam

directamente a biomassa que entra nos ecossistemas terrestres já que regulam o

recrutamento de juvenis.

Este trabalho pretende estimar a qualidade de vários tipos de pegos de uma

ribeira temporária para a reprodução do sapo-parteiro-ibérico (Alytes cisternasii) e da

salamandra-comum (Salamandra salamandra). Serão estudados os efeitos das

principais características dos pegos na abundância, sobrevivência e desenvolvimento

das formas larvares destas espécies. Este tipo de estudo é frequente para

comunidades piscícolas [52], mas não para larvas de anfíbios devido às dificuldades

inerentes à obtenção de estimativas fiáveis para os parâmetros demográficos. Como

as larvas de anfíbios podem ser muito abundantes, sendo difícil estimar as suas

densidades e sobrevivência até à metamorfose, aplicar-se-á pela primeira vez o

método de fotoidentificação para as seguir individualmente.

Para cada pego considerado pretende-se estimar:

� Densidade (indivíduos/m2);

� Taxas de crescimento individuais e

� Taxa de sobrevivência até à metamorfose.

Por fim, relacionar-se-ão os resultados obtidos com as características de cada

corpo de água para analisar quais favorecem a produção de metamórficos destas

espécies.

19

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Espécies em estudo

2.1.1. O sapo-parteiro-ibérico (Alytes cisternasii Boscá, 1879)

O sapo-parteiro-ibérico é um endemismo da Península Ibérica e em Portugal

encontra-se maioritariamente a Sul do Tejo, estendendo-se para Norte ao longo da

fronteira até ao extremo Este do Parque Natural de Montesinho [53]. Esta espécie é

comummente encontrada em climas áridos e quentes, associada a habitats

mediterrânicos de florestas abertas de Quercus ilex e Q. suber [54].

É um anfíbio com hábitos nocturnos e fossadores, podendo passar por vários

períodos de inactividade durante os meses com temperaturas mais extremas [55].

Este anuro reproduz-se no Outono e na Primavera [54], períodos durante os quais os

machos vocalizam durante a noite, principalmente depois do pôr-do-sol. Depois da

fecundação, os machos enrolam os cordões de ovos nos membros posteriores,

podendo transportar as posturas de várias fêmeas, até um máximo de 180 ovos [53].

Após três semanas, os machos deslocam-se até uma massa de água, onde os ovos

eclodem sincronizadamente, independentemente da altura em que as posturas foram

recolhidas [54].

As larvas podem alcançar os 70 mm de comprimento e possuem manchas

características concentradas na parte superior e inferior da cauda. O período larvar

pode durar 3 - 5 meses e os indivíduos recém-metamorfoseados são muito

semelhantes aos adultos [53]. As larvas alimentam-se principalmente de matéria

vegetal e de invertebrados aquáticos. Os principais predadores das larvas de A.

cisternasii são as cobras de água, os escaravelhos aquáticos (adultos e larvas), as

ninfas de libélula e as larvas de salamandra [53].

2.1.2. A salamandra-comum (Salamandra salamandra Linnaeus, 1758))

A salamandra-comum é um urodelo de ampla distribuição geográfica,

ocupando grande parte do continente europeu. Ocorre em todo o território nacional

continental, à excepção das zonas agrícolas do Baixo Alentejo [53].

A sua actividade é quase exclusivamente nocturna e está muito dependente de

condições ambientais favoráveis, nomeadamente humidade relativa elevada,

temperaturas amenas e ausência de vento [53]. A sua actividade anual está

20

concentrada nos meses mais húmidos, normalmente entre Setembro e Maio, período

em que ocorre a reprodução [54]. Trata-se de uma espécie ovovivípara ou vivípara,

podendo as fêmeas depositar entre 20 e 120 larvas recém-eclodidas na água [53].

Reproduzem-se preferencialmente em meios com águas limpas e correntes, tais como

ribeiros, fontes e minas [54].

As larvas têm aspecto robusto, cabeça grande e larga com brânquias externas

plumosas bem desenvolvidas, e a cauda mais curta do que o corpo, com terminação

arredondada [53]. As larvas recém-depositadas na água têm 25 - 38 mm de

comprimento e possuem já os quatro membros bem desenvolvidos. Inicialmente são

acinzentadas ou acastanhadas com um ponteado escuro mas à medida que se vão

desenvolvendo as manchas escuras tornam-se mais evidentes e na altura da

metamorfose tornam-se negras e as suas manchas brancas ficam amarelas. Em geral

as larvas atingem a metamorfose 2-6 meses após o nascimento [53].

Os adultos alimentam-se de invertebrados terrestres e as larvas são

particularmente vorazes e alimentam-se principalmente de artrópodes aquáticos [53].

Este caudata é predado por cobras-de-água, víboras e, ocasionalmente,

algumas aves. As formas larvares são frequentemente predadas por trutas, cobras-de-

água, insectos aquáticos, aves aquáticas e larvas da própria espécie [55].

21

2.2. Área de estudo

A amostragem foi feita entre Março e Maio de 2009, ao longo de uma ribeira

temporária situada na Herdade da Ribeira Abaixo (Serra de Grândola – Alentejo, SO

Portugal) (Figura 1), onde a paisagem predominante é o montado alentejano,

influenciado por um clima mediterrânico [54].

• Pontos de amostragem

Cursos de água

Limites da HRA

Caminhos pedestres

N

Figura 1 - Pormenor de Portugal com a localização da área de estudo e distribuição dos corpos de água amostrados, na Herdade da Ribeira Abaixo, Grândola.

0 1 Km

1 7

13 15

19

2 3 4

5

6 8 9 10 11 12 14

16 17 18

20

22

2.3. Datas e métodos de amostragem

Amostraram-se 20 pegos entre 9 de Março e 6 de Maio de 2009, com 6

sessões de amostragem de larvas de A. cisternasii e 5 de larvas de S. salamandra.

A amostragem foi feita em média durante 20 minutos por pego, usando um

camaroeiro de rede de cor verde com 1 mm de malha. Depois de capturadas, todas as

larvas foram fotografadas no local. Cada larva foi colocada numa caixa de acrílico (C

6,5 cm x A 5,5 cm x P 1 cm) com escala milimétrica onde o lado direito do seu corpo

foi fotografado pelo menos 2 vezes com uma máquina fotográfica Canon EOS

1000D, objectiva Canon EFS 18-55mm.

No final de cada sessão, as fotografias foram transferidas para o computador,

renomeadas com um código individual, editadas e organizadas num álbum digital.

2.4. Caracterização dos pegos

A caracterização dos pegos foi feita dia 21 de Abril de 2009, sensivelmente a

meio do período total de amostragem. Foram medidas as dimensões de cada pego

(largura, comprimento e profundidade máxima). Foi também estimado o grau de

ensombramento, a percentagem de vegetação aquática, e a composição do substrato

de cada pego utilizando o método de quadrados pontuais [56]. Para tal utilizou-se

uma estrutura semelhante a um pente, com 1m de comprimento e 10 “pregos”,

separados por intervalos de 10 cm. Após colocar o “pente” dentro de água, foi

registado quantos “pregos” entravam em contacto com vegetação aquática, com

cascalho, gravilha, areia, argila e manta morta e ainda quantos se encontravam

ensombrados. Este procedimento foi repetido várias vezes ao longo de cada pego, em

pontos distanciados por 1 m. No final calculou-se a percentagem de cobertura destas

variáveis a partir da frequência de contacto com os “pregos”, para a totalidade dos

pontos de cada pego.

Procedeu-se ainda à medição do pH, da condutividade, da salinidade, da

quantidade de oxigénio dissolvido e da temperatura utilizando um medidor

multiparamétrico das características físico-químicas da água (YSI, modelo 556

MPS).

23

2.5. Fotoidentificação das larvas

A comparação fotográfica foi realizada através do programa I3S (Interactive

Individual Identification System), v. 2.0.

Antes de proceder a comparações e correspondências, o I3S requer que o

utilizador defina um sistema de referência composto por três pontos comuns a todas

as imagens. Para além de definir a área de referência para a marcação das manchas

corporais que permitirão a identificação individual, o sistema de referência

possibilita ainda operações que maximizam o processo de correspondência como

transformações de escala, rotação e correcção de perspectiva [31; 32].

De seguida, o utilizador escolhe as manchas mais distintas do indivíduo,

formando o fingerprint que é guardado num ficheiro com a extensão .fgp [31; 32] na

mesma directoria onde se encontra a fotografia. Posteriormente, a imagem poderá ser

inserida na base de dados e/ou ser comparada com as imagens existentes.

Ao iniciar um processo de comparação, o fingerprint da imagem

desconhecida é comparado com todos os fingerprints das imagens que se encontram

na base de dados. Deste processo resulta uma lista de 50 possíveis correspondências

ordenadas por ordem crescente de um índice linear, sendo a correspondência mais

provável listada em primeiro lugar.

O índice linear que está na base das correspondências é calculado através da

razão da soma das distâncias entre cada par de pontos pelo quadrado do número de

pares de pontos. Assim, um par de pontos é aceite como um bom par se o candidato

mais próximo estiver, pelo menos, ao dobro da distância do par actual.

O sistema de referência utilizado para as larvas de A. cisternasii foi composto

pela intersecção ânus-cauda, pelo início da membrana caudal e pelo ponto em que a

membrana caudal atinge a altura máxima e foi testado previamente [57] (Figura 2). O

sistema de referência usado para as larvas de S. salamandra foi composto pela

intersecção do membro posterior com o corpo, pelo ponto paralelo a este, no dorso

da larva e pelo ponto que assinala o meio da cauda (Figura 3). Em ambas as espécies

assinalaram-se 24 pintas para a construção dos fingerprints [57].

Para cada indivíduo foram processadas duas fotos

cada correspondência listada até encontrar uma correspondência verdadeira ou até à

50ª posição.

2.6. Validação do método de

Determinou-se o índice linear, o

correspondências), o tempo levado a identificar

identificações nos tops 1, 10, 20, 30, 40 e 50

Verificou-se igualmente se o

desenvolvimento do indivíduo

temporalmente.

Figura 3 – Girino de A. cisternasii

assinalados.

Figura 2 - Larva de S. salamandra

assinalados.

uo foram processadas duas fotos, verificando-se

cada correspondência listada até encontrar uma correspondência verdadeira ou até à

Validação do método de fotoidentificação com o I3S

se o índice linear, o ranking (posição na listagem de 50

o tempo levado a identificar cada foto e a percentagem

identificações nos tops 1, 10, 20, 30, 40 e 50 da lista de 50 correspondências

se o ranking médio das re-identificações se alterou

desenvolvimento do indivíduo por comparação entre recapturas próximas e afastadas

A. cisternasii com as pintas e o sistema de referência para a fotoidentificação

S. salamandra com as pintas e o sistema de referência para a fotoidentificação

24

se visualmente

cada correspondência listada até encontrar uma correspondência verdadeira ou até à

(posição na listagem de 50

a percentagem de

da lista de 50 correspondências.

identificações se alterou com o

por comparação entre recapturas próximas e afastadas

para a fotoidentificação

com as pintas e o sistema de referência para a fotoidentificação

25

2.7. Determinação das taxas de crescimento das larvas

Registou-se o comprimento total das larvas de A. cisternasii e S. salamandra,

a partir das fotografias, recorrendo ao programa Sigma Scan Pro, v.5. As taxas de

crescimento (r) foram calculadas através de

� = �� − ���

onde cf corresponde ao comprimento final, ci ao inicial e t ao tempo decorrido (em

dias).

2.8. Avaliação dos indícios de predação;

Registaram-se as frequências de ocorrência de indícios de predação (rasgões

e/ou excisões na parte anterior do corpo das larvas) para ambas as espécies (ANEXO

III).

2.9. Determinação dos estádios de desenvolvimento larvar

Determinou-se o estádio larvar de todas as larvas de A. cisternasii capturadas

de acordo com Gosner (1960) [58]. Para facilitar posteriores análises, os estádios de

desenvolvimento dos girinos de A. cisternasii foram agrupados por classes: Classe I

(estádio 25 ao 28); Classe II (estádio 29 ao 33); Classe III (estádio 33 ao 38); Classe

IV (estádio 39 ao 43).

2.10. Modelação CR

Os métodos estatísticos para a estimação dos parâmetros desconhecidos e

para a realização de testes de hipóteses são baseados nos historiais de captura. Estes

historiais são matrizes constituídas por séries de 1’s (captura ou recaptura) e 0’s (não

captura ou recaptura) [13]. Assim, existindo k ocasiões de amostragem, o historial de

captura consiste numa série de k 0’s e 1’s [16] (ANEXO IV)

No cálculo das estimativas dos parâmetros Φi e pi foram usados os historiais

de captura de 893 girinos de A. cisternasii e de 833 larvas de S. salamandra nos 20

pegos.

26

De um ponto de vista biológico e prático, é admissível que os parâmetros Φi e

pi sejam função de variáveis externas como variáveis ambientais ou medidas de

esforço de captura. Existem vantagens em expressar estes constrangimentos num tipo

de estrutura usada nos modelos lineares generalizados para relacionar variáveis

resposta e variáveis preditoras externas [11; 13]. Neste trabalho considerou-se que as

variáveis ambientais poderiam influenciar a probabilidade de sobrevivência das

larvas nos diferentes pegos considerados, pelo que se procedeu ao ajustamento de

modelos com essas variáveis através da manipulação da matriz de delineamento1 do

MARK.

Para proceder à análise dos dados CR foi seguido o procedimento geral

aconselhado neste tipo de estudos [11; 16]:

1. Ajustar o modelo como totalmente dependente do tempo e do grupo

(diferentes pegos), o que é compatível com a biologia das espécies e com o

delineamento do estudo e verificar o seu ajustamento aos dados;

2. Testar as questões biológicas mais importantes pela comparação deste modelo

com modelos vizinhos;

3. Seleccionar o modelo mais parcimonioso usando o Critério de Informação de

Akaike (AIC);

4. Obter estimativas dos parâmetros do modelo através do Método de Máxima

Verosimilhança (MLE).

Para os dados relativos às larvas de A. cisternasii, optou-se por ajustar

modelos Jolly-Seber, com a formulação POPAN. Trata-se de uma modificação do

modelo JS original que considera a existência de uma super-população composta por

todos os animais que entrarão para a população e o parâmetro bi, que representa a

probabilidade de um animal desta hipotética super-população entrar na população no

intervalo i � i+1 [59]. Optou-se por utilizar esta formulação porque das cinco

formulações para o modelo JS disponíveis no MARK, a POPAN é a única que, para

além das probabilidades de sobrevivência, de captura e de entrada, estima ainda os

1 Matriz utilizada pelo MARK para descrever o delineamento, ligando os parâmetros de interesse

biológico às variáveis preditoras.

27

“nascimentos” líquidos, a abundância total (N) e por cada ocasião de captura (Ni).

Para os dados relativos às larvas de S. salamandra optou-se por ajustar

modelos CJS para obter estimativas de Φi e pi e modelos JS para estimar os restantes

parâmetros de interesse. Os dados CR das larvas de S. salamandra são mais escassos

que os de A. cisternasii e como o modelo JS estima muitos parâmetros com a mesma

função verosimilhança, a estimação de cada parâmetro em particular acaba por ser

preterida pela estimação de todos os parâmetros da forma mais verosímil, o que pode

resultar em estimativas pouco plausíveis [10; 11; 13]. Assim, a probabilidade de

sobrevivência (Φi) acaba por não ser tão bem estimada com o modelo JS como com o

modelo CJS, pelo que dos modelos JS considerou-se apenas as abundâncias e os

“nascimentos”.

Para testar a qualidade do ajustamento do modelo geral (todos os parâmetros

dependentes do tempo e, quando aplicável, dos grupos) aos dados das larvas de A.

cisternasii foram realizados os Testes 2 e 3 de ajustamento do modelo [16]

desenvolvidos especificamente para dados CR. Estes testes constituem um

procedimento diagnóstico para testar os pressupostos 1 e 2 do modelo CJS e JS

(homogeneidade dos parâmetros), admitindo que os restantes são cumpridos. O

cálculo dos Testes 2 e 3 é realizado pelo software RELEASE [16], actualmente

integrado no programa MARK [13].

O ajustamento do modelo geral para as larvas de S. salamandra não foi feito

através dos testes RELEASE porque os dados foram escassos. Recorreu-se então à

análise dos resíduos do desvio para o modelo CJS e a um teste de sensibilidade

baseado no factor de inflação da variância (variance inflaction factor), �̂ [17] para o

modelo JS. Os resíduos do desvio (rh) permitem verificar se os valores esperados

para cada historial de captura são muito ou pouco diferentes dos obtidos [17]. Assim,

�� = ��� !("� − #�)$2(#� − "� + "�log ("�#�)

28

onde Sinal corresponde ao sinal (+/-) do valor O-E, #� ao número de indivíduos

esperados com o historial de captura h e "� ao número de indivíduos observados

com o historial de captura h. Num modelo bem ajustado aos dados a diferença entre

os valores esperados e os observados será mínima e, portanto os resíduos serão quase

nulos. A estimação de �̂ permite verificar se as probabilidades de sobrevivência ou de

recaptura são homogéneas dentro de cada grupo e pode ser obtido a partir de uma

estatística de teste χ2 e dos graus de liberdade (gl) associados à distribuição

assimptótica desta estatística de teste [47], com

�̂ = *+,-

Assim, a um ajustamento “perfeito” do modelo aos dados corresponde �̂ = 1.

Quando os dados não permitem a utilização dos testes de ajustamento tradicionais

em modelação CR é frequente recorrer a um teste de sensibilidade a �̂ [9]. Se o

ranking dos modelos ajustados se alterar à medida que se vai variando gradualmente

o valor de �̂, pode-se estar perante um fraco ajustamento do modelo aos dados, o que

compromete a validade das inferências resultantes. Neste caso o valor de �̂ foi

alterado de 1 a 7, verificando-se se o modelo que melhor se ajustava aos dados se

mantinha [13].

2.11. Outras análises estatísticas

Para avaliar se a taxa de crescimento das larvas de A. cisternasii e S.

salamandra variaram significativamente entre pegos recorreu-se à ANOVA

univariada. O pressuposto da distribuição normal da variável dependente (taxa de

crescimento) nos diferentes grupos foi avaliado através do teste de Kolmogorov-

Smnirnov e o pressuposto da homogeneidade de variância foi verificado pelo teste de

Levene. Em caso de não cumprimento dos pressupostos, recorreu-se a um teste não-

paramétrico, o Kruskal-Wallis. Posteriormente utilizou-se a Regressão Linear

Múltipla para verificar se alguma das variáveis externas medidas estaria relacionada

com as taxas de crescimento de cada pego. Analisaram-se os pressupostos do

modelo, nomeadamente o da distribuição normal, homogeneidade e independência

29

dos erros. Os dois primeiros pressupostos foram validados graficamente e o

pressuposto da independência foi validado com a estatística de Durbin-Watson.

O teste Qui-quadrado de independência foi utilizado nos seguintes testes:

independência dos indícios de predação entre pegos; independência do estádio de

desenvolvimento (classe modal) entre pegos; igualdade nas frequências de

movimentos entre pegos entre as duas espécies. Quando se registaram células com

valores esperados inferiores a 5 o teste do χ2 não pôde ser aplicado e recorreu-se à

técnica de simulação de Monte-Carlo. A simulação de Monte-Carlo é um método

estatístico que procura determinar a probabilidade de ocorrência de uma determinada

situação experimental através de um conjunto elevado de simulações, baseado na

geração aleatória de amostras a partir do conhecimento empírico da população sob

estudo.

As análises estatísticas descritivas, gráficas e inferenciais foram executadas

com o software SPSS (v. 17.0, SPSS Inc., Chicago, IL). Consideraram-se

estatisticamente significativos os efeitos cujo p-value foi inferior ou igual a 0.05.

3. RESULTADOS

3.1. Caracterização dos pegos

Como se pode ver pela Figura 4, os pegos não são muito distintos no que toca

às variáveis medidas. Podem-se distinguir 4 pegos com graus de ensombramento

elevados: o pego 7, o 8, o 10 e o 14. Os pegos 3, 4, 6, 13, 16 e 19 destacam-se com as

maiores percentagens de vegetação aquática. Os pegos com área ≥ 10 m2 são o 10, o

13, o 14 e o 16. Os pegos em média mais profundos são o 4, o 8, o 13 e o 18.

Distinguem-se dois grupos de pegos semelhantes e próximos espacialmente:

(1) pegos 2, 4, 6, 8 e 9; e (2) pegos 16, 17 e 19. Há pegos que se destacam dos

restantes, caso dos pegos 1, 5, 7 e 20.

Não existem evidências de alterações graduais das características dos pegos

ao longo da ribeira.

30

0

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

1000

50

100

0

50

1000

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

100

0

50

100

Figura 4 - Caracterização dos 20 pegos amostrados. Considerou-se o grau de ensombramento, % de vegetação aquática, a % de manta morta, a área e a profundidade média.

1

2

3

4

5 6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17 18

19

20

� % Manta morta

� % Vegetação aquática

� Área (m2)

� Profundidade média (cm)

� % Ensombramento

31

0

50

100

150

200

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Nº d

e in

diví

duos

Pegos

A. cisternasii S. salamandra

Para além das variáveis referidas foi também medida a temperatura,

condutividade, salinidade, % de oxigénio dissolvido (DO) e pH de cada pego.

Nenhum destes parâmetros apresentou grande variabilidade ao longo da ribeira: a

temperatura de água variou entre 14 e 19.24 ºC; a condutividade variou entre 16.54 e

os 19.58 mS/cm; a salinidade variou entre 12.25 e 14.60 mg/L; a percentagem de

oxigénio dissolvido foi 0.1 para todos os pegos à excepção de um para o qual foi 0.2;

e o pH variou entre 7.69 e 8.39, sem agrupamento espacial de pegos semelhantes.

3.2. Capturas

Pela Figura 5 podemos verificar que houve um predomínio de larvas de A.

cisternasii nos pegos mais a montante (1 a 5) e nos pegos mais a jusante (17 a 20),

sendo que os pegos intermédios da ribeira pareceram dominados pelas larvas de S.

salamandra. Pode ainda verificar-se que o pego 8 foi o único onde só foram

encontradas larvas de S. salamandra.

Figura 5 - Total das capturas de larvas de A. cisternasii e S. salamandra para cada pego amostrado.

32

0102030405060708090

100

Id no Top 1

Id no Top 10

Id no Top 20

Id no Top 30

Id no Top 40

Id no Top 50

NID

%

A. cisternasii S. salamandra

3.3. Validação do método de fotoidentificação com o I3S

Apesar de se tratar de espécies morfologicamente diferentes e de não existir

um trabalho prévio de validação do método de fotoidentificação para as larvas de

caudata, os parâmetros de reidentificação revelaram-se bastante semelhantes (Tabela

1).

Tabela 1 – Médias do índice linear, rank e tempo levado a identificar para larvas de A. cisternasii e S. salamandra fotoidentificadas.

Índice linear

médio Rank médio

Tempo id. médio (min)

Girinos de A.

cisternasii 0.340 6 3

Larvas de S.

salamandra 0.407 6 3

A Figura 6 demonstra que cerca de 60% da totalidade das re-identificações

foram correctamente classificadas na primeira posição. No entanto, para obter uma

taxa de sucesso na ordem dos 80% foi necessário considerar as 10 primeiras imagens

da lista fornecida pelo software I3S. Adicionalmente, registaram-se 4 girinos de A.

cisternasii (1.6% do total de recapturas) que não foram re-identificados quando

comparados com a base de dados, apesar de já terem fingerprints.

Figura 6 - Percentagem de indivíduos re-identificados em cada top e não-identificados (NID) pelo I3S para larvas de A. cisternasii e S.

salamandra.

33

0

20

40

60

80

100

top 1 top 5 top 15

%

Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4 Sessão 5 Sessão 6

0

20

40

60

80

100

top 1 top 5 top 15

%

Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4 Sessão 5

Figura 8 - Percentagem de larvas de S. salamandra capturadas na sessão 1 e re-identificadas em sessões posteriores no top 1, 5 e 15.

Como é ilustrado pela Figura 7, a percentagem de girinos re-identificados no

top 1 não dependeu do tempo passado entre a captura e a recaptura, i.e., o

desenvolvimento da larva aparentemente não prejudicou o processo de re-

identificação por parte do I3S. A diferença máxima registada entre uma sessão de

captura e uma recaptura foi de 56 dias (indivíduo capturado na sessão 1 e

recapturado na sessão 6), com a transição do estádio 25 (3.88 cm de comprimento

total) para o estádio 37 (4.83 cm).

O desenvolvimento das larvas de S. salamandra também parece não ter

influenciado o processo de re-identificação do I3S porque não se verificou uma

tendência para uma maior percentagem de re-identificações nas posições mais

cimeiras da lista entre sessões mais próximas (Figura 8).

Figura 7 - Percentagem de larvas de A. cisternasii capturadas na sessão 1 e re-identificadas em sessões posteriores

34

A diferença máxima entre a sessão de captura e a de recaptura registada foi de

38 dias (indivíduo capturado na sessão 1 e recapturado na sessão 5), com um

comprimento total inicial de 3.36 cm e final de 3.98 cm.

Contrariando o estudo de validação do método [45], registou-se alguma

dificuldade de processamento dos dados por parte do I3S à medida que a base de

dados aumentava até às 1786 fingerprints de A. cisternasii e 1666 de S. salamandra.

Houve um aumento de ca. de 70% no tempo de processamento entre a altura em que

base de dados possuía < 200 fingerprints e a altura em que possuía > 600

fingerprints. O aumento da dimensão da base de dados provocou um aumento

considerável do tempo de processamento e da ocorrência de problemas de software.

3.4. Recapturas

Nos 20 pegos registaram-se 893 capturas de larvas de A. cisternasii (6

sessões), incluindo 249 episódios de recaptura, e 833 capturas de larvas de S.

salamandra (5 sessões), incluindo 108 episódios de recaptura (Tabela 2).

Tabela 2 – Número de indivíduos amostrados, capturados e recapturados, para A. cisternasii e S.

salamandra.

Girinos A. cisternasii Larvas S. salamandra Amostragem Total 893 833

Totalidade indivíduos capturados

646 725

Totalidade de recapturas 249 108 Totalidade de migrações 32 11

A percentagem de recapturas de larvas de A. cisternasii por sessão manteve-

se relativamente semelhante, enquanto que a das larvas de S. salamandra sofreu uma

queda de quase 50% na percentagem de recaptura entre a segunda sessão e as

restantes (Tabela 3).

35

Tabela 3 - Percentagem de recapturas por sessão, para A. cisternasii e S. salamandra.

Girinos A. cisternasii Larvas de S. salamandra Sessão 2 15 39 Sessão 3 21 23 Sessão 4 20 16 Sessão 5 29 22 Sessão 6 11 --

Registaram-se consideravelmente mais recapturas de girinos do que de larvas,

sendo que 15 girinos foram recapturados mais do que duas vezes, algo que nunca

aconteceu com as larvas (Tabela 4).

Tabela 4 - Número de indivíduos recapturados 1, 2, 3 e 4 vezes, para A. cisternasii e S. salamandra.

Girinos A. cisternasii Larvas S. salamandra

Indivíduos recapturados 1x 106 94 Indivíduos recapturados 2x 48 7 Indivíduos recapturados 3x 13 0 Indivíduos recapturados 4x 2 0

3.5. Modelação CR

Antes de proceder à modelação CR há que verificar se os pressupostos de

homogeneidade de captura e de sobrevivência foram respeitados através da

realização de testes de ajustamento do modelo geral (todos os parâmetros

dependentes do tempo e do grupo, quando aplicável). Se estas condições são

verificadas, procede-se ao ajustamento de modelos mais simples, que podem

envolver variáveis externas na estimação dos diferentes parâmetros, sendo a escolha

final do modelo feita através do Critério de Informação de Akaike (AIC).

Seguidamente apresenta-se o procedimento da modelação e as estimativas dos

parâmetros, separadamente para cada espécie.

3.5.1. Alytes cisternasii

Uma vez que todos os 20 pegos amostrados apresentaram taxas de recaptura

válidas (> 10%) foram todos considerados na modelação CR [11].

36

3.5.1.1. Validação dos pressupostos dos modelos CR

O ajustamento do modelo geral foi aferido pelos Testes 2 e 3 do RELEASE

(ANEXO V). Foi registada heterogeneidade na probabilidade de captura e de

sobrevivência em 6 pegos, o que constitui uma violação dos pressupostos dos

modelos CR. Assim, esses pegos foram excluídos da modelação e,

consequentemente, os parâmetros demográficos foram estimados para 14 pegos.

3.5.1.2. Modelos

De seguida procedeu-se ao ajustamento de modelos mais simples,

considerando a influência de algumas variáveis ambientais como o grau de

ensombramento ou percentagem de vegetação aquática no pego sobre a

probabilidade de sobrevivência dos girinos.

Tabela 5 - Lista do conjuntos dos modelos JS com a formulação POPAN que melhor se ajustou aos dados das larvas de A. cisternasii. Representa-se a probabilidade de sobrevivência (Φi) dependente do pego (g) e do tempo (t). A probabilidade de captura (pi) depende apenas de cada pego (g) e a probabilidade de entradas (penti) depende apenas do efeito do tempo (t).

Modelo AICc ∆AICc Nº de

parâmetros

Φ(p(mantamorta)*t)p(g)pent(t) 1619.40 0.00 89

Φ(p(profmedia)*t)p(g)pent(t) 1621.52 2.12 89

Φ(p(area)*t)p(g)pent(t) 1621.81 2.41 89

Como se pode observar na Tabela 5, o modelo JS que melhor se ajustou aos

dados considera Φi dependente da percentagem de manta morta presente no leito do

pego, pi dependente apenas do pego e pent i dependente do tempo. No entanto, o

valor do ∆AICc indicia alguma importância da variável profundidade média para a

probabilidade de sobrevivência.

37

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 1

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 2

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 3

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 4

3.5.1.3. Estimativas dos parâmetros demográficos

3.5.1.3.1. Probabilidades de sobrevivência

Como se pode verificar na Figura 5, registaram-se flutuações nas

probabilidades de sobrevivência em cada intervalo para todos os pegos. Nos dois

primeiros intervalos foi possível distinguir dois grupos: (1) pegos em que a

probabilidade de sobrevivência diminuiu entre o primeiro e o segundo intervalo e

aumentou entre o segundo e o terceiro intervalo (1, 3, 4, 6, 10 e 15); e (2) pegos em

que a probabilidade de sobrevivência aumentou entre o primeiro e segundo intervalo

e diminuiu entre o segundo e o terceiro (18;16). Em alguns pegos a probabilidade de

sobrevivência manteve-se relativamente estável (2, 3, 15).

38

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 5

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 7

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 6

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 10

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 12

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 15

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 16

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 17

39

Figura 5 - Estimativas das probabilidades de sobrevivência e respectivos erros padrão em cada intervalo entre amostragens, para cada pego considerado.

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 18

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5

φi

Ocasião

Pego 20

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1 2 3 4 5 6 7 10 12 15 16 17 18 20

φ

Pego

Obtiveram-se igualmente as estimativas das probabilidades de sobrevivência

médias (Φ) para cada pego (Figura 6).

Aparentemente os pegos com maiores probabilidades de sobrevivência

médias são a 5, o 6 e o 17. Os pegos que registaram menores Φ foram o 10 e o 20.

Figura 6 - Estimativas das probabilidades de sobrevivência médias e respectivos erros padrão para cada pego.

40

3.5.1.3.2. Probabilidade de captura

Uma vez que o modelo que melhor se ajusta aos dados assume a

probabilidade de captura dependente apenas do pego, pode assumir-se que este

parâmetro ter-se-á mantido relativamente constante em cada ocasião de amostragem,

respeitando um dos pressupostos dos modelos CR.

Tabela 6 - Estimativas das probabilidades de captura em cada pego considerado com respectivos erros padrão (EP) e limites inferiores (LI) e superiores (LS) do intervalo de confiança a 95%.

Pego Estimativa EP LI LS

1 0.68 0.09 0.50 0.82 2 0.57 0.07 0.44 0.69 3 0.51 0.06 0.40 0.62 4 0.35 0.06 0.24 0.47 5 0.11 0.04 0.06 0.20 6 0.25 0.05 0.16 0.36 7 0.40 0.08 0.26 0.56

10 0.14 0.05 0.06 0.27 12 0.47 0.13 0.24 0.72 15 0.26 0.06 0.16 0.40 16 0.58 0.16 0.28 0.83 17 0.36 0.09 0.21 0.55 18 0.30 0.05 0.21 0.40 20 0.14 0.04 0.08 0.24

Pode ainda verificar-se que certos pegos tiveram probabilidades de captura

mais elevadas (e.g. 1, 2 ou 16) do que outros (e.g. 10 ou 20), resultado de

características como a dimensão, o grau de ensombramento, a densidade ou

disponibilidade de esconderijos para as larvas.

41

0

20

40

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 2

0

20

40

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 1

0

50

100

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 3

0

20

40

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 4

3.5.1.3.3. Probabilidades de entrada e “nascimentos”

As probabilidades de entrada foram nulas para o 2º, o 3º e o 5º intervalo

(Tabela 7), sugerindo que terão ocorrido entradas nas populações apenas durante o

primeiro e o quarto intervalo, nos meses de Março e Abril, respectivamente.

Tabela 7 – Estimativas das probabilidades de entrada de indivíduos em cada intervalo entre ocasiões de amostragem com respectivos erros padrão (EP) e limites inferiores (LI) e superiores (LS) do IC a 95%.

Intervalo Estimativa EP LI LS

1 0.28 0.04 0.21 0.37

2 0.01 0.03 0.00 0.02 3 0.00 0.00 0.00 1.00 4 0.24 0.02 0.18 0.32 5 0.00 0.00 0.00 1.00

Estimaram-se os “nascimentos” líquidos para cada intervalo entre sessões

de amostragem (Bi), em cada pego (Figura 7).

42

0

20

40

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 5

0

20

40

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 6

0

20

40

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 7

0

20

40

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 10

0

5

10

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 12

0

20

40

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 15

0

5

10

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 16

0

20

40

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 17

43

0

50

100

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 18

0

50

100

1 2 3 4 5

Bi

Intervalos

Pego 20

Estimaram-se mais “nascimentos” nos primeiros dois intervalos em todos

os pegos (Figura 7), o que sugere que não terá ocorrido muita migração e que este

parâmetro poderá constituir uma boa representação da entrada de novas coortes nos

pegos. Dos 14 pegos considerados distinguiram-se quatro com estimativas de

“nascimentos” nos primeiros dois intervalos de ordem superior às restantes: os pegos

2, 3, 4, 18 e 20. A entrada de indivíduos no quarto intervalo ter-se-á devido a

movimentos migratórios porque se tratam de poucos “nascimentos” e ocorrem numa

altura que já não corresponde aos picos de reprodução.

3.5.1.3.4. Abundâncias e Densidades (total e por ocasião)

Destacaram-se 3 pegos com valores de abundância elevados (2, 3 e 18).

No entanto, as densidades por pego foram bastante semelhantes, com uma excepção

(15), que apresentou uma densidade francamente superior às dos restantes pegos.

Figura 7 - Estimativas dos “nascimentos” ocorridos em cada intervalo entre ocasiões de amostragem (Bi), para cada pego considerado. Notar as diferentes escalas nas ordenadas.

44

0

10

20

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 1

0

40

80

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 2

0

100

200

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 3

0

40

80

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 4

0

100

200

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 5

0

40

80

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 6

0

40

80

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 7

0

40

80

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 10

� Abundância � Densidade

45

0

40

80

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 15

0

10

20

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 12

0

100

200

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 18

0

100

200

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 20

0

10

20

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 16

0

40

80

1 2 3 4 5 6

N

N/m

2

Ocasião

Pego 17

Aparentemente ocorreram aumentos significativos na abundância da 1ª

para a 2ª ocasião em alguns pegos (3, 4, 6, 10, 15, 17 e 20). A Figura 8 sugere

igualmente que nos pegos 18 e 20 os aumentos significativos na abundância se

verificaram entre a 2ª e 3ª ocasião.

Figura 8 - Estimativas da abundância (nº de larvas) e da densidade (larvas/m2) por ocasião de amostragem para cada pego. Notar as diferentes escalas das ordenadas.

46

52 %

48 %

Ausentes Presentes

0

50

100

150

200

250

1 2 3 4 5 6 7 10 12 15 16 17 18 20

N

N/m

2

Pegos

Abundância Densidade

A densidade não diferiu muito entre pegos (Figura 9), o que indica que as

maiores abundâncias existentes em alguns pegos estarão relacionadas com as suas

áreas. Quase todos os pegos apresentaram decréscimos na densidade nas últimas

ocasiões, à excepção dos pegos 1, 5, 6, 10, 15, e 16, que apresentaram estimativas

para as densidades finais semelhantes às iniciais.

3.5.1.4. Indícios de predação

Como se pode ver pela Figura 10, cerca de metade das larvas de A.

cisternasii amostradas apresentaram indícios de predação.

Figura 9 - Estimativas da abundância e da densidade totais de cada pego.

Figura 10 - Pie chart ilustrando a percentagem de indivíduos com e sem indícios de predação

47

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5 6 7 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

f ri

Pegos

A quantidade de larvas de A. cisternasii com indícios de predação variou

significativamente entre pegos (χ2 (13) = 46.427; p = 0.001; N = 819) e em termos

gerais, os pegos onde se verificaram maiores frequência de ocorrência de indícios de

predação foram o pego 11, o 4, o 2 e o 13. Os pegos onde se registaram menores

frequências da ocorrência de indícios de predação foram o 20, o 6 e o 7 (Figura 11).

Figura 11 - Frequências relativas da ocorrência de indícios de predação para cada pego considerado.

48

3.5.1.5. Taxas de crescimento

Pela Figura 12 pode observar-se que três dos pegos mais a jusante (7, 15 e

18) apresentaram maior variabilidade de taxas de crescimento do que os restantes.

Contudo, não foram encontradas diferenças significativas entre pegos para as taxas

de crescimento (teste de Kruskal-Wallis, χ2 (7) = 12.990, p =0.072, N = 90).

3.5.1.6. Estádios de desenvolvimento

A classe modal de estádio de desenvolvimento registada em cada pego

diferiu significativamente entre pegos em todas as sessões à excepção da 1ª: 2ª (χ2

(34) = 66.338; p = 0.000; N = 207), 3ª (χ2 (54) = 121.863; p = 0.000; N = 176), 4ª (χ2

(48) = 102.861; p = 0.000; N = 113), 5ª (χ2 (48) = 118.944; p = 0.000; N = 150)) e 6ª

(χ2 (36) = 66.228; p = 0.008; N = 57). Apresentam-se os resultados do teste exacto

com a simulação de Monte Carlo.

Figura 12 - Boxplot das taxas de crescimento (mm/semana) das larvas de A. cisternasii para cada pego considerado.

49

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

f ri

Pegos

Sessão 1

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

f ri

Pegos

Sessão 2

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

f ri

Pegos

Sessão 3

� Classe I � Classe II � Classe III � Classe IV

50

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

f ri

Pegos

Sessão 4

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

f ri

Pegos

Sessão 5

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

f ri

Pegos

Sessão 6

Como se pode ver pela Figura 13, a classe modal predominante na 1ª sessão

de amostragem foi, em todos os pegos, a classe I. Na segunda sessão foram já

detectados outros estádios, com da maioria dos pegos a albergar maioritariamente

girinos na classe III. Alguns girinos do pego 3 parecem mais adiantados, pertencendo

à classe IV. Na sessão 3 houve um predomínio da classe III, com as excepções dos

Figura 13 - Classes modais de estádios de desenvolvimento por sessão, para cada pego.

51

pegos 1, 10 e 20 com a maioria dos girinos na classe IV. Na sessão 4 continuou a

predominar a classe III, com a excepção do pego 8, dominado por girinos na classe

IV. Na sessão 5 verificou-se novamente o predomínio da classe III, à excepção do

pego 8 que apresentou mais indivíduos na classe IV. Pode igualmente verificar-se

que o pego 11 é particularmente heterogéneo. Os pegos 13 e 19 constituíram também

excepções, com predomínio da classe I. Aquando da sessão 6, muitos pegos (6) já se

encontravam secos mas para os restantes continuou a predominar a classe III. Os

girinos dos pegos 1, 9, 10 e 20 encontravam-se maioritariamente na classe IV de

desenvolvimento. Adicionalmente, verificou-se que os pegos 2 e 5 foram os mais

heterogéneos e que no pego 13 só se encontraram indivíduos na classe I.

3.5.2. Salamandra salamandra

Apesar de se ter amostrado 20 pegos, apenas os dados relativos aos pegos

com taxas de recaptura válidas (> 10%) foram considerados na modelação CR [11].

3.5.2.1. Validação dos pressupostos dos modelos CR

Uma vez que os dados CR relativos às larvas de S. salamandra foram

escassos, o ajustamento do modelo geral CJS foi testado através da análise dos

resíduos do desvio. De uma forma geral os resíduos parecem estar distribuídos

aleatoriamente (ANEXO VI). A maioria dos resíduos encontra-se próxima da linha

do zero e estão todos na área do gráfico definida por ± 2.0, sugerindo que não existe

muita dispersão e que os resíduos têm uma distribuição normal. Assim, pode

assumir-se que os pressupostos de homogeneidade de captura e sobrevivência foram

respeitados. O ajustamento do modelo geral JS foi aferido através do teste de

sensibilidade a �̂. Como a ordem dos modelos ajustados não se alterou à medida que

se alterava o valor de �̂, admitiu-se que o modelo estava razoavelmente bem ajustado

aos dados.

3.5.2.2. Modelos

Depois de testar o ajustamento do modelo geral, procedeu-se ao ajustamento

de modelos CJS e JS mais simples, examinando a influência de variáveis externas.

52

Tabela 8 - Lista do conjunto dos modelos CJS que melhor se ajustou aos dados das larvas de S.

salamandra. Representa-se a probabilidade de sobrevivência (Φi) dependente do pego (g), e do tempo (t). A probabilidade de captura (pi) depende apenas do efeito do tempo (t).

Modelo AICc ∆AICc Nº de

parâmetros

Φ(g(ensomb)*t)p(t) 297.80 0.00 29

Φ(g(ensomb*vegaq)*t)p(t) 300.19 2.38 29

Φ(g(ensomb*vegaq*area)*t)p(t) 301.58 3.77 29

O modelo que melhor se ajustou aos dados das larvas de S. salamandra

considera Φi dependente do grau de ensombramento do pego e pi dependente apenas

do tempo (Tabela 8). Uma vez que o ∆AICc entre os dois primeiros modelos é ~ 2,

não se deve desprezar o facto da interacção entre o grau de ensombramento e a

cobertura por vegetação aquática do pego parecer importante para a probabilidade de

sobrevivência.

Tabela 9 - Lista do conjuntos dos modelos JS com a formulação POPAN que melhor se ajustou aos dados das larvas de S. salamandra. Representa-se a probabilidade de sobrevivência (Φi) dependente do pego (g) e, quando aplicável, do tempo (t). A probabilidade de captura (pi) depende apenas do efeito do tempo (t), tal como a probabilidade de entradas (penti).

Modelo AICc ∆AICc Nº de

parâmetros

Φ(p)p(p)pent(t) 426.00 0.00 16

Φ(p(ensomb))p(p)pent(t) 428.51 2.51 16

Φ(p(ensomb*vegaq))p(p)pent(t) 428.51 2.51 16

O modelo JS que melhor se ajustou aos dados das larvas de S. salamandra

considera Φi e pi dependente apenas do pego e pent i dependente do tempo (Tabela

9).

53

0.00

0.50

1.00

1 2 3

φi

Intervalos

Pego 4

0.00

0.50

1.00

1 2 3

φi

Intervalos

Pego 7

0.00

0.50

1.00

1 2 3

φi

Intervalos

Pego 8

0.00

0.50

1.00

1 2 3

φi

Intervalos

Pego 15

3.5.2.3. Estimativas dos parâmetros demográficos

3.5.2.3.1. Probabilidades de sobrevivência

De acordo com o modelo mais parcimonioso, houve uma diminuição

brusca da probabilidade de sobrevivência no intervalo entre a segunda e a terceira

sessões de amostragem, tendência que se verificou em metade dos pegos

considerados (Figura 14). Nesses pegos a probabilidade de sobrevivência final e

inicial foi bastante elevada.

54

0.00

0.50

1.00

1 2 3

φi

Intervalo

Pego 17

0.00

0.50

1.00

1 2 3

φi

Intervalos

Pego 20

O último pego apresentou um padrão único de flutuação de Φi, com um

aumento significativo da probabilidade de sobrevivência no intervalo entre a segunda

e a terceira ocasião de amostragem e probabilidades de sobrevivência inicial e final

relativamente baixas. Os pegos 4 e 17 apresentam tendências inversas e distintas dos

restantes: no pego 4 registou-se um aumento considerável de Φi do primeiro para o

segundo intervalo, atingindo o valor máximo que depois se mantém constante; o

pego 17 apresentou inicialmente uma estimativa máxima para Φi e posteriormente

assistiu-se a um decréscimo até um valor baixo.

Após ajustar os modelos estimou-se a média da probabilidade de

sobrevivência (Φ) para cada pego. Como se pode ver pela Figura 15, o pego com

maior sobrevivência média é o pego 15, apesar dos pegos 4 e 7 apresentarem

estimativas bastante elevadas. Os pegos com menor Φ são 8 e o 20, com valores

semelhantes.

Figura 14 - Estimativas de probabilidade de sobrevivência nos intervalos entre ocasiões de amostragem, para cada pego considerado.

55

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

1 2 3 4

pi

Ocasião

3.5.2.3.2. Probabilidades de captura

A probabilidade de captura manteve-se relativamente constante ao longo

das 4 sessões de amostragem estimáveis (Figura 16), assegurando o cumprimento de

um dos pressupostos mais importantes dos estudos de CR [11; 13].

Figura 16 - Probabilidades de captura de larvas de S. salamandra

estimadas para cada ocasião de amostragem

Figura 15 - Probabilidades de sobrevivência médias (com erro padrão) das larvas de S. salamandra para cada pego.

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

4 7 8 15 17 20

Φ

Pegos

56

0

10

20

1 2 3 4

Bi

Intervalos

Pego 4

0

20

40

1 2 3 4

Bi

Intervalos

Pego 7

0

10

20

1 2 3 4

Bi

Intervalos

Pego 8

0

10

20

1 2 3 4

Bi

Intervalo

Pego 15

3.5.2.3.3. Probabilidade de entradas e “nascimentos”

As probabilidades de entrada a partir da super-população admitida pela

formulação POPAN só não são nulas para o primeiro intervalo, no qual se estimou

uma probabilidade relativamente baixa de entrada considerada para os 6 pegos

incluídos na modelação (Tabela 10).

Tabela 10 - Estimativas das probabilidades de entrada de novos indivíduos na população em cada intervalo com os respectivos erros padrão (EP) e limites inferiores (LI) e superiores (LS) dos intervalos de confiança a 95%.

Intervalo Estimativa EP LI LS

1 0.11 0.09 0.03 0.39

2 0.00 0.06 0.03 0.25 3 0.00 0.00 0.00 0.00

4 0.00 0.00 0.00 0.00

Estimaram-se ainda os “nascimentos” (Bi) ocorridos entre as sessões de

amostragem para cada pego considerado.

57

0

25

50

1 2 3 4 5

N

N/m

2

Ocasiões

Pego 4

0

65

130

1 2 3 4 5

N

N/m

2

Ocasiões

Pego 7

0

10

20

1 2 3 4

Bi

Intervalos

Pego 17

0

10

20

1 2 3 4

Bi

Intervalos

Pego 20

Como se pode observar pela Figura 17, aparentemente só se verificaram

“nascimentos” durante os dois primeiros intervalos de amostragem (mês de Março e

Abril), principalmente no pego 7. Nos restantes pegos, apesar de também se terem

registado “nascimentos” nos dois primeiros intervalos, foram menos relevantes.

3.5.2.3.4. Abundâncias e densidades (média e por visita)

De uma forma geral verificou-se uma diminuição da abundância ao longo

do tempo (Figura 18). O pego 7 apresentou a maior abundância e o 4 a menor (Figura

19).

Figura 17 - Estimativas dos "nascimentos" ocorridos nos intervalos entre as ocasiões de amostragem(Bi), para os pegos considerados. Notar as diferentes escalas das ordenadas.

� Abundância � Densidade

58

0

25

50

1 2 3 4 5

N

N/m

2

Ocasiões

Pego 15

0

65

130

1 2 3 4 5

N

N/m

2

Ocasiões

Pego 17

0

25

50

1 2 3 4 5

N

N/m

2

Ocasiões

Pego 20

0

25

50

1 2 3 4 5

N

N/m

2

Ocasiões

Pego 8

0

20

40

60

80

100

120

140

4 7 8 15 17 20

N

N/m

2

Pegos

Abundância Densidade

A densidade também decresceu ao longo do tempo nos 6 pegos considerados,

embora não tenha sofrido flutuações marcadas como a abundância. O pego 15

apresentou a maior densidade e o 4 a menor (Figura 19). Os restantes pegos exibiram

densidades semelhantes.

Figura 19 - Estimativa da abundância e densidade total para cada pego considerado.

Figura 18 - Estimativas das abundâncias e densidades em cada ocasião de amostragem com os respectivos erros padrão.

59

76%

24%

Ausentes Presentes

3.5.2.4. Indícios de predação

Como se pode ver na Figura 20, apenas cerca de 25% das larvas de S.

salamandra amostradas apresentaram indícios de predação.

Os pegos onde se registaram maiores frequências relativas de larvas com

indícios de predação foram o 17, o 16, o 8, o 11 e o 20 (Figura 21). Registaram-se

menores frequências relativas de larvas com indícios de predação no pego 5, no 19,

no 6 e no 3. Contudo, os resultados do teste do qui-quadrado permitem afirmar que a

quantidade de larvas de S. salamandra com indícios de predação é independente do

pego (χ2 (13) = 18.566; p = 0.137; N = 762).

Figura 20 - Pie chart ilustrando a percentagem de indivíduos com e sem indícios de predação

Figura 21 - Frequências relativas da ocorrência de indícios de predação total, para cada pego considerado

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

f ri

Pegos

60

3.5.2.5. Taxas de crescimento

Como o teste de Kruskal-Wallis indicou (χ2 (7) =15.376, p = 0.031, N = 63),

pela Figura 22 pode observar-se que parece existir alguma heterogeneidade entre as

taxas de crescimento das larvas de S. salamandra de cada pego considerado.

A regressão linear múltipla não identificou nenhuma das variáveis externas

consideradas como preditores significativos da taxa de crescimento (F (2, 57) =

1.560; p = 0.219; R2=0.019). De uma forma geral os pegos com maior variabilidade

de taxas de crescimento são o 5, o 12 e o 13 e os com menor variabilidade são o 6, o

14 e o 16.

3.6. Movimentos entre pegos

Através da recaptura de indivíduos fotoidentificados registaram-se 32

movimentos de larvas de A. cisternasii e 7 de larvas de S. salamandra. A frequência

de movimentos foi significativamente diferente entre as duas espécies estudadas (χ2 =

13.278; p = 0.000; N = 1371).

Figura 22 - Boxplot das taxas de crescimento de larvas de S.

salamandra nos pegos considerados

61

0

5

10

15

20

25

30

2 3

de

mo

vim

en

tos

Nº de pegos envolvidos no movimento

A. cisternasii S. salamandra

0

5

10

15

20

25

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

de

mo

vim

en

tos

Pegos

A. cisternasii S. salamandra

Como se pode verificar pela Figura 23, os movimentos das larvas de A.

cisternasii concentraram-se em 9 pegos muito próximos.

Grande parte dos movimentos de girinos envolveu apenas dois pegos, embora

se tenham registado casos que envolvem três pegos (Figura 24) e a maioria dos

movimentos foi feita no sentido de jusante para montante.

Todos os movimentos feitos por larvas de S. salamandra envolveram apenas

dois pegos (Figura 24) e foram feitos no sentido jusante para montante.

Figura 24 - Nº de pegos envolvidos nos movimentos das larvas de A. cisternasii e S. salamandra

Figura 23 - Distribuição dos movimentos totais das larvas das duas espécies pelos pegos. As barras indicam o número de chegadas ao pego de animais marcados.

62

4. Discussão

Com este trabalho foi pela primeira vez possível obter estimativas da

sobrevivência, abundância e densidade de larvas de anura e caudata, utilizando o

método CR com indivíduos fotoidentificados. O estudo da dinâmica das

comunidades de formas larvares de anfíbios não está muito desenvolvido porque os

métodos de marcação necessários para os estudos CR dificilmente são aplicáveis a

larvas [6]. A fotoidentificação tem sido usada em alguns estudos para marcar

anfíbios adultos mas nunca larvas, devido à dimensão dos indivíduos e à ausência ou

inconstância de padrões individuais.

Este trabalho provou que a fotoidentificação de larvas de anura e de caudata é

possível e produz resultados válidos. A utilização do I3S revelou-se eficaz e

imprescindível para evitar que o processo de re-identificação se tornasse

incomportavelmente moroso e propenso a erros. Provou-se igualmente que é possível

re-identificar indivíduos ao longo do seu desenvolvimento quase até ao final da

metamorfose, apesar de no caso das larvas de A. cisternasii a absorção da cauda

poder dificultar o processo e, no caso das larvas de S. salamandra, a alteração do

padrão de coloração poder inviabilizar a re-identificação nas fases finais da

metamorfose. A grande limitação associada à fotoidentificação prendeu-se com a

fraca capacidade do I3S para lidar com bases de dados de grandes dimensões.

A fotoidentificação ainda não permite acompanhar o indivíduo até à forma

juvenil e adulta porque o padrão utilizado se altera. Esta possibilidade de

acompanhamento seria de grande utilidade para o seguimento de coortes, permitindo

estudos populacionais a médio e longo prazo. Apesar de não acreditarmos ser

possível acompanhar o desenvolvimento do juvenil de A. cisternasii até à idade

adulta, talvez seja admissível para as larvas de S. salamandra porque quando

começam a desenvolver as características manchas amarelas ainda se encontram na

água, sendo facilmente capturáveis. Contudo, como o padrão de cada indivíduo só

estabiliza quando iniciam a reprodução - por volta dos 4 anos [55] -, ter-se-ia de

estudar a evolução do padrão de pigmentação até essa idade para verificar se é

estável e individual.

As larvas de A. cisternasii são herbívoras, com grande capacidade natatória e sem

tendência para apresentarem comportamentos gregários [53].

63

Verificou-se que as probabilidades de sobrevivência médias desta espécie foram

elevadas para grande parte dos pegos considerados, apenas dois pegos a registarem

valores consideravelmente inferiores aos dos restantes. Valores de sobrevivência de

larvas de anura em cursos de água temporários da ordem dos 40% são considerados

normais e da ordem dos 80% elevados [29]. Assim e como a comunidade de

predadores potenciais das larvas de A. cisternasii é bastante diversa [53], as

probabilidades de sobrevivência foram inesperadamente elevadas. As flutuações de

Φi em cada pego não resultaram de alterações significativas no habitat e terão

resultado de factores estocásticos como a presença ocasional de predadores vorazes.

Ao contrário do verificado em muitos estudos laboratoriais [60; 61], as

probabilidades de sobrevivência não foram influenciadas pela densidade total por

pego ou por ocasião. A maioria dos pegos considerados apresentou densidades ~ 10

larvas/m2 havendo, havendo uma excepção (pego 15), com uma densidade total de

40 larvas/ m2 e uma das probabilidades de sobrevivência médias mais elevada.

No pego com maior densidade foi registada uma elevada heterogeneidade das

taxas de crescimento, apesar de não se terem estimado “nascimentos” significativos e

da classe de estádios de desenvolvimento dominante a partir da 2ª sessão ser a III,

sugerindo que o crescimento e desenvolvimento de algumas larvas pode ter sido mais

lento. Nesse caso, a elevada competição intra-específica nos pegos com maiores

densidades afectará provavelmente o tamanho à metamorfose e/ou o período larvar,

mas não a sobrevivência. Os girinos do pego 15 apresentaram também uma

velocidade de desenvolvimento aparentemente inferior às dos restantes pegos, sendo

frequente que se registem desenvolvimentos mais lentos em locais maiores

densidades devido à competição intra-específica [46; 48].

As estimativas de abundância por ocasião indicaram aumentos na segunda sessão

para 5 pegos e na 3ª para 4 pegos. Estas tendências vão de encontro às estimativas de

nascimentos por intervalo, em cada pego. Assim, estes aumentos na abundância não

terão resultado de migração, mas sim do surgimento de novas coortes. Verificou-se

também um aumento da abundância na 5ª sessão para alguns (3) pegos, algo que não

é confirmado pelos nascimentos estimados nem pela classe modal dos estádios de

desenvolvimento. Contudo, surgiu uma nova coorte na 4ª sessão em dois desses

pegos, composta por larvas que, graças às suas dimensões, só terão podido ser

64

amostradas na sessão seguinte. No outro pego não se registou um aumento da

proporção de larvas na classe I de estádios de desenvolvimento, pelo que neste caso

talvez possamos estar perante um fenómeno migratório.

Não foram registadas diferenças significativas entre as taxas de crescimento de

cada pego; contudo, três dos pegos mais a jusante apresentaram maior variabilidade

nessas taxas. A análise de alguns dos parâmetros estudados sugere que dois desses

pegos receberam novas coortes durante o decorrer do estudo. Como as larvas mais

novas apresentam tipicamente taxas de crescimento superiores às das larvas mais

desenvolvidas, pode assumir-se que a elevada variabilidade de taxas de crescimento

terá resultado da mistura de muitos indivíduos recém-eclodidos com outros nas fases

mais tardias do desenvolvimento.

Registaram-se diferenças significativas entre as classes modais de estádio de

desenvolvimento de cada pego. Na sessão 1 todos os pegos foram dominados por

larvas na classe I mas na 2ª sessão muitos pegos albergavam já maioritariamente

larvas na classe III e IV. Na 4ª sessão só se encontraram representadas as classe III e

I, pelo que os indivíduos que nas sessões anteriores se encontravam na classe IV

terão sofrido uma elevada mortalidade ou terão completado a metamorfose e

abandonado o meio aquático.

Neste trabalho verificou-se que cerca de metade das larvas amostradas

apresentou indícios de predação e que a frequência de ocorrência destes variou com

os pegos. Destacaram-se os pegos 11, 4, 2, 13 e 3 com fri > 0.6, particularmente o

pego 11, onde 80% das larvas apresentou indícios de predação. Uma vez que as

probabilidades de sobrevivência médias para os pegos considerados foram elevadas e

que as frequências de ocorrência dos indícios de predação em cada sessão não

coincidiram com as flutuações na probabilidade de sobrevivência em cada intervalo,

pode deduzir-se que a elevada ocorrência de indícios de predação será o resultado de

uma boa capacidade de fuga a tentativas de predação e não de uma elevada

susceptibilidade a ataques predatórios. O corpo dos girinos de A. cisternasii é

composto maioritariamente por uma cauda grande e musculada [53] que proporciona

uma boa capacidade natatória, constituindo simultaneamente um alvo para potenciais

predadores que, atacando apenas a cauda, acabam por não capturar o girino,

potenciando a sobrevivência a ataques.

65

O modelo CR que melhor se ajustou aos dados considera que a percentagem de

manta morta presente no leito do pego é importante para a probabilidade de

sobrevivência dos girinos. Contudo, a profundidade média do pego também se

revelou de alguma importância.

Os pegos com maior percentagem de manta morta no leito foram os que

apresentaram maior estabilidade nas flutuações de Φi. Verificou-se igualmente que

os pegos com maiores probabilidades de sobrevivência médias tinham manta morta

de natureza herbácea, o que pode estar relacionado com uma maior libertação de

nutrientes e produtividade do sistema, aumentando os recursos alimentares das larvas

[40].

O pego 18 apresentou a maior profundidade média, revelando ser o mais instável

no que diz respeito às estimativas de Φi. Entre os 3 pegos mais profundos, os

restantes dois estão entre os que apresentam maiores probabilidades de sobrevivência

médias. Estes são igualmente os que, apresentando maiores profundidades médias,

não sofreram grandes alterações de profundidade ao longo da estação, ao contrário

do pego 18. As menores profundidades estão frequentemente associadas a maior

abundância de predadores, nomeadamente odonatas [38], tendência não confirmada

neste estudo. No entanto, talvez exista menos pressão predatória em pegos em média

mais profundos ou talvez as maiores profundidades proporcionem aos girinos uma

maior possibilidade de fuga a predadores.

As larvas de S. salamandra são predadoras vorazes e caracteristicamente

sedentárias [53].

As probabilidades de sobrevivência médias para cada pego foram muito elevadas

para metade dos pegos (4, 7 e 15) e mais baixas para os restantes (8, 17, 20). Ao

comparar as probabilidades de sobrevivência estimadas para cada intervalo com as

frequências de ocorrência de indícios de predação verificou-se que coincidiam: em

grande parte dos pegos, um aumento na frequência de ocorrência de indícios de

predação numa sessão correspondeu a uma diminuição da probabilidade de

sobrevivência no intervalo imediatamente anterior a essa sessão. Adicionalmente, os

pegos com maiores probabilidades de sobrevivência médias foram os que registaram

menores frequências relativas de indícios de predação enquanto que os pegos com

menores probabilidades de sobrevivência médias foram os que apresentaram as

66

maiores frequências de indícios de predação. Estas tendências, aliadas ao facto da

grande maioria dos indivíduos amostrados não apresentar qualquer indício de

predação, sugerem que as larvas de S. salamandra são muito susceptíveis a ataques

por predadores e possuem pouca capacidade de fuga.

A maioria dos pegos apresentou densidades por ocasião relativamente estáveis -

apesar das flutuações consideráveis da abundância - e densidades totais da ordem das

15 larvas/m2. O pego 15 é novamente o que se destaca com uma densidade bem

superior às dos restantes (ca. de 40 larvas/m2). Apesar disto, os “nascimentos”

estimados para o pego 15 não foram relevantes, nem nos primeiros intervalos. É de

salientar que a elevada densidade parece não ter afectado a probabilidade de

sobrevivência já que os valores para este parâmetro, bem como as suas flutuações,

são semelhantes às de outros pegos.

As taxas de crescimento diferiram significativamente entre pegos, com os pegos

3, 6, 14 e 16 a apresentar menor variabilidade de taxas e os pegos 5, 12 e 13 maior

variabilidade. Os pegos 7 e 15 apresentaram as menores variabilidades e as medianas

mais baixas, o que se pode dever às suas elevadas densidades. No entanto, apesar de

aparentemente os indivíduos crescerem pouco e de forma semelhante, registou-se

uma elevada probabilidade de sobrevivência. Dentro dos pegos considerados para

estimar as taxas de crescimento, o 15 e o 16 apresentaram a menor heterogeneidade,

a mediana mais baixa e a maior frequência de ocorrência de indícios de predação.

Assim, talvez a pressão predatória tenha conduzido à aceleração do desenvolvimento

em detrimento do crescimento, já que a probabilidade de sobrevivência média no

pego 15 foi muito elevada.

De acordo com os modelos CR, o ensombramento e, com menor importância, a

vegetação aquática, influenciam as probabilidades de sobrevivência. Os 2 pegos com

maiores probabilidades de sobrevivência médias têm ambos baixos a médios graus

de ensombramento, enquanto que os 2 pegos com menores probabilidades de

sobrevivência foram o 37 e o 51, ambos sem vegetação aquática. Estes factores

poderão estar relacionados principalmente com a disponibilidade alimentar para as

larvas. Estas consomem principalmente ninfas de Ephemeroptera [62] que se

alimentam de detritos e de matéria vegetal. Assim, quanto maior for a incidência de

radiação solar e mais vegetação aquática houver no pego, mais ninfas de

67

Ephemeroptera existirão e, consequentemente, maior disponibilidade de recursos

alimentares para as larvas. Adicionalmente, mais vegetação aquática pode aumentar

a complexidade estrutural do habitat e a disponibilidade de refúgios [44].

Apesar de ser admissível que estas variáveis exerçam maior influência sobre a

sobrevivência larvar, os meios naturais são intrinsecamente complexos e os factores

que influenciam a performance larvar exercem efeitos sinergéticos difíceis de

detectar [33; 35]. As flutuações estimadas para a probabilidade de sobrevivência ao

longo do período de amostragem não são totalmente explicáveis pelo grau de

ensombramento ou pela vegetação aquática, uma vez que estes se mantiveram

relativamente constantes. Contudo, poderão explicar algumas das diferenças entre

pegos. Por exemplo, os pegos 15 e 7 apresentaram condições que podem ter

favorecido a produção de larvas mais robustas; o pego 15 apresenta um grau de

ensombramento mediano e o 36, apesar de ser muito ensombrado em geral, tinha

muitos locais totalmente expostos à radiação, daí apresentar alguma vegetação

aquática. Por outro lado, o pego 8 é o que apresenta a flutuação mais marcada, com a

queda da probabilidade de sobrevivência até zero, tratando-se de um pego com

elevado grau de ensombramento e nenhuma vegetação aquática. Desta forma, as

diferentes características dos pegos podem possibilitar o desenvolvimento de larvas

maiores, que tenham maior probabilidade de escapar a ataques de predadores.

Apesar de carnívoras e potencialmente canibais [53] não se registaram indícios

evidentes de ocorrência de canibalismo entre larvas de S. salamandra já que os pegos

com maiores densidades foram os que registaram maiores probabilidades de

sobrevivência.

As larvas de A. cisternasii concentraram-se mais nos pegos a montante e a

jusante enquanto que as de S. salamandra se concentraram nos pegos da secção

intermédia da ribeira. Esta tendência poderá estar relacionada com a densidade de

indivíduos adultos das duas espécies nas regiões referidas e com o facto destes não se

deslocarem muito para depositar as suas larvas. Geralmente as salamandras-comuns

adultas encontram-se em locais com muita cobertura arbórea, sob a manta morta [53;

54] e a secção intermédia da ribeira em questão era sem dúvida a que possuía a

galeria ribeirinha com maior cobertura arbórea. Contudo, de acordo com Rebelo,

68

2000 (com.Pess.) esta secção é onde se encontram menos adultos de S. salamandra,

sendo mais abundantes na secção da ribeira mais a montante.

De acordo com os dados obtidos, os sapos-parteiros-ibéricos depositam mais

posturas, de maior dimensão e durante um período mais longo do que as salamandras

comuns uma vez que os “nascimentos” registados para A. cisternasii são de maior

magnitude e mais frequentes dos que os registados para S. salamandra.

As sobrevivências médias de S. salamandra foram bastante diferentes entre

pegos, com a separação em dois grupos bastante distintos. As probabilidades de

sobrevivência médias de larvas de A. cisternasii não variaram muito entre pegos,

tendo sido em geral elevadas. Isto talvez se deva à maior capacidade de adaptação

das larvas de A. cisternasii a muitos microhabitats ou talvez estes valores estejam a

ser enviesados pelo facto do desenvolvimento larvas das S. salamandra ser mais

acelerado e a probabilidade de sobrevivência considerar tanto mortes como saídas da

área de amostragem.

A análise dos parâmetros estimados pelos modelos CR para as larvas de caudata

e anura e das frequências de ocorrência de indícios de predação permite afirmar que

as larvas de S. salamandra serão menos capazes de sobreviver a um episódio de

predação do que as larvas de A. cisternasii. O facto de, apesar da grande maioria dos

indivíduos amostrados não apresentarem qualquer indício de predação, quase todas

as sessões onde se registaram mais indivíduos com indícios de predação

corresponderem a diminuições na probabilidade de sobrevivência, sugere que a

morfologia destas larvas não lhes permite escapar frequentemente a ataques

predatórios. Pelo contrário, as larvas de A. cisternasii apresentam morfologicamente

todas as características que potenciam a sobrevivência a um ataque predatório.

Uma vez que os pegos onde se registaram maiores frequências de ocorrência de

indícios de predação em larvas de A. cisternasii não coincidiram com os pegos com

maiores densidades de larvas de S. salamandra pode assumir-se que estas não terão

sido os principais predadores dos girinos de A. cisternasii. Apesar das larvas de S.

salamandra serem predadores vorazes, não atacarão muitas larvas de A. cisternasii,

provavelmente por constrições da cavidade bucal e pela baixa probabilidade de

sucesso na captura de presas com uma grande capacidade natatória.

69

As larvas de A. cisternasii aparentam ser muito mais móveis do que as larvas de

S. salamandra. Os movimentos parecem ter-se concentrado nos 5 pegos mais a

montante e em 4 pegos na secção intermédia da ribeira, de uma forma geral

relativamente pequenos, muito próximos e muito pouco ensombrados. Os

movimentos por parte de larvas de S. salamandra foram bem inferiores aos

registados noutro estudo que indicou uma taxa de movimentação de 19 - 41% [63]. O

mesmo estudo concluiu que as larvas que se movimentavam eram as recém-eclodidas

e as menos nutridas, sendo que a movimentação das primeiras era involuntária e a

das outras comportamental. Neste trabalho as larvas que se movimentaram não eram

recém-eclodidas, e o pego de origem não foi incluído na modelação por falta de

dados para 4 sessões; contudo, era um pego com grande abundância de salamandras.

Assim, talvez a movimentação por parte destas larvas tenha sido motivada pela falta

de recursos alimentares no pego original. Uma vez que a grande maioria dos

movimentos registados foi feito de jusante para montante, pode excluir-se a migração

involuntária, ou seja, as larvas não terão sido arrastadas. De uma forma geral, os

movimentos concentraram-se entre as 3 primeiras sessões, coincidindo com grandes

frequências de ocorrência de indícios de predação em alguns pegos, o que sugere que

os movimentos podem ser motivados por ataques predatórios, constituindo

mecanismos de fuga. Como já foi referido, as larvas de A. cisternasii estão

morfologicamente preparadas para fugir, ao contrário das de S. salamandra e talvez

por isso se tenham verificado diferenças tão marcadas na quantidade de movimentos

efectuados pelas larvas das duas espécies.

As larvas de A. cisternasii apresentaram maiores densidades do que as registadas

para S. salamandra, com mais pegos a atingir a fasquia das 20 larvas/m2. O pego 15

tem elevada densidade de larvas de ambas as espécies.

Registaram-se menos diferenças entre as taxas de crescimento de larvas de A.

cisternasii entre pegos. Como a mediana das taxas de crescimento relativas às larvas

de anura nunca ultrapassa os 2 mm/semana e as relativas às larvas de caudata

ultrapassam essa fasquia em quase todos os pegos pode sugerir-se que as larvas de S.

salamandra crescem mais rapidamente, o que estará relacionado com a velocidade

de desenvolvimento.

Com este trabalho foi possível verificar que as larvas de A. cisternasii têm

elevadas taxas de sobrevivência, grande capacidade de fuga a ataques por parte de

70

predadores e que a sobrevivência não é prejudicada pelo aumento da densidade. Foi

também demonstrado que ambas as espécies conseguem atingir taxas de

sobrevivência elevadas em meios com elevadas densidades, ao contrário do que

alguns estudos laboratoriais sugerem [60; 61]. Apesar da influência de densidades

elevadas sobre os indivíduos ser incontestável, não é frequente que em meios

naturais as densidades atinjam o limite a partir do qual passam registar-se efeitos

individuais negativos [34; 46]. Os factores que mais influenciaram a sobrevivência

das larvas de A. cisternasii foram a quantidade e eventualmente o tipo de manta

morta e a profundidade média do pego, acentuando a importância dos recursos

alimentares e da existência de microhabitats para evitar predadores. Já a

sobrevivência das larvas de S. salamandra parecer ser mais influenciada pelo grau de

ensombramento e quantidade de vegetação aquática do pego, ambos relacionados

com a disponibilidade das presas preferenciais e, eventualmente com a defesa contra

predadores.

A identificação de factores reguladores tem fortes implicações sobre a gestão e

conservação de populações selvagens. No caso de animais com ciclos de vida

complexos como os anfíbios os diferentes estágios são geralmente dependentes de

factores distintos, tornando a investigação e conservação destas populações bem mais

difícil. Como neste trabalho não se verificou efeito algum da densidade larvar de

ambas as espécies sobre a sobrevivência, futuras acções de gestão ou conservação

deverão incidir preferencialmente sobre o habitat terrestre dos juvenis e adultos.

O presente trabalho vem suportar a afirmação da fotoidentificação como um

método de marcação aplicável a larvas de anfíbios. Face à presente situação

ecologicamente instável destes vertebrados é urgente desenvolver estudos de

dinâmica populacional que não prejudiquem a capacidade de sobrevivência,

crescimento e/ou desenvolvimento das formas larvares.

Actualmente está na fase final de desenvolvimento um software de análise de

imagem desenvolvido para estudos CR com fotoidentificação da autoria de uma

equipa do Massachusetts Institute of Technology. Este programa terá vantagens sobre

o I3S relacionadas principalmente com a capacidade de manipulação de ângulos e

eliminação de “ruído”, potenciando a eficácia da fotoidentificação.

71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS2

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77

ANEXOS

Larva de Alytes cisternasii

Figura 25 – Larva de 2009.

Figura 26 - Larva de A. cisternasii

2009.

Figura 27 - Larva de A. cisternasii

2009.

Figura 28 - Larva de A. cisternasii

ANEXO I

recapturado 3 vezes ao longo do período de amostragem.

de A. cisternasii capturada pela primeira vez dia 12 de Março de

A. cisternasii recapturada pela primeira vez dia 20 de Março de

A. cisternasii recapturada pela segunda vez dia 10 de Abril de

A. cisternasii recapturada pela terceira vez dia 20 de Abril de 2009.

78

recapturado 3 vezes ao longo do período de amostragem.

capturada pela primeira vez dia 12 de Março de

20 de Março de

recapturada pela segunda vez dia 10 de Abril de

recapturada pela terceira vez dia 20 de Abril de 2009.

79

ANEXO II

Larva de Salamandra salamandra recapturada 3 vezes ao longo do período de

amostragem.

Figura 1 - Larva de S. salamandra capturada pela primeira vez dia 9 de Abril de 2009.

Figura 2 - Larva de S. salamandra recapturada pela primeira vez dia 15 de Abril de 2009.

Figura 3 - Larva de S. salamandra recapturada pela segunda vez dia 19 de Abril de 2009.

ANEXO III

80

Exemplos de indícios de predação em larvas de A. cisternasii

Exemplos de indícios de predação em larvas de S. salamandra.

ANEXO IV

81

Excerto de um ficheiro com os historiais de captura de larvas de A. cisternasii em 7

pegos. A primeira coluna corresponde ao historial de captura dos indivíduos, as

restantes colunas contabilizam o número de indivíduos com o historial de captura

respectivo, para cada grupo/pego (7 colunas correspondentes a 7 pegos).

111100 0 1 0 0 0 0 0 1;

100000 7 17 27 6 4 5 2 13;

110000 1 2 8 3 0 0 1 1;

111010 0 1 1 0 0 1 1 0;

101000 0 1 1 1 1 0 0 2;

110100 0 1 0 0 0 0 1 0;

111101 0 1 0 0 0 0 0 0;

100001 1 0 0 0 0 0 0 0;

111011 0 0 1 0 0 0 0 0;

111000 0 0 4 0 0 0 0 1;

100110 0 0 1 0 0 0 1 0;

100101 0 0 0 1 0 0 0 0;

110010 0 0 0 1 0 1 0 1;

100100 0 0 0 1 1 0 0 0;

110110 0 0 0 1 1 0 0 0;

100010 0 0 0 0 1 0 2 1;

010000 7 10 25 9 7 4 2 5;

011010 0 2 1 0 2 0 0 1;

011000 0 3 4 2 2 0 1 1;

011100 0 2 1 1 0 0 0 0;

010100 0 1 4 1 0 0 0 0;

011001 0 1 2 0 0 0 0 0;

010001 0 0 1 0 0 0 0 0;

010110 0 0 1 0 0 1 0 1;

010010 0 0 0 1 2 1 1 0;

011110 0 0 0 0 0 0 0 1;

ANEXO V

82

Output dos Testes 3 + 2 de ajustamento do modelo global relativo aos dados das

larvas de A. cisternasii.

ANEXO VI

Grupo χ2 Graus de

liberdade

p-value

1 5.51 2 0.0636

2 6.62 4 0.1576

3 11.89 5 0.0663

4 0.84 4 0.9330

5 0.54 3 0.9094

6 2.32 4 0.6774

7 0.27 3 0.9642

8 0.25 3 0.9697

9 0.46 3 0.9282

10 0.81 3 0.8467

11 0.48 3 0.9226

12 0.81 3 0.8461

13 6.87 5 0.2301

14 0.0006 3 1.0000

TOTAL 37.69 48 0.8576

Resíduos do modelo geral CJS para os dados de CR das larvas de

geral CJS para os dados de CR das larvas de S. salamandra

ANEXO VII

83

S. salamandra

84

0

0.5

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

f ri

Pegos

Sessão I

0

0.5

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

f ri

Pegos

Sessão II

0

0.5

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

f ri

Pegos

Sessão III

0

0.5

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

f ri

Pegos

Sessão IV

0

0.5

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

f ri

Pegos

Sessão V

Frequências relativas de ocorrência de indícios de predação em larvas de S.

salamandra, por sessão em cada pego.

ANEXO VIII

85

0

0.5

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

f ri

Pegos

Sessão 1

0

0.5

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

f ri

Pegos

Sessão 2

0

0.5

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

f ri

Pegos

Sessão 3

0

0.5

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

f ri

Pegos

Sessão 4

0

0.5

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

f ri

Pegos

Sessão 5

0

0.5

1

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

f ri

Pegos

Sessão 6

Frequências relativas de ocorrência de indícios de predação em larvas de A.

cisternasii para cada pego, por ocasião.