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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL MODELAGEM NUMÉRICA DE ENSAIOS DE ENROCAMENTO BRUNA MOTA MENDES SILVA TEDESCO ORIENTADOR: MANOEL PORFÍRIO CORDÃO NETO, DSc DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM GEOTECNIA PUBLICAÇÃO: G.DM-277/2016 BRASÍLIA/DF: SETEMBRO/2016

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

MODELAGEM NUMÉRICA DE ENSAIOS DE ENROCAMENTO

BRUNA MOTA MENDES SILVA TEDESCO

ORIENTADOR: MANOEL PORFÍRIO CORDÃO NETO, DSc

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM GEOTECNIA

PUBLICAÇÃO: G.DM-277/2016

BRASÍLIA/DF: SETEMBRO/2016

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

MODELAGEM NUMÉRICA DE ENSAIOS DE

ENROCAMENTO

BRUNA MOTA MENDES SILVA TEDESCO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL DA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE.

APROVADA POR:

_________________________________________

MANOEL PORFÍRIO CORDÃO NETO, DSc. (UnB)

(ORIENTADOR)

_________________________________________

MÁRCIO MUNIZ DE FARIAS, PhD (UnB)

(EXAMINADOR INTERNO)

_________________________________________

CARLOS ALEXANDER RECAREY MORFA, PhD (UCLV)

(EXAMINADOR EXTERNO)

DATA: BRASÍLIA/DF, 19 de SETEMBRO de 2016.

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FICHA CATALOGRÁFICA

TEDESCO, BRUNA MOTA MENDES SILVA

Modelagem numérica de ensaios de enrocamento, Distrito Federal, 2016.

xiv, 87p., 297 mm (ENC/FT/UnB, Mestre, Geotecnia, 2016)

Dissertação de Mestrado - Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia. Departamento

de Engenharia Civil e Ambiental.

1. Método dos Elementos Discretos 2. Enrocamento

3. Compressão unidimensional 4. Cisalhamento direto

I. ENC/FT/UnB II. Mestre

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

TEDESCO, B.M.M.S. (2016). Modelagem numérica de ensaios de enrocamento, Distrito

Federal. Dissertação de Mestrado, Publicação G.DM-277/16, Departamento de Engenharia

Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 87p.

CESSÃO DE DIREITOS

NOME DO AUTOR: Bruna Mota Mendes Silva Tedesco

TÍTULO DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO: Modelagem numérica de ensaios de

enrocamento

GRAU: Mestre

ANO: 2016

É concedida à Universidade de Brasília a permissão para reproduzir cópias desta dissertação de

Mestrado e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e

científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação de

Mestrado pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor.

_________________________________________

Bruna Mota Mendes Silva Tedesco

Rua 30 Norte, Lote 03, Ed. Milena Baqui Muniz – Águas Claras

71918-180 - Brasília/DF - Brasil

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À Cristo, cuja morte me deu vida!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, dono de todo o conhecimento e criador de todas as coisas.

Ele me sustentou todos os dias e me capacitou para chegar até aqui. A Ele toda a honra e toda

a glória.

Agradeço ao meu querido marido Abimael que em todo tempo foi minha força. Obrigada pelo

amor e por nunca me abandonar nessa longa caminhada. Sem você, eu não conseguiria.

Agradeço aos meus pais Denise e Leonardo que sempre são o meu suporte. Obrigada por serem

meus intercessores e por me apoiarem em tudo. Obrigada, também, ao meu irmão Bernardo

pelo companheirismo e por alegrar a minha vida. Vocês são essenciais para mim.

Agradeço ao meu orientador Manoel por toda a dedicação e paciência. Obrigada pelo incentivo

e por acreditar em mim. Sem seu apoio nada disso seria possível.

Agradeço ao Doutor Irvin Pérez Morales que, de todas as maneiras, contribuiu com este

trabalho, auxiliando na utilização da ferramenta empregada na realização de ensaios.

Agradeço ao professor Márcio Muniz que disponibilizou meios para execução desta

dissertação, além de estar sempre presente, auxiliando no que fosse preciso.

Agradeço a todos os meus amigos de curso que contribuíram direta ou indiretamente para a

realização desta pesquisa, e, especialmente, ao amigo Bernardo Cascão que nunca mediu

esforços para auxiliar em diversas dificuldades, sendo um grande companheiro em todo o

tempo.

Agradeço aos meus amigos Nathalie, Renata e Gustavo. Obrigada por torcerem tanto por mim.

Agradeço à CAPES e ao CNPq pelo apoio financeiro.

Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da Universidade de Brasília e todos os

professores que contribuíram nessa jornada.

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RESUMO

Um enrocamento é constituído por rocha sã britada e possui comportamento essencialmente

discreto. Apesar disso, na maior parte dos casos, os enrocamentos são simulados como meios

contínuos. Os parâmetros necessários para execução de um projeto de uma barragem de

enrocamento são difíceis de serem determinados devido à dificuldade de manipulação de suas

grandes partículas para montagem de amostras, bem como devido à falta de equipamentos em

escala suficiente para comportá-las. Assim, o método dos elementos discretos apresenta-se

como uma solução para estes problemas, pois trata o enrocamento como um meio discreto e

possibilita a realização de ensaios de grande escala de maneira computacional. Os

enrocamentos possuem comportamentos complexos que são, na maior parte dos casos,

influenciados pelos parâmetros microscópicos da amostra. De modo a analisar a influência

desses parâmetros no comportamento macroscópico, reproduziram-se os ensaios de

caracterização mecânica dos enrocamentos utilizando o método dos elementos discretos por

meio do software de código aberto Yade. Os ensaios reproduzidos foram os ensaios de

compressão unidimensional e cisalhamento direto que já haviam sido executados em um granito

de baixa resistência em um laboratório anteriormente. Eles mostraram que o parâmetro que

possui maior influência sobre o comportamento do material é o módulo de Young das

partículas, visto que influencia diretamente as forças nos contatos entre elas. Ângulo de atrito

e rigidez a rotação também exercem alguma influência sobre o comportamento, porém de

maneira bem mais reduzida. O ensaio de compressão unidimensional foi realizado com e sem

quebra, apresentando respostas muito semelhantes entre si, visto que a quebra para o material

ensaiado foi insignificante. A utilização do método dos elementos discretos mostrou-se eficaz

na representação do comportamento real do material ensaiado.

Palavras-chave: Método dos elementos discretos, enrocamento, ensaio de compressão

unidimensional, ensaio de cisalhamento direto.

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ABSTRACT

A rockfill comprises sound rock and behave itself in a manner essentially discrete.

Nevertheless, in most cases, rockfills are simulated as continuous medium. The required

parameters for a rockfill dam project execution are difficult to be determined due to the

difficulty of handling their large particles for mounting samples and the lack of availability of

equipment on a sufficient scale to test the enormous samples. Thus, the discrete element method

is presented as a solution for these problems because treats rockfills as a discrete medium and

allows the achievement of large-scale tests in a computational manner. Overall, rockfills present

complex behavior that is, in most cases, influenced by microscopic sample parameters. In order

to analyze the influence of the microscopic parameters on the macroscopic behavior, rockfill

characterization tests were reproduced using the discrete element method by the open source

software Yade. The tests reproduced were the one-dimensional compression test and the direct

shear test that already were executed previously in a low resistance granite in laboratory. The

tests have shown that the most influent parameter was the Young’s modulus of the particles

since it directly influences the forces on the contacts between them. The friction angle and the

rotational stiffness also exert some influence on the sample behavior but in a such smaller way.

The one-dimensional compression test was carried out with and without breakage having both

very similar responses. This happens because the breakage of the particles was negligible. The

application of the discrete element method proved effective in the representation of the real

behavior of the tested material.

Keywords: Discrete element method, rockfill, one-dimensional compression test, direct shear

test.

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SUMÁRIO

Capítulo Página

1. INTRODUÇÃO 1

1.1 CONTEXTO GERAL 1

1.2 MOTIVAÇÃO 2

1.3 OBJETIVOS 3

1.3.1 OBJETIVO GERAL 3

1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 3

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4

2.1 BARRAGENS E ENROCAMENTOS 4

2.1.1 BREVE HISTÓRICO 4

2.1.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS E COMPORTAMENTO DOS ENROCAMENTOS 5

2.1.3 ESTUDOS E MODELOS CONSTITUTIVOS ACERCA DOS ENROCAMENTOS 7

2.2 A ASPECTOS MICROMECÂNICOS REAIS QUE INFLUENCIAM NO

COMPORTAMENTO MACROMECÂNICO DE UM MATERIAL 10

2.2.1 TAMANHO DOS GRÃOS 12

2.2.2 FORMA DOS GRÃOS 12

2.2.3 QUEBRA DAS PARTÍCULAS 14

2.3 MÉTODO DOS ELEMENTOS DISCRETOS 15

2.3.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MÉTODO DOS ELEMENTOS

DISCRETOS 16

2.3.2 PRINCÍPIOS DO MÉTODO 18

2.3.3 ASPECTOS CONSIDERADOS PELO MÉTODO DOS ELEMENTOS DISCRETOS

20

2.3.3.1 GERAÇÃO DAS AMOSTRAS 20

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2.3.3.2 MODELOS DE CONTATO 22

a) Interações Normais 22

b) Interações Tangenciais 24

c) Modelo de Hertz-Mindlin 25

d) Detecção dos Contatos 25

2.3.3.3 PASSO DE TEMPO 27

2.3.3.4 FORMA 28

2.3.3.5 QUEBRA 29

a) Critérios de Quebra 30

b) Procedimentos de Separação (Spawning Procedure) 31

3. METODOLOGIA 34

3.1 DADOS UTILIZADOS 34

3.2 YADE 36

3.2.1 GERAÇÃO DAS AMOSTRAS 36

3.2.2 MODELOS E PARÂMETROS 43

3.3 QUEBRA 45

3.4 COMPRESSÃO 49

3.5 CISALHAMENTO DIRETO 52

4. RESULTADOS 56

4.1 COMPRESSÃO UNIDIMENSIONAL 56

4.1.1 CALIBRAÇÃO DE PARÂMETROS PARA COMPRESSÃO UNIDIMENSIONAL

56

4.1.2 RESULTADOS DE ENSAIOS DE COMRPESSÃO SIMPLES SEM QUEBRA 61

4.1.3 RESULTADOS DE ENSAIOS DE COMRPESSÃO UNIDIMENSIONAL COM

QUEBRA 63

4.2 CISALHAMENTO DIRETO 67

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4.2.1 CALIBRAÇÃO DE PARÂMETROS PARA CISALHAMENTO DIRETO 67

4.2.2 RESULTADOS DE ENSAIOS DE CISALHAMENTO DIRETO 76

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 78

5.1 CONCLUSÕES 78

5.2 RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS 80

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 81

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LISTA DE TABELAS

Tabela Página

Tabela 3.1 – Características Gerias do Material Simulado 34

Tabela 3.2 – Comparação dos módulos de Young entre gerações aleatórias de amostras. 38

Tabela 3.3 – Número de partículas e massa distribuídos pelos diâmetros da amostra. 38

Tabela 3.4 – Granulometrias truncadas. 40

Tabela 3.5 – Tempo decorrido para ensaio das amostras. 41

Tabela 3.6 – Comparação dos módulos de Young das granulometrias truncadas 41

Tabela 3.7 – Parâmetros para geração de amostra. 43

Tabela 3.8 – Densidades calculadas para aplicação de tensão normal. 53

Tabela 4.1 – Parâmetros utilizados nos ensaios de compressão unidimensional 61

Tabela 4.2 – Granulometria das amostras utilizadas no ensaio de compressão unidimensional

62

Tabela 4.3 – Ângulo de atrito macroscópico a partir do ângulo de atrito microscópico 72

Tabela 4.4 – Influência do módulo de Young. 74

Tabela 4.5 – Influência da rigidez rotacional – κrot – no ângulo de atrito da amostra. 76

Tabela 4.6 – Propriedades para calibração da amostra. 77

Tabela 4.7 – Ângulo de atrito da amostra a partir das calibrações realizadas. 77

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LISTA DE FIGURAS

Figura Página

Figura 2.1 – Modelo de Patton (modificado - Patton, 1966). 7

Figura 2.2 – Influências micromecânicas (Zuluaga, 2014). 11

Figura 2.3 – Efeito da forma na compressibilidade de areias (Chuhan et al., 2003). 13

Figura 2.4 – Comportamento de compressão unidimensional de areias (Chuhan et al., 2003).

15

Figura 2.5 - Círculo exterior em contato com outros dois, obtidos pelo método de envoltórias

de intersecção (Morales et al., 2015) 22

Figura 2.6 – Gradeamento para detecção de contatos (Safuryn, 2016). 26

Figura 2.7 – Procedimento de separação após quebra (Poschel e Schwager, 2005). 32

Figura 2.8 – Procedimento de separação após quebra (Ben-Nun e Einav, 2010). 32

Figura 3.1 – Granulometria do material utilizado por Dias (2001). 35

Figura 3.2 – Comparação entre gerações aleatórias de amostras. 37

Figura 3.3 – Média de partículas por ensaios (modificado - O’Sullivan, 2014). 39

Figura 3.4 – Comportamento das granulometrias truncadas. 40

Figura 3.5 – Procedimento de geração da amostra: (a) geração de partículas por meio de uma

fábrica; (b) compressão das partículas criadas até a altura desejada. 42

Figura 3.6 – Máxima distância de Rtanθ_0 abaixo do centro do contato (Ciantia et al., 2015).

46

Figura 3.7 – Quebra e inserção de novas partículas (Ciantia et al., 2015). 48

Figura 3.8 – Equipamento para ensaio de compressão unidimensional (Dias,2001). 50

Figura 3.9 – Influência da velocidade – Parâmetros da amostra: E = 109 e ϕ = 64º. 51

Figura 3.10 – Equipamento utilizado no ensaio de cisalhamento direto de grande escala (Dias,

2001). 52

Figura 3.11 – Estabilização das amostras: (a) E = 14E+07 Pa e ϕ = 30º; (b) E = 14E+09 e ϕ =

30º. 53

Figura 3.12 – Esquema do ensaio de cisalhamento virtual. 54

Figura 3.13 – Comparação de medições na caixa e na esfera. 55

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Figura 4.1 – Comparação do comportamento de uma amostra devido ao Poisson – E = 108 e ϕ

= 30º. 56

Figura 4.2 – Comparação do comportamento de uma amostra devido ao Ângulo de Atrito – E

= 108 e ν = 0,3. 57

Figura 4.3 – Comparação do comportamento de uma amostra devido ao módulo de Young – ν

= 0,3 e ϕ = 55º 57

Figura 4.4 – Comportamento assintótico do comportamento de compressão em relação ao

ângulo de atrito para uma tensão normal de 400 kPa – E = 108, ν = 0,3. 59

Figura 4.5 – Comparação do comportamento de compressão devido ao módulo de Young em

escala log – ν = 0,3 e ϕ = 53º. 59

Figura 4.6 – Relação entre o módulo de Young e tensão necessária para provocar uma

deformação de 1,5% - ϕ = 53º, ν = 0,3. 61

Figura 4.7 – Resultado do ensaio de compressão unidimensional - ϕ = 53º e ν = 0,3 62

Figura 4.8 – Relação entre força limite e módulo de Young. 64

Figura 4.9 – Ensaio de compressão com quebra – E = 14x107 e ϕ = 53º. 64

Figura 4.10 – Granulometrias inicial e final do ensaio de compressão unidimensional 65

Figura 4.11 – Granulometrias inicial e final do ensaio de compressão unidimensional com

material de Itapebi (Dias, 2001). 65

Figura 4.12 – Esquema de ensaio de rolamento 68

Figura 4.13 – Influência do ângulo de atrito - E = 14x109 e κ = 0. 69

Figura 4.14 – Influência da rigidez rotacional - E = 14x109 e κ = 0. 70

Figura 4.15 – Influência da rigidez rotacional. 71

Figura 4.16 – Influência do ângulo de atrito – E = 14x109 e κ = 0. 72

Figura 4.17 – Influência do módulo de Young – φ = 10º e κ = 0. 73

Figura 4.18 – Influência do módulo de Young – φ = 30º e κ = 0. 74

Figura 4.19 – Anomalia no comportamento das partículas devido a Young muito baixo. 75

Figura 4.20 – Influência da rigidez rotacional (κrot) – E = 14x109 e ϕ = 10º. 76

Figura 4.21 – Calibração do Ensaio de Cisalhamento. 77

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LISTA DE SÍMBOLOS

𝐴𝐹 – Área de contato entre as partículas

𝐹𝑙𝑖𝑚 – Força limite para quebra

𝑑0 – Diâmetro de referência

𝑒𝑖 – Coeficiente de restituição

𝑟𝐻 – Raio de contato entre partículas

d – Diâmetro das partículas

E - Módulo de Young

m – Parâmetro do material

R – Raio da partícula

𝐼𝑠 – Resistência a compressão puntiforme

𝛽𝑖 – Taxa de amortecimento viscoso

𝜅𝑚𝑜𝑏 – Força mobilizada dos grãos

𝜎𝑐 – Resistência a compressão uniaxial

𝜎𝑙𝑖𝑚 – Tensão limite para quebra

𝜎𝑡 – Resistência a tração uniaxial

κrot – Rigidez a rotação

ν – Coeficiente de Poisson

ϕ – Ângulo de Atrito

χ – Parâmetro de propriedades micro estruturais dos parâmetros

𝜅 – Força intrínseca dos grãos

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1. INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTO GERAL

O crescimento populacional bem como o aumento de atividades comerciais e industriais

eleva a necessidade de energia elétrica de uma região. Estima-se que, atualmente, a demanda

de energia elétrica no Brasil varia anualmente de 3.000 a 4.000 MW. A fim de suprir tal

demanda no país, onde o potencial hidráulico é bastante elevado, uma das maneiras utilizadas

é o emprego de hidroeletricidade cujo objetivo é a conversão do fluxo natural da água em

eletricidade. Desta forma, grande parte da matriz energética brasileira pauta-se neste tipo de

energia. Neste contexto, surgem as barragens visto que um de seus principais objetivos é o

represamento de água para o aproveitamento hidrelétrico pela regularização de vazões, além de

abastecimento de água, controle de inundações, e, até mesmo, irrigação.

Uma barragem pode ter diferentes constituições o que irá classificá-la em barragem de

concreto ou barragem geotécnica. As barragens geotécnicas, por sua vez, subdividem-se em

barragens de terra e barragens de enrocamento, sendo estas barragens aquelas em que há

predominância de material rochoso em sua seção, consistindo sua impermeabilização em

membrana externa, que pode ser, por exemplo, de concreto ou asfalto, ou em núcleo interno de

argila.

Para execução do projeto de uma barragem de enrocamento, geralmente, utilizam-se

programas computacionais que exigem determinados parâmetros geotécnicos e baseiam seu

funcionamento no método dos elementos finitos. A ideia central deste método é discretizar a

barragem, considerada, portanto, contínua, representando-a por um conjunto de elementos

conhecidos.

Apesar da consideração como meios contínuos para execução de seus projetos, os

enrocamentos são, assim como o solo, essencialmente discretos, ou seja, sua formação é

composta por partículas que interagem por meio de contatos mecânicos. O problema desta

consideração está no fato de materiais granulares, ao contrário dos materiais contínuos,

apresentarem comportamentos bastante distintos de acordo com a circunstância a que estão

submetidos. Observou-se, por exemplo, acumulação de lentas deformações nos enrocamentos

ao longo de décadas, além do colapso da face quando submersa, dentre outros.

Percebe-se, assim, que o comportamento dos enrocamentos é complexo, não sendo, desta

forma, suficiente o seu tratamento como contínuo. Neste contexto, surge a necessidade da

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aplicação do método dos elementos discretos para projeto e análise das barragens de

enrocamento uma vez que a principal característica deste método é o controle das respostas

complexas por leis simples de contato entre partículas. Desta forma, é possível simular quebras

e fraturas de partículas, além de prever o comportamento da mecânica granular.

A aplicação do método dos elementos finitos aos enrocamentos, além disso, exige a

determinação de parâmetros que são mantidos constantes ao longo de toda a simulação, ou seja,

mesmo havendo acumulação de deformações ou quebra, estes parâmetros são considerados

invariáveis. Além disso, sabe-se que a obtenção destes parâmetros se dá de forma aproximada

tendo em vista a dificuldade de ensaiar amostras tão grandes, sendo, portanto, os parâmetros

obtidos por ensaios em escalas reduzidas que buscam reproduzir o comportamento do material.

Este procedimento inevitavelmente agregará erros à simulação, aumentando, assim as

incertezas associadas à utilização do método dos elementos finitos nos enrocamentos.

1.2 MOTIVAÇÃO

Parâmetros de enrocamentos necessários para execução de projetos são difíceis de serem

determinados devido à dificuldade de manipulação de grandes partículas para montagem de

amostras, bem como devido à falta de equipamentos gigantescos para realizar os ensaios.

Assim, devido a essa realidade, poucos ensaios são executados.

A fim de suprir a falta de ensaios para determinação dos parâmetros, adotou-se solução

que busca adaptar as amostras aos equipamentos existentes, utilizando para isto granulometria

inferior à real. Assim, os ensaios, que deveriam ser feitos para a granulometria real dos

enrocamentos, são feitos em menor granulometria de forma que se adequem aos equipamentos

disponíveis para os ensaios. Este procedimento, entretanto, é complicado e arraigado de

imprecisões e incertezas, pois os parâmetros obtidos referem-se a materiais distintos dos quais

deseja-se realmente conhecer o comportamento. Além disso, não é conhecida a relação entre os

parâmetros da granulometria ensaiada e a granulometria real.

Percebe-se, desta forma, a necessidade de estabelecer parâmetros para os materiais dos

enrocamentos que melhor se aproximem às condições reais. Assim, baseando-se nos ensaios

existentes, a principal motivação desta dissertação consiste em simular o comportamento dos

enrocamentos a partir de suas partículas, sistematizando a forma pela qual os parâmetros

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obtidos em uma granulometria menor se relacionam com os parâmetros reais, considerando a

quebra de grãos.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral desta dissertação consiste na análise da maneira pela qual parâmetros a

nível de grãos, oriundos do comportamento complexo do material, influenciam nos parâmetros

macroscópicos dos enrocamentos.

1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Levantar e analisar de dados de ensaios de enrocamentos existente na literatura;

Realizar estudo teórico acerca dos parâmetros microscópicos de partículas;

Simular os dados analisados da forma mais adequada à realidade;

Observar a influência dos parâmetros a nível de grãos no comportamento macroscópico de

um enrocamento.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 BARRAGENS E ENROCAMENTOS

Uma barragem pode ser definida como um elemento estrutural construído transversalmente

à direção de escoamento de um curso d’água com o objetivo de criar um reservatório artificial

para acumular água (Marangon, 2004). Define-se enrocamento, por sua vez, como uma

aglomeração de partículas de rocha, sendo suas dimensões compreendidas entre 1 cm e 2 m

(Deluzarche e Cambou, 2006). Trata-se de um conceito atual que sofreu alterações ao longo

dos anos, devido a experiência adquirida no manuseio deste elemento e do desenvolvimento de

técnicas construtivas (Affonso, 2004). Inicialmente, por exemplo, Terzaghi e Peck (1967)

classificaram uma partícula originada do fragmento de uma rocha sã como enrocamento

baseado no seu peso, que deveria estar entre 13 kg e 18 t, e não no seu tamanho, como é feito

atualmente.

2.1.1 BREVE HISTÓRICO

As barragens estão intimamente ligadas ao crescimento e declínio das civilizações ao longo

da história e, com o passar do tempo, suas técnicas construtivas foram evoluindo. Durante o

século XIX, importantes avanços nas técnicas de dimensionamento aconteceram. Engenheiros

franceses começaram a incorporar aproximações racionais às suas análises de forças,

defendendo que as pressões em uma barragem devem ser levadas a limites específicos e que a

estrutura deve ser dimensionada para suportar escorregamento.

No século XX, grandes avanços foram feitos. Os norte-americanos fizeram importantes

progressos nas construções de aterro e a nova tecnologia de barragens de enrocamento deram

novo impulso aos Estados Unidos (Jansen, 1980). A primeira vez que um maciço de

enrocamento foi utilizado como elemento principal de uma barragem foi em Serra Nevada,

Califórnia (Davis e Sorensen, 1974).

No que se refere às barragens de enrocamento, a divisão histórica do seu desenvolvimento

é feita em três partes. O período inicial, compreendido entre os anos de 1850 a 1940, é

representado pela utilização de aterros constituídos de enrocamento lançado, sem compactação.

O período de transição, que abrange os anos entre 1940 e 1965, caracteriza-se por uma

experimentação agressiva, através das técnicas inovadoras de projeto e construção, e pela

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comprovação da importância da compactação no processo construtivo. Por fim, o período

recente, que se iniciou em 1965 e se estende até os dias atuais, há um refinamento dos projetos

de enrocamento, guardando uma certa padronização (Coke, 1984).

A primeira barragem de enrocamento construída no Brasil foi a barragem de Furnas,

iniciada em 1958. Ao longo dos últimos anos, foram construídas 40 barragens de enrocamento,

sendo 29 com núcleo de argila, 9 com face de concreto e 2 com núcleo asfáltico (Donadon,

2015).

2.1.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS E COMPORTAMENTO DOS

ENROCAMENTOS

O enrocamento é constituído por rocha sã britada, geralmente, com granulometria bem

uniforme. Destacam-se com os mais importantes atributos dos enrocamentos, sua baixa

compressibilidade e a alta resistência ao cisalhamento (Silva, 2007). Segundo Sowers et al.

(1965), o comportamento de um enrocamento caracteriza-se pelo acumulo de lentas

deformações através de muitas décadas (apud Oldecop e Alonso, 2001). Assim como nos solos

arenosos e granulares, existem algumas características que irão influenciar diretamente a

resistência e o grau de deformação dos enrocamentos. As principais características são:

mineralogia, resistência da rocha, faturamento dos blocos, índice de vazios, forma e textura dos

blocos, saturação, tamanho dos blocos, velocidade de carregamento e magnitude das tensões

aplicadas (Dias, 2001). Nota-se, desta forma, que o comportamento de uma estrutura de

enrocamento sofre influência direta da rocha-mãe que o formou.

Além desses parâmetros, pode-se acrescentar ao comportamento de um enrocamento a alta

taxa de quebra de suas partículas, o que não é observado para areias, exceto em estados de

elevadas tensões. Segundo Terzaghi (1960), uma possível razão para as grandes deformações

dos enrocamentos seria, então, a quebra de partículas em regiões próximas a elevadas tensões

de contato que se rearranjam de modo a formar uma estrutura mais estável.

Várias barragens de enrocamento foram construídas no início do século XX. Nesta fase

algumas apresentaram mau comportamento devido à ocorrência de vazões elevadas e

surgimento de grandes deformações após o período de construção. Tais problemas foram

relacionados ao enchimento do reservatório e molhagem dos contatos dos blocos de rocha.

Provou-se à época que a molhagem dos contatos provocava perda de resistência dos blocos de

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rocha, levando à quebra dos grãos. Sugeriu-se, então, a molhagem inicial dos maciços de

enrocamento. Tal prática acentuou o esmagamento dos blocos uma vez que os contatos eram

enfraquecidos, fato que diminuía os recalques seguintes (Affonso, 2004). Sabe-se atualmente

que, além disso, durante a construção de uma barragem, o enrocamento é compactado camada

por camada até que atinja a densidade e inclinação desejadas. Gradualmente, a carga vertical

nas camadas mais inferiores é aumentada devido a compactação de novas camadas superiores

até que se atinja a altura necessária. Esse procedimento resulta em uma elevada carga nas

camadas inferiores, provocando a quebra de partículas (Sharma et al, 2011).

Clements (1981), em testes de carga constante, observou que a deformação nos contatos

entre partículas de um enrocamento é dependente do tempo, ou seja, quanto maior o tempo

transcorrido, maior a deformação observada nos contatos. Além disso, se, após algum tempo

sob carga constante, houver molhagem, deslocamentos adicionais ocorrerão. Comparando estes

resultados com os resultados de Sowers (1965), notou-se que, tanto as deformações

dependentes do tempo quanto a colapso das rochas estão associadas ao fenômeno de quebras

de partículas (Oldecop e Alonso, 2001).

O elevado nível de quebra dos enrocamentos deve-se a existência de fraturas existentes nas

partículas do enrocamento que são submetidas a elevadas forças de contato. Desta forma,

quanto maior a partícula, maior a possibilidade de a partícula quebrar (Deluzarche e Cambou,

2006).

De forma geral, a quebra dos blocos de rocha altera as características de deformabilidade

dos enrocamentos. Tal fato ocorre devido à alteração da granulometria consequente do processo

de quebra, decorrendo em alteração do índice de vazios do material. Ao quebrar, pedaços

menores de rocha ocuparão os vazios antes existentes. Desta forma, o imbricamento do

enrocamento poderá ser elevado, aumentando sua resistência. Destaca-se, entretanto, que o

processo de quebra pode ocasionar deformações elevadas durante o processo de rearranjo e

quebra de blocos (Dias, 2001).

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2.1.3 ESTUDOS E MODELOS CONSTITUTIVOS ACERCA DOS

ENROCAMENTOS

Devido a sua ampla utilização e importância, existem diversos tipos de estudos e modelos

constitutivos que buscam caracterizar o comportamento de um enrocamento. Modelos

constitutivos definem a relação entre estímulos externos e as respostas do material (Bolton et

al., 2008). Tratam-se de aproximações teóricas para o que se observa na realidade, baseado em

certas premissas de acordo com determinados princípios teóricos, aproximações matemáticas e

observações de campo ou laboratório.

Segundo Jing e Stephansson (2006), o desenvolvimento de um modelo constitutivo deve

atender a dois requisitos principais. O primeiro requisito diz respeito a necessidade que o

modelo tem de capturar o comportamento das rochas encontrados nos ensaios de laboratório e

observações de campo, com limites aceitáveis de tolerância, no que diz respeito às tensões e

deformações características dos problemas de engenharia. O segundo requisito trata da

necessidade que o modelo tem de simular o comportamento da rocha sob condições gerais de

carregamento e os caminhos de tensões e deformações associadas sem violar a segunda lei da

termodinâmica.

Patton (1966) correlacionou em seu modelo a rugosidade da rocha com a força de

cisalhamento na superfície de uma fratura, assumindo que a rugosidade na superfície de uma

fratura tem a mesma forma e um ângulo de inclinação i, que representa o efeito do ângulo de

dilatância. O esquema do modelo está esquematizado na Figura 2.1 a seguir.

Figura 2.1 – Modelo de Patton (modificado - Patton, 1966).

Tensão Normal σn

Tensão Cisalhante σs

Falha da

rocha intacta

Cisalhamento na

superfície rugosa

Tensão Normal σn

Fo

rça

Cis

alhan

te τ

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Ladanyi e Archambault (1969), por sua vez, consideraram, em seu modelo, variação do

ângulo de dilatância i, de acordo com a magnitude da força normal, e efeito de imrbricamento

entre os grãos, causado pela rugosidade de cada partícula.

Mais recentemente, Oldecop e Alonso (2001) sugeriram um mecanismo básico de

deformação volumétrica baseado na propagação de fraturas. Essa deformação é capaz de

explicar fisicamente a dependência do tempo e a influência da tensão e da ação da água em

deformações e quebras de um enrocamento. Segundo os autores, a rigidez do enrocamento

durante a compressão depende da sucção, aumentando com o aumento desta, e, o aumento da

umidade, reduzindo a sucção, depende da pressão confinante aplicada na amostra.

Um comportamento dependente do tempo intrínseco do enrocamento surge do modelo

proposto pelos autores, desde que a velocidade da propagação de fratura subcrítica, função das

tensões de contato e da umidade da rocha, determine a taxa de deformação do enrocamento. Se

o enrocamento for molhado sob baixas tensões, o material não sofrerá deformações de modo

geral, mas se a tensão aumenta, as fraturas irão surgir com um rápido aumento na sua velocidade

de propagação.

Por meio de ensaios, os autores provaram que a maior parte da água utilizada para

molhagem do enrocamento, foi armazenada dentro das partículas de rocha, isto é, em seus

poros, preenchendo suas fraturas, e somente uma pequena parte estava presente nos vazios

existente entre as partículas. Assim, os autores consideraram como componente fundamental

para análise do comportamento do enrocamento a sucção total. Trata-se de uma variável

constitutiva fundamental se considerada sob um ponto de vista termodinâmico, pois pode se

considerar uma medida do potencial químico da água que influencia a taxa da tensão de reação

de corrosão, que será maior quanto maior o potencial químico da água. Um aumento na taxa de

reação produz não só um aumento na taxa de deformação do enrocamento, mas também na

deformação para o colapso. Existe, portanto, segundo os autores, uma correlação entre a

deformação e a sucção total no enrocamento. Assim, qualquer situação que conduzisse a uma

alteração na umidade das partículas de rocha é suficiente para causar deformações colapsíveis

e aumentar a conformidade do material contra carregamentos futuros.

Varadarajan et al. (2003), por sua vez, realizaram ensaios triaxiais de grande escala em

materiais de enrocamento para desenvolver um modelo constitutivo baseado em uma teoria

elasto-plástica de modo a prever sua mudança de volume devido ao seu comportamento tensão-

deformação. Para desenvolver seu modelo, os autores adaptaram o modelo constitutivo

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desenvolvido por Desai (1994), que considera o conceito de estado perturbado (DSC) e utiliza

parâmetros como forças de plastificação irreversíveis, endurecimento plástico, ângulos

friccionais e degradação devido à quebra das partículas (apud Varadarajan et al., 2003).

Segundo o modelo de Desai (1994), à medida que o material, inicialmente intacto, se

deforma, devido a aplicação de uma carga, sofre mudanças micro estruturais que envolvem

reorientação de partículas, micro fraturas, quebra de partículas e anisotropia induzida. Nesta

etapa o material pode permanecer contínuo ou tornar-se descontínuo. O limite entre estes

estados é chamado estado completamente ajustado. Uma função de perturbação, então, define

a resposta do material nos estados relativamente intacto e completamente ajustado (apud

Varadarajan et al., 2003).

Varadarajan et al. (2003) concluíram com suas análises que o seu modelo, baseado em

teorias elasto-plásticas, descrevem melhor o comportamento de um enrocamento que os

modelos baseados em teorias elásticas.

Netmati et al. (2011) investigaram o ângulo de dilatância de um enrocamento, parâmetro

comumente utilizado no modelo constitutivo elasto-plástico. Através de ensaios triaxiais, os

autores concluíram que o ângulo de dilatância é dependente do grau de quebra do material, que

aumenta sob elevada tensão confinante, pois a expansão do material é restringida. Além disso,

a dilatância se relaciona diretamente com a resistência a abrasão de partículas angulosas. Em

enrocamentos cujas partículas apresentam forma mais arredondada, a quebra é induzida

principalmente em elevadas pressões confinantes.

Xiao et al. (2014) definiram, por sua vez, um modelo constitutivo dependente do estado do

enrocamento. Para isso, os autores investigaram o comportamento da relação de tensão e

deformação de um enrocamento, do ângulo de atrito crítico e da linha de estado crítica (CSL)

no plano e-log p’, todos baseados em um ensaio de cisalhamento de grande escala, e testaram

o modelo constitutivo de Li e Dafalias (2000), proposto para areais, que acrescenta dilatância

ao conceito básico de estado crítico dos solos.

Segundo ensaios realizados por Xiao et al. (2014), a dilatância e o pico de quebra do

enrocamento é muito similar ao proposto para areia de Li e Dafalias (2000). Além disso,

percebeu-se que o ângulo de atrito crítico do enrocamento diminui com um aumento da pressão

confinante inicial. As linhas de estado críticas do enrocamento analisado crescia com o aumento

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do índice de vazios inicial, fato atribuído a alterações na curva granulométrica devido à quebra

de partículas.

O modelo proposto pelos autores mostrou-se aplicável para simular o comportamento

dependente do estado de dilatância, tensão-deformação, e ângulo de atrito mobilizado de um

enrocamento para diferentes densidades e pressões.

2.2 A ASPECTOS MICROMECÂNICOS REAIS QUE INFLUENCIAM NO

COMPORTAMENTO MACROMECÂNICO DE UM MATERIAL

O mecanismo mais importante de deformação de uma massa de solos trata-se do

deslizamento relativo entre suas partículas. A resistência ao esforço cortante entre duas

partículas é tensão que se deve mobilizar de forma que se produza um deslizamento relativo. A

resistência tangencial total, função do número de contatos do material, por sua vez, é

proporcional à força normal exercida entre as partículas em contato (Lambe e Whitman, 1969).

A resistência ao cisalhamento, desta forma, é bastante influenciada pela resistência tangencial

dos contatos entre partículas, sendo o grau de acomodação entre partículas também contribuinte

para a resistência total (Neves, 2009).

Assim, as características microscópicas dos solos, como o tamanho dos seus grãos, forma

das suas partículas, granulometria, dentre outros, e os fenômenos micro mecânicos relacionados

ao solo, como seu grau de saturação, cimentação e quebra, influenciam a sua geomecânica

(Zuluaga, 2014). Tal fato acontece, pois, conforme definido pelo método dos elementos

discretos, os contatos entre as partículas do meio que se está analisando é muito importante,

explicando, muitas vezes, comportamentos complexos do material. Assim, analisar os aspectos

micro mecânicos associados aos contatos da partícula é fundamental para compreensão do

comportamento geral do material.

O arranjo das partículas, por exemplo, define a forma pela qual as partículas, e

consequentemente os contatos, estão organizados. Assim, o arranjo das partículas relaciona-se

diretamente com a transmissão das tensões distribuídas no material. A cimentação, por sua vez,

restringe o movimento entre partículas nos contatos devido às forças químicas que surgem ali.

Desta forma, Zuluaga (2014) afirma que a rigidez de alguns materiais será aumentada devido

ao efeito de cimentação.

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A presença de meniscos nos contatos entre partículas, advindos da não saturação do

material, sujeita as partículas a um estado de tensão negativa. Assim, esta presença de meniscos

influencia a tensão efetiva, a resistência e a rigidez do mesmo (Zuluaga, 2014).

A distribuição granulométrica do material determinará a forma pela qual os vazios serão

preenchidos. Materiais bem graduados apresentam menor índice de vazios, visto que as

partículas menores ocuparão os vazios deixados pelas partículas maiores. Consequentemente,

há maior entrosamento entre os grãos, ocasionando maior ângulo de atrito (Neves, 2009). Além

disso, o fenômeno microscópico da quebra de partículas relaciona-se também com a

distribuição granulométrica do material visto que em materiais mal graduados este fenômeno

se dá com maior intensidade (Zuluaga, 2014).

O tamanho das partículas, na geotecnia clássica, é um parâmetro qualificado como

determinante para a compreensão do desempenho do material. Nakata et al. (2001), em seus

estudos, evidenciam a relação deste parâmetro com a quebra de partículas, visto que explica o

início do processo que será mais rápido para partículas cujo tamanho é maior.

A Figura 2.2 a seguir esquematiza os aspectos micro mecânicos que influenciam no

comportamento do material.

Figura 2.2 – Influências micromecânicas (Zuluaga, 2014).

Não Saturação

H2O

Arranjo das Partículas

% P

assa

Diâmetro das partículas

Distribuição Granulométrica

Quebra de Partículas Cimentação entre partículas

Cimento

Forma das Partículas Tamanho das Partículas

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2.2.1 TAMANHO DOS GRÃOS

Um parâmetro importante para entendimento do comportamento de um material é o

tamanho dos seus grãos. Além disso, esse parâmetro também pode ser utilizado para

classificação como indicador de possíveis fenômenos físicos (Zuluaga, 2016).

Uma explicação clássica do efeito do tamanho dos grãos em uma amostra está associada

ao conceito das quebras da amostra. Falhas são entendidas como consequência da total

propagação de um defeito existente ou rachadura no material. Se em determinada massa rochosa

há uma grande distribuição de falhas de diferentes tamanhos, maior a probabilidade dessa massa

quebrar, ou seja, o tamanho da partícula e o tamanho da possibilidade de falha máxima são

equivalentes. Assim, o fraturamento da rocha depende do tamanho da partícula (Alonso et al.,

2012). Quanto maior a partícula, maior serão suas chances de quebra.

Além disso, em aplicações geomecânicas, a resposta do sistema a carregamentos externos

é o que mais interessa (Ciantia et al., 2015). Torok et al. (2005) realizaram estudos de modo a

determinar a forma pela qual as forças e respostas do material são dependentes da sua

granulometria. Assim, segundo os autores, a força máxima é inversamente proporcional ao

número de partículas em uma determinada seção. Desse modo, se muitas partículas pequenas

forem adicionadas, as cargas serão transmitidas por muitos pequenos contatos. Se, ao contrário,

partículas maiores forem adicionadas, o número de contatos diminui e, então, a força máxima

aumenta. Percebe-se assim que, segundo Torok et al. (2005), as partículas maiores participam

de forma muito mais intensa na transmissão de forças através do material granular que as

partículas menores.

2.2.2 FORMA DOS GRÃOS

Entender o comportamento dos solos exige o conhecimento da forma das partículas que

o compõe, pois, este comportamento é intrinsecamente dependente das características das

partículas. O comportamento macroscópico dos materiais granulares é resultado da interação

entre partículas, sendo tais mecanismos micro mecânicos função da forma das partículas

(Zuluaga, 2014).

Existem três principais características quando se refere à forma das partículas.

Inicialmente, a esfericidade refere-se a forma geral da partícula. Trata-se de um parâmetro que

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traduz a similaridade entre o comprimento, a largura e a altura da partícula. O arredondamento,

por sua vez, é quantificado como a relação entre o raio médio de curvatura de características de

superfície e o raio da maior esfera inscrita na partícula. Esta propriedade, portanto, mostra a

escala das características principais de superfície. Por fim, a rugosidade traduz a textura das

partículas em relação aos seus raios. (Cho et al., 2006)

Encontraram-se na literatura alguns estudos que revelam como a forma das partículas

pode influenciar o comportamento do material. Estes estudos, entretanto, em sua maioria

restringem-se ao comportamento de solos arenosos. Apesar disso, tais estudos são importantes

para que se possa notar que existem influências significativas da forma dos grãos no

comportamento geral do material. A Figura 2.3 a seguir mostra, por exemplo, resultado dos

estudos de Chuhan et al. (2003) que revelam os efeitos da variação da forma das partículas na

compressibilidade de materiais granulares com diâmetros similares.

Figura 2.3 – Efeito da forma na compressibilidade de areias (Chuhan et al., 2003)

Cho et al. (2006), por sua vez, em seu estudo avaliam os efeitos da forma das partículas

na densidade e no comportamento dos solos arenosos. O aumento do arredondamento, por

exemplo, eleva o ângulo de atrito no estado crítico, assim como os índices de vazio extremos,

ou seja, índice de vazios máximo e mínimo. Além disso, os autores também destacam a redução

do índice de compressibilidade devido a regularidade da forma das partículas do material.

Assim, conclui-se neste estudo, que como exercício de caracterização do material, a forma das

partículas deve ser sempre avaliada visto que exerce significativa influência no comportamento

do material.

32

36

40

44

48

0,1 1 10 100

Po

rosi

dad

e (%

)

Tensão Vertical Efetiva (MPa)

Subarredondada (0,17mm)

Subangular (0,19mm)

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2.2.3 QUEBRA DAS PARTÍCULAS

A quebra das partículas é um fenômeno que acontece em escala microscópica. Trata-se

do faturamento das partículas após alcançarem determinado nível de tensões. Determinadas

características definem este processo como gradação e tamanho das partículas, mineralogia e

nível de tensões (Zuluaga, 2014).

Tudo na natureza tende a um estado de menor energia. Assim, a quebra de partículas

ocorre em consequência da busca do material de encontrar este estado de maior equilíbrio, ou

seja, havendo maior número de contatos entre as partículas, resultado da quebra, as cargas se

distribuirão de melhor forma no material. Oldecop e Alonso (2007), utilizando-se do conceito

de propagação de fissuras, consideram a quebra retardada de partículas de rocha como o

caminho a um rearranjo estrutural granular cujo objetivo é encontrar uma nova configuração de

equilíbrio. Em seus estudos, os autores mostraram que em enrocamentos, por exemplo,

fragmentos se encaixariam de forma mais eficiente em vazios pré-existentes, permitindo, assim,

maior densificação do material.

A resistência de um sólido a quebra por fratura é determinada pelo surgimento de falhas

no seu ponto mais fraco. As quebras levam ao amolecimento dos materiais e acréscimo de

tensões de compressão à medida que os fragmentos gerados formam uma melhor gradação dos

grãos. Os novos grãos gerados irão se encaixar de melhor maneira nos espaços preenchidos

anteriormente por gases e/ou líquidos, formando uma estrutura com acondicionamento mais

compacto (Knok e Bolton, 2013).

A mineralogia pode influenciar o processo de quebra de partículas a partir do momento

em que se relaciona com a facilidade de quebra, possibilitando, assim, a determinação da

velocidade com que acontecem os processos, além de definir o tipo de fragmentação que

ocorrerá (Zuluaga, 2014). A influência da mineralogia na quebra das partículas que compõe os

materiais está ilustrada na Figura 2.4 a seguir.

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Figura 2.4 – Comportamento de compressão unidimensional de areias (Chuhan et al., 2003).

2.3 MÉTODO DOS ELEMENTOS DISCRETOS

Para simular um sistema, duas aproximações podem ser realizadas. Na primeira

aproximação, o meio é tratado como contínuo e o seu comportamento é descrito por leis

constitutivas, expressas na forma de equações que correlacionam parâmetros mecânicos de

tensão e deformação. No caso de materiais granulares, essa aproximação assume que o meio é

contínuo e completamente preenchido, sem espaços vazios. Na outra aproximação, o meio é

tratado como discreto, formado por um conjunto de partículas individuais e independentes

(Safuryn, 2016).

O solo é um meio essencialmente granular. Um dos problemas que se encontra na análise

dos meios granulares deve-se ao fato da dificuldade de se representar de maneira confiável sua

sensibilidade bem como suas propriedades. Uma análise rigorosa do comportamento desses

meios é cientificamente desafiadora devido à natureza homogênea das partículas (Hassanpour

e Pasha, 2015), mas extremamente necessária, visto a grande influência de aspectos micro

mecânicos no comportamento macro do material.

O uso de aproximações discretas foi introduzido em 1956 por Alder e Wainwright, através

de estudos da dinâmica molecular para investigar o movimento de átomos e moléculas. O

método dos elementos discretos aplicado à modelagem de solos foi apresentado pela primeira

vez em 1979 por Cundall e Strack. Segundo os autores, um meio granular é composto por

partículas distintas que se locomovem independentemente das outras, interagindo entre si

Poro

sidad

e (%

)

Tensão Vertical Efetiva (MPa)

Poro

sidad

e (%

)

Tensão Vertical Efetiva (MPa)

32

36

40

44

48

28

0 10 5020 30 40 0 10 5020 30 40

32

36

40

44

48

28

Micas (0,18mm)

Carbonato (0,19mm)

Lítio (0,17mm)

Quartzo(0,19mm)

Carbonato (0,38mm)

Lítio (0,37mm)

Quartzo(0,38mm)

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somente nos pontos de contato. O comportamento do solo, segundo apresentado, era, então,

representado por discos ou esferas. O que diferencia o método dos elementos discretos da

mecânica molecular é a inserção de seis graus de liberdade às partículas, adoção de partículas

com formatos esféricos ou complexos e uso de modelos de contato avançados.

De acordo com O’Sullivian (2011), o método dos elementos discretos trata-se de uma

modelagem numérica ou simulação computacional aproximada capaz de analisar solos e outros

materiais granulares, sendo sua principal característica o fato de considerar individualmente as

partículas constituintes do meio, além de suas interações. Assim, ao contrário do método dos

elementos contínuos, amplamente empregado na modelagem dos solos em Geotecnia, o método

dos elementos discretos analisa determinado meio como uma união de partículas, sendo cada

uma caracterizada por suas próprias propriedades mecânicas e por sua geometria definida.

2.3.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MÉTODO DOS ELEMENTOS

DISCRETOS

O comportamento macroscópico do solo é resposta da atividade microscópica individual

das partículas que o compõe. Isso significa que para se obter uma melhor compreensão dos

sistemas particulados e suas funcionalidades, as interações entre as partículas no nível

microscópico devem ser analisadas (Zhu et al., 2007). Segundo Zuluaga (2016), este método,

portanto, permite avaliar o comportamento físico e mecânico dos materiais granulares uma vez

que possibilita o entendimento das propriedades micromecânicas das partículas, além da

interação entre as mesmas.

Sabe-se que analisar partículas individualmente para examinar o comportamento de um

material é extremamente complicado por meio de um ensaio de laboratório. Desta forma,

modelar o comportamento de partículas através de simulações numéricas é muito eficaz. Além

disso, o uso de simulações computacionais fornece um método mais eficiente em termos de

custo como alternativa para os ensaios de laboratório uma vez que não são necessárias amostras

físicas ou equipamentos reais (Hassanpour e Pasha, 2015). Acrescenta-se ainda que essas

simulações fornecem informações dinâmicas, como as trajetórias e as forças transientes atuando

em cada partícula (Zhu et al., 2007).

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Poschel e Schwager (2005) destacam, por sua vez, que a partir do momento em que não

há uma teoria que seja confiável no que diz respeito ao comportamento dos materiais granulares

em equipamentos técnicos, as simulações numéricas, utilizando o método dos elementos

discretos, podem ser usadas para prever e otimizar a função desses equipamentos antes mesmo

que sejam construídos. Além disso, experimentos com equipamentos de engenharia são,

normalmente, caros, demorados e, em alguns casos, perigosos. Assim, nesses casos, as

simulações numéricas podem complementar ou até mesmo substituir experimentos reais. Além

disso, as simulações computacionais permitem que não haja limitações nos ensaios devido, por

exemplo, ao tamanho das partículas, podendo as simulações serem feitas em seus tamanhos

reais (Donzé et al., 2009).

O’Sullivian (2011), além de destacar a vantagem de aplicar carregamentos e deformações

a amostras virtuais de modo a simular testes de laboratórios, monitorando e analisando o

comportamento de cada partícula, responsáveis pelo comportamento complexo do material, cita

também como vantagem o fato de ser possível analisar mecanismos envolvidos em problemas

de grandes deformações e deformações localizadas. Esses problemas não são facilmente

modelados com a utilização do método dos elementos finitos. O surgimento de falhas na

geomecânica, geralmente, envolve grandes deslocamentos e deformações. O método dos

elementos discretos pode revelar a influência e importância desses mecanismos.

Safuryn (2016) destaca como motivos para se usar o método dos elementos discretos a

necessidade de se analisar o comportamento das partículas para se avaliar o comportamento

complexo dos materiais granulares, o fato do método modelar precisamente a micromecânica

dos materiais granulares e, por fim, o fato do método superar as dificuldades encontradas pelas

leis constitutivas. No caso dos meios granulares, as leis constitutivas relacionando tensão e

deformação são geralmente inexistentes ou muito complexas.

Apesar, todavia, dos pontos positivos apresentados, existem algumas limitações e

desvantagens oriundas da utilização do Método dos Elementos Discretos. Ardiç (2006)

apresenta, como uma das maiores desvantagens do método, a dificuldade de configuração da

geometria dos modelos uma vez que os métodos de geração de amostra ainda são limitados.

Além disso, o autor também cita o tempo computacional excessivo necessário para realização

das simulações, o que torna inviável a simulação de alguns problemas maiores, a necessidade

de estudos de calibração para determinação das propriedades dos materiais e, por fim, a

disponibilidade de programas computacionais focados no método dos elementos discretos ainda

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é muito pequena quando comparado à disponibilidade de programas focados no método dos

elementos finitos que apresenta uma grande variedade de programas.

Segundo Kuhn (2013), por sua vez, dentre as desvantagens desse método, cita-se a

dificuldade de criar e calibrar formas reais de partículas, uma vez que na maioria das simulações

utilizam-se partículas esféricas. Além disso, o autor também destaca a não modelagem de

textura, rugosidade e angulosidades das partículas, o fato de os contatos entre as partículas

serem extremamente idealizados e, por fim, a impossibilidade de quebra das partículas,

devendo-se providenciar algoritmos de substituição ou clumps para simulação da quebra.

Além disso, Safuryn (2016) destaca ainda que o método dos elementos discretos é

amplamente dependente dos recursos computacionais disponíveis. Cálculos para determinação

dos contatos e posições são necessários a cada passo de tempo. Esse processo demanda muito

computacionalmente e será maior quanto maior a quantidade de partículas. Desta forma, apesar

de um grande número de vantagens que o método possui, todas elas são amplamente limitadas

pelos recursos computacionais disponíveis aos usuários.

2.3.2 PRINCÍPIOS DO MÉTODO

As partículas de um material granular interagem por meio de forças de baixo alcance, ou

seja, somente por meio de contatos mecânicos. Desta forma, estabeleceu-se que a mecânica de

um material granular é dirigida pelas equações de movimento de Newton (Poschel e Schwager,

2005). As leis de Newton, desta forma, são aplicadas para descrever o movimento do sistema

de partículas. As interações entre a partícula e as partículas vizinhas, por sua vez, são descritas

por meio da mecânica dos contatos (Hassanpour e Pasha, 2015).

Diversas técnicas numéricas têm sido usadas para modelagem dos elementos discretos nos

últimos anos. Essas técnicas são classificadas como técnicas de contato não-suaves ou técnica

de contatos suaves. Enquanto no método dos contatos suaves a penetração entre partículas é

permitida, no método dos contatos não-suaves a penetração não é permitida (Zuluaga, 2016).

No método de aproximação não-suave, utilizado para simular sistemas dinâmicos, onde a fração

de sólidos é pequena, as forças entre as partículas são consideradas impulsivas e, portanto, as

partículas transferem momento na colisão. Nesse método as forças entre as partículas não são

consideradas. Em contrapartida, no método de aproximação suave as forças entre as partículas

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são analisadas de forma precisa, devendo ser usado para sistemas quase-estáticos onde há

muitas partículas sólidas, ou seja, sistemas densos (Hassanpour e Pasha, 2015).

No modelo proposto por Cundall e Strack (1979), utilizou-se o método de aproximação

suave, dividindo-se a análise em duas etapas. Inicialmente, no momento em que as partículas

se interpenetram levemente, as forças de interação são computadas. Em seguida, a segunda lei

de Newton é utilizada para determinar a aceleração resultante, que integrada no tempo fornece

a nova posição de cada partícula (Donzé et al., 2009). Apesar de parecer distante da realidade

física que duas partículas se interpenetrem, o que realmente é representado com essa

interpenetração é a deformação relativa das superfícies dos elementos (Cundall e Hart, 1992).

A partir do método, então, proposto por Cundall e Strack (1979), propõe-se os seguintes

princípios como base do método dos elementos discretos (Kishino, 1999, Potyondy e Cundall,

2004):

1. As partículas básicas são rígidas, possuem inércia finita e podem ser descritas

analiticamente;

2. As partículas podem se mover independentemente umas das outras, translacionando ou

rotacionando;

3. Os programas computacionais identificam automaticamente os contatos entre as

partículas;

4. O contato entre partículas ocorre em uma área infinitesimal e envolve somente duas

partículas;

5. É permitido que as partículas se interpenetrem suavemente nos pontos de contato. Esta

interpenetração é análoga a deformação real que ocorre entre partículas. A magnitude

da deformação de cada partícula no ponto de contato é considerada pequena;

6. As forças de compressão entre partículas podem ser calculadas pelo tamanho da

interpenetração entre as partículas;

7. Nos pontos de contato, é possível que haja transmissão de forças de compressão e tração

entre as partículas tanto na direção normal de contato quanto na direção tangencial,

ortogonal a força de contato normal;

8. Forças de tensão entre partículas podem ser calculadas considerando a distância de

separação entre elas. Uma vez excedida a máxima tração para o contato, as partículas

se separam e o contato é deletado;

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9. O tempo considerado em uma simulação deve ser pequeno o bastante para que o seu

movimento em um passo de tempo influencie somente seus vizinhos imediatos;

10. Aglomerados de partículas rígidas podem ser utilizados para representar uma única

partícula, e o movimento relativo entre essas partículas pode causar deformação

considerável.

2.3.3 ASPECTOS CONSIDERADOS PELO MÉTODO DOS ELEMENTOS

DISCRETOS

Alguns aspectos são de fundamental importância para que as simulações computacionais

que utilizam o Método dos Elementos Discretos reproduzam da melhor maneira possível o que

acontece na realidade. Entre os principais aspectos destacam-se os modelos de contato

utilizados, forma das partículas, quebra e maneira como as amostras são geradas.

2.3.3.1 GERAÇÃO DAS AMOSTRAS

As propriedades macroscópicas de um material granular são grandemente influenciadas

pelo arranjo de suas partículas (Sherwood, 1997). O empacotamento de partículas é um

fenômeno natural que ocorre em várias escalas indo desde partículas em nível atômico até o

nível de corpos celestes. O pacote pode estar tanto desconfinado, quando não há paredes

contendo as partículas, ou confinado, quando está submetido a uma estrutura confinante. Além

disso, o pacote pode ser homogêneo ou variar em tamanho e forma. O processo de

empacotamento é um evento dinâmico que pode envolver diversas forças distintas.

Independente da natureza do pacote de partículas, o equilíbrio estável geométrico das partículas

é de interesse principal e influencia diretamente todas as propriedades do pacote. Algumas

propriedades macroscópicas específicas, como a porosidade, são determinadas pela estrutura

do pacote e as paredes confinantes, se existirem (Mueller, 2005). Dentre os vários métodos de

geração de pacotes de partículas, alguns serão citados a seguir.

Zinchenko (1994) considera, em sua metodologia, um conjunto de esferas de mesmo

tamanho, tangentes umas às outras. Cada partícula possui, pelo menos, três partículas vizinhas.

Seu algoritmo, então, faz com que suas partículas dilatem, mantendo os contatos através de uma

solução numérica de equações diferenciais de densificação, resultando em um deslocamento

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coletivo de esferas em cada passo de tempo. De modo geral, a densificação consiste em duas

etapas: a primeira quando se forma a estrutura completa de contatos e, a segunda, que é a etapa

principal, quando contatos excessivos se formam e, a cada passo de tempo, contatos são

quebrados de modo a continuar a densificação. O processo de geração termina quando nenhuma

ligação pode ser quebrada depois que contatos excessivos se formaram.

Mueller (2005) desenvolveu, por sua vez, um algoritmo sequencial aplicável para qualquer

pacote uniforme não-denso em um cilindro com diâmetro maior que duas vezes o diâmetro das

partículas. As esferas são consideradas unitárias com diâmetro igual a um. Inicialmente,

posicionam-se esferas uma ao lado da outra e próximas a base do cilindro. Esse procedimento

foi denominado algoritmo de base. Em seguida, o algoritmo de base move-se em direção ao

centro do cilindro e novas esferas são posicionadas até que todos os espaços estejam

preenchidos. O número das esferas de base e seus centros são calculados por meio de equações.

Pelo estudo da localização das esferas de base a partir de dados experimentais, porosidade e

distribuição de poros radialmente, desenvolveu-se um parâmetro de empacotamento que

combina uma variável axial e radial ao invés de determinar a localização da partícula no pacote.

Jin e Makse (2010) propõe uma visão termodinâmica para o problema do empacotamento

de esferas. Apesar da inerente natureza em desequilíbrio da natureza granular, a formação de

um pacote denso pode ser mapeada através de um processo termodinâmico que ocorre em uma

determinada compactação onde o volume e a entropia são descontínuos. Desta forma, os

autores sugeriram um algoritmo que sugere que o pacote aleatório denso é bem definido através

de uma estrutura termodinâmica para materiais monodispersos friccionais ou não.

Morales et al. (2015) sugerem, por sua vez, a geração de um pacote denso de partículas com

tamanhos e formas genéricas. Para obter um pacote denso, cada nova partícula é posicionada

de modo que esteja em contato com outras duas partículas, para o caso de simulações

bidimensionais, ou três, para simulações tridimensionais. Os problemas dos contatos são

resolvidos analiticamente, utilizando a técnica de envoltória das interseções. Essa técnica

consiste na localização do local geométrico descrito por um ponto c cujas rotações e translações

aplicadas nele obrigam rotações e translações em uma partícula p[c] definida por ele. Assim,

localizado o local geométrico, encontram-se as interseções do local e, por fim, translada-se c

com o objetivo de fazê-lo coincidir com elas. Este método é exemplificado na Figura 2.5.

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Figura 2.5 - Círculo exterior em contato com outros dois, obtidos pelo método de envoltórias de

intersecção (Morales et al., 2015)

2.3.3.2 MODELOS DE CONTATO

O método dos elementos discretos utiliza forças de contato para representar a interação real

entre duas partículas. Como um resultado de deslocamentos relativos entre partículas

adjacentes, forças são geradas nos contatos entre elas. O comportamento força-deslocamento

dos contatos depende das propriedades das partículas, seus tamanhos e as condições das suas

superfícies (Thornton, 2015).

As superfícies em contato podem ser classificadas como conformes ou não-conformes.

Superfícies conformes são aquelas que se encaixam perfeitamente antes de sofrerem

deformação. Ao contrário, superfícies não-conformes são superfícies que possuem perfis

distintos e irão interagir, inicialmente, em um único ponto. Neste último caso, a área de contato

é pequena quando comparada às dimensões das partículas e, desta forma, as tensões são

altamente concentradas na região de contato (Johnson, 1999). Um dos modelos mais utilizados

no campo da geomecânica é o modelo de contato de Hertz baseado na aplicação da teoria

elástica a corpos esféricos com superfícies não-conformes (O’Sullivan, 2011).

a) Interações Normais

O modelo mais simples de se representar contatos no método dos elementos discretos é

através do uso de molas elasticamente lineares. As constantes das molas não podem ser

diretamente relacionadas às propriedades dos materiais. Desta forma, onde este modelo é usado,

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deve-se considerar as molas agindo como “molas de penalidade”, ou seja, usam-se molas

rígidas com o objetivo de reduzir a quantidade de interpenetrações que podem ocorrer no ponto

de contato (O’Sullivan, 2011).

A fim de superar a natureza não física da rigidez da mola elástica, o modelo proposto por

Hertz, a partir da teoria da elasticidade, busca relacionar os parâmetros de uma mola aos

parâmetros de material de uma esfera, formulando expressões para distribuição de tensões e

deformações no contato entre duas partículas. Esse modelo assume um ponto inicial de contato

entre dois corpos sólidos não rígidos e, então, descreve o crescimento da área de contato, as

deformações da superfície e as tensões nas partículas à medida que a interação normal entre as

partículas aumenta (Johnson, 1982). Assim, o modelo de contato de Hertz é um conjunto de

formulações de contatos não-lineares que assume uma área de contato suficientemente pequena,

quando comparada ao tamanho das partículas, e possui formato elíptico (O’Sullivan, 2011).

Uma das vantagens do modelo de Hertz está no fato de considerar a geometria e

características do material das superfícies de contato que são de suma importância nas respostas

dinâmicas dos contatos. Por outro lado, o modelo de Hertz apresenta também algumas

limitações. Dentre elas, destaca-se o fato de, para se definir a rigidez de um contato de partículas

esféricas ou elipsoides, usa-se, sem dificuldades o modelo proposto. Todavia, para áreas de

contato retangulares, por exemplo, o conceito físico do parâmetro da rigidez de contato não se

obtém de forma direta (Machado et al., 2012). Outro ponto fraco que pode ser destacado do

modelo proposto por Hertz associa-se ao tamanho da área de contato que é muito pequena

quando comparada ao raio de curvatura das superfícies em contato. Para o caso de grandes

deformações, que acontecem nas regiões dos contatos, assumir a área de contato tão pequena

não será totalmente verdade (Johnson, 1999).

Thornton (2015) sugere que o modelo de Hertz, inicialmente elástico, se torna plástico a

partir do momento em que o centro da região de contato atinge determinado limite de tensão.

Compressões futuras, a partir deste momento, resultarão em um aumento zona de deformação

plástica abaixo da superfície e assim haverá uma pequena alteração da forma da distribuição de

tensão. Desta forma, durante o contato normal, haverá um estágio em que a distribuição de

tensões é puramente elástico, como proposto por Hertz, e em seguida, haverá um estágio

plástico em que a distribuição de Hertz será truncada, definindo a tensão máxima suportada

pelo estágio elástico. No caso das interações tangenciais, por sua vez, assume-se que a rigidez

tangencial da partícula seria maior quanto maior a área de contato.

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Walton e Braun (1986), por sua vez, sugeriram um modelo de contato que dissipa energia.

Os autores argumentaram que essa dissipação representa o comportamento não-conservativo

dos contatos que dissipam energia cinética a cada colisão.

O modelo de molas e amortecedores, no que lhe diz respeito, inclui um amortecedor vico-

dissipativo no ponto de contato. A inserção do amortecedor age de modo a considerar a

dissipação de energia devido a deformação plástica nos pontos de contato (O’Sullivan, 2011).

b) Interações Tangenciais

Modelos de contato tangenciais devem ser elaborados de modo a descrever a resposta do

material antes do deslizamento chamado grosseiro, isto é, quando pelo menos uma das

superfícies ainda se encontra parada, ou seja, quando se inicia plastificação, e durante o

deslizamento entre ambas superfícies. A aproximação mais simples para definir a plastificação

é através do modelo friccional de Coloumb que define um critério de plastificação baseado em

um coeficiente de fricção. Este coeficiente é de difícil obtenção uma vez que as dimensões das

partículas são muito pequenas. A natureza não-conforme do contato também dificulta a

determinação deste coeficiente (O’Sullivan, 2011).

Os trabalhos de Mindlin e Mindlin e Deresiewicz formam a base dos modelos de contato

tangenciais. A principal premissa desses modelos consiste em afirmar que as forças tangenciais

não influenciam as forças normais que seguem o modelo descrito por Hertz. Sabe-se,

atualmente, que essa premissa só é considerada verdadeira para esferas com as mesmas

propriedades elásticas (Johnson, 1999). Mindlin provou que não há movimento relativo nas

superfícies que são ditas “coladas”. A aplicação da força tangencial provoca uma deformação

cisalhante na região adjacente da superfície de contato (Thornton, 2015).

De acordo com Mindlin e Deresiewicz, a rigidez da mola de contato tangencial depende das

tensões normal e tangencial no momento da análise, da história dos carregamentos e se o

carregamento tangencial está crescendo ou decrescendo (Denzo e Maio, 2003).

Thorton e Yin (1991) propuseram um modelo em que o contato das esferas se dá

obliquamente, havendo coesão entre as partículas. Este modelo é utilizado para determinar o

contato tangencial entre esferas, desta forma, para o cálculo da força normal, utiliza-se a teoria

de Hertz.

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c) Modelo de Hertz-Mindlin

Cundall e Strack (1979) propuseram, em seu trabalho, a utilização dos modelos de Hertz e

Mindlin. Os contatos entre partículas eram definidos por meio de uma lei de força-deslocamento

e as esferas utilizadas em seus estudos eram permitidas interpenetrar-se, correspondendo a

deformação das partículas individualmente. A magnitude da interpenetração relaciona-se

diretamente a força de contato entre as partículas.

Os autores propuseram, em seu modelo, para a direção normal, um sistema de mola e

amortecedor linear paralelos. Para a direção tangencial, por sua vez, foi proposto um sistema

de mola e amortecedor linear paralelos, em série com um deslizador. Enquanto a mola é

responsável pela resposta elástica, o amortecedor responde pelas deformações plásticas. Neste

modelo, os parâmetros dos materiais serão constantes de mola nas direções normal e tangencial,

sendo que a dissipação devido às deformações plásticas é, geralmente, proveniente dos

coeficientes de restituição das molas.

Apesar de serem considerados modelos satisfatórios, há algumas limitações no uso das

teorias de Hertz e Hertz-Mindlin para solos reais. Inicialmente, destaca-se que o comportamento

da superfície de contato é extremamente idealizado, não sendo encontrada na natureza, pois,

demonstrou-se que, mesmo para materiais simples e manufaturados, os contatos reais entre

partículas não segue a teoria elástica, ao contrário, há plastificação devido a rugosidade das

superfícies e essa plastificação é mais dominante que o comportamento elástico. Além disso,

provou-se que a resposta real do solo mostra que o modelo de contato de Hertz-Mindlin não

simula corretamente a natureza dependente da pressão para pequenas deformações (O’Sullivan,

2011). Apesar disso, a utilização desse modelo é bastante atrativa uma vez que provê uma base

racional para o desenvolvimento e aplicação no método dos elementos discretos.

d) Detecção dos Contatos

Outro aspecto importante do método dos elementos discretos é a detecção de contatos.

Trata-se de um processo extremamente caro computacionalmente uma vez que envolve

contínuas checagens das distâncias entre elementos na simulação.

Maior parte dos pesquisadores faz uso da checagem por meio de uma espécie de

gradeamento que divide o espaço tridimensional em células, checando os contatos nos

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subespaços formados, reduzindo, assim, o gasto de tempo computacional, conforme mostra a

Figura 2.6 a seguir (Safuryn, 2016).

Figura 2.6 – Gradeamento para detecção de contatos (Safuryn, 2016).

O processo para a detecção de contatos segue uma sequência definida. Incialmente, o

domínio é discretizado em células tridimensionais. Normalmente, a escolhas dessas células

depende da distribuição granulométrica do material que se está estudando. O tamanho

considerado ótimo é de 3 a 5 vezes o tamanho do menor diâmetro. Em seguida, células ativas

são identificadas, ou seja, células que contém partículas. Essas duas primeiras etapas são

realizadas uma única vez, sempre no começo das simulações. O algoritmo de contato, então,

identifica os contatos entre partículas nas células ativas. Nesse momento, somente serão

gravados na memória do computador as células que possuem as interpenetrações, reduzindo,

assim, o custo computacional.

Identificando os contatos entre partículas, então, calculam-se as forças entre elas por meio

das interpenetrações. Pelas leis de newton de movimento, assim, calculam-se as acelerações e,

por meio de integração numérica, as velocidades e as novas posições dos corpos. No final do

passo de tempo, reposicionam-se, a partir dessas informações, as partículas. Finalmente, as

células ativas são então atualizadas e todo o processo se repete.

Para o contato entre partícula e geometria, um processo similar é utilizado, onde divide-se

a geometria em elementos triangulares que são checados a cada passo de tempo (Hassanpour e

Pasha, 2015).

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2.3.3.3 PASSO DE TEMPO

Os ciclos de cálculos no método dos elementos discretos acontecem a cada passo de tempo.

A escolha, portanto, do passo de tempo é algo crítico que deve ser analisado. Os passos de

tempo devem ser curtos o suficiente para assegurar estabilidade numérica e acurácia na

transmissão de forças de contato, prevenindo interpenetrações excessivas, mas deve também

ser suficientemente longo de modo a permitir a análise do sistema. Quanto maior os passos de

tempo, mais longa a simulação será (Safuryn, 2016).

Para Hassanpour e Pasha (2015), uma maneira de se aproximar os passos de tempo a uma

solução numericamente estável é através das ondas de Rayleigh. Em uma amostra real de

materiais granulares a transmissão de forças entre partículas individuais se dá através desta

onda que se propaga através de superfícies elásticas e plásticas. O passo de tempo crítico seria,

então, aquele em que a onda de Rayleigh demoraria para atravessa a superfície da partícula de

menor diâmetro, evitando as ondas de se propagarem por espaços maiores que a superfície da

menor partícula. A equação que define o passo de tempo para a propagação da onda de Rayleigh

depende da densidade do material, módulo de cisalhamento e módulo de Poisson da partícula,

ou seja, apresenta alta dependência das propriedades do material. No método dos elementos

discretos, como os corpos são rígidos, não apresentando superfícies plásticas ou elásticas por

onde as ondas se propagariam, e visto que a equação da onda de Rayleigh não considera o

movimento relativo entre as partículas, usa-se uma aproximação.

Smilauer et al. (2016), por sua vez, consideram que estimar o passo de tempo crítico baseia-

se em uma relação entre rigidez das interações e propriedades das partículas. Assim, os autores

utilizam como forma de calcular o passo de tempo crítico, o tempo de propagação da onda-P.

A onda-P é um tipo de onda de corpo que viaja por um meio provocando compressões e

descompressões à medida que passa. A equação que define o passo de tempo, utilizando este

método, leva em consideração a densidade da partícula e seu módulo de Young, ou seja, trata-

se também de um cálculo depende das propriedades do material e define o tempo necessário

para que a onda atravesse a partícula de menor diâmetro.

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2.3.3.4 FORMA

De modo geral, o método dos elementos discretos utiliza, de forma simplificada, esferas

rígidas para representar o grão do material que se deseja simular. A influência da forma dos

grãos, entretanto, é um fator importante para compacidade, fricção e características de quebra

do material (Neto Gamboa, 2011).

O uso de partículas esféricas deve-se a facilidade de identificar seus contatos e se as

partículas estão de fato se tocando ou quase se tocando, ou seja, a detecção de colisão se dá de

uma maneira muito simples: basta comparar a distância entre os centros de duas partículas com

a soma dos seus raios (O’Sullivan, 2011). Desta forma, o uso de partículas esféricas confere a

simulação uma boa eficiência numérica. Além disso, simulações com milhares de partículas

esféricas é algo viável (Poschel e Schwager, 2005).

Apesar de partículas esféricas se mostrarem adequadas para muitos problemas, existem

também algumas limitações. A força normal entre duas partículas que colidem, por exemplo, é

derivada de propriedades materiais básicas, ou seja, há uma boa base teórica. Para a componente

tangencial, entretanto, existem somente leis fenomenológicas, incorporando parâmetros que

não derivados teoricamente de propriedades materiais, ou seja, tratam-se de parâmetros

determinados somente comparações indiretas. Além disso, para velocidades relativas pequenas

entre partículas, a força tangencial desaparece. Desta forma, torna-se complicado aplicar um

modelo de partículas esféricas a um sistema estático (Poschel e Schwager, 2005).

Além desses problemas, O’Sullivan (2011) ainda cita, como um dos problemas de se

simularem materiais utilizando esferas o fato de apresentarem maior número de rotações se

comparado com o material real. A rotação excessiva deve-se ao fato da geometria inibir a

transferência de momentos às partículas pela componente normal da força de contato. Optando-

se, todavia, por utilizar partículas não-esféricas, o número de contatos torna-se maior que o

número de esferas, elevando consideravelmente o custo computacional. Desta forma, alguns

artifícios devem ser utilizados de modo a simular a fricção entre superfícies que partículas não

esféricas apresentam.

Segundo Zuluaga (2016), existem atualmente duas tendências quanto a representação da

forma das partículas. A primeira diz respeito a geração de formas por meio de funções

matemáticas. A segunda, por sua vez, diz respeito a aglomeração de esferas (clusters),

construindo uma determinada forma.

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Ferellec e McDowell (2010) desenvolveram um modelo para reproduzir a forma de uma

partícula por meio da representação dessa partícula como uma nuvem de pontos no espaço. A

definição da forma da partícula depende da densidade de pontos na superfície, sendo que quanto

maior o número de pontos, melhor a definição da superfície. Utilizando estereofotogrametria,

a partir de duas imagens de dois ângulos distintos de um objeto, o método proposto pelos

autores permite uma reconstituição numérica da superfície do objeto no espaço.

Tapias et al. (2015), por outro lado, desenvolveram um modelo particulado que procurava

representar o comportamento de um enrocamento. Os autores consideraram importante

representar a forma dos grãos e, desta forma, optaram por uma pirâmide formada por quatorze

microesferas idênticas, formando um cluster, representando, portanto, uma única partícula.

Desta forma, em uma amostra granular uniforme, todas as macro partículas possuíam as

mesmas formas e dimensões com orientações, entretanto, formada por padrões aleatórios.

Hassanpour e Pasha (2015), entendem que a forma de uma partícula pode ser estabelecida

através de um poliedro ou por um cluster de esferas. Através do poliedro, a forma é definida

por meio de cantos, ângulos e faces. A localização dos cantos é dada por meio de vetores que

partem do centro de massa da partícula e um vetor unitário normal define cada face. A

localização e orientação no espaço de cada poliedro é definida por componentes de um vetor

em relação ao centro de gravidade e pelos principais eixos de inércia do corpo. A vantagem

desta representação, segundo os autores, deve-se a possibilidade de representar formas

extremamente complexas. No caso dos clusters, os autores defendem a formação de formas

por um número de esferas com tamanhos diferentes que se interpenetram ou somente se tocam.

Como vantagem desse procedimento cita-se a aproximação à irregularidade da superfície

enquanto se mantém a eficiência computacional, visto que se continua trabalhando com esferas.

2.3.3.5 QUEBRA

A quebra tem se mostrado importante em diversos problemas geotécnicos. Segundo Ciantia

et al. (2015), por mais que haja um bom modelo numérico para esses problemas, se a quebra

for ignorada, tais modelos não serão suficientemente precisos.

Existem duas formas principais para simular a quebra de uma partícula. Na primeira

maneira, micropartículas são unidas, formando uma única partícula, ou seja, um cluster,

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suscetível a quebrar. À medida que as quebras vão ocorrendo, as partículas menores se separam

das suas partículas de origem, representando um fragmento. Apesar de seu simples conceito e

implementação, esta aproximação é computacionalmente dispendiosa e se torna inviável para

grandes amostras ou à medida que as quebras se tornam repetitivas. A segunda maneira para

simular a quebra de uma partícula consiste em substituir a partícula que quebra por outras

partículas menores. Trata-se do método de fragmentação discreta. A vantagem desta

metodologia está na flexibilidade para produzir qualquer número de fragmentos. Em

contrapartida, se eleva complexidade para descrever a partícula de origem e as “partículas

filhas” com a utilização desta metodologia (Bruchmuller et al., 2011).

Para aplicar o método de fragmentação discreta, algumas escolhas devem ser feitas quanto

aos modelos de critério de quebra e procedimento de criação das novas partículas. O modelo

do critério de quebra diz respeito ao momento em que a quebra irá ocorrer, ou seja, define qual

a condição deve ser satisfeita para que a partícula quebre. O procedimento de criação de novas

partículas, por sua vez, estabelece a relação entre a partícula inicial que desaparece e as novas

partículas que surgem, isto é, os fragmentos, cujos tamanhos, estado inicial e propriedades

requerem especificações (Ciantia et al., 2015).

a) Critérios de Quebra

Poschel e Schwager (2005), em seus estudos, relacionaram a probabilidade de fragmentação

de uma partícula com a distribuição estatística de falhas na superfície e com a distribuição de

tensão resultante na superfície da partícula. Assim, uma partícula submetida a uma força que

fornece a energia elástica específica, irá quebrar obedecendo uma lei de probabilidade que

depende de determinadas constantes materiais.

Ben-Nun e Einav (2010) desenvolveram dois critérios de quebra. O primeiro critério

representa o surgimento de uma fratura em uma partícula sujeita a um conjunto arbitrário de

forças de contato. Durante seus ensaios, uma partícula era quebrada se o critério “brasileiro”

fosse alcançado, ou seja, se subtraindo a força nominal normal de duas vezes a força nominal

cisalhante, o resultado fosse maior que uma força crítica. A força crítica, para esse primeiro

critério, é definida pela combinação da tensão crítica para quebrar a maior partícula da amostra,

o diâmetro desta partícula e um fator de redução devido a heterogeneidades e variações dos

grãos. O segundo critério desenvolvido pelos autores, permite que a partícula quebre sob

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carregamentos isotrópicos, comparando a componente normal das forças de contato com uma

nova força crítica. Essa nova força crítica combina os mesmos elementos do primeiro critério,

adicionando dois novos parâmetros que representam a dependência do carregamento isotrópico

e a curvatura da partícula carregada.

Bruchmuller et al. (2011) utilizaram, por sua vez, o critério de Griffith. Segundo os autores,

inicialmente, quando há uma colisão entre duas partículas, há deformação elástica e absorção

de energia de impacto na forma de energia de deformação elástica. A tensão dentro da partícula,

então, começa a crescer até a tensão crítica, onde a tensão da falha mais sensível é atingida. O

nível de tensão crítica, então, relaciona-se com a massa específica limite para futuros danos nas

partículas. Devido a relação entre o estado fraturado ou danificado e o estado fragmentado, os

danos das partículas são incrementados quando a energia do impacto específico supera a massa

específica. As fraturas começam em um ponto de fraqueza na superfície. Quando as frações

destruídas da partícula ou a probabilidade de quebra for alta o suficiente, a quebra ocorrerá.

Ciantia et al. (2015) combinaram dois parâmetros materiais em um critério de força com a

análise da distribuição de tensões elásticas induzidas por carregamentos pontuais em uma

esfera. Dos parâmetros materiais utilizados, um reflete as propriedades micro estruturais do

material, enquanto o outro define a força intrínseca dos grãos. Uma partícula irá quebrar, então,

quando a força máxima que atua nela alcançar um limite que depende do raio da partícula, do

ângulo que define área de aplicação da tensão na esfera, função dos parâmetros materiais

citados anteriormente, e da tensão limite do material. Destaca-se que no modelo proposto pelos

autores haverá diferentes tensões limites visto que estas são dependentes do tamanho da

partícula. Assim, partículas menores exigirão maiores forças para quebrar, enquanto as maiores

quebram com maior facilidade.

b) Procedimentos de Separação (Spawning Procedure)

Alcançado o critério de quebra, o procedimento de separação indicará a forma pela qual a

partícula inicial será substituída por novas partículas, representando seus fragmentos. Um ponto

de debate entre os procedimentos de separação da antiga partícula que quebra está na

conservação de massa. Alguns pesquisadores defendem a estrita conservação de massa

enquanto outros permitem perda total ou até mesmo parcial da massa quando uma partícula

quebra. Conservar a massa, entretanto, gera alguns problemas como elevada interpenetração

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entre as novas partículas que faz surgir forças de repulsão entre elas ou elevado custo

computacional para procurar vazios onde as novas partículas podem ser acomodadas (Cianta et

al., 2015).

Poschel e Schwager (2005) definiram que a partícula original será substituída por partículas

de fragmento completamente contidas na superfície da partícula original, havendo compressão

entre elas. A interação entre o fragmento e as outras partículas se dá de maneira comum,

entretanto, a interação entre os fragmentos será diferente até que haja completa separação entre

eles. O tamanho dos fragmentos obedecerá uma distribuição de tamanhos de fragmentos que é

uma distribuição cumulativa de massa. A Figura 2.7 a seguir exemplifica o processo de

separação proposto pelos autores.

Figura 2.7 – Procedimento de separação após quebra (Poschel e Schwager, 2005)

Ben-Nun e Einav (2010), em seu modelo, propõe conservação de massa. Dessa forma,

inicialmente, fragmentos são determinados de modo a preencher o espaço deixado pela

partícula quebrada inexistindo interpenetração entre eles. Esses fragmentos são, então,

aleatoriamente rotacionados sem haver, nesta etapa, conservação de massa. Em seguida, os

autores sugerem uma rápida expansão linear de modo a recuperar a massa inicialmente perdida.

A Figura 2.8 a seguir representa o procedimento de separação proposto por Ben-Nun e Einav

(2010).

Figura 2.8 – Procedimento de separação após quebra (Ben-Nun e Einav, 2010)

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Bruchmuller et al. (2011), por sua vez, utilizam equações matemáticas para obter a curva

granulométrica específica após os eventos de quebra. Essas funções não dependem de partículas

físicas ou propriedades materiais. Conhecida a curva granulométrica, fragmentos discretos de

diferentes diâmetros são gerados. Assim, atingido o critério de quebra, a partícula original é

multiplicada por um fator de 0,999 de modo a equiparar a um novo fragmento. A massa

percentual restante, então, é dada pela inserção de novas partículas, respeitando a curva

granulométrica obtida.

Ciantia et al. (2015) assumem que as partículas geradas após a quebra herdam a

velocidade e parâmetros materiais da partícula de origem, exceto pela tensão intrínseca que é

aleatoriamente atribuída, seguindo um critério de distribuição normal. Os autores admitem que

em seu procedimento de quebra não haverá conservação de massa visto que na geomecânica o

comportamento será mais fortemente influenciado pela fração de partículas maiores do

material. Assim, massas mais finas são ignoradas durante o procedimento de quebra e

reincorporadas na etapa de pós-processamento. Atingido, então, o critério de quebra, as

partículas originais são substituídas por pacotes apollonian de esferas, ou seja, arranjos de

esferas tangentes que não se interpenetram, localizadas dentro de uma esfera circundante.

Ensaios mostraram que quanto maior o número de esferas dentro do novo arranjo, menor a

perda de volume. Desta forma, os autores optaram por um arranjo composto por 14 esferas visto

que o comportamento do material se mantinha constante a partir deste número, sendo

computacionalmente mais dispendioso aumentar o número de esferas.

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3. METODOLOGIA

3.1 DADOS UTILIZADOS

Acredita-se que uma simulação virtual bem calibrada, utilizando o método dos elementos

discretos, alimentado com os parâmetros microscópicos corretos, representa de forma adequada

o comportamento macroscópico de um enrocamento. O objetivo desta pesquisa, portanto, é

analisar o comportamento de um enrocamento a partir de suas características microscópicas e,

principalmente, quebra dos grãos, observando a maneira como estas características influenciam

o comportamento macroscópico do material.

Para poder calibrar de maneira adequada os modelos e ensaios que permitem a análise

microscópica do comportamento do material, procurou-se reproduzir resultados reais, obtidos

por meio de ensaios de laboratório. Assim, buscaram-se dados na literatura de ensaios de grande

escala realizados com enrocamento de modo a poder simulá-los. Desta forma, optou-se pela

reprodução dos ensaios de compressão 1D e cisalhamento direto realizados por Dias (2001).

Assim, simulou-se os ensaios realizados com o material da barragem de Itapebi. A

barragem está localizada no rio Jequitinhonha, no estado da Bahia. Sua altura máxima é de 106

m e sua seção do tipo enrocamento com face de concreto. O material utilizado na construção

da barragem, simulado nesta dissertação, foi classificado por Dias (2001) como um granito de

baixa resistência. Trata-se de um material cujas características gerais são apresentadas na

Tabela 3.1 a seguir.

Tabela 3.1 – Características Gerias do Material Simulado

Granito de baixa resistência de Itapebi

Massa específica dos grãos 2,60 g/cm³

Absorção 0,96 %

Abrasão Los Angeles 62 %

Resistência à compressão puntiforme 1,84 MPa – Paralelo à xistosidade

2,47 MPa – Perpendicular à xistosidade

Apesar de ser caracterizado como granito, observa-se que as características do material

apresentadas não correspondem a um comportamento esperado de granito. Dados da literatura,

por exemplo, mostram que a abrasão Los Angeles de granitos se encontram entre 20%, como o

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granito encontrado na Serra da Mesa, e 47%, granito encontrado no maciço de Lafarge no Rio

de Janeiro. Uma abrasão Los Angeles de 62%, portanto, mostra-se muito elevada, não sendo

característica desse material.

A resistência a compressão uniaxial (𝜎𝑐) do material pode ser estimada a partir dos valores

de resistência à compressão puntiforme (𝐼𝑠) através da seguinte correlação muito utilizada em

mecânica das rochas:

𝜎𝑐 = 25 𝑥 𝐼𝑠 (3.1)

Desta forma, a resistência à compressão uniaxial seria da ordem de 46 MPa, paralelo à

xistosidade, e 62 MPa, perpendicular à xistosidade.

A granulometria do material analisado encontra-se na Figura 3.1 a seguir. O coeficiente

de uniformidade (Cu) deste solo é de 8. Desta forma, pode-se classificar o material como de

uniformidade média. A diferença entre o maior e menor diâmetro é significativa.

Figura 3.1 – Granulometria do material utilizado por Dias (2001).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1 10 100 1000

% P

assa

nte

Diâmetro dos Grãos (mm)

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3.2 YADE

Para analisar a influência das características microscópicas no comportamento

macroscópico do enrocamento, optou-se pela utilização do software de código aberto Yade.

Trata-se de um software de fácil aprendizagem, além de possuir uma ampla base de suporte dos

desenvolvedores e outros usuários. Além disso, é bastante versátil, permitindo, por exemplo, a

utilização de elementos de diversas formas, não se limitando, portanto, somente ao uso de

esferas, se adaptando, desta forma, à necessidade do usuário.

O software Yade é uma estrutura extensível focada no método dos elementos discretos. A

parte computacional do programa é escrita em C++, utilizando modelo de objeto flexível. Isso

permite que implementações independentes de novos algoritmos e interfaces sejam feitas. Para

a construção do cenário no qual o método dos elementos discretos será utilizado, utiliza-se a

linguagem interpretada Python.

3.2.1 GERAÇÃO DAS AMOSTRAS

No Yade existem duas principais maneiras de se gerar uma amostra: por meio de um

pacote de esferas ou através de uma fábrica de esferas. No primeiro caso, existem algumas

opções determinadas que permitem ao usuário importar um número de esferas com

propriedades pré-determinadas. Trata-se de uma forma relativamente rápida, visto que as

esferas são posicionadas na simulação de uma única vez. Este processo, entretanto, se restringe

a poucos casos, visto que suas propriedades são extremamente fixas, sendo, algumas vezes,

complexo adequar determinadas amostras às exigências de criação do pacote.

Desta forma, optou-se pela segunda maneira de geração permitida pelo programa. Esta

escolha deveu-se às características da amostra, especificamente à sua granulometria que possui

os diâmetros máximo e mínimo muito diferentes. Os métodos de pacotes de esferas privilegiam

amostras com diâmetros iguais ou muito semelhantes, enquanto que o método da fábrica de

esferas permite a criação de qualquer granulometria.

A fábrica de esferas ou factory é um dos motores do programa e gera esferas de forma

aleatória, seguindo uma taxa de fluxo de massa determinada pelo usuário, ou seja, quantos

quilos de esferas deseja-se criar em cada passo de tempo. Além disso, o usuário pode determinar

a curva granulométrica que deverá ser seguida durante a geração das esferas. Quando uma

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determinada massa total ou número de partículas máximo é atingido, a geração para. Em um

motor secundário, define-se a geometria da região em que serão produzidas as esferas, podendo

ser uma região volumétrica, criando um volume dentro do qual as esferas serão criadas, ou de

superfície, criando um plano do qual as esferas sairão em direção a uma outra região.

Destaca-se que o processo de geração por meio da fábrica é aleatório, ou seja, dando os

mesmos parâmetros, duas amostras geradas por esse processo podem ser diferentes e,

consequentemente terem seus comportamentos ligeiramente distintos. Este fato é

exemplificado na Figura 3.2 a seguir, onde três amostras com os mesmos parâmetros foram

geradas e comprimidas. Percebe-se que as amostras A e B possuem comportamentos bastante

semelhantes enquanto a amostra C apresenta-se levemente destoante. Os comportamentos

diferentes das amostras podem também ser observadas na Tabela 3.2 a seguir, onde mostram-

se os módulos de Young calculados. Conforme pode-se observar, a aleatoriedade da amostra

foi capaz de gerar uma variação de aproximadamente 30% no módulo de Young das amostras.

Figura 3.2 – Comparação entre gerações aleatórias de amostras.

0,E+00

1,E+05

2,E+05

3,E+05

4,E+05

5,E+05

6,E+05

7,E+05

0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5% 3,0% 3,5% 4,0% 4,5%

Ten

são

(kP

a)

Deformação (%)

Amostra A Amostra B Amostra C

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Tabela 3.2 – Comparação dos módulos de Young entre gerações aleatórias de amostras.

Amostra Módulo de Young

Amostra A 1,4x107 Pa

Amostra B 2,0x107 Pa

Amostra C 1,5x107 Pa

Com base na densidade da amostra, determinada por Dias (2001), estabeleceu-se,

portanto, como parâmetro para geração da amostra computacional, a massa total que se deseja

alcançar. Assim, atingida essa massa, a fábrica deixa de produzir mais partículas. Desta forma,

para preencher um cilindro de ensaio com raio de 0,5 m e altura de 0,6 m, uma amostra com

densidade de 18 kN/m³, deverá possuir uma massa total de 848 kg.

Como pode-se perceber da Figura 3.1, a maior parte da granulometria do material que se

deseja ensaiar encontra-se na região de menores diâmetros. Desta forma, com base na

granulometria da amostra e sabendo que a densidade da partícula é de 26 kN/m³, pode-se

determinar o número de partículas que cada diâmetro da amostra possui bem como a sua massa.

O número de partículas e massa distribuídos pelos diâmetros da amostra está mostrada na

Tabela 3.3 a seguir.

Tabela 3.3 – Número de partículas e massa distribuídos pelos diâmetros da amostra.

Diâmetro (mm) Número de Partículas Massa (Kg)

9,50 341561 398,66

12,50 25521 67,86

19,00 9084 84,82

25,00 2791 59,37

37,50 1300 93,30

50,00 449 76,34

63,00 25 8,48

75,00 103 59,37

TOTAL 380834 848,2

Analisando a tabela anterior, percebe-se que o número de partículas a ser criado é bastante

elevado. Como o método dos elementos discretos considera cada partícula individualmente e

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calcula suas interações, o gasto computacional para o total de partículas da amostra é muito

alto, bem como o tempo necessário para as simulações, tornando, desta forma, inviáveis ensaios

com amostras com essa quantidade de partículas. Para se ter uma noção, segundo O’Sullivan

(2014), até 2013, a média de partículas utilizadas em simulações no método dos elementos

discretos estava em torno de 10.000 partículas, conforme mostra a Figura 3.3 a seguir.

Figura 3.3 – Média de partículas por ensaios (modificado - O’Sullivan, 2014).

Além do elevado número de partículas, nota-se, também, da Tabela 3.1, que 47% da massa

total da amostra está concentrada no menor diâmetro, representando mais de 89% das

partículas. Segundo análises de Torok et al. (2005), as partículas maiores tem participação

muito mais significativa na transmissão de forças através da massa granular que as partículas

menores. Desta forma, visando viabilizar a realização dos ensaios, optou-se pelo truncamento

da curva granulométrica de Dias (2001).

Truncou-se, então, a curva de Dias (2001) de algumas maneiras diferentes visando

analisar a maneira pela qual a alteração na granulometria poderia afetar o comportamento da

amostra. Criaram-se, assim, 6 amostras formadas por sequencias distintas de diâmetros. A

granulometria destas amostras está representada na Tabela 3.4 a seguir. Destaca-se que a

amostra de 8 diâmetros é a amostra original de Dias (2001).

mer

o d

e P

artí

cula

s

Ano

2D

3D

Mediana 2D

Mediana 3D

Mediana Total

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Tabela 3.4 – Granulometrias truncadas.

Amostras Diâmetros (mm)

75 63 50 37,5 25 19 12,5 9,5

2 diâmetros 87% 13%

3diâmetros 41% 6% 53%

4 diâmetros 25% 4% 32% 39%

5 diâmetros 20% 3% 26% 31% 20%

6 diâmetros 16% 2% 20% 24% 16% 22%

7 diâmetros 13% 2% 17% 21% 13% 19% 15%

8 diâmetros 7% 1% 9% 11% 7% 10% 8% 47%

O processo de truncamento de uma curva granulométrica, envolve manter a mesma massa

da amostra de modo a manter sua densidade e, consequentemente, seu índice de vazios. Assim,

mantidas essas propriedades, conserva-se a mesma relação de diâmetros, formando a nova

curva granulométrica.

As amostras geradas, então, foram comprimidas de modo a verificar possíveis variações

em seus comportamentos. Os resultados das curvas ensaiadas encontram-se na Figura 3.4 a

seguir e o tempo necessário para realização de cada um destes ensaios encontra-se na Tabela

3.5.

Figura 3.4 – Comportamento das granulometrias truncadas.

0,0E+00

5,0E+03

1,0E+04

1,5E+04

2,0E+04

2,5E+04

3,0E+04

3,5E+04

4,0E+04

4,5E+04

5,0E+04

0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7%

Ten

são

(kP

a)

Desformação (%)

Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Amostra 5 Amostra 6

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Tabela 3.5 – Tempo decorrido para ensaio das amostras.

Amostra Tempo

Amostra 2 2 horas

Amostra 3 5 horas

Amostra 4 24 horas

Amostra 5 46 horas

Amostra 6 110 horas

Conforme pode-se perceber, as amostras formadas a partir das curvas granulométricas

truncadas apresentam comportamento semelhante. Tal fato também é comprovado pela Tabela

3.6 que mostra a relação entre os módulos de Young. Nesta tabela, percebe-se uma variação

máxima de 20% entre os módulos, porcentagem menor que a diferença oriunda da aleatoriedade

da geração comentada anteriormente. Assim, devido ao elevado tempo e gasto computacional

e, levando em consideração as possíveis divergências, que podem surgir nos resultados,

oriundas da própria aleatoriedade da geração, optou-se por utilizar a Amostra 5, ou seja, a

amostra composta por 5 diâmetros da curva granulométrica original, sabendo que ela

representaria de forma satisfatória o comportamento do material.

Tabela 3.6 – Comparação dos módulos de Young das granulometrias truncadas

Amostra Módulo de Young

Amostra 2 7,8x108

Amostra 3 7,2x108

Amostra 4 7,2x108

Amostra 5 6,6x108

Amostra 6 6,3x108

Independentemente do número de diâmetros para geração da amostra escolhida, o

processo de geração de amostra seguirá os mesmos passos. Inicialmente, todas as partículas que

formam a amostra serão geradas por meio de uma fábrica de esferas. Nesta etapa as esferas são

colocadas em um volume cuja altura é maior que a altura da amostra que se deseja. As esferas

geradas, então, são comprimidas, por um plano, lentamente, até que se atinja a altura da amostra

desejada que é de 60 centímetros para o ensaio de compressão 1D e 45 centímetros para o ensaio

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de cisalhamento direto. O procedimento de geração da amostra encontra-se exemplificado na

Figura 3.5 a seguir.

(a) (b)

Figura 3.5 – Procedimento de geração da amostra: (a) geração de partículas por meio de uma fábrica;

(b) compressão das partículas criadas até a altura desejada.

Em alguns casos, dependendo da amostra que se esteja trabalhando, haverá um grande

número de esferas com diâmetros grandes para ocupar o mesmo volume ocupado por uma

granulometria melhor graduada. Tal fato irá gerar uma elevada quantidade de interpenetrações

entre as esferas, gerando, assim, uma força interna entre as partículas. Devido a este fato, após

comprimida a amostra até a altura desejada, a amostra é estabilizada, ou seja, com o plano

parado, deixa-se que as partículas se rearranjem dissipando a maior quantidade de energia

possível. A etapa de estabilização se finaliza quando a força for estável, indicando que todas as

partículas se rearranjaram da maneira possível, dissipando toda a energia que podiam. Caso,

após a estabilização ainda haja alguma força interna, ela é compensada posteriormente.

Realizaram-se, neste trabalho, tanto ensaios com quebra como ensaios sem quebra de

grãos. No caso dos ensaios com quebra, durante a fase de estabilização, pode haver quebra

devido a força oriunda da grande interpenetração das partículas. Dependendo do módulo de

Young da partícula, o número de elementos da amostra pode chegar a 180.000, tornando

inviável a simulação. A dependência do módulo de Young e detalhes do processo de quebra

serão vistos mais detalhadamente em seção apropriada.

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Alguns parâmetros tiverem que ser adotados para a geração da amostra, conforme

esquematizado na Tabela 3.7 a seguir. O ângulo de atrito foi adotado como zero visando

eliminar ao máximo as possíveis resistências ao deslocamento de uma partícula de modo que o

movimento relativo entre as partículas fosse facilitado. Tal fato promove, portanto, um melhor

e mais rápido arranjo das partículas. O módulo de Young, por sua vez, foi adotado com um

valor considerado alto. Como o módulo de Young indica a rigidez de um corpo, ou seja, o

quanto ele irá deformar, escolheu-se adotar um módulo de Young elevado de modo que a alta

rigidez da partícula impedisse um elevado número de interpenetrações, gerando força interna

na amostra.

Tabela 3.7 – Parâmetros para geração de amostra.

Parâmetros para geração de amostra

Ângulo de Atrito 0o

Módulo de Young 1010 Pa

Poisson 0,3

3.2.2 MODELOS E PARÂMETROS

Para que o cenário criado no Yade funcione conforme desejado, devem-se configurar

corretamente diversos modelos disponíveis. Os modelos que o Yade disponibiliza ditam a

maneira pela qual os materiais irão se comportar, a forma pela qual irão interagir com outros

materiais, a lei que deverão seguir nestas interações e quais modelos constitutivos serão

seguidos, dentre outros.

Inicialmente, determinam-se as interações que ocorrerão entre um par de corpos. As

interações são baseadas na proximidade espacial, entretanto, podem ser criadas explicitamente

e existir independentemente da distância. Cada interação possui duas componentes. A primeira

componente, denominada IGeom define a configuração geométrica de duas partículas em

contato. Dentre as várias opções fornecidas pelo programa, optou-se pela classe de configuração

geométrica ScGeom. Através desta classe, os contatos possuem três graus de liberdade, sendo

um normal e dois cisalhantes.

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A segunda componente das interações é denominada IPhys e representa configurações

não-geométricas das interações. Algumas dessas características são computadas através da

classe de material escolhida pelo usuário. Outras, por sua vez, são variáveis internas.

Definir um material significa definir as propriedades de um corpo. Cada modelo de

material possui seus parâmetros que, preenchidos corretamente, simulam materiais reais. Como

se está trabalhando com enrocamento, material essencialmente não-coesivo, optou-se pela

utilização do modelo de material FrictMat. Esse modelo reproduz o comportamento de um

material elástico com atrito nos contatos. Dentre os parâmetros possíveis, trabalhou-se com

módulo de Young, ângulo de atrito e Poisson.

Definidos os materiais, determina-se as propriedades físicas das interações entre materiais

através da lei de contato que irão seguir. A classe escolhida para as propriedades físicas foi

MindlinPhys que representa interações do tipo Hertz-Mindlin.

Os parâmetros viscosos desse modelo são especificados utilizando-se ou coeficientes de

restituição normal (en) e cisalhante (es) ou utilizando taxa de amortecimento normal (βn) e

cisalhante (βs). Optou-se pela utilização de coeficientes de restituição. Segundo a literatura, os

coeficientes de restituição mais comumente utilizadas para rochas são, na direção normal de

0,5 e na direção cisalhante de 0,7.

Baseado nos valores dos coeficientes de restituição, calcula-se, então, a taxa de

amortecimento segundo a equação a seguir.

𝛽𝑖 = −(log 𝑒𝑖)

√𝜋2+(log 𝑒𝑖)2 (3.1)

sendo i = n ou s, caso se deseja o coeficiente de restituição na direção normal ou tangentes

respectivamente.

Além dos valores de coeficiente de restituição, o modelo de Hertz-Mindlin permite que

outros parâmetros sejam estabelecidos. Dentre estes parâmetros, estabeleceu-se krot que é a

rigidez rotacional, ktwist que é a rigidez torsional e θ, coeficiente para determinar o momento de

flexão plástico. Estes parâmetros foram calibrados durante o ensaio de cisalhamento simples e

serão melhor especificados adiante.

Por fim, determina-se a lei constitutiva que será seguida nas interações através de um

LawFunctor. A lei determinada foi Law2_ScGeom_MindlinPhys_Mindlin. Trata-se de uma lei

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45

constitutiva para a formulação Hertz-Mindlin que inclui elasticidade não-linear na direção

normal, como definido por Hertz, para dois contatos não-conformes. Por sua vez, na direção

cisalhante, a lei constitutiva se assemelha ao caso simplificado sem escorregamento,

relacionando linearmente a força de cisalhamento e deslocamento tangencial. A força máxima

de atrito nos contatos é calculada com base no critério de Mohr-Coloumb. Como deseja-se

analisar o comportamento no cisalhamento do material, inclui-se na lei constitutiva, critério que

adiciona dificuldade ao rolamento das partículas.

3.3 QUEBRA

Com o objetivo de verificar a influência das características microscópicas do material no

seu comportamento macroscópico, buscou-se inserir um mecanismo de quebra no

comportamento do material. Para isso, utilizou-se a aproximação desenvolvida por Ciantia et

al. (2015). Essa aproximação de quebra divide-se em duas etapas. Inicialmente, há uma

verificação da condição limite para a quebra e, existindo tal condição, há o procedimento de

quebra propriamente dito.

Ciantia et al. (2015), utilizaram o critério de quebra desenvolvido por Russel e Wood

(2009). Segundo os autores, a expressão de força mobilizada de cisalhamento fornece um limite

máximo da força de contato atuando em uma determinada partícula. A condição para quebra

do grão, então, pode ser expressada como:

𝜅𝑚𝑜𝑏 = 𝜅 (3.2)

onde 𝜅𝑚𝑜𝑏 é tensão mobilizada dos grãos e 𝜅 é a tensão intrínseca de resistência dos grãos.

A força intrínseca dos grãos é derivada de um critério bi paramétrico de força, onde os

parâmetros χ, que reflete as propriedades microestruturais dos materiais, e κ são relacionados a

resistência a compressão uniaxial 𝜎𝑐 e a tração 𝜎𝑡 do material. A relação entre esses parâmetros

se dá segundo as seguintes expressões:

𝜅 = 1+ 𝜒

√3 |𝜎𝑐| (3.3)

𝜒 = |𝜎𝑐|

𝜎𝑡− 1 (3.4)

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46

𝜎𝑐 foi tomado como 54 MPa, pois é a média entre os valores de resistência à compressão

paralelo e perpendicular à xistosidade do material que se está estudando. Tomou-se a média

visto que as esferas que se trabalha no método dos elementos discretos não possuem xistosidade

e não foi possível implementá-la nestes ensaios. Desta forma, visando abranger as possíveis

formas de posicionamento das partículas, optou-se pela média entre as 𝜎𝑐 características do

material. 𝜎𝑡, por sua vez, foi tomado como 𝜎𝑐

40⁄ , valor comumente encontrado na literatura.

A partir dos parâmetros anteriormente apresentados, Ciantia et al. (2015) desenvolvem

uma expressão para a máxima tensão mobilizada 𝜅𝑚𝑜𝑏, mostrada a seguir, que é a máxima

distância de 𝑅𝑡𝑎𝑛𝜃0 abaixo do centro do contato, como mostra a Figura 3.6.

𝜅𝑚𝑜𝑏 = 𝑓(𝜒, 𝑣) 𝐹

𝜋𝑅2𝑠𝑖𝑛2𝜃0 (3.5)

onde,

𝑓 (𝜒, 𝑣) = √3 (1+ 𝜒)2

𝜒x

(3

32+

√2

24+(

√2

12−

1

4)𝑣+(

1

2−

√2

3)𝑣2)

(2−√2)(1+𝑣) (3.6)

Essa expressão é válida para pequenos ângulos de contato, onde 𝑡𝑎𝑛𝜃0 ≈ 𝑠𝑖𝑛𝜃0. F é a

máxima força de contato normal atuando na esfera, v é o Poisson da partícula, R é o raio e 𝜃0 é

o ângulo que define a área de aplicação da tensão.

Figura 3.6 – Máxima distância de 𝑅𝑡𝑎𝑛𝜃0 abaixo do centro do contato (Ciantia et al., 2015).

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47

Substituindo a equação (3.5) na (3.2), tem-se o critério limite para as forças normais de

contato como mostrado na equação a seguir.

𝐹𝑙𝑖𝑚 = 𝜅

𝑓 (𝜒,𝑣)𝜋𝑅2𝑠𝑖𝑛2𝜃0 = 𝜎𝑙𝑖𝑚𝐴𝐹 (3.7)

Sendo 𝐴𝐹 a área de contato entre as partículas.

A área de contato entre as partículas pode ser calculada mediante a teoria de contato de

Hertz, sendo possível expressá-la em termos das propriedades elásticas do material. Assim, o

raio da área de contato pode ser expressado conforme a expressão seguinte.

𝑟𝐻 = (3𝑟′

4𝐸′)

13⁄

(3.8)

sendo:

𝑟′ = (1

𝑟1+

1

𝑟2)

−1

(3.9)

𝐸′ = (1− 𝑣1

2

𝐸1+

1− 𝑣22

𝐸2)

−1

(3.10)

Sabendo que se adotou para todas as partículas o mesmo valor de módulo de Young e

Poisson, a equação (17), torna-se:

𝐸′ = (2 𝑥 1− 𝑣2

𝐸)

−1

(3.11)

Desta forma, a área de contato 𝐴𝐹 das partículas pode ser expresso a partir da seguinte

equação:

𝐴𝐹 = 𝜋

4 2𝑟𝐻

2 = 𝜋 (3𝑟′

4𝐸′)

23⁄

(3.12)

Partículas menores são mais fortes que partículas maiores. Este efeito de tamanho foi

incorporado através de um fator 𝑓𝑡𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜.

𝑓𝑡𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜 (𝑑) = (𝑑

𝑑0)

−3𝑚⁄ (3.13)

sendo m o parâmetro do material e 𝑑0 o diâmetro de referência. Tomou-se como diâmetro de

referência, o diâmetro médio da granulometria da amostra truncada escolhida.

Vários estudos foram realizados de modo a calibrar o parâmetro m. Segundo essas

análises, valores entre 3 e 20 representam de maneira adequada o comportamento de materiais

cuja composição é rica em quartzo, feldspato e mica, minerais comumente encontrados nos

granitos. Desta forma, adotou-se m = 10, visto que se trata de um valor que se adequaria ao

material analisado.

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48

Substituindo, então, os parâmetros e equações na equação (3.7), tem-se, para o material

em questão, a seguinte expressão para determinação da força limite de quebra:

𝐹𝑙𝑖𝑚 ≤ 𝜎𝑙𝑖𝑚𝐴𝐹 = [𝜅

𝑓(𝜒,𝑣) (

𝑑

2𝑟𝑚é𝑑𝑖𝑜)

−3 3⁄

𝜋 (3𝑟′

4𝐸′)

2 3⁄

]3

(3.14)

Atingida a força limite, haverá a quebra da partícula. A quebra é representada pela

exclusão da partícula, cuja força excedeu a limite, e adição de outras 14 esferas que ocuparão o

seu volume inicial. Trata-se de um arranjo de esferas tangentes que não se interpenetram

contidas dentro do espaço ocupado pela esfera anterior. Neste processo, haverá perda de massa,

mas acredita-se que o pacote de 14 novas esferas representa de maneira satisfatória a esfera

quebrada. Desta forma, o processo de quebra pode ser representado pela Figura 3.7 a seguir.

Figura 3.7 – Quebra e inserção de novas partículas (Ciantia et al., 2015).

O critério da força limite, visando poupar o gasto computacional, foi aplicado apenas para

partículas a partir de um determinado tamanho. Trata-se do limite de fragmentação. Esse limite

não altera o comportamento macroscópico do material uma vez que, como já discutido, as

partículas maiores são responsáveis pelo comportamento macroscópico do material. Adotou-se

como limite de fragmentação 20% do menor raio da distribuição granulométrica.

Assim, de forma resumida, o script de quebra utilizado neste trabalho segue os seguintes

passos:

Passo 1: A partir dos valores de 𝜎𝑐 e 𝜎𝑡, calculam-se os valores dos parâmetros χ e κ e,

consequentemente de 𝜎𝑙𝑖𝑚

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Passo 2: Determina-se, na amostra, aquela que possui a maior tensão. Esta etapa é feita a

partir da comparação da tensão de todas as esferas da amostra. Inicia-se com uma esfera

qualquer e guarda-se sua tensão. Comparando com a próxima esfera, caso sua tensão seja maior,

substitui-se a esfera e a tensão. Caso contrário, o processo de comparação continua até que haja

uma esfera com tensão maior.

Passo 3: Calcula-se a força normal atuante na esfera cuja tensão é a maior da amostra.

Passo 4: Caso a força normal calculada seja maior que a força limite, compara-se o seu

diâmetro com o limite de fragmentação. Caso seu diâmetro seja maior que o limite, dá-se o

comando para quebrar a partícula. Caso contrário, nada acontecesse e o processo é retomado

do início em um novo passo de tempo.

Passo 5: Sendo o diâmetro da partícula superior ao limite de fragmentação, a esfera é

eliminada e 14 novas esferas são adicionadas no volume ocupado pela esfera anterior. Destaca-

se que haverá perda de massa e volume nesta substituição, mantendo-se, porém, as

características de comportamento da partícula que foi substituída.

Passo 6: Recomeço do processo em um novo passo de tempo.

3.4 COMPRESSÃO

Como o objetivo desta pesquisa envolve analisar o comportamento macroscópico do

material a partir de suas características microscópicas, buscou-se reproduzir da maneira mais

fiel possível os ensaios de resistência mecânica de um enrocamento, qual sejam, compressão

uniaxial e cisalhamento direto.

O equipamento do ensaio de compressão que se reproduziu está apresentado na Figura 3.8.

Trata-se de uma câmara formada por uma sequência de anéis de alumínio e de borracha

chegando a 1 m de altura por 1 m de diâmetro. “Strain-gates” localizados no centro da câmara

mede a tensão horizontal durante o ensaio, sendo, portanto, um ensaio oedométrico.

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50

Figura 3.8 – Equipamento para ensaio de compressão unidimensional (Dias,2001).

Em mecânica das rochas, há uma relação mínima entre a menor dimensão do equipamento

e o diâmetro máximo dos grãos. Normalmente, esta relação varia entre seis e dez. A relação

utilizada no ensaio de compressão 1D foi de sete, seguindo a prática do Centro Tecnológico de

Engenharia Civil de Furnas, local onde os ensaios que se buscou reproduzir foram realizados.

Como o maior diâmetro disponível é de 76,2 mm, optou-se, então, por utilizar uma altura de

0,6 m. Desta forma, reproduziu-se o equipamento do ensaio pela inserção de um cilindro cujo

raio era de 0,5 m e a altura de 0,6 m.

A primeira etapa do ensaio consiste na geração da amostra, conforme explicado em seção

anterior. Gerou-se, então, amostra com granulometria correspondente à amostra 5, ou seja,

possuindo 5 diâmetros da granulometria completa de Dias (2001).

Gerada e estabilizada, a amostra é então importada para o ensaio de compressão 1D

propriamente. O ensaio consiste basicamente na descida de um plano com velocidade constante

até que se atinja a deformação máxima de 7% ou a capacidade de carga da célula de 200 t,

mantendo restritos os deslocamentos laterais e no fundo.

Vários testes foram realizados de modo a verificar a influência da velocidade no ensaio de

compressão. A seguir, na Figura 3.9, os resultados dos testes são mostrados.

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Figura 3.9 – Influência da velocidade – Parâmetros da amostra: E = 109 e ϕ = 64º.

Conforme se pode notar, até determinada velocidade, não há influência entre o

comportamento do material e a velocidade. A partir de determinado velocidade, entretanto, esta

influência começa a surgir. Nos casos testados, as velocidades de plano de 1 cm/s, 10 cm/s e

100 cm/se apresentam comportamentos muito semelhantes, enquanto a velocidade de 1000

cm/s apresenta-se muito diferente.

O trecho linear da curva que representa a velocidade de 1000 cm/s deve-se a um efeito do

amortecimento. Devido a rápida velocidade, o efeito do carregamento demora para ser

transferido para as molas dos contatos. Assim, surge esse patamar tendo em vista a não-

linearidade do amortecimento em relação a velocidade.

Definida, então, a velocidade de 10 cm/s, passa-se a execução dos ensaios. Para que os

ensaios reproduzam de maneira fiel o comportamento do material, é necessário calibrar bem os

parâmetros das partículas, ou seja, ângulo de atrito, módulo de Young e Poisson. A relação

entre os parâmetros da partícula e os parâmetros do material ainda são pouco conhecidas. Desta

forma, o processo de calibração foi realizado mediante tentativa e erro. Os resultados são

mostrados em capítulo apropriado. Destaca-se que os parâmetros que se busca calibrar referem-

se às propriedades das próprias partículas e não da amostra.

0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5%

0,E+00

1,E+04

2,E+04

3,E+04

4,E+04

5,E+04

6,E+04

7,E+04

Deformação (%)

Ten

são

(kP

a)

V = 1 cm/s V = 100 cm/s V = 10 cm/s V = 1000 cm/s

Amortecimento

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52

3.5 CISALHAMENTO DIRETO

O equipamento utilizado para a realização do ensaio de cisalhamento direto é composto

essencialmente por uma caixa de dimensões 80 cm x 80 cm x 45 cm, um macaco com

capacidade de 200 t no sentido da força normal e outro de igual capacidade no sentido na força

cisalhante, conforme mostra a Figura 3.10 a seguir. Devido a relação entre a menor dimensão

do equipamento e o maior diâmetro da amostra, citada anteriormente, o diâmetro máximo de

grão utilizado nos ensaios de cisalhamento foi 63,5 mm.

Figura 3.10 – Equipamento utilizado no ensaio de cisalhamento direto de grande escala (Dias,

2001).

Inicialmente, a amostra é gerada, conforme processo já comentado anteriormente. Após

a geração, a amostra necessariamente passará por um processo de estabilização, onde, além da

dissipação de forças pelo rearranjo de partículas, poderá se detectar possíveis forças internas

causadas pela interpenetração de partículas, como explicado anteriormente. Essas forças

internas são importantes, pois serão acrescentadas à tensão normal aplicada sobre a amostra de

modo a equilibrá-las. A seguir, na Figura 3.11, apresentam-se as curvas de estabilização para

algumas amostras.

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53

(a) (b)

Figura 3.11 – Estabilização das amostras: (a) E = 14E+07 Pa e ϕ = 30º; (b) E = 14E+09 e ϕ = 30º.

A tensão normal sobre a amostra é aplicada por meio de uma caixa cuja densidade é

controlada de modo a gerar a tensão desejada como mostra a Tabela 3.8. Havendo, portanto,

força interna, transformando-a em massa, acrescenta-se ela à massa que comporá a densidade

responsável pela tensão normal.

Tabela 3.8 – Densidades calculadas para aplicação de tensão normal.

Tensão Aplicada Densidade Calculada

400 kPa 400000 kg/m³

800 kPa 800000 kg/m³

1600 kPa 1600000 kg/m³

Optou-se por utilizar uma caixa para exercer a tensão normal de ensaio, pois, o software de

código aberto Yade não permite a aplicação de força de maneira contínua. Desta forma, para

alcançar a tensão desejada, utiliza-se uma velocidade. A velocidade utilizada poderia ser

aplicada em um plano que se moveria durante o ensaio. Nesta situação, entretanto, seria

impossível medir dilatância na amostra, pois, o plano não é um objeto que pode ser deixado

livre na simulação, ou seja, ele sempre possui uma determinada posição. Alcançada, então, a

posição que garante a tensão normal de ensaio, se fixaria a posição do plano e, a partir de então,

ele permaneceria nesta posição até o final do ensaio. Desta forma, por mais que a amostra

aplique no plano uma força no sentido de movê-lo para cima como consequência da dilatância,

0 0,005 0,01 0,015 0,02

6,0E+05

6,1E+05

6,2E+05

6,3E+05

6,4E+05

6,5E+05

6,6E+05

6,7E+05

Tempo

Forç

a (N

)

0,000 0,002 0,004 0,006 0,008

6,0E+07

6,1E+07

6,2E+07

6,3E+07

6,4E+07

6,5E+07

6,6E+07

6,7E+07

Tempo

Forç

a (N

)

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54

ele continuaria preso na posição inicial que garantiu a amostra a tensão normal de ensaio

desejada.

A caixa, ao contrário, pode ter um ou mais de seus graus de liberdades tornados livres.

Assim, estabelecida a densidade da caixa, ela é configurada de modo que se permita seu

movimento somente na direção z. Portanto, desta forma, inicialmente, a caixa se moverá no

sentido de comprimir a amostra, atingindo a tensão normal de ensaio, e, durante o ensaio, ela

poderá ser empurrada para cima caso haja dilatância.

O cisalhamento propriamente dito começará, então, após a estabilização da caixa que exerce

a tensão normal, ou seja, quando sua velocidade vertical, após o início do ensaio, for nula. Após

esta estabilização, aplica-se uma velocidade horizontal na parte superior da amostra, simulando

o movimento de cisalhamento. A única parte da caixa superior que não receberá velocidade,

mas será mantida livre de modo que se permita seu movimento, é a parede esquerda superior,

representada na Figura 3.12. As paredes da parte superior da caixa que contem a amostra

passam então a empurrar a amostra que empurrará, por reação, a parede livre. Finalmente, a

parede livre empurrará, então, uma esfera que mede a força cisalhante. Apesar de ser possível

medir a força diretamente na parede livre, optou-se pela esfera de medição por representar o

comportamento de maneira mais precisa, conforme apresentado na Figura 3.13.

Figura 3.12 – Esquema do ensaio de cisalhamento virtual.

Caixa de Tensão Normal

Parede Livre

Esfera de Medição

Caixa de Cisalhamento

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55

Figura 3.13 – Comparação de medições na caixa e na esfera.

A esfera de medição simula os anéis de carga de ensaios de cisalhamento convencionais.

Desta forma, consegue-se medir a força, pois a rigidez da esfera é conhecida. Assim, por meio

do deslocamento que a esfera sobre, sabe-se a força que está atuando nela.

Os anéis de carga de ensaios convencionais são feitos de aço temperado. Desta forma,

acredita-se que sua rigidez se encontra em torno de 200 GPa. Essa rigidez foi adotada como

módulo de Young da esfera de medição para reproduzir o seu comportamento visto que o

principal objetivo dos ensaios realizados é a reprodução dos comportamentos dos materiais

encontrados na realidade.

Assim, para que os ensaios reproduzam de maneira fiel o comportamento do material é

necessário calibrar bem os parâmetros das partículas, ou seja, ângulo de atrito, módulo de

Young e Poisson. Outro parâmetro muito importante que deve ser calibrado neste ensaio é a

rigidez ao rolamento das partículas, κrot. Este parâmetro simula a forma das partículas, impondo

uma resistência ao movimento de rolagem. Os resultados dos processos de calibração serão

mostrados em seção apropriada.

1,0E-03 2,1E-02 4,1E-02 6,1E-02 8,1E-02 1,0E-01 1,2E-01

0,001

0,01

0,1

1

10

100

1000

10000

100000

1000000

Deslocamento Horizontal (mm)

Forç

a (N

)

Medida na Esfera de Medição Medida na Parede Livre

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4. RESULTADOS

4.1 COMPRESSÃO UNIDIMENSIONAL

Este capítulo será dividido em duas seções, sendo a primeira relativa a compressão 1D e

segunda relativa ao cisalhamento direto. Cada seção é subdividida em calibração dos

parâmetros e simulação do ensaio real. Porém, devido à natureza da calibração de parâmetros,

em alguns casos serão apresentados resultados secundários que auxiliaram na definição dos

parâmetros utilizados na fase de simulação dos ensaios.

4.1.1 CALIBRAÇÃO DE PARÂMETROS PARA COMPRESSÃO

UNIDIMENSIONAL

Os parâmetros que alimentam o modelo que define o comportamento de um determinado

material são inúmeros. O software Yade permite, dentro de seus modelos, que se utilize uma

variedade de parâmetros para definir o desempenho desejado. Para o ensaio de compressão 1D,

os parâmetros calibrados foram módulo de Young da partícula, coeficiente de Poisson da

partícula e ângulo de atrito da partícula. Os resultados dos testes de compressão para diferentes

módulos de Young, Poisson e ângulo de atrito estão expostos nas figuras 4.1 a 4.3.

Figura 4.1 – Comparação do comportamento de uma amostra devido ao Poisson – E = 108 e ϕ = 30º.

0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5%

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Deformação (%)

Ten

são

No

rmal

(kP

a)

ν = 0.1

ν = 0.2

ν = 0.3

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Figura 4.2 – Comparação do comportamento de uma amostra devido ao Ângulo de Atrito – E = 108 e ν

= 0,3.

Figura 4.3 – Comparação do comportamento de uma amostra devido ao módulo de Young – ν = 0,3 e

ϕ = 55º

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5%

Ten

são

No

rmal

(kP

a)

Deformação Vertical (%)

φ = 15o

φ = 30o

φ = 45o

φ = 60o

0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5%

0,E+00

1,E+04

2,E+04

3,E+04

4,E+04

5,E+04

6,E+04

7,E+04

Deformação (%)

Ten

são

(kP

a)

E = 10E+05 Pa E = 10E+07 Pa E = 10E+09 Pa

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Os ensaios para obtenção destes resultados foram feitos mantendo-se constante a

granulometria da amostra e variando os seus parâmetros. Pela análise das figuras 4.1, 4.2 e 4.3

pode-se perceber que o ângulo de atrito e o coeficiente de Poisson da partícula exercem pouca

influência no comportamento macroscópico do material em um ensaio de compressão 1D. Ao

contrário, a influência do módulo de Young é muito grande, fazendo, inclusive com que a tensão

varie em sua ordem de grandeza.

O coeficiente de Poisson, no modelo de Hertz-Mindlin, possui certa influência na rigidez

das molas. Assim, quanto maior o coeficiente, maior a rigidez das molas dos contatos entre as

partículas. Sua variação, entretanto, conforme pode-se observar a Figura 4.1, é muito pequena.

Desta forma, pode-se associá-la à própria aleatoriedade de comportamento das amostras,

conforme discutido no capítulo anterior.

O ângulo de atrito, por sua vez, representa a dificuldade que uma partícula tem de deslizar

em relação a outra. Desta forma, analisando a Figura 4.2, pode-se perceber que ângulos de atrito

maiores, necessitarão de maiores forças para gerar a mesma deformação que ângulos de atritos

menores provocam. Este fato acentua-se no final da curva de compressão visto que quanto

maior a força atuando sobre as partículas, mais difícil será o movimento entre as partículas e

mais atuante será o ângulo de atrito.

Outro resultado interessante que se pode analisar a partir do comportamento do material

diante da variação do ângulo de atrito diz respeito ao seu comportamento assintótico. O ângulo

de atrito não influencia de maneira indefinida o comportamento do material. A partir de um

determinado momento, aumentar o ângulo de atrito não implicará, necessariamente, no

aumento da tensão para gerar a mesma deformação. Tomando, por exemplo, a tensão normal

de 400 kPa, como mostra a Figura 4.4 a seguir, aproximadamente a mesma deformação será

gerada, a partir de 45º de ângulo de atrito.

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59

Figura 4.4 – Comportamento assintótico do comportamento de compressão em relação ao ângulo de

atrito para uma tensão normal de 400 kPa – E = 108, ν = 0,3.

O módulo de Young, por fim, é o parâmetro que apresenta maior influência sobre o

comportamento do material no ensaio de compressão 1D. A Figura 4.5 a seguir mostra essa

influência mediante um gráfico de tensão x deformação em escala logarítmica para auxiliar na

análise.

Figura 4.5 – Comparação do comportamento de compressão devido ao módulo de Young em escala

log – ν = 0,3 e ϕ = 53º.

0,0%

0,5%

1,0%

1,5%

2,0%

2,5%

0 10 20 30 40 50 60 70

Def

orm

ação

(%

)

Ângulo de Atrito (o)

0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5%

1,E+00

1,E+01

1,E+02

1,E+03

1,E+04

1,E+05

Deformação (%)

Ten

são

(kP

a)

E = 10E+05 Pa E = 10E+07 Pa E = 10E+09 Pa

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60

O módulo de Young, no método dos elementos discretos, controla a força entre os contatos.

Tanto a rigidez normal quanto a tangencial das molas entre as partículas são fortemente

influenciadas por este parâmetro. Assim, quanto maior o módulo de Young, maior a rigidez da

mola e, consequentemente, maior a força nos contatos. Uma vez que a força nos contatos é

maior, as partículas são impedidas de se interpenetrar, ou seja, há uma menor deformação das

partículas, simulando um comportamento rígido de uma partícula. Ao contrário, se a força é

pequena, não haverá grandes impedimentos para a interpenetração das partículas, havendo,

assim, deformações maiores.

Enquanto os outros parâmetros geram pequenas variações no comportamento do material,

esse parâmetro provoca grandes alterações. Observando, por exemplo, a deformação de 1,5%,

a tensão necessária para obtê-la, durante o ensaio de compressão, pode variar até duas ordens

de grandeza de acordo com o módulo de Young adotado. A Figura 4.6 a seguir mostra a

variação crescente entre a tensão necessária para provocar a deformação de 1,5% e o módulo

de Young adotado.

Uma partícula pouca rígida apresenta uma grande capacidade de deformação. Desta

forma, uma pequena força já é capaz de gerar uma deformação considerável. No caso de um

ensaio de compressão 1D, se a amostra é formada por partículas pouco rígidas, a sua

deformação, em grande parte, será consequência da deformação das próprias esferas. Ao

contrário, quando as esferas são mais rígidas, a deformação da amostra será em maior parte

função do rearranjo das partículas, sendo, neste caso, necessária uma força maior para obter o

mesmo resultado.

Tendo em vista, portanto, a grande influência que o módulo de Young possui em

detrimento dos outros parâmetros, estes resultados orientaram as calibrações a se iniciaram por

este módulo. Os outros parâmetros, portanto, são calibrados em seguida de modo a melhorar o

ajuste.

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61

Figura 4.6 – Relação entre o módulo de Young e tensão necessária para provocar uma deformação de

1,5% - ϕ = 53º, ν = 0,3.

4.1.2 RESULTADOS DE ENSAIOS DE COMRPESSÃO SIMPLES SEM QUEBRA

Após observada a influência, no comportamento do material, do coeficiente de Poisson,

ângulo de atrito e módulo de Young, o gráfico da Figura 4.7 foi obtido pela calibração desses

parâmetros de modo a reproduzir o resultado de Dias (2001). Neste gráfico observa-se o

comportamento de três amostras diferentes: uma gerada com somente três diâmetros dos totais

– Amostra 3, uma gerada com quatro diâmetros dos totais – Amostra 4, e, finalmente, uma

gerada com cinco diâmetros dos totais – Amostra 5. Todas as amostras foram calibradas com

os mesmos parâmetros (Tabela 4.1). A Tabela 4.2 apresenta a granulometria das amostras

utilizadas.

Tabela 4.1 – Parâmetros utilizados nos ensaios de compressão unidimensional

Módulo de Young 14x107 Pa

Coeficiente de Poisson 0,3

Ângulo de Atrito Interno 53º

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05

1,E+05

1,E+06

1,E+07

1,E+08

1,E+09

1,E+10

Tensão (kPa)

du

lo d

e Yo

un

g (P

a)

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62

Tabela 4.2 – Granulometria das amostras utilizadas no ensaio de compressão unidimensional

Amostras Diâmetros (mm)

75 63 50 37,5 25 19 12,5 9,5

3diâmetros 41% 6% 53%

4 diâmetros 25% 4% 32% 39%

5 diâmetros 20% 3% 26% 31% 20%

Pode-se observar que os resultados são satisfatórios. Para as três amostras, os mesmos

valores de módulo de Young, ângulo de atrito e Poisson foram suficientes para que seus

comportamentos se aproximassem do comportamento real obtido por Dias (2001). Assim,

possíveis preocupações devido ao truncamento da curva granulométrica provaram-se

desnecessários uma vez que, independente da curva granulométrica utilizada, os

comportamentos das curvas se aproximaram do comportamento real.

Dentre as três amostras calibradas, entretanto, a amostra com 5 diâmetros mostrou-se a

mais próxima da amostra real, tendo, portanto, um número de partículas suficientes para

representar o material ensaiado em um tempo e gasto computacional aceitáveis.

Figura 4.7 – Resultado do ensaio de compressão unidimensional - ϕ = 53º e ν = 0,3

0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5%

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

Deformação (%)

Ten

são

(kP

a)

E =14E+07 Pa – Amostra 3 E =14E+07 Pa – Amostra 4

E =14E+07 Pa – Amostra 5 Dias (2001)

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63

4.1.3 RESULTADOS DE ENSAIOS DE COMRPESSÃO UNIDIMENSIONAL COM

QUEBRA

De modo a compreender melhor o comportamento do mecanismo de quebra utilizado,

realizou-se a compressão de uma única esfera, analisando a força limite necessária para sua

quebra a partir da determinação do seu módulo de Young e raio. O único parâmetro testado foi

o módulo de Young, pois, como visto ao longo das seções anteriores, é o parâmetro mais

sensível. Além disso, segundo as expressões analisadas por Ciantia et al. (2015), não há

influência do atrito na quebra, podendo haver uma pequena influência do coeficiente de

Poisson.

O que se observou foi, primeiramente, a relação entre força limite para quebra e raio:

quanto maior o raio, menor a força limite necessária para quebrar a partícula. Além disso, outra

relação inversamente proporcional se dá entre o módulo de Young e a força necessária para

quebrar a partícula: quanto maior o módulo de Young, menor a força necessária para quebrar a

partícula. Esse fato acontece, pois, ao contrário de partículas flexíveis, partículas mais rígidas

tem suas deformações limitadas. Por consequência, as interpenetrações da partícula também

são limitadas. Uma força elevada em um contato provavelmente significa que houve

interpenetração com alguma partícula vizinha. Assim, a fim de evitar interpenetrações

improváveis, forças menores, que já seriam indicativos de interpenetração, são capazes de

quebrar a partícula. Ao contrário, uma partícula mais flexível, capaz de suportar maiores

deformações, tolera forças maiores que são resultado de interpenetrações mais significativas

entre partículas. Estes resultados encontram-se na Figura 4.8 a seguir.

Utilizando, então as amostras geradas e calibradas pelo ensaio de compressão 1D,

executou-se o mesmo ensaio de compressão, agora com quebra. O resultado encontra-se na

Figura 4.9 a seguir.

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64

Figura 4.8 – Relação entre força limite e módulo de Young.

Figura 4.9 – Ensaio de compressão com quebra – E = 14x107 e ϕ = 53º.

1,E+04

1,E+05

1,E+06

1,E+07

1,E+08

1,E+09

1,E+10

1,E+11

1,E+12

1,E+13

1,E+07 1,E+08 1,E+09 1,E+10 1,E+11 1,E+12 1,E+13

Forç

a Li

mit

e (N

)

Módulo de Young (Pa)

d = 0,0095 m

d = 0,0125 m

d = 0,025 m

d = 0,0375 m

d = 0,05 m

d = 0,063 m

d = 0,075 m

0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5%

0

100000

200000

300000

400000

500000

600000

700000

800000

900000

Deformação (%)

Ten

são

(P

a)

Sem Quebra Com Quebra Dias (2001)

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65

Percebe-se da análise dos resultados que não houve quebra significativa de partículas,

conforme pode-se analisar das figuras 4.10 e 4.11 que apresentam a granulometria antes e

depois dos ensaios. Desta forma, tanto o ensaio de compressão 1D com quebra como o ensaio

de compressão 1D sem quebra apresentam-se suficientes para reprodução do ensaio realizado

em laboratório.

Figura 4.10 – Granulometrias inicial e final do ensaio de compressão unidimensional

Figura 4.11 – Granulometrias inicial e final do ensaio de compressão unidimensional com material

de Itapebi (Dias, 2001).

1 10 100 1000

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Diâmetro (mm)

% q

ue

Pas

sa

Inicial

Final

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Segundo pode-se perceber da análise das curvas granulométricas, tanto do ensaio de Dias

(2001) quanto dos ensaios realizados por meio do método dos elementos discretos, a quebra em

ambos casos foi bastante reduzida. Nos ensaios de Dias (2001), o índice de quebra Bg é igual a

aproximadamente 7,8%. Por sua vez, nos ensaios reproduzidos pelo método dos elementos

discretos, o índice de quebra calculado foi de Bg = 6,5%. Percebe-se, assim, uma certa

proximidade entre o resultado reproduzido e o resultado real. Ao contrário do que se esperava,

portanto, em ambos ensaios, a quebra das partículas não aconteceu de modo a tornar a estrutura

mais estável, contrariando a teoria apresentada por Terzaghi (1960), que associa parte das

deformações às quebras.

Conforme mencionado anteriormente, a ocorrência dos maus comportamentos nos

enrocamentos foram relacionados a molhagem dos contatos dos blocos de rocha que provoca

perda de resistência dos blocos, levando à quebra (Affonso, 2004). Os ensaios de Dias (2001)

foram realizados em material seco, assim como os ensaios realizados neste trabalho, pois, não

se considerou presença de água e seus possíveis efeitos. Assim, acredita-se que a ausência de

água em ambos casos, limitou a ocorrência de quebras das partículas do material, ou seja, a

pouquíssima quantidade de quebra nos ensaios deve-se à ausência de molhagem dos grãos.

Além disso, no caso dos ensaios realizados por meio do método dos elementos discretos,

acredita-se que o modelo utilizado para simular a quebra dos grãos não representa de maneira

satisfatória a realidade. Existem dois principais mecanismos de quebra encontrados na natureza.

O primeiro deles, já estudado anteriormente, é a propagação de fissura pré-existentes, onde

haverá o surgimento de falha no ponto mais fraco do grão. Outro mecanismo de quebra é pela

fragmentação da partícula em suas arestas, com desprendimento de pequenos fragmentos.

O modelo utilizado, entretanto, não simula nenhum dos mecanismos citados. Ao

contrário, ele quebra a partícula de uma maneira grosseira, se preocupando apenas com a

questão da conservação das propriedades das partículas, e, deixando de lado a questão da

representação do mecanismo real. Assim, enquanto nos mecanismos reais, a quebra se dá de

forma gradual e, em alguns casos, não definitiva, no mecanismo utilizado, uma única força é

responsável por quebrar a partículas por completo e de maneira definitiva.

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67

4.2 CISALHAMENTO DIRETO

Assim como nos ensaios de compressão 1D, inicialmente, serão discutidos os resultados

provenientes das etapas de calibração dos ensaios. Em seguida, serão mostrados os resultados

dos ensaios com os parâmetros calibrados.

4.2.1 CALIBRAÇÃO DE PARÂMETROS PARA CISALHAMENTO DIRETO

Além dos parâmetros calibrados no ensaio de compressão 1D, um outro parâmetro deve

ser analisado no âmbito do ensaio de cisalhamento direto: a rigidez rotacional de uma esfera

(κrot). Trata-se de um parâmetro que relaciona o momento aplicado em um corpo e a rotação

consequente desta aplicação, assim, no sistema internacional de medidas este parâmetro é

expresso em N.m/rad.

Em ensaios de cisalhamento reais, as partículas ensaiadas não são perfeitamente esféricas.

Desta forma, uma vez que se está buscando reproduzir um ensaio real, procurou-se entender e

calibrar o funcionamento deste parâmetro. A rigidez rotacional de uma esfera, assim, impõe

certa dificuldade ao movimento de uma partícula, simulando, portanto, que a partícula possui

uma forma mais complexa que a esférica.

A fim de verificar o nível de influência da rigidez rotacional de uma esfera, assim como

do seu ângulo de atrito, realizou-se um ensaio simples. Do alto de um plano inclinado 30º,

soltava-se uma esfera, permitindo que ela rolasse até a base do plano (Figura 4.12). Alterando

os valores de κrot e φ é possível verificar suas influências sobre o movimento de rolamento de

uma partícula, parâmetro fundamental para um ensaio de cisalhamento direto.

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68

Figura 4.12 – Esquema de ensaio de rolamento

Mantendo-se a rigidez a rotação κrot constante e variando o ângulo de atrito interno,

verifica-se que a esfera, mesmo sempre rolando em direção a base, apresentará um maior ou

menor tempo para o trajeto. O gráfico da Figura 4.13 mostra o tempo que levou até que a esfera

atingisse uma parede na base do plano inclinado, fazendo, assim, um pico de força nessa parede.

Alterando o ângulo de atrito, portanto, os picos demoram mais ou menos a aparecer. Outro

ponto que merece destaque diz respeito a altura e quantidade dos picos. Analisando a curva

originada do ensaio com ângulo de atrito nulo percebe-se um maior pico comparado às demais

curvas. Tal fato deve-se a ausência de dissipação de energia ao longo da descida que aconteceria

pelo atrito entre a esfera e o plano. Além disso, ao colidir contra a parede, outros três pequenos

picos ainda aparecerão no gráfico do seu comportamento. Ao atingir a parede, a esfera volta

uma determinada distância no plano. Mais uma vez, devido à ausência de atrito, este fato se

repetirá mais vezes que uma esfera com atrito, visto que não há dissipação da energia da esfera.

Por exemplo, enquanto que com a esfera de atrito nulo há quatro picos, a esfera de maior atrito

(φ = 50º) apresenta somente dois, ou seja, duas colisões nas paredes aliadas ao atrito com a

rampa dissipam completamente sua energia.

30º

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69

Figura 4.13 – Influência do ângulo de atrito - E = 14x109 e κ = 0.

Tomando agora o ângulo de atrito interno e aliando à rigidez rotacional, tem-se o gráfico

da Figura 4.14. Inicialmente, com a rigidez nula, tem-se o mesmo resultado apresentado no

gráfico anterior, ou seja, a esfera rola até a base, colidindo contra a parede e dispersando parte

da sua energia que será dissipada em outras colisões, além do atrito com a rampa, visto que o

ângulo de atrito adotado para esses testes foi de 50º.

Aumentando o valor de κ para 1000 N.m/rad, pode-se observar uma redução significativa

do primeiro pico, ou seja, há uma resistência ao movimento da partícula que se manifesta pela

dissipação da energia do movimento de rolamento até a base da rampa.

Aumentando ainda mais o valor de κ, agora para 1000 kN.m/rad, percebe-se que não

haverá colisões contra a parede. Isso acontece, pois, a esfera ficará parada no topo da rampa,

ou seja, a rigidez ao rolamento, aliada ao ângulo de atrito, imprimiram à esfera uma resistência

ao movimento. Percebe-se, assim, que, como a rigidez rotacional simularia uma mudança de

forma da partícula.

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

20000

1 10

Forç

a n

o P

lan

o (

N)

Tempo (s)

φ = 0

φ = 10

φ = 30

φ = 50

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70

Figura 4.14 – Influência da rigidez rotacional - E = 14x109 e κ = 0.

Após estes testes, realizou-se, também, um teste bastante simples cujo esquema

encontra-se representado na Figura 4.15. Trata-se de um cisalhamento realizado com um

número reduzido de partículas, a amostra possui apenas nove esferas. Para a obtenção da

envoltória dessa pequena amostra, utilizaram-se tensões normais de 2, 4, 8 e 16 kgf/cm².

O principal objetivo deste pequeno ensaio é analisar o movimento das partículas passando

umas sobre as outras. Desta forma, uma das consequências é poder observar, por exemplo, o

movimento da caixa responsável pela tensão normal no ensaio e, se houver, a dilatância da

amostra. Assim, em uma escala grosseira, é possível observar a influência do ângulo de atrito,

rigidez rotacional, módulo de Young e coeficiente de Poisson em um ensaio de cisalhamento.

0

500000

1000000

1500000

2000000

2500000

3000000

0 2 4 6 8 10 12 14

Forç

a n

o P

lan

o (

N)

Tempo (s)

Kr = 0

Kr = 1e3

Kr = 1e6

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Figura 4.15 – Influência da rigidez rotacional.

Inicialmente, mantendo o módulo de Young e a rigidez rotacional constantes, alteraram-

se os ângulos de atrito das partículas. Notou-se à princípio que o aumento do ângulo de atrito

eleva a resistência da amostra, sendo necessários tensões cisalhantes maiores para uma mesma

tensão normal (Figura 4.16).

Além disso, dos resultados obtidos destes primeiros ensaios, destaca-se a envoltória de

ruptura da amostra com ângulo de atrito interno zero. Como poucas partículas estão sendo

ensaiadas, o grau de entrosamento entre elas é pequeno. Ainda assim, este entrosamento entre

partículas mostrou-se suficiente para que, mesmo sem rigidez rotacional e ângulo de atrito,

fosse medido algum atrito da amostra, que, como mostra a Tabela 4.3 foi de 19,10º. Desta

forma, com este ensaio foi possível detectar o atrito devido exclusivamente ao processo de

rolagem de uma partícula sobre a outra, ou seja, pode-se concluir que existe uma parcela do

ângulo de atrito da amostra que é devido, simplesmente, ao movimento de uma partícula

passando sobre a outra.

Outro ponto importante destes resultados refere-se ao comportamento assintótico que se

apresenta a partir de um determinado ponto. Analisando a Figura 4.16, percebe-se que as curvas

de φ = 30º e φ = 50º apresentam comportamento extremamente semelhante. Desta forma, nota-

se que aumentar o atrito indefinidamente é pouco eficaz uma vez que, a partir de determinado

ponto, seu efeito passa a se diluir, ou seja, a partir de determinado ângulo há uma redução da

sua contribuição no comportamento da amostra.

Observando as envoltórias, percebe-se que há detecção de interceptos coesivos na

amostra. Esse comportamento, entretanto, não era esperado uma vez que se está testando um

material puramente friccional. Desta forma, não há motivos para que o material tenha coesão,

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mas, ainda assim, a coesão é medida. Essa coesão trata-se, então, simplesmente, da dificuldade

de uma partícula passar sobre a outra. Além do próprio entrosamento, como citado

anteriormente, essa dificuldade deve-se também à rigidez da partícula. Uma vez que as

partículas são mais ou menos rígidas, haverá maior ou menor interpenetração entre elas. Essa

interpenetração é, então, responsável pelo surgimento inesperado de interceptos coesivos que

aparece no material.

Figura 4.16 – Influência do ângulo de atrito – E = 14x109 e κ = 0.

Tabela 4.3 – Ângulo de atrito macroscópico a partir do ângulo de atrito microscópico

Atrito Interno Atrito Macroscópico

φ = 50º 29,29º

φ = 30º 30,96º

φ = 10º 22,38º

φ = 0o 19,10º

Mantendo, agora, o ângulo de atrito e a rigidez rotacional das partículas constantes,

alterou-se o módulo de Young das partículas. Como se pode observar da Figura 4.17 a seguir,

o módulo de Young não é um parâmetro simples, ao contrário, o comportamento da amostra é

y = 0,3461x + 155,43

y = 0,4117x + 208,7

y = 0,6x + 200

y = 0,5607x + 218,26

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

0 500 1.000 1.500 2.000

Ten

são

Cis

alh

ante

(kP

a)

Tensão Normal (kPa)

φ = 0

φ = 10

φ = 30

φ = 50

Linear (φ = 0)

Linear (φ = 10)

Linear (φ = 30)

Linear (φ = 50)

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73

muito sensível a ele. Assim, a alteração de uma ordem de grandeza deste módulo leva a grandes

alterações tanto relacionadas ao ângulo de atrito como relacionadas a falsa coesão da amostra.

Este fato acontece, pois, no método dos elementos discretos, o módulo de Young é a

propriedade que controla de maneira mais expressiva a força entre partículas. O ângulo de atrito

da amostra, por sua vez, ao contrário do que se espera, não é simplesmente a fricção entre dois

corpos. Ele traduz a maneira pela qual uma partícula interage com a outra. Percebe-se, assim,

que módulo de Young da partícula e atrito da amostra estão intimamente correlacionados.

Assim, alterar o módulo de Young, altera, consequentemente, a força de interação entre duas

partículas, e, alterar a interação entre partículas significa alterar o atrito da amostra.

O grau de influência do módulo de Young pode ser também observado a partir dos

resultados da Tabela 4.4 a seguir. Observou-se o comportamento da amostra a partir de dois

ângulos de atrito diferentes: φ = 10º (Figura 4.17) e φ = 30º (Figura 4.18). Alterar o ângulo de

atrito interno de uma amostra que possui o mesmo Young provoca um acréscimo no ângulo de

atrito da amostra de, no máximo, 8,6º, no caso do Young = 14E+09. Ao contrário, manter o

atrito das partículas e aumentar seu Young, provoca uma variação de, no mínimo, 9,23º. Assim,

nota-se a sensibilidade e, consequente importância do módulo de Young no processo de

calibragem deste ensaio.

Figura 4.17 – Influência do módulo de Young – φ = 10º e κ = 0.

y = 0,0322x + 53,37

y = 0,2091x + 70,652

y = 0,4117x + 208,7

0,E+00

1,E+02

2,E+02

3,E+02

4,E+02

5,E+02

6,E+02

7,E+02

8,E+02

9,E+02

1,E+03

0,0E+00 5,0E+02 1,0E+03 1,5E+03 2,0E+03

Ten

são

Cis

alh

ante

(kP

a)

Tensão Normal (kPa)

E = 14E+07 Pa

E = 14E+08 Pa

E = 14E+09 Pa

Linear (E = 14E+07 Pa)

Linear (E = 14E+08 Pa)

Linear (E = 14E+09 Pa)

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74

Figura 4.18 – Influência do módulo de Young – φ = 30º e κ = 0.

Tabela 4.4 – Influência do módulo de Young.

φ Módulo de Young Atrito Macroscópico

10º

E = 14 x 107 Pa 1,84º

E = 14 x 108 Pa 11,81º

E = 14 x 109 Pa 22,38º

30º

E = 14 x 107 Pa 5,69º

E = 14 x 108 Pa 14,92º

E = 14 x 109 Pa 30,96º

Um cuidado especial deve-se ter em relação a rigidez da partícula no sentido de se evitar

anomalias. Na Figura 4.19 é apresentado o resultado de uma simulação onde o valor do módulo

de Young é reduzido para 106 Pa. O baixo valor da rigidez da partícula permitiu que ocorresse

a interpenetração, passando, literalmente, umas por dentro das outras, e, finalmente, escapando

por baixo.

y = 0,0996x + 67,826

y = 0,2665x + 77,609

y = 0,6x + 200

0,0E+00

2,0E+02

4,0E+02

6,0E+02

8,0E+02

1,0E+03

1,2E+03

1,4E+03

0,0E+00 5,0E+02 1,0E+03 1,5E+03 2,0E+03

Ten

são

Cis

alh

ante

(kP

a)

Tensão Normal (kPa)

E = 14E+07 Pa

E = 14E+08 Pa

E = 14E+09 Pa

Linear (E = 14E+07 Pa)

Linear (E = 14E+08 Pa)

Linear (E = 14E+09 Pa)

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75

Figura 4.19 – Anomalia no comportamento das partículas devido a Young muito baixo.

Por fim, a influência da rigidez a rotação foi avaliada. Conforme pode-se observar na

Figura 4.20, assim como o ângulo de atrito, a rigidez a rotação de uma esfera também não é

uma propriedade linear.

Como mostrado na Tabela 4.5, uma alteração de cinco ordens de grandeza, indo de κrot =

0 a κrot = 105, provoca um aumento de aproximadamente 1º entre os ângulos de atrito das

amostras, ou seja, quanto menores os valores de κrot, menor a influência no comportamento do

material. Alterar, por sua vez, a rigidez rotacional de κrot = 105 a κrot = 107 provoca um aumento

um pouco maior de cerca de 5º. Percebe-se, desta forma, que a alteração dos valores da rigidez

rotacional provoca mudanças de comportamento mais semelhantes às alterações causadas por

mudanças no ângulo de atrito. Por sua vez, a alteração do módulo de Young é muito mais

sensível, sendo, desta forma, a interpenetração entre partículas e sua consequente, força mais

importantes na calibração dos parâmetros da amostra.

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Figura 4.20 – Influência da rigidez rotacional (κrot) – E = 14x109 e ϕ = 10º.

Tabela 4.5 – Influência da rigidez rotacional – κrot – no ângulo de atrito da amostra.

κrot Atrito Macroscópico

κ = 0 22,38º

κ = 105 23,76º

κ = 107 28,43º

4.2.2 RESULTADOS DE ENSAIOS DE CISALHAMENTO DIRETO

Após a calibração de todos os parâmetros que influenciam no comportamento da amostra

de cisalhamento direto, o gráfico de envoltórias da Figura 4.21 foram definidos. O módulo de

Young de partida foi o mesmo encontrado no ensaio de compressão 1D uma vez que se trata da

mesma amostra. Ajustou-se, então, em seguida, este módulo de maneira que se aproximasse o

y = 0,4117x + 208696

y = 0,4404x + 212174

y = 0,5415x + 327609

0,0E+00

2,0E+05

4,0E+05

6,0E+05

8,0E+05

1,0E+06

1,2E+06

1,4E+06

0,0E+00 5,0E+05 1,0E+06 1,5E+06 2,0E+06

Ten

são

Cis

alh

ante

(kP

a)

Tensão Normal (kPa)

κ = 0

κ = 1E+05

k = 1E+07

Linear (κ = 0)

Linear (κ = 1E+05)

Linear (k = 1E+07)

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máximo possível do resultado obtido por Dias (2001). Os parâmetros utilizados para as

calibrações encontram-se na Tabela 4.6.

Pela análise da Figura 4.21 e da Tabela 4.7, baseado no ângulo de atrito macroscópico

resultante das amostras, os resultados ensaiados se mostraram satisfatórios.

Figura 4.21 – Calibração do Ensaio de Cisalhamento.

Tabela 4.6 – Propriedades para calibração da amostra.

Parâmetros Calibrados

Módulo de Young 1x108 Pa

Ângulo de Atrito 10º

Rigidez Rotacional 0 N.m/rad

Tabela 4.7 – Ângulo de atrito da amostra a partir das calibrações realizadas.

Atrito Macroscópico

Dias (2001) 35º

Calibragem 37,6º

y = 0,7x

y = 0,7701x

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

0 500 1000 1500 2000

Ten

são

Cis

alh

ante

(kP

a)

Tensão Normal (kPa)

DIAS

Calibração 1

Linear (DIAS )

Linear (Calibração 1)

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5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

5.1 CONCLUSÕES

O principal objetivo proposto por esta pesquisa, conforme exposto anteriormente, foi

analisar a maneira pela qual parâmetros a nível de grãos, oriundos do comportamento complexo

do material, influenciam nos parâmetros macroscópicos dos enrocamentos.

Inicialmente, observando os ensaios de calibração dos parâmetros do material, conclui-

se que o principal parâmetro que controla o seu comportamento, tanto nos ensaios de

compressão como nos ensaios de cisalhamento, é o módulo de Young da partícula. Tal fato

deve-se a dependência entre o cálculo das forças nos contatos e esse parâmetro. Assim, quanto

maior o valor adotado para o módulo de Young, maiores as tensões necessárias para deformar

as amostras. Este comportamento representa a rigidez da partícula, sendo tanto mais rígida

quanto maior o valor adotado.

Em relação ao coeficiente de Poisson, se apresentou uma variação ínfima no

comportamento dos materiais. Pode-se associar este comportamento à aleatoriedade existente

no método dos elementos discretos que não repete rigorosamente cada ensaio, mesmo que seus

parâmetros sejam os mesmos. Ou seja, por mais que o cenário seja idêntico, cada situação

apresentará um cálculo diferente unicamente devido à aleatoriedade dos processos, que sempre

acontecerão, entretanto, não necessariamente na mesma ordem. Isso pode, portanto, causar uma

pequena diferença entre os resultados.

No que diz respeito ao ângulo de atrito das partículas, notou-se uma pequena variação

de comportamento, visto que este parâmetro age no sentido de impedir o deslizamento de uma

partícula em relação a outra. Mesmo amostras que não possuem nenhum atrito interno,

apresentaram envoltórias com atrito maior que zero. Trata-se, portanto, de um parâmetro

importante que, entretanto, não possui a significância do módulo de Young. Sua calibração,

desta forma, influencia em um ajuste mais fino do comportamento do material, ou seja, definido

o módulo de Young, o ângulo de atrito realizará os ajustes finais do comportamento da amostra.

Observou-se dos ensaios, tanto de compressão como de cisalhamento, que o ângulo de

atrito possui comportamento assintótico, ou seja, tende a um determinado comportamento. Isso

significa que aumentar o ângulo de atrito indefinidamente, não acarretará em um aumento

indefinido no comportamento da amostra. Destaca-se que os ensaios de compressão e

cisalhamento foram feitos para amostras com módulos de Young distintos, sendo o módulo do

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ensaio de compressão de 108 Pa e do ensaio de cisalhamento de 109 Pa. Tal fato prova, desta

forma, que o ângulo de atrito apresentará o comportamento assintótico independente do módulo

de Young adotado.

Em relação, por fim, a rigidez rotacional, verificou-se um comportamento semelhante

ao comportamento verificado pela variação do ângulo de atrito, ou seja, a variação deste

parâmetro confere mudança de comportamento na amostra. Esta mudança, todavia, não é tão

significante quanto aquelas causadas pelo módulo de Young da amostra. Além disso, a rigidez

rotacional também apresenta um comportamento assintótico, tendendo a uma mesma resposta.

O critério adotado para a quebra das partículas não se comportou conforme desejava-se.

Esperava-se, conforme visto na revisão bibliográfica, uma grande influência da quebra das

partículas no comportamento da amostra, inclusive no sentido de garantir uma maior

estabilização. Esta influência, entretanto, não foi observada nem nos ensaios realizados

computacionalmente pelo método dos elementos discretos nem nos ensaios de laboratório

realizados por Dias (2001). Acredita-se que esta ausência de comportamento se deve a não

realização da molhagem dos contatos responsável pelo enfraquecimento dos grãos e

consequente quebra, dentre outros possíveis parâmetros.

Além disso, a quebra apresentou-se de maneira ineficaz nos ensaios realizados

computacionalmente uma vez que o processo de separação das partículas ou spawning mostrou-

se distante da realidade. Enquanto que, na realidade, justifica-se a quebra pela propagação de

uma fissura, quebrando a partícula em duas partes, ou pela fragmentação das arestas, quebrando

a partícula gradualmente, o procedimento adotado quebra a partícula em 14 novas esferas,

simulando uma quebra total e definitiva. Percebe-se que a preocupação maior neste

procedimento foi a manutenção do volume e outras propriedades, ao invés de se preocupar com

a reprodução fiel ao comportamento físico.

O método dos elementos discretos mostrou-se eficaz na reprodução de comportamentos

observados na realidade. Essa reprodução será tanto mais eficaz quanto melhor calibrados os

parâmetros das partículas. Sabe-se que existem outros inúmeros parâmetros microscópicos para

calibrar. Assim, de modo geral, tendo em vista os parâmetros utilizados, foi possível observar

a influência de características microscópicas no comportamento macroscópico do material.

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5.2 RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS

O uso do método dos elementos discretos ainda não está amplamente consolidado,

existindo, portanto, muitos tópicos nos quais ainda se pode trabalhar. Desta forma,

recomendam-se as seguintes abordagens para estudos futuros:

Aprimoramento da geração de partículas para amostras com ampla variedade de

diâmetros na granulometria;

Implantação de comportamento oriundo da molhagem para análise do

comportamento de partículas de enrocamento;

Implantação de um script de quebra que reproduza o comportamento físico do

processo e não somente se preocupe com as propriedades das partículas;

Implantação de comportamento viscoso na quebra;

Estudo da influência de outros parâmetros microscópicos como a forma, por

exemplo;

Simulação do comportamento das barragens de enrocamento a partir dos

parâmetros obtidos por meio do método dos elementos discretos.

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