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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM TRANSPORTES AEROPORTOS TURÍSTICOS: CRITÉRIOS PARA LOCALIZAÇÃO ECONÔMICA LEONARDO LÚCIO ESTEVES MÔNICA PEREIRA BARROS ORIENTADOR: JOSÉ ALEX SANT’ANNA, PhD MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DA AVIAÇÃO CIVIL PUBLICAÇÃO: E-TA-001A/2007 BRASÍLIA/DF: MARÇO/2007

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UNIVERSIDADE DE BRASLIA

CENTRO DE FORMAO DE RECURSOS HUMANOS EM TRANSPORTES

AEROPORTOS TURSTICOS: CRITRIOS PARA LOCALIZAO

ECONMICA

LEONARDO LCIO ESTEVES

MNICA PEREIRA BARROS

ORIENTADOR: JOS ALEX SANTANNA, PhD

MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAO EM GESTO DA AVIAO CIVIL

PUBLICAO: E-TA-001A/2007

BRASLIA/DF: MARO/2007

UNIVERSIDADE DE BRASLIA

CENTRO DE FORMAO DE RECURSOS HUMANOS EM TRANSPORTES

AEROPORTOS TURSTICOS: CRITRIOS PARA LOCALIZAO ECONMICA

LEONARDO LCIO ESTEVES

MNICA PEREIRA BARROS

MONOGRAFIA DO CURSO DE ESPECIALIZAO SUBMETIDA AO CENTRO DE

FORMAO DE RECURSOS HUMANOS EM TRANSPORTES DA

UNIVERSIDADE DE BRASLIA, COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSRIOS PARA A OBTENO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM GESTO

DA AVIAO CIVIL.

APROVADA POR:

___________________________________

JOS ALEX SANTANNA, PhD (UnB)

(Orientador)

___________________________

ADYR DA SILVA, PhD (UnB)

(Examinador)

_____________________________________________________

JOAQUIM JOS GUILHERME DE ARAGO, PhD (UnB)

(Examinador)

BRASLIA/DF, 29 DE MARO DE 2007

ii

FICHA CATALOGRFICA

ESTEVES, LEONARDO LCIO e BARROS, MNICA PEREIRA.

Aeroportos Tursticos: Critrios Para Localizao Econmica

xvi, 129p., 210x297 mm (CEFTRU/Unb, Especialista, Gesto da Aviao Civil,2007).

Monografia de Especializao Universidade de Braslia, Centro de Formao deRecursos Humanos em Transportes, 2007

1. Aeroportos 2. Localizao 3. Acessibilidade 4. Planejamento I. CEFTRU/UnB II. Ttulo (srie)

REFERNCIA BIBLIOGRFICA

ESTEVES, L. L e BARROS, M. P (2007). Aeroportos Tursticos: Critrios Para Localizao

Econmica, Monografia de Especializao, Publicao E-TA-001A/2007, Centro de

Formao de Recursos Humanos em Transportes, Universidade de Braslia, Braslia, DF,

145p.

CESSO DE DIREITOS

NOME DOS AUTORES: Leonardo Lcio Esteves e Mnica Pereira Barros

TTULO DA MONOGRAFIA: Aeroportos Tursticos: Critrios Para Localizao Econmica

GRAU/ANO: Especialista / 2007

concedida Universidade de Braslia, permisso para reproduzir cpias desta monografia

de especializao e para emprestar ou vender tais cpias somente para propsitos acadmicos

e cientficos. Os autores reservam outros direitos de publicao e nenhuma parte desta

monografia de especializao pode ser reproduzida sem a autorizao por escrito dos autores.

___________________________________________ _______________________________________ Leonardo Lcio Esteves Mnica Pereira Barros

iii

mailto:[email protected]

DEDICATRIA

Este trabalho dedicado aos nossos familiares que criaram as condies para que pudssemos

chegar at aqui.

iv

AGRADECIMENTOS

A todos os dirigentes da INFRAERO, da Universidade de Braslia e do Centro de Recursos

Humanos em Transportes, os nossos mais sinceros agradecimentos por terem tornado possvel

a realizao deste curso.

Um agradecimento especial Maria Taeko Kakazu pelo incentivo e apoio incondicionais.

Ao nosso orientador Professor Jos Alex SantAnna pelos ensinamentos precisos e oportunos

contribuindo de forma decisiva para o correto direcionamento deste trabalho.

Ao Professor Adyr da Silva, pelo entusiasmo e por compartilhar conosco durante todo o curso

sua experincia e sua valiosa opinio sobre o tema.

A todo o corpo docente envolvido no curso pela excelncia das informaes a ns

transmitidas.

Aos coordenadores e pessoal de apoio ao curso, em especial Slvia, pela ateno e dedicao

dispensada a todos os discentes.

A todos os colegas de curso pela ajuda mtua e por tornarem os momentos de convivncia

muito mais agradveis.

Aos funcionrios da INFRAERO no Aeroporto Internacional Deputado Lus Eduardo

Magalhes/Salvador e estagirios do projeto Welcome to Brazil que nos auxiliaram na

realizao da pesquisa de campo.

Aos nossos familiares pela compreenso e pacincia durante nossas ausncias no decorrer de

todo o perodo acadmico.

Por fim, agradecemos DEUS por manter nossas vidas tranqilas para que pudssemos

conquistar a realizao deste trabalho.

v

RESUMO

O turismo responsvel por cerca de 5% do PIB no Brasil e possui grande potencial de

crescimento. Como forma de incentivar o desenvolvimento do turismo local, tem-se

verificado uma crescente competio entre regies para atrao de investimentos em infra-

estrutura aeroporturia. A falta de critrios formalmente reconhecidos para definio da

localizao de um aeroporto para atendimento demanda turstica tem contribudo para que

as decises sobre esse assunto sejam freqentemente determinadas por motivos polticos. Este

trabalho procura contribuir para o estudo de critrios para localizao de aeroportos tursticos.

Inicialmente, foram pesquisados os fatores usualmente considerados na escolha de stios

aeroporturios, com o objetivo de identificar aqueles mais relevantes para a localizao de

aeroportos destinados a atender demanda turstica. O segmento de mercado considerado no

mbito deste trabalho foi o turista de lazer internacional. Em especial, as pesquisas foram

concentradas nos fatores relacionados acessibilidade e distncia do aeroporto em relao

ao centro de demanda. Foram identificados os principais atributos que influenciam a deciso

dos passageiros em suas escolhas relacionadas ao acesso a aeroportos. Identificou-se ainda de

que forma os diversos segmentos de mercado reagem a cada um dos atributos de escolha.

Com base nessas informaes, foi realizada uma pesquisa de preferncia declarada, com o

objetivo de identificar o tempo mximo que os passageiros estariam dispostos a despender

desde o aeroporto at o seu destino final em uma viagem de superfcie. A pesquisa foi

realizada com 45 turistas internacionais no Aeroporto Internacional Deputado Lus Eduardo

Magalhes/Salvador. O formulrio de pesquisa foi concebido como um experimento de

escolha em que as opes dos entrevistados eram explicitadas num processo de escolha

simples. Os atributos considerados na pesquisa foram: conforto; tempo de estadia; e tempo e

custo da viagem de superfcie. Com base nos resultados das pesquisas, foi possvel definir um

valor de tempo mximo de viagem de superfcie admissvel para os turistas internacionais.

Desse modo, foi possvel ainda estimar a rea de polarizao dos aeroportos internacionais no

Estado da Bahia e na Regio Nordeste e realizar uma anlise sobre a localizao desses

aeroportos.

vi

ABSTRACT

Tourism is responsible for about 5% of Brazilian GNP and there is still possibility of

expansion. As a manner to encourage local tourism development, it is observed a rising

competition between regions to promote investments in airport infrastructure. The lack of

formally recognized standards for the definition for the placement of an airport to attend

tourist demand has contributed for the political decisions upon this subject. This monograph

aims to contribute for the establishment of standards to determine the localization of tourist

airports. Initially, it was raised the factors usually taken in consideration for choosing the

localization of airfields, with the scope to identify the most relevant ones for airports

designated to attend tourist demand. The markets segment considered in the sphere of this

monograph was foreign tourism for leisure. The researches were specially concentrated in

factors related to the accessibility and distance from the airport to the demanding centre. It

was branded the main attributes which have influence on passengers decisions upon choices

relate to access to airports. It was identified, additionally, in which way the miscellaneous

markets sectors react to each one of the selection factors. Based on these information, it was

launched a stated preference survey, intending to identify for how long passengers would be

disposed to spend in the translocation from the airport to their final destinations in land tours.

The survey was carried out with 45 foreign tourists at the International Airport Deputado

Lus Eduardo Magalhes located in the city of Salvador Bahia Brazil. The research form

was conceived as an experiment in which the answering options presented for the interviewed

ones were expressed in a simple selection process. The attributes taken in consideration were:

comfort, period of stay and time and costs involved with the land translocation. Based on the

results of the survey, it was possible to define how long foreign tourists would be available to

spend during the land translocation. In view of that, it was permitted to estimate the

polarization area of international airports in the State of Bahia and in the Northeastern region,

as well as to accomplish an analysis about the location of these airports.

vii

SUMRIO

Captulo Pgina

1 INTRODUO 1

1.1 JUSTIFICATIVA 2

1.2 PROBLEMA 3

1.3 OBJETIVOS 3

1.3.1 Objetivo Geral 3

1.3.2 Objetivo Especfico 3

1.4 METODOLOGIA 4

1.4.1 Estrutura do Trabalho 4

2 REVISO BIBLIOGRFICA 5

2.1 CONCEITOS BSICOS 5

2.2 EVOLUO DO TURISMO MUNDIAL 6

2.2.1 Perfil do Turismo Emissivo 9

2.2.2 Perfil do Turismo Receptivo 9

2.3 EVOLUO DO TURISMO NO BRASIL 12

2.3.1 Perspectivas e Estratgias Para o Turismo no Brasil 15

2.3.2 Turismo Receptivo no Brasil 20

2.4 EFEITOS DA ATIVIDADE TURSTICA PARA O PAS E A

ECONOMIA

24

2.5 CLUSTER DO TURISMO 25

2.6 A IMPORTNCIA DO SISTEMA DE TRANSPORTE NO

TURISMO

29

2.7 TRANSPORTE AREO E AEROPORTOS 32

2.8 FATORES DE ANLISE PARA ESCOLHA DE STIOS

AEROPORTURIOS

33

2.8.1 Metodologias Para Escolha de Stio Aeroporturio 44

2.8.2 Seleo dos Critrios Relevantes Para o Atendimento Demanda

do Turismo de Lazer Internacional

45

2.9 TEORIA DE ESCOLHA E MODELOS DE ESCOLHA

DISCRETA

48

viii

2.10 O ACESSO DE SUPERFCIE A AEROPORTOS 49

2.10.1 Pesquisas Sobre o Acesso de Superfcie a Aeroportos Como Fator

de Influncia na Escolha Entre Aeroportos

50

2.10.2 Pesquisa Sobre a Eficincia e Caractersticas do Acesso de

Superfcie a Aeroportos

56

3 PESQUISA DE CAMPO 63

3.1 PESQUISA COM PASSAGEIROS NO AEROPORTO

INTERNACIONAL DE SALVADOR

63

3.1.1 Tcnicas de Preferncia Declarada e de Preferncia Revelada 64

3.1.2 Formulrio de Pesquisa 66

3.1.2.1 Aplicao do Formulrio 69

4 RESULTADOS DAS PESQUISAS DE CAMPO 70

4.1 CARACTERSTICAS GERAIS DA AMOSTRA 70

4.2 RESULTADOS 72

4.2.1 Resultados Gerais da Amostra 72

4.2.1.1 Efeito do Aumento no Tempo de Estadia 75

4.2.1.2 Efeito da Alterao no Tipo de Transporte 76

4.2.2 Resultados por Segmento 77

4.2.2.1 Resultados por Faixa de Renda 77

4.2.2.2 Resultados por Preferncia do Segmento Turstico 80

5 DEFINIO DE CRITRIOS PARA LOCALIZAO DE

AEROPORTOS TURSTICOS

84

5.1 Relao Entre Tempo de Viagem e Distncia de Viagem 85

5.1.2 Anlise da Localizao dos Aeroportos Internacionais no Estado

da Bahia e na Regio Nordeste

86

6 CONCLUSES E RECOMENDAES 92

6.1 CONCLUSES 92

6.2 RECOMENDAES 95

ix

7 BIBLIOGRAFIA 98

ANEXO A INFORMAES RELACIONADAS AO TURISMO NO

ESTADO DA BAHIA

101

ANEXO B FORMULRIOS DE PESQUISA 115

ANEXO C RESULTADOS DA PESQUISA COM TURISTAS 126

x

LISTA DE TABELAS

Tabela Pgina

Tabela 2.1 Evoluo das chegadas mundiais de turistas e das receitas totais de

turismo e exportaes (1950 2000)

08

Tabela 2.2 Previso de entrada de turistas estrangeiros: Cenrio atual (em

milhes)

18

Tabela 2.3 Previso de entrada de turistas estrangeiros: Cenrio desejvel

(milhes)

18

Tabela 2.4 Evoluo das chegadas no mundo, nas Amricas e no Brasil (1985 -

2001)

22

Tabela 2.5 Evoluo das receitas no mundo, nas Amricas e no Brasil (1985

2001)

23

Tabela 2.6 Correlao entre os fatores de anlise do stio pesquisados 43

Tabela 2.7 ndices de ponderao atribudos aos fatores para seleo de stios 45

Tabela 2.8 Elasticidade-Renda e Elasticidade-Preo dos diferentes segmentos de

mercado

47

Tabela 2.9 Distncia ao centro da cidade e tempo de ligao por transporte

pblico

50

Tabela 2.10 Distribuio dos passageiros por motivo da viagem 60

Tabela 2.11 Distribuio dos passageiros por topo de trfego 60

Tabela 2.12 Distribuio dos tempos das viagens terrestres dos aeroportos de Porto

Alegre e Florianpolis

61

Tabela 2.13 Distribuio das distncias das viagens terrestres dos aeroportos de

Porto Alegre e Florianpolis

62

Tabela 3.1 Atributos de influncia nas escolhas dos passageiros 67

Tabela 5.1 Estimativa de distncias de viagem 85

Tabela A.1 Fluxo turstico global 102

Tabela A.2 Fluxo global de turistas estrangeiros, segundo os principais mercados

emissores Salvador

103

Tabela A.3 Principais variveis do turista estrangeiro Salvador 104

Tabela A.4 Vocaes principais e complementares dos principais destinos

tursticos na Bahia

106

xi

Tabela A.5 Zonas tursticas e principais aeroportos da regio 108

Tabela A.6 Movimento de passageiros no Aeroporto Internacional de Salvador

Deputado Lus Eduardo Magalhes

108

Tabela A.7 Movimento de passageiros em Charters internacionais no Aeroporto

de Salvador Deputado Lus Eduardo Magalhes

108

Tabela A.8 Movimento de passageiros no Aeroporto Internacional de Porto

Seguro

109

Tabela A.9 Movimento de passageiros no Aeroporto de Ilhus 109

Tabela A.10 Movimento de passageiros no Aeroporto Hotel Transamrica (Una) 109

Tabela A.11 Movimento de passageiros no Aeroporto de Barreiras 109

Tabela A.12 Movimento de passageiros no Aeroporto de Bom Jesus da Lapa 110

Tabela A.13 Movimento de passageiros no Aeroporto de Lenis 110

Tabela A.14 Movimento de passageiros no Aeroporto de Paulo Afonso 110

Tabela A.15 Movimento de passageiros no Aeroporto de Valena 110

Tabela A.16 Localizao de plos tursticos em relao aos aeroportos

Acessibilidade

113

xii

LISTA DE FIGURAS

Figura Pgina

Figura 5.1 rea de polarizao dos aeroportos internacionais nas zonas tursticas

da Bahia

87

Figura 5.2 Localizao dos principais aeroportos nas regies tursticas do Estado

da Bahia

88

Figura 5.3 rea de polarizao dos aeroportos internacionais na regio nordeste 91

Figura A.1 Zonas tursticas do Estado da Bahia 105

Figura A.2 Aeroportos de interesse estadual e federal no Estado da Bahia 107

xiii

LISTA DE GRFICOS

Grfico Pgina

Grfico 4.1 Pas de residncia dos entrevistados 70

Grfico 4.2 Preferncias do segmento turstico 71

Grfico 4.3 Distribuio dos entrevistados por faixa de renda familiar mensal 71

Grfico 4.4 Preferncias de tempo de viagem terrestre para a opo de

transporte coletivo e tempo de permanncia de at 4 dias e mais de 8

dias

72

Grfico 4.5 Preferncias de tempo de viagem terrestre para a opo de

transporte privativo e tempo de permanncia de at 4 dias e mais de

8 dias

73

Grfico 4.6 Preferncias acumuladas de tempo de viagem terrestre para a opo

de transporte coletivo e tempo de permanncia de at 4 dias e mais

de 8 dias

74

Grfico 4.7 Preferncias acumuladas de tempo de viagem terrestre para a opo

de transporte privativo e tempo de permanncia de at 4 dias e mais

de 8 dias

74

Grfico 4.8 Valor que o turista estaria disposto a pagar para reduzir em 30

minutos o tempo de viagem

75

Grfico 4.9 Efeito do aumento no tempo de estadia nas preferncias dos

entrevistados

75

Grfico 4.10 Efeito do aumento no tempo de estadia nas preferncias dos

entrevistados Amostra parcial

76

Grfico 4.11 Efeito do aumento no tempo de estadia nas preferncias dos

entrevistados

77

Grfico 4.12 Preferncias acumuladas de tempo de viagem terrestre por faixa de

renda para opo de transporte coletivo

78

Grfico 4.13 Preferncias acumuladas de tempo de viagem terrestre dos

entrevistados por faixa de renda, para opo de transporte privativo

79

Grfico 4.14 Valor que os entrevistados estariam dispostos a pagar para reduo

de 30 minutos no tempo de viagem de acesso, por faixa de renda

80

Grfico 4.15 Preferncias acumuladas de tempo de viagem terrestre dos 81

xiv

entrevistados por segmento turstico, para opo de transporte

coletivo

Grfico 4.16 Preferncias acumuladas de tempo de viagem terrestre dos

entrevistados por segmento turstico, para opo de transporte

privativo

82

xv

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ANAC Agncia Nacional da Aviao Civil

ANTT Agncia Nacional de Transportes Terrestres

EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo

FIPE Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

NBR Norma Brasileira

OACI Organizao de Aviao Civil Internacional

OMT Organizao Mundial do Turismo

PAEBA Plano Aerovirio do Estado da Bahia

PEA Populao Economicamente Ativa

PIB Produto Interno Bruto

PR Preferncia Revelada

PD Preferncia Declarada

USD Dlares Americanos

xvi

1 INTRODUO

O turismo responsvel por 11,7% do PIB mundial e pela gerao de 8% de todos os

empregos no mundo. Gera ainda quarenta bilhes de dlares em impostos em todo o mundo.

No Brasil, segundo dados do ano de 1999, o turismo foi responsvel pela gerao de 38,14

bilhes de dlares para a economia, e 3,67 milhes de empregos. Esses valores colocaram o

pas na 15 colocao no ranking do PIB turstico mundial, e na nona colocao em termos de

gerao de empregos relacionados ao turismo. Em valores relativos, entretanto, a participao

do turismo na economia da Amrica Latina e, mais especificamente do Brasil, ainda

bastante inferior aos valores mundiais. A participao das atividades tursticas em relao ao

PIB da Amrica Latina de 5,6%, e na gerao de empregos de 6%. No Brasil, em 1999, o

PIB turstico representava apenas 4,9% de toda a sua economia. Tal percentual, quando

comparado com 161 pases de todo o mundo, coloca o pas na 155 posio (Palhares, 2001).

Em funo da importncia desta atividade e do seu potencial de crescimento, a Unio e

Estados tm implementado polticas de incentivo ao turismo e aumentado os investimentos

pblicos em infra-estrutura turstica. Entre os principais investimentos, est a ampliao ou

modernizao da infra-estrutura aeroporturia, uma vez que a instalao de um aeroporto

permite acesso a turistas e mercados inatingveis sem a acessibilidade proporcionada pelo

transporte areo.

Conforme dados da EMBRATUR, a importncia do transporte areo mais presente no

turismo internacional. De acordo com dados do Departamento de Polcia Federal e da

EMBRATUR (2006) dos 5.358.170 turistas que entraram no Brasil em 2005 3.938.063 (73%)

foram por meio do transporte areo. No transporte domstico, o transporte areo acessvel a

uma pequena parcela da populao brasileira, o que indica um potencial grande a ser

explorado. Segundo Palhares (2001), o transporte areo, desde a dcada de 1970, participa em

mais de 50% de todo o turismo domstico e internacional do mundo inteiro, tendo alcanado

em 1994 mais de 1,2 bilho de viagens. Em pases como Austrlia, Japo e Nova Zelndia o

transporte areo representa mais do que 99% das entradas de turistas internacionais. No

Caribe, Amrica Central e Amrica do Sul, representa 58% das viagens internacionais.

Essa influncia dos passageiros de turismo no transporte areo tende a aumentar. Segundo

Pavaux (1995), o futuro do transporte areo no pode ser considerado sem o exame do

1

turismo internacional. De acordo com dados da Airbus, o turismo o motivo de 41,1% dos

passageiros partindo de aeroportos europeus em viagens internacionais. Na Amrica do Norte

e Sudeste Asitico, as taxas so, respectivamente, de 63,5% e 38,6%. Assim, quanto maior o

nvel de qualidade de vida, maior a quantidade de trfego de turistas gerados pela regio. Os

pases em desenvolvimento, por outro lado, costumam ser o destino dos turistas originados

nas regies mais desenvolvidas. Nesse contexto, o Brasil atua principalmente como um

receptor do turismo internacional. Pavaux (1995) alerta ainda para o fato de que, com o

aumento da eficincia tcnica e econmica do transporte areo, novos destinos esto se

tornando viveis, e a competio entre os pases para atrao dos turistas est aumentando.

Pelo exposto, percebe-se a grande interdependncia entre o transporte areo e turismo. O

desenvolvimento da atividade turstica depende da oferta de um transporte areo adequado. O

turismo, por sua vez, representa uma importante fonte de demanda para o transporte areo.

Todavia, em funo dos altos custos da implantao de uma infra-estrutura aeroporturia e da

necessidade de economia de escala nesse tipo de atividade, necessrio que o sistema de

aeroportos destinados a atender demanda turstica seja planejado de modo eficiente. Para

otimizar a infra-estrutura, seria conveniente a implantao de um aeroporto capaz de atender

satisfatoriamente a demanda de maior quantidade de plos tursticos possvel. Por outro lado,

necessrio identificar qual o tempo mximo que o turista estaria disposto a percorrer do

aeroporto at o seu destino final.

Desse modo, a deciso sobre a implantao de um aeroporto que tenha como principal

objetivo o atendimento da demanda turstica dever procurar conciliar esses dois aspectos: o

aproveitamento adequado da infra-estrutura aeroporturia e o atendimento satisfatrio ao

turista.

1.1 JUSTIFICATIVA

Segundo Ohmae (1995) apud Caves e Gosling (1999), com o crescimento da competio

entre regies para atrao de negcios e turismo, cresce tambm a demanda por investimentos

em aeroportos. A implantao de um aeroporto em determinada regio pode atuar como

alavancador do seu desenvolvimento, de uma forma geral. De acordo com Caves e Gosling

(1999) os mais quantificveis destes benefcios so a criao de empregos diretos e indiretos,

juntamente com o estmulo economia regional e local.

2

Uma vez que nem sempre possvel disponibilizar aeroportos em cada localidade para

atender a demanda da regio turstica, tem-se verificado a competio entre municpios para

atrao desses investimentos.

A falta de critrios que auxiliem na definio da localizao de um aeroporto para

atendimento da demanda turstica tem contribudo para que as decises sobre esse assunto

sejam freqentemente determinadas por motivos polticos. Conforme afirmam Caves e

Gosling (1999), a interferncia poltica no pode ser completamente evitada, entretanto, o

processo de planejamento estaria muito menos vulnervel a esse tipo de distoro se houvesse

critrios formalmente reconhecidos. Por isso, a importncia do estudo do tema.

1.2 PROBLEMA

O presente trabalho tem como objetivo pesquisar critrios que auxiliem na deciso sobre a

localizao de aeroportos para atendimento demanda turstica, considerando a tica do

turista internacional. O principal fator a ser determinado o tempo que o turista internacional

estaria disposto a percorrer utilizando o transporte de superfcie, do aeroporto at o seu

destino final. O turista internacional a ser considerado no mbito das pesquisas ser o turista

de lazer.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Pesquisar e identificar critrios que auxiliem na deciso sobre a localizao de aeroportos para

atendimento demanda turstica.

1.3.2 Objetivo Especfico

Definir o tempo que o turista internacional estaria disposto a percorrer utilizando o

transporte de superfcie, do aeroporto at o seu destino final.

3

1.4 METODOLOGIA

O trabalho foi dividido em duas etapas principais. Inicialmente, foi feita uma reviso

bibliogrfica com os objetivos de: entender as caractersticas da atividade turstica; identificar

os fatores que influenciam a locao de aeroportos e estudar de forma mais aprofundada os

fatores relevantes para os passageiros de turismo de lazer internacional.

Posteriormente, foi realizada uma pesquisa de campo por meio de entrevistas com

passageiros, com o objetivo de identificar o tempo mximo que o turista estaria disposto a

despender do aeroporto at o seu destino final numa viagem de superfcie. A regio para

realizao das pesquisas foi limitada ao Estado da Bahia, em funo da importncia da

atividade para o Estado e dos grandes investimentos realizados nos ltimos anos.

1.4.1 Estrutura do Trabalho

No Captulo 2 ser apresentada a reviso bibliogrfica sobre os temas relacionados pesquisa:

a atividade turstica e o transporte areo; os critrios usualmente considerados para escolha de

stio aeroporturio; e o transporte de superfcie para acesso a aeroportos. No captulo 3 ser

apresentada a metodologia utilizada para realizao da pesquisa de campo. No captulo 4

sero apresentados os resultados da pesquisa. No captulo 5 os resultados das pesquisas so

utilizados para estabelecimento de um critrio para localizao de aeroportos. Por fim, o

captulo 6 contm as concluses e recomendaes para possveis extenses do tema.

4

2 REVISO BIBLIOGRFICA

2.1 CONCEITOS BSICOS

Entre as definies de turismo, podemos citar:

Turismo essencialmente movimento de pessoas e atendimento s suas necessidades,

assim como s necessidades das outras pessoas que no viajam. O turismo o fenmeno

de interao entre o turista e o ncleo receptor e de todas as atividades decorrentes

dessa interao. (Angeli, 1991)

Turismo o fenmeno que ocorre quando um ou mais indivduos se trasladam a um ou

mais locais diferentes de sua residncia habitual por um perodo maior que 24 horas e

menor que 180 dias, sem participar dos mercados de trabalho e de capital dos locais

visitados. (Organizao Mundial de Turismo OMT)

Algumas instituies e autores tambm fazem uma diviso dos ramos do turismo, de acordo

com o motivo principal da viagem. A classificao em turismo de negcios e turismo de lazer

a mais usual, entretanto, Palhares (2001) cita a existncia de mais de duas dezenas de tipos

de turismo, como: desportivo, religioso, de juventude, social, cultural, ecolgico, de compras,

de aventura, gastronmico, da terceira idade, rural, de intercmbio, de cruzeiros martimos,

entre outros.

De acordo com Andrade (1997), turismo de negcio o conjunto de atividades de viagem, de

hospedagem, de alimentao e de lazer praticadas por quem viaja a negcios, referentes aos

diversos setores da atividade comercial ou industrial, ou para conhecer mercados, estabelecer

contatos, firmar convnios, treinar novas tecnologias, vender ou comprar servios.

No mbito desse trabalho no ser considerado o turista de negcio, uma vez que o objetivo

pesquisar critrios que auxiliem na deciso sobre a localizao de aeroportos segundo a tica

do turista internacional de lazer.

5

2.2 EVOLUO DO TURISMO MUNDIAL

sabido que a evoluo dos acontecimentos econmicos e sociais do mundo moderno

transformou o turismo em uma atividade bastante promissora e com possibilidades de se

expandir a taxas permanentemente crescentes. Especialistas do setor calculam que a indstria

do turismo poderia ser cinco vezes maior do que hoje, movimentando ainda mais a

economia mundial. Para isso, em muitos pases, devem ser melhoradas questes como

segurana, sinalizao e infra-estrutura das cidades, de forma planejada e sistmica.

Tem-se observado que o turismo mundial est crescendo, motivado pelos seguintes

acontecimentos:

Aumento da demanda de viagens e turismo pelo incremento do nmero de

destinaes com atrativos ecolgicos, de aventura e histrico-culturais;

Encurtamento das distncias de viagens em funo do avano tecnolgico e

explorao comercial de novas rotas de transporte areo e martimo;

Predomnio da imagem virtual como principal meio de comunicao para o

turismo;

Criao de novas redes mundiais de comunicao como a Internet;

Crescimento mundial da classe mdia, causado pelo aumento da produo das

empresas e sua internacionalizao;

Projetos de construo de novas aeronaves com grande capacidade de assentos;

Aumento da segmentao do mercado turstico internacional;

Conciliao entre trabalho e frias proporcionada pelo computador multimdia

pessoal, em rede;

Aumento da competitividade e da qualidade entre bens e servios tursticos;

Proliferao de mega-agncias de viagens e turismo;

Superao das resistncias scio-culturais globalizao do turismo pela

conscientizao do que ele representa para as economias nacionais ou

regionais e pela certeza de que justamente nas diferenas geogrficas e

culturais esto os mananciais das fontes do turismo internacional;

A hotelaria estar oferecendo espaos, instalaes e equipamentos adaptados,

segundo padres universais de conforto e qualidade, aos diversos meios

ambientes sem agresso ecologia e s culturas locais.

6

7

Segundo Rabahy (2003), o desempenho do setor turstico est intimamente relacionado ao

comportamento da renda e sua distribuio, bem como da disponibilidade de tempo livre e

outras facilidades propiciadas pelo progresso tecnolgico. o caso dos meios de transporte,

cuja evoluo reduz o tempo das viagens e implica, em ltima anlise, uma maior liberao

do tempo para o lazer.

A atividade turstica coloca-se entre os cinco principais itens geradores de receitas de divisas

na economia mundial, liderados pelas exportaes de armamentos e de petrleo. Mesmo

considerando as recentes crises econmicas (1994, 1997, 1999 e setembro de 2001), o turismo

mundial vem registrando taxas de crescimento de receita, o que lhe assegura a manuteno de

sua participao no total das exportaes, conforme tabela 2.2.

A referida tabela ilustra a evoluo do turismo internacional, em nmero de chegadas e em

valores arrecadados, em confronto com as receitas totais das exportaes mundiais nos anos

de 1950 a 2000.

Nota-se que as performances, tanto das exportaes como as do turismo, no so regulares ao

longo de todo o perodo. Os acontecimentos sociais, polticos e econmicos afetam de forma

significativa o desempenho das atividades tursticas.

Tendo como base o ano de 1960, a receita do turismo internacional cresceu, nos ltimos 40

anos (1960/2000), cerca de 70 vezes. Nesse mesmo perodo, as chegadas de turistas cresceram

dez vezes. Enquanto as receitas crescem a uma taxa mdia de 11,2%, o nmero de chegadas

registra taxa bem inferior, de 6,0%. Ao longo do perodo, estas duas medidas da atividade

turstica registram diferentes performances.

1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959

1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969

1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

8

Tabela 2.1 - Evoluo das chegadas mundiais de turistas e das receitas totais de turismo e exportaes (1950 2000)

Fonte: Rabahy, Wilson. Turismo e Desenvolvimento. 2003

Chegadas (milhes) 25,20 27,88 30,85 34,14 37,77 41,80 46,25 51,17 56,62 62,65

Receitas (US$ bilhes) 2,10 2,40 2,70 3,00 3,40 3,80 4,30 4,80 5,40 6,10

Exportaes (US$ bilhes) 57,10 77,40 74,50 75,60 77,80 84,90 94,60 101,50 96,70 102,60

Receitas/Exportaes (%) 3,60 3,10 3,60 3,90 4,30 4,40 4,50 4,70 5,50 5,90

Chegadas (milhes) 69,32 75,32 81,38 90,07 104,60 112,90 120,00 129,80 131,20 143,50

Receitas (US$ bilhes) 6,90 7,30 8,00 8,90 10,10 11,60 13,30 14,50 15,00 16,80

Exportaes (US$ bilhes) 118,30 123,10 128,60 140,90 157,50 171,30 187,80 197,20 220,40 251,80

Receitas/Exportaes (%) 5,80 5,90 6,20 6,30 6,40 6,70 7,00 7,30 6,80 6,60

Chegadas (milhes) 165,80 178,90 189,10 198,90 205,70 222,30 228,90 249,30 267,10 283,10

Receitas (US$ bilhes) 17,90 20,90 24,60 31,10 33,80 40,70 44,40 55,60 68,80 83,30

Exportaes (US$ bilhes) 300,10 336,40 398,80 552,60 811,30 845,40 953,40 1.080,50 1.251,50 1.618,40

Receitas/Exportaes (%) 5,90 6,20 6,10 5,60 4,10 4,80 4,60 5,10 5,50 5,10

Chegadas (milhes) 286,00 287,10 286,10 289,60 316,40 327,20 338,90 363,80 394,80 426,50

Receitas (US$ bilhes) 105,60 107,50 100,90 102,50 112,70 118,10 143,50 176,80 204,30 221,30

Exportaes (US$ bilhes) 1.931,70 1.924,40 1.777,20 1.736,00 1.840,80 1.875,80 2.048,50 2.419,00 2.765,20 3.008,50

Receitas/Exportaes (%) 5,40 5,50 5,60 5,90 6,10 6,30 7,00 7,30 7,30 7,30

Chegadas (milhes) 458,20 464,00 503,40 519,00 550,50 565,50 596,50 610,80 626,60 650,20 697,20

Receitas (US$ bilhes) 268,90 277,60 315,10 324,10 354,00 405,10 435,60 436,00 442,50 445,00 477,90

Exportaes (US$ bilhes) 3.423,40 3.498,50 3.713,90 3.752,30 4.266,00 5.099,80 5.267,60 5.497,40 5.405,80 5.554,40 6.331,96

Receitas/Exportaes (%) 7,80 7,90 8,40 8,60 8,30 7,90 8,20 7,90 8,10 8,00 7,50

2.2.1 Perfil do Turismo Emissivo

Observa-se que o turismo emissivo composto por alguns poucos pases, basicamente por

pases com alto nvel de renda. Segundo dados de 1999 da OMT, 50% do turismo emissivo

internacional, medido pelo nmero de chegadas, e 55%, em valor dos gastos, formado por

apenas dez pases. Se considerados somente os valores gastos, 45% so compreendidos por

apenas seis: Estados Unidos (13%), Alemanha (10,6%), Japo (7,2%), Reino Unido (7,1%),

Frana (3,9%) e Itlia (3,7%).

A concentrao das atividades tursticas em alguns poucos pases, a exemplo do que ocorre

em outras atividades de diversas naturezas, est associada s suas condies socioeconmicas,

basicamente ao nvel e distribuio de renda, ao tamanho da populao e s condies de

acesso e proximidade do mercado.

A populao combinada com a renda constitui-se em um importante indicador de demanda.

Rabahy (2003) cita a afirmao de Sobrek de Alcntara (1982) que o limite de US$ 500 de

renda mdia per capita assinala a capacidade de consumo do turismo. a partir dessa cifra

que a coletividade social tem satisfeitas as necessidades de consumo imprescindveis e,

paralelamente, os gastos em turismo comeam a adquirir importncia.... Assim sendo, o

nmero de indivduos com renda maior US$ 500 caracteriza o tamanho do mercado

consumidor, condio esta que se v confirmada pelo perfil dos principais pases emissores no

mundo.

Mas, segundo Rabahy (2003), alm da renda, para caracterizar-se como um importante centro

emissor, preciso que a localidade disponha de outros fatores, mais especficos, como sua

condio geogrfica (acessibilidade) e cultural.

2.2.2 Perfil do Turismo Receptivo

Da mesma forma que no turismo emissivo, constata-se, tambm, uma excessiva concentrao

do fluxo quanto aos destinos tursticos, tanto em nmero, quanto em valor dos gastos.

Os primeiros dez pases emissores so, em geral, os mesmos que concentram o turismo

receptivo. Ou seja, respondem por mais de 40% do total dos destinos tursticos, tanto em

nmero de turistas quanto em valores gastos. Em nmero total de turistas, os pases mais

9

representativos quanto ao turismo receptivo so: Frana, Espanha, EUA, Itlia, China e Reino

Unido.

A partir da constatao do relevante significado do turismo para economias de localidades

menos desenvolvidas, comum se considerar esta atividade como um importante instrumento

de redistribuio de renda. No trabalho elaborado por Rabahy (2003) ele apresenta a citao

de Alberto Sessa, que, realizando um histrico dos fatos relativos ao setor analisados em seus

trabalhos, afirma: ... era entusiasmante que j ento o turismo fosse considerado importante

para ajudar os pases do Terceiro Mundo no seu desenvolvimento econmico e social. E

mais adiante, ... a instalao de plos tursticos... determina o conhecido efeito de

compensao econmica... A funo de compensao econmica do turismo como fator

reequilibrador parece evidente.

Os registros estatsticos da OMT Organizao Mundial do Turismo, no entanto, no

favorecem ainda essa expectativa, embora as tendncias revelem resultados mais animadores

para o futuro. H um fluxo muito intenso intrapases desenvolvidos, pois todas essas

localidades incluem-se nesta categoria. Esta constatao refora o entendimento de que, assim

como os negcios, tambm os maiores fluxos de viagens se do entre pases desenvolvidos.

A facilidade de deslocamento que existe entre os pases europeus e a importante dotao

existente de infra-estrutura e equipamentos tursticos so fatores que tm impulsionado o

turismo intra-regional europeu. A mesma tendncia se observa na Amrica do Norte, onde se

situam dois outros importantes centros emissores e receptores: Estados Unidos e Canad. A

Europa Ocidental e a Amrica do Norte so responsveis por cerca de 80% do movimento

turstico internacional. A partir dessa situao, estudos da Associao World Travel

recomendam que os pases dos demais continentes devam buscar mecanismos que reorientem

os movimentos tursticos para destinaes alternativas.

Rabahy (2003) cita tambm que as perspectivas favorveis para que o turismo possa vir a

beneficiar os pases menos desenvolvidos so encontradas nos argumentos de Lopes (1983)

...saturao do mercado tradicional e o transbordamento dos fluxos tursticos para novos

mercados e da tendncia manifesta da busca do extico e de destinaes que alterem o

cotidiano, viagens estas pioneiramente efetivadas por iniciativas de turistas especiais

(intelectuais, artistas, estudantes, etc), formadores de opinio.

10

As indicaes de que possa estar havendo uma ligeira melhora para os pases em

desenvolvimento so dadas pela anlise das taxas mdias anuais de crescimento das receitas

tursticas internacionais, relativamente s taxas mdias mundiais.

Ainda assim, deve-se ressaltar que alguns pases, no significativos no contexto internacional

tm no turismo sua principal base econmica. Rabahy (2003) cita a considerao de Franois

Ascher de que o turismo passa a ser importante para a economia de um pas quando

representar mais de 5% de suas exportaes.

No caso particular do Brasil, os dados do Banco Central (2002) indicam que as receitas de

divisas com viagens internacionais (em 2001 estimadas como US$ 1,7 bilho) representam

apenas 3,1% das exportaes (da ordem de US$ 55 bilhes), enquanto a mdia mundial vem

oscilando ao redor de 6 a 8%. Pelas estimativas da Embratur (receita de US$ 3,7 bilhes em

2001), a participao do turismo comparativamente ao arrecadado pelas exportaes atinge

6,7%, valor, portanto, mais prximo da mdia mundial.

A pesquisa da Embratur diverge de outras fontes de dados contabilizados, porque a Embratur

baseia-se em pesquisas diretas feitas com os visitantes estrangeiros, que declaram, entre

outras informaes, os seus gastos dirios, a permanncia mdia, origem, meio de

hospedagem e assim por diante. O Banco Central considera apenas as entradas cambiais no

Brasil.

O prprio Ascher salienta que eventuais saldos favorveis da balana turstica dos pases em

desenvolvimento, relativamente aos desenvolvidos, podem ser anulados, com tendncia a

apresentar resultados negativos pelos gastos com importaes necessrias para a manuteno

dos padres receptivos tursticos internacionais. At mesmo mecanismos de poltica

econmica de estmulo ao turismo, como cmbio e os preos, podem gerar efeitos perversos

para o pas receptor, como a inflao, por exemplo.

Ascher conclui que o turismo no representa, em si, uma soluo para o crescimento

econmico dos pases que no apresentam as pr-condies necessrios. Dispondo dessas

condies, considera ento que o turismo deva integrar-se em uma estratgia global de

crescimento regional e nacional.

11

Rabahy (2003) afirma que por no disporem de muitas outras alternativas, alguns pases do

Terceiro Mundo buscam no turismo a sada para o crescimento econmico, sem as devidas

avaliaes dos custos dessa deciso. Do que foi analisado, verifica-se que o desenvolvimento,

por um lado, favorece o turismo, no sendo, de outro, to evidente que o turismo promova,

por si, o desenvolvimento.

2.3 EVOLUO DO TURISMO NO BRASIL

O Brasil considerado como uma economia com grande potencialidade de desenvolvimento,

com um PIB de aproximadamente US$ 500 bilhes, embora com uma renda per capita de

apenas US$ 2.923 (Banco Central, 2002).

A distoro verificada entre o PIB em valor absoluto e em valor per capita devida forma

desequilibrada como se deu o processo de crescimento do Pas, manifestada nas desigualdades

de distribuio de renda.

Segundo Tolosa, a m distribuio da renda, pessoal e regional, reflete-se na alocao dos

investimentos pblicos e privados.

H no Brasil a coexistncia de regies que se enquadram como desenvolvidas com outras que

se caracterizam como subdesenvolvidas; da surgirem expresses como Os dois brasis, de

Lambert (1959), e Belindia, justaposio da condio de desenvolvimento da Blgica

misria da ndia.

O Brasil, um pas em desenvolvimento, pode ter o turismo como um fator econmico,

atividade que, alm de propiciar aumento na produo de outros setores e no nvel de

emprego, capaz de gerar saldos de divisas em sua conta externa, contribuindo para a

diminuio dos dficits da balana de pagamentos e do agravamento da dvida externa.

Quanto ao emprego, por exemplo, por se tratar o turismo de uma atividade basicamente

prestadora de servios, caracteriza-se naturalmente como um setor intensivo em mo de obra,

com a vantagem de requerer pessoal de um amplo espectro de qualificao, inclusive aquele

de menor nvel de escolaridade.

12

Dados da OMT, apresentados por Rabahy (2003), indicam que o turismo responde por 8% do

emprego total no mundo. No Brasil, segundo pesquisa Fipe/Embratur de 2002, contabiliza-se

a gerao de 1,63 milhes de empregos diretos e outros 750 mil indiretos, totalizando cerca de

2,4 milhes de pessoas empregadas nesta atividade, o equivalente a 3,3% da PEA empregada

no Pas. Com relao ao nmero de empregos, os dados podem sofrer divergncias conforme

as fontes pesquisadas. Dados da WTTC, para o ano de 1999 estimavam que o turismo era

responsvel pela gerao de 3,67 milhes de empregos no Brasil.

O documento intitulado Estratgia Turstica da Bahia 2003-2020, elaborou um exame da srie

histrica 1991-2004 do comportamento do turismo internacional receptivo no Brasil, e

apontou como causas para um comportamento inconstante do desempenho do turismo

receptivo internacional:

o alto custo das viagens, em decorrncia da grande distncia dos principais

mercados emissores;

a imagem negativa do pas no exterior, vinculada violncia urbana, assaltos e

desmatamentos;

a precariedade dos investimentos em promoo e na construo/melhoria da

infra-estrutura turstica;

a inexistncia de uma poltica de incentivo a vos regulares e charters;

a ausncia de uma poltica de promoo sistemtica e agressiva do pas nos

principais mercados emissores;

equvocos nas medidas que exigem reciprocidade na concesso de vistos em

passaportes de turistas estrangeiros.

O documento ainda cita que, com relao ao fator distncia, vale mencionar que a tendncia

regionalizao do mercado internacional, com a formao de blocos econmicos, deve

resultar em expressivo incremento do turismo intra-regional, com a supresso de barreiras

geogrficas e alfandegrias permitindo a livre circulao de turistas e beneficiando os

principais blocos econmicos, reforando a vantagem comparativa e competitiva destes em

relao aos pases receptores menos desenvolvidos, localizados, em sua maioria, no

hemisfrio sul.

13

Em maior ou menor medida, esses pontos crticos apontados anteriormente necessitam ser

rebatidos com aes dos governos, e destacamos principalmente:

Implementao da Poltica Nacional de Turismo, ampliando as linhas de

financiamento disposio da industria do turismo;

Criao de vos sub-regionais entre o Brasil e os pases vizinhos, buscando-se

constituir uma malha area entre os destinos tursticos no servidos pelas

grandes Companhias Areas.

Flexibilizao do mercado brasileiro de aviao, incentivando os vos charters.

O documento Turismo no Brasil 2007/2010, elaborado pelo Ministrio do Turismo, com a

colaborao do Conselho Nacional do Turismo, apresenta, alm de um diagnstico do setor, a

viso desejada e propostas para alcanar o cenrio esperado.

No diagnstico apresentado, revela-se que os resultados da atividade turstica no Brasil, nos

ltimos anos foram positivos, entretanto, o pas ainda no alcanou o patamar de estabilidade

e no ocupa um lugar compatvel com suas potencialidades no mercado turstico nacional e

internacional.

Um dos aspectos positivos apontados no contexto do turismo internacional, a tendncia de

desconcentrao dos fluxos internacionais de turistas, com incluso de novos destinos. Em

1970, por exemplo, 43% das chegadas de turistas estavam concentradas no grupo dos cinco

pases maiores receptores. Em 2004, o grupo dos cinco pases maiores receptores receberam

apenas 33%. Existe uma tendncia de forte crescimento para os pases da sia, Pacfico,

frica e Brasil, em particular, contra percentuais bem menores de crescimento da Europa. No

perodo de 1995 a 2005, o crescimento no nmero de chegadas de turistas internacionais no

Brasil foi de 170%, enquanto que no mundo esse valor foi de apenas 50%. A Europa e as

Amricas tiveram percentuais de crescimento abaixo da mdia mundial. Em 2004 e 2005 o

nmero de chegadas de turistas internacionais no mundo cresceu 5,5%, enquanto que, no

Brasil, a taxa foi de 12,5%. Pode-se dizer que esse aumento resultado do trabalho e

investimentos realizados ao longo dos ltimos anos.

14

2.3.1 Perspectivas e Estratgias Para o Turismo no Brasil

De acordo com dados do documento Turismo no Brasil 2007-2010, o setor foi contemplado

com o maior volume de recursos oramentrios j executados em aes de promoo do

produto turstico brasileiro, em especial a promoo do destino Brasil no exterior. O valor

para promoo em 2005, da ordem de R$ 166 milhes, foi mais de trs vezes superior ao de

2002.

Os investimentos em infra-estrutura turstica, que envolvem desde recuperao do patrimnio

histrico, saneamento bsico e sinalizao turstica tambm cresceram significativamente nos

ltimos anos. O valor executado em 2005, de R$ 420 milhes foi o dobro de 2004.

Os investimentos privados tambm do uma noo da perspectiva de crescimento do turismo

para os prximos anos. De acordo com dados da empresa de consultoria BSH Internacional,

disponveis no documento Turismo no Brasil 2007-2010 (2006), a previso de

investimentos em hotelaria no Brasil, no perodo de 2005 a 2008 de R$ 3,4 bilhes, que

representam um aumento de 23,5 mil unidades habitacionais. Deste total, 45% esto previstos

para a regio Nordeste e 40% para a regio Sudeste.

Outra caracterstica apontada no estudo realizado pelo Ministrio do Turismo o aumento na

participao das unidades habitacionais em resorts. Esse segmento, em especial, vem se

tornando cada vez mais competitivo no mercado internacional. Em 2005, o mercado

internacional respondeu por 33% das dirias vendidas nos resorts. Para 2015, estima-se que

essa participao crescer para 60%.

A participao dos vos charters no transporte de turistas, tanto nacionais como

internacionais, tambm tem crescido. Em 2005 os desembarques nacionais foram de 3,15

milhes de passageiros, valor 42,74% superior ao de 2003. Os desembarques internacionais

foram de cerca de 350 mil, um crescimento de 103% em relao a 2003. Apesar disso, os

desembarques internacionais em vos charters representam apenas cerca de 5% do total de

passageiros internacionais recebidos no pas, incluindo turistas estrangeiros e brasileiros

voltando do exterior.

15

A j citada desconcentrao nos destinos tursticos indica uma tendncia a uma competio

entre regies para atrair visitantes, uma vez que novos atores devem entrar na disputa pelas

viagens, em escala mundial. A fim de oferecer novos produtos de qualidade, o Ministrio do

Turismo realizou o mapeamento turstico do pas, para identificar regies e roteiros tursticos

potenciais. Aps reunies do Salo do Turismo Roteiros do Brasil, realizadas em 2005 e

2006, foram selecionados 87 roteiros tursticos de padro internacional de qualidade,

abrangendo 116 regies em 474 municpios. No total, incluindo o mercado nacional, foram

identificadas 200 regies tursticas envolvendo 3.819 municpios.

Tradicionalmente, as regies tursticas do pas estavam voltadas para o segmento de sol e mar,

o que explica a grande concentrao do desenvolvimento da atividade ao longo do litoral.

Com esse trabalho, espera-se obter um desenvolvimento descentralizado, equilibrado e

sustentvel da atividade turstica. Dever trazer uma interiorizao do turismo e necessidade

de novos investimentos para estruturao desses roteiros. A carncia de infra-estrutura, tanto

no que se refere infra-estrutura bsica, particularmente com relao acessibilidade e ao

saneamento, quanto chamada infra-estrutura turstica dever ser superada. A infra-estrutura

turstica compreende a sinalizao turstica, centros de recepo e informao ao turista,

centros de convenes e feiras, terminais de passageiros e outros.

O documento Turismo no Brasil 2007/2010 aponta como uma das falhas a ser corrigida, a

falta de articulao entre os Ministrios do Turismo, das Cidades, dos Transportes e da Defesa

para definio sobre a alocao de investimentos. Este documento tambm aponta o

transporte areo nacional e internacional como um dos aspectos vulnerveis para o

desenvolvimento do turismo. Os problemas identificados so: limitao de oferta, que pode

ser um entrave para a expanso do setor; e falta de integrao, principalmente das linhas de

grande alcance com as linhas regionais de pequeno curso.

As dificuldades relacionadas aos outros modos de transporte tambm so abordadas,

especialmente as limitaes relativas acessibilidade rodoviria e necessidade de articulao

com os outros modos.

Feito o diagnstico, o documento apresenta o cenrio desejado e faz propostas para os

diversos setores relacionados ao turismo.

16

Com relao ao cenrio para a acessibilidade e logstica destacam-se os seguintes pontos:

Flexibilizao dos acordos bilaterais.

Regulamentao e regulao do transporte areo internacional no Brasil.

Ampliao do nmero de vos internacionais para o Brasil.

Operao verticalizada das operadoras internacionais para o destino Brasil.

Regulamentao e regulao do transporte areo domstico brasileiro.

Melhoria das estradas e vias de acesso.

Melhor e maior integrao da malha aeroviria.

Capacidade da empresas areas nacionais em atender demanda futura.

Aumento do papel da internet como canal de distribuio das Companhias

Areas.

Continuidade da poltica de melhoria da estrutura aeroporturia.

Realizao de estudos estratgicos para desenvolvimento da acessibilidade e

logstica do turismo nacional.

Interessante registrar ainda as seguintes premissas adotadas no cenrio da estrutura do

mercado:

Superoferta hoteleira e lanamentos simultneos em alguns destinos tursticos.

Turistas (coorporativo e lazer) cada vez mais exigentes, buscando relao

custo-benefcio melhor e exigindo mais pelo dinheiro investido em uma

viagem.

Empresas mais conscientizadas quanto necessidade do desenvolvimento

sustentvel.

Incluso de novos mercados consumidores para o setor de turismo.

Crescimento do setor acima das taxas de crescimento da economia brasileira.

Concentrao do mercado, o que pode levar a um cenrio complicado para as

pequenas empresas.

Este documento apresenta ainda projees para a entrada de turistas de acordo com dois

cenrios: o primeiro, com base na manuteno das condies atuais; e o segundo, chamado

cenrio desejvel, em que ocorre uma combinao de condies externas e internas

favorveis. Em ambos os casos so apresentados valores chamados limite superior e inferior,

17

construdos a partir dos valores mdios, acrescendo-se dois desvios padres, no caso do limite

superior e decrescendo-se dois desvios padres, no caso do limite inferior. Os dados so

apresentados a seguir:

Tabela 2.2 Previso de entrada de turistas estrangeiros: Cenrio atual (em milhes)

2006 2007 2008 2009 2010 LIMITE SUPERIOR 8,7 10,1 11,7 12,8 13,9 VALOR PREVISTO 7,0 8,4 10,0 11,0 12,2 LIMITE INFERIOR 5,3 6,7 8,3 9,3 10,5

Fonte: Turismo no Brasil 2007/2010

Tabela 2.3 Previso de entrada de turistas estrangeiros: Cenrio desejvel (milhes)

2006 2007 2008 2009 2010 LIMITE SUPERIOR 8,7 10,5 12,6 14,5 16,7 VALOR PREVISTO 7,0 8,8 10,9 12,8 15,0 LIMITE INFERIOR 5,3 7,0 9,2 11,0 13,3

Fonte: Turismo no Brasil 2007/2010

Assim, a taxa de crescimento mdia para os prximos quatro anos, mantidas as condies

atuais, de cerca de 15% ao ano. O valor registrado em 2005 foi de 5,4 milhes. No cenrio

desejvel o aumento da entrada de turistas estrangeiros cresceria a uma taxa mdia anual de

pouco mais de 20%.

As propostas constantes do documento, foram divididas em oito eixos temticos:

planejamento e gesto; estruturao e diversificao da oferta; fomento; infra-estrutura;

promoo, marketing e apoio comercializao; qualificao; informao e logstica de

transportes. Neste ltimo, foram feitas as seguintes propostas:

Articular junto Agncia Nacional da Aviao Civil ANAC, uma maior

flexibilizao para novos vos em destinos de interesse turstico.

Realizar um trabalho com a ANAC para viabilizar mais vos charters para

todas as regies do pas e estimular a aviao regional em processos de hubs

menores.

Criar programa de apoio a novos vos regulares e charters, diversificando a

atual malha area.

Adequar a legislao de cabotagem martima, hoje direcionada

prioritariamente para o transporte de carga, de modo a atender s

18

especificidades do transporte de passageiros, promovendo maior isonomia

competitiva.

Definir os principais eixos tursticos rodovirios e as estradas de acesso a

destinos tursticos de maior demanda, desenvolvendo um programa de

estruturao e melhoria de qualidade do apoio rodovirio para os turistas

(postos de combustveis bem equipados com lanchonetes, restaurantes,

pousadas, informaes tursticas).

Mapear e fomentar a implantao dos trens tursticos, qualificando-os,

estruturando-os como produtos tursticos e integrando-os aos roteiros tursticos

do Programa de Regionalizao.

Apoiar a criao de novos portes de entrada para o turismo internacional.

Realizar estudo, identificando a necessidade de maior oferta de vos regulares

e diversificados para as regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e outras

regies, negociando solues junto s companhias areas e rgos

competentes.

Realizar estudos para reduo das taxas de embarque, de estacionamento e de

locao de rea interna, nos aeroportos regionais, nacionais e internacionais,

para as empresas areas regionais.

Dos demais eixos temticos destacam-se as seguintes propostas:

Fortalecer a descentralizao do turismo no desenvolvimento das regies

brasileiras, investindo nos territrios do interior do Pas, de forma a melhorar a

qualidade devida das populaes, potencializar cidades tursticas e facilitar o

crescimento de fluxo de visitantes.

Intensificar a promoo e comercializao dos resorts no mercado externo.

Promover os parques temticos brasileiros, como grande fator de diferenciao

do turismo familiar no MERCOSUL.

Intensificar o programa de captao de eventos internacionais, melhorando

ainda mais a posio do Brasil no cenrio internacional.

Priorizar para estruturao, os roteiros com potencial para comercializao nos

mercados nacional e internacional identificados por estudos de demanda.

19

2.3.2 Turismo Receptivo no Brasil

A receita internacional do turismo brasileiro, segundo dados da Embratur, vinha oscilando,

desde a dcada de 1980 at o Plano Real, ao redor de US$ 1,6 bilho. Nos anos de 1994 e

1995, a receita estimada pela Embratur atinge o patamar dos US$ 2 bilhes, elevando-se para

US$ 2,5 bilhes em 1996 e 1997, alcanando os nveis de US$ 4 bilhes, nos anos seguintes,

at 2001.

Segundo a OMT, a entrada de turistas no Brasil teve um aumento de 2,7 vezes, no perodo

1985/2001, enquanto nas Amricas o crescimento foi de apenas duas vezes, e em termos

mundiais de pouco mais de duas vezes.

No entanto, com relao receita, a situao brasileira revela-se prejudicada

comparativamente tendncia mundial. No perodo 1985/2001, o crescimento da atividade foi

de 2,5 vezes no Brasil, de 3,8 vezes nas Amricas e de quatro vezes na mdia mundial.

Em nmero de visitantes, observa-se que o Brasil vem lentamente ascendendo na escala do

mercado turstico. Em nmero de chegadas de turistas, a participao brasileira no total

mundial evolui de 0,53% em 1985 para 0,69% em 2001. Com essa participao, o Brasil

insere-se no bloco dos pases cujo receptivo situa-se entre 4,5 milhes e 5 milhes de turistas,

e se posiciona imediatamente aps o grupo dos vinte mais importantes pases receptores,

como citado anteriormente.

Mas este desempenho no se verifica em termos de receita, o aumento de turistas no vem

acompanhado, nas mesmas propores, das taxas de permanncia mdia e dos nveis de

gastos per capita dos visitantes estrangeiros.

Neste caso, tem-se o chamado turismo low spending, devido expanso do turismo de massa,

constitudo principalmente pelos visitantes dos pases limtrofes, que apresentam, em geral,

nveis mdios de permanncia e de gastos per capita menores do que os revelados pelos

turistas de outras procedncias, pelo menos at o ano verificado.

Em pesquisas da Embratur, conclui-se que o visitante intercontinental realiza gastos quase trs

vezes superiores aos realizados pelos pases limtrofes.

20

21

Verifica-se que o baixo gasto per capita por visitante encontra explicao pela varivel renda,

e a permanncia mdia por visitante encontra explicao, principalmente, por duas variveis

renda e a distncia relativa dos centros emissores.

A distncia dos centros emissores influencia as decises sobre a viagem. O custo da viagem

tem uma grande participao dos gastos com transporte, e a racionalidade econmica conduz

a uma maior permanncia na busca de uma diminuio do custo unitrio, compatvel com a

renda e a escala de preferncias dos consumidores, considerando que isto implica no aumento

do gasto total.

Tabela 2.4 - Evoluo das chegadas no mundo, nas Amricas e no Brasil (1985-2001)

Anos Chegada Mundial

(US$ milhes)

ndice (1985=100)

Chegada nas Amricas

ndice (1985=100)

Chegada no Brasil

(US$ milhes)

ndice (1985=100)

Participao Relativa do Brasil no

Mundo (%) 1985 327,2 100,0 58,7 100,0 1,736 100,0 0,53 1986 338,9 103,6 62,9 107,2 1,934 111,4 0,57 1987 363,8 111,2 68,0 115,8 1,929 111,1 0,53 1988 394,8 120,7 75,0 127,8 1,743 100,4 0,44 1989 426,5 130,3 78,6 133,9 1,403 80,8 0,33 1990 458,2 140,0 83,4 142,1 1,091 62,9 0,24 1991 464,0 141,8 96,5 164,4 1,228 70,7 0,26 1992 503,4 153,9 103,6 176,5 1,692 97,5 0,34 1993 519,0 158,6 103,8 176,8 1,641 94,5 0,32 1994 550,5 168,2 106,6 181,6 1,853 106,8 0,34 1995 565,5 172,8 110,6 188,4 1,991 114,7 0,35 1996 596,5 182,3 116,9 199,1 2,666 153,5 0,45 1997 610,8 186,7 118,5 201,9 2,850 164,2 0,47 1998 626,6 191,5 119,5 203,6 4,818 277,5 0,77 1999 650,2 198,7 122,2 208,2 5,107 294,2 0,79 2000 697,2 213,1 128,3 218,6 5,313 306,1 0,76 2001 688,6 210,5 119,3 203,2 4,773 274,9 0,69

Fonte: Embratur

22

23

Tabela 2.5 - Evoluo das receitas no mundo, nas Amricas e no Brasil (1985 2001)

Anos Receita

Mundial (US$ milhes)

ndice (1985=100)

Receita nas Amricas

(US$ milhes)

ndice (1985=100)

Receita no Brasil

(US$ milhes)

ndice (1985=100)

Participao Relativa do Brasil no

Mundo (%) 1985 118,1 100,0 33,3 100,0 1.492.639 100,0 1,26 1986 143,5 121,5 38,4 115,2 1.527.222 102,3 1,06 1987 176,8 149,7 43,0 129,0 1.502.393 100,7 0,85 1988 204,3 173,0 51,3 153,9 1.642.759 110,1 0,80 1989 221,3 187,4 60,2 180,7 1.224.821 82,1 0,55 1990 268,9 227,7 70,0 210,1 1.444.171 96,8 0,54 1991 277,6 235,1 77,8 233,5 1.558.800 104,4 0,56 1992 315,1 266,8 85,5 256,6 1.307.065 87,6 0,41 1993 324,1 274,4 91,1 273,4 1.091.419 73,1 0,34 1994 354,0 299,7 95,2 285,7 1.924.800 129,0 0,54 1995 405,1 343,0 102,7 308,2 2.097.100 140,5 0,52 1996 435,6 368,8 112,5 337,6 2.469.146 165,4 0,57 1997 436,0 369,2 118,8 356,5 2.594.884 173,8 0,60 1998 442,5 374,7 117,2 351,7 3.678.029 246,4 0,83 1999 455,0 385,3 122,4 367,3 3.994.144 267,6 0,88 2000 477,9 404,7 137,4 412,3 4.227.606 283,2 0,88 2001 472,0 399,7 127,8 383,5 3.700.887 247,9 0,78

Fontes: Embratur e OMT

2.4 EFEITOS DA ATIVIDADE TURSTICA PARA O PAS E A ECONOMIA

Os impactos do turismo no se restringem aos aspectos econmicos e sociais, mas devem ser

entendido em sua concepo mais ampla, envolvendo, alm do econmico e social, os

aspectos polticos, culturais e ambientais.

Em cada pas ou localidade tais efeitos se expressam de uma forma diferenciada, dadas as

condies econmicas e sociais, e devido as suas caractersticas e tipicidade.

Em pases mais desenvolvidos, o impacto da atividade turstica, em termos de renda mais

significativo que em pases em desenvolvimento, e do ponto de vista econmico, o turismo ,

naturalmente, mais importante para os pases receptores do que para os emissores.

A importncia do turismo em uma economia depende, basicamente, de suas precondies

naturais e econmicas, como: atrativo turstico, infra-estrutura urbana, equipamentos

tursticos e acessibilidade.

Por outro lado, o turismo como Estratgia nos Planos de Desenvolvimento pode variar

bastante sob ponto de vista de produto para pases desenvolvidos emissores e receptores,

pases intermedirios e pases em desenvolvimento. A tendncia ser priorizado em pases

em desenvolvimento, ou seja, o turismo um Projeto Estratgico.

A verdade que o turismo internacional poderia constituir-se em um fenmeno equilibrador

do crescimento econmico, pela intensificao dos fluxos de turistas dos pases desenvolvidos

para os menos desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Entretanto, como citado anteriormente, a maior parte dos fluxos de viagens dos pases

desenvolvidos se destina ao prprio mercado interno, e para outros pases desenvolvidos.

Somente uma parcela em torno de 15 a 20% se destina a pases em desenvolvimento.

Mesmo sendo uma pequena parcela, para os pases em desenvolvimento representa

importante fonte de sustentao de sua economia, tal o estgio atrasado em que se

encontram, em termos de desenvolvimento econmico, ou ainda por falta de melhores

alternativas de investimentos. natural considerar que o turismo est se desenvolvendo a

24

partir de um reflexo promissor na economia do setor, e ainda, buscar o desenvolvimento

regional a partir do incentivo atividade turstica.

Nas primeiras tentativas de se implantar plos de crescimento, instalados artificialmente,

era possvel obter-se um crescimento regional mais equilibrado. No entanto, segundo Rabahy,

a evoluo demonstrou que apesar de ser possvel essa implantao artificial, isso s se

verifica se alinhado a outros fatores, como: precondies para a instalao de algumas

atividades motrizes, proximidade de mercado, disponibilidade de infra-estrutura social bsica

e a determinao estratgica de desenvolvimento daquela regio e dos setores selecionados.

No se deve deixar de avaliar o saldo de implantao e desenvolvimento da atividade turstica

em uma determinada regio, pois um turismo massificado e desordenado pode provocar

deteriorao do meio ambiente, destruio do patrimnio histrico-cultural, mudana da

cultura regional, alm das questes propriamente econmicas j salientadas, como a alta dos

preos, a reduo da oferta de produtos para a populao local e a instabilidade no mercado de

trabalho.

2.5 CLUSTER DO TURISMO

O turismo visto com um volume de empresas e organizaes que se complementam de

alguma forma, na busca da realizao de uma viagem, se caracterizando como uma atividade

que tem contato com diversas outras atividades da economia e com diversos setores

econmicos ativos.

Conforme citado anteriormente, os efeitos do turismo sobre uma determinada populao so

de natureza econmica, social, poltica e cultural. chamado por muitos de exportador

invisvel.

O sucesso de um empreendimento turstico importante para o pas. Depende do somatrio

das ofertas diferenciais, que so as particularidades inerentes a cada localidade, e das ofertas

agregadas, representadas por equipamentos, instalaes e servios que sero disponibilizados

para melhor atender os visitantes.

25

Essas ofertas devem ser muito bem planejadas para que possam proporcionar o maior bem-

estar possvel ao turista. As empresas envolvidas procuram realizar certos desejos pessoais na

oferta de viagens tursticas, porque satisfazem as motivaes e expectativas relacionadas com

o tempo livre. Dentre os quais podemos citar fatores de realizao pessoal e social, de

natureza motivacional, econmicos, culturais, ecolgicos e cientficos. So estas

caractersticas que levam o indivduo a escolher caractersticas de sua viagem como o destino,

a permanncia, os meios de transportes e hospedagem e os objetivos da viagem.

Visando atender a todos os anseios que o mercado vem utilizando um termo moderno que

visa a revelar o maior nmero de informaes sobre determinado ramo que se deseja

conhecer, ampliando a capacidade de gerar resultados. o que se chama de CLUSTERS.

Segundo Michael E. Porter (1999), clusters so concentraes geogrficas de organizaes e

instituies de um certo setor, abrangendo uma rede de empresas inter-relacionadas e outras

atividades importantes para a competitividade. Incluem suprimentos de insumos

especializados, tais como componentes, maquinrio e servios, e fornecedores de infra-

estrutura especializada. Suas fronteiras devem abranger todas as empresas que tenham

ligao com o ramo alm de setores e instituies com fortes elos verticais, horizontais ou

institucionais.

Para Porter, muitas vezes os clusters permeiam os canais de distribuio e os consumidores,

envolvendo fabricantes de produtos complementares e organizaes responsveis por normas

tcnicas, tecnologia ou insumos comuns. H clusters que incluem instituies governamentais

e outras, tais como universidades, institutos de normas tcnicas, empresas de treinamento e as

associaes comerciais.

O turismo est sendo visto como um cluster por ser um conjunto de atrativos concentrados

num espao geogrfico delimitado, dotado de equipamentos e servios de qualidade e

excelncia gerencial, em redes de empresas que possam gerar vantagens estratgicas e

competitivas. Qualquer estudo nesta rea deve levar em conta tudo que compreende a

qualidade do cluster, como: aeroporto, traslado, diferencial turstico, acessibilidade,

gastronomia, hospitalidade, centros comerciais, informao, sinalizao e competitividade de

preos.

26

A falta desta viso sistmica e holstica pode atravancar o progresso do turismo no Brasil. V-

lo como sistema isolado faz com que cada membro se desenvolva sem ter a noo para onde

seguir. preciso desenvolver estratgias administrativas que utilizem tecnologia avanada,

gesto logstica para definir um cenrio competitivo, novas tendncias do mercado alm dos

principais concorrentes, bem como o intercmbio de informaes sobre experincias vividas e

refletir sobre o cotidiano das empresas e das organizaes do setor.

Abaixo, no esquema do Cluster do Turismo, observa-se o quanto que esta atividade depende

de um planejamento estratgico para seu desenvolvimento.

Aeroportos

Rodovirias

Portos

Operadores do turismo Agncias de Viagens

Imprensa/ Internet

Agncia de Propaganda

Grficas

ONGs

Artistas, artesos

Instituies educacionais

Entidades Governamentais

Equipamentos sociais

Infra-Estruturas

Instituies financeiras

Cooperativas

Alimentos

Bebidas

Servios deLazer

Organizadores de eventos

Turismo receptivo

Hospedagem

Transportes

Comrcio

Propriedades Rurais

Patrimnios Culturais, Histricos, Arquitetnicos e Ambientais

Equipamentos culturais e de entretenimento

Materiais deconstruo

Projetos de arquitetura

Construo civil

Equipamento

Associaesprofissionais

Aeroportos

27

Segundo Silva (2001), o produto turstico requer ainda que os atrativos sejam acessveis, quer

seja por navio, avio, nibus ou automvel, ou seja, que possua fcil acessibilidade.

Como pode ser verificado, existem empresas que no poderiam sobreviver sem o turismo, seja

ele turismo de negcio ou de lazer, como: empresas areas e hotis. H, tambm, empresas

que poderiam sobreviver sem o turismo, apesar de o seu crescimento ficar comprometido,

sendo elas: restaurantes, atrativos localizados, transporte urbano.

Portanto, a falta de uma estratgia de desenvolvimento de todos os componentes do cluster

acima apresentado tende a penalizar no s o desenvolvimento financeiro das empresas

envolvidas, como tambm, o nvel dos servios prestados aos turistas existentes e a satisfao

destes.

Trigueiro, C.M. (2001), define como elementos que viabilizam a atividade turstica:

Design urbano - dizem respeito s informaes sobre o local, seus valores

histricos e culturais. Define a maneira como o carter de uma cidade

transmitido de uma gerao outra, relacionando-se com os princpios de

conservao do patrimnio histrico e da arquitetura urbana da localidade;

Infra-estrutura manuteno da quantidade mnima de servios tais como:

saneamento, transportes, energia eltrica, limpeza pblica, estradas, e outras;

Servios bsicos segurana, atendimento com qualidade, respeito aos

cidados;

Eventos e atraes as atraes so as belezas naturais, a histria e suas

personagens famosas, parques temticos, gastronomia, edifcios e

monumentos, museus e praas. Os eventos so os festivais de msica e

culturais, shows de artistas, manifestaes folclricas, competies esportivas,

e outras;

Pessoas relacionada hospitalidade apresentada pelos habitantes locais, que

pode intervir positiva ou negativamente junto aos visitantes;

Imagem soma das crenas, idias e impresses que as pessoas tm de

determinada localidade, representada pela lembrana e desejo de retorno que

despertam.

28

Diante destas consideraes, a definio de uma localidade como detentora de potencial

turstico, est relacionada tanto atrao natural do turismo como adoo de uma poltica de

desenvolvimento de infra-estrutura turstica.

2.6 A IMPORTNCIA DO SISTEMA DE TRANSPORTE NO TURISMO

O transporte tem a funo de interligar a origem de uma viagem turstica a um determinado

destino (e vice-versa), que interliga vrios destinos tursticos entre si (primrio e secundrio)

ou que faz com que os visitantes se desloquem dentro de um mesmo destino primrio ou

secundrio.

Palhares (2003) comenta que em alguns casos, a prpria atividade de transporte uma

experincia de turismo, tal como no caso dos cruzeiros, dos trens panormicos, dos passeios

de carro e de bicicleta. Entretanto, em algumas circunstncias o transporte prevalece sobre o

prprio destino turstico, e muitas vezes influi na escolha do local a ser visitado.

O desenvolvimento do sistema de transporte, para muitos autores, um fator relevante para a

evoluo da atividade turstica, pois as viagens passaram a contar com mais segurana, mais

conforto e mais rapidez.

Para Rabahy (2003) o sistema de transporte tem-se mostrado mais eficiente em funo da

maior rapidez de realizao de um percurso. Isto contribui para aumentar a capacidade de

cada unidade do sistema, ou seja, aumentar a sua produtividade. E a maior contribuio a

liberao de horas dos indivduos para a viagem propriamente dita.

Palhares (2003) afirma que o turismo no existe sem o transporte. Os destinos tursticos

muitas vezes fazem um excelente trabalho de marketing junto a turistas potenciais, mas tm

uma atitude muito passiva quando se trata de trabalhar em parceria com as empresas de

transporte para facilitar o ingresso desses turistas na sua regio.

O turismo interno, ou seja, intra-regional teve sua evoluo com a expanso das rodovias e a

massificao do uso do automvel, bem como, com o uso do meio de transporte coletivo.

29

Com o transporte ferrovirio, o turismo internacional praticamente se restringe aos pases da

Europa e a poucos pases dos demais continentes, em que a ferrovia apresenta significados

especiais apenas para o seu turismo domstico e para o turismo social.

No passado, o meio transporte intercontinental mais destacado foi o martimo. Entretanto, sua

participao diminuiu significativamente aps a expanso do transporte areo, mais

especificamente aps a Segunda Grande Guerra e a Conveno de Chicago (1944), em que os

pases signatrios celebraram o acordo que assegura a liberdade poltica e comercial de partir

e aterrisar em territrios estrangeiros.

O transporte martimo sofre, alm do tempo de durao das viagens, pela falta de integrao

com os sistemas terrestres de transportes tursticos, de hospedagem, de tours, etc. Tais

desvantagens esto sendo amenizadas pela promoo de cruzeiros de menor percurso e

durao.

J o meio de transporte que veio a expandir o turismo internacional foi o areo. A sua

importncia e suas vantagens so to fortes que a populao de mais alta renda prefere esse

meio de transporte para as suas viagens, mesmo quando de mdio percurso.

Rabahy (2003) afirma que no resta dvida de que se pode estabelecer uma associao

bastante estreita entre o meio transporte areo, de uma forma geral, e o crescimento do fluxo

turstico.

Quanto ao desenvolvimento do turismo domstico, Palhares (2003) afirma que no Brasil, o

transporte areo um caso tpico de setor sem foco voltado para o turismo. Sua

regulamentao sempre esteve mais favorvel a preservar as empresas areas nacionais, seus

capitais e empregos, em detrimento da abertura do mercado que possibilitasse o barateamento

do acesso dos brasileiros ao mercado turstico domstico. Tal crtica tambm constatada em

Wheatcroft (1994). A falta de uma verdadeira competitividade interna, que s foi

gradualmente incentivada a partir da dcada de 1990, e de forma mais acentuada no ano de

2001, associada a uma ampliao dos acordos bilaterais para as ligaes internacionais,

fazendo com que um maior nmero de empresas estrangeiras passassem a atuar no Pas,

permitiram grandes disparidades nos preos das tarifas, o que tornou algumas viagens ao

exterior mais baratas do que no mercado domstico. Tal fato passou a contribuir ento para

30

um desequilbrio da balana de pagamento do turismo brasileiro, tornando-a deficitria devido

s divisas que eram levadas do Pas para o exterior pelos turistas, contribuindo assim para o

no desenvolvimento do j incipiente mercado domstico.

Atualmente, as empresas de transporte em todo o mundo tendem a buscar uma alternativa que

possa atender o maior conjunto de ligaes das redes existentes, como forma de minimizar

seus custos. claro que existem limitaes, como por exemplo: o transporte fluvial depende

da existncia de rios navegveis; o transporte rodovirio apesar de ser uma via artificial

depende de transpor obstculos que encarecem o projeto, como construo de tneis, pontes e

viadutos; o transporte ferrovirio tambm depende da varivel topografia.

No caso do transporte areo, segundo Palhares (2003) as empresas buscam se concentrar em

um aeroporto, ou alguns aeroportos estratgicos, do qual o nmero de localidades atendidas

era ampliado pelo sistema hub-and-spoke, na tentativa de obter uma grande economia de

escala, utilizando grandes aeronaves que permitiam ter maior densidade de trfego de

passageiros nessas rotas.

Palhares (2003) afirma que h inconvenientes neste tipo de rede centralizada, tais como o

aumento do tempo de viagem total, alm de atrasos decorrentes da grande movimentao de

aeronaves em um aeroporto do tipo hub. Entretanto, para as empresas areas, o ganho em

termos de custos operacionais advindos de tal sistema extremamente vantajoso, o que para o

passageiro representa possibilidade de menores tarifas.

Considerando que o transporte areo possui geralmente o seu terminal afastado dos grandes

centros ou de algum destino turstico, as rodovias so a forma mais comum encontrada para

interlig-los aos pontos de destino final. Portanto, um importante fator para o

desenvolvimento da atividade do turismo que os terminais de transportes estejam

interconectados com os vrios modos existentes, a fim de prover os turistas com opes de

acessibilidade ao seu destino final.

Pela avaliao apresentada por Palhares (2003), que no Brasil h uma predominncia de um

s modo de transporte (no caso, rodovirio), a intermodalidade fica altamente prejudicada, e

com isso os passageiros e turistas perdem em termos no s de opes de transporte, mas

31

tambm em todos os benefcios advindos de uma maior competitividade entre os mesmos,

principalmente melhoria do servio prestado e diminuio de tarifa.

O que se deve considerar que no caso da indstria do turismo, o modo de transporte que

melhor evidencia a formao de alianas estratgicas, sobretudo no cenrio mundial, o

transporte areo.

Um exemplo de aliana estratgica so os vos charters, que so servios areos no-

regulares, geralmente organizados por um grupo particular ou para um nicho de viajantes que

se desloca para destinos tursticos, especialmente durante perodos de alta temporada.

Pode se dizer que os vos charters tm como foco atender ao turismo de massa ou destinos

remotos, como por exemplo, resorts.

O vo charter possui uma estrutura de custo muito parecida com as empresas de baixo custo e

baixa tarifa. Para o turismo esta opo tem sido bastante utilizada, considerando que o

passageiro compra um pacote turstico que inclui, alm do vo, o translado para o hotel, a

hospedagem nos destinos e eventualmente at mesmo alguma outra programao.

2.7 TRANSPORTE AREO E AEROPORTOS

O transporte areo necessita, para sua realizao, de facilidades essenciais como pista de

pouso e decolagem, ptio de estacionamento de aeronaves e terminal de passageiros. Alm

disso, dependendo do volume de trfego, outras facilidades de apoio sero necessrias para o

transporte eficiente e seguro, como: instalaes para abastecimento de aeronaves, servio de

salvamento e combate a incndio, reas para manuteno de aeronaves, servios

meteorolgicos e de controle do espao areo, comissaria, entre outras (OACI, 1987). Essas

facilidades esto concentradas nos aeroportos.

Para o atendimento demanda de passageiros de turismo, as facilidades necessrias nos

aeroportos so essencialmente as mesmas. No foi possvel encontrar na bibliografia

pesquisada nenhum autor que apontasse a necessidade de diferenas significativas nos

aeroportos, para atendimento aos turistas. O que se verifica que podem ocorrer diferenas na

intensidade de utilizao de determinados componentes, em funo das diferenas nas

32

caractersticas dos passageiros de turismo em relao queles que viajam a negcios. Apesar

disso, a operao e os componentes de um aeroporto cuja demanda predominante seja de

passageiros de turismo no apresenta diferenas significativas em relao dos demais

aeroportos.

As facilidades disponibilizadas nos aeroportos requerem altos investimentos em infra-

estrutura e grandes reas para sua instalao. Por esse motivo, o transporte areo, de uma

forma geral, no um transporte porta a porta. Isso significa que para ter acesso ao transporte

areo necessrio deslocar-se a um terminal aeroporturio utilizando um outro modo de

transporte. Kazda e Caves (2000) afirmam que a viagem no comea nem termina no

aeroporto e alertam para a importncia da acessibilidade ao mesmo, uma vez que, para o

passageiro, o que interessa o tempo total de viagem. O trecho da viagem de superfcie pode

aumentar o seu tempo total, reduzindo assim a principal vantagem do transporte areo.

Portanto, a distncia do aeroporto at o seu centro de demanda um dos fatores essenciais

para localizao de um aeroporto. No item a seguir, ser relatada uma pesquisa dos fatores

usualmente considerados para localizao de aeroportos.

2.8 FATORES DE ANLISE PARA ESCOLHA DE STIOS

AEROPORTURIOS

Neste item ser feito um levantamento dos principais fatores que costumam ser avaliados no

processo de seleo de um stio destinado implantao de um aerdromo. Esses fatores

sero analisados tendo como foco a identificao daqueles que podem ser influenciados de

forma diferenciada pela demanda do turista de lazer internacional.

Silva (2001) apresenta nove critrios para nortear a localizao dos stios, com o objetivo de

atender s exigncias e necessidades para a plena operacionalidade dos aeroportos, de acordo

com a sua demanda. A seguir, sero explicados, resumidamente, cada um dos fatores.

rea

O stio dever ter as dimenses suficientes para abrigar as instalaes

necessrias nas vrias etapas do seu planejamento. Poder ainda possuir

reserva de rea complementar, de fcil desapropriao, para expanso, quando

33

a demanda exigir. Recomenda ainda que a rea I 1 do Plano de Zoneamento de

Rudo esteja includa na rea patrimonial.

Relacionamento Urbano

As limitaes ao uso do solo impostas pelo Plano de Zoneamento de Rudo

devem ser respeitadas, evitando-se proximidade com atividades sensveis ao

rudo. Assim, recomendado que o stio fique fora das reas urbanizadas e em

posio contrria aos vetores de expanso urbana. Alm disso, a orientao das

pistas deve evitar a induo de sobrevo de reas urbanizadas.

Acessos

O stio deve ter uma posio favorvel em relao aos principais plos

geradores de trfego. Deve-se observar as distncias a serem percorridas e a

oferta de transporte pblico. Para regies metropolitanas, recomenda que o

stio no esteja localizado a uma distncia maior do que 30 km. Por motivos

econmicos, ainda prefervel que j exista uma rodovia ou via expressa de

acesso nas proximidades da rea.

Infra-Estrutura

A disponibilidade e facilidade de instalao de redes de gua, de energia, de

esgoto e de telecomunicaes nas proximidades do stio podem representar

grande economia.

Topografia

A rea deve ser livre de obstculos naturais ou implantados capazes de pr em

risco os procedimentos de pouso e decolagem. Alm disso, um terreno plano

reduz os custos de terraplenagem e preparao do solo.

Geologia e Hidrologia

Alm da topografia, caractersticas como uma boa resistncia e drenagem

natural do solo reduzem os custos de implantao da infra-estrutura. Do

1 rea I definida pela Portaria 1.141/GM5, de 8 de dezembro de 1987, como a rea do Plano de Zoneamento de Rudo,

interior curva de nvel de rudo 1, onde o nvel de incmodo sonoro potencialmente nocivo aos circundantes, podendo ocasionar problemas fisiolgicos por causa das exposies prolongadas.

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mesmo modo, a ausncia reas alagadias, pntanos e de cursos dgua que

necessitem ser controlados ou canalizados reduz os custos das obras.

Meteorologia

Determinadas condies meteorolgicas tm grande influncia sobre as

operaes areas. As principais caractersticas meteorolgicas a serem

observadas so a intensidade e direo do vento, formao de nevoeiro,

altitude e temperatura.

Meio Ambiente

Devero ser evitadas reas com restries de uso decorrentes da legislao

ambiental, como reas de Preservao Permanente, reas de Proteo

Ambiental, entre outras. Deve-se observar, em particular, as restries das

reas de Segurana Aeroporturia, que estabelecem distncias mnimas em

relao ao aerdromo para implantao de determinadas atividades que atraiam

pssaros.

Viabilidade Econmica

Neste item os custos monetrios, sociais e ambientais devero ser, na medida

do possvel, quantificados para escolha da opo de menor custo. Entre os

elementos que devem ser includos na anlise esto: custos de desapropriao,

movimentos de terra, reassentamento urbano, exe