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UNIVERSIDADE DE BRASILIA UNB UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB FACULDADE DE EDUCAÇÃO FE CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA EDNÉIA RODRIGUES TEIXEIRA A LITERATURA INFANTIL NOS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL NA ESCOLA MUNICIPAL FRANCISCO REIS CARINHANHA - BA CARINHANHA - 2013

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UNIVERSIDADE DE BRASILIA – UNB

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL – UAB

FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FE

CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA

EDNÉIA RODRIGUES TEIXEIRA

A LITERATURA INFANTIL NOS ANOS DO ENSINO

FUNDAMENTAL NA ESCOLA MUNICIPAL FRANCISCO

REIS – CARINHANHA - BA

CARINHANHA - 2013

EDNÉIA RODRIGUES TEIXEIRA

A LITERATURA INFANTIL NOS ANOS DO ENSINO

FUNDAMENTAL NA ESCOLA MUNICIPAL FRANCISCO

REIS – CARINHANHA - BA

Monografia apresentada como requisito

parcial para obtenção do título de Licenciado

em Pedagogia pela Faculdade de Educação

– FE da Universidade de Brasília, sob a

orientação do professor Elício Bezerra

Pontes.

CARINHANHA - 2013

Ficha Catalográfica

TEIXEIRA, Ednéia Rodrigues. A Literatura Infantil nos anos do Ensino

Fundamental na Escola Municipal Francisco Reis - Brasília, Março, 2013. 61

Páginas.Faculdade de Educação – FE, Universidade de Brasília – UnB.

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Pedagogia.

FE/UnB-UAB

A LITERATURA INFANTIL NOS ANOS DO ENSINO

FUNDAMENTAL NA ESCOLA MUNICIPAL FRANCISCO

REIS – CARINHANHA – BA

EDNÉIA RODRIGUES TEIXEIRA

Monografia apresentada como requisito

parcial para obtenção do título de Licenciado

em Pedagogia pela Faculdade de Educação

– FE da Universidade de Brasília, sob a

orientação do professor Elício Bezerra

Pontes.

Banca Examinadora:

…...........................................................................................

Professor Elício Bezerra Pontes

Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

…............................................................................................

Professora Laura Maria Coutinho (examinador)

Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

DEDICATÓRIA

À minha família e meu esposo pelo

apoio em toda a minha trajetória

escolar

Ednéia (2013)

AGRADECIMENTOS

Só foi possível a realização deste trabalho por causa da compreensão e

força concebida por minha família desde a pré-escola até hoje.

A minha mãe, que não deixou de acreditar na importância da educação

quando seus irmãos diziam que uma mulher tem que ser dona de casa e que

quando os filhos ficam sabidos zombam da fala da família não escolarizada;

A meu pai e meus irmãos, pela grande contribuição na educação

assistemática, principalmente com seus próprios exemplos.

A meu marido, pela compreensão da falta de diálogo provocada pelos

inúmeros trabalhos acadêmicos e o estresse psicológico que provocou aspereza no

meu comportamento cotidiano;

A todos os meus professores que, mesmo com seu mísero salário,

tiveram carinho e dedicação à educação, tanto os que migraram de profissão quanto

os que permaneceram fazendo um lindo trabalho;

Aos professores da Universidade de Brasília e em especial ao meu

professor orientador.

RESUMO

A produção deste trabalho monográfico teve com objetivo sistematizar

conhecimentos sobre como ocorre a inclusão da Literatura Infantil no currículo

escolar da escola Francisco Reis na comunidade de Agrovila 15, no município de

Carinhanha - Bahia propondo-se a discutir o papel que a literatura infantil

desempenha sobre a aprendizagem da criança. E para obter as informações

necessárias para responder minhas indagações iniciais, foi realizada uma pesquisa

baseada numa abordagem qualitativa, e uma investigação observando diretamente

duas salas de aula do 1º ano, uma do 2º, uma do 4º e uma do 5º ano, com duração

total de 20 horas, bem como a aplicação de uma entrevista com as professoras das

turmas observadas. Partimos da premissa de que a literatura infantil é um caminho

que leva a criança a desenvolver a imaginação, o sentimento e o aprendizado de

forma significativa. Sendo assim, as principais referências teóricas consultadas para

a realização desta pesquisa foramAbramovich e Cademartori. Esses autores

mostraram a direção para nossa investigação,discussão e posicionamento acerca da

literatura infantil nas instituições de ensino. E para sistematizar este trabalho fiz uma

pequena retrospectivada história da Literatura infantil buscando suas origens, as

contribuições de Monteiro Lobato, no caso brasileiro e, por fim, a Literatura Infantil

na sala de aula. As observações e entrevistas demonstraram que todas as

professoras desta instituição participantes da pesquisa estão incluindo a Literatura

Infantil no currículo, através da pedagogia de projetos desenvolvidos pela escola.

Palavras chave: Literatura infantil. Crianças. Aprendizagem. Práticas pedagógicas

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 9

PARTE I - MEMORIAL EDUCATIVO ........................................................................ 10

MEMÓRIAS: CAMINHOS DE UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA .................. 11

Minha Família ........................................................................................................ 11

O Começo de Tudo ................................................................................................ 12

Magistério ou Formação Geral? ............................................................................. 13

Começando a Trabalhar ........................................................................................ 14

Um Sonho a ser Realizado: Fazer Parte do Grupo Acadêmico da UnB ................ 14

PARTE II - MONOGRAFIA ........................................................................................ 19

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 20

CAPÍTULO I .............................................................................................................. 22

REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................ 22

1. A Literatura Infantil ....................................................................................... 22

1.2 Contribuições de Monteiro Lobato na Literatura Infantil Brasileira ................ 23

1.3 A Importancia da Literatura Infantil na Sala de Aula ................................. 25

CAPÍTULO II ............................................................................................................. 30

METODOLOGIA ........................................................................................................ 30

2.1 Objetivos da pesquisa ................................................................................... 30

2. 2 Abordagem e Tipo de Pesquisa ................................................................... 31

2.3 Contexto da Pesquisa e Participantes .......................................................... 32

2.4 Procedimentos e Instrumentos de Pesquisa ............................................... 355

2.5 Análise Documental ...................................................................................... 36

CAPÍTULO III ............................................................................................................ 38

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................... 38

3.1 Análise das Observações da Sala de Aula ................................................... 38

3.2 Relato da Análise Documental do Projeto Político-Pedagógico .................... 43

3. 2. 1 Trabalho Pedagógico ............................................................................... 43

3. 2. 2 Concepções de Educação ..................................................................... 433

3. 3 Análise das Entrevistas com os Professores ............................................... 45

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 53

PARTE III – PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS .................................................... 555

PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS .......................................................................... 56

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57

Apêndice.....................................................................................................................59

9

APRESENTAÇÃO

O presente trabalho final de curso representa um requisito necessário à

conclusão de graduação em Pedagogia. O trabalho está estruturado em três partes:

o memorial educativo, o trabalho monográfico e as perspectivas profissionais.

Na primeira parte está o meu Memorial Educativo, no qual eu relato minha

experiência de vida, enfocando todas as atividades realizadas em minha trajetória

escolar e minha prática pedagógica, com o intuito de refletir sobre elas e melhorá-

las; enfim, o memorial tem como objetivo fazer-nos repensar a prática educativa e de

que forma o curso de Pedagogia contribuiu nessa prática.

O trabalho monográfico está dividido em três capítulos. Na introdução é

apresentado ao leitor de forma objetiva o percurso com a contextualização do tema

em pesquisa; o primeiro capítulo traz uma visão geral do referencial teórico; o

segundo são os procedimentos metodológicos com o guia de orientações seguidas

na coleta de dados; o terceiro é a análise dos dados obtidos na tentativa de chegar a

uma conclusão do problema; Nas considerações finais estão relatadas as

conclusões da pesquisa.

Por fim, na terceira parte, expresso minhas expectativas como pedagoga,

meus sonhos, anseios e planos para o futuro como pedagoga.

10

PARTE I - MEMORIAL EDUCATIVO

11

MEMÓRIAS: CAMINHOS DE UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

MinhaFamília

Meu nome é Ednéia, nasci no dia 14 de maio de 1985, na Bahia, em Bom

Jesus da Lapa, uma cidade pequena que é conhecida como a cidade dos romeiros.

Meus pais vieram de um povoado pequeno que se chamava Guada,

região em que moravam pequenos proprietários de terras. Em 1975, o INCRA criou

um projeto para toda essa região e as pessoas foram desapropriadas de suas terras,

mas foram indenizadas e ainda receberam um pedaço de terra e uma casa no

mesmo local onde eles moravam ou em outros povoados criados pelo INCRA. Os

meus pais foram para o povoado chamado Agrovila XV, em 1981.

Sou a filha mais velha de três irmãos (duas mulheres e um homem). Meu

pai queria ter só um filho, mas minha mãe falou que enquanto ela não tivesse um

filho homem ela não parava. E foi o que realmente aconteceu.

12

Apesar de ter vindo de famílias conservadoras, meus pais sempre nos

incentivaram a estudar, coisa que seus irmãos não aceitavam e diziam que “estudo

era luxo para pobre”, que filha de pobre tinha que ser dona de casa e o homem tinha

que trabalhar na roça com os pais.

O Começo de Tudo

O Cravo e a Rosa

O cravo brigou com a rosa Debaixo de uma sacada

O cravo saiu ferido E a rosa despedaçada

O cravo ficou doente

A rosa foi visitar O cravo teve um desmaio E a rosa pôs-se a chorar

Cantiga do Folclore brasileiro. Domínio público.

Entrar na escola foi algo tão marcante que ainda lembro-me das primeiras

aulas. Entrei na escola no ano de 1991 com sete anos de idade, um pouco atrasado,

pois a escola não aceitava criança com menos de sete anos. Lembro-me do meu

primeiro dia de aula como se fosse hoje. A minha mãe foi quem me levou; de mãos

dadas com ela entrei na sala, o meu coração parecia que ia sair pela boca de tão

forte que estava batendo, pois tudo aquilo que estava acontecendo era novo.

A infância foi um tempo de grandes descobertas: de brincar, construir,

destruir, inventar, viver na imaginação muitas aventuras. Vivi momentos felizes, com

brincadeiras na rua de terra e no quintal, ao lado dos irmãos, primos e amigos. Tive

minha família sempre reunida. Vivenciei um período de liberdade para criar, correr e

brincar.

Tanto meu pai quanto minha mãe sempre valorizavam os estudos. Minha

mãe, todos os dias fazia questão de me acompanhar nas lições de casa, e que eu

tivesse os materiais e uniforme escolares.

Os professores do Ensino Fundamental seguiam o modelo tradicional, a

concepção de escrita que eles tinham aprendido era a de que a escrita é a mera

representação da fala. Os textos que eram utilizados não correspondiam aos usos

13

sociais da escrita. Seguia as atividades de prontidão, acreditava no momento certo

para aprender, nas habilidades e pré-requisitos. Pregava-se que o professor era a

dono do saber, e que eles tinham o domínio do conhecimento.

Chegar à 8ª série era o ano mais esperado por todos os estudantes da

escola. Pois era o ano de colação de grau, com direito a baile e padrinhos, porém o

nosso sonho quase não se realizou; no decorrer do ano, alguns alunos entraram em

conflito com a direção e com os professores, foi necessário até a visita de policiais

na escola.

E para mostrar aos alunos quem mandava ali, direção e professores

decidiram não fazer mais a tão sonhada colação de grau. No entanto, como era ano

político e em lugar pequeno tudo gira em torno de política, os alunos conseguiram

ornamentação e uma ordem da Secretaria de Educação do município, para o diretor

e professores organizarem a festa.

Magistérioou Formação Geral?

É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão que sentar-se, fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder. Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver.

Martin Luther King

Entrar no ensino médio naquela época era como cursar o ensino superior

hoje, era muito valorizado.

Em minha comunidade o ensino médio nos oferecia apenas o magistério,

e como desde criança sempre tive vontade de ser professora comecei a estudar aqui

mesmo em minha comunidade.

Com dois anos de estudo a secretaria de educação do município nos

informou que o magistério iria acabar e que iria ser formação geral, e quem quisesse

continuar o magistério teria que se mudar para a comunidade vizinha.

14

Diante disso eu e mais três colegas resolvemos enfrentar a estrada todos

os dias para terminar o que tínhamos começado. Foi um ano muito difícil, tinha dias

que achávamos carona de ônibus, caminhão, moto e, outras vezes tínhamos que

andar 8 km para ter um dia de aula e mais 8 km para voltar para casa. Todas essas

coisas foram acontecendo durante o ano de 2004.

No ano seguinte as aulas estavam demorando muito para começar, já

estávamos no mês de maio e nem tínhamos previsão de início de aula. Então, em

uma conversa com meus pais resolvemos que eu deveria mudar para o município

vizinho e, morar na casa de uma tia e só voltar para casa no final de semana.

Começando a Trabalhar

Em dezembro de 2005 concluí o curso de Formação de Docentes em

Nível Médio - Modalidade Normal (antigo Magistério). Em junho de 2006 consegui

um contrato com a prefeitura do município de Carinhanha e comecei a trabalhar

como professora do Ensino Fundamental II, com várias disciplinas. No início foi

muito difícil trabalhar desta forma, pois a única coisa que tive como experiência foi o

meu estágio. Mas ser professora foi o que sempre quis, mostrei para todos que eu

era capaz e superei as dificuldades.

No ano de 2011, fui convidada para trabalhar como coordenadora de

turmas em um programa do governo de erradicação do analfabetismo TOPA (Todos

Pela Alfabetização). Desde então venho trabalhando 20 horas semanais neste

programa.

Um Sonho a ser Realizado: Fazer Partedo Grupo Acadêmicoda UnB

Os sonhos trazem saúde para a emoção, equipam o frágil para ser autor da sua história, renovam as forças do ansioso, animam os deprimidos, transformam os inseguros em seres humanos de raro valor.

15

Os sonhos fazem os tímidos terem golpes de ousadia e os derrotados serem construtores de oportunidades.

Augusto Cury

Um convênio firmado entre a prefeitura de Carinhanha e Universidade de

Brasília trouxe a Faculdade de Educação para a cidade de Carinhanha com dois

cursos para serem ofertados: Letras e Pedagogia. Vi, então, a chance que eu tinha

de cursar o ensino superior, e o melhor é que era em uma das Universidades mais

conceituadas do país

Muitos riram de mim, dizendo que eu ia jogar R$ 50,00 fora quando falei

que ia prestar vestibular para o curso de pedagogia da UnB. Apesar das críticas,

prestei vestibular, passei e provei para todos que eu era capaz.

Os cursos foram oferecidos em modalidade nova, diferente do que

conhecíamos, por meio de internet; ou seja, Educação a Distância (EAD). Por este

motivo, fomos alvo de muitas piadinhas, preconceito e até inveja de muitos no início

do curso.

Neste período as pessoas não davam valor a curso a distância, até

mesmo algumas pessoas que passaram no curso diziam que estavam ali porque era

0800 (de graça), e porque seria muito fácil conseguir o diploma de nível superior em

um curso a distância. Sei que hoje essas pessoas não pensam mais assim, pois

aprendemos muito no decorrer desses anos.

Em outubro de 2007 tivemos aula inaugural na Câmara de Vereadores

com uma equipe da UnB e depois fomos para o Polo, conhecer o local que iríamos

passar a frequentar por alguns anos. Estava quase explodindo de felicidade nesse

dia.

No início chorei muito, pois não tinha acesso à internet e morava distante

do Polo. Então as tutoras presenciais (Maria de Lurdes e Edilene) para facilitar um

pouco para os estudantes, deixavam os textos de todas as disciplinas na

xerocopiadora, e eu comprava uma cópia e levava para casa para estudar durante a

semana, e só postava as atividades quando ia para o Polo nos fins de semana.

Isso aconteceu durante todo o semestre, pois em minha comunidade que

fica a 75 km de Carinhanha não tinha internet e computadores.

16

Demorou um pouco, mas consegui comprar o meu computador e um

aparelho da Vivo (modem) para ter internet em casa. Porém, tive mais um problema:

nem a Vivo e nem outra operadora cobriam a área. Então comprei uma antena de

celular rural e pluguei no modem na antena para captar o sinal da cidade vizinha, e

só assim passei a ter internet em casa.

No curso de Pedagogia – UAB/UnB, no 1º semestre tive a disciplina

Projeto 1, que nos mostrou toda a história da nossa Faculdade, suas lutas e

conquistas.

No 2º semestre, em 2008 tive a disciplina Fundamentos da Educação

Ambiental, com a professora Rosângela Correia, que por sinal marcou a minha

trajetória como estudante. Ela me fez rever todos os meus conceitos sobre o meio

ambiente.

Fizemos uma Caminhada Ambiental nas margens do Rio São Francisco

catando todo o lixo que havia lá, e um Seminário na Câmara de Vereadores com o

intuito de conscientizar a população sobre os perigos da poluição nas margens do

rio.

No 3º semestre, tive a oportunidade de cursar a disciplina Socionomia,

Psicodrama e Educação, que me fez ver que através de seus métodos, é possível

resolver problemas em sala de aula.

No 4º semestre, cursei Educação de Adultos; nesse semestre tive a

oportunidade de conhecer a rica história da classe trabalhadora do nosso país,

conheci mais de perto a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Nesse mesmo semestre, com o apoio da professora Rosângela Correia,

em Setembro de 2009 toda a turma foi conhecer o campus da Universidade de

Brasília. Foi ali que realmente senti que estava fazendo parte da UnB, aprendi muito;

além de conhecer o campus da universidade, fizemos visitas a inúmeros museus,

fomos ao Jardim Zoológico, assistimos ao desfile de sete de setembro mais famoso

do país; o desfile de Brasília. Este é um dos momentos inesquecíveis da minha vida.

Já no 5º semestre, com a disciplina Educação Matemática – 1 com a

Professora Tutora Cilia, que é um amor de pessoa. Ela com seu jeitinho envolvente

nos mostrou as diferentes maneiras de se trabalhar a matemática.

No 6º semestre, continuei com a disciplina de Educação Matemática - 2,

mas foi com Educação Infantil que pude fazer uma reflexão sobre a prática da sala

17

de aula e também pude ver a situação da literatura nas escolas da minha

comunidade.

Nesse mesmo semestre cursei também Projeto 3 Fase 1 – Gestão em

EAD, onde iniciei a elaboração de um projeto de pesquisa sobre “A tutoria

presencial: uma análise da atuação do tutor no Polo de Carinhanha”.

No 7º semestre, dei continuidade com a disciplina Projeto 3 Fase 2 –

Gestão em EAD, onde pude concluir o projeto de pesquisa iniciado no semestre

anterior. Mas foi com a disciplina de Políticas Públicas que eu me identifiquei,

porque através dela foi possível ter acesso às várias políticas públicas voltadas para

a área educacional.

No 8º semestre, com a disciplina Projeto 4 Fase 1 – Ensino Fundamental,

realizei a primeira fase do meu estágio. Ele foi para mim uma experiência incrível;

elaborei e apliquei meu projeto em sala de aula, e apresentei no seminário realizado

no Polo Dona Carmen e fui avaliada pelas professoras que vieram de Brasília.

Grandes professores vão ser sempre lembrados, como a Ana Polônia.

Professora Incrível! A encantadora Cília, uma excelente tutora. Não posso

esquecer-me de Agilson Carlos, Claudio Amorim, Elisete Rodrigues, Cleonice

Bittencourt, Laila de Mauro Santos, Ana Cristina, Janaína Alves. São professores

exigentes, que cobram. Mas são esses que me fizeram melhorar ainda mais.

Todos esses anos foram difíceis, tive que montar um horário de estudo,

pois trabalhava o dia todo, senti muita dificuldade na hora de tirar as dúvidas, pois só

tirava as dúvidas por e-mail, coisa que levava até dois dias para ser resolvido.

Os professores eram extremamente competentes e exigentes, mas ao

mesmo tempo eram carinhosos, nos incentivavam a todo o momento a não ter

medo.

Sempre tive muita vontade de fazer o curso de Pedagogia. E a Faculdade

de Educação – UnB me mostrou que o Curso não era o que as outras pessoas

falavam: “cursinho de mulher”. É muito mais do que pensam.

No curso tive um contado mais direto com as ideias de Paulo Freire, um

homem à frente de seu tempo, com ideias inovadoras para a sua época em que

vivia, me deixando ainda mais apaixonada pelas teorias freirianas.

Paulo Freire, em uma de suas obras propõe um método abrangente, pelo

qual a palavra ajuda o homem a se descobrir com sujeito de todo o processo

histórico.

18

Sei que essa é a oportunidade da minha vida, pois não é qualquer

pessoa que tem esse privilégio de fazer parte de uma Instituição de alto nível, como

a UnB.

19

PARTE II - MONOGRAFIA

20

INTRODUÇÃO

Durante séculos a educação ocidental esteve ligada às necessidades

da elite e até hoje está organizada nas disciplinas curriculares que também são

muito antigas. Elas giram em torno de temáticas que também são milenares como

Matemática, Física, Química, Biologia, Língua, Geografia, Artes... São saberes pelos

quais a humanidade tem se dedicado muito para construir de modo cumulativo.

Suas origens são contemporâneas à cultura européia. São elas que moldaram os

nossos pensamentos até os dias de hoje, e costumam ser chamados de cultura

ocidental.

É neste sentido que escolhi esse campo de estudo contextualizando com

a escola Francisco Reis localizado na comunidade de Agrovila 15, Carinhanha – BA,

principalmente para contribuir no que diz respeito à inclusão da Literatura infantil nos

anos iniciais do ensino fundamental no currículo. Para isso utilizei a pesquisa

qualitativa, que adota uma forma mais interativa e eficaz para aquisição das

informações necessárias.

Acredito que as histórias infantis, quando trabalhadas pedagogicamente

por muitos professores, são fontes inesgotáveis de desenvolvimento da criatividade,

proporcionando mais do que prazer e distração; elas também promovem sabedoria e

informação.

A literatura infantil é uma porta que se abre para a criança aumentar o

pensamento, sentimentos e emoções de forma prazerosa e expressiva.

Diante disso, se utilizada de forma dinâmica e consciente pelos

professores da Escola Francisco Reis, não apenas pode mudar uma realidade de

desinteresse pelo ler, como também pode ser a mola propulsora de uma educação

contextualizada com a realidade social do aluno.

Foi pensando nisso que optei pela a escola da temática,A Literatura

Infantil nos Anos do Ensino Fundamental na Escola Municipal Francisco Reis –

Carinhanha – BA, com o objetivo de pesquisar como está sendo trabalhado esse

tema na escola Francisco Reis em Agrovila 15.

Este trabalho está dividido em quatro capítulos, nos quais descrevi o que

foi colhido através de estudos e pesquisas em diversas fontes, bem como

21

observação direta das salas de aulas e entrevista com as professoras, onde procurei

me sustentar com embasamento teórico de diversos autores ligados a essa temática

para que pudessem dar maior credibilidade e sustentação científica, bem como

ajudar a direcionar a organização do meu pensamento.

No primeiro capítulo, trago A Literatura Infantil, no intuito de entender

melhor o processo histórico da literatura infantil. Fiz um estudo retrospectivo,

buscando as origens européias em meados do século XVIII. Ainda comentei um

pouco da grande Contribuição de Monteiro Lobato na literatura infantil

brasileira, quando a escola passou a exercer um papel de extrema importância na

transformação da sociedade e a preocupação educacional se tornou uma realidade.

Também apresento um breve histórico sobre A importância da literatura infantil

na sala de aula, onde podeproporcionar diversas formas de aprendizado. Trago

também neste mesmo espaço citações do RCNEI - Referenciais Curriculares

Nacionais para a Educação Infantil, documento que fala da importancia de se

trabalhar a literatura na sala de aula.

No segundo capítulo, apresento a metodologia desenvolvida neste

trabalho, salientando os procedimentos, métodos, materiais e etapas utilizadas na

coleta dos dados para a realização da pesquisa.

Já no terceiro capítulo, Apresentação e Análise dos dados,comentei

sobre o processo de realização de pesquisa de campo bem como a organização e

sistematização da análise de dados com a constatação de como está sendo

trabalhada e a literatura infantil no currículo escolar, pelas professoras da escola

Francisco Reis.

22

CAPÍTULO I

REFERENCIAL TEÓRICO

1. A Literatura Infantil

A expressão literatura infantil nasceu no continente europeu em meados

do século XVIII, com Charles Perrault. Segundo Lajolo e Zilberman(1999, p. 15-16):

As primeiras obras publicadas visando o público infantil aparecem no mercado livreiro na primeira metade do século XVIII, antes disto apenas durante o classicismo francês, no século XVII, foram escritas histórias que vieram a ser englobadas como literatura também apropriada à infância .

O grande Charles Perrault não foi só o responsável pelas primeiras obras

literárias infantis, mas também foi um dos criadores dos contos de fadas que

fascinaram as crianças e adultos naquele período. Seu primeiro livro publicado ficou

popular como "Contos da Mamãe Gansa", contendo três histórias: O Pequeno

Polegar, As Fadas e O Mestre Gato que é popularmente conhecido como O Gato de

Botas. Perrault também foi o responsavel pela divulgação das histórias folclóricas da

época. A partir daí surgiu a literatura infantil.

Surgem na Europa no século XIX, Luís Jacob e Guilherme Carlos Grimm,

pupularmente conhecidos como Irmãos Grimm. Suas obras tiveram como alicerce as

histórias folclóricas, cientificas e camponesas. Por meio do diálogo e convívio com

pessoas humildes, procuraram narrar a realidade germânica, aprenderam seus

costumes e suas linguagens, e procuraram transmitir toda sua tradição popular, sem

alterar, sem aprimorar a simplicidade.

Já a influência de Hans Christian Andersen foi que ele historiou múltiplos

tipos de literatura, dedicando-se a obras literárias voltadas para crianças e jovens

23

adolescentes. As suas histórias cativavam a todos e andaram por todo o mundo,

desde o século XIX até os tempos de hoje.

Em muitas de suas histórias, Andersen revela a sua própria infância,

mostrando as alegrias e tristezas de sua vida, desde menino até tornar-se homem.

Sua primeira obra foi "Histórias Maravilhosas", mas a que abriu caminho para a

imaginação e a criatividade das crianças foi "O menino moribundo".

1.2 Contribuições de Monteiro Lobato na Literatura Infantil Brasileira

Monteiro Lobato é considerado como o primeiro escritor brasileiro a se

preocupar com a literatura infantil, dando um real valor às crianças.

A escolha por Lobato justifica-se, em parte, pela importância desse autor

para a literatura brasileira, pelo fato de eleser bastante utilizado na educação e por

existirna escola pesquisada um grande número das obras desse autor.

José Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, no interior de São Paulo

em 1882, formou-se em Direito e atuou como promotor público e depois se tornou

fazendeiro devido à herança deixada por seu avô.

Em 1917 o grande escritor Monteiro Lobato comprou a Revista do Brasil,

e com isso deu origem às suas atividades editoriais, publicando muitas obras, e

dando sempre prioridade a autores novos.

Nos fins do século XIX a literatura infantil chegou ao Brasil quando a

preocupação educacional se tornou uma realidade. De caráter pedagógico, a

Literatura Infantil passou a ter um importante papel na sociedade, transmitindo

valores e normas com a finalidade de instruir e de formar o caráter da criança. De

acordo com Aguiar (2001, p.25):

A grande virada ocorreu com a publicação, em 1921, de A menina do narizinho arrebitado, por Monteiro Lobato, o qual revela a preocupação em escrever histórias para a criança numa linguagem compreensível e atraente para ela, objetivo plenamente alcançado pelo autor, cuja obra é um dos pontos mais altos da literatura infantil brasileira. Usando uma linguagem criativa, Lobato rompeu a dependência com o padrão culto: introduziu a oralidade tanto na fala das personagens como no discurso do narrador.

24

Monteiro Lobato em sua peculiaridade de editor trazia em suas

publicações uma nova visão para a história literária, com personagens direcionados

diretamente à educação e à cultura das crianças.

Cademartori (1986) afirma que a literatura infantil brasileira viveu por

muito tempo à sombra de Lobato. Monteiro Lobato foi um dos mais influentes

escritores brasileiros do século XX, pois seus livros ilustravam as questões sociais,

trazendo um olhar crítico e nacionalista sobre os problemas da sociedade brasileira

daquela época.

Segundo Cademartori(1986, p. 48):

O revolucionário na obra de Lobato ganha maior abrangência na literatura infantl que ele inaugura entre nós. Rompendo com os padrões prefixados do gênero, seus livros infantis criam um mundo que não se constitui num reflexo do real, mas na antecipação de uma realidade que supera os conceitos e os preconceitos da situação histórica em que é produzida.

Para Lobato, a literatura tem uma intenção social, pois na vida da criança

como meio de comunicação e socialização a linguagem é um instrumento valioso.

Para Cademartori(1986. p.51):

Monteiro Lobato [...]. Estimula o leitor a ver a realidade através de conceitos próprios. Apresenta uma interpretação da realidade nacional nos seus aspectos social, político, econômico, cultural, mas deixa, sempre, espaço para a interlocução com o destinatário. A discordância é prevista.

Lobato era um lutador convencido em transformar o mundo. Contudo, já

estava ficando cansado de lutar, pensou que só as crianças poderiam mudar o

mundo, e resolveu escrever para elas.

Em seus livros, Lobato tinham muitos atributos; o maior deles era a

capacidade de misturar o fantástico com o real, fazendo com que as pessoas

percebessem os acontecimentos por meio de sorriso. Em Narizinho arrebitado, seus

personagens mostram que a liberdade é de grande valor para a vida das crianças.

25

Historiar para a criança é voltar a ser criança e conhecer suas reais

dificuldades infantis, criando todo um ambiente exclusivo para proporcionar à criança

um deslumbramento com a leitura, exigindo que os livros infantis mexam com a sua

imaginação.

Lobato foi um verdadeiro educador intuitivo, fazendo com que as pessoas

entendessem as coisas através do riso. Nos seus livros, traz as questões morais,

conduzindo a criança a fazer boas ações, despertando nela o amor pela justiça,

estimulando o valor da verdade.

No ano de 2010, foi emitido um parecer classificando o livro As Caçadas

de Pedrinho, de 1933, como racista. Na análise, eram citados trechos da obra em

que a personagem Tia Nastácia, que é negra, era tratada de forma ofensiva. O

Conselho Federal de Educação endossou, na verdade, uma corrente acadêmica que

já há algum tempo vê sinais de racismo no tratamento dispensado à personagem ao

longo da obra infantil do escritor. Embora o Ministério da Educação tenha vetado o

parecer, alguns estados, como Mato Grosso e Paraíba, chegaram a tirar o livro do

currículo escolar.

O Ministério da Educação - MEC defende a liberdade de ideias e o

acesso dos estudantes a produções de Monteiro Lobato com a mediação de um

professor, dizendoque há que se ler Monteiro Lobato e discutir o porquê da

linguagem utilizada por ele.

1.3 A Importancia da Literatura Infantil na Sala de Aula

A literatura infantil traz uma lição de vida de forma imaginária,

contribuindo para a formação da criança no processo de construção da sua

personalidade.

A literatura infantil na sala de aula da Escola Francisco Reis pode

sensibilizar o aluno de forma a fazê-lo acreditar que o livro é o caminho para

encontrar prazer, descobertas, lições de vida e que pode utilizá-los para desenvolver

a capacidade de pensar e crescer. Através da literatura infantil e a interpretação feita

pelos alunos,as professoras podemlhes propiciar percepções, buscar diferentes

26

resoluções de problemas, despertando a criatividade, autonomia, e criticidade,

elementos necessários na formação da criança na sociedade atual. Por meio da

literatura, os alunos da Escola Francisco Reis satisfazem suas

necessidadesintelectual e emocional, sendo-lhe permitido assumir uma atitude

crítica em relação ao mundo.

A Instituição escolar hoje é vista como um estabelecimento com

responsabilidade distinta para a organização e exposição do conhecimento

socialmente legitimado, e por fazer a intermediação entre o homem e a sociedade.

Constitui-se, assim, num importante local de troca, de obtenção de informação e de

aprendizado.

Para os alunos, a sala de aula não é apenas um ambiente de

conhecimento, mas é também um lugar de socialização e de troca de experiências

entre professores e alunos. Um lugar que pode proporcionar diversas formas de

sentimento, de se expressar e de informar a realidade para os alunos.

De acordo com Cajal (2001,p.128):

Na sala de aula, alunos e professores constroem uma dinâmica própria, marcada pelo conjunto das ações do professor, pelas reações dos alunos às ações do professor, pelo conjunto das ações dos alunos, das reações do professor às ações e reações dos alunos, pelo conjunto das ações e reações dos alunos entre si, cada um interpretando e reinterpretando os atos próprios e os dos outros.

Portanto, nesse ambiente, educadores e educandos estão formando

conhecimento e aprendizagem por meio de uma metodologia sócio-interacional em

que ambos carecem interpretar as atuações dos diferentes para ter as suas próprias

consideradas adequadas;

Nessa perspectiva o Referencial Curricular Nacional (1998, v.1, p.32)

afirma que:

O âmbito social oferece, portanto, ocasiões únicas para elaborar estratégias de pensamento e de ação, possibilitando a ampliação das hipóteses infantis. Pode-se estabelecer, nesse processo, uma rede de reflexão e construção de conhecimentos na qual tanto os parceiros mais experientes quanto os menos experientes têm seu papel na interpretação e ensaio de soluções. A interação permite que se crie uma situação de ajuda na qual as crianças avancem no seu processo de aprendizagem.

27

Neste ambiente, o docente é o sujeito mediador da aprendizagem,

proporcionando à criança um espaço de confiança e liberdade para o seu

desenvolvimento.

Conforme se percebe, a literatura infantil ocasiona um aprendizado com o

uso da imaginação. A literatura infantil é um dos meios mais eficazes de

desenvolvimento do trabalho do professor.

Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil –

RCNEI(1998, p.143), afirma que as crianças aprendem de jeitos diferentes. É muito

importante que a escola trabalhe com a literatura, pois segundo esse documento:

Ter acesso à boa literatura é dispor de uma informação cultural que alimenta a imaginação e desperta o prazer pela leitura. A intenção de fazer com que as crianças, desde cedo, apreciem o momento de sentar para ouvir histórias exige que o professor, como leitor, preocupe-se em lê-las com interesse, criando um ambiente agradável e convidativo à escuta atenta, mobilizando a expectativa das crianças, permitindo que elas olhem o texto e as ilustrações enquanto a história é lida.

O RCNEI (1998, p.117), apresenta a literatura como uma das atividades

fundamentais no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança. O

mesmo documento afirma que:

A educação infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às quatro competências lingüísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever.

A literatura Infantil em sala de aula deverá ser planejada e concebida em

um contexto maior, em que a ação pedagógica esteja direcionada à formação de

leitores e sua interação com os demais saberes trabalhados na escola. Qualquer

ação pedagógica que envolva a Literatura Infantil no cotidiano escolar deve

considerar a cultura em que a criança está imersa.

Em meados de 1970 aparece a proposta de renovação da literatura

infantil, quando se passa a estudar a importância do incentivo da prática de leitura.

28

Por isso, hoje vendo a relevância deste gênero literário Abramovich(1997, p. 16), diz:

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias [...] Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser um leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descobertas e compreensão do mundo.

Na citação de Abramovich quero ressaltar a importância que é a

oportunidade de a criança ouvir muitas estórias. Em sala de aula têm um valor

maior, pois elas serão uma das ferramentas pedagógicas do professor para o

desenvolvimento do conhecimento infantil. O professor é o mediador do ensino e

aprendizado da criança, e necessitará despertar na criança a curiosidade..

A literatura infantil sempre esteve presente em nossas vidas, não contada

por autores renomados, mas pelos nossos pais, que muitas vezes utilizavam desse

recurso para nos fazer dormir. No entanto, essa ferramenta utilizada em sala de aula

é um ótimo instrumento para aquisição do conhecimento pelas crianças. O que

podemos observar em sala de aula é que a Literatura Infantil está sendo trabalhada

de maneira aleatória sem a mediação necessária para que o aluno seja um ser

crítico. Mas o que vem a ser Literatura Infantil? Segundo Coelho (2000

apudGregorin Filho, 2000, p.22).

Literatura é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização.

Na fala do autor acima, ele deixa explícita a relevância da Literatura

para o desenvolvimento da criatividade da criança.

A Literatura Infantil, lida ou contada é um caminho no qual as crianças vão

se envolvendo e se desenvolvendo de forma afetiva, cognitiva, utilizando o processo

imaginativo, fantasioso e escrito. A literatura permite à criança o direito de ser

criança sonhadora e que sabe questionar. Mas para que isso aconteça o autor

Bettelhein (2012,p.11) afirma que:

Para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Contudo, para enriquecer sua

29

vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções.

Por isso os contos infantis em sala de aula são relevantes para que a

criança se desenvolva, aprendendo de maneira prazerosa.

Conforme Meireles, (1984, p.77) a “Literatura Infantil, tanto oral como

escrita, possui um caminhão de comunicação humana, nos permite uma identidade

de formação e ensinamento, o mundo torna-se fácil permissível a uma sociedade

que tanto discute”.

A arte de contar estórias não pode acabar. Ela deve ser privilegiada

como ferramenta na vida escolar dos nossos filhos, sendo trabalhada não para

suprir o intervalo de tempo de uma atividade e outra, mas oportunizar à criança o

contato com o belo, com o imaginário.

30

CAPÍTULO II

METODOLOGIA

Neste capítulo são explicitados os procedimentos metodológicos

realizados no decorrer da presente pesquisa, e a delimitação do campo de sua

realização. São expostos os objetivos, a abordagem, tipo e participantes da

pesquisa, os procedimentos e instrumentos utilizados no processo de coleta de

dados, destacando-se a importância de cada um deles no processo. Segundo

Lakatos e Marconi (1987, p.15), "a pesquisa pode ser considerada um procedimento

formal como método de pensamento reflexivo que requer um tratamento técnico ou

científico, e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir

verdades parciais".

2.1 Objetivos da pesquisa

Compreende-se que a literatura infantil desenvolve não só a imaginação

das crianças como, também, admite que elas atuem como personagens, além de

provocar a expressão de ideias.

A pesquisa tem como objetivo geral Investigar como os professores

dos anos iniciais na escola municipal Francisco Reis trabalham a literatura infantil;

Assim, para a realização deste estudo e para alcançar este objetivo,

foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos.

Analisar o que pensam as professoras sobre a literatura infantil no

ensino fundamental;

Analisar as estratégias pedagógicas adotadas pelas professoras

envolvidas neste estudo sobre a literatura infantil;

Abordar alguns aspectos da história da literatura infantil, incluindo a

cultura brasileira.

31

2. 2 Abordagem e Tipo de Pesquisa

O presente trabalho baseia-se na abordagem qualitativa. A opção pela

pesquisa qualitativa justifica-se porque é ela que busca entender melhor um fenômeno

específico em profundidade. Günther (2006) diz que "a pesquisa qualitativa considera

cada problema objeto de uma pesquisa específica para a qual são necessários

instrumentos e procedimentos específicos". A mesma trabalha com descrições,

comparações e interpretações, participando do meio investigado não controlável,

favorece aos participantes a possibilidade de direcionar o rumo de pesquisa em suas

interações com o pesquisado. Minayo(1994, p.21-22), diz:

[...] ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo de relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Segundo Richardson (2008, p. 80), as pesquisas qualitativas podem:

Descrever a complexidade de determinado problema, analisar as interações entre as variáveis, compreender e classificar os processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudanças de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos.

O pesquisador, na abordagem qualitativa, participa do processo de

pesquisa e utiliza principalmente a comunicação, que possibilita um contato direto

com o sujeito da pesquisa favorecendo inúmeras interpretações, descobertas sobre

o objeto estudado. Segundo Alves-Mazzotti (2004, p. 132), o pesquisador entra

“como principal instrumento de investigação enecessidade de contato direto e

prolongado com o campo, para podercaptar os significados dos comportamentos”.

Já Gonsalves (2007), por sua vez, diz quea pesquisa qualitativa

preocupa-se com a compreensão, com a interpretação do fenômeno, considerando

o significado que os outros dão às suas práticas.

32

Desta forma a abordagem qualitativa busca dar conta daquilo que não

pode ser definido por meio dos números. Assim, essa abordagem trabalha com

dados que permitem compreender a conduta humana, ou seja, a sua realidade e

concepção em cada palavra falada ou escrita.

Segundo Bogdan e Biklen(1982 apud LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p.11): A

pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o

pesquisador como seu principal instrumento.

É neste sentido que procuro produzir meu trabalho,amparado nesta

abordagem de pesquisa que permite um melhor aprofundamento das informações,

considerando-se a possibilidade real de analisar com objetividade a partir dos

documentos consultados e também fazer numa perspectiva subjetiva nas entrevistas

realizadas como os sujeitos participantes do processo escolar analisado. Seu resultado

me ajudará no planejamento de ações coletivas e na produção de resultados que,

esperamos, sejam passíveis de generalização.

2. 3 Contexto da Pesquisa e Participantes

Bogdan e Biklen (1994) expressam que as ações dos sujeitos de

pesquisa podem ser melhor compreendidas ao serem observadas em seu ambiente

natural. Nesse aspecto, a pesquisa de campo que compõe este trabalho foi

realizada em uma escola da Rede Pública, na Escola Municipal Francisco Reis,

localizada na zona rural no Município de Carinhanha – Ba.

A Escola Municipal Francisco Reis está situada na Agrovila 15, na Rua

Chico Reis S/N no Município de Carinhanha, Estado da Bahia.

É uma instituição pública, bem conservada. Ela é limpa, com algumas

árvores ao seu redor. Instalada em uma rua com pouco acesso aos veículos, não

tem nenhum barulho por perto que possa vir a atrapalhar o bom desenvolvimento

das aulas.

A escola não possui espaço para atividades como arte,teatro emúsica. As

salas de aula estão organizadas conforme os matérias quea escola dispõe; que por

sinal, são bem reduzidos, ou seja, apenas o básico. A escola conta com apenas com

33

uma TV, um aparelho de DVD e um microssystem.

A instituição não possui laboratório de informática; tem apenas uma CPU

com cinco monitores, sem internet, que se encontram alojados na diretoria da

escola, por falta de espaço. Foi até construída uma sala com essa intenção

(laboratório), mas como a escola precisava de mais sala para as turmas de

Educação Infantil, foi cedido esse espaço para tal função.

A estrutura física da sala de aula é bem simples. Observa se que os

moveis são apenas mesas e cadeiras, mas adequadaà idade das crianças. As

paredes possuem alguns cartazes. A sala temtambém uma prateleira para colocar

os livros, porém a mesma é pequena, insuficiente para por os materiais para

trabalhar nas aulas.

O espaço para trabalhar não é grande e os materiais para o professor

trabalhar não sãosuficientes, por isso na maioria das vezesfica difícil fazer um bom

trabalho, mas os professores fazem o que podem e usam a criatividade para

diferenciar as aulas e descontrair os alunos.

A escola Municipal Francisco Reis atende uma clientela de 195 alunos.

Tem 14 funcionários, que estão distribuídos entre diretores, secretaria, professores,

vice diretor e serventes.

Os 195 alunos são distribuídos em 12 turmas nos períodos matutino e

vespertino. No período noturno tem uma turma de EJA 3a/4a série, uma turma do

Programa Alfabetiza Brasil e 4 turmas do Programa Todos Pela Alfabetização

(TOPA). Essas doze turmas do período diurno se dividem em: uma de Educação

Infantil (04 anos), duas de Educação Infantil (05 anos), duas de 1º ano, duas do 2º,

uma do 3º, duas do 4º e duas do 5º ano do Ensino Fundamental 1.

Por ser uma escola de pequeno porte, o número de professores se

restringe a sete (seis deles dobram o turno), trabalhando quarenta horas semanais;

dos sete, 2 tem Pedagogia, 1 Biologia e 3 estão cursando o nível superior

(Pedagogia) e apenas um tem ensino médio completo. Seis deles residem na

comunidade onde trabalham, e somente uma professora mora na sede

(Carinhanha).

A Equipe Gestora desenvolve um trabalho baseado na gestão

democrática, em que todos fazem parte do processo educacional e o relacionamento

entre os funcionários é estável, e o gestor faz encontros pedagógicos para despertar

a harmonia e alegria dentro do grupo.

34

A escola tem como prioridade trabalhar pela diminuição da reprovação

e do índice de abandono, realizando sempre a educação de qualidade.

Os alunos a quem essa escola atende são, na maioria, crianças vindas

de famílias de baixa renda, pouca escolaridade e expectativa de vida menor ainda. A

maioria da sua clientela vive em situação de risco social devido à falta de condições

básicas de saúde, saneamento, lazer e cultura e sobrevivem com uma renda baixa,

ou dependendo de programas como o Bolsa Família. O número de evasões é

considerado baixo. A escola necessita e aguarda atualmente uma reforma, visto que

suas dependências físicas encontram-se um pouco deterioradas. Mas, mesmo com

as dificuldades que enfrenta, através do trabalho em conjunto, a escola procura

proporcionar aos alunos um ambiente alegre e acolhedor.

Para a concretização deste trabalho de coleta de dados foram realizadas

entrevistas semi-estruturadas com professoras dos anos do Ensino Fundamental,

como também a observação das aulas, dando ênfase à inclusão da Literatura Infantil

no currículo escolar. Optou-se pela entrevista porque o entrevistador pode ficar cara

a cara com o entrevistado, permitindo esclarecer questões que ainda não foram

explicadas; já a observação possibilita uma visão e análise global das práticas

docentes.

Os participantes da pesquisa foram asprofessoras efetivas do Ensino

Fundamental da escola Francisco Reis.

35

2. 4 Procedimentos e Instrumentos de Pesquisa

Para coletar os dados e chegar aos objetivos necessários da minha

pesquisa, utilizei como instrumento a entrevista semi-estruturada, pois a mesma

permite uma adaptação no roteiro pré-estabelecido, dando liberdade para o

pesquisador fazer perguntas de acordo com as respostas e, assim, surgir uma maior

interatividade com os sujeitos a serem entrevistados.

Segundo Lakatos e Marconí (2001, p. 195) a entrevista é um encontro

entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de

determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional.

Uma das grandes vantagens da entrevista é que ela dá a oportunidade

para a obtenção de dados que não se encontram em fontes documentais e que

sejam relevantes e significativos, possibilitando atingir um grau de profundidade num

determinado assunto, esclarecendo questões que ainda não foram explicadas.

Os roteiros da entrevista foram destinados para as professoras dos anos

iniciais do ensino fundamental da Escola Francisco Reis. Estes sujeitos foram

escolhidos por serem atores que possuem informações relevantes para os objetivos

da pesquisa.

Com este roteiro buscou-se analisar como as professoras percebem e

trabalham a Literatura Infantil no Ensino Fundamental.

As 5 entrevistas realizadas com as professoras foram gravadas e

degravadas, permitindo assim, a análise das falas de caráter construtivo-

interpretativo.

Com objetivo de ter um contato direto com os sujeitos atuando na prática

e para poder ter uma melhor compreensão dos objetos estudados foi feita a

observação das aulas, dando ênfase à literatura infantil. Através desta parte da

pesquisa foi possível conhecer e entender a prática pedagógica de cada professora

bem como o envolvimento de cada uma delas com a literatura infantil.

Com relação à observação, Lakatos e Marconi (2001, p.190) afirmam que:

A observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar.

36

O projeto Político Pedagógico é a própria organização do trabalho

pedagógico escolar como um todo em suas especificidades, níveis e modalidades.

Veiga (2001, p.110) diz que o Projeto Político Pedagógico:

É um instrumento de trabalho que mostra o que vai ser feito, quando, de que maneira, por quem para chegar a que resultados. Além disso, explicita uma filosofia e harmoniza as diretrizes da educação nacional com a realidade da escola, traduzindo sua autonomia e definindo seu compromisso com a clientela. É a valorização da identidade da escola e um chamamento à responsabilidade dos agentes com as racionalidades interna e externa. Esta ideia implica a necessidade de uma relação contratual, isto é, o projeto deve ser aceito por todos os envolvidos, daí a importância de que seja elaborado participativa e democraticamente.

O Projeto Político-Pedagógico de uma escola deve, inicialmente, ser

entendido como um processo de mudança e de antecipação de futuro

estabelecendo princípios, diretrizes e propostas de ações que possam organizar,

sistematizar e dar significado às atividades desenvolvidas pela escola.

Diante disso, os dados analisados na presente pesquisa, foram colhidos

por meio de análise documental, de entrevistas semi-estruturadas e das

observações em sala de aula.

Os contatos com os sujeitos para a investigação foram realizados em

Novembro de 2012, na Escola Municipal Francisco Reis.

Os critérios de seleção utilizados foram:

a) Ser professor na Escola Municipal Francisco Reis;

b) Atuar como professora no Ensino Fundamental;

c) Aceitar participar da pesquisa;

2. 5 Análise Documental

De acordo com Lakatos e Marconi (2001, p. 168):

Na análise, o pesquisador entra em maiores detalhes sobre os dados decorrentes do trabalho estatístico, a fim de conseguir resposta às suas indagações e procura estabelecer as relações necessárias

37

entre os dados obtidos e as hipóteses formuladas. Estas são comprovadas ou refrutadas, mediante a análise.

Por surgirem em um determinado contexto, os documentos podem

complementar informações e/ou desvelar aspectos novos acerca de um problema

neste mesmo contexto.

O documento coletado para levantamentos, consultas e análises foi:

- Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola;

As informações obtidas na análise documental foram cruzadas com as

obtidas por meio das observações e das entrevistas semi-estruturadas, na etapa de

análise e interpretação de dados.

38

CAPÍTULO III

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Com o objetivo de analisar o uso da Literatura Infantil pelas professoras

dos anos iniciais do Ensino Fundamental da Escola Francisco Reis em Carinhanha –

BA, foi escolhido o método de Análise de Conteúdo que é entendido como técnica

que ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus

significados num nível que vai além de uma leitura comum.

Para levantar os dados necessários utilizei primeiro a observação da

prática pedagógica em sala de aula, em segundo a análise documental do Projeto

Político-Pedagógico da escola e, em terceiro, a entrevista com as professoras.

3.1 Análise das Observações da Sala de Aula

Para melhor compreensão dos objetos estudados, foram observadas

algumas aulas das professoras dos anos iniciais do ensino fundamental. Essa

observação tinha como objetivo perceber como as professoras trabalham a literatura

infantil na sala de aula.

Nesse período fui sempre acolhida por todos com extremo respeito e

carinho, as professoras estavam sempre dispostos a ajudar e partilhar as

experiências. Entretanto, estabeleci para essa etapa a carga horária de 20 horas

para observação e aproximação aos atores envolvidos, no intuito de identificar da

melhor forma os dados sobre a realidade da instituição em pesquisa.

No primeiro dia de observação, me apresentei como aluna do curso de

pedagogia da Universidade Aberta do Brasil pela Universidade de Brasília. Em

seguida falei da pesquisa e do objetivo que estou buscando desenvolver junto à

instituição. Fui recebida cordialmente pelos gestores e professoras que se

colocaram à disposição para qualquer dúvida e esclarecimento.

39

Também no primeiro dia de observação fui para a turma do 1º ano “A” do

período matutino da professora (1). Quando entrei na sala a professora me

apresentou à turma e informou qual era o meu objetivo ali.

Depois de alguns minutos a professora montou um pequeno teatro com

fantoches e contou a história “A bonequinha preta”. Após ter terminado com os

fantoches a professora levou as crianças para outra sala onde tinha televisão e um

DVD e passou o filme da bonequinha preta. Assim que o filme acabou todos

retornaram para a sala e a professora começou a fazer perguntas sobre a história.

Para terminar a aula a professora deua cada aluno uma folha com o desenho de

uma bonequinha e pediu que eles pintassem.

No mesmo dia, no período vespertino, visitei uma turma do 1º ano “B” da

professora (2). Ela pediu que eu me apresentasse para a turma, em seguida pegou

uma caixa toda decorada e começou a questionar os alunos e deixá-los curiosos.

Quando todos estavam ansiosos pela abertura da caixa a professora

abriu e mostrou o que tinha dentro: era um livro, “A bonequinha preta”. A professora

apresentou o livro para a turma, contou a história interpretando todos os

personagens. Em outro momento da aula ela colocou um filme para as crianças; o

filme era a mesma história do livro. Após o término do filme a professora começou a

indagar os alunos com questões referentes à história. Por fim ela distribuiu uma

folha em branco e pediu que cada um desenhasse a bonequinha preta. Durante toda

a aula as atividades foram voltadas para a história da bonequinha preta.

40

No meu segundo dia de observação fui para uma turma do segundo 2º

ano da professora (3). A professora me apresentou para a turma. Em seguida pegou

uma caixa contendo vários livros infantis, pediu que todos se sentassem em circulo.

Ela despejou todos os livros no centro do circulo e pediu que os alunos entrassem

em acordo e escolhessem apenas um livro. Depois de muita confusão os alunos

chegaram a uma escolha, “Os bichos da vó” (2010) de Lina Tâmega Peixoto.

Após a escolha a professora perguntou aos alunos porque eles tinham

escolhido aquele livro, e os alunos responderam dizendo que o livro era novo na

caixa e que eles nunca o tinham visto antes, e também porque falava de bichos.

A professora começou a apresentar o livro para os alunos, autor, ano de

publicação, editora e outras coisas que ela achou necessário. No segundo momento

a professora contou a história para os alunos, fazendo sempre interpretações das

falas de cada personagem, prendendo a atenção de todos.

Após ter terminado de contar a história a professora pediu que os alunos

fizessem um texto coletivo recontando a história, usando outros personagens.

Em meu terceiro dia de observação fui para a sala do 4º no período

matutino da professora (4). Cheguei 10 minutos mais cedo e a professora já estava

lá decorando a sala para o momento da aula.

Após terem chegado todos os alunos a professora corrigiu a atividade que

tinha passado para casa, fez a chamada e em seguida pegou uma caixa decorada e

começou a deixar os alunos curiosos para saber o que tinha dentro da caixa. Os

alunos citaram nomes de muitas coisas, menos o livro.

A professora pediu que todos os alunos deitassem no tapete que estava

num canto da sala e que eles fechassem os olhos. A professora começou a contar a

história; ela conseguia interpretar todas as vozes dos personagens, e também usou

de vários artifícios para dar vida ao momento de contação de história: batia na mesa,

balançava pequenos galhos de árvores que levou para a sala e até um ventilador na

hora que o lobo soprava a casa dos três porquinhos. Quando chegou no final da

história, a professora parou de contar e pediu que cada criança criasse um fim para

a história.

Após ter criado um fim para a história, cada aluno leu a sua produção e

em seguida a professora contou o fim da história.

41

Em outro momento da aula ela levou os alunos para uma sala onde tinha

televisão e DVD e passou o filme dos três porquinhos para as crianças; eles se

divertiram muito.

No quarto dia de observação fui para a sala do 5º ano no período

matutino com a professora (5). Como de costume me apresentei para a turma e

expliquei qual era o meu objetivo. Em seguida a professora pegou uma sacola

decorada contendo vários livros infantis e espalhou sobre a mesa e sorteou o nome

de um aluno e pediu que ele escolhesse um livro.

O livro escolhido foi “A Bruxa Fofim” da autora Sylvia Orthoff. A professora

começou a apresentar o livro para os alunos, autor, ano de publicação, editora e

outras coisas que ela achou necessário. No segundo momento a professora contou

a história para os alunos fazendo sempre interpretações das falas de cada

personagem, prendendo a atenção de todos.

Quando terminou a história a professora pediu que os alunos

coletivamente dessem outro fim para a história.

Durante esses dias de observação fui estabelecendo um contado direto

com a situação e com o tema que me propus estudar.

Observei 5 salas de aula, uma de cada professor entrevistado, com

duração de 4:00 horas cada, pois neste dia todas as atividades eram voltadas para a

literatura infantil. Elas declararam que as literaturas infantis são sempre bem aceitas

pelas crianças. Para essas professoras, a integração dessas atividades na prática

pedagógica é extremamente favorável à aprendizagem dos alunos, pois além de,

motivá-los torna a aula mais interessante, permitindo que os conteúdos sejam

facilmente assimilados.

42

É de extrema importância a aplicação desses recursos na sala de aula,

pois eles contribuem para que os discentes se interessem pelas aulas oferecidas,

contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem, e garante uma sala de aula

dinâmica e com maior facilidade de comunicação. A literatura infantil na educação

não só irá prender as crianças na sala de aula, mas promover um encantamento por

parte dos mesmos pela escola, contribuindo para que aconteçam mudanças

positivas na pratica pedagógica, estimulando os alunos a gostar de estudar.

Um ponto negativo que notei durante a observação na sala de aula foi

que quatro de cinco professoras não criaram nenhuma situação de leitura para o

desenvolvimento da criança. Apenas a professora (4) do 4º ano pediu que as

crianças produzissem o final da história e lessem o que tinham produzido.

Sabemos que a literatura é uma ferramenta que permite ao professor

ensinar o aluno a ler, favorecendo na formação de um leitor crítico. Com isso, o

quanto antes a criança tiver contato com os livros, mais ela compreenderá o encanto

que a leitura produz e maior será a possibilidade de ser, futuramente, um individuo

leitor.

Consideramos a leitura como condição essencial para o indivíduo

enfrentar as exigências do mundo contemporâneo e ter acesso às informações

necessárias a seu cotidiano, pois para participar de uma sociedade democrática é

preciso ter informações que possibilitem as tomadas de decisões, a opção

consciente e a participação no debate sobre as questões que afetam a todos.

Percebemos também que a leitura é a ferramenta essencial para a

participação nas políticas sociais, pois a verdadeira leitura nos leva a ouvir, criticar,

expressar ideias, ler e compreender diferentes tipos de textos e aprimorar nossa

capacidade nas tomadas de decisões. Mas a leitura não é simplesmente a

decodificação de palavras sem a compreensão desse contexto.

É muito importante que a literatura infantil seja implantada na sala de

aula, pois além do ensino de valores éticos, a literatura infantil abre caminhos para o

prazer, emoção e pensamento crítico.

É importante que o professor empregue em sua prática pedagógica o

hábito da leitura com a literatura infantil, ajudando na formação de leitores.

A leitura em sala de aula não deve ser feita só pelo professor, mas

também pelos alunos, pois é essencial que todos manuseiem livros e sintam o gosto

e o prazer em ler.

43

3. 2 Relato da Análise Documental do Projeto Político-Pedagógico

Para a realização deste trabalho conversei com a direção da escola e

apresentei o projeto de minha pesquisa, pedindo a permissão para ter acesso ao

Projeto Político Pedagógico da escola.

Sendo este um documento riquíssimo para a realização da minha

pesquisa, busquei fazer um estudo detalhado, para poder analisar o trabalho

pedagógico e as concepções de educação em relação à literatura infantil na

instituição.

O Projeto Político Pedagógico é a própria organização do trabalho

pedagógico escolar como um todo em suas especificidades, níveis, e modalidades.

O PPP visa contribuir para estabelecer novos paradigmas de gestão e práticas que

correspondam às necessidades e aos anseios de todos os que participam do

cotidiano escolar. É um documento que não se reduz à dimensão pedagógica, e sim,

clareador da ação educativa e da escola em sua totalidade.

3. 2. 1 Trabalho Pedagógico

O documento defende que o trabalho pedagógico desenvolvido na escola

deve ser crítico e reflexivo, possibilitando a todos um ensino de qualidade, onde a

comunidade deverá repensar a todo instante o seu papel pedagógico.

A escola vai trabalhando no sentido de formar cidadãos conscientes e

críticos, capazes de compreender a realidade, atuando na busca de superação das

desigualdades e da promoção do respeito humano.

3. 2. 2 Concepções de Educação

O processo educacional em que acreditamos, fundamenta-se na

convicção de que cabe à escola não apenas transmitir conhecimentos que habilitem

44

o educando para progredir no trabalho e em estudos posteriores, mas sim, preparar

seus estudantes para o exercício pleno da cidadania como agentes de

transformação.

A concepção que o documento defende tem como foco priorizar os

conhecimentos historicamente acumulados, a cidadania e a cultura, buscando o

desenvolvimento do educando, formando alunos críticos que desenvolvam valores

morais, cívicos e culturais, valorizando o conhecimento através da cultura.

Analisando o PPP ficou claro que este documento não trata da questão

da literatura infantil, mas dos conteúdos que a literatura de certa forma traz para

dentro da escola e para a educação dos alunos a quem aescola atende.

A Escola Municipal Francisco Reis – Educação Infantil e Ensino

Fundamental tem como premissa implementar ações com práticas escolares que

favoreçam a aprendizagem a todos aqueles que aprocuram, trabalhando com

Projeto de Rodinha de Leitura, onde cada professora adequa esse projeto à sua

turma.

Os professores empenham-seem conferir às suas aulas a indispensável

contextualização, buscando a identificação dos conteúdos ministrados com a

realidade imediata vivenciada pelos alunos.

Diante disso, podemos perceber que a Escola Municipal Francisco Reis

privilegia conteúdos que trabalham o humano, a vida, a realidade e as necessidades

dos alunos. Considerando o educando não como efeito da ação de educador, mas

sim, como agente do processo educacional, com capacidade de ter ideias e

iniciativas próprias.

Com isso, os professores assumiram o compromisso de desenvolver suas

práticas pedagógicas de forma que estimulem e desafiem os alunos na apreensão

do conhecimento, produzindo sempre a formação humana.

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3. 3 Análise das Entrevistas com os Professores

Para a realização desta etapa foram entrevistadas cinco professoras no

intuito de perceber a visão dessas sobre o trabalho com a literatura infantil. Foram

elaboradas nove questões que tiveram também como temática a literatura infantil.

Tive a princípio dificuldade em realizar as entrevistas, pois todos estavam

fechando a unidade e preenchendo relatórios e diários, e por isso encontrei muita

dificuldade de marcar entrevistas com cada professora. Diante disso, foi necessário

voltar à escola por várias vezes até conseguir entrevistar as cinco professoras. Mas

no final, deu certo.

Na primeira questão, procurei saber o que é a literatura infantil para o

professor. E obtive as seguintes respostas:

“A literatura infantil é o que há de mais real e próximo do mundo da fantasia dos pequenos, ela sem dúvida passa ensinamentos morais, mas acima de tudo colabora para a formação ética e psicológica da criança”. (professor 1) “A literatura infantil é tudo aquilo que demonstra interesse para a criança e se torna de grande valor na fase adulta”. (professor 2) “A literatura infantil é o que há de mais bonito na educação das crianças”. (professor 3) “É um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem e se relacionar com as artes da gramática, da expressão e da poética”. (professor 4) “É uma porta que se abre para as crianças para o mundo da fantasia”. (professor 5)

Com base nas respostas as professoras deixam claro que a literatura

exerce papel fundamental na formação das crianças, sendo um rico instrumento

para a formação do cidadão crítico. Zilberman (1982, p.22) afirma que a literatura

infantil “assume traços educacionais, fazendo-se útil à formação da criança e

capturando-a efetivamente ao transformar o gosto pela leitura numa disposição para

o consumo e para a aquisição de normas”.

Sendo assim, a literatura infantil quando utilizada como estratégia e/ou

metodologia de ensino viabiliza a efetivação de uma aprendizagem ativa, interativa,

dialógica e significativa.

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Em conformidade com esse posicionamento, entende-se que a criança

que entra em contato com as histórias infantis desenvolve seu imaginário, tornando-

se, pouco a pouco, um leitor em potencial. Nesse contexto, o mediador terá papel de

destaque na promoção da leitura, pois nenhum conhecimento será construído

sozinho.

Em uma segunda questão perguntei sobre em qual (is) momento (s) o

livro infantil está (esteve) presente na sua aula? As histórias fazem parte do

planejamento, ou são contadas para diversão nos momentos de lazer? Os

professores responderam:

“Sempre. Porque faz parte do planejamento, pois ao trazer a literatura infantil para a sala de aula, o professor estabelece uma relação dialógica com o aluno, o livro, sua cultura e a própria realidade”. (professor 1)

“Os livros infantis estão sempre presentes nas minhas aulas; a literatura infantil é de fundamental importância, tanto na minha vida quanto na vida dos meus alunos; sendo trabalhada e dramatizada em algumas ocasiões de lazer escolar e explorada nas aulas diárias”. (professor 2)

“No cantinho da leitura e quando alguma criança traz um livro ou um filme em especial de casa”. (professor 3) “No momento do cantinho da leitura, faz sim parte do meu planejamento”. (professor 4)

“Está sempre presente, pois é planejada uma por semana com o tema literatura infantil”. (professor 5)

Analisando as respostas, percebe-se que esta atividade tem sido

desenvolvida para ajudar na formação da criança para o gosto e o prazer de ler,

sendo bem planejada.

Cabe, então, as professoras propiciarem oportunidades no espaço

escolar para que as crianças possam vivenciar os enredos, as tramas e as fábulas

presentes nas produções literárias infantis.

Na terceira questão foi perguntado sobre qual é a importância da literatura

infantil na sala de aula para as professoras. Elas responderam:

“Além de contar ou ler a história, ela cria condições paraque a criança trabalhe com a história a partir de seu ponto de vista, trocando opiniões”. (professor 1)

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“A literatura infantil faz com que a criança viaje no mundo da imaginação, até porque todas as crianças têm o seu mundo de fantasia, o faz de conta. Na sala de aula a mesma é voltada toda atenção tanto nos vídeos, músicas, livros, dentre outros, resgatando valores através da literatura infantil”. (professor 2) “A literatura é sempre bem vinda em minhas aulas, ela possibilita muito a socialização entre as crianças”. (professor 3) “Ela possibilita o processo de socialização através da comunicação”. (professor 4) “Trabalhar com a literatura infantil é muito prazeroso, pois ela faz os meus alunos viajarem pelo mundo da fantasia”. (professor 5)

Candido (1972) afirma que a literatura permite ao homem conhecer o

mundo, satisfazer suas necessidades pedagógicas,pois o convívio com o livro e com

o imaginário da literatura ajuda a formar a sua personalidade, abrindo caminhos para

novas descobertas.

Nessa compreensão sobre aprendizagem, a atuação do professor é

fundamental para o desenvolvimento da criança, uma vez que é no estabelecimento

das interações sociais no âmbito do espaço escolar que se dá a mediação entre o

universo de conhecimentos produzidos pelo mundo adulto e a formação de

conceitos na infância.

Percebe-se nas falas das professoras e do autor que a literatura infantil

desenvolve não só a imaginação das crianças, como também contribui no

desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança.

Na quarta questão, perguntei a elas com que frequência utilizavam a

literatura infantil para a turma? Segundo elas:

“Diariamente, através de rodinhas de leitura”. (professor 1) “A literatura tem frequência fundamental na escolaridade dos meus alunos, pois a mesma faz parte da metodologia trabalhada em sala de aula”. (professor 2) “Trabalho uma vez por semana, mas sempre que um aluno traz algo sobre literatura de casa dou um jeito de incluir nas atividades”. (professor 3) “Trabalho três vezes na semana”. (professor 4) “Ela está sempre frequente, pois tenho o cantinho da leitura que é trabalhada uma vez por semana”. (professor 5)

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Segundo Pires (2000, p 34):

A literatura infantil torna-se, deste modo, imprescindível. Os professores dos primeiros anos da escola fundamental devem trabalhar diariamente com a literatura, pois esta se constitui em material indispensável, que aflora a criatividade infantil e desperta as veias artísticas da criança.

Diante disso, a literatura infantil nas mãos dos professores é um

instrumento que contribui para situações de aprendizagens e para a construção do

conhecimento.

Dando continuidade, na quinta questão perguntei qual era o tipo de

literatura infantil que mais prende a atenção dos alunos. Elas responderam:

“Contos de fadas”. (professor 1) “O Sitio do Pica-Pau-Amarelo, foi uma das mais exploradas, a mesma foi trabalhada por três meses. Eles adoram histórias de aventuras”. (professor 2) “Eles gostam de todas, mas historinhas de animais são as preferidas deles, principalmente lendas”. (professor 3) “Historinhas em quadrinho, lendas, contos de fadas, princesas, as que levam a desenvolver a imaginação”. (professor 4) “O que os meus alunos mais gostam é dos contos de fadas; eles ficam se imaginando príncipes e princesas”. (professor 5)

Analisando as respostas é possível perceber que as professoras utilizam

de vários tipos de literatura infantil, pois os seus alunos têm um repertório imenso de

gosto por histórias.

Cademartori (1986, p 22 a 23) diz que a obra literária recorta o real,

sintetiza-o e interpreta-o através do ponto de vista do narrador ou do poeta. Sendo

assim, manifesta, através do fictício e da fantasia, um saber sobre o mundo e

oferece ao leitor um padrão para interpretá-lo.

Então, quando os professores conseguiram narrar a história e despertar

emoções, as crianças estão vivenciando no mundo da imaginação, e isso faz com

que haja desenvolvimento da sensibilidade, da memória e da fantasia.

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Na sexta questão perguntei se elas utilizam de algumas metodologias

especificas ou projeto que venham a utilizar a literatura infantil em sala de aula: Elas

responderam que:

“Sim. Trabalho com projetos e rodinha de leitura. Pois a criança que desde muito cedo entra em contato com a obra literária escrita para ela terá uma compreensão maior de si e do outro”. (professor 1) “O método usado é a produção de bonecos fantoches, peça teatral e isso prende muito a atenção e o interesse dos alunos. Também utilizo o vídeo, que chamamos de sessão pipoca”. (professor 2) “Sim, toda a escola trabalha com projetos de rodinha de leitura, e aí cabe ao professor se adequar à sua turma”. (professor 3) “Metodologias especificas para cada atividade, e também trabalho com projetos de cantinho da leitura”. (professor 4) “Sim, temos projeto de rodinha de leitura, aí fico diversificando as minhas aulas com fantoches de meia e outros tipos de aula”. (professor 5).

Sobre os aspectos da metodologia, as respostas das professoras foram

positivas, usando de metodologias especificas e projetos como forma de organizar e

realizar as atividades, respeitando sempre as necessidades de cada criança.

É pertinente que as professoras introduzam em suas metodologias a

literatura infantil, pois ao ter contato com a mesma as crianças sentem-se capazes

de criar e dominar suas emoções, contribuindo para que elas busquem diferentes

caminhos.

Algumas professoras relataram ler com antecedência os livros para

procurar aproveitá-los como recursos auxiliares para abordar temas que já

estivessem em pauta, e também que retomavam os temas lidos em outros

momentos.

Na sétima questão, foi perguntado sobre os critérios de elas utilizavam

para a escolha das histórias contadas, lidas ou exibidas em filme. Segundo elas:

“Para não ficar enfadonho eu sempre mudo, às vezes é contada outro dia é lida, e vídeos também, pois além de ouvir a história eles vê veem e conhecem os personagens ”. (professor 1) “São atividades escolhidas por partes e momentos; durante o planejamento as atividades a serem trabalhadas são escolhidas. Mas procuro sempre pela que eles gostam”. (professor 2)

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“Procuro sempre por aquelas que proporcionam emoções em meus alunos, aquelas que sabem que eles gostam, mas procuro sempre trazer algo novo para ele”. (professor 3) “Bons livros, vídeo que proporcione sentimentos e emoções, despertando a curiosidade”. (professor 4) “Procuro diversificar sempre as minhas escolhas, pois acredito que para se tornar um bom leitor no futuro eles precisam gostar de muitas coisas quando crianças, mas sempre procuro escolher aquelas que proporcionam sentimentos”. (professor 5)

Os dados obtidos nas entrevistas indicam que as professoras consideram

de fundamental importância as escolhas das histórias, pois essas escolhas

proporcionam uma ampliação de possibilidades de atividades e de sentimentos nos

alunos.

Segundo as professoras, a escolha dos livros era realizada considerando

principalmente a faixa etária à qual seriam destinados, como também os temas

presentes nas obras. Algumas delas afirmaram escolher os livros após terem

observado neles principalmente os seus conteúdos, as figuras, ou ainda a sua parte

textual. Outras relataram priorizar o objetivo da atividade e focar especificamente na

faixa etária, para poder avaliar quais características dos livros seriam mais atrativas

para as crianças.

Para Ostetto (2000, p. 297).

Conta, conta, contador! Conta a história que eu pedi. Quando as crianças tem proximidade com as histórias e os contadores, os pedidos vem. E o educador deve receber esses pedidos com alegria, mergulhando na paixão de redescobrir os contos. O jeito de contar será uma conseqüência do desejo de ler histórias para as crianças. No início pode ser tímido, mas depois tende a crescer.

Na oitava questão, procurei saber se elas utilizavam outros recursos ou

mecanismo para estimular a contação de histórias, ou somente livros. Elas

responderam que:

“Sim, TV, DVD, som e um ambiente acolhedor”. (professor 1) “Sim, como disse anteriormente uso muito o teatro de fantoches e o que eles mais gostam é a sessão Pipoca, onde uso o filme”. (professor 2)

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“Procuro deixar o ambiente próximo da história contada, pra dar mais realidade”. (professor 3) “Faço com que o ambiente fique mais atraente”. (professor 4) “Faço uso de muitos recursos, para isso, uso TV, DVD, som, fantoches e um ambiente que atrai a atenção da criança”. (professor 5)

Abramovich (1997, p. 21), aconselha:

[...] é bom que quem esteja contando crie todo um clima de envolvimento, de encanto... Que saiba dar pausas, criar intervalos, respeitar o tempo para o imaginário de cada criança construir seu cenário, visualizar seus monstros, criar seus dragões, adentrar pela casa, vestir a princesa, pensar na cara do padre, sentir o galope do cavalo, imaginar o tamanho do bandido e outras coisas mais [...]

As docentes demostram que a sala de aula neste momento deve

proporcionar um agradável ambiente, para que possam fluir no momento mais

adequado uma boa audição e visualização de imagens. Elas também utilizam de

outros recursos para que as aulas não fiquem cansativas, usando a criatividade.

O hábito de contar histórias para crianças parece ocupar um papel de

destaque nas ações educativas, e deve ser visto como uma estratégia pedagógica

importante para a promoção da leitura e, consequentemente, no desenvolvimento

educacional infantil.

Na nona e ultima questão, perguntei o que elas fazem com as crianças

antes e após a contação de história. Obtive as seguintes respostas:

“Antes eu faço o relaxamento para que se concentrem na história, e depois a reflexão, o reconto da história, pois o conteúdo de uma obra infantil precisa ser de fácil entendimento pela criança que a lê”. (professor 1) “Já feita a escolha da história começo a falar sobre a mesma, assim dou a oportunidade para que eles possam falar também, depois faço uma reflexão para que a atividade não fique aleatória”. (professor 2) “Primeiro eu faço um relaxamento com toda a turma, para que eles percam a vergonha que trazem de casa, depois sempre tenho uma atividade a ser passada, na maioria das vezes são questões feitas sobre a história, mas são perguntas voltadas para a nossa realidade”. (professor 3)

52

“Coloco as crianças em rodinha para que se desinibam aos pouco. Após a contação peço para criar um novo final para a história e recontar a história no dia seguinte; outras vezes peço para produzir texto a partir do tema, produção de uma nova história”. (professor 4) “Procuro deixá-los curiosos, fazendo suspense sobre a história. Depois fico indagando com questões sobre a história e da realidade de vida dos meus alunos. Por fim, uma atividade voltada pra história”. (professor 5)

Analisando as respostas das professoras, podemos ver que neste

momento as crianças eram constantemente seduzidas a procurar soluções para as

indagações antes e após a contação de histórias, interagindo umas com as outras e

com a própria docente.

É fundamental trabalhar essa rotina na sala de aula, para que a partir dela

possa ser trabalhado e desenvolvido o que as crianças já sabem e o que podem

aprender.

Vemos então que a literatura infantil demonstra ser um caminho seguro e

eficiente para que a escola alcance seus objetivos, tornando a prática pedagógica

mais dinâmica e o aluno mais participativo nas aulas.

.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho de pesquisa ficou constatada a realidade de todo o

processo de ensino-aprendizagem no que diz respeito à inclusão da Literatura

Infantil no currículo escolar da escola pesquisada, bem como os pontos positivos e

negativos.

Para que a educação seja eficiente é preciso que os fatores que devem

trabalhar na sua construção tenham o mínimo de problemas possível, de uma forma

que haja harmonia entre todas as áreas de trabalho e funções, bem como as ideias

de todos envolvidos, para não afetar o aprendizado dos alunos.

A escolha desse campo de pesquisa se deu pelo fato das grandes

indagações de comoestá sendo incluída a literatura infantil nos anos iniciais do

Ensino Fundamental da escola Francisco Reis na Agrovila 15 no município de

Carinhanha-BA.

E para responder essa indagação escolhi cinco salas de aula do 1º ao 5º

ano do Ensino Fundamental na mesma escola.

Com o objetivo de conferir os problemas imaginados existir na escola, foi

feita a pesquisa e ficou constatado que todas as professoras estão incluindo a

literatura infantil nas disciplinas curriculares, inclusive através da pedagogia de

projetos. As professoras mencionam que nem todos os que tentam estão

conseguindo fazer bem feito. Mas uma parte demonstra conhecimento sobre as

metodologias indicadas pelas novas propostas de ensino.

Um ponto negativo que notei durante as visitas na sala de aula foi que

quatro de cinco professoras não criaram nenhuma situação de leitura para da

criança

Diante dessa realidade, é preciso que haja uma mudança significativa no

ensino da leitura, e que façamos uma mobilização em torno da mesma. Afinal, a

leitura é muito mais do que um instrumento escolar, é um passaporte para a entrada

na cultura escrita.

É importante ressaltar que não se concebe uma cidadania plena sem a

utilização da leitura. E ler na escola é ler para se inserir na sociedade letrada. A

leitura não é somente a apropriação de um conjunto de práticas culturais que

envolvem compreensão do mundo diferente daquela dos que não têm acesso

54

aleitura. A leitura é a ferramenta essencial para a participação nas políticas sociais,

pois a verdadeira leitura nos leva a ouvir, criticar, expressar ideais.

A leitura, nos dias de hoje, tem um papel tão significativo na sociedade

que podemos dizer que ela cria novas identidades, novas formas de inserção social,

novas maneiras de pensar e de agir. No entanto, é preciso lembrar que o domínio da

leitura envolve uma série de habilidades complexas que precisam ser desenvolvidas

progressivamente.

É difícil formar bons leitores se não conhecemos as metodologias

adequadas para essa prática.

A leitura está sempre presente em nosso cotidiano, mas infelizmente

alguns docentes não a reconhecem como instrumento principal para o

desenvolvimento intelectual, como a peça chave para o exercício da cidadania.

A escola e o professor devem andar juntos para que possam dar

oportunidade as crianças, dando a elas a capacidade de pensar, criar e recriar suas

próprias leituras.

A literatura infantil é um artifício riquíssimo, e, portanto não deve ser

abandonado pelos professores, nem empregado sem planejamento. Ela é um vasto

campo de estudos que exige do professor conhecimentos para saber adequar os

livros às suas crianças, gerando um momento propício de prazer e estimulação para

a leitura.

A história infantil pode despertar na criança o desejo pela leitura que

consequentemente irá desenvolver a sua capacidade de idealizar e imaginar, entre

outras, fazendo com que ela imagine e conheça ambientes e situações, permitindo-

lhe ausentar-se do mundo em que vive por meio do universo literário.

55

PARTE III – PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS

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PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS

Quem nunca mudou com o tempo? Aos poucos você vai deixando de escutar certas músicas, de usar certas roupas, de falar com certas pessoas. Mudar faz parte do ciclo da vida, embora a essência seja sempre a mesma. Quando encontrar um obstáculo grande na sua vida, não desanime ao passar, pois com o tempo ele se tornará pequeno. Não porque

diminuiu, mas porque você cresceu.

http://meusentimentobipolar.blogspot.com.br/2011/09/quem-nunca-mudou-com-o-tempo-

aos-poucos.html: Acessado em 20 de maio de 2012.

A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos

sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua

sociedade.

Ao findar o curso de Pedagogia tenho como meta atuar na minha área de

formação, e para alcançar essa meta pretendo prosseguir com meus estudos, pois o

aprendizado ao longo da vida é uma meta que devemos estar sempre buscando.

Inicialmente começarei com cursos de pouca duração, no entanto, de boa

qualidade para que assim eu possa aprofundarmeus conhecimentos na área da

educação.

Após essa etapa buscarei fazer uma pós-graduação em algo voltado para

a educação infantil, para que eu possa com meus conhecimentos aprimorar minhas

metodologias de trabalho, atuando cada vez melhor e, consequentemente, tendo

maiores possibilidades de conseguir melhores resultados.

O pedagogo deve atender as reais necessidades das crianças, sendo

criativo, flexível, atendendo à individualidade e ao coletivo. Deve constituir-se num

eixo organizador da aquisição e da construção do conhecimento, a fim de que a

criança passe de um patamar a outro na construção de sua aprendizagem.

Concomitantemente com esses cursos buscarei colaborar com a

educação de crianças da minha comunidade, de origem popular, que precisam de

apoio para serem alfabetizadas. Essas crianças têm o direitonão apenas de estarem

matriculadas numa escola, mas de aprender, de ter acesso ao conhecimento

acumulado pela humanidade.

57

REFERÊNCIAS

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58

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APENDICE

APENDICE

Roteiro para entrevista com as professoras

Universidade de Brasília – UnB Faculdade de Educação – FE Curso de Pedagogia a distância

Identificação da Escola

Nome da escola: _______________________________________________________

Localização: ___________________________________________________________

Dados do professor: Formação: ( ) Ensino Médio ( ) Graduação ( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( ) Cursando

Ano: _________Data da entrevista:___/__ /___

Nome do entrevistado______________________________________________

Tempo de exercício na docência:__________ Sexo: ( ) F, ( ) M

1 - Para você o que é Literatura Infantil?

2 - Em qual (is) momento (s) o livro infantil está (esteve) presente na sua aula?

Elas fazem parte do planejamento, ou são contadas para diversão nos

momentos de lazer?

3 - Para você, qual é a importância da literatura infantil na sala de aula?

4 - Com que frequênciavocê utiliza a literatura infantil para sua turma?

5 -Qual é o tipo de literatura infantil que prende mais a atenção dos seus alunos?

60

6 - Você utiliza alguma metodologia especifica ou projeto que venha a utilizar a

Literatura Infantil em sala de aula?

7 - Quais são os critérios que você utiliza para a escolhida das histórias contadas,

lidas ou exibidas em vídeo?

8 - Você utiliza algum outro recurso ou mecanismo para estimular a contação de

histórias, ou somente os livros?

9 - O que geralmente você faz com as crianças antes e após a contação de

histórias?