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- 0 - UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB PLANALTINA FUP LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO LEdoC ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS A Trajetória de luta por educação no Assentamento Renascer PLANALTINA DF 2014

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- 0 -

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA ndash UNB

FACULDADE UNB PLANALTINA ndash FUP

LICENCIATURA EM EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash LEdoC

ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS

A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer

PLANALTINA ndash DF

2014

- 1 -

SUELI DE MARIA XAVIER PEREIRA

A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS

A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de Brasiacutelia-UnB como requisito parcial para a obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de licenciado em Educaccedilatildeo do Campo

Orientadora Profordf Drordf Eliene Novaes Rocha

PLANALTINA DF

2014

- 2 -

SUELI DE MARIA XAVIER PEREIRA

A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS

A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de Brasiacutelia-UnB como requisito parcial para a obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de licenciado em Educaccedilatildeo do Campo

Aprovado em ______ de _______________ de 2014

___________________________________________

Profordf Drordf ELIENE NOVAES ROCHA Professora Orientadora FUPUnB

___________________________________________

JULIANA ROCHET (FUBUNB) Professor Avaliador

UnB

___________________________________________

SILVANETE PEREIRA DOS SANTOS Professor Avaliador Externo

Universidade Catoacutelica de Brasiacutelia

PLANALTINA- DF 2014

0

AGRADECIMENTO

Em primeiro lugar ao meu bom Deus porque sem ele eu natildeo sou nada

Ao meus queridos filhos Janaina Pereira Dias e Rodrigo Pereira Dias que me deram muito apoio forccedila e coragem nos momentos difiacutecil no decorrer desses quatro anos de estudo Ao meu esposo Paulo Viniacutecio Alvim Cruz que me deu todo seu amor e apoio nos momentos mais difiacutecil que venho enfrentado nos uacuteltimos anos A minha grande amiga e irmatilde de coraccedilatildeo Mariza do Carmo Azevedo por sempre ter acreditado em mim no decorrer desses 25 anos de amizade sincera A minha matildee Rosalda e meus e meus irmatildeos e irmatildes que me admiram muito por ser a primeira da famiacutelia da minha geraccedilatildeo a concluir um curso superior apesar de todas as dificuldades A minha orientadora professora DrordfEliene Novaes Rocha por ter acreditado que eu sou capaz de realizar esse trabalho mesmo em meio a muitos problemas que vinha enfrentando As professoras Juliana Rochet e Silvanete Pereira dos Santos que me avaliaram e aprovaram na banca examinadora Ao Diretor da FUP Antocircnio Pasquetti por ser um grande lutador em defesa do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo A coordenadora da LEdoC professora Drordf Eliete Aacutevila Wolff por ser uma grande defensora da Escola do Campo e da Ciranda Ciranda A professora Drordf Roseneide Magalhatildees pelo excelente empenho como coordenadora da LEdoC na gestatildeo anterior e como professora da aacuterea de linguagem com a qual pude aprender muito A todos os meus professores e professoras do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo Rafael Zarref Joatildeo Batista Jair Reck Mocircnica molina Laiacutes mouratildeo Liacutevia Bernardo Tamiel Djiby ana Cristina Sisi Regina Roberta Joelma Joelma e outros colaboladores Ao MATR- Movimento de Apoio aos Trabalhadores Rurais a tudo que aprendi sobre Reforma Agraacuteria e que sem o qual eu natildeo teria ingressado no curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo-UnB Aos meus colegas da turma Panteras negras pelo grande desempenho e luta de conivecircncia no coletivo

1

ldquo A educaccedilatildeo eacute a arma mais poderosa que vocecirc pode usar para mudar o mundordquo (Nelson Mandela) ldquoEnsinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua proacutepria produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo (Paulo Freire) ldquo Se a educaccedilatildeo sozinha natildeo pode transformar a sociedade tatildeo pouco sem ela a sociedade mudardquo (Paulo Freire)

2

RESUMO

Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores

rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um

movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e

enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade

e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do

campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e

poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom

funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da

escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e

sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola

do Assentamento Renascer

3

ABSTRAT

This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by

the school field The rural education is understood as a movement that seeks the

concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts

family participation and community and focused on the transformation of the

individual and society The field school study is challenging topic in that causes social

demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation

and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance

of the field school to secure the rural community to their cultural social and family

roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn

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SUMAacuteRIO

Apresentaccedilatildeo 07

Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos

11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11

Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e

concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo

21 A escola rural no Brasil16

22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21

23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26

24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28

25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29

Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34

32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34

33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35

34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees

culturais 36

Capitulo lV A escola que queremos41

Consideraccedilotildees finais 46

Referecircncias Bibliograacuteficas48

Apecircndice50

Anexo55

5

Lista de Siglas

DF - Distrito Federal

EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza

GDF- Governo do Distrito Federal

IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia

INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural

MST - Movimento dos Sem Terra

ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental

PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria

PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar

PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento

PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

6

PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura

PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico

7

APRESENTACcedilAcircO

O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do

assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)

anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves

margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo

dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de

Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo

puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer

onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)

Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de

2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e

atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural

Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas

na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de

confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais

reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de

vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo

de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos

acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e

melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo

de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de

um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma

Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do

projeto audiovisual ndash UnB Planaltina

Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto

em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos

metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo

entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do

Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de

campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos

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Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 2: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

- 1 -

SUELI DE MARIA XAVIER PEREIRA

A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS

A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de Brasiacutelia-UnB como requisito parcial para a obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de licenciado em Educaccedilatildeo do Campo

Orientadora Profordf Drordf Eliene Novaes Rocha

PLANALTINA DF

2014

- 2 -

SUELI DE MARIA XAVIER PEREIRA

A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS

A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de Brasiacutelia-UnB como requisito parcial para a obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de licenciado em Educaccedilatildeo do Campo

Aprovado em ______ de _______________ de 2014

___________________________________________

Profordf Drordf ELIENE NOVAES ROCHA Professora Orientadora FUPUnB

___________________________________________

JULIANA ROCHET (FUBUNB) Professor Avaliador

UnB

___________________________________________

SILVANETE PEREIRA DOS SANTOS Professor Avaliador Externo

Universidade Catoacutelica de Brasiacutelia

PLANALTINA- DF 2014

0

AGRADECIMENTO

Em primeiro lugar ao meu bom Deus porque sem ele eu natildeo sou nada

Ao meus queridos filhos Janaina Pereira Dias e Rodrigo Pereira Dias que me deram muito apoio forccedila e coragem nos momentos difiacutecil no decorrer desses quatro anos de estudo Ao meu esposo Paulo Viniacutecio Alvim Cruz que me deu todo seu amor e apoio nos momentos mais difiacutecil que venho enfrentado nos uacuteltimos anos A minha grande amiga e irmatilde de coraccedilatildeo Mariza do Carmo Azevedo por sempre ter acreditado em mim no decorrer desses 25 anos de amizade sincera A minha matildee Rosalda e meus e meus irmatildeos e irmatildes que me admiram muito por ser a primeira da famiacutelia da minha geraccedilatildeo a concluir um curso superior apesar de todas as dificuldades A minha orientadora professora DrordfEliene Novaes Rocha por ter acreditado que eu sou capaz de realizar esse trabalho mesmo em meio a muitos problemas que vinha enfrentando As professoras Juliana Rochet e Silvanete Pereira dos Santos que me avaliaram e aprovaram na banca examinadora Ao Diretor da FUP Antocircnio Pasquetti por ser um grande lutador em defesa do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo A coordenadora da LEdoC professora Drordf Eliete Aacutevila Wolff por ser uma grande defensora da Escola do Campo e da Ciranda Ciranda A professora Drordf Roseneide Magalhatildees pelo excelente empenho como coordenadora da LEdoC na gestatildeo anterior e como professora da aacuterea de linguagem com a qual pude aprender muito A todos os meus professores e professoras do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo Rafael Zarref Joatildeo Batista Jair Reck Mocircnica molina Laiacutes mouratildeo Liacutevia Bernardo Tamiel Djiby ana Cristina Sisi Regina Roberta Joelma Joelma e outros colaboladores Ao MATR- Movimento de Apoio aos Trabalhadores Rurais a tudo que aprendi sobre Reforma Agraacuteria e que sem o qual eu natildeo teria ingressado no curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo-UnB Aos meus colegas da turma Panteras negras pelo grande desempenho e luta de conivecircncia no coletivo

1

ldquo A educaccedilatildeo eacute a arma mais poderosa que vocecirc pode usar para mudar o mundordquo (Nelson Mandela) ldquoEnsinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua proacutepria produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo (Paulo Freire) ldquo Se a educaccedilatildeo sozinha natildeo pode transformar a sociedade tatildeo pouco sem ela a sociedade mudardquo (Paulo Freire)

2

RESUMO

Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores

rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um

movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e

enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade

e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do

campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e

poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom

funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da

escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e

sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola

do Assentamento Renascer

3

ABSTRAT

This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by

the school field The rural education is understood as a movement that seeks the

concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts

family participation and community and focused on the transformation of the

individual and society The field school study is challenging topic in that causes social

demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation

and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance

of the field school to secure the rural community to their cultural social and family

roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn

4

SUMAacuteRIO

Apresentaccedilatildeo 07

Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos

11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11

Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e

concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo

21 A escola rural no Brasil16

22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21

23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26

24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28

25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29

Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34

32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34

33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35

34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees

culturais 36

Capitulo lV A escola que queremos41

Consideraccedilotildees finais 46

Referecircncias Bibliograacuteficas48

Apecircndice50

Anexo55

5

Lista de Siglas

DF - Distrito Federal

EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza

GDF- Governo do Distrito Federal

IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia

INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural

MST - Movimento dos Sem Terra

ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental

PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria

PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar

PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento

PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

6

PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura

PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico

7

APRESENTACcedilAcircO

O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do

assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)

anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves

margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo

dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de

Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo

puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer

onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)

Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de

2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e

atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural

Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas

na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de

confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais

reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de

vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo

de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos

acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e

melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo

de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de

um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma

Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do

projeto audiovisual ndash UnB Planaltina

Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto

em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos

metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo

entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do

Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de

campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos

8

Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 3: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

- 2 -

SUELI DE MARIA XAVIER PEREIRA

A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS

A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de Brasiacutelia-UnB como requisito parcial para a obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de licenciado em Educaccedilatildeo do Campo

Aprovado em ______ de _______________ de 2014

___________________________________________

Profordf Drordf ELIENE NOVAES ROCHA Professora Orientadora FUPUnB

___________________________________________

JULIANA ROCHET (FUBUNB) Professor Avaliador

UnB

___________________________________________

SILVANETE PEREIRA DOS SANTOS Professor Avaliador Externo

Universidade Catoacutelica de Brasiacutelia

PLANALTINA- DF 2014

0

AGRADECIMENTO

Em primeiro lugar ao meu bom Deus porque sem ele eu natildeo sou nada

Ao meus queridos filhos Janaina Pereira Dias e Rodrigo Pereira Dias que me deram muito apoio forccedila e coragem nos momentos difiacutecil no decorrer desses quatro anos de estudo Ao meu esposo Paulo Viniacutecio Alvim Cruz que me deu todo seu amor e apoio nos momentos mais difiacutecil que venho enfrentado nos uacuteltimos anos A minha grande amiga e irmatilde de coraccedilatildeo Mariza do Carmo Azevedo por sempre ter acreditado em mim no decorrer desses 25 anos de amizade sincera A minha matildee Rosalda e meus e meus irmatildeos e irmatildes que me admiram muito por ser a primeira da famiacutelia da minha geraccedilatildeo a concluir um curso superior apesar de todas as dificuldades A minha orientadora professora DrordfEliene Novaes Rocha por ter acreditado que eu sou capaz de realizar esse trabalho mesmo em meio a muitos problemas que vinha enfrentando As professoras Juliana Rochet e Silvanete Pereira dos Santos que me avaliaram e aprovaram na banca examinadora Ao Diretor da FUP Antocircnio Pasquetti por ser um grande lutador em defesa do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo A coordenadora da LEdoC professora Drordf Eliete Aacutevila Wolff por ser uma grande defensora da Escola do Campo e da Ciranda Ciranda A professora Drordf Roseneide Magalhatildees pelo excelente empenho como coordenadora da LEdoC na gestatildeo anterior e como professora da aacuterea de linguagem com a qual pude aprender muito A todos os meus professores e professoras do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo Rafael Zarref Joatildeo Batista Jair Reck Mocircnica molina Laiacutes mouratildeo Liacutevia Bernardo Tamiel Djiby ana Cristina Sisi Regina Roberta Joelma Joelma e outros colaboladores Ao MATR- Movimento de Apoio aos Trabalhadores Rurais a tudo que aprendi sobre Reforma Agraacuteria e que sem o qual eu natildeo teria ingressado no curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo-UnB Aos meus colegas da turma Panteras negras pelo grande desempenho e luta de conivecircncia no coletivo

1

ldquo A educaccedilatildeo eacute a arma mais poderosa que vocecirc pode usar para mudar o mundordquo (Nelson Mandela) ldquoEnsinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua proacutepria produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo (Paulo Freire) ldquo Se a educaccedilatildeo sozinha natildeo pode transformar a sociedade tatildeo pouco sem ela a sociedade mudardquo (Paulo Freire)

2

RESUMO

Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores

rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um

movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e

enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade

e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do

campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e

poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom

funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da

escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e

sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola

do Assentamento Renascer

3

ABSTRAT

This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by

the school field The rural education is understood as a movement that seeks the

concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts

family participation and community and focused on the transformation of the

individual and society The field school study is challenging topic in that causes social

demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation

and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance

of the field school to secure the rural community to their cultural social and family

roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn

4

SUMAacuteRIO

Apresentaccedilatildeo 07

Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos

11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11

Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e

concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo

21 A escola rural no Brasil16

22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21

23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26

24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28

25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29

Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34

32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34

33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35

34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees

culturais 36

Capitulo lV A escola que queremos41

Consideraccedilotildees finais 46

Referecircncias Bibliograacuteficas48

Apecircndice50

Anexo55

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Lista de Siglas

DF - Distrito Federal

EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza

GDF- Governo do Distrito Federal

IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia

INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural

MST - Movimento dos Sem Terra

ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental

PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria

PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar

PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento

PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

6

PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura

PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico

7

APRESENTACcedilAcircO

O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do

assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)

anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves

margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo

dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de

Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo

puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer

onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)

Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de

2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e

atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural

Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas

na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de

confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais

reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de

vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo

de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos

acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e

melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo

de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de

um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma

Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do

projeto audiovisual ndash UnB Planaltina

Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto

em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos

metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo

entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do

Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de

campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos

8

Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

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Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 4: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

0

AGRADECIMENTO

Em primeiro lugar ao meu bom Deus porque sem ele eu natildeo sou nada

Ao meus queridos filhos Janaina Pereira Dias e Rodrigo Pereira Dias que me deram muito apoio forccedila e coragem nos momentos difiacutecil no decorrer desses quatro anos de estudo Ao meu esposo Paulo Viniacutecio Alvim Cruz que me deu todo seu amor e apoio nos momentos mais difiacutecil que venho enfrentado nos uacuteltimos anos A minha grande amiga e irmatilde de coraccedilatildeo Mariza do Carmo Azevedo por sempre ter acreditado em mim no decorrer desses 25 anos de amizade sincera A minha matildee Rosalda e meus e meus irmatildeos e irmatildes que me admiram muito por ser a primeira da famiacutelia da minha geraccedilatildeo a concluir um curso superior apesar de todas as dificuldades A minha orientadora professora DrordfEliene Novaes Rocha por ter acreditado que eu sou capaz de realizar esse trabalho mesmo em meio a muitos problemas que vinha enfrentando As professoras Juliana Rochet e Silvanete Pereira dos Santos que me avaliaram e aprovaram na banca examinadora Ao Diretor da FUP Antocircnio Pasquetti por ser um grande lutador em defesa do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo A coordenadora da LEdoC professora Drordf Eliete Aacutevila Wolff por ser uma grande defensora da Escola do Campo e da Ciranda Ciranda A professora Drordf Roseneide Magalhatildees pelo excelente empenho como coordenadora da LEdoC na gestatildeo anterior e como professora da aacuterea de linguagem com a qual pude aprender muito A todos os meus professores e professoras do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo Rafael Zarref Joatildeo Batista Jair Reck Mocircnica molina Laiacutes mouratildeo Liacutevia Bernardo Tamiel Djiby ana Cristina Sisi Regina Roberta Joelma Joelma e outros colaboladores Ao MATR- Movimento de Apoio aos Trabalhadores Rurais a tudo que aprendi sobre Reforma Agraacuteria e que sem o qual eu natildeo teria ingressado no curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo-UnB Aos meus colegas da turma Panteras negras pelo grande desempenho e luta de conivecircncia no coletivo

1

ldquo A educaccedilatildeo eacute a arma mais poderosa que vocecirc pode usar para mudar o mundordquo (Nelson Mandela) ldquoEnsinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua proacutepria produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo (Paulo Freire) ldquo Se a educaccedilatildeo sozinha natildeo pode transformar a sociedade tatildeo pouco sem ela a sociedade mudardquo (Paulo Freire)

2

RESUMO

Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores

rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um

movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e

enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade

e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do

campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e

poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom

funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da

escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e

sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola

do Assentamento Renascer

3

ABSTRAT

This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by

the school field The rural education is understood as a movement that seeks the

concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts

family participation and community and focused on the transformation of the

individual and society The field school study is challenging topic in that causes social

demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation

and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance

of the field school to secure the rural community to their cultural social and family

roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn

4

SUMAacuteRIO

Apresentaccedilatildeo 07

Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos

11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11

Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e

concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo

21 A escola rural no Brasil16

22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21

23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26

24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28

25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29

Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34

32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34

33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35

34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees

culturais 36

Capitulo lV A escola que queremos41

Consideraccedilotildees finais 46

Referecircncias Bibliograacuteficas48

Apecircndice50

Anexo55

5

Lista de Siglas

DF - Distrito Federal

EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza

GDF- Governo do Distrito Federal

IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia

INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural

MST - Movimento dos Sem Terra

ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental

PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria

PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar

PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento

PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

6

PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura

PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico

7

APRESENTACcedilAcircO

O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do

assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)

anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves

margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo

dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de

Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo

puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer

onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)

Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de

2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e

atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural

Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas

na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de

confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais

reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de

vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo

de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos

acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e

melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo

de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de

um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma

Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do

projeto audiovisual ndash UnB Planaltina

Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto

em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos

metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo

entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do

Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de

campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos

8

Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

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experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

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Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

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231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

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44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

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46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 5: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

1

ldquo A educaccedilatildeo eacute a arma mais poderosa que vocecirc pode usar para mudar o mundordquo (Nelson Mandela) ldquoEnsinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua proacutepria produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo (Paulo Freire) ldquo Se a educaccedilatildeo sozinha natildeo pode transformar a sociedade tatildeo pouco sem ela a sociedade mudardquo (Paulo Freire)

2

RESUMO

Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores

rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um

movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e

enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade

e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do

campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e

poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom

funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da

escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e

sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola

do Assentamento Renascer

3

ABSTRAT

This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by

the school field The rural education is understood as a movement that seeks the

concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts

family participation and community and focused on the transformation of the

individual and society The field school study is challenging topic in that causes social

demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation

and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance

of the field school to secure the rural community to their cultural social and family

roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn

4

SUMAacuteRIO

Apresentaccedilatildeo 07

Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos

11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11

Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e

concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo

21 A escola rural no Brasil16

22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21

23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26

24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28

25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29

Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34

32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34

33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35

34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees

culturais 36

Capitulo lV A escola que queremos41

Consideraccedilotildees finais 46

Referecircncias Bibliograacuteficas48

Apecircndice50

Anexo55

5

Lista de Siglas

DF - Distrito Federal

EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza

GDF- Governo do Distrito Federal

IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia

INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural

MST - Movimento dos Sem Terra

ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental

PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria

PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar

PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento

PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

6

PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura

PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico

7

APRESENTACcedilAcircO

O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do

assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)

anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves

margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo

dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de

Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo

puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer

onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)

Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de

2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e

atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural

Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas

na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de

confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais

reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de

vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo

de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos

acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e

melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo

de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de

um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma

Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do

projeto audiovisual ndash UnB Planaltina

Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto

em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos

metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo

entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do

Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de

campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos

8

Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 6: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

2

RESUMO

Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores

rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um

movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e

enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade

e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do

campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e

poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom

funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da

escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e

sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola

do Assentamento Renascer

3

ABSTRAT

This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by

the school field The rural education is understood as a movement that seeks the

concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts

family participation and community and focused on the transformation of the

individual and society The field school study is challenging topic in that causes social

demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation

and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance

of the field school to secure the rural community to their cultural social and family

roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn

4

SUMAacuteRIO

Apresentaccedilatildeo 07

Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos

11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11

Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e

concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo

21 A escola rural no Brasil16

22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21

23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26

24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28

25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29

Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34

32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34

33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35

34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees

culturais 36

Capitulo lV A escola que queremos41

Consideraccedilotildees finais 46

Referecircncias Bibliograacuteficas48

Apecircndice50

Anexo55

5

Lista de Siglas

DF - Distrito Federal

EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza

GDF- Governo do Distrito Federal

IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia

INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural

MST - Movimento dos Sem Terra

ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental

PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria

PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar

PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento

PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

6

PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura

PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico

7

APRESENTACcedilAcircO

O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do

assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)

anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves

margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo

dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de

Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo

puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer

onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)

Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de

2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e

atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural

Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas

na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de

confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais

reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de

vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo

de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos

acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e

melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo

de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de

um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma

Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do

projeto audiovisual ndash UnB Planaltina

Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto

em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos

metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo

entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do

Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de

campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos

8

Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 7: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

3

ABSTRAT

This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by

the school field The rural education is understood as a movement that seeks the

concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts

family participation and community and focused on the transformation of the

individual and society The field school study is challenging topic in that causes social

demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation

and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance

of the field school to secure the rural community to their cultural social and family

roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn

4

SUMAacuteRIO

Apresentaccedilatildeo 07

Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos

11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11

Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e

concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo

21 A escola rural no Brasil16

22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21

23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26

24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28

25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29

Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34

32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34

33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35

34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees

culturais 36

Capitulo lV A escola que queremos41

Consideraccedilotildees finais 46

Referecircncias Bibliograacuteficas48

Apecircndice50

Anexo55

5

Lista de Siglas

DF - Distrito Federal

EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza

GDF- Governo do Distrito Federal

IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia

INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural

MST - Movimento dos Sem Terra

ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental

PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria

PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar

PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento

PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

6

PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura

PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico

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APRESENTACcedilAcircO

O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do

assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)

anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves

margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo

dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de

Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo

puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer

onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)

Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de

2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e

atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural

Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas

na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de

confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais

reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de

vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo

de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos

acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e

melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo

de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de

um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma

Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do

projeto audiovisual ndash UnB Planaltina

Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto

em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos

metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo

entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do

Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de

campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos

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Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

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poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

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Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

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e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

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rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

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Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

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que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

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Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

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A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

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O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

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invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

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Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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4

SUMAacuteRIO

Apresentaccedilatildeo 07

Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos

11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11

Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e

concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo

21 A escola rural no Brasil16

22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21

23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26

24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28

25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29

Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34

32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34

33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35

34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees

culturais 36

Capitulo lV A escola que queremos41

Consideraccedilotildees finais 46

Referecircncias Bibliograacuteficas48

Apecircndice50

Anexo55

5

Lista de Siglas

DF - Distrito Federal

EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza

GDF- Governo do Distrito Federal

IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia

INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural

MST - Movimento dos Sem Terra

ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental

PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria

PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar

PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento

PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

6

PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura

PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico

7

APRESENTACcedilAcircO

O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do

assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)

anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves

margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo

dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de

Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo

puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer

onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)

Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de

2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e

atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural

Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas

na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de

confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais

reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de

vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo

de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos

acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e

melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo

de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de

um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma

Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do

projeto audiovisual ndash UnB Planaltina

Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto

em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos

metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo

entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do

Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de

campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos

8

Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 9: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

5

Lista de Siglas

DF - Distrito Federal

EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza

GDF- Governo do Distrito Federal

IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia

INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo

MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base

MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural

MST - Movimento dos Sem Terra

ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental

PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria

PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar

PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento

PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

6

PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura

PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico

7

APRESENTACcedilAcircO

O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do

assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)

anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves

margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo

dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de

Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo

puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer

onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)

Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de

2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e

atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural

Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas

na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de

confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais

reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de

vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo

de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos

acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e

melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo

de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de

um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma

Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do

projeto audiovisual ndash UnB Planaltina

Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto

em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos

metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo

entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do

Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de

campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos

8

Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

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OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 10: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

6

PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura

PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico

7

APRESENTACcedilAcircO

O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do

assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)

anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves

margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo

dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de

Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo

puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer

onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)

Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de

2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e

atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural

Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas

na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de

confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais

reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de

vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo

de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos

acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e

melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo

de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de

um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma

Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do

projeto audiovisual ndash UnB Planaltina

Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto

em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos

metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo

entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do

Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de

campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos

8

Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 11: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

7

APRESENTACcedilAcircO

O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do

assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)

anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves

margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo

dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de

Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo

puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer

onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)

Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de

2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e

atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural

Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas

na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de

confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais

reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de

vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo

de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos

acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e

melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo

de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de

um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma

Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do

projeto audiovisual ndash UnB Planaltina

Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto

em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos

metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo

entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do

Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de

campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos

8

Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 12: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

8

Primeiro Capiacutetulo

As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos

O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do

assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola

identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria

Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar

estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha

vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que

nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na

cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade

Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde

nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha

avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente

da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e

pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir

escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola

pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido

minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante

tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta

por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer

com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)

anos atualmente estamos em fase de sermos assentados

Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de

professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino

Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci

profissionalmente esta atividade de forma regular

O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder

trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo

realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 13: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

9

poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre

educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver

conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo

Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo

e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o

desejar

O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo

11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado

reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem

conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o

trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e

culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo

direitos humanos universais

Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo

de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco

acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel

falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa

comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica

proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e

atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo

atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e

exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico

Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do

Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do

Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo

Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de

vida ao assentamento

A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma

Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do

assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades

educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo

O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no

momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 14: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

10

Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do

5ordm ano

Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas

puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico

como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do

Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees

- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente

funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que

impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo

tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas

A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento

Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados

As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o

acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode

perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do

educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo

satildeo devidas ao ato de ensinar

A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer

eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional

onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural

Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o

fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem

escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente

Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros

programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da

educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um

posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional

nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa

personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e

injusticcedila

As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo

alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 15: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

11

e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja

eficaz para a Comunidade Renascer

Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito

proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as

necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes

de lugar para lugar

A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser

colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar

ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com

ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e

natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante

ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa

politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a

maioria dos povos privando-os de seus direitos

Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas

a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute

planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de

gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades

regionais e locais de cada comunidade

Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso

de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que

estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo

popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo

A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de

implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais

adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o

problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica

A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso

proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o

melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade

A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo

expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma

Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 16: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

12

rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia

do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC

A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo

bibliograacutefico

O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-

estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua

participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento

sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o

objetivo da pesquisa

O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos

que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que

poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa

A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema

para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo

em que o assentamento se encontra na luta pela escola

-11-

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 17: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

13

Segundo Capiacutetulo

Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e

concepccedilotildees da educaccedilatildeo

21 A Escola Rural no Brasil

Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira

deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico

implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente

Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi

entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave

metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos

econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do

ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)

A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos

massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da

Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que

formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do

periacuteodo imperial

A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo

negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra

teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola

associada agrave escravatura

Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo

socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou

Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com

a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)

Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 18: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

14

que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)

Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do

campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos

adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o

autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo

educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a

histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes

latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de

qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico

A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a

partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-

1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo

da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos

promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos

sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da

populaccedilatildeo do campo

Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em

defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico

(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais

elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-

econocircmica da oligarquia rural

Para o autor o ruralismo pedagoacutegico

defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo

camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 19: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

15

Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo

rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e

consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes

Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina

Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona

rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui

para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo

Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por

intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a

inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num

ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes

educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre

outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo

da escola puacuteblica laica e gratuita

A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)

Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo

foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que

A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 20: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

16

A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de

trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave

escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje

ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem

chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua

maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o

acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa

remuneraccedilatildeo podia proporcionar

As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias

que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o

desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios

sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores

Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo

pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a

induacutestria urbana

Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo

A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual

Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute

a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa

orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita

sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas

atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)

Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso

Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural

e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais

ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica

17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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17

O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma

poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do

estado servindo aos seus interesses

Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da

Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era

contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees

internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de

professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional

agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-

Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre

esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas

agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)

A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)

A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo

educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no

campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo

foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o

transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma

ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e

do ensino meacutedio

Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA

apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os

resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino

baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito

Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores

resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo

no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio

uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 22: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

18

invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso

dos alunos

Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o

lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto

No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)

O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a

emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos

trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos

proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo

consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais

poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo

O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a

partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da

presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em

torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees

como a educaccedilatildeo no campo

O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das

manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma

agraacuteria

-16-

22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo

A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma

agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 23: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

19

Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria

e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do

Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)

Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo

brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)

A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)

Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o

territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras

Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e

direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo

O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado

pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio

para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio

Navarro 2004 p6)

Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo

SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido

configura-se como

Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)

A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta

pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A

pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento

da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a

diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode

leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 24: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

20

A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por

Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de

Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como

o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das

forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos

que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos

camponeses

A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)

rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e

contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de

recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo

Freire (CANUTO 2012 p 131)

Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)

A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas

do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista

e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos

acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do

amadurecimento do movimento

Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do

ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de

niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores

A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos

prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de

transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do

assentamento

21

Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 25: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

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Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas

terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar

o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo

ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas

Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se

conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento

ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente

enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)

Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau

de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o

projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves

tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela

expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo

sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo

Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo

baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional

Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por

exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente

como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma

relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo

A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e

importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade

a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de

uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a

necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que

ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)

Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela

accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados

houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua

vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)

Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela

escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de

22

escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

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experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 26: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

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escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo

(CALDART2012 p92)

As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)

A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute

parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo

integral dos sujeitos que lutam pela terra

Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de

educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que

assentados e acampados vivem no dia a dia

A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta

por terra Nesse sentido

A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)

A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e

desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo

democraacutetica e desburocratizada da escola

SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a

educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o

coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos

estudantes e professoresrdquo (p71)

-21-

23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

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experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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23

221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo

No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo

objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar

com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o

ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais

de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo

Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma

educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua

cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo

2012 p 264

Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente

acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos

ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)

A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)

A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica

segundo ARROYO inclui

um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria

No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e

amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 28: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

24

experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no

campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao

capitalismo

Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees

socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas

destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade

Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo

Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a

potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos

sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola

dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais

O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole

o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo

Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-

222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo

Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos

sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e

acampados do movimento

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 29: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

25

O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a

organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios

muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o

projeto de educaccedilatildeo

O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel

local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos

Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)

Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de

professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade

(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino

A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo

impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com

simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um

princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a

implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo

A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos

a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas

escolas do campo

O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos

territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel

de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do

Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de

Brasiacutelia

Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o

precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas

para a Infacircncia (Unicef)

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 30: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

26

O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou

tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e

comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso

da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre

estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria

-25-

223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo

Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil

de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais

A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o

Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)

A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez

a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo

sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado

adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)

A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em

acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece

A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 31: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

27

Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo

de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo

integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que

Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)

1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais

necessidades e interesses dos alunos da zona rural

2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as

fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas

3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)

Brasiacutelia 2012( p 26)

O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se

cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB

que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica

Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar

Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade

da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)

O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo

na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta

Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-

se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 32: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

28

Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto

Para os efeitos deste Decreto entende-se por

l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores

artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os

trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta

os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir

do trabalho no meio rural

ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea

urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS

NORMATIVOS) 2012( p 81)

No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do

Campo o parecer da alternacircncia

A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)

-26-

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 33: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

29

-

231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA

O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave

iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da

consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da

reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do

Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)

O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto

com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o

trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno

O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela

reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a

opiniatildeo puacuteblica suas mazelas

No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do

ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito

aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS

2012 pag 630)

A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel

meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 34: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

30

Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de

ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal

por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012

p 631)

A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de

alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas

puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos

na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem

Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva

notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo

considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)

O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo

retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo

como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e

diretrizes para a escola do campo

-31-

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 35: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

31

Terceiro Capiacutetulo

A histoacuteria do Assentamento Renascer

31 Uma breve histoacuteria de luta

A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de

outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais

sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga

Sobradinho ao Paranoaacute-DF

Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da

Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de

maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria

Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da

Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou

criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada

O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de

madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos

desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma

precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico

A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os

vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a

inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias

Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009

Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo

em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas

condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as

que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo

os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto

O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que

como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo

desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os

coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como

os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 36: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

32

Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a

deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser

acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil

O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo

do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo

para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo

A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os

que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute

escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo

desvalorizadas

-33-

32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento

Renascer

As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a

frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela

roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos

aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da

famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no

trabalho com a enxada

Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim

conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no

campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola

Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e

descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional

castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola

Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe

inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do

Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo

menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 37: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

33

teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola

aprender ser algueacutem na vidardquo

-34-

321 A escola no entorno do Assentamento Renascer

A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como

espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do

acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que

trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande

vitoacuteria

Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo

menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar

era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os

buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as

chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do

Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam

transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de

chuva ateacute a escola

-35-

322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a

brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees

culturais

Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer

mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria

vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e

educativas

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 38: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

34

Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas

pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi

criada uma brinquedoteca

Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet

telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era

confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina

incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram

confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do

acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada

O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava

lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e

adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a

importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o

nascimento do acampamento Renascer

Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do

acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade

criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria

accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer

haacute tanto tempo atraacutes

Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros

presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas

interessadas no bem estar daquelas crianccedilas

Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos

diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades

educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas

hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola

O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas

adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente

importantes

Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se

tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos

estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 39: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

35

brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para

abrigar a biblioteca

A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos

para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados

assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e

entretenimento

Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade

de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e

frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas

vezes

Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a

leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado

Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no

Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de

outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os

filhos para participarem das atividades

Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em

faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A

participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam

manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo

O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes

utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio

ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo

sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano

A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo

apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de

muitos

Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer

traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados

em seus lugares de origem

Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em

particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 40: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

36

de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos

que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e

muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram

No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com

missa e muito forroacute

No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave

boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o

entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a

comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de

Sobradinho Paranoaacute e Planaltina

Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas

como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando

que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do

campo

A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais

e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A

danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas

delas com ingredientes colhidos no acampamento

Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com

participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses

grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados

Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de

crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados

no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente

incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois

assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos

filmes

A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da

comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute

possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes

desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do

ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 41: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

37

Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos

diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante

para a comunidade

A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de

produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo

integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de

ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho

Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu

cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas

sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura

alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a

comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que

induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente

A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da

tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio

ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente

conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo

promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate

e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura

propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse

paradigma agroecoloacutegico

A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se

conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e

entorno

A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a

participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa

do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas

da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL

IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB

-36-

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 42: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

38

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 43: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

39

Quarto Capiacutetulo

A escola que queremos expectativas e sonhos dos

acampados do Assentamento Renascer

Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos

converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa

a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego

Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento

objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios

enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas

voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem

aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram

pleitear a terra para reforma agraacuteria

Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o

fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores

do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se

claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua

impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos

vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de

continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas

Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas

vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta

falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave

educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste

legado para o futuro do paiacutes

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 44: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

40

Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes

vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel

continuar como estaacute

Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do

campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a

propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos

programas de desenvolvimento da agricultura familiar

Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos

familiares e das raiacutezes camponesas

A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos

entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas

seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais

alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam

escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees

precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de

inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar

Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento

(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)

entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em

seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia

dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees

precaacuterias para o homem do campo o assentado

Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de

escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo

apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de

moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros

assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola

A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A

distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos

entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a

ambos

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 45: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

41

Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a

implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do

campo

- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o

cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas

possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha

uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade

- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve

harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que

ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute

inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo

-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade

deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo

integral dos educandos

- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma

escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre

professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender

com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes

- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da

gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades

de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas

sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico

- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram

processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo

que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos

fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade

- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia

eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com

os recursos hiacutedricos

A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser

implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias

da escola do campo

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

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Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 46: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

42

A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio

que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a

paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-

social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista

A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes

elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que

poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a

escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou

analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais

circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas

conversas informais

Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das

entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora

difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo

Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades

soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade

assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo

A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos

amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social

que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola

do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos

assentados

Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer

satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos

aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)

assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em

Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de

Agroecologia tambeacutem do IFB

Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento

pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de

estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de

natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que

estimulou essa pesquisa

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 47: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

43

O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do

Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O

futuro colheraacute bons frutos plantados agora

A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que

atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras

quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio

-41-

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

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SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 48: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

44

Consideraccedilotildees Finais

A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e

suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de

escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma

agraacuteria

A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos

movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito

fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo

orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de

acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social

Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles

podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada

na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no

campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia

e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria

Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo

a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos

naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a

emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade

A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral

dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo

que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta

consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado

positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua

identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade

A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a

problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a

ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar

coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes

independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 49: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

45

A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma

Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a

partir da conquista da terra

O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo

de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo

adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas

conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados

pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o

propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas

etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e

realizaccedilatildeo pessoal dos assentados

-46-

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 50: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

46

Referecircncias Bibliograacuteficas

CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014

FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)

KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020

MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014

OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)

OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014

________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira

47

SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 51: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

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SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)

________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-

48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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48

Apecircndices

1 Roteiro das Entrevistas

a) Dados dos entrevistados

Qual o seu nome

Masculino ( ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc tecircm

A quanto tempo mora no

assentamento

Onde vocecirc morou antes

de morar no

assentamento

Quantos anos vocecirc tinha

quando foi a escola pela

primeira vez

Estou ateacute qual seacuterieano

Quantos anos vocecirc tinha

quando parou de estudar

Qual motivo motivou vocecirc

a parar de estudar

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)

a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual

b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que

tinha nesta escola

c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola

como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola

d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no

assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo

e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc

f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola

que queremos ter

49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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49

b) Entrevistas semi-estruturadas

Entrevistado 01

Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do

Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu

pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar

com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva

que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito

cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como

caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para

continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir

Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para

plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar

minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra

Qual o seu nome

Masculino ( X ) Feminino ( )

Quantos anos vocecirc

tecircm

57 anos

A quanto tempo

mora no assentamento

11 anos

Onde vocecirc morou

antes de morar no

assentamento

Carnauacuteba ndash RN

Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF

Quantos anos vocecirc

tinha quando foi a escola

pela primeira vez

8 anos

Estou ateacute qual

seacuterieano

5ordf seacuterie

Quantos anos vocecirc

tinha quando parou de

estudar

24 anos

Qual motivo

motivou vocecirc a parar de

estudar

Trabalhar para sustento da famiacutelia a

distacircncia entre a casa e a escola

Se tiver escola no

assentamento vocecirc voltaraacute

a estudar Porque

Sim ldquoSe tivesse escola do ensino

fundamental voltaria a estudar para tecirc

mais conhecimento para plantar minha roccedila

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 54: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

50

saber pesar saber contar vendecirc os produto e

comecirc

Entrevistado 02

Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute

Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo

continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu

tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei

com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa

Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para

susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter

uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou

der se deus quiser

Entrevistado 03

Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO

comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria

(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola

ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que

faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha

18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma

chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo

pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar

quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo

Entrevistado 04

Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava

no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie

parei com 18 anos de idade

Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir

pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)

tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar

ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo

pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet

e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o

jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja

na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo

Entrevistado 05

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

Page 55: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB …bdm.unb.br/bitstream/10483/9969/1/2014_SueliDeMaria... · 2015-03-18 · Em primeiro lugar ao meu bom Deus, ... A minha grande amiga

51

Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO

comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou

pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar

longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque

trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa

perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite

Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu

quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra

administrar o negoacutecio

Entrevistado 06

44 anos

6 anos

Formosa-GO

8 anos

5ordf seacuterie

24 anos

Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e

ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais

Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser

agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino

fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe

se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz

Entrevistado 07

57 anos

6 anos

Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF

7 anos

4ordf seacuterie

21 anos

Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair

de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num

cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei

o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra

52

Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

-50-

Anexos

53

Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de

escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola

Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da

terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola

Entrevistado 08

Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do

Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita

gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de

todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada

levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da

Reforma Agraacuteria

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Anexos

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Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

54

Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

58

59

60

Apresentaccedilatildeo teatral

61

Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

62

Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

63

Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004

Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea

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Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

57

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Apresentaccedilatildeo teatral

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Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

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Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

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Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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Reuniatildeo semanal

Teatro de fantoches ndash brinquedoteca

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Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

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Apresentaccedilatildeo teatral

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Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

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Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

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Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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55

Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca

Oficina de brinquedos reciclaacuteveis

56

Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

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Apresentaccedilatildeo teatral

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Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

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Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

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Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca

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Apresentaccedilatildeo teatral

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Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

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Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

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Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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Apresentaccedilatildeo teatral

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Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

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Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

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Apresentaccedilatildeo teatral

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Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

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Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

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Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar

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Apresentaccedilatildeo teatral

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Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

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Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

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Apresentaccedilatildeo teatral

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Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

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Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

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Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria

Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria

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Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

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Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais

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Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar