universidade de brasÍlia faculdade de...

65
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO A LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE ALUNOS LEITORES KARINA SANTANA GUIMARÃES BRASÍLIA DF 2014

Upload: duongkien

Post on 20-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

A LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA CONTRIBUIÇÃO

NA FORMAÇÃO DE ALUNOS LEITORES

KARINA SANTANA GUIMARÃES

BRASÍLIA – DF

2014

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

KARINA SANTANA GUIMARÃES

A LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA CONTRIBUIÇÃO

NA FORMAÇÃO DE ALUNOS LEITORES

Monografia apresentada, como requisito

parcial para obtenção do título de Licenciada

em Pedagogia, à Comissão Examinadora da

Faculdade de Educação da Universidade de

Brasília, sob a orientação da professora Dra.

Maria Emília Gonzaga de Souza.

BRASÍLIA – DF

2014

GUIMARÃES, Karina Santana.

A Literatura na Educação Infantil e sua contribuição na formação de alunos

leitores / Karina Santana Guimarães. – Brasília, 2014.

Monografia – Universidade de Brasília, Faculdade de Educação, 2014.

Orientadora: Dra. Maria Emília Gonzaga de Souza

1. Educação Infantil. 2. Literatura Infantil. 3. Práticas Pedagógicas.

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Monografia apresentada, como requisito

parcial para obtenção do título de Licenciada

em Pedagogia, à Comissão Examinadora da

Faculdade de Educação da Universidade de

Brasília, sob a orientação da professora Dra.

Maria Emília Gonzaga de Souza.

Comissão Examinadora

Professora Dra. Maria Emília Gonzaga de Souza (Orientadora)

Faculdade de Educação da Universidade de Brasília - UnB

Professora Dra. Maria Alexandra Militão

Faculdade de Educação da Universidade de Brasília - UnB

Professora Dra. Solange Alves de Oliveira Mendes

Faculdade de Educação da Universidade de Brasília - UnB

Brasília, novembro de 2014

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por tudo o que Ele tem feito por mim, pelo seu

cuidado, seu amor, sua força e inspiração a mim efetuados, pois eu não estaria aqui se não

fosse sua infinita graça sobre minha vida. Obrigada, Senhor.

A minha mãe, Cleonides, e meu pai (in memoriam) que sempre acreditaram em

minha capacidade, sempre me amaram e me educaram com muito esforço para que eu fosse a

pessoa que sou hoje.

A meu padrasto, Bosco, meus irmãos, Rafael e Kamylla, a meu namorado, Junior,

pela enorme compreensão para comigo, enfim, a toda minha família pelo incentivo e

companheirismo a mim prestados.

A minha orientadora, Maria Emília Gonzaga de Souza, por toda a dedicação,

paciência e atenção e por me incentivar a superar minhas limitações.

Agradeço às amizades que foram construídas ao longo dos anos de faculdade.

Especialmente Kristy Hellen, Fátima e Mikaela, companheiras de todas as horas, na alegria,

na tristeza, enfim, por todos os momentos que passamos juntas.

A cada pessoa, a cada professor, a cada amigo que estiveram comigo por um

determinado tempo, ensinando-me e ajudando-me a ser melhor.

Educa a criança no caminho em que deve andar; e até

quando envelhecer não se desviará dele. Provérbios 22:6

RESUMO

A literatura possui uma forte contribuição na formação de alunos leitores, dessa forma esse

trabalho foi produzido com a intenção de analisar como vem sendo praticada a literatura na

educação infantil. Tendo como objetivo específico identificar as atividades pedagógicas que

influenciam positivamente na formação do aluno leitor, analisando as atividades propostas

pelo professor e visando a essa formação e ao conhecimento das concepções das professoras

acerca da importância da literatura na educação infantil. Contemplando aspectos históricos

sobre a educação e a literatura infantil, ressaltando alguns conceitos relacionados à criança e

seu mundo, bem como o surgimento da segunda colaborou para o desenvolvimento da

criança. Foram apontadas algumas práticas pedagógicas, com destaque na educação infantil,

que visam à formação de alunos leitores. Fundamentando-se nos autores Frantz (2011) e

Garcez (2008) que se interessam por essa área de pesquisa. Este se realiza por meio de

pesquisa de caráter qualitativo, realizada em uma instituição de ensino pública de Brasília/DF.

A pesquisa estruturou-se em dois instrumentos, que no geral, obteve ótimos resultados: um

roteiro de observação realizado com 20 crianças e duas professoras da turma em questão; e

um questionário que foi respondido por cinco professoras da educação infantil. A literatura

quando é utilizada intencionalmente traz fundamentais benefícios ao desenvolvimento da

criança, como na leitura e escrita. Dessa forma, para que se desenvolvam futuramente bons

leitores, é importante que os profissionais da educação infantil se comprometam a introduzir a

literatura em suas práticas educacionais, incentivando a leitura e a paixão pelos livros.

Palavras-chaves: Educação Infantil. Literatura Infantil. Práticas Pedagógicas.

SUMÁRIO

MEMORIAL EDUCATIVO...................................................................................................9

DESENVOLVIMENTO TEMÁTICO DA PESQUISA......................................................15

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................16

1 ARCABOUÇO TEÓRICO..................................................................................................18

1.1 CONHECENDO UM POUCO A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL..........18

1.2 LITERATURA INFANTIL: APONTE PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO

LEITOR..................................................................................................................................21

1.2.1 A criança e o livro: o professor como mediador.....................................................24

1.2.2 Quem conta histórias encanta ouvintes...................................................................26

1.3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA FORMAÇÃO DO ALUNO

LEITOR..................................................................................................................................29

1.3.1 Uma boa leitura implica bons resultados................................................................33

2 CAMINHOS METODOLÓGICOS...................................................................................35

2.1 CONHECENDO A ESCOLA E OS SUJEITOS

COLABORADORES................................................................................................................36

2.1.1 Características da escola...........................................................................................36

2.1.2 Características da turma..........................................................................................36

2.1.3 Características das professoras................................................................................37

3 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS.........................................................................38

3.1 ESCOLA: UM LUGAR DE APRENDIZAGEM E PESQUISA.....................................38

3.2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COMO OBJETO DE

ANÁLISE...............................................................................................................................38

3.3 PERCEPÇÕES DAS EDUCADORAS COM RELAÇÃO À LITERATURA

INFANTIL..............................................................................................................................47

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................55

REFERÊNCIAS......................................................................................................................58

ANEXO....................................................................................................................................60

APÊNDICE..............................................................................................................................62

PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS....................................................................................63

9

MEMORIAL EDUCATIVO

10

Formação básica

Nasci no dia 27 de outubro de 1992, em Brasília. Meu pai faleceu quando eu era ainda

pequena, apenas quatro anos, desde então minha mãe vem criando a mim e a meus dois

irmãos mais velhos com bastante esforço. Agradeço a ela pela educação que me

proporcionou, pelos princípios transmitidos, pois tudo o que sou hoje devo a ela por ter me

ensinado.

Tinha cinco anos de idade quando entrei em minha primeira escola, Escola Batista do

Paranoá, que atualmente não existe mais. Não gostava muito de ir, lembro-me de um episódio

muito triste que aconteceu, quando umas meninas, que eram da minha turma, zombavam de

mim por alguma coisa, não me lembro de que ao certo. Às vezes, até inventava para minha

mãe que estava doente somente para não ir à escola. Uma das brincadeiras de criança que eu

mais gostava era a de escolinha, em que eu e meu primo éramos alunos da minha irmã, que

era a mais velha e nos ensinava. Gostei muito de minha infância, posso declarar veemente que

tive infância, brinquei muito com minha irmã, meus primos e meus amigos. Durante toda

minha infância e adolescência, ia para a casa de meus avós, pois a família se reunia para

conversar e, enquanto isso, nós íamos brincar. Brinquei e me diverti muito, uma infância

diferente da que temos hoje na sociedade. Amo minha família, tenho orgulho de fazer parte

dela.

Em toda minha trajetória de estudante, sempre estudei em escola pública, sempre fui

uma boa aluna, esforçada. Meus professores sempre me elogiavam nas reuniões de pais.

Adorava tirar boas notas, jamais fui reprovada. Gostei do colegial, ainda hoje sinto bastante

falta do tempo no ensino médio, de minha escola, de meus professores e amigos. Certa vez,

ouvi dizer que temos saudade de tudo o que passou, pois, quando estamos no ensino

fundamental II, sentimos falta do anterior, quando estamos no ensino médio acontece do

mesmo modo e assim sucessivamente.

Em 1999, fui estudar no CAIC Madre Santa Paulina. Fiz muitos amigos, uns até hoje

permanecem e outros nos encontramos por acaso, mas sem cumprimentos. Existia uma

professora que eu amava nessa escola, e as aulas dela também, a professora Helena. Estudei

com ela minhas duas primeiras séries iniciais. No ano seguinte, fiquei com outra professora

que, sempre ao final de cada aula, nos ensinava a fazer docinhos de leite ninho. Eu gostava

muito de fazê-los e ainda mais de comê-los porque eram muito gostosos. Durante o tempo que

passei nessa escola, sempre era aluna destaque por minhas notas e meu comportamento.

11

Lembro que nessa escola havia uma biblioteca, mas que não era utilizada por nós alunos;

durante todos os anos que nessa escola permaneci, minha mãe comprava um livro que era

pedido pela escola na lista de material escolar a cada início de ano, mas a professora não

trabalhava com eles em sala nem como tarefa de casa. Não tinha o costume de ler, raramente

lia alguns gibis que havia ganhado da minha mãe. Não tive um bom relacionamento com os

livros até o segundo ano do ensino médio, pois, a partir daí, com influência de minha irmã,

comecei a ler livros de romance, livros cristãos e desde então nunca mais parei. Minha leitura

e minha escrita não eram muito boas, mas a partir do momento que comecei a ter uma relação

com os livros, pude ver meu progresso.

Em 2004, fui estudar no Centro de Ensino Fundamental 1 do Paranoá. Tudo mudou.

Agora havia mais disciplinas e muitos professores. Meu ensino fundamental foi divertido,

aconteceram algumas coisas inusitadas, conheci novos amigos. Lembro que caí no corredor

várias vezes, em pleno recreio, e todos riram de mim, inclusive eu. Lembro-me de que estudei

com uma professora de história, nossa! Amava aquela professora, ela explicava a matéria tão

bem. Na 8.ª série, tive aula com duas professoras que, mais tarde no ensino médio, seriam

minhas diretoras. Durante os quatro anos que fiquei nessa escola, todo bimestre ganhava

certificado de Honra ao Mérito, por ter tirado ótimas notas e até hoje os guardo com muito

carinho. Amava isso!

Em 2008, ingressei no Centro de Ensino Médio 1 do Paranoá, e algumas coisas novas

vieram. Foram desmembradas algumas disciplinas, como as ciências naturais que se tornaram

Química, Física e Biologia, outras disciplinas também foram incorporadas no currículo,

Filosofia e Sociologia. O primeiro ano do ensino médio para mim foi complicado porque

foram muitas mudanças, não consegui manter meu ritmo de antes em ciências naturais

porque, além de os professores não ensinarem muito bem, a matéria era complicada, mas

depois consegui prosseguir com meu ritmo de antes. Continuei sendo uma das melhores da

sala, mesmo não indo tão bem em Física. Meu primo estudava comigo na mesma sala e

sempre competíamos para ver quem tirava a maior nota. Às vezes empatávamos, às vezes eu

ganhava e outras ele ganhava, era muito divertido.

No segundo ano, já era conhecida por praticamente toda a escola e também pelos

professores. Havia um professor de Matemática que ninguém gostava dele, pelo fato de ele

explicar a matéria sempre olhando para baixo ou para o quadro, mas eu gostava dele, aprendia

muito, sempre o defendia, tirava sempre as maiores notas. Certa vez até ganhei uma

calculadora científica. Quando estava no segundo ano, lembro-me de que o governo iniciou

um projeto para muitas escolas, um passeio oferecido aos melhores alunos da escola. Iríamos

12

ficar hospedados num hotel em Brasília e, durante esses três dias, iríamos aos principais

pontos turísticos daqui de Brasília e um desses pontos foi a Universidade de Brasília (UnB).

Foi excelente! Não tinha muito conhecimento sobre a UnB até então.

Durante toda a minha educação básica, a não ser no ensino médio, não gostava de ler

nem me interessava por livros, independente de qual era o gênero. Comecei a me interessar

por livros por intermédio da minha irmã que me apresentou alguns best seller. Aí começava

meu relacionamento com os livros que vieram a aumentar no nível superior com indicações

de professores e de amigas. Sinto pesarosamente que minha formação como leitor tenha se

iniciado no último nível da educação básica e não por incentivo de professores, mas de outros.

Como sempre estudei em escolas públicas, minha mãe achou por bem me colocar num

cursinho preparatório para o PAS, o Alub, as minhas tardes de terça e quinta não eram mais as

mesmas. Os professores faziam parecer as matérias tão fáceis, eles eram ótimos! Fiz amigos

lá que hoje os encontro pela UnB. Esse cursinho me ajudou bastante, não consegui passar pelo

PAS, mas consegui passar pelo vestibular na segunda tentativa; na primeira, havia colocado

Psicologia, mas não atingi a pontuação suficiente para conseguir a vaga. Porém, hoje, percebo

que meu lugar é realmente na Educação. Nem acreditei quando soube que havia passado,

nesse mesmo momento, estava cursado Pedagogia em uma faculdade particular com Bolsa

Prouni. Minha irmã estava mais curiosa que eu para ver o resultado, tanto que quem me deu a

notícia da aprovação foi ela. Foi muito emocionante!

Curso superior

Creio que o sonho de qualquer pessoa é ter uma boa formação em sua graduação e a

Universidade de Brasília nos possibilita isso. Você convive com diferentes tipos de pessoas,

diferentes etnias, estilos, etc., tudo o que há na Universidade contribui para uma ótima

formação porque você afirma quem você é de fato e o que quer realmente de seu curso e de

seu futuro. O espaço da UnB é maravilhoso, a natureza presente em cada canto, às vezes até

dentro da sala de aula. Essa experiência foi uma das melhores de minha vida e jamais a

esquecerei. Tenho a plena certeza que, quando me formar, sentirei saudade de tudo o que vivi.

13

Escolha do curso

Desde pequena, sonhava em ser veterinária. Junto com minha irmã e meu primo

abriríamos uma clínica veterinária e ali iríamos trabalhar juntos. Esse pensamento prevaleceu

até a adolescência. Gosto bastante de falar com as pessoas, de dar conselhos e por isso me

identifiquei bastante com o curso de Psicologia. Fiz o vestibular da UnB, mas não consegui

passar e desisti. Logo, iniciei o curso de Pedagogia em uma faculdade particular e comecei a

me interessar pelo curso, percebi que sempre gostei do ambiente escolar e que queria trabalhar

com alunos. Fiz o vestibular da UnB novamente por insistência da minha mãe e passei para o

curso de Pedagogia.

Formação acadêmica

No segundo semestre do ano de 2011, estava iniciando meu curso de Pedagogia. Era

tudo tão diferente, me sentia como um peixe fora d’água como um espaço que não me era

familiar. Com o passar dos dias, fui me adaptando a minha nova realidade e logo me

familiarizei com o espaço da Faculdade de Educação que hoje considero como minha segunda

casa, pois é o segundo lugar onde passo mais tempo.

Cursei todas as matérias que me foram ofertadas nos oito semestres que fiquei na

UnB, gostei de praticamente todas. Muitas me marcaram, como a disciplina Oficina Vivencial

que me possibilitou diferentes experiências e o maior envolvimento da turma; Antropologia

da Educação, em que aprendemos a respeitar as diversas culturas existentes; Libras, uma

língua de sinais para os surdos se comunicarem; Matemática 1, em que pude ver a Matemática

de uma maneira bastante diferente; Psicologia da Educação, em que a Makeline, professora

dessa disciplina, falava dos autores com um prazer imenso e isso me chamava bastante

atenção; Educação em Geografia, com a qual pude aprender um modo de ensinar e aprender a

Geografia que jamais vi enquanto cursava o ensino básico. Por fim, os projetos,

principalmente os da fase 4, por meio das quais pude ir para o ambiente escolar que me

proporcionou diversas experiências boas e ruins, compreendendo qual tipo de educador quero

ser. Considero tudo que vi, vivi e ouvi um enorme aprendizado.

Segui meu fluxo corretamente, peguei matérias de módulo livre no Instituto de

Música, Canto Coral, foi ótimo!

14

Cursei as disciplinas de Projeto, foi um aprendizado e tanto, ter experiência no

ambiente escolar é algo maravilhoso, ter a aproximação das crianças, das professoras, não

tenho palavras para expressar o sentimento dessa experiência.

Encontrei-me nesse curso como pessoa e como profissional e tenho em mente o que

desejo ser e o que não quero ser de maneira alguma.

Tenho a ideia de que todos deveriam fazer o curso de Pedagogia antes de qualquer

outro, pois nos possibilita uma visão mais ampla de nossa sociedade e um sentimento de

humanização, de reconhecimento dos outros, independente de como são e de qual classe

pertencem.

15

DESENVOLVIMENTO TEMÁTICO DA PESQUISA

16

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa realizada no curso de Pedagogia e

tem como foco verificar como a literatura contribui na formação de alunos leitores.

É fundamental que educadores tomem conhecimento da importância da leitura em sala

de aula para crianças no início de escolarização. Quanto mais cedo houver essa aproximação,

melhor será sua formação como futuro leitor.

A partir do conhecimento adquirido nas disciplinas e atividades de campo no curso de

Pedagogia, percebeu-se quão deficitário está o ensino nas escolas públicas no quesito leitura.

Um dos grandes problemas que se encontram, geralmente, são alunos que não possuem o

apreço pela leitura nem pelos livros. Frantz (2011) sugere que os livros sejam apresentados às

crianças desde seus primeiros anos de vida, sejam com seus pais, responsáveis, sejam em

instituições de ensino. Mesmo as crianças não sabendo ler é essencial que adentrem ao mundo

da literatura, por meio de ilustrações presentes nos livros, história que lhes é contada, entre

outras maneiras.

A literatura possui um papel de suma importância no desenvolvimento da criança.

Quando ela possui um contato logo cedo com os livros, construindo um relacionamento, terá

mais chances de obter sucesso, pois sua leitura e escrita serão bem desenvolvidas, visto que

teve uma aproximação com o aroma das páginas desde sua infância. De acordo com Frantz

(2011), a educação de qualidade só será alcançada, se de fato, a escola conseguir formar

leitores. Vários pesquisadores veem na leitura a chave para o exercício da cidadania. E, para

iniciar essa tarefa, nada melhor que começar na primeira etapa da educação básica, atraindo as

crianças, provocando-as para entrar no universo da literatura que tem tudo a ver com elas,

uma vez que lá encontram a possibilidade de imaginar, de criar e fantasiar por meio das

histórias que lhes são contadas pelos adultos.

A partir dessa problematização, tem-se como objetivo geral nesta pesquisa analisar

como os professores de educação infantil estão utilizando a literatura em suas práticas

pedagógicas para formar futuros leitores.

A seguir, apresentam-se os objetivos específicos.

Identificar atividades pedagógicas que influenciam positivamente na formação

do aluno leitor.

Analisar as atividades propostas com base na formação do aluno leitor.

17

Conhecer as concepções das professoras acerca da importância da literatura na

educação infantil.

A justificativa de ter realizado a pesquisa nessa área se fundamenta na relação que a

pesquisadora obteve com a leitura/literatura nos anos iniciais de escolarização, considerando

um tema a ser levado a sério nas instituições de ensino, pelo fato de interferir no

desenvolvimento da criança por toda a vida. A partir do Projeto 4, percebeu-se que as crianças

precisam se relacionar mais com os livros, pois se observa atualmente adultos que não sabem

ler nem escrever corretamente por não possuírem o hábito da leitura, tendo em vista que a

relação entre o ser humano e os livros precisa ser constante para que haja um melhor

desenvolvimento em sua construção como cidadão consciente e crítico. Portanto, a

aproximação da criança com os livros desde cedo possibilitará a formação de um futuro leitor

que descobrirá o encantamento e a magia que está presente a cada página virada de um bom

livro.

Este trabalho está estruturado da seguinte forma: memorial; desenvolvimento temático

da pesquisa; e perspectivas profissionais.

O memorial é constituído pela história de vida da autora, com destaque em sua

formação escolar, a escolha do curso de Pedagogia e os momentos mais significativos de sua

trajetória acadêmica e, por fim, os motivos que a influenciaram optar pelo tema desse

trabalho.

O desenvolvimento temático da pesquisa inicia-se com a introdução, seguida de três

capítulos e encerrando-se com as considerações finais. O primeiro capítulo aborda um pouco

sobre a trajetória da educação infantil, a literatura como a ponte na formação de futuros

leitores e as práticas pedagógicas na formação do aluno leitor. Posteriormente, têm-se uma

análise de observações que identifica as práticas pedagógicas dos professores na formação de

alunos leitores e, em seguida, a análise do questionário aplicado às professoras conhecendo a

importância que elas atribuem à literatura em suas práticas em sala de aula. Encerrando-se

essa parte com as considerações finais.

E, por último, são apresentadas as perspectivas profissionais da autora.

18

1 ARCABOUÇO TEÓRICO

Este capítulo apresenta, primeiramente, alguns conceitos ligados à trajetória da

educação infantil, em especial no Brasil. Em seguida, aborda a literatura como um fator que

contribui na formação de crianças leitoras, a importância do professor como mediador nesse

processo de formação e o grande valor que a contação de histórias possui no processo de

construção de um leitor.

1.1 CONHECENDO UM POUCO A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Para se entender a história da educação infantil, é necessário que se leve em

consideração seu início e trajetória até chegar ao modelo de educação atual, uma vez que essa

parte da história não pode ser dispensada, pois para entender o presente é necessário que se

conheça as bases em que esta educação foi estruturada para que não se torne práticas

irrefletidas (KUHLMANN JR., 2011).

A concepção de infância atual nem sempre fez parte do ser humano, muito pelo

contrário, é bastante recente. De acordo com Silva (2011, p. 1):

[...] a criança parece se situar como um sujeito que detêm seu espaço na

sociedade, um indivíduo exigente, questionador, possuidor de mercado

consumidor, leis, programas televisivos e ciências dedicadas a elas. Mas a

ideia de infância é extremamente moderna.

Durante séculos, a educação da criança estava sob a responsabilidade da família, ela

era educada por seus membros, aprendendo as normas e regras da sua cultura, a ela não era

atribuída muita importância, vista apenas como um mini adulto. O autor Áries (1981 apud

SILVA, 2011) afirma que “[...] o sentimento da infância não existia [...]”, uma vez que esse

sentimento correspondia à consciência da particularidade infantil, como a separação: criança,

jovem e adulto. O tratamento era o mesmo, em nada se diferenciava. O que importava para a

família era a força de trabalho, quanto mais crianças mais dinheiro se conseguia, “[...]

concebida como um objeto descartável, sem valor intrínseco de ser humano” (RIZZO, 2003,

p. 37, apud PASCHOAL; MACHADO, 2009, p. 82).

A taxa de mortalidade infantil era altíssima, pois não havia nenhum tipo de higiene, e,

com isso, as doenças se propagavam rapidamente e acabavam por matar os indivíduos. A

primeira infância era marcada pela aprendizagem de um ofício, ou seja, qual seria a sua mão

19

de obra. Contudo, havia uma diferenciação nesse modelo de aprendizagem, uma vez que, na

nobreza, as crianças tinham uma formação totalmente diferente das camadas populares,

porque a estes eram ensinados a utilização de sua mão de obra e àqueles as artes da guerra ou

os ofícios eclesiásticos.

Machado e Paschoal (2009, p. 82) afirmam que “Diferentemente dos países europeus,

no Brasil, as primeiras tentativas de organização de creches, asilos e orfanatos surgiram com

um caráter assistencialista, com o intuito de auxiliar as mulheres que trabalhavam fora de casa

e as viúvas desamparadas”. Essas instituições foram criadas para dar apoio às mães que

estavam entrando no mercado de trabalho para sustentar a família ou para ajudar o marido e

com isso não tinham onde deixar seus filhos foi então que se deu a criação dessas instituições.

Foram criadas, em meados do século XIV, casas com o intuito de ajudar aos pobres, para

abrigar crianças desfavorecidas socialmente, tinham o objetivo de cuidar, higienizar,

alimentar, dentre outras necessidades envolvidas; no entanto, no Brasil além do caráter

assistencialista, tinha também por objetivo o caráter pedagógico, isso era o que o diferenciava

de outros países (MACHADO; PASCHOAL, 2009).

Com a transição do feudalismo para o capitalismo no continente europeu, ocorreu a

passagem do modo de produção doméstico para o fabril, essa mudança causou alterações na

estrutura familiar, pois antes a mulher ficava em casa para educar os filhos, mas, agora, com

esse novo modelo, ela também sairia para trabalhar juntamente com seu marido e até com

seus filhos maiores, deixando a educação dos filhos menores a cargo de terceiros.

O nascimento da indústria moderna alterou profundamente a estrutura social

vigente, modificando os hábitos e costumes das famílias. As mães operárias

que não tinham com quem deixar seus filhos, utilizavam o trabalho das

conhecidas mães mercenárias. Essas, ao optarem pelo não trabalho nas

fábricas, vendiam seus serviços para abrigarem e cuidarem dos filhos de

outras mulheres (PASCHOAL; MACHADO, 2009, p. 80).

No final do século XIX, houve forte imigração no País e iniciou-se a República; com

isso, ocorreram iniciativas de proteção à infância para impedir o alto índice de mortalidade

infantil. As crianças, nessa época, começaram a frequentar instituições escolares, entretanto, o

ensino era diferenciado entre as classes sociais, ou seja, a educação era baseada nas

necessidades que cada classe possuía, em consonância Kramer (1995 apud PASCHOAL;

MACHADO, 2009, p. 84) afirma que:

[...] as crianças das classes menos favorecidas eram atendidas com propostas

de trabalho que partiam de uma idéia de carência e deficiência, as crianças

das classes sociais mais abastadas recebiam uma educação que privilegiava a

criatividade e a sociabilidade infantil.

20

Com o passar do tempo, a criança passou a ser vista como um ser que precisava de

atenção e cuidados especiais dos adultos, uma educação fora da instituição familiar, uma

instituição de ensino formal que lhe fornecesse subsídios necessários à educação de qualidade,

que proporcionasse seu desenvolvimento intelectual, cognitivo, motor, entre outros. As

creches passaram a ter uma nova visão que, além de cuidar das crianças, prioritariamente

teriam de desenvolver um trabalho educacional; e um novo tutor, o Estado. No artigo 208, o

inciso IV, consta que “O dever do Estado para com a educação será efetivado mediante a

garantia de oferta de creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade” (BRASIL,

1988 apud PASCHOAL; MACHADO, 2009, p. 85).

A criança é um ser capaz de aprender, em que há um enorme potencial, cabendo ao

adulto saber trabalhar com ela para que esse potencial possa se desenvolver da melhor

maneira possível. Uma vez que:

A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte

de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma

determinada cultura, em um determinado momento histórico. É

profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas

também o marca (REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A

EDUCAÇÃO INFANTIL, v. 1, 1998).

Cada sociedade forma o indivíduo que a identifica, cada criança possuirá a identidade

do lugar onde vive. Aprendendo desde seu nascimento a cultura, as regras, as crenças e os

hábitos relativos àquela comunidade, identificando-o como um indivíduo que a ela pertence;

no entanto, “A criança, assim, não é uma abstração, mas um ser produtor e produto da história

e da cultura” (FARIA, 1999 apud BRASIL, 2006, p. 13).

As crianças são seres que se apropriam do mundo de um jeito único, significativo para

elas. Em consonância com essa afirmativa, Paschoal e Machado (2009, p. 79) corroboram que

“Na sociedade contemporânea, por sua vez, a criança tem a oportunidade de frequentar um

ambiente de socialização, convivendo e aprendendo sobre sua cultura mediante diferentes

interações com seus pares”. Portanto, a criança possui direitos que precisam ser respeitados e

levados em conta para a sua formação.

Foi aprovado, dois anos depois da Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança

e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, que assegurou à criança e ao adolescente os direitos

fundamentais à pessoa humana, com acesso ao “[...] desenvolvimento físico, mental, moral,

espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade” (BRASIL, 1994 apud

PASCHOAL; MACHADO, 2009, p. 85). A partir dessa lei, as crianças adquiriram vários

direitos, como por exemplo, o “[...] direito ao afeto, direito de brincar, direito de querer,

21

direito de não querer, direito de conhecer, direito de sonhar” (idem, 2009, p. 85),

possibilitando-lhes o domínio de seu desenvolvimento como ser humano. Na Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, foi definida a educação infantil como a

primeira etapa a ser cumprida na educação básica, o primeiro nível, possuindo a finalidade de

desenvolver a criança em seus aspectos: físico, psicológico, intelectual e social,

complementando a ação da família e da comunidade. Essa modalidade será oferecida em

creches e pré-escolas até os seis anos de idade, completado seis anos a criança já estará sendo

introduzida na classe de alfabetização.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998a) sugere

que as atividades devem ser oferecidas para as crianças não só por meio das

brincadeiras, mas aquelas advindas de situações pedagógicas orientadas.

Nesse sentido, a integração entre ambos os aspectos é relevante no

desenvolvimento do trabalho do professor, uma vez que: educar significa,

portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens

orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o

desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e

estar com os outros, em uma atitude de aceitação, respeito e confiança, e o

acesso pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e

cultural (BRASIL, 1998a, p. 23, apud PASCHOAL; MACHADO, 2009, p.

86).

As crianças possuem um enorme potencial quando o assunto é aprendizagem, sendo

“[...] um ser humano único, completo e, ao mesmo tempo, em crescimento e

desenvolvimento” (BRASIL, 2006, p. 14). Quando expostas a um leque de possibilidades

interativas, seu universo pessoal se amplia em significados se o ensino for contextualizado e

de qualidade, “não importando sua origem social, pertinência étnico-racial, credo político ou

religioso, desde que nascem” (BRASIL, 2006, p. 15).

Logo, “Os novos paradigmas englobam e transcendem a história, a antropologia, a

sociologia e a própria psicologia resultando em uma perspectiva que define a criança como

ser competente para interagir e produzir cultura no meio em que se encontra” (BRASIL, 2006,

p. 13), ou seja, pode-se verificar que houve mudanças significativas que deram um novo rumo

à educação infantil, uma nova face em relação ao que se tinha quando surgiram as primeiras

instituições educacionais.

1.2 LITERATURA INFANTIL: A PONTE PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO LEITOR

A literatura infantil nasceu juntamente com a Pedagogia. Seus primeiros textos

escritos eram produzidos por pedagogos com fins pragmáticos, ou seja, com o intuito de

22

ensinar algo por meio deles (FRANTZ, 2011). Às vezes utilizada para a transmissão,

propagação de regras, comportamentos moralizantes para que as crianças se tornassem

indivíduos de acordo com a vontade dos adultos. Assim, servindo de instrumento cultural e

moralizante a esses pequenos seres, a literatura popular era adaptada em livros, carregada de

advertência (BURKE, 1989 apud GARCIA, 2011).

A literatura infantil se originou na Europa, por volta do século XVIII; devido às

transformações sociais, a criança passou a ser vista de outra forma deixando no passado a

concepção de mini adultos que a ela era atribuída. “A partir de então, obteve um novo status

[...], no novo cenário ganhou um espaço literário só para ela” (CHRISPIM, 2013, p. 1). A

ampliação do mercado de livros infantis tem crescido nos últimos tempos, isso significa que o

hábito da leitura tem alcançado as crianças. Muitos projetos e programas têm sido criados

para incentivar o hábito da leitura não só pelas crianças, mas também pelos pais. Visto que, o

hábito da leitura desperta o senso crítico e colabora no aprendizado desta.

O marco da literatura no País aconteceu a partir da década de 1970, por meio da obra

do autor Monteiro Lobato, sendo o pioneiro, o primeiro a escrever com qualidade para as

crianças brasileiras. Pois, com a influência da literatura europeia clássica, os livros somente

eram traduzidos para o português, ou seja, a identidade do País não existia nessas obras. A

partir dessa data, a literatura brasileira tomou um novo rumo com novas propostas e formas,

com um novo caminho a trilhar. Tendo em vista que, segundo as autoras Rosa e Nunes (2011,

p. 2):

A literatura infantil é importante, primeiramente, porque insere a criança no

mundo simbólico, no qual muitas vezes ela se coloca no lugar das

personagens, fazendo uma viagem a outros mundos [...]. Depois porque os

livros concedem às crianças a possibilidade de observar não só os padrões da

língua escrita, mas também as imagens e seus significados, os quais revelam

comportamentos e atitudes, e mostram formas diferentes de o homem

representar o mundo e a realidade.

O uso da literatura no cotidiano escolar proporciona ao aluno a abertura de portas para

o mundo da leitura, já que, “[...] o texto literário é fator imprescindível no processo de

formação do leitor” (FRANTZ, 2011, p. 16, grifos da autora). A educação que está proposta

no Plano Curricular Nacional (PCN) e na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) pretende formar

um indivíduo que transforme o meio em que está inserido, sem preconceitos, que seja

democrático e que atue com consciência nas diversas situações da vida, mas, para que isso

venha acontecer é necessário que se repense a prática escolar no quesito leitura, pois é por

meio desta que o aluno fará sucesso em sua formação. A autora Frantz (2011, p. 17) afirma

que “[...] a escola tem falhado, e muito, na condução desse processo, no que se refere à

23

formação do leitor”, de maneira que, no geral, não há momentos nem espaços que auxiliem o

aluno para que ele venha ser um futuro leitor e, se existe, não é realizada intencionalmente,

mas somente como uma maneira de passar o tempo. Geralmente o aluno não consegue

enxergar na leitura algo que lhe venha proporcionar prazer, pensa-se que seja perda de tempo,

de maneira que, não irá ter proveito algum. Talvez essa falta de interesse aconteça pela

inexistência de um exemplo por perto que o incentive e que mostre o quão gratificante é ter

esse relacionamento com o livro. Pois:

[...] se o professor das séries iniciais tiver sucesso em iniciar seus alunos

pelos caminhos da leitura através da literatura, e os professores das etapas

seguintes derem continuidade a esse trabalho, temos certeza de que a escola

brasileira conseguirá dar um grande salto de qualidade [...] (FRANTZ, 2011,

p. 18).

A literatura possui um papel fundamental, ela é a base, o alicerce, para a construção de

um futuro leitor, não é apenas uma história para ser contada, de maneira que, mexe com toda

a estrutura cognitiva da criança, fazendo-a compreender a vida real por meio da história. É

nela que se encontram respostas para as inúmeras indagações do mundo infantil (FRANTZ,

2011). O texto literário por possuir uma linguagem conotativa possui vários significados a fim

de serem interpretados pelas crianças que o ouve e pelo professor que o conta. Vale salientar

que Rosenfeld (1976, p. 53, apud FRANTZ, 2011, p. 36) assegura que “A obra de arte

literária é a organização verbal significativa da experiência interna e externa, ampliada e

enriquecida pela imaginação e por ela manipulada para sugerir as virtualidades dessa

experiência”. Por meio da literatura, é possível ao aluno perceber o mundo com uma

concepção diferente, descobrindo novos sentidos que o ajudam a compreender a realidade a

partir da contação de uma história e a relação que há entre ambos. É essencial que a história

faça sentido para quem a escuta, que o que está sendo contado se transforme em cores que

simbolizem sentimentos. Assim como afirma Alves (2004, p. 1, apud GARCIA, s/d, p. 4),

“[...] o lugar da literatura não é a cabeça: é o coração. A literatura é feita com as palavras que

desejam morar no corpo”. A escrita produz sentimentos, alimenta a imaginação, aumenta a

criatividade, torna o ser humano mais conhecedor da palavra e do mundo que o cerca.

É apropriado que a literatura seja trabalhada no cotidiano escolar com a intenção de

formar alunos leitores, contudo, essa prática deve obter a ajuda de todos os personagens da

instituição como também da família, principalmente dos pais, sendo parceiros nesse trajeto

para a constituição de leitores.

As escolas precisam assumir a formação do leitor literário como um

compromisso institucional. Portanto, prever como deverá ser a organização

do espaço e do tempo dentro da instituição, para alcançar esse objetivo. Isso

24

inclui organização de bibliotecas, equipagem das salas de aula (com tapetes,

almofadas, estantes adequadas etc.). Implica pensar o que cada instituição já

dispõe e o que falta conseguir para ter os espaços adequados (KAERCHER,

2010, p. 135).

A literatura proporciona o prazer, a viagem por meio das palavras. É como ouvir uma

música que provoca uma mudança interior e que, quanto mais se ouve, mais se quer ouvir,

assim também é com a literatura. Pois “Essa experiência prazerosa e lúdica tende a se

transformar em hábito, [...] por mobilizar emoções, inspirar prazer, exige repetição contínua e

pesada” (FRANTZ, 2011, p. 40, apud AGUIAR, 1988, p. 27). A literatura por si mesma traz

uma beleza em suas palavras, seus ritmos, suas rimas e imagens. É por meio dos textos

escritos com qualidade que a criança mergulha no mundo da literatura, resgatando o prazer de

maneira lúdica sem se preocupar com a gramática.

A literatura proporciona conhecimento, melhorias na oralidade, na escrita e no

posicionamento crítico diante de determinado grupo social. “Uma educação transformadora e

humanizante passa necessariamente pela prática da leitura e tem nela seu objetivo maior”

(FRANTZ, 2011, p. 41), os benefícios que a prática da leitura pode proporcionar são

inúmeros, de maneira que muda o cenário interior e consequentemente o exterior. Há autores

que dizem que a literatura é a mais rica, mais completa e a mais gratificante por conter em sua

leitura inúmeros sentidos e sentimentos. Ainda a mesma autora (2011, p. 47) assegura que:

A brincadeira, o jogo, a fantasia, são formas utilizadas pela criança para

explorar, conhecer e explicar o mundo. Com o auxílio da fantasia, da

imaginação ela penetra mundos os mais desconhecidos e distantes em busca

de respostas para suas inúmeras indagações. Por tudo isso, acreditamos,

nenhum outro texto pode realizar essa tarefa melhor do que a literatura

dirigida para as crianças, uma vez que nela esses aspectos são igualmente

considerados essenciais.

A escola segue os padrões, as regras e as normas da sociedade, assim também são os

livros, eles são carregados de uma cultura, de um patrimônio que revela características do

meio social seja implicitamente ou explicitamente.

1.2.1 A criança e o livro: o professor como mediador

A prática do professor, sua metodologia, diz muito sobre quem ele é e qual tipo de

aluno deseja formar, de maneira que, “A prática pedagógica do professor revela

necessariamente a sua visão de educação” (FRANTZ, 2011, p. 61). Não é possível incentivar

25

os alunos a terem interesse pelos livros e mantê-lo se o próprio professor não é um leitor

habitual que não sente prazer na leitura. Pois, como provocar hábitos em terceiros, se a

própria pessoa não possui, como falar de algo de que não se conhece? Daí a importância de o

professor ser um apaixonado pelos livros.

Para que possa haver o encontro e o encanto dos alunos com os livros, é necessário

que o professor crie condições para que isso aconteça, seja na biblioteca, seja num espaço

reservado em sala de aula, que proporcione aconchego, confiança, um local agradável e

convidativo a quem vê e a quem está lá. É preciso separar um tempo para esse momento,

mostrando aos alunos a importância deste, e o quão é fundamental que eles também se

apropriem daquela rotina, “Por isso, para incutir o gosto pela leitura, ele deve, primeiramente,

ser um grande leitor e contador de histórias” (GARCIA, s/d, p. 3).

É interessante que ao se escolher determinado livro para ler, é apropriado que o

professor explique o porquê da escolha, do que se trata a história e se tem alguma ligação com

determinado tema atual. Ao revelar essas características, as crianças obterão conhecimento e

poderão escolher entre diversas opções o que se deseja ler ou ouvir. É bom explorar, tudo o

que está presente na história e nas ilustrações do livro lido.

Ao ler um livro para as crianças é conveniente usar postura adequada, a entonação da

voz que é essencial na hora da narração, pois são aspectos que dão vida para a história que

está sendo contada, colher as opiniões de cada um sobre o que mais gostaram na história, se

tiveram algum sentimento à medida que a história estava sendo narrada, entre outros. Esse

momento é muito importante, pois, dessa forma, elas aprenderão a ouvir o que o outro tem a

dizer. A hora da leitura, como muitos educadores chamam, não deve reter muito tempo para

que a criança não se chateie, mas apenas alguns minutos e, conforme eles forem progredindo,

aumenta-se o tempo com histórias mais longas.

Geralmente, alguns professores expressam não sentir muito interesse pela leitura, por

conta do cansaço, pela falta de tempo, pelo elevado preço dos livros e outros, esquecendo eles

que esses aspectos se repercutem nas crianças pela relação que existem entre eles. Com isso,

Cunha (1998, p. 49, apud ROSA; NUNES, 2011, p. 2) analisa:

Argumentar a falta de tempo e o cansaço para justificar a pouca (ou

nenhuma) leitura é desconhecer que exatamente o cansaço nos obriga a criar

um tempo para o descanso, para o lazer. E esse tempo é realmente criado por

todos, só que não é ocupado com a leitura. Quer dizer: o livro (sobretudo o

de literatura) não é uma opção de lazer, não significa prazer para o adulto.

Para que na prática o professor, no quesito formação de leitor, possa ter êxito, é

apropriado que ele venha ter clareza em sua metodologia com a literatura infantil em sala de

26

aula, para despertar vários questionamentos e promover a construção de novos significados

(PAIVA; OLIVEIRA, 2010). Dessa forma, o educador obtendo clareza de seus objetivos com

a literatura estabelecerá uma metodologia adequada para alcançar resultados positivos quanto

aos objetivos propostos.

Para que a prática da leitura torne um hábito entre as crianças, é necessário elencar

algumas atitudes que, de acordo com Garcez (2008, p. 13, grifos da autora), o professor

precisa ter:

convívio contínuo com histórias, livros e leitores;

valorização social da leitura pelo grupo social;

disponibilidade de acervo de qualidade e adequado aos interesses,

horizontes de desejo e aos diferentes estágios de leitura dos leitores;

tempo para ler, sem interrupções; espaço físico agradável e estimulante;

ambiente de segurança psicológica e de tolerância dos educadores em

relação ao percurso individual de superação de dificuldades;

oportunidades para expressar, registrar e compartilhar interpretações e

emoções vividas nas experiências de leitura;

acesso à orientação qualificada sobre por que ler, o que ler, como ler e

quando ler.

1.2.2 Quem conta histórias encanta ouvintes

Na educação infantil, as crianças vão aprendendo a ler por meio do mundo letrado, e

podem ser introduzidas, nessa fase, no mundo mágico da literatura; é importante que já se

inicie um trabalho contínuo para que elas se sintam pertencentes a esse universo da leitura. A

figura central nesse momento é o professor, certo que, ele será o porta-voz, o mediador.

Coelho (2005 apud GARCIA, s/d, p. 4) afirma que,

[...] quem lê para criança não lhe transmite apenas o conteúdo da história;

promove seu encontro com um modelo de leitor, ao fazê-la captar a

entonação, as pausas, a posição do corpo, a maneira de segurar o livro, os

comentários que o adulto faz ao ler, para logo poder imitá-lo em atividades

de simulação de leitura.

A arte de contar histórias vem desde o início da humanidade, em que os mais velhos se

reuniam para contar as histórias dos antepassados, essa prática auxiliava no aprendizado, já

que regras, comportamentos, atos de heroísmo, entre outros, eram relatados às crianças e

jovens daquele grupo. A época se modificou, mas esse hábito ainda perdura até os dias atuais.

O primeiro contado da criança com a leitura se inicia por meio das histórias lidas pelos

adultos. Barbosa (1999, p. 22, apud FRANTZ, 2011, p. 68) acredita que:

27

Para a criança, ouvir histórias estimula a criatividade e formas de expressão

corporal. Sendo um momento de aprendizagem rica em estímulos sensoriais,

intelectuais, dá-lhe segurança emocional. Ouvir histórias também ajuda a

criança a entrar em contato com suas emoções, supre dúvidas e angústias

internas. Através da narrativa a criança começa a entender o mundo ao seu

redor e estabelecer relações com o outro – socialização. Consequentemente,

são mais criativas, saem-se melhor no aprendizado e serão adultos mais

felizes.

Para ser um bom contador de histórias, Garcez (2008, p. 14) postula algumas questões

como:

Escolha cuidadosamente a história. Consulte o quadro de interesses.

Faça um relaxamento, respire profundamente e concentre-se.

Prepare as crianças motivando-as com uma conversa introdutória.

Mostre o livro, fale do autor, do ilustrador, da editora, da coleção.

Combine se poderá haver interrupção ou não (depende de você).

Antecipe um pouco do tema e associe com a vida.

Leia ou conte de memória com expressividade.

Intercale, quando for o caso, com cantigas.

Prenda a atenção usando um tom de voz agradável – nem muito alto nem

muito baixo, modulando sem ser monótono. Não exagere.

Diferencie a voz dos personagens.

Faça sons e onomatopeias imitando os personagens e os acontecimentos.

Crie suspense com a voz.

Faça da “Hora do conto” um momento mágico e desejado pelas crianças.

[...]

A literatura, quando levada a sério na prática de sala de aula, proporciona ao aluno um

melhor desenvolvimento. Portanto, é necessário que a literatura seja escolhida de maneira

consciente, com qualidade e que se adeque à faixa etária do público que se quer atingir.

É por meio da linguagem oral que se estimula a criação de imagens visuais únicas

naquele que as ouve (FRANTZ, 2011). O ato de contar histórias cria laços afetivos entre as

pessoas envolvidas, pois à medida que a história está sendo contada, está acontecendo a

interação entre as partes, ou seja, acontece uma troca e não apenas a recepção. Coelho (1991,

p. 11, apud ROSA; NUNES, 2011, p. 6) fala da sensação de ambas as partes envolvidas nesse

processo de leitura, que são os ouvintes e quem conta a história:

A força da história é tamanha que o narrador e os ouvintes caminham juntos

na trilha do enredo e ocorre uma vibração recíproca de sensibilidades, a

ponto de diluir--se o ambiente real ante magia da palavra que comove e

enleva. A ação se desenvolve e nós participamos dela, ficando magicamente

envolvidos com os personagens, mas sem perder o senso crítico que é

estimulado pelos enredos.

Como enfatiza Frantz (2011, p. 78), “Quem conta um conto aumenta o encanto pela

palavra-vida dentro de si mesmo e também na imaginação criadora de seu ouvinte”. Em

28

consonância com a afirmativa acima, Amarilha (2012) reitera que com a contação de história

é possível à criança experimentar sensações que os personagens da história vivenciam, uma

vez que traz para seu dia a dia sentimentos que ela um dia irá viver, pois com isso conseguirá

reagir de forma espontânea e natural sabendo lidar com as mais variadas situações e

solucioná-las mediante sua autonomia que foi construída ao longo de sua formação. Quando

uma história faz sentido para a criança, certamente ela pedirá repetidas vezes que seu

professor a leia constantemente, pois é significativo para ela.

[...] é por essa razão que muitas vezes a criança solicita a repetição de uma

mesma história, principalmente, crianças pré-escolares. Visto que não

dominam ainda os esquemas e convenções da escrita, elas precisam ter um

apoio para aprenderem as novidades da linguagem literária- os ritmos das

frases, o jogo de sonoridade, a arrumação das palavras são para elas pontos

de referência no acesso à escrita (AMARILHA, 2012, p. 48).

Há quem diga que uma história simplesmente é uma história, que não traz nenhum

significado dentro dela, sendo um equívoco pensar dessa maneira, pois “A história é recreação

e terapia, suporte de cultura e, o mais importante, elemento de comunicação, mas, sobretudo

um instrumento de diálogo entre a criança e o adulto” (GARCIA, s/d, p. 4). Um dos

benefícios da literatura infantil é possibilitar a criança por intermédio de leituras ser um bom

leitor e um bom ouvinte e consequentemente a constituição de ser um bom escritor.

Segundo Abramovich (1998, p. 2, apud ROSA; NUNES, 2011, p. 3):

É ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como

a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a

insegurança, a tranquilidade e tantas outras mais, viver profundamente tudo

o que as narrativas provocam em quem as ouve – com toda amplitude,

significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar... pois é

ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário.

Antes de dar início à história, é importante que o contador motive a criança para

aquele momento, que ela venha se sentir curiosa para saber o que há naquelas páginas até

então fechadas. Citar o nome do autor, do ilustrador e outros, para que elas venham tomar

conhecimento que aquelas pessoas tiveram o trabalho e a criatividade em produzir aquele

livro.

Um dos objetivos da literatura, atualmente, é conscientizar os educandos em relação

ao interesse pela leitura. A escola cumprindo esse objetivo da literatura com seus alunos

formarão leitores que refletem, que criticam e que transformam a sociedade com suas práticas.

29

1.3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA FORMAÇÃO DO ALUNO LEITOR

A formação de leitores é uma tarefa que se inicia antes mesmo da alfabetização e que

se estende por toda a vida escolar do indivíduo. A leitura significa para muitos algo que não

possui prazer, que não é divertido, e esse tem sido o grande problema de praticamente toda

população brasileira, pois se esquecem de que o ato de ler os possibilitará entretenimento,

informação, encantamento, diversão e até pode-se dizer que representa uma fuga da realidade,

visto que “[...] por meio do livro o leitor é capaz de projetar-se ao mundo da ficção. A leitura

é a passagem do mundo real para o mundo encantado dos livros” (PAIVA; OLIVEIRA, 2010,

p. 25). Em consonância com essa afirmativa, é possível concluir que o livro não somente é

formado por letras, mas por sentimentos e sensações que invadem a alma de quem o lê.

Sugere-se que a leitura seja inserida desde a infância, antes mesmo de entrar na

educação infantil. É apropriado que os pais leiem livros, comprem livros com ilustrações que

chamem a atenção da criança. Fazer a criança ler ou que faça da leitura um hábito, requer um

costume no dia a dia por parte dos pais como também dos professores. Ziegler (2012, p. 1)

afirma que “É dever de todo professor, desde a Educação Infantil, incentivar o

desenvolvimento de comportamentos leitores antes mesmo de a turma aprender formalmente

a ler”, visto que as crianças necessitam dessa aproximação. Dessa forma, a leitura pode ser

utilizada por todas as idades sem restrições.

De acordo com Linardi (2012, p. 1) a leitura “[...] trata-se de um hábito mais que

saudável, a ser preservado e disseminado [...]”. Dessa forma, a escola possui um papel

fundamental nesse processo, principalmente o professor por estar em contínuo contato com o

aluno, possuindo a responsabilidade de despertar nele o prazer da leitura. Ele pode usar a

leitura em diversas atividades, como em debates a respeito de determinado livro que já foi

lido para a turma.

Andrade (2012, p. 1) afirma que “A leitura, como prática social, pode ser ensinada em

situações em que a turma toda participe, comentando o que foi lido, levantando e explicitando

hipóteses, debatendo ideias”. Essas atitudes revelam um comportamento leitor que pode ser

desenvolvido por meio de pessoas mais experientes que os rodeiam. Os pais e os professores

possuem um papel fundamental, pois eles irão conduzir as crianças para um mundo

espetacular, o da leitura.

Quando a criança conhece, ainda que oralmente, histórias escritas lidas por

seus pais ela capitaliza- na relação afetiva com seus pais – estruturas textuais

que poderá reinvestir em suas leituras ou nos atos de produção escrita.

Assim, o texto escrito, o livro, para a criança, faz parte dos instrumentos, das

30

ferramentas cotidianas através dos quais recebe o afeto de seus pais. Isto

significa que, para ela, afeto e livros não são duas coisas separadas, mas que

são bem associadas (LAHIRE, 2004, p. 20, apud PAIVA; OLIVEIRA, 2010,

p. 29).

Há crianças que vivem em ambientes alfabetizadores e esses favorecem a introdução

da leitura no cotidiano da criança, tornando o ato de ler e escrever regular, por causa das ações

dos parentes e amigos. Por outro lado, as crianças que não obtiveram a mesma oportunidade

precisam de bastante ajuda da instituição escolar, uma vez que não possuem influências a esse

respeito.

Todos que participam do processo de desenvolvimento da criança como leitor

possuem responsabilidades que não podem ser negadas, por isso é conveniente que cada um

assuma sua parte com seriedade. Contudo, ao aplicar uma atividade com a leitura, é

apropriado se ter um objetivo a ser alcançado, pois essa ação precisa ser intencional, não basta

somente ler sem se importar em contextualizar a história com as crianças. Visto que

Prudêncio (apud ANDRADE, 2012, p. 1) afirma:

É preciso, porém, ter em mente a intenção da leitura. Não basta

simplesmente fazer uma sessão por dia sem propósito comunicativo. Quando

o professor lê, tem de considerar sua ação como prática social que entretém,

emociona, informa e diverte. Mas também deve estar ciente dos objetivos

didáticos a que ela se destina - por exemplo, diferenciar a linguagem escrita

da falada ou conhecer o estilo de um autor.

Os objetivos devem estar claros quando implantados, pois o simples ato de ler sem ter

metas a serem alcançadas com aquela leitura não ajuda muito na formação de um leitor.

Não existe uma receita pronta para introduzir os livros e tampouco a leitura nos

planejamentos de sala de aula, pois não deve ser algo mecânico e sem vida, mas sim que

favoreça a criatividade e o prazer por esse momento. É conveniente que essas crianças tenham

contato com os livros, com suas ilustrações presentes em cada página, mesmo não sabendo

decodificar as letras presentes ali, elas conseguem compreender, realizar uma leitura somente

pelo fato de ler as imagens desenhadas.

Além de aproximar as crianças do mundo letrado, a leitura alimenta o imaginário e

incorpora essa experiência à brincadeira, ao desenho e às histórias que todos os pequenos

gostam de contar. “Através da leitura de histórias, esse pequeno leitor aprende que a

linguagem dos livros tem suas próprias convenções, e que as palavras podem criar mundos

imaginários [...]” (GARCIA, s/d, p. 4).

Conseguir que as crianças insiram a leitura em seu cotidiano não é impossível como

alguns pensam; pelo contrário, iniciando desde cedo essa prática como algo que traz prazer,

que a faça sentir bem, possibilitará a ela o gosto pela leitura e não irá desistir desta conforme

31

for crescendo. Para formar futuros leitores, é importante que exista na sala de aula um

ambiente propício a essa prática, ambientes reservados e em boas condições.

Muitos especialistas faz menção que a escola possui um papel fundamental para

garantir o contato com os livros desde a primeira infância. De acordo com Meireles (2012, p.

1):

Nessa fase, o que importa é deixar-se levar pelas histórias sem nenhuma

preocupação em ensinar literatura. Ler para os pequenos e comentar a obra

com eles é fundamental para começar a desenvolver os chamados

comportamentos leitores. Mesmo antes de aprender a ler, as crianças devem

ser colocadas em contato com a literatura. Ao ver um adulto lendo, ao ouvir

uma história contada por ele, ao observar as rimas (num poema ou numa

música), os pequenos começam a se interessar pelo mundo das palavras. É o

primeiro passo para se tornarem leitores literários - percurso que vai se

estender até o fim do Ensino Fundamental.

É fundamental que a palavra escrita e as ilustrações presentes no livro estejam ao

alcance das crianças desde cedo; ou seja, estimular a leitura dentro do berçário, com bebês

que ainda nem aprenderam a falar, pode ser o caminho mais curto para a formação de um

futuro leitor. Abramovich (1989, p. 14, apud GARCIA, s/d, p. 4) afirma:

O primeiro contexto sócio cultural de interação da criança é a família, e é

nela que quase sempre ocorrem as primeiras práticas de leitura, onde os

adultos contribuem para o desenvolvimento do conhecimento da criança

sobre a linguagem escrita e sua estrutura.

A literatura, diante do processo de aprendizagem da criança na formação de um leitor,

constitui-se como um alimento, alimento no qual a criança precisa ser nutrida. A literatura é

uma arte, pois atrai a criança por sua beleza e intensidade construindo uma relação íntima

com o sujeito. A criança por ter uma curiosidade pelo belo e pelo novo encontra na literatura

o alimento adequado para seus desejos. Assim, como afirma Meireles (1984, p. 32, apud

PAIVA; OLIVEIRA, 2010, p. 24), “[...] literatura não é, como tantos supõem, um

passatempo. É uma nutrição”.

Na formação de um aluno leitor é indicado que o trabalho aconteça coletivamente

tanto da instituição escolar como da instituição familiar. Contudo, é a transmissão desse

capital cultural que existe dentro da família que motivará o sucesso escolar da criança

(PAIVA; OLIVEIRA, 2010). É no âmbito familiar que a criança irá aprender a cultura, as

regras e os hábitos da família, portanto esse processo de construção de leitor se inicia com os

familiares para depois alcançar a escola. Lahire (2004, p. 20, apud PAIVA; OLIVEIRA, 2010,

p. 29) explicita que:

A construção do sucesso escolar da criança não se limita à ausência ou

presença de livros em casa. Mas estão ligadas às dinâmicas internas de cada

32

família: a afetividade entre os membros da família, a ordem doméstica,

formas de autoridade familiar, as formas de investimento pedagógico, as

formas familiares da cultura e da escrita.

O livro vem acompanhando a humanidade desde que surgiu a escrita, uma forma de

registrar fatos que aconteceram, depois houve outros direcionamentos com a escrita por meio

dos gêneros textuais. “No entanto, o livro nunca perdeu sua magia” (PAIVA; OLIVEIRA,

2010, p. 25).

É importante também que o professor, como mediador desse processo, aproxime os

alunos dos diferentes gêneros literários, disponibilizando situações que as crianças possam

atuar como leitores e abrir um espaço para debates, impressões e percepções para que cada

um se expresse.

A literatura possui características muito ricas que servem para a formação da criança

como leitor. Há vários gêneros disponíveis, por isso é conveniente que, em sua prática

pedagógica, o educador possa explorar em sala de aula cada um para que a criança se

identifique, os conheça e declare suas impressões, pois assim despertará a criatividade por

meio deles. O mundo da literatura é rico, mas depende do educador saber desfrutar dessa

riqueza. “No espaço escolar é necessário aproximar a prática pedagógica e o gênero literário,

em benefício da formação de uma nova mentalidade leitora” (ROSA; NUNES, 2011, p. 3). Os

gêneros: fábula, poesia, lenda, quadrinhos, dentre outros, possuem “[...] um caráter

socializador, contribuindo assim para o desenvolvimento social da criança” (ROSA; NUNES,

2011, p. 3). Um dos gêneros que os professores mais exploram em sala de aula é a fábula, que

tem por característica: narrativas curtas, cujos personagens são seres inanimados que ganham

vida e no fim é dotada de uma moral, trazendo um ensinamento para aqueles que a leem e a

escutam. Geralmente, a fábula não possui a necessidade de ser discutida pelos alunos, mas

apenas para que eles se identifiquem com a moral posta pela fábula. Habitualmente, “as

crianças deslumbram com o fabuloso, pois o gosto pelo mistério, fantasia, prazer e emoção

são inerentes a criança” (PAIVA; OLIVEIRA, 2010, p .25).

Ainda, Sousa (1978, p. 37, apud ROSA; NUNES, 2011, p. 25) confirma que,

O livro interessante para criança deve recorrer ao caráter imaginoso:

traduzidos em mitos, aparições da antiguidade, monstros ou realidades dos

tempos modernos; exposto numa forma expressiva qualquer: lenda, conto,

fábula, quadrinhos, etc.; descrito com beleza poética e ilustrações que mais

sugerem do que dizem.

A história desperta o imaginário da criança, instiga-a a pensar, a criar, a viver a

história que está sendo contada. As autoras Rosa e Nunes (2011, p. 26) afirmam que “É por

meio do imaginário que a criança reconhece suas próprias dificuldades e aprende a lidar com

33

elas, podendo assim, se reconhecer melhor e se conhecer como parte integrante do mundo que

a cerca”. Com o auxílio dos livros, as crianças se sentem livres, uma liberdade que é diferente

da realidade, do mundo que elas vivem, sua liberdade está ligada ao viajar por meio do

pensamento, imaginar situações que talvez em seu dia a dia não pudesse existir. Dessa forma,

“A imaginação bem motivada é uma fonte de libertação, com riqueza. É uma forma de

conquista de liberdade, que produzirá bons frutos, como a terra agreste, que se aduba e

enriquece, produz frutos sazonados” (CARVALHO, 1989, p. 21, apud PAIVA; OLIVEIRA,

2010, p. 25). A criança possui o poder de construir e desconstruir tudo o que desejar, uma vez

que seu mundo é totalmente diferente do mundo adulto, que muitas vezes se encontra

engessado pelas experiências que aconteceram ao longo de sua vida.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o professor disponibilizará de

recursos e condições favoráveis na instituição para que sua prática pedagógica seja de

qualidade, isso inclui uma biblioteca cheia de livros que é atrativa aos olhares dos que ali

visitam. Entretanto, algumas escolas não dispõem de bibliotecas, outras sim, mas a usam para

guardar objetos, ou seja, poucas são as escolas que utilizam de fato a biblioteca em seu

sentido real. Contudo, ela possui um papel muito importante na formação de leitores na

instituição escolar e também o bibliotecário por ser ele quem cuida dos livros. O educador

pode utilizar a biblioteca em toda ação pedagógica desenvolvida na escola, contudo é

necessário que essa imagem estática que ela possui durante anos seja abandonada e assim seja

incorporada no processo educacional.

1.3.1 Uma boa leitura implica bons resultados

Ao terminar de ler um livro, o professor não precisa ter a preocupação de completá-lo

com uma tarefa, pois a leitura possui valor em si mesma, mas, se ele quiser aplicar alguma

atividade, que não seja algo chato que acabe com o sentimento de prazer que a leitura tenha

provocado no ouvinte. O ler por prazer e compartilhar os sentimentos que foram despertados

no decorrer da leitura já valem por si só. Como afirma Cagliari (1989, p. 181, apud FRANTZ,

2011, p. 109, grifos da autora) “Às vezes uma simples leitura basta. Nem tudo o que se lê

precisa ser discutido, comentado, interpretado. [...] A leitura às vezes é como uma música que

se quer ouvir e não dançar.”. Mas é válido que, para ampliar a compreensão da história,

sejam realizadas atividades que explorem os aspectos mais marcantes de uma maneira lúdica,

divertida, criativa e artística, atividades “[...] como desenho, teatro ou o que a imaginação das

34

pessoas sugerirem” (ROSA; NUNES, 2011, p. 5). É importante ressaltar que é muito bom ler

sem ter a obrigação de realizar algo depois, o simples ato de ler, às vezes, já é o bastante.

35

2 CAMINHOS METODOLÓGICOS

Uma dos fatores importantes na vida do ser humano é ter interesse em pesquisar sobre

a realidade e assim adquirir respostas com relação ao mundo que o cerca. De acordo com essa

afirmação, Gil (2008) aponta que o objetivo fundamental da pesquisa é encontrar repostas

para problemas por meio de procedimentos científicos. Sendo assim, é a partir de pesquisas

científicas que se adquirem respostas sobre determinado problema, neste caso, problemas

relacionados à educação. Dessa forma, para que possa haver mudanças na educação, é

necessário que se pesquise e que se modifique o espaço a partir dessa.

Esse estudo foi realizado por meio de uma abordagem qualitativa, de cunho

exploratório e caráter descritivo interpretativo, cujo objetivo é analisar as práticas

pedagógicas de duas professoras da educação infantil e sua influência na formação do aluno

leitor, tendo em vista que essa metodologia é a que melhor atende aos propósitos dessa

pesquisa, pois “tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e

ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis

para estudos posteriores” (GIL, 2008, p. 27).

Como meio para coleta de dados, foi utilizado, primeiramente, um roteiro de

observação durante três semanas, no período de 5 horas por dia numa instituição de ensino

público. As observações são de cunho participante, uma vez que o objetivo era identificar as

práticas pedagógicas que auxiliavam na formação de leitores. Observação participante:

[...] consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade,

do grupo ou de uma situação determinada. Neste caso, o observador assume,

pelo menos até certo pontoo papel de um membro do grupo. Daí por que se

pode definir observação participante como a técnica pela qual se chega ao

conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo (GIL,

2008, p. 103).

Ainda, como afirma Gonsalves (2011), em um processo de pesquisa, o pesquisador

interage com o sujeito e, dessa forma, os dados são produzidos.

Como segundo instrumento para coleta de dados, aplicou-se um questionário para

cinco professoras da educação infantil com perguntas abertas, pois a partir deste se obteve um

maior aprofundamento dos dados coletados, a fim de conhecer as opiniões das entrevistadas

com relação à importância da literatura na formação de leitores. Por motivos éticos, o nome

da escola, das professoras e dos alunos não foram citados nesta pesquisa.

36

2.1 CONHECENDO A ESCOLA E OS SUJEITOS COLABORADORES

2.1.1 Características da escola

A pesquisa foi desenvolvida em uma escola pública, localizada na Asa Norte, em

Brasília. A mesma atende aos seguintes níveis: Maternal I, II e III (alunos de oito meses a 2

anos), 1.º Período (alunos com 2 e 3 anos), 2.º Período (alunos de 4 a 6 anos). A escola

funciona em período integral, das 7h30 às 17h30. A maioria dos alunos matriculados reside

nas Regiões Administrativas do Distrito Federal. A escola é bastante requisitada pelos pais,

uma vez que possui atendimento integral e ótimas recomendações e resultados em pesquisas.

Seu espaço é bem amplo, a área do maternal fica separada da área das crianças maiores, todas

as crianças possuem uma rotina durante a semana que é fielmente seguida pelos professores.

Dispõe de espaço lúdico, cama elástica, refeitório, auditório, pátio, contato com a natureza,

parque, duas piscinas, enfim, a estrutura da escola é totalmente adequada à idade das crianças.

2.1.2 Características da turma

A turma em que a pesquisa foi realizada foi a do 2.º Período, havia na sala 20 alunos,

sendo 10 meninos e 10 meninas, todos na faixa de 4 a 6 anos, em que prevalece a idade de 5

anos. A turma é bem participativa, interage nas atividades, faz as tarefas que são propostas e

se adequam facilmente à rotina que eles seguem na semana, possuem um ótimo

relacionamento entre eles e com a professora, são bastante amigos uns dos outros, respeitam a

professora e recebem sem nenhuma rejeição pessoas que ali vão estagiar. A turma é muito

tranquila. No quesito família, a maioria vive com os pais, alguns são de pais separados e há

um único caso que a criança não conhece o pai. Os responsáveis são muito participativos,

procuram saber da professora como seu filho está se desenvolvendo, ajudam nos lanches e se

prontificam no que a escola precisa. Como eles fazem a primeira refeição do dia na escola,

alguns pais sempre levam alimentos não só para seu filho, mas para todos.

As crianças não levam caderno, lápis ou qualquer outro material, pois no início do ano

letivo os pais levam os materiais da lista que a escola pede. A maioria desses materiais servem

para decoração em alguma festividade, de murais ou para atividades realizadas em sala. No

início do ano, a professora fez quatro tipos de cadernos com atividades e conteúdos que iria

37

trabalhar com eles. Há um ótimo relacionamento entre todas as crianças dessa escola e

também com os professores.

2.1.3 Características das Professoras

A turma é acompanhada por duas professoras regentes e duas monitoras. Uma

professora e uma monitora no período da manhã e as outras no período da tarde, uma vez que

a escola funciona em turno integral. A professora do turno da manhã é formada no curso de

Pedagogia na Universidade de Brasília – UnB, em que leciona há 14 anos divididos em

diferentes escolas, mas que atualmente se encontra nessa. A professora do turno da tarde, foi

recentemente convocada pela Secretaria de Educação, antes trabalhava na Escola Americana

de Brasília, também formada em Pedagogia na Universidade de Brasília – UnB.

Todas as professoras que responderam ao questionário trabalham na educação infantil

há muito tempo, entre elas está a professora do turno matutino da escola observada. Todas

amam sua profissão e são apaixonadas pelas crianças.

38

3 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos resultados foi estruturada da seguinte maneira: primeiramente, sobre as

observações participativas que foram coletadas e, por último, por meio de um questionário

aplicado às professoras.

3.1 ESCOLA: UM LUGAR DE APRENDIZAGEM E PESQUISA

A observação foi realizada durante três semanas, com duração de 5 horas por dia, na

turma do 2.º Período, totalizando 90 horas, utilizando-se das horas do estágio supervisionado

obrigatório por intermédio do Projeto 4, fase 2. A escola é de período integral, ou seja, todas

as crianças que lá estudam passam todo o dia na escola. Entretanto, elas não passam o dia

todo com a mesma professora, uma fica com eles no período da manhã e outra no período da

tarde, a troca acontece às 12h30.

Todas as atividades aqui relatadas foram realizadas em sala de aula, no espaço lúdico e

em um galpão que fica nas dependências da escola. Há uma brinquedoteca/biblioteca, mas

não é de costume das professoras levarem os alunos para esse ambiente. Não há uma

bibliotecária na instituição, não há um planejamento literário a ser realizado na

brinquedoteca/biblioteca, pelo fato de nem ao menos a utilizarem. As professoras, geralmente,

utilizam livros que se enquadram em seu planejamento, contextualizados com o cotidiano das

crianças, com o propósito de realizar um trabalho fundamentado nesses. As crianças possuem

uma rotina que é seguida semanalmente. Geralmente, esse momento de leitura acontece duas

ou três vezes por semana; geralmente, é realizado intencionalmente com base nos

planejamentos, tanto a escolha do livro como as atividades posteriores.

3.2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COMO OBJETO DE ANÁLISE

No dia 16 de julho, a professora desenvolveu um momento de leitura na sala de aula,

todas as crianças se sentaram no chão em círculo para ouvirem a história do “Lobo e os 7

cabritos”, ela em nenhum momento se prendeu ao livro, percebeu-se que já tinha

39

conhecimento da história e com base na história fez uma pequena peça com as crianças. Elas

já familiarizados com aquela conduta, participaram com entusiasmo. Como as crianças não

sabiam a fala, ela ia imitando os personagens, utilizando da entonação, a mudança da voz para

cada um, e eles iam mexendo a boca como se eles estivessem falando. Os outros que estavam

sentados ficaram atentos escutando a história. Às vezes, eles participavam com bastante

empolgação, mas habitualmente era preferível ficar atentos, com os olhos e os ouvidos bem

abertos viajando na história que estava sendo contada e encenada pelos colegas. Terminado

esse momento, a professora abriu uma roda de debate para que eles pudessem falar o que

acharam da história, que parte mais os agradaram. Quando as crianças concluíram suas

percepções à respeito da história, a professora a relacionou a temas do cotidiano, como não se

deve abrir a porta para estranhos, mesmo que se pareçam com alguém conhecido; o cuidado

com o meio ambiente; e o respeito a pais, colegas e outros; ou seja, contextualizando para que

elas se apropriem da história. Depois eles se levantaram e foram se sentar nas carteiras para

representarem no papel dado pela professora o que mais gostaram na história.

Pode-se observar neste relato que a professora se preocupou em tomar conhecimento

do conteúdo da história antes de contá-la aos alunos e que não se prendeu na história do livro,

somente lendo o que estava escrito, pelo contrário, ela se apropriou da história e a reinventou

para que as crianças a ouvissem e participassem de uma maneira totalmente lúdica. O espaço

em que foi realizada a contação não era específico para esse tipo de atividade, mas quem cria

o espaço é o educador, mesmo sendo no ambiente da sala de aula. Enfim, a atividade

aconteceu e com sucesso.

Pode-se afirmar que, ao trabalhar o livro dessa maneira em sala de aula ou em outros

ambientes da escola, de certa forma, estará promovendo a leitura e a atração das crianças

pelos livros, uma vez que estará fazendo com que elas se sintam parte integrante desse

processo, um sujeito que, na interação com o meio em que está inserido, faz sentido à ela,

ampliando sua visão de mundo. Ou seja, provocando o gosto pela leitura de uma forma

interdisciplinar e lúdica, pode favorecer na formação de bons leitores. São vários os fatores

que contribuem na formação de alunos leitores, como o ambiente, a postura do professor,

como ele desenvolve a história e outros. Assim, como afirma Rosa e Nunes (2011), que a

literatura infantil insere a criança no mundo simbólico, onde viaja nas entrelinhas escritas em

um pedaço de papel, se colocando no lugar dos personagens. Muitas vezes as crianças depois

de ouvirem uma história a representam, segundo sua visão, no recreio, com seus colegas.

Pode-se comprovar que, no transcorrer da observação, a maioria das crianças estava

atenta e interessada no que estava sendo contado pela professora. Como afirma Frantz (2011,

40

p. 69) que “ao ouvir uma história a criança vai elaborando internamente esse universo

estruturado através da linguagem. O pensamento é desafiado a buscar significação para aquilo

que é narrado”. Contudo, as crianças desde cedo, possuem vontade de construir uma relação

com o mundo literário, estando abertas às novidades e aos encantamentos que existem; dessa

forma, é indispensável que existam profissionais da educação com o intuito de ser a ponte

entre o livro e a criança, proporcionando-a também a autonomia em relação a escolhas de

livros que se quer ouvir.

É possível perceber que a ludicidade está integrada com a ação do professor nesta

atividade com o livro; assim como Frantz (2011, p. 20) reitera, “a literatura infantil também é

ludismo, é fantasia, é questionamento, e dessa forma consegue ajudar a encontrar respostas

para inúmeras indagações do mundo infantil, enriquecendo no leitor a capacidade de

percepção das coisas”, ou seja, a partir do momento em que a criança compreende que

determinada história faz sentido, que é importante ela se apropriar daqueles acontecimentos,

sua atenção será voltada totalmente para a história, pois se tornou significativa para ela.

Ao iniciar o conto, os textos precisam ser de uma linguagem simples, atrativos, com

um vocabulário familiar ao mundo da criança, que tenham ilustrações atraentes que facilitem

a inserção da criança ao universo da leitura (GARCEZ, 2008). A mesma autora (2008, p. 20)

ainda afirma que:

[...] é importante reservar um tempo para a troca de experiências sobre a

leitura. Nesses momentos, as crianças devem falar livremente, sem

cobranças ou ameaças. Garantir a segurança emocional tanto no momento da

leitura como no do comentário é importante para que a criança não sinta que

está correndo riscos de ser reprimida, advertida, humilhada ou ridicularizada

quando participa das conversas e debates na classe.

A escuta sensível às palavras que as crianças dizem as fará se sentir sujeitos e parte

integrante desse processo, ouvir o que elas têm a dizer provocará sentimentos que as fazem se

sentirem importantes e que sua fala é valiosa.

Na segunda observação, neste mesmo dia, no período da tarde, a professora, como

previsto na rotina fixada para as crianças, decidiu levá-las para o espaço lúdico, um local bem

aconchegante, com almofadas, tapetes e sofás proporcionais a seus tamanhos. Ela levou três

livros, mas iria ler apenas dois, o que ela havia escolhido: “As palavras”, cujo autor não é

lembrado, e o que as crianças escolhessem, que no caso foi: “O ratinho curioso”, de Maurício

de Souza; o que não escolheram foi: “Eu vejo”, do mesmo autor. Entretanto, eles não ficaram

quietos para ouvir a história, talvez porque era uma professora diferente do turno da manhã. A

todo o momento, ela tinha de parar a história para chamar a atenção de alguns, portanto, a

41

aula não fluiu. Ela contou a história da mesma maneira do início ao fim, ficou sentada à frente

deles, não utilizou a entonação da voz a seu favor nem o corpo, não fez nada de diferente,

apenas leu o que estava escrito. Como os meninos já estavam no horário de tomar banho, foi

descendo de dois em dois, e os outros permaneceram no espaço. Os que permaneceram

sentaram-se em trio para dividirem os lápis de cor para desenhar no papel o que mais

gostaram. Nesse período, não houve nenhum espaço para que as crianças pudessem falar

sobre as histórias.

Verifica-se que esse espaço onde foi realizado o momento de leitura condiz com o

discurso de muitos autores, como Frantz (2011), que afirma que um local que atrai, que é

aconchegante e que proporciona prazer contribui e muito na aprendizagem dos alunos,

entretanto se percebe que esse tempo gasto ali não foi bem aproveitado. Pode-se afirmar, a

partir das observações, que a leitura foi utilizada como uma forma de passar o tempo, pois a

professora apenas leu as histórias sem manifestar recursos que existem para envolver as

crianças como a linguagem corporal, a entonação da voz e outros; assim como afirma Frantz

(2011) que o professor precisa dar significado ao texto para que o aluno entenda o que se

passa na história, é conveniente que seja significativo para ele. Quando se está lendo um livro,

e a leitura no discorrer da trama é interrompida para repreender aos alunos, acaba por perder o

sentido, não surte o mesmo efeito quando não é interrompida.

As crianças não estavam muito interessadas na história, tanto que enquanto a

professora lia, elas faziam algo de seu interesse, como conversar com o colega e bagunçar. A

aula não fluiu, talvez pela postura da educadora, a maneira como contava a história e a

transmitia para seus alunos. Uma vez que a magia e o encantamento devem vir por meio das

palavras que vão sendo pronunciadas envolvendo as crianças, sendo significativo para cada

uma de acordo com sua singularidade; por isso, a importância em ler a história antes de contá-

la para as crianças. Meireles (1984 apud PAIVA; OLIVEIRA, 2010) diz que a literatura não

é, como muitos acreditam, um passatempo, mas uma nutrição que alimenta a alma de quem se

apropria dela. Viu-se que esse momento no espaço lúdico somente foi realizado por conta da

rotina das crianças em que ficam preestabelecidos os lugares e os horários que as crianças

devem frequentar na semana.

O professor, em sua prática pedagógica referente à formação do leitor, precisa levar

em conta as características da turma, escolhendo livros que sejam apropriados a esta, levando

em consideração: o gênero, o sexo, a questão socioeconômica, a idade e as necessidades do

futuro leitor. Daí a importância de o professor escolher livros que se adequem ao cotidiano de

seus alunos e que seu prazer pela leitura seja percebido por eles, pois “[...] professor sem

42

prazer não pode formar leitores desejantes” (AMARILHA, 2012, p. 25), ou seja, quando o

professor sente prazer na leitura de um livro, provocará no aluno o desejo e a vontade de ler

também, será um sentimento recíproco, em que ambos são influenciados pela leitura.

Verifica-se que os alunos não se sentiram interessados com a história pelo fato de não fazerem

sentido para eles, por isso, a preferência em praticar outras ações que não tinham relação com

aquele momento. O educador possui um leque de oportunidade para contar uma história que

chame a atenção de seus espectadores, mas cabe a ele utilizar ou não.

O modo como se conta uma história pode levar a criança a se encantar ou a se

desencantar; um dos fatores que resultam nessas questões é a voz, ou seja, como o professor

conta a história. Dessa forma, é conveniente que professores se transformem em contadores

de histórias que se interessem pela literatura infantil, a fim de que possam atrair as crianças.

“O tempo reservado à leitura, durante o período escolar, assegura que as crianças vão

valorizar a leitura literária, pois você a está valorizando” (GARCEZ, 2008, p. 20). A criança

percebe sensações, sentimentos, pensamentos que adultos, geralmente, não conseguem

perceber. Ela compreende e apreende muito mais se comparada a adultos; por isso, jamais um

educador pode subestimar a inteligência e a capacidade que ela possui em absorver

informações implícita ou explicitamente. Ou seja, se a criança percebe que o professor não

valoriza o livro nem o momento da leitura, certamente ela também não valorizará seja na

escola ou em outro lugar. Como se pôde observar nessa aula, os alunos não valorizaram esse

momento porque a professora também não o valorizou, não os cativou nem preparou os

alunos para que a história fosse contada, não integrou o lúdico e as ferramentas que um

contador de história têm a sua disposição. Viu-se que alguns alunos não ficaram até ao final,

pois foram tomar banho. Depreende-se por meio dessas atitudes que se o educador não deu a

devida importância ao momento da leitura, consequentemente, o aluno também não dará, daí

a importância de o educador ser um apaixonado pelos livros, contagiando seus alunos com

esse sentimento. Enfim, quem cria o clima, a magia e a segurança em sala de aula é o

professor, praticamente, tudo está em suas mãos.

No dia 28 de julho, a história da vez foi “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, e, logo

após, também foi relatada a história do doce Romeu e Julieta. Eles estavam aprendendo a letra

R do alfabeto, portanto, saborearam no início da aula, na hora do café da manhã, o queijo com

a goiabada para relacionar a história do doce à história de Shakespeare. Para contar a história,

a professora levou duas imagens grandes para ilustrar o Romeu e a Julieta, que eram

representados pelo Cebolinha e pela Mônica para que eles pudessem ter uma aproximação já

que praticamente todos conhecem o gibi da “Turma da Mônica”. Quando terminaram de

43

comer, todos se sentaram no chão, um ao lado do outro, para ouvirem a história, antes de

iniciar, a professora perguntou se alguém já tinha ouvido falar na história do Romeu e da

Julieta, alguns levantaram as mãos; com isso, a professora pediu que cada um contasse o que

sabia. Quando todos terminaram, ela iniciou a história, e todos ficaram atônitos prestando

atenção no que estava sendo contado. Todos em silêncio ouvindo. Ao terminar, a professora

perguntou quem tinha gostado das duas histórias, e todos levantaram as mãos e se

manifestaram. As crianças gostaram muito da história, ficaram todos atentos, escutando

durante todo o momento. Ao contar o final dramático da história de Romeu e Julieta, a

professora perguntou se alguém tinha um final melhor, se eles modificariam, como seria esse

final e o porquê. Alguns dos alunos falaram que mudariam para o final feliz, e outros

disseram que não mudariam. Ainda nesse momento a professora relacionou a história com a

mentira, falou que era feio mentir e que a mentira provocava situações ruins. Como atividade

de fixação, a professora deu para cada um, recortes de um prato da cor azul e um retângulo

branco simbolizando o queijo branco e outro vermelho simbolizando a goiabada. Todos

fizeram a colagem em seus cadernos.

Percebeu-se nessa aula a contextualização de tudo o que foi trabalhado. A ludicidade

sempre presente e uma prática remetendo-se a outra. Pode-se notar a importância dos

conhecimentos prévios das crianças, do momento da fala, a valorização que a educadora

atribuiu ao que eles conheciam, dentre outros aspectos. O lúdico, principalmente no ensino

infantil, proporciona às crianças uma melhor aprendizagem do que foi dado, daí atribui a essa

prática uma grande importância (FRANTZ, 2011).

É por meio das expressões em cada rosto que se percebe se a história está

correspondendo ao mundo imaginário da criança, se a história é interessante e se vale a pena

parar para ouví-la. Todas já tinham ouvido falar da história de Romeu e Julieta tanto que

todos contaram sua versão e ao final contaram o que acharam. A professora lhes perguntou se

eles mudariam o final da história, tendo em vista que os dois morrem no final, a maioria quis

o final feliz, outros usaram a criatividade para contar outro final. A literatura é capaz de

despertar na criança a criatividade e o imaginário sem limites. Como exercício de fixação,

fizeram colagens no caderno, o que caracteriza uma excelente continuidade do trabalho

literário, envolvendo as crianças e tornando o momento significativo para elas.

A conversa sobre as impressões que os alunos têm sobre o livro abre espaço para que

eles possam relatar o que mais gostaram e também se lembrar de alguma situação já vivida

para que se apropriem do uso social da leitura. Da mesma forma, aconteceu nesse momento

da leitura, o espaço para as opiniões lhes proporcionou um envolvimento maior com a

44

história, e a relação que esta tem com seu mundo, caracterizando assim, uma prática social. É

bom que o educador tenha essa habilidade em tornar o momento da leitura como algo que

proporcione prazer, que satisfaça à criança (FRANTZ, 2011).

A autora Garcez (2008, p. 23) afirma que “[...] as histórias provocam atividade mental

intensa, a criança ouve de forma ativa, imagina, visualiza, interage com o narrador e os

personagens, e reage fazendo antecipações, hipóteses, inferências”. A postura do narrador na

história faz toda a diferença, a maneira como se narra para uma criança resultará em um

processo prazeroso ou chato. A ação de ler vai muito além de somente ler determinada

história, mas é necessário que se prepare as crianças para esse momento, que se utilize das

expressões faciais, corporais e também diferenciando as vozes dos personagens, pois fazendo

assim, mexerá com a imaginação da criança e consequentemente irá chamar a sua atenção.

Para que haja a assimilação do conhecimento, a criança, antes de tudo, precisa se sentir como

objeto de ensino, tornando significativo para ela em seu processo de ensino e aprendizagem,

(GARCEZ, 2008). Em consonância com a afirmativa, o contador:

[...] ilumina e da vida ao texto, introduzindo-o, majestosamente, em nossa

vida e mostrando o quanto ela pode ser bela, triste, interessante,

emocionante, cheia de histórias. E deste modo sugere a continuidade desta

experiência gratificante, prazerosa, transformadora que é descobrir a vida

que há nas histórias e as histórias que fazem a vida (FRANTZ, 2011, p. 73).

Em concordância, Amarilha (2012, p. 19) salienta que:

[...] nesse processo, o receptor da história envolve-se em eventos diferentes

daqueles que está vivendo na vida real e, através desse envolvimento

intelectual, emocional e imaginativo, experimenta fatos, sentimentos,

reações de prazer ou frustração podendo, assim, lembrar, antecipar e

conhecer algumas das inúmeras possibilidades do destino humano. Pelo

processo de “viver” temporariamente os conflitos, as angústias e alegrias dos

personagens da história, o receptor multiplica as suas próprias alternativas de

experiências do mundo, sem que com isso corra algum risco.

A criança quando está ouvindo uma história experimenta sensações que jamais sentiria

se não fosse com o livro; ela passeia por mundos que até então não conhecia e representa

personagens que não fazem parte da vida real, mas que podem ser relacionados com a

experiência de vida. Além de todas essas experiências que a criança vive a literatura ainda dá

a ela a possibilidade de desenvolver diversas noções a respeito da língua escrita (GARCEZ,

2008).

No último dia de observação, duas professoras juntaram suas turmas e levaram as

crianças para um galpão que fica próximo ao parque para fazerem uma pequena peça teatral

da história “Chapeuzinho Vermelho”, o motivo da escolha não foi relatado pelas professoras.

45

Algumas crianças sentaram no chão em círculo para ouvir a história, enquanto as professoras

e alguns alunos ajudariam a professora a encenar. Uma das professoras foi narrando a história

com direito a alterações de voz, a posições corporais, gestos e outros, e as crianças de acordo

com seu personagem iam encenando sem falar nada, somente iam mechendo a boca. E, assim,

ocorreu até que a história acabasse. Durante a contação, as crianças faziam feição de medo,

alegria e suspense. Percebeu-se que eles gostam muito desse momento, eles participam,

interagem, ficam atentos a tudo durante a história. Nesse dia em especial, elas não pediram

para que eles fizessem nenhuma atividade com base na história. A história valeu por si

mesma.

Quando a leitura é realizada de forma intencional, não é obrigado que o professor

aplique alguma atividade. A autora Frantz (2011) faz menção a Cagliari (1989) em que afirma

que uma simples leitura basta, pois nem tudo que se lê precisa ser discutido ou comentado,

uma vez que essa simples prática proporciona ao aluno diversas aventuras, sentimentos,

criatividade e imaginação. Pode-se observar mais uma vez o lúdico presente na prática do

professor, e este explorando outros espaços na instituição para sair da rotina da sala de aula.

Dessa forma, “Além de lidas com o livro nas mãos, as histórias podem ser contadas de

forma espontânea, memorizadas, dramatizadas, com fantoches, slides, filmes...” (GARCEZ,

2008, p. 24), e foi isso que as duas professoras fizeram, pegaram a história e realizaram uma

dramatização com base na história e com a participação das crianças. É certo que, criando

momentos diferentes, utilizando a criatividade, variando as estratégias, provocará a cada dia

um interesse renovado pela literatura, pois “[...] todos os dias [...] deve trabalhar com a

literatura” (idem, 2008, p. 25).

Cabe ao professor mudar as performances das histórias que irão ser contadas para as

crianças, proporcionando um trabalho que seja contínuo e repleto de prazer para ambas as

partes, “Assim, a leitura passa efetivamente a fazer parte da vida da criança, o que é uma

fonte inesgotável de alegria e felicidade” (GARCEZ, 2008, p. 28).

As crianças, por meio das atividades que foram sendo realizadas, foram evoluindo

progressivamente na criatividade, na oralidade e, para a iniciação da escrita, o conhecimento

das letras pelo som, entre outros aspectos. Sempre antes de começar a aula, alguns pais

conversam com a professora sobre seus filhos e, em uma dessas conversas, houve relatos de

pais dizendo que seus filhos evoluíram com essas práticas de leitura e atividades que a

professora aplicava. Percebeu-se que a maioria das atividades foram realizadas de maneira

intencional, pois normalmente as práticas utilizadas eram baseadas e relacionadas ao que as

crianças vivenciavam. Assuntos como o cuidado com o meio ambiente, a obediência aos pais,

46

o respeito aos colegas e outros temas eram comentados baseando-se nas histórias que eram

trazidas intencionalmente para tratarem desses assuntos. Ao fim de cada história, surgia um

debate para que eles pudessem falar a respeito do que ouviram e vivenciavam no lugar onde

moravam. Foi possível concluir que praticamente todas as histórias que foram contadas pela

professora possuíam ligação com o conteúdo que eles estavam estudando, como as letras do

alfabeto, o meio ambiente, os valores, entre outros.

Nas atividades que foram realizadas por eles, observou-se que alguns já conseguiam

escrever somente ao ouvir o som das letras da palavra, não necessitando de qualquer ajuda,

entretanto, outros ainda precisavam das letras em papel emburrachado para escrever. Todos

eles possuem uma enorme criatividade, seja na hora de desenhar, seja na estruturação do

pensamento pela oralidade, entre outros.

Percebeu-se que o tempo de observação na escola não foi suficiente para que as

professoras utilizassem todos os gêneros textuais, pois o que esteve mais presente foi a fábula.

Muitos autores defendem que é conveniente que a criança conheça todos os gêneros por meio

dos livros, percebendo as diferentes linguagens e estruturas de um texto. De acordo com

Garcez (2008, p. 25) “O trabalho com versos também é muito importante, pois, de forma

lúdica e prazerosa, promove uma percepção mais intensa dos sons da língua”. Uma vez que

conhecendo os mais variados estilos de texto que existe a criança exercitará seu senso critico

declarando de qual tipo gosta mais, qual sente mais prazer em ouvir, qual é mais divertido e o

porquê de tal escolha, porque esse e não o outro. Outro ponto positivo em conhecer a palavra

escrita é que a criança perceberá a diferença que existe entre a oralidade e a escrita.

Pode-se afirmar, enfim, que o processo de formação de leitores vai muito além do

contato da criança com o livro, ou seja, é necessário que outros recursos sejam introduzidos

para que contribuam com a formação integral da criança; assim, constatou-se nas atividades

que foram desenvolvidas por uma das professoras, em que não apenas se possibilitou o

contato da criança com o livro, como também utilizou de recursos para que esse processo

fosse significativo. A maior parte das atividades que foram desenvolvidas para inserir a

criança no mundo letrado, resultando na formação do leitor, superaram-se as espectativas da

pesquisadora, confirmando os objetivos deste.

47

3.3 PERCEPÇÕES DAS EDUCADORAS EM RELAÇÃO À LITERATURA INFANTIL

O questionário foi um dos instrumentos utilizados para colher informações para a

realização deste trabalho, estruturado em quatro perguntas e respondido por escrito por cinco

professoras que lecionam na educação infantil. Todas as perguntas foram direcionadas a esse

nível de educação. As professoras foram escolhidas segundo a disponibilidade para responder

aos questionários. Elas trabalham há alguns anos na educação infantil e são apaixonadas pelo

que fazem.

A primeira pergunta do questionário foi a seguinte: Qual a sua opinião sobre a

literatura na educação infantil?

Professora 1: acredito ser de muita importância a literatura na educação infantil. Por

meio dela, a criança pode ter seu primeiro contato com livros e com a leitura de maneira

agradável, imaginária e divertida. Com a literatura dentro das salas, pode-se estimular e

desenvolver o gosto pela leitura desde pequenos.

Professora 2: extremamente importante para despertarmos o encantamento pela

leitura/escrita.

Professora 3: a literatura é fundamental no processo do desenvolvimento da criança,

tem como objetivo não só o contato afetivo, o desenvolvimento da linguagem, da lógica, mas

principalmente a liberação da criatividade, da imaginação e da fantasia.

Professora 4: acho de extrema importância!!! A história na vida das crianças levam-

nas ao mundo imaginário, cheio de fantasia e faz de conta, tão imprescindível nesta fase.

Professora 5: a literatura é de fundamental importância, pois na educação infantil

ocorre a formação de hábitos, e uma criança que tem acesso a material literário desde cedo

começa a interagir com um novo mundo, além da importância da simbologia, do

desenvolvimento da expressão oral, da interpretação de papéis entre outros.

Pode-se ressaltar que todas as professoras estão cientes de quão importante é trabalhar

a literatura na educação infantil, visto que ela proporciona aos pequenos grandes benefícios

em sua formação e em seu desenvolvimento. As crianças nessa faixa etária são atraídas pelo

conhecimento de novos conceitos e nada melhor que isso ocorra de maneira agradável,

resultando em uma aprendizagem satisfatória. Quando estimuladas desde cedo, terão

consequentemente mais chances de serem leitoras.

O primeiro contato com a leitura se dá através da audição de histórias.

Através do narrador de histórias (contador/leitor) a criança e introduzida no

mundo da leitura antes mesmo de saber ler. E os benefícios que daí advêm

são fartos e bons (FRANTZ, 2011, p. 68).

48

Observa-se isto nas palavras das professoras, em que afirmam que a criança exercita e

sua imaginação, sua criatividade por intermédio da literatura, e essa relação pode ser vista de

uma maneira divertida, dependendo do professor que fará essa mediação.

A literatura estimula a criatividade, a oralidade e a escrita de quem ouve e se apropria

da história e daquele momento, tornando-a significativa para si. A criança percebe e

reconhece que a maneira de falar é diferente da maneira que se escreve e, a partir disso irá se

apropriar dessas diferentes características da Língua Portuguesa. A ficção está presente no

universo da literatura, sendo importante que a criança se aproprie do mundo simbólico que a

literatura proporciona, diferenciando-o do mundo real e realizando comparações entre ambas

as situações.

Outro fator apontado pelas professoras é o fato de a literatura favorecer a entrada da

criança na alfabetização e letramento, pois, por meio das histórias, se trabalham as letras, as

palavras e relaciona-se a história às experiências de vida da criança para que seja uma

aprendizagem significativa.

Contudo, a literatura surgiu com a intenção de transmitir conhecimentos; entretanto,

atingiu outros patamares, a conscientização dos educandos de se atentar para a leitura (ROSA;

NUNES, 2011). Educadores veem na literatura uma forte aliada em sua prática pedagógica

com a intenção de formar leitores, já que a criança se atrai pela literatura, e características

desta que envolvem a fantasia, a imaginação e a criatividade.

Esse trabalho, quando desenvolvido desde a educação infantil, proporciona diferença

no desenvolvimento da criança que está envolta de enormes possibilidades de crescimento em

sua formação educacional e social. Visto que há diferenças entre um aluno que foi inserido no

mundo letrado em sua infância e um aluno que inicia sua relação tardiamente nas séries finais

do ensino fundamental ou até mesmo nas séries posteriores por falta de oportunidade e

conhecimento acerca do assunto, tendo por consequência dificuldades na leitura e na escrita

(FRANTZ, 2011).

Na segunda questão, perguntou-se: Como deve acontecer o trabalho com a literatura

na educação infantil?

Professora 1: pode ser realizada de diversas maneiras, observando-se as

características da sala. Pode-se trabalhar primeiro com a leitura das imagens do livro para só

depois ler o que está de fato escrito. Podem ser realizadas leituras coletivas com os alunos ou

realizar projetos em que cada criança, em dia determinado, leve um livro para casa para ser

lido com seus pais, trazendo o registro em forma de desenho ou contando oralmente o que

49

compreendeu da história. Pode-se pedir para que, por meio das imagens do livro, o aluno

recrie a história. Por meio de festivais, etc.

Professora 2: o docente deve possibilitar o manuseio de livros infantis pelas crianças

e deve ler diariamente histórias, mostrando o encantamento que a leitura pode nos oferecer.

Professora 3: deve acontecer de forma lúdica em que as crianças tenham

oportunidades de despertar o gosto pela leitura, estimular a criatividade e o imaginário e

refletir sobre os vários gêneros literários.

Professora 4: em nossa escola, tanto a professora escolhe histórias de acordo com os

temas trabalhados e com a faixa etária quanto eles (os alunos) têm também a oportunidade de

escolher livremente seus livros, tanto para leitura espontânea em sala quanto para levar

emprestado.

Professora 5: na educação infantil, é importante a ludicidade. Fazer tudo da forma

mais natural possível com uso de fantoches, livros diferenciados (com gravuras 3D), texturas

e muitas cores; devem permear o trabalho, a alegria, a brincadeira e o encantamento.

Diante das afirmativas, pode-se compreender as etapas que algumas das professoras

utilizam para a utilização do livro em sala de aula. Como citado, é necessário que o professor

considere as características da sala de aula, ou seja, a idade, o gênero, a realidade dos alunos,

entre outros aspectos. É interessante que se explore, a princípio, as ilustrações presentes no

livro, que é uma das vertentes mais ricas da produção cultural para a criança, para que ela se

aproprie do universo da leitura (GARCEZ, 2008). Essas ilustrações atraem e encantam as

crianças introduzindo-as ao mundo imaginário e atrativo. Como Frantz (2011, p. 108) afirma

que:

No livro que só contem imagens, onde não possui o auxílio das letras, o

leitor é quem irá verbalizar o que o texto de imagens sugere como leitura.

Esse tipo de texto é um exercício de liberdade e de criatividade que desafia o

leitor a observar, refletir, interpretar, criar e explorar o texto.

Reitera-se que o primeiro contato da criança com as letras acontece por meio do

contato com a literatura, esse contato repleto de ludicidade. Amarilha (2012) afirma que por

meio da ludicidade a criança apreende as informações de forma efetiva, se reconhecendo e

conhecendo o mundo ao seu redor. Pois, segundo Frantz (2011, p. 16, grifos da autora) “[...] o

texto literário é fator imprescindível no processo de formação do leitor. É a porta de entrada

para o mundo da leitura”. O educador atua como um mediador que fica entre seu aluno e a

palavra escrita, ou seja, o livro. A posição do professor assemelha-se a de uma sementeira,

pois ele planta a vontade e o desejo para que possam florescer e dar bons frutos.

50

É necessário que o professor dê a devida importância ao trabalho com a literatura com

seus alunos, a fim de que tenha cuidado para que não destrua o prazer que a leitura

proporciona às crianças, como propor atividades chatas, repetitivas e que nada tem sentido

com a leitura realizada (FRANTZ, 2011, p. 20). Ainda, a mesma autora confirma:

O professor deverá ter o cuidado de fazer dessas experiências de leitura algo

realmente prazeroso, significativo, gratificante para a criança. Caso quiser

prolongar o prazer dessa leitura ou explorá-la sob outros ângulos, cuidará de

propor atividades lúdico-artísticas afinadas com o texto literário infantil (que

é essencialmente lúdico, mágico, artístico).

Uma vez que:

Considerando a natureza da literatura, pode-se afirmar que, se o professor

está comprometido com uma proposta transformadora de educação, ele

encontra no material literário o recurso mais favorável à consecução de seus

objetivos (BORDINI, 1985, p. 18, apud FRANTZ, 2011, p. 21).

Em uma das respostas das entrevistadas, ressaltou-se a importância em realizar aulas

diversificadas com a leitura com as crianças, introduzindo a literatura da forma mais natural e

lúdica possível, proporcionando-lhes o encantamento e a alegria em fazer parte daquele

momento. Daí a importância de apresentar aos alunos os diversos gêneros literários que

existem. Afirma Garcez (2008, p. 9) que “No processo educacional, usamos muitos textos da

literatura infantil tanto como fonte de prazer e alegria, quanto como fonte de conhecimento e

também como pretexto para consolidar habilidades de leitura de nossos alunos”.

Essa autora relatou alguns tipos de atividades que podem ser utilizadas depois de a

história ser contada, como pintura, colagem, dobraduras, bordados, gravuras, desenho e

modelagem, sendo uma boa forma de não expor os alunos à atividades repetitivas, chatas e

sem nenhuma criatividade.

A terceira pergunta colocada no questionário foi: Como você percebe a literatura no

processo de formação de futuros leitores?

Professora 1: o aluno da educação infantil tem por meio da literatura, seu primeiro

contato de forma descontraída, divertida e interessante com a leitura. A literatura pode entrar

no mundo da criança e despertar nela o prazer de descobrir o mundo por meio dos livros. Com

uma linguagem adequada e temas interessantes, a literatura pode ser uma boa ferramenta na

formação de leitores competentes, que descobrem o prazer de ler. Sabemos que o prazer e o

interesse influenciam muito se o aluno será bom leitor ou não. Por isso, é importante

desenvolver isso desde pequenos por meio da literatura.

51

Professora 2: precisamos ensinar as crianças a se encantar pelo ato de ler como forma

de libertação, de conhecimento. Somente trabalhando na infância teremos uma geração de

adultos leitores.

Professora 3: é um processo de suma importância, visto que, por meio da literatura, a

criança vive, revive e conta histórias, adquirindo condições para se afirmar como sujeito

pensante, criativo e capaz de modificar a realidade.

Professora 4: levam às crianças tomarem gosto pela leitura, despertando o imaginário

e criando o hábito de forma prazerosa.

Professora 5: uma criança que não tem acesso a livros e não descobre o prazer de uma

história não pode se tornar um leitor. Um professor de verdade é aquele que consegue formar

“pequenos leitores” e futuros cidadãos letrados.

A percepção que as professoras possuem a respeito da literatura na formação de

futuros leitores, geralmente condiz com a sua prática pedagógica em sala, visto que, se um

professor afirma a grande contribuição que há na literatura, infere-se, normalmente, que ele

irá trabalhar com ela de maneira intencional e responsável, pois saberá que as suas atividades

e a sua postura com relação à literatura poderá levar o aluno a ser uma criança que se interessa

pelo mundo das letras. Tendo em vista as professoras que relataram sua opinião quanto à

formação dessas crianças, observa-se que elas afirmaram que é nessa etapa que é despertado

no aluno o gosto pela leitura, seu imaginário, uma forma de libertação, de conhecimento, em

que o professor possui um papel importante.

A literatura está intrinsicamente ligada à formação de crianças leitoras e ao contínuo

gosto de ler à medida que vão crescendo. As professoras percebem nela um fator que

contribui no desenvolvimento da criança e que desperta o prazer, o pensamento crítico e

criativo, tornando-a um sujeito capaz de modificar a realidade. Em uma das falas das

professoras, há uma frase que chama a atenção, e que vários estudiosos da área concordam

com a opinião dela, a que um professor que leva a sério sua profissão é aquele que consegue

formar pequenos leitores e futuros cidadãos letrados. Percebe-se que essa professora

reconhece que possui uma responsabilidade que, por sinal, não é muito fácil, mas que é

possível se for por caminhos que possibilitem essa formação. Assim, Frantz (2011, p. 29)

pondera:

[...] a leitura assume função crítica e social muito importante, dando ao

homem direito à opção, a um posicionamento próprio diante da realidade. E,

à medida que revela ao leitor esse mundo, desenvolvendo nele maior

consciência individual e social, a leitura está agindo no sentido da

52

humanização desse indivíduo, ampliando a sua capacidade de pensar, sentir

e interagir nas relações sociais de seu tempo.

A literatura fornece subsídios para que a criança represente a realidade por intermédio

da ficção, fazendo ela se reconhecer em outras condições existentes e ao mesmo tempo

podendo diferenciar de suas experiências cotidianas. Ainda, a mesma autora confirma:

Considerando que é por meio da fantasia, da imaginação, da emoção e do

ludismo, que a criança aprende a sua realidade, atribuindo-lhe um

significado, veremos que o mundo da arte é o que mais se aproxima do

universo infantil, à medida que ambos falam a mesma linguagem simbólica e

criativa (FRANTZ, 2011, p. 42-43).

De acordo com Amarilha (2012, p. 09):

Trabalhar a promoção da leitura, inevitavelmente, passa pela formação do

leitor, com uma pedagogia e uma teoria renovadas à luz da

interdisciplinaridade e do resgate do homem, indivíduo cidadão que precisa

sentir-se sujeito histórico para interagir no ato de ler. E não apenas livros,

mas imagens e outras linguagens com o repertório de sua vivência e com o

acervo cultural que lhe sustenta uma visão do mundo.

A oportunidade que o aluno tem de se expressar lhe possibilita o crescimento de sua

autoestima, ele se sente importante, pois sua opinião e sua palavra são importantes, e ele

deseja ser ouvido. A criança é bastante sensível, e sua percepção é bastante apurada a tudo o

que está a seu redor, portanto é necessário que o educador seja sensível e saiba apreciar sua

opinião. De maneira que essa prática de expor os pensamentos também contribua na formação

como leitora. Garcez (2008, p. 13) afirma que “[...] oportunidades para expressar, registrar e

compartilhar interpretações e emoções vividas nas experiências de leitura” alimentam a

formação.

A última pergunta colocada foi: Quais os tipos de atividades que você desenvolve para

a formação de um aluno leitor?

Professora 1: ter na sala livros à disposição dos alunos com os mais variados temas;

Leitura diária em sala; incentivar a leitura em todos os lugares onde houver letras, seja na

escola ou indo ao shopping; sempre perguntar o que os alunos compreenderam, fatos da

história (fazer perguntas para perceber o grau de compreensão do texto pelos alunos); realizar

o dia da leitura ou festivais.

Professora 2: trabalho com a pedagogia de projetos, e um dos projetos deste ano que

idealizei foi semeando um jardim de valores que tem o conto de histórias como tema central.

Após ouvir as histórias, as crianças são convidadas a retratar a parte que mais gostou num

caderno. Cada história é retratada com um tipo de material e uma técnica de desenho.

53

Professora 3: convívio contínuo com histórias, livros e leitores; valorização da leitura

com a contação de histórias; disponibilização de acervo de qualidade e adequação em sala de

aula; roda de leitura em que as crianças tenham possibilidades de se expressar; fazer

dramatização de histórias lidas.

Professora 4: projeto de literatura, em que temos também o incentivo de uma

professora que toda semana conta uma história diferenciada.

Professora 5: contação de histórias com uso de diversas linguagens e com material

variado (livros, jornal, gibis, revistas, catálogos, fichas, bulas, receitas). Tudo vira história;

escolha semanal de um livro de literatura para que um adulto leia em casa; projeto “pequenos

contadores”, no qual a criança leva um livro, aprende a história, ilustra e faz o reconto para os

colegas da turma. Esse é um momento em que ocorre o envolvimento das famílias; visita de

autores na escola; Projeto Sistemático no qual uma vez por semana uma professora vem à

turma e conta uma história abordando diversos temas de interesse coletivo.

Compreende-se, a partir das respostas, que as professoras trabalham com afinco a

responsabilidade que lhes são entregues a respeito da literatura, reconhecem que ela é fator

imprescindível em sua prática pedagógica e que é necessário um trabalho sério e responsável

em respeito às crianças que necessitam da literatura para sua formação como futuro leitor. O

contato com os livros em sala de aula, a contação de histórias, os projetos que são idealizados

e praticados pelas professoras durante o período letivo, a participação dos pais nesse processo,

os festivais com participação e apresentação das crianças a respeito de uma história

possibilitam-lhes viver um conto de fadas na vida real, mostrando para a criança que por meio

da literatura ela é capaz de descobrir mundos novos, de viver e reviver personagens da

história exercitando a sua criatividade e imaginação, que nessa fase são ilimitadas.

Assim como afirma Garcez (2008, p. 14) “[...] é necessário constituir um acervo de

livros e de textos adequados para que as crianças possam conviver com livros e histórias”.

Mesmo que na escola não exista uma biblioteca é possível construir um espaço para a leitura

na própria sala de aula, como o “[...] cantinho de leitura, varal de livros, caixa estante, mala de

livros” (idem, p. 14). Contudo, não há justificativas para que a prática de literatura não seja

instaurada na escola com as crianças, uma vez que existe um leque de possibilidades para que

o educador escolha, juntamente com as crianças, qual o tipo de espaço que elas desejam para

que elas possam se sentir pertencentes àquele lugar.

Em algumas respostas, pode-se perceber que existem vários tipos de atividades que

podem ser desenvolvidas na instituição escolar juntamente com a comunidade para que se

fortaleça a importância da leitura de textos literários para o desenvolvimento da criança, como

54

os recitais, as representações teatrais, as leituras, os concursos, dentre outras (GARCEZ,

2008). Na sala de aula, além de debates e outras atividades orais a partir das leituras, as

crianças e a professora podem produzir textos articulados às experiências com histórias e

poemas; Garcez (2008) percebe isso como uma das oportunidades mais valiosas e

enriquecedoras. De acordo com a opinião de vários autores, as práticas das professoras

correspondem com a intenção de formar futuros leitores. Pois a literatura, quando dada a

devida importância, pode sim formar leitores competentes e conscientes de suas práticas.

Depreende-se que a literatura é a porta de entrada para que o aluno desenvolva sua

autonomia, imaginação, criatividade entre outros, buscando o desenvolvimento de forma

emancipatória e satisfatória. Uma vez que, quanto mais cedo a criança iniciar seu

relacionamento com a leitura de maneira lúdica e criativa, percebendo o encantamento que há

nela, sua capacidade em gostar da leitura e dos livros será inimaginável, desenvolvendo a

capacidade de leitura e, por consequência, formando grandes leitores.

55

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste trabalho, percebeu-se que os objetivos propostos dessa pesquisa foram

alcançados, visto que foram identificadas atividades pedagógicas que influenciavam

positivamente na formação de criança leitora. Por meio das análises realizadas fundamentadas

nas observações em sala de aula, observou-se que, a maioria das atividades aplicadas pelas

professoras contribuiu para o desenvolvimento da criatividade, do pensar e do fantasiar,

atraindo a atenção das crianças para o livro e consequentemente resultando na construção de

leitores. Por intermédio dos questionários, foi possível tomar conhecimento das concepções

das professoras acerca da importância da literatura na educação infantil.

Realizar essa pesquisa foi gratificante pelo fato desse tema ser de grande valia para

quem está na graduação e para quem já está lecionando. Por meio desta, compreendeu-se a

importância que a literatura infantil possui na educação infantil e o que sua prática intencional

provoca nos alunos, pois, por meio dela, eles criam, imaginam, fantasiam e brincam, além de

provocar a vontade de ler e o gosto pelos livros, resultando em cidadãos que refletem e que

transformam o universo a sua volta pelo poder da palavra e do conhecimento.

Considerando as práticas das professoras por meio das observações, constataram-se

aspectos relevantes que valem a pena retomar, como o lúdico, o livro, a leitura, a imaginação,

a fantasia e a criatividade sempre presentes na prática de uma das professoras e, de outro lado,

a literatura sendo praticada como uma maneira de passar o tempo. Pode-se verificar que a

primeira professora compreende a importância que a literatura infantil possui para seus

alunos, pois se infere que, por meio dela, seus alunos ficam mais criativos, imaginam mais, se

desenvolvem melhor com relação à aprendizagem dos conteúdos, além de proporcionar a eles

um encontro lúdico com o livro, levando-os a se sentirem atraídos por este. A contação de

histórias é necessária para os alunos que ainda não aprenderam a leitura da palavra. Levando

em consideração que não é apenas ler qualquer história, mas sim aquela que faça parte da vida

das crianças que sejam significativas para elas, suprindo suas necessidades emocionais,

cognitivas, entre outras. A educadora, como foi visto nos relatos das observações, sempre

variava a maneira de contar uma história, pois, de acordo com o que afirma Garcez (2008), as

atividades de leitura precisam ser inovadas a cada encontro para não se tornar algo repetitivo e

chato, e era dessa maneira que a professora agia. Pode-se constatar também que a segunda

professora utilizava a leitura como uma atividade não intencional, ela poderia ter

conhecimento sobre os benefícios que a literatura infantil oferecia a seus alunos, mas não

56

soube desfrutar da melhor maneira. A Frantz (2011) afirma que o professor precisa ser

encantado pela leitura e um encantador da leitura, entretanto isso não foi perceptível nessa

professora no período das observações. A criança necessita de bons exemplos e incentivos à

medida que vai crescendo, tanto a família como o professor são responsáveis por esses bons

exemplos e incentivos, uma vez que ele influencia diretamente na formação do aluno, visto

que ambos ensinarão e despertarão na criança o gosto pela leitura; apropriando-se da maneira

com que a leitura é tratada por eles, a criança seguirá e se apoderará da mesma conduta que

foi por ela percebida.

Durante o período de observação, notou-se que não se trabalhou todos os gêneros

literários em sala pelas professoras, uma vez que o que prevaleceu foi a fábula. Frantz (2011)

e Garcez (2008) recomendam aos professores a exploração, com as crianças, de todos os

gêneros literários, percebendo as diferenças que existem entre eles, o estilo de escrita, a

estrutura do texto, enfim, todos os aspectos que distingue um dos outros, além de contribuir

para a variação do trabalho do professor com a literatura em sala de aula. Daí a relevância em

se levar em consideração o trabalho com a literatura, pois ela oferece infinitas possibilidades.

Com relação aos questionários, percebeu-se que as professoras tinham a percepção

que a literatura é importante e que é necessário ser trabalhada em sala de aula com

responsabilidade e seriedade. A partir das respostas colhidas, compreendeu-se que estas

professoras levam a literatura para dentro de seu planejamento dando a devida importância e

oferecendo a seus alunos o que há de melhor no universo literário infantil. A implantação de

projetos, festivais, teatros e outros eventos baseados em livros é de suma importância para a

criança, visto que ela perceberá que nesse universo da literatura está presente a diversão, a

brincadeira e a fantasia, que, em certa medida, possui ligação com sua vida cotidiana.

Relacionando os dois instrumentos de pesquisa, observou-se que as duas professoras

regentes da turma pesquisada e também das cinco professoras que responderam ao

questionário viu-se que a maioria compreende que trabalhar a literatura com as crianças é

importante para seu desenvolvimento. Os dois instrumentos se complementam e trazem a

teoria sendo praticada no dia a dia de sala de aula. Vê-se que na observação a literatura, na

maioria das aulas, foi aplicada de acordo com a fala das professoras e também com os

pensamentos de vários autores como Frantz (2011) e Garcez (2008). Por fim, a teoria e a

prática precisam andar juntas.

Enfim, compreendeu-se que todas as professoras possuem a percepção sobre a

importância que a literatura oferece para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças

quando trabalhada com afinco na educação infantil. Dessa forma, os objetivos desta pesquisa

57

foram atendidos, confirmando a importância e a grande contribuição que a literatura oferece

para a educação infantil na formação de futuros leitores críticos e conscientes, no uso da

palavra e do conhecimento.

Levar-se-á para a prática docente os conhecimentos adquiridos por meio desta

pesquisa, tanto na leitura bibliográfica como nas observações em campo como também nas

análises realizadas. O conhecimento deixa o ser humano mais forte e convicto de seus

princípios e valores adquiridos nos diversos espaços sociais. Compreende-se e percebe-se o

trabalho com a literatura para crianças sendo de grande valia. Nas oportunidades que serão

disponibilizadas, será colocado em prática tudo o que se aprendeu, colhendo assim resultados

positivos. Lutando por uma educação melhor; por crianças, jovens e adultos que gostem de ler

e de se apropriarem desse gosto e que traz enormes benefícios para o ser humano, pois a

leitura se inicia na infância e termina quando o cérebro não suporta mais tantas informações e

finda seu trabalho.

58

REFERÊNCIAS

AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? Literatura infantil e prática pedagógica. 9. ed.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação

Infantil. Secretaria de Educação Básica. Brasília, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para a

educação infantil. Brasília, 1998.

Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf >. Acesso em: 26

ago. 2014.

CHRISPIM, Luana. A importância da literatura infantil no desenvolvimento da criança.

Disponível em: <http://envolverde.com.br/educacao/a-importancia-da-literatura-infantil-no-

desenvolvimento-da-crianca/ >. Acesso em: 26 ago. 2014.

FRANTZ, Maria Helena Zancan. A literatura nas séries iniciais. Petrópolis, RJ: Vozes,

2011.

GARCEZ, Lucília. Ler = muito prazer. Orientações para o trabalho com a formação de

leitores e com a literatura infanto-juvenil. Brasília: Conhecimento, 2011.

GARCIA, Sílvia Craveiro Gusmão. Leitura e contação de histórias: um exercício

imaginário. Disponível em: <http://alb.com.br/arquivomorto/edicoes_anteriores/anais17/txtco

mpletos/sem15/COLE_3642.pdf >. Acesso em: 18 set. 2014.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008,

200 p. Disponível em: <http://www.moodle.ufba.br/file.php/12618/Livro_Antonio_Carlos_G

il.pdf>. Acesso em: 20 out. 2014.

GONSALVES, Elisa Pereira. Conversas sobre iniciação à pesquisa científica. 5. ed. São

Paulo: Aliança, 2011.

KAERCHER, Gládis Elise Pereira da Silva. Literatura infantil e educação infantil: Um

grande encontro. Disponível em: <http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/45

3/4/01d14t10.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2014.

KUHLMANN JUNIOR, Moysés. Histórias da Educação Infantil brasileira. Revista

Brasileira de Educação, São Paulo: Fundação Carlos Chagas, n. 14, mai/jan/jul/ago. 2000.

Disponível em: <http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE14/RBDE14_03_MOYSES_K

UHLMANN_JR.pdf>. Acesso em: 26 set. 2014.

MACHADO, Maria Cristina Gomes; PASCHOAL, Jaqueline Delgado. A história da

educação infantil no Brasil: avanços, retrocessos e desafios dessa modalidade educacional.

Disponível em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/33/art05_33.pdf>. Acesso

em: 26 ago. 2014.

59

MEIRELLES, Elisa. Formação literária do professor: nunca é tarde para gostar de ler.

Revista Nova Escola. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-

continuada/formacao-literaria-professor-nunca-tarde-gostar-ler-584167.shtml>. Acesso em: 4

jul. 2014.

________________. Literatura na Educação Infantil: para começar, muitos livros. Revista

Nova Escola. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-

anos/literatura-educacao-infantil-comecar-muitos-livros-584120.shtml>. Acesso em: 4 jul.

2014.

PAIVA, Sílvia Cristina Fernandes; OLIVEIRA, Ana Arlinda. A literatura infantil no

processo de formação do leitor. Disponível em:

<http://www.cadernosdapedagogia.ufscar.br/index.php/cp/article/viewFile/175/101>. Acesso

em: 19 set. 2014.

Portal de Educação Infantil. Disponível em: <http://www.editoradobrasil.com.br/educacaoinfa

ntil/educacao_infantil/eixos.aspx>. Acesso em: 26 ago. 2014.

ROSA, Maria Eunice de Almeida; NUNES, Rosemeire Irene da Silva. Literatura Infanto-

Juvenil: contação de histórias na escola e na biblioteca. Disponível em:

<http://www.bc.ufg.br/up/88/o/Art_Eunice_CBBD_2011.pdf>. Acesso em: 18 set. 2014.

SILVA, Eduardo Rodrigues da. A Criança, a Infância e a História. Disponível em:

<http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=368>. Acesso em: 11 set.

2014.

ZIEGLER, Maria Fernanda. As primeiras leituras na pré-escola. Revista Nova Escola.

Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/primeiras-

leituras-pre-escola-escrita-educacao-infantil-livros-541701.shtml>. Acesso em: 4 jul. 2014.

60

ANEXO

Figura 1: sala de aula.

Fonte: autora.

Figura 2: uma das atividades descritas nos relatos.

Fonte: autora.

61

Figura 3: uma das atividades descritas nos relatos.

Fonte: autora.

62

APÊNDICE

Questionário de Pesquisa

1) Qual a sua opinião sobre a literatura na educação infantil?

2) Como deve acontecer o trabalho com a literatura na educação infantil?

3) Como você percebe a literatura no processo de formação de futuros leitores?

4) Quais os tipos de atividades que você desenvolve para a formação de um aluno leitor?

63

PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS

64

PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS

O tempo que passei na Universidade de Brasília, durante a graduação, foi de suma

importância para meu crescimento como pessoa e como profissional. Em cada disciplina, fui

aprendendo o sentido real da palavra educação.

Estudar na Universidade de Brasília foi um prazer, e os momentos compartilhados na

instituição serão guardados por toda vida. Pretendo aprofundar meus conhecimentos, pois,

para ser uma boa profissional, é preciso investir numa formação continuada. Por ser uma

educadora, é muito importante que a cada dia seja aprofundado o conhecimento, pois o País

necessita que os alunos realmente saiam das escolas lendo, compreendendo, por fim, aptos a

viver nessa sociedade tão competitiva e complexa.

Após a formatura, pretendo passar no concurso e atuar como professora na Educação

Infantil pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. Logo, iniciar uma especialização em

Orientação Educacional, pois o que quero é orientar alunos e pais, contribuindo assim na

formação de pessoas críticas e competentes na sociedade. Pretendo também atuar na área

administrativa de alguma empresa, pois é um trabalho que me atrai bastante.

Por fim, pretendo fazer a diferença por onde eu passar. A começar, lutando por uma

educação pública de qualidade, que melhor prepare os alunos para a vida em sociedade, uma

formação que capacite os futuros profissionais que hoje são crianças e, para que isso ocorra, é

preciso um bom profissional que se importe verdadeiramente com a educação.

65