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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
ANDRÉ RODRIGUES DA CUNHA BARRETO VIANNA
DENSIDADE DAS LÂMINAS EPIDÉRMICAS PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS EM
EQUINOS
BRASÍLIA
2011
ANDRÉ RODRIGUES DA CUNHA BARRETO VIANNA
DENSIDADE DAS LÂMINAS EPIDÉRMICAS PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS EM
EQUINOS
Monografia apresentada à Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária da
Universidade de Brasília como requisito
parcial para obtenção do grau de médico
veterinário.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Maurício
Mendes de Lima
Brasília
2011
Vianna, André Rodrigues da Cunha Barreto.
Densidade das lâminas epidérmicas primárias e secundárias em equinos. /
André Rodrigues da Cunha Barreto Vianna; orientação de Eduardo Maurício
Mendes de Lima. – 2011.
22 p.: il.
Monografia (graduação) – Universidade de Brasília/Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária, 2011.
1. Medicina Veterinária 2. Anatomia Animal 3. Morfologia. 4. Equus
caballus
Lima, E.M.M. Doutor.
Cessão de Direitos
Nome do Autor: André Rodrigues da Cunha Barreto Vianna
Título da Monografia de Conclusão de Curso: Densidade das lâminas epidérmicas
primárias e secundárias em equinos.
Ano: 2011
É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta
monografia e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos
acadêmicos e científicos. O autor reserva-se a outros direitos de publicação e
nenhuma parte desta monografia pode ser reproduzida sem a autorização por
escrito do autor.
Nome do autor: Vianna, André Rodrigues da Cunha Barreto
Título: Densidade das lâminas epidérmicas primárias e secundárias em equinos.
Monografia de conclusão de Curso de Medicina Veterinária apresentada à
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.
5
RESUMO
VIANNA, A.R.C.B. Densidade das lâminas epidérmicas primárias e secundárias em
equinos. [Density of primary and secondary epidermal laminae of equine hoof ].
2011. 22 p. Monografia (Conclusão do Curso de Medicina Veterinária) – Faculdade
de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, Brasília, DF.
Diferenças na morfologia microscópica dos cascos dos membros pélvicos e
torácicos dos equinos têm sido pouco relatadas na literatura, principalmente no
tocante a distribuição de lâminas epidérmicas primárias e secundárias nas diversas
regiões. O propósito deste estudo foi quantificar a densidade de lâminas epidérmicas
primárias e secundárias no casco de equinos. Foram utilizados membros torácicos e
pélvicos de 16 equinos adultos e sem raça definida. Em uma secção transversal de
aproximadamente de 0,5cm de altura da sola dos cascos, foi quantificada a
densidade das lâminas epidérmicas primárias nas regiões da pinça do casco e dos
quartos lateral e medial. Fragmentos com aproximadamente 1cm³ foram retirados
dos terços proximal, médio e distal do casco, nas diferentes regiões e submetidos a
técnica histológica convencional, sendo observados com auxilio de microscópio
óptico. Os dados foram analisados estatisticamente em relação aos membros
torácicos e pélvicos e entre as diversas regiões destes. A densidade de lâminas
epidérmicas primárias variou ao redor da circunferência do casco, sendo maior na
região da pinça do casco e diminui gradualmente em direção ao bulbo do casco, não
existindo diferença entre membros pélvicos e torácicos. A densidade média de
lâminas epidérmicas secundárias por lâmina epidérmica primária não variou em
torno da circunferência dos cascos. Os achados revelaram que a densidade das
lâminas epidérmicas não variou quando comparada entre os membros torácicos e
pélvicos. A variação da densidade das lâminas epidérmicas primárias em torno do
casco pareceu fazer parte de uma resposta adaptativa às diferentes tensões
existentes em cada região. O melhor entendimento da morfologia das estruturas do
casco contribui na melhor compreensão do diagnóstico, fisiopatologia e tratamento
das afecções que as acometem.
Palavras-chave: Lâminas epidérmicas, Equus caballus, casco, morfologia.
6
ABSTRACT
VIANNA, A.R.C.B.. Density of primary and secondary epidermal laminae of equine
hoof [Densidade das lâminas epidérmicas primárias e secundárias em equinos].
2011. 22 p. Monografia (Conclusão do Curso de Medicina Veterinária) – Faculdade
de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, Brasília, DF.
Differences in microscopic morphology of thoracic and pelvic limbs hoofs of equines
have been scarcely reported in literature, especially about the distribution of primary
and secondary epidermal laminae in different regions. The purpose of this study was
to quantify the density of primary and secondary epidermal laminae in the equines
hoof. Were used fore and hindlimbs of sixteen adult mixed breed horses. In a cross-
section of approximately 0.5 cm above the soles of the hooves, was quantified, the
density of primary epidermal laminae in the regions of lateral and medial quarters
and toe. Fragments of approximately 1cm ³ were removed from the proximal, middle
and distal portions of the hoofs, in different regions and subjected to conventional
histological technique and observed with an optical microscope. Data were
statistically analyzed in relation to the fore and hindlimbs and among these various
regions. The density of primary epidermal laminae varies around the circumference
of the hoof, being higher in the toe of the hoof and gradually decreases toward the
bulb of the hoof, and there is no difference between thoracic and pelvic limbs. The
average density of secondary epidermal laminae in primary epidermal laminae does
not change around the circumference of the hoof. The findings indicate that the
density of epidermal laminae does not change when compared between the fore and
hindlimbs. The variation of the density of primary epidermal laminae around the hoof
appears to be part of an adaptive response to different stresses in each region.
Better understanding of the structures morphology contributes to better
understanding of the diagnosis, pathophysiology and treatment of disorders that
affect the hoof.
Keywords: Epidermal laminae, Equus caballus, hoof, morphology.
7
SUMÁRIO
RESUMO .................................................................................................................................. 5
ABSTRACT .............................................................................................................................. 6
DENSIDADE DAS LÂMINAS EPIDÉRMICAS PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS EM
EQUINOS.................................................................................................................................. 8
INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 8
MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................................... 9
RESULTADOS ...........................................................................................................................13
DISCUSSÃO ...............................................................................................................................17
CONCLUSÃO .............................................................................................................................19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................... 20
8
DENSIDADE DAS LÂMINAS EPIDÉRMICAS PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS EM EQUINOS
INTRODUÇÃO
A utilização de equinos como força de tração de carroças, no meio urbano,
ainda é um fato comum. Esses animais, além de serem submetidos a uma rotina de
trabalho extenuante e repetitiva, não dispõem de alimentação e repouso compatíveis
com a atividade física desenvolvida diariamente (Velho, 2007; Maciel, Lopes et al.,
2008). Muitos destes animais são acometidos de afecções locomotoras,
principalmente aquelas relacionadas com seus cascos. Para entender a
fisiopatologia, diagnóstico e tratamento destas afecções locomotoras é necessário
conhecer sua morfologia (Pollitt, 1992).
No interior da muralha do casco encontram-se as lâminas epidérmicas
primárias e destas partem as lâminas epidérmicas secundárias. Da mesma forma, a
derme possui as lâminas dérmicas primárias e secundárias (Pollitt, 2001). As
lâminas dérmicas e epidérmicas se interdigitalizam e se prendem firmemente uma a
outra e, por sua vez, a derme é fixada ao periósteo da terceira falange através de
tecido conjuntivo. Esse formato laminar tem como objetivo de aumentar a superfície
de contato, aumentando, assim, a fixação entre a parede e os tecidos adjacentes
(Pollitt, 2001; Thomason, Mcclinchey et al., 2005). A arquitetura das lâminas do
casco é a base histopatológica do processo da laminite (Pollitt, 1996).
O estrato interno da parede do casco em cavalos e pôneis possui cerca de
550 a 600 lâminas epidérmicas primárias que se projetam desde a superfície
paralelamente umas as outras. As lâminas epidérmicas secundárias são apenas
especializações. Durante a formação da uma lâmina epidérmica, a camada de
células basais no sulco coronário se prolifera e forma dobras ao longo do perímetro
lamelar, originando as lâminas secundárias (Daradka e Pollitt, 2004). Ao longo de
cada uma das 550 a 600 lâminas epidérmicas primárias existem cerca de 20 a 200
lâminas epidérmicas secundárias (Stump, 1967; Leach e Zoerb, 1983; Stashak,
2002; Pollitt, 2004).
Na interface das lâminas dérmicas e epidérmicas verifica-se uma estrutura
laminar, ininterrupta de tecido conjuntivo, chamada membrana basal (Pollitt, 2001).
9
Essa estrutura separa as células da epiderme das células da derme e estão
ancoradas ao casco e à falange distal (Pollitt, 2001). Essas células se dividem
continuamente ao longo da vida do equino e sofrem maturação, formando células
queratinizadas, contribuindo com o engrossamento e a resistência das lâminas
epidérmicas primárias e secundárias (Pollitt, 1999).
A junção laminar nos equinos desempenha um papel vital na transferência
das forças de sustentação de peso entre a epiderme da parede do casco e a terceira
falange, mas a forma como ela executa essa função é pouco entendida (Douglas,
Biddick et al., 1998). Esta junção compreende uma complexa mistura de
componentes teciduais possuindo ainda muitas outras propriedades mecânicas
diferentes (Stump, 1967).
Visando o estabelecimento de dados pertinentes relativos a morfologia do
casco de equinos o objetivo deste estudo foi quantificar a densidade das lâminas
epidérmicas primárias e secundárias nas diversas regiões do casco dos membros
torácicos e pélvicos destes animais.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram empregados neste estudo membros torácicos e pélvicos de 16
equinos, adultos, sendo oito machos e oito fêmeas, sem raça definida e com peso
médio de 334 kg, que não apresentavam afecções no aparelho locomotor.
Para a coleta dos cascos, as extremidades distais dos membros foram
desarticuladas na articulação metacarpofalangeana e metatarsofalangeana, para os
membros torácicos e pélvicos, respectivamente. Imediatamente após, oito cascos
foram seccionados com uma serra fita em um plano transversal de
aproximadamente 0,5cm de altura da sola dos cascos e, com os outros oito cascos
restantes foram retirados fragmentos de aproximadamente 1cm³ dos terços proximal,
médio e distal, nas regiões da pinça do casco e dos quartos lateral e medial (Figura
1), de acordo com o protocolo descrito por Pollitt (1996).
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Figura 1 – Esquema do casco de equinos, indicando os terços proximal (1), médio
(2) e distal (3) no quarto medial ou lateral (A) e na pinça do casco (B).
Os fragmentos retirados foram fixados em solução aquosa a 10% de
formaldeído. Após os fragmentos terem sido fixados, a região ocupada pelas
lâminas foi separada da muralha do casco e da falange distal e processada
histologicamente pelo processo de desidratação em álcool etílico, diafanização em
xilol, impregnação e inclusão em parafina. Posteriormente os blocos foram cortados
com a espessura 4μm, com o auxílio de micrótomo manual (Spencer-Lens Co.), as
lâminas foram confeccionadas e coradas com Hematoxilina & Eosina, sendo
analisadas com através do microscópio óptico BX51 Olympus® acoplado ao
programa de análise de imagens ProgRes® Capture Pro 2.5.
A densidade de lâminas epidérmicas primárias foi aferida segundo o protocolo
descrito por Lancaster et al. (2007), utilizando o segmento transversal retirado da
sola do casco e analisando com auxílio de uma lupa de dissecação. Primeiramente
um alfinete foi fixado no ponto médio dividindo o casco em face lateral e medial, para
A
B
11
localizá-lo foi traçado uma linha no sulco central da ranilha do casco até o estrato
interno, região onde se localizam as lâminas dérmicas e epidérmicas. As lâminas
epidérmicas primárias foram contadas na superfície de corte ao longo de todo
perímetro do casco. Inicialmente, com auxílio de um alfinete, foi definida a pinça do
casco, estando disposta entre as faces lateral e medial, em seguida, foi fixado outro
alfinete distante 25 lâminas epidérmicas primárias em sentido medial e outro em
sentido lateral. A região entre estes dois alfinetes possuía, então, 50 lâminas
epidérmicas primárias e foi chamada de zona I. A partir destes alfinetes foram
fixados outros, distantes 50 lâminas epidérmicas, tanto medialmente, bem como,
lateralmente, os intervalos entre dois alfinetes delimitaram as zonas pares (II, IV, VI
e VIII) sempre mediais e as zonas ímpares (III, V, VII e IX), sempre laterais (Figura
2A). Em seguida, fazendo uso de paquímetro digital eletrônico STARRET®, foi
aferida a extensão das zonas delimitadas inicialmente. A densidade de lâminas
epidérmicas primárias foi obtida pela divisão do número de lâminas existente na
zona em questão (50 lâminas) e o comprimento da mesma (número de lâminas por
centímetro), que foi aferido anteriormente.
Com a finalidade de mensurar a densidade de lâminas epidérmicas
secundárias por unidade de lâmina epidérmica primária foram utilizadas as lâminas
confeccionadas a partir de fragmentos retirados da pinça do casco e dos quartos
medial e lateral, nos terços proximal, médio e distal dos membros pélvicos e
torácicos e visualizadas em microscópio óptico (Figura 2B). A quantidade de lâminas
epidérmicas secundárias que tiveram origem em cinco lâminas epidérmicas
primárias de campos distintos foi contabilizada e o número total destas foi dividido
pelo número total de lâminas epidérmicas primárias aferidas, obtendo-se assim sua
densidade.
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Figura 2 – (A) Fotografia da secção transversal da sola do casco com alfinetes
espaçados a cada 50 lâminas epidérmicas primárias, formando a zona I (pinça do
casco), zonas II, IV, VI e VIII (face medial) e zonas III, V, VII e IX (face lateral); (B)
Fotografia das lâminas dérmicas primárias (X), lâminas epidêmicas primárias (*) e
secundárias (+), H&E.
Os dados referentes à densidade de lâminas epidérmicas primárias e
secundárias dos membros torácicos e pélvicos foram tabelados e analisados com
uso do software GraphPad Prism 5® através da estatística descritiva, análise de
variância (ANOVA) e teste de correlação de Pearson.
B
X
X
*
*
+
+
13
RESULTADOS
A partir da divisão do estrato interno, foi possível formar de sete a nove zonas
(dependendo do comprimento da circunferência do casco) contendo, cada uma, 50
lâminas epidérmicas primárias (Tabela 1, Figura 2A). Não foi observada diferença
estatística (p<0,05) na densidade de lâminas epidérmicas primárias entre os
membros torácicos e pélvicos (p=0,24) nem entre as zonas correspondentes dos
quartos lateral e medial.
Tabela 1- Média e desvio padrão da densidade de lâminas epidérmicas primárias
(número de lâminas por centímetro) nas diversas regiões do casco dos membros
torácicos e pélvicos.
Regiões Torácico Pélvico
Zona I (Pinça) 27,97 +1,77 25,13 +2,02
Zona II 25,80 +5,29 24,25 +1,44
Zona IV 22,50 +5,01 20,73 +4,23
Zona VI 19,96 +2,2 17,47 +2,84
Zona VIII 18,95 +2,66 20,94 +4,71
Zona III 28,09 +4,36 25,39 +1,92
Zona V 23,63 +4,04 22,59 +3,15
Zona VIII 19,25 +3,34 17,38 +2,36
Zona IX 17,60 +3,81 20,58 +3,94
Foi verificada diferença estatística entre a densidade de lâminas epidérmicas
primárias existentes na região da pinça em relação às outras regiões do casco,
ocorrendo uma diminuição na densidade da pinça do casco em direção aos bulbos
do casco nos membros torácicos e pélvicos (Figuras 3A e 3B). No teste de
correlação de Pearson foi verificada forte correlação positiva entre a densidade das
lâminas epidérmicas primárias na região da pinça do casco e no quarto lateral tanto
nos membros torácicos (r=0,86) quanto nos membros pélvicos (r=0,98).
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Figura 3- Gráficos da média e desvio padrão da densidade de lâminas epidérmicas
primárias (LEP) nos membros torácicos (A) e pélvicos (B) e densidade de lâminas
epidermicas secundárias (LES) nos membros torácicos (C) e pélvicos (D), na pinça
do casco e nos quartos medial e lateral. Letras iguais entre as colunas expressam
diferença estatistica (p<0,05).
As lâminas epidérmicas secundárias foram observadas ao longo de todo
comprimento das lâminas epidérmicas primárias. Através do teste de Análise de
Variância (ANOVA) com pós-teste de Tukey, foi verificado que tanto nos membros
torácicos (Figura 3C), quanto nos membros pélvicos (Figura 3D) não existe diferença
estatística na densidade destas lâminas ao redor da circunferência do casco.
Através da comparação entre membros torácicos e pélvicos (Tabela 2), foi
verificado que não existiu diferença estatística na densidade das laminas
epidérmicas secundárias entre os quartos mediais (p=0,79) e entre as pinças do
casco (p=0,09), bem como, foi evidenciada diferença estatística entre os quartos
laterais (p<0,001). Já entre os diversos terços, foi observada fraca correlação e
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ausência de diferença estatística entre os terços proximais (r=-0,04; p=0,34) e entre
os terços médios (r=0,21; p=0,44), foi encontrada diferença estatística entre os
terços distais (r=0,18; p<0,001).
A densidade das lâminas epidérmicas secundárias no terço proximal foi de
121,2+35,34, no terço médio de 135,3+26,98 e no terço distal a densidade foi de
122,8+26,83. Foi possível verificar que existe diferença estatística entre os terços
proximal e médio (p<0,001), assim como, entre os terços médio e distal (p<0,001), o
que não foi observado entre os terços proximal e distal (p=0,69) (Figura 4).
Tabela 2- Média e desvio padrão da densidade de lâminas epidérmicas secundárias
(número de lâminas epidérmicas secundárias por lâmina epidérmica primária) nas
diversas regiões (terços proximal, médio e distal) da pinça do casco e dos quartos
medial e lateral dos membros torácicos e pélvicos e média total de lâminas
epidérmicas secundárias nos quatro membros dos equinos
Membros Torácicos Pélvicos Total
Região
Quarto Medial
Terço Proximal 126,95 +39,04 107,90 +29,90 117,42 +35,68
Terço Médio 127,75 +19,79 122,80 +23,61 125,27 +21,65
Terço Distal 114,25 +41,58 142,85 +24,95 128,55 +36,81
Pinça do Casco
Terço Proximal 115,20 + 49,88 116,00 +29,01 115,60 +40,28
Terço Médio 141,20 +24,32 158,25 +23,80 149,72 +25,27
Terço Distal 114,7 +17,43 126,90 +16,59 120,80 +17,89
Quarto Lateral
Terço Proximal 112,20 +24,39 148,65 +17,56 130,42 +27,94
Terço Médio 131,40 +30,20 130,60 +26,14 131,00 +27,88
Terço Distal 111,65 +15,63 126,15 +24,58 118,90 +21,62
16
Figura 4- Gráficos da média e desvio padrão da densidade de lâminas epidérmicas
secundárias (LES) nos terços proximal, médio e distal. Letras iguais entre as colunas
expressam diferença estatistica (p<0,05).
Ao analisar a densidade de lâminas epidérmicas secundárias, através da
correlação de Pearson entre a pinça do casco, quartos medial e lateral com os
correspondentes terços, foram verificadas correlações fracas, tanto positivas quanto
negativas e uma única correlação forte negativa, entre os terços proximal e distal do
quarto medial (Tabela 3).
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Tabela 3- Coeficientes de correlação de Pearson (r) entre a densidade de lâminas
epidérmicas secundárias nos terços proximal, médio e distal da pinça do casco e
dos quartos medial e lateral
Terço Proximal Terço Médio Terço Distal
Regiões Medial Lateral Pinça Medial Lateral Pinça Medial Lateral
Te
rço
Pro
xim
al Pinça -0,47 -0,06 0,46 0,21 -0,29 -0,15 0,56 0,24
Medial - 0,02 -0,44 -0,30 0,21 -0,21 -0,79 -0,43
Lateral - - 0,44 -0,05 0,27 0,30 0,13 0,47
Te
rço
Mé
dio
Pinça - - - 0,40 0,08 0,19 0,54 0,50
Medial - - - - -0,09 0,06 0,21 0,03
Lateral - - - - - 0,34 -0,17 0,47
Te
rço
Dis
tal Pinça - - - - - - 0,12 0,47
Medial - - - - - - - 0,41
DISCUSSÃO
Butler (1995) e Stashak e Hood (2005) verificaram que a morfologia e a
distribuição das lâminas epidérmicas primárias ao redor do perímetro do casco são
homogêneas. Em contraste com estes autores, no presente trabalho foi verificado
que tanto nos membros torácicos (Figura 2A) como nos membros pélvicos (Figura
2B) a região da pinça do casco apresentou maior concentração de lâminas
epidérmicas primárias, indo de encontro com os trabalhos de Thomason et al. (2001;
2008), Bowker (2003), Daradka e Pollitt (2004), Bidwell e Bolker (2006) e Lancaster
et al. (2007). Douglas e Thomason (2000) citaram que a pinça do casco é a região
em que se observa maior tensão entre a muralha do casco e a falange distal, esta
diminuição gradual da densidade de lâminas epidérmicas primárias em sentido ao
bulbo do casco, como foi verificada no presente trabalho. Possibilitando assim
sugerir que essa interpretação caracterizou-se como sendo uma resposta adaptativa
com base nas diferentes tensões existentes nas diversas regiões, pois, em situações
fisiológicas, a força imposta na região dos quartos seria menor do que a exigida na
pinça do casco, assim como, a tensão relacionada com os bulbos do casco é menor
em relação àquela imposta nos quartos.
Os mecanismos precisos desta resposta adaptativa ainda não foram
completamente descrito, porém Bowker (2003) sugeriu que as modificações, tanto
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morfológicas, que não foi foco em nosso estudo, quanto quantitativas, ocorram
através de bifurcação das lâminas epidérmicas primárias e secundárias.
Caracterizando assim que se tratou de uma resposta ao estresse mecânico,
possuindo relação direta entre a disposição das lâminas e a funcionalidade do
casco.
Segundo Lancaster et al. (2007), se ocorrer uma perturbação no equilíbrio
existente na distribuição das lâminas, como uma grande quantidade de lâminas
aglomeradas em uma região ou a pequena quantidade em outra, podem gerar áreas
em que o casco esteja enfraquecido ou lesionado, o que justifica estudos mais
aprofundados sobre os mecanismos de modificações da morfologia do casco, para
melhor compreensão e tratamento das patologias.
Grande parte da literatura consultada (Douglas e Thomason, 2000;
Thomason, Mcclinchey et al., 2005; Lancaster et al., 2007; Thomason, Faramarzi et
al., 2008; Kawasako, Higashi et al., 2009) analisou apenas os membros torácicos.
Ao compararmos os membros torácicos e pélvicos, verificamos que não existe
diferença estatística em relação à densidade de lâminas epidérmicas primárias, o
que também foi descrito por Bidwell e Bowker (2006), a partir deste resultado,
sugerimos que apesar de o centro de massa dos equinos ser desviado para mais
próximo dos membros torácicos, acarretando em maior tensão nestes, este fato não
interfere na densidade destas lâminas.
Diferente do que foi verificado nos trabalhos de Lancaster (2007) e Douglas e
Thomason (2000), em que foi encontrada maior densidade de lâminas epidérmicas
primárias no quarto lateral em comparação ao observado no quarto medial, no
presente trabalho não foi verificada diferença estatística entre os quartos.
Segundo Stump (1967), Leach e Zoerb (1983), Linford (1987), Pollitt (2004) e
Stashak (2005) cada lâmina epidérmica primária emite de 20 a 150 lâminas
epidérmicas secundárias. Sobretudo, no presente trabalho, foi verificado que nos
membros torácicos o número de lâminas epidérmicas secundárias variou de 31 a
208 e nos membros pélvicos este número variou de 58 a 195 lâminas. A literatura
mostrou-se escassa no que diz respeito à distribuição das lâminas epidérmicas
secundárias, sendo encontrados dados referentes apenas ao número total de
lâminas, como citado em Stump (1967), Leach e Zoerb (1983), Linford (1987), Pollitt
(2004) e Stashak (2005), sem fazer relação com sua localização.
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A ausência de diferença estatística da densidade das lâminas secundárias
entre as regiões que compreendem a pinça do casco e os quartos medial e lateral
demonstrou que não ocorre variação na quantidade de emissão destas pelas
lâminas primárias, ou seja, cada lâmina primária, independente se estava situada no
pinça do casco ou em um dos quartos, continuou emitindo a mesma quantidade de
lâminas secundárias, porém, a quantidade destas lâminas nas diversas regiões
variou devido à quantidade de lâminas primárias não ser uniforme ao redor do
membro. Já em relação à densidade das lâminas secundárias nos terços proximal,
médio e distal do casco, foi possível verificar que existem variações, porém mais
estudos são necessários para elucidar as implicações destas na morfofisiologia do
casco.
CONCLUSÃO
Os membros torácicos e pélvicos apresentaram o mesmo padrão de
distribuição das lâminas epidérmicas primárias e secundárias ao redor do casco. A
densidade de lâminas epidérmicas primárias variou conforme a região em que elas
se encontravam, possuindo maior concentração na pinça do casco e diminuindo
gradativamente em direção aos bulbos do casco, tanto nos membros torácicos como
nos pélvicos. Essa variação na distribuição ao redor da circunferência do casco não
foi observada nas lâminas epidérmicas secundárias, estas variaram apenas na
direção próximo-distal.
Provavelmente a variação na densidade de lâminas primárias ao redor do
casco tenha sido consequência da resposta adaptativa às diferentes tensões entre a
muralha do casco e a falange distal nas diversas regiões.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Experimental Biology, v.125, p.29-47. 1986.
Bidwell, L. A.; Bowker, R. M. Evaluation of changes in architecture of the stratum internum
of the hoof wall from fetal, newborn, and yearling horses. American Journal of Veterinary
Research, v.67, n.12, p.1947-55. 2006.
Bowker, R. M. The growth and adaptive capabilities of the hoof wall and sole: Functional
changes in response to stress. American Association of Equine Practitioners, v.49, p.146-
168. 2003.
Butler, D. Principles of horseshoeing II. Colo: Butler Publishing, v.2. 1995 (LaPorte)
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